Veto integral ao autógrafo de lei nº 3581 16

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PREFEITURA MUNICIPAL DE VILA VELHA ESTADO DO ESPÍRITO SANTO

“Deus seja louvado”

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Vila Velha, ES, 28 de novembro de 2016.

MENSAGEM DE VETO Nº 023/2016

Senhor Presidente,

Senhores Vereadores,

Dirijo-me a Vossas Excelências para encaminhar as razões da aposição do

VETO INTEGRAL ao Autógrafo de Lei nº 3.581/2016.

Atenciosamente,

RODNEY ROCHA MIRANDA

Prefeito Municipal

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PREFEITURA MUNICIPAL DE VILA VELHA ESTADO DO ESPÍRITO SANTO

“Deus seja louvado”

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Vila Velha, ES, 28 de novembro de 2016.

RAZÕES DO VETO

Assunto: Veto integral ao Autógrafo de Lei nº 3.581/2016.

Senhor Presidente,

Senhores Vereadores,

Comunicamos a essa egrégia Câmara nossa decisão de apor VETO

INTEGRAL ao Autógrafo de Lei acima enunciado que “Acrescenta dispositivos à Lei

nº 5.546/14, visando assegurar aos jornalistas especializados em cultura e esportes,

desconto para ingresso a espetáculos culturais e eventos esportivos abrigados em

estabelecimentos públicos e/ou privados no Município de Vila Velha”.

A matéria teve a iniciativa de membro do Poder Legislativo e foi levada à

apreciação da Procuradoria Geral do Município - PGM, de cuja análise se extrai que o

presente projeto de lei apresenta vícios formais, pelas razões que passamos a

discorrer:

“[...]

2.1. Da competência legislativa

O autógrafo de lei sob estudo visa assegurar aos jornalistas especializados em

cultura e esportes, desconto para ingresso a espetáculos culturais e eventos

esportivos abrigados em estabelecimentos públicos e/ou privado no município. A

concessão de descontos, a nosso ver, é matéria relativa ao direito econômico a

qual é competente para legislar de forma concorrente a União, os Estados e o

Distrito Federal.

Insta esclarecer que, em 2013, foi promulgada pela União a Lei Federal n°

12.933, dispondo sobre o benefício do pagamento de meia-entrada para

estudantes, idosos, pessoas com deficiência e jovens de 15 a 29 anos

comprovadamente carentes em espetáculos artístico-culturais e esportivos.

No nosso estado, além dessas pessoas, são passíveis de pagamento de meia

entrada os doadores de sangue. Assim, não incluídas na lei estadual as pessoas

que o autógrafo pretende beneficiar, não há espaço para o legislador municipal,

com fundamento em sua competência suplementar (art. 30, II, da Constituição

Federal), ampliar os beneficiários da meia-entrada, sob pena de converter a

competência suplementar do Município em competência concorrente, da qual,

pela Constituição, não dispõe.

A competência suplementar do Município aplica-se, nas matérias de

competência legislativa da União ou dos Estados, àquilo que seja secundário ou

subsidiário relativamente à temática essencial tratada na norma superior, sem

perder de vista a necessidade de ser questão de interesse predominantemente

local.

De tal modo, na hipótese em análise, seria admissível, por se tratar de assunto

de interesse local, que o Município legislasse de forma suplementar a respeito

do horário de funcionamento dos eventos culturais. A ampliação de

beneficiários da meia-entrada não é aspecto secundário ou acessório da norma

estadual e federal. O autógrafo de lei, diversamente, no lugar de se limitar à

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suplementação da legislação federal e estadual, trata da matéria como se o

município ostentasse competência legislativa concorrente aos demais entes

políticos.

Outrossim, conforme definido pelo C. Supremo Tribunal Federal, a prerrogativa

de dispor legalmente sobre interesse local não outorga ao ente político irrestrita

autonomia legislativa, pois “a competência constitucional dos Municípios de

legislar sobre interesse local não tem o alcance de estabelecer normas que a

própria Constituição, na repartição das competências, atribui à União ou aos

Estados.” (RE 313.060, rel. Min. Ellen Gracie, julgamento em 29-11-2005,

Segunda Turma, DJ de 24-2-2006).

Vale frisar que no Estado Federativo reside a repartição de poderes autônomos,

que, na concepção tridimensional do Estado Federal Brasileiro, se dá entre

União, Estado e Município. É através desta distribuição de competências que a

Constituição Federal garante o princípio federativo. O respeito à autonomia dos

entes federativos é imprescindível para a manutenção do Estado Federal.

Diante disso, pode-se afirmar que qualquer lei de matéria cuja competência seja

do legislador federal ou estadual está, ao desrespeitar a repartição

constitucional de competências, a violar o princípio federativo.

Dessa forma, conclui-se que o autógrafo de lei viola a repartição constitucional

de competências.

Nesse sentido, é a jurisprudência:

EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI N.

7.737/2004, DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO. GARANTIA DE MEIA

ENTRADA AOS DOADORES REGULARES DE SANGUE. ACESSO A

LOCAIS PÚBLICOS DE CULTURA ESPORTE E LAZER. COMPETÊNCIA

CONCORRENTE ENTRE A UNIÃO, ESTADOS-MEMBROS E O

DISTRITO FEDERAL PARA LEGISLAR SOBRE DIREITO ECONÔMICO.

