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A última
noite de
Getúlio Vargas
BRASIL
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O condicionamento pela
Moral e Gvica
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koluna
aberta
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A Editoria
Carloi Alberto de Andrade Pinto
Coragem
para liderar
Está o Brasil pugnando por melhores
preços para nosso café na conferência de
países produtores que se realiza em Ge-
nebra. No número 19 de POLUIKA,
Jorge França ji havia abordado o proble-
.ma do medo que tem o Brasil de liderar
qualquer coisa e se referiu, especifica-
mente, ao caso do café, quando o Insti-
tuto Brasileiro do Café entregou a Costa
do Marfim a liderança do movimento,
apesar de ter feito todas as injunções
para o sucesso da causa.
Agora, o sr. Carlos Alberto de Andra-
de Pinto, presidente do IBC, está em Ge-
nebra. Levou em sua pasta o esboço dos
estatutos de uma pretensa Associação
Mundial de Países Produtores de Café,
semelhante à Organização dos Países
Exportadores de Petróleo - OPEP -
que ?
conseguiu impor os seus preços aos
países consumidores. O que o Brasil está
pretendendo, novamente^ é a idéia da
associação, mas com o cuidado dè não
aparecer. Os estatutos foram mostrados
particularmente a cada delegado como se
fosse um documento altamente compro-
metedor para nós.
O Brasil tem medo de despertar a ira
dos consumidores norte-americanos e
quer defender os seus interesses sem ferir
suscetibilidades. A cada ano o preço do
café é menos valorizado e os prejuízos
vão se acumulando. Agora, os países pro-
dutores despertaram para o fato e estão
tentando reagir, pois só a desvalorização
da moeda norte-americana, ocorrida ano
passado, causou um prejuízo de dois bi-
Ihões de dólares para os países produto-
res, cerca de 15 por cento de sua receita
cambial.
O problema do café é complexo,
todos reconhecem, porque há uma super-
produção e todos os países lutam com
dificuldade para sua colocação no merca-
do internacional, e é justamente esta pro-
cura ávida de mercado que ocasiona a
queda de preços, de que se vale o consu-
midor americano para ditar seus preços.
Dos países produtores é o Brasil o úni-
co capaz de liderar um movimento para
encontrar a solução do problema. Entre-
tanto, nossa posição tímida, medrosa,
está prejudicando o andamento das nego-
ciações. Alegam as autoridades do Minis-
tério da Indústria e do Comércio que te-
mos que agir com cautela, porque no ano
passado tivemos um prejuízo de 260
milhões de dólares somente com relação
à colocação das quotas, sem se conside-
rar o prejuízo decorrente da desvaloriza-
ção da moeda norte-americene e que,
além disso, os demais produtores de café
estão ávidos disputando nossas quotas,
somente El Salvador pretende 200 mil
sacas nossas, nas chamadas quotas sup/e-
men tares.
Ora, de todos os produtores o Brasil é
o único que tem condições de diter nor-
mas, não só por sua posição no contexto
de desenvolvimento — a cada dia vamos
nos libertando do café como fonte de
divisas — como de maior produtor mun-
dial. Apesar disso, não nos animamos
assumir a liderança do movimento, dele-
gando poderes a pequenos países sem
qualquer expressão.
O Brasil está deixando passar uma
grande oportunidade de afirmação. Se
continuar com esta timidez nunca chega-
rá a ser uma grande potência, porque a
coragem também é parte inerente da li-
derança e um líder medroso não tem
condições de comando. Se não podemos
exigir preços justos peto nosso café como
poderemos vender os minérios, o cacau,
a juta, o algodão e todos os demais com-
ponentes de nossa pauta de exportação,
por preços que garantam a infra-estrutu-
ra de nosso desenvolvimento?
Ainda é tempo de o Brasil abrir a pas-
ta. Mostrar seus projetos, expor suas in-
tenções e exigir respeito. A diplomacia
de bastidores está ultrapassada, é coisa
do século passado. Os acontecimentos
posteriores à segunda Guerra Mundial de-
monstraram que a timidez não é arma
para quem pretende se impor. Por que a
Costa do Marfim para liderar a constitui-
ção de uma associação de países produ-
tores de café quando somos nós os
maiores produtores?
Ainda é tempo de o sr. Carlos Alberto
de Andrade Pinto dizer aos consumido-
res norte-americanos que eles terão que
pegar pelo café que bebem o preço do
sangue, suor e lágrimes que nós pegamos
para produzi-lo. Por que não fez lá o que
fez aqui, obrigando o consumidor brasi-
feiro a pagar pelo cefé que bebe o preço
justo? Nós é que não podemos subsidiar
com nosso trabalho o alto padrão de vida
do povo norte-americano.
Agenda
O MDB da Guanabara
estava enrustido com rela-
ção às eleições indiretas,
decretadas pelo presidente
Mediei. Beneficiário da si-
tuação, ficou na encolha.
Não fossem os deputados
Jorge Leite, primeiro, e,
depois, Edson Khair protes-
tarem na Assembléia Legis-
lativa e o assunto ficaria no
esquecimento. O pior é que
dos 30 emedebistas, apenas
dois protestaram e ainda ti-
veram que enfrentar a sabo-
tagem do partido. O Primei-
ro Secretário da Assembléia,
o emedebista Sebastião
Menezes, mandou que as
luzes do plenário fossem
apagadas, para que seu cole-
ga de partido não protes-
tasse. O presidente, Pascoal
Citadino, também do MDB,
concordou com a sabota-
gem, e por duas vezes o Sr.
Jorge Leite teve que inter-
romper o seu discurso-pro-
testo.
Wanderley Guilherme
dos Santos, professor de
mestrado da Faculdade Cân-
dido Mendes, estréia neste
número de POLITIKA com
um trabalho muito impor-
tante sobre a responsabili-
dade internacional do Bra-
sil. Leia com atenção que se
trata de um documento
muito interessante no cam-
po da pol ítica exterior.
Romildo Fernandes
Gurgel, irmão do monse-
nhor Walfredo Gurgel, ex-
senador e ex-governador do
Rio Grande do Norte, foi
aposentado pelo presidente
Mediei, de acordo com o
que outorga o Ato Institu-
cional número 5. O aposen-
tado era Conselheiro do Tri-
bunal de Contas do Rio
Grande do Norte.
A esperança em que se
constituía para o trabalha-
dor rural o FUNRURAL,
parece que se transformará
em grande desengano. O mi-
nistro Júlio Barata anuncia-
rá, no dia 1? de maio, a
aposentadoria de nada me-
nos que 727 mil trabalhado-
res, por velhice e. invalidez.
Cada um receberá apenas 30
por cento do salário mini-
mo vigente na região. Isto
significa que a maioria dos
aposentados receberá ape-
nas 55,80 cruzeiros por
mês, para
se manter e à sua
família. O importante é que
a família do homem do
campo nunca é inferior a
seis pessoas.
O jurista Pedro Aleixo
já encontrou a fórmula para
contornar as dificuldades
impostas pelo governo para
a constituição do Partido
Democrático Republicano,
o PDR. Vai republicar os
estatutos do partido e com
isso ganhar mais um ano
para cumprir a formalidade
da_ apresentação de um mi-
Ihão e cem mil apoiamen-
tos. O prazo dado pelo go-
verno expirou no dia 31 de
março passado, pois a lei,
excepcionalmente, retroagiu
para prejudicar, quando
deveria ir até julho, data de
sua promulgação.
O governador Chagas
Freitas já começa a se de-
frontar com uma difieul-
dade para o pleito de 1974,
com a enxurrada de candi-
datos a deputados estaduais
postulando uma candida-
tura e seu apoiamen to. Pelo
menos seis jornalistas que
trabalham no "O
Dia" e "A
Notícia" querem seguir o
caminho do deputado"Miro".
Além disso, Chagas
fará ainda o governador in-
direto. No Palácio Guanaba-
ra os candidatos pululam.
Pescando em Peixe Boi,
Oliveira Bastos. Deixou a
vida atribulada da cidade e
se mandou para sua fazen-
da. Fiscalizar o rebanho e
tomar banho no igarapé de
águas profundas e crista li-
nas, como todo bom pa-
raense.
As autoridades do Ban-
co Centrai estão preocupa-
dos com o comportamento
de ^certas
financeiras, que
estão desviando dinheiro
para a compra de craques de
futebol, é bem possível que
nos próximos dias alguns
dos financistas sejam cha-
macios a atenção, pois as
facilidades dadas pelo gover-
no são para promover o de-
senvolvimento nacional e,
ao que se sabe, futebol não
promove riqueza, a não ser
de certos dirigentes.
A Editoria
POLI TI KA
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raHB . •%I
Wanderley
Guilherme
dos Santos
O maior problema
é que quase
todos os cientistas políticos
se mantém escondidos em suas
Universidades. O
que estamos
fazendo é divulgar-lhes teses. v
análise
CC
A questão do
poder, em4f
nível
internacional,
é também
uma questão
de caráter.
Não basta
querer
crescer, nem
basta reunir
os fatores de
crescimento
econômico. É
preciso
assumir a
compostura
de grandeza,
dos desafios
políticos que
identificam
a grandeza.
0 perfil da nova ordem internacional está mudando. O Brasil é um
dos poucos países que podem sentar à mesa de jogc do poder e
pagar o cacife. Isto exige uma visão correta do processo histórico
e uma visão concreta dos nossos interesses.
O autor deste trabalho
é um cientista político,
um professor de mestrado
em ciência política.
Como dezenas de outros
grandes pesquisadores,
o professor Wanderley
Guilherme dos Santos
vive praticamente
confinado no seu campo
universitário, escrevendo
trabalhos
importantíssimos para
publicações
especializadas ou
discussões em seminários
técnicos. £ o caso de
um José Murilo de
Carvalho, de um Celso
Lafer e de muitos outros.
Convencidos de que os
centros de poder
nacional precisam tomar
conhecimento desses
trabalhos, estamos
procurando esses
cientistas pol íticos.
Aos nossos leitores nem
precisamos recomendar
este texto. Quem teve
faro para nos descobrir,
nas bancas, faro terá
para avaliar a
importância e a
oportunidade do trabalho
do professor Wanderley
Guilherme dos Santbs.
(A editoria).
*
i
POLITIKA
análise
Poucos são os países que
não
temem fazer oposição à atual
hierarquia de poder.
O Brasil
pode opor-se. Daí sua
grande
responsabilidade, sua missão.
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Embora sem conflitos,
a posição
externa do
Brasil é de disputa com os centros
imperiais. Pela sua sobrevivência.
A MJSSAO
DO BRAS/l
NO MUNDO
v
O estado
nacional
0 curso internacional do Brasil é
de colisão com os centros imperiais
de poder. Muito embora a retórica
política da liderança nacional
decJare que o comportamento
externo do país é coincidente com
ó dos aliados tradicionais, a verdade
é que a freqüência de pequenas fra-
ses recusando legitimidade à divisão
do mundo em esferas de influência
explicam bem mais a sucessão de
pequenas e médias disputas que co-
meçam a se acumular nas relações
entre o Brasil e as grandes e ex-gran-
des*potências. Colisão não significa,
necessariamente, beligerãncia agu-
da, mas alargamento das áreas dc
conflito. Significa, sobretudo, que
esses conflitos passam a ser resolvi-
dos pelos mecanismos de barganha,
a partir de posições de poder antes
que pela submissão de um Estado às
pressões irresistíveis de outro Esta-
do.
Poucos são os países que po-
dem, realisticamente, opor-sa a que
a atual hierarquia internacional de
p jder seja considerada um dado na-
•uraf e permanente. 0 Brasil pode.
Daí a responsabilidade histórica de
um país cujo desempenho poderá
contribuir para que a ficção de
"1984 — um mundo dividido e sub-
jugado por dois centros imperiais de
poder em guerra permanente —
não
se transforme em realidade. A gra-
dativa autonomia da postura inter-
nacional do Brasil indica crescente
percepção das virtualidades das rela-
ções internacionais e do estratégico
papel que o país poderá representar
como agente de mudança da atual
ordem internacional. Parece ser
oportuno, portanto, o início de
uma reflexão pública responsável
sobre a moldura em que se desen-
volve a ação externa brasileira e so-
bre as repercussões internas que a
nova postura internacional do Brasil
possivelmente acarretará.
AGONIA
0 Estado nacional agoniza. Pri-
meiro, porque a associação do pro-
gresso científico à produção econô-
mica, via desenvolvimento tecnoló-
gico, gera a exigência de mercados,
de fatores e de consumo, cada vez
mais vastos. A privatização de mer-
cados relativamente amplos, ocorri-
da há alguns séculos atrás como de-
corrência da invenção da fórmula
política estatal, permitiu progresso
estável aos aglomerados humanos,
eficazmente resguardados dè ata-
quês externos. Hoje, entretanto, os
limites nacionais dos mercados con-
finam, mais do que estimulam, o
avanço da divisão social do traba-
lho — e, pois, da produtividade
— pela incapacidade de absorverem
integralmente os resultados desse
progresso.
Quanto à segurança das comuni-
dades, de há muito que o Estado
territorial deixou de oferecer prote-
ção coletiva acionando o mecanis-
mo de fechamento de fronteiras.
Pelo ar, nada é invulnerável. Final-
mente, a própria sobrevivência da
humanidade requer racionalização
no uso e restauração dos recursos
do planeta, o que desafia a legitimi-
dade da própria base material do
Estado nacional - a soberania terri-
tonai. Produção, segurança e sobre-
vivência da espécie são os processos
básicos que estão transformando o
Estado nacional em trambolho his-
tórico.^Que modo de articular a co-
operação^ entre os homens surgirá
da diluição das instituições contem-
porâneas?
Depende. Há quem exercite a
imaginação tentando elaborar as
propostas de sistemas institucionais
agoniza
transnacionais capazes de organizar
mais produtivamente a vida coleti-
va. É razoável supor, todavia, que a
nova ordem internacional será
modelada menos pela arquitetura
lógica de algum sistema jurídico
apriorístico do que pela dinâmica
das relações de poder entre atores
estratégicos. 0 mundo será aquilo
que dele fizerem as grandes potên-
cias. Paradoxalmente, a superação
do Estado nacional será e está sen-
do conduzida por Estados nacio-
nais.
Mas nem todos. A participação
efetiva dos atores nacionais nos pro-
cessos internacionais de decisão é
dependente da posição de poder re-
lativo de cajda um em relação aos
demais. Tal*como freqüentemente
ocorre com as Constituições Nacio-
nais, também os textos que discipli-
nam as interações entre os países,
muito embora afirmando a igualda-
de de direito de todos os Estados,
são reinterpretados pela prática de
conflito de interesses entre nações.
A dinâmica internacional é regida
pelas relações de poder entre os Es-
tados, com algum tempero de racio-
nalidade. Qualquer país aspirante a
um comportamento autônomo no
campo internacional deve estar pre-
parado para apresentar as necessá-
rias qualificações de poder, é possí-
vel questionar o conceito de poder
e vários estudos já mostraram as di-
ficuldades lógicas que uma defini-
ção precisa de poder deve superar.
. Para fins de processos de decisão,
entretanto, poder é definido pelas
capacidades que tornam certos Es-
tados, aos ojhos de outros Estados,
grandes potências, é desta definição
d$ pol í tica prática —
poder é o que
torna grande as
grandes potências—
que os Estados periféricos deri-
vam critérios para medir a capacida-
de de comportamento internacional
autônomo. E são esses critérios que
permitem distinguir, no conjunto
de países hoje ainda secundários,
quais são aqueles que podem vir a
ser atores estratégicos no jogo inter-
nacional e quais os que ficarão limi-
tados a uma participação
larga-
mente simbólica nos processos
mundiais de decisão.
*
D
fO
O
POLITIKA
A MISSÃO
DO BRASIL
NO MUNDO
Em termos de análise, pode-se
afirmar
que o
poderio nacional
dos estados se exprime
pela
autonomia de suas decisões e
capacidade de implementá-las.
análise
Recentes lições de dinâmica
internacional recomendam
autonomia
científica e estabilidade
política
. * ¦ ¦•- ¦¦¦*%%'j£L • y.>jwBfc. >:c: ""¦• yy W^B^k
PODER
Costuma-se medir o poder nacio-
nal relativo dos Estados comparan-
do população, território, recursos
naturais, capacidade industrial e mi-
litar. Em certo sentido, os três
primeiros ingredientes constituem a
•matéria-prima do poder, quetsô se*
torna efetive peta utilização ade-
quada desses recursos — o que se
revela na capacidade econômica,
sobretudo industrial, e militar do
país. Lições recentes da dinâmica
internacional recomendam que se
acrescente duas novas dimensões ao
poder nacional dos Estados: auto-
nomia de produção científica e
estabilidade política. Para aspirar à
posição de ator principal, qualquer
po.s orecisa transformar-se em cen-
tro autônomo gerador de conheci-
mento científico — e, conseqüente-
mente, gerador da tecnologia. Terri-
tório, população e recursos naturais
são os requisitos mínimos sem os
quais os Estados são obrigados a
abdicar da pretensão
de importân-
cia internacional. Mas isto não bas-
ta. Não sendo capaz de produzir ele
próprio o conhecimento e tecnolo-
Qia indispensáveis à sua evolução,
nenhum país poderá considerar-se
efetivamente autônomo. Em última
instância terá sempre que pedir a
chave das máquinas emprestadas
aos atores efetivamente estraté-
9'cos. Estabilidade política, enfim,
o que garante aos Estados o
suporte de retaguarda necessário
para a sustentação de uma posição?éter mi nada face aos demais esta-
i'
^a[,a efe't0 de análise, é possí-vel então considerar
que o podernacional
dos Estados se exprime no
grau de autonomia de suas decisões
que é uma função d seu potencialeconômico e autonomia cientí-
fica — e em sua capacidade de im-
plementar decisões face a eventuais
antagonismos — o que depende de
poderio militar e estabilidade polí-:
tica. Atores estratégicos da ordem
internacional são aqueles que apre-
sentam desempenho ótimo nessas
dimensões.
