Fazer agua - WordPress.com · temos falta d'agua em v,lTias localidades. Muitas nascentes e ....

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Busca permanente Fazer agua o aprov€itamento inteligente e' racionalda agua de chuva Sergi o Pamplona * Na vida de dona Nair Sjlvino, sertaneja de Pi,!ao Arcado, interior da Bahia, a cisterna construida ao pe da casa para armazenar agua de chuva pos fim a hist6ria de escassez levada A agua de antes erq pouca e ruim. Mesmo assim, por esta agua escassa e de ma qualidade, as mulheres da faniilia andavam leguas. lam ,' e vinham equiiibrando latas d'agua pesadassobre as numa rotina que a certa idade Ihe s causava graves problemas de ordem fisica. Nao estavam sozinhas. Nas terras secas do Brasil, fazeragua e uma questao de genero, tarefa de mulher. Onde hoje nao ha cisternas como a de Dona Nair, a tradi<;ao ,permanece: mulheres podem gastar ate um dia inteiroem longas caminhcidas par aabas tecer de agua suas . , famflias . . 0 fazer agua vai na dire<;ao co ntraria da mentalidade predadora qu e devora todos os mananciais doplaneta sem pensar rio futuro da agua doce e das futuras. Aponta para a responsabilidade, a etica, a sustentabilidade. Fora do· nordeste, 0 uso das aguas cle chuva ainda e pouco praticado, mas ex iste m boas ex periencias. Em Setelagoas, Minas Gerais, 0 projeto de IIBarragens de Conten <;ao d'e Aguas Supe rficias de Chuvas " te m apresentadoresultados altamente positivos na recuperac;ao de areas degradadas pela chuva. Aqui, onde a meta e construir 960 barraginhas, contemplando toda a microbacia do Ribeirao Paio l, 0 problema nao e a falta . d'agLia, mas 0 excesso . o sis tema dlsp6e sucessivos . para conter e nxurrad as vol u mosas e erosivas. Seu' 0 bje ti vo principal consiste em carregar e 0 lago, proportionando a rap ida infiltra <;ao da agua entre um a chuva e outra.Assim, a capacidade de recarga e recuper'ada durante 0 cicio chuvoso, elevando 0 freatico. ' liquido seminal rla dais ti pos de agua: as que v€! m do a : . c ",5 que 5U rge m da terra. Conforme de pensar antigo, 0 ceu e a terra casal. 0 ceu macho fecunda oele chuva para fazer seus : j este sentido, Irquido sem inal e tem conota<;ao mascul·ina. Por outro lado, a agua das fontes e sao -claramente femininas e materna s. Sao ag uas do parto, sangue e linfa da terra, 1I seiva que so be do utero da terra-mae. As palavras do profes so r Pierre Emy, da Univer si dade de Ciencias Humanas de Estrasburgo, expressam a simbolismo das especiais das aguas de chuvas e valem uma reflexao. Se as aguas femininas estao contaminadas (como estao), resta-nos consumir as aguas masculin'as, principalmente onele as . ch uva s sao abundantes. .No Distrito Federal , onde vivo, ja tem os fa lta d'agua em v,lT i as localid ades. Muitas nasce ntes e de agua estao secanclo pelo usa incl isc riminad o. Mas ai nd a ch \Ie mui to de novem bro a abril (a proximacla me nte 1.400 mm por ana . Po rta nto, e u ma insensatez que a capta c; ao da aguas de chu\a nao enha virado ain da pofftica-rubl'ca. 0 mesmu val e para gra ndes cidade bOmo SaD P au lo e Ri o de Janeiro. co m problemas de ' inun da c; ao par causa da imp e rmeabili zac;ao do 5010 . _.Agua de ch uva e a ua de boa gualidade, perfeitamente poti el. a inda mais no Brasil , onde nao ha chuva'c ki da . 