Nova Lei Dos Portos Comentada

download Nova Lei Dos Portos Comentada

of 25

description

Nova lei dos portos comentada.

Transcript of Nova Lei Dos Portos Comentada

  • PAOLIELLO, Eduarda Reuter. Anlise dos aspectos concorrenciais no mbito da lei 12.815/2013.

    Revista Eletrnica Direito e Poltica, Programa de Ps-Graduao Stricto Sensu em Cincia Jurdica da UNIVALI, Itaja, v.9, n.1, 1 quadrimestre de 2014. Disponvel em: www.univali.br/direitoepolitica - ISSN 1980-7791.

    26

    ANLISE DOS ASPECTOS CONCORRENCIAIS NO MBITO DA LEI

    12.815/20131

    ANALYSIS OF COMPETITIVE ISSUES UNDER THE LAW 12.815/2013

    Eduarda Reuter Paoliello2

    SUMRIO: Introduo; 1. Os objetivos e as diretrizes da lei; 2. As modalidades de explorao das instalaes porturias; 3. Competio entre porto organizado e terminais privados. Consideraes finais. Referncias das Fontes Citadas.

    RESUMO O artigo se prope ao estudo das novas regras institudas pelo marco regulatrio para a explorao das infraestruturas porturias e seu impacto na concorrncia

    entre os diferentes modelos existentes e propostos pela nova lei. O desaparecimento da distino entre os conceitos jurdicos de carga prpria e de

    terceiros revolucionou a sistemtica de explorao dos portos no Brasil. justamente este sobre este aspecto da nova legislao que o artigo intenta analisar o impacto da mudana nas relaes jurdicas j estabelecidas entre os

    detentores de infraestrutura no Brasil e tambm os usurios.

    PALAVRAS-CHAVE: Explorao; Infraestrutura; Portos; Concorrncia; Assimetria.

    ABSTRACT

    The article proposes to study the new rules imposed by the regulatory framework for the operation of port infrastructure and its impact on competition between

    existing models and proposed the new law. The disappearance of the distinction between the legal concepts of own cargo and others revolutionized the

    systematic exploitation of ports in Brazil. This is precisely on this aspect of the

    1 Este artigo produo cientfica decorrente do II Congresso Nacional das Comisses de Direito

    Martimo, Porturio e Aduaneiro da OAB, realizado em 31 de outubro e 1 de novembro de 2013, em Vitria-ES. Parte da atividade decorrente do Grupo de Pesquisa em Principiologia, Constitucionalismo, Regulao e Juridicidade, o qual se vincula Linha de Pesquisa em Principiologia, Constitucionalismo, Regulao e Juridicidade do Programa de Ps-Graduao

    Stricto Sensu em Cincia Jurdica da Universidade do Vale do Itaja PPCJ/Univali.

    2 Advogada, especialista em Direito Porturio e Martimo pela Faculdade de Direito de Vitria FDV (2013), membro da Associao Brasileira de Direito Martimo. Email: [email protected].

  • PAOLIELLO, Eduarda Reuter. Anlise dos aspectos concorrenciais no mbito da lei 12.815/2013.

    Revista Eletrnica Direito e Poltica, Programa de Ps-Graduao Stricto Sensu em Cincia Jurdica da UNIVALI, Itaja, v.9, n.1, 1 quadrimestre de 2014. Disponvel em: www.univali.br/direitoepolitica - ISSN 1980-7791.

    27

    new legislation that the article tries to analyze the impact of change in the legal relations among the holders of infrastructure in Brazil and also users.

    KEYWORDS: Exploration; infrastructure; ports; competition; Asymmetry.

    INTRODUO

    O presente ensaio tem por objetivo debater acerca dos aspectos concorrenciais

    contidos na nova legislao que regulamenta o setor porturio. Conforme se

    verificar ao longo destes breves apontamentos, a lei 12.815/2013 foi publicada

    tendo como principal misso, estampada logo em seu artigo primeiro, a

    regulao da explorao pela Unio, direta ou indiretamente, dos portos e

    instalaes porturias e as atividades desempenhadas pelos operadores

    porturios.

    Como tcnica legislativa, a nova lei opta por estabelecer, logo de incio e de

    forma inequvoca, trs definies contidas nos pargrafos seguintes ao artigo 1,

    que serviro como premissas bsicas das mudanas intentadas pelo legislador na

    nova sistematizao das regras para a explorao dos portos e instalaes

    porturias, quais sejam, in literis:

    1o A explorao indireta do porto organizado e das

    instalaes porturias nele localizadas ocorrer mediante concesso e arrendamento de bem pblico.

    2o A explorao indireta das instalaes porturias localizadas fora da rea do porto organizado ocorrer mediante autorizao, nos termos desta Lei.

    3o As concesses, os arrendamentos e as autorizaes de que trata esta Lei sero outorgados a pessoa jurdica que

    demonstre capacidade para seu desempenho, por sua conta e risco.

    Como se pode observar, a lei inovou na tentativa de modificar o critrio para a

    definio da natureza jurdica das instalaes porturias, deslocando o eixo para

    a rea de sua localizao e no mais para a natureza da carga a ser

    movimentada por elas, sistemtica at ento adotada pela revogada Lei n

    8.630/93. Esta mudana trouxe alguns reflexos diretos, tais como a modificao

    do prprio nome de classificao dos terminais localizados fora da rea de porto

  • PAOLIELLO, Eduarda Reuter. Anlise dos aspectos concorrenciais no mbito da lei 12.815/2013.

    Revista Eletrnica Direito e Poltica, Programa de Ps-Graduao Stricto Sensu em Cincia Jurdica da UNIVALI, Itaja, v.9, n.1, 1 quadrimestre de 2014. Disponvel em: www.univali.br/direitoepolitica - ISSN 1980-7791.

    28

    organizados, que passaram a ser denominados de privados e no mais

    privativos.

    Alm do nome, outro reflexo inerente ao novo critrio de definio a perda de

    importncia do conceito de carga prpria, tema polmico, objeto de crticas e

    conflitos originados sob a gide da Lei n 8.630/93 e suas regulamentaes

    infralegais. A premissa estabelecida no transcrito pargrafo 2, do artigo 1, da

    Lei n 12.815/2012 justamente a base para a definio do conceito legal de

    terminal privado pelo artigo 2, inciso IV, da mesma lei, que estabelece como

    sendo uma instalao porturia explorada mediante autorizao, localizada fora

    da rea de porto organizado.

    A opo do legislador, todavia, na viso do jurista Carlos Afonso Rodrigues

    Fontes3, no foi satisfatria, uma vez que, para o renomado autor, faltar-lhe-ia

    elementos para a determinao do contedo dos institutos denominados de

    instalaes porturias e, consequentemente, do regime jurdico ao qual estaro

    submetidas. Para o autor:

    (...) Tal conceito revela-se til to somente para indicar a localizao dos terminais, a partir do novo marco legal. Todavia, no fornece elementos suficientes para

    determinao do contedo do instituto. Para esse fim, intil. Determinar a natureza jurdica para o terminal de uso privado revela-se til para fins de determinar o contedo do

    instituto. Conforme advertido alhures, tal definio alm de instrumento didtico de indicar topograficamente a posio

    do instituto, segundo suas afinidades, e, mais propriamente, identificar, prima facie, as normas que lhe so aplicveis, a partir dessa estruturao enquanto cincia, tem por escopo

    auxiliar na atividade de interpretao jurdica, com o fim de afastar-se do casusmo, do senso comum e do prprio erro

    etc. (...)