Desde logo é preciso reconhecer
realisticamente que, considerando
os dados do problema, cerca de
setenta ou oitenta por cento das.
nações formalmente independentes
dificilmente passarão de vocais es-
pectadores do processo de transmu-
tação histórica, é evidente que
maioria esmagadora dos países hoje
subdesenvolvidos é deficitária na-
queles ingredientes básicos que
constituem o potencial de poder
dos atores estratégicos. Alguns por
não possuírem território, outros
por escassa população, a maioria
por deficiências em ambas as di-
mensões, além de parcos recursos
naturais, é talvez suficiente a inspe-
ção de dados básicos quanto a
território, população, qualificação
da população e recursos naturais,
para identificar os países deste gru-
po.
Ao lado do conjunto de comuni-
dades, ao que parece condenadas,,
enquanto estados nacionais, a per-
manente subdesenvolvimento relati-
vo, pode-se identificar dois outros
conjuntos de nações que, dependen-
do do prazo em que se definam os
contornos essenciais do novo está-
gio histórico, poderão ou não parti-
cipar do processo na condição de
atores estratégicos. Um formado
pelo grupo de Estados que se pode
definir como em vias de subdesen-
volvimento; outro constituído pelos
já familiares países em vias dedesen-
'volvimento..
Países em vias de subdesenvolvi-
mento são aqueles que tendo de-
sempenhado papel de atores estraté-
gicos, e sendo ainda hoje atores de
relativa importância, experimentam
certa ^decadência
ao longo das di-
mensões que compõem o poder
nacional contemporâneo, é mais ou
menos claro que países
—como,
por exemplo, a Inglaterra — encon-
tram-se em curso de' importância
decrescente no cenário internado-
nai, muito embora ainda exibam
í'* 5s aparentemente ótimos em
algumas das dimensões do poder
nacional. Parece certo que poderão
cada vez menos apresentar o desem-
penho esperado dos atores estr^tégi-
cos contemporâneos, tendendo,
assim, para gradual subdesenvolvi-
mento relativo. Quanto mais longa
for a agonia do Estado Nacional,
mais se acentuará a distância que
começa a separar os Estados tradi-
cionalmente poderosos dos
pólos de
poder contemporâneos, com a con-
seqüente perda de peso específico
desses Estados na dinâmica da tran-
sição.
O problema dos países em vias de
desenvolvimento - e que possuem
os ingredientes básicos para partici-
par do jogo internacional - é preci-
samente o inverso do grupo ante-
rior. Para os países que estão ten-
tando, e têm condições de tentar
descontar o hiato que existe entre
etes e os dois pólos de poder, a
questão consiste exatamente em
que as decisões fundamentais não
sejam tomadas antes que' eles se
constituam em atores estratégicos
ou pelo menos relevantes. Enquan-
to paísés como a Inglaterra e a
França, talvez, apostam num prazo*
breve^ para a decisão sobre certas
questões (não nuclearização, exceto
para os que já são Estados nuclea-
res, por exemplo), alguns dos países
am vias de desenvçlvimento, Paquis-
tão, por exemplo, ou talvez, tam-
bém, a Argentina, apostam ao con-
trário, num prazo longo,
que lhes
dê tempo de efetivamente transfor-
mar sua potencialidade de ator es-
tratégico em poder real.
O número de países capazes de
desempenhar algum papel determi-
nante no processo de transição his-
tórica é bastante pequeno. Afasta-
dos os países que de saída não
podem pagar nem o bilhete de
entrada no jogo —
que é determina-
do pelas potências imperiais — mais
aqueles que se distanciam da fila de
atores estratégicos, e ainda aqueles
que, embora potencialmente capa-
zes, não estão tomando as decisões
acertadas nos momentos apropria-
dos para transformar o potencial
em real, restam talvez com probabi-
I idade efetiva de desempenhar papel
de atores estratégicos a China, a
índia, o Brasil e o México. O Japão
define um caso especial íssimo de
atór de alta relevância — que muitos
outros países também podem vir a
ser —
mas que não chega a ser pro-
priamente estratégico pela extrema
vulnerabilidade na dimensão de re-
cursos naturais.
O perfil da nova ordem interna--
cional, e muito provavelmente das
futuras comunidades humanas, está
sendo cotidianamente plasmado pe-
Ia interação que se processa, hoje,
entre os dois centros imperiais de
peder. A permanecer inalterada a
distribuição de poder na hierarquia
internacional, então o cenário des-
crito em 1984 adquire alta probabi-
Iidade de material ização: os Estados
nacionais secundários perderão niti-
dez, sendo gradativamente absorvi-
dos sob o manto de um dos dois
focos imperiais de poder.
?
<: V*., Jrr*^¦.
D
POLITIKA
6análise
Nenhum país pode desempenhar
papel estratégico de graça. Adinâmica das relações gera a
pressão sobre aspectos muito
relevantes na vida da nação.
A MISSÃODO BRASILNO MUNDO
A responsabilidade
internacional do
Brasil decorre do
estágio de transição
em que se
encontra o mundo.
^^ê ^B ^_^^ 'uJl
8BflBi^
ha wÊÊÊÊa I r yi Xk^^^^^^^m^^TJj Bb» ••-}**¦-.. ».» *^^^^^^^^^wwwwwi^^fcA«^L_____p_j_E^^jL ^m**mt*tOmWmttmr ííb*--*—~*»**mmm. ,,*.. ^mmmmmmmm*t*^****^
é difícil imaginar uma versão
moderada de 1984. A divisão domundo em três e não apenas em
duas áreas de poder, no interior das
quais os estados secundários desa-
parecessem, já traria talvez tensões
e custos excessivos. Se se pensa en-
tão num jogo internacional com.
cinco ou seis ou, talvez, mesmo sete
atores estratégicos, então o cenário
de 1984 torna-se seguramente inviá-
vel. 0 mundo não é bastante vasto
para tantos centros imperiais de.
poder. Conseqüentemente, o desa-
parecimento do Estado nacional,
não se fará mais via associação com,
e perda de identidade em favor de
um centro imperial, único a reter
sua identidade nacional. Fórmulas
menos discriminatórias e dominado-
ras teriam que ser encontradas. Dar
a responsabilidade daqueles países
que, simultaneamente, possuem a
base potencial requerida pela defini-
ção contemporânea de poder e não
se encontram demasiadamente
retardados na corrida contra o tem-
po. Entre eles, o Brasil
PAPEL
* Nenhum país pode desempenhar
papel estratégico gratuitamente. A
dinâmica das relações de poder gera
pressões sobre aspectos relevantes
da vida interna dos países, sobretú-
do daqueles países cuja transforma-
ção de ator periférico em ator estra-
tégico implica, por isso mesmo, emmudança na escala de estratificaçãointernacional.
Assim, o impulso para o desem-
penho de papel estratégico terá cer-
tamente impactos na política inter-:na do Estado brasileiro. Na mee? Jaem que um dos componentes da au-
tonomia de decisão-característica
de atpres estratégicos - é definido
pela autonomia de produção cientí-
fica, é certo que a dinâmica docomportamento exterrv) do país o
levará a defrontar-se com limites
impostos por sua capacidade inter-
na de nrndurãn rientífim A nproio
tência de uma certa política, no âm-
bito externo, passará a depender vi-
sivelmente da implementação de
uma política científica no âmbito
interno. E muito provável que isso
já esteja ocorrendo em certas áreas,
na área, por exemplo, da tecnologia
nuclear. A tendência, todavia, é
para a generalização desse esforço
de autonomização interna como re-
taguarda necessária à sustentação depol íticas externas.
0 ordenamento político internoé outra dimensão que tende a rece-ber considerável impacto comorigem no curso externo do país. Àestabilidade política é elemento im-
prescindível na constituição da ca-
pacidade nacional de implementar
políticas externas. Mudanças fre-
quentes e extemporâneas na ordem
política interna é fenômeno difícil-mente compatível com a perseve-rança de uma política internacional,
especialmente se se trata de uma
pol ítica de certo modo desafiadora
de ordenamento prevalecente. Mas
a estabilidade política requerida é
uma estabilidade.institucionalizada,
o que supõe uma sociedade integra-
da por relativo consenso, e não uma
estabilidade amorfa, caracterizada
Dela Çl.nrPCçSr. rari',r*nl rtr. H!ccor~-
A segurança de retaguarda que um
curso internacional audacioso ne-
cessita não é obtida pelo isolamento
anti-sético do centro nacional de
poder mas pela institucionalização
do fluxo de comunicações, deman-
das e apoios, entre centro de podere periferia, nos limites definidos pe-Ias exigências do curso internado-
nal do país. A pedra de toque doordenamento político interno ten-
dera a ser a associação ao projetoexterno do país, base suficiente
para a criação de consenso relativointerno, permitindo a institucio-nalização da estabilidade glcançadae superando clivagens políticas va-zias de significação para a dinâmicado Brasil contemporâneo.
A responsabilidade internacional
do Brasil decorre do estágio detransição histórica em que se encon-
tra a humanidade,no qual o princi-
pai instrumento de superação do.
Estado nacional é o desenvol 'c<_.n-
to do próprio Estado nacional. Do-
tado de potencial básico para con-
tribuir positivamente para a consti-
tuição de uma ordem mundial me-
nos discriminatória, competitiva e
ameaçadora como a atual, o Brasil
começa a desenvolver um conrtnnr-
tamento internacional relativamen-
te adequado à sua capacidade po-.tencial. Duas dimensões nevrálgicas
precisam ser cuidadas todavia no
curto prazo para que se torne mais
facilitado o desempenho desse
papel: a autonomização da produ-
ção científica e a instituciona-
lização da estabilidade política.
Gerardo
Mello
Mourão
POLI TI K A
O banco cresceu tanto que já
não podia
caber nas estreitas
avenidas da província.
Foi aí
que nasceu o Banco Ugandense
de Mi-Gehr, em toda plenitude.
fikção
Era uma vez um banco,
que começou a crescer e
florescer numa província
de Uganda. A Uganda não
é um país muito rico.
0 banco, porém, ficou
muito rico. Tão rico,
que se estendeu da
província de Mi-Gher,
em que nascera,
espalhando sua rede de
agências sobre todo o
território nacional,
cobrindo-o como um
imenso guarda-sol ou
guarda-chuva, segundo
chovesse ou fizesse sol
no país. Pois a Uganda
é uma região cheia de
imprevistos climáticos,
onde nunca se sabe se
vai chover ou fazer
sol. De resto, os
imprevistos políticos
em Uganda são tão
freqüentes como os
imprevistos atmosféricos,
daí o cuidado dos
diretores do banco
de terem sempre à mão
para uso próprio, um
guarda-chuva ou um
guarda-sol, a fim de
se protegerem, quaisquer
que sejam as condições
da meteorologia e da
política. Com todas
essas habilidades
e sábias cautelas, ao
transpor os limites de
sua província de origem,
o banco passou a
chamar-se Banco
Ugandense de Mi-Gher,
pois, na verdade, sua
amplitude já não era
apenas mighereira,
mas nacional.
Não se sabe porque, os
dirigentes do banco
tinham, todos, nomes
chineses. Talvez porque
o próspero
estabelecimento de
crédito, graças a seus
amenos fluxos de caixa
e borderôs, desse a
seus bem-aventurados
diretores a doce
impressão de um Celeste
Império, em que os juros
desabrochavam
florescentes como
crisântemos e as pingues
comissões engordavam
no pasto oferecido aos
rebanhos da clientela.
Assim é que o grande
patriarca do banco era o
experiente e silencioso
Li-Pin. Li-Pin
orgulhava-se de ser um
self-made-man, pois
também em Uganda, e
também entre os
chineses, há alguns
self-made-men. 0 chamado
self-made-man, como se
sabe, é um cidadão que
emerge de uma posição
modesta e consegue
chegar, sem que nunca
se saiba muito bem como,
a píncaros conspícuos do
mundo de negócios e
da sociedade capitalista.
Deles se diz que
"se
fizeram por si mesmos
ou, como proclamava um
bem sucedido
co-provinciano de Li-Pin,
no título de uma
obra que nunca publicou,
Eu me fiz por si mesma
0 conflito dos
pronomes, no caso, é
irrelevante, pois a
gramática não é o forte
do self-made-man. Suas
relações com a cultura
são apenas de
natureza contábil e
dela tem apenas a
mesma vaga e nebulosa
noção que temos sobre o
milagre de suas
fortunas, que parecem
crescer, por geração
M r\ k:;: §
.¦"* i^#mivum
¦••I ¦#/)
rfl B-J
espontânea, no silêncio
das caixas-fortes,
comó colônias de
cogumelos à sombra das
estufas.
0 certo é que Li-Pin,
patriarca e mandarim do
banco, chegara a essa
posição eminente depois
de galgar os mais
humildes degraus da
carreira e adquirira
o domínio acionário da
casa depois da morte de
outro mandarim, cujos
herdeiros perderam o
bastão de comando.
Ninguém tem razões para
pôr em dúvida a
honradez dos métodos de
Li-Pin para chegar à
presidência do banco.
Era um homem cordial e
eficiente e a eficiência
costuma ser, no mundo
dos negócios, um aval
suficiente à honradez
dos bem sucedidos,
segundo a moral
capitalista, para a qual
a única coisa
importante é fazer
dinheiro, ou, como
dizem os self-made-men,
que gostam de
expressões americanas, .
make money.
Gerardo
Mello
Mourao
POLITIKA
E uma tradição de família emUganda que os filhos sucedam
os pais no gozo do poder e nocontrole de bancos. É, talvez,
o remorso do "self-made-man".
Dinheiro costuma ser emUganda a alavanca para outros êxitos. E Li-Pin
se viu dono do poder
------------------------------------------a
8fikção
| O BANCO
ICO.
Li-Pin fez dinheiro. £ uma verda-de que ninguém pode contestar. Ecomo o dinheiro costuma ser emUganda, e no mundo capitalista em
geral, a alavanca de outros êxitos,Li-Pin foi levado das ame nidades do
poder econômico *às galas do poderpolítico. Para não confundir umacoisa com a outra, passou a gestãodos negócios do banco a um sobri-nho, Lu-Hi-Lin, que aprendeu rapi-damente as lições do tio e tomou-se, também, um self-made-man. Co-rno o feliz império da Áustria, queresolvia seus problemas por meio denúpcias, Lu-HhLin passou a integrara Tradicional Família de blganda,casando-se, no seio de uma honradacasa, mais ou menos fidalga, da so-ciedade ugandense, juntando sabia-mente o útil ao agradável e constru-indo um matrimônio irrepreensívele exemplar, fundado no amor, ci-men tado pela abastança e, por issomesmo, louvado em prosa e verso'nas
crônicas mundanas, muito emvoga na imprensa sadia de Uganda.
Em breve, o discípulo, isto é, osobrinho, alcançava uma reputaçãotão grande ou maior que a do tio nomundo brilhante dos cheques e das
promissórias. Seu ar tímido e dis-creto, copiado ao velho mandarim,contribuía, com o suporte dos gui-chês de seu banco, para um trânsito
proveitoso através de todas as insta-bilidades que caracterizavam a sofis-ticada política de Uganda. E os doisse completavam na hábil manobrade estar sempre ao lado do poder,pois Li-Pin e Lu-Hi-Lin eram umaespécie de ponte permanente entreas contradições da vida partidária,que fazia subir e descer em Ugandaa estrela dos governos. Assim é quequando todos pensavam fosse Lu-Hi-Lin atravessar maus momentos,
por haver sido o caixa e banqueirode um golpe plebiscitado para sus-tentar um dos reis de Uganda, der-rubado por um movimento vitorio-
so, o velho Li-Pin, que também fora
comensal à mesa do rei batido, sur-
ge, com seu sorriso de mandarim,
do alto das montanhas da provínciaonde reinava, como autor do mani-
festo que anunciava aos povos a re-
belião das novas forças triunfantes.
E Lu-Hi-Lin, com a imperturbável
naturalidade de seu ar tímido e
amorável, saltava do trem descarri-lhado, sacudindo a poeira dos sapa-
tos, para continuar sua plácida via-
gem banqueira nas mais conforta-
veis poltronas do carro vitorioso.
Era um homem eficiente. E os po-vos precisam sempre de homens efi-cientes.
A eficiência conduz ao poder, e o
poder, como se sabe, é desafiador e,
por isso mesmo, perigoso e exposto,
à competição. Lu-Hi-Lin passara aemparelhar seu poder com o de Li-Pin. Eram dois reis num reino só.
Diz o poeta que:"pobres,
num só colchão
podem caber uns três,
mas o maior império é poucopara dois reis".
Mesmo assim, porém, os dois iamlevando equilibradamente a coisa, econtinuavam crescendo, senão emidade e graça, como diz o Evangelis-
ta do Menino Jesus, certamente em
poder e dinheiro. Era uma união
que parecia tranqüila e imperecível,em que se juntavam duas coisas quesempre se deram bem: a fome e avontade de comer.
Vai dai, porém, o doce céu azuldo Ce/este Império é to/dado poraquela realidade conhecida pela sa-bedoria popular do folclore deUaanda, segundo a qual,
"numa casa de cabôco,
um é pouco,dois é bom, três é demais".
Acontece que Li-Pin tinha doisfilhos, ê da tradição das famílias deUganda, desde tempos imemoriais,
que se queira, como Penélope que-ria. que os filhos sucedam os paisno gozo do poder e no controle dasriquezas. Esta é, de resto, uma dascontradições do capitalismo, onde osagrado sentimento da propriedadese projeta até além da morte, deven-do o cadáver dispor de seus bens.mesmo do fundo do sepulcro. Oself-made-man parece ter certo re-morso de ter sido o que foi e não
quer que seu filho seja um self-made-man, mas um herdeiro. Deforma que, no mundo capitalista,
jao que parece, ser self-made-man |
não é uma coisa muito limpa, exi-
gindo tantas concessões e tantos:hiatos de consciência, que os porta-dores do título não querem trans-mití-lo aos próprios filhos. Prefe-rem transmitir-lhes um espólio gor-do em bens de raiz, depósitos ban-cáries e ações ao portador.
