1
Túmulo de Meriré II, TA 2
1, 2 − Pl. XXIX (inf.)
3 − Pl. XXXI
4 − Pl. XXX
5 − Pl. XXXII, XLVI
6 − PL XXXIII - XXXVI
7,8 − Pl. XXIXVII-XL
9, 10 − Pl. XLI
Fig. 1 − Distribuição das cenas ao longo do túmulo. Equivalência entre a classificação usada (Porter e
Moss, TBAE, vol. IV, p. 210) e a classificação de Davies, RTEA, vol. II.
2. Cargos desempenhados
sS-nsw
Escriba real
imy-r ipwt nsw
Superintendente dos aposentos privados
do rei
imy-r pr
Mordomo
imy-r pr- HD
Superintendente da Casa
da Prata (Tesouro),
imy-r ipwt nsw n Hmt-nsw aAt
Superintendente dos reais aposentos
privados da grande esposa real
2
3. Breves notas sobre a arquitectura
O portal é baixo e não foi dotado de cornija. As ombreiras da entrada estiveram outrora
cobertas por três colunas de hieróglifos1. À esquerda, ainda se reconhece o protocolo de Aton e
restos de frases como «concede-lhe o tempo de vida (como Aton)» e a figura do morto, no acto
de orar (fig. 2)2.
Fig. 2 − Pormenor da entrada, exterior. Umbral da porta.
Meriré II em oração. Davies, RTEA, vol. II, Pl. XXIX-d.
A antecâmara possui duas colunas, do tipo lotiforme fechado (fig. 3) Mantiveram-se
intactas e suportam arquitraves paralelas ao eixo do túmulo e decoradas com uma inscrição
contínua no lado exterior (Pl. XXXVI, trad., p.45). O tecto entre elas é mais alto que aos lados e
levemente arqueado3.
Fig. 3 − Coluna, face oriental. Davies, RTEA, vol. II, Pl. XXIX-a.
1 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. II, p. 33. 2 Ibidem, vol. II, p. 33. 3 Ibidem, vol. II, p. 33.
3
A entrada exterior não está esboçada mas a da segunda câmara exibe o portal habitual e
o frontão superior decorado com cartelas e cenas do morto em oração e uma inscrição hoje
perdida. O topo da entrada foi partido de forma a deixar entrar mais luz para as salas interiores,
uma acção devida certamente a posteriores ocupantes que cortaram igualmente e desenharam
grosseiramente, a tinta, dois barcos. Ainda se pode encontrar um poço funerário neste aposento
mas já violado A parede ocidental está vazia de esculturas4. A parede norte, no entanto,
apresenta uma escultura (Pl. XLI).
As câmaras interiores são muito estreitas. Duas arquitraves cortadas na rocha
atravessam o tecto. Uma mastaba foi deixada na extremidade oriental para receber um poço
funerário que apenas foi começado. O altar foi parcialmente cinzelado mas há sinais de se
destinar a uma futura estátua de Meriré5. A entrada para a capela mostra que aí se pretendia
abrir uma porta decorada6, cujas ombreiras estão marcadas a tinta7.
A técnica dos relevos é muito pobre, o revestimento final de gesso utilizado para encher
os contornos foi desgastado e perderam-se fragmentos importantes que, felizmente foram
copiados por Lepsius e outros egiptólogos8. A parte superior das paredes foi quase destruída por
acção dos morcegos9.
4. Iconotextualidade
Orações de Meriré
Espessura da parede exterior, (fig. 4). As paredes estão muito deterioradas mas alguns
fragmentos foram recuperados por Nestor L’Hôte10.
Fig. 4 − Espessura da parede exterior. Meriré II em oração Davies, RTEA, vol. II,
Pl. XXXI
4 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. II, p. 33. 5 Ibidem, p. 34. 6 Tal com acontece respectivamente no TA 1 e no TA 3, (Pls. III, XIX, XXVI). 7 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. II, p. 34. 8 Ibidem, p. 34. 9 Ibidem, p. 34. 10 Ibidem, p. 34.
