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  • RECURSOSMINERAIS&

    SustentabilidadeTerritorial

    Vol.IGrandesMinas

    Editores:FranciscoRegoChavesFernandesMariaAmliaRodriguesdaSilvaEnrquezRenatadeCarvalhoJimenezAlamino

  • RecursosMinerais&SustentabilidadeTerritorialVol.IGrandesMinas

    Editores

    FranciscoRegoChavesFernandesMariaAmliaRodriguesdaSilvaEnrquezRenatadeCarvalhoJimenezAlamino

    ApoioTcnico

    KeilaValentedeSouza(bolsistaPCI)DanieldaSilvaTeixeira

    NathaliadosSantosLindolfo(bolsistaPIBIC)

    ProgramaoVisualVeraLciaEspritoSantoS.Ribeiro

    Ocontedodestetrabalhoderesponsabilidadeexclusivado(s)autor(es)

    Recursos Minerais & Sustentabilidade Territorial: grandes minas/Francisco RegoChaves Fernandes, Maria Amlia Rodrigues da Silva Enrquez, Renata deCarvalhoJimenezAlamino(Eds.).RiodeJaneiro:CETEM/MCTI,2011.V.I343p.:Il.1.Minaserecursosminerais.2.Desenvolvimentosustentvel.3.ArranjosProdutivos

    Locais. I. Centro de Tecnologia Mineral. II. Fernandes, Francisco Rego C. (Ed.). III.Enriquez,MariaAmliaR.S.(Ed.).IV.Alamino,RenataCarvalhoJ.(Eds.)

    ISBN9788561121839 CDD622.4

  • Apresentao

    ApublicaodesselivrooresultadodoprojetoGrandesMinaseAPLsdebasemineralxComunidadeLocal,ondeforamrealizadascampanhasnaformadeestudosdecasosobreo desenvolvimento socioeconmico das comunidades locais e de entorno das regiesondeocorrematividadesmineradoras.Apesquisa,patrocinadapelaSecretariadeGeologia,MineraoeTransformaoMineral(SGM) do Ministrio de Minas e Energia (MME) e pelo Centro de Tecnologia Mineral(CETEM),tevecomoobjetivodestacarseasatividadesmineraisgrandesmineraeseArranjos Produtivos Locais atualmente instalados e em operao no Brasil, gerambenefciossustentveislquidosparaassuascomunidades.Uma ampla rede temtica de pesquisa foi instituda a partir da congregao deespecialistas de diferentes instituies (universidades e centros de pesquisas),reforandoonossocompromissocomquestestoatuaisquantoosrecursosminerais,odesenvolvimentosustentvel,odesenvolvimentoregionaleomeioambiente.

    RiodeJaneiro,novembrode2011JosFariasdeOliveiraDiretordoCentrodeTecnologiaMineral

  • Prefcio

    Esta publicao apresenta o resultado de estudo contratado ao CETEM/MCTI paracoordenar projeto de pesquisa sobre a sustentabilidade na minerao, em especial orelacionamento da comunidade com o empreendimento. Diversos municpios onde amineraoserevestedeimportncia,pelaatuaodegrandesemdiasempresasoudeArranjosProdutivosLocais(APLs)debasemineral,foramobjetodepesquisadecampo.AmotivaodaSGM/MMEdepatrocinaroestudofoiapermanentepreocupaosobreasustentabilidadeno aproveitamentodosbensminerais na formulaode suaspolticasparaosetore fomentaro interessedeuniversidadese instituiesdepesquisasparaarealizaodeestudossobreotema.A sustentabilidade foi temacentraldasdiscusseshavidasparaa construodoPlanoNacional deMinerao 2030, lanado em fevereiro de 2001 peloMME. Com efeito, aelaboraodoPNM2030partedoprincpiodequeaminerao fornecebensmineraisparaasociedadecontempornea,atendendoaosprincpiosbsicosdaresponsabilidadeambiental,dajustiasocialedaviabilidadeeconmica,semdescuidardasdemandasdasgeraesfuturas..A SGM tem desenvolvido diversas aes de sustentabilidade nos municpios onde sesituam as minas objeto dos estudos apresentados no livro e sero importantes paraavaliar os impactos das polticas pblicas que temos desenvolvido, em conjunto comoutrosMinistrios,governosmunicipais,estaduaiseentidadesdasociedadecivil.Os estudos contidos no livro constituiro subsdio para as discusses que estamosrealizando para apresentar na Conferncia das Naes Unidas sobre DesenvolvimentoSustentvel,aRio+20,aserrealizadaemjunhode2012,juntamentecomoMinistriodoMeioAmbienteeoMinistriodasCidades,quantoAgenda21dosetormineral.Tratandose de tema complexo, no se deve esperar consenso entre os autores dosdiversos captulos desta publicao. Nesse sentido, os autores de cada estudo so osresponsveis por suas anlises e concluses, sendo esta a orientao dada pela SGMquandoencomendouapesquisaaoCETEM.Caber SGM aproveitar esses estudos para exercer sua competncia de formular eimplementarpolticasparao aproveitamentodosbensminerais,no interessenacional,articuladascomaspolticasdogoverno,desenvolvidasporessasecretaria,oDNPMeaCPRM,nombitodoMME.Parabenizamos o CETEM por mais uma relevante contribuio ao setor mineral, acoordenaodoprojeto,napessoadoDr.FranciscoFernandes,eatodososautoresqueconcorreramparaosucessodoprojeto.

    ClaudioScliarSecretriodeGeologia,MineraoeTransformaoMineralSGM/MME

  • ndice

    1. AmineraodasgrandesminaseasdimensesdasustentabilidadeMariaAmliaEnrquez,FranciscoRegoChavesFernandeseRenatadeCarvalhoJimenezAlamino...............................................................................................................................................01

    2.MineraoepolticasdedesenvolvimentolocalparaomunicpiodeParauapebas

    noParJosRaimundoTrindade...............................................................................................................................19

    3. CanadosCarajsdoleiteaocobre:transformaesestruturaisdomunicpioaps

    aimplantaodeumagrandeminaEugniaRosaCabral,MariaAmliaEnrquezeDalvaVasconcelosdosSantos...................39

    4. OprojetoJurutiSustentvel:umapropostaalternativadedesenvolvimentoterritorial?

    EduardoJosMonteirodaCosta,EunpioDutradoCarmo,JlioCsardosSantosPatrcio,MileneCondeMausLima,RauldaRochaTavares,RodrigoDiasFernandez,SimoneFurtadoAguiareWaleryCostaReis.......................................................................................69

    5. Grandesminasdosemiridobrasileiroeodesenvolvimentolocal

    FranciscoRegoChavesFernandes,MariaHelenaM.RochaLimaeNilodaSilvaTeixeira.......................................................................................................................................97

    6.AGrandeminadeourodeCrixsemGois

    FranciscoRegoChavesFernandes,MariaHelenaMachadoRochaLimaeNilodaSilvaTeixeira........................................................................................................................................................113

    7. GrandesmineradoraseacomunidadeemNiquelndia(GO)

    JliaCeliaMercedesStrauch,KeilaValentedeSouza,CesarAjara,MoemadePoliTeixeiraeSandraCantonCardoso..........................................................................................................135

    8.MineraodefosfatoemCajati(SP)eodesenvolvimentolocal

    SolangeS.SilvaSnchezeLuisE.Snchez..........................................................................................1639.GrandesminasemCongonhas(MG),maisdomesmo?

    BrunoMilanez...................................................................................................................................................19910.OprojetoMinasRioeodesafiododesenvolvimentoterritorialintegradoesustentado:

    agrandeminaemConceiodoMatoDentro(MG)LuziaCostaBeckereDenisedeCastroPereira..........................................................229

    11.Paracatu(MG):oconflitoentreoRioBomeaminerao

    KeilaValentedeSouza,FranciscoRegoChavesFernandeseRenatadeCarvalhoJimenezAlamino..........................................................................................................................259

    12.Estudodecaso:principalpoloprodutordefosfatoenibiodopas(MG)

    CludioLcioLopesPinto,JosIldefonsoGusmoDutra,MariaJosGazziSalum,JoseFernandoGanime,MichellydosSantosOliveira.....................................................................283

  • 13.AbuscapelaresponsabilidadesocioambientalemItabira(MG)DeniseTubino,JohnF.DevlineNonitaYap........................................................................................307

    14.Gestodagua:odesafiodozincoemVazante(MG)

    SauloRodriguesFilhoeMaurcioBorattoViana.............................................................................33315.Abaciacarbonferasulcatarinenseeosimpactosepassivosdaatividadedaindstria

    extrativamineraldecarvonaterritorialidadeZuleicaC.CastilhoseFranciscoRegoChavesFernandes.............................................................361

  • Amineraodasgrandesminaseasdimensesdasustentabilidade

    MariaAmliaEnrquez1FranciscoRegoChavesFernandes2RenatadeCarvalhoJimenezAlamino3

    Amineraosozinhanosustentvel,elanoinovadora,masumaformapossveldeelasersustentvelagregarvaloremsuacomunidade.ChrisMoran(Seminrio

    MineraoeSustentabilidadenoQuadrilteroFerrfero.OuroPreto.julhode2010)

    1. AntecedentesNo Brasil, a minerao faz parte da ocupao territorial e da histria do pas e, maisrecentemente, apartirdosanos1960, foi umdos setores econmicos escolhidos comoestratgicoseumadasprincipaisalavancasparadinamizarocrescimentonacional,masembasesnosustentveis.Osseusefeitosperdurameumamplotrabalhonecessrio,com base nos conceitos e diretrizes da sustentabilidade definidos na Agenda 21 eampliados em vrias conferncias e acordos que se sucederam para reconhecer eenfrentarasexternalidadesgeradaspelaatividadedeminerao.Osdiferentescenriosparaosetormineral(FRUMECONMICOGLOBAL,2010;PLANONACIONAL DE MINERAO, 2011) indicam que a demanda global por bens mineraisainda permanecer bastante aquecida, tendo em conta a dinmica de crescimentopopulacional,comaprevisodealcanarnovebilhesem2050,segundoaOrganizaodas Naes Unidas (ONU). Mais do que isso, devido a incluso de bens minerais nomercado consumidor, milhes de pessoas historicamente margem da expectativa degalgar um padro que se aproximasse ao dos pases hoje desenvolvidos, com grandedestaque para a China, mas sem menosprezar a importncia dos demais pases queformamasiglaBRICS(Brasil,Rssia.ndia,ChinaefricadoSulSouthAfricaemingls).Garantiasdequeaatividadenocomprometaaintegridadeambientaltemsidocadavezmais indispensvel ao funcionamento das atividades econmicas extrativas minerais,tantoparaosnovosempreendimentoscomoaindaparaosquejestoemoperao.Sotambmcadavezmais intensasaspressespelaexigncia legaldeumatrplice licena:ttulominerrio,licenaambientalelicenasocial(FERNANDESetal.,2007a).No entanto, existem poucos estudos e grupos dedicados temtica da questo social,especialmentenoBrasil.OBancoMundial,em2003,promoveuumamplotrabalhocomseteestudosdecasosobreasGrandesMinaseComunidadesnaAmricaLatina(Bolvia,ChileePeru),eaindaquatroestudosnaEspanhaeCanad(BANCOMUNDIAL,2003).NoBrasil, o Centro deDesenvolvimento Sustentvel (CDS) daUniversidade deBraslia(UNB),porintermdiodasatividadesdodoutoramentodaProfa.MariaAmliaEnrquez(Universidade Federal do Par e Universidade da Amaznia) recriou e aprofundou afundamentaoterica(ENRQUEZeDRUMMOND,2005;ENRQUEZ,2006a,b;ENRQUEZ1 Doutoraemdesenvolvimentosustentvel.ProfessoraepesquisadoradaUniversidadeFederaldoPareda

    UniversidadedaAmaznia.Email:[email protected] DoutoremEngenhariaMineralpelaUSP,TecnologistaSniordoCETEM.Email:[email protected] DoutoraemGeologiapelaUFRJ,BolsistaPCI/MCTDAdoCETEM.Email:[email protected]