E possVvel que desse sentimentode amor matemal tenha surgido adesignação para a presidência dobanco de Uganda, não de Lu-Hi-Un, como se podia esperar, mas deum dos filhos de Li-Pin. Dessa de-signaçào, começaram, desde algunsanos, a surgir rivalidades e descon-fianças no comando do banco, sem-pre apaziguadas pelo sábio espiritoconciliador do velho mandarim.
Com o passar dos tempos, po-rém, o coração de Li-Pin começou aamolecer, perdidos seus olhos e seusdias no vôo das borboletas mu/ti-cores e na graça com que as fazia
pousar sobre cheques voadores aformosa Li-Ton, que fora rainha dabeleza numa província de Uganda.
O jovem filho de Li-Pin, zelosodos cabedais e da sucessão, come-çou a aparar as asas das borboletas edos cheques voadores, com grandecontrariedade de Li-Pin que, no li-miar da velhice, tinha naqueles do-ces passatempos lúdicos as melhoresalegrias da idade provecta, come-çando a confundir ócio e negócio.
Lu-Hi-Lin tomou o partido dovelho mandarim, ninguém sabe aocerto com que intenções. Queremoscrer que tenham sido boas. Mas fi-lho é filho ou, como se diz emUganda, filho é fogo. E o resultadofoi que, se Li-Hu-Lin tomou o parti-do de Li-Pin contra o filho cautelo-so, Li-Pin, por fidelidade às vozesintimas que regem a vida de um larda Tradicional Família Ugandensetomou o partido do filho contraLi-Hu-Lin. A situação tornou-se in-sustentável no Celeste Império eLu-Hi-Lin consumou, finalmente, adecisão fatal: meteu o paletó eabandonou, amuado, a direção dobanco, que tanto crescera em suasmãos.
Nao se sabe se fez, propriamente,um sacrifício, pois é possível que jáesteja com seu passe regiamentevendido a outro banco da praça.
Em Uganda se compram, com fre-
qüência, passeis de jogadores de fu-tebol e de executivos de banco, se-
gundo safe o doutor Roberto C*%*m-pos. As colunas sociais, por certo,
que acompanham sempre os passosde Li-Hu-Lin, hão de infoi*mar o ru*mo de suas novas atividades. O cer-to é que saiu rico e feliz, desmentin-do aquela balela de que o homemrico nao tinha camisa. Pois Li-Hu-Lin tem muitas camisas, de todas ascores e para todas as circunstâncias,
para os plebiscitos populistas e asassembléias conservadoras, lição
que aprendeu do velho tio experien-
te. E diz-se que se prepara, antes denovos compromissos bancários, pa-ra luzir algumas delas em Paris, on-de leva a tiracolo, com salários de
embaixador e numa demonstraçãode refinado bom-gosto, como com-
panheiro de viagem, um ameno filo-sofo oriundo das montanhas de
Uganda. O bom-gosto do filósofo é
que é duvidoso, pois, afinal, nào háde ser dos mais leves o trabalho deagüentar, vinte e quatro horas pordia, a companhia de Li-Hu-Lin,
pouco jocunda para um homem decultura. Mas pode ser também umaaventura fascinwte e matéria deuma futura crônica do filósofo. Pois
Li-Hu-Lin, que é capaz de querercomprarão Louvre o retrato de Mo-na Lisa, pensando tratar-se de uma
vedete disponível, à noite no Mou linRouge, também é capaz da façanhade inserir-se, com a ajuda de seu no-me chinês, na Comissão de Paz doVietnã, e apoiar ali, ao mesmo tem-
po, as causas de Hanói e Saigon, deNixon e de Mao, de Thieu e do
Viéteongue. Vamos esperar, pois,como se diz em Uganda, não há na-
da como um dia depois do outro,com uma noite no meio. Sobretudouma noite em Paris.
POLITIKA
ArthurLoureiro
A coalisão dos socialistas ecomunistas franceses perigaporque Brejnev deu seu apoioàs pretensões da Inglaterra
de ingresso no Mercado Comum
MCE, cavalo de
9konjuntura
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aLeonid Brejnev
DILEMAQuando Brejnev
pronunciou seu discursoem Moscou, ante o 15o.
Congresso dos SindicatosSoviéticos, nasegunda-feira, 20 demarço, ele estava sem
querer confirmando asteses de McLuan:"Na
era eletrônica, a
política exteriortradicional está morta.
Os meios de comunicaçãotransformaram o mundonuma aldeia global(the global village)."Brejnev falava em Moscou,mas suas palavras eramescutadas com maisatenção em Paris, emBonn, em Pankow, emVarsovia, em Pequim,em Nova Iorque ou emNova Deli.
E produziam resultadosmuito mais consideráveis,em qualquer dessascidades, do que em
qualquer parte doterritório soviético.
Brejnev disse, em Moscou,
para ser, na verdade,
escutado principalmenteem Paris e em Bonn:"Nós
observamosatentamente a atividadedo Mercado Comum e suaevolução. 0 Mercado
Comum faz parte da
situação real na Europa
do Oeste. Nossas relações
com os membros desse
grupo dependerão da
medida em que eles
reconheçam, por sua vez,
as realidades existentes
na parte socialista da Europa,
principalmenteos interesses dos paísesdo Comecom. Somosfavoráveis a relações
econômicas baseadas na
igualdade e somos contra
a discriminação."Era a primeiravez que um dirigente
soviético se referia ao
Mercado Comum em termos
assim positivos.Em Paris, essas palavrasforam um auxílio valioso
para o presidente,francês Pompidou que,ao finalizar a sexta
entrevista coletiva àimprensa do seu setenato,
havia dito, quatro diasantes:
"A adesão da
Inglaterra ao MercadoComum ultrapassa, emmuito, o simples conceitode ampliação. Acho queé meu dever e queé fundamentalmentedemocrático conclamaros franceses, que me
elegeram diretamentea pronunciarem-se,também diretamente,sobre esta políticaem favor da Europa."
A decisão do Chefe de
Estado, cujo segredofora rigorosamentemantido, suscitou aomesmo tempo grandeentusiasmo entre os
componentes da maioria e
grande tumulto na
oposição. O partidosocialista — cuja posiçãoa respeito da Europa é
diametralmente oposta à
do partido comunista —
denunciou imediatamentea manobra de Pompidou:"uma
simples operação de
pol ítica interior".
Realmente, com a medida
o presidente consolidavaa sua própria maioria,
angariava maior
autoridade, com oequivalente a umareeleição no meio do seu
longo mandato e
dividia a oposição,lançando os socialistas,favoráveis à Europa dos
seis, contra os
comunistas, adversários
do Mercado Comum, em
obediência à tradicional
política de Moscou.
Tudo isto sem correr
qualquer espécie de
risco, já que seriaimpensável umresultado desfavorávelao ingresso daInglaterra. A notíciaecoou como umabomba nos arraiais daoposição de esquerda,onde socialistas ecomunistas, a duras
*
I, fl*T l^^^^^lH
BL. ^rf^
flfl iLia* flflfl^kw __ \\\\\\\\__\ J——t : _________________
George Pompidou
penas e depois deintermináveis discussõesvinham conseguindoestabelecer uma frenteúnica. Para que aoposição não sedividisse — os ^socialistas votandosim e os comunistas
votando não - imaginou-uma estratégia capazaté de esvaziara manobra de Pompidou:a
POLITIKA
IO¦conjuntura
O referendo proposto porPompidou para o ingresso da
Grã-Bretanha no MCE ofendeuos brios dos ingleses, que sesentem diminuídos com isso
MCE, cavalo deTróia de Moscou
I ML jmW:--'*"^mflflflflflflflfljt. \f 'fll >v 'm \ fll
Wtfy Bnatdt
Vassalosdo DuquePompidou
Na Inglaterra, a idéia do referen-dom tivera péssima repercussão. Osadversários do Mercado Comumadotaram-na e obtiveram uma vit6*ria de treze votos contra onze noComitê Central do Partido Traba-Ihista. É quase certo portanto, queo trabalhista Anthony WedgoodBenn será autorizado, em nome daoposição, a apresentar na Câmarados Comuns um projeto de lei queestabeleça a realização de um pie-biscito na Inglaterra. Eis como umamanobra criada para atacar os sócia-listas na França, acabou sendo utili-zada pelos trabalhistas para pertur-bar os conservadores na Inglaterra.0 Daily Express, de Londres, porsua vez, afirmou: "Se
os francesesdisserem não, nós seremos o preten-dente três vezes rejeitado, um obje-to de desprezo e de piedade. Se osfranceses disserem sim, nós seremosadmitidos como por favor e se espe-rara de nós o comportamento devassalos reconhecidos do DuquePompidou. Nos dois casos, nós per-deremos". Se além desse insucessoexterno, socialistas e comunistasunidos assegurassem a abstenção, aespetacular vitória programada iriase transformar num oceano de vo-tos em branco, a indicar desinte-resse profundo dos eleitores.
Foi aí que o Partido Comunista
Francês, fiel à orientação de Mos-
cou, implícita no discurso de Brej-nev, deliberou tomar a atitude equi-
valente de modo objetivo a apoiar o
Governo. A 23 de março, GeorgeMarchais anunciou que o PCF vota-iria nao.Ma sexta-feira seguinte, 26de março, Combat, de Paris, estam-pava em manchete na primeira pági-na:
"Le P.C. sauve Pompidou".
Assim, como em maio de 1968, oPartido Comunista Francês repetia'exatamente
aquilo que vinha fazen-do desde o fim da Segunda GuerraMundial: dedicar ao governo as suaspiores palavras e as suas melhores
Também para o chanceler WillyBrandt, as palavras de Brejnev cons-tituíram importante ajuda. Na Ale-manha Ocidental, toda a vida politi-ca está voltada no momento.para oproblema da retificação pelo Bun-destag dos tratados que Brandt assi-nou em Moscou e Varsóvia. Em ou-tubro de 1969, uma coalizão dopartido social-democrata (S.P.D.)de Willy Brandt com o partido libe-ral (F.D.P.) entregou o governo daAlemanha Federal, pela primeiravez nos últimos quarenta anos, aum chanceler socialista. A políticados cristãos - democratas (C.D.U/CS U) Adenauer e Kiesinger haviasido intimamente unida à guerrafria e à imperiosa necessidade dereintegrar progressivamentea Alemã-nha à sociedade internacional.Brandt assumiu o poder num mo-mento em que a guerra fria vinhacedendo lugar a um desejo sincerode pacificação entre Oeste e Leste.Nestas condições, a famosa ostpoli-tik de Brandt visava a um entendi-mento com a URSS baseado.em vá-rias concessões de ambas as partes.A_ Alemanha assinaria o tratado denão proliferação das armas nuclea-res (como foi feito), reconheceria alinha Oder-Neisse (como tambémfoi feito) e procuraria estabelecer
A política da URSS éde dividir para poderconsolidar seu frontrelações normais com a RepúblicaDemocrática Alemã, sem chegar en-tretanto ao reconhecimento de jure.Por sua vez, a URSS renunciaria aodireito de intervenção na AlemanhaFederal, que a sua condição de po-1tência vencedora, segundo a Cartada ONU, lhe reconhecia. A URSStambém reconheceria moralmente a1Alemanha do Oeste como potênciaestatal válida e aceitaria os laçosparticulares estabelecidos entre Ber-lim Oeste e a República Federal.Esta eca a essêociados tratados queBrandt assinara e cuja ratificação es-tava se tornando duvidosa. A coliga-ção dos social democratas (SDP) edos liberais (FDP) assegura umamaioria escassa de apenas dois «de-
putados. Enquanto isso Reiner Bar-zel, Presidente do partido democra-ta cristão (CDU), na oposição, vemfazendo- uma violenta campanhacontra a ratificação. Na «mana an-terior, em entrevista à revista fran-cesa L'Express Barzel apresentavatrês fatos concretos que justifica-vam a sua posição. O principal delesera o seguinte:
"A URSS combate a
Comunidade Européia". Eis porque Brejnev, interessado em conso-lidar o seu front europeu para termãos livres na China, disse que
"o
Mercado Comum faz parte da situa-ção real na Europa do Oeste", etc,etc. No dia seguinte, Conrad Ahlers,porta-voz do Governo de Brandt,declarou:
"a principal objeção dos
opositores do Governo aos tratadosestá agora sem objeto".
_Mas, pelo sim pelo não, Brejnevnão ficou só nisto. Foi direto ao te-ma principal:
"Os partidários de
uma revisão do acordo germano-so-viético no que concerne às cláusulasterritoriais não encontraram interlo-cutores, porque este não é um temade negociações nem agora nem maistarde. Já é tempo de"se compreen-der que a este respeito não há nempoderá haver normalização real dasituação européia, sem que se leveinteiramente em conta a situação daRDA como país socialista soberanoe independente".
Não era apenas com vistas a Parise a Bonn que Brejnev falava. Haviatambém recados para Nova Iorque,Pequim e Nova Deli. Com relação àviagem de Nixon à China, Brejnevconsiderou-a natural.
"Mas o impor-
tante é saber em que bases esse con-
tato se fundou. A última palavrapertencerá aos fatos e aos atos daChina e dos Estados Unidos." Isto
quer dizer que tudo vai dependerdos entendimentos entre russos eamericanos, por ocasião da visita deNixon à Rússia, em maio vindouro.
Enquanto aguarda os resultadosdessa visita, Nova Deli faz o balançoda situação depois da guerra do Pa-
quistão. O conflito custou 1-bilhãoe 350 milhões de rúpias, somentelevando em conta o material des-truído: 45 aviões, 75 carros de com-bate e uma fragata. O orçamento dadefesa para 1972-14,1 bilhões derúpias - representa 30% do orça-mento total. 0 montante de assis-tênciaaos dez milhões de refugia-dos n«io foi suportado, nem de lon-
ge, pela comunidade internacional,o que forçou a manutenção dos im-
postos especiais criados para fazerface a essa despesa.
Está^ claro que a fndia não temcondições de suportar semelhanteesforço. Em conseqüência, procu-ram-se não só um entendimentocom o Paquistão como também asvias de um diálogo com a China. Anecessidade de manter uma vigilân-cia contínua, de substituir o mate-rial destruído e de adquirir novosequipamentos é premente. Alémdisto, há os gastos com as vítimasde guerra: 3.471 mortos e 8.648 fe-ridos, segundo o ministro da Defe-sa. O ministro das Finanças, por suavez, afirma que
"é uma necessidade
urgente libertar o país da ajuda ex-terior, já que os doadores utilizamesta ajuda como meio de pressãopolítica." É uma alusão clara aosEstados Unidos, que suspenderam aassistência logo que se iniciou oconflito indo-paquistanês. Atravésdas palavras de Brejnev, Indira Gan-vjiii oauc que ueve dCJUdlUdí US ítíòui-
tados da visita de Nixon a Moscoupara saber com o que contar. Habi-tação rural, alimentação, água potá-vel, educação primária, saneamentode favelas, assistência à infância,saúde (num total de 560.000 ai-deias, 130.000 sofrem de cólera edoenças intestinais endêmicas),tudo isto na fndia depende agora,em parte considerável, do grau de
pacificação que fôr atingido entreos três grandes.
Á
POUTIKA
MCE, cavalo de
Tróia de Moscou
O resultado do encontro entre
Nixon e Brejnev é esperado
pela China e índia
para que
possam ser definidos os rumos
da hoje moribunda
guerra fria
konjuntura
Os russos
procurarão interessar os
americanos num plano
de valorização
econômica da Sibéria
Com relação à China, Brejnev foi
cauteloso:
"os representantes ofi-
ciais chineses nos declaram que as
relações entre a URSS e a Repúbli-
ca Popular Chinesa devem ser fun-
dadas nos princípios da coexistên-
cia pacífica. Se a direção de Pequim
não prefere antes relações com um
Estado Socialista, nós estamos de
acordo então em desenvolver as re-
lações sino-soviéticas atualmente so-
bre aquela base. Posso dizer que
não somente nós proclamamos que
estamos de acordo em fazê-lo,
como também traduzimos nossas
palavras em proposições perfeita-
mente concretas e construtivas com
relação «<à não agressão, ao não re-
curso à força, ao melhoramento das
relações sobre uma base mutuamen-
te vantajosa. Estas proposições são
conhecidas há muito dos dirigentes
chineses. Cabe a eles, pois, a inicia-
tiva".
Portanto, não é só Indira Gandhi
quem vai esperar o encontro Nixon
- Brejnev, Mao Tse-tung e Chu
En-lai também vão. Sobre esse en-
contro, o discurso de Brejnev nada
mais contém do que vagas generali-
dades. A URSS considera o encon-
tro muito importante, deseja chegar
a entendimentos com os USA que
assegurem a paz na terra, mas afir-
ma que tais entendimentos não se-
rão feitos em detrimento dos inte-
resses soviéticos ou de outros po-
vos. Em resumo: Brejnev não disse
nada a esse respeito. E no entanto,
do que ficar decidido em Moscou
em maio, vai depender, de certa for-
ma, ou o estabelecimento de uma
ordem mundial mais estável ou uma
verdadeira escalada no nível da hoje
moribunda guerra fria.
A grande confrontação da hora
presente é a que opõe a China à
União Soviética. Nixon está ina po-
sição privilegiada de quem pode es-
colher o seu parceiro na jogada pró-
xima e tem, dessa maneira, a possi-
bilidade de encaminhar o mundo
para o equilíbrio pacífico ou para a
rivalidade passional. Se os Estados
Unidos escolherem a.via de um au-
xilio maciço à industrialização chi-
nesa, com vistas a criar uma ameaça
no front oriental da' Rússia, o mun-
do vai mergulhar de novo em outro
Quarto de século de guerra fria, com
todos os inconvenientes bem conhe-
c|dos e sem nenhuma vantagem visí-
vel. Se, por outro lado, Nixon parti-
cipar substancialmente dos planos
de valorização econômica da Sibé-
ria, como sonham os russos, aban-
donando os chineses com todos os
seus problemas, tal atitude também
não conduzirá —
bem longe disso —
a uma ordem internacional mais
equilibrada.
