O Espaco Politico Marx Codato

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    O espao poltico

    segundo MarxADRIANO CODATO*

    Como Marx pensou a poltica? Este ensaio no pretende indagar sobre oestatuto do poltico em geral (do nvel poltico) na obra de Marx ou sobrea definio de Estado capitalista na teoria social marxista. Praticamente toda aliteratura neomarxista j estabeleceu, entre os anos 1960 e 1990, um conjunto de

    interpretaes excessivamente centradas na questo do Estado, do seu podere de suas funes sistmicas. Da que o objetivo deste artigo seja um tanto diferente.Gostaria de sugerir uma interpretao a respeito do modo pelo qual a polticaprtica percebida na obra de maturidade de Marx.

    No seu mais famoso livro a esse respeito, O 18 brumrio de Lus Bonaparte,Marx oferece, a partir do diagnstico dos acontecimentos da II Repblica na Frana,uma srie de informaes, sugestes, avaliaes, imagens, exemplos etc. que fun-cionam como indicaes para se pensar as prticas polticas de classe de um pontode vista materialista. O prprio gnero de anlise que consta nesse trabalho enos demais textos polticos dos anos 1950 publicados noNew York Daily Tribune

    (1852-1861) caracterstico de uma disposio intelectual bem diferente da crticafilosfica e abstrata religio, alienao, explorao etc. dos escritos anterioresa 1848. H a partir daqui, ou mais exatamente a partir da srie de artigos sobre arevoluo alem editados naNeue Rheinische Zeitung(1848-1849), a pretensoem compreender e comentar os fatos polticos corriqueiros, ordinrios: isto , apoltica propriamente dita. Para tanto, foi preciso designar, delimitar e entenderseu lugar de ocorrncia: o espao poltico. Ento, como explic-lo?

    * Professor na Universidade Federal do Paran. Endereo eletrnico: [email protected].

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    Minha suposio que, para Marx, o espao poltico no um campo delutas por posies estratgicas nesse microcosmo social, como na expressode Pierre Bourdieu: um campo poltico (Bourdieu, 2000, p.49-80), ou umaesfera pblica, imaginada como o lugar do debate livre e esclarecido dos in-

    teresses e valores da opinio pblica, moda de Habermas (1989) ainda que,secundariamente, aparea em O 18 brumrio uma concepo bem prxima a essa(cf. 18 br., p.481). O espao poltico no , tampouco, um conjunto de instituiespolticas funcionalmente integradas, um sistema poltico, como em Easton(1965) ou em Almond e Powell Jr. (1966). Tambm no o lugar privilegiado,nas formaes capitalistas, da ao aberta das foras sociais atravs da sua repre-sentao partidria ou, em outros termos, uma cena poltica cujo propsito justamente ocultar, por meio do sistema de partidos e organizaes, os interessespolticos das classes dominantes (cf. Poulantzas, 1971, v. II, p.72). Em vez disso,

    penso que o espao poltico deve ser concebido, pelo marxismo clssico, comouma forma. O exame dos escritos histricos sobre a poltica institucional per-mitiria afirmar que a cena poltica (ou o mundo poltico, o teatro poltico, acena oficial, os nomes com que Marx designa essa esfera das prticas sociais)1funciona, no espao poltico-social, tal como a forma-mercadoria funciona noespao econmico-social. Poder-se-ia falar, ento, numaforma-poltica.

    Conforme esse raciocnio, a forma-poltica teria as mesmas propriedades daforma-mercadoria: ela seria uma iluso real. Essa alucinao, apesar disso, no uma miragem subjetiva passvel de ser corrigida, seja pela crtica filosfica doentendimento comum, seja pela anlise social dos fundamentos sociais das foras

    parlamentares; mas o modo mesmo de funcionamento da realidade (Rouanet, 1985,p.89). Isso produziria uma sorte defetichismo poltico anlogo ao fetichismo damercadoria. exatamente por isso que no seria razovel compreender e expressaro mundo poltico a partir de uma viso objetivista. Ele no mera exterioridade,ou uma aparncia redutvel e explicvel por sua essncia. A sua aparncia, oumelhor, o modo de apresentao do mundo poltico , antes de tudo,funcionalparasua existncia e condio de sua permanncia e, de resto, para a permannciado modo capitalista de dominao social.

