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  • GEOLOGIA DA REGIAO DO JARAGUA, S. P.

    POl'

    UMBERTO G. CORDANI, ANTONIO C. R. CAMP OS E ANDRE DAVINO

    Departamento de Geologia e Paleontologia, Universidade de Sa o Paulo

    e

    ALFREDO J. S. BJORNBERG

    F. F. C. L. de Rio Claro e E. E. de Sao Carlos - U.S.P.

    AB STRACT

    Meta-sediments and geological relations of th e pre-Cambrian Sao Roque ser ieswere described from the Jaraguii area, Sao Paulo County.

    Throe lithologi e units could be followed in th e west ern part of th e area : quart-zit e, sericite-schist and conglomeratic meta-- arkose. Th e sediments are thought tobe ancient geosyn clinal sediments affected by a dia strophic phase gen crally accepte das up per pr o-Cnmbrh m.

    . Ortho-nmphibu lit es were mapped, li S well ns the western end of a large bu -tholith of porphy roid gra nite ( P irit uha granite).

    Th e meta-scdimeut s were affecte d hy dyunmo-thermul uretnmorphism of regio-nal sen l«. Sericite is tho mo t common mct am orph ic minerul, Nen r the g ranitehOII)' , evidence of thern ml :II III pncumot oly thic meta morphism were recogulzed,

    I n t he quartxites a nd serici te-schists , there seems to he a 'y uclinul '[ ruet u l'(: withst eeply dipp ing limbs a nd an E-W axi s. In the mctu -nrk oses, all an ti clinal st ructu re,wit h gentler di ps a nd a N4;JW a xis, is iudicnted .

    Severn! f au lt s, oriented maiu ly ::'\25.8 lind !\'4:jW , W CI'(! traced h ) ' photo-inter-pret a ti on nnd ill th o field.

    The J aragua quartzites were sheared, and mylonitc bands resulted, forming ahard " skelet on" . Th is resulted in differential erosion and t he ca rving out of .Ja-ragua peak.

    INTRODUQAO

    A regrao do J aragua encontra-se na faixa pre-cambriana paulistae foi muitas vezes cit ada nos trabalhos de geclogos, geografos e geo-morf'ologos.

    As primeiras referencias as rochas da regiao do J aragua estaocontidas nos comentarios de Jose Bonifacio de Andrada e Silva e Mar-tim Francisco Ribeiro de Andrada, sabre suas excurs6es min eralogicasem Sao Paulo, em 1820. Entretanto, em 1805, este ultimo ja descreverarochas pertencentes a Serie Sao Roque, durante sua viagem pela re-giao sul do Estado de Sao Paulo. A denorninacao da Serie e devidaa Gonzaga de Campos, em 1887, que the atribuiu idade siluriana, mo-dificacla posteriormente por O. Leonardos (1934 ), correlacionando-a,

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    as sim como a Serie Acungui do Parana, com a Serie Minas, com baseno grau de metamorfismo apr esentado.

    Ref'ereu cias mai s modernas sabr e a geologia e geo morfologia localaparecem n os t raba lhos de Moral's Reg'o (1932 e 1933) , e Aziz Ab'Sa-bel' (1947) .

    E ntretanto, com exceeao dos estudos de Ooutinho e Takeda(1955 ), poucos dados f oram efetiv amen te trazidos a luz r elati vam entea essa regiao,

    presente traba lho teve como finalidade pr incipa l estuds r e ma-piar detalhadameu te a r giao, (I U devido a fa ·ilidade de acesso e suain te ressante geo log-in poder a se rv ir para exe urs fies demonstrntivas ecsi ngios de t reiua meuto em g ologia de campo, para os alunos do Oursode Geolog ia, a, si m como const itu ir pouto de partida para e itu dos emr egiao pre-cambriana maior.

