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Este relatório foi escrito e preparado por uma equipe multidisciplinar composta por
Paola Sakai, Marco Sakai, Thaís Schneider, Daniel Fontana Oberling, Fiorella
Oreggioni, Lucas López, Ana Catarine Franzini, Celeste Aquino, Angela Tischner,
Norma Caballero and Joyce Penagos.
Os autores reconhecem as valiosas contribuições feitas por Andy Gouldson, Julián
Baez, Genaro Coronel, Alberto Ramírez e Gary Dymski, que fazem parte do projeto
Triangle-City Cooperation.
Edição e layout: Norma Caballero.
Design: Nuno Maia Areias.
Tradução de Luciana Ribeiro, Joyce Penagos, Celeste Aquino e Lucas López.
Este relatório deve ser citado da seguinte maneira:
Sakai, P.; Sakai, M.; Schneider, T.; Oberling, D. F.; Oreggioni, F.; López, L.; Franzini,
A. C.; Aquino, C.; Tischner, A.; Caballero, N. and Penagos, J. (2017) Vulnerability
Assessment and Adaptation Strategies of the Triangle-City Region, a report by the
Climate Resilient Cities in Latin America initiative, Cliamate and Development
Knowledge Network (CDKN) and Canada's International Development Research
Centre (IDRC).
Julho de 2017
University of Leeds
Leeds, LS2 9JT
United Kingdom
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SUMÁRIO
1 SUMÁRIO EXECUTIVO ............................................................................................................... 8
2 INTRODUÇÃO...........................................................................................................................24
3 REVISÃO HISTÓRICA DA REGIÃO DA TRÍPLICE FRONTEIRA .......................................................29
3.1 FOZ DO IGUAÇU............................................................................................................................. 30
3.2 PUERTO IGUAZÚ ............................................................................................................................ 31
3.3 CIUDAD DEL ESTE........................................................................................................................... 32
3.4 OS DESAFIOS ATUAIS ENFRENTADOS NA REGIÃO DA TRÍPLICE FRONTEIRA................................................... 33
4 TENDÊNCIAS CLIMÁTICAS PASSADAS .......................................................................................36
4.1 EVENTOS CLIMÁTICOS EXTREMOS NA REGIÃO DA TRÍPLICE FRONTEIRA ....................................................... 36
4.2 PASSADO CLIMÁTICO E EVENTOS CLIMÁTICOS EXTREMOS........................................................................ 37
5 PROJEÇÕES CLIMÁTICAS FUTURAS...........................................................................................68
5.1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 68
5.2 FUTURAS PROJEÇÕES CLIMÁTICAS GLOBAIS.......................................................................................... 69
5.3 FUTURAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS GLOBAIS ......................................................................................... 70
5.4 PROJEÇÕES CLIMÁTICAS SUL-AMERICANAS ......................................................................................... 72
5.5 PROJEÇÕES CLIMÁTICAS PARA A REGIÃO DA TRÍPLICE FRONTEIRA ............................................................ 75
5.6 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................................................... 80
6 DEFINIÇÕES POLÍTICAS, JURÍDICAS E INSTITUCIONAIS PARA A ADAPTAÇÃO ÀS MUDANÇAS
CLIMÁTICAS NA REGIÃO DA TRÍPLICE FRONTEIRA ..........................................................................................84
6.1 POLÍTICAS, PLANOS E ESTRATÉGIAS DE ADAPTAÇÃO EXISTENTES ............................................................... 84
6.2 ACORDOS E PROTOCOLOS DE COOPERAÇÃO INTERNACIONAL................................................................... 93
6.3 DIVERGÊNCIAS E LACUNAS NAS CONFIGURAÇÕES INSTITUCIONAIS E LEGAIS ................................................ 95
7 VULNERABILIDADES SOCIOECONÔMICAS PARA EVENTOS CLIMÁTICOS EXTREMOS NA REGIÃO
DA TRÍPLICE FRONTEIRA .................................................................................................................................98
7.1 MARCO CONCEITUAL...................................................................................................................... 98
7.2 ÍNDICE DE VULNERABILIDADE URBANA (UVI) .................................................................................... 101
7.3 ANÁLISE QUALITATIVA DAS VULNERABILIDADES NA REGIÃO DA TRÍPLICE FRONTEIRA ................................. 126
7.4 COOPERAÇÃO ENTRE AS CIDADES .................................................................................................... 153
8 SOLUÇÕES PRELIMINARES......................................................................................................163
8.1 PLANEJAMENTO........................................................................................................................... 164
5
8.2 MEDIDAS ESTRUTURAIS ................................................................................................................ 164
8.3 MEDIDAS NÃO ESTRUTURAIS .......................................................................................................... 166
8.4 COOPERAÇÃO ............................................................................................................................. 166
9 CONCLUSÕES .........................................................................................................................170
10 REFERÊNCIAS .........................................................................................................................175
11 APÊNDICES.............................................................................................................................186
11.1 APÊNDICE A: EVENTOS EXTREMOS E CLIMA NA REGIÃO DA TRÍPLICE FRONTEIRA................................ 187
11.2 APÊNDICE B: VULNERABILIDADES SOCIOECONÔMICAS AOS EVENTOS CLIMÁTICOS NA TRÍPLICE FRONTEIRA
209
11.3 APÊNDICE C: FÓRMULAS E EQUAÇÕES...................................................................................... 217
11.4 APÊNDICE D: ÍNDICES DE VULNERABILIDADE .............................................................................. 227
11.5 APÊNDICE E – ANÁLISE QUALITATIVA ....................................................................................... 236
6
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1. PRECIPITAÇÃO ANUAL. ESTAÇÃO METEOROLÓGICA CIUDAD DEL ESTE.................................................................... 39
FIGURA 2. PRECIPITAÇÃO ANUAL. ESTAÇÃO METEOROLÓGICA AEROPORTO GUARANI. MINGA GUAZÚ....................................... 39
FIGURA 3. DADOS MÁXIMOS DE PRECIPITAÇÃO DIÁRIA MÁXIMA ANUAL. ESTAÇÃO METEOROLÓGICA CIUDAD DEL ESTE. ................. 40
FIGURA 4. NO ANUAL DE EVENTOS DE PRECIPITAÇÃO EXTREMA. ESTAÇÃO METEOROLÓGICA DE CIUDAD DEL ESTE. ........................ 40
FIGURA 5. PRECIPITAÇÃO ANUAL IGUAZÚ AERO. .............................................................................................................. 41
FIGURA 6. PRECIPITAÇÃO MÁXIMA ANUAL AO LONGO DOS ANOS. ESTAÇÃO METEOROLÓGICA IGUAZÚ AERO. .............................. 41
FIGURA 7. NO ANUAL DE EVENTOS DE PRECIPITAÇÃO EXTREMA (PUERTO IGUAZÚ). EST. METEOROLÓGICA IGUAZÚ CATARATAS. ...... 42
FIGURA 8.TEMPERATURAS MÁXIMAS ANUAIS. ESTAÇÃO METEOROLÓGICA CIUDAD DEL ESTE. ................................................... 48
FIGURA 9. TEMPERATURAS MÁXIMAS ANUAIS. ESTAÇÃO METEOROLÓGICA IGUAZÚ AERO. ....................................................... 50
FIGURA 10. TEMPERATURAS MÍNIMAS ANUAIS AO LONGO DOS ANOS. ESTAÇÃO METEOROLÓGICA CIUDAD DEL ESTE..................... 55
FIGURA 11. TEMPERATURAS MÍNIMAS ANUAIS. ESTAÇÃO METEOROLÓGICA IGUAZÚ AREO....................................................... 57
FIGURA 12. CIUDAD DEL ESTE: ÁGUAS SUPERFICIAIS E BAIRROS. .......................................................................................... 61
FIGURA 13. FOZ DO IGUAÇU: ÁGUAS SUPERFICIAIS E BAIRROS. ............................................................................................ 61
FIGURA 14. LAGO REPÚBLICA EM CIUDAD DEL ESTE.......................................................................................................... 65
FIGURA 15. SEQUÊNCIA ANALÍTICA.............................................................................................................................. 103
FIGURA 16. FOTO DE TELHADOS COMUNS EM PUERTO IGUAZÚ E FOZ DO IGUAÇU................................................................. 115
FIGURA 17. EXEMPLOS DE INFRAESTRUTURA ESTRATÉGICA EM FOZ DO IGUAÇU ................................................................... 118
FIGURA 18. EXEMPLOS DE DANOS E MEDIDAS DE RECUPERAÇÃO, PORTO MEIRA, FOZ DO IGUAÇU. .......................................... 124
FIGURA 19. VISTA AÉREA DA OCUPAÇÃO DO BUBAS NO PORTO MEIRA ............................................................................... 128
FIGURA 20. RESIDENCIAS AFETADAS NO PORTO MEIRA E ENTULHOS ABANDONADOS NAS RUAS ............................................... 129
FIGURA 21. ALAGAMENTO URBANO NA AVENIDA JK ....................................................................................................... 131
FIGURA 22. CATARATAS DO IGUAÇU EM 2006 E 2014 (MESMO PONTO)............................................................................ 132
FIGURA 23. FAMÍLIAS AFETADAS RECEBENDO DOAÇÃO DE LONA PLÁSTICA PELO EXÉRCITO. ..................................................... 134
FIGURA 24 - A ÁGUA DO CÓRREGO TACUARA CONFINADA EM UM CANAL DE CONCRETO......................................................... 144