4
Texto
Hino ao Sol poente
1
Htp.k m anx tA Hr iAw
Quando tu repousas, em vida, a terra está a louvar-(te)
2
iAbtt imntt Hr r-ra n iAw
o oriente e o ocidente estão, lado a lado, a prestar louvores
3
anx Ra HqA m Axty Hay m Axt m rn.f m Sw (nty) ii m Itn Di anx Dt
(n)HH
ao «Ré vivo, soberano dos dois horizontes, que rejubila no horizonte, no seu nome de luz
que vem do disco solar», dotado de vida eternamente e para sempre.
4
Iw Htp.k anx m mAat …
Quando te pões, vivo, em maet …
5
… m sbH.sn nmw r qAw pt
…eles elevam11 clamores até à altura do céu
6
n mAA Axt-Itn ir n R a di n sA.f anx m mAat
11 Lit. «gritando».
5
ao ver Akhetaton, que Ré fez, para ser dada a seu filho que vive em maet
7
di.f HAq.f xAst nb psd.f Hr.sn
(Ré) permite que ele (rei) pilhe todos os países estrangeiros sobre os quais ele brilha
8
swAD.f n.f Sn Snw nb r ia ib.f im.sn
e faz verdejar para ele tudo o que está no circuito12 para «lavar o seu coração» com eles13
9
( r irt hrrwt kA.f)
(e para fazer aquilo que é agradável14 ao seu ka)
10
iw Xr rdwy n Wa-n-Ra mr mi pA Itn
(pois) eles estão sob os pés de Uaenré, que é amado como Aton,
11
(r Sm) wAD-wr tA Hr rdwy
até (que seja possível) atravessar o oceano, (como se fosse) terra (firme), sobre os dois pés,
12
r aHa Dw r Smt r xnty mw
até que as montanhas se levantem para andar, até que a água corra para montante15.
12 Isto é, tudo aquilo que está englobado na projecção da trajectória aparente do Sol sobre a Terra. 13 Para que o rei se alegre ao contemplar a beleza dos países estrangeiros que Ré pôs sob o seu domínio. 14 Correcção de Sandman. Deveria ser hrwt, «agradável». 15 Isto é, até que a água (o rio Nilo) corra para a nascente (Sul) em vez de para a foz (norte).
6
13
pA Hq(A) nfr n pA Itn iw.k … …
Ó bom soberano deste Aton, tu és … …
14
… … pA Itn di.f tASw(.k) rsy TAw
… … … Ó Aton, permite que as (suas) fronteiras do sul (se estendam até onde sopra) o vento
15
mHty.k r sHD Itn
e a tua (sua fronteira) do norte até onde Aton ilumina.
16
In XpS.k mak tAwy pHty.k sanx rxyt
Pela tua força, tu proteges as Duas Terras e o teu poder faz viver os súbditos.
17
Wa-n-Ra mr mi Itn aA m aHaw.f ...
(Ó) Uaenré, amado como Aton e (que é) grande no seu tempo de vida …
18
sS-nsw imy-r ipwt nsw imy-r pr Mry-Ra mAa-xrw
O escriba real, o intendente dos aposentos privados do rei, o mordomo Meriré, justificado.
Espessura da parede exterior. Lado ocidental, (Pl. XXXI)
7
19
dwA anx Ra HqA m Axty Hay m Axt m rn.f m Sw (nty) ii m Itn
(Adoração ao «Ré vivo, soberano dos dois horizontes, que rejubila no horizonte, no seu
nome de luz que vem do disco solar»)16.
20
… … … … Itn nb mrwt msi sw Ds.f …
… … … … Senhor do amor, que se engendrou a si próprio, ele mesmo …
21
di.f … … Htp Hb.sd … …
Concede-lhe … oferenda(s) e jubileu(s)
22
… … … … Nfr-xprw-Ra Wa-n-Ra di anx Dt di.k …
… … … … Neferkheperuré-Uaenré, dotado de vida, eternamente. Ele dá …
23
… … … … di.f n.k aHa(w).f mi aHa(w).k m …
… … … … Concede-lhe um tempo de vida igual ao teu tempo de vida em …
24
… … … … Wa-n-Ra didi.n.k (n)HH Dt m pr…
… … … … Uaenré, (Aton) deu-te a continuidade e a eternidade, na casa …
16 Reconstituição possível, de acordo com Murnane. Ver MURNANE, op. cit., p.164.
8
25
… … … … an … … … … n pA Itn …
… … … … belo … … … … para o Aton …
26
… … … … .sn mnmnt nbt m awt nbt
… … … … .os (de) todas as manadas e de todo o gado miúdo
27
Sm Hr rdwy 4 xrp r pr-Itn
que anda sobre quatro patas e se destina à Casa de Aton,
28
wD.sn pA Itn n pA aA m aHa(w).f
(tal como) lhes ordena este Aton, o (que é) grande no seu tempo de vida,
29
pA Hapy aA nfr n ta Dr.f
este grande e belo Nilo da terra inteira17.