O perigo maior, entretanto, de-
corre da possibilidade de Nixon —
aliás bem de acordo com toda a sua
conduta política —
pretender tratar
com os russos assumindo uma posi-
ção de força. Já vimos que a con-
juntura, no que tange às relações
dos três grandes, propicia aos ame-
ricanos essa posição. Além disto e
contrariamente ao que deixa trans-
parecer a propaganda do Pentágo-
no, os Estados Unidos não estão em
desvantagem em matéria de arma-
mento estratégico. A União Sovié-
tica está atualmente na liderança
em número de mísseis baseados em
terra. Poderá a curto prazo igua-
lar-se aos Estados Unidos quanto ao
número de submarinos lança mis-
seis. Esta superioridade quantitati-
va, porém, é ilusória. A qualidade
dos mísseis americanos é superior à
dos soviéticos e essa superioridade
qualitativa é de fato uma superiori-
dade quantitativa também.
Os Estados Unidos possuem su-
perioridade em matéria de MIRV
(mísseis de ogivas múltiplas). Quan-
to mais ogivas forem lançadas,
maior número de objetivos poderá
ser atingido e mais fácil será saturar
a defesa inimiga de mísseis an ti mis-
seis. Os especialistas calculam que,
em meados do corrente ano, os
americanos terão uma superioridade
de cerca de 1.000 ogivas nucleares
•em relação aos russos.. Ern 1975,
considerando-se as alterações dos
Minutemen e a conversão em Posei-
don dos 31 submarinos Polaris, os
Estados Unidos contarão com
20.490 ogivas nucleares prontas
para lançamento. I.F. Stone, o co-
nhecido comentarista americano,
pergunta:
"que vamos fazer com
20.000 ogivas nucleares separadas?
Se a situação fosse invertida, é claro
que nós estaríamos suspeitando que
objetivo soviético era construir uma
capacidade de primeiro ataque."
O novo orçamento da defesa
americana acrescenta 6 bilhões e
300 milhões de dólares para início
da amortização de um arsenal que
custará 50 bilhões, ao todo. Num
ano eleitoral, compreende-se bem
que a administração de Nixon tenha
autorizado tão grande aumento. Ha-
verá uma enorme ampliação de em-
pregos para cargos qualificados, os
sindicatos ficarão satisfeitos e serão
conseguidas generosas contribuições
financeiras para a campanha eleito-
ral oferecida pelos poderosos fabri-
cantes de armamentos.
Como nós começamos este artigo
sob a égide de McLuhan, vale a pe-
na citá-lo outra vez, tendo em vista
tudo o que ficou exposto até aqui:"Hoje
em dia o comuniswo é coisa
que está um século atrás de nós e
nós estamos profundamente mergu-
lhados na nova época de envolvi-
mento tribal".
Infelizmente, *
há governos que
não compreenderam ainda as verda-
deiras engrenagens do mundo atual.
Veja-se a Espanha, por exemplo.
Salvador de Madariaga diz que
"de
1939 para cá, a Espanha vive sob
um regime de monarquia absoluta,
tão pouco seguro de si mesmo que
em 1971, trinta e dois anos depois
de sua instauração, durante os quais
desfrutara do monopólio do poder
e da opinião, crê ainda necessária a
promulgação de uma nova lei que
restrinja ainda mais a liberdade de
expressão, é provável que a duração
da ditadura se deva à importância
estratégica do território peninsular.
Mas, se o fim em vista é negar ao
comunismo cesso a tão precioso
território, o modo de operar poderá
muito bem tornar-se contraprodu-
cente."
O fato é que o regime de Franco
cada vez mais revela singúlar incapa-
cidade de se adpatar ao século XX.
Proíbe, até, a circulação de um ino-
centíssmo número de L'Express,
mas não tem como impedir a propa-
ganda comunista, que é transmitida
pelo rádio da Romênia, quatro ve-
zes por dia. Examinando a situação
de sua pátria, Salvador de Madaria-
ga conclui: "Desta
forma, em vez de
se caminhar para a reconciliação,
única solução alternativa à guerra
civil, condena-se -a
Espanha a um
prolongamento indefinido da mo-
narquia absoluta ou a outra guerra
civíl."
Indira Gandhi
•J m** '-
Richard Nixon
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POLITIKA
12baciadas almas
Am Í4vslinli;is folelóricasEsse negócio de festinhas folclóricas (leia-se macumba) nas residências
?rt^Lmte,ectua,s ainda vai acabar mal. No fim da semana passada um
conhecido jornalista reuniu nos jardins de sua casa um grupo deintelectuais para mais uma festinha, e lé para as tantas o
"Cabocômamado , do Henfil, baixou violento, e foi uma correria geral: ninguémqueria virar zumbi. Um dos intelectuais presentes foi encontradoofegante, no Largo do Machado. Em menos de cinco minutos ele haviacorrido toda a Rua das Laranjeiras, desde lá do alto.
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Mudança de linguagem
Marx afirmou que a história se repete duas vezes,uma como verdade e outra como farsa. Para aimprensa francesa, isto é uma grande mentira.
Os telegramas da 'Trance
Presse", vindos de Saigon, sãobem um testemunho disso. As tropas do Vietnã do
Sul já não são chamadas mais de sul-vietnamitas,agora são saigonenses; os vietcongs não mais
chamados de guerrilheiros,mas sim de Exército de Libertação Nacional.
Quem estuda história e conhece o comportamentoda imprensa francesa quando da fuga de NapoleâoBonaparte da Ilha de Elba, sabe bem o porquê da
transformação. Primeiramente as manchetes diziam"O Monstro fugiu de Elba"para acabarem afirmando
"0 Imperador entra triunfalmente em Paris".
Dien Bien Phou ainda está na memória dosfranceses ou então eles estão se vingando
da gozação norte-americana em 1954.
Editorial
"Neste momento a minha voz alcança milhões
de seres no mundo inteiro, milhões de desesperados:homens, mulheres e crianças v ítimas de um
sistema que tortura o homem e encarcera osinocentes. Quero dizer àqueles que me podem ouvir:
nao se desesperem. A miséria que caiu sobrenós vem da ambição e do ódio dos homens
que temem o progresso humano. Mas o ódio passará,os ditadores morrerão e voltará ao povo o
poder que lhe foi arrebatado.A liberdade não morrerá enquanto os homens
morrerem por ela."(Charles Chaplin, np filme 0 Grande Ditador).
Santuário
cio Denner
pjjn
A gente sabe que a tele-visão é um dos elementosmais imbecilizantes destaterra. Mas o que ocorreudomingo passado, no pro-grama do senhor FlávioCavalcanti, foi dose pracava/o. Um de seus qua-dros prevê a disputa entreturmas de bairros. E umadas tarefas do grupo deJacarepaguá era trazer dezcoisas para que o senhorDenner, com o desmunhe-camento que lhe é pecu-liar, dessa nota zero ounota dez, representadas,respectivamente, por lixo eluxo.
Depois de quase meiahora de frescuras sem fim,onde a vedeta era a e/egan-térrima figura de Denner,foi-lhe apresentado umpôster.
Evidente-mente, por razões maisfortes do que poderia en-tender nossa vã filosofia(com o devido respeito aShakespeare), não era deesperar que o qualificativonão fosse um luxo. E nãodeu outro bicho. Mas acoisa não termina aí.
Para tanto, o senhorDenner, depois de dizer-seespiritualista, afirmou
possuir, em seu palacete,um santuário, onde adoraimagens que vão de Buda eSaint Germain. E ar rema-tou, deslubrando: e o pos-ter.
Gente, um alfinete. Umalfinete, pelo amor deDeus!
Calegari faz
o Cursilho
POLITIKA tem exausti-vãmente procurado desper-tar a atenção do País paraos chamados Cursilhos. Anação parece que estáanestesiada. Fazer o Cursi-lho agora é moda. Domin-
go passado Sílvio Santos,animador de programas detelevisão e uma das maio-res fortunas do Brasil, como Bau de sua Felicidade,anunciou que Luciano Ca-legari, o produtor de seus
programas, não havia com-
parecido porque estavafazendo o Cursilho.
ê um perigo este Cursi-lho. Agora eles já estão
conquistando os meios decomunicação de massa. O
que será desse País quandodominarem os programas
que a Embratel distribui
do Oiapoque ao Chuí?
0 nosso Antônio Cale-
gari, ao saber que o Lúcia-no estava fazendo o Cursi-lho, logo se defendeu:"este
cara não é meu
parente".
A "Gaiola"
paeifieaila
A Assembléia Legislativa daGuanabara reabriu seus traba-lhos dia 3 deste mês com umasérie de novidades, no campomaterial, é claro. Todo o siste-ma acústico foi modificado ecolocado num sistema de somultramoderno. Só que o Primei-ro Secretário, muito prudente-mente, colocou o microfone deapartes do lado oposto da tri-buna. Assim, se procurou evitaros constantes "pegas"
queocorriam nos tempos gloriososda
"Gaiola de Ouro". Agora
quem quiser agredir o orador
que estiver na tribuna terá quedar uma volta completa peloplenário, com isso o corpo desegurança ganha tempo paradeter o valente.
Um parlamentar sarcásticocomentou: "tempo
perdido,pois até para falar estes carasnão tem mais coragem, quantomais agredir".
O aditivo de
Álvaro Valle
O Álvaro Valle que nosdesculpe. A gente até quegosta da atuação dele naAssembléia Legislativa.Mas, como jurado de tele-visão, definitivamente, nãodá para o negócio. Numdos últimos programas emque tomou parte, depoisde elogiar a técnica do co-mercial da Shell, foi con-testado por um outro jura-do, que lhe afirmou seremtodas as gasolinas iguais.Aí ele se machucou.
Não respeitando a forçaque a Petrobrás vem fazen-do, no sentido de concor-rer com os grandes trustesinternacionais da distribui-ção de derivados de petró-leo, o deputado ÁlvaroValle - anotem: ele foi omais votado, da Arena daGuanabara, nas últimaseleições - disse que a Shellera a única que lhe davaum aditivo - o tal de ICA- o que representava, inso-fismavelmente, que ela eramelhor.
Ora, ora, deputado Ál-varo Valle. Tá certo quevocê ache a gasolina daShell melhor - a gente nãotem nada com isso, inclusi-ve não sabe o quanto custousua opinião, em termos depropaganda. E se nãocustou nada, o comercialgratuito foi uma parada -
mas dai a dizer isto paramilhões de espectadores,no momento em que a Pe-trobrás faz esta força toda,definitivamente não é umpapel muito concorde como de representante dopovo. Ou você já não émais?
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«olpe ilo -Sjuihh;,-
POLITIKA
S^SL atm,h~ da C,dade' P^grama de rádio que se esmerou emdisseminar a segregação racial ante os olhares complacentes da censura
derrubou o líder da A RENA naquela casa legislativa e assumiu o posto.u òamuca comandará a liderança da ARENA na Assembléiariummense da mesma maneira como escreve seus programas de rádiocnamando seus liderados pelos apelidos discriminatórios no terreno sociale racial.
13baciadas almas
A dependência
dos poderes
4ÊrEm Uberaba, dois verea-
dores deixaram de compa-recer à sessão da Câmara ese justificaram ao presiden-te dizendo que a condução
que a Prefeitura havia co-locado à disposição dosSenhores Vereadores nãoos havia apanhado emcasa. 0 Presidente disse
que, pela última vez, acei-tava as desculpas, mesmo
porque "a
falta de carro,
gentileza do sr. Prefeito
para com a edilidade, nãoé motivo para que o verea-dor deixasse de compare-cer às sessões".
Vereador que não rece-be subsídios é assim, tem
que depender da conduçãodada pelo Prefeito parapoder cumprir com seusdeveres. Em outros temposo vereador, tinha, quandomenos, uma mula parachegar até a Câmara. É adependência dos poderes.
daquele tempo,
disse MarcialMarcial Dias Pequeno, ilustre
Chefe da Casa Civil do governoda Guanabara, só no sobre-nome é pequeno em dias. Navida mesmo, é de longínquo
passado. E não esconde. Estasemana, dava conselhos a umfuncionário, no gabinete. Econcluiu com um pequeno ar-gumento de força maior, umargumen to biquíni:
~ Meu filho, confie na mi-nha experiência. Eu venho demuito longe, Já vi muita coisa.Sou de um tempo em que calei-nha era peça íntima.
A continha
de Tavora
C?Jr
Qual é a função da ARE-NA? Levar o povo a apoiar o
governo. Se não leva, o proble-ma é dela. Ou do governo. Do
povo, não é. Por que? Virgílio
Tavora anda de números no
bolso mostrando que estão fa-
zendo da ARENA um partidode gente sem voto. Quem tem,foi encostado. E ele prova:
Em 1966, teve 73.800 vo-
tos para deputado federal, lu-
tando contra a má vontade dePaulo Sarazate, proprietário daARENA cearense e amigo ínti-
mo de Castelo Branco.Em 1970, teve 578 mil
votos para senador. Wilson
Gonçalves, companheiro de
chapa, candidato à reeleição,
teve 410 mil. Virgílio ficou
com 80% do eleitorado.
Agora, o governador César
Cais organizou o novo Direto-
rio Regional da ARENA. Só
não deixou Virgílio de fora
porque é senador. Mas não dei-
xou Virgílio indicar ninguém.
A ARENA agora é arena
mesmo: facilitou, morre na
boca do leão.
Os apóstolos
de Freire
O deputado Geraldo
Freire, líder da Arena,
aniinrion que todos os
seus doze vice-l íderes serão
mantidos. E, em tom bíbli-
co, acrescentou: "Ficarei
com os meus doze aposto-
los, sem Judas e sem Cris-
to". Eis mais um indício
de que o Congresso perma-
necerá por fora. Pois a exe-
gese dessa frase do Freire
revela, em primeiro lugar,
que sem Judas não haverá
traição, mas, em segundo
lugar, que sem Cristo não
haverá ressurreição.
Bancáriosi|iieremaumento
CAIXA
O pessoal do Sindicato
dos Bancários da
Guanabara não está brin-
cando em serviço. Na se-
mana passada iniciou uma
campanha visando a obten-
ção da majoração no sala-
rio-mínimo nunca inferior
a 34%, considerando que
já está na hora de começar
a reposição do poder aqui-
sitivo dos trabalhadores,
violentamente rebaixado
graças à política de achata-
mento salarial posta em
prática desde que se deter-
minou a nova fase econô-
mico-financeira do país.Como parte desta cam-
panha, o Sindicato enviará
ao presidente Mediei um
telegrama, nos seguintes
termos: "dirigimo-nos
res-
peitosamente a V. Excia.
para solicitar sua atenção e
decisiva influência juntoao senhor ministro do Tra-
balho e órgãos competen-
tes, no sentido de que a
próxima revisão do salário-
mínimo seja feita em base
nunca inferior a 34 porcento, incluindo-se taxas
reais de resíduo inf/aciona-
rio e de produtividade na-
cional, segundo os índices
decretados para os rea jus-tes salariais em março cor-
rente ano. V. Excia., atra-
vés do presente apelo com-
provará a preocupaçãosempie manifestada pelo
governo Federal sobre par-ticipação dos trabalhado-
res no crescimento econô-
mico nacional".
Ê uma reivindicação quenos parece justa, principal-mente se for considerado
que a classe tem o aumen-
to de seus níveis salariais- mínimo profissional
—
ditado por dissídio cole ti-
vo e que está lutando pela
melhoria genérica do tra-
balhador nacional.
1(6iniiIo no país do anti-diálogoRômulo Almeida conver-
sou com a revista especiali-
zada Banas, de São Paulo. 0Geraldo editou uma exce-lente entrevista. Abriu bati-zando Rômulo de
"pai dos
economistas brasileiros", o
que é estritamente a verda-
de. é bom a gente saber o
que o pai anda pensando de
si e dos filhos, soltos por aínesse Brasil cada dia mais
economisticamente tecno-
crata:
^ 1 - "Eu
sou um homem
público exilado no setor pri-vado. Desde que voltei doExterior (Comitê dos 9, daAliança Para o Progresso, deonde se demitiu por divergirda política norte-americana
na América Latina) não ten-
do chance no setor público,
procurei criar uma organiza-
ção através da qual pudessecolaborar para o desenvolvi-
mentq"
- "Guardo
excelentes
recordações do convívio
profissional e pessoal com
Campos (Roberto) uma in-
teligência realmente excep-
cional. Quanto aos profes-sores Delfim Neto e Mário
Henrique Simonsen, tam-
bém seria ocioso dizer quesão técnicos de comprovada
capacidade. O ministro éum operador excepcional,
tendo até o cuidado de des-
comprometer-se do título
de economista para não per-der flexibilidade na ação po-litiea, como é próprio de
um ministro. Mas minhas
origens, minha formação,
meus circuitos são diferen-
tes. Nunca privei com eles".
— "Acrescentem
a isto
o fato de que o Brasil não é
um país do diálogo ou do
parlamentou todo mundo
quer dizer sua opinião, mas
poucos querem trocar
.uCias. insü há instrumentos
ou canais para o intercâm-
bio e a soma de experiên-
cias. E eu não vivo atrás das
personalidades consagradas
no "estabelecimento"
eco-
¦ lômico e político. Conside-
ro a todos com pontos mui-
to positivos, mas tenho dife-ente maneira de ver certas
juestões. Quanto ao capitalestrangeiro, por exemplo,
mu.has posições são restriti-
vas, embora não excluder.-
tes. Em outras palavras, não
sou otimista quanto a con-
tribuição do capital estran-
geiro".-
"Tenho também mi-
nhas dúvidas quanto à viabi-
lidade do processo, vamos
dizer, de modelo, baseado
naquela ilusão da distribui-
ção automática, através da
absorção do desemprego e
conseqüente aumento dos
salários, depois de atingido
certo nível de renda mé-
dia."