FIGURA 25. FIM DA CANALIZAÇÃO DO CÓRREGO TACUARA. ESQ: EFEITO DO IMPACTO DA ÁGUA NO ASFALTO ............................. 144
FIGURA 26. CASAS PRECÁRIAS DE SAN RAFAEL, NA CONFLUÊNCIA DO RIO PARANÁ E CÓRREGO ACARAY-MI ............................... 147
FIGURA 27. INUNDAÇÃO NO BAIRRO SAN RAFAEL........................................................................................................... 147
FIGURA 28. FAMÍLIAS AFETADAS EVACUANDO O BAIRRO SAN RAFAEL ................................................................................. 148
FIGURA 29. VISTA DA PONTE DA AMIZADE APÓS A REFORMA DE 2015............................................................................... 149
FIGURA 30. VISTA DA PONTE DA AMIZADE APÓS A REFORMA DE 2015............................................................................... 149
FIGURA 31. FAMÍLIA GUARANI NA PROVÍNCIA DE MISSIONES............................................................................................ 154
FIGURA 32. PRESIDENTES DOS TRÊS CONSELHOS DE DESENVOLVIMENTO ............................................................................ 157
7
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 - VALOR BRUTO ADICIONADO A PREÇOS BÁSICOS DE ACORDO COM AS PRINCIPAIS ATIVIDADES – 2014........................... 31
TABELA 2. RESUMO DOS RESULTADOS DA ANÁLISE DE DADOS DE PRECIPITAÇÃO ...................................................................... 42
TABELA 3. TEMPESTADES DE GRANIZO SOBRE A REGIÃO DA TRÍPLICE FRONTEIRA...................................................................... 44
TABELA 4. TEMPERATURAS MÁXIMAS DIÁRIAS AO LONGO DOS ANOS. ESTAÇÃO METEOROLÓGICA DE CIUDAD DEL ESTE. ................ 48
TABELA 5. TEMPERATURA MÁXIMA ANUAL EM PUERTO IGUAZÚ. ESTAÇÃO METEOROLÓGICA IGUAZÚ AERO. ............................... 50
TABELA 6. RESUMO DE EVENTOS DE ONDAS DE CALOR. ...................................................................................................... 52
TABELA 7. TEMPERATURAS MÍNIMAS ANUAIS. ESTAÇÃO METEOROLÓGICA CIUDAD DEL ESTE. ................................................... 55
TABELA 8. TEMPERATURAS MÍNIMAS ANUAIS. ESTAÇÃO METEOROLÓGICA IGUAZÚ AREO......................................................... 57
TABELA 9. SÍNTESE DOS EVENTOS DE ONDAS DE FRIO. ........................................................................................................ 58
TABELA 10. ÁGUAS SUPERFICIAIS PROBLEMÁTICAS E PRINCIPAIS ÁREAS AFETADAS NA TRÍPLICE FRONTEIRA. .................................. 60
TABELA 11. VINTE INUNDAÇÕES ANUAIS PRINCIPAIS (1976-2009): ESTAÇÃO FLUVIOMÉTRICA PONTE DA AMIZADE...................... 63
TABELA 12. RESUMO DOS QUATRO CENÁRIOS UTILIZADOS NO AR5...................................................................................... 70
TABELA 13. PROJEÇÕES DA TEMPERATURA MÉDIA GLOBAL DA SUPERFÍCIE PARA MEADOS E FINAIS DO SÉCULO 21 EM RELAÇÃO AO
PERÍODO DE REFERÊNCIA DE 1986-2005. ............................................................................................................. 71
TABELA 14. MUDANÇAS REGIONAIS PROJETADAS EM TEMPERATURA, PRECIPITAÇÃO E EXTREMOS CLIMÁTICOS EM DIFERENTES SETORES
DA AMÉRICA DO SUL (SA). ................................................................................................................................. 74
TABELA 15. MUDANÇAS DE TEMPERATURA PROJETADAS PARA A REGIÃO DA TRÍPLICE FRONTEIRA ............................................... 76
TABELA 16 - MUDANÇAS DE TEMPERATURA PROJETADAS SOBRE CIUDAD DEL ESTE, PARAGUAI............................................... 76
TABELA 17. MUDANÇAS PROJETADAS NA PRECIPITAÇÃO SOBRE A REGIÃO DA TRÍPLICE FRONTEIRA. ............................................. 78
TABELA 18. MUDANÇAS PROJETADAS NA PRECIPITAÇÃO SOBRE CIUDAD DEL ESTE, PARAGUAI. ............................................... 78
TABELA 19. INDICADORES CLIMÁTICOS EXTREMOS ........................................................................................................... 79
TABELA 20 - CATEGORIAS DE INDICADORES PARA AVALIAR VULNERABILIDADE DA CIDADE ÀS MUDANÇAS CLIMÁTICAS ................... 106
TABELA 21 – RESULTADOS DO ÍNDICE DE VULNERABILIDADE URBANA (UVI) E SEUS COMPOSTOS PARA FOZ DO IGUAÇU (BR), CIUDAD
DEL ESTE (PAR) E PUERTO IGUAZÚ (AR)............................................................................................................. 111
TABELA 22 – CLASSIFICAÇÃO DE ÍNDICE DE ATRIBUTOS FÍSICOS ......................................................................................... 112
TABELA 23. NÚMERO DE INFRAESTRUTURA ESTRATÉGICA POR CIDADE ................................................................................ 116
TABELA 24 - INDICADORES DE ATRIBUTOS SOCIAIS.......................................................................................................... 119
TABELA 25. INDICADORES DE ATRIBUTOS ECONÔMICOS .................................................................................................. 121
TABELA 26. INDICADORES DE ATRIBUTOS ECONÔMICOS .................................................................................................. 123
TABELA 27. INDICADORES DE CAPACIDADE ADAPTATIVA .................................................................................................. 125
TABELA 28. SUGESTÕES DE ENTREVISTADOS P/ MINIMIZAR EFEITOS DE EVENTOS CLIMÁTICOS EXTREMOS EM FOZ........................ 137
8
1 Sumário executivo
As cidades representam atores essenciais no combate às mudanças climáticas.
Espera-se que a maioria das pessoas no planeta viva nas cidades em meados do
século. No caso da América do Sul, a ONU (2016) espera que cerca de 80% de sua
população viva em centros urbanos em 2050. Ao mesmo tempo, as cidades deverão
enfrentar cada vez mais efeitos climáticos sob a forma de eventos climáticos
extremos mais intensos e frequentes, colocando milhões de pessoas em risco,
especialmente aquelas que são mais vulneráveis. Em relação à América do Sul,
estudos existentes mostraram que a região está particularmente exposta a eventos
extremos relacionados ao clima e apresenta numerosas vulnerabilidades (por
exemplo, pobreza, instabilidade econômica e política, falta de recursos e
infraestrutura, etc.). Nesse sentido, é vital para as cidades criar ações para reduzir
sua vulnerabilidade às mudanças climáticas e construir um desenvolvimento
resiliente ao clima.
O objetivo deste estudo é avaliar a vulnerabilidade climática da chamada
região da tríplice fronteira, composta por três cidades vizinhas localizadas em três
países da América do Sul. As cidades são Foz do Iguaçu (Brasil), Puerto Iguazu
(Argentina) e Ciudad del Este (Paraguai), as quais compartilham fronteiras na
confluência dos rios Paraná e Iguaçu.
Além de compartilhar a mesma área geográfica e um histórico comum, essas
cidades também enfrentam desafios semelhantes e compartilham vulnerabilidades
climáticas. Consequentemente, a cooperação entre as cidades desempenha um
papel crucial para enfrentar com êxito esses desafios.
Esta avaliação representa a primeira tentativa de examinar a vulnerabilidade
da região da tríplice fronteira aos eventos relacionados ao clima. Além disso, este
estudo constitui um novo esforço para analisar o conceito de vulnerabilidade como
um fenômeno compartilhado, colocando uma ênfase particular na cooperação
cidade-cidade como um elemento primordial para enfrentar com sucesso o desafio
9
das mudanças climáticas. Esta análise fornece uma compreensão inicial da
vulnerabilidade climática da região, oferecendo informações valiosas e destacando
lacunas e áreas que requerem atenção urgente. Ele também pretende ser uma
plataforma para pesquisas futuras, pois revela várias questões que exigem uma
exploração mais profunda. As descobertas apresentadas aqui são de interesse para
formuladores de políticas, profissionais, acadêmicos, bem como indivíduos e
organizações preocupados com a resiliência climática da região e o bem-estar de
seus habitantes.
Este documento apresenta os principais achados derivados do estudo e suas
implicações. Ele também fornece um breve histórico da região e descreve as
características e a estrutura socioeconômica das três cidades. Além disso, as
tendências climáticas do passado são analisadas, com foco nos principais eventos
climáticos extremos que afetaram a região nas últimas décadas. Esta análise é
complementada com um olhar sobre as projeções climáticas para determinar os
desafios que a região provavelmente enfrentará no futuro. O documento também
apresenta uma análise dos contextos legais, políticos e institucionais de cada cidade
em relação à adaptação às mudanças climáticas. Em relação à avaliação da
vulnerabilidade, o relatório apresenta um Índice de Vulnerabilidade Urbana (IVU),
que é uma ferramenta útil para comparar as cidades. Os índices foram construídos
usando diferentes indicadores climáticos e socioeconômicos para medir as várias
dimensões da vulnerabilidade (sensibilidade e capacidade de adaptação). Esta
análise empírica foi complementada com uma visão sobre as estratégias que as
cidades adotaram para reagir e responder aos impactos causados por eventos
climáticos extremos no curto prazo, bem como os planos que estão sendo realizados
para enfrentar os impactos futuros. O relatório também apresenta uma visão geral do
nível de cooperação entre as três cidades e descreve um conjunto de soluções
preliminares propostas por um grupo de atores chave.
Este estudo envolveu a participação de numerosos atores das três cidades,
que foram fundamentais para fornecer valiosos conselhos e informações. Nosso
Comitê Diretor foi fundamental ao nos conceder acesso a dados e compartilhar seus
10
conhecimentos e experiências. Sem a sua participação e apoio, este estudo não
teria sido possível.
