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Delinquentes, prostitutas e histéricas: O discurso médico-legal sobre as mulheres infames no Brasil (1890-1939) Carolina Wanderley Van Parys de Wit 1 Introdução: O cárcere feminino só foi instituído legalmente em 1940 com a mudança de um código penal para outro, contudo antes de 1940 milhares de mulheres já haviam sido encarceradas em penitenciarias. Como não havia uma legislação especifica que discorresse sobre penitenciárias femininas, a decisão sobre a vida dessas infratoras ficava nas mãos dos juízes, e dos diretores das penitenciarias. As detentas poderiam ser encarceradas em alas separadas ou não dos homens, com quem muitas vezes dividiam celas. Não raro dividiam cela também com menores infratores. Nessas décadas que antecederam o atual Código Penal (1940), diversos juristas, médicos e criminologistas debatiam sobre a condição das criminosas, sobre sua índole e sua capacidade de regeneração. Nesses debates, muitos faziam crítica ao Código Penal que estavam em vigência, o de 1890, por este não fazer menção a essas delinquentes. Contudo, nem todas as que cometiam um crime eram consideradas delinquentes – pelos juristas, médicos e criminologistas – havia um debate muito intenso sobre aquelas que subvertiam a ordem, a moral, e a construção do ser mulher na sociedade brasileira. Os estudos de Michel Foucault orientarão este trabalho, alguns de seus conceitos como os de discurso, saber, poder serão de importância fundamental para o artigo – assim como os escritos sobre o sistema prisional. No livro “Vigiar e Punir: Nascimento da prisão” (2014) Foucault busca explicar qual o verdadeiro sentido do sistema carcerário e da produção de delinquência. 1 Acadêmica do curso de História, Faed – bolsista PROBIC/UDESC. Vinculada ao projeto de pesquisa: Tempo presente e instituições de isolamento social em Santa Catarina: perscrutando histórias marginais (1930-2011). Trabalho orientado pela Profa. Dra. Viviane Trindade Borges. [email protected]

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Delinquentes, prostitutas e histéricas:

O discurso médico-legal sobre as mulheres infames no Brasil

(1890-1939)

Carolina Wanderley Van Parys de Wit1

Introdução:

O cárcere feminino só foi instituído legalmente em 1940 com a mudança de um código

penal para outro, contudo antes de 1940 milhares de mulheres já haviam sido encarceradas

em penitenciarias. Como não havia uma legislação especifica que discorresse sobre

penitenciárias femininas, a decisão sobre a vida dessas infratoras ficava nas mãos dos juízes,

e dos diretores das penitenciarias. As detentas poderiam ser encarceradas em alas separadas

ou não dos homens, com quem muitas vezes dividiam celas. Não raro dividiam cela também

com menores infratores. Nessas décadas que antecederam o atual Código Penal (1940),

diversos juristas, médicos e criminologistas debatiam sobre a condição das criminosas, sobre

sua índole e sua capacidade de regeneração. Nesses debates, muitos faziam crítica ao Código

Penal que estavam em vigência, o de 1890, por este não fazer menção a essas delinquentes.

Contudo, nem todas as que cometiam um crime eram consideradas delinquentes – pelos

juristas, médicos e criminologistas – havia um debate muito intenso sobre aquelas que

subvertiam a ordem, a moral, e a construção do ser mulher na sociedade brasileira.

Os estudos de Michel Foucault orientarão este trabalho, alguns de seus conceitos

como os de discurso, saber, poder serão de importância fundamental para o artigo – assim

como os escritos sobre o sistema prisional. No livro “Vigiar e Punir: Nascimento da prisão”

(2014) Foucault busca explicar qual o verdadeiro sentido do sistema carcerário e da produção

de delinquência.

1 Acadêmica do curso de História, Faed – bolsista PROBIC/UDESC. Vinculada ao projeto de pesquisa: Tempo presente e instituições de isolamento social em Santa Catarina: perscrutando histórias marginais (1930-2011). Trabalho orientado pela Profa. Dra. Viviane Trindade Borges. [email protected]

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“A instituição da delinquência que constitua como uma ilegalidade fechada apresentada

com efeito um certo número de vantagens. É possível em primeiro lugar, controla-la

(localizando os indivíduos, infiltrando-se no grupo, organizando a delação mútua [..] É

possível além disso orientar essa delinquência fechada em si mesma para as formas de

ilegalidade menos perigosas: mantidos pela pressão dos controles nos limites da sociedade,

reduzidos a precárias condições de existência, sem ligação com uma população que poderia

sustenta-los, como se fazia antigamente para os contrabandistas ou certas formas de

banditismo, os delinquentes se atiram fatalmente a uma criminalidade localizada, sem

poder de atração, politicamente sem perigo, e economicamente sem consequência.”