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    eDRUMMOND, 2007; ENRQUEZ, 2008).NoDepartamento de Engenharia deMinasdaEscolaPolitcnicadaUniversidadedeSoPaulo,oProf.Dr.LuizHenriqueSncheztemestudossobreotema, incluindoumtrabalhoprospectivoatoanode2015(SANCHZ,2007).CabeaquiressaltartambmqueoProf.CludioScliar,daUniversidadeFederaldeMinas Gerais (UFMG), produziu um documento abrangente sobre o assunto que foi "Aagenda21eosetormineral"paraoMinistriodoMeioAmbiente(MMA)(SCLIAR,2004).O Centro de Tecnologia Mineral (CETEM), rgo vinculado ao Ministrio da Cincia,TecnologiaeInovao(MCTI),iniciouestudossobreasquestessociaisdamineraonoanode2001,quandopublicouolivro"MineraoeDesenvolvimentoSustentvel:desafiosparaoBrasil"(BARRETO,2001).Esseestudodeuorigematrabalhossobreosimpactosda arrecadao da Compensao Financeira pela Explorao de Recursos Minerais(CFEM)nosmunicpiosdoestadodoPardeautoriadapesquisadoraDra.MariaHelenaRocha Lima (LIMA, 2001) e, para vrios estados do Brasil (LIMA e TEIXEIRA, 2006).Desde ento, iniciouse no CETEM uma linha de pesquisa sobre as questes daresponsabilidade socioambiental na indstria extrativamineral. Forampublicados doislivros,oprimeirosobreasquestesconceituaisdasgrandesminasversusascondiesdedesenvolvimento humano, socioeconmicas e ambientais das comunidades onde selocalizam e, o segundo, sobre o estudo da Grande Mina de ouro de Crixs, em Gois.Continuada, com um segundo estudo de caso sobre a minerao no semirido(FERNANDES,LIMAeTEIXEIRA,2007a,2007be2009).Nesse sentido, este trabalho inserese no mbito do projeto de pesquisa intituladoGrandesMinaseAPLsdeBaseMineralxComunidadeLocal,patrocinadopelaSecretariade Geologia e Minerao do Ministrio das Minas e Energia (SGM/MME) e peloCETEM/MCTI, com a participao ativa de pesquisadores pertencentes a diferentesinstituiesdepesquisaeauniversidadesaolongodoterritrionacional.Oprojetorelataestudosdecasosdegrandesminasearranjosprodutivoslocais(APLs)debasemineralesuainfluncianosmunicpiosecomunidadeslocais.ApartirdoworkshoprealizadonasinstalaesdoCETEM/RJ,nosdias2930dejulhode2010,ficoudefinidaametodologiadotrabalho,bemcomoadivisode21estudosdecasos(14grandesminase7 APLs Arranjos Produtivos Locais) em uma rede de mais de uma meia centena deprofessores e pesquisadores de Universidades e Institutos de Pesquisa de todas asregiesdoBrasil.

    2. AsmltiplasdimensesdadinmicamineralnocontextodoterritrioA partir dos 14 estudos de casos, com o foco nas grandes minas apresentados nestacoletnea, foipossvel identificar,pelomenos,dezdimenses(Fig.1)queconfiguramainterfacemineraoedesenvolvimento.Omenorouomaiorpesodecadadimensocontextual,todavia,osestudosevidenciamque, se no passado recente apenas a viabilidade econmica e tecnolgica ofereciagarantiasparaofuncionamentodeumempreendimentomineral.NosculoXXIissonomaisaceitveleamineraonecessitadarcontadasmltiplasdimensesquepermeiamsuarelaocomasociedadeparaqueseavancenatrilhadasustentabilidade.Assim, a busca da sustentabilidade requer que tais dimenses sejam amplamentecompreendidasa fimdequeefetivamentese incorporem, tantoparaoestabelecimentodepolticaspblicas,quantoparaadefiniodeestratgiasempresariaisvoltadasparaagestodeterritriosegerenciamentosocioambientaldeempreendimentosmineradores.

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    Fonte:Elaboraoprpria.Fig.1:Dimensesdainterfacemineraoedesenvolvimento

    2.1 Dimensosocial

    Referese aos vnculos de confiana, de coeso social, de participao e decompartilhamentodeprojetosquesoconstrudosapartirdarelaoqueseestabeleceentre o empreendimentomineiro e a sociedade comoum todo, inclusive, como poderpblico. A costura dessa relao apontada como de fundamental importncia para oestabelecimento de estratgias construtivas em prol da sustentabilidade social emterritriosmineradores.Almdisso,asustentabilidadesocialrequergarantiasdeavanonas condies de sade, educao, segurana pblica e demais direitos sociaisfundamentais.Todavia, essa dimenso da sustentabilidade reiteradamente negligenciada na maiorpartedoscasos,comoficabemexplcitopelaricaexperinciarelatadapelosestudos.OexemplodeConceiodoMatoDentro(MG)bemilustrativo,revelandoaexistnciadetensosocialprovocadapor:negligncia de construo de uma base social propcia ao estabelecimento de relaessinrgicasentreagentesdoestadoemembrosdasociedadecivil: deficinciadasaesdecomunicaosocialporpartedaempresa; violaodedireitoshumanos; desarticulao das comunidades atingidas ligada s negociaes individuais e no

    coletivas;

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    baixacoesosocialligadaaoprocessoinicialdeaquisiodeterras; sensaodeinseguranaligadafragmentaodoprocessodelicenciamentoquese

    arrastahanos; oquegerouumsentimentode impotnciados citadinos, vistoquetornou o empreendimento minerrio inegocivel. Alm de marginalizao dosatingidos, ligada falsa culpa impetrada por terceiros, pelo atraso do processo delicenciamentodoempreendimento.

    O estudo conclui que projetos encaminhados dessa forma se revelam catalisadores deconflitos e situaes de injustia socioambiental, nas quais pequenos grupos deempresrios auferem fabulosos benefcios, enquanto as populaes mais vulnerveissofremcomosimpactosnegativosdasexternalidadesdoempreendimentoeconmico.Informao semelhante mencionada no estudo de Congonhas (MG), onde o bairroPlataforma, localizado nas proximidades onde se carregam os trens comminrio, vempassando por um longo processo de conflito com a empresa que envolve poluioatmosfrica,poluiosonoraedisputaporterritrio,quelevariaremoodecercade300 famlias. E ainda em Cana dos Carajs (PA), onde moradores das comunidadeslocalizadasnoentornodoProjetoSossegomanifestamsuaspreocupaes.Descrevemumcenrio dantesco em que as vibraes e os rudos causados pela extrao de cobreatingema todos:pessoaseanimais, semqueaempresaeopoderpblico local tomemmedidas para a resoluo desse problema. Moradores de comunidades vizinhas aoProjeto Sossego dizem que por causa do forte rudo provocado pelasmquinas e pelaexplosodedinamitenamina: jperderamsuascasas,poisestassofreramrachaduras;partedogadomorreuestressado;vacasabortamounoestoprocriandocomooutroraeasgalinhasdeixaramdebotarovos.Outrocasomuitotpicodedesestruturaosocialocorrenafasedeaquisiodasterraseremanejamento das populaes diretamente afetadas pelo projeto mineral. O caso deParacatubemilustrativo:

    [...]AnovabarragemderejeitosdamineradoracanadenseKinrossocupaumvalequeoriginalmente pertencia comunidade quilombolaMachadinho. Os descendentes dosescravosvenderamsuasterrasmineradoraesemudaramparaaperiferiadacidadeonde ocupam subempregos. A comunidade do Machadinho deixou de existir porquedecidiuvendersuasterras,segundorelatosdeexintegrantes.Porm,aindasegundoosintegrantes do extinto quilombo, a comunidade se arrependeu, pois quem conseguiureceberdinheiropelas terrasnoconseguiucomprarcasasnaperiferiadacidadeporcausadoaltopreo.Tambmhdenunciasdegrilagensdas terrasdacomunidadedoMachadinho(MARTINS,2010).

    Opoucocasocomosocialserefletenafaltadeumacomunicaoadequada.NoscasosdeAraxeTapira(MG),porexemplo,causasurpresaafaltadeinformaesbsicassobreaprincipalatividadedeseusmunicpios.Moradoreslocaisentrevistadossobreoquemaisgostariam de saber da minerao, responderam: como ela degrada ou cuida do meioambiente(62%);quantoeladeixaderecursosfinanceirosnomunicpio(58%);quaisasbenfeitorias em geral que ela deixa nomunicpio (51%); como so os seus processos(47%);quantoelafatura(44%);paraondevaiominrio(42%)equalotipodeminrioextrado(38%).O caso de Itabira (MG) revelador de como as assimetrias de informaes criamdificuldades de a sociedade local acompanhar, por exemplo, o cumprimento decondicionantesambientais.

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    Paraasempresasotratocomosocialaindaumgrandedesafio, jquehistoricamenteelas no foram orientadas para isso. Todavia, o imperativo da sustentabilidade requeruma nova postura face s questes sociais. PascoFont et al. (2003) estabelecem trstipologias de atuao da empresa em relao comunidade: assistencialista,produtivaededesenvolvimentosustentvel(Fernandesetal.,2007a).Oqueseobservapeloscasosapresentadosqueasempresasaindaatuammuitomaisematividadesassistencialistas(doaesparaclubesesportivos,reformasdehospitais,deigrejas,depraas,etc.),compensatrias(impostaspelosrequisitosdolicenciamentoambiental),oumotivadaspelaexpectativadereceberalgumtipodeincentivo(LeiRouanet,deduodeparcelado lucro realdevidono ImpostodeRenda),doqueemumprojetoefetivo de fortalecimento social que, de fato, contribua para a reduo das assimetriasentreagrandeminaeaspopulaes locais.A lgicadasempresasaindanoabsorveocapitalsocial,olucrosocial,enquantoumativoimportante.Fernandes,LimaeTeixeira(2007a)relatamqueemCrixsaatuaodaempresaseresumiaemaplicaroquealei lhefaculta,deduzir1%doseulucroreal.Acrescentamqueumaefetivaatuaosocialresponsvelrequeraresponsabilidadedaempresaemanteciparecomunicarsautoridadesproblemasambientais,estabelecervnculoscomasuniversidadescomvistasaodesenvolvimentodetrabalhosacadmicos,estudosdeimpactoambiental, clean technology que contribuam para o avano cientfico e convnio comagnciaspblicasparaorastreamentoambientaldecontaminantesdefluxos(porexemplo,naguaear),taiscomometaispesadosesubstnciastxicas,porexemplo,arsnioeocianetoqueestodiretamenterelacionadoscomaextraoeametalurgiadoouro,comefeitosdiretosnamortalidadeenamorbidade.Taisaespassamtambmporcapacitao,elevaodonveldeentendimentodascomunidadessobreoempreendimento,oquerequercanaisadequadosdeparticipao,detransparnciaedecontrolesocial.Importante ressaltarque apercepoda sociedadequanto mineraopositiva e seexpressa pelas melhorias econmicas gerao de empregos indiretos, circulao derenda,etc.Noentanto,elanodeixadesercrtica.OcasodeCajati(SP)apresentaapercepo da sociedade sobre aminerao e oferece importantes sugestes para tornar amineraomaissustentvel.

    74%estsatisfeitacomamina,masseressentedafaltadecomunicao[...]pesquisacom as lideranas revelou um desejo e uma expectativa de mudana em relao atuaodaempresa,enfatizandoanecessidadedeaempresa:(i)adotarumaposturamaisparticipativa; (ii)estabelecerum canalde comunicao comacomunidade; (iii)desenvolverprogramas socioambientais; (iv)desenvolverparceriascomaprefeituraeorganizaesdasociedadecivil(SNCHEZ,2006).

    Porfim,valeapenadestacaropapeldasorganizaesdasociedadenabuscaeconquistadeavanossociaisapartirdaminerao.AexperinciadeCajatitambmbemrica:

    Asentrevistasconduzidasduranteestapesquisaconstataramumoutropontonegativona imagemdaempresa:aelaseatribui investirmuitomaisemprogramassociaisemArax,MinasGerais, onde opera outramina e complexo industrial, que em Cajati. interessantenotarqueasrazesapontadaspelosentrevistadosquepoderiamexplicaressecomportamentodualdaempresaconvergemparaoreconhecimentodopapeldasorganizaesda sociedadeciviledopoderpblicodacidademineira,pressionandoaempresa.Assim,umentrevistadoserefereaofatodequeaprefeituradaquelemunicpioesfolouaempresaquandoestasolicitouuma licenaambientalestadual.Comefeito,noinciodosanosde1990,aempresatevenegadaalicenaprviaparaumaunidadede

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    produodecidosulfricoealicenaparaexpansodaminatevecondicionantesquemodificaram o projeto tcnico, impedindo a extrao de todo ominrio (SNCHEZ,2006).