    A crtica do autor faz sentido, uma vez que o mero deslocamento do eixo de

    definio do instituto jurdico no capaz de, por si s, promover a sua

    3 FONTES, Carlos Afonso Rodrigues. Dos terminais porturios de uso privado, na disciplina

    da MP n 595/2012. Disponvel em: . Acesso em: 20 ago. 2013.

  • PAOLIELLO, Eduarda Reuter. Anlise dos aspectos concorrenciais no mbito da lei 12.815/2013.

    Revista Eletrnica Direito e Poltica, Programa de Ps-Graduao Stricto Sensu em Cincia Jurdica da UNIVALI, Itaja, v.9, n.1, 1 quadrimestre de 2014. Disponvel em: www.univali.br/direitoepolitica - ISSN 1980-7791.

    29

    conceituao e o seu enquadramento dentro das normas jurdicas a ele

    aplicveis. Para Tnia Lobo Muniz4:

    (...) a explanao e compreenso de qualquer conceito

    jurdico devemos pensar o direito de forma sistemtica, sendo que essa sistematizao pressupe uma anlise dos valores e fins das normas e dos princpios jurdicos e a

    existncia de ligaes entre os institutos que o compem, relacionando-os entre as diversas categorias jurdicas e o

    conjunto de normas de acordo com a determinao de suas caractersticas essenciais. Essas caractersticas compem a sua natureza jurdica e determinam sua localizao e relao

    com as demais normas integrantes do sistema jurdico (...).

    A nova lei, portanto, modificou o requisito para definio da natureza jurdica de

    uma instalao porturia, mas o fez sem, no entanto, promover qualquer

    alterao no enquadramento do regime jurdico aplicvel no que se refere s

    instalaes privadas. Em outras palavras, a Lei n 12.815/2013 eliminou a

    distino de tipo de carga a ser movimentada no terminal, sepultando a

    diferena at ento existente entre terminais privativos de uso exclusivo e de

    uso misto, mas manteve o regime jurdico aplicvel a elas inalterado, qual seja,

    a outorga de autorizao.

    O legislador assim procedeu com objetivo de aumentar a competitividade e o

    desenvolvimento do pas, conforme se verifica no artigo 3, a ser comentado no

    prximo tpico. No relatrio final aprovado pela Comisso Mista instalada para

    discutir a Medida Provisria 595, o relator, o senador Eduardo Braga5, do mesmo

    modo consignou:

    (...) o Brasil precisa expandir e aperfeioar seu setor porturio. Em outras palavras, necessita de mais portos e de

    avanos no processo de modernizao das operaes porturias. Nesse sentido, imprescindvel a atrao de

    capital privado para suprir a necessidade de investimentos. A MPV, acertadamente, elimina restries ao investimento

    4 MUNIZ, Tnia Lobo. Arbitragem no Brasil e a Lei 9.307/96. p. 30.

    5 A ntegra do parecer do senador Eduardo Braga disponibilizada no stio eletrnico do Senado: http://www.senado.gov.br/atividade/materia/getPDF.asp?t=126162&tp=1

  • PAOLIELLO, Eduarda Reuter. Anlise dos aspectos concorrenciais no mbito da lei 12.815/2013.

    Revista Eletrnica Direito e Poltica, Programa de Ps-Graduao Stricto Sensu em Cincia Jurdica da UNIVALI, Itaja, v.9, n.1, 1 quadrimestre de 2014. Disponvel em: www.univali.br/direitoepolitica - ISSN 1980-7791.

    30

    privado no setor porturio, quando, por exemplo, suprime da legislao a diferenciao entre movimentao de

    carga prpria e de terceiros, permitindo a empreendedores que no tenham cargas prprias o

    investimento no setor porturio, o que deve aumentar a oferta do servio, em benefcio do Pas (...).

    O relatrio que deu suporte tcnico aprovao do Projeto de Lei de Converso

    n 9 de 2013, que por sua vez originou a Lei n12.815/2013, induz ao raciocnio

    de que a nova lei seria absolutamente necessria para desatravancar o setor e

    garantir maior segurana jurdica aos investidores privados. Os nobres objetivos

    foram transportados para a lei e so balizadores da nova sistemtica de

    explorao porturia, que dever estar respaldada pelas diretrizes elencadas nos

    incisos de I a V, do artigo 3, que igualmente sero explorados no prximo

    tpico.

    Adentrando um pouco mais no debate, perceberemos que o inciso V, do artigo

    3, fala expressamente em estmulo concorrncia. Assim, interpretando

    sistematicamente os dispositivos at ento estudados, vemos que o legislador

    elimina a suposta barreira para atrao do investimento privado no setor,

    objetivando o aumento da capacidade porturia e, consequentemente, a

    concorrncia.

    Neste contexto, surge uma indagao: ao eliminar a diferena da natureza da

    carga que pode ser movimentada pelos terminais privados, o legislador tambm

    eliminou a natureza de servio pblico tpica da explorao porturia? Uma das

    evidncias que negativam esta indagao justamente a manuteno do regime

    jurdico de direito pblico ao qual permanecem atrelados os portos organizados e

    instalaes nele contidas.

    Ento, no caso dos terminais privados, h que se falar em prestao de servios

    pblicos mediante simples autorizao baseada exclusivamente no regime

    jurdico de direito privado e sem qualquer subordinao administrativa ou

    financeira autoridade porturia? Esta nova situao possui enquadramento

    constitucional? Seria um fator de desequilbrio com os portos pblicos e

  • PAOLIELLO, Eduarda Reuter. Anlise dos aspectos concorrenciais no mbito da lei 12.815/2013.

    Revista Eletrnica Direito e Poltica, Programa de Ps-Graduao Stricto Sensu em Cincia Jurdica da UNIVALI, Itaja, v.9, n.1, 1 quadrimestre de 2014. Disponvel em: www.univali.br/direitoepolitica - ISSN 1980-7791.

    31

    instalaes porturias localizadas dentro da rea de porto organizado? Estas

    perguntas balizaro o debate sobre a possvel existncia de uma sistemtica que

    propicie assimetria concorrencial no setor.

    1. OS OBJETIVOS E AS DIRETRIZES DA LEI

    A lei n 12.815/2013 traz em seu artigo 3 os objetivos que ensejaram o

    estabelecimento das novas regras para o setor e as diretrizes que direcionaro a

    explorao dos portos organizados e instalaes porturias, in verbis:

    Art. 3 A explorao dos portos organizados e instalaes porturias, com o objetivo de aumentar a competitividade e

    o desenvolvimento do Pas, deve seguir as seguintes diretrizes:

    I - expanso, modernizao e otimizao da infraestrutura e da superestrutura que integram os portos organizados e instalaes porturias;

    II - garantia da modicidade e da publicidade das tarifas e preos praticados no setor, da qualidade da atividade

    prestada e da efetividade dos direitos dos usurios; III - estmulo modernizao e ao aprimoramento da gesto dos portos organizados e instalaes porturias,

    valorizao e qualificao da mo de obra porturia e eficincia das atividades prestadas;

    IV - promoo da segurana da navegao na entrada e na sada das embarcaes dos portos; e V - estmulo concorrncia, incentivando a participao do

    setor privado e assegurando o amplo acesso aos portos organizados, instalaes e atividades porturias.

    O citado artigo 3 da referida lei foi um dos nicos que no sofreu qualquer

    alterao durante toda a conturbada tramitao da Medida Provisria n

    595/2012 no Congresso Nacional. Trata-se de uma norma infraconstitucional

    revestida de carter programtico, cujo contedo principiolgico dever nortear a

    interpretao da lei, direcionando a sua aplicao e sua regulamentao

    administrativa.

  • PAOLIELLO, Eduarda Reuter. Anlise dos aspectos concorrenciais no mbito da lei 12.815/2013.