    A area mapiada eslfi local izada ent re as la titudes nproximadas de23° 27' e 23° 30' e en tre us longi tu des npro ximadas de 40° 45' C 46°42' a 22 km a NW ell' Sao P a ulo, en t re a Via Anhanauera e a Est radade P erro ',,-.Jnnd ia i, na a ltura du es laljao de ,Ja ragull. •'il na-sc110 enco n tro ClOS i-amos da xerru da Ma ntiqueiru, segui udo 0 eixo es-trutural da Canta re ira pam ' V ; mostra roeh ns de metamorfismo re-g-iona l cp izon a l: quui -tzitos, xistos e an f' iboli tos atravessados por gru-ni tos posteriores.

    A forma do t errene segue os padr5es dos escudos cr istalinos an-tigos, te ndo siclo tambem influen ciada pelos adernamentos e falha-mentos modernos.

    o relevo, em fase de ac entuada IIIa turi dad e, apresenta-se bastautedi sse cad o : enco nt r a-se ent re taut o rejuveu escido por movi mentos epi-r ogenicos sucessivos , evidcnciados p OI' di versas sn perfic ie: gliptoge ne-ti cas . Os afloramen tos r elativam li t 8 .asso , a uilo ser nas prineipaisescarpas dos monos e a vegetacao bem deseuvolvida dificultaram a ta-r efa de campo . F'oram per corridas todas as estrada s princip ai s e se-cundarias, assim como to das as ravinas e val es da r egiao mapia da .

    P ara a cole ta d e dados nos trabalhos de campo foram ern pregadasfotografias aereas d a r egiao na escala aproximada de 1 :12.000, sendoos dados t ransf'er idos para 0 mapa topograf'ico d e base, em esca la1 :10.000.

    Os autor es deixam aqui ex pre ssos os seus melhores ag-1'adccim entos110 P I'Of'. Dr . Viktor L sinz, cuj as criti cas , orientaefio coope rueilo 8e1'-virum de gramlc in centive para 0 t rabalho . Agradeci meut os espec ia isao dev idos tambem ao Prof . Dr..Moacyr Cout in ho pela eolabora caoprestada na parte petrografica e ao Prof. Dr. Mauro Ri cci pelos valiososconse lhos e ajudas nas tecni cas de Io to-iute r pr etacao. P Ol' fim, devet ambern ser men cionado 0 auxilio prest ado nos trab alhos de campopor a lg uns alunos do 3.° ano de 1961 do Our so de Geologia da Fa-culdade de Filosofia, Ciencias e Letras da Universidade de Sao Paulo,que estiveram estagiando em parte da area estudada.

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    GE OLOGI A LO CAL

    Embanl seja evideu tc 0 f'nto d e que no su l do Estado d e SaoPaulo, ro char cons ide radas antigam entc perten centes it • erie. ao Roqueteuham continu idade Eisiea com us da Seiie Aeuugu], e este termo te-nha prioridade pOI' SCI' 0 iuais uutigo, cou tiuuaremos a LIsaI' 0 te r mode erie, ao Hoque para O ' meta-sediment os ex i: tentes ua re g-iaa pro-xima a cid ade de ,"ao Pau lo, ate qu e seju def'initivamente ese larecidn asua po:i

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    " ida ii r ecristnlizaeilo dos minerals met amorficos Iauiiuarer 1I0S pianosde ac ama me uto. As eitadas interealacoes podem eom preeude r : - . c-ri cita-xistos : - Rochas xistosas, d e oustituieiio minerulogica .or res-p oudeute il da uuidade Iitologi ea d l' mesmo nome, desevita a seguir.

    _ Meta-arcozios : - Ro ,has cla ras eompae t as, apresentando .er-ta orientaeao visivel , e d e (; olllpos i

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    xistosidade e em alg-un s iasos tambem clivageui d e cizalha ment o (frac-ture cleavage) , am bas dif'erinrlo do acamamcuto original.

