2. A fermosura fresca serra,e a sombra dos verdes
castanheiros,o manso caminhar destes ribeiros,donde toda a tristeza
se desterra;o rouco som do mar, a estranha terra,o esconder do sol
pelos outeiros,o recolher dos gados derradeiros,das nuvens pelo ar
a branda guerra;enfim, tudo o que a rara naturezacom tanta
variedade nos oferece,me est (se no te vejo) magoando.Sem ti, tudo
me enoja e me aborrece;sem ti, perpetuamente estou passandonas
mores alegrias, mor tristeza.
3. A fermosura desta fresca serraA fermosura desta fresca
serraE a sombra dos verdes castanheiros,O manso caminhar destes
ribeiros,Donde toda a tristeza se desterra;O rouco som do mar, a
estranha terra,O esconder do sol pelos outeirosO recolher dos gados
derradeiros,Das nuvens pelo ar a brada guerra;Enfim, tudo o que a
rara NaturezaCom tanta variedade nos oferece,Me est, se no te vejo,
magoando.Sem ti, tudo me enoja e me aborrece;Sem ti, perpetuamente
estou passando,Nas mores alegrias mor tristeza. Camille Pissaro,
Landscape at Chaponval, 1880
4. TEMAA fermosura desta fresca serraE a sombra dos verdes
castanheiros, O tema deste soneto a necessidadeO manso caminhar
destes ribeiros, da presena da mulher amada paraDonde toda a
tristeza se desterra; que a felicidade do sujeito seja possvel (Sem
ti, tudo me enoja e meO rouco som do mar, a estranha terra,
aborrece).O esconder do Sol pelos outeiros,O recolher dos gados
derradeiros,Das nuvens pelo ar a branda guerra; O poeta expe as
contradies do amor.Enfim, tudo o que a rara natureza Como pode este
sentimento harmonizarCom tanta variedade nos ofrece, dois coraes.
Sendo afinal toMe est, se no te vejo, magoando. contraditrio? Este
tema das contradies do amor,Sem ti, tudo me enoja e me aborrece;
expresso por anttese, um lugar comumSem ti, perpetuamente estou
passando, da lrica europeia quinhentista. PetrarcaNas mores
alegrias, mor tristeza. tem um soneto semelhante.
5. Alegria e verdura vida eterna. Claridade; frescura; guas de
cristal,transparentes; suavidade; amenidade. Sem amor a vida no tem
interesse e opoeta no capaz de viver a vida sem a amada, no
consegue ter alegria. Tema Saudade; ausncia da amada.
6. As palavras sublinhadas so aquelas que evidenciam a harmonia
da natureza descrita pelo sujeito lricoA fermosura desta fresca
serraE a sombra dos verdes castanheiros,O manso caminhar destes
ribeiros, Descrio da beleza daDonde toda a tristeza se desterra;
natureza que o circundaO rouco som do mar, a estranha terra,O
esconder do Sol pelos outeiros,O recolher dos gados derradeiros,Das
nuvens pelo ar a branda guerra;Enfim, tudo o que a rara naturezaCom
tanta variedade nos ofrece, A total irrelevncia daMe est, se no te
vejo, magoando. harmonia natural quando a mulher amada no estSem
ti, tudo me enoja e me aborrece; presenteSem ti, perpetuamente
estou passando,Nas mores alegrias, mor tristeza.