(FOUCAULT, 2014, p. 272:273)

Para Foucault ao estudar as temáticas que giram em torno do sistema prisional não

seria proveitoso se restringir apenas aos discursos formulados sobre as prisões, pois existe

diversos discursos paralelos que vão abordar a temática e são fundamentais para fazer uma

análise histórica (FOUCAULT, 2015). Logo, justifico a escolha das teses médico-legais para

fazer a análise discursiva.

Desta forma, pretende-se, no presente artigo, entender como durante o processo

modernizador brasileiro a ideia do cárcere e a da delinquência estava presente na vida da

população brasileira. Tanto por meio da repressão policial, e do poder estatal, quanto nos

discursos médicos e jurídicos acerca do tema, observando – principalmente – os discursos que

cercavam as criminosas nesta sociedade. Isto posto, as categorias instituídas a estas mulheres

– delinquentes, prostitutas e histéricas – serão analisadas, problematizando com o fato de não

haver nenhuma legislação específica que enquadrasse as mesmas.

O artigo será dividido em dois momentos. No primeiro será discutido os anos

anteriores e posteriores à Legislação Penal de 1890, onde veremos algumas das implicações

deste código na sociedade, e como ele fomentará um novo tipo de sistema punitivo e em uma

sociedade – que se apoiará em dispositivos de controle social para colocar em prática os

projetos de construção de um novo Brasil Republicano (ALVAREZ, 2003). No segundo

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subtítulo, será analisado os discursos acerca das mulheres infames2 usando as teses dos

juristas José Tavares Bastos (1915) e Viveiros de Castro (1913), e na tese do médico

neurologista Tito Lívio de Castro (1893). O fio condutor entre esses três especialistas será o

famoso criminologista Cesare Lombroso3. Assim, pretende-se tentar entender a função da

prisão celular no Brasil (SALLA, 1999), e o lugar dessas criminosas na sociedade.

O código de 1890 e a formação de uma sociedade disciplinar

Nos anos que antecederam 1890 diversos debates estavam ocorrendo no campo

jurídico e médico, novas tendências, correntes, e práticas nesses campos estavam chegando

ao Brasil. Com a transição de um regime monárquico para um regime republicano, combinado

com a abolição da escravidão, e a necessidade de um novo projeto de nação, viu-se a

necessidade de criar novos códigos legislativos que serviriam para moldar e regulamentar o

cotidiano, o modo de vida, e os deveres da população brasileira (ALVAREZ, 2003). Contundo o

Código Penal de 1890 logo nos seus primórdios já era controverso, as críticas surgiram de

diversos campos científicos diferentes – juristas, médicos, criminologistas, entre outros.

Alguns juristas renomados da época escreveram livros contendo críticas a Consolidação das

Leis Penais (1890), podemos citar alguns: Viveiros de Castro, José Tavares Bastos, Candido

Mota, entre outros.

As críticas atingiam o código de 1890 em diversos pontos específicos. Era quase como

se em seu nascimento já fosse ultrapassado, diante das novas correntes dos saberes jurídicos

e criminológicos, principalmente levando em conta a entrada dessas novas vertentes teóricas

no Brasil durante o século XIX (ALVAREZ, 2003). As condições históricas e os movimentos que

estavam acontecendo no país também não se viam contemplados por esse novo código. Não

pretendo nesse artigo debater sobre a estrutura do código em si, mas mostrar que as práticas

2 Para Foucault os sujeitos infames eram aqueles sujeitos que não existem a não ser pelas poucas palavras que serão proferidas sobre eles, com intuito de exclui-los e marginaliza-los dos meios sociais. São os indesejados, os esquecidos, os que acabariam em instituições de isolamento. (FOUCAULT, 2003). 3 Cesare Lombroso foi um psiquiatra, cirurgião, higienista, criminologista, antropólogo e cientista italiano. Considerado por muitos como: o pai da criminologia. Lombroso dedicou a vida estudando a mente do criminoso e suas características físicas, criando um perfil do criminoso nato.

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discursivas que cercavam esse código ajudaram a criar uma sociedade disciplinar, com auxílio

de aparatos repressivos (ALVAREZ, SALLA, SOUZA, 2003).