Histórico
Desde a década de 1960, a região da tríplice fronteira experimentou um
rápido crescimento e continua a se expandir. Sua população aumentou mais de 7
vezes, principalmente atraída pela construção da Usina Hidrelétrica Binacional de
Itaipu (Brasil e Paraguai) e o potencial turístico das Cataratas do Iguaçu,
considerada como uma das maravilhas naturais do mundo. Além disso, o
desenvolvimento de Ciudad del Este como um centro comercial de baixa tributação
atraiu significativos fluxos populacionais para a região. Esta última cidade deverá
estar entre as dez cidades que mais crescem rapidamente na América Latina até o
ano de 2030, de acordo com as perspectivas de urbanização da ONU. Além disso, a
região recebe milhões de turistas a cada ano, buscando as atrações locais.
O planejamento urbano e o investimento em infraestrutura não foram
compatíveis com o crescimento populacional. O planejamento urbano adequado
foi ausente, resultando em uma expansão urbana incontrolada. A ocupação irregular
da terra levou à criação de favelas, principalmente ao longo dos rios e áreas de
risco, o que é uma questão de preocupação dada à alta exposição a inundações. A
velocidade do investimento em infraestrutura pública e privada não foi suficiente, e a
pressão é aumentada pelo fluxo intenso de turistas. Alguns serviços básicos da
cidade, como saneamento (esgoto e lixo), não estão disponíveis para toda a
população. O investimento em infraestrutura turística também é necessário para
capitalizar o grande fluxo de turistas, especialmente em Ciudad del Este. Além disso,
altas taxas de desmatamento representam uma ameaça para as florestas e a
biodiversidade da região. Outros problemas relacionados à expansão das cidades
incluem desemprego, práticas ilegais e clandestinas, bem como questões que
envolvem comunidades tradicionais, como violência e apropriação de terras.
11
Tendências climáticas passadas
As tendências históricas sugerem que os padrões climáticos mudaram
na região da tríplice fronteira durante as últimas 5 décadas. Os resultados
mostram que a quantidade anual de precipitação aumentou ao longo dos anos. A
precipitação diária máxima anual e o número de eventos de precipitação extrema
mostraram um aumento, indicando que os fortes eventos de precipitação estão se
tornando mais intensos e frequentes. Além disso, as temperaturas máximas e
mínimas diárias também apresentaram uma tendência positiva ao longo dos anos,
indicando um clima mais quente. Também é importante ressaltar que, como as
cidades estão localizadas em uma área propensa ao clima convectivo severo, é
provável que tornados possam afetar as cidades no futuro.
Eventos climáticos extremos relacionados à água causaram os maiores
impactos na região da tríplice fronteira. As chuvas e inundações têm sido os
eventos mais comuns que afetam as cidades. Foram detectados dois tipos de
inundações: inundações de rios, causadas por aumento dos níveis dos rios e
inundações urbanas, devido à intensa precipitação. Os episódios passados de secas
afetaram o setor de turismo, bem como o consumo de água em Ciudad del Este.
Além disso, descobrimos que os eventos de granizo seguem um padrão de baixa
frequência e alto impacto. O evento de granizo mais recente ocorreu em setembro
de 2015, gerando graves perdas materiais.
O sistema de monitoramento meteorológico na região trinacional precisa
ser aprimorado, enquanto as definições de eventos climáticos extremos devem
ser unificadas. Esses aspectos são essenciais para melhorar nossa compreensão
do clima na região. Por exemplo, os diferentes países da região da tríplice fronteira
definem eventos de onda de calor e onda fria de maneira diferente. Essa
heterogeneidade dificulta sua análise. Além disso, é necessário aumentar o número
de estações climáticas confiáveis. Este estudo encontrou inconsistências em dados
meteorológicos coletados em diferentes estações meteorológicas, o que dificultou a
análise e limitou a quantidade de informações confiáveis.
12
Projeções climáticas futuras
Espera-se que a temperatura média aumente na região da tríplice
fronteira até o final do século XXI. Estudos realizados para a América do Sul e o
Paraguai, que utilizam diferentes modelos e cenários climáticos globais e regionais,
mostram um aumento da temperatura para todos os prazos (curto a longo prazos) e
estações (primavera, verão, outono e inverno). No entanto, a magnitude desse
aumento depende principalmente do modelo climático usado para produzir essas
projeções.
As mudanças na precipitação média na região são difíceis de
determinar, considerando projeções contraditórias. Estudos existentes
produziram evidências contraditórias para essa variável, resultando em uma série de
resultados que variam de acordo com o cenário, o prazo e a estação que são
selecionados no processo de modelagem. No entanto, a análise das tendências
passadas revelou que os eventos extremos de precipitação aumentaram, e espera-
se que essas tendências continuem no futuro.
Espera-se que os eventos climáticos extremos aumentem,
especialmente aqueles relacionados às altas temperaturas. As ondas de calor
poderiam se tornar mais comuns no futuro em toda a região da tríplice fronteira.
Tendências positivas foram encontradas no número de dias de verão, noites
tropicais e noites quentes (ver Capítulo 4 para definições desses termos). Contudo,
as tendências estatisticamente significativas só foram obtidas em relação às
temperaturas máximas e mínimas. Se esse fenômeno for combinado com potenciais
aumentos de precipitação, a região da tríplice fronteira poderia enfrentar eventos
climáticos extremos mais severos.
Configurações políticas, jurídicas e institucionais para adaptação
às mudanças climáticas
Iniciativas de adaptação às alterações climáticas ainda são muito
incipientes no nível municipal. Os três países começaram a desenvolver seus
planos de adaptação às mudanças climáticas. O Brasil e o Paraguai lançaram seus
13
Planos Nacionais de Adaptação (PAN) em 2016, enquanto a Argentina encontra-se
atualmente desenvolvendo o seu. No entanto, esses esforços ainda não foram
atingidos pelos governos locais. Mesmo quando os PANs mencionam o requisito
para que os municípios desenvolvam seus planos locais, nenhum instrumento de
planejamento específico ou estratégias para adaptação às mudanças climáticas
foram identificados em qualquer uma das cidades. Isso constitui uma lacuna
importante que necessita ser abordada urgentemente.
As cidades possuem protocolos de emergência e planos de
contingência, mas as medidas de prevenção, preparação e recuperação são
deficientes. As cidades criaram planos de ação para ajudá-las a responder a
eventos não previstos, embora alguns desses planos não estivessem disponíveis
para consulta. Os mecanismos de resposta dependem basicamente dos municípios
através de diferentes organizações, como os departamentos de bombeiros, com o
apoio de outras instituições. Em Puerto Iguazú e Ciudad del Este, as brigadas de
bombeiros são organizadas por voluntários, enquanto que em Foz do Iguaçu são
formadas pelos militares. Em termos de medidas de preparação, os sistemas de
alerta precoce existentes não são projetados para fornecer informações oportunas e
acessíveis diretamente aos cidadãos. Por outro lado, evidência sobre estratégias de
prevenção é escassa. Em relação às ações de recuperação e reconstrução, parece
não haver planos adequados. Estes também representam lacunas importantes que
devem ser abordadas.
As diretrizes para a adaptação local e protocolo de emergência nas três
cidades apresentam semelhanças, oferecendo oportunidades para o
planejamento e a atuação conjunta. Os três países produziram diretrizes para a
adaptação local focadas em aspectos comuns, como manejo territorial, uso do solo,
saneamento e infraestrutura, bem como a incorporação de elementos de mudanças
climáticas em todos os âmbitos de gestão e desenvolvimento urbano. Embora as
estratégias formais de adaptação às mudanças climáticas ainda sejam inexistentes,
isso representa uma boa oportunidade para as três cidades desenvolverem
iniciativas conjuntas e institucionalizarem a cooperação entre cidades. Há evidências
14
de que a disposição de cooperar em relação à esse assunto existe, como mostrado
nesse relatório, embora ocorra de forma informal.
Existem acordos e protocolos estabelecidos que institucionalizam a
cooperação entre as três cidades e países, mas estes não são aplicados na
prática. O protocolo do Mercosul para cooperação e assistência a emergências
ambientais, bem como o ajuste complementar ao acordo entre o Brasil e a Argentina
para a cooperação em defesa civil em locais de fronteira, fornecem diretrizes para o
intercâmbio de informações e assistência entre as partes diante de eventos de
emergência. No entanto, esses protocolos parecem desconhecidos ou não são
usados por atores locais, enquanto a cooperação ocorre de forma informal, através
da colaboração de indivíduos e organizações. No entanto, há esforços para
institucionalizar ações cooperativas, como um acordo proposto entre os
departamentos de bombeiros das três cidades.
Vulnerabilidades socioeconômicas
Foz do Iguaçu mostra um menor nível de vulnerabilidade aos climas
extremos em relação a Ciudad del Este e Puerto Iguazú. Foz tem relativamente
mais áreas verdes (45% da área municipal), indicadores de pobreza mais baixos
(menos população em pobreza e favelas), melhor acesso à água, tratamento de
resíduos e educação, menor taxa de mortalidade, maior orçamento público e uma
economia mais dinâmica e diversificada. Foz do Iguaçu também tem níveis mais
altos de preparação e recuperação frente à desastres. Os resultados também
indicam que suas instituições, em geral, gozam de boas reputações,
especificamente em relação à gestão de emergências e à participação cidadã nas
decisões governamentais. Foz tem uma melhor disposição para adotar boas práticas
de outras cidades e cooperar com elas, já que adotou e aplicou políticas similares de
outras cidades.
Ciudad del Este e Puerto Iguazú apresentam maiores vulnerabilidades,
em comparação com Foz do Iguaçu. Essas cidades têm proporcionalmente uma
maior população suscetível a impactos relacionados a eventos extremos e menor
capacidade de se recuperar frente aos desastres. Essas cidades são altamente
15
urbanizadas, sem espaços verdes suficientes. A falta de planejamento urbano levou
à ocupação de áreas de risco. O nível de serviços públicos é insuficiente nas áreas
de saúde, água e saneamento. Elas também apresentam baixos níveis de prontidão
e resposta frente à eventos extremos, possuindo recursos limitados para a
recuperação. Além disso, os resultados indicam menores níveis de reputação em
relação às suas instituições focadas em ações de emergência, assim como poucos
canais que permitem a participação cidadã no governo local. Isso constitui uma
barreira para construir estratégias de adaptação efetivas nessas cidades.
