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A AGRICULTURA FAMILIAR E OS COMPLEXOS AGROINDUSTRIAIS EM
SANTA CATARINA
Lilian de Pellegrini Elias, mestranda IE-Unicamp, [email protected].
Graziela Nunes Correr, pesquisadora Cepea-ESALQ-USP, [email protected].
Reney Dorow, pesquisador EPAGRI/CEPA, [email protected].
Área temática: 8. Desenvolvimento rural e agricultura familiar.
RESUMO
O debate acadêmico sobre a produção agrícola familiar se divide entre o fatalismo
daqueles que atestam uma tendência inexorável de concentração produtiva e a confiança de
outros na busca por alternativas de desenvolvimento rural e local para reverter a tendência. A
realidade da agricultura catarinense nos dá elementos para refutar o fatalismo e ampliar a
análise da agricultura. Os complexos agroindustriais de suínos e leite em Santa Catarina são
bons pontos de apoio para refletir o papel da agricultura familiar na sua coexistência com a
concentração produtiva e centralização do capital da produção agrícola de grande porte por
refletirem elementos da grande e da pequena produção. A suinocultura auxilia na reflexão por
estar historicamente presente na economia do oeste catarinense, e, a manutenção da estrutura
produtiva na região, a despeito da tendência observada na década de 1990 de migração para o
Centro-Oeste devido ao menor custo de produção daquela região, evidencia que a produção
de suínos não é direta e exclusivamente ligada à racionalidade econômica. A produção do
leite catarinense, por sua vez, tem 94,24% do total de litros produzido em propriedades
familiares, e, faz do oeste catarinense uma bacia leiteira que vem alcançando em dimensão as
bacias leiteiras mineiras. A produção leiteira em Santa Catarina demonstra que a produção
cooperativa e familiar tem condições competitivas para disputar mercado com a produção
empresarial de grande escala. Portanto, a chamada irreversibilidade da tendência de
esvaziamento do campo via seleção de produtores e diferenciação social não se sustenta nas
situações analisadas no estado de Santa Catarina e dá indícios de que a agricultura como um
todo precisa ser melhor analisada para que se defina qual o melhor caminho para o
desenvolvimento agrário, agrícola e rural.
Palavras-chave: Agricultura familiar, Complexos agroindustriais e Desenvolvimento Rural.
2
1. Introdução:
O Brasil vivenciou a partir do final da década de 1980 várias transformações políticas,
sociais, econômicas e incluído nesse processo está o setor agropecuário. As cadeias
produtivas da agropecuária sofreram profundas transformações decorrentes particularmente
da desregulamentação do mercado nacional. Os sistemas agroindustriais, em especial,
sofreram alterações nos mecanismos de distribuição dos insumos (concentração e
internacionalização das empresas, o desenvolvimento de pacotes tecnológicos integrados e
associados com a biotecnologia, com relações mais próximas entre fornecedores e usuários);
nos mecanismos de coordenação entre a agricultura e a indústria de processamento (crescente
desnacionalização e a concentração da indústria de alimentos); e a de varejo (concentração e
internacionalização com as grandes redes de hipermercados que aumentou o poder de
barganha deste elo, contratos de produtos alimentícios customizados e de marca própria)
(SAES e SILVEIRA, 2014).
Diante desse novo cenário cabe ao sistema produtivo, em especial ao setor agrícola
melhorar tanto sua competência tecnológica (controle de custos de produção) quanto sua
competência gerencial explorando mecanismos de cooperação (ZYLBERSTAJN,2014). A
reestruturação dos complexos agroindustriais tem como requisito a intensificação da
produtividade, que Souza e Buainain (2013) destacam ser o caminho através da especialização
do produtor rural, o aumento da escala e da eficiência produtiva. Fatores esses que, para os
autores, ameaçam a agricultura familiar (em especial os pequenos), e desta forma, os
incapazes de se adequar, seriam excluídos da atividade.
Contudo, simplesmente ser fatalista quanto à tendência de desaparecimento da
agricultura familiar parece ser prematuro. A agricultura familiar no ano de 2006 contribuiu
com R$ 54,4 bilhões, que representou 38% do valor total da produção do país naquele ano
(IBGE, 2006). Nota-se, portanto uma significativa contribuição da agricultura familiar no
conjunto do agronegócio brasileiro como setor produtivo da economia, produtor de alimentos
e gerador de renda.
De acordo com o trabalho Guanziroli et al. (2012), os dois últimos censos agropecuários
mostram que a participação da agricultura familiar na produção agropecuária do país
3
manteve-se praticamente inalterada1. A prevalência da agricultura familiar revela que este
segmento não somente agrega às cadeias produtivas do agronegócio, mas também consegue
crescer quase no mesmo ritmo que as mais destacadas cadeias produtivas agropecuárias do
campo brasileiro, além de produzir alimentos.
Outra questão a favor da agricultura familiar é que ela vem melhorando seu
desempenho produtivo, inversamente ao tamanho, como resultado do uso mais intensivo do
fator terra (por ser mais escasso), e ainda apresentam maior diversificação na produção,
seguindo sistemas produtivos mais sinérgicos, com atividades mais complementares entre si.