“Para os juristas brasileiros familiarizados com conceitos da criminologia, da nova escola

penal, os fundamentos do direito de punir deveriam ser colocados em novas bases, as

práticas jurídico-penais deveriam desempenhar novas funções, orientadas não mais pelos

critérios clássicos de justiça, mas por conhecimentos científicos dirigidos não para o crime

em si, mas sim para o indivíduo criminoso.” (ALVAREZ, 2003, p. 18)

O código de 1890 foi criticado em demasia, segundo os juristas da época, a legislação

penal ainda era muito focado no crime em si e ignorava o criminoso. Para José Tavares Bastos

(1915) o problema não era o crime, e sim o criminoso e esse deveria ser tratado e estudando

para sociedade, pelos especialistas. Assim, vemos que durante esse período o que acontece

no Brasil é uma modificação no discurso: se antes as ações desse indivíduo eram

criminalizadas, agora essa sociedade passava a patologizar suas ações. O criminoso passa a

ser o inimigo interno da nação, é o indivíduo que é subversivo à norma, à moral, e, sobretudo,

à nação. Ser um indivíduo que comete crimes passa a ser sinônimo de ser doente, de ser

anormal, de ser infame (ALVAREZ, 2003). E é neste ponto que está pautada a maior parte das

críticas dirigidas a esse código - o fato de que ele não colocava o criminoso em foco, mas sim

o crime. É somente no Código Penal de 1940 que o termo “periculosidade”, tão usado pelos

juristas, vai aparecer nas legislações (FERLA, 2009).

“Na prática, a República – estabelecida no Brasil no ano de 1889 - , com fortes dificuldades

de consolidar-se como novo regime, utilizou amplamente de seus mecanismo de

intervenções e repressão das camadas populares e de seus inimigos políticos. Capoeiras,

prostitutas, moradores de cortiços, trabalhadores em manifestações, tornaram-se alvos

constantes de campanhas policiais e lotaram as prisões do país.” (BRETAS, SANT’ANNA,

2014, p. 366)

É possível notar que apesar das duras críticas ao Código de 1890 ele surge com uma

urgência. O projeto de Brasil República dependia desse aparato para funcionar. Por essa razão,

uma das mudanças que o Código trouxe foi a instituição da prisão celular como uma das únicas

formas de pena. Foram desenvolvidas também Colônias Correcionais onde os presos –

normalmente detidos por penalidades mais brandas – iam pagar o seu tempo de pena

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trabalhando no campo. Houve também um projeto de lei aprovado no início do século XX

determinando que os presos trabalhassem em obras públicas, com a justificativa de que isso

seria usado como mecanismo de regeneração do detento (ALVAREZ, 2003).

Durante o início da República, o Brasil passou por um processo modernizador que

tinha, dentre outros objetivos, de criar uma imagem de Brasil modernizado. Esse processo

modernizador desencadeou diversos outros, como o higienizador e o urbanizador. Deste

modo, durante as primeiras décadas da República Velha, houve um fluxo de mudança muito

intenso: diversas famílias migraram do campo para as cidades, os centros urbanos passaram

por modificações, a classe operária começou a se formar, as indústrias começaram a crescer,

o Estado passou a fomentar no cotidiano da população a lógica da produtividade. As

mudanças urbanísticas nas cidades aconteceram com o intuito de purificar os centros

urbanos, abrindo as avenidas, realizando construções de fontes e chafarizes, novos bairros

ricos, transferindo as populações pobres para outras áreas (RAGO, 1997).

Esses processos foram responsáveis também pala a marginalização de uma grande

parte da população. Com a urbanização das cidades, diversas famílias tiveram que ser

realocadas para áreas periféricas, pois a sua permanência nos centros urbanos era

considerada degradante. É nesse momento que acontece uma intensificação de projetos

higienistas4. O foco, além da construção de uma nação limpa e segura nos moldes da época,

era também padronizar a família. Dessa forma, o núcleo familiar passa a ser um dos alvos

principais dos médicos higienistas da época. A formação dessas famílias era bem específica e

regulada5, contudo, não era apenas família em si que importava - suas casas e cotidiano

também eram observados por esses médicos.