6 processo ci a evaporac;a-o elim ina as impurez as. Pa ra 0 ceu sobe apenas agua limpa em forma de apor. E a agua que desce e a mesma ate nos lu gares onde ha polui c; ao ( ape nas a pri me iras chu\las vem arrastand o a sujei ra do a r,' principa lm ente depoi s de um lo ngo period o de estiagem). Hoje, a agua de chuva e a melh or que te mos para beber, apesar da ausencia de a lgun s minerais. Mas isso e fac il de re so lver. Vej a mos. Telhados coletores " Sao os melhore s captad . ores , principalment e os de ,telhas de barro. Um sistema corriqueiro d e calhas co leta e direciona a agua para um ' reservat6rio. Oaf ela pode s er di stribuida' para outros re se rvat6rio s, bombeada ou· diretamente utilizada. Quanto da para co letar? E facil caleular. Usando 0 exempl o de Br as ilia e eonsiderando quel mm de I chuva em 1 m 2 de te lhado e igual a 1 litro de a gua , entao . cheg a remos .a 1.400 litros por ana em cada metro quadrado de telhado . Ja que usamos · a s primeiras chuva s para lav a-Io , ' imaginemos uma perda -no annaZE i ,amento da ordem de 20% e teremos 1.120 litros ' p o r metro quadr a do. Ai e 56 multipliear pela area do telhado. . A estocagem Ha muitas opC;6e s, de scle reservat6rios su bterraneo s ate caixas d 'agua s comprada s pronta so u construidas. Entre os pe rmacultores, costumamo s constTuir ta nques diretaill en te so bre 0' -0 10 usando fe rrocimenfo um a le cni ca co.nstruti 'a antiga e pou co difundida, mas que pela ve rsatilid ade, praticidade resisten c ia e rapidez com que pode se r construfda, prop-orciona os melhores e rnais economico ta nqu es de arma ze name n t o p_ ar a a ag ua cl e ch uva, prineipalillente os de grand e po rte, ac ima de 30 mil litro s. o seg redo para a estocagem e mant e l' a agua sem contato com a luz do . sol, num ambiente hermeticamente fec hado , para ' que nellhuma vida possa desenvolver-se. Ass im , a qualidade da agua pode se r mantida por urn ano. 0 cimento conticlo nas paredes do tanque ajud a a neutr'alizar a ae id ez natural da agua de chuva. Mes mo a ss im, cacos de ma rmore ou de ro eha e alearia sao bem-vindos para s uprir a fa lta de mineral menciof)acla acima. A primeira agua de cada ehuva · deve ser descart ada, pois e a ql:1e vai · la-var 0 telhad o. Sistem as simples de de scar te'(Foto 1) fun c ionam muito bem. Tomado esse cuidado, a agua de chuva, pode ser tranquilame- nte consumida a' p6 s filtragem, embora haja quem defenda a clora <;a o. Como nao ha. unanimidade, fic a a criterio do u 5u a rio . Eue min h a familia utilizamos aguade chuva para todos· os fi ns sem adic;ao de cloro ou fluor, elemento s sa bidamente t6 xico s, e nao temp s 0 menor problema. 'Sergio Pa";;pl o na e bioarquiteto e I • permacultor em Brasilia. [email protected]