Ciudad del Este é mais sensível a eventos extremos, como fortes chuvas
e ondas de calor. Esta cidade é altamente urbanizada e tem uma menor proporção
de áreas verdes por pessoa. Isso aumenta o efeito da ilha de calor, o que traz
consequências para a saúde humana. Dado que a cidade tem uma proporção maior
de população vulnerável (abaixo de 14 anos e acima de 65), o risco de afetação
aumenta. Além disso, espaços verdes insuficientes elevam a probabilidade de
inundações, uma vez que o escoamento aumenta e a infiltração de água é reduzida.
As cidades têm diferentes níveis de desenvolvimento, refletidos na
qualidade e cobertura dos serviços públicos básicos. Ciudad del Este é a cidade
que mais sofre de cobertura insuficiente de serviços públicos. Uma grande parte da
sua população não tem acesso à água potável e saneamento. Problemas de
abastecimento de energia foram identificados em Puerto Iguazú, enquanto o
gerenciamento de resíduos sólidos foi identificado como um problema sério em
Ciudad del Este e Foz do Iguaçu. Outros problemas que detectados são os baixos
níveis de educação e níveis crescentes de insegurança. Além disso, verificou-se que
a infraestrutura rodoviária requer manutenção urgente, além de um aumento dos
serviços de transporte para comunicar as três cidades, especialmente entre Puerto
Iguazú e Ciudad del Este. Por exemplo, requer-se uma ponte para conectar essas
duas cidades.
A região oferece um bom ambiente de negócios, mas a diversidade
econômica na região é baixa. A economia de Foz do Iguaçu é mais diversificada,
mas ainda depende muito do turismo, que é sensível aos impactos climáticos. O
mesmo ocorre em Puerto Iguazú, onde o turismo é uma das principais atividades. O
16
setor agrícola em Ciudad del Este representa quase um terço do seu produto interno
bruto (PIB), sendo uma atividade também sensível às mudanças climáticas. No que
diz respeito ao setor empresarial, os resultados mostram que Ciudad del possui um
grande número de empresas, mas a maioria são pequenas e médias empresas
(PMEs), as quais geralmente são as mais vulneráveis no setor privado. Uma maior
diversificação das economias das três cidades contribuiria para reduzir a
vulnerabilidade do setor.
Apesar de seus níveis mais baixos de vulnerabilidade, Foz do Iguaçu
ainda precisa melhorar suas políticas públicas de uso do solo e investir mais
em infraestrutura para enfrentar as constantes inundações. A ocupação irregular
de áreas ao longo das margens dos rios coloca as populações desfavorecidas em
sério risco. Além disso, uma infraestrutura pobre em termos de sistemas de
drenagem de água leva a inundações de estradas públicas constantemente. O
município, no entanto, possui recursos limitados, o que dificulta sua capacidade de
preparação, resposta e recuperação à eventos climáticos extremos. Até o momento,
a Defesa Civil identificou 35 pontos críticos em toda a cidade, e reconheceu que
para resolver esses problemas será necessário um grande investimento.
Assentamentos irregulares em áreas de alto risco representam um sério
desafio de governança nas três cidades. Uma questão chave é a realocação da
população que vive ao longo das margens dos rios. No entanto, isso provou ser uma
questão complicada, uma vez que as pessoas tendem a retornar às mesmas áreas
depois de serem transferidas. Isso se deve a várias razões, mas principalmente
porque as pessoas afetadas não querem sair da região central da cidade,
considerando que as novas habitações fornecidas pelo município geralmente estão
longe do centro da cidade, do seu local de trabalho, escolas e áreas comerciais.
Apesar de a maioria dos esforços de realocação ter sido ineficaz, um caso bem
sucedido foi registrado em Foz do Iguaçu, que merece ser estudado mais
atentamente para identificar as lições importantes que podem ser aplicadas a outros
casos.
A Defesa Civil é a primeira entidade a responder a situações de
emergência e desastre nas cidades. Atores na região, entrevistados para este
17
estudo, consideram que esta instituição constitui o principal suporte das cidades em
responder a eventos imprevistos. Essa instituição inclui os bombeiros, que são os
primeiros a prestar assistência à população afetada. A Cruz Vermelha em Ciudad del
Este também desempenha um papel relevante nos esforços de entrega de ajuda. No
entanto, essas instituições são muitas vezes insuficientemente financiadas e
carecem de treinamento e equipamentos especiais para alguns tipos de
emergências e desastres.
Cooperação
A cooperação entre cidades para responder aos impactos climáticos
extremos existe, mas principalmente em um nível informal. Habitualmente, os
eventos climáticos extremos são enfrentados por cada cidade de forma
independente. No entanto, existem fortes ligações e comunicação entre certas
instituições, como as brigadas de bombeiros das três cidades. Embora não existam
protocolos formais de cooperação, as pessoas mostram vontade de cooperar e
manifestam solidariedade, principalmente devido a afinidades pessoais e
profissionais. Há vários relatos de casos em que as cidades se ajudaram
mutuamente a enfrentar ameaças, como surtos de incêndio e dengue. A cooperação
entre as três cidades ainda precisa ser formalizada e isso pode ajudar a reduzir sua
vulnerabilidade à eventos climáticos extremos.
Os conselhos de desenvolvimento local representam um mecanismo
excelente para construir a cooperação entre as cidades. CODESPI (Puerto
Iguazú), CODEFOZ (Foz do Iguaçu) e CODELESTE (Ciudad del Este) procuram
promover o desenvolvimento sustentável a longo prazo em cada cidade, alinhando e
integrando os interesses da sociedade dentro das ações governamentais de forma
democrática. Essas entidades conseguiram promover políticas e implementar
melhorias que beneficiaram as cidades. Também têm buscado fortalecer os vínculos
entre os três centros urbanos, abrindo novas formas de cooperação e buscando
canais de comunicação eficientes na região.
A cooperação entre as cidades não é equilibrada. Foz do Iguaçu atua
como um nó, unindo as três cidades. Por um lado, a Ponte da Amizade liga a cidade
18
à Ciudad del Este, enquanto a Ponte da Fraternidade (Tancredo Neves) a liga com
Puerto Iguazú. Por outro lado, Ciudad del Este e Foz do Iguaçu estão fortemente
relacionados através da Itaipu Binacional, uma parceria entre o Paraguai e o Brasil,
a qual fornece energia e fonte de renda para ambos os países. Por sua vez, Foz do
Iguaçu e Puerto Iguazú estão unidas pelas Cataratas do Iguaçu, outra fonte de
renda para essas duas cidades. Nesse sentido, Foz do Iguaçu tem fortes vínculos
com os dois vizinhos. No entanto, a relação entre Puerto Iguazú e Ciudad del Este é
mais fraca. Nenhuma ponte conecta essas cidades e o transporte é feito somente
por balsas.
Há certo grau de coordenação em relação ao intercâmbio de
informações climáticas. As instituições de defesa civil desempenham um papel
importante a este respeito. Por exemplo, indivíduos entrevistados para este estudo
informaram que a informação climática coletada pelo radar meteorológico na cidade
vizinha de Cascavel (Brasil) é usada em Puerto Iguazú. Existem outros exemplos de
compartilhamento de informações entre as outras cidades. A Defesa Civil em Foz do
Iguaçu também pretende obter melhores instrumentos de medição. As tarefas
realizadas pela Defesa Civil nessas cidades são, portanto, valiosas, pois geram co-
benefícios para a região e criam um terreno favorável para promover uma
cooperação mais forte.
Existem barreiras para alcançar uma cooperação ativa entre as três
cidades. O desejo de envolver as três cidades para realizem ações cooperativas
não é uma tarefa simples. Existem inúmeras barreiras, começando pela linguagem.
Embora uma grande proporção da população entenda e fale espanhol e português,
as questões de comunicação representam um problema. Existem também
diferenças culturais e configurações legais divergentes. Além disso, as questões
econômicas, políticas e de segurança muitas vezes impedem ações de cooperação.
A existência de restrições históricas entre os países também desempenha um papel
importante.
O que as cidades podem fazer para reduzir suas vulnerabilidades?
19
Atores chave pertencentes a diferentes setores dos três municípios se
reuniram para discutir possíveis soluções para aumentar a resiliência climática das
cidades, tendo em vista as vulnerabilidades identificadas. Essas soluções podem ser
classificadas em quatro categorias.
Planejamento. Os planejamentos urbano e de uso do solo são primordiais
para avançar o desenvolvimento e resiliência climática dos municípios. Um plano
eficaz para organizar o ambiente urbano é essencial para controlar a expansão e
corrigir quaisquer irregularidades, como a ocupação inapropriada das margens dos
rios e outras áreas de risco. O planejamento urbano efetivo, no entanto, é um
processo que envolve elementos técnicos e políticos. Também implica a criação de
políticas e regulamentos que devem ser monitorados e aplicados.
Estrutural. Como já foi dito, o investimento insuficiente em infraestrutura
levou a vários problemas, como um nível de serviços públicos deficiente. A
necessidade de investir em saneamento básico é essencial. As cidades não
oferecem cobertura total da coleta de esgoto doméstico, especialmente nos bairros
mais distantes das regiões centrais. O investimento em sistemas eficientes de
drenagem também é urgente, contribuindo para reduzir as inundações urbanas.
Outras soluções estruturais estão relacionadas à melhoria dos sistemas de
gerenciamento de resíduos sólidos, fortalecendo a resistência das habitações em
áreas desfavorecidas e a criação de mais espaços verdes.