A complementaridade das atividades pode permitir redução de custos (usos consorciados
tanto de insumos quanto de equipamentos) contribuindo para competitividade na agricultura
familiar (GUANZIROLI ET AL, 2012; HELFAND et al., 2014 e SOUZA e
BUAINAIN,2013).
E mais, de acordo com Guanziroli et al. (2012), os agricultores familiares são mais
produtivos, pois com menos financiamento em proporção ao total (29%), produzem 36,11%
do total do Valor Bruto da Produção (VBP), o que implica melhor eficiência relativa ao
montante financiado.
Adicionalmente, Helfand et al. (2014) em seu trabalho, dividindo os produtores que
produzem mais de 10 salários mínimos ao mês, aufere que 89% deles tinham menos de 500
ha de terra, de maneira a não haver razão para que esse grupo de mais de 400 mil pequenos e
médios estabelecimentos desapareça. Ainda que muitos pequenos produtores enfrentem
muitos obstáculos para se manter competitivos, esses podem ser mitigados por meio de
políticas públicas, ações coletivas e uso de instituições que os ajudem a reduzir os custos de
transação e forneçam melhor acesso às tecnologias e aos mercados de insumos.
Dessa maneira, o presente trabalho pretende apontar e discutir a coexistência da
agropecuária de pequeno porte com os complexos agroindustriais no estado de Santa Catarina.
Ou seja, discutir como funciona a estrutura produtiva catarinense como forma de identificar a
coexistência entre grande e pequena produção agropecuária, em especial na pequena produção
de leite e suínos no estado.
O artigo está organizado da seguinte forma: a presente introdução, uma segunda parte
em que se discutirá os complexos agroindustriais em termos de estrutura, funcionamento e de
1 Passando de 37,91% em 1996 para 36,11% em 2006.
4
que maneira ela relaciona-se com a agricultura familiar, especialmente para os casos da
produção de leite e dos suínos em Santa Catarina; uma terceira parte em que se levantará as
convergências que os CAI’s tem entre si, discutirá as tendências dos mesmos para o futuro
(levantando questões como segurança alimentar e êxodo rural), e finalmente as considerações
finais.
2. Complexos agroindustriais em Santa Catarina
A agropecuária de pequeno porte mostra possuir papel fundamental no desenvolvimento
rural, na diminuição do ritmo de êxodo rural e na promoção segurança alimentar. Portanto, a
preocupação com a tendência de marginalização da agropecuária de menor porte e de menor
capitalização vem instigando pesquisadores, agricultores bem como todos aqueles que
preocupam-se com o destino da produção alimentar e do meio ambiente.
A evolução dos Complexos Agroindustriais em Santa Catarina demonstra como seu
desenvolvimento influencia no desenvolvimento rural de uma região. A presença de empresas
líderes que dominam setores produtivos, representa a forma como a intensificação da
produção e a seleção de agricultores pode desestruturar o modelo predominante de agricultura
local em prol de ganhos de poucos grupos agroindustriais, exemplificado na produção de
suínos. A produção de leite, por outro lado, é menos afetada por esta faceta evolutiva,
alicerçado principalmente pelo bom desempenho de cooperativas e associações de produtores
que conseguem melhores ganhos de escala, sem se desconectar do modelo produtivo
predominante.
Observa-se na literatura concomitantemente argumentação contrária e favorável ao
esforço governamental na manutenção desse modelo de produção baseado em agricultores
familiares. Portanto, discutir como funciona a estrutura produtiva catarinense como forma de
identificar a coexistência entre grande e pequena produção agropecuária, em especial na
pequena produção de leite e suínos, pode auxiliar no surgimento de alguns bons indicativos de
processo com o intuito de harmonizar a produção de alimentos e garantir desenvolvimento
local.
Em Santa Catarina encontram-se mais de 181 mil estabelecimentos de até 100 ha
(59,3%) e neles, a maior parte da área (52,4%) como se pode observar na tabela 1. No Brasil
5
essa proporção é de 21,2%. Portanto, condições históricas como é a estrutura fundiária e
condições edafoclimáticas facilitam a produção familiar e de suínos e leite.
Tabela 1 - Participação das propriedades no total de área em Santa Catarina.
Fonte: Censos Agropecuários. IBGE, 2014.
2.1. O Complexo Agroindustrial do Leite
O Brasil passou por um grande processo de transformação no mercado de leite na
década de 1990: a desregulamentação do mercado e a integração com o Mercosul (foram
responsáveis por uma queda de aproximadamente 40% no preço real do leite ao produtor no
período 1994-98), o ganho real da rendo do consumidor através da conquista da estabilidade
econômica, a expansão tecnologica e o vertiginoso aumento no consumo do leite UHT - que
subiu de 4% em 1990 para mais de 60% em 1997 em detrimento do consumo do leite
resfriado, então denominado de “C” (WILKINSON,1999).