    Revista Eletrnica Direito e Poltica, Programa de Ps-Graduao Stricto Sensu em Cincia Jurdica da UNIVALI, Itaja, v.9, n.1, 1 quadrimestre de 2014. Disponvel em: www.univali.br/direitoepolitica - ISSN 1980-7791.

    32

    Jos Afonso da Silva6 explica com maestria a definio jurdica de uma norma

    constitucional de contedo programtico, tal explicao se aplica perfeitamente

    s normas infraconstitucionais, verbis:

    (...) Podemos conceber como programticas aquelas normas

    constitucionais atravs das quais o constituinte, em vez de regular, direta e imediatamente, determinados interesses,

    limitou-se a traar-lhes os princpios para serem cumpridos pelos seus rgos (legislativos, executivos, jurisdicionais e administrativos), como programas das respectivas

    atividades, visando realizao dos fins sociais do Estado.

    Levando-se em considerao o brocardo jurdico que diz que a lei no contm

    palavras inteis, as normas insculpidas no transcrito artigo 3 possuem contedo

    programtico e apesar de terem eficcia limitada, impem limites e restries.

    Portanto, exercem importante papel vetorial na ordem e no regime jurdico dos

    portos.

    Nas palavras do jurista Sebastio Pinto Marques7:

    (...) as normas programticas indicam para legislao

    infraconstitucional um caminho a seguir. Elas podem no obrigar o legislador a normatizar no sentido apontado por elas, mas pelo menos, com certeza elas obrigam que ele no

    legisle em sentido contrrio (...).

    Assim, a interpretao conferida aos dispositivos trazidos pela nova lei dos

    portos, e toda a regulamentao infralegal que dela se originar, devem estar

    atreladas s diretrizes e aos objetivos listados no artigo 3. Da mesma forma, a

    interpretao conferida s diretrizes tambm deve coadunar com os objetivos da

    lei e vice-versa.

    6 SILVA, Jos Afonso da. Aplicabilidade das Normas Constitucionais. P. 139.

    7 MARQUES, Sebastio Fabiano Pinto. Aplicabilidade das Normas Constitucionais a luz de Jos Afonso da Silva. Trabalho de complementao de carga horria (Curso de Direito) IPTAN, Instituto de Ensino Superior Presidente Tancredo de Almeida Neves. So Joo del-Rei, 2010.

  • PAOLIELLO, Eduarda Reuter. Anlise dos aspectos concorrenciais no mbito da lei 12.815/2013.

    Revista Eletrnica Direito e Poltica, Programa de Ps-Graduao Stricto Sensu em Cincia Jurdica da UNIVALI, Itaja, v.9, n.1, 1 quadrimestre de 2014. Disponvel em: www.univali.br/direitoepolitica - ISSN 1980-7791.

    33

    O artigo 3 prev em seu inciso I a expanso, modernizao e otimizao da

    infraestrutura e da superestrutura que integram os portos organizados e

    instalaes porturias, assim como o inciso V fala em estmulo concorrncia,

    incentivando a participao do setor privado e assegurando o amplo acesso aos

    portos organizados, instalaes e atividades porturias. H que se interpretar as

    diretrizes de forma conjunta e teleolgica, ou seja, de forma sistmica.

    O sistema porturio nacional precisa de uma legislao que permita o

    desenvolvimento em patamares elevados, tendo em vista a relevncia da

    atividade para a economia brasileira, conforme destacado nos captulos

    anteriores. Desburocratizar os servios porturios, tornar a gesto do porto

    organizado mais eficiente, garantir atrao de investimentos privados e a

    modicidade das tarifas e preos, so todas premissas inolvidveis.

    Todavia, a legislao, por sua vez, deve guardar pertinncia com os dispositivos

    constitucionais que regulam a matria porturia, bem como garantir um

    ambiente jurdico equnime para a expanso dos portos e para estimular a

    concorrncia simtrica entre os portos organizados, terminais privados novos e

    terminais arrendados.

    Sob o vis da interao econmica que existir no mercado entre autorizatrios e

    arrendatrios, o direito de movimentar cargas independentemente de sua

    natureza, tem, na teoria, potencial para desencadear uma externalidade negativa

    no ambiente concorrencial entre os terminais arrendados localizados dentro da

    rea de porto organizado e os terminais privados, uma vez que o regime jurdico

    de ambas as instalaes distinto.

    Da mesma forma, sob a tica dos usurios, excepcionar a atuao da ANTAQ

    para obrigar os terminais arrendados ou autorizados a movimentarem suas

    cargas pode ensejar, no caso do artigo 7 e 13, potencial limitao do acesso s

    facilidades de infraestruturas, com claro prejuzo ao usurio/interessado e em

    franco desrespeito ao inciso V, do artigo 3 da mesma lei.

  • PAOLIELLO, Eduarda Reuter. Anlise dos aspectos concorrenciais no mbito da lei 12.815/2013.

    Revista Eletrnica Direito e Poltica, Programa de Ps-Graduao Stricto Sensu em Cincia Jurdica da UNIVALI, Itaja, v.9, n.1, 1 quadrimestre de 2014. Disponvel em: www.univali.br/direitoepolitica - ISSN 1980-7791.

    34

    Ambos os pontos sero destacados nos tpicos abaixo para serem discutidos com

    fulcro nos objetivos e diretrizes ora comentados, de modo a se identificar se h

    na lei dispositivos em dissonncia com os princpios da livre concorrncia e da

    universalidade de acesso s facilidades de infraestrutura.

    2. AS MODALIDADES DE EXPLORAO DAS INSTALAES PORTURIAS

    Mais uma vez o setor porturio brasileiro sofreu alteraes no que tange ao

    modelo de explorao da atividade porturia. Conforme analisado no captulo

    anterior, o Brasil j passou por modelagens distintas, desde o monoplio

    publicista, burocrata e concentrador evoluindo at a formatao dos terminais

    privativos de uso exclusivo e uso misto existentes at a revogao da lei n

    8.630/93 pela MP n 595.

    Para adentrarmos nas modificaes intentadas pela Lei 12.815/2013 nos

    modelos de explorao porturia, inevitvel rememorar que, sob a gide da

    ltima legislao infraconstitucional revogada, o debate jurdico em torno da

    privatizao da explorao dos portos brasileiros esteve respaldado pela

    presena do termo autorizao no artigo 21, inciso XII, f e sua possvel

    compatibilizao com o artigo 175, ambos da Constituio.

    Diz o artigo 21, XII, f, da Constituio Federal de 19888:

    Art. 21. Compete Unio: XII - explorar, diretamente ou mediante autorizao, concesso ou permisso:

    (...) f) os portos martimos, fluviais e lacustres;

    Art. 175. Incumbe ao Poder Pblico, na forma da lei, diretamente ou sob regime de concesso ou permisso,

    8 BRASIL, Constituio da Repblica Federativa do Brasil. 1988. Disponvel

    em:. Acesso em: 10 jul. 2012.

  • PAOLIELLO, Eduarda Reuter. Anlise dos aspectos concorrenciais no mbito da lei 12.815/2013.

    Revista Eletrnica Direito e Poltica, Programa de Ps-Graduao Stricto Sensu em Cincia Jurdica da UNIVALI, Itaja, v.9, n.1, 1 quadrimestre de 2014. Disponvel em: www.univali.br/direitoepolitica - ISSN 1980-7791.

    35

    sempre atravs de licitao, a prestao de servios pblicos.

    Pargrafo nico. A lei dispor sobre: I - o regime das empresas concessionrias e permissionrias

    de servios pblicos, o carter especial de seu contrato e de sua prorrogao, bem como as condies de caducidade, fiscalizao e resciso da concesso ou permisso;

    II - os direitos dos usurios; III - poltica tarifria;

    IV - a obrigao de manter servio adequado.