30
di.k aHa(w).f m anxw
Ele dá-te o seu tempo de vida, entre os vivos,
31
17 De acordo com Sandman. Ver SANDMAN, op. cit., p. 31.
9
r pH.i imAx m Htp wD(.k) n.f
para eu alcançar o estado venerável, em paz. Possas tu ordenar para ele
32
st.f n Hr Dw wr n Axt-Itn mi Hsy n nsw
o seu lugar (= túmulo) na montanha de Akhetaton, como um favorito do rei.
33
n kA n imy-r pr imy-r pr- HD imy-r ipwt nsw n Hmt-nsw aAt
Pelo ka do mordomo, do superintendente da Casa da Prata (tesouro), do superintendente dos régios aposentos
privados da grande esposa real
34
Nfr-nfrw-Itn Nfrt-ity anx ti Dt nHH
Neferneferuaton Nefertiti, que ela viva eternamente e para sempre,
35
sS-nsw Mry-Ra mAa-xrw
o escriba real, Meriré, justificado.
3.2.2. O rei em sua casa. Parede sul, lado ocidental, (Pls. XXXII)
10
Fig. 5 − A rainha, na companhia de três princesas oferece de beber a Akhenaton. Ao centro, os protocolos
de Aton (2ª fórmula) e de Akhenaton. Davies, RTEA, vol. II, Pl. XXXII.
Meriré II está representado junto dos seus reais amos, embora desempenhando um papel
secundário. Assegura o serviço mas não lhe cabe a honra de apresentar a bebida directamente ao
rei18. Isto é feito por Nefertiti, coadjuvada pelas princesas. A cena passa-se num pavilhão,
suportado por colunas e com o tecto coberto de folhagem e flores que tombam em belos cachos.
Akhenaton recosta-se numa cadeira almofadada, os braços e as mãos repousam numa e
atitude indolente e os pés descansam num escabelo. A pequena Ankhesenpaaton trouxe-lhe
flores que conserva numa das mãos, com a outra ergue uma taça pouco funda para recolher o
vinho que Nefertiti vasa de um pequeno jarro para um passador de barro19. Maketaton está
junto dos seus joelho e parece trazer qualquer mimo que já não é possível distinguir. Mais
longe, Meritaton transporta o que pode ser um vaso de unguento20.
Esta cena familiar pertence ao grupo das cenas de colação real que abundam nestes
túmulos e, como elas, decorre ao som da música da orquestra real. Esta, composta por seis
mulheres que tocam harpa, lira e alaúde, já se tinha feito representar no TA 121.
Texto
Protocolos das princesas
37
sAt nsw n Xt.f mrit.f Mrit-Itn msi(t) n Hmt-nsw wr(t )
mrit.f nbt-tAwy
Filha do rei, do seu corpo, sua amada Meritaton, nascida da grande esposa real, sua amada,
senhora das Duas Terras
18 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. II, p. 34. 19 Ibidem,vol. II, p. 35. 20 Ibidem, vol. II, p. 35. 21 Ibidem, vol. II, p. 36.
11
38
Nfr-nfrw-Itn Nfrt-ity anx ti Dt nHH
Neferneferuaton Nefertiti, que ela viva eternamente e para sempre.
O mesmo protocolo é usado para as outras princesas:
39
Makt-Itn
Maketaton
40
anxsn pA Itn,
Ankhesenpaaton
Meriré II é recompensado pelo rei. Parede sul, lado oriental, (Pl. XXXIII)
Fig. 6 − Meriré (II) é recompensado por Akhenaton. A cena segue os moldes habituais.
Parede sul, lado oriental. Davies, RTEA, vol. II, Pl. XXXIII.