    2.2 Dimensocultural

    Referemse s crenas, tradies, valores, manifestaes artsticas e modo de vida dapopulao local. No raras vezes a implantao de uma grande mina provocadescaracterizaes e rupturas irreversveis nessa dimenso. Esse aspecto tem sidorevelado em distintos relatos de moradores de comunidades impactadas por grandesempreendimentosmineiros.O caso de Paracatu bem ilustrativo de como aminerao temo poder de desestruturarculturas:

    [...]oMinistrioPblicoFederal (MPF) sustentaqueasprticasdamineradoraaindacausamdiversosdanospatrimoniais emoraiss famlias quilombolas quehabitamaregio por meio da simples expulso das famlias ou por desagregao de suasidentidades culturais. As obras de expanso da mineradora atingem as terras dosquilombolasMachadinho,AmaroseSoDomingos.

    Termos como patrimnio imaterial e atingido simbolicamente, embora ainda nosejamconceitosincorporadosaosestudosdeimpactosambientais,tornaevidentequeamudanaestruturaldeumlugar,impulsionadaporumnovoeimpactantevetordemodificao territorial, implica, para diversos grupos de interesse na e fora da cidade, emperda de identidade no planejamento do espao habitacional e da vida futura destes. Nesse sentido importantequenoprocessode implantaodeumaatividademineradora,aatenodadimensoculturalsejalevadaemconsiderao.

    2.3 Dimensoinstitucional

    Diz respeito s organizaes pblicas e privadas que moldam a sociedade e aoestabelecimentodasregrasdojogodeformaexplcitaetransparente,afimdefacilitaroprocesso de implantao, controle e acompanhamento daminerao em todas as suasfases, no apenas pelo rgo responsvel e instncias pertinentes,mas pela sociedadecomoumtodo.Deficinciasnesseaspectoresultameminseguranaejudicializaesemtodasasesferas,almdeumcampopropcioparaprticasdecapturasderendasedemaisbenefciosporgrupos isolados, que se aproveitam do vcuo institucional, geralmente para obtervantagenspessoais.Chamaaateno,emmuitosdoscasosrelatados,aimportnciaqueacomunidadedaopoder pblico, enquanto ente responsvel por definir essas regras do jogo de formaclara,transparenteefacilmentemonitorvel.Comoporexemplo,ocasodeVazante(MG),emqueasociedadereconheceamplamentequeopoderpblicoaquemcabeapontaralternativasaomunicpio,almdeampliarabasedeconhecimentodosbenefcioseconmicosqueamineraogeracomoocorrecomaCFEM.OcasodeParacatu(MG)revelaisso:

    [...]aCFEMdespertadvidasquantoexatidodeseuclculo.Oprefeito,nomomentodavisita,mostrouofciosdequehmaisdeumano solicitava fiscalizaoevindaderepresentantedoDNPMaomunicpioe issoaindano tinhaacontecido.Almdisso,a

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    presenadeoutrasempresasdentrodamina,comoumaempresaderejeitosqueoperapermanentemente na mina, transportandoos da barragem para as galeriassubterrneaseoutras,podeconfigurarodescontoindevidodetransporteinternoquejtevedecisodoSuperiorTribunaldeJustia(STJ)quantosuailegitimidade.

    Outros casos dizem respeito aos condicionantes ambientais para a obteno dolicenciamento das grandes minas; na ausncia de mecanismos institucionais para ocontroleemonitoraooefetivocumprimentoficacomprometido,comoemItabira:

    [...]agrandequantidadedecondicionanteseafaltadegovernanasobrealgunsrgosesituaesimpedemocumprimentodasmesmasnoprazoestipuladoemParecernico.Ressalta a participao do Ministrio Pblico nas negociaes com a comunidadeatingidaepresentenareunio.

    O caso de Juruti (PA) revelador de como a sociedade se ressente da fraquezainstitucionaldoEstado,emespecialopoderpblicomunicipaleestadual,emrelaoaoexerccioplenodesuasfunesdemediaoeregulaoderelaessociaiseaefetivaodepolticaspblicascapazesdeabsorverecapitalizaraoportunidadecriadacomonovoempreendimento,poisessafoiaprincipalpreocupaoqueemergiudasentrevistas.No caso de Cataji (SP) o fraco vnculo que se constituiu entre empresa, comunidade epoderpblico ao longo dos anos de existncia daminerao e o fraco desempenhodagovernanalocalestoassociadassinadequadasestruturasdegovernanaqueassegureadistribuiojustadosbenefciosdaminerao.

    2.4 Dimensoecolgica

    A integridade dos biomas, das bacias hidrogrficas e dos ecossistemas, de forma geral,que garanta a continuidade da base sobre a qual a economia repousa um dos prrequisitosessenciaisparaasustentabilidade.Semecossistemas ntegrosdificilmentesepode pensar em desenvolvimento sustentvel, uma vez que sem gua limpa no hproduoagrcola,nempesqueira, emsolos contaminadosnobrotavidae a sadedapopulaoficaprejudicada,oarpoludoinviabilizaqualquertipodeatividadeprodutiva,em biomas degradados a biodiversidade se empobrece, o que compromete o plenofornecimentodosserviosecossistmicos.Assim,umdosgrandesdesafiosdamineraonopresentedeixarumlegadoecolgicopositivotantoparaasgeraesatuaisquantoparaasfuturas.Snchez(apudFARIAS,2002,p.12)observa,emseusestudos,uma tendnciaporpartedas empresas mineradoras de considerarem os impactos ambientais causados pelamineraosomentesobas formasdepoluio (poluiodoaredasguas,vibraeserudos) que so as regulamentadas pelo poder pblico. Tratase de uma perspectivareducionista do impacto e que, segundo esse autor, seria necessrio ainda que: oempreendedorinformesesobreasexpectativas,anseiosepreocupaesdacomunidade,dogovernonostrsnveisdocorpotcnicoedosfuncionriosdasempresas, isto,daspartesenvolvidasenosdaquelasdoacionistaprincipal.Mas at nos impactos regulamentados, em praticamente todos os casos analisados, hrelatos das comunidadesde que aminerao gera externalidades que comprometemaqualidade das guas Paracatu (MG), Cana (PA), Vazante (MG), Conceio do MatoDentro (MG), Itabira (MG), Cajati (SP), minerao do carvo (SC) e outros do ar Congonhas (MG),Arax (MG). Itabira (MG) edos solos Paracatu (MG), Crixs (GO),Cana(PA),conflitandocomatividadespesqueiras,agrcolas,pecurias,tursticas,etc.

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    EmParacatu:[...]UmdosmotivosdoconflitoamaiorutilizaodaguadorioParacatu,almdouso de outras fontes dgua como o crregoMachadinho que represado na novabarragemdaempresa.AminaMorrodoOurorepresaguadoscursosnaturaisdareaemqueselocalizaetambmcaptadistnciaumgrandevolumedeguaemcrregosdabaciadorioSoFranciscoparaoprocessodeconcentraodoouroNocrregoSoPedroamineraocapta0,4m/s,sendoestecrregotambmutilizadoporirrigantesda regio. Essa captao equivale quase duas vezes a capacidade de distribuio daCompanhiadeSaneamentodeMinasGerais(COPASA)paraacidade(0,21m/s).

    ConflitosdeusodeguaeoutrasatividadesprodutivastambmsoilustradosnocasodeVazante:

    [...]IssoacabouporpoluirorioSantaCatarinaegerarintensosprotestosporpartedascomunidadesruraisribeirinhasexistentesajusantedaempresa,almdosvizinhosmaisprximosmineraoafetadospelorebaixamentodolenolfretico.Tambmnosanosde1999e2000,observousepelomenosumcasodemortandadedepeixesnessecursodgua a jusante da empresa, que acabou sendo a ela atribuda pelos moradoresatingidos.

    Esses danos so provocados por emisses de lquidos contaminados, detonao deexplosivos,emissoderudoseinterrupodeestradasquepodemcausardestruiodavegetao,alteraodapaisagemlocaleperturbaodoecossistema,acarretandobaixaqualidadedevidahumana.EmAraxrelatamseeventosdedegradaoambiental,comooquecontaminouaguaeoarcomflor,devidofalhatcnicaoperacionaldosfiltrosdaempresadefertilizantesinstaladanolocal.Portanto,atividadesdemonitoramentosoindispensveis.A intensidade dessas externalidades tantomaior a depender do tipo demina (a cuaberto,subterrneaoumista),dotipodeminrio(osmetlicosrequeremconcentraoe,em regra, so mais impactantes), tipo de ecossistemas na qual est abrigada (secompromete as guas superficiais, subterrneas, etc.). Importante ressaltar que amineraotambmtemapossibilidadedeafetarpositivamenteadimensoecolgicaaoestabelecerreasespecialmentereservadasemseusentornos,paraalmdoqueexigidopelomarcolegal.OcasodeVazante(MG)ilustrabemisso:

    [...]aVMZpossuicercade400hadereservalegaljaverbada,eaindaoutros150hapor averbar. Sua Reserva Particular do Patrimnio Natural (RPPN), denominadaFazendaCarneiro, com484ha e localizadanomunicpio vizinhodeLagamar, j templanodemanejo,queseencontraemfasedeimplantao.Aempresatambmdispedebrigada de emergncia ambiental (principalmente para transporte de produtosperigosos)ebrigadadeincndio,almdeguardamontada.

    Deformageral,percebeseumacanhamentonadivulgaodasinformaesporpartedasempresas que, em grande medida, mesmo quando ocorre no alcana a maioria dapopulao,especialmenteaquelasquemaisprecisam.Almdisso,constatasequefaltaempresa melhor divulgar as medidas que adota para minimizar os impactossocioambientaisnegativosqueaatividadeextrativageranoterritrioemquedesenvolveasuaatividade.

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    2.5 Dimensoeconmica

    Quando uma cidade abriga uma grande mina a dimenso econmica a que mais sedestaca. a mais objetiva e se reflete diretamente na dinmica do comrcio local, naarrecadaodeimpostosecompensaes,nasrendasquecirculamnaeconomia,nocustodevidaenobemestareconmicogeraldapopulao.Issofoiverificadoempraticamenteatotalidadedoscasosanalisados.NocasodeConceiodoMatoDentro(MG):

    [...] a dinamizao econmica um fator positivo evidente e reconhecido por umnmeroexpressivodepessoasespecialmenteaquelasqueestoauferindolucrosdela,atravs dos meios de hospedagem, restaurantes, bares, postos de gasolina, o setorimobilirioeocomrcioemgeral.

    Amassasalarialoutravarivelmuitorelevante,comonocasodeCrixs(GO)emque42%foramrelativasaosempregosdaminerao.Noentanto,seoeconmicoumimpactopositivodaminerao reconhecidoporumaparcela expressivada sociedade, fica tambmexplcito que a conquista da sustentabilidade requer bemmais do que a elevao do PIBmunicipal, jqueos impactoseconmicosnegativosassociadossotambmconsiderveis,comoocasodainflaodospreosdebenseservioslocaiseaumentodocustodevidaemgeral.

    [...]apesquisadecamporevelaque,embora78%dosentrevistadosconsideremqueocomrciolocalestmaisdinmico,67%percebemaumentonospreosdasmercadoriase 74% no valor dos servios, configurando um segundo grupo de impactos maisdestacados.Osentrevistadosdestacaramainda,emsuaquasetotalidade,oaumentodovalor dos aluguis (94%) e dos preos de terras e imveis (95%), constituindo,certamente, nos impactos mais explicitados na pesquisa de campo realizada,especialmentenosbairrosmaiscentrais.