    Jackeline Daros9 advoga a tese de que a Constituio Federal no estabeleceu de

    forma clara sobre a atividade porturia tratar-se de servio pblico e ainda

    contrape ao afirmar que apenas a existncia das clusulas do pargrafo nico,

    do artigo 175 mencionado no teria aptido para, de per si, tornar de prestao

    de servios pblicos qualquer contrato com a administrao. Para ela, a

    existncia da prestao do servio pblico que implicaria numa relao jurdica

    a ser balizada por um contrato administrativo contendo tais condies.

    A diferenciao dos conceitos jurdicos de concesso e autorizao balizou a

    discusso acerca da natureza das atividades porturias delegadas aos

    particulares e do consequente regime ao qual estariam inexoravelmente

    atreladas: se pblico, se privado ou se hbrido. Isso porque, a disposio isolada

    do artigo 21, XII, f, da Constituio no classificou a atividade porturia como

    sendo servio pblico, ou ento, atividade puramente privada.

    Em rpida sntese, concesso e permisso so instrumentos jurdicos de

    delegao de servio de natureza pblica iniciativa privada, conservado o

    regime jurdico de direito pblico. J autorizao um ato de controle do Estado

    quanto aos requisitos para o exerccio de atividades exploradas sob o regime de

    direito privado.

    9 OLIVEIRA, Jackeline Daros Abreu de. Autorizao de Terminal Privativo de Uso Misto e a

    Responsabilidade Civil da Uniao por Dano ao Arrendatrio. Tese de Mestrado. P.89.

  • PAOLIELLO, Eduarda Reuter. Anlise dos aspectos concorrenciais no mbito da lei 12.815/2013.

    Revista Eletrnica Direito e Poltica, Programa de Ps-Graduao Stricto Sensu em Cincia Jurdica da UNIVALI, Itaja, v.9, n.1, 1 quadrimestre de 2014. Disponvel em: www.univali.br/direitoepolitica - ISSN 1980-7791.

    36

    Jos dos Santos Carvalho Filho10 faz importantes ponderaes acerca dessa

    possibilidade de repasse iniciativa privada, pelo Estado, de atividades que,

    originariamente, lhe competem:

    Visando a um interesse pblico, os servios pblicos se

    incluem como um dos objetivos do Estado. por isso que so eles criados e regulamentados pelo Poder Pblico, a

    quem tambm incumbe a fiscalizao. claro que as relaes sociais e econmicas modernas permitem que o Estado delegue a particulares a execuo de

    certos servios pblicos. No entanto, essa delegao no descaracteriza o servio como pblico, vez que o Estado

    sempre se reserva o poder jurdico de regulamentar, alterar e controlar o servio. No por outra razo que a Constituio atual dispe no sentido de que ao Poder

    Pblico que incumbe a prestao dos servios pblicos (art. 175).

    Diante das ponderaes feitas pelo autor, relevante destacar a premissa

    administrativa de que o servio pblico atribudo por fora Constitucional ao

    Estado, em razo da essencialidade de sua prestao coletividade.

    exatamente por sua relevncia no contexto social que Maria Slyvia Zanello Di

    Pietro11 destaca que a prestao dos servios pela iniciativa privada deve ser

    regida pelo regime jurdico predominantemente de direito pblico.

    Transportando este raciocnio para a atividade de explorao porturia, durante a

    vigncia da lei n 8.630/93, destacamos a ocorrncia do fenmeno da delegao

    de servio pblico por meio da concesso de portos organizados e de instalaes

    porturias pblicas, estritamente vinculadas ao regime jurdico de direito pblico.

    Esta configurao conviveu perfeitamente com a autorizao para explorao de

    instalaes privativas de uso misto ou exclusivo, que operavam no exerccio de

    atividade econmica stricto sensu, acertadamente sujeitas s limitaes de

    10 CARVALHO FILHO, Jos dos Santos. Manual de Direito Administrativo. P. 350.

    11 DI PIETRO, Maria Slyvia Zanella. Parcerias na Administrao Pblica: Concesso, Permisso, Franquia, Terceirizao, Parceria Pblico-Privada e outras formas. P.48.

  • PAOLIELLO, Eduarda Reuter. Anlise dos aspectos concorrenciais no mbito da lei 12.815/2013.

    Revista Eletrnica Direito e Poltica, Programa de Ps-Graduao Stricto Sensu em Cincia Jurdica da UNIVALI, Itaja, v.9, n.1, 1 quadrimestre de 2014. Disponvel em: www.univali.br/direitoepolitica - ISSN 1980-7791.

    37

    movimentaes de cargas de terceiros em razo do seu regime jurdico de direito

    privado.

    Com relao a esta definio, o jurista Maral Justen Filho12 defende que a

    configurao da natureza jurdica da atividade porturia independe de uma

    escolha puramente discricionria do legislador infraconstitucional. Para o ilustre

    doutrinador,

    [...] todas as atividades que se configurarem como instrumento de realizao dos valores e princpios

    fundamentais, cuja prestao for indispensvel para a satisfao de necessidades comuns a todos os membros da coletividade e se traduzir num imperativo

    constitucional, sero necessariamente subordinadas ao regime de

    servio pblico [...].

    Nesse sentido, para o autor, o tratamento constitucional dispensado explorao

    porturia pela Carta Magna seria o de servio pblico, uma vez que o porto

    uma facilidade indispensvel promoo do bem comum e do desenvolvimento

    da economia, que o vincularia ao regime jurdico de direito pblico.

    Tratamento diferente deveria ser concedido aos terminais privativos, pois

    notadamente operando sob o regime de autorizao, no formato desenhado na

    legislao infraconstitucional, no poderiam utiliz-lo para fins de servio pblico,

    seno para movimentao de carga prpria e subsidiariamente cargas de

    terceiros quando da ociosidade do terminal, sem que houvesse qualquer

    interferncia pblica.

    Nesse sentido, impossvel se cogitar a existncia de um regime jurdico de

    delegao hibrida, sob a o comando da lei n 8.630/93, uma vez que, conforme

    ressalta Carlos Afonso Rodrigues13

    12 JUSTEN FILHO, Maral. Regulao Porturia no Direito Brasileiro. Revista de Direito Pblico e

    Regulao. P. 12.

    13 FONTES, Carlos Afonso Rodrigues. Dos terminais porturios de uso privado, na disciplina da MP n 595/2012. Disponvel em:

  • PAOLIELLO, Eduarda Reuter. Anlise dos aspectos concorrenciais no mbito da lei 12.815/2013.

    Revista Eletrnica Direito e Poltica, Programa de Ps-Graduao Stricto Sensu em Cincia Jurdica da UNIVALI, Itaja, v.9, n.1, 1 quadrimestre de 2014. Disponvel em: www.univali.br/direitoepolitica - ISSN 1980-7791.

    38

    a assimetria regulatria (grau de interveno do Estado numa e noutra situao) de tamanha ordem, concorrendo

    em sentido contrrio, para evidenciar o predomnio da concepo tradicional do instituto de autorizao, como

    mero ato de polcia a condicionar a atuao do particular. Seria mesmo impensvel o estabelecimento de um modelo de livre e aberta competio entre os terminais pblicos e

    privados, com tamanha assimetria regulatria, sem o legtimo (ou sua genrica previso legal; norma primria

    aberta; standards) estabelecimento de salvaguardas para a explorao no regime jurdico de direito pblico, que, por mais paradoxo que seja, muito menos eficiente que o

    modelo privado.