12
O funcionário é mostrado no acto de receber um presente de colares de ouro, louças
preciosas, vestuário de grande qualidade e outros artigos de luxo, sem esquecer alimentos da
cozinha real. Normalmente, a cena tem lugar na varanda do palácio, a «janela das aparições».
No caso presente a varanda está guarnecida com uma espessa almofada.
Só a fachada do palácio é visível22, permitindo abranger um pouco do seu interior.
Assim acontece na região superior esquerda.
Acima das serpentes reais que emolduram o balcão podem ver-se quatro colunas que
suportam o tecto. A rampa de acesso ao balcão não é mostrada, embora as portas estejam a
alguma distância do solo. A decoração do madeiramento da janela corresponde, no essencial, às
que se mostram em I.VI. O painel em frente está preenchido por um símbolo tipicamente
egípcio, a smA-tAwy, «união das Duas Terras» mas que procura combinar uma ideia de
domínio universal. Ao lado direito um grupo de plantas do Sul e à esquerda um grupo de
papiros, a planta do Norte, as plantas aproximam-se até se tocarem no centro. Outras
acorrentam-se ao pescoço de cativos, três de cada lado. Os cativos aprisionados pela planta do
Norte representam raças do Norte e à direita a do sul captura indivíduos de raça negróide,
provavelmente núbios.
Fig. 7 − Pormenor já desaparecido da varanda. Davies, RTEA, vol. II, Pl. XXXIII
O rei ostenta um cinto ricamente trabalhado. As faixas no peito parecem ter origem em
alguma peça de vestuário superior justa no peito.
As princesas Meritaton, Maketaton, Ankesenpaaton, Neferneferuaton ta-cherit e Nefer-
neferuré estão presentes. As mais velhas trazem colares que passam à rainha, que os entrega ao
real esposo, que graciosamente os atira ao funcionário.23
No pátio do palácio, num dos portões exteriores, canto superior direito está a comitiva
real, com duas bigas, filas 3 e 4, e três escribas atarefados na contabilização da generosidade
akhenatoniano, fila 6, a contar de cima.
22 Nos túmulos TA 7, TA 8 e TA 25 está representado todo o complexo palacial. 23 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. II, p. 37.
13
Está presente um grupo de estrangeiros, fila 2, entre os quais se distinguem sírios
barbudos envoltos em belos tecidos franjados que tombam em graciosas pregas e estão presos
por um largo cinturão. Os membros da comitiva núbia usam uma veste branca presa na cintura
com uma faixa atada de modo a formar um extenso nó, enquanto uma outra faixa passa a
tiracolo. Um deles enverga uma camisa simples. Os cabelos estão enfeitados com penas. Como
sírios e africanos estão livres de movimentos, não será errado supor que se pudesse tratar de
embaixadores ou membros de missões comerciais24.
Meriré II está de pé, vestido de cerimónia, debaixo da varanda e recebe um grande colar
a adicionar aos dois que já ornamentam o seu pescoço. Parece estar descalço.
Fig. 8 − Meriré II, no acto de ser recompensado. Davies, RTEA, vol. II, Pl. XXXIII
A região inferior (fig. 9) mostra como um episódio secundário o triunfal regresso de
Meriré II a sua casa. De cabeça bem erguida, apesar do peso dos colares que recebeu. Ei-lo, já
devidamente calçado, encaminhar-se para o carro no meio de aclamações dos seus dependentes
que erguem os braços em júbilo e tentam mesmo beijar-lhe os pés25.
24 Ibidem, vol. II, p. 37.
25 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. II, p. 37.
14
Fig. 9 − Triunfo de Meriré. No registo superior, homenagens dos subordinados.
Em baixo, regresso a casa, na companhia do pessoal doméstico. Parede oriental, lado sul.
Davies, RTEA, vol. II, Pl. XXXVI.
Organiza-se um cortejo integrado por mulheres que agitam ramos de flores e tocam
adufes e miúdos que gritam. Este homem influente saberá por certo recompensá-los,
distribuindo, talvez, uma parte da enorme quantidade de provisões que vieram do palácio.