    O ensaio est arranjado em quatro partes. Na primeira, argumento que aatitude de Marx diante dos acontecimentos polticos, sua viso crtica e desen-

    cantada desse mundo pode ser descoberta, em parte, tendo em mente para quem,ou melhor, contra quem ele escreve. Essa uma dimenso importante para seapreender o tom do texto marxiano, mas no necessariamente as categorias deentendimento desse espao social ou seus princpios explicativos. essa dico

    1 Ver 18 Br., p.462, 447, 483; LCF, p.277 e de novo p.337, respectivamente. Para os textos de Marxadotei esta notao abreviada. Eles se referem s seguintes edies: Marx, Karl. Le 18 Brumairede Louis Bonapartee Les luttes de classes en France. 1848 1850, contidas em suas Oeuvres(v. IV, tomo I: Politique. Trad. Maximilien Rubel. Paris: Gallimard, 1994). A referncia coletnea deartigos intitulada por Rubel Lord Palmerston, referida mais adiante, tambm pertence a essa edio.

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    polmica que responsvel pela disposio desmistificadora do autor, mas noseria correto subsumir a estratgia analtica de Marx a ela. Na segunda seo,mostro como perfeitamente adequada (no sentido de de acordo com a letra dotexto) a viso segundo a qual o espao poltico pode ser assimilado, em Marx,

    imagem da cena teatral da a justeza, em princpio, da locuo cena polti-ca, e porque essa uma segunda fonte de imprecises a respeito do mtodo deelucidao marxista da poltica cotidiana. Na seo seguinte, fao a crtica dasvises baseadas na metfora da cena poltica e das implicaes da derivadas,ressaltando tambm segundo a letra da escritura marxista a verdadeparcialdessa ideia, e procurando destacar alguns requisitos postulados pelo prprio Marxpara dar conta de uma explicao mais suficiente da cena poltica (o que exi-gir, de resto, abandonar a expresso). Na parte final do artigo, proponho outraleitura desse mesmo problema, destrinchando o papel ativo do espao poltico

    na constituio dos agentes polticos e na compreenso da estrutura e do modode funcionamento do mundo poltico enquanto tal.

    O destinatrio da obra e a dico do texto marxiano

    De todos os trabalhos publicados de Marx at 1852, O 18 brumrio de LusBonaparte foi o que mais se ocupou da poltica real. O livro inicia o ciclo fartode produo de textos sobre a matria que aparecero da em diante noNew YorkDaily Tribune por uma dcada. Esse ttulo, ao lado deAs lutas de classe em Frana(1848-1850), de 1850, faz uma exposio pormenorizada das aes de indivduos(Bonaparte, Barrot, Cavaignac, Changarnier, Louis Blanc, Ledru-Rollin etc.), de

    partidos (democrata, republicano, da ordem), de organizaes (Sociedade do 10de Dezembro), de jornais (Journal des Dbats,National,Le Pouvoir, Sicle etc.),que funcionavam como unificadores e divulgadores de correntes de opinio,de grupos parlamentares (orleanistas, legitimistas, bonapartistas, republicanos,montagnards), dos clubes polticos e das vrias tendncias ideolgicas em quese dividia a II Repblica francesa. Desnecessrio exaltar aqui as virtudes dessestextos como crnica poltica ou como anlise de conjuntura (cf. Jessop, 2002).Olhados os dois escritos marxianos dessa perspectiva, chama a ateno o tratamen-to atencioso dispensado ao mundo poltico. Esse lugar exige, todavia, enquantoespao social especfico, uma percepo circunstanciada de sua organizao, evo-

    luo e transformao a cada conjuntura concreta. O produto lquido desse examemicroscpico , mesmo em Marx, a constatao de uma srie de traos tpicos domundo poltico em geral traos esses ressaltados, de resto, por qualquer analistapoltico: as discrepncias sociais e ideolgicas entre a classe e os representantesda classe representada, a existncia de grupos puramente polticos, as alianase as oposies entre eles, o poder prprio do Estado, os interesses egostas daburocracia, as decises soberanas dos governantes, as escolhas eleitorais dos ci-dados, os movimentos tticos dos partidos parlamentares, as aes dos polticosprofissionais enfim, a lgica prpria do universo poltico.

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    No entanto, O 18 brumrio no simplesmente a narrao dos fatos queconduzem ao golpe de 2 de dezembro. tambm, ou antes de qualquer coisa,explicao do teatro poltico francs. Trata-se de uma interpretao peculiar dessaaparncia superficial que dissimula as contradies sociais (18 br., p.464). Aambio do escritor reafirmar, por meio da anlise, a existncia comum, ma-terial, banal dos grupos, dos interesses, contra o nome, os ttulos retumbantes eenganosos que eles adquirem na poltica (18 br., p.450; grifos no original). Issoobriga o comentarista a acusar os rtulos que os partidos se autoconcedem, a revelaras palavras de ordem vazias de sentido, a despir os figurinos que vestem osatores (18 br., p.438). O diagnstico de Marx do cretinismoparlamentar, umaenfermidade que desde 1848 encerrava num mundo imaginrio todos aquelesque, contagiados por ela, perdiam todo bom senso, toda memria e toda compre-enso do rude mundo exterior (18 br., p.503; grifos no original), deve ser tomado