- "A
minha divergên-
cia fundamental, se bem
interpreto a posição deles, é
quanto ao esquema politi-co. Sou, conscientemente,
mais nacionalista. Acredito
mais no empresário nacio-
nal. Sou por uma melhor
distribuição do ponto de
vista espacial e social. Vou .além: acho que o cresci men-
to maior a longo prazo só é
possível através dessas duas
políticas (social e espa-ciai)."
- "Ponho
em dúvida se
é tecnocrata quem, como
eu, se alinha contra a socie-
dade de consumo, quemconsidera primário dar prio-ridade aos estudos tecnoló-
gicos desprezando os das
ciências humanas e, afinal,
quem atribui maior valor so-
ciai à produção de bens do
espírito que não fazem
PNB. Só poderei utilizar mi-
nha experiência no futuro,
se o sistema político tiver
mais legitimidade".
— "Acredito
que o Bra-
sil tem chance, realmente
muita chance, mas uma das
coisas que mais me apavo-
ram no Brasil é a facilidade
com que o País pula do der-rotismo, do negativismo, pa-ra uma atitude ainda des-
propositada de ufanismo. 0
Brasil é, antes de mais nada,
um dos países que menos
conhecem o mundo. O po-vo, acostumado a níveis de
vida muito baixos, realmen-
te se embasbaca com qual-
quer coisa, ignorando o queacontece em outras partesdo mundo. Em recente
inquérito do JB, no Rio, amaioria opinou que o pa-drão de vida no Brasil é su-
perior ao da Argentina. Isto
é terrivelmente negativo,
porque se perde a perspecti-va internacional".
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I, : MBK ^B^kLa >
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/
POUTIKA
Murilo
Marroquim
Gj[/2
Filho
Começava a noite quando
fui barrado na rua do
Catete, 6 cerca de
200 metros do Palácio.
Era um cordão do Exército,
soldados em traje de
campanha. Arrisquei um
telefonema para Lourivaj
Fontes e ele me garantiu
enviar um tenente para
receber-me. A multidão
Já era grande.
De fato, o tenente
apareceu, identifiquei-me
e seguimos. Ao
chegar às portas da
guarda do Palácio,
encontrei o general
Caiado de Castro,
então Chefe do Gabinete
Militar. Tambóm em traje
de campanha e com
granadas ao cinto.
Veio por sua conta
e risco — saudou-me.
Já fui correspondente
de guerra — retruquei.
Doutd de Andrade
Os jerdins do Palácio
continuavam iluminados,
mas havia sacos de
areia dispostos em
trincheiras estratégicas.
0 ambiente fora era tenso.
Encontrei o gabinete de
Lou rival com os seus
funcionários, inclusive
o seu então assistente,
hoje deputado federal,
Grimaldi Ribeiro. Havia
uma calma aparente, mas
os cafezinhos circulavam
largamente. Os telefones
não paravam, mas de
pessoes que queriam
saber e nada oferecer
em troce.
Você teve sorte
disse-me Lou rival.
£ o único jornalista no
Catete. Ordem militar
proibiu a entrada de
qualquer outro.
Doutel de Andrade entrou
pela madrugada, na
qualidade de membro da
direção do PTB.
Vargas estava a meio
caminho da sua via crucis.
Na véspera, respondera
ao ultimato através do Mal.
Mascarenhas de Morais:
Fui eleito Chefe do
Governo por cinco anos.
Não renuncio nem
renunciarei. Cumprirei
o meu mandato até o
seu término.
Murilo Marroquim assistiu à
desesperada tentativa de Vargas
" ¦;. -¦'_ ¦ • • ' ¦ . ' »
"
de resistir ao
golpe
vitorioso,
que
provocou
o seu suicídio
história
Depois deGetúlio responder
duramente, que
ficaria até o
fim,em agosto de 1 954, houve
uma transformação no Catete.
O Palácio era uma fortaleza..
RESISTÊNCIA
e
D
U
p^r
POUTIKA
Vargas queria
lutar contra
os golpistas
O Catete é um fortim sitiado.
Um caça da FAB passa
sobre o
palácio que não
possui defesa
anti-aérea. Vargas conserva
em seu posto toda a dignidade
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MncmeiUm de MonetIMMAms
.* •
Lourival Fontes deixou o repórter
num lugar onde ouvia os ministros
e não era visto por
nenhum deles
Mas, como vencer a crise? Os mi-
nutos, no Catete, se desenrolam in-
termináveis. A fiandeira da desgraça
tece os seus negros fios. 0 ronco de
um avião abala o Catete: "Um
caça
da FAB, em advertência" — circula
o boato. Há defesa? .Não, não há
defesa. 0 Catete não possui metra-
lhadoras an ti-aéreas.
Vargas está no seu posto, rece-
bendo mensageiros. Usa blusão, ra-
ro traje íntimo para um Presidente
tão cioso de sua dignidade. Essas
mensagens se estendem consecutiva-
mente enervantes. O Catete é um
fortim sitiado.
Pelas duas da madrugada subo
até o andar onde começava a efe-
tuar-se a dramática reunião ministe-
rial. A tensão era ainda mais eviden-
te. Lourival (a reunião era secreta)
consegue colocar-me em posição de
ouvir e não ser visto. Reconheço as
intervenções dos ministros pelas vo-
zes.
Cerca de uma hora ouvi os argu-
mentos mais variados. E, nesse pe-
ríodo, Vargas não falou uma só vez.
Fumava o seu charuto. Era uma fi-
sionomia sombria, de pedra. Ele sa-
bia que 3 crise era sem precedente,
mas conservava uma digna autori-
dade à mesa. Como um maestro
imóvel, batuta abaixada, permitin-
do que os músicos mostrassem o
seu virtuosismo; a julgar dos equí-
vocos ou acertos de cada um —
para
a sua escolha final da melhor parti-
tura.
Pela madrugada era a tensão tão
forte que doía. Os*. Serviços de In-
formação do Palácio sabiam que o
Vice-Café estava em sua residência,
aguardando o desfecho. Qual o des-
fecho?
(Na véspera, Café pronunciara
um inesperado discurso no Senado
no qual propusera a Vargas a renún-
cia de ambos. Parecia um gesto de
nobreza política. Nada disso: foi
;üm discurso de traição, um discurso
preparado, na sua tática, pelos cons-
piradores udenistas.
Depois que falou, chamou-me
para explicar-se. Disse-me, com tes-
temunhas: "Já
não podia agüentar;
toda vez que ia ao Catete, D. Alzira
me perguntava, sarcástica, se eu
chegara para assumir o Governo".
A madrugada de 24 de agosto de
1954 se arrasta como uma lesma
fantasmal. Proponho a Lourival
irradiações minhas do próprio Cate-
te. Criou-se um problema quanto à
censura dos scrípts. Argumentei que
não era normal escrever, quando
poderia descrever o que estava se
passando.
Confio no seu Ibom senso ou será
prêso —
disse ele.
Todos, no Palácio, é que estão
detidos — retruquei —
Lourival con-
cordou em que a situação era grave
e que não via uma saída honrosa.
Também não acredito em guer-
ra civil — acrescentou -
porque as
forças armadas se entenderão.
E Vargas?
0 Chefe continua inflexível —
respondeu.
Chamei ao telefone a rádio Tupi
e marquei as irradiações. Passei a
transmitir de 15 em 15 minutos.
Outras estações brasileiras entravam
em cadeia, mesmo sem permissão.
Contava o que ia ocorrendo: Var-
gas resistente, o Ministério confuso
e os generais exigindo uma decisão
urgente. Vargas enfarou-se com a
interminável reunião ministerial.
Como os seus colaboradores imedia-
tos não se entendiam, retirou-se.
Ordenou ao seu Ministro da Guerra
que mantivesse a ordem. Seria sua
própria prévia capitulação?
Sem a presença do Presidente, o
Ministério reuniu-se pela segunda
vez. O cansaço ou a inevitabilidade
decretaram^que a licença sem prazo,
era a solução única. Nem a renúncia
exigida, nem a permanência até à
morte. Os Ministros começam a re-
tirar-se Vargas estava recolhido aos
seus aposentos. A ala residencial do
Catete vai entrando em escuridão,
mas o Ministério da Guerra conti-
nua indormido.
Cerca das seis e meia retiro-me
com Grimaldi Ribeiro e vamos para
casa, pois ambos morávamos em
Santa Tereza. Vargas, às sete, apare-
ceu aos familiares, em pijama. Cerca
das 8 horas, soube que a licença
aceita era uma fórmula para enco-
brir a verdadeira renúncia. Não re-
tornaria ao poder. Atirou no cora-
ção, sentado em sua cama, por volta
das 8:40, e morreu quase instanta-
neamente.
O mistério de sua carta-testa-
mento ainda perdura. .. "saio
da
vida para entrar na história".
Ouvida a notícia pelo rádio, Gri-
maldi me apanha e retornamos ao
Catete. é o desespero que começa.
Oswaldo Aranha, que chegou pouco
antes do suicídio (Vargas pedira
para não ser incomodado) soluça. A
guarda do Exército também chora.
O Catete é um monumento funerá-
rio.
Desço para o Gabinete do Lou ri-
vai, no térreo. Em pouco, toca o
telefone. Café Filho, já na residên-
cia de Raimundo de Brito, pede o
coficurso do Chefe da Casa Civil de
Vargas. Não poderia ele ir ao Palá-
cio das Laranjeiras, com papeis para
MsMtfa
Igreja
excomunga
e apoia
os atos das primeiras nomeações?
Lourival ponderou, mas cedeu — e
í(!?Va?áac)Sèstava
úmido, fechado
e praticamente deserto. Poucos ser-
viçais. Quase todos os telefones des-
ligados. Café chega em companhia
de Oseas Martins, seu secretário par-
ticular. Raimundo de Brito e Elrtia-
no Cardim.
E, para surpresa geral, a primeira
visita: D. Helder Câmara, então bis-
po.auxiliar do Rio de Janeiro, para
ofertar ao novo presidente o apoio
da Igreja Católica. Durante a canrv
panha presidencial, Café fora exco-
mungado e excomungados os que
nele votassem...
Em seguida, na companhia de
Prado Kelly, chega o brigadeiro
Eduardo Gomes. Este aceita o con-
vite de Café e ocupa o Ministério da
Aeronáutica. Meia hora depois, uma
guarda da Aeronáutica faz a defesa
da sede do novo Governo. O desfile
de visitantes engrossa.
No Catete, o corpo de Vargas, no
hall do andar térreo, é o povo. Filas
de quatro direções convergem, em
silêncio, em pranto. Dado que o Ca-
tete era a sede do Governo, o Palá-
cio das Laranjeiras parecia uma in-
comoda contrafação.
O corpo de Vargas é, afinal, em-
barcado para o Rio Grande do Sul.
Café chega ao Catete. Há folhas de
canela no piso. 0 Palácio ainda não
fora varrido. E mais: Vargas conti-
nuava presente. Café sente-se visi-
velmente um intruso. Seusacompa-
nhantes parecem violadores de um
lugar sagrado.
Poucos dias depois, acompanha-
mos Café — eu, Oseas e Monteiro de
Castro — em um giro de reconheci-
mento neto Patptp Çplaç v/qtioc r»r»r" — • — w ww Ww I mw i uo / ^ O •
onde andaria o espírito do ex-dita-
dor?
Sentamo-nos em uma pequena
sala. Quase não havia diálogo. Ou-
vem-se passos suaves e entra, inespe-
radamente, o general Juarez Távora,
em f„arda branca.
Café levanta-se, como se fosse
um soldado raso. Compreendi,
nesse instante, que não teríamos
presidente, mas um serviçal do po-
der udeno-militar. O resto é sabido:
pijama listado na varanda de Copa-
cabana.
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LITIKA
I ______________________________¦!Sebastião ^M ^^^^^^^^^^H jNery l
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17SERGIPE
31 de março de 1964.
Meia-núlte. O Palácio das
Laranjeiras é um pesadelo.As tropas de Mourão Filho
avançam de Minas e João
Goulart não sabe o quefazer. Chegam o governa-dor Seixas Dória, de Sergi-
pe, e o ministro Oswaldo
Lima Filho, da Agricultu-
ra. Jango se tranca numa
sala com os dois:- Seixas, preciso de um
favor teu. Quero que pe-
gues amanhã bem cedo um
avião da FAB e sigas parao Nordeste colhendo assi-
naturas em um manifesto
dos governadores que tu
Acabei de falar eom o Lo-
mando paio telefone. Ele
me leu um memfesto de
que gostei muito, e Ji man-
dou pam os Jornais de Sal-vador, que publicarão ama-nhã. Passa na Bahia, articu-la-te com ele e vai procuraros outros.
0 senhor já conhece a
posição dos outro?'Todos me vuafona-
ram hipotecando aafòáarie-dade integral.
-Eo Virgílio?Virgílio não tem pro-
blema. E meu compadreduas vezes.
E o Petrônio?Petrônio é firme, é
um homem de esquerda,tem me estimulado muito.
Manhã cedo de 1o. deabril Seixas embarcou noavião da FAB. O governa-dor Lomanto Júnior quetinha combinado ir recebe-•Io no aeroporto, lá nãoestava. No Palácio da Ada-mação, cara de pânico, as-sombrado como meninocom medo de lobis-homem, Lomanto chamouSeixas a um canto:
A situação virou. Jan-go fugiu para Brasília, Ar-raes está preso, perdemos aparada. Eu, que tinha feitoum manifesto de apoio aJango ontem à noite, e queo
"Jornal da Bahia", què é
matutino, chegou a publi-car, já assinei outro hoje
de . manhã e mandei para"A Tarde", que é vesperti-
no, divulgar. E a televisãoe as rádios também. Estesegundo está bom, comoeles querem. Vou te daruma cópia, para você che-
gar em Sergipe e lançar lá,
que é batata. Aliás, foiredigido no comando daRegião. Você pode ficartranqüilo, é só assinar, es-tá seguro.
Sim Lomanto, mas eunào vou fazer uma coisadesta não. Vou para Araca-
ju, vou lançar um manifes-to, mas dizendo exatamen-te o que eu pensava atéontem. Quer dizer, o queeu e você pensávamos atéontem.
Você está dizendo,dentro de meu Palácio, deminha casa, que eu naotenho caráter?
Mio. NSo estou dizen-do que você não tem cará-ter. O que eu estou dizen-do, Lomanto, é só quevocê tem um caráter dife-rente do meu.
Seixas foi para Aracaju,leu o manifesto, saiu doPalácio preso. Lomanto foiao
"Jornal da Bahia", re-
colheu metade da edição,
mandou queimar o primei-ro manifesto, voltou parao Palácio conformado.
Apenas um problema dediferença de caráter.
Derrotado por Jânio na
convenção da UDN, Jura-
cy Magalhães exigiu, paranãu dividir o partido, queo candidato a vice-presi-
dente fosse o senador
Leandro Maciel, de Sergi-
pe. Jânio engoliu Leandro.
Um mês depois, renunciou
à candidatura, deixou a
direção da UDN em pâni-co. Explicava: —"Eu não
possq^, carregar esse ataúde
de chumbo". E só voltou
quando Leandro foi troca-
do por Milton Campos.
No fim da campanha,
Jânio passou por Aracaju e
se hospedou exatamente
na casa de Leandro. Apare-ceu na sala uma garotinhade cinco anos, muito viva,Ana Zulmira. Jânio a sus-
pendeu nos braços, tirou avassourinha dourada da la-
pela e deu à garota. A
menina não aceitou:— Não quero não. De-
pois que o senhor fezaquela sujeira com o vovô
Leandro, passei para oLott. Agora só quero espa-da.
3Coronel Euclides Pais
Mendonça, prefeito de Ita-baiana, era dono de meioEstado. Tinha terra, di-nheiro e voto. Semi-analfa-beto e inteligente, veio aoRio, procurou o brigadeiroEduardo Gomes, ministroda Aeronáutica:
Seu ministro, Itabaia-na precisa de um aeropor-to. Sou da UDN, fui seueleitor duas vezes. V.Excia•empre ganhou em minhacidade. Agora, queria queV.Excia. mandasse fazer oaeroporto de lá.
Pois não, senhor pre-feito. Vou estudar o assun-to. Se Itabaiana estiverdentro de nossas normas ehouver possibilidade, oaeroporto será construído.
Coronel Oclides (o povoo chamava assim) saiu de-solado. Procurou Leandro:
Doutor Leandro, ago-ra eu sei porque aquelecaboclo não ganha eleição.Político que precisa de
possibilidade para serviraos amigos não ganha elei-
ção.
Dom José Tomaz Go-mes da Silva foi o primeirobispo de Sergipe e deixoufama de grande sabedoria
política. Era conhecido co-
mo o bispo fazedor debispos.
Um dia, Monsenhor Mi-
guei, reitor do seminário
de Aracaju, lhe apresentou
os nomes dos seminaristas
que iam receber as OrdensSacerdotais:
Seixas Dória
E o Avelar?O Avelar não tem vo-
cação para padre, senhorbispo. É polemista, vaido-so, não tem vocação.
Mas tem vocação pa-ra bispo. E como ninguém
pode ser bispo sem ser
padre, vamos ordená-lo.
O Avelar é Dom AvelarBrandão Vilela, hoje Arce-bispo da Bahia e presiden-te da CELAM (ComissãoExecutiva dos Bispos daAmerica Latina). Monse-
nhor Miguel é vigário nointerior.