Embora não habite um palácio, Meriré II usufrui de uma confortável moradia (fig. 10)
que está separada do exterior por muros e por um alto portão, junto do qual se plantaram duas
árvores. Um lago em forma de T e mais algumas árvores estendem-se até à casa propriamente
dita, na qual se penetra por um pórtico. Aparentemente não há telhado o que deve ser um erro
de desenho que mostra uma despensa bem fornecida e que não pode estar a céu aberto. Na
extremidade esquerda consegue distinguir-se uma sala com pessoas que não tendo ido à festa
ou tendo chegado mais cedo se mostram igualmente felizes26.
Fig. 10 − A casa de Meriré II. Parede oriental, lado sul.
Davies, RTEA, vol. II,Pl. XXXVI.
Texto
41
26 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. II, p. 38.
15
sAt-nsw n Xt.f mrit.f (s)t Nfernfrw- Itn (tA) Sri(t)
Filha do rei do seu corpo, sua amada Neferneferuaton, a jovem,
42
sAt-nsw n Xt.f mrit.f (s)t Nfernfrw- Ra
filha do rei do seu corpo, sua amada Neferneferuré.
Arquitrave Oeste, (Pl. XXXVI)
43
Htp di nsw pA Itn anx sHD ta m nfrw.f wbn.f
Uma oferenda que o rei faz ao Aton vivo que ilumina as Duas Terras com a sua beleza, quando
se eleva,
44
r-rat anx n Snyt Itn
quando se ergue para dar vida a tudo o que está no circuito de Aton,
45
Nfr xprw tHnw inmw
belo em manifestações e brilhante em cores.
46
anx irty m mAA nfrw.f snb HAtyw n psd.f n.sn
Os olhos vivem ao ver a sua beleza e os corações estão saudáveis quando brilha para
eles.
16
47
di.f TAw nDn m mHyt
Conceda ele a doce brisa do vento norte,
48
Irttw pri Hr wDHw Htpw rnpwt nbt t Hnqwt
vasilhas de leite que vêm da mesa de oferendas e toda a espécie de vegetais, pão, vasos de cerveja
49
Hw r st.k nb xt nb(t) nfrt nDm(t)
(e outros) alimentos, em todos os teus lugares, e todas as coisas boas e doces.
50
n kA n imy-r ipwt nsw sS nsw n imy-r pr Mry-Ra mAa-xrw m Axt-Itn
Pelo ka do intendente dos reais aposentos, o escriba real, o mordomo Meriré,
justificado, em Akhetaton.
Arquitrave Este
Lado direito
51
iAw n kA.k Nfr-xprw-Ra Wa-n-Ra HqA nfr Itn mri pA Hapy
Louvores ao teu ka, (ó) Neferkheperuré-Uaenré, bom soberano, amado de Aton. Ó grande Nilo
52
aA n ta r-Dr r.f anx.sn n ptr.f
da terra inteira. Eles vivem ao vê-lo!
17
53
Wa-n-Ra mr mi Itn din.k tnw
Ó Uaenré, amado como Aton, Ré te permita que sejas distinguido,
54
wbn.f Hfn m Hb-sd xwi msw Itn
quando se ergue, com centenas de milhar de jubileus, para proteger (aquele que foi)
engendrado por Aton.
55
Ntk sA.f anx m mAat sw(A)D.f n.k Snt nb
(Pois) tu é que és o seu filho que vive em maet e para ti ele faz prosperar tudo (aquilo que está
dentro) do seu circuito
56
r iai ib.k im.sn
para lavar (= alegrar) o teu coração com eles.
57
di.k aHa(w).i m nfr iw Hr mAA nfrw.k
Permite que o meu tempo de vida seja feliz, a fim de contemplar a tua beleza
58
r pH tw r Hwt ir n.i Hr Dw aA n Axt-Itn
até alcançar o túmulo, (que foi) feito para mim, na grande montanha de Akhetaton.
59
18
n kA n sS nsw Mry-Ra
Pelo ka do escriba real, Meriré.
A grande apresentação de tributos do ano 12
Parede leste, (Pls. XXIX, XXXVII, XXXVIII – lado direito do pavilhão real –
e Pl. XLVII)
Esta cena aparece, igualmente, no túmulo de Huya. O rei ocupa a o centro da figura,
sentado no trono e acompanhado pela sua família27. As tribos do Sul, à direita, e as tribos do
Norte, à esquerda, aproximam-se humildemente. O dossel está posicionado sobre uma
plataforma. As colunas têm um triplo capitel representando o papiro, o lótus e o lírio sobrepostos
numa combinação que não é das mais felizes28. O casal senta-se em cadeiras almofadadas e
descansa os pés sobre duas outras almofadas. A rainha fundiu-se completamente na imagem do
esposo, embora se possa ver que enlaça com o braço direito a cintura e aperta a sua mão
esquerda29.