    Nii o f'oi observado nenhum eo utato diret o ent re es tes serieita-xis-tos e a unidade litologi ca dc meta-arcczios , alias, par ice qu e e: te' COII-tatos se gue m liuhas de Ialhameutos.

    Meta-arc6zios conglomeraticos - Aparecem na regiiio SW, tra-taudo-se de roehas bastaut het ero gfme ns, euin predomiuio d e meta--ur ,o7.ios e quartzu-xi stos ; existem freqiieutes interealacoes d e meta--cong lomer ados, de eri .i ta-x istos e de se r icita-x isto s 'om bi otita.

    A p arte su pe r ior do paeote e co nst it u ida, ao que p areee, po r me -ta-grauvacas, que aparecem af'lorando em duas faixas mais ou m enosr egulares, a travessando a part e . ' \V du regiao, de N\V para • E. Pos-sue m COlOI'Clc;aO ciuza cla ra c ca n l .tci-izum-se pela pre: enc a de g'l'uoselasticos de quartzo e f'eldspatos, CIll matriz complct ame ntc r eerista-Iizada d s rieitn. 0 : g'ra os de quartzo siio em geml p equen os ( -~ I' 'ade 100 p., em media ) , cnquanto que os d e f'eldspatos sao Ir eqiientc mentmaiores, a lgun s atiugindo ate 500 p.. Os fnldspatos ehis l.i 'os presen -t es ,ao (l IIaSO que exe lusivamen te plagioehisios, t endo . id o obse r vado stauibem al guns g'l'ao s tic microel iui o. Aparece tambem bi otita ern CC I'-ta quantidad e, even tualmente epidot o, e como ac essorios magnetita( que e consta n te para todas as ro chas da r cgiao ) , zir ca o, apatit a eturmal iua den-i tica. P ossu em estr at if icaqao visi vel e, como n o,' qu art-zitos, a reerista lisacao da sericita se deu produzindc xistosidadc deacamamento.

    Os meta-ar cozios propriamen te di to s apresentam quart zo e f elds-patos em gr aos clasticos, de tamanhos variavei s entre 50 e mais deGOO p.. Em ge ru l os graos d e f eldspato sao muio res, pred om inaudomi crocl inio e or toelasio sa bre os pl agi ochi ios. A matriz ~ cous t it ui-da priueipalmeute por sericita, p odendo ocor rc r ainda biotita e ocnsio-nahuente tm-m ulina. Os acessor ios sao os mesm os ell .out rudo liasoutras ro ehas da rc sriiio. 0 11 se j a, magnetita, zil'cao ' a pat it a. P os-suern eo lo racdes variudus d evidas no intemperism o, seudo (IU C niio l'oieuc ou t r ado ncuhum af'lorauieu t o de r ocha fr(', ca na regiao , qnaut oao gran de xi . tosi d nrle, truubem a va r iedads e nru ito g ruude, havcurlotipos mais macieos ou mais xistosos, eouf'or me a quautidnd e IIICIIOI' oumaim' de scricita. A~; iu tercu Icll;OPS d e mcta-corur lome rad o sao mu itof'reqiieu t es, e de ('SpeSSI1 )"(V vuriav eis , a prescntaui seixos de tamanh osdiversos (C111 g ral ce nt ime t i-i .os ) I' de na tureza vai-iada , d is tribu ido sem uma mati-is se r ic Hica mai: (111 Illen os CIua I'tzosa . EIII "P I'a1. essa:illt.el'cal a t;oes . ao IlIni t o decolll !Jnst.a. , s (,11(lo d('(p l'lu illcl ve!s ap

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    mente ditos e com os meta-conglomerados, nos quais a orientacao pre-dominants visivel e dada pela estratif'icacao.

