AS PRÁTICAS DE SUSTENTABILIDADE
EMPRESARIAL NO APL CALÇADISTA
DE CAMPINA GRANDE - PB
VALTERCIO ARAUJO DE ALBUQUERQUE (UFPB)
Maria de Lourdes Barreto Gomes (UFPB)
Ricardo Moreira da Silva (UFPB)
Inocencio Avelino Padilha (UFPB)
O presente artigo tem por objetivo identificar práticas de
sustentabilidade empresarial no APL Calçadista de Campina Grande -
PB, cuja pesquisa foi financiada pelo CNPq. Para tanto, utilizou-se
como base o modelo triple bottom line (tripé dda sustentabilidade)
proposto por John Elkington (1997), o qual compreende três dimensões
da sustentabilidade: people, planet e profit (dimensão social, ambiental
e econômica). Em termos metodológicos, o estudo contemplou tanto a
pesquisa bibliográfica como a pesquisa de campo, podendo ser
caracterizada como descritiva e conduzida sob a forma de estudo de
caso. A coleta dos dados foi realizada através de um questionário, e a
complementação das informações foi feita mediante a análise de dados
históricos das empresas no que diz respeito a crescimento,
investimento, financiamento, processos produtivos, como também pela
observação in loco. Os resultados do estudo demonstram que as
empresas pesquisadas ainda não atentaram efetivamente para a
sustentabilidade empresarial, exercendo, ainda de maneira incipiente,
práticas direcionadas a essa temática. Recomenda-se que o APL
Calçadista de Campina Grande busque formas de implementar a
sustentabilidade empresarial, através de práticas efetivas que integrem
aspectos sociais, ambientais e econômicos para que promovam o seu
desenvolvimento sustentável e conquistem uma maior parcela no
mercado em que estão inseridas.
Palavras-chaves: arranjo produtivo local; sustentabilidade social;
sustentabilidade econômica; sustentabilidade ambiental; triple bottom
line; tripé da sustentabilidade.
XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção
Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.
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1. Introdução
Uma das principais tendências que vem se intensificando na economia moderna sob o marco
da globalização e do processo de reestruturação industrial, são as formas de relações intra e
inter empresas, particularmente aquelas envolvendo micro, pequenas e médias organizações
próximas geograficamente e pertencentes a uma mesma cadeia produtiva.
A literatura que examina a importância do relacionamento intra e inter empresas, quer seja na
forma de redes, clusters, arranjos produtivos locais (APLs), entre outras denominações, é
vasta. Diversas pesquisas se concentram no mapeamento dessas aglomerações, não só para
compreender a sua formação, seu funcionamento ou os atores que dão suporte ao seu
desenvolvimento, mas também para apurar a importância das interações e verificar o tempo
necessário para que se tornem eficientes.
Segundo a Rede de Sistemas Produtivos e Inovativos do Instituto de Economia da
Universidade Federal do Rio de Janeiro – RedeSist (2010), APLs são aglomerações
territoriais de agentes econômicos, políticos e sociais com foco em um conjunto específico de
atividades econômicas que apresentam vínculos e interdependências. Esta definição inclui
vários segmentos que vão desde as empresas produtoras de bens a empresas prestadoras de
serviços. Abrange, também, instituições públicas e privadas que podem dar suporte aos APLs
como aquelas voltadas para a formação e capacitação de recursos humanos (escolas técnicas e
universidades); pesquisa, desenvolvimento e engenharia; política, promoção e financiamento.
A literatura relacionada a APLs dá ênfase a aglomerações de empresas, interação e
interdependência entre elas. Os APLs devem estar inseridos em um ambiente favorável ao
surgimento de novas empresas, com ações voltadas para a cooperação e para o
desenvolvimento de estratégias competitivas. Além disso, requerem, para o seu bom
funcionamento, estoque de conhecimentos, habilidades e capacidade de instituir políticas
democráticas de confiança para promover a articulação de várias formas de relacionamento e
ações em comum.
Optou-se pelo segmento industrial calçadista, especialmente devido ao comportamento
vivenciado pelo setor, no período marcado por significativas mudanças decorrentes da
competição globalizada, pleno desenvolvimento tecnológico e incorporação, pelas empresas,
de novos paradigmas gerenciais.