Todas as filhas reais estão presentes, acompanhadas pelas suas aias. As irmãs mais velhas
estão de mãos dadas. Numa fila paralela Neferneferuré segura uma pequena gazela a qual
Setepenré acaricia com a ponta do dedo indicador. Neferneferuaton ta-cherit olha em frente e
parece igualmente segurar um outro pequeno animal30.
27 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. II, p. 38. 28 Ibidem, vol. II, p. 38. 29 Ibidem, vol. II, p. 38.
30 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. II, p. 39.
19
Fig. 10 − A grande apresentação de tributos das terras estrangeiras, realizada no ano 12 e sua
localização no túmulo. LABOURY, Dimitri, Akhenaton, p. 296.
Na região superior da cena estão representadas amostras do tributo, matérias-primas ou
peças fabricadas, por vezes complexas. Delas faz parte um jugo onde foram apensas peles de
animais, penas de avestruz e anéis de ouro suspensos em longas cadeias31.
Um outro troféu tem a forma de uma pequena palmeira, ainda no vaso. Pode ser natural
ou tratar-se de uma peça esculpida em metal precioso32. Seguem-se duas pilhas de lingotes (de
ouro?) e mesas cobertas de sacos de ouro em pó e presas de elefante. Tudo isto é acompanhado de
seis escudos rectangulares, arcos e setas e o que parece serem fardos de tecido33.
Em baixo, ofertas semelhantes são apresentadas pelos núbios que também trazem gado e
mesmo um leopardo domesticado. A componente humana está representada por cerca de doze
cativos entre os quais mães acompanhadas dos seus filhos34.
O regozijo dos Egípcios patenteia-se através de jogos militares, luta livre, boxe e luta de
pau, onde os soldados mostram a sua boa forma física35.
Meriré II e quatro oficiais sobem, devidamente curvados para se apresentarem ao rei.
Seguem-nos flabelíferos e portadores de guarda-sóis que parecem acompanhar chefes militares36.
Podemos admitir que se trataria dos comandantes da expedição encarregada de recolher tributos
embora não se conheça nenhuma referência textual do facto. Perto do dossel, três colares de ouro
31 Ibidem, vol. II, p. 39.
32 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. II, p. 39. 33 Ibidem, vol. II, p. 39. 34 Ibidem, vol. II, p. 39. 35 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. II, p. 40. Sobre estes jogos militares que acompanhavam os
momentos solenes, nomeadamente jubileus reais, ver MC DERMOTT, Bridget, Warfare in Ancient Egypt,
pp. 109-112. 36 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. II, p. 40.
20
e dois cofres parecem destinados a recompensá-los. Um bando de garotos segue ruidosamente
estes importantes senhores, dançando e fazendo caretas37.
Os povos do Norte e do Ocidente têm o aspecto de Sírios, de cabelo espesso ou rapado e
barbas compridas, e envergando túnicas apertadas. No topo da figura está agrupada uma grande
parte das oferendas, consistindo em aljavas, arcos, cimitarras e adagas, escudos, lanças, capacetes
(?) uma biga e dois cavalos trazidos à mão38.
A fila mais abaixo é iniciada por três meninas, talvez para ornamentação do harém real.
Seguem-se dignitários ajoelhados e de mãos erguidas, que poderão ser embaixadores. Trazem
vasos de metal, um cofre, uma presa de elefante, arcos e setas e três animais, respectivamente um
antílope, um órix e um leão. Também não faltam os cativos ou escravos, algemados e conduzidos
por egípcios.39
O registo seguinte parece referir-se a uma delegação separada que trouxe duas raparigas,
um carro e a sua parelha e vários vasos finamente trabalhados, um dos quais com uma tampa
representando uma cabeça de leoa. Paralelamente, outra delegação síria que traz igualmente vasos
de metal, antílopes e escravos, incluindo mulheres e crianças40.