    Na viso de Justen Filho14, assim como a concesso no transforma o servio

    pblico em privado, tambm a concesso de porto no pode conduzir ao

    surgimento de um porto regido e disciplinado exclusivamente pelo direito

    privado. Exatamente por esta razo, fez-se necessrio o redesenho do modelo

    de explorao pela nova lei n 12.815/2013 que alm de se adequar ao

    atendimento das necessidades pelo aumento de capacidade e de competio,

    tambm estivesse alinhado, por bvio, s delimitaes constitucionais ora

    ressaltadas.

    Para estar alinhado s disposies constitucionais que elevam a atividade

    porturia condio de servio de relevncia e interesse pblicos, o novo modelo

    precisaria aproximar-se ao mximo do regime jurdico de direito pblico, sem, no

    entanto, perder a agilidade tpica da iniciativa privada.

    Para tanto, o legislador infraconstitucional simplificou o modelo, instituindo

    apenas duas novas formas de explorao da atividade porturia: por intermdio

    de concesso, no caso dos portos e das instalaes porturias localizadas dentro

    dos portos organizados, e por meio de autorizao, na hiptese de instalao

    porturia localizada fora da rea de porto organizado.

    juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=12661>. Acesso em: 20 ago. 2013.

    14 JUSTEN FILHO, Maral. Regulao Porturia no Direito Brasileiro. Revista de Direito Pblico e Regulao. P. 13.

  • PAOLIELLO, Eduarda Reuter. Anlise dos aspectos concorrenciais no mbito da lei 12.815/2013.

    Revista Eletrnica Direito e Poltica, Programa de Ps-Graduao Stricto Sensu em Cincia Jurdica da UNIVALI, Itaja, v.9, n.1, 1 quadrimestre de 2014. Disponvel em: www.univali.br/direitoepolitica - ISSN 1980-7791.

    39

    A manuteno da modalidade de outorga de autorizao, sem licitao, para os

    terminais privados localizados fora da rea de porto organizado caracteriza,

    neste caso especfico, a existncia do chamado regime hbrido, em oposio

    situao existente no regime anterior da lei n 8.630/93. Isto se justifica, pois no

    caso da lei n 12.815/2013, o legislador disciplinou as condies do contrato de

    adeso que regular a relao jurdica entre o particular e o Estado, de forma

    muito diferente da que fez quando dos extintos terminais privativos.

    Conforme destacado no tpico do captulo anterior, o artigo 8, pargrafo

    primeiro, que disciplina as autorizaes, impe ao autorizatrio clusulas que

    compem massivamente os contratos de arrendamento, na sua mais pura forma

    de regime jurdico de direito pblico. A exceo, no caso dos terminais privados,

    fica por conta da excluso das condies contratuais que dizem respeito ao

    controle tarifrio e reversibilidade de bens ao final do contrato.

    Nessa linha, Carlos Afonso Rodrigues:

    (...) as clusulas destacadas dizem respeito supremacia do interesse pblico, prprio do prevalecente regime jurdico de direito pblico, em especial aquelas relacionadas com o

    modo de execuo do servio, os parmetros definidores da qualidade da atividade prestada, prazos para alcance de determinados nveis de servio, direitos e deveres dos

    usurios, com as obrigaes correlatas do contratado e respectivas sanes. Das relacionadas com a modernizao,

    aperfeioamento e ampliao dos servios; da forma de fiscalizao das instalaes, equipamentos, mtodos e prticas de execuo das atividades; da responsabilidade do

    titular da instalao porturia pela inexecuo o deficiente execuo das atividades. Observe-se, pois importante para a

    concluso, que o art. 6, da Lei n 8.630/93, retirou dos terminais de uso privativo clusulas essenciais para a

    definio do regime jurdico, inclusive no que tange aos direitos e garantias para a supremacia do interesse pblico.

    Ante o apresentado denota-se, portanto, que a lei autoriza que o Poder Pblico

    se exima na prestao direta de determinados servios coletividade, passando

    a se utilizar, todavia, da colaborao de particulares que iro assumir a execuo

  • PAOLIELLO, Eduarda Reuter. Anlise dos aspectos concorrenciais no mbito da lei 12.815/2013.

    Revista Eletrnica Direito e Poltica, Programa de Ps-Graduao Stricto Sensu em Cincia Jurdica da UNIVALI, Itaja, v.9, n.1, 1 quadrimestre de 2014. Disponvel em: www.univali.br/direitoepolitica - ISSN 1980-7791.

    40

    dos mesmos, razo pela qual a doutrina esclarece a submisso ao chamado

    regime hbrido. Neste regime o particular no ir possuir todas as prerrogativas

    inerentes ao Estado, mas, em contrapartida, tambm no deve observncia a

    todas as limitaes impostas ao Poder Pblico quando opta por prestar os

    servios diretamente.

    A este respeito, Jos dos Santos Carvalho Filho15 entende que

    No se precisa admitir que a disciplina seja integralmente de direito pblico, porque, como sabido, alguns particulares prestam servios em colaborao com o Poder Pblico.

    Embora nessas hipteses incidam algumas regras de direito privado, nunca incidiro elas integralmente, sendo

    necessrio que algumas normas de direito pblico disciplinem a prestao do servio. Pode-se at mesmo dizer

    que nesses casos o regime ser hbrido, predominando, porm o regime de direito pblico quando em rota de coliso com o de direito privado.

    Ante o apresentado, pode-se afirmar que a lgica supramencionada tambm se

    aplica ao caso dos terminais privados sob a formatao dada pela lei n

    12.815/2013.

    3. COMPETIO ENTRE PORTO ORGANIZADO E TERMINAIS PRIVADOS

    Na nova conformao estipulada pela lei n 12.815/2013, a natureza da carga

    passou a ser desimportante, uma vez que o critrio de definio do conceito de

    instalaes porturias privadas e pblicas agora a sua localizao geogrfica.

    Ao assim faz-lo, o legislador intencionalmente optou por encerrar as discusses

    doutrinrias e jurisprudenciais acerca da natureza jurdica da atividade de

    explorao porturia.

    Sob o postulado das normas anteriores, a definio do quantitativo de carga

    prpria mnima a ser movimentada pelos terminais privativos de uso misto foi o

    elemento que desencadeou toda a problemtica narrada. Isso porque, se

    15 CARVALHO FILHO, Jos dos Santos. Manual de Direito Administrativo. P. 351.

  • PAOLIELLO, Eduarda Reuter. Anlise dos aspectos concorrenciais no mbito da lei 12.815/2013.

    Revista Eletrnica Direito e Poltica, Programa de Ps-Graduao Stricto Sensu em Cincia Jurdica da UNIVALI, Itaja, v.9, n.1, 1 quadrimestre de 2014. Disponvel em: www.univali.br/direitoepolitica - ISSN 1980-7791.

    41

    sustentava que os autorizatrios de terminais privativos de uso misto, cuja

    atividade estivesse baseada, primiordialmente, na movimentao de carga de

    terceiros, estariam, por vias inconstitucionais reflexas, prestando um tpico

    servio pblico.

    Neste cenrio, passou-se a discutir a possibilidade da existncia de concorrncia

    assimtrica entre os terminais privativos de uso misto e os terminais de uso

    pblico, possivelmente originada pela perda de competitividade destes ltimos

    em razo do regime jurdico diferenciado e mais rgido ao qual estariam

    submetidos.

    O aumento quantitativo da movimentao de cargas pelos terminais de uso

    privativo pode, de fato, ser atestada de acordo com o relatrio do Anurio

    Estatstico da ANTAQ16, que ao longo do ano de 2012 catalogou dados relativos

    movimentao nos portos organizados e instalaes porturias de uso privativo.