4 Para Machado (1978) os projetos higienistas se intensificam pois devido a uma urbanização intensa e desregrada, que foi intensificada por uma industrialização intensa no fim do sec. XIX e início do XX. Assim vão surgir diversos problemas e conflitos, dentre eles um que toma posição de destaque são os de ordem médica. Desta forma, pela ótica e imaginário das populações o problema que causava essas doenças eram diretamente associados com a insalubridade das cidades, fazendo com que a participação médica urbana fosse uma demanda do estado. 5 Segundo as correntes eugênicas, que eram predominantes nesse período, a família não poderia ser miscigenada racialmente, pois esse casamento entre raças levaria a degeneração da população, devendo ser evitado a todo custo.

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As relações familiares, a intimidade, o lazer, em síntese, o modo de vida colonial, foi objeto

de transformação da intervenção higienista [...] a família passou a ser a célula da sociedade

[...] sob o título das doenças, as emoções, também, passaram ao domínio médico. O medo,

a ira, a cólera, os ciúmes são abordados como desvios da saúde. A psicologização da conduta

social é valorizada e tem como referencial o comportamento higiênico, combatente do

desviante [...] o higienista sob o discurso médico científico, incorporou interesses do Estado

e através de um modelo de família idealizado para manutenção de valores dominantes,

introduziu um padrão que vimos hoje refletido no exemplar da família atual. (COSTA, 1989,

p. 33)

Tais mecanismos – que atendiam a necessidade de gestão da população – e processos

foram responsáveis para começar a formar no Brasil uma sociedade disciplinar. Isso fica visível

nas práticas do Estado ao aumentar o número de instituições, ampliando sua influência, e

investindo em um polícia mais forte e vigilante.

A tentativa de vigiar e disciplinar a sociedade foi tão intensa, que vemos esse sistema

perpassando para instituições que não eram diretamente controladas pelo Estado6. As

fábricas foram um dos grandes laboratórios usados na tentativa de deixar os corpos dóceis7.

Os anos que antecederam 1910 foram marcados por muitos conflitos dentro desses espaços,

as estratégias e medidas punitivas utilizadas pelos patrões não tinham eficácia perante os

movimentos operários. Contudo, a partir de 1915 o discurso acerca do trabalhador começa a

mudar, um novo tipo de operário é produzido pelas práticas discursivas.

Dessa forma, a figura do trabalhador que anteriormente era caracterizada como

sujeito e ator, é substituída pela figura de um objeto em que pode ser investido poder (RAGO,

6 Apesar das fábricas não serem diretamente controladas pelo Estado, mais tarde elas passam a fazer parte de um projeto assumido e divulgado pelo sistema estatal em conjunto com o empresariado e especialistas da época (RAGO, 1997) 7 “A disciplina fabrica assim corpos submissos e exercitados, corpos dóceis. A disciplina aumenta as forças do corpo (em termos econômicos) e diminui essas mesmas forças (em termos políticos de obediência). Em uma palavra ela associa o poder do corpo; faz dele por um lado uma aptidão, uma capacidade que ela procura aumentar e inverte por outro lado a energia, a potência que poderia resultar disso e faz dela uma relação de sujeição estreita. Se a exploração econômica separa a força e o produto de trabalho, digamos que a coerção disciplinar estabelece o corpo e o elo coercitivo entre uma aptidão aumentada e uma dominação acentuada” (FOUCAULT, 2014, p. 135:136)

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1997). A fábrica moderna, higiênica, racionalizada8, e nova é a construtora dessa nova mão-

de-obra produtiva e disciplinada, realizando seus objetivos utilizando técnicas de dominação

cada vez mais sofisticadas. O imaginário dos operários em relação a esses espaços de trabalho

também é alterado, a fábrica passa a ser um lugar harmonioso, pelo menos por algum tempo9.

“As disciplinas, organizando as celas, os lugares, as fileiras, criam espaços complexos: ao

mesmo tempo arquiteturais, funcionais e hierárquicos. São espaços que realizam a fixação

e permitem a circulação; recortam segmentos individuais e estabelecem ligações

operatórias; marcam lugares e indicam valores; garantem obediência dos indivíduos, mas

também uma melhor economia do tempo e dos gestos.” (FOUCAULT, 2014, p. 145)

Para Foucault (2014) nessas instituições é produzido uma maquinaria de controle,

onde os interessados conseguem observar minuciosamente todos os comportamentos dos

sujeitos, onde se criam divisões analíticas e tênues, em torno desses indivíduos, que permitem

a criação de um aparelho de observação, registro e treinamento.