Abaixo do nível do dossel, há uma nova delegação que oferece cereais, incenso, vitelos e
peças de metal talhadas em forma de obeliscos e pirâmide41. No penúltimo registo, líbios trazem
ovos e penas de avestruz42 e finalmente, no último estão representados os hititas (?) que fazem jus
à sua fama de metalúrgicos, com altos vasos preciosos, animais ou cabeças de animal.
Um grande corpo de tropas egípcias está presente43 e, a presença dos gordos bois
sacrificiais parece indicar que a festa irá culminar com uma cerimónia religiosa em
agradecimento a Aton.
Texto
60
HAt-sp 12 Abd 2 (-nw n) prt sw 8 (xr Hm n) nsw-bit(y) anx m mAat
nb tAwy
Ano 12, mês 2 ( da estação de) Peret, (dia) 8, (sob a majestade do) rei do Alto e do Baixo Egipto,
que vive em maet, o senhor das Duas Terras
37 Ibidem, vol. II, p. 40. 38 Ibidem, vol. II, p. 40. 39 Ibidem, vol. II, p. 40. 40 Ibidem, vol. II, p. 40.
41 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. II, p. 41. 42 Ibidem,, vol. II, p. 40. 43 Ibidem, vol. II, p. 42.
21
61
Nfr-xprw-Ra Wa-n-Ra sA Ra anx m mAat nb xAaw Ax-n-Itn aA m
aHa(w).f
Neferkheperuré Uaenré, filho de Ré, que vive em maet, Akhenaton, senhor das coroas, grande
no seu tempo de vida
62
Hmt-nsw aAt mrt.f Nfr-nfrw-Itn Nfrt-iti anx tiDt (n)HH
(e da) grande esposa real, sua amada, Neferneferuaton Nefertiti, que ela viva eternamente e
para sempre.
63
Xaw (n Hm.f) Hr st it.f
Aparição (de sua majestade) sobre o trono de seu régio e divino pai.
64
pA Itn anx m mAat iw wr nw xAst nbt
o Aton que vive em maet, quando os chefes de todas as terras estrangeiras
65
Hr ma sbi inw n nsw n Hr dbH htp m di.f r
estão a apresentar tributos ao rei e pedem a paz para que ele (lhes) conceda
66
Ss(n)t TAw anx
22
a respiração do sopro da vida.
Protocolos das princesas
67
sAt nsw n Xt.f mrit.f Mrt-Itn msi(t) n Hmt-nsw
A filha do rei, do seu corpo, sua amada Meritaton, nascida da esposa real,
Nfr-nfrw-Itn Nfrt-ity anx ti Dt nHH
Neferneferuaton Nefertiti, viva eternamente e para sempre.
68
sAt nsw n Xt.f mrit.f Makt-Itn msi(t) n Hmt-nsw
A filha do rei, do seu corpo, sua amada Maketaton, nascida da esposa real,
Nfr-nfrw-Itn Nfrt-ity anx ti Dt nHH
Neferneferuaton Nefertiti, viva eternamente e para sempre.
69
sAt nsw n Xt.f mrit.f anxs-n- pA Itn, Itn msi(t) n Hmt-nsw
A filha do rei, do seu corpo, sua amada Ankhesenpaaton nascida da esposa real,
Nfr-nfrw-Itn Nfrt-ity anx ti Dt nHH
Neferneferuaton Nefertiti, viva eternamente e para sempre.
70
23
sAt-nsw n Xt.f mrit.f (s)t Nfr-nfrw- Itn (tA) Sri(t)
A filha do rei do seu corpo, sua amada Neferneferuaton, a jovem,
msi(t) n Hmt-nsw Nfr-nfrw-Itn Nfrt-ity anx ti Dt nHH
nascida da esposa real, Neferneferuaton Nefertiti, viva eternamente e para sempre.
71
sAt-nsw n Xt.f mrit.f Nfr-nfrw-Ra
A filha do rei do seu corpo, sua amada Neferneferuré,
msi(t) n Hmt-nsw aAt Nfr-nfrw-Itn Nfrt-ity anx ti Dt nHH
nascida da grande esposa real, Neferneferuaton Nefertiti, que ela viva eternamente e para
sempre.