    Foram notadas ainda intercalacoes de "epidotito", de xistosidadea .en tnada e constituidas pOI' agregados granoblastieos de quartzo eepidote, .ontendo tarnbem biotita, sericita e porfiroblastos de f'elds-pato (albita ) 'om gemina

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    Trata-se do " Gran ito Pi r ituba" , ou " Olho de Sapo", assim chama-do pOI' apresentar tex t ura sensivelzneut e porfiroide, devido a ex istene iade g'raIHles cr ista is de mieroelinio, espars os em um a massa fundam en -ta l l'an eritiea. Estes f uocristais podem at ingir ate mais de 3 em emseu muior diiuuctro enqua nto qu e mesm o os minerais da ma ssa fun-dam ent a l sao fa cilmc nte d istiugu iveis a olho nu, pois apresentam di-menso es milim etrlcas ; siio eles qu artzo, f eld spato (p rincipalme nte pla-gioclasio ) e bioti ta o ' Olll O aeessorios exist em titanita, apati ta e mag-net ita .

    Diversos autores ja estudaram est e " Granito Pirituba", tendo Cou-tinho (1955 ) dem onstrado que sua des ignaeao correta seria a de ada-melito, devido a propor ca o mais ou monos equivalen te entre os felds-patos potassicos e os plagio clasios.

    Arocha c bns tante homogen ea , njio tendo sido verificadn neuhu-rna gr ande d ifcrenca ent r e os di verso s al'loramcutos. As poueus va-riacocs notadas em alguns pontes proximos aos ioutatos S8 dev em itquantidade e 1

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    Genese dos sedimentos

    P ela ex te nsao da area ocupada p ela Seri e Sao Roque, e a asso-eiacao das rochas exi stentes, parece n ao haver dvida de que se tratade ant ig o geo ssinc linal, que sofreu diatrof'ismo cons ider ado ger almentealgouquiauo.

    Os cong lo mera dos qu e aqui sao iu cluidos em nossa unidade litolo-gica inferi or. , ao eonside r ados lor Cou ti uho (1955 ), C0 ll1 0 se udo ba-sa is da :'{~l'i e • an Roque. E en tao pOI' Cl e inf'erida ))('10 m nos uma.;rie ..edi rueu ta r pre-eon gloui eratica , evide ne iadu pelos seix os de quart-zi to e provaveis para-gnaisses inclusos uaquela roeha.

    N essa unidade Iito logicu iufericr, eons tituida de meta-areozi osCOlli le it os co uglome riiticos, Ioi f'ormada prova velmente em uma bu-.ia em sub .ide uc ia I'upida, dando-s uma aeeleraefio 110 processo deero siio do .outi neute, que pl' OVOCOU a dep o. i

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    tura que afeton poster ic rmente estas r oehas, Ioruiadas em ambi ented e cpizoua. Outra po: sibilidade para a xpli ca eilo d o fa to, seriu ade nfio ex ist ire m coud icoes para a Iormaciio d e .lorit a (pOI' exemplo.fa lta de magu esio ua composicao origina l ) I apureceudo bioti ta me 111 0em anib ieute de ep izona,

    Na: roeha s arenosa s-q uartaiti ca s e qnartzo-Ield pati 'as, u jio sed eram t ransfor maeoes radicai s devid o ao metamorfismo reg ional j nes-sas ro ch as bast an te estave is competentes, a n

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    cluzinclo uma associacao mineralogica de pressao e temperatura supe-r'iores , foi transformada em anf'ibolito por metam orfismo regional, een contrar-se-ia em r etrometamorfismo, para adaptar-se as condieoesposteriores.

    Metamorfismo local - Evideneias de metamorfismo termal e decon tato ja foram mostradas por Coutinho (1955), nas proximidades dograuito Pirituba, particularrnente lias matr izes dos meta-conglomera-dos pOI' ele estudados enos anfibolitos, Por em, eonsider a ete ba stan ter estrita a zona de influen cia do granit o, a ti-ibnindo ao metamorfismor egional tanto a formacao dos pseudo -cornubiauitos , como a biot it iza-gao dos xistos. No entailto , e prova vel que este ultimo f'enomeuo t e-nha sido ajudado tambem pela a~ao met ass ornatica cla intrusao, poisseria de se esp erar alguma clorita associada aos outros miuerais tl-pi cos da facies r egional de xi stos-verdes, e como 0 unico mineral f e-mico micaceo existe nte e a biotita, 0 qu e poderia tel' acontecido e atr-ansformacao p ela acao intrusiva de toda a clorita poi-ventura exis-t ente, segundo a r eacao ser icit a + clor it a = biotita.