Todo esse cenário exigiu mudanças do complexo agroindustrial quanto à modernização
de sistemas de coleta, acelerou a tendência da concentração de laticínios determinando um
novo perfil de produtor, acarretando no aumento de escala e qualidade da matéria-prima. O
que pode desfavorecer os produtores de leite da agricultura familiar, que em geral não são
especializados, produzem em pequena escala, fatos estes que em muito dependerá da
capacidade destes produtores para neutralizar ou reduzir as desvantagens competitivas e
potencializar as vantagens (SOUZA e BUAINAIN,2013 e BUINAIN et al.,2002).
1970 1975 1980 1985 1995 2006
Menos de
10 ha
N. 31,9% 33,9% 35,1% 39,1% 35,7% 36,6%
Área 4,8% 5,0% 5,0% 6,1% 5,5% 5,5%
10 a menos
de 100 ha
N. 63,8% 62,0% 60,6% 56,9% 60,0% 59,3%
Área 51,4% 50,7% 46,8% 46,5% 47,3% 46,9%
100 a menos
de 1000 ha
N. 4,1% 4,0% 4,1% 3,8% 4,0% 3,8%
Área 29,4% 28,9% 30,1% 30,4% 31,4% 29,4%
1000 ha e
mais
N. 0,2% 0,2% 0,3% 0,2% 0,2% 0,2%
Área 14,4% 15,4% 18,1% 17,0% 15,8% 18,2%
6
Contudo, de acordo com Souza e Buainain (2013) têm havido nos últimos anos um
processo de concentração dos novos investimentos agroindustriais no sul do país, onde a
produção de leite é basicamente realizada pela agricultura familiar.
A produção de leite no Brasil totalizou 34,25 bilhões de litros de leite e R$ 32,4 bilhões
em valor bruto da produção em 2013 (IBGE, 2014). Os principais estados produtores são
Minas Gerais (27,2%), Rio Grande do Sul (13,2%), Paraná (12,7%), Goiás (11%) e Santa
Catarina (8,5%), dentre as cinco unidades da federação de maior importância 3 pertencem à
região Sul com 34,4% de toda a produção nacional (Figura 1).
Figura 1 - Distribuição da produção brasileira de leite.
Fonte: IBGE – Pesquisa Pecuária Munucipal,2014.
Dentre eles destaca-se Santa Catarina, que vêm aumentando sua produção. Em 2013
foram 2,9 bilhões de litros de leite, de 1997 à 2013 houve um incremento de 2,4 vezes em
volume, e a partir dos anos 2000 a média de crescimento da produção leiteira deste estado foi
de 9% ao ano, resultados muito maiores que a média nacional de 4% (IGBE,2014).
7
A produção leiteira de Santa Catarina é essencialmente advinda da pequena
propriedade rural, a atividade explorada em regime familiar representa 94,24% do total de
leite produzido no estado. Em 2006, correspondeu a estabelecimentos agropecuários menores
de 50 hectares, superior ao registrado em 1996, quando a participação da pequena propriedade
era de 83,37% (Tabela 2), isso indica que ocorre no estado um movimento em direção
contrária da tendência nacional que é de 4% (IBGE, 2006). Em 2006, o valor bruto da
produção (VPB) gerado pelo leite no estado registrou cerca de R$ 573 bilhões, sendo que
desses 78,3% oriundos de propriedade com menos de 50 hectares (IBGE,2006).
Há de se destacar ainda que a produção de leite está presente em 42% (IBGE, 2006) das
propriedades catarinenses ratificando a importância deste produto tanto como atividade
principal quanto como atividade secundária e de auto consumo.
Tabela 2 - Produção de leite por tamanho de propriedade, comparativo 1996 e 2006.
Tamanho da propriedade 1996 2006
(1.000 L) (%) (1.000 L) (%)
Menos de 50 724.676 83,37% 1.246.365 94,24%
De 50 a menos de 200 120.806 13,90% 35.203 2,66%
Mais de 200 23.751 2,73% 40.921 3,09%
Total 869.233 100,00% 1.322.489 100,00%
Fonte: IGBE – Censos Agropecuários. IBGE, 2014.
A expansão da atividade leiteira no estado deve-se, primeiramente pelo ambiente de
forte concorrência nacional e internacional e pela migração de produtores pequenos e médios
de outras atividades (aves, suinocultura e culturas anuais) que perderam competitividade em
regiões que se exigiu maiores ganhos de escala - gerando instabilidade da renda agropecuária
-, aperfeiçoamento tecnológico, somada à tendência de queda nos preços dos produtos
(SANTOS et al., 2006).
A participação do leite no valor bruto da produção (VBP) da agropecuária catarinense
em 2013 foi de 12,8%, correspondendo ao terceiro produto em importância econômica e está
distribuída em quase todo território, contribuindo de maneira significativa para a manutenção
de produtores no campo e, consequentemente, redução do êxodo rural em várias regiões
(EPAGRI, 2013).
8
Já no segmento agroindustrial de Santa Catarina, as ligadas aos lácteos eram 258, em
2009, correspondendo à 11% do total no estado e configurando-se a quarta maior indústria do
segmento (Tabela 3), dos 14 associados do Sindileite-SC havia a presença de três
cooperativas: Confepar, Cooper Vale Sul e Terra Viva, sendo que esta última formada por
pequenos produtores assentados do MST e do MPA atuando com sucesso.