CONTROLE DAS DOAÇÕES DE SANGUE E COMPROVANTE DA

REGULARIDADE. SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE.

CONSTITUCIONALIDADE. LIVRE INICIATIVA E ORDEM

ECONÔMICA. MERCADO. INTERVENÇÃO DO ESTADO NA

ECONOMIA. ARTIGOS 1º, 3º, 170 E 199, § 4º DA CONSTITUIÇÃO DO

BRASIL. (STF; Pleno; ADI 3.512/ES; Min. Rel. Eros Grau; D.J. 15/02/2006) –

Grifo nosso.

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE LEI MUNICIPAL QUE

CRIA MEIA-ENTRADA EM FAVOR DE ASSOCIADOS DE

DETERMINADA ENTIDADE, PARA ESPETÁCULOS REALIZADOS EM

TEATROS MUNICIPAIS VIOLAÇÃO DA ISONOMIA E USURPAÇÃO DA

CHAMADA COMPETÊNCIA CONCORRENTE, QUE TOCA À UNIÃO,

ESTADOS E DISTRITO FEDERAL NO QUE TANGE À DISCIPLINA DA

CULTURA, CONSOANTE OS TERMOS DO ARTIGO 24, IX, DA

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DETERMINAÇÃO DAS

COMPETÊNCIAS, NA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA QUE É MERO

CONSECTÁRIO DO PRINCÍPIO FEDERATIVO VIOLAÇÃO DOS

ARTIGOS 4º, 111 E 144 DA CONSTITUIÇÃO ESTADUAL PRECEDENTE

DESTE COLENDO ÓRGÃO ESPECIAL INCONSTITUCIONALIDADE

RECONHECIDA-AÇÃO PROCEDENTE. (Ação Direta de

Inconstitucionalidade n. 0000555-08.2009.8.26.0000, rel. Des. A. C. Mathias

Coltro, j. em 05.08.2009).

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AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - Lei Municipal n" 6.833,

de 6 de março de 2007 (com redação dada pela Lei n° 7.452/2012), que institui

no município o sistema de meia-entrada - PRELIMINAR - A análise da norma

impugnada por meio de controle de constitucionalidade difuso- incidental não

induz coisa julgada, visto que sua aferição é realizada incidentalmente, na

fundamentação da decisão judicial, e o manto da coisa julgada atinge sua

parte dispositiva - Ademais, a inconstitucionalidade declarada em sede de

controle difuso-incidental limita-se às partes da demanda, não afetando outras

situações e pessoas — INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL -

COMPETÊNCIA LEGISLATIVA SUPLEMENTAR - Violação à distribuição

constitucional de competência legislativa - Não observância ao art. 144, da

Constituição Bandeirante. AÇÃO DIRETA DE

INCONSTITUCIONALIDADE JULGADA PROCEDENTE. (TJ/SP; Órgão

Especial; ADI 0074646-30.2013.8.26.0000; Des. Rel. Roberto Mac Cracken;

D.J. 11/09/2013).

Desta feita, vislumbramos vício formal, pois a matéria é de competência

concorrente somente da União, Estados e Distrito Federal, sob pena de violação

ao Princípio Federativo.

2.2. Da violação ao principio da isonomia

Além da violação ao pacto federativo, entendemos que o presente autógrafo

carece de justificativa plausível que autorize a sua sanção, já que a meia-

entrada foi institucionalmente consentida pela sociedade como benefício aos

estudantes, pelo simples fato de não serem eles possuidores de renda,

constituindo parcela importante a integrar os futuros círculos de formação de

opinião, de condutas, sendo, portanto, justificável este incentivo. A lei federal

acabou por estender esse benefício aos idosos e portadores de deficiência, pois,

de regra, são dependentes financeiros.

A nosso ver, o autógrafo de lei viola o princípio da isonomia, pois favorece

determinada categoria profissional em detrimento de outras. Consentir com esta

possibilidade, levará a outras categorias a exigirem o mesmo direito, o que

poderá causar prejuízos ao meio artístico e afastar empresários deste ramo do

município.

Em decisão unânime, na ADI 2016 00 2 021657-3, o E. TJ/DF entendeu ser

inconstitucional a lei que prevê meia-entrada em cinemas, teatros, shows, a

vigilantes e profissionais de segurança, por entender que ela "viola o princípio

da isonomia ao favorecer determinadas categorias profissionais, permitindo que

gozem de benefícios que não são extensíveis a outras categorias em situação

idêntica".

[...]”

Estas, Senhor Presidente, Senhores Vereadores, as razões que nos levam a

concluir pelo Veto Integral do Autógrafo de Lei sob comento, com fundamento no

poder conferido pelo § 1º, do art. 40, da Lei Orgânica Municipal, e que ora

submetemos à elevada apreciação dos Senhores Membros dessa Colenda Casa

Legislativa.

Atenciosamente,

RODNEY ROCHA MIRANDA

Prefeito Municipal