    Quanto aos pseudo-cornubiauitos, parece que adquiriram caraterde met amorfismo mais acen tuaclo do que os xi stos enca ixautes norrnais,devido it composieao quimica inicial das iutercalaeoes, mais su scetiveisa agao termal e metassomatica do granite. Isto e sugerido pelo fatodestas intercalacoes se t oruarem mais f'reqii entes na r egiao proximaao batolito. Alguns destes corpos, os mais distantes do granito e in-tercalados no quartzito , t eriam se formado apesar da distancia, pelamaior mobilidade das solueoes n estas rochas, mais competentes, commaiores vazios provocados por fraturamento e falhamento .

    Eviden cias de pneumat olise tambem foram en contradas em no ssaarea, notando-se turmalinizacao em todas as unidades litologicas en-contradas, e mesm o nos anfibolitos; e num afloram ento de sericita--xisto muito f ino, situado cerc a de 1,5 Km do contato com 0 granite,foram notados er istais de turrnalina em grande qnantidade, de tama-nho de ap enas alguns mi cr ons , e de crescimeut o po st erior evid eute.

    TECT6NICA

    Os dobramentos qu e afetaram os meta-sedimentos da regiao sederam por compressao, durante um periodo de diastrofismo ainda noPre-Cambriano, antes da intrusao granitiea que deve ser do tipo post--t ectonico ; Ii estrutura resultante, ainda simples, foram superimpostostectoni sm os posteriores de car ate r mais epirogenetico.

    Os meta-sedimentos teriam se f or mado em um antigo geossincli-nal , e, pelo grau de metamorfismo que apresentam, estiveram sitnadosa uma profunc1idade aproximac1a de 5.000 - 6.000 m (Turner e Ver-hoo gen , 1960 ). Assim sendo, nada de mais logieo do que se esperaruma grande perturbaeao por falham entos quando, por movimentos deearater epirogenetico principalmente , foram eles trazidos para a po-sicao atual, a uma al titude de aproximaclamente 1.000 m sabre 0 nivel

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    do mar. De fato, pode ss r cons ta tada na r egijio , a evide ncia de f'alha-mentos de diversas naturezas, com a Iragrnentaciio e des locamento re-lativo de imimeros blocos, complicando eno r memente a est ru tura, aqual pode ser ap enas entr evista, mesm o pOl' mapia eao detulhada.

    Assim, a posiqao da s difereutes unidades litologicas da r egi ao, ediv ersas medidas ef'etuadas de seus element os est r u turais, nos pontospossiveis, parecem indica!' a existe ncia de uma est ru tura sinclinal deeixo aproximadumeute E-W, e iuelinacao moderada para \V, passandoproximo uo pico mai : alto do -Iaragu a, com as camadas nos flancosmergulhando acentuadamente. Na crista deste sin clinal situam-se osanfibolitos.

    Na re giao SW, os meta-areozios mais antigos se reuniriam em umaestrutura anticlinal , de eixo aproximad amente N45,V, com mergulhosmais moderados.