Eleito Jânio presidenteem outubro de 1960, José
Aparecido de Oliveira er»-
meçou a articular candfcfe-
turas a governador nos Es-
tados. Foi a Sergipe con-versar com Leandro Ma-
ciei. Leandro o recebeu no
palácio, onde o governadorLuis Garcia, que não mr
dava nada, ficou o temt ointeiro apenas ouvindo aconversa, sem dar palpite eservindo uísque com água
de coco aos dois. O queAparecido queria era acandidatura de Seixas Dó-
ria, líder da Frente Parla-
mentar Nacionalista, depu-
tado de excepcional atua-
ção na Câmara e a melhor
figura da política sergipa-
na. Foi levando o papominei ramente:
Doutor Leandro, o
presidente Jânio Quadros
vai precisar de governado-res que apoiem decidida-
mente sua plataforma de
governo. Homens compe-
tentes e honrados, capazes
de formarem um grande
quadro de eficientes admi-
nistradores em todo o
País. Sergipe deve pensarnuma fórmula alta para as
eleições de governador quevirão aí.
Nada de fórmula al
ta. "Eu
quero uma fórmula
baixa e digna.
Aparecido não corse-
guiu levar a conversa àfrente. Voltou ao hotel
folklorepolítiko
pensando na fórmula baixae digna de Leandro. O
jornalista Austregésilo Pôr*to decifrou:
- Ora, Aparecido, oLeandro só quer é ele mes-mo. Mas fórmula baixa edigna em Sergipe é o Sei-xas: é baixo e muito digno.
Vieram as eleições, bai-xo e digno, Seixas derro-tou o alto Leandro com amais espetacular votação
que houve em Sergipe.
6Leite Neto, senador e
chefe político, foi durantemuitos anos o dono dos
governadores do Estado. Ocara sentava lá, mas quemmandava era ele. Um Ama-dor Aguiar sem Bradesco.Ficava em casa, tranqüilo,mandando bilhetinho ao
governador. Que o obede-cia caninamente.
Para evitar equívocos,
combinou um código: obilhete só era para valer
quando os ii tivessem pon-tos. Pedido de nomeação
com i sem ponto não valia.Era só para se livrar do
pedido.
Um dia, o coronel Acri-
sio Garcez, chefe políticodo interior, pediu uma no-
meação absurda, coisa
assim como Haroldo LeonPerez para presidente doBanco do Brasil. Leite Ne-to disse que não havia pro-blema, fez o bilhete. Ocoronel tremeu de feliz ecorreu para o palácio. Noônibus, abriu o envelope,
levou um susto: "Mas
quecoisa ! O doutor Leite, se-nador, um homem tão sa-bido, escreve sem por os
pontos nos ii! "
Tirou acaneta do bolso, pingou os
pontinhos com cuidado,
consertou tudo e entregou.
O governador nomeou oindicado na hora.
No dia seguinte, era oescândalo. O governadorteve que desnomear. E Lei-te Neto perdeu seu coronele seu i sem ponto.
s
Uma grande parte
dos mestres
ficou com o ufanismo infantil,
tipo Afonso Celso, e o desfile
de heróis e datas cívicas, sem•
refletir sobre o seu çonteúdo.
Paulo
Martinechen
Neto
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O QUÍf CONTECEU
— Uma grande parte
do professorado pren-
deu-se ao ufanismo infan-
til, tipo Afonso Celso, de
céu de anil, imensas ma-
tas, praias ensolaradas e"gigante
pela própria na-
tu reza". E o desfilar de
heróis e datas cívicas sem
a reflexão do conteúdo
desses acontecimentos.
— Outros coloca-
ram-na como justificativa
da situação política, li-
gando-sc ao SNI como re-
curso didático para obri-
gar a freqüência e interes-
se pela disciplina.
— Padres, pastores,
religiosos divisaram uma
boa oportunidade de, na
matéria, levar seus princí-
pios religiosos confessio-
nais.
— Boa percentagem
dos professores restrin-
giu-se à descrição minu-
ciosa dos símbolos e ritos
cívicos, colocando todo o
conteúdo do civismo na
prática desses ritos.
Nastes dois anos de
aplicação do Decreto
869, que reimplanta a
Educação Moral e Cívica
nas -escolas
brasileiras,
aconteceram coisas muito
interessantes na improvi-
sação a que foram joga-
dos os professores da dis-
ciplina. E carasterístico ó
o fato de que a maioria
dos professores da nova
matéria foi recrutada fora
do magistério: jovens ad-
vogados, ainda sem uma
clientela suficiente; auto-
ridades policiais ou judi-
ciirias; elementos do
exército; padres; pastores
interessados em ensinar
religião; professores sem
título para outras disci-
plint-w... E o que os
atraiu foi a remuneração
financeira, um bico suple-
mentar para o orçamento
fraco ou algum outro in-
teresse ideológico. Raros
os c scs de uma verdadei-
ra w apreensão pela ma-
téria e interesse pela in-
tensificação do civismo
nacional.
DESSERVIÇO
Hoje ainda, com o início dos cursos superiores que irão
preparar os professores da disciplina, sente-se ser a abertura
de um promissor mercado de trabalho o chamariz para candidatos
não ligados ao magistério, como o advogado. Ou seria o
interesse de algum grupo interessado em uma ideologia?
POLITIKA
0 PERIGODO CIVISMO
DIRIGIDO
Só existeuma total
indecisãoConcluindo. Dessas observações
constatamos um empirismo prima-ríssimo e a ausência total de umafilosofia definida. Há indecisão en-tre um teísmo liberal aconfessionale um confessionalismo religioso, en-tre uma direita radical e ideologiasde solidarismo cristão, de um capi-talismo liberal ou mesmo de umecumenismo irênico. Indecisão enão colocação clara do que é Morale Civismo. Diante do pluralismo nomundo moderno, essa não é uma ta-refa muito fácil, e a radicalização deuma possível visão da vida estreita ecurta pode tornar-se um desserviçoà educação brasileira.
PREOCUPAÇÃO DO MEC
Órgãos responsáveis pela elabo-ração de currículos e programas, co-mo o Conselho Federal de Educa-ção, criaram uma Comissão Especialde Moral e Civismo para responderàs exigências das escolas que há doisanos não sabem o que fazer com adisciplina, e, principalmente, dasEscolas Superiores que iniciam apreparação dos professores da mate-ria e não conhecem ainda seus con-teúdo e currículo-base. E o presi-dente da Comissão Especial, Tarei-sio Meireíles Padilha, promete paraabril um programa e um currículomínimos orientativos.
Peio modo como está sendo en-frentado o problema, parece-nos sera preocupação de estabeleer o quese deve ensinar — uma colocação dacarroça na frente dos bois. Antesdeve ser colocado o porque da disci-plina; o. que se visa atingir com Mo-ral e Civismo. Os termos precisamser definidos, pois poderão, comona história já o foram, servir a ideo-•ogias, aíé uuiiiíddilúrias.
Na década de 30, aqui no Brasil,foi usada pela máquina governa-mental como justificativa de um sis-tema, uma defesa de valores, subje-ti.vos e não absolutos.
A ação de Hitler e Mussolini coma juventude anestesiada pelos slo-gans de moral e patriotismo falsosconduziu a situações catastróficas.
A China de Mao, com a manipu-lação através de máximas de um to-do poderoso dona da verdade, tam-oém é um exemplo bem vivo das
possibilidades ambíguas que ummesmo meio pode atingir.
Há indecisão entre um teismo
liberal e um confessionalismoreligioso. Entre uma direitaradical e ideologias cristãs desolidarismo. É o empirismo.
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-14alSÊ_fl__l NS ¦fll N____w^-^___JS
A obrigatoriedade damatéria lhe dá cunho
parcial e ideológicoA enumeração de exemplos se-
mel han tes poderia estender-se bas-
tante, mas não se faz necessária,
pois os citados já comprovam o pe-rigo de uma ambigüidade de objeti-
vos.
TENDÊNCIAS
É muito importante que os ór-
gãos responsáveis estejam sentindo
o problema e desejem enfrentá-lo.
Porém sentimos uma tendência de
cunho parcial e ideológico. Na insis-
tência para a obrigatoriedade da dis-
ciplina e no próprio conteúdo do
Decreto no. 869, nota-se a presençade uma ideologia atuante desde
muito tempo na vida brasileira e em
conflito com outras. Trata-se de um
liberalismo aconfessional, em si vali-
do, mas não quando, paradoxal-mente, torna-se tãu uu mais cunítiò-
sional que qualquer outra confessio-
nalidade. Exige a confissão do acon-
fessional. Não se produz, então, a
secularização, não se desmitologiza,
não há dessacralização, mas cria-se
uma nova sacralidade.
Tende-se a criar um ufanismo in-
gênio, com uma ritual ística de cu-
nho primitivo, uma nova religião em
que apenas há transposição de ter-
mos, talvez mais intransigente que
outras ideologias existentes e res-
ponsáveis pela formação da mentali-
dade brasileira.
E porque prevemos.. nesta visão
estreita e parcial, conseqüências ma-
léficas para a educação, levantamos
o problema para uma discussãomais ampla e contribuímos comnossa visão do assunto.
NOSSA CONTRIBUIÇÃO
Cremos ser fundamental partirdo homem brasileiro em sua digni-dade natural e caracterização espe-
cífica sócio-cultural. Ele terá queser o centro de toda a vida e, conse-
qüentemente, a educação Moral e
Cívica deverá torná-lo consciente desua dignidade, posição e responsabi-lidade, tornando-o cônscio de direi-tos e deveres permissivos para umaconvivência harmônica nos planosinternacional, nacional e doméstico.
Procurando ser mais concreto e
claro nesta contribuição, colocamos
uni rüteiio de aspectos a serem con-
siderados como currículo básico da
disciplina, tornada obrigatória, e
que, a nosso ver, deveria ser a tona-
lidade de toda filosofia educacional,
e não precisar ser uma disciplina à
parte do currículo escolar.
Eis nosso esquema:
Cap. I - A Natureza e Dignidadedo Ser Humano - Ser racional e li-
vre com potencialidades a de-
senvolver, dispondo de oportu-
nidades para viver esses valo-
res;— ser social vivendo cons-
tantemente em interdependên-
cia com outros, com os mes-
19ensino
mos direitos; por conseguinte,uma fraternidade essencial pa-ra a sobrevivência pessoal;
-colocação de direitos edeveres nascidos da manuten-
ção dessa fraternidade comuma liberdade responsável e derespeito à dignidade humana;
o Estudo da DeclaraçãoUniversal dos Direitos do Ho-mem, onde toda a confessiona-lidade confessional torna-seum livre ditame de consciên-cia.
Cap. 11 - A Terra, a Pátria comoposse e local onde todos os homenso dominarão para viver sua digni-dade de seres humanos - A terra e
suas potencialidades;a formação econômica e
sistema vigente na conquista -
dos valores materiais;a formação sócio-cultural
ibérico (cristã)— afro-brasileira;
a interdependência inter-nacional em que os mesmos di*-rei tos de dignidade pessoal de-vem vigorar entre as nações;
os feitos e homens que,através da História Brasileira,defenderam este homem e esta
pátria, para que os homens
possam ser mais irmãos, e odomínio da terra, um serviço atodos.
Cap. 111 - Os Símbolos e Valorespátrios - Desmitologização do ufa-
nismo e desenvolvimento de ri-tual — sinais autênticos de bra-si lidade.
Cap. IV — Futuro e Perspectivasdeste Homem e Pátria - Que todos
possam ser conscientes de seu
papel no progresso e desenvol-vimento integral da comunida-de brasileira.
CONCLUSÕES
É este um esquema rápido e nãodetalhado de um currículo com pie-to. Acreditamos, no entanto, serestfi n mntPMHn fiinHampntql naro o
_, -*_*j_v- **j. .miai,rc..^a. -j-,.-, -,
formação integral do homem, sendoele respeitado e capacitado paraconstruir um mundo de justiça epaz, um mundo habitável, libertode poluições ideológicas massacran-t66.
Contribuição a um tema que teráimportância maior para o momentubrasileiro, e mesmo internacional,repleto de intransigências, de inceítezas, dúvidas e pouca esperanç*pois o homem mostra-se sempr *mais ser quase naturalmente antrepófago.
f
NEGÓCIOS E INVESTIMENTOS
Francisco Alexandria
ir»!.
0 mundo siderúrgico brasileiro
«tá eufórico com a> perspectivai de
desenvolvimento oferecido pelo
mercado nacional, onde o déficit
vei além de um milhio de tonei a-
de*. Com e recem reaiizeçSo do II
Congresso Brasileiro de Siderurgia,
o governo, ne pelavra do Ministro
de Indústrie e Comércio, Mercus
Vinícius Pratini de Moraes,' vem de
demonstrar a mais ampla e irrestrita
colaboração com os empresários, no
sentido de que aquele déficit seja
coberto, o mais breve possível.
Para que se tenha idéia do real
interesse do governo em reaparelhar
o parque industrial, basta dizer que-para uma necessidade de 300
milhões de dólares — foram consta-
tados empréstimos no velor de 1
bilhão de dólares, importância que
virá de vários países, a título de
cooperação com o nosso desenvolvi-
mento. Os países que jé se prontifi-
caram a fazer esse tipo de emprésti-
,mos são Inglaterra, Japão, Itália e
Bélgica.
Um assunto da maior relevância,
o que deve ser ressaltado, diz respei»
to ás concorrências internecionais
para o fornecimento de maquinaria
para reaperetharmos nosso parque
siderúrgico. O fato que vamos regis-
trar serie suficiente pere mostrar o
quanto temos perdido, em dólares,
pa importação de máquinas — ne
sus maioria obsoletas — a preços
verdadeiramente absurdos.
Em concorrência internacional
efetuada pela Usiminas, entra mui-
tas propostas apresentadas, uma foi
de 27 milhões de dóleres e outra de
12 milhões, feto que demonstra o
despropósito ne diferença dos pre-
ços apresentados. Nem precisa dizer
que e vencedora foi e proposta de'
12 milhões de dólares que, apesar
de ser quase três vezes menor,
preenchia perfeitamente o que se
desejava.
Ainda sobra o II Congresso de
Siderurgia: na fala do Ministro da
Indústria e Comércio, Pratini de
Moraes, ficou d aro o interesse do
governo —
jé petenteedo no I Con-
grasso — de que as empresas do
setor se conglomeram, visando, com
isso, não somente mão-de-obra meis
especializada, mas também melho-
res preços, feto que nos derie condi-
çõesde concorrer no mercado inter-
necionel, de um modo geral, e no
letino-emericeno de um modo pertl-
cular.
Quem está de meles prontes
para se mudar para o Rio, á o
assessor de diretoria do Banco Mi-
neiro do Oeste, Milton Lucas. Com
sua vinda para a Guanabara, quem
vai lucrar muito é a Turoeste, em-
presa de turismo do grupo mineiro,
de qual Milton é eficiente diretor.
Uma das grandes virtudes de Joãozi-
r.io Piras é saber escolher seus
auxiliares mais diretoe.
Educação é bom investimento
u: bom negócio? Taí uma inteiro-
te deve dar a igação que deve dar a maior preocu-1
peção ao ministro Jarbes Passari-
nho. No Brmsfl, pelo menos, educa-
ção é um dos melhores negócios
sem ser necessário muito investi-
mento. Há colégios faturando uma
verdadeira fortuna em cima da igno-
linda de muita gente. Os chamados
cursos pieparatonos, por exemplo,
que cobram mensalidades que va-
riam entre 100 e 1S0 cruzeiros
estão fazendo muito melhor negó-
do do que qualquer tipo de indus-
tm. O que diz disao o Ministro
Jaibas Passarinho?
À atitude dos governadores
de
Minas Gerais e do Paraná em con-
giomerar as empresas oficiais per-tencentes ao mercado de omitais,
vem tendo a melhor receptividade.
Independente de terem seus custos
mais em conta, também os resulta-
dos são satisfatórios, o que vem
provar o acerto da medida.
No Paraná, o Banco do Estado,
empresa holding oficial, juntou-se à
Credimpar (credito imobiliário) e
ao Banco de Desenvolvimento. Des-
ss unilo todos saíram ganhando,,surgindo daí um melhor aproveita-
mento em favor das diretrizes traça-
das pelo governo e que vem dei
encontro ao desenvolvimento g|o-bel. Por que outros governos não
seguem este exemplo salutar?
A propósito de Paraná: Não é;
nada boa a situação do deputado!
federal Artur Claudino dos Santos,!
ex-diretor do Banco do Estado, àsl
_ custas do qual se elegeu para ai
Federal. Independente dei
usar carro e funcionários do fcenco
para sua campanha, ainda deu uma
tacada" que ficou registrada na*
quela casa de crédito como uma das
maiores dos últimos tempos.
O negócio se deu assim: Artur
Claudino sabia que as ações do
Banco do Brasil (seu pai era diretor
do banco) iam subir. 0 que fez
então? Simplesmente sacou contra
uma agência do Banestado, aqui no
Rio, um cheque de sdscentos mil
cruzeiros, que ficou no caixa duran-
te noventa dias, na geladeira. Como
as ações realmente tiveram uma alta
espetacular, é desnecessário dizer
que Artur fez um dos msiorer
negócios de toda sua vida. Pelo
menos teve dinheiro para fazer uma
campanha a peso de ouro, o que
resultou numa eleição mais ou me-
nos tranqüila.
Mesmo assim, Artur Claudino.
dos Santos não quis se desfazer das
bonificações pera cobrir o cheque1
frio ne ceixa do banco, preferindo
fazer nove operação, esta de valor
superior e três milhões de cruzeiros.
Esta operação se deu assim: Artur
arranjou um empréstimo equivelen-
te e importância, em favor da firme
felide Ouro Fino (café), desde que
este cobrisse o cheque enterior.
Jé de posee de ume verdadeira
fortuna em ações do Banco do
Brasil, Artur Claudino julgou que
tudo esteve sanado quando, para
surprese sus, no finei do "emprésti-
mo**, e Ouro Fino disse que pagaria
somente e importância recebida,
isto é, dois milhões e seiscentos mil
cruzeiros e os juros.
Sabido como ele só, Artur en-
gendrou ume nova seída, desta feita
envolvendo o nome de sua sogra
(não cito seu nome por uma ques-
tão de ética) que, no final, para sair
da enrolade, teve que transferir para
o nome de Ouro Fino ume série de
imóveis de sue propriedade. Artur
Claudino dos Santos continua na
Câmara Federal onde represente
(represente?) o povo do Perené,
pele ARENA.