7. A fermosura fresca serra,1 momento (vv.1-8) e a sombra dos
verdes castanheiros, o manso caminhar destes ribeiros,Viso
objectiva da Natureza donde toda a tristeza se desterra;descrio de
um ambienteverdejante, fresco, aprazvel, capazde trazer felicidade
e alegria a quem o rouco som do mar, a estranha terra,nele se
inserir. o esconder do sol pelos outeiros, o recolher dos gados
derradeiros, das nuvens pelo ar a branda guerra;2 momento
(vv.9-14)O estado de esprito do sujeito potico enfim, tudo o que a
rara naturezacaracteriza-se pelo desgosto, dor e com tanta
variedade nos oferece,sofrimento. O abandono em que se me est (se
no te vejo) magoando.encontra, devido ausncia da mulheramada, f-lo
recusar tudo quanto orodeia. Sem ti, tudo me enoja e me aborrece;
sem ti, perpetuamente estou passandoA infelicidade e a tristeza no
o deixamver a Natureza no que ela tem de mais nas mores alegrias,
mor tristeza.perfeito. Incapaz de afastar a tristeza,v a Natureza
com os olhos da alma. A repetio do ltimo terceto reala a ausncia da
mulher amada.
8. ESTRUTURA INTERNA 1. parte: 2 quadras - Descrio da
Natureza.A fermosura desta fresca serraE a sombra dos verdes
castanheiros, O soneto divide-se em duas partes lgicas,
desempenhando a palavra enfim a mudana:O manso caminhar destes
ribeiros,Donde toda a tristeza se desterra; 1 parte duas quadras
descreve-se uma natureza harmoniosa, propcia ao amor;O rouco som do
mar, a estranha terra, A 1 parte do texto constituda por uma
descrioO esconder do Sol pelos outeiros, que, basicamente, se
estrutura numa enumeraoO recolher dos gados derradeiros, de
elementos que constituem a paisagem e que soDas nuvens pelo ar a
branda guerra; qualificados ora por adjetivos ora por substantivos
ou oraes relativas.Enfim, tudo o que a rara naturezaCom tanta
variedade nos ofrece,Me est, se no te vejo, magoando.Sem ti, tudo
me enoja e me aborrece;Sem ti, perpetuamente estou passando,Nas
mores alegrias, mor tristeza.
9. ESTRUTURA INTERNA 2. parte: 2 tercetos - Sentimentos do
poeta em relao ausncia da amada.A fermosura desta fresca serra 2
parte dois tercetos refere a irrelevncia daE a sombra dos verdes
castanheiros, beleza natural sem a mulher amada.O manso caminhar
destes ribeiros, A 2 parte constitui uma sntese, que se conclui
serDonde toda a tristeza se desterra; rara e dotada de grande
variedade. Mas, para alm dessa sntese, o poeta introduz, nesta
parte,O rouco som do mar, a estranha terra, um novo elemento o tu
-, que se vem juntar aoO esconder do Sol pelos outeiros, Eu
Natureza at ento dominante. E a presenaO recolher dos gados
derradeiros, deste terceiro elemento assume um carcterDas nuvens
pelo ar a branda guerra; decisivo na viso da paisagem: na ausncia
da amada (o tu) tudo o enoja e aborrece e perpetuamente passar
mores alegrias, morEnfim, tudo o que a rara natureza tristeza.Com
tanta variedade nos ofrece,Me est, se no te vejo, magoando.Sem ti,
tudo me enoja e me aborrece; Enquanto a descrio da 1 parte tendia
para a objetividade (exterioridade / 3 pessoa), na 2Sem ti,
perpetuamente estou passando, parte, com a introduo das 1 e 2
pessoas doNas mores alegrias, mor tristeza. singular
(instituindo-se uma relao eu-tu- Natureza), o texto assume certo
dramatismo e uma grande subjetividade.
