Conduta Ética do Professor com base na pedagogia de Paulo Freire

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Akr óp olis, Umu ar a ma, v. 17, n. 3, p . 149-158, j ul. / set. 2009 149 A COND UT A ÉTICA DO PROFESSOR COM BASE NA PEDAGOGIA D A AUTON OMI A DE PAUL O FREIRE  THE TEACHER’S ETHICAL CONDUCT RELIED ON PAUL O FREIRE'S PEDAGOGY OF AUTONOMY Albino Gabriel Turbay J unior 1 Gedson Cavinatti Rubio 2 Fernan da Garcia Velasquez Matum ot o 3 Recebido em agosto/20 09 Aceito em outubro/2009 1 Mestre em Direito pela UNIPAR. Especia- lista em Direito Processual. Especialista em Docência do Ensino Superior e professor de Dire ito Penal/UNIPAR – Umu arama – Cam- pus – Sede. E-mail: [email protected] 2 Graduado em Ciência da Computação pela UNIPAR e Es peci alista em Do cência do En- sino Superior 3 Mestre em Direito Processual Penal. Es- pecialista em Direito Empresarial Coorde- nadora do Programa Institucional de Valo- rização do Magistério Superior/UNIPAR e professora da UNIPAR – Umuarama – Cam- pus – Sede.  J UNOR, A. G.  T; RUBIO, G. C; MATUMOTO, F. G. V. A conduta ética do professor com base na pedagogia da autonomia de Paulo Freire . Akrópolis Umuarama, v. 17, n. 3, p. 149-158, jul./set. 2009. RESUMO: As aulas do curso de pós-graduação em docência l evaram a um a pre- ocupação sobre o comportamento do professor em situações problemáticas, em que se exerce a atividade, quanto no relacionamento com os alunos. A m elhor conduta nestas situações problemáticas é aquela que tem a ética como base e para isto é preciso entender o que é ética, sendo que, para a busca des- ta compreensão, este trabalho utilizou como base a Pedagogia da Autonomia, de Paulo Freire, que, sem dúvida alguma, apresenta saberes importantes para PALAVRAS-CHAVE: Profe ssor; S itu ações problem áticas; Ética; Pedag ogia da au- tonomia ABSTRACT: Classes within the post-graduation course in Teaching led us to con- cern teacher’s behavior before problematic conditions, either related to its own profession in relation to t he institu tion in w hich he works, as well as its rela- tionship with the students. The best conduct towards such conditions is the ethics-based, reason why understanding ethics is necessary. In the pursuit of such understanding, this study was based on Paulo Freire’s Pedagogy of Auto- teacher’s ethical conduct. K EYWORDS: Teacher; Problematic condit ions; E thics; P edagogy of Autonomy.

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    A CONDUTA TICA DO PROFESSOR COM BASE NA PEDAGOGIA DA AUTONOMIA DE PAULO FREIRE

    THE TEACHERS ETHICAL CONDUCT RELIED ON PAULO FREIRE'S PEDAGOGY OF AUTONOMY

    Albino Gabriel Turbay Junior1Gedson Cavinatti Rubio2

    Fernanda Garcia Velasquez Matumoto3

    Recebido em agosto/2009Aceito em outubro/2009

    1Mestre em Direito pela UNIPAR. Especia-lista em Direito Processual. Especialista em Docncia do Ensino Superior e professor de Direito Penal/UNIPAR Umuarama Cam-pus Sede. E-mail: [email protected]

    2Graduado em Cincia da Computao pela UNIPAR e Especialista em Docncia do En-sino Superior

    3Mestre em Direito Processual Penal. Es-pecialista em Direito Empresarial Coorde-nadora do Programa Institucional de Valo-rizao do Magistrio Superior/UNIPAR e professora da UNIPAR Umuarama Cam-pus Sede.

    JUNOR, A. G. T; RUBIO, G. C; MATUMOTO, F. G. V. A conduta tica do professor com base na pedagogia da autonomia de Paulo Freire. Akrpolis Umuarama, v. 17, n. 3, p. 149-158, jul./set. 2009.

    RESUMO: As aulas do curso de ps-graduao em docncia levaram a uma pre-ocupao sobre o comportamento do professor em situaes problemticas,

    em que se exerce a atividade, quanto no relacionamento com os alunos. A melhor conduta nestas situaes problemticas aquela que tem a tica como base e para isto preciso entender o que tica, sendo que, para a busca des-ta compreenso, este trabalho utilizou como base a Pedagogia da Autonomia, de Paulo Freire, que, sem dvida alguma, apresenta saberes importantes para

    PALAVRAS-CHAVE: Professor; Situaes problemticas; tica; Pedagogia da au-tonomia

    ABSTRACT: Classes within the post-graduation course in Teaching led us to con-cern teachers behavior before problematic conditions, either related to its own profession in relation to the institution in which he works, as well as its rela-tionship with the students. The best conduct towards such conditions is the ethics-based, reason why understanding ethics is necessary. In the pursuit of such understanding, this study was based on Paulo Freires Pedagogy of Auto-

    teachers ethical conduct.KEYWORDS: Teacher; Problematic conditions; Ethics; Pedagogy of Autonomy.

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    JUNIOR, A. G. T; RUBIO, G. C; MATUMOTO, F. G. V.

