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    Detalhe de anúncio contra ahomofobia veiculado na Itália:

    "homossexualidade de nascença"irritou da direita à esquerda

    BIOLOGIA

    O polêmico gene gayA relação entre genética e homossexualidade vive sendo provada e contestada. Agora,o maior estudo sobre o assunto quer responder: é possível nascer homossexual?

    PABLO NOGUEIRA

    Imagine que a ciência desenvolva um teste capaz dedetectar quais recém-nascidos poderiam se tornarhomossexuais. Saber disso tornaria a sociedade maistolerante com as minorias sexuais? À medida que avança ainvestigação sobre as bases naturais da orientação sexualhumana, essa questão ética permanece como pano defundo.

    Há quase duas décadas, psicólogos, geneticistas eneurologistas vêm coletando amostras das dife-rençasbiológicas entre héteros e homossexuais, que passam pelainfluência da genética (o irmão gêmeo de um gay tem maischance de ser também), habilidades manuais (gays deambos os sexos têm mais chances de serem canhotos) ecognitivas (lésbicas têm um raciocínio de rotação espacialmelhor do que as héteros). Ainda falta estabelecer umateoria unificada que dê sentido a todos os dados coletados.

    Mas um grande estudo em andamento, cujos primeirosresultados saem em 2008, promete ajudar a juntar as peças do quebra-cabeça eapresentar as mais fortes evidências de que alguém possa, sim, nascer gay. Ou hétero.

    Em outubro, na Itália, a possível pré-determinação da sexualidade virou debate nacional.O governo da província da Toscana veiculou um anúncio anti-homofobia no qual via-se obraço de um bebê com uma pulseira onde se lia "homossexual". A imagem era completadacom a frase "a orientação sexual não é uma escolha". A propaganda foi imediatamenteatacada por todo o espectro político do país. O conservador Paolo Bartolozzi disse que eraum "ataque à infância". A centrista democracia cristã condenou a "mensagem errônea deque a homossexualidade é inata". O Vaticano, por meio do seu secretário de estado,cardeal Tarcisio Bertone, disse que era uma "iniciativa estranha". O filósofo e políticoGianni Vattimo, que além de comunista é militante gay, considerou o anúncio de mau gostoe disse duvidar que a genética explique a homossexualidade.

    Idas e vindas

    A primeira grande descoberta corroborando essa tese foi feita pelo neurologista americanoSimon Le Vay em 1991. Seus estudos com animais mostravam que uma parte dohipotálamo, na base do cérebro, estava relacionada à regulação do comportamento sexual."Quis checar se poderia haver ligação também com a orientação sexual", diz Le Vay. Opesquisador reuniu uma pequena quantidade de cadáveres de homens e mulheres héterose homens gays e focou sua atenção num pequeno grupo de células do hipotálamo anteriorchamado INAH3. Ao comparar o tamanho da estrutura entre os sujeitos dos dois grupos,verificou que ela era em média duas vezes maior entre os homens héteros. Mais do queisso, o tamanho do INAH3 dos gays se aproximava daquele encontrado em mulheres.

    Este ano o trabalho de Le Vay recebeu um importante reforço, ainda que indireto. Umestudo da Universidade do Oregon comparou os cérebros de cerca de 30 carneiros héterose homossexuais. Sim, 10% dos carneiros são homossexuais. O estudo mostrou que, assim

    como em humanos, o tamanho de uma estrutura do hipotálamo associada aocomportamento sexual é menor em carneiros homossexuais, com proporções semelhantesàs encontradas nos cérebros das fêmeas da espécie. "É claro que a sexualidade humana émais complexa do que a das ovelhas, mas fiquei feliz ao saber do resultado", comenta LeVay.

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    Naquele mesmo ano de 1991, outra linha de pesquisa sacudiu o campo do estudo daorientação sexual. Os psicólogos Michael Bailey e Richard Pillard analisaram 110 pares degêmeos. Descobriram que, entre os fraternos (não-idênticos), a chance de que um homemgay também tivesse um irmão gay era de 22%. No caso dos gêmeos univitelinos, essacorrelação chegava a 52%. Um segundo estudo dos psicólogos manteve a correlaçãopróxima dos 50% para univitelinos e 48% para univitelinas. Mas em 2000, quando Baileyanalisou quase 5.000 gêmeos australianos, encontrou uma correlação menor entreunivitelinos masculinos, de aproximadamente 20%.