Tabela 3 - Número de empreendimentos de agregação de valor da agricultura familiar
por tipo de produto – 2009.
Produto N. de Agroindústrias Participação (%)
Frutas e derivados 394 16,8%
Cana-de-açúcar 377 16,1%
Massa/Panificação 318 13,6%
Leite e derivados 258 11,0%
Mandioca e derivados 188 8,0%
Hortaliças de derivados 176 7,5%
Mel e derivados 118 5,0%
Suínos e derivados 113 4,8%
Ovos 104 4,4%
Grãos e derivados 54 2,3%
Aves e derivados 50 2,1%
Bovinos e derivados 39 1,7%
Pescados e derivados 27 1,2%
Madeira 17 0,7%
Palmito 10 0,4%
Ovinos e derivados 4 0,2%
Outros 98 4,2%
Total 2.345 100,0%
Fonte: EPAGRI-CEPA.
Ainda sobre a indústria processadora de lácteos é importante destacar a qualidade desse
processamento. De 1997 até 2013 houve aumento de 118% do número de estabelecimentos
sob algum tipo de fiscalização sanitária (federal, estadual ou municipal), eram ao todo 462, o
que indica além da expansão da indústria em Santa Catarina, a preocupação com sua
9
formalidade e qualidade, os sistemas de fiscalização que mais cresceram nesses anos foram o
municipal (SIM) e o estadual (SIE), com respectivamente, 615% e 153% (Figura 2).
Figura 2: Laticínios sob inspeção federal, estadual e municipal em Santa Catarina, 2013.
Fonte: IBGE – Pesquisa Trimestral do Leite.
O setor produtivo do leite catarinense tem buscado aperfeiçoar e agregar técnicas mais
eficazes em sua produção. De acordo com os dados da Empresa de Pesquisa Agropecuária e
Extensão Rural de Santa Catarina (EPAGRI), nos últimos 8 anos foram feitos mais de 204 mil
atendimentos entre gado leiteiro e qualidade do leite (Tabela 4), só em 2014 foram 40.377,
com 34,2%, os dois produtos somados classificou por ser o segundo maior dentre os outros
produtos agropecuários.
Tabela 4: Número de atendimentos da EPAGRI por produto.
Ano Bovino Leiteiro L
eite Total
2007 48 - 48
2008 476
5
5 531
2009 18.411
2
.017 20.428
2010 26.121
3
.240 29.361
462
0
100
200
300
400
500
600
0
50
100
150
200
250
SIF SIE SIM Total
10
2011 31.904
3
.240 35.144
2012 37.007
3
.951 40.958
2013 35.290
2
.582 37.872
2014 37.388
2
.989 40.377
Total 204.719
Fonte: EPAGRI, 2014.
Cabe destacar, finalmente, a presença do Conseleite - SC criado no final de 2006,
como um instrumento de coordenação dos elos do CAI do leite. As finalidades do Conseleite
são zelar pelo aprimoramento do sistema de avaliação da qualidade do leite bem como
referenciar a forma de premiação; zelar pelo bom relacionamento entre as partes; desenvolver
análises técnicas e econômicas no que tange a estrutura e evolução do mercado de lácteos; e
promover conciliação de conflitos. Esse conselho é composto por uma diretoria (paritária
entre membros do Sindileite e FAESC), secretaria da agricultura e uma câmara técnica
sempre com representações tanto dos produtores rurais quanto das indústrias processadoras
(estatuto Conseleite - Santa Catarina).
2.2. O Complexo Agroindustrial de Suínos
A produção de suínos em Santa Catarina historicamente é realizada por pequenas
propriedades distribuídas pelo estado. No ano de 1996 o Censo captou que 79% das cabeças
de suínos no estado foram produzidas em estabelecimentos agropecuários de menos de 50
hectares e apenas 4% em estabelecimentos com mais de 200 hectares. Uma década depois a
tendência de concentração da produção se manifesta, mesmo que moderadamente, 76% das
cabeças de suínos continuam sendo produzidas em estabelecimentos agropecuários de menos
de 50 hectares e apenas 5% em estabelecimentos com mais de 200 hectares em Santa Catarina
(tabela 5).
Tabela 5 - Produção de suínos em SC - Efetivo de suínos por tamanho de
estabelecimento em Santa Catarina (ha).
11
Tamanho dos
estabelecimentos 1996 2006
Cabeças (%) Cabeças (%)
Menos de 50 3.600.907 79% 4.973.076 76%
De 50 a menos de
200 741.266 16% 1.262.885 19%
Mais de 200 193.345 4% 297.841 5%
Total 4.535.518 6.533.802
Fonte: Censos Agropecuários. IBGE, 2014.
2.2. Suinocultura
No Brasil a suinocultura se concentra na região sul onde 18 milhões de cabeças de
suínos são produzidas. A Região Sul possui grande concentração do rebanho brasileiro e
Santa Catarina possui destaque, apenas a mesorregião Oeste Catarinense produz 14,1% do
total da produção brasileira (tabela 10).