    Ao longo do ltimo ano, os portos brasileiros movimentaram aproximadamente

    904 milhes de toneladas, tendo alcanado um crescimento de 2,03% em

    comparao com o ano anterior.

    O anurio demonstra claramente uma preponderncia de maior movimentao

    de carga nos terminais de uso privativo - 588 milhes contra 316 milhes de

    toneladas movimentadas pelos portos organizados - registrando que a

    participao daqueles terminais na tonelagem de carga movimentada de 65%.

    Em comparao com o ano anterior, pode-se afirmar que, proporcionalmente e

    em pontos percentuais, os portos organizados cresceram mais, 2,27% contra

    1,91% dos terminais de uso privativo. Importante observar no referido relatrio,

    que em anlise dos ltimos 10 anos, os terminais privativos alcanaram uma

    crescente evolutiva e mais que dobraram sua movimentao, de 257 milhes de

    toneladas em 1993 para 588 milhes de toneladas em 2012.

    16 BRASIL. Anurio Estatstico Aquavirio. Agncia Nacional de Transportes Aquavirios.

    2012. Disponvel em: . Acesso em: 10 set. 2013.

  • PAOLIELLO, Eduarda Reuter. Anlise dos aspectos concorrenciais no mbito da lei 12.815/2013.

    Revista Eletrnica Direito e Poltica, Programa de Ps-Graduao Stricto Sensu em Cincia Jurdica da UNIVALI, Itaja, v.9, n.1, 1 quadrimestre de 2014. Disponvel em: www.univali.br/direitoepolitica - ISSN 1980-7791.

    42

    Os portos organizados tambm mantiveram uma crescente e mais que

    triplicaram a quantidade de carga movimentada, de 90 milhes em 1993 para

    aproximadamente 316 milhes de toneladas em 2012. Todavia, em termos de

    nmeros absolutos, os terminais privativos movimentaram, sob a gide da lei n

    8.630/93, mais carga que os portos organizados. A razo, portanto, dos conflitos

    entre estes terminais, em boa parte, se justifica pelo receio da perda de

    competitividade e da transferncia de cargas do porto pblico para o privado em

    virtude das possveis assimetrias existentes nos diferentes regimes jurdicos.

    A nova lei no ignorou simplesmente a existncia desses conflitos, mas objetivou

    claramente desbordar da discusso e permitir a evoluo da modalidade de

    explorao porturia no sentido de justamente estimular ainda mais competio

    entre e intra portos, conforme se depreende dos objetivos do artigo 3 que

    repetiram a exposio de motivos da MP n 595.

    Ao modificar o critrio para definio do conceito, a lei, necessariamente, teve de

    adequar a natureza e substancialmente o regime jurdico do terminal doravante

    denominado de privado. O legislador no poderia, assim como no o fez,

    simplesmente alterar a nomenclatura do instituto, excluir da sua definio

    jurdica qualquer restrio para movimentao de carga, sem minimamente

    modificar tambm os procedimentos e condies para a obteno da outorga de

    autorizao.

    Caso assim no tivesse procedido, o legislador certamente ocorreria em grave

    inconsistncia absolutamente incompatvel com os ditames constitucionais. Em

    outras palavras, eliminar as restries para movimentao de cargas pelos

    terminais privados e mant-los enquadrados no regime jurdico estritamente de

    direito privado, sem qualquer interferncia do poder pblico na atividade ali

    desenvolvida seria uma incongruncia no suportada pelo artigo 21, XII, f e

    175 ambos da Constituio Federal.

  • PAOLIELLO, Eduarda Reuter. Anlise dos aspectos concorrenciais no mbito da lei 12.815/2013.

    Revista Eletrnica Direito e Poltica, Programa de Ps-Graduao Stricto Sensu em Cincia Jurdica da UNIVALI, Itaja, v.9, n.1, 1 quadrimestre de 2014. Disponvel em: www.univali.br/direitoepolitica - ISSN 1980-7791.

    43

    Nesse sentido, importante observar que, enquanto o terminal privativo esteve

    enquadrado como instrumento para permitir o exerccio de atividade econmica

    pelo detentor da outorga, as regras da lei n 8.630/93 e do subsistema

    infralegal, conduziram s limitaes de movimentao de carga de terceiros,

    justamente para que no houvesse configurao da prestao de servios

    pblicos por via oblqua e sem licitao.

    Da mesma forma, esse mesmo sistema jurdico conferiu ampla liberdade

    contratual tpica das normas de direito privado, consignado no revogado art. 6,

    pargrafo 2 da lei n 8.630/93. Tal situao j no ocorre no arcabouo

    legislativo proposto pela lei n 12.815/2013, onde no h restrio para

    movimentao de cargas pelos recm institudos terminais privados, mas

    igualmente no h a garantia da plena liberdade contratual, havendo sim certo

    nvel de interveno do poder pblico nas relaes a serem ali desenvolvidas.

    O ambiente competitivo que almeja a nova lei criar, no deve, contudo, estar

    amparado em um sistema que possa potencialmente encorajar a criao de uma

    assimetria concorrencial predatria. O esprito da nova legislao , sem dvida,

    propiciar a ampla competio, mas as bases entre os diferentes regimes jurdicos

    comportados por ela devem estar minimamente equilibradas, sob pena de ofensa

    ordem econmica.

    Um dos caminhos para se alcanar o citado equilbrio de bases , sem dvida, a

    assimetria regulatria, amplamente utilizada pelo marco legal das

    telecomunicaes, que de acordo com Floriano Azevedo Marques Neto17:

    (...) a regulao assimtrica, medida que esta nova prestadora que assume o servio de telecomunicaes no

    possuir o nus de universalizar o servio, isto , de levar aos habitantes dos rinces do Tocantins, ficando livre para atacar o mercado que o seu concorrente (que adquiriu

    empresas do sistema TELEBRS) no consegue atender. Surge aqui a competio. Esta empresa que assumiu o

    sistema Telebrs tem vantagens competitivas, mas, no

    17 MARQUES NETO, Floriano Azevedo. Direito das Telecomunicaes e a ANATEL. P. 307.

  • PAOLIELLO, Eduarda Reuter. Anlise dos aspectos concorrenciais no mbito da lei 12.815/2013.

    Revista Eletrnica Direito e Poltica, Programa de Ps-Graduao Stricto Sensu em Cincia Jurdica da UNIVALI, Itaja, v.9, n.1, 1 quadrimestre de 2014. Disponvel em: www.univali.br/direitoepolitica - ISSN 1980-7791.

    44

    entanto, ter o nus de universalizar o servio. Sendo assim, aquele concorrente, inserido no mercado para competir com

    suas prestadoras que assumiram o sistema TELEBRS, possuir sem dvida, uma srie de obrigaes quanto

    qualidade do servio. No entanto, prestar o servio em um regime jurdico diferente, compatvel com suas obrigaes, e no possuir obrigao de universalizar o servio.

    O autor faz meno, portanto, a um sistema que no visa a proteo de

    nenhuma das partes, ainda que coexistam regimes jurdicos eventualmente com

    alguma diferena. A competio, como visto, desejvel e importante para

    alcanar a melhoria do nvel dos servios prestados e aumentar a capacidade

    porturia, atravs da qual se espera uma reduo de custos dos servios.

    Desta forma, a nova lei redesenhou o procedimento e os critrios para concesso

    da outorga de autorizao aos terminais privados, de modo que, embora passem

    a poder movimentar cargas sem restrio e, portanto, a disputar o mesmo

    mercado relevante junto com os terminais pblicos, esteja estabelecida uma

    competio em bases simtricas.