    Foi o que bastou para muita gente decretar a morte da idéia de homossexualidade natural.Os anos seguintes foram movimentados. Duas pesquisas de 2000 sugeriram valores aindamais altos, próximos dos 60% para os univitelinos. Porém um estudo mais abrangente,realizado em 2002, encontrou valores na ordem dos 7%, baixos o suficiente para levar seusautores a afirmar que, "se há influência genética, ela é inexpressiva". Bailey diz que asvariações entre estudos podem ser explicadas por diferenças metodológicas e estatísticas."E mesmo os valores mais baixos são indicativos de que existe uma influência genéticaforte na orientação sexual", argumenta. Se não conseguiram convencer os críticos - umgrupo heterogêneo que vai de militantes gays a ultraconservadores de direita, passandopor pensadores humanistas como Vattimo -, os vários estudos com gêmeos fortaleceramentre os pesquisadores a crença num componente genético da homossexualidade. "Mas agenética é apenas parte da explicação, não é a explicação", diz Bailey.

    "99,5% de certeza"A pesquisa genética propriamente dita ganhou as páginasde todo o mundo em 1993. Naquele ano um artigo naprestigiada revista "Science" trazia os resultados do estudofeito pelo americano Dean Hammer com 114 famílias dehomossexuais. Hammer afirmava com "99,5% de certeza"haver encontrado indícios da existência de um ou maisgenes ligados à orientação sexual na região q28 docromossomo X (ou Xq28). Um segundo estudo, realizadopelo mesmo grupo dois anos depois, chegou a resultadossemelhantes.

    Assim como aconteceu com os estudos com gêmeos, a

    controvérsia científica logo emergiu. Em 1999 o canadenseGeorge Rice examinou amostras genéticas de 52 duplas deirmãos gays e disse não ter encontrado sinais de que algum gene do Xq28 pudessedesempenhar qualquer papel relevante na orientação sexual. Essa guinada forneceumunição pesada para os céticos, que procuraram desmoralizar totalmente o trabalho deHammer. O americano tentou argumentar que havia diferenças metodológicas importantesentre os dois estudos (como a forma pouco criteriosa pela qual o grupo canadense decidiaquem era homossexual ou não), mas o estrago junto à opinião pública já estava feito.Hammer mudou de área e foi estudar a genética da religião.

    Outros caminhos trilhados ao longo dos anos 1990 na busca por diferenças biológicas entrehomossexuais e heterossexuais levou os pesquisadores a resultados inusitados. Foramencontradas diferenças em itens como a fertilidade das mães, o raciocínio espacial e até a

    relação entre o comprimento dos dedos anelar e indicador (veja nos quadros "Desde onascimento?" e "Diferenças aparentes"). "Pessoalmente, vejo essas descobertas comceticismo, pois são diferenças muito pequenas", diz Bailey. Talvez a descoberta masrelevante tenha sido o chamado "efeito do irmão mais velho". Ao que parece, o número deirmãos mais velhos poderia elevar a probabilidade de que um homem nasça comorientação homossexual. Curioso é que o número de irmãs mais velhas não parece fazerdiferença. Apesar de ganharem a atenção da mídia e dos especialistas, esses trabalhos nãoesclareceram realmente os eventuais mecanismos biológicos que influenciariam aorientação sexual.

    A prova final?Uma nova guinada deve acontecer no ano que vem, quando serão divulgados os resultadosde um estudo genético iniciado em 2004. Dirigido pelo psiquiatra Alan Sanders e financiado

    pelos institutos nacionais de saúde dos EUA, o estudo visa coletar os dados de mil irmãosgays e dos familiares que concordarem em participar. Os estudiosos vão examinar entre 5mil e 10 mil marcadores genéticos de cada indivíduo, buscando variações que possam serligadas à orientação sexual masculina. E um dos objetivos declarados é resolver a polêmicasobre o Xq28. Sanders, porém, não acredita que haja um gene gay específico e no passadojá disse acreditar existirem 10 ou 15 envolvidos. "Sabemos que é uma genética complexa,

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    pois o fato de um gêmeo univitelino ser gay não é garantiade que o outro também o seja. Pela escala doexperimento, teremos um poder estatístico muito maior doque tudo o que já foi feito", disse Sanders a Galileu. "Se oachado de Hammer estiver correto, nós poderemosencontrá-lo também." Mas a pesquisa vai além da genéticae aborda também itens como a infância e o número deirmãos de cada indivíduo. "Estimamos que a contribuiçãodos genes para a orientação sexual seja na casa dos 40%.