    INTRODUO

    inmeras vezes, se encontra em situaes problem-ticas em que precisa tomar uma deciso, porm esta deciso sempre envolve o questionamento sobre a moralidade de determinado comportamento, o que

    problemticas.Estes questionamentos giram em torno de si-

    tuaes como, por exemplo, de que forma chamar a ateno de um aluno para a disciplina? Como avaliar um aluno que no se empenha em sala de aula? Ou que nunca disciplinado? O que fazer quando per-cebe que um aluno est colando? E ainda, quando percebe que est colando, mas no h provas? Ou responder a um aluno que questiona seus mtodos?

    aula, de aluno com outro aluno, ou at mesmo de alu-no com o prprio professor? O que fazer quando no se sabe uma resposta para um aluno que questio-na? Como fazer quando se percebe que as aulas no tem sido produtivas: tenta inovar, ou o importante transmitir o contedo e o problema de absorver do aluno? O que fazer quando se est insatisfeito com a remunerao recebida como professor? O que ser professor?

    Estes so alguns dos problemas que podem acontecer na experincia de sala de aula e da pr-pria atividade de professor, sendo que as respostas e as solues devem ser construdas por meio de uma conduta tica, respeitando os alunos e a Instituio, mas tambm se valorizando como professor.

    Ter a conduta tica adequada evita a respon-sabilidade por danos na relao educacional, danos em relao s pessoas envolvidas, bem como dano prpria educao, que o objetivo maior da atividade da docncia.

    Mas o que tica? E, ainda, como descobrir qual a conduta tica para um caso concreto?

    Neste trabalho, procurou-se estabelecer um

    que reconhea a condio do ser humano e sua com-plexidade. Em seguida foi pesquisado um sentido de

    -nhecendo na Pedagogia da Autonomia de Paulo Frei-

    sobre a tica do comportamento do professor, foram catalogados os saberes propostos por Paulo Freire realizando, uma interpretao por parte dos autores deste artigo, com o objetivo, no de resolver todas as questes formuladas no incio, mas de estabelecer

    -

    diquem uma conduta tica.

    Um sentido para a tica

    Para desenvolver um estudo sobre a tica -

    Adolfo Sanchez Vazquez (2003, p.23),

    A tica a teoria ou cincia do comportamento moral dos homens em sociedade. Ou seja, ci-

    humano.

    -ponde necessidade de uma abordagem cient-

    abordagem, a tica se ocupa de um objeto prprio: o setor da realidade humana que chamamos mo-ral, constitudo como j dissemos por um tipo peculiar de fatos ou atos humanos. Como cin-cia, a tica parte de certos tipos de fatos, visando descobrir-lhes os princpios gerais. Neste sentido, embora parta de dados empricos, isto , da exis-tncia de um comportamento moral efetivo, no pode permanecer no nvel de uma simples descri-o ou registro dos mesmos, mas os transcende com seus conceitos, hipteses e teorias. Enquan-

    racionalidade e objetividade mais completas e, ao mesmo tempo, deve proporcionar conhecimentos sistemticos, metdicos e, no limite do possvel, comprovveis.

    a prpria moral, mas a moral o objeto de estudo

    da tica no tem a inteno de estabelecer regras fechadas de como se comportar, ou seja, estabele-cer solues para cada problema prtico-moral, e sim criar uma cincia com princpios gerais voltados para

    -ber agir em situaes problemticas.

    A tica no se preocupa com qualquer com-portamento humano, mas com aqueles que envolvem

    -tes problemas e a construo de uma cincia, tendo como objeto o comportamento moral.

    Quando se pensa em soluo de problemas

    para todos os comportamentos humanos em cada si-tuao concreta, pois a soluo de cada indivduo, quando se encontra em um problema prtico-moral, mas a tica pode determinar regras sobre como re-

    -lizando, e elaborando princpios para que o indivduo possa realizar sua conduta dentro de padres de ti-ca (SNCHEZ VZQUEZ, 2003, p.17).

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    A conduta tica do professor com base...

    Desta forma, em cada campo de comporta-mento humano devem ser analisados os problemas

    eles, fazer juzo de valor, encontrar solues, e a te-

    tica, que depois, como cincia, deve manter a inves-tigao dos casos para poder se contextualizar e se reformular na diversidade de situaes de problemas morais dos relacionamentos humanos.

    Importante citar a tica do gnero humano encontrada na obra de Edgar Morin (2002, p.105): para ter o sentido tico, preciso compreender que

    -senvolvimento conjunto das autonomias individuais, das participaes comunitrias e do sentimento de pertencer espcie humana. No seio desta trade complexa emerge a conscincia. Com isso, a con-duta tica acontece quando o indivduo tem a cons-cincia de ser humano, pertencente a uma espcie e de estar reunido com outros pertencentes mesma espcie, em uma complexidade de relaes que for-mam a sociedade. tica reconhecer a complexida-de e a condio do ser humano.

    Conforme Edgar Morin (2002, p.106), a an-tropotica supe a deciso consciente e esclarecida de: assumir a condio humana indivduo/sociedade/espcie na complexidade do nosso ser; alcanar a humanidade em ns mesmos, em nossa conscincia pessoal; assumir o destino humano em suas antino-mias e plenitude. Assim, a tica assumir a condio de ser humano e, para isto, necessrio viver esta tica com solidariedade e com compreenso desta condio de ser humano, pois nesta condio os er-ros acontecem, inclusive para quem no compreende o erro do outro, e compreender parte do processo de humanizao, do aprendizado de qualquer ser hu-mano (MORIN, 2002, p.100).