    precisamente como uma advertncia contra os males de se tomar o que parecepelo que . E essa realidade so os negcios em ltima instncia econmicos queagem por detrs das infinitas manobras dos polticos na cena poltica. Esse , porassim dizer, o ofcio prtico do livro. Como se recorda, a varivel independentede toda a explicao a luta de classes, e o trabalho de explanao , antes detudo, um trabalho de desencantamento ou, para recuperar a metfora da primeiraseo do livro, um esforo de desmascaramento. preciso, entre outras coisas,superar a compreenso comum que atribui o colapso da II Repblica ao podervoluntarista de um nico indivduo (cf. 18 br., p.433-434). Ao contrrio, trata-sede encontrar a explicao social (ou coletivista, no jargo dos individualistas)dos processos histrico-sociais.

    O prefcio de 1869 de O18 brumrio um comeo bastante adequado paraintroduzir a discusso desses temas todos e, em especial, o carter mistificado emistificador da cena poltica, pois essa introduo permite apreender, atravsdos destinatrios da obra, seja a inteno explcita do autor desatar os ns quebloqueiam o entendimento correto dessa conjuntura , seja a razo da dicoprofessoral do texto.

    A escrita de Marx visa sucessivamente a quatro audincias distintas. Na pri-meira impresso do livro, em maio de 1852, ele se dirige a um indefinido leitor

    contemporneo dos acontecimentos e, especialmente, aos grupos polticos quetiveram uma participao destacada na Revoluo de fevereiro de 1848 e umaatuao completamente desastrada depois dela (retomando, assim, o tema principaldeAs lutas de classe em Frana). Dessas duas audincias, a mais improvvel a do pblico consumidor. O livro saiu pela primeira vez em alemo, em NovaYork, no primeiro nmero de um peridico de esquerda que estampava o curiosoaviso revista publicada sem periodicidade. E ficou praticamente desconhecidoat sua terceira edio alem, em 1885. Suas tradues para o ingls e o francss vieram luz na ltima dcada do sculo XIX. J a partir da segunda edio

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    da obra, Marx tem em vista outra audincia: o pblico alemo e as organizaescomunistas. Rose (1981) anota que a preocupao ostensiva com Napoleo III(a propsito, um dos principais assuntos dos artigos doNew York Daily Tribune)encobriria, na verdade, a crtica tcita poltica arbitrria de Frederico Guilherme

    IV da Prssia. A partir da reedio do livro em 1869, penso que Marx visa tambm,e com mais entusiasmo ainda do que visa aos outros pblicos, aos publicistas ehistorioradores que se puseram a escrever novamente sobre o infausto episdiode dezembro de 1851. Essa , creio eu, uma chave importante para decifrar anatureza do documento e, a partir da, a natureza da anlise poltica de Marx. Umdos principais problemas de interpretao desse texto est em assimilar o estilopolmico da escritura (e sua pretenso em exibir a verdade por detrs dos panos) estrutura e ao modo de anlise propriamente dito.

    No prlogo redigido em Londres em junho de 1869 para a segunda edio de

    O18 brumrio, Marx reprova a inadequao terica e histrica da fraseologiapedantesca, atualmente em uso, sobretudo na Alemanha, que recorria, incorreta-mente, expresso cesarismo para designar o regime bonapartista francs. Esse de fato um assunto relevante, mas lido o opsculo de Marx s a partir dessapreocupao terminolgica, ele seria pouco mais do que uma investigao pol-mica sobre uma nova forma de governo ocidental o bonapartismo. H, por outrolado, uma indicao mais explcita sobre a audincia pretendida por Marx e sobrecomo ele gostaria de ser lido. Na correspondncia que enviou a Kugelmann em 3de maro de 1869, Marx comentou que no s haviam se renovado as condiespolticas que permitiriam que seu texto voltasse circulao na Alemanha (a crise

    do governo de Napoleo III). Tambm as condies do mercado editorial erambastante encorajadoras para trabalhos desse gnero. Os muitos livros novos sobreo evento de 1851, entre eles o de Eugne Tnot (La province en dcembre 1851:tude historique sur le coup dtat, de 1868), fabricados por patifes liberais epatifes no liberais que pertenciam oposio oficial, atraam cada vez mais aateno do pblico leitor, pelo menos na Frana. Por isso, o assunto tornou-seum negcio especulativo para os editores (Marx, 1997, p.262).