72
sAt-nsw n Xt.f mrit.f stp-n-Ra
A filha do rei do seu corpo, sua amada Setepenré,
msi(t) n Hmt-nsw aAt Nfr-nfrw-Itn Nfrt-ity anx ti Dt nHH
nascida da grande esposa real, Neferneferuaton Nefertiti, que ela viva eternamente e para
sempre.
Meriré em posição de adoração, (Pl. XXIX)
24
Fig. 11 − Pormenor da entrada, exterior. Umbral da porta.
Meriré II em oração. Davies, RTEA, vol. II, Pl. XXIX-d.
73
… r di iAw m HqA htp.f m Axt imntt n pt …
… para dar louvores ao soberano, quando ele repousa no horizonte ocidental …
74
… … di.f TAw nDm m n kA n
… … que ele conceda a doce brisa … pelo ka do
75
sS nsw … … … … imy-r pr imy-r ipwt nsw n Hmt-nsw aAt
escriba real, (do) mordomo, (do) intendente dos reais aposentos da grande esposa real
76
Nfr-nfrw-Itn Nfrt-ity anx ti Dt nHH
Neferneferuaton Nefertiti, que ela viva eternamente e para sempre.
77
Mry-Ra mAa-xrw … … …imAx m Axt-Itn
Pelo ka do escriba real Meriré, justificado, … … venerável em Akhetaton.
25
Meriré (II) é recompensado pelo rei Semenkhkaré.
Parede Norte, lado Este, (Pl. XLI).
Fig. 11 − Meriré (II) é recompensado pelo rei Semenkhkaré, (Pl. XLI).
A pintura nesta parede não foi acabada, as figuras reais apenas esboçadas. As cartelas
foram removidas, sobrevivendo apenas a da rainha. Quanto ao rei, o seu nome foi copiado por
Lepsius44. Trata-se de uma cena que difere das cenas de recompensa presentes noutros túmulos
e não existe qualquer harmonia entre e funcionário e o casal régio.
Meriré II está acompanhado dos seus amigos e encontra-se de pé sobre um pedestal e
preparado para receber os habituais colares45. A posição dos reis está absolutamente deslocada,
não é de crer que estivessem de pé ao mesmo nível da base do pedestal. Não há registo dos
servidores que têm por missão transportar os presentes que, aliás, também não estão
representados, ausentes as habituais cenas de regozijo. Será de levantar a hipótese desta não ser
a cena original mas que alguém representou Meritaton e Semenkhkaré em lugar de Akhenaton e
Nefertiti que teriam falecido.
Texto
Protocolo de Aton
44 A leitura deste nome é incerta. Para Lepsius seria aA kA Ra Dsr xprw. A leitura moderna é
sA Ra Smn-kA-Ra. Ver BONNAMY et SADEK, op. cit., p. 778. 45 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. II, p. 44.
26
78
anx Ra HqA m Axty Hay m Axt m rn.f m Sw (nty) ii m Itn
«Ré vivo, soberano dos dois horizontes, que rejubila no horizonte, no seu nome de luz que
vem do disco solar»,
79
Di anx Dt (n)HH
dotado de vida eternamente e para sempre
80
Itn anx wr nb Hb-sd nb Snyt Itn nb pt nb tA
Aton vivo e poderoso senhor do circuito de Aton senhor do céu, senhor da terra
81
ptw m pr-Itn m Axt-Itn
e dos céus, na casa de Aton em Akhetaton.
Protocolo do rei
82
Nsw-bit(y) anx-xprw-Ra sA-Ra Dsr xprw Ra saA-kA- Ra Di anx Dt (n)HH
Rei do Alto e do Baixo Egipto Ankhperuré, filho de Ré, Djser-Kheperuré Sakaré, dotado de vida
eternamente e para sempre46.
Protocolo da rainha
83
46 A leitura deste nome é incerta. Para Lepsius seria saA kA Ra Dsr xprw, DAVIES, Norman de G.,
RTEA, vol. II, p. 46. A leitura moderna é sA Ra Dsr xprw-Ra Smn-kA-
Ra. Ver BONNAMY et SADEK, op. cit., p. 788.
27
Hmt-nsw wr(T) Mrt-Itn anx Dt (n)HH
A grande esposa real Meritaton, dotada de vida, eternamente e para sempre47
47 Sem determinativo de rainha.
Top Related