    Em sala de aula, os problemas prticos mo-rais acontecem constantemente na relao profes-sor/aluno, bem como na relao professor/instituio de ensino, e as solues ocorrem caso a caso, e para se determinar uma conduta tica, tal conduta, como soluo para o caso, deve estar dentro dos princpios estabelecidos para aquele comportamento, mas prin-cipalmente passando pela compreenso da condio de ser humano dos envolvidos.

    --

    Apesar da individualidade nossos compor-

    dentro de um sistema e necessrio que ele respeite a ordem deste sistema, para que possa, com tica, ter sucesso como indivduo. Conforme Antonio Lopes

    deve seguir uma ordem que permita a evoluo har-mnica do trabalho de todos, a partir da conduta de cada um, atravs de uma tutela no trabalho que con-duza regulao do individualismo perante o coleti-vo.

    seu salrio no tem a conscincia de que sua atu-

    construo do bem comum. Importante lembrar que o trabalho um dos instrumentos de realizao da dig-nidade do ser humano, mas no somente pelo fator econmico, e sim pelo social, ou seja, por ser instru-mento de realizao da construo de uma socieda-de. A Constituio Federal traz, em seu artigo 1, que os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa so fundamentos do Estado.

    -da mais em um mundo imediatista, com uma cultura

    em segundo plano.Constata Antonio Lopes de S (2001, p. 111):

    Como o nmero dos que trabalham, todavia, visando primordialmente ao rendimento, grande, as classes procuram defender-se contra a dilapidao de seus conceitos, tutelando o trabalho e zelando para que uma luta encarniada no ocorra na disputa dos servi-

    -so, como a prtica habitual de um trabalho, oferece

    sucesso de todas as partes envolvidas quer sejam os indivduos diretamente ligados ao trabalho, quer sejam os grupos, maiores ou menores, onde tal rela-o se insere.

    Para diminuir os riscos do individualismo e do

    que estabelea as regras de comportamento entre os integrantes de uma classe e em relao queles que

    -terminada classe.

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    Da mesma forma deve ser pensado o com-portamento do professor em sala de aula, pois existe a necessidade de atender regras de comportamento em relao aos alunos, Instituio em que traba-lha, bem como aos colegas de classe. Um compor-tamento antitico atinge no s a harmonia de uma sala de aula, mas de todo o sistema de educao,

    -da mais quando este microssistema relacionado educao.

    -

    de Antonio Lopes de S (2001, p.175), estas virtudes -

    Exerccio do Zelo o zelo representa a res--

    lho. Mais ainda, uma questo da prpria imagem

    servio. O zelo requer que, mesmo em situaes ex-tremas, em que aparentemente a soluo muito di-

    -

    e a felicidade de terceiros.

    conhecimento de um fato, por meio de suas ativida-des, ele tem o dever de manter o sigilo. Isso determina um comportamento moral sobre fatos de terceiros.

    Virtude da Competncia ter competncia -

    --

    e, por consequncia, evita o cometimento de erros que possam causar danos aos envolvidos na ativi-

    sempre deve estar atualizado em relao s tcnicas

    (S, 2001, p. 195), o conhecimento algo que se deve exercer com imenso amor e abrangncia. Um

    -logia pertinente s tarefas que executa, atualizando-se sempre em todos os aspectos.

    Alm das virtudes bsicas catalogadas por Antonio Lopes de S (2001, p.197), existem virtu-

    des complementares: 1) orientao e assistncia ao cliente; 2) tica do coleguismo; 3) tica classista; 4) tica e remunerao; 5) tica da resposta; 6)tica e evoluo do conhecimento; 7) tica e revide.

    As virtudes acima citadas servem para todas

    seu espao de sala de aula, espao pedaggico. A

    com a tarefa do docente como educador e seus cui-dados na relao com os alunos.

    A prtica pedaggica e a tica do docente, bem como as virtudes que o docente deve ter como comportamento tico, devem estar adequadas a um modelo de educao na sociedade.

    A educao tem papel importante no meio social, mas necessrio saber como atua a educa-o conforme sua concepo. Para Cipriano Carlos Luckesi (1994, p.37), a educao pode ser concebida como redeno da sociedade, como reproduo da sociedade ou como transformao da sociedade.

    Como redeno da sociedade, a educao -

    cia social, mantendo o equilbrio e o ordenamento social, como se a educao estivesse margem da sociedade, fosse uma concepo autnoma e, sim-plesmente, servindo de instrumento para a coeso social.

    Como reproduo da sociedade, a educa-o parte da sociedade. Mas, como integrante da prpria sociedade, tem a tarefa de reproduzir o mo-delo vigente na sociedade com todos seus aspectos econmicos, sociais e polticos, o que representa na verdade, uma forma de amoldar os indivduos para a perpetuao de um modelo.