    AindaemNiquelndiaaimportnciadasduasgrandesminasquenelaselocalizampodeserobservadapelaquantidadedeprestadoresdeserviosexistentesnacidade.O mesmo caso descrito pelo municpio de Cataji (SP), no Vale do Ribeira, uma dasregies mais pobres do estado de So Paulo, em que fica explcito que os supostosbenefcios da minerao, expresso pelo pleno emprego dos fatores, e que poderemosdenominardeefeitomsoigualmentefontesdeproblemas,taiscomoinflaoaltadocustodevida.Assim,quemnoabsorvidonaminatemquesemudarparaoutracidade,oquegeraoquedenominamosefeitoexpulso.Os efeitos m e expulso explicam, em boa medida, porque as cidades nomineradoras dos entornos das cidades que abrigam grandes minas tm indicadoreseconmicos e sociais piores, como tambm foram perceptveis no caso de Cana doCarajseParauapebas,ambosnoPar.Quanto dimenso econmica no caso das cidades monoindustriais h a necessidadepremente de se promover a diversificao econmica a fim de minimizar o risco dedependncia de uma nica fonte de renda que , por sua natureza, no permanente evoltil. Nesse sentido, as receitas pblicas provenientes daminerao, em particular aCFEM,nodeveriamserusadascomoumareceitaoramentriacomum,massimemumaestratgia que possibilite a ponte entre a gerao presente e futura, visando amanutenoeaelevaodonveldebemestargeraldasociedade.Mastalnoparecetersucessoemalgunscasos,comoemNiquelndia,ondeosautoresdoestudo concluem que o investimento em capital humano patrocinado pelas empresas

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    mineradoras no tem sido acompanhado por alteraes significativas no quadro domercadodetrabalho.O caso de Parauapebas (PA) deixa explcita a forte preocupao com as condies quepermitamgarantiratransioparaumaeconomiamenosdependentedosetormineral.Todavia,ressaltaaslimitaesdosmarcoslegaisparaacapturaeobomusodasrendasminerais, mostrando que o atual regramento tributrio bem mais conveniente empresaexportadoradoqueaosentesfederativossubnacionais.Diagnosticaseaindaaurgnciadoplanejamentododesenvolvimentolocale,tambm,damicrorregio,pressupondoonecessriousodaschamadasrendasmineraisapropriadaslocalmente(aCFEMaprincipaldelas)comocomponentebsicaparaconformaodeumplanodedesenvolvimentolocalestratgico.

    2.6 Dimensopoltica

    Referese ao entendimento e pactuao entre os diferentes grupos para empreenderaesnecessriasparaobomtratodacoisapblica.Naausnciadessesprrequisitos,diversas diretrizes que requerem acordos, acompanhamentos, firmeza de direo, etc.ficamfragilizadas.Importanteressaltarqueosagentespblicosdoestadoprecisamiralmdeapenasconferirocumprimentodecondicionantesdeformaticaeresponsvel.Paraqueaimplantaodeumempreendimentominerriopasseatermenosimpactosnegativosemaisimpactospositivospara as comunidades do entorno da mina, indispensvel que o estado assuma ogerenciamentopolticododesenvolvimento,nosentidodeasseguraragarantiadosdireitoshumanoseamanutenodadignidadedavidadascomunidadesatingidas.O dilogo franco para uma real busca de resoluo dos conflitos parece ser o melhorcaminhoparaalicerarumarelaoconstrutivaedeconfianaentreacomunidadelocaleaminerao,emproldodesenvolvimentolocal.Todavia,osgruposdeinteresseexercempapiseinflunciasdiferenciadas.OcasodeItabira(MG)mostraissoclaramentequandoanalisaosdiferentesatores:poderpublicolocal,estadual,sociedadecivil,etc.ressaltandoque,pelopesodogoverno,oprocessoeleitoralpassaasermuitodeterminante.NocasodeItabira(MG)foimesmodecisivo:

    Aeleio,portanto,muitoimportante,poismostraoafastamentodaregulamentaodoestadocomopartedeumamudanaideolgicaquandooprefeitorecmeleitotomouposseemostrouquemantinhaumaideologiatotalmentediferentedaquelaseguidapeloantigoprefeito.Oresultadodaseleieslevoumudananapressodosinteressados,oque tambm explicou a menor preocupao da empresa com a observncia dascondicionantesdaLOC.

    Isso coloca a questo de como perenizar as conquistas sociais que vo alm de ummandatopolticoconsiderandoqueaempresareagenamedidadapressodosagentes.

    2.7 Dimensoterritorial

    Adimenso territorial destacadaempraticamente todosos estudos.O casode Juruti(PA) questiona se a atividade mineral um efetivo instrumento de desenvolvimentoregionalouapenasgeradoradeenclaves.Seadisponibilidadederecursosnaturaisemdeterminada regio pode se constituir em vetor de desenvolvimento ou pode levar aregio a incorrer no que usualmente conhecida na literatura como a maldio dos

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    recursos naturais. E constata a limitao que tem a principal referncia terica EconomiadoDesenvolvimentoparaentenderadinmicadedesenvolvimentoregionalinduzidapelasatividadesminerais,umavezquepercebearegiocomoalgoinerte,ummeroreceptculo,umaestruturadesprovidadesujeito.Ressaltandoquenaatualidadeoconceitoderegiosubstitudopelodeterritrio(umaconstruosociopoltica),eoterritrio,antesdequalquercoisa,importa.A dimenso territorial diz respeito ao uso e ocupao do espao, e est atrelado regncia sobre a governana territorial ou gesto do territrio. Tem a ver com osnveisdepodersobreoterritrioeaoacirramentodacompetioporusosalternativos.NaregiodoQuadrilteroFerrfero,porexemplo,observasegrandepotencialdeconflitoentreaatividademineradoraeasoutrasterritorialidades.IssoficabastanteexplcitocomocasodeConceiodoMatoDentro(MT).ComareaconsideradareservadabiosferadaSerradoEspinhao(RBSE).

    [...] A RBSE tornouse referncia no pas e criou expectativas para a populaoresidente.[...]ApesardeaatividademinerriatrazeropotencialdealocarrecursosparainvestimentonaconsolidaoeampliaodasreasncleosdaRBSE,elacriatenseseconflitos com as comunidades que vivem das atividades econmicas ligadas ao usotradicionaldoterritrio.

    Oconflito comoutrasatividades tursticas, reasagrcolas, reasdequilombolas, reasespecialmente protegidas para fins de preservao, entre outros, muito relatado emvriosdoscaptuloslevaaoseguintequestionamento:serqueaatividademineraldeveprevalecer frente a outros usos e ocupaes do territrio? Como conciliar a atividademineral com essas outras formas de ocupao de maneira construtiva e que, de fatocontribuaparaasustentabilidade?OcasoJuruti(PA)exemplificaacomplexidadesubjacenteaessaquesto:

    [...]osindicadoresmencionadosapenasconfirmamduasperversasconstataessobreomodelo econmico experimentado h dcadas no espao amaznico, em especial, noterritrioparaense,comreflexosdiretosnatessiturasocialeambiental.Aprimeira,queasmltiplas experincias estabelecidas por obra exclusiva do apoio e financiamentoirrestrito do estado brasileiro, a partir do pensamento integracionista do espaoamaznicoaorestantedopas,emumaclara ideiadeocupaodosespaosvaziosnaAmazniapormeioda introduodemodeloseconmicosque,de longerespeitaramanatureza da regio. A segunda, que a lgica da relao empresa e territriopromoveram exclusivamente a dimenso da ocupao induzida pormeio de polticaspblicas em que o estado se tornou o grande provedor dessa ao de ordenamentoespacial.Decertoque,aaodoestadoedaempresaemambososcasosnorefletiuouserevelouimportanteparasolucionarasquestessociaiseambientaisdadimensodoterritrioquesetornariamobjetodasgrandesdiscussessobreaocupaodaregio.

    2.8 Dimensotecnolgica

    Aminerao consideradaumaatividadede significativo impactoambiental e existemnormas legais que obrigam os mineradores a utilizar tecnologias mais limpas deproduo e a recuperar as reas degradadas, como a Constituio de 1988 e diversasresoluesdoConselhoNacionaldeMeioAmbiente(porexemplo,asresoluesCONAMAn001/1986en009/1990).

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    Existeumprocessode tomadadeconscinciadequeopadrotecnolgicovigenteestem fase de esgotamento, j que foi gestado para um mundo vazio, nos dizeres deHermanDaly(ENRQUEZ,2010).O avano do conhecimento cientfico sobre o territrio requer uma tecnologia quepossibiliteoacessoaosmineraisdeformaeficienteequegereomenorimpactopossvel.OprocessoBayer, por exemplo, criado amais de um sculo, totalmente incompatvelcomomundocheiodehoje,pelaquantidadederesduostxicosquegera.Asociedadeno mais suporta tecnologias poluentes e ineficientes. Alm disso, as tecnologiasminerais,emsuagrandemaioria,criadaspelospasescentraisqueapresentamcondiesde solo, clima e cultura completamente distintos, foram transplantadas sem que setivesse a devida ateno em adaptlas e modernizlas ao contexto local, da apermanncia de grandes lacunas em termos de conhecimento cientfico e de avanotecnolgico:

    SegundoFigueiredo,BorbaeAnglica(2006),emParacatu,umdosdistritosaurferosdogreenstonebelt,identificadaumadasfontespontuaisdepoluiodearsnio,ondeso lavradosminriosaurferos, ricos emarsenopirita,no existindoainda quaisquerestudos sobreasconsequnciasdamovimentaodestes tiposdeminriosnareadeinflunciadaminerao.AindaconformeFurtado(2008),abarragempossuirejeitosdearsnio depositado a cu aberto e alegase que a expanso prejudicar a sade dapopulao e omeio ambiente devido tambm aos riscos de contaminao dos rios,inalaodepoeiraearsnio.

    Fernandes,LimaeTeixeira,2009bressaltamasdeficinciasdeestudosedetecnologiasmais adequadas para a realidade especfica do Brasil, no caso de Crixs (GO), porexemplo:

    Noexistemquaisquerestudos sobreasconsequnciasdamovimentaodestes tiposdeminrios,ricosemarsnio,nareadeinflunciadamineraodeCrixs,sejanagua(aquferosecaptaesparaconsumohumano)ounosalimentosconsumidoscomocarneehortigranjeirosTambmho cianetoque se fazpresentenoprocessodebeneficiamentoequenuncafoimonitoradoindependentemente(FIGUEIREDOetal.,2006).

    Ocaptuloqueabordaaexplorao intensivado carvoemSantaCatarinanosltimosquarenta anos, ressalta a imensa extenso e profundidade dos danos ambientais destaatividade.Destacaqueapenasnosltimosanosforamrealizadosdiferentesestudoscujosresultados indicamquedistintas tecnologiasdevemser conjugadaspara a reduodosteoresdos principais contaminantes presentes nos solos e guas da regio carbonferaSulCatarinense.AindaoMinistrioPblico e a justia j sepronunciarame colocaramprazos nas exigncias da obrigatoriedade de reparar o meio ambiente altamentedegradado, mas nada significativo foi realizado. No texto se questiona se seria amineraodecarvoviveleconomicamente,sobaticadodesenvolvimentosustentvel,se os custos socioambientais lhe fossem imputados. Questiona, tambm, a defesa daproduo atual de carvo sem a incorporao das reas degradadas, aceitando adepreciao do capital natural das guas cidas, no incorporando nos custos da suaproduoenopreofinalpeloqualocarvovendido.NocaptulodeAraxsepropeassociaramineraoderochasfosfticaseaproduodefertilizantes a tecnologias mais limpas, com foco na minimizao dos impactosambientais, o que seria a soluo mais adequada para garantir que a sociedade sebeneficiedassuasvantagenscomoprodutomineralcomincorporaoambiental.

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    2.9 Dimensoglobal

    Umapalestrarealizadaemagostode2011porumdiretordoDepartamentoNacionaldaProduo Mineral (DNPM) dnos conta de informao relevante sobre a indstriaextrativamineraldoBrasil(PINHEIRO,2011):

    OsrecursosmineraisdoBrasilsoexpressivos,estoentreascincomaioreseconomiasmineraisdomundo,eabrangemumaproduode72diferentessubstnciasminerais,dasquais23sometlicas,45nometlicase4energticas.

    AproduomineralbrasileiraporserumbemdaUnioexigelicenaprviamineraldoDNPMe,porserdegrandeimpacto,licenaambientaldoMinistriodoMeioAmbiente(MMA)temcomoorigem3.354minasdasquaisapenas5%dototal(159minas)sodegrandeporte,commaisde1milhodet/anodeROMrunofmine);24%(837minas)sodemdioporte,naescalaentre1milhodet/anoe100.000t/anoROM;e,agrandemaioria(2.358minascorrespondentea71%dototal)depequenoporte,comteormenorde100.000t/anoROM.Quantoaclassemineraldasminasdepequenoporte,amaioria(2.275minas)denometlicoseapenas65minassodemineraismetlicos.