Não estrutural. Uma questão importante identificada neste estudo é a falta
de dados confiáveis, desde climático a socioeconômicos. O fortalecimento da
capacidade dos municípios de coletar, processar e divulgar dados de qualidade é
vital para promover o desenvolvimento resiliente ao clima, pois é necessário
entender melhor a situação e monitorar a evolução. Outras medidas destinam-se a
capacitar os funcionários municipais sobre mudanças climáticas e ações de
adaptação. Melhorar a educação ambiental e desenvolver a conscientização entre a
população também é essencial, para influenciar o comportamento das pessoas e
torná-las conscientes dos riscos enfrentados pela região e da importância de manter
as cidades e os rios livres de contaminação e resíduos.
20
Cooperação. A região da tríplice fronteira oferece boas oportunidades para
promover uma forte cooperação entre as cidades. A criação de um Conselho Tri-
Nacional de Defesa Civil tem sido mencionada por vários atores, o que permitiria
uma melhor coordenação das ações de preparação e resposta frente a eventos
extremos, reunindo recursos financeiros e humanos das três cidades. Da mesma
forma, o estabelecimento de uma câmara tri-nacional formada pelos três conselhos
locais de desenvolvimento poderia ajudar a resolver problemas comuns e projetar
uma visão futura para a região. Outras soluções referem-se à criação de sistemas
comuns de alerta precoce, bem como a criação de mais espaços para discussão e
programas de ação cooperativa.
Conclusões
1. Dado o crescimento populacional esperado e as projeções
climáticas que indicam uma maior probabilidade de enfrentar eventos
metereológicos extremos mais frequentes e severos, a região da tríplice
fronteira deve implementar urgentemente medidas de redução de risco a
desastres e aumentar a sua resistência ao clima. É essencial que as cidades
revisem e melhorem seus planos de contingência e os tornem públicos. Devem ser
feitos esforços para desenvolver estratégias voltadas para ações de prevenção,
preparação e recuperação. Além disso, os municípios precisam começar a
desenvolver seus planos locais de adaptação às mudanças climáticas de acordo
com as diretrizes nacionais, projetando planos de ação para lidar com um clima
incerto no futuro.
2. As três cidades têm a oportunidade de desenvolver iniciativas
locais conjuntas e planos para enfrentar os efeitos climáticos futuros. Dado
que as cidades ainda não incorporaram a mudança climática como um fator
essencial em seus programas de trabalho e ainda estão por começar a desenvolver
estratégias de adaptação, esse é um momento apropriado para desenvolvê-las de
forma cooperativa. É importante que as cidades compreendam que seu futuro está
21
interligado e que as ações unilaterais podem não ser tão eficientes e eficazes se
comparadas a ações cooperativas.
3. As cidades devem adotar uma visão de médio e longo prazo para
se adaptar com sucesso a um clima em mudança. Os sistemas de alerta precoce
existentes e o intercâmbio de informações entre as instituições de defesa civil são
voltados principalmente para lidar com questões de curto prazo. No entanto, uma
perspectiva de longo prazo está ausente nas três cidades. A informação climática
futura não é utilizada na região da tríplice fronteira. É necessário investigar o tipo de
informação requerida por diferentes setores econômicos (por exemplo, energia,
turismo, agricultura, comércio) para levar a cabo suas ações de adaptação.
4. As três cidades compartilham vulnerabilidades socioeconômicas.
Embora a análise apresentada neste estudo trate a vulnerabilidade de cada cidade
de forma independente, na prática esta vulnerabilidade é compartilhada.
Essencialmente, as três cidades formam um centro urbano único e cosmopolita. As
pessoas cruzam constantemente as fronteiras em suas vidas diárias para trabalhar,
fazer compras ou programas recreativos. Nesse sentido, qualquer problema que
afete uma cidade terá consequências imediatas sobre as demais. Portanto, abordar
vulnerabilidades ou implementar soluções sob uma perspectiva individual faz pouco
sentido. Para obter com sucesso um desenvolvimento resiliente ao clima, a
cooperação deve ser um elemento integral em qualquer estratégia de adaptação às
mudanças climáticas.
5. A cooperação deve ser formalizada e mais equilibrada. O nível de
cooperação que existe hoje para enfrentar eventos extremos é, em grande maioria,
informal. Formalizar e institucionalizar a cooperação entre as cidades fortaleceria os
laços entre os municípios e geraria uma atmosfera de certeza, segurança e
confiança. As soluções propostas de criação de um conselho de defesa civil tri-
nacional e uma câmara tri-nacional formada pelos três conselhos de
desenvolvimento local são um passo importante em direção a esse objetivo. No
entanto, o envolvimento dos municípios é indispensável. São necessários mais
esforços para envolvê-los no processo, bem como autoridades estaduais e
nacionais. Além disso, a cooperação deve ser mais bem equilibrada para garantir
22
que os laços sejam fortalecidos entre Ciudad del Este e Puerto Iguazú. Construir
uma ponte entre essas duas cidades contribuiria para impulsionar sua relação.
6. A região da tríplice fronteira representa uma excelente oportunidade
para se estabelecer uma cooperação cidade-cidade bem sucedida. A região
reúne mais de 80 grupos étnicos que, juntamente com a presença de povos
tradicionais e um fluxo intenso de visitantes de todo o mundo, a torna um berço de
culturas e ideias. Diversidade e intercâmbio fazem parte da realidade local. Isso
constitui um cenário favorável para a cooperação transfronteiriça. As lições
aprendidas nesta região podem ser extremamente úteis para outras regiões do
planeta. A oportunidade de construir um futuro mais cooperativo e resiliente está
disponível hoje.
23
24
2 INTRODUÇÃO
As cidades têm ocupado um lugar central como atores essenciais no combate
às mudanças climáticas. Várias iniciativas foram criadas nos últimos anos
envolvendo as principais cidades do mundo para fortalecer seus esforços para
tornarem-se mais ecológicas e ambientalmente amigáveis, mais resilientes aos
fenômenos climáticos extremos e melhorar o padrão de vida de suas populações.
Este foco nas cidades é relevante devido à expectativa de que a maioria das
pessoas no planeta viverá predominantemente em cidades até meados do século.
No caso da América do Sul, a ONU (2016) projeta sua população urbana em cerca
de 80% do total populacional até 2050. Ao mesmo tempo, as cidades devem
enfrentar eventos climáticos extremos cada vez mais intensos e freqüentes, pondo
em risco milhões de pessoas, especialmente aquelas mais vulneráveis. Estudos
recentes do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, 2014)
mostram que a América Latina está particularmente exposta a eventos relacionados
ao clima e apresenta numerosas vulnerabilidades (por exemplo, pobreza,
instabilidade econômica e política, falta de recursos e infra-estrutura, etc.). Com
base em uma série de projeções climáticas para a região, desenvolvidas por várias
equipes de pesquisadores (IPCC, 2014), os quais mostraram tendências crescentes
de maior variabilidade climática, é essencial para os países latino-americanos
empreenderem ações para reduzir sua vulnerabilidade e promover desenvolvimento
resiliente ao clima.
A ratificação do Marco de Sendai para a Redução de Riscos de Desastres,
aprovada pelos Estados membros da ONU em 2015, representa um passo
importante para a redução do risco de desastres e a construção de resiliência. Em
particular, a Declaração de Asuncion (2016), que envolveu ministros e autoridades
de países latino-americanos, reconheceu a necessidade de fortalecer ações locais e
abordar vulnerabilidades.1
A maioria dos estudos sobre vulnerabilidade às mudanças climáticas têm se
concentrado nas grandes cidades, muitas vezes nas famosas megacidades,
enquanto as cidades menores têm sido negligenciadas. No entanto, é nas cidades
1 http://eird.org/ran-sendai-2016/docs/declaracion-sendai-americas.pdf
25
de médio e pequeno porte que as mais rápidas taxas de crescimento populacional
estão sendo registradas. São elas também que geralmente apresentam as maiores
vulnerabilidades, como falta de recursos, infra-estrutura, capital humano, entre
outros. No entanto, é também este tipo de cidade que oferece as maiores
oportunidades, uma vez que em muitos casos ainda não estão bloqueadas pela
tecnologia e infraestrutura existentes, mostrando um maior potencial de
planejamento urbano sustentável e gerenciamento do uso do solo, entre outros
aspectos.
O presente estudo surge da necessidade de compreender a vulnerabilidade
às mudanças climáticas das cidades de médio e pequeno porte, a fim de proteger
seu processo de desenvolvimento contra os impactos climáticos adversos e torná-las
mais resilientes. Tratar a vulnerabilidade é essencial, já que se reconhe serem os
esforços para aumentar a resiliência mais eficazes quando a vulnerabilidade é baixa.
Conforme dito antes, as cidades pequenas e médias são geralmente "menos
equipadas" do que as maiores para enfrentar impactos climáticos extremos, e
algumas podem exibir maiores vulnerabilidades (por exemplo, infra-estrutura pobre,
financiamento fraco, falta de habilidades, etc.). É então vital abordar vulnerabilidades
para efetivamente avançar na resiliência climática urbana.
Esta avaliação se concentra nas cidades de Ciudad del Este (Paraguai), Foz
do Iguaçu (Brasil) e Puerto Iguazú (Argentina), que compartilham fronteiras na
confluência dos rios Parana e Iguazú, formando a chamada zona da tríplice fronteira.
Especificamente, em termos de crescimento populacional, espera-se que Ciudad del
Este seja a quarta cidade com crescimento mais rápido na América Latina até 2030
(ONU, 2015). A rápida expansão das cidades tem sido principalmente alimentada
por uma crescente atividade econômica no comércio e no turismo. A falta de
planejamento, no entanto, gerou problemas relacionados à infraestrutura e
prestação de serviços públicos. O crescimento acelerado exerceu pressão sobre o
meio ambiente sob a forma de poluição e desmatamento. Este último intensificou o
risco de inundações, ao qual a zona da tríplice fronteira está altamente exposta
devido à sua localização geográfica. Nos últimos anos, a área sofreu fortes
inundações, agravada por El Niño, causando pesados custos econômicos e sociais.