    Um primeiro passo dado nesse sentido pela nova legislao foi a tentativa de

    separar geograficamente os terminais. Novos terminais privados s podero ser

    instalados fora da rea de porto organizado, de acordo com o artigo 8 da lei e

    os que eventualmente estiverem em operao dentro do porto tero sua

    continuidade assegurada, desde que haja adaptao s condies estabelecidas

    na lei, especialmente as descritas nos pargrafos 1 ao 4, do citado artigo no

    prazo de um ano.

    Essa adaptao envolver, inclusive, alterao de clusulas contratuais para

    incluso de novas condies para os autorizatrios, tais como a obrigao de

    seguir e cumprir o cronograma de investimentos a ser estabelecido pela ANTAQ,

    previsto no pargrafo 3, do artigo 8, como uma das condies para

    manuteno da autorizao.

  • PAOLIELLO, Eduarda Reuter. Anlise dos aspectos concorrenciais no mbito da lei 12.815/2013.

    Revista Eletrnica Direito e Poltica, Programa de Ps-Graduao Stricto Sensu em Cincia Jurdica da UNIVALI, Itaja, v.9, n.1, 1 quadrimestre de 2014. Disponvel em: www.univali.br/direitoepolitica - ISSN 1980-7791.

    45

    Os novos contratos de adeso, assim como os termos de autorizao em vigor,

    tero necessariamente que contemplar a maioria das clusulas previstas para os

    contratos de arrendamento, listadas no artigo 5 da lei, com exceo das

    inscritas nos incisos IV e VIII, conforme segue:

    Art. 5o So essenciais aos contratos de concesso e

    arrendamento as clusulas relativas: I - ao objeto, rea e ao prazo;

    II - ao modo, forma e condies da explorao do porto organizado ou instalao porturia; III - aos critrios, indicadores, frmulas e parmetros

    definidores da qualidade da atividade prestada, assim como s metas e prazos para o alcance de determinados nveis de

    servio; IV - ao valor do contrato, s tarifas praticadas e aos

    critrios e procedimentos de reviso e reajuste; V - aos investimentos de responsabilidade do contratado; VI - aos direitos e deveres dos usurios, com as obrigaes

    correlatas do contratado e as sanes respectivas; VII - s responsabilidades das partes;

    VIII - reverso de bens; IX - aos direitos, garantias e obrigaes do contratante e do contratado, inclusive os relacionados a necessidades futuras

    de suplementao, alterao e expanso da atividade e consequente modernizao, aperfeioamento e ampliao

    das instalaes; X - forma de fiscalizao das instalaes, dos equipamentos e dos mtodos e prticas de execuo das

    atividades, bem como indicao dos rgos ou entidades competentes para exerc-las;

    XI - s garantias para adequada execuo do contrato; XII - responsabilidade do titular da instalao porturia pela inexecuo ou deficiente execuo das atividades;

    XIII - s hipteses de extino do contrato; XIV - obrigatoriedade da prestao de informaes de

    interesse do poder concedente, da Agncia Nacional de Transportes Aquavirios - ANTAQ e das demais autoridades que atuam no setor porturio, inclusive as de interesse

    especfico da Defesa Nacional, para efeitos de mobilizao; XV - adoo e ao cumprimento das medidas de fiscalizao

    aduaneira de mercadorias, veculos e pessoas; XVI - ao acesso ao porto organizado ou instalao porturia pelo poder concedente, pela Antaq e pelas demais

    autoridades que atuam no setor porturio; XVII - s penalidades e sua forma de aplicao; e

    XVIII - ao foro.

  • PAOLIELLO, Eduarda Reuter. Anlise dos aspectos concorrenciais no mbito da lei 12.815/2013.

    Revista Eletrnica Direito e Poltica, Programa de Ps-Graduao Stricto Sensu em Cincia Jurdica da UNIVALI, Itaja, v.9, n.1, 1 quadrimestre de 2014. Disponvel em: www.univali.br/direitoepolitica - ISSN 1980-7791.

    46

    Vislumbra-se, neste caso, que a lei inova com relao lei n 8.630/93 e

    acrescenta aos contratos de adeso clusulas que imputam deveres inerentes ao

    regime prprio da administrao pblica, tais como a relao de direitos e

    deveres dos usurios, adoo de critrios que estipulam o nvel do servio a ser

    prestado, bem como as obrigaes e as sanes previstas para o autorizatrio,

    no caso de descumprimento.

    A instituio do procedimento de chamada e/ou anncio pblicos para

    identificao de demais interessados em explorar rea objeto de requerimento de

    autorizao, de fato, aproxima ainda mais o processo de outorga ao regime

    jurdico de direito pblico. evidente que no estamos aqui tratando de uma

    licitao, todavia, o intuito da lei criar procedimentos transparentes que

    possibilitem a escolha do investimento que trar maior resultado para o setor

    porturio. Inclusive os critrios que sero adotados nos procedimentos de

    chamada ou anncio pblico so exatamente os mesmos usados nos licitatrios,

    no caso dos arrendamentos:

    2o Havendo mais de uma proposta e impedimento locacional que inviabilize sua implantao de maneira

    concomitante, a Antaq dever promover processo seletivo pblico, observados os princpios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficincia. 3o O

    processo seletivo pblico de que trata o 2o atender ao disposto no regulamento e considerar como critrio de

    julgamento, de forma isolada ou combinada, a maior capacidade de movimentao, a menor tarifa ou o menor tempo de movimentao de carga, e outros estabelecidos no

    edital.

    Outro ponto de aproximao a possibilidade de a ANTAQ, excepcionalmente,

    disciplinar as condies de acesso de qualquer interessado s instalaes

    porturias autorizadas assegurada ao detentor da outorga a justa remunerao,

    conforme previsto no artigo 13, da lei. Este regramento garante de certa forma,

    ainda que excepcionalmente, o direito de acesso dos usurios s facilidades de

    infraestrutura porturia de titularidade privada.

  • PAOLIELLO, Eduarda Reuter. Anlise dos aspectos concorrenciais no mbito da lei 12.815/2013.

    Revista Eletrnica Direito e Poltica, Programa de Ps-Graduao Stricto Sensu em Cincia Jurdica da UNIVALI, Itaja, v.9, n.1, 1 quadrimestre de 2014. Disponvel em: www.univali.br/direitoepolitica - ISSN 1980-7791.

    47

    Embora a lei tenha mantido a participao da iniciativa privada na explorao da

    atividade porturia mediante autorizao, o que se percebe que ela tambm

    estabeleceu alguns mecanismos de aproximao das bases dos regimes jurdicos

    existentes. O que era anteriormente puramente privado, hoje passa a funcionar

    mediante maior interveno e regulao, que so absolutamente justificadas pela

    natureza da atividade, considerada de relevante interesse pblico.

    A grande diferena que ainda persiste e que responsvel por diferenciar ambos

    os regimes, de autorizao e de concesso, a regulao tarifria que

    permanecer inexistindo nos contratos de adeso dos terminais privados. A

    essncia da atividade econmica, ainda que prestada em consecuo da

    promoo de um interesse pblico, como no caso porturio, a livre estipulao

    dos preos. Nesse sentido, a lei excluiu do mbito contratual a clusula III, do

    artigo 5, que estabelece justamente este controle na hiptese dos

    arrendamentos.

    Esta diferena, todavia, no tem o condo de, por si s, desnaturar esta

    mencionada aproximao entre as bases dos regimes jurdicos distintos

    existentes na explorao da atividade porturia. Da mesma forma, no possvel

    justificar a existncia de um sistema legal projetado pela nova lei com vistas ao

    estabelecimento da concorrncia assimtrica predatria apenas com base nesta

    premissa.