    Para Luckesi (1994, p.49):

    A tendncia redentora otimista em relao ao poder da educao sobre a sociedade. A tendn-cia reprodutivista pessimista, no sentido de que

    dominante de sociedade. Em termos de resulta-dos, as duas tendncias parecem chegar ao mes-mo ponto. A tendncia redentora pretende curar a sociedade de suas mazelas, adaptando os in-divduos ao modelo ideal de sociedade (que, no fundo, no outra seno aquela que atende aos interesses dominantes). A tendncia reprodutivis-

    -tancia de reproduo do modelo de sociedade ao qual serve; que, no caso presente, a sociedade vigente.

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    A conduta tica do professor com base...

    Deve-se pensar ento na educao como transformao da sociedade, como um instrumento

    problemas econmicos, sociais e polticos, mas sem-pre pensando na realizao de um projeto social.

    -te

    Na obra Pedagogia da Autonomia, de Paulo Freire (2006), h uma proposta de prtica educativa

    do educador, pois a relao em sala de aula, os limi-tes da tica, do que ser tico, do reconhecer um sujeito do outro lado e no um objeto dos interesses do docente parte de uma complexidade em que o despreparo para exercer a funo pode resultar em um verdadeiro desastre na tentativa de ser profes-sor, mas Paulo Freire consegue enfrentar o tema com responsabilidade e com habilidade, chamando o lei-

    Na introduo do tema, Paulo Freire chama a ateno para o comportamento tico do professor, o que motivou este trabalho, relacionando os sabe-res propostos por ele e que so necessrios prtica educativa, e a obrigatoriedade de que o docente ob-serve estas virtudes. Sobre a tica, diz Paulo Freire (2006, p.15):

    Gostaria, por outro lado, de sublinhar a ns mes-mos, professores e professoras, a nossa respon-sabilidade tica no exerccio de nossa tarefa do-cente. Sublinhar esta responsabilidade igualmente quelas e queles que se acham em formao para exerc-la. Este pequeno livro se encontra cor-tado ou permeado em sua totalidade pelo sentido da necessria eticidade que conota expressiva-mente a natureza da prtica educativa, enquanto prtica formadora. Educadores e educandos no podemos, na verdade, escapar rigorosidade ti-ca. Mas, preciso deixar claro que a tica de que falo no a tica menor, restrita, do mercado, que se curva obediente aos interesses do lucro... Falo, pelo contrrio, da tica universal do ser humano. Da tica que condena o cinismo do discurso cita-do acima, que condena a explorao da fora de trabalho do ser humano, que condena acusar por

    que foi dito B, falsear a verdade, iludir o incauto, golpear o fraco e indefeso, soterrar o sonho e a utopia, prometer sabendo que no cumprir a pro-messa, testemunhar mentirosamente, falar mal dos outros pelo gosto de falar mal. A tica de que falo a que se sabe trada e negada nos compor-tamentos grosseiramente imorais como na perver-so hipcrita da pureza em puritanismo. A tica de que falo a que se sabe afrontada na manifesta-o discriminatria de raa, de gnero, de classe.

    por esta tica inseparvel da prtica educativa, no importa se trabalhamos com crianas, jovens ou com adultos, que devemos lutar. E a melhor maneira de por ela lutar viv-la em nossa pr-tica, testemunh-la, vivaz, aos educandos, em nossas relaes com eles...

    Somente por esta passagem j se percebe todo o comprometimento sugerido por Paulo Freire numa conduta tica, mas no qualquer tica e sim aquela que revela um comportamento transformador, aquela que preserva e valoriza a condio do ser hu-mano e seu contexto social, o que inclui seus direitos e seus deveres enquanto cidado.

    As virtudes que sero relacionadas a seguir, propostas na Pedagogia da Autonomia de Paulo Frei-re (2006), no prescrevem um moralismo hipcrita, mas uma prtica educativa comprometida e respon-svel pela tica do ser humano, uma prtica educa-tiva que precisa de decises, de avaliaes e que educa para a liberdade com responsabilidade social, proporcionando uma conscincia crtica do mundo e do conhecimento.

    Autonomia de Paulo Freire (2006), sero citados os saberes relacionados na obra com uma breve expli-cao, no como uma simples repetio da obra cita-

    sobre os saberes propostos, no intuito de que sirva como um instrumento para proporcionar aos leitores

    tica.Por isso mesmo, no se tem a pretenso de

    esgotar a anlise dos saberes propostos por Paulo Freire, mas de instigar quem tiver a curiosidade de ler

    da docncia. Os saberes foram divididos por Paulo Frei-

    re (2006) em trs captulos: 1) no h docncia sem discncia; 2) ensinar no transferir conhecimento;

    Em primeiro esto os saberes relacionados ao tema no h docncia sem discncia, isto signi-

    o discente, que o processo de ensino-aprendizagem passa pelo reconhecimento das duas partes envolvi-das docente e discente e que os dois aprendem e ensinam ao mesmo tempo, quando inseridos em um processo tico.

    Ensinar exige rigorosidade metdica a uti-lizao de mtodo no sentido de proporcionar ao educando a capacidade de investigao, para que ele no seja simplesmente sujeito passivo da trans-

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    JUNIOR, A. G. T; RUBIO, G. C; MATUMOTO, F. G. V.

    ferncia de conhecimento, mas sujeito da constru-o do conhecimento. Com isso, o educador tico aquele que utiliza mtodos para que os educandos aprendam a pensar. Foge tica o professor que vai sala de aula para transferir conhecimentos j ob-tidos, sem uma responsabilidade da compreenso efetiva por parte do aluno.