    Em2010oPIBdaIndstriaExtrativaMineral(IEM)foideR$80bilhes;71%daproduo sodemineraismetlicosemqueominriode ferro representa53%.A IEMemprega855.480empregados,sendo211.216naIEMe644.264naIndstriadaTransformaoMineral(ITM).

    Cercade80%daproduomineralbrasileiradestinadaaomercadoexterno.Exportase70,5bilhesdedlarese importase51,0milhes,registrandoem2010orelevantesaldode19,5bilhes.Asexportaesdebensprimrios(IEM)sode48,5bilhes,destinadasemprimeirolugarparaaChina(8,5bilhes)edepois,entreoutros,paraosEstadosUnidos(2,5bilhes), Japo(2,1bilhes)eReinoUnido(1,6bilho),entrecercade200pases.OBrasilo segundomaiorprodutormundialdeminriode ferro (19%do total)eoprimeiroemnibio.Asdivisasprovenientesdasexportaesdemineraisemetaisrespondemem2010por20%dovalortotaldasexportaesdoBrasil.

    Essesnmerosporsisjindicamopesoeaimportnciadosetormineralbrasileironocontextoglobaleaimportnciadosmercadosglobaisparaamineraobrasileira.Daoentendimento de que quaisquer polticas voltadas para minerao e sustentabilidadedevemlevaroglobalemconta.Almdoque,oincrementodasatividadesmineraisestintimamenteatreladosdinmicasdascomunicaes,dossistemas financeiros,dosorganismos de cooperao internacionais, dos acordos e protocolos internacionais dosquaisoBrasilsignatrio.Adicionalmente,amineraocontemporneademandabenseservioscujosuprimentodeveatenderaelevadospadrestecnolgicosquenemsemprepodemseratingidosporfornecedoreslocais.

    2.10 Dimensosistmica

    Os efeitos gerados pela atividade de minerao no so estanques, isto , no afetamapenasumadimenso, e sim, todas asdimenses socioeconmicas,ambientais,polticoinstitucionais,tecnoglobais, territriosociais,etc.,pois,umadimensoest intimamenteassociada s outras gerando efeitos em cadeia, muitas vezes inesperados, sinrgicos,cumulativos e, no por raras vezes, pertencentes ao campo das chamadas incertezas

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    crticas.Daanecessidadedoolharsistmicoestarefetivamenteincorporadospolticaspblicasecorporativas.OcasodeConceiodoMatoDentro(MG)chamaatenoparaaimportnciadeseatentarparaamaneiracomoasgrandesempresasinfluenciamocomportamentodopoderpblicoUnio,estadosemunicpiosindicandolhesformassubordinadasdegestodoterritrioque,porsuavez,estsujeitaaumalgicaglobal.AoseinstalarememumaregioperifricadoBrasil tais empresas geram conflitos advindos do contraste entre o valor de uso que ascomunidades locais e tradicionais fazem do territrio e o valor de troca que tal empresa,porventura, esteja buscando. Assim, os habitantes de uma regio seja ela central ouperifricaperdem,emgrandemedida,opoderderegnciadoterritrio,isto,opoderdegovernar, administrar, regular e conduzir seus prprios negcios, dentre eles, o uso doespao.Soboimperativodaeconomiaglobalizada,asdesigualdadesregionaiseasinjustiassocioambientais tendem a se aprofundar. Contudo, esta realidade contestada peloparadigmadodesenvolvimentosustentvel.

    3. ReflexesfinaisLongedeesgotaravastaexperinciabrasileiradascidadesqueabrigamgrandesminas,esta coletnea de estudos de caso uma amostra bastante representativa dacomplexidade que permeia a questo mineral. Podemos enumerar algumas questesinquietantesqueestiverambempresentesnamaiorpartedosestudos:1. Ao de responsabilidade social corporativa versus desenvolvimento regional

    integrado e sustentvel O estado no pode delegar seu papel de condutor daspolticaspblicaseasempresasnosubstituemaaodoestado.Oscasosrevelaramquesemumacoordenaopblicaasaesemproldasustentabilidadeficamfrgeis.

    2. Desconhecimento, por parte das comunidades e de dirigentes locais, sobre asinstituies e os instrumentos de poltica mineral Isso revela a necessidade demelhorarasestratgiasdecomunicao.

    3. Desconhecimentoporpartedascomunidadesafetadasdostiposdeimpactostipodeminaseescalado impactoTrazumaclaraorientaodanecessidadedeaprimoraressecanalentreasociedadeeasempresas.

    4. Os benefcios so concentrados e os ganhos apropriados privadamente, asexternalidades so mais sentidas por parte dos atores mais frgeis Alerta para anecessidade de mudana dos marcos legais e bom uso dos benefcios econmicosgeradospelaminerao

    4. RecomendaesdepolticasOdesafiodasustentabilidadeexigeabuscadeconciliaoecompatibilizaoentretodasessasdimenses.Aboanotciaquenenhumagrandeminaseinstaladodiaparanoite;seus impactos e desdobramentos, ressaltadas as especificidades locais, so bemconhecidos, o que permite a ao preventiva desde que haja um ambiente polticoinstitucional que favorea a viso prospectiva e a proatividade. Isso tem a ver com ocontextonoqualoempreendimentoestinserido,e,porissoqueosprojetosprecisamter aderncia ao local e ao territrio, j que ele comporta, e resultante, de todas asdimenses cujos pesos relativos dependem das condies prprias que foramestabelecidasaolongodosanos.

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    patente as diferenas em termos de conflitos, participao social, retorno para asociedade,benefciosreaisscomunidades,entreoutros,deempreendimentosmineraisimplantadosantesdaresoluo001/CONAMAeaps talnormativa.Apesardascrticasao processo de licenciamento ambiental e da consequente imposio de audinciaspblicas que, frequentemente, resultam muito mais em jogo de cena para legitimarinteresses das empresas do que um autntico espao democrtico para discusso dasdvidas e especificidades do empreendimento mineral; os estudos revelaram que hdiferenas muito expressivas em termos de ganhos para a sociedade quando aimplantao de um projeto precedida do rito do licenciamento. Mas licena paramineralelicenaparaambientalurgesemigrarparaalicenasocial.OsautoresdoestudodeConceiodoMatoDentro(MG)recomendamque:

    Paramelhoraragovernanapblicadorecursodaminerao,sugereseaoMinistriodeMinas e Energia que se crie um rgo, burocracia estatal aliada intelligenziaterritorialaliadapromoodoconstrutivismosocial,capazdeavaliar,naconcepode projetosminerrios a serem implantados, os desafios polticos, socioeconmicos eambientais do territrio foco de tais empreendimentos. Assim,medidas podero sertomadas a priori para que as rendas geradas desde o incio do processo possamcontribuirparaodesenvolvimentoeapermannciadavitalidade socioeconmicadosmunicpiosduranteo licenciamentoambientalpassandopelotempodevidadaminaetambm aps o seu fechamento. Caso contrrio, o cenrio que aminerao constri,consolida e deixa para esses territrios continuar sendo muito pouco promissor promoodageografiadaigualdadenopas.

    Segundo o prefeito de Crixs, as ajudas da minerao ao municpio so pontuais epequenas e ainda h perda de vrios impostos, sendo que a prefeitura no consegue,juntodospoderespblicosfederaiseestaduais,compartilharemdasmemriasdeclculodosmesmos. Ainda que por escrito solicitar, hmais de um ano, ao poder concedente(DNPM)etersolicitadoseguidamente,semsucesso,apresenaoficialnomunicpioparatratardaCFEMaindanohaviaobtidoresposta.Narelaotripartiteentreempresagovernocomunidadeverificamosprincipalmenteasqueixasdasausnciasdaempresaemrelao comunidade,poroutro ladoogovernomunicipalnoestpreparadoparaumrelacionamento comaempresaquevalmdeuma demanda assistencialista, implicando no estabelecimento de uma estratgiasustentvel, com os diferentes atores prativos. Segundo o presidente da Cmara dosVereadores, os diferentes administradoresmunicipais nunca souberam extrairmaioresbenefciosparaacomunidade.A relao indstria e meio ambiente deve buscar uma interatividade positiva nosprocessos de apropriao e uso dos recursos naturais, buscando estabelecer oempoderamentodascoletividadeslocaiseofortalecimentodagovernanainstitucional,por meio de aes pblicas que gerem sustentabilidade ambiental. Desse modo, aapropriaodosrecursosnaturaisapartirdavariveleconmicadeveestarimbudadeumaestratgiadesustentabilidade,postoqueessesrecursossejamdenaturezafinitaeemgrandepartenorenovveis.Para finalizar, importante ressaltar que um trabalho com esse escopo e com essamagnitude inditonopasesomentepodeserrealizadoapartirdacooperaoentreumarededepesquisadoresbrasileirosquefoireunidaapartirdasiniciativasdoCETEMcomopatrocniodaSGM/MME.leituraobrigatriaparatodososqueestoenvolvidos,quer como gestores pblicos quer como gerentes corporativos ou como cidados

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    empenhados em compreender melhor para poder interferir construtivamente nacomplexaedelicadarelaoentremineraoesustentabilidade.

    Bibliografia

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  • 17Amineraodasgrandesminaseasdimensesdasustentabilidade

    Martins,V.Desenvolvimentoinequvocodeixaassuasmazelasnoprogresso.CorreioBraziliense,Braslia, 31 maio 2010. Disponvel em: .Acessoem:set.2010.PascoFont,A.;Hurtado,A.D.,D.,G.;Fort,R.;Guillermo,S.G.Apriendiemomientrassetrabaja.In:Mcmahon, G.; Remy, F. (Eds.). Grandes mines y la comunidade: efects socioeconomicos enLatinoamerica,CanadyEspaa.BancoMundial/Alfaomega,Ottawa,2003.Pinheiro,J.C.F.AimportnciaeconmicadamineraonoBrasil,apresentaoRENAI,agosto,2011.Plano Nacional de Minerao, 2030 (PNM 2030), Geologia, minerao e transformaomineral,Braslia,2011.Reid, Walter V. Avaliao ecossistmica do milnio, Malsia e Estados Unidos. 2005./Disponvelem:.Sanchez,L.E.Mineraoemeioambiente.In:Fernandes,F.;Castilhos,Z.;Luz,A.B.;Matos,G.(eds.).Tendncias tecnolgicas Brasil 2015. Geocincias e Tecnologia Mineral, Parte 2 TecnologiaMineral,CETEM:RiodeJaneiro.2007.Sanchez,L.E.Avaliaodeimpactoambiental:conceitosemtodos.2006.Scliar, C. Agenda 21 e o setormineral. Cadernos de Debate: agenda 21 e a sustentabilidade.MMAMinistrio do Meio Ambiente, Braslia. Disponvel em: .Acessoem:2004.