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Busca permanente

Fazer agua oaprov€itamento inteligente e' racionalda agua de chuva

Sergio Pamplona *

Na vida de dona Nair Sjlvino, sertaneja de Pi,!ao Arcado, interior da Bahia, a cisterna construida ao pe da casa para armazenar agua de chuva pos fim ahist6ria de escassez levada porgera~6es. A agua de antes erq pouca e ruim. Mesmo assim, por esta agua escassa e de ma qualidade, as mulheres da faniilia andavam leguas. lam ,' e vinham equiiibrando latas d'agua pesadassobre as cabe~as, numa rotina que a certa idade Ihes causava graves problemas de ordem fisica.

Nao estavam sozinhas. Nas terras secas do Brasil, fazeragua e uma questao de genero, tarefa de mulher. Onde hoje nao ha cisternas como a de Dona Nair, a tradi<;ao ,permanece: mulheres podem gastar ate um dia inteiroem longas caminhcidas paraabastecer de agua suas

. , famflias . . 0 fazer agua vai na dire<;ao contraria da mentalidade predadora qu e devora todos os mananciais doplaneta sem pensar rio futuro da agua doce e das gera~6es futuras. Aponta para a responsabilidade, a etica, a sustentabilidade.

Fora do· nordeste, 0 uso das aguas cle chuva ainda e pouco praticado, mas existem boas experiencias. Em Setelagoas, Minas Gerais, 0 projeto de IIBarragens de Conten <;ao d'e Aguas Supe rficias de Chuvas" te m apresentadoresultados altamente positivos na recuperac;ao de areas degradadas pela chuva. Aqui, onde a meta e construir 960 barraginhas, contemplando toda a microbacia do Ribeirao Paiol, 0 problema nao e a falta . d'agLia, mas 0 excesso.

o sistema dlsp6e de - mini-a~udes sucessivos . para conter e nxurrad as vol u mosas e erosivas. Seu' 0 b je ti vo principal consiste em carregar e d ~scarregar 0 lago, proportionando a rap ida infiltra<;ao da agua entre uma chuva e outra.Assim, a capacidade de recarga e recupe r'ada durante 0 cicio chuvoso, elevando 0 len~ol.· freatico. '

liquido seminal

rla dais ti pos de agua: as que v€! m do a : . c ",5 que 5U rge m da terra. Conforme

de pensar antigo, 0 ceu e a terra ~IT' casal. 0 ceu macho fecunda e~ea oele chuva para fazer seus

: ,~etajs . j este sentido, Irquido sem inal e

tem conota<;ao mascul·ina. Por outro lado, a agua das fontes e po~os sao

-claramente femininas e maternas. Sao aguas do parto, sangue e linfa da terra,

1Iseiva que so be do utero da terra-mae. As palavras do professor Pierre Emy, da Universi dade de Ciencias Humanas de Estrasburgo, expressam a fOT~ado simbolismo das condi~6es especiais das aguas de chuvas e valem uma reflexao. Se as aguas femininas estao contaminadas (como estao), resta-nos consumir as aguas masculin'as, principalmente onele as

. ch uvas sao abundantes. .No Distrito Federal , onde vivo, ja

temos falta d'agua em v,lTias localid ades. Muitas nascentes e len~6is de agua estao secanclo pelo usa incl isc riminado. Mas ai nd a ch \Ie mui to de novem bro a abril (a proximacla mente 1.400mm por ana . Po rta nto, e u ma insensatez que a captac;ao da aguas de chu\a nao enha virado ain da pofftica-rubl'ca. 0 mesmu vale para gra ndes cidade bOmo SaD Pau lo e Ri o de Janeiro. com problemas de ' inun da c;ao par causa da impermeabili zac;ao do 5010 .

_.Agua de ch uva e a ua de bo a gualidade, perfeitamente poti el. a inda mais no Brasil , onde nao ha chuva'ckida . 6 processo ci a evaporac;a-o elim ina as impurezas. Para 0 ceu sobe apenas agua limpa em forma de apor. E a agua que desce e a mesma ate nos lugares onde ha polui c;ao (ape nas a p rime iras chu\las vem arrastand o a su jei ra do a r,' princip a lm e nte depoi s de um longo period o de estiagem). Hoje, a agua de chuva e a melh or que temos para beber, apesar da ause ncia de alguns minerais. Mas isso e fac il de reso lver. Vejamos.

Telhados coletores "

Sao os melhore s captad.ores , principalmente os de ,telhas de barro. Um sistema corriqueiro d e calhas co leta e direciona a agua para um ' reservat6rio. Oaf ela pode ser di stribuida' para outros rese rvat6rios, bombeada ou· diretamente utilizada.

Quanto da para co letar? E facil caleular. Usando 0 exempl o de Bras ilia e eonsiderando quel mm de I

chuva em 1 m2 de te lhado e igual a 1 litro de agua , entao .chega remos .a 1.400 litros por ana em ca da metro

quadrado de telhado . Ja que usamos · a s primeiras chuva s para lav a-Io , 'imaginemos uma perda -no annaZE i,amento da ordem de 20% e teremos 1.120 litros ' po r metro quadr ado. Ai e 56 multipliear pela area do telhado. .