    Ensinar exige pesquisa o professor no pode achar que seu conhecimento absoluto. En-sinar exige pesquisa, mesmo de conhecimentos j

    -micos, alteram-se, inovam-se, e o professor, para ser tico, deve estar atento a estas inovaes e, princi-palmente, se indagar sobre os conhecimentos e, com

    Ensinar exige respeito aos saberes dos edu-candos o currculo e o contedo programtico de uma escola no tm a totalidade dos conhecimentos, ou dos saberes. Cada indivduo participante do pro-cesso de ensino-aprendizagem, incluindo os alunos, tem carga cultural que revela saberes importantes para a evoluo da sociedade e sua investigao relevante no processo de formao. O professor tico

    sobre os conhecimentos trazidos por seus alunos.Ensinar exige criticidade o professor deve

    passar aos seus alunos que o conhecimento deve ser alcanado com conscincia crtica sobre sua aplica-o nas relaes sociais. Isto exige curiosidade para se aceitar ou no o conhecimento proposto, bem

    Ensinar exige esttica e tica a construo do conhecimento faz parte da beleza de ser humano, formao moral. O conhecimento efetivo tem como consequncia a mudana. Por isso a educao no pode ser apenas uma formalidade e sim uma experi-ncia humana, que exige a tica para romper e deixar que o novo se revele.

    pelo exemplo na educao transformadora que cha-ma ateno para a responsabilidade social, a relao

    em sala de aula, mas as atitudes do professor, tanto em sala de aula, quanto fora, devem ser exemplos. O professor que fala em democracia no pode tolher os pensamentos e as experincias de seus alunos, seno o exemplo seria contrrio ao seu discurso.

    Ensinar exige risco, aceitao do novo e re-jeio a qualquer forma de discriminao a tarefa

    preso a um modelo, mas revelar o novo, mesmo que o novo seja uma nova leitura daquilo que j existe, ou

    lhe velho, ou seja, ter a curiosidade de compreen-

    d-lo. Ainda, importante que no processo de ensino-aprendizagem no existam atos discriminatrios de qualquer tipo, pois a discriminao uma forma de pensar que impede o alcance do novo.

    - importante que o professor, quando trabalha ensi-

    sobre a aplicao dos conhecimentos na prtica, co-meando pelo prprio ato de ensinar e suas teorias didticas, que o momento imediato em sala de aula

    trabalhada em sala de aula. O professor s tem co-nhecimento efetivo da produtividade de sua prtica

    -camente como o processo est acontecendo em sala de aula; o professor no pode achar que seus alunos

    -bre estes mtodos.

    Ensinar exige o reconhecimento e a assun-o da identidade cultural o professor no pode isolar o conhecimento terico da realidade social sua e de seus alunos. Cada indivduo, representante da diversidade social, tem uma carga cultural que deve ser percebida pelo professor, bem como deve ser percebida pelo professor a cultura que se forma fora da sala de aula, pois esta cultura aprendida nas ruas, no cotidiano, est interiorizada nas pessoas, e no

    -zado nas pessoas, faz com que cada um tenha sua personalidade, seu jeito de ser, e este jeito de ser deve ser assumido, pois esta assuno leva proxi-midade entre as pessoas, pelo fato de se reconhecer como ser humano e, como consequncia, valorizar a relao entre pessoas, que o fundamento da solida-riedade social. Desta forma, se tem uma relao tica entre docente/discente.

    Em segundo esto os saberes relacionados ao tema ensinar no transferir conhecimento o que indica que o professor que tem conduta tica no usa a sala de aula para realizar um discurso vazio de conscincia crtica, ou que mostra suas habilidades de memorizao do conhecimento. Ele abre espao

    -

    aprendizagem e de sua construo.Ensinar exige conscincia do inacabamento

    a experincia de vida nos mostra que o ser humano inacabado, ou seja, que um ser em evoluo e isso importa em errar e acertar, em melhorar, mas em tambm fazer coisas que desagradam os outros, e assim so as pessoas. No espao de sala de aula ocorrem vrias situaes e, por isso, o professor deve respeitar a condio humana dos alunos, seu inaca-bamento. O prprio professor inacabado, ou seja,

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    A conduta tica do professor com base...

    todos esto evoluindo, e essa evoluo s acontece-r de forma tica se houver a compreenso de todos os envolvidos.

    Ensinar exige o reconhecimento de ser con-

    (2006, p.53): gosto de ser gente porque, inacabado, sei que sou um ser condicionado mas, consciente do inacabamento, sei que posso ir mais alm dele. A conscincia de ser inacabado faz com que o ser hu-mano busque sua evoluo, e isto revela que tam-bm condicionado por fatores histrico-scio-cultu-rais. Estes fatores, apesar de representaram limites de difcil superao, podem ser superados quando se exerce a titularidade consciente da vida. A conduta tica do professor est no sentido de reconhecer que os alunos, bem como ele mesmo, podem errar, mas o que importa o processo de busca do conhecimen-to, o lanar-se em novos momentos de busca de rompimento do que condiciona o homem. O profes-sor no pode simplesmente transferir conhecimento e esperar que o aluno memorize. Isto repetio, achar que se est acabado, no ter conscincia de ser condicionado.