    Nesse sentido, imprimir o livro novamente em 1869 no s a possibilidade deaproveitar a onda e faturar algum dinheiro, mas de difundir, contra os concorrentes,sua interpretao dos fatos e, atravs dela, seu sistema de teoria.2 Na prtica, o

    que sua anlise fazia era revelar aquilo que a crnica oficial desconhecia, isto ,a grande lei da marcha da Histria. Essa lei ou princpio sociolgico enfatizavao papel determinante das lutas entre as classes no desenvolvimento dos proces-sos histrico-sociais e o papel determinante do econmico na configurao e nodesenrolar dessas lutas. De forma anloga, os dois livros juntos O18 brumrio

    2 Por isso Engels fez questo de destacar, no prefcio terceira edio de 1885 de O18 brumrio,que a anlise materialista da vida poltica constitua o leitmotivdo texto de Marx (Engels, 1982b,p.416), ideia que retomar literalmente na introduo de 1895 de As lutas de classe em Frana(Engels, 1982a, p.189).

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    eAs lutas de classe em Frana permitiam revelar o modo de emprego dessa leisociolgica na explicao seja das relaes entre o econmico e o poltico, sejadasrelaes no interior do poltico. Em ambos os casos, a inteno conscienteque percorre os dois escritos do comeo ao fim o esforo de desmistificao

    da conscincia tanto de protagonistas polticos como de analistas polticos (pa-tifes liberais e patifes no liberais), ambos prisioneiros, de boa ou m-f, dasaparncias sociais.3 Em qualquer um desses ensaios de Marx, a falsa conscinciados protagonistas polticos mais do que evidente e h inmeras passagens queenfatizam exatamente essa dificuldade.4 J a conversa hostil que Marx entabulacom publicistas, comentaristas, historiadores e memorialistas est subentendida,o que pode bem ser um indcio do seu desprezo pelos ttulos lanados por essespolgrafos, mas no pela mistificao que eles produzem, ampliam e divulgam arespeito do modo de funcionamento da poltica capitalista. O que aparentemente

    unifica a empreita de Marx e d aos dois times de analistas e de protagonis-tas o mesmostatus de ignorantes das relaes de poder e dos interesses reaisbancados pelos partidos e faces parlamentares a confuso tpica, produzidatanto no domnio poltico como, de resto, em qualquer outro domnio social, entrea aparncia e a essncia das coisas. A diferena (e a pretendida superioridade) daanlise de Marx estaria no em reconciliar, mas em corrigir e submeter as aparn-cias polticas sua essncia social. Uma vez revogada essa confuso, analistas eprotagonistas poderiam ento enxergar a realidade poltica tal como ela : umaluta entre as classes sociais. To s.

    Se a inteno da anlise de Marx e o estilo da argumentao podem ser estima-

    dos pelos destinatrios preferenciais da obra, e em especial pela sua postura diantedos autores rivais, vejamos nas duas sees seguintes como o princpio essnciacontra aparncia funciona na anlise propriamente dita e como ele define o car-ter e os limites do espao poltico. De todo modo, e esse o primeiro argumentodo ensaio, preciso separar a disposio polmica de Marx, ou seja, sua disputacom os demais escritores polticos do perodo (e a briga da derivada por imporao pblico a interpretao verdadeira do mundo social, a viso desassombrada dosfatos polticos, a essncia das coisas contra sua aparncia superficial do universoparlamentar etc.) do mecanismo explicativo e das categorias de entendimentopresentes na anlise dos acontecimentos da II Repblica.

    3 Alm de Victor Hugo (Napolen le Petit), Proudhon (Le Coup dtat) e Tnot, Marx tinha em menteCharles Delescluze (De Paris Cayenne), Hippolyte Castille (Les Massacres de Juin, 1848), AugusteVermorel (Les Hommes de 1848; Les Hommes de 1851) e Gustave Tridon (Gironde et Girondins:la Gironde en 1869 et en 1793), todos os ttulos sados em 1869.

    4 Por exemplo: Sobre as diferentes formas de propriedade, sobre as condies sociais de existn-cia, ergue-se toda uma superestrutura de sentimentos, de iluses, de modos de pensamento e deconcepes filosficas cujas expresses so infinitamente variadas. A classe inteira os cria e osmolda a partir de seus fundamentos materiais e das condies sociais correspondentes. O indivduoisolado, que os adquire atravs da tradio e da educao, pode certamente imaginar que elessoos verdadeiros motivos e o ponto de partida de sua conduta (18 br., p.464; [grifos meus]).