    Quanto aos siste ma s de planos de falha ou de ciza lhamento encon-trados, sa o eles tao numerosos e diferentes que tornou-se bastante di-fi cil a escolha, para finalidades de mapiamento, daqueles qu e de fatof ossem importantes e decisivos para a interpret acao da estrntura . Asfalhas incluidas em nosso mapa, separando difer entes blo cos, foramtracadas em base de f'ot o-int erpretacao, com auxilio de um eont roledetalhado de campo, r eferente principalmente a posieao das unidadeslitologi cas,

    Dev e-se notal' que as fei goes est r uturais t ais como acamamento ouxi sto sid ad e, qu e in cluimos no mapa, representam ap enas medias apro-ximadas ou tendencias gerais das atitudes perto do local assinal ad o :in clusiv e al gumas delas foram colocadas apos exam e da s fotografiasaer eas , poi s as medidas tomadas no campo nao eram nesses casas dig-nas _de coufianea , tratando-se de locais pr 6ximos dos planos de f alhamais importantes.

    Ao tectonismo que podemos chama r de moderno, os aut ore s acr e-di tarn qu e se deva a formacao da anomalia t opograf'ica qu e constituio morro do J aragufi. Isto porque os quartzit os sofreram diversos ci-zalhamentos, resultando dai mil onitos qu e se r ecristalizaram posterior-mente; den-se entao a f ormacao de um arcab oueo, um " esqueleto" for-mado pelas faixas milouiticas r esistent.es it erosao, que penni tiu a pro-te gao de todo 0 conjunto cizalhado . De fato, foram eneontr adas diver -sas f aixas mil ouiticas nos qnartzitos do morr o .orientadas aproximada-mente paralelas it direcao E-\V, e constitu indo um sistema qu e estaprovavelrnente associad o a grande falh a ,V N,V -ESE, proxima ao mor-ro , na parte SuI.

    Quante as falhas assinalad as no mapa geologico e qu e afe tam osmeta-sedimentos, nota-sa que lo calizam-se principalmente ao longo devales, separando blocos qu e sa deslocaram r elativamente e qu e mos-tram, atualmente, atitudes diferentes de camadas,

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  • Connxxr, R. CAll-lPOS, DAVINO E BJORNBERG - GEOL. JARAGUA 85

    Podem se notal' dois sistemas principais: um deles com direcaoaproximada N25E, e outre com direcao aproximada N45\V; estas li-nhas de falha sao bem evidenciadas na regiao que separa os meta-ar-cozios de SVV dos sericita-xistos e quartzitos, no centro do mapa. Naose trata de uma maneira geral de pIanos ou superficies de falha bemdefinidos, mas sim de sistemas de plauos de cizalhamento sub-paralelos,cujas diregoes predomiuantes sao as indicadas.

    Os dois sistemas de cizalhamento r eferidos evidenciam-se melhorapes 0 estudo estatistico dos "lineares" que aparecem sabre as fotosaereas, Sao eles (0. Lueder, 1960) feigoes lineares que possuern umgran anormal de regularidade, e que sao devidas a al guma feigao es-trntural das ro chas. 'I'rata-sa de estruturas planares (acamamen t os,xistosidades, juntas, falhas, etc. ) que aparecem como segmentos der eta sobre as fotos e que apenas em alguns casas sao passiveis de iden-tificacfio. No nosso caso sao os "lineares" observad os atribuiveis aplanes de cizalhamento, ajustando-se com as observacces de campo.

    o diagrama de lineares observados e mostrado (Diag r. n.? 1),ocupando praticameute toda a area dos meta-sedimentos. Para 0 es-tudo estatistico f'oram eles agrupados em setores segundo suas dire-goes, de 10 em 10 graus, e os segmentos somados em mm de compri-mento. ResuJton 0 Diagrama n.? 2, no qual estao bem evidenciados,como maximos, as direcoes citadas N25E e N45W.

    600 500 400 3 0 0 200 100 0 100 200 30 0 400 500 600

    DIAGRAMA N~ 2 - Dire90es preterenciois dos Iineares so-bre fo tos adreas da reg iao prox ima ao pico do Jorogua.