A região Centro-Oeste começa a dar sinais de que possa vir a ter uma produção
relevante. A produção de grãos, base da ração animal, e a infraestrutura logística são
considerados pontos chave para compreender o crescimento da produção suína. A região teve
um aumento de 35% na produção entre 2003 e 2013.
Tabela 10 - Suínos - Efetivo do rebanho (número de cabeças) por Grande Região.
Brasil e
Grande Região 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
2004
2013
(%)
Brasil 33,1 34,1 35,2 35,9 36,8 38,0 39,0 39,3 38,8 36,7 11%
Norte 2,1 2,1 2,0 1,7 1,6 1,6 1,6 1,6 1,5 1,3 -39%
Nordeste 7,0 7,1 7,2 6,7 6,7 6,3 6,2 6,1 5,9 5,6 -21%
Sudeste 5,7 6,0 6,1 6,4 6,4 6,7 7,1 7,0 7,1 6,9 21%
Sul 14,5 15,1 16,0 17,1 17,8 18,4 18,6 19,1 19,2 17,9 24%
Centro-Oeste 3,8 3,8 4,0 4,0 4,3 5,0 5,4 5,5 5,1 5,1 35%
Fonte: IBGE - Pesquisa Pecuária Municipal - 2014.
12
2.3. Oeste Catarinense
O Oeste Catarinense se destaca nacionalmente como mostra a figura 3 e é considerado o
maior complexo agroindustrial de carnes suínas e aves da América Latina, o complexo do
oeste catarinense é um exemplo de um bem sucedido sistema de integração entre
agroindústrias e agricultura familiar. As razões para a formação do complexo estão
alicerçadas em questões históricas, especialmente pela formação da população local,
descendente de europeus, que já possuíam tradição na suinocultura e em questões
edafoclimáticas e fundiárias favoráveis.
Figura 3 - Distribuição do rebanho de suínos por estado e mesorregião geográfica -
Brasil – 2012.
Fonte: Embrapa.
Ao longo do desenvolvimento do CAI a reestruturação que gerou integração vertical. As
agroindústrias passaram a fornecem matrizes, rações, assistência técnica, transporte pré-abate
e medicamentos. Por sua vez, neste arranjo integrado os agricultores são responsáveis pelas
13
instalações presentes na propriedade rural, criação dos animais, mão de obra empregada e o
cumprimento das normas sanitárias e trabalhistas diversas.
A primeira etapa da constituição do que seria o complexo se baseou em cooperação
mútua, garantia de vendas e padrão relativamente homogêneo de desenvolvimento das
propriedades e do desenvolvimento rural e regional. A segunda etapa – anos 1980 – do ao
denominado Complexo Agroindustrial passa a atuar na ampliação da concorrência e a
intensificação dos métodos de integração, as agroindústrias começam a interferir no processo
produtivo das unidades familiares, no qual os avanços tecnológicos e dos mercados e o
desenvolvimento dos agricultores passa a ser desigual e excludente – apenas parte
capitalizada recebia incentivos creditícios para ampliar base produtiva e produtividade.
A concentração levou à seleção que significou a exclusão dos agricultores culminando
no êxodo rural. O agricultor marginalizado da produção de suínos, não raro endividado, passa
a não ter alternativa a não ser se desfazer da propriedade e buscar outros meios de
subsistência.
2.4. Formação da estrutura de produção de suínos em Santa Catarina
A produção de suínos cresce com o declínio da produção de fumo (predominante do
início até meados do século XX), quando a suinocultura já era praticada como subsistência. A
suinocultura passa a ser a atividade mais importante da região (TESTA, 2015).
Em 1940 surgem frigoríficos abatedores de suínos, decorrente da junção de capital
comercial e renda dos pequenos agricultores. O capital comercial domina comercialmente
com a coleta/carregamento e transporte dos suínos e com frigoríficos para abate e a
comercialização da produção. A contribuição dos agricultores acaba perdendo a
representatividade à medida que o sistema se desenvolve. Em Santa Catarina mais de dez
agroindústrias são formadas (quadro 1).
Quadro 1 - Primeiras agroindústrias da mesorregião Oeste de Santa Catarina
Ano Nome da Agroindústria Município
1940 Perdigão S/A Comércio e Indústria Videira
1942 Comércio e Indústria Saulle Pagnocelli Joaçaba
1943 Sociedade Anônima Indústria e Comércio Concórdia –
(Posteriormente Sadia) Concórdia
14
1952 Sociedade Anônima Indústria e Comércio Chapecó – SAICC
(Posteriormente Chapecó Industrial) Chapecó
1956 Frigorífico Seara (Posteriormente Seara Industrial) Seara
1962 Sociedade Anônima Frigorífico Itapiranga – Safrita Itapiranga
1963 Unifrico – Sociedade Anônima Indústria e Comércio Salto Veloso
1969 Indústrias Reunidas Ouro Sociedade Anônima Ouro
1969 Cooperativa Central Oeste Catarinense Chapecó
1975 Frigorífico São Carlos São Carlos
Fonte: adaptação feita em Piva (2010) retirada de Strieder (1996).
O novo modo de produção de suínos é imposto junto à evolução do sistema integrado.