    Ensinar exige respeito autonomia do ser do educando a eticidade deve respeitar o pensamento diferente, por isso o professor deve possibilitar a ex-presso de seus alunos, mesmo que no concorde, mesmo que esta manifestao no seja tica, mas que, por meio desta autonomia do aluno, possa ocor-rer o processo de ensino-aprendizagem. O contrrio seria tolher a liberdade do aluno. Mas, ao permitir a expresso da autonomia do aluno, o professor deve saber construir os limites de liberdade, para que o es-pao sala de aula seja um momento de tica e cons-truo social.

    Ensinar exige bom senso no espao de sala de aula existe uma relao de autoridade. Con-tudo, no pode haver um autoritarismo por parte do professor. Ele deve ser consciente de suas respon-

    dignidades dos envolvidos e ter bom senso em suas decises. Deciso, por exemplo, de fazer a chamada

    alunos chegaro atrasados ou precisaro sair mais cedo; avaliar os alunos, mas ter bom senso de per-ceber na nota as necessidades dos alunos ou de um determinado aluno. Ter bom senso, nos dizeres de Paulo Freire, de perceber que o trabalho do professor com os alunos e no consigo mesmo, ou seja, exis-te uma funo a ser exercida, o que gera responsa-bilidades, por isso o professor deve ter as condies necessrias para estar em sala de aula, para que o espao seja propcio para a construo do saber.

    defesa dos direitos dos educadores primeiro que a relao professor/aluno deve ser pautada pela humil-

    saberes aqui analisados seriam inteis. Entender o -

    cia. O desprezo a estes sentimentos pode resultar em situaes desastrosas em sala de aula, pois o prprio professor inacabado e, por mais que tenha conhecimento do assunto que ministrar em sala de aula, ningum detentor da completude dos conhe-cimentos. Por isso, o professor deve estar inserido no processo de ensino-aprendizagem e no margem, como se fosse inatingvel e estivesse fazendo o favor de transmitir alguns conhecimentos. Por outro lado, a prtica educativa exige que as instituies pblicas ou privadas ofeream as condies necessrias para a prtica educativa. O educador tem a tarefa de lu-

    digna. Ensinar exige apreenso da realidade o

    professor, com uma conduta tica, deve saber a es-sncia da prtica educativa, dos seus procedimentos didticos, da pedagogia adotada, ter uma conscin-cia social e poltica da realidade e com isso instigar

    -vem a realidade, pois os contedos das disciplinas que se trabalha em sala de aula, ou seja, os objetos da aula, so reais, e no podem ser explicados por meio de memorizao, mas devem ser enfrentados dentro de um contexto histrico-cultural. O professor que no compreende a realidade somente transmite conceitos. Por isso, o professor no pode ser inerte, deve pesquisar, tomar conscincia desta realidade e, de forma tica, provocar o conhecimento real, mes-mo que demonstre suas convices scio-polticas, pois o homem no pode ser alheio aos problemas sociais.

    Ensinar exige alegria e esperana se a educao instrumento de transformao social, deve ser realizada com alegria e esperana. Sem es-perana no h como vislumbrar uma transformao, pois seria uma acomodao ao estado das coisas, e quem se acomoda no abre espao para transforma-o. Por isso a, esperana tem sido uma condio do ser humano em evoluo, ou, nas palavras de Paulo Freire, ser inacabado. O exerccio da esperana exi-ge alegria para levantar os problemas e buscar as solues. O professor desanimado, sem esperana, acomodado, simplesmente transmite o contedo que considera acabado, no abre espao para construo do conhecimento e pode causar um dano irreparvel na educao de seus alunos.

    Ensinar exige a convico de que a mudan-

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    docncia atuar na rea da educao se no acredi-tasse na possibilidade da mudana, seria no mnimo contraditrio. A educao transformadora. Mesmo que o professor no fosse tico e simplesmente esti-vesse transmitindo conhecimento sem alegria e sem esperana, algum que estivesse presente nesta aula mas que, na condio de ser humano, estivesse presente tambm na realidade social, faria supera-o dos limites impostos pela transmisso de conhe-cimento e alcanaria um novo momento, o momento

    -co e irrefrevel de evoluo e fazer suas aulas acre-ditando na transformao, sem ser neutro e tendo um propsito para sua prtica educativa. Aquele que no acredita na mudana no poderia estar em sala de aula com a responsabilidade da educao.

    Ensinar exige curiosidade Segundo Paulo Freire (2006, p.86), Antes de qualquer tentativa de discusso de tcnicas, de materiais, de mtodos para

    mesmo, que o professor se ache repousado no sa-ber de que a pedra fundamental a curiosidade do ser humano. ela que me faz perguntar, conhecer, atuar, mais que perguntar, re-conhecer. O exerccio da curiosidade parte do processo do conhecimento, e a tarefa do professor direcionar esta curiosidade para uma construo de conhecimento, sem mecani-z-la para um processo de memorizao, mas criar as liberdades e seus limites no processo, buscar a compreenso do objeto que se pretende conhecer. A curiosidade faz parte da inquietao do ser humano, da busca da evoluo, e o professor deve preservar esta prtica.