  • 18 Amineraodasgrandesminaseasdimensesdasustentabilidade

  • MineraoepolticasdedesenvolvimentolocalparaomunicpiodeParauapebasnoPar

    JosRaimundoTrindade1

    1. IntroduoNos ltimos trinta anos o Par vivenciou novo ciclo produtivo, baseado na extrao eexportao mineral, definindo padres de crescimento econmico, movimentosdemogrficosenovasconfiguraesterritoriais.Nasegundametadedosculopassado,aeconomia do estado passou por forte processo de insero do capital internacional,momento em que foram instaladas na regio grandes plantas industriais de extraomineral,osdenominadosgrandesprojetosmineradores.Asdcadasde70e80presenciaramodesenvolvimentodosempreendimentosmineirosnoestadodoPar, inseridosnaestratgiaassumidapelosgovernosmilitares, aindanasegunda metade da dcada de 70, de buscar relativa complementaridade da baseindustrial nacional. Esse processo teve incio no II PlanoNacional deDesenvolvimento(PND),em1975/79,duranteogovernoGeisel,objetivandoaimplantaodeprogramasque tinham como meta a produo de bens de capital e insumos bsicos (CASTRO eSOUZA(1987);TRINDADE(2001);ENRQUEZ,(2007)).Os interesses do Estado nacional em torno da instalao desses empreendimentosdeveramse entre outros aspectos: (i) gerar divisas com vistas ao equacionamento dacrisecambialquecomeavaasedelinearnoinciodadcadade1980(TARSITANONETO(1995); LOBO (1996)) e; (ii) estabelecer o papel econmico que a regio passaria adesempenharno contextonacional, ou seja, de fornecedoradebensprimriosou semielaboradosparaopoloindustrialdoCentroSul.Devese,contudo,ressaltarquealgicaaqualseencontramvinculadosessesinteresses,sejapelasuamagnitude,comportandoescalasprodutivasimensas,intensivasemcapitale tecnologia compatveis aos padres internacionais, so determinadas, em ltimainstncia, pelos circuitos de produo que tm seus centros de deciso nas empresastransnacionais do setor. A Vale a principal beneficiria, como tambm centro deacumulaodecapital.Osgrandesprojetosmineraisestabeleceramumanovadisposiosetorialnaeconomiaparaense, apartirda instalaodasplantasdeextraomineraldebauxita,hematitaedospoderososinteressesdaVale,emassociaocomcapitaisnacionaiseestrangeiros.OPartornouseosegundoprodutormineraldopas,desencadeandomodificaessociaise econmicas, particularmente sobre reas subregionais, com relativas interfernciassobreocomportamentodamacroemicroeconomiadoestado.Asexportaesparaensesvmcrescendosubstancialmenteemanosrecentes,mantendoacaractersticasuperavitriadesuabalanacomercial.ConformemostramosdadosdoMinistriodoDesenvolvimento, Indstria eComrcioExterior (MDIC), em1996oPareraostimomaiorestadoexportador,assumindoanonaposioem2003.Daqueleanoemdiante, a produomineral e as exportaesdo estado cresceram expressivamente1Doutor em Desenvolvimento Econmico e Professor do Programa de Psgraduao em DesenvolvimentoEconmicodaUniversidadeFederaldoPar.Email:[email protected]

  • 20 MineraoepolticasdedesenvolvimentolocalparaomunicpiodeParauapebasnoPar

    (comexceodaquedaem2009),eem2010asvendasparaorestodomundocolocaramoParcomosextomaiorestadoexportadordopas(US$12,8bilhes);jasimportaesficaramprximasdeUS$1,2bilho, encerrandoo anode2010 comsaldodeUS$11,6bilhes.As alteraes macroeconmicas foram acompanhadas por expressivas modificaesgeoeconmicas,especialmentepelaconstituiodeumanovamalhadencleoscitadinos,de diferenciadas propores, centradas na produomineral e integradas ao corredorlogsticodaVale.DoantigomunicpiodeMarab, fruto tantodasalteraes territoriaisimpostas pela logstica necessria a acumulao do capital minerrio, especialmente aEstradadeFerroCarajs2, quantopelaespecficaestruturanecessriaaexploraodasjazidas minerais, originaramse os municpios de Curionpolis, Eldorado dos Carajs,Cana dos Carajs, gua Azul do Norte e Parauapebas. Como destacou Coelho (2008,p.248)exceodoltimo,osdemaissocarentesdediversosrecursos,inclusiveosdeinfraestruturaemsaneamentobsicoparaatenderpopulao.EsteartigoanalisaespecificamenteocasodeParauapebas(Mapa1),pormsemdescurardo seu entorno, centrado nas condies de desenvolvimento econmico do espaoterritorialeascontradiessociaisestabelecidas.Oobjetivodoartigolanarluzsobreas contradies do acelerado processo de crescimento econmico e demogrficodecorrente do ciclo de acumulao mineral e as necessrias condies deestabelecimento de polticas locais que ensejem uma dinmica de desenvolvimentodistintadaatualbasedeexploraomineral.Oartigoestdivididoemcincopartesalmdeste introito. Na segunda seo abordamos a expanso demogrfica e a aceleradaurbanizao de Parauapebas; a terceira seo trata especificamente dos aspectos deempregabilidade e os impactos da minerao sobre o mercado de trabalho; a quartaseodestinaseaanalisarocicloextrativistamineralesuas limitaes;aquintaseotratadasrepercussessobrearendalocaleoprodutointernobruto;finalmente,nasextaseo,tratase,especificamentedaspolticasdedesenvolvimentolocal,muitomaiscomoproposiesetendoatesecentraldequenecessriodesdejprepararaeconomialocalpara uma possvel transio do ciclo mineral, inclusive buscando se utilizar da atualdinmica para estruturao de um padro produtivo sustentado em bases dedesenvolvimentoendgeno.

    2Coelho (2008, p.237) examina de forma detalhada os corredores de minerao industrial, corredores deexportaodecommoditiesminerais,almdeanalisarocontextogeogrfico.AEstradadeFerrodeCarajsconstitui, segundoa autora, umdosprincipais fatoresde alteraoeconmica, demogrfica e ambientaldaAmazniaOrientalbrasileira.

  • 21MineraoepolticasdedesenvolvimentolocalparaomunicpiodeParauapebasnoPar

    Fonte:AdaptadodeIBGE(2007).Mapa1:ParauapebasemunicpiosdoentornoOestabelecimentodeumaagendadedesenvolvimento,considerando,principalmente,asinstituiesnecessriassuperaodo"extrativismonocriativo"colocasecomopontoprioritrioparaadiscussopoltica,social, tcnicaeadministrativa,sendoqueotempopassarapidamenteparaconstruoeviabilizaodeprojetodedesenvolvimentolocal.

    2. ExplosodemogrficaeexpansourbanaSegundo Becker (2005) os modelos de urbanizao identificados na Amaznia so dequatro tipos: i)aurbanizaoespontnea,presenteprincipalmentenosudestedoPar,noqualaaoestatalvaiaosentidode favoreceraapropriaoprivadadosolo,sendoquecentrossubregionaisdominamoterritrio.AregionoentornodeMarabseriaoexemplo, segundo aquela autora, de urbanizao desse tipo; ii) urbanizao provocadapelacolonizaoplanejadapeloEstado,aexemplodasaesdoINCRA,aTransamaznicaeMatoGrossoseriamexemplos; iii)urbanizaodeenclave,ouseja,ascompany town,resultantes de grandes projetos mineradores e tambm madeireiros; iv) o padrotradicional de ocupao, as margens de rios e que constituem o chamado padrodendrtico.EssatipologianodcontadasalteraesgeoeconmicasproduzidaspeloprojetoFerroCarajs, especialmente o formato que se estabeleceu em Parauapebas. Esse novo polomicrorregionalconstituiodesdobramentodoprimeiroeterceiromodelospropostosporBecker.A expanso urbana e a evoluo demogrfica de Parauapebas acompanham oscondicionantes econmicos do ciclo de explorao mineral, sendo que a relativadesmobilizao do formato company town pela Vale decorreu tanto dos interesses de

  • 22 MineraoepolticasdedesenvolvimentolocalparaomunicpiodeParauapebasnoPar

    acumulaodecapitaldaquelaempresa,quantopelapressomigratriaestimuladapelaestradadeferroCarajs,tornandosefatorimpeditivoamanutenodoformatoisoladoncleo urbano organizado versus ncleo urbano desestruturado. Por outro osmaioresaportesderecursosfiscaiseextrafiscaisrecebidospelamunicipalidadedeParauapebasdefiniu,domesmomodo,arupturacomospadresanalisadosporBecker.Aspecto inicial, j bastante discutido, referese ao poder de atrao migratria dosprojetosminerais,comohistoricamentesetemdenotado.MonteMr(2005)ressalta,porexemplo, que a economiamineradora dos Setecentos gerou fortemigrao interna eexternaedeslocouocentrodaeconomiacolonialparaoSudeste.Mesmoquetratemosnaatualidadedeumtipototalmentediferentedeeconomiamineradora, intensivaembensde capital, pormo dinamismo cclico produz forte poder de atraomigratria, comopode ser observado no intenso processo de urbanizao domunicpio de Parauapebas(Tabela1).Tabela1:EvoluodapopulaourbanaeruralemParauapebas

    Anos Urbana Rural Total Urbanizao(%)

    1991 27.443 25.892 53.335 51,451996 38.842 24.721 63.563 61,112000 59.239 12.352 71.591 82,752007 118.847 14.451 133.298 89,162010 138.690 15.218 153.908 90,11

    Fonte:IBGE/Censodemogrfico.

    Parauapebas constitua ainda, na dcada de 1980, pequeno ncleo que gravitava noentornodeMarab,tendosurgidocomoumpovoadoqueseformouaopdaSerradosCarajs, no curso mdio do rio Parauapebas, em funo da descoberta de jazidas deminriodeferro,nofinaldadcadade1960.AregiodovaledorioParauapebas,antespraticamentedesabitada, deu lugar construode umncleo urbanopara abrigar ostrabalhadoresdasempreiteirasquedariamapoioaoProgramaGrandeCarajs (PGC)esuas famlias, bem como s subsidirias da Vale, alm de servir de ponto de apoio spessoasquechegavamparaajudarnainstalaodeoutrosempreendimentos.A ento companhia Vale do Rio Doce optou pelo modelo clssico de company town,construindo um ncleo urbano no alto da Serra, junto a mina de explorao;curiosamente que a construo do referido ncleo urbano, somado as obras deengenharia da mina, provocou grande fluxo de migrantes para o local, expandindo oantigoncleodeParauapebaseoriginandoaatualcidade,semnenhuma infraestruturabsicaecondicionadaaserpontodetransioentreoNcleoUrbanodaValeeacidadedeMarab.Convmnotar que o intenso fluxomigratrio concentrase emquase sua totalidadenareaurbanadomunicpio,mesmoqueoaspectocontraditriorefereseapequenareaterritorialquerestouaomunicpioparaexpansourbanaemfunodaFlorestaNacionalde Carajs3 A reduo da populao rural reflete dois aspectos centrais: i) as3AFlorestaNacionaldeCarajsumareadeconservaoambientalfederaldoBrasillocalizadanosulestadodo Par. administrada pelo Instituto Chico Mendes de Conservao da Biodiversidade (ICMBio) eatualmente est concedida empresaVale. Tempoucomenos de 412mil hectares, tendo sido criada pelodecreto2.486de2defevereirode1998.Dentrodareaprotegidapermitidaaexploraomineral.Conferir:http://pt.wikipedia.org/wiki/Floresta_Nacional_de_Caraj%C3%.

  • 23MineraoepolticasdedesenvolvimentolocalparaomunicpiodeParauapebasnoPar

    oportunidadesdeempregosgeradosnosetordeserviosurbanos,demenorqualificao,pormdemaiorrendamdiae;ii)abaixarendamdiadosetoragropecurio.UmadasconsequnciasdesseaspectodizrespeitoaofenmenoclassificadoporBecker(2005, op. cit.) de superurbanizao, oque a gegrafa caracteriza comoalgo tpiconasmunicipalidades amaznicas. Uma das consequncias dessa hiperurbanizao aresultante expanso perifrica da estrutura urbana da cidade, algo visvel emParauapebas no processo de conformao de novos bairros muito rapidamente,expandindo o gradiente citadino e ocasionando, domesmomodo, grande especulaocomosolourbano.A forte caracterstica urbana do municpio e o acelerado movimento de crescimentoproduz uma forte tendncia de conurbao com Marab, consolidando Parauapebasenquantopolodeofertadeserviosdoentorno,dinmicaquetemqueseraproveitadapara estruturao de polticas focadas no desenvolvimento local, inclusive baseada noplanejamento do que poderamos denominar de transplante de processos produtivostradicionais,comosedesenvolvermaisafrente.Aevoluopopulacionaldomunicpio (Figura1) impressionante, superandoas taxasestaduais e nacionais em muito. Em 1991 sua populao era de 53.335 habitantes,passando para 71.568 em 2000 e alcanando 153.918 habitantes, conforme o CensoDemogrficode2010.Portantoemmenosdevinteanosapopulaoquasequetriplica,crescendoaumataxageomtrica, estimadapelo IBGEcombasenaContagemde2007,em 8,08%. A densidade demogrfica de Parauapebas de aproximadamente 22habitantes/km2, sendo quase quatro vezes superior verificada no estado, que de 6habitantes/km2(Figura2).

    Fonte:IBGE.Censosdemogrficos.Figura1:EvoluodaPopulaoUrbanaeRuralParauapebas(1991/2007)Esse crescimento somente pode ser explicado pelo forte processo migratrio, jdetectadonoCensode2000.Naquele ano cercade30%dapopulaodeParauapebasconstituam de no naturais, sendo que migrantes com menos de um ano perfaziam9,52%dosmuncipesecom1a2anos17,80%.OsdadosdoCenso2010provavelmentedevemapontaracontinuidadeoureforodessemovimentodemogrfico,considerando,inclusive,odesempenhodaeconomialocal.