Entre as novas práticas do mercado, está a compra da produção com exclusividade, ou seja, a
agroindústria adquire toda a produção do suinocultor.
O papel do Estado se modifica e o crédito agrícola, fiscalização e licenciamento passam
a ser direcionados em grande parte aos grandes conglomerados e seus parceiros. Os
agricultores para conseguirem o benefício do crédito rural e se adequarem às normas
sanitárias entre outros requisitos para a produção tiveram que se modernizar no molde
requerido pela grande agroindústria.
As exigências restringiram a atuação do agricultor independente e da pequena
agroindústria. A centralização teve impulso em períodos de crise ou depressão econômica,
quando maiores empresas têm maior suporte creditício e maior robustez para resistir a
períodos de baixa recepção de recursos. Como consequência cinco empresas restaram na
década de 2000, sendo elas Grupo Sadia, Perdigão S/A, Seara Industrial, Grupo Chapecó e
Grupo Aurora. Em 2015 a centralização se mostra intensificada e o complexo se restringe a
três grupos, entre eles JBS/SEARA, BRF e Aurora (que arrendou todo complexo do grupo
Chapecó).
2.5. Transações entre suinocultores e agroindústrias – integração.
Os contratos na coordenação da produção de suínos no Brasil é consequência da
expansão da agroindústria e surge em Santa Catarina.
A intensificação da assistência técnica, fornecimento de insumos e aumento da
produtividade permitiu rápida acumulação de capital e aumento da produtividade industrial.
15
Mais da metade da produção de suínos (abates) é feita através de contratos, que em geral, de
acordo com Coser (2010) são de dois tipos:
- Regula relação de compra e venda (marketing contracts): restringe-se a aspectos
comerciais, garante escoamento. Portanto: produtor detém ativos e é responsável pelas
decisões e riscos da produção.
- Contratos de produção ou de parceria (production contracts): o contratante determina o
critério de remuneração, detalha os insumos a serem utilizados e o padrão mínimo de
qualidade.
O capital comercial (atravessadores), financeiro e o capital industrial controlam o setor
agrícola.
As transações podem ser divididas em cinco categorias a partir da economia dos custos
de transação
- Mercado spot - Acordos tácitos (sem acordo formal) - Contratos (acordo formal
escrito);
- Alianças estratégicas (iniciativas associativas) - Hierarquia (integração vertical plena).
Não há tipificação específica na normativa brasileira para contratos agroindustriais de
integração e as características gerais dos acordos formais são:
* Exclusividade da integradora na definição dos principais insumos utilizados na
produção (genética, rações e medicamentos);
* Monopólio da integradora sobre as decisões técnicas, de coordenação da atividade
produtiva e de comercialização dos animais;
* Determinação pela integradora de níveis mínimos de produtividade e do sistema de
remuneração empregado no sistema.
O desdobramento da constituição de contratos de integração e sua consequente
concentração se resume na figura 2 onde consta o volume de aquisições na produção de
suínos. O número de empresas se reduziu fortemente e existe interligação via compra de ações
entre as poucas que permaneceram.
Quadro 2 - Suínos – aquisições.
Sadia
Toledo Suínos/ração 1964 Toledo (PR)
Damo Suínos 1989 Frederico Westphalen (RS)
Três Passos Suínos 1985 Três Passos (RS)
16
Wilson Suínos 1992 Ponta Grossa (PR)
Comabras Suínos 1992 Ponta Grossa (PR)
Perdigão
Unifrico Suínos 1977 Salto Veloso
Saulle Pagnocelli Suínos 1980 Herval do Oeste
Reunidas Ouro Suínos 1980 Capinzal
Ceval
Seara Suínos 1980 Seara
Rio da Luz Suínos 1983 Jaraguá do Sul
La Vilette Suínos 1988 São Paulo (SP)
Swift Suínos/ração 1989 Marechal Cândido Rondon
(MT)
Bordon Suínos/aves/bovin
os 1990 Dourados (MS)
Eliane Suínos/aves 1995 Criciúma
Chapecó
Fricar Suínos 1982 São Carlos
Prenda Suínos 2000 Santa Rosa (RS)
Aurora
Marafon Suínos 1969 Chapecó
Pepery Suínos 1982 São Miguel d'Oeste
São Gabriel Suínos 1996 São Gabriel do Oeste (MS)
*Perdigão adquire Sadia em 2009.
Fonte: Figura montada a partir de Coser, 2010.
2.6. Perspectivas para o CAI
As propriedades tendem a ser maiores, mais mecanizadas e menos dependentes de mão
de obra. No sistema de integração permanecerão os produtores maiores, os quais terão perfil
mais profissional e serão mais especializados.
O número de produtores levantado pelo Censo Agropecuário de 1995 apontou 130.819
produtores na atividade, em 2006 foram identificados apenas 54.711 produtores (tabela 11). A
queda em 58% no número de produtores evidencia a expulsão de agricultores do campo.
O número de animais, efetivo dos rebanhos, em 2003 atingiu 5,4 milhões de cabeças,
número 23% superior ao de 1995 de acordo com a Pesquisa Pecuária Municipal. Portanto,
enquanto em 1995 cada produtor produzia em média 33 cabeças, em 2003 o número médio
17
passa para 99 cabeças por produtor. Seguindo a tendência este número médio deve ter
aumentado consideravelmente, evidenciando a concentração produtiva.