No Estado da Paraíba, as indústrias de calçados surgiram nos anos 60, e se consolidaram nos
anos 90, apresentando crescimento tanto em números de empresas, quanto na absorção de
mão-de-obra. Além disso, destaca-se a abrangência de mercado e as mudanças no padrão dos
produtos, desde os calçados simples, para o consumo local, no inicio da atuação das empresas,
à exportação dos mesmos para o mercado nacional e internacional.
Este artigo tem como foco o APL do segmento calçadista pelos seguintes motivos: o primeiro
está relacionado à predominância desses arranjos no segmento industrial de calçados na
região de Campina Grande-PB. O segundo motivo, de caráter mais geral, é a importância
socioeconômica que tem sido atribuída ao APL do segmento de calçados nessa região.
Informações do SEBRAE (2008) indicam que o mesmo possui um potencial ímpar na
economia local, englobando a possibilidade de gerar empregos e condições de expansão e,
consequentemente de desenvolvimento de áreas ignoradas pelas políticas governamentais,
entre outros.
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Contudo, faz-se necessário estudos voltados para análise da existência de práticas sociais e
ambientais, além da econômica. Observa-se que a indústria calçadista local é constituída, em
sua maioria, por empresas de pequeno porte, o que desperta uma preocupação em relação aos
impactos que causam ao meio ambiente, na medida em que apresentam produção considerável
e, paralelamente, ainda não possuem sistemas de gestão ambiental.
Diante do exposto, as empresas precisam se reestruturar para se adequarem as pressões sociais
e restrições impostas, forçando-as a buscar formas de reduzir seu impacto ambiental e a
melhorar sua imagem frente a sua responsabilidade social. (CORAL, 2002).
Para Buarque (1999), o alcance da sustentabilidade requer um processo de mudança social e
elevação das oportunidades da sociedade, compatibilizando, no tempo e no espaço, o
crescimento e a eficiência econômica, a conservação ambiental, a qualidade de vida e a
equidade social, partindo de um claro compromisso com o futuro e a solidariedade entre
gerações.
Neste contexto, este artigo aborda está questão ao identificar práticas de sustentabilidade
empresarial no APL Calçadista de Campina Grande – PB. Para tanto, utilizou-se como base o
modelo Triple Bottom Line (Tripé da Sustentabilidade) proposto por John Elkington, o qual
compreende três dimensões da sustentabilidade: people, planet e profit (social, ambiental e
econômica), para tal esse foi estudo descritivo conduzida sob a forma de estudo de caso,
através de pesquisa bibliográfica e pesquisa de campo, observando as dimensôes assinadas
por Elkintgton (2012).
Houve uma amostra representada por 16 empresas localizadas nos bairros de Bodocongó (4
empresas) , José Pinheiro (8 empresas) e Santo Antônio (4 empresas) e a coleta dos dados foi
realizada através de um questionário elebaorado com as variáveis que compõem o modelo de
sustentabilidade, o qual compreende: sustentabilidade econômica, ambiental e social..
A complementação das informações foi feita mediante a análise de dados históricos das
empresas no que diz respeito a crescimento, investimento, financiamento, processos
produtivos, como também pela observação in loco. Utilizou-se, também, uma abordagem
quantitativa (análise estatística descritiva, tabelas e gráficos) de modo a dar suporte aos
aspectos mensuráveis das empresas pesquisadas, e de uma abordagem qualitativa com base na
bibliografia utilizada.
2 Arranjos produtivos locais - APLs
Segundo Cassiolato e Szapiro (2002) um sistema produtivo local é definido como uma
aglomeração de agentes econômicos, políticos e sociais, que estão inseridos numa mesma
localidade territorial e, além disso, articulam-se e interagem de forma cooperativa, ou seja, um
sistema de inovação representa um conjunto de instituições diferentes que isoladamente ou
em grupo, desenvolvem e difundem tecnologias e a partir dos quais os governos formam e
implementam políticas com o objetivo de influenciar os processos inovativos.
Já por arranjo produtivo local (APL) caracterizam-se os aglomerados produtivos cujas
relações entre os agentes locais não são tão eficientes ou desenvolvidas a ponto de
caracterizarem um sistema, embora haja fortes vínculos devido à localização e instituições
(NELSON; WINTER, 2002).