    Na terceira ordem dos saberes esto os sa--

    dade humana e, conforme Paulo Freire, sobre a relao de autoridade exercida pelo docente e a se-

    Ensinar exige segurana, competncia pro-

    sala de aula, mas tambm na prpria formao como docente. Esta competncia gera a segurana para trabalhar os contedos em sala de aula. Ter autori-

    contrrio, tendo generosidade se constri um ambien-te com disciplina, mas uma disciplina voltada para a valorizao das liberdades, ou seja, democrtica. Ao demonstrar generosidade o professor reconhecido

    a compensao a reao positiva do aluno em di-reo disciplina e a construo do conhecimento.

    Desta forma, possvel uma autonomia do educan-do, no sentido de ter responsabilidade pelo ambien-te de disciplina que proporciona o processo ensino-aprendizagem.

    Ensinar exige comprometimento a tica requer que o professor tenha compromisso com sua

    -cncia entrar em sala de aula, transmitir a matria e sair, e assim, estaria cumprido seu compromisso, no entende o que educao. O professor deve acredi-tar no que faz e na educao como instrumento de transformao social, deve se mostrar como algum que pensa e est inserido em um contexto social, deve avaliar as ocorrncias na relao com os alunos

    autoavaliao, tanto no campo pessoal da relao com os alunos, quanto nos contedos trabalhados em sala de aula, sempre buscando melhorar.

    Ensinar exige compreender que a educao uma forma de interveno no mundo a educa-o no pode ser uma simples reproduo do que est posto, que geralmente est posto por interesses

    docente tica questionadora, investigadora, no

    para desenvolver o processo de ensino-aprendiza-gem. Assim, por ser reveladora da realidade a edu-cao promove a interveno no mundo, e a tarefa do professor , com tica, revelar esta realidade e proporcionar que cada indivduo situado no proces-so sciocultural forme suas convices e opinies, o

    Ensinar exige liberdade e autoridade um dos grandes problemas na relao professor/aluno o exerccio da autoridade por parte do professor e a liberdade do aluno. Os conceitos no podem ser antagnicos ou afastados. Pelo contrrio, devem ser construdos em conjunto, pois naquele espao da sala de aula o professor a autoridade presente, mas seu exerccio no pode anular a liberdade do aluno. A disciplina construda com o esforo de todos. O professor deve criar os limites em conjunto com seus alunos, pois estes limites so saudveis no espa-o de construo do saber, e isso acontece melhor quando h humildade, generosidade e compreenso da razo de se estar em um espao educacional, tan-to pelo professor, quanto pelo aluno. Esta liberdade dada ao aluno que caracteriza sua autonomia de progressivamente ir percebendo sua responsabilida-de no processo educacional. Diferente o professor licencioso, que no coloca limites liberdade dos alu-nos e paga com a indisciplina, que to grave quanto o autoritarismo, que afasta o processo democrtico educacional, pois nenhum dos dois consegue em sua

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    A conduta tica do professor com base...

    plenitude e com tica a construo do conhecimen-to.

    Ensinar exige tomada consciente de deci-ses este saber denota que o educador no pode ser neutro, pois nem o educando e nem mesmo a

    respeito pelas opinies, mas tomar as decises con-forme suas convices, para que estas decises se-jam tambm respeitadas. Com certeza uma deciso no ir causar a transformao na sociedade, mas preciso demonstrar que a transformao possvel.

    Ensinar exige saber escutar compreender que o aluno um sujeito do processo e no um ob-jeto, compreender que o dilogo tem maior alcance quando se sabe escutar. Quem sabe escutar entende que no tem o domnio da verdade absoluta, o que uma condio do ser humano em evoluo, e que o conhecimento construdo a partir da percepo das partes envolvidas. Por isso, preciso saber o que pensa o aluno, quais so suas experincias. preci-

    -go construtivo. Conforme o autor, a desconsiderao da formao humana a mesma coisa que falar de cima para baixo, puro autoritarismo e apenas um treino para quem fala, pois desta forma no h dilo-

    -

    Ensinar exige reconhecer que a educao ideolgica a conduta tica do professor exige que

    -tido em sala de aula, pois pode acontecer a trans-misso de uma ideologia que v contra os valores fundamentais do ser humano e com isso contribuir para perpetuar um poder dominante, que leva a dife-renas sociais, discriminao e comodismo. Assim, importante que o professor tenha uma conscincia crtica de si mesmo, para compreender o que est nas entrelinhas de seu discurso.

    Ensinar exige disponibilidade para o dilogo -

    nar, ou seja, o professor deve estar aberto aos acon-tecimentos, ao contexto social, aos outros e seus problemas. Assim, fazendo compreenso de mundo,

    -tido, importante o professor estar aberto para as condies dos alunos com quem se relaciona, seu bairro, sua cidade, sua condio social, para poder compreender o papel que a educao ter na reali-dade destes alunos. Caso contrrio, todo o contedo ensinado corre o risco de ser intil, ou, ao menos, fora de contexto, e assim ser um conhecimento limi-tado.

    Ensinar exige querer bem aos educandos neste saber entra em discusso o saber ser afetivo,

    pois importante que o professor saiba se relacionar com seus alunos, e saiba, neste relacionar, manter a

    -

    uma relao afetiva. Talvez a melhor maneira de ter afetividade, sem que isto resulte num desvirtuamen-

    positivamente na relao com os alunos, que, perce-bendo o comprometimento do professor se sentem respeitados e, com isso, a afetividade est se rea-

    com a realizao do ensino, e sempre valoriza o ser humano.