A concentração produtiva pode ser vista também no número de animais produzidos por
propriedade. No Censo Agropecuário de 1995 62% das propriedades produtoras de suínos
trabalhavam com 200 animais ou mais, em 2006 a porcentagem aumenta para 89%.
Tabela 11 – Número de produtores, número de animais e propriedades com 200 animais
ou mais.
1995 2006
Número de produtores 130.819 54.711
Número de animais 4.535.571 6.569.714
Propriedades com 200
animais ou mais 62% 89%
Fonte: Censo Agropecuário.
A BRFoods, empresa do ramo de produção animal, representa bem o processo de
concentração produtiva que ocorre no estado de Santa Catarina. A BRF é a empresa que surge
da fusão entre Perdigão e Sadia, quando em meio de uma crise econômica a Sadia se
enfraquece e é vendida para a primeira. A Perdigão em sua fundação segue os passos das
demais empresas de produção agroindustrial, como é possível observar no quadro 1:
Quadro 3 – Formação da BRF.
18
Fonte: BRF.
Segundo Jurandir Machado da Abipecs a suinocultura perdeu importância dentro de
Santa Catarina com a migração do centro decisório das principais empresas agroindustriais
para outros estados. Apenas a Aurora e o Frigorífico Riosulense permaneceram com sede no
estado. A BRF e JBS não possuem suas sedes no estado e atualmente abrangem a maior parte
dos produtores.
Nos anos de 2013 e 2014 os animais passaram a ser abatidos com pouco mais de 80 kg
devido à acelerada demanda de carne suína para o exterior. A intensificação também atua
sobre a produção de leitões. As porcas que não produzem 30 crias por ano são descartadas,
fazendo com que aumente a produtividade da atividade, aumentando a eficiência do sistema
produtivo. A maior eficiência depende de maiores investimentos e, consequentemente, maior
necessidade de capital (ABIPECS,2014; CEPA, 2015).
A suinocultura vai se tornando mais complexa, com sistemas cada vez mais
informatizados. Os produtores com menor capacidade de investimento acabam sendo
excluídos, o que contribui com sua exclusão dos sistemas integrados verticalmente.
Para solucionar os problemas enfrentados com as tradicionais agroindústrias surgem as
cooperativas descentralizadas são uma alternativa muito presente. Os agricultores vão
* 1930: Surge no meio oeste catarinense – abatedouro de suínos – Ponzoni ;
* 1940: O avanço no número de abates força melhora tecnológica;
A empresa amplia os negócios com a aquisição de empresa de processamento de peles e setor
madeireiro;
* 1950: Direcionamento para o agronegócio com a implantação de uma Granja de alta
linhagem;
Incorpora setor de transportes e passa a chamar-se Perdigão;
* 1960: Avanço tecnológico com controle biológico, laboratórios, etc.;
* 1970: Já produzia rações e passa a industrializar soja e derivados;
* 1980: Incorpora uma hidrelétrica, diversifica com derivados de aves e suínos e adquire
empresas do ramo;
* 1990: Joint-venture com Persuínos (Portugal) e expande exportações;
* 2000: Complexo Rio Verde – Primeiro escritório fora do país (Londres)
19
encontrando soluções independentes, mediante produção de especialidade, frente ao processo
de escala nos sistemas integrados.
A integração não necessariamente melhora as condições dos integrados e marginaliza os
demais. Esta por vezes provoca a expulsão e falta de mão de obra no campo. O campo passa a
demandar cada vez maiores investimentos para que se substitua a mão de obra com novas
maquinas e equipamentos. A exigência cada vez mais estreita das empresas fazem com que a
necessidade de maiores investimentos venha lado a lado com menores margens de lucro ao
produtor rural. As menores margens de lucro desestimulam a estadia dos mais jovens. Produz-
se mais com menos suinocultores.
A formação de políticas públicas adequadas seria necessária para dar suporte a este
processo de transição, ao posicionar o desenvolvimento rural e regional e a garantia de renda
aos agricultores como prioridade. O agricultor familiar não consegue absorver sozinho todo
complexo de inovação tecnológico disponível no mercado (mecânicas, químicas e biológicas).
O agricultor familiar necessita primordialmente de soluções não tecnológicas para se
reproduzir e as políticas públicas são necessárias nesse sentido (SALLES-FILHO, BIN, 2014;
MIOR, 2014).
O que se evidencia em Santa Catarina é o complexo agroindustrial puxando a tendência,
de êxodo rural. Por um lado a coordenação das grandes empresas facilita com a concentração
da produção e expulsão de parte dos antigos suinocultores. Os avanços tecnológicos
promovem a seleção dos produtores, à medida que eles não caminham rumo a tecnificação e
ganho de escala, acabam sendo preteridos nos planos das integradoras. Os agricultores que
saem da integração se encontram com baixa possibilidade de migrar para outro tipo de
cultura, os gastos que devem ser empreendidos neste sentido tornam dificultado o
investimento de um agricultor que já vem fragilizado devido à expulsão da integração na
produção de suínos.