Em sua dimensão extensiva, o conceito de APL compreende: um conjunto de produtores de
bens/serviços finais, fornecedores de matérias-primas, insumos e equipamentos; distribuidoras
e comercializadoras; trabalhadores e consumidores; organizações de capacitação de recursos
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humanos, informação, engenharia, P&D; apoio/promoção/financiamento; cooperativas,
associações/sindicatos e demais órgãos de representação patronal, sindical ou outras,
governos e movimentos sociais (CAVALCANTI FILHO et al, 2009).
A tipologia apresentada por Cassiolato e Szapiro (2002), dá ênfase à territorialização,
explicando que a mesma está ligada a interdependências específicas da vida econômica muito
além da simples localização. Segundo os autores, a territorialização envolve relações de
dependência em relação a recursos localmente específicos, que podem incluir desde recursos
característicos de determinada região, disponibilidade de trabalho especializado até as
relações empresas-mercado. Uma atividade pode ser considerada de alta territorialidade
quando sua viabilidade econômica está intimamente ligada a recursos que não estão
disponíveis em outros lugares. Há também casos em que o grau de territorialização está
fortemente ligado ao destino de sua produção.
O reconhecimento da importância das vantagens de aglomeração, fundada numa
especialização produtiva, é antigo em economia e já está presente nos escritos de Alfred
Marshall no início do século XX (distritos marshallianos). Tais vantagens derivam da
ocorrência de economias externas às empresas e implicam em redução de custos e eficiência
coletiva a partir do compartilhamento da infraestrutura, canais de distribuição, escoamento da
produção (comercialização), facilidade de acesso a insumos, presença de fornecedores de bens
e serviços, bem como do aprendizado coletivo (PROJETO DE PESQUISA BNDES /
FUNPEC, 2010).
3 Sustentabilidade empresarial
É preciso expor que há uma discussão sobre o conceito de desenvolvimento sustentável e
sustentabilidade, apresentam-se a seguir as duas visões. A primeira refere-se ao fato de que o
desenvolvimento sustentável é comumente associado à expectativa de um país que entra numa
fase de crescimento que se mantém ao longo do tempo. A segunda trata a sustentabilidade
como a capacidade de autossustentar-se, de automanter-se. Uma atividade sustentável
qualquer é aquela que pode ser mantida por um longo período, para não se esgotar nunca,
apesar dos imprevistos que podem vir a ocorrer. (ARAÚJO; MENDONÇA, 2009)
O rápido crescimento demográfico, somado ao consumo sem moderação dos recursos naturais
do planeta, a degradação do meio ambiente e a persistência da pobreza, da injustiça e da
violência em grande parte da humanidade, exige da sociedade ações corretivas ao modelo de
crescimento econômico. Diante dessa constatação, surge a ideia do desenvolvimento
sustentável, buscando conciliar o desenvolvimento econômico à preservação ambiental e,
ainda, ao fim da pobreza no mundo. (KRAEMER, 2003)
De acordo com Almeida (2002), uma empresa para ser sustentável deve buscar em todas as
suas ações e decisões a ecoeficiência, procurando produzir mais e com melhor qualidade
gerando menos poluição e utilizando menos recursos naturais. A empresa que é partidária dos
princípios da sustentabilidade deve ainda ser socialmente responsável, assumindo que está
imersa num ambiente social em que influi ao mesmo tempo em que sofre influência. A
motivação dos líderes empresariais deve ser respaldada numa visão de longo prazo, em que se
leve em consideração os custos futuros e não somente os custos presentes.
A incorporação da sustentabilidade no universo empresarial está condicionada a vários
aspectos como as crenças do próprio dirigente da empresa, a mobilização da sociedade, a
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influência do mercado nacional e internacional, a atuação do setor público, a pressão de
organismos internacionais, entre inúmeros outros fatores de ordem conjuntural.
A contribuição para o desenvolvimento sustentável por parte das empresas, conforme afirma
Coral (2002) acontece quando há modificações nos sistemas produtivos adotados pelas
empresas, tornando-os mais eficientes e com impactos não negativos no meio ambiente. Além
disso, as empresas devem assumir o papel de recuperar as áreas degradadas e oferecer
produtos e serviços que promovam a melhoria do desempenho ambiental dos consumidores.