Atualmente, estratégias adequadas de redução de risco são dificultadas por uma
cooperação transfronteiriça pobre, afetada por incongruências políticas, capacidades
26
institucionais fracas e diferentes configurações legais. Este desafio se adiciona a
outros problemas existentes, como pobreza, corrupção, insegurança, contrabando e
tráfico de drogas.
A zona da tríplice fronteira representa um estudo de caso interessante, pois
representa uma oportunidade para entender como as cidades cooperam em um
contexto transfronteiriço. Cerca de 116 milhões de pessoas na América do Sul vivem
em bacias transfronteiriças. No entanto, as questões transfronteiriças raramente são
abordadas nos planos nacionais de adaptação às mudanças climáticas, ao mesmo
tempo em que os efeitos adversos das mudanças climáticas e do crescimento rápido
podem ter grande impacto nas cidades dentro dessas bacias. Além disso, há uma
falta de compreensão sobre as oportunidades de cooperação que surgem em uma
escala de cidade, a qual pode oferecer maiores benefícios mútuos.
Segundo sabemos, a presente avaliação representa a primeira tentativa para
analisar a vulnerabilidade das três cidades aos eventos relacionados com o clima.
Além disso, isso representa um novo esforço para examinar a vulnerabilidade como
um fenômeno compartilhado pelos três centros urbanos, pelo que a cooperação é
primordial para enfrentar o desafio das mudanças climáticas da região da tríplice
fronteira. Esta avaliação envolveu a participação de numerosos atores das três
cidades que compartilharam seus conhecimentos, experiências e idéias sobre como
tornar as cidades mais resilientes às mudanças climáticas sob um marco de
cooperação. De forma semelhante, a avaliação exigiu grandes quantidades de
dados, que foram coletados de diferentes fontes e de várias maneiras. Nosso Comitê
Diretor foi fundamental para nos conceder acesso aos dados, e queremos aproveitar
esta oportunidade para agradecer a todos os seus membros.
Esta avaliação fornece resultados valiosos que explicam a vulnerabilidade das
três cidades e destacam as brechas e áreas de ação que precisam de atenção, ou
desafios futuros. Acreditamos ser este relatório importante abordagem inicial da
vulnerabilidade climática das cidades, abrindo várias vias para pesquisas futuras.
Esta avaliação é valiosa para os decisores políticos, os profissionais, os acadêmicos
e para muitas outras pessoas e organizações que não estão apenas interessadas
em compreender a vulnerabilidade da região da tríplice fronteira, mas também estão
preocupadas com a melhoria do bem-estar dos habitantes, e em promover um
desenvolvimento mais inclusivo, sustentável e resiliente.
27
O relatório está estruturado da seguinte maneira. O capítulo dois fornece o
contexto da pesquisa, apresentando um histórico geral das características e da
estrutura socioeconômica das cidades. Os dois capítulos seguintes descrevem as
tendências climáticas passadas que afetaram a região, e apresentam futuras
projeções climáticas. Além disso, esses capítulos apresentam
o desafio que a região da tríplice fronteira tem em frente em termos de temperatura,
precipitação e eventos climáticos extremos. Este desafio específico é analisado
brevemente. O capítulo cinco aborda as configurações políticas, legais e
institucionais para a adaptação às mudanças climáticas na região da tríplice fronteira
e mostra lacunas que as cidades precisam resolver. As vulnerabilidades
socioeconômicas são apresentadas no capítulo seis, onde se fornece o marco para
avaliar a vulnerabilidade da tríplice fronteira quanto a eventos climáticos extremos,
seguido de uma descrição detalhada da abordagem da pesquisa para construir o
Índice de Vulnerabilidade Urbana, onde são identificados os diferentes indicadores.
Em seguida, são exploradas empiricamente as dimensões da vulnerabilidade, o que
permitiu a identificação da cidade mais e menos vulnerável, entre as três. O mesmo
capítulo examina mais profundamente a situação atual da região da tríplice fronteira,
sendo apresentada uma análise qualitativa. Foca quais são os problemas atuais, em
relação aos eventos climáticos extremos, percebidos pelas diferentes partes
interessadas da região. O capítulo também apresenta as estratégias que as cidades
adotaram no curto prazo, para reagir e enfrentar o impacto de eventos climáticos
extremos. Além disso, retrata os planos que as cidades estão empreendendo para
enfrentar os impactos futuros relacionados ao clima. Termina com o exame da
cooperação entre essas 3 cidades, acompanhado por uma apresentação das
diferentes soluções preliminares propostas pelas várias partes interessadas.
Destaca as necessidades importantes, em termos de planejamento, implementação
de medidas estruturais e não estruturais, e aspectos específicos em que a
cooperação pode ser melhorada. Finalmente, as conclusões são obtidas no capítulo
oito, que oferece um resumo das principais conclusões e algumas das
recomendações políticas. Este estudo foi apoiado pela iniciativa Cidades Resilientes
ao Clima na América Latina, a qual é conformada pela Rede de Conhecimento do
Clima e Desenvolvimento (CDKN), o Centro Internacional de Pesquisa para o
Desenvolvimento (IDRC) e a Fundação Futuro Latino-Americana (FFLA).
28
29
3 REVISÃO HISTÓRICA DA REGIÃO DA TRÍPLICE
FRONTEIRA
A região da tríplice fronteira está situada na bacia do Rio Paraná, na
confluência de dois grandes cursos de água. O rio Paraná estabelece a fronteira
entre Ciudad del Este (Paraguai) e Foz do Iguaçu (Brasil), enquanto o rio Iguaçu
limita o segundo município com Puerto Iguazú (Argentina). Este último rio abriga o
maior conjunto de cachoeiras do mundo em termos de volume de água, as famosas
Cataratas do Iguaçu. Dadas as suas características naturais e geopolíticas, a região
é atualmente um importante pólo turístico, industrial e comercial para os três países.
Assim como Kleinschmitt, Azevedo and Cardin (2013) pontuam, uma peculiaridade
desta fronteira é que ela é essencialmente urbana, intensamente transitada e muito
populosa, embora inserida no contexto das grandes áreas rurais. Do ponto de vista
cultural, é também um lugar cosmopolita, que abriga cerca de 80 grupos étnicos e
recebe milhões de visitantes a cada ano (PMFI, sem data; IPEC, 2015).
Historicamente, a região era habitada pelos indígenas Tupi-Guarani quando a
colonização europeia começou, no século XVI. A chegada dos colonos e a
subsequente formação das missões jesuítas levaram a uma mistura de culturas que
permanece presente, como pode ser visto hoje no Paraguai, onde espanhol e
guarani são línguas oficiais. Mais tarde, até o final do século XIX e ao longo do
século XX, a região recebeu fluxos populacionais de diversas origens. A partir da
década de 1960, a população registrou rápido crescimento, paralelamente à
expansão da infraestrutura, como a construção da Ponte Internacional da Amizade,
que liga Foz do Iguaçu e Ciudad del Este, inaugurada em 1965; a rodovia federal
BR-277, que liga Foz do Iguaçu à costa brasileira, em 1969; e a Ponte Internacional
Tancredo Neves, que liga Puerto Iguazú e Foz do Iguaçu, em 1985 (PMFI, sem data
b; Kleinschmitt, Azevedo e Cardin, 2013; IPEC, 2015).
Além disso, a construção de usinas de geração de energia na região
contribuiu significativamente para esse cenário, com destaque para a Usina
Hidrelétrica Itaipu Binacional, a segunda maior usina hidrelétrica do mundo e a maior
fornecedora de energia hidroelétrica em termos de produção acumulada anual
30
(Itaipu Binacional, sem data). Sua edificação, que começou em 1972, chegou a
envolver 40 mil trabalhadores, gerando ondas de migração para a área (PMFI, sem
data b).
O comércio também atraiu fluxos populacionais para a região, especialmente
na fronteira paraguaia. A partir de 1991, os fluxos comerciais entre os três países se
intensificaram com a criação do Mercado Comum do Sul (Mercosul), para o qual a
região da tríplice fronteira constitui um importante corredor comercial, ligando o
Pacífico à costa atlântica e fornecendo acesso terrestre ao Paraguai para os portos
oceânicos.
3.1 Foz do Iguaçu
Situada no ponto mais ocidental do brasileiro estado do Paraná, Foz do
Iguaçu é formalmente a cidade mais antiga da região das três fronteiras. O município
foi fundado em 1914, mas só recebeu seu nome atual quatro anos depois. Em 1939,
o turismo começou a ganhar importância para a economia local, com a fundação do
Parque Nacional do Iguaçu, que abriga as Cataratas do Iguaçu. Durante a década
de 1970, a construção da barragem de Itaipu levou a um novo ciclo de crescimento
na cidade, consolidando o setor industrial e gerando um grande aumento
populacional (PMFI, sem data b).
Em 1970, o número de habitantes locais era de 33.966, atingindo 136.352
após apenas dez anos. Ao longo das décadas seguintes, a população continuou a
crescer, atingindo cerca de 256.088 habitantes em 20102. Desde então, as taxas de
crescimento diminuíram, sendo estimado que a população em 2016 atingiu 263.915
habitantes (IBGE, sem data). Enquanto em 1980 três quartos da população eram
urbanos (74,47%), hoje em dia sua quase totalidade é urbana (99,17%).
Em termos econômicos, o setor de serviços detém a maior parcela do Produto
Interno Bruto (PIB) do município, seguindo-se os setores industrial e agrícola (IBGE,
2 Vale ressaltar que, de acordo com outra pesquisa realizada entre os dois últimos censos nacionais, a
população de Foz do Iguaçu atingiu 311.336 habitantes em 2007 (IBGE, sem data). A diminuição do número de
habitantes pode estar associada, entre outros fatores, ao fortalecimento da fiscalização na fronteira brasileira,
que afeta as atividades de contrabando (Cardin, 2012).