    CONCLUSO

    Por este trabalho percebe-se que no exis-tem modelos de comportamentos ticos para cada tipo de problema que possa ocorrer nas relaes da docncia, que nos d uma soluo tica caso a caso, mas que a base da tica no processo educacional, e principalmente na relao docente-discente, est no reconhecimento de que, nos dois plos, existe a

    pode colocar o outro como um objeto de seus interes--

    seu aluno, a ponto de reduz-lo como ser humano. O professor deve, com humildade e inteligncia, respei-tar a condio de que seu aluno algum localiza-do neste mundo e que possui uma histria de vida, pois sua histria de vida, mesmo que tenha formao cultural diferenciada importante lembrar que a vida a representatividade da diversidade, nada igual, nem mesmo a repetio gera igualdade, por isso relevante sabermos respeitar o diferente tem uma potencialidade para intervir em sala de aula, propor-

    um dos aspectos discutidos) e com isso possibilitar transformaes.

    Esta percepo da necessidade do respeito na relao docente-discente, conforme Paulo Freire, passa pelo fato de que ensinar exige conscincia do inacabamento. A vida e seus aspectos so proces-sos, no se encontram acabados, determinados. Se o determinismo fosse a base de todo conhecimento, nada mais haveria para ser construdo, tudo estaria pronto e restaria tomarmos cincia. Pelo contrrio, a construo a grande fora do conhecimento, e as descobertas por meio de mtodos de pesquisa

    da vida. No sabemos tudo, no estamos acabados

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    como pessoas, estamos em processo, temos apenas um conhecimento possvel, e o outro ser humano com quem convivemos tem um outro conhecimento pos-svel de experincias pela qual ainda no passamos,

    vida, o que pode resultar em discriminao e falta de solidariedade.

    Desta forma, o espao fsico que se denomi-na como sala de aula um ambiente convivido pelas diversidades, e por isso deve ser um espao aberto, um momento em que a dignidade do ser humano, a busca pela evoluo, o respeito, a afetividade, o con-traditrio, o debate, a busca de novas solues (no somente tcnicas, mas solues para a vida, para as

    --

    do naquele momento (que pode ser alguns minutos) que as misrias morais e materiais da humanidade, se no podem ser vencidas por completo, podem ser diminudas pela fora da integrao da diversidade.

    Importante ressaltar, ainda, que o espao f-sico da sala de aula pode ser constitudo por pare-des, mas na verdade um espao de inteno, de ao, de objetivo, de sentido e de vida. o local e o momento em que a superao tem uma grande pos-sibilidade de acontecer e, sendo assim, importante que o docente no seja autoritrio, para, ao invs de tolher as manifestaes de aprendizagem dos alunos, ele possa contribuir para uma verdadeira construo dos saberes, das relaes sociais, da vida. A relao docente-discente deve ter um sentido construtivo, em que a teoria e a prtica sejam uma via de mo dupla, em que o processo de aprendizagem possa se inver-ter constantemente, com o professor aprendendo e seus alunos ensinando com suas histrias de vida.

    A base da tica est em reconhecer que todo ser humano ator e portador de cultura, o que nos faz concluir que temos que aprender a escutar os outros. Este exerccio ser muito importante para melhorar como professor, pois escutando os alunos poderemos fazer constataes que sero de grande utilidade no processo construtivo de ensino-aprendi-zagem, j que possibilitar saber quais so as idias e necessidades dos alunos.

    Chama a ateno a questo do comprometi-mento do docente, de titularizar-se como uma autori-dade, exercendo esta autoridade sem arbitrariedade, deixando espao para a liberdade de manifestao do aluno, mas, ao mesmo tempo, demonstrando que os limites devem ser respeitados. A autoridade deve ser exercida com tica, e por vezes com rigor. O professor inoperante no contribui. Tambm gosta-

    ria de destacar quando o autor diz que dever dos educadores pensar e lutar em favor de seus direitos, valorizar-se, motivar-se.

    Os saberes demonstrados por Paulo Freire valorizam a autonomia do discente como ser huma-no, a responsabilidade de estar em uma relao que deve ser tica, a responsabilidade social pelo ensino-aprendizagem e sua aplicao na sociedade, o posi-cionamento frente aos problemas sociais e com isso decidir quais decises a serem tomadas, o que se pode resumir que o espao educacional no um espao de repeties ou de comodismo, mas um

    com respeito e tica, e o papel do professor, para que isto acontea, essencial.

    -cises ticas em vrias situaes ocorridas em sala

    do professor envolve uma complexidade de aes, dentro da sala de aula, em relao instituio em que trabalha, e mesmo fora dela, mas com a res-ponsabilidade de ser docente envolvido no processo educacional.

    REFERNCIAS

    FREIRE, P. : saberes necessrios prtica educativa. 34. ed. So Paulo: Paz e Terra, 2006.

    LUCKESI, C. C. . So Paulo: Cortez, 1994.

    MORIN, E. -. Traduo Catarina Eleonora F. da

    Silva e Jeanne Sawaya. 5. ed. So Paulo: Cortez, 2002.

    S, A. L. . 4. ed. So Paulo: Atlas, 2001.

    VAZQUEZ, A. S. tica. 24. ed. Rio de Janeiro: Civili-zao Brasileira, 2003.