Na verdade, o grande diferencial do conceito de sustentabilidade no meio empresarial é
associar a questão da ecoeficiência com a noção de responsabilidade social corporativa. A
empresa considerada sustentável é aquela que procura considerar em suas ações as dimensões
econômica, social e ambiental. Em outras palavras, a empresa continua visando o lucro, seu
objetivo primordial, só que passa a considerar o impacto de suas atividades no meio ambiente
procurando amenizá-las de maneira eficiente, desempenhando ao mesmo tempo ações de
cunho social, seja em benefício de seus funcionários ou da comunidade. (BARROS et al.,
2010)
Em conformidade com esse pensamento Kraemer (2005) afirma que o desenvolvimento
econômico e o meio ambiente estão intimamente ligados. Só é inteligente o uso de recursos
naturais para o desenvolvimento caso haja moderação e responsabilidade no uso dos referidos
recursos. Do contrário, a degradação e o caos serão inevitáveis.
De acordo com a figura 1, a ordem é a busca do desenvolvimento sustentável, que em três
critérios fundamentais devem ser obedecidos simultaneamente: equidade social, prudência
ecológica e eficiência econômica (KRAEMER, 2005).
Figura 1 – Desenvolvimento sustentável – tripé da sustentabilidade empresarial
Fonte: Kraemer, p. 9, 2005
Dessa forma, o tripé da sustentabilidade ou Triple Bottom Line torna-se uma ferramenta
fundamental para que as empresas desenvolvam ações que permeiem essas três dimensões:
econômica, social e ambiental. Para melhor entendimento apresenta-se, a seguir, uma breve
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explanação concernente às dimensões abordadas no referido modelo de sustentabilidade
empresarial.
3.1 Sustentabilidade financeira
A sustentabilidade econômica entra no âmbito socioeconômico com o intuito de tornar não
somente o futuro mais próspero, mas também alterar alguns fatores da realidade em que se
vive. A definição de sustentabilidade econômica leva fundamentos básicos como medidas que
visam um desenvolvimento estável, evitando os picos econômicos, e que leve em
consideração uma baixíssima, senão nula taxa de inflação por ano.
Além disso, também contam como fatores essenciais: a boa gestão de recursos naturais,
principalmente no tocante a geração de energia, usando, para tanto, fontes renováveis em
substituição as que não são renováveis. A sustentabilidade econômica visa tanto o presente,
acentuando até mesmo mudanças não bruscas em todos os setores econômico-industriais, sem
que com isso ocorra uma brusca mudança estrutural. Visando também as gerações futuras, e
nesse ponto interliga-se a medidas de outras abrangências, como por exemplo, a
sustentabilidade ambiental.
Segundo Kraemer (2005) as variáveis de avaliação deveriam ser: resultado econômico,
direitos dos acionistas, competitividade e relação entre clientes e fornecedores
3.2. Sustentabilidade ambiental
A sustentabilidade ambiental começa a ser debatida com maior frequência por cientistas e
pessoas ligadas à preservação do meio ambiente e que percebem que o atual ritmo de
degradação e consumo dos recursos ambientais acabará tornando inviável a permanência do
homem sobre a face do planeta.
Está vinculado a ela o termo ecoeficiência, o qual é conceituado como uma nova filosofia de
gestão empresarial que incorpora a gestão ambiental, associando-a aos objetivos econômicos,
cujo principal objetivo é fazer a economia crescer qualitativamente, e não quantitativamente,
o que compreende ações do tipo: redução do gasto de materiais com bens e serviços; redução
do gasto de energia com bens e serviços; redução da emissão de substâncias tóxicas;
intensificação da reciclagem de materiais; maximização do uso sustentável de recursos
renováveis; prolongamento da durabilidade dos produtos; e agregação de valor aos bens e
serviços (ALMEIDA, 2005 apud BARROS et al., 2010).
Segundo Kraemer (2005) as variáveis de avaliação deveriam ser: Proteção ambiental, recursos
renováveis, ecoeficiência, gestão de resíduos e a gestão dos riscos, assim a sustentabilidade
ambiental deveria ser garantida a partir da soma de ações individuais e globais, tanto de
pessoas engajadas em movimentos conservacionistas quanto na implementação de políticas
internacionais para a criação da consciência ambiental em empresas e nas nações da terra.