    •Unidade: mm de comprimento - Escala aproximada das

    fotos : / : /2 000 •

    Nos me ta-arcozios pode ser notado qu e os planos de cizalhameutoseguem mais ou menos a estratificaeao , 0 que njio se verifica nas uni-dades lit olcgicas de quartzitos e ser icit a-x istos, oude 0 padrao de fa-Ihamento parece ser mu ito mais irregular.

  • N

    0 menos de t%

    ~ entre f e 3%- entre 3 .e 5%- mais de 5%w EDIAGRAMA N'? 3A

    Diagrama de contornas (prajecoo estereoqrtitica

    polar} de 260 ptonos de ciratnamento no auor-

    tzito

    5

    w

    5

    0 menos de , %~ entre 1 e 3 %

    at entre 3 e 5%- mais de 5 %DIAGRAMA N'? 38

    Diagrama de contornos (proj ecoo eSfereogra-

    fico polar) de 130 estrios de fr/ccoo encontra-

    das em otano s de cuatnamento no ouorrrtto.

  • CORDAN!, R. CAMPOS, DAVINO E BJORNBERG - GEOL. J ARAGUA 87

    Nao ha evideneia d e fa lha mcnto UOR co utatos dos meta-sedimentoscom as intrusivas, a nao ser na part e su p ri or elo anfibolito, onele pa-r ecem ex ist ir duas falhas ; no entanto , quase todo 0 conta to oeste docorpo anfibolitieo esta escondido soh .a madas de sedimentos cen oz6i-cos, son de que a lin ea rid acle do' do is va les que se ..ituam ao longod e. se con tu to pod eria f'azer SUPOI' uma linha de f a lha de d irecfio no rte--sui ; mas, mesm o que este fa lhame nto possivel veuh a a ser eouiprovad o,nfio se coustitn i r ia em a r mun en t o eout ra r io iI or igem ig neu pro vaveldos nnf'ibnlito :

    Qu a uto ao tipo d falhamento e deslocamentos relatives ao longodn. l inhas d e Ial ha, e possiv el ape nas se fazer uma tentativa de inter-p ret aciio, poi s nilo se .ouhecem os ti pos de esforeos que originaram osp lano ' de ciza lha men to. Assi m foi execut ado um estu d o d os cizalh a-m entes e fraturamentos exi stentes exclusiva me ure no quartzito , nasproximidades do m orro do JaragU

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    . 854

    852.867.

    .867

    87 8..~78

    )( Superf/cie de 9 70 - 10 00 m

    o Supe,fic;e de 900 - 900 mSuper fl cie de 8 50 - 88 0m

    .861

    87'.oIN

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    o?- - •899 85 4

    Di.agra mcr n.o 4

    nhas de falhas observadas, verifica-se uma boa concordancia com 0mod olo assinalado par foto -interpretaeao. As compressoes assumidas(Diagr. 5). provavelrnente devidas ao mesmo diastrofismo que afetouas meta-sedimentos, seriam as causas do movimento relativo horizon-

    21

    Diagrama n.? 5 - Adaplado de Anderson

    tal verificado nos blocos. 0 falhamento considerado normal, com des-locamento vertical, poderia ser devido ao simples soerguimento da re-gijio ; e este movimento, assinalado par diversos autores, vern se reali-zando desde epoeas geol6gicas remotas ate nossos dias, como indica-

  • OORDANI, R. OAMPOS, DAVINO E BJORNBERG - GEOL. JARAGUA 89

    riam as superficies de erosao adernadas e os arqueamentos observadosmais para 0 sul (Diagr. 6).

    COT\A

    ltAPEt£IlICA

    Diagra ma n .? 6 - Desenho de uma fotografia (A . Bjornberg - 1961)

    Quanto in; f'alhas de pequeuo ungulo de mergulho (zona ' (10Diag r. 3), '100 ' (1!J39) e mais r eceuteuieute BelOlI. 'O\' (l !)61) , de-mon strm-am P il l ex pe riene ias de laboratdrio: qu e fulhas normais depequeuo fuigu lo acompauham as fulhas uormais de forte mergulho(Dia o'}", 7 ) .