Logo, essa sociedade de vigilância que foi sendo construída ao longo dos anos, é

responsável por despertar medo nas pessoas. A vigilância constante cria, desenvolve e até

mesmo amplia nos indivíduos dessa sociedade o medo da rua, e de estar nesses espaços. A

rua era sinônimo de doença, de sujeira, de vadiagem. Era um lugar insalubre e abitado por

pessoas indesejadas, na rua você poderia encontrar as prostitutas, os músicos, os bêbados, os

vadios, os ladrões. Doenças proliferavam e se espalhavam nesses espaços, a sífilis, o

alcoolismo, e era lá que poderia ser encontrado os corpos feios, sujos e malvados (FERLA,

2009).

Assim, o Estado e as classes dominantes vão delimitando não apenas os espaços físicos

que devem ser abrigados pelos cidadãos, mas também ajudam a construir e restringir os

papeis e a função social dos brasileiros: o homem deveria ser trabalhador, ser o provedor da

8 Segundo Foucault (2014), as instituições disciplinares racionalizam tudo: material, tempo de produção, mão de obra. A racionalização torna o ambiente mais produtivo e lucrativo. 9 A metade da década de 20 foi marcada por diversas greves e revoltas no ambiente fabril. As imprensas anarquistas e comunistas tiveram um papel fundamental nessas greves, pois serviam como meio de denuncia acerca da exploração sofrida por esses trabalhadores. Assim, a imagem de espaço harmonioso que foi construída por esses projetos, começa a desaparecer e os operários começam a se revoltar (RAGO, 1997)

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família; a mulher era a dona de casa, esposa, mãe, responsável por cuidar dos filhos, do lar e

da saúde da família; e a criança deveria estar na escola. Para Rago (1997) uma coisa eles

tinham em comum: todos deveriam estar fora das ruas. E é neste contexto, que se formará

uma sociedade que preza por indivíduos disciplinados, limpos, trabalhadores. Desta forma,

pode ser observado a formação de um Estado que contará com o auxílio a vigilância constante

para sua permanência e legitimação.

As mulheres de todos os tipos

A construção do ideal de feminilidade – ocidental – foi desenvolvido ao longo dos

séculos, tendo como berço principalmente a Europa. Diversos médicos, dramaturgos, juristas,

criminologistas e teóricos já discorrem sobre o papel da mulher na sociedade, ajudando a

construir um discurso em torno delas. Esses ditos perpassaram diversas disciplinas e séculos.

Segundo Foucault (1996) as práticas discursivas e o discurso não são permanentes e imutáveis,

elas estão em constante mudança – podendo observar brechas, rupturas e descontinuidades.

Consequentemente, com a entrada do século XIX o que se falava da mulher passa a ter um

caráter mais científico, biológico (PERROT, 1988).

“É um discurso naturalista, que insiste na existência de duas espécies com qualidades e

aptidões particulares. Aos homens, o cérebro (muito mais importante do que o falo), a

inteligência, a razão lúcida, a capacidade de decisão. Às mulheres, o coração, a

sensibilidade, os sentimentos.” (PERROT, 1988, p. 177)

A lógica da família burguesa europeia foi transposta para o Brasil. Isto posto, é

necessário observar que se esses ideais não contemplavam diversas famílias na Europa, no

território brasileiro não seria muito diferente (SCHWARCZ, 1993). O papel da mulher na

sociedade, da forma como foi construído, passa a ser o da dona de casa, mãe de família,

responsável por todos os assuntos que girassem em torno de seus filhos. Contudo, a decisão

final era sempre do chefe da família, o pai (RAGO, 1997).

Contrariar essa construção social emanaria em ser descrita como um tipo à parte. Estas

mulheres passavam a ser taxadas pela sociedade, e descritas através de categorias

pejorativas, como por exemplo: prostitutas, vagabundas, loucas, histéricas, entre outros

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(RAGO, 1997). As trabalhadoras também subvertiam o papel imposto ao sexo feminino, como

consequência tinham suas vozes abafadas pelos donos das fábricas e sindicatos10 –

comunistas, reformistas e anarquistas. Dentre essas mulheres que foram jogadas as margens,

as criminosas estavam em foco – diversos especialistas escreviam sobre elas, no período.

Afinal, milhares de mulheres cometiam crimes e eram encarceradas, porém nenhuma

legislação discorria sobre elas. Era preciso debater sobre a condição das delinquentes, tentar

achar uma solução e uma forma de ressocializa-las (BASTOS, 1915).