    Então as contribuições de outros fatores, sejam elesbiológicos ou sociais, podem ser igualmente importantes."

    Um dos que esperam ansiosamente pelos resultado doestudo de Sanders é o geneticista Sven Bocklandt, daUniversidade da Califórnia. Bocklandt trabalhou comHammer e, assim como Sanders, continua atrás dos taisgenes da homossexualidade. Já realizou experimentos com ratos e ovelhas e agora analisa70 mil pontos diferentes do DNA coletado de 32 irmãos gêmeos. Sua linha de investigaçãopode ajudar a explicar por que pessoas com material genético rigorosamente idênticopossam diferir quanto à orientação sexual. A resposta estaria num mecanismo bioquímicochamado metilação. Quando pequenas moléculas, chamadas grupos metil, agem sobre umdos quatro tipos de bases que compõem o DNA, o resultado é o "desligamento" do gene.

    Isto é, ele fica inativo. Bocklandt recorre ao exemplo prático das células do fígado e docérebro: "Elas possuem o mesmo DNA, mas fazem coisas diferentes. E o que faz com queem cada tipo de célula alguns genes estejam ligados e outros desligados é a metilação". Nocaso dos gêmeos univitelinos em que um é homossexual e outro não, talvez um possua umaversão "desligada" dos genes.

    Mas em qual deles? Bocklandt ressalta que não se busca um "gene gay", mas sim genes queinfluenciam a orientação sexual. "A melhor maneira de ver que a homossexualidade égenética é ver que a heterossexualidade é genética. Um crocodilo não sai à procura defêmeas devido ao tipo de relacionamento que teve com seus pais, ele faz isso por instinto."Bocklandt lembra que a reprodução é um elemento-chave para a perpetuidade da vida. "Éingenuidade pensar que a natureza deixaria essa questão entregue ao acaso." Acaso oucaso pensado, temos de levar em conta que, diferentemente dos crocodilos, nem sempre

    obedecemos à natureza.

    Desde o nascimento?Estudos envolvendo famílias e gestação respondem por grande parte dos argumentosque sustentam a idéia de uma base biológica para a orientação homossexual. Vejaalguns dos principais resultados

    MÃES DE GAYS SÃO MAIS FÉRTEISSeja por causas biológicas ou sociais, o fato é quegays possuem mais irmãos do que a população emgeral

    Mãe de gay2,7 filhos em média

    Mãe de hétero2,3 filhos em média

    HOMOSSEXUALIDADE ENTRE IRMÃOSUm homem com um irmão gay tem mais chances de sertambém gay. O efeito é maior no caso de gêmeos idênticos

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    A ORDEM DE NASCIMENTOEstudos sugerem que a cada filho que uma mulher gera, crescem em 33% as chancesde que o seguinte seja homossexual

    ESTRUTURAS CEREBRAIS

    Em 1991, um estudo detectou diferenças de tamanho numaestrutura do hipotálamo conhecida como INAH3. Em 2001, outrapesquisa, avaliando a mesma região cerebral, encontrou maiorquantidade de neurônios nos cérebros dos homossexuais

    INFLUÊNCIA HORMONAL

    Vários estudos mostram que filhos de mulheres nascidas com

    hiperplasia adrenal congênita ( problema que leva à exposição dofeto a maiores quantidades de hormônios masculinos durante agestação) tendem a apresentar maior interesse por relaçõeshomossexuais quando adultos

    Diferenças aparentesPesquisas que apontam diferenças físicas e psicológicas entre gays e heterossexuais sãoainda mais polêmicas

    COURO CABELUDOHomossexuais apresentam duas vezes mais redemoinhos no sentido anti-horário

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    TOM DE VOZHomens e mulheres ouviam vozes de pessoas e tinham deadivinhar sua orientação sexual

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