    Primeiro porque, embora os contratos de arrendamento estejam vinculados a

    valores, projeo de tarifas e aos critrios previamente ajustados para suas

    revises, h clusulas que garantem a manuteno do equilbrio econmico-

    financeiro do contrato. Por outro lado, a possibilidade de fixao de preos de

    forma livre pela iniciativa privada no as afasta do radar da regulao

    econmica, muito ao contrrio.

    Neste contexto, a nova lei no comporta, em sua essncia, instrumentos para a

    consecuo de uma assimetria concorrencial predatria, tendente ao

  • PAOLIELLO, Eduarda Reuter. Anlise dos aspectos concorrenciais no mbito da lei 12.815/2013.

    Revista Eletrnica Direito e Poltica, Programa de Ps-Graduao Stricto Sensu em Cincia Jurdica da UNIVALI, Itaja, v.9, n.1, 1 quadrimestre de 2014. Disponvel em: www.univali.br/direitoepolitica - ISSN 1980-7791.

    48

    enfraquecimento das instalaes porturias de uso pblico, localizadas dentro da

    rea de porto organizado e submetidas ao regime jurdico de direito pblico.

    Todavia, o sistema ora implantado pela lei n 12.815/2013, prescindir de forte

    atuao institucional da ANTAQ como rgo fiscalizador, j que a atividade

    regulatria ganha ainda mais espao e importncia no exerccio do controle dos

    atos praticados pelos particulares nos terminais privados em condies de

    competio em bases equilibradas com as instalaes porturias localizadas no

    porto organizado.

    A forte atuao da ANTAQ dever ainda se justificar face perda de poder

    deliberativo do CAP, que acaba por enfraquece-lo dentro da estrutura da

    administrao local, na forma como se econtra regulado pelo Decreto n

    8.033/2013. Desta forma, a responsabilidade da agncia reguladora estar ainda

    mais acentuada para a garantia da manuteno de equilbrio concorrencial

    simtrico entre as relaes travadas no complexo sistema porturio.

    CONSIDERAES FINAIS

    A concluso a que se chega, em parte se assemelha a exposada no artigo de

    minha autoria18, pois em linhas gerais, a nova lei de per si, ao contrrio do que

    prev o governo, no tem o condo de promover isoladamente a revitalizao do

    importante sistema porturio, cujo desenvolvimento no parece depender

    somente da atrao de novos investimentos privados, que por sua vez tambm

    no se encontram garantidos pela edio de novas regras.

    Alm do aperfeioamento do marco regulatrio, h a necessidade de melhor

    articulao e integrao da logstica porturia logstica rodoviria e ferroviria

    18 PAOLIELLO, Eduarda Reuter. Lei 12.815/2013: a lei capaz de revitalizar a logstica porturia

    nacional?. 2013. Disponvel em: . Acesso em: 10 set. 2013.

  • PAOLIELLO, Eduarda Reuter. Anlise dos aspectos concorrenciais no mbito da lei 12.815/2013.

    Revista Eletrnica Direito e Poltica, Programa de Ps-Graduao Stricto Sensu em Cincia Jurdica da UNIVALI, Itaja, v.9, n.1, 1 quadrimestre de 2014. Disponvel em: www.univali.br/direitoepolitica - ISSN 1980-7791.

    49

    de acesso aos portos, sem as quais os problemas atualmente enfrentados por

    aqueles que necessitam movimentar suas cargas pela via martima ou lacustre

    correm o risco de se perpetuarem por mais uma gerao legal. Nesse aspecto, a

    lei busca corretamente instrumentos para fomentar a atuao prtica do CONIT

    com esse exato propsito.

    Ao retirar o poder deliberativo do CAP, esvaziando consequentemente sua

    representatividade local e diluindo a participao dos empresrios, a nova lei

    desloca a esfera decisria para Braslia onde esto localizadas as sedes da SEP e

    ANTAQ. Esta uma modificao que preocupa, principalmente, pois o CAP seria

    um excelente instrumento de fiscalizao e regulao local para atuao conjunta

    com a ANTAQ.

    E no novo modelo de explorao da atividade porturia implantada pela lei,

    certamente a regulao econmica e de acesso s infraestruturas se sobressair

    como importantssimo instrumento para viabilizar a competio em bases

    simtricas. A ANTAQ dever guardar dever de fiscalizar diretamente as

    atividades dos autorizatrios e arrendatrios, de forma a garantir o

    cumprimento, principalmente pelos detentores de outorgas de autorizao, de

    todas as exigncias contidas na lei e nos instrumentos contratuais que regero

    as relaes jurdicas dentro dos portos.

    REFERNCIAS DAS FONTES CITADAS

    BRASIL. Lei 12.815, de 05 de junho de 2013. Dirio Oficial [da] Repblica Federativa do Brasil, Poder Executivo, Braslia, DF, 05 jun. 2013. Disponvel em: . Acesso em: 02 ago. 2013.

    ______. Constituio da Repblica Federativa do Brasil. 1988. Disponvel em:. Acesso em: 10 jul. 2012.

    ______. Anurio Estatstico Aquavirio. Agncia Nacional de Transportes Aquavirios. 2012. Disponvel em: . Acesso

    em: 10 set. 2013.

  • PAOLIELLO, Eduarda Reuter. Anlise dos aspectos concorrenciais no mbito da lei 12.815/2013.

    Revista Eletrnica Direito e Poltica, Programa de Ps-Graduao Stricto Sensu em Cincia Jurdica da UNIVALI, Itaja, v.9, n.1, 1 quadrimestre de 2014. Disponvel em: www.univali.br/direitoepolitica - ISSN 1980-7791.

    50

    CARVALHO FILHO, Jos dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 23 ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010.

    DI PIETRO, Maria Slyvia Zanella. Parcerias na Administrao Pblica: Concesso, Permisso, Franquia, Terceirizao, Parceria Pblico-Privada e outras

    formas. 8 ed. So Paulo: Atlas, 2011.

    FONTES, Carlos Afonso Rodrigues. Dos terminais porturios de uso privado, na disciplina da MP n 595/2012. Disponvel em: . Acesso em: 20 ago. 2013.

    JUSTEN FILHO, Maral. Regulao Porturia no Direito Brasileiro. Revista de Direito Pblico e Regulao. Universidade de Coimbra, 2009, n 4, p. 5-20. Disponvel em: .

    Acesso em: 10 jul. 2013.

    MARQUES NETO, Floriano Azevedo. Direito das Telecomunicaes e a

    ANATEL. In SUNFELD, Carlos Ari. Direito Administrativo econmico: So Paulo: Malheiros, 2002.

    MARQUES, Sebastio Fabiano Pinto. Aplicabilidade das Normas

    Constitucionais a luz de Jos Afonso da Silva. Trabalho de complementao de carga horria (Curso de Direito) IPTAN, Instituto de Ensino Superior Presidente Tancredo de Almeida Neves. So Joo del-Rei, 2010.

    MUNIZ, Tnia Lobo. Arbitragem no Brasil e a Lei 9.307/96. Curitiba: JURU, 2000.

    OLIVEIRA, Jackeline Daros Abreu de. Autorizao de Terminal Privativo de Uso Misto e a Responsabilidade Civil da Uniao por Dano ao Arrendatrio.

    Tese de Mestrado: Universidade de Itaja, julho/2009.

    PAOLIELLO, Eduarda Reuter. Lei 12.815/2013: a lei capaz de revitalizar a logstica porturia nacional?. 2013. Disponvel em:

    . Acesso em: 10 set. 2013.

    SILVA, Jos Afonso da. Aplicabilidade das Normas Constitucionais. 5.ed. So Paulo: Malheiros Editores, 2006.

    Submetido em: Janeiro/2014

    Aprovado em: Fevereiro/2014