  • 24 MineraoepolticasdedesenvolvimentolocalparaomunicpiodeParauapebasnoPar

    Figura2:EvoluodadensidadedemogrficadeParauapebasOsdadosdemogrficospermitemvisualizarocomportamentodapirmideetria(Tabela2), denotando o comportamento na faixa referente populao economicamente ativa(entre10e64anos)queestopotencialmentenomercadodetrabalho.Observaseque77,1%doshomens(60.056)e77,3%dasmulheres(58.770)encontramsenestafaixa,oquerepresentaumimportante fatoraserobservadoparadesenvolvimentodepolticaspblicasdedesenvolvimentolocal(IBGE,2010).Tabela2:Distribuiodapopulaoporsexo(gruposdeidade)

    FaixaEtria Homens % Mulheres %0a4anos 8.534 5,50% 8.069 5,20%10a14anos 7.637 5,00% 7.626 5,00%15a19anos 7.794 5,10% 7.940 5,20%20a24anos 7.331 4,80% 8.061 5,20%25a29anos 9.022 5,90% 9.415 6,10%30a34anos 9.430 6,10% 9.122 5,90%35a39anos 7.465 4,90% 7.310 4,70%40a44anos 5.617 3,60% 5.298 3,40%45a49anos 4.416 2,90% 4.112 2,70%5a9anos 3.518 2,30% 3.011 2,00%50a54anos 2.649 1,70% 2.204 1,40%55a59anos 1.717 1,10% 1.435 0,90%60a64anos 1.097 0,70% 862 0,60%65a69anos 669 0,40% 607 0,40%70a74anos 437 0,30% 440 0,30%75a79anos 304 0,20% 267 0,20%80a84anos 158 0,10% 129 0,10%85a89anos 65 0,00% 71 0,00%90a94anos 24 0,00% 26 0,00%95a99anos 7 0,00% 8 0,00%Maisde100anos 2 0,00% 2 0,00%

    Fonte:IBGE,SinopsedoCensoDemogrfico2010.

  • 25MineraoepolticasdedesenvolvimentolocalparaomunicpiodeParauapebasnoPar

    3.EmpregabilidadeeestruturasociallocalOcruzamentodeinformaesdemogrficascomdadosdemassasalarialeeducacional,como se observar mais a seguir, possibilita analisar dois comportamentos sociais eeconmicosfundamentais:i)expansodacapacidadeprodutivasemmaioresproblemasde disponibilidade demo de obra, o que resolvido s condies de financiamento denovos segmentos produtivos possibilita a estruturao de setores de transio entre aexplorao mineral e uma nova base de acumulao capitalista centrada em setorestradicionais e de inovao tecnolgica; ii) em funo das caractersticas etrias,estabelece fatores de rpida expanso do setor de servios, fortemente empregador epossveldeatuaoapartirdepolticaspblicasdedesenvolvimento.NavariaodovolumedeempregogeradoemParauapebas(Figura3)deveseobservarque na ltima dcada praticamente todos os anos, exceto 2003 e 2009, notouseexpressivageraodepostosde trabalho, centrados,principalmente,nosetorextrativomineral,servioseadministraopblicae,nosltimosdoisanosdasrie,naconstruocivil.Odestaquedoperodofoi,aexemplodaeconomiabrasileiracomoumtodo,oanode2008prcrise,quandoocrescimentononmerodepostosdetrabalhofoimaisque40%superioraoanoanterior.ValeobservarqueociclodecrescimentoemParauapebasse inicia ainda em 2000, acompanhando a crescente demanda mineral chinesa e, poroutro,apartirdemeadosdadcadaorecenteboomdedemandanacional.

    Figura3:ParauapebasEvoluopercentualdoestoquedeempregototal(1999/2009)Operfildoempregogeradocorrespondenaturalmentelgicacentradanaacumulaomineral, porm destacandose alguns segmentos que resultam de alteraes maisrecentesnaestruturaprodutivadaVale.Aprincipalrefereseaocrescimentodepostosde trabalhono setordeservios, intensificadodesdemeadosdadcada, fruto tantodoprocesso de relocalizao de atividades que atendem indiretamente ao sistema minaferroviadaVale,necessariamenteresultantedascondiesdemenorcustooperacional,como tambm o crescimento de empresas que atendem diretamente a demandaresultantedamassasalarialestabelecidanolocal,ouseja,mercadoquegeramercado.Umsegundoaspecto a serobservado referese ao setor administraopblicaquenosltimosdez anos foi responsvelpela geraodemaisde41mil empregos (Tabela3),frutodanecessidadedeestruturarumaadministraopblicamoderna,pormtambmvinculado ao volume de receitas crescente disponveis. Por ltimo, vale denotar, opequeno nmero de postos de trabalho gerados pela agropecuria, o que sanciona osaspectos demogrficos j analisados e, ao mesmo tempo, coloca pontos paraproblematizao e analise de possveis estmulos ao desenvolvimento de produoagrcolacomvistasasuprirasprpriasnecessidadesdademandaurbana.

    024,2 19,6

    39,0

    4,4

    35,08,0 15,0 17,6

    41,4

    1,201999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

    Tempo(ano)Fonte:MTE/RAIS

  • 26 MineraoepolticasdedesenvolvimentolocalparaomunicpiodeParauapebasnoPar

    Tabela3:Estoquedeempregosegundosetordeatividadeeconmica(19992009)Setordeatividade

    1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

    Extrativamineral 976 1.025 1.184 1.288 1.976 1.903 2.398 4.383 5.065 6.069 6.921Indstria detransformao

    310 341 602 677 604 669 579 1.139 1.151 1.558 1.694

    Serviosindustriaisde utilidadepblica

    2 2 23 22 178 273 333 23 526 427 616

    Construocivil 870 1.086 1.389 1.880 1.749 3.618 2.999 2.447 2.948 8.890 8.041Comrcio 595 795 872 1.259 1.724 2.067 2.537 3.499 4.438 4.904 5.486Servios 2.655 3.846 4.157 5.494 2.624 3.538 3.402 5.632 6.368 6.351 6.299Administraopblica 988 859 1.264 2.575 3.668 4.899 6.060 3.984 4.371 7.008 5.689Agropecuria 38 40 68 94 182 191 226 209 191 225 248Outros /ignorados TOTAL 6.434 7.994 9.559 13.289 12.705 17.158 18.534 21.316 25.058 35.432 34.994Fonte:MTE/RAISElaborao:IDESP/SEPOF.

    ParareforarosaspectosjexpostosconvmobservarnaTabela4amdiasalarialporsegmento e a massa salarial resultante. O segmento extrativo mineral detm a maiorremuneraomdia,basicamenteemfunodequeoncleodemodeobraoperacionaldaValeencontrasenestesegmento;porm,curiosamente,aconstruocivilqueperfaza segunda maior mdia e a agropecuria detm a menor remunerao mdia, o queexplicaparcialmenteacrescenteexpulsodepopulaoruralemrelaoaomeiourbano.O mais importante para anlise do desenvolvimento local referese a massa salarialpresente em Parauapebas. Neste sentido, mesmo em um ano de forte crise, como foi2009, a massa salarial teve crescimento nominal de 4,1%, mantendo a dinmica desetores como servios em plena expanso. A identificao de possveis gargalos deconsumo de bens e servios pode nortear o estabelecimento de processos produtivos,inclusive e necessariamente, industriais que estabeleam um novo perfilmacroeconmico para a localidade, isso sem obstaculizar o setor extrativo mineralprincipal.

  • 27MineraoepolticasdedesenvolvimentolocalparaomunicpiodeParauapebasnoPar

    Tabela

    4:Em

    prego,re

    munera

    omdiam

    ensalem

    assasala

    rial(2

    008/2009)

    Fonte

    :RAIS

    /MTE.Elab

    orao

    :autor

    .

  • 28 MineraoepolticasdedesenvolvimentolocalparaomunicpiodeParauapebasnoPar

    4.CicloeconmicoelimitesdaeconomiaextrativistamineralOscicloseconmicossocondicionadosporvariveisquecentradasnaexpansodataxade rentabilidade de determinados setores da economia dinamizam economias locais,apresentado,porm, limitestemporaisenveisdeincertezaduranteodesenvolvimentodocicloquepodemestabelecerbarreirasaocrescimentoeconmicofuturodasmesmas.Prever a continuidade ou o declnio de um ciclo econmico constitui tarefa prpria deuma teoria complexa do desenvolvimento e, provavelmente, contraditoriamente, odeclino da taxa de luro (rentabilidade) no setor puxador da economia, nonecessariamentedesencadeiadeimediatodeclnionosdemaissetoresdaeconomialocal.ComopodeserobservadonaevoluodoPIBeemprego(Figura4)tmseumciclodecrescimento de mais de dez anos que, mesmo na crise de 2009 os indicadoresmantiveramseemalta,sendoqueamassasalarialcrescentedeterminabomindicadordecontinuidadedadinamicidadeeorientaodaspolticaslocaisdedesenvolvimento.

    Figura4:EvoluoPIBeemprego(1999/2008)Oscondicionantesdeexpansoeconmicalocalresumemseaproduoeexportaodeminrio de ferro pela Vale. Convm observar que esse ciclo de crescimento convergemomentaneamentededuasvariveisimportantes:i)amodificaonaestruturaespacialde produo da empresa Vale, que passa amodelar suas estrutura produtiva em doiseixos:SuleNorte, sendonotrioocrescentepesodoeixoNorteapartirdemeadosdadcadade90,centradonasminasdaSerradeCarajs,emParauapebase;ii)ademandainternacional de ferro e outros ferrosos alimentados pelo espetacular boom chins,responsvelporquase85%dominriodeferroexportadopeloBrasil,sendoqueparcelaconsidervelprovenientedasminasdeCarajs4.Pormais que o crescimento do PIB paraense e de outras unidades subnacionais sejaimpactadopeladinmicamineral,comomostramastaxasdecrescimentoparaenseacimadastaxasbrasileiras,agranderepercussosednomunicpiodeParauapebasenoseuentorno,comopossvelvisualizarnaFigura5.

    4 Segundo explicou o diretor global de vendas demateriais damineradora,Michael Zhu, no mbito de umaconfernciaemCingapuranoltimomsdemaio,aValevaireforarsuaproduo,sendoqueaexpectativadacompanhiavenderat130milhesdetoneladasdeminriodeferroparaaChinanesteano,semelhanteaosnveisdoanopassado.AVale trabalhacomametadeaumentaracapacidadedeproduodaminadeCarajs de 300 milhes de toneladas mtricas anuais de minrio de ferro para cerca de 500 milhes detoneladasmtricasem2015(ROCKMANN,2011).

    05.00010.00015.00020.00025.00030.00035.00040.000

    01.000.0002.000.0003.000.0004.000.0005.000.0006.000.0007.000.000

    1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008Tempo(ano) PIB

  • 29MineraoepolticasdedesenvolvimentolocalparaomunicpiodeParauapebasnoPar

    Figura5:EvoluopercentualdoPIBEsse maior impacto sobre a microrregio de Carajs que possibilitou uma grandevariaonoPIBpercapitalocalmente.EnquantooPIBpercapitaparaenseametadedobrasileiro(em2008oPIBpercapitalestadual foiestimadoemR$7.993,00conformeoIDESP,2010),odeParauapebasquasetrsvezesdonacionaleseisvezesoparaense,conformepossvelatestarnaTabela5.ValeobservarqueoPIBpercapitasomentetomarelevncia ao ser ponderado com a massa salarial local, pois passa a expressar realindicador de maior poder de compra. No caso em estudo, a indstria mineral,considerandoaelevadadotaodecapitalfixoenvolvido,elevaoPIBpercapitasomentena localidade de presena direta da produo, sendo que os fatores de logstica e deserviosnecessrios so fortemente influenciados,oquegeramaiordisponibilidadederendanaesferalocal.Tabela5:PIBpercapitaapreodemercado(Belm,Parauapebas,Par)emR$Unidade/Ano 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008Belm 4.385 4.997 5.298 5.815 6.496 7.464 8.022 8.765 9.826 10.755Parauapebas 13.001 21.018 18.547 18.026 21.550 25.997 28.551 31.481 23.068 45.225Par 2.690 3.037 3.482 3.918 4.448 5.192 5.612 6.240 7.007 7.993Fonte:IDESP.IBGE.Noanode2010segundooMinistriodoDesenvolvimento,IndstriaeComrcioExterior(MDIC),ominrio,principalitemdasexportaesbrasileiras,geroureceitaprximaa31bilhesdedlares,sendoqueo ferrorepresentou94%dessareceita,ouseja,quase29bilhesdedlares.Considerando os dados disponveis e, principalmente, o ndice de Quantum (evoluoproporcionalpreoequantidadedoprodutoexportado)quecresceexponencialmentenoperodoconsiderado(Figura6),mesmonoanodecrisede2009,aexportaoparaense

    20

    0

    20

    40

    60

    80

    100

    120

    1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

    PIB

    Tempo(ano) BelmFonte:Idesp.IBGE.