    ADAPT. DE C LOOS

    Dia gra ma n. o 7 - Adaplado de Cl oss

  • 90 BOL, Soc. BRAS, GEOL" V, 10, N, 2, 1961

    Tais falhas de pequeno an gulo formar-se-iam em maiores profun-dic1acles, e nao d everjio ser confundidas com f'alhas reversas, de em-purrao, qu e se dao em geral proximas a superfieie.

    HIS'foRIA GEOLoGICA

    A se quenc ia de eventos geo logieos, qu e podemos eu tjio atribuirpara a re giao do .1aragua, nno difere essencinl ment e c1a eons truida pOl'Coutinho (1955), corn algumns modif'icaeoes r eferentes ao est abe leci-mento das un idadc: Iitolo gieas e aos tipos de f'al hameutos , e poderiaser assim re sumida :

    1.0 . 6h"c 0 emba am ento cristalino (Ar queauo) honve sedimen-t acao de uma seqiie ne ia de areozios, grauvaca .. argila: e arenites, qu eproduziram p or metamorfismo as r ochas das tres unidades I i tologicasdesci-itns, r esp ectivamcutc, meta-arcozio s conglomerfitico , serieita-xis-to s e qu artzitos ;

    2.0 Segu iu-se um pe.riodo de at ivid ade ma grnatica com intrusoese der r am es basicos (anfiboli tos) ;

    3.0 Ainda no Pre-Cambriano ocor re r am dobramentos, falhamen-tos transcorrentes e met amorfismo regional segui dos da intrusao dogranit o ,

    4.0 Durante 0 Paleozoico e Mesozoico a regijio est eve submetidaa erosao , nao havendo ev ide ne ias de r egistro sedimentar ;

    5.0 Nesse mesmo tempo 0 soer guimento da r egiao provocou fa-lhamentos norrnais, estabelecen do-se posteriormente uma outra faseer osiv a ,

    6.0 Durante 0 Ceriozoic o Inferior houve depo sicao de sediment ossimila res aos da Bacia de Sao Paulo ; mais r ecentemente (Quate r na r io),formaram-se os sedimentos de varzea e depositos de talus.

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  • F otomicrografia n.? 1

    QUARTZITO - Os griio s sao tod os de quartzo, com exce-gao de alguns men orcs, de sericita, que situam-se nos con-tatos entre os graos de quartzo. N ota-so a textura saturada.

    Ni cois X .

  • 1d

    0/

    Fotomierografia n.O 2

    S [':RI ' I T A-X IST O - Cous t.it uirlo essoucl nlmeutu p Ol' sc rici a c quurtzo,o ucnmu meuto, sopnruurlo Illll ll hnudn mnis qunr tzosa a di rci tn, e iuu itonitido (dircl;iio a ); :I clivugeru de r luxo e iu dic ndn pcln tlir co;iio 1J . X o-ta m-se O~ truces de pIan os de uiznlluuneuto ( lli re

  • t96tU. Co¡donlA. C. R. CompotA. Dovino

    D.G.PFFCLUS.PA. Sjornbere

    F FR.C.

    E,E.S.C

    MAPA GEOLCíGIOO DA REGIÃO DO ,]ARAGU/í\,t\,ì

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    Fjoll s.a,'"nros rscenres |_Vl onøoo,,,o Seric¡to - Xislos

    ,! Plonos de ocomomenlo (e/ou xislosidode) + Acomomenìo verticoll-T-l cron¡ro

    - @ Provcjyeis folhos principois ^-- Contaîos (precís6o de oproximodomonto som)

    [Tl ou.,,,,,o lõ3 trto-orctízios congtomeróticos

  • IMPRDllU:

    IND. GRAFICA SIQUEIRA S. A.Run Aueusta, 235 - Silo Paul»