3. Considerações Finais
O Complexo Agroindustrial de Suínos em Santa Catarina assumiu nas últimas décadas a
tendência de concentração da produção. A centralização de capital e concentração da
produção ficam evidentes quando se analisa a produtividade por propriedade, o nível de
intensificação entre outros fatores. Porém, esta tendência ainda está em curso e de dá em um
ritmo que torna ainda possível avaliar e agir de forma a desacelerar o processo.
20
O crescimento das agroindústrias baseou o desenvolvimento rural e urbano dos
municípios onde se inserem. Em algumas microrregiões do estado, com destaque ao oeste
catarinense, possuem grande parte das suas propriedades com produção de suínos. As
microrregiões de São Miguel do Oeste e Chapecó, que se localizam na mesorregião Oeste
Catarinense possuem respectivamente 60% e 58% do total dos estabelecimentos com
produção suína. A desestruturação deste CAI causaria, portanto, grande impacto ao
desenvolvimento rural destas localidades visto que a maioria dos estabelecimentos estão
integrados ao complexo agroindustrial e quase a totalidade possui algum grau de dependência
com os CAI.
O estado de Santa Catarina apesar de permanecer como fonte de produto de excelência
devido às condições sanitárias a concentração de produção de grãos no Centro-Oeste exige
uma formação logística que permita o transporte para Santa Catarina para alimentação animal,
o problema do tratamento de dejetos suínos, altamente danosos ao meio ambiente, e a
necessidade de expansão logística para o escoamento da produção são problemas que
fragilizam a produção suinícola no estado. Soluções para o complexo produtivo representam
soluções para o desenvolvimento das regiões em que estão inseridos.
Já o Complexo Agroindustrial do Leite em Santa Catarina, como em todo o país, passou
por um grande processo de transformação no mercado a partir do final dos anos 1980 com a
desregulamentação do mercado e a integração com o Mercosul ganho real da rendo do
consumidor através da conquista da estabilidade econômica, a expansão da tecnologia e o
aumento no consumo do leite UHT.
A produção leiteira do estado é essencialmente advinda da pequena propriedade familiar
são 94,24% do total de leite produzido no estado que vem se expandindo. Essa expansão da
atividade leiteira deve-se, primeiramente pelo ambiente de forte concorrência nacional e
internacional e pela migração de produtores pequenos e médios de outras atividades (aves,
suinocultura e culturas anuais) que perderam competitividade em regiões que se exigiu
maiores ganhos de escala.
O segmento da indústria de processamento de lácteos era a quarta maior das
agroindústrias em 2009, dos 14 associados do Sindileite-SC há a presença de três
cooperativas. Há de se destacar que ao longo dos anos o CAI tem se preocupado com a
qualidade de seu produto registrando 1997 até 2013 houve aumento de 118% do número de
estabelecimentos sob algum tipo de fiscalização sanitária (federal, estadual ou municipal).
21
O setor produtivo do leite catarinense tem buscado a aperfeiçoar e agregar técnicas mais
eficazes em sua produção, buscando orientação técnica e introdução de tecnologia.
Finalmente, cabe destacar, a presença do Conseleite - SC criado no final de 2006, umas das
primeiras iniciativas do Brasil neste sentido, como um instrumento de coordenação dos elos
do CAI do leite o que traz mais transparência para o setor e melhores ganhos para os
produtores rurais, em especial ao pequeno que convive com margens apertadas.
A argumentação em Buainain et al. (2013) é de que de que a seletividade dos produtores
e aprofundando a diferenciação social no campo e que a tendência de esvaziamento do campo
é irreversível e que a produção agrícola de grande intensificação de capital faz da pequena
produção progressivamente irrelevante. O argumento é desenvolvido na terceira tese das sete
dispostas no artigo acima mencionado: “O desenvolvimento agrário bifronte”. Nesta terceira
tese os autores sugerem que as perspectivas dos pequenos produtores são desfavoráveis e que
“Em nenhum outro momento da história agrária os estabelecimentos rurais de menor porte
econômico estiveram tão próximos da fronteira da marginalização” (BUAINAIN et al., 2013,
p. 114).
O que expomos neste artigo é que por um lado a tendência não se manifesta de forma
generalizada no Brasil. Pedro Ramos (2014) corrobora que afirmar que embora existam
razões para que o tamanho médio dos estabelecimentos aumente com o passar do tempo, esta
tendência se diferencia e muito de prever o desaparecimento da maioria dos pequenos e
médios produtores no Brasil.
A agricultura familiar possui sua funcionalidade dentro da estrutura produtiva e do
modelo de reprodução social tanto no que se refere a produção agrícola quanto a aspectos que
esta influência ou é influenciada. O contexto no qual a agricultura familiar está inserida é
complexo e exige forte atenção. De forma alguma se quer forçar a permanência do agricultor
no campo. O que se almeja é dar a oportunidade de permanência na área rural para aqueles
que a desejam e políticas públicas e atenção via pesquisa é fundamental para cumprir este
objetivo.
22
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