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    O grande teatro da poltica

    J mencionei que os escritos de Marx sobre a poltica francesa evidenciam ointeresse dos atores e, deveramos acrescentar, do palco onde transcorre toda a

    ao, uma vez que esse palco define no tanto o lugar dos comediantes, sempreinterinos e intercambiveis, mas o ponto de vista irreal da plateia.O exemplo clssico aqui a relao postulada pelos marxistas entre os partidos

    polticos e as classes sociais. A luta de organizaes e vises de mundo na cenapoltica inteligvel plenamentese e quando se pode conect-la de maneirasimples ou complexa, agora ou depois batalha entre as classes e aos respecti-vos interesses de classe. Se verdade que na cena poltica, as relaes de classe[esto] frequentemente ocultas pelas numerosas variveis das relaes partidrias(Poulantzas, 1971, v.II, p.76), trata-se ento de desmascarar as foras polticas (asaparncias) para revelar as classes sociais e os interesses que se escondem por

    detrs delas (as essncias). Esse preceito terico j foi, alis, notado por vrioscomentadores (e.g., Lefort, 1990; Boito Jr., 2007), e essa disposio espiritualseria, de fato, o trao caracterstico do marxismo de Marx (Geras, 1971).

    A separao entre a frente e o fundo do palco, entre uma ordem de realidadesuperficial e enganosa, que deve ser superada em nome da realidade profundados interesses e dos conflitos de classe (Boito Jr., 2007, p.139), sugere que h emoperao no texto de Marx um princpio de leitura e de compreenso do espaopoltico conforme o modelo tradicional que no apenas afasta e separa, mas quecontrape a essncia (o social) aparncia (o mundo dos acontecimentos polti-cos). Vejamos esse ponto mais de perto. Na seo seguinte voltarei a esse mesmoproblema, mas sob outro ngulo, pois as coisas me parecem um tanto diferentes.

    Essas expresses ator, palco no so arbitrrias. Conforme a viso con-sensual, o espao poltico pensado por Marx por smile ao teatro. Da a locuo,muito frequente no texto marxiano, cena poltica. O recurso de Marx tanto emO 18 brumrio como emAs lutas de classe em Frana srie de metforas daderivadas (tragdia, comdia, farsa, drama, mscara, personagem, costumes,camarote, plateia, galeria, coro, ato, entreato etc.), recurso esse sucessivamenteretomado em todos os artigos sobre a poltica institucional de 1852 em diante,indica precisamente que o espao poltico o espao de uma representao.

    Esse vocbulo admite, todavia, muitos sentidos paralelos (ver Pitkin, 1967,p.1-13). Conforme a tradio liberal, o espao poltico o espao por excelnciada representao entendida essa como procurao (que o cidado d ao seu repre-sentante). J nos escritos polticos de Marx no errado dizer que representaopode ser traduzida como encenao. O espao poltico, onde acontece o espetculo, percebido como um artifcio enganoso com o propsito de (ou cujo resultadoobjetivo ) iludir o distinto pblico: Assim [como] Lutero adotou a mscara doapstolo Paulo, a Revoluo de 1789-1814 travestiu-se alternadamente como Re-pblica romana e como Imprio romano, e a Revoluo de 1848 no soube fazer

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    nada melhor do que parodiar s vezes 1789, s vezes a tradio revolucionriade 1793-1795 (18 br., p.438).5 H um terceiro sentido, tematizado por Gramsci,dentre outros, e discutido por Poulantzas, que torna ainda mais complexa a ideiade representao na cena poltica. Ela pode ser concebida como expresso e diz

    respeito noo marxista usual do partido como manifestao mais ou menosadequada da classe (Engels, 1982a, p.190). Nesse espao social, a relao derepresentao entre classe e organizao poltica quase nunca em linha reta. Hinfinitas defasagens ou desencontros entre os interesses fundamentais das classese sua representao partidria. por isso que se nos colocamos unicamente nocampo da cena poltica a fim de denunciar as relaes de classe, reduzindo essasrelaes unicamente s relaes partidrias, somos inevitavelmente conduzidosa erros (Poulantzas, 1971, v.II, p.73).

    Essa descrio da vida poltica, ou mais propriamente do modo pelo qual se

    deve ver a vida poltica, no exclusiva de O18 brumrio. Esse tropo tornou-seum lugar-comum nos inmeros artigos doNew York Daily Tribune, especialmentenas crnicas sobre Palmerston. Mas j em As lutas de classe em Frana haviaessa iluminao para entender a poltica e seu lugar a partir de imagens cnicas.Comentando o terremoto administrativo que se seguiu posse de Odilon Barrotcomo primeiro-ministro de Lus Napoleo em 20 de dezembro de 1848, Marxanota as principais consequncias dessa virada para os republicanos burgueses epara a prpria figurao do mundo poltico francs:

    Imediatamente, o partido do National foi demitido de todos os postos impor-

    tantes onde ele se havia incrustado. Delegacia de polcia, direo dos correios,procuradoria-geral, prefeitura de Paris, tudo isto foi ocupado por antigas criaturasda monarquia. Changarnier, o legitimista, recebeu o alto comando unificado daguarda nacional do departamento do Sena, da guarda mvel e das tropas mercenriasda primeira diviso do Exrcito; Bugeaud, o orleanista, foi nomeado comandanteem chefe do Exrcito dos Alpes. Esta valsa de funcionrios prosseguiu sem in-terrupo no governo [de Odilon] Barrot. O primeiro ato do seu ministrio foi arestaurao da velha administrao real. Acena oficialtransformou-se num abrir efechar de olhos: cenrios, guarda-roupa, linguagem, atores, figurantes, comparsas,

    pontos, posio dos partidos, motivos do drama, contedo do conflito, a situaotoda. Sozinha, a pr-histrica Assembleia Constituinte permanecia ainda em seulugar (LCF, p.276-277; grifos meus).