Os discursos que cercam as mulheres criminosas estavam em constante

movimento11, se construindo e destruindo-se; perpassando diversas áreas de saberes

(FOUCAULT, 2004). Influenciados pelas correntes teóricas da época, ao abordar as questões

relacionadas as delinquentes os especialistas colocavam em pauta a criminosa. Era necessário

criar um saber sobre a mulher que havia cometido o crime – quem era ela? O que fazia? Era

analisado todos os aspectos da vida pessoal que pudessem ser levantados (CASTRO, 1913).

Desta forma, o discurso perpassava por diversas disciplinas diferentes, mas, a medicina-legal,

em sua grande maioria começava a abordar a temática levantando questões biológicas. Onde,

a inferioridade intelectual da mulher estava sempre em pauta. Como podemos ver na tese de

José Tavares Bastos12:

“Esta inferioridade, dizem estes apreciados escriptores, se revela cêdo, no mais elevado

grau de intelligencia, pela ausencia de genios; ainda que não faltem nome de mulheres

illustres, taes como Sapho, Corinna, Telesilla, Mmes. Browing, David Sohn, Gauthiner,

10 Em seu livro Do Cabaré ao Lar (1997), Margareth Rago, mostra como as mulheres eram inferiorizadas dentro dos próprios sindicatos. Os comunistas, por exemplo, acreditavam que as mulheres deveriam ficar em casa e educar os filhos – homens – para a revolução. Dentre os sindicatos o anarquista foi o que deu mais espaço para mulheres. Vale ressaltar: os discursos determinavam o papel da mulher como donas de casa. Contudo, durante o recorte temporal adotado elas estavam presente nas fábricas trabalhando como operárias, participando dos movimentos, revoltas e greves. 11 “O discurso nada mais é do que a reverberação de uma verdade nascendo diante de seus próprios olhos; e quando tudo pode, enfim, tomar a forma do discurso, quando tudo pode ser dito e o discurso pode ser dito a propósito de tudo, isso se dá porque todas as coisas, tendo manifestado e intercambiado seu sentido, podem voltar à interioridade silenciosa da consciência de si.” (FOUCAULT, 2004, p. 49). 12 José Tavares Bastos foi um renomado jurista brasileiro, além de escrever obras discorrendo sobre sua área de formação, ele também foi Juiz no Estado do Espirto Santo, Promotor público e Juiz no Estado do Rio de Janeiro. Em suas obras jurídicas, Bastos, referenciava especialistas diversos: médicos, dramaturgos, criminologistas, biólogos, filósofos. Seus livros tratam de diversas temáticas em torno do direito.

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Achermann, na poesia; Mmes. Sommerville, Royer, Sophia, Tarnowski, Germain, na

sciencia, - é patente que estão longe da pujunça dos genios masculinos, de Shakspeare,

Balsac, Aristoteles, Miguel Angelo: da mesma maneira, si considerarmos a frequencia do

genio dos dois sexos, - a superioridade do homem é incontestavel.” (BASTOS, 1915, Pg. 09)

Logo, nesses discurso e embates teóricos a figura da mulher criminosa vai adquirindo

forma. Contudo, para os especialistas da época que embasavam seus livros nos escritos de

Lombroso, existiam vários tipos de delinquentes – cada um com suas características marcadas

e especificas –, e com a mulher criminosa não era diferente (LOMBROSO, 2004). As infames

eram divididas em três categorias: As delinquentes, as prostitutas e a histéricas/epiléticas

(BASTOS, 1915).

De acordo com o médico, ensaísta Tito Lívio de Castro13 para entender a mulher normal

era necessário desmistificar algumas questões. Castro defendia em sua tese que os

comportamentos humanos estavam relacionados a sinapses que aconteciam no cérebro

humano; logo, ele desqualificava a tese de todos os especialistas que afirmavam que a mulher

era movida por seus sentimentos e coração. Para Tito Lívio, o atraso no desenvolvimento

intelectual das integrantes do sexo feminino se dava a um peso menor da massa cerebral

feminina. Deste modo, Castro enxergava as mulheres como criaturas muito mais semelhantes

ao menor/criança do que ao homem. A histeria era vista, pelo médico, como uma das

consequências desse cérebro menos desenvolvido.