  • 30 MineraoepolticasdedesenvolvimentolocalparaomunicpiodeParauapebasnoPar

    deminriodeferrocresceuexpressivamente.Podeseafirmarquenosltimosdezanosaparticipao estadual nas exportaes brasileiras dessa commodity superior a 30%,sendoaqualidadedominriodeCarajsnecessriaaomixdoprodutoexportadopelopas.

    Figura 6: ndice de quantum de crescimento exportao paraense deminrio de ferro(1996/2009)A balana comercial paraense ilustrativa: entre 19962010 a balana comercialparaense sempre foi superavitria, atingindo, em2008, saldodequaseUS$10bilhes,repetindoseem2010,comopequenaquedanoanode2009(IDESP,2010).Considerando o curto prazo, os nmeros so alvissareiros. Porm, imaginar que umquadro de crescimento da demanda permanea to intenso, ou que os preosinternacionais se mantenham nos atuais patamares por perodo semelhante ao queestamosvivendo,parecepoucoplausvel.Vale denotar, somente a ttulo de observao, que as condies de desenvolvimentoregional e local so mais agravadas pela relao contraditria entre desonerao daexportao e exportao de bens primrios e semielaborados. A contradio presenterelacionase a dois aspectos centrais: i) as cadeias de produo primrioexportadorassomuitocurtas,oqueestabelecea incapacidadedeapropriaoderendasminerriasque pudessem definir novos padres sociais e ambientais para a regio; ii) a segundacontradio relacionase bastante com a anterior e referese a desonerao tributriapara exportao desse tipo de bem estabelecida pela Lei Complementar 87/96 (LeiKandir),semcontudonenhumasoluofederativaseroferecida.Osestadosexportadoreslquidosacabamtendoonusambientalesocial, semodevidoretorno, seja tributrio,sejaoriundodeacordofederativo.Mesmoconsiderandoapermannciada exploraomineralpormais algumasdcadas,porm, o quadro de incertezas deve paulatinamente se acirrar e o desempenho daeconomiamineralfunciona,comoemoutrosmercadosdecommodities,condicionadoporcomportamento de mercados locais no caso especfico, a economia chinesa o queestabelece parmetros crticos em caso de possvel arrefecimento das taxas decrescimentodaquelaeconomia.Frenteaestadinmicacolocaseanaturalquesto: eagora Jos?.Oque fazerecomoatuarde formaaaproveitaraomximoaindaoatualciclomineral?Soessesaspectos

    100 97,9144,7

    547,7

    1996 2000 2004 2009

    ndicedequ

    antum

    Tempo(ano)

    Fonte:MDIC.Elaborao: autor.

  • 31MineraoepolticasdedesenvolvimentolocalparaomunicpiodeParauapebasnoPar

    que se busca abordar desde o aporte terico das chamadas instituies dedesenvolvimento local, porm, antes convm fazer breve anlise do poder municipal,principalmente considerando o potencial de financiamento de polticas dedesenvolvimentolocal.

    5.PodermunicipalecapacidadedefinanciamentododesenvolvimentolocalA taxa de crescimento mdio da receita total do municpio de Parauapebas foi bemsuperior a mdia dos municpios paraenses, inclusive a capital Belm, superando, domesmomodo,ataxamdiadecrescimentodogovernodoestadodoParnoscincoanosdasrie(Tabela6)conformeosnmerosdobalanoanualpublicadospelaSecretariadoTesouroNacional (STN).Verificaseocrescimentopercentualmdiode21%dareceitatotaldomunicpionosltimoscincoanos,superioramdiadoestadodoPar,quefoide16,1%.Tabela6:EvoluodareceitatotaldeBelm,doestadodoParecrescimentoanualAno MunicpiodeBelm MunicpiodeParauapebas EstadodoPar

    Receitatotal(EmR$)

    Crescimento(%)

    Receitatotal(EmR$)

    Crescimento(%)

    Receitatotal(EmR$)

    Crescimento(%)

    2005 884.651.373 190.304.000 5.834.955.330 2006 1.066.850.381 20,6 223.831.000 18 6.951.816.634 19,12007 1.218.800.122 14,2 279.114.000 25 7.923.923.091 14,02008 1.366.932.686 12,2 373.351.000 34 9.734.195.514 22,82009 1.466.430.628 7,3 376.536.000 1 10.549.058.515 8,42010 1.707.517.127 16,4 477.787.000 27 12.233.254.165 16,0Mdia 1.285.197.053 14,1 320.153.833 20,8 8.871.200.542 16,1Fonte:SecretariadoTesouroNacional(STN/SISTN).Interessadestacar aparticipaodaCompensaoporExploraoMineral (CFEM5), nareceita total domunicpio (Tabela7). Conforme seobserva aCFEMparticipa comumamdiade25%dasdotaesmunicipais,somentesuperadapelastransfernciasestaduaisvinculadas a Cota Parte do ICMS (Imposto sobre operaes relativas circulao demercadoriasesobreprestaesdeserviosdetransporteinterestadual,intermunicipaledecomunicao)queparticipounumamdiade30%.AimportnciadaCFEMrefereseasua prpria identidade enquanto receita no tributria e em correspondncia ao seuobjetivoconstitucional.Deummodogeral,os recursosprovenientesdaCFEMacabamporsemisturarnobologlobaldasreceitasmunicipais.Osgovernosnacionais,regionaiselocais,favorecidospelanatureza em decorrncia da abundncia de recursos minerais, possuem a5ACFEM,estabelecidapelaConstituiode1988,emseuart.20,1,devidaaosestados,aoDistritoFederal,aosmunicpios,eaosrgosdaadministraodaUnio,comocontraprestaopelautilizaoeconmicadosrecursosmineraisemseusrespectivosterritrios.OsrecursosoriginadosdaCFEM,nopoderoseraplicadosempagamentodedvidaounoquadropermanentedepessoaldaUnio,dosestados,DistritoFederaledosmunicpios.Asrespectivasreceitasdeveroseraplicadasemprojetos,quediretaouindiretamenterevertamemprol da comunidade local, na formademelhoria da infraestrutura, da qualidade ambiental, da sade eeducaoe,deformaespecifica,aprojetosvinculadosaodesenvolvimentoeconmicoembasesdistintasdaexploraomineral.

  • 32 MineraoepolticasdedesenvolvimentolocalparaomunicpiodeParauapebasnoPar

    responsabilidade de extrair para si a riqueza produzida pela atividade mineralconciliando os benefcios s geraes atuais com a garantia de bemestar s geraesfuturas. Dois aspectos so fundamentais na tomada de deciso sobre a aplicao dosrecursos:(i)omontantequeseraplicadonopresenteenofuturo,ouseja,ovalorquesergastoatualmenteeoquantoserpoupadoparagastarnofuturo;(ii)adefiniodasatividades essenciais a sua aplicao, ou seja, em que ser aplicado os recursosprovenientesdasatividadesminerais.A experincia internacional na aplicao das receitas provenientes da extrao deprodutos no renovveis demonstra que so bastante diversificadas as formas deaplicao dos montantes de recursos nas polticas de desenvolvimento econmico esocial,bemcomo,aobemestardasgeraesfuturas.Vriosespecialistasdefendemqueapromoodeinvestimentosdecorrentederecursosdestanaturezadeveseraplicadaematividades intensivas em capital e trabalho. Pases como Canad, Noruega, Venezuela,Qatar e Indonsia, grandes produtores de petrleo e gs natural, se destacam nosinvestimentos em educao, cincia e tecnologia, sade, infraestrutura logstica,poupana,estabilidademacroeconmicaediversificaoeconmica.Emdiversospases,agestodaaplicaodessesrecursosrealizadaatravsdefundosespecficos, de natureza distinta dos oramentos governamentais. O objetivo ogerenciamento das dotaes advindas da extrao mineral atravs da instituio eaplicao de regras de quanto, quando e de que maneira devem ser gastos visandomanterouaumentarariquezasfuturasgeraes.Aideiaacumularosrecursosquandoa renda decorrente da atividademineral aumentar e gastar quando esta diminuir. Istopermiteaestabilizaodasrendasecontribuicomapolticafiscalecambialdospases.Os pases em desenvolvimento buscam investir na qualidade dos demais fatores deproduo, capital e trabalho e os desenvolvidos investem em ativos que geremrentabilidade.No caso especfico de Parauapebas e do estado do Par a contradio j apontada dadesonerao tributria da exportao de bens semielaborados, conforme a LeiComplementar 89/96 (Lei Kandir), somado aos incentivos fiscais recebidos pela Vale,determinaumabasederetornosespecificamentetributriosbastanteaqumdasefetivasnecessidades dos poderes pblicos municipal e estadual, constituindo, fator defragilizaodaeconomiaregionalenoaproveitamentodospotenciaisgeradospelociclomineral.Deoutromodo,osganhoscclicosacabamporserealizar,emsuagrandeparte,na forma de lucro empresarial e dividendos dos acionistas da Vale. Uma dasconsequncias foiousodaCFEMcomopartedareceitatotaldomunicpio, financiandoelementos importantes do desenvolvimento como sade, saneamento e infraestruturaurbanstica, porm, com fortes limitaes no financiamento de projetos dedesenvolvimentodemdioelongoprazo.ClaroestqueumdosprincipaisdesafiosalteraraalquotaeabasedeclculodaCFEM.Os royalties noBrasil soosmais baixosdomundo (variade0,2%a3% sobre a baselquida);naBolvia (1a7% vendabruta);naColmbia (1a12% bocademina);noPeru(1a3%vendabruta);naArgentina(3%valorbocademina);AustrliaeCanad(taxa varivel conforme o estado). Porm, mesmo considerando o atual quadro,configurase com urgncia o planejamento do desenvolvimento local e, tambm, damicrorregio, supondo o necessrio uso das chamadas rendasminerais (a CFEM aprincipal delas) como componente bsico para conformao de um plano dedesenvolvimentolocalestratgico.

  • 33MineraoepolticasdedesenvolvimentolocalparaomunicpiodeParauapebasnoPar

    Tabela7

    :Prin

    cipaisfonte

    sderece

    itaserelaocomarece

    itatotal(emmilR$e%)

    Fonte

    :Secre

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    cional(S

    TN/SI

    STN).

  • 34 MineraoepolticasdedesenvolvimentolocalparaomunicpiodeParauapebasnoPar

    Como se ver na seo final, polticas de desenvolvimento local requer capacidade definanciamento de institucionalidades necessrias construo de um padro dedesenvolvimento centrado nas potencialidades territoriais, identificando aspotencialidades, reforandodinmicaspresentesouconstruindodinmicasnecessrias.O estabelecimento de planejamento do desenvolvimento de formato distinto, centradoem atores e instituies locais, sem descurar da interao com os componentes deplanejamento macroeconmicos regionais e nacionais, porm, com maior nvel deinteratividade e apreenso das contradies do ambiente local. Neste sentido, ainstituio de fundo local poder ser componente importante na estruturao de novopadrodedesenvolvimentovinculadoaplicaoderecursosemprojetosepolticasdedesenvolvimentolocais.

    6.DesenvolvimentolocaleagendadepolticaspblicasO desenvolvimento econmico local um processo no qual atores e instituies locaisatuamarticuladamentecomvistasacriar,reforarepreservaratividadeseempregos(LLORENS, 2001, p.136) considerando os componentes de interao e conflitualidadelocaiseregionais.Odebateemsidotemadesenvolvimentosealteroubastantenasltimasduasdcadas,deixandodesersomenteaelucidaodosfatoresreferentesaumamaioroumenortaxadecrescimento,parapassaraincorporaroutrosaspectosmaisqualitativose,dediversosmodos, mais integrados a uma teoria da complexidade considerando, inclusive, adificuldadedeorientarumconjuntotograndeedistintodevetoressociais,econmicos,ambientaiseinstitucionais.A lgica bsica dodesenvolvimento nospases centrais do capitalismo foi descrito porFurtado (2000), entre outros, nos termos de estmulo tecnolgico possibi