3.3- Sustentabilidade social
A sustentabilidade social é um dos mais importantes setores para a mudança nos panoramas
da sociedade. O modo de vida pós-capitalista levou não apenas o homem, mas também o
próprio espaço urbano a degradações. A desigualdade social, o uso excessivo dos recursos
naturais por uma parte da população enquanto a outra cresce desmedidamente são fatores que
são extremamente combatidos no âmbito da sustentabilidade social.
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Nos últimos tempos, o envolvimento do setor privado com os problemas sociais vem
deixando de ser uma opção de filantropia e passa a se caracterizar como um mecanismo de
atuação estratégica. (BARROS et al., 2010)
Os autores Mello Neto e Froes (1999) apud Barros et al. (2010), defendem a importância da
atuação social das empresas com caráter estratégico, que quando assumida de forma
consistente e inteligente pela empresa, pode contribuir de forma decisiva para a
sustentabilidade, bem como para o desempenho empresarial, uma vez que passa a imagem de
uma organização de consciência social comprometida com a busca de soluções para graves
problemas sociais que assolam a comunidade.
Segundo Kraemer (2005) as variáveis de avaliação deveriam ser: direitos humanos e dos
trabalhadores, envolvimento com a comunidade, transparência e postura ética. Na verdade, a
sustentabilidade social visa o bem-estar da sociedade de hoje e a de amanhã em iguais
medidas. Para que ela de fato se concretize é necessária grande campanha de divulgação,
instalada tanto pelas macroestruturas (setores políticos e básicos) quanto por empresas que
visem os projetos e a aplicação da mesma.
4 Caracterização do arranjo produtivo local pesquisado
O arranjo coureiro-calçadista de Campina Grande é composto fundamentalmente por
produtores locais de micro, pequeno a médio porte de calçados e artefatos de couro ou de
material sintético, sendo grande parte das empresas é de estrutura familiar (LEMOS;
PALHANO, 2000).
O arranjo coureiro-calçadista de Campina Grande até meados da década de 1990 apresentava
um quadro de desenvolvimento econômico promissor, com reflexos no município e na região.
Sua importância pode ser reconhecida a partir de alguns fatores: (LEMOS; PALHANO,
2000).
a) A articulação de vários organismos públicos e privados para estimular seu
desenvolvimento através de estudos e diagnósticos e da elaboração e implantação de
alguns programas ou projetos voltados para o setor;
b) A criação desde a década de 1970 de capacitação científica e tecnológica na
universidade federal para a formação de graduados e especialistas;
c) A posterior criação de um centro tecnológico específico para couro e calçados, único
da região Nordeste;
d) O pioneirismo na atração, através de incentivos, de grandes empresas de outras regiões
do país, incluindo fornecedoras de insumos para a indústria calçadista.
Atualmente, o arranjo produtivo de calçados de Campina Grande é composto
fundamentalmente por produtores de micro e pequeno porte de calçados e artefatos de couro
ou de material sintético, sendo cerca de 40 empresas formalmente constituídas e um
contingente de produtores informais em torno de 187 unidades. Tais empresas se caracterizam
como sendo de estrutura familiar, característica encontrada, também, na maioria dos outros
polos calçadistas espalhados pelo Brasil. (BARROS et al., 2010)
4.1 Análise através do modelo tripé da sustentabilidade (econômica, social e ambiental)
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Como mencionado anteriormente, a pesquisa embasou-se no modelo Triple Bottom Line
(Tripé da Sustentabilidade) proposto por Elkington (2012), o qual compreende três dimensões
da sustentabilidade: people, planet e profit (social, ambiental e econômica), cujo resultado
podem ser identificados relacionados a essas dimensões resumido nos anexo 1.
Atualmente, o único crescimento viável é o que consegue ser, ao mesmo tempo, socialmente
justo, ambientalmente sustentado e economicamente rentável. É consenso que a
sustentabilidade entrou na ordem do dia de empresas, organizações e governos em todo o
mundo. Se inicialmente ainda era associado exclusivamente a uma preocupação com o meio
ambiente, o conceito de sustentabilidade evoluiu, incorporando também os aspectos
econômicos e sociais.
Na dimensão ambiental, observou-se um alto grau de desperdício de matéria-prima, inerentes
ao processo de corte (88%), onde há perda de couro (75%) e laminados sintéticos (63%),
valores bastante elevados concernentes à ausência de controle de perdas de materiais em
processo (69%) e erros humanos, sejam por falta de experiência (44%) ou por falta de
treinamento (31%).