É em cima dessas crises de histeria que uma das classificações de mulher infames

aparece. Para os especialistas da época poucas eram as verdadeiras criminosas, na maior

parte dos casos eles enxergavam-nas como mulheres normais (BASTOS, 1915). Contudo,

devido algum fator – interno ou externo – acabavam por ter uma crise de histeria e/ou

epilepsia que as levava a cometer um crime. A histérica, diferentemente da delinquente e da

13 Tito Lívio de Castro foi um médico, ensaísta, darwinista social, figura emblemática entre os intelectuais brasileiros do fim do século XIX, debruçou-se em seus estudo sobre as questões que giravam em torno da mulher. Castro ganha destaque entre os médicos da época pois diverge em sua perspectiva teórica. Enquanto a maior parte dos médicos faziam ligações do comportamento e inferioridade das indivíduas do sexo feminino à medicina ginecológica e/ou obstétrica, Tito Lívio defendia que a inferioridade e os comportamentos eram fruto de uma capacidade cerebral diferente. Assim, ele é um dos médicos percursores no Brasil ao estudar o ser humano por um viés neurológico e psiquiátrico.

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prostituta, é passível de recuperação, regeneração (CASTRO, 1893). Para que essas histéricas,

a pena e a recuperação tinham um único objetivo: fazer com que elas retornassem para o lar,

cumprindo, assim, o papel social previamente estipulado pela sociedade – o de mãe e dona

de casa.

Para os especialistas da época, o código de 1890 ignorava o real motivo que levava

essas mulheres a cometer crimes: Desvios psicológicos. Desta forma, os produtores de saber

da época acreditavam que, elas não podiam e não deveriam ser julgada da mesma forma que

o homem. Pois, a incapacidade jurídica14 atribuída a mulher faz com que ela deva ser julgada

como tal, ou louca ou menor (BASTOS, 1915).

“A C. Lombroso devemos a demonstração de que a câmara cerebral da mulher é menos

activa que a do homem, principalmente nos centros phychicos, e que a irritação provocada

pela desigualdade se fixa menos constante e solidamente, approximando-se, portanto, ao

envez da criminalidade á simples hysteria ou á epolepsia.” (BASTOS, 1915, Pg. 21)

Contudo, existia um outros tipos de mulheres que subvertia a ordem estipulada, elas

eram muito mais perigosas e degeneradas do que as histéricas. Eram consideradas pelos

especialistas como pessoas cruéis, inimigas internas da nação. Essas duas categorias muitas

vezes se misturam e se confundem no discurso que cerca as mulheres infames, pois o seu

lugar de ação era o mesmo, a rua. Segundo Viveiros de Castro15, a mulher tende a cometer

menos crime que o homem pois encontra na prostituição um derivativo do crime. Desta

forma, a prostituição era analisada por esses especialistas como uma necessidade social,

contudo, a mulher não poderia obter prazer nessa pratica, que deveria ser enxergada apenas

como um trabalho (BASTOS, 1915). A prostituta não era passível de recuperação, e devido à

14 A incapacidade jurídica da mulher pode ser observada no Código Civil de 1916. Segundo o código, as mulheres ao casarem perdiam sua plena capacidade jurídica, e passava a ser considerada relativamente capaz, juntamente com o menor e com o louco (DIAS, 2005) 15 Viveiros de Castro é considerado um notório jurista da primeira república. Foi professor de Direito Criminal na Faculdade Livre de Direito, empossado como Ministro do Supremo Tribunal Federal em 1915, e escritor de diversos livros na área de direito. Castro também escreveu diversos livros criticando o Código Penal de 1890. Era um grande seguidor da escola italiana de criminologia, e em seus livros faz diversas reverencias a Cesare Lombroso, no Brasil foi um grande influenciador da escola positivista de direito.

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falta de regulamentação da profissão, eram tidas como ameaçadoras, pois poderiam

transmitir doenças venéreas e cometer furtos (LOMBROSO, 2004).

“As prostitutas e as ladras pertencem a uma classe de mulheres anormais, degeneradas, ou

propensa a degeneração. [...] Não calaremos, porém, no espirito do leitor a affirmativa da

Escola Italiana de que a mulher criminosa, por seus caracteres criminológicos é muito mais

masculino que a mulher honesta.” (BASTOS, 1915, Pg. 67:68)

Os crimes mais atribuídos as mulheres eram os passionais – abortos, infanticídios,

envenenamentos (CASTRO, 1913). Eram considerados mais leves, não exigiam ou

demandavam articulações muito complexas. Contundo, esses delitos eram normalmente

cometido pelas histéricas, considerados como infrações femininas (CASTRO, 1893). As

delinquentes, por serem considerada mais masculinizadas, contrariavam a lei com mais

violência. Seus locais de ação não eram a casa, ou o ambientes familiares, elas estavam nas

ruas, participavam de gangues, assassinava estranhos. Eram consideradas mais bruscas, mais

fortes, e mais inteligentes do que as outras mulheres (LOMBROSO, 2004). Além de não estar

em casa, elas estavam nas ruas e ocupando esses espaços para inflacionar a norma penal. Elas

iam contra toda construção social do papel da mulher, e isso era amedrontador. Os discursos

que cercavam as mulheres delinquentes – as verdadeiras criminosas –, condenavam-nas a

degeneração, onde casos de regeneração eram praticamente inexistentes (BASTOS, 1915).