31
sem data; IPARDES, 2017).
Tabela 1 - Valor bruto adicionado a preços básicos de acordo com as principais atividades – 2014
ATIVIDADES VALOR (R$ 1.000,00)
Agricultura e pecuária 52.992
Indústria 3.984.866
Serviços 3.145.911
Administração Pública 1.011.056
Total 8.194.825
Fonte: Caderno Estatístico do Município de Foz do Iguaçu (IPARDES, 2017, p. 23).
O turismo desempenha um papel importante na cidade. No ano 2000, Foz do
Iguaçu recebeu 800 mil visitantes. Em 2012, esse montante mais do que duplicou,
atingindo cerca de 2 milhões (Secretaria Municipal de Turismo, 2017). Foz do Iguaçu
é o terceiro município brasileiro mais visitado por estrangeiros (Ministério do
Turismo, 2016) e está entre os 20 destinos mais desejados pelos turistas brasileiros
(Ministério do Turismo, 2012).
3.2 Puerto Iguazú
Puerto Iguazú está localizado na província de Misiones, Argentina. Embora a
exploração madeireira e ervateira tenham sido relevantes na ocupação da província,
a fundação de Puerto Iguazú foi, ela própria, relacionada ao turismo. Seus primeiros
assentamentos tiveram início em 1901, mas esta só se tornou município em 1951.
Atualmente, a cidade é uma das mais importantes de Misiones, sendo o turismo uma
das principais atividades econômicas. Apenas em 2010, o Parque Nacional de
Iguazú, a principal atração da cidade, recebeu quase 1,2 milhão de visitantes. O
setor de serviços representou 51,2% do PIB da província (91,4 bilhões de pesos) em
2012, seguido da indústria, com 37,4% e o setor primário, com 11,4% (IPEC, 2015).
Além do fluxo intenso de turistas, o município também apresentou um
crescimento populacional nas últimas décadas. De acordo com o Censo Nacional de
2010, Puerto Iguazú foi um dos municípios com maior aumento da população em
32
relação a 2001. Sua taxa de crescimento de 33,7% contrasta com as médias
provinciais e nacionais de 14,1% e 10,6%, respectivamente (IPEC, 2015). Naquele
ano, a população municipal foi de 42.849 habitantes3. Assim como em Foz do
Iguaçu, quase toda a população é urbana (96%) (IPEC, sem data). A projeção
populacional de Puerto Iguazú para 2020 é de 58.760 habitantes (IPEC, sem data
b).
3.3 Ciudad del Este
Como município mais jovem da tríplice fronteira, Ciudad del Este foi fundada
em 1957, adotando seu nome atual em 1989. É a capital do Departamento do Alto
Paraná. A cidade se desenvolveu principalmente através do comércio, impulsionada
pela construção da Ponte da Amizade (DAP, 2014) e o estabelecimento de regimes
comerciais com baixos impostos ou isentos dos mesmos, que atraíram contingentes
populacionais do Paraguai e do exterior, incluindo um grande número de imigrantes
da China e do Oriente Médio (Rabossi, 2004). A cidade rapidamente se tornou um
pólo de comércio internacional, com destaque para o comércio de produtos
tecnológicos asiáticos. Nesse sentido, o turismo de compras é o principal motor da
economia local. Seu fluxo comercial foi apontado como o terceiro maior do mundo,
depois de Miami e Hong Kong (Dreyfus, 2005; Rabossi, 2004)4.
Ciudad del Este é atualmente a segunda cidade mais populosa do Paraguai,
apenas atrás da capital nacional, Assunção. É também a mais populosa da tríplice
fronteira, tendo mantido altas taxas de crescimento populacional nas últimas
décadas. O município tinha 281.422 habitantes em 2012, quase 24% a mais do que
em 2000 (DGEEC, 2015). Espera-se que este número supere 300.000 antes de
2020. A projeção das Nações Unidas (ONU) é que Ciudad del Este estará entre as
dez cidades com mais rápido crescimento na América Latina até 2030 (UN, 2015).
Portanto, vale a pena notar as inter-relações que essas três cidades
3É importante ressaltar que os dados fornecidos pelos atores locais entrevistados pelo projeto indicamnúmeros populacionais maiores do que os oficialmente registrados no censo.
4 Rabossi (2004), no entanto, problematiza essa informação: embora a mesma seja encontrada emvários trabalhos sobre a região, ele indica a falta de dados precisos sobre os números da economia da cidade.
33
desenvolveram, conformando uma determinada dinâmica de fronteira que transpõe
os limites nacionais (Kleinschmitt, Azevedo e Cardin, 2013). Como será discutido na
seção 5, embora cada cidade tenha suas próprias configurações institucionais,
vários acordos incentivaram a cooperação entre elas ao longo do tempo. No entanto,
regulamentos e leis em nível nacional influenciam a forma como as situações são
geridas no nível local, quer a favor da cooperação, como no Mercosul, ou contra ela,
como em regulamentos de fluxos fronteiriços, com questões legais e de segurança,
conforme descrito na seqüência.
3.4 Os desafios atuais enfrentados na região da Tríplice Fronteira
Apesar da sua relevância econômica, o crescimento rápido e intenso da
região da tríplice fronteira também gerou problemas, que se somaram a outros já
existentes. A criação de emprego, por exemplo, não foi suficiente para acompanhar
o ritmo do crescimento populacional, causando desemprego. Conforme relatado pelo
Município de Foz do Iguaçu, isso deu origem a uma grande economia informal, bem
como à expansão de ocupações irregulares, e gerou uma maior pressão sobre
setores-chave, como saúde, educação e segurança pública (PMFI, sem data b).
Em relação à segurança e ao estado de direito, práticas ilegais e
clandestinas, como contrabando e tráfico de drogas e armas, tornaram-se comuns
na região fronteiriça entre Foz do Iguaçu e Ciudad del Este (Cardin, 2012). Além
disso, houve suspeitas de atividades relacionadas ao terrorismo na área (Rabossi,
2004; Dreyfus, 2005).
O crescimento urbano não planejado também levou a problemas de
infraestrutura, intensificados pelo grande fluxo de turistas. Massukado e Teixeira
(2006) indicam a necessidade de investimentos em infraestrutura turística em Foz do
Iguaçu. Gandara, Souza e Lacay (2011) salientam que, apesar do grande potencial
da cidade para o turismo, não há incentivo organizacional para desenvolver outras
atrações locais, o que poderia contribuir para o desenvolvimento da região.
Por outro lado, foram relatadas ameaças à principal atração turística da
região, as Cataratas do Iguaçu. Ambos os parques nacionais que hospedam as
quedas d’água na Argentina e no Brasil são reconhecidos pela Unesco como
34
Patrimônio da Humanidade desde 1984 e 1986, respectivamente. No entanto, a área
tem sido sujeita à pressão fundiária, colocando em risco a coleção biológica que
abriga (Ortiz et al., 2000). A expansão da agricultura é apontada como a principal
causa da fragmentação e degradação da floresta na Mata Atlântica do Alto Paraná,
gerando a maior ameaça à biodiversidade da ecorregião. Outras causas incluem a
construção de infraestrutura, como barragens e estradas, caça ilegal, exploração
florestal insustentável e assentamentos de pessoas sem terra (Di Bitetti et al., 2003).
O avanço da agricultura, bem como problemas ambientais e fundiários,
também tem sido relatado entre as comunidades indígenas. No Paraguai, o Censo
Nacional de População e Habitação para os Povos Indígenas (DGEEC, 2015b)
indica problemas de posse na região de Ciudad del Este, incluindo apropriação de
terras pelo agronegócio. Outros problemas apontados pelas comunidades são a
violência e dificuldades relacionadas a recursos naturais, como a redução de
animais selvagens, a fumigação com agroquímicos e a contaminação dos cursos
d´água.
35
36
4 TENDÊNCIAS CLIMÁTICAS PASSADAS
4.1 Eventos climáticos extremos na região da tríplice fronteira
Este capítulo trata de analisar as ocorrências e tendências históricas de
eventos climáticos extremos na região da tríplice fronteira. Os eventos analisados
neste capítulo são: (i) precipitação intensa ou extrema, (ii) ventos fortes, (iii)
tempestades de granizo, (iv) ondas de calor, (v) ondas de frio, (vi) inundações, ( Vii)
e secas.
Algumas das principais fontes de risco para a sociedade humana são eventos
climáticos extremos (Stephenson, 2008). A mudança climática, portanto, representa
um desafio significativo, pois leva a variações na freqüência, intensidade, extensão e
duração desses eventos extremos (Seneviratne et al., 2012). Além disso, o rápido e
não planejado crescimento demográfico nas áreas urbanas, adicionado à infra-
estrutura inadequada, nos tornaram potencialmente mais vulneráveis a esses
eventos atualmente do que no passado (Stephenson, 2008).
O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) define um
evento climático extremo como "a ocorrência de um valor de uma variável
meteorológica acima (ou abaixo) de um valor limiar perto das extremidades
superiores (ou inferiores) do intervalo de valores observados da variável" (Allan
Lavell et al., 2012). No entanto, alguns extremos climáticos, como secas e
inundações, com potencial de afetar as atividades humanas, podem resultar de um
conjunto de eventos climáticos não necessariamente extremos. Além disso, existem
alguns eventos climáticos que podem levar a condições extremas ou desastres,
mesmo não sendo extremos em um sentido estatístico (Seneviratne et al., 2012). No
entanto, eventos extremos são muitas vezes, embora nem sempre, associados a
desastres. A associação depende da exposição e vulnerabilidade da área de
ocorrência do evento (Allan Lavell et al., 2012).
Para analisar eventos climáticos extremos na região da tríplice fronteira,
foram utilizados dados de duas estações meteorológicas localizadas na região.