O diretor do Serviço de Instala-
ções Mecânicas do Departamento
de Edificações do Estado da Gusna*
bere precisa tomar conhecimento
do grande descalabro nos serviços
de conserveção de elevadores, antes
que, o pior aconteça. Campenha só
não basta. É necessário que atitude
mais enérgica e decidida seje tome-
da em favor do contribuinte. Cente-
nas e centenas de elevadores se
transformaram num verdadeiro caso
de policie, tal a falta de segurança a
que se sujeitam milhares de peseoes
que necessitam subir nesses srapu-
cas, instalados nos prédios de Gue-
nabara.
Um dos casos mais revoltentes e
que está a exigir a pronta interven-
ção do Serviço de Instalações Mecâ-
nicas, através de ssú diretor, Alber-,
to Cumplido dos Sentos, é o prédio
Rio Branco (Av. Rio Branco, 257)
cujos elevadores têm crisdo os
maiores transtornos e seus usuários.
De quatro elevadores, apenas dois
funcionam, precariamente, pois es-
tão sempre disparando ou parando
noa meios de endares, fato que tem
provocedo os maiores dissebores.
Ume senhora grávide, apenas para
citar um exemplo, paesou os maio-
res vexames, press num desses ele-
vedores. O fato somente não teve
meiores conseqüências devido á
pronta intervenção de dezenas de
populares que arrombaram a porta.
Será quyninguém vei tomar provi-
déncia antes que seja tarde? Ou vão
esperar que econteçe o pior, como
tem acontecido?
E a Tonetux, que fim levou? O
fato é que milhares de acionistas da
empresa falida estão i procura de
alguém a quem possam dirigir-se
para reclamar seus direitos. Consta
que os detentores das ações das
Lojas Tonelux somam mais de 50
mil. Os responsáveis pela massa
falida, por outro lado, não tomam o
menor conhecimento das reclama-
doa interessados. Aliás, casos
^¦ticos ao da Tonelux existem
por aí às toneladas, sem que qual-
quer providência seja tomada por
parte das chamadas autoridades
competentes. Até quando fatoa co-
mo este continuarão impunes?
- .
f
Pfr A
pj| I
Pratini de Morais
- lá está navegando, a serviço da
Petrobrás, o Presidente Getulio",
um dos nevios-tanques de maior
capacidade de transporte de óleo de
toda a frota da nossa prindpal
companhia estatal. Conforme é do
conhecimento de todos, o Presi-
dente Getúlio esteve por muito
tempo no Estaleiro Mitsubischi, em
Kobe, Japão, onde se submeteu ao
conhecido processo de jumboizing,
que fez aumentar consideravelmen-
te sua capacidade de transporte,
passando de 35.517 TPB para
53.070, o que representa maior
aproveitamento do transporte.
Entre as empresas de consulto-
ria, a LASA é quem, inegavelmente,
tem merecido os maiores elogios
dos contratantes, pela correção dos
projetos e pela perfeição dos
trabalhos. Há um setor, porexemplo, e, que da alcançou o mais
alto nível, o de cadastro. Sem falar,
naturalmente, nos projetos rodoviá-
rios, estados hidroviáno* e levanta-
mentos de rotas de telecomuni-
cações, em que ela participa com o
melhor "know-bow
do País.
Jarbat Passarinho
ponto de encontro
Ainda sobre negócios teatrais: depois do êxito de
Computa, Computador, Computa, Fernando Torres
já está trabalhando no novo investimento que se
seguirá ao texto de Millor Fernandes: é o
lançamento, no Rio, de O Interrogatório, de Peter
Weiss. Embora Fernando já tenha contrato com o
diretor Celso Nunes, a montagem só começará no
segundo semestre: ó que o Computa ainda tem muito
o que dar. • Para quem apelar, quando você cai na
mão de uma oficina mecânica da sabidos? Outro dia,
um cidadão pôs na Mecanauto (rua da Passagem) um
carro, para verificação do carburador. Os mecânicos
resolveram desmontar todo o veículo, no interesse de
fazer um serviço por um milhão e meio. Como o
proprietário reagisse, eles remontaram o.ve ículo, mas
cobraram 130 cruzeiros pelo serviço. A pessoa saiu
da oficina cqm o carro na mesma ou pior, e ainda
pagou 130 cruzeiros. •Com um coquetel no Monte
Líbano, o embaixador do Iraque, Jihad Karam,
recebeu os principais exportadores, jornalistas e
membros da colônia 'árabe no Brasil para uma
conversa franca sobre o desenvolvimento dos
negócios entre os dois peíses. O motivo da (acepção
foi o aniversário do Partido Baath (25 anos) que
governa o Iraque. Mas o encontro serviu para mais
um papo sobre comércio entre os dois peíses. Afinal
de contas, o Iraque é quem vem mantendo contatos
mais assíduos neste sentido com o Brasil, entra os
países daquela área. #No coquetel, o embaixador da
Síria, Abunur Tayara, anunciou que no próximo die
17 vai lançar a pedra fundamental da Embaixada
síria em Brasília. Projeto da arquitetura brasileira, o
prédio guarda traços da arquitetura mourisca.
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Helio
Duque
é
POLITIKA
A facilidade creditícia está
criando uma falsa imagem das
condições do
povo brasileiro.
Nunca foi tão fácil comprar,
mesmo para
os que
não podem.
ekonomla
LIDADES" LEVAM
DEVER CADA VEZ MAIS
A sociedade de
consumo do Brasil
consegue coisas
verdadeiramente
milagrosas. 0 exemplo
principal: faz com que
uma pessoa desprovida
de poder aquisitivo
adquira um automóvel.
Como? Fácil. Basta
dar-lhe oportunidade
de comprar a longo
prazo. Mas ou menos
na base de "compre
agora e só comece
a pagar em agosto".
Mas, uma pergunta paira
no ar: até quando o
sistema resistirá, ou
esta resistência está
condicionada à
preferência do
favelado pela compra do
supérfluo em detrimento
do fundamental? Não
se obtendo uma
resposta afirmativa
- que está fora de
qualquer cogitação
estatística —só se
pode esperar a
multiplicação de
favelas e de miseráveis
motorizados. E não
parece ser esse o
objetivo dos que
querem o tão sonhado
Brasil-Grande.
Em realidade, para uma população de
93.545.293 habitantes temos uma populaçãoeconomicamente ativa de 29.204.379 habi-
tantes. Desse total, 31 por cento ganhamCr$ 100; 13 por cento percebem entre Cr$
101 e Cr$ 150; 14 por cento entre Cr$ 150
e 200; 5 por cento entre Cr$ 201 a 250; 15
por cento entre Cr$ 250 e Cr$ 500. Até
aqji, cerca de 24 milhões da populaçãoeconomicamente ativa percebem esse salários
na variação enumerada. Acima de Cr$ 501 e
ao máximo de Cr$ 1.000 são encontrados 6
por cento da população; entre Cr$ 1.001 e
Cr$ 2.000 estão poucos mais de 2 por cento
da população economicamente ativa; e,
finalmente na faixa de renda acima de Cr$
2.000 está apenas 1 por cento da população
ativa, ou 0,33 por cento da população globaldo País. Somos, portanto, uma Nação com
realidade social e econômica altamente
desequilibrada. Esses dados não foram
tabulados por nenhuma organização
internacional. Pertencem ao Censo
Econômico de 1970 e foram elaborados e
divulgados pelo IBGE.
Visto então como se situa a distribuição
interna da Renda Nacional, torna-se fácil
contratar o porquê dos planos de venda das
grandes lojas e instituições semelhantes, que
de ano para ano elastecem cada vez mais o
crédito. E esse é um problema que comporta
dois ângulos: o primeiro, de facilitar a
compra de coisas essenciais que
normalmente sem essa facilitação creditícia
seria de todo impossível; o segundo, o que se
verifica, atualmente, induzir o público a uma
verdadeira congestão de consumo sem que
dentro da realidade em que a maioria vive
tenha condições de quitar os seus débitos a
não ser que sacrifique outros bens essenciais
à sua vida, que pode ir desde a educação do
filho até o próprio sacrifício da mesa.
São Paulo, o maior parque industrial da
América Latina e que, portanto, deveria ser,
igualmente, o maior parque
desenvolvimentista social do continente não
apresenta uma realidade diferente do retrato
do Brasil global. A renda familiar, no Grande
São Paulo, é de Cr$ 612,10; o salário médio
do chefe de família é de Cr$ 345,06; o
aluguél médio é de Cr$ 118,65.
Verifica-se que 15,4 por cento dos chefes
de famílias, das classes populares, ganham
até o salário mínimo; 50,3 por cento até Cr$
300,00. E mais: esses dados não se referem
somente ao operário não qualificado, neles
se incluem muitos outros setores
profissionais. Como, por exemplo,
funcionário públicos, militares, bancários,
comerciários, etc.
Pertencem esses levantamentos ao
Departamento Intersindical de Estatística e
Estudos Sócio-Econômicos, que é sustentado
por cerca de 252 organizações sindicais
brasileiras. E a pesquisa, que anualmente o
orgão realiza, objetiva um conhecimento
mais aprofundado do padrão de vida da
classe trabalhadora.
Em um de seus estudos, o DIEESE,
afirma: "Além
do mais, o reajuste salarial
calculado nos padrões estabelecidos pelo
governo é contestável pelos próprios dado&
divulgados por fontes governamentais. Os
cálculos são feitos, atualmente, com base
num resíduo inflacionário de 12 por cento
ao ano e com uma taxa de produtividade de
3,5 por cento. Mas, na realidade, espera-se,
segundo pronunciamentos governamentais,
uma inflação da ordem de 18 a 20 por cento.
Também é de fonte governamental a
informação divulgada de que o PIB cresceu
11,3 por cento. Assim sendo, a taxa de
produtividade calculada na base do PNB
(11,3 por cento) menos a taxa de
crescimento demográfico (por volta de 2,9)
não pode ser inferior a 8,4 por cento".
Segundo o Conselho Monetário Nacional,
o resíduo inflacionário em 1971 era de 12
por cento (pela política salarial, aplica-se
metade do resíduo, na recomposição do
salário real médio), enquanto os vários
indicadores de inflação variaram entre 18 e
20 por cento. Na prática, a diferença entre
os dois modos de se aplicar a mesma e única
política salarial do governo resulta em um
desnível médio de 9 por cento.
Ainda segundo o DIEESE: "A
política
salarial do governo, aplicada em nome da
recuperação econômica do País, acarretou
grandes prejuízos às classes trabalhadoras. O
trabalhador metalúrgico, como os
trabalhadores de outras categorias, vem
perdendo, ano a ano, o poder de compra do
seu salário".
Há pouco tempo, pesquisa feita no
Grande São Paulo serviu para comprovar a
existência de três automóveis Volks-61 na
favela de Vila Prudente, uma das mais
miseráveis da periferia paulista. O lugar é tão
paupérrimo que não dispõem de instalações
sanitárias, predominando os barracos
miseráveis com todos os agravantes de uma
maneira de vida subumana. Mas, nesse
ambiente, já existem três felizes
proprietários de automóveis. Estes ficam ao
relento da favela, sem abrigo, demonstrando
um novos status em meio à tamanha miséria
para os seus proprietários. Sem dúvida, esses
noveau-riches da favela paulista
economizaram na alimentação e outros bens
essenciais para mostrar à sua comunidade um
novo status.
E de uma maneira geral, a civilização do
automóvel vem sendo responsável por uma
verdadeira revolução no consumo. Comprar
um carro está ficando cada vez mais fácil.
Tendo o financiamento baixado de faixa,
basta uma renda familiar de Cr$ 1.000 paracomprar um veículo zero quilômetro. E
nessas circunstâncias, o automóvel invade os
banros mais pobres, criando uma série dedistorções no consumo essencial. Porexemplo, o salário médio dos metalúrgicos
paulistas é de Cr» 400.00 e 15 por cento
deles ja estão motorizados. E assim o
brasileiro va. continuando a dar preferência"f,as e nos loca|s
pobres, ao carro, aonves dos san.tanos e de outros aspectosinfra-estruturais. ^
Dentro dessa política de consumo
agressivo, o carro é a maior cobiça. Compratem cond*5« e compra muito mais
relativamente quem não tem condições
economicas. De que forma? Com os novosplanos que surjem a cada dia maisaperfeiçoados: "compre
agora e só comecp -
pagar daqui a seis meses".
E a partir daí, o consumidor tem mais 50
meses para quitar o débito. Dessa forma, o
automóvel chega è posse de camadas sempre
maiores da população. O desejo de possuí-lo
leva a uma distorção das necessidades
prioritárias e a um sacrifício desnecessário,
se visto o problema sob outro prisma. O
favelado precisa muito mais de saúde do que
de carro. Precisa, igualmente, de melhores
condições de habitação, mas compra o carro.
E pelos dados do DIEESE, vimos que o
salário médio do trabalhador em São Paulo,
na cidade que mais cresce no mundo, é de
Cr$ 345,00 e a renda familiar de Cr$
616,00 mensais, o que Lhe tira condições de
comprar um veículo, mas que está fazendo
de maneira ascendente.
Dessa forma, para fazer face a uma
realidade de baixo nível salarial - e vejam
que os dados aqui utilizados referem-se a São
Paulo — as classes de menor poder aquisitivo,
bombardeadas diariamente pelos meios de
comunicação, entram violentamente no
sistema de consumo. Compram, compram e
compram. O que de mais útil para as suas
vidas? Nem sempre. Na maioria das vezes o
ego se manifesta comprando o que não é
essencial em função de um status que aspira
demonstrar em seu meio.
Não vejam, em momento algum, qualquer
espírito pieconeeituoso contra o crédito.
Seria uma total estupidez se assim pensasse e
exposasse esse ponto de vista. O que quero
demonstrar é que está havendo uma
violentíssima distorsão no uso do crédito no
Brasil. Principalmente pelas circunstâncias de
sermos um povo sem poder aquisitivo real,
dentro dos padrões modernos da sociedade
de consumo. E que estamos a consumir
violentamente. Em sacrifício até mesmo da
comida e de um maior conforto existencial.
Nos EUA, cujo modelo de consumo
copiamos, a realidade é outra. Há um
mercado interno consolidado e um padrão
salarial de alto nível, o que não ocorre entre
nós. O padrão salarial do brasileiro é um dos
mais baixos do mundo. Entretanto, por uma
série de artíficios, a sociedade de consumo
está fazendo desse povo um gastador
emérito.
ei
Helio
Duque
'-***.*
1221 ^m^m^I I koluna do 1
^P ^^^B^t^Er^^f l paskoal J |^fl flE^H^HriULj
PaschoalCarlosMagno
tw-montar Moniz
Elsie Houston e Roberto GomesAVew Vor/c, 72 cfe /arte/-
/io de 1945-A caminho
de Londres, avisei telegra-
ficamente a Samuel Wainer
que passaria alguns dias em
New York. Levava-lhe o
romance de Emil Fahrat
traduzido para o inglês.
Não o encontrei no aero-
porto, mas à minha espera
mensagem sua informando
o nome do hotel onde me
havia reservado um aparta-
mento. Mal abria minhas
malas, Samuel Wainer me
r chamou ao telefone. Gos-
taria de Jantar comigo, mas
aceitara na véspera um
convite de Paulo Bitten-
court para aquela noite. E
acrescentou:— 0 Paulo, quando sou-
be de sua chegada, man-
dou convidá-lo também.
Aceitei-o
Deu-me o endereço do
pequeno restaurante, colo-
cado num subterrâneo,
onde encontraria Nio mar
Moniz Sodré, Paulo Bitten-
court, Mario Pedrosa, Ma-
ry Houston Pedrosa, José
Auto e Samuel Wainer.
Conhecia a todos, menos a
Paulo. De Ni ornar me lem-
brava que era quase meni-
na quando, na campanha**. da fundação da Casa do
Estudante passei pelaBahia, dissera versos em
reunião promovida na casa
de Julia Galeno.
Não me lembro se o jan-tar foi bom, se os vinhos
eram excelentes. Sei so-
mente que todos pareciamfelizes. Sei também quePaulo reencontrava no
meu entusiasmo pela Ingla-
terra, para onde eu retor-
nava depois de alguns me-
ses no Brasil, tentando
curar-me de alergia nervo-
sa, resultado de anos de
guerra vividos em Londres,
uma das paisagens perma-nentes de sua vida. De fato
eu só poderia ficar quatrodias em New York: -
*" Senão vou acabar sem dó-
lares para pagar o hotel.
Advertiu-me Paulo, rin-
do:****** Não se preocupe,
* pois já avisei a gerência do
seu hotel que sua contaserá paga por mim.
Niomar e ele me premia-ram com duas semanas em
New York. Ao lado de am-
bos descobri museus, gale-rias, livrarias, bibliotecas,
teatros, jardins, gente, lm-
pressionava-me a cultura
ampla, colorida, densa,
desse antigo aluno de Cam-
bridge, sempre de cachim-
bo à boca. E amavam os
dois o teatro, com uma
paixão igual à minha. Dis-
c u tim os p eças, espeta-
culos, elencos, diretores.
Não pude, no primeiroencontro com Niomar ePaulo, conversar mais que
poucos minutos com Mary
Houston Pedrosa, irmão de
Elsie Houston. O Brasil aesqueceu. Mas em Paris,
Bruxelas, Roma, nas prin-cipais cidades da Europa,foi, durante anos, um car-taz ambulante da nossa
música.
Ligada pelo matrimônio
ao poeta surrealista Ben-
jamim Peret, Elsie Hous-
ton era uma personalidadesingular. As vezes os con-
tratos escasseavam. As au-
toridades diplomáticas bra-
sil ei ras não aceitavam
como dever, como obriga-
ção, prestigiar a arte dessa
mulher que não era bela
nem feia, que tinha a pelebronzeada, os olhos i/umi-
nados por uma constante
festa interior, que tinha
uma voz perfeita, comuni-
cando o que havia de me-
lhor, do mais puro, na nos-
sa música. De súbito, em
Paris, Elsie Houston viu-se
de mãos vasias. Era orgu-
lhosa demais para bater à
porta de estangeiros, pe-dindo socorro. Batia à
porta do nosso consulado.