    5 Conforme Redner, a palavra representao, certamente a senha do texto, converteu-se metaforica-mente em uma chave para todos os seus significados. Representao dramtica, poltica, literria,cientfica, representao como ideia, ideologia, smbolo e sentimento, representantes parlamentares,na imprensa, representantes de classe, personagens, tipos, processos e atos representativos: sutile maliciosamente, Marx modula o sentido de representao de um significado a outro (Redner,1989, p.8).

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    Mas por que cena? Tal como na montagem teatral, a noo de cena des-creve aqui o proscnio, a parte da frente do palco italiano. Ns podemos chegar,por derivao, ao seu uso em sentido figurado: o lugar onde os fatos sucedem vista de todos. Ele se ope parte de trs do tablado, aos bastidores, onde s setem acesso graas a uma autorizao especial. O fundo da cena o lugar oculto,que funciona em segredo e que ignorado pela maioria do pblico. Em outraspalavras, o espao daquilo que no visvel ou daquilo que no se deixa verimediatamente. Da que a cena poltica nunca totalmente transparente. Seja por-que os atores polticos representam (no sentido dramtico do termo: fingem), sejaporque representam interesses nem sempre confessveis, seja porque representaminteresses objetivamente, isto , sem o saber completamente. Por isso, nessedomnio, as disputas entre foras sociais raramente so explcitas, as estratgiasperseguidas pelos partidos nunca so exatas, as declaraes dos agentes polticos

    no podem ser tomadas literalmente e os interesses de grupo jamais aparecemcomo aquilo que de fato so. O caso a seguir torna mais concreta essa proposio.Marx anota que durante a II Repblica, sob a presidncia constitucional de

    Lus Bonaparte, h dois tipos de incompatibilidade que constituem a histria par-lamentar dessa temporada. De um lado, as esperadas escaramuas que contrapemmonarquistas e republicanos. Os primeiros esto reunidos no partido da ordem(burguesa) e os segundos esto divididos entre duas correntes rivais, os republica-nos puros (as aspas so uma ironia do autor) e os montagnards. De outro lado,h as hostilidades que dividem monarquistas legitimistas (partidrios da casa dosBourbons) e orleanistas (partidrios da famlia Orlans). Olhados da plancie da

    cena poltica, esses conflitos esto circunscritos quilo que os atores dizem delesou ao contedo e ao sentido que os prprios agentes imaginam e atribuem s suasaes. Nem mais, nem menos. A descrio/anlise minuciosa que Marx faz dessasituao na seo III de O 18 brumrio tem ento o propsito de remeter os con-flitos doutrinrios dos partidos e as disputas virtuosas sobre formas de governo,extenso do sufrgio, calendrios eleitorais etc. aos interesses diferentes de classessociais diferentes, ocultas do pblico por aqueles rtulos polticos convenientes.

    O trecho abaixo exemplifica essa natureza obscura do mundo poltico onde semovem os representantes da pequena e da grande burguesia francesas, e indica,em termos um tanto genricos, a emenda para tanto.

    Antes de prosseguirmos com a histria parlamentar, so necessrias algumasobservaes a fim de evitar os enganos habituais a respeito do carter geral dessapoca. Segundo a concepo dos democratas, tanto durante o perodo da Assembleianacional legislativa [1849-1851], como durante o perodo da [Assembleia Nacional]Constituinte [1848-1849], trata-se pura e simplesmente da luta entre republicanose monarquistas. Eles resumiam, contudo, o movimento propriamente dito emuma palavra-chave: reao, noite em que todos os gatos so pardos e que lhes