Estas estações são: (1) "Estação Meteorológica Ciudad del Este" localizada em
37
Ciudad del Este, Paraguai (Figura A 1 e Tabela A 1), e (2) "Estação Meteorológica
Iguazú Aero", localizada em Puerto Iguazú, Argentina (Figura A 2 e Tabela A 2).
Em relação aos dados meteorológicos de Foz do Iguaçu, analisamos todos os
dados disponíveis na Plataforma HidroWeb da Agência Nacional de Águas do Brasil.
Encontramos alguns dados históricos de precipitação e apenas um curto período de
dados de temperatura. Comparando estes dados entre si e com os dados
disponíveis no Paraguai e na Argentina, não encontramos correlação, além de
constatar a existência de muitos pontos faltantes. Por estas razões e pela baixa
qualidade dos dados, escolhemos não usar dados desta cidade.
4.2 Passado climático e eventos climáticos extremos
4.2.1 Chuva intensa
A ocorrência de fortes eventos de precipitação muitas vezes levou a
inundações urbanas e cheias de rios na região da tríplice fronteira. Esses eventos de
inundação afetam a qualidade de vida das pessoas ou podem causar a perda de
vidas humanas e muitas vezes causam enormes impactos econômicos. Como
existem grandes variações nos padrões de precipitação ao redor do mundo, não é
possível fornecer uma definição única de precipitação intensa que seja adequada
para todas as regiões (TT-DEWCE, 2016).
A Sociedade Meteorológica Americana em seu Glossário de Meteorologia
define fortes chuvas como: "chuva com uma taxa de acumulação superior a um valor
específico que é geograficamente dependente" (American Meteorological Society
2012). Além disso, quando um evento de precipitação é considerado extremo, ele se
relaciona com uma das duas abordagens a seguir: (1) é extremo quando um certo
limiar que tem algum impacto associado é excedido, ou (2) é extremo devido à sua
pouca frequência. Neste caso, geralmente são usados percentis, sendo geralmente
considerados eventos de precipitação extrema quando acima dos percentis 90, 95 e
99 (TT-DEWCE, 2016).
A abordagem adotada neste estudo para definir eventos de precipitação
extrema na região da tríplice fronteira é o percentil 90, em termos de precipitação
diária. Além disso, a ocorrência de eventos anuais de precipitação máxima também
38
foi analisada e, para determinar o período de ocorrência, uma análise sazonal foi
realizada, ou seja, inclui as estações. Primavera: setembro, outubro e novembro;
verão: dezembro, janeiro e fevereiro; outono: março, abril e maio; e inverno: junho,
julho e agosto.
4.2.2 Estação Meteorológica Ciudad del Este
Para definir eventos de precipitação extrema, utilizou-se o recorde histórico da
precipitação diária desta estação meteorológica. Esses dados foram fornecidos pela
Direção de Meteorologia e Hidrologia da Direção Nacional de Aeronáutica Civil do
Paraguai (DMH/DINAC). O período de análise abrangeu 41 anos de dados, entre
1966 e 2006. A quantidade anual de precipitação ao longo dos anos foi analisada e,
durante esse período, a precipitação anual média foi de 1.795 mm / ano. Além disso,
uma tendência positiva de precipitação anual foi estimada, indicando que a
quantidade de precipitação está aumentando ao longo dos anos (Figura 1).
A Figura 1 e a Figura 2 mostram a quantidade anual de precipitação na
Estação Meteorológica de Ciudad del Este (1966-2006) e na Estação Meteorológica
Aeroporto Guarani, localizada na vizinha cidade de Minga Guazú (1998-2015). Esta
última estação meteorológica foi utilizada para observar as tendências recentes, pois
tem dados até 2015. Anos com uma baixa precipitação coincidem com eventos de
seca, isto é, 1967-1968, 1978-1979, 2000 e 2008. Em contraste, anos com um
aumento na precipitação coincidem com eventos de inundações, isto é, 1983, 1990,
1998 e 2014.
A precipitação diária máxima anual ao longo dos anos pode ser observada na
Figura 3. Do mesmo modo, foi detectada uma tendência positiva na intensidade da
precipitação diária máxima anual. A maior quantidade de precipitação registrada foi
213.80mm em 20 de maio de 1997. Historicamente, esses eventos ocorreram
principalmente no verão, seguido do outono, primavera e inverno (Figura A 3).
Para definir eventos de precipitação extrema, foi determinado o percentil 90
do registro histórico. Este percentil é de 41,98 mm/d e, nesse sentido, 475 eventos
extremos foram detectados. Além disso, também foi observada uma tendência
positiva no número de eventos extremos diários ao longo dos anos, indicando que
39
esses eventos estão se tornando mais frequentes (Figura A 4). Historicamente,
esses eventos ocorreram principalmente na primavera, seguidos de verão, outono e
inverno (Figura A 5).
Figura 1. Precipitação Anual. Estação Meteorológica Ciudad del Este.
Figura 2. Precipitação Anual. Estação Meteorológica Aeroporto Guarani. Minga Guazú.
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
19
66
19
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72
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74
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19
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19
84
19
86
19
88
19
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94
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96
19
98
20
00
20
02
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04
20
06
Precipitação AnualEstação Meteorológica Ciudad del Este
Período: 1996-2006
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
19
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99
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00
20
01
20
02
20
03
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04
20
05
20
06
20
07
20
08
20
09
20
10
20
11
20
12
20
13
20
14
20
15
Precipitação AnualEstação Meteorológica Aeroporto Guarani
Período: 1998-2015
40
Figura 3. Dados máximos de precipitação diária máxima anual. Estação Meteorológica Ciudad delEste.
Figura 4. No anual de eventos de precipitação extrema. Estação Meteorológica de Ciudad del Este.
4.2.3 Estação Meteorológica Iguazú Aero
Para analisar os eventos de precipitação na região da tríplice fronteira,
também foram utilizados dados diários de precipitação desta estação meteorológica.
Esses dados foram fornecidos pelo Centro Regional de Clima do Sul da América do
Sul (CRC-SAS). O período de análise abrangeu 48 anos, entre 1969 e 2016.
Durante esse período, a precipitação anual média foi de 1.892mm/ano. Além disso,
uma tendência positiva na precipitação anual foi detectada, indicando um aumento
na quantidade de precipitação ao longo dos anos (Figura 5).
Analisando a precipitação diária máxima em cada ano, uma tendência positiva
0
50
100
150
200
250
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19
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19
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82
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19
86
19
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19
90
19
92
19
94
19
96
19
98
20
00
20
02
20
04
20
06
Precipitação Anual MáximaEstação Meteorológica Ciudad del Este
Período: 1966-2006
0
5
10
15
20
25
19
66
19
68
19
70
19
72
19
74
19
76
19
78
19
80
19
82
19
84
19
86
19
88
19
90
19
92
19
94
19
96
19
98
20
00
20
02
20
04
20
06
Número anual de eventos de precipitação extremaEstação Meteorológica de Ciudad del Este
Período: 1966-2006
41
também foi percebida (Figura 6). A maior quantidade de precipitação registrada foi
de 188mm em 30 de abril de 2014, poucos dias antes de um rápido aumento do
fluxo no rio Iguaçu. Historicamente, esses eventos ocorreram principalmente no
outono, seguido de verão, inverno e primavera (Figura A 4).
O percentil 90 do registro histórico nesta estação corresponde a 44mm/d,
resultando em 517 eventos extremos ao longo de 48 anos. Assim como na Estação
Meteorológica de Ciudad del Este, observa-se uma tendência positiva no número de
eventos extremos diários (Figura 7). Historicamente, esses eventos ocorreram
principalmente na primavera, seguidos pelo verão, outono e inverno (Figura A 6).
Figura 5. Precipitação Anual Iguazú Aero.
Figura 6. Precipitação máxima anual ao longo dos anos. Estação Meteorológica Iguazú Aero.
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
Precipitação AnualEstação Meteorológica Iguazú Aero
Período: 1969-2016
0
50
100
150
200
19
69
19
71
19
73
19
75
19
77
19
79
19
81
19
83
19
85
19
87
19
89
19
91
19
93
19
95
19
97
19
99
20
01
20
03
20
05
20
07
20
09
20
11
20
13
20
15
Precipitação máxima anualEstação Meteorológica Iguazú Aero
Período: 1969-2016
42
Figura 7. No anual de eventos de precipitação extrema (Puerto Iguazú). Est. Meteorológica IguazúCataratas.
4.2.4 Síntese dos resultados
Dados os resultados obtidos em ambas estações meteorológicas, pode-se
concluir que a quantidade anual de precipitação na região da tríplice fronteira
aumentou ao longo dos anos. A precipitação diária máxima anual também está
aumentando, indicando que os eventos de precipitação estão se tornando mais
intensos.
Finalmente, um evento de precipitação diária extrema sobre a região da
tríplice fronteira corresponde a um nível de precipitação diária (24 horas) acima de
41,98mm (Tabela 2). Cerca de 500 eventos extremos foram detectados em cada
estação meteorológica durante o período de estudo. Além disso, o número anual
desses eventos está aumentando ao longo dos anos, mostrando um aumento na
freqüência de eventos de precipitação pesada nesta região.
Tabela 2. Resumo dos resultados da análise de dados de precipitação
Precipitação intensa
Estação MeteorológicaPercentil 90
(mm/dia)
# de eventos
extremos
Máximo
Histórico
(mm/dia)
Precipitação
média anual
(mm/ano)
Ciudad del Este (1966-2006) 41.98 476 213.80 1,795
Iguazú Aero (1969-2016) 44.00 517 188.00 1,892
0
5
10
15
20
25
30
19
69
19
71
19
73
19
75
19
77
19
79
19
81
19
83
19
85
19
87
19
89
19
91
19
93
19
95
19
97
19
99
20
01
20
03
20
05
20
07
20
09
20
11
20
13
20
15
Número anual de eventos de precipitação extremaEstação Meteorológica Iguazú Aer
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