A estocagem

Ha muitas opC;6e s, de scle reservat6ri os su bterraneos ate caixas d 'agua s comprada s prontaso u construidas. Entre os pe rmacultores, costumamo s c o nstTuir ta nques diretaill e n te so b re 0' - 0 10 usando fe r ro c im e n fo um a ~ le cni ca co.nst ruti 'a antiga e pouco difundida, mas que pela ve rsatilid ade, praticidade resisten c ia e rapidez co m que pode se r construfda, prop-orciona os melhores e rnais economico ta nqu es de arma ze name nto p_ar a a ag ua cl e ch uva, prineipalillente os de grand e po rte, ac ima de 30 mil litros.

o seg redo para a estocagem e mante l' a agua sem contato com a luz do . sol, num ambiente hermeticamente fec hado , para ' que ne llhuma vida possa desenvolver-se. Assim , a qualidade da agua pode se r mantida por urn ano. 0 cimento conticlo nas paredes do tanque ajud a a neutr'alizar a ae id ez natural da agua d e chuva. Mes mo ass im, cacos de ma rmore o u de ro eha ealearia sao bem-vindos para suprir a fa lta d e mineral menciof)acla acima.

A primeira agua de cada ehuva · deve ser descartada, pois e a ql:1e vai · la-var 0 telhad o. Sistem as simples de descar te'(Foto 1) fun c ionam muito bem. Tomado esse cuidado, a agua de chuva, pode ser tranquilame-nte consumida a'p6s filtragem, embora haja quem defenda a clora <;a o. Como nao ha. unanimidade, fica a criterio do u 5 u a rio . Eue min h a familia utilizamos aguade chuva para todos· os fi ns sem adic;ao de cloro ou fluor, elementos sa bidamente t6xico s, e nao temp s 0 menor problema.

'Sergio Pa";;plona e bioarquiteto e

I• permacultor em Brasilia. [email protected]

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Fac;a voce mesmo Sergio !'amp /an a

A estrutura de ferrocim ento para a con slr uc;:a de tanqu es e o utras estruturas consiste numa malha de ferr os fin os , sob re a qua l se estica uma tela de vivei ro (fio 24 ) e aplica­se uma massa forte de cimento e areia lava da media no trac;o 1 :2 . 1550 cria uma pare de fina e fo rte (3 em de espes su r a, n o m ax imo ) a qual , dev idamen t curada com agua, fi ca esta nqu e e· agOenta grandes press6e5 de agu a.

EXi tem duas maneiras de fazer a cai CI d 'agua : uma e artesan al, com uso de vergalh6es 4 .2 ou 5.0 mm, e a outra , industria l izada, na qual usa­se uma te la ol dada com o mal ha de ferro.. Aqui va mos explicar a tecnica indu stri a li zacla, que proporciona ma ior rapidez e ag ilidade na execu~ao.

Em geral, nao ha nece sidade de funda<;6es. Os res€nat6rios de ferroci mento nao sao multo altos (cerea de 1,80m) e 0 peso da agua esta bem distribufdo pela bas . a que costumamos fazer e compactar bem o solo e assentar a malha de te rr6 do piso sobr urn eontrapiso de co n reto .

A parede e feita com a malha de ferro eSlicada no chao (Foto 2), com a curvatu ra natura l vfrada para baixo, de forma a que 0 lado convexo fiq ue vollad o para cima. A tela e es ticada e amarrada amalha com arame. Ao ser I vantada , a estrutu ra fo rmarci um ci lindro, esticanda a tela ain da mais e facilitando a aplica<;aQ da massa.

Entao, aplicamos a parede sab re o piso (Fotos 3 e 4) , depois faze mos a ca ntrapi So. Neste ponto, tem-se a gaiola pranta para a cQncretagem com massa pastosa, menOs aguada que 0 con creto normal (Foto 5 ) . Antes, porem, e preciso rebocar 0 piso.

A co n relagem d as pare d es acontece em tres etapas. Na primeira, duas pessoas apl icam a massa, uma de cada lad0 (Fo to 6) . Q uando estiver se~a, e hora de apli car 0 reboco interno e depoi s alisa- Io com uma espon ja (Foto 71. a mesmo val e para o lado de fora e para a tampa da ca ixa d ' agua, que sera sempr e abaul acl a (Foto 8) .

a tanque estar a pro nto para rer. be r a primeira agua, que vai ser descartada apos tres seman as a fim de que a concreto se j a tOlalmenle c llrado . E normal q ue as pare d es uan ir m no primeiros d ias, mas param logo que 0 ca lcaria do ci men to feehar os pOr0S.

Tamas de Carvalho jUnior

A~ imagens sao de cursOs c1dcJOS no tPEe 2 a 5) e no I(,AB (6 a 8). A foto 1 mostra sistema de captat;ao do Sftio No na Teia, em 8rasfila, OF

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