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    permite desfiar todos os seus lugares-comuns de guarda-noturno. E, com efeito, primeira vista o partido da ordem aparece como um conglomerado de diversasfraes monarquistas, que no s intrigam-se uma contra as outras para colocarno trono seu prprio pretendente e excluir o pretendente do partido oposto, mas

    comungam todas o dio comum e os ataques comuns contra a Repblica. Porsua vez, a Montanha aparece, em oposio a essa conspirao monarquista, comoa representante da Repblica. O partido da ordem parece empenhado em umareao que, tal como na Prssia, dirigida contra a imprensa, o direito de asso-ciao etc., e que se exerce, como na Prssia, sob a forma de brutais intervenes

    policiais na burocracia, na gendarmaria e no judicirio. De sua parte, aMontagne[em francs no original] est constantemente ocupada em se esquivar desses ataquese em defender os droits ternels de lhomme [em francs no original], como todosos partidos supostamente populares vm fazendo, mais ou menos, h um sculo emeio. Todavia, se observamos a situao mais de perto, essa aparncia superficialque dissimula a luta de classes e a fisionomia peculiar desse perodo (e que umamina de ouro para os polticos de botequim e os republicanos bem pensantes) de-saparece (18 br., p.463-464; [grifos no original]; o trecho entre chaves da ediode 1852 e foi suprimido por Marx na edio de 1869).

    As frmulas escolhidas por Marx para assinalar a mistificao de que todos atores e historiadores so vtimas (enganos habituais, lugares-comuns), osverbos (aparecer, parecer), o tom professoral, a desqualificao dos perso-nagens (polticos de botequim, republicanos bem pensantes), tudo concorre

    para designar o mundo onde esses grupos parlamentares se movem, e do qual suasfantasias se alimentam, como uma aparncia superficial. Ela oculta, evidentemente,o essencial: a guerra entre as classes.

    Uma das passagens mais sugestivas nesse sentido a que se refere s lutassociais durante o perodo da Assembleia Nacional Constituinte. Marx escreve queno tempo do reinado (isto , da hegemonia poltica) da burguesia republicana,liderada por Cavaignac no Executivo e por Marrast na Assembleia Constituinte,enquanto essa frao burguesa representava no proscnio seu grande dramapoltico [no original alemo:Haupt-und Staatsaktion], um holocausto sem fim

    foi celebrado nos bastidores as incessantes condenaes pelas cortes marciaisdos insurgentes de Junho [de 1848] presos, ou sua deportao sem julgamento(LCF, p.265).

    A nota da edio portuguesa esclarece que a expressoHaupt-und Staatsaktionpode ter, nesse contexto, dois significados.

    Primeiro, no sculo XVII e na primeira metade do sculo XVIII, [a expresso]designava peas representadas por companhias alems ambulantes. As peas eramtragdias histricas, bastante informes, bombsticas e ao mesmo tempo grosseiras

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    e burlescas. Segundo, este termo pode designar acontecimentos polticos de pri-meiro plano. Foi usado nesse sentido por uma corrente da cincia histrica alem,conhecida por historiografia objetiva. Leopold Ranke foi um dos seus principaisrepresentantes. ConsideravaHaupt-und Staatsakion como o assunto principal da

    Histria (Marx, 1982, p.235).

    Ao que parece, Marx confunde propositadamente ambos os sentidos para en-fatizar a defasagem caricata entre o pretenso herosmo dos republicanos puros,se vistos apenas a partir do primeiro plano da cena histrica, e seus verdadeirospropsitos, vulgares e mesquinhos (reprimir o proletariado de Paris e a pequena--burguesia radical), ocorridos nos bastidores e constatveis somente nos bastidores fora, portanto, das vistas dos espectadores. Concluso espervel dessa representa-o metafrica do mundo poltico: a cena poltica um espao de prticas sociais

    que oculta mais do que revela ao observador, ao menos para aquele que no sepreocupa em ligar todos os pontos e restituir o sentido fundamental da poltica.

    Ora, assim compreendido, esse espao social s pode ser descrito como umaprojeo falsificada de uma intimidade que o antecede, estrutura e explica. Logo,toda a aparncia meramente poltica encontrar sua razo de ser apenas se equando revelada sua essncia verdadeiramente social.

    Ainda que essa linha de interpretao do texto de Marx esteja em conformidadecom a intensidade polmica impressa pelo autor prpria anlise, argumentarei,na seo seguinte, sobre a impropriedade de se assimilar a metfora da cena

    poltica ao mecanismo explicativo que v a poltica to s como uma encenao.A cena poltica como metfora problemtica

    A representao do espao poltico e a disposio dos seus elementos poranalogia ao mundo do teatro tm de ser complementadas pela recomendaosobre como se devem ver as relaes entre os atores naquele meio, e sobre comoentend-las e explic-las.

    De fato, aquela pardia referida acima, sobre a atuao dos republicanostricolores doNationalcontra os revolucionrios de 1848 a partir da proclamaodo estado de stio em Paris em 25 de junho (LCF, p.265), opera conforme todos

    os roteiros do gnero. Mas enquanto essesscripts, em nome do efeito dramtico,transformam viles em heris, plebeus em nobres, bufes em reis, projetandopara o primeiro plano apenas a caricatura farsesca e deixando em segundo planoa realidade nua e crua, Marx sugere que, no caso da poltica, o enredo todos fazsentido quando se tem uma viso geral, uma viso de conjunto, tanto da frentequanto do fundo do palco. Nesse sentido, no se pode isolar, nem mesmo paraefeitos analticos, o interior do exterior, a forma do contedo.