Apesar das criminosas serem tipificadas diferentemente, pelos discursos, a aplicação

da lei – e os espaços que elas iriam após serem condenadas – era o mesma para todas. Elas

seriam julgadas, e após a condenação iriam para penitenciaria masculina, podendo também

ser enviadas para manicômios. E este era o problema para os juristas da época, a falta de

espaços específicos para as mulheres. Afinal, os instrumentos de recuperação e regeneração

masculinos, não tinham efetividade para as mulheres. Por serem espaços exclusivos para

homens, as detentas não poderiam participar das oficinas, nem trabalhar enquanto

estivessem no presidio. Assim, José Tavares Bastos vê na punição da mulher, um sistema falho,

que precisa ser remodelado, e restruturado.

“Quanto ás mulheres, passam os dias de reclusão na mais perniciosa ociosidade.

Consomem o tempo em tagarellices ou dormindo. Rarissimas são as que se sentem

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envergonhadas ou acaburanhadas pelas tristes condições em que se acham, inconscientes

atpe da privação de sua própria liberdade, A essas detentas se deveria dar uma occupação,

uma tarefa, de maneira a obriga-las ao trabalho, porquanto, devido á certezas que têm de

não serem coagidas a serviços de qualquer espécie, tornam-se indifferentes, resultando

disso a reincidência nas contravenções. Constitui-se, assim, um numeroso grupo de

verdadeiras pensionistas que, longe de encarar a reclusão como um castigo ou penalidade,

a consideram, pelo contrário, um ponto de ociosidade e repouso” (PITANGA in. BASTOS,

1915, Pg. 84)

Considerações finais

A situação da mulher criminosa foi muito debatida durante o período de vigência do

Código Penal de 1890. As práticas discursivas, que abrangiam as temáticas relacionadas ao

crime, segurança, punição e ao sistema jurídico, criaram na população um medo de estar nas

ruas. Os espaços públicos eram perigosos, era onde a população estava exposta a todos os

tipos de ameaças: delitos, doenças, loucura, alcoolismo, prostituição. E as delinquentes

representavam uma parcela desse mau.

Assim, com a mudança do discurso punitivo para o de ressocialização, foi necessário

que se encontrasse no sujeito desviante a periculosidade, mostrar que ele não poderia estar

livre sem antes passar por um regime disciplinar. É neste momento que a medicina/psiquiatria

passam a trabalhar diretamente com o direito e os juízes, tentando mostrar qual era o perfil

do criminoso, quais suas características e se eles eram ou não passiveis de recuperação.

Essa sociedade disciplinar que foi se construindo, passou a determinar os espaços que

as pessoas deveriam estar, qual papel deveriam estar exercendo, como deveriam agir e se

comportar. Os instintos tiveram que ser controlados, e a normatização foi imposta a sociedade

(FOUCAULT, 2015). Com os papeis e espaços estipulados, era mais fácil vigiar, controlar e

punir. Os mecanismos de repressão – policia, exercito, médicos – sabiam onde agir, e apoiados

por diversas instituições, conseguiam controlar possíveis revoltas (ALVAREZ, 2003).

Desta forma, podemos observar que o processo modernizador foi responsável pela

marginalização de diversos indivíduos – negros, mulheres, loucos, menores e as classes baixas

– unificando-os em uma classe perigosa, onde a periculosidade deles estava sempre em

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questão (FERLA, 2009). Com auxílio de projetos urbanizadores e higienizadores, os ditos

infames foram relocados, e patologizados. Os infratores feriam a lógica de produção, eles

eram perigosos para o projeto de Nação, assim a pena de reclusão surte como um dos

principal instrumento de contenção de revoltas e controle social (FOUCAULT, 2014).

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BRETAS, Marcos Luiz; SANT’ANNA, Marilene Antunes. Crime e punição na história. IN: LIMA, Renato Sergio de. Crime, policia, e justiça no Brasil. São Paulo: Contexto, 2014.

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