Outro ponto abordado diz respeito ao destino dado aos materiais rejeitados durante o processo
de produção, para os laminados sintéticos, identificou-se que 50% foram vendidos, 38%
descartados para o lixo e apenas 12% reciclados. Para o couro os dados foram mais
preocupantes, pois identificou-se que 56% foram descartados para o lixo e apenas 6%
reciclados, demonstrando a ausência de programas ambientais (75%) tanto para o controle
desses resíduos quanto para a emissão de poluentes (75%). Em contrapartida, pôde-se
verificar, de maneira positiva, à utilização sustentável de alguns recursos como: materiais
reciclados (69%) e materiais biodegradáveis (19%).
Adentrando na dimensão social, verificou-se a participação das empresas em programas de
responsabilidade socioambiental, onde identificou-se que 81% não participavam desse tipo de
iniciativa. Quanto ao cumprimento das legislações trabalhistas como salários, férias, FGTS, a
maioria (75%) afirmou que cumpre corretamente. Perguntou-se também a utilização de
programas anti-bulling, contra assédio moral e sexual reportando uma resposta negativa de
todas. Quanto à contratação de pessoas com necessidades especiais, 88% das empresas
pesquisadas não possuem esses tipos de profissionais em seu quadro de pessoal.
Na dimensão econômica observou-se uma má gestão de recursos, causando altos níveis de
desperdício de materiais e de energia, pois não há a utilização de fontes renováveis em
substituição as que não são renováveis. Consequentemente há uma elevação do custo de
produção devido ao desperdício e retrabalho causados pela falta de controle de qualidade nas
etapas do processo produtivo, apesar das empresas afirmarem que fazem o controle no fim do
processo (94%), isto atinge diretamente o desempenho e a produtividade das mesmas,
afetando a sua competitividade no mercado local e regional. No que tange a divulgação dos
resultados para os funcionários, 94% das empresas não fornecem esse tipo de informação.
Por fim, fazem-se necessárias medidas estatais ou políticas que sejam favoráveis a
implantação da economia sustentável. A sustentabilidade econômica entra no âmbito
socioeconômico com o intuito de tornar não somente o futuro mais próspero, mas também
alterar alguns fatores da realidade em que se vive.
5. Considerações finais
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Atualmente, a sustentabilidade empresarial é um desafio para as organizações, sobretudo as
de pequeno porte, uma vez que esta dependerá de suas competências e atribuições para ser
sustentavelmente competitiva, da sua relação com o meio ambiente, bem como de ações de
responsabilidade social.
Observando as dimensões propostas pelo modelo Triple Bottom Line (Tripé da
Sustentabilidade), quanto à sustentabilidade ambiental, não foram constatadas medidas
efetivas direcionadas à preservação ambiental, tais como programas de gestão ambiental,
capazes principalmente de absorver a grande quantidade de resíduos que a indústria de
calçados gera e são destinados ao lixo.
Quanto à sustentabilidade econômica, o APL calçadista de Campina Grande se destaca no
mercado local e regional, todavia parte das empresas opera ainda na informalidade, tendo
como consequência condições de trabalho inadequadas e baixos salários. Faz-se necessário,
medidas estatais ou políticas que sejam favoráveis a implantação da economia sustentável.
Referente à dimensão social, percebeu-se que o APL reconhece a importância da adoção de
práticas que promovam o bem-estar de seus funcionários e da comunidade em geral, embora
todas cumpram as exigências trabalhistas, um dos itens que é contemplado como ação
sustentável, o fazem por obrigação, para evitarem complicações trabalhistas, demonstrando
incipiência nas práticas sociais.
Portanto, as empresas pesquisadas ainda não atentaram efetivamente para esta realidade e
exercem de maneira incipiente práticas direcionadas a sustentabilidade empresarial,
recomenda-se que o APL Calçadista de Campina Grande busque formas de implementar a
sustentabilidade empresarial, através de práticas efetivas que integrem aspectos sociais,
ambientais e econômicos para que promovam o seu desenvolvimento sustentável e
conquistem uma maior parcela no mercado em que estão inseridas.
ANEXO 01
Quadro 01: Aplicação do tripé da sustentabilidade empresarial
Fonte: autoria própria
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