10. ESTRUTURA INTERNAA fermosura desta fresca serra O marcador
discursivo enfim (advrbio) introduz aE a sombra dos verdes
castanheiros, concluso do soneto e a razo de o sujeito lrico terO
manso caminhar destes ribeiros, descrito a serra e a natureza.Donde
toda a tristeza se desterra; Os dois primeiros versos deste terceto
resumem os elementos referidos na primeira parte do soneto com oO
rouco som do mar, a estranha terra, pronome indefinido tudo.O
esconder do Sol pelos outeiros,O recolher dos gados derradeiros,Das
nuvens pelo ar a branda guerra; O elemento introduzido no ltimo
verso deste terceto que provoca no sujeito lrico a exploso da
suaEnfim, tudo o que a rara natureza subjetividade lrica o seu
objeto de amor , ou seja, oCom tanta variedade nos ofrece, tu,
referido no soneto atravs do pronome: te.Me est, se no te vejo,
magoando. O ritmo do poema mais lento nos dois tercetosSem ti, tudo
me enoja e me aborrece; devido ao recurso a complexos verbais como
me estSem ti, perpetuamente estou passando, () magoando e estou
passando; devido ao recurso anfora, Sem ti (); sem ti (), a que
acresce oNas mores alegrias, mor tristeza. recurso ao advrbio,
perpetuamente. Neste terceto, o sujeito lrico j no se encontra em
harmonia com a natureza devido ausncia do seu objeto de amor.
11. Caracterizao Elementos da paisagem Adjectivos Substantivos
Orao relativaserracastanheiros frescacaminhar dos ribeiros verdes
fermosuramar manso sombra donde toda a tristeza seterra rouco som
desterraesconder do sol pelos estranha guerraouteiros
derradeirosrecolher dos gados brandanuvens Relacionamento
Eu/Natureza patente no poema. Na ausncia da amada, a Natureza
embora bela, no o seduz, sem ela ele no consegue achar beleza em
nada.
12. A fermosura desta fresca serra Estrutura Formal do Texto e
RecursosE a sombra dos verdes castanheiros, Estilsticos mais
RelevantesO manso caminhar destes ribeiros,Donde toda a tristeza se
desterra; Personificao: "manso caminhar destes ribeiros", "Das
nuvens pelo ar a brandaO rouco som do mar, a estranha terra,
guerra" - Ao personificar a natureza o PoetaO esconder do Sol pelos
outeiros, pretende transmitir toda a importncia delaO recolher dos
gados derradeiros, na ausncia da amada.Das nuvens pelo ar a branda
guerra; Anfora: "Sem ti / Sem ti" - Esta reiterao expressa a mgoa
do poeta.Enfim, tudo o que a rara natureza Hiprbole: "perpetuamente
estou passando,/Com tanta variedade nos ofrece, Nas mores alegrias,
mor tristeza" - ExpressaMe est, se no te vejo, magoando. toda a dor
do poeta, ele quer transmitir todo o amor e toda a dor que lhe
causa aSem ti, tudo me enoja e me aborrece; separao desse amor.Sem
ti, perpetuamente estou passando, Anttese: "Nas mores alegrias, mor
tristeza" -Nas mores alegrias, mor tristeza. Expressa toda a
amargura que o poeta sente pela ausncia da amada.
13. UNIDADE FORMA / CONTEDOO dramatismo e a subjetividade da 2
parte devem a sua intensidade utilizaode alguns recursos
estilsticos:a) Anfora - Sem ti Sem tib) Anttese - Nas mores
alegrias, mor tristeza
14. Vocbulos que servem para caracterizar a serra Formosura
desta serra Verdes castanheiros Manso caminhar O esconder do sol
pelos outeiros Nuvens pelo ar Rara naturezaOs vocbulos caracterizam
a serra como um quadroidlico (harmonioso) so: fermosura,
fresca,verdes castanheiros, manso caminhar destesribeiros, rouco
som do mar, estranha terra eesconder do sol.As sensaes visuais e
auditivas conferem umasensao de paz, calma, simplicidade, alegria,
tristeza,amor. A repetio da palavra sem ti no ltimo tercetoserve
para intensificar o seu aborrecimento e a suatristeza que passa
quando no tm a sua amada ao pdele.
15. Sensaes Visuais: - a sombra dos verdes castanheiros - o
esconder do sol pelos outeiros - nuvens pelo ar Auditivas: - manso
caminhar - rouco som do mar - recolher dos gados
16. Disciplina: PortugusProf.: Helena Maria Coutinho