louvores amórficos e outros poemas

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uns escritos de pablo luz, esse livreto publicado pelo selo candeeirocafe em dezembro de 2011

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louvores amórficos e outros poemas

pablo luz

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cuide do sentido e os sons cuidarão de si.

Lewis Carroll

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louvores amórficos

Desvio pequenas formigas do armário

porque penso na ausência

e lido com fragmentos de Vida

Assim a brisa da nova Estação

anestesia tudo aquilo

que não tem jeito

E são tantos olhares perdidos,

da moça tresloucada à mesa

Na minha sala desloco inquieto

os pés e os ouvidos

Equinócio estranho

cheirando como a pele fina

dum quase-pêssego

A língua anseia e não disfarça

e

para onde vão tantos olhares perdidos?

Para onde vão, amigos tortos?

Pairam duas impressões

distintas agora mesmo

de duas vontades

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distintas de menina

e elas,

elas carecem de AGORA

Sim, alheio às paixões

sem mais bocejos, creio

que procedem aos estômagos revoltos

engasgos e arranhões no âmago

porque condicionados somos

a NÃO QUERER

e insistentes nos anseios por palavras

em trajes esquizofrênicos

pois só podemos gritar

no mato

Para onde vão, suas formigas?

Parecem passear por formidáveis

encontros

Pelos atos falhos comicamente

elucidados

Pelos abraços puros e inesperados

gracejos

Pelas cores dos cabelos

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e espirituosos

quase infantis

(num passo sutil

com pantufas de grosso veludo

sem cheiro ou calor

assusta levemente e ecoa

entre tantos sons: a Ausência, como que:

Uma frenética dançarina

Um suicida esverdeado

Uns pseudos revelados

Uma carícia calculada

Uma castanhola solitária

Um espanhol transcendente

Uma

frenética e boa

carícia imaculada)

Da varanda enquadro prédios

e permito uma nova Estação

porque ela permite a Ausência

e é doce melancolizar

Pois rir aos prantos

ou desesperar aos risos

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é acima de quase tudo

sinal de estarmos

quase vivos

e

logo mais

poderemos gritar.

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oCulto

Amaria vezes seguidas a mesma mesa

como que refugiado dos interesses óbvios

Deixo sob as luzes acesas,

quietinhas que são as libidinosas iras

Fazer dos ascos, terapia

recompondo santuários

em varandas esquecidas,

submerso entre alergias

que não as minhas

Não sei o que mais me mata:

sintomas de versos vagos

ou astigmatismo em noite

estrelada

Erro elevado em estímulos constantes.

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desato desassossegado

As Estranhezas deram as caras

reformulando o Absurdo

Cadeira cansada de ceder

assento trivial, exige dos corações liquidificados

um cruzar de pernas enigmático

Nos porões de cada alma

a violenta face do querer

QUEM MANTÊM A GRAÇA?

Gostamos de confundir tiranos

Passamos a dormir pouco

para continuarmos sonhando

Oh, ventríloquo de meus ventrículos

afasta-nos das possessividades histéricas

afasta-nos do terror barato da lata vergada

Oh, engastrimitista de nossas gastrites!

Aguardamos certo calor

que incita um sorriso breve

No alto da serra

alto refúgio certo e breve

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Pulamos e planamos

pois somos todos Estranhos.

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ruídos

Como se todos estivessem perdidos

e as misérias não passassem

com um suspiro

Como se o fim do dia e o fim dos astros

ganhassem proporções inéditas

Como se incúria, ultraje e desalento

todos acorrentados

em expressões indecifráveis

Enquanto altos gritos ressoam

tentando expulsar a Vida

Enquanto teus impasses são provas

do conforto que preserva o sentido

Enquanto esforço identidade

e disponho gestos e feições

para preservar mitos

Como se todas as fragilidades

niveladas, se entendessem

Enquanto irritante espera

refletisse o Cosmos

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Como se enquanto encontro-me

desentendo todas as vias – e o Tempo.

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quietude rio-contense - pt.1

Saturnal. Vespertino

Som algum ruído

Que arranha a tranquilidade

Contada

Contida, de contas

Do rio

De solfejo permanente

De pássaros

E das almas catadas

No Fraga

Senhores e cores atemporais

Aguardentes macias

Alertam e aguçam

Os ouvidos e as vistas

Para o que há de puro

Para o que há de mato

Para o que vale assim

Tantos contos

De rio

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outono abafado

Ao que parece

todas as próximas horas são desconhecidas

tão fascinantes são as terças

umas três e dezesseis

ou a maçaneta úmida

ao amanhecer o domingo

(o sono vai e vem quando quer)

É teu o aroma que me faz repousar tranquilo

não o das borboletas

Queridas estampas aquecem

É teu aquecer com asas!