E a repatriaram duas vezes.
Servia eu no Consulado
Geral do Brasil em Lon-
dres, quando dela recebi
um bilhete angustiado.
Prec isava passar algum
tempo na Inglaterra, a fim
de conseguir contrato na
BBC, avistar-se com em-
presários, teatros. E pedia-me hospedagem. Mandei-
lhe um telegrama: "Ve-
nha". Chegou na mesma
semana. Com muito poucabagagem de roupas, mas
trazendo uma quantidadede discos seus e dos ou-
tros, partituras, livros.
Confessava que não sabia
frigir um ovo, mas que aju-
daria, caso fosse preciso,minha empregada no apar-
tamento de quatro peças,numa sobreloja de Sloane
Street.
Havia um piano de cau-
da numa das salas. Um pia-no e um largo diva, que
passou a ser seu leito. Elsie
se acompanhava a si mes-
ma. Passava as manhãs in-
teiras apurando seu reper-
tório, estudando peçasnovas, tentando memori-
zar outras, em in<f/ês, paraaudição que amigos meus
arranjaram-lhe na BBC.
A mura/ha era alta e
espessa em torno dos mi-
crofones da BBC. Admira-
vam-lhe a voz, a qualidadede sua arte, a originalidade
do seu repertório, a elegan-
cia do seu porte, mas não
consegue abrir caminho
em Londres, embora seu
sobrenome inglês. Foi
Elsie Houston quem me
falou primeiro, de maneira
clara, sobre o surrealismo
na poesia. Não é uma esco-
la literária. Seus caminhos
são múltiplos: o do Uris-
mo, do fantástico, do ma-
ravilhoso e os da inocên-
cia. Todos se entrecruzam,
se completam, mas o tem-
po passando, o poeta que
pertencia à estrada lírica,
se afasta dela e vê-se na
estrada da cólera, no do-
mínio da agressividade...
Durante muito tempo,
Elsie Houston, que tinha o
dom de ser grata, escrevia-
me. Cartas da França. Com
notícias da sua presençano rádio, em pequenas sa-
las de concerto, em boates,
gravando discos, dando
entrevistas. Sempre, po-rém, atormentada por pro-blemas íntimos, de falta de
amor; de falta de dinheiro,
pela falta de compreensão
dos críticos, especialmente
da imprensa brasileira, quea negavam ou a esqueciam.
— Quando chegar ao fim
de mim mesma, eu me
mato.
Matou-se.
Deixando os convivas de
Niomar e Paulo, lembrei-
me que estávamos a 12 de
janeiro. Roberto Gomes
faria anos, caso estivesse
vivo. Quando é que vou
arranjar tranqüilidade, pa-ciência, tempo, para escre-
ver um ensaio sobre esse
dramaturgo, dos primeirosdo Brasil, que conheci ain-
da menino, a assistir uma
conferência sua, patroci-nada pela Sociedade Pro te-
tora dos Animais, sob o
título Os cães, meus ir-
mãos.
Falando português tinha
um acentuado sotaque
francês, que lecionava aos
cegos do Instituto Ben-
jamin Constant. Guardo
dele, a imagem de um ho-
mem comprido, pálido, de
longas mãos de pianista,trazendo sempre uma rosa
à lapela. Quando lhe levei
um exemplar do meu pri-meiro livro de poemasTempo que passa falou-me
com naturalidade de seu
passado como autor de Ao
declinar do dia, Canto sem
Palavras, A bela da tarde.
Também interpretei no
Municipal um dos meus
atos Sonho de uma noite
de luar, numa festa de cari-
dade.
Dona Blanche, sua mãe,
trouxe-nos café e sua cor-
respondência chegada na-
quele instante. Havia car-
tas com selo da França do
envelope. Pediu-nos licen-
ça para abri-las. Ao abrir a
primeira parecia outro ho-
mem:
ê da Rejane.. .Da Rejane? —inda-
gou Papai curiosamente fe-liz. Posso olhar a letradela?
Ê da Rejane, hein?
Voltou-se para mim.
Olhe, meu filho, olhe,
você ganhou seu dia.
Porque viu a letra de
uma das maiores atrizes do
mundo.
Contou-nos Roberto
Gomes que terminara Be-renice. Escrevera-a emfrancês e em seguida a tra-
duzira para o português:Mandei uma cópia
dessa peça a meus amigosna França.
Olhou-me de frente:Você tem dezesseis
anos, não? E já escreveu
uma peça?Sorriu.
Talvez você consiga
aquela glória que me nega-
ram sempre.
Mudou de tom:
Um dia, estarei vivo
ainda: Berenice talvez seja
representada por um de
nosso elencos. Quando?
Sei lá.
(Era constante na sua
conversa essa presença da
morte. "Não
terei vida lon-
ga. Um dia me encontrarão
morto".)
Como a morte rondasse,Roberto Gomes a procu-rou com um tiro de revól-ver no coração, na noite deNatal de 1922.
Para matar-se, vestiu
casaca.
Papai não foi a seu en-
terro. Mas na data de seu
aniversário, levou-me ao
cemitério São João Batista
para levar algumas flores
ao seu túmulo. Atravessan-
do o cemitério, perguntei-lhe como sabia de cor
aqueia data:Porque, Paschoal, é a
véspera de seu aniversário.
Roberto e você quase nas-
ceram na mesma data.
Encontramos donaBlanche ao lado de umaamiga, junto à sepultura deRoberto, segurando umramo de cravos. Avistando-se com papai, abraçou-ochorando. Choraram osdois.
POLITIKA
A Editoria
ALBERTO PIERUCCINI (Caixa Postal no.
Lages — SC) —
"Vimos
por meio desta solicitar o especial favor denos remeterem, com a máxima brevidade, o POLITIKA no. 14, que, emrazao de reuniões contínuas do nosso
grupo de amigos, sobre o temacursilho, nos será de grande utilidade, inclusive aumentando nosso
conhecimento sobre tão badalado tema."
Já seguiu o número 14, Carlos Alberto, mas o importante, para efeito
de pesquisa, encontra-se no número 25, como você deve ter visto. Muito
grato pela utilização de POLITIKA como fonte de consulta, é sempre
bom a gente saber que acertou com que está fazendc^
korreio
^
A burocracia na Previdência
Social
NICANOR DE SOUZA
(Caixa Postal, 193 - Cuiabá-
MT) — "Sendo um leitor assí-
duo de POLITIKA, o maior
jornal do Brasil em conteúdo,
cujo objetivo é edificar um
Brasil melhor, não pude guar-
dar silêncio dentro da minha
humildade, como parte ínfima
da nossa sociedade, e saio da
toca para vir trazer-lhe o meu
muito obrigado, os meus aplau-
sos e a minha admiração. O
conceito que faço dos ilustres
componentes desse jornal enco-
raja-me a vir solicitar-lhe um
grande favor, porque não tenho
para quem apelar aí no Rio,
com a certeza de que me dis-
pensarão a melhor atenção. 0
que desejo é obter o andamen-
to e o esperado despacho no
processo de minha aposentado-
ria, junto aos dirigentes da Su*
perintendência de Saúde Públi-
ca, de onde sou funcionário, no
momento aguardando aposen-
tadoria em casa, por ordem
superior. No dia 27 de outubro
último completei trinta e cinco
anos de efetivo exercício e no
dia 3 de novembro requeri mi-
nha aposentadoria, cujo pedido
recebeu protocolo de número
718/71. Esse requerimento fi-
cou parado, aqui no Setor Ma-
to Grosso, de 3 de novembro
de 1971 a 13 de janeiro de
1972, quando seguiu para a
Superintendência, aí no Rio,
no dia 14 de janeiro, por via
área, Conhecimento 397.693,
não tendo eu nenhuma outra
informação. Como sempre fui
prejudicado, tomo a liberdade
de apelar para que vocês me
ajudem neste lance final de
minha constrangida vida de
funcionário público."
Infelizmente, Nicanor, seu
pedido supera nossa esfera de
influência. Referendamos seu
pedido e, para tanto,
publicamos sua carta na
íntegra. O que não podemosfazer, de novo infelizmente, é
gestionar no sentido de que os
entraves burocráticos
atrapalhem o bom andamento
da assistência social, quedeveria estar isenta de qualquerentrave.
Mas, amigo,conhecemos
de sobra a
previdência social no Brasil e
podemos avaliar os problemasque isto está lhe causando.
amos ver se com a publicação
ce ,sua carta o pessoal do
ndemias Rurais toma um
cnazinho de simancol e libera
as '"formações para sua
aposentadoria. Um abraço e
procure sempre.
mary helena
ALLEGRETTI ZANONI
(Múltipla P ropaganda&
Pesquisa) — "Inicialmente,
gostaria de felicitar os
responsáveis por POLITIKA -
publicação das mais importan-
tes hoje no Brasil. Considero o
jornal tão importante que gos-
taria de mandar os vinte e um
números editados até aqui para
uma amiga que está estudando
Economia Política em Ohio,
nos Estados Unidos. Ela precisa
de dados atuais sobre o Brasil e
penso que este jornal seria o
melhor material que poderia
enviar-lhe. Teria mais uma soli-
citação a fazer. Faltam-me os
seguintes números de POLITI-
KA (...). Agradecendo muito a
atenção que será dada a esta
carta, fico à disposição e felici-
to mais uma vez a excelente
informação que é POLITIKA."
Olha, Mary Helena, os exem-
plares para sua amiga jâ segui-
ram, via aérea, pela Varig. Os
seus também. No tocante aos
elogios, mesmo imodestamen-
te, devemos confessar que PO-
LITIKA é, realmente, a coisa
mais séria e importante que se
faz hoje no Brasil em termos
políticos. No mais, não conti-
nuaremos pois estamos rubori-
zados...
CARLOS EUGÊNIO PEDRO-
SA DE SOUZA (rua Senador
Vergueiro, 35,- 401 - Rio -
GB) - "Pela segunda vez es-
crevo para apresentar sugestões
a respeito deste jornal e agrade-
cer a cordial acolhida que teve
a minha primeira carta. O moti-
vo desta são os anúncios. Du
rante quase vinte números do
sensacional POLITIKA eu e,
piovavelmente, todos os ieito-
res tivemos a certeza de que
esta praga que são os anúncios
não penetraria, o nosso jornal.
De repente apareceu uma maté-
ria paga do Município de Ca-
xias, ocupando o espaço deste
patrono dos estudantes, da arte
e da cultura brasileira que é
Paschoal Carlos Magno. Nos
números seguintes, novamente
matérias de Caxias, já agora
acompanhadas de anúncios de
várias corretoras. Ora, como ós
senhores mesmo falaram, um
jornal a partir do momento em
que se identifica com seus lei-
tores deixa de pertencer aos
que o fazem para pertencer ao
público, que o fez seu e o lê
habitualmente. Portanto, gosta-
ria que fosse revista a política
do jornal em relação aos anún-
cios e evitá-los ao máximo, se
não for possível bani-los de
vez, porque se o jornal não
precisa de anúncios para sobre-
viver, não há razão para eles aí
estarem, e se precisa, mais cedo
ou mais tarde deixará de ser
um jornal livre para fazer o
jogo daqueles que pagam anún-
cios."
Carlos, o negócio é o seguinte:
tudo na vida, para sobreviver,
carece de pagamento. Você,
por exemplo, pode trabalhar
em um local que considere
indevido, em termos específi-
cos, para você, o que não lhe
exime da obrigatoriedade social
e pessoal de se sustentar. Nós,
por nosso turno, para conti-
nuarmos a levar o jornal è rua
todas as semanas, carecemos de
publicidade. E como carece-
mos. Mas isto não implica,
absolutamente, num estreita-
mento entre o anunciante e o
jornal. Já que este 6 mero
veículo. Pode estar tranqüilo
que não venderemos nossa opi-
nião. Mesmo porque ela não
tem preço. Ou, pelo menos,
ninguém chegou até ele.
ADALBERTO M. LORGA
(Caixa Postal no. 655 - São
José do Rio Preto - SP) - "Na
minha coleção de seu jornal
POLITIKA faltam alguns nú-
meros. Por isso anexo Cr$
10,00 para o pagamento e en-
vio dos números 1,2, 12 e 14."
Os números seguiram no dia 3,
Adalberto. Obrigado e volte
sempre.
NELSON BORGES DE CAR-
VALHO (Rua 19, 108 - Vila
Fama, Goiânia - GO) - "Não
vou elogiar o seu jornal. Ele já
nasceu qrande.
Seria apenas um
gota d'agua a mais no oceano
da verdade. Aproveito para di-
zer a vocês que o artigo do
Sebastião Nery sobre o gover-
nador da Bahia foi simplesmen-
te espetacular. Só lamento que
o Nery não venha aqui em
Goiânia, para ver o quanto de
estupidez é /^metido pelo Se-
cretário de Educação e Cultura
que, complexado por não ter
tido a oportunidade de chegar
a um curso superior, comete as
piores idiotices, inclusive afas-
tando professores licenciados
por faculdades de filosofia, sem
ao menos apresentar razões,
substituindo-os por colegiais,
portadores, apenas, de certifi-
cado de parentesco. Outra coi-
sa que lamento é que as remes-
sas de POLITIKA para Goiânia
têm sido irregulares. Por isso
estou pedindo o envio das nú-
meros 1, 2, 3, 4, 6, 11 e 21,
que pode ocorrei pelo reembol-
so postal."
Nelson, o Nery manda dizer
que qualquer hora dessas ele
aparece aí. Os jornais já segui-
ram pelo reembolso postal, po-
dendo você pegá-los quando
quiser. No mais, apenas um
abraço e agradecimento pelo"grande".
JOSÉ CARLOS SILVA (Uber-
lândia—MG) — "Com referên-
cia à matéria de POLITIKA
número 23, tenho a dizer-lhe
que não há dúvida de que os
cursilhos são movimentos poli-
ticos, de natureza fascista, por
mais que os seus participantes
não se apercebam disto ou não
queiram se aperceber. Teve ori-
gem na Espanha de Franco e se
não fosse um movimento ideo-
lógico o ditador fascista não
teria permitido que se expan-
disse e atingisse o exterior.
Quando o movimento fascista
surgiu na Itália, todos juravam,
de mãos juntas, que se destina-
va apenas a proteger os famin-
tos desmobilizados da guerra e
que era um movimento de cará-
ter social, assistencial, como
hoje se afirma que os cursilhos
são puramente comunitários e
religiosos. Que se esconderia
atrás dos cursilhos? Absoluta-
mente nada para os desavisa-
dos, como nada se esconde
atrás da propaganda comercial,
mas os mais atentos sabem que
se esconde o desejo de vender.
As pessoas esclarecidas que
pensam que atrás dos prêmios
da Ciabra-Consorte ou da Eron-
tex existe apenas a preocupa-
ção de premiar centenas de
participantes, como propala a
propaganda, positivamente são
simples ingênuos. Ninguém
imagina que nos planos das
duas organizações comerciais se
esconde o financiamento ante-
cipado dos subscritores de cu-
pões. Disse um publicista ame-
ricano que a propaganda con-
siste em vender estufas aos
habitantes da África do Sul e
geladeiras aos do Polo Norte.
De que maneira? Conven-
cendo-os de que necessitam
desses aparelhos. Assim é a
doutrinação religiosa e comuni-
tária dos cursilhos. Pode e tem
muitos ingredientes políticos e
todos de direita ou, mais preci-
samente, fascistas. Parabéns pe-
Ia matéria. Pelo menos há uma
voz que alerta os incautos."
É José, o negócio dos cursilhos
foi devidamente dissecado pelo
Oliveira Bastos na semana pas-
sada. Parece que depois daque-
Ia matéria nenhuma dúvida pai-
ra. Embora não endossemos
tudo o que você disse, a verda-
de é que sempre é bom a gente
ver gente como você, com von-
tade de dizer tudo.
CENTRO DE ESTUDOS E
CIÊNCIAIS SOCIAIS (Facul-
dade de Filosofia e Ciência
Sociais — Belo Horizonte —
MG) — "Em novembro de
1971 foi realizada a Semana de
Sociologias, em Salvador, da
qual participaram estudantes
de Pernambuco, Minas Gerais e
Bahia. Esta Semana constou de
conferências, cursos e debates,
onde se discutiu: (a) situação
dos cursos de ciências sociais
no Brasil; (b) importância e
papel do sociólogo no Brasil;
(c) problemas do mercado de
trabalho; (d) regulamentação
da profissão. Ao final desses
debates surgiu a necessidade de
uma abordagem desses assuntos
de uma forma mais sistemática
e a nível nacional, assim como
de discutir a criação de um
novo órgão nacional de estu-
dantes de sociologia. Belo Hori- /
zonte foi escolhida como local
para o próximo encontro, que
deverá ser realizado de 15 a 20
de maio. O Congresso está sen-
do preparado pelo CECS, com
apoio do DCE-UFMG, do
DAFAFI-CH e do Conselho de
Extensão da UFMG. Vários Es-
tados já comunicaram a presen-
ça de delegações, estando pre-
parando trabalhos para apre-
sentarem em seu desenrolar.
Por dificuldades de conseguir
endereços de todos os cursos,
estamos utilizando POLITIKA
para pedir a todas as entidades
representativas dos estudantes
de Ciências Sociais ePolíticas
que entrem em contato conos-
co o mais rápido possível, in-
clusive dando sugestão para a
preparação do Congresso. Após
esse contato, remeteremos o
programa e o número de pes-
soas que alojaremos."
Está aí, pessoal, a colher de chá
pedida. Podem contar com a
gente. Nós estamos aqui para
divulgar, sempre, suas reivindi-
cações. f i
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