Tenho riso para tudo:

a inspiração da carreira precoce

traz palavras lacradas em vermelho

no nariz, nos pés, nos vestidos

Tenho o riso

como criaturas inquietas

misteriosamente

oriundas dos respingos

do mijo

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( Hoje é dia de morrer! na carroceria, repete o menino...)

Todas as próximas horas são desconhecidas

aos que decidem revelar-se

com passos calmos

A Vontade pura e ancestral

de se fartar risonhos

de Silêncio e Possibilidade

(...)

Corram!

Alcancem o minuto

até o pensar gerúndico abraçar

a jovem de lábios carnudos

os felinos alaranjados que rondam

o porteiro do cotidiano

postes, igrejas e varandas

(...)

Corram!

Deixem o segundo alcançar

em milésimos se escondem os fatos

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o Amor esquiva-se gracioso

da impaciência objetiva

dos normais.

(..)

Tudo está acontecendo

e intrigam os desavisados

essas efervescentes revoluções mágicas

na catraca e no culto no livro e no caixa

– que tal lambermos os bustos

e vendermos desilusões na praça?

(.)

O nosso fingir encerra calado

( )

As nossas náuseas se acabam

num dia comum.

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bem residente

Queria me perder no bocejo

e que tudo parasse de ser AGORA

Para contemplar os raios na janela,

o tempo e o ar de horas sem data

Num nublado ocaso encerrando a estação

a infinda tocata das gotas no metal

revela o descompasso de minhas ausências

e aplaude o sublime nas minhas andanças

sem sequelas

Sou hóspede do meu próprio pensar

e repudio inúmeros esquemas

desses bem elaborados de paz.

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armagedom

Todos tentando convenções

No convento

todos abduzidos

Concertos

de celulares possuídos

Cansados de acariciar asfalto

Autônomos corações soberbos

Vísceras de Midas oferecidas vivas

Brinde aos convencidos cegos!

Todos se convencem arrepiados

Algo Eterno ladra fora

O que cão e gato tanto esperam?

Correr mais Viver mais

Foram feitos assim

Pois tragam a Inocência

Tragam-me a Inocência

e o Fim.

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Uma jovem de vestido vermelho

munida de expressões esquecíveis

acaba de levar meus poucos trocados

Tantas vezes a realidade quieta

parece golfada

Antenas pendentes e sombras

movem num ritmo calmo

Luz e ventilador em frenesi

prestes a decepar a ansiedade

Brisa sutil de convulsiva mandala.

Ah, essa hora! instante avesso

de envelhecer devagar

Num lugar assim: meio branco

meio verde meio

ouvindo serenamente ao fundo

a voz rouca e o sopro daquele outro

castigado

que hoje se perdeu no Além

junino glacial submerso.

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As Genialidades que repousam

resmungam em línguas bem estranhas

sobre a trivialidade doméstica

E nos mais diversos prantos

como se engendrassem no ventre

Camões e Dos Anjos

trazem pela manhã o sorriso

Para ele: trevos e a boa agonia

Para ela: toda a sorte mundana

Sou uma massa afundada num berço

Somos uma pausa apunhetada nos dedos

Dita jovem morena de vestido vermelho

levou alguns trocados pelo corredor

Quem quer a sobriedade

dos enamorados que se suportam?

Os deuses recalcularam precisamente

todas as coincidências e

enviaram num frágil cabide azul: Chuva,

também instante perdido

Um cabide e uma antena pendente.

Que meus rins ouçam Aafa e

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mais dez meninas sussurrantes

e filtrem um cálice

de alívio solene

para os que aguardam quase atropelados

o deslizar de sonhos tíbios

outrora em brônquios atados

Levemente eleva tua fala

e diz com imprecisão:

O que os deuses levaram?

Uma jovem morena paranóica

e alguns trocados.

Happiness... Bang, Bang Shoot, Shoot.

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Bruxaria um poema feito por bruno leituga e pablo luz

Há um bruxo sobre o meu crânio de asfalto

Diálogos – meus miolos esticados no ar

Quimeras ocultas rubras a reconfigurar

o nosso coração.

Adão, poeta, meu peito em estilhaços

nos quatro cantos das ruas

Atropelos de todos os sonhos bizarros

Potências que madrugam

sem saber o gosto do porvir

Que exponham o gesticular espontâneo,

e armado para corpos e córneas

intragáveis!

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Publicado em Dezembro de 2011 (1ª edição, ebook)

Capa, fotografia: pablo luz

candeeirocafe.wordpress.com