    No artigo publicado noNew York Daily Tribune, em 21 de agosto de 1852,Marx aplica esse princpio de compreenso totalizante poltica inglesa.

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    O ano de 1846 revelou em sua nudez ossubstanciais interesses de classe que soa base realdo partido Tory. Este ano de 1846 dilacerou a venervel pele de leo,essa mscara tradicional sob a qual se escondiam at ento os interesses de classedos tories. O ano de 1846 transformou os tories emprotecionistas. Tory era o nome

    sagrado, protecionista, a apelao profana; Tory era o grito de guerra poltico,protecionista o grito de desespero econmico; Tory parecia recobrir uma ideia,um princpio, protecionista recobre os interesses. Protecionistas de qu? Desuas prprias receitas, da renda da sua prpria terra. Os tories so portanto, afinalde contas, to burgueses quanto os demais burgueses, pois existe um burgus queno seja protetor da sua prpria bolsa? (Lord Palmerston (1853), p.680; grifos nooriginal).

    H ao menos trs ideias sugestivas aqui: (i) Tory e, por extenso, todas

    as denominaes polticas oficiais, so mscaras convenientes que disfarame dissimulam os interesses sociais que so o seu fundamento (sua base real);(ii) a natureza de classe (burguesa) do partido Tory deriva da relao objetivade representao que ele estabelece com os interesses que representa (e nodos princpios abstratos que ele diz representar); e (iii) o carter aristocrtico dostories (recrutados entre a nobreza inglesa e os grandes proprietrios de terra) nose sobrepe ao carter mundano da sua plataforma: a defesa das Corn Laws. Emvez disso, est subsumido a ela. Tudo isso, porm, s se descobre (ou s se re-vela) quando a anlise capta no mesmo movimento o disfarce (a venervel pelede leo) e aquilo que est encoberto por ele, isto , os interesses da classe (a

    manuteno da reserva de mercado na Inglaterra para os gros ingleses). Se isso correto, a estrutura explicativa adapta-se mal metfora da cena poltica, poisessa representao exige uma diviso do espao poltico entre o fundo e a frentedo palco, o que implicar necessariamente um descompasso entre o momento dadescrio das aparncias (a crnica da poltica) e o momento da apreenso e ex-plicao das essncias (a sociologia marxista da poltica). Ainda que as categoriasaparncia e essncia permaneam fundamentais nesse sistema, elas no devemser vistas como o avesso uma da outra.

    Vejamos agora outro princpio analtico que eu quero destacar, sempre con-forme a letra do texto, e que, devido ao entendimento defeituoso sobre como em

    Marx funciona na prtica, a anlise da poltica prtica perde de vista.A suposio do nosso autor segundo a qual a luta entre as duas formas de gover-

    no monarquia e repblica era, na conjuntura de 1849-1851, menos importanteque a luta das duas grandes fraes da burguesia francesa contra, respectivamen-te, a pequena burguesia, o proletariado de Paris e o campesinato parcelar, permiteapreender, sob a mesma metfora precria, aquele mesmo procedimento analticoque mobiliza a relao entre o palco e as coxias, a vanguarda e a retaguarda etc.,s que agora, surpreendentemente, com sinal trocado. s vezes, o que se passana cena pblica at mais eloquente do que aquilo que sucede atrs da cortina.

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    Os monarquistas coligados alimentavam uns contra os outros intrigas pela imprensa,em Ems, em Claremont, fora do Parlamento. Nos bastidores envergavam novamentesuas velhas librs orleanistas e legitimistas e retomavam velhas disputas. Mas nacena pblica, em suas Haupt-und Staatsaktion, em suas grandes apresentaes

    teatrais, como partido parlamentar, dispensam suas respectivas casas reais comsimples mesuras e adiam in infinitum a restaurao da monarquia. Conduzem seusverdadeiros negcios comopartido da ordem, ou seja, sob um rtulosocial, e nosob um rtulopoltico; como representantes do mundo e da ordem burguesas, eno como paladinos errantes de princesas longnquas; como classe burguesa contraas outras classes, e no como monarquistas contra republicanos. E como partidoda ordem exerciam um poder mais absoluto e severo sobre as demais classes dasociedade do que jamais haviam exercido sob a Restaurao [1814-1830] ou soba monarquia de Julho [1830-1848], uma dominao que, de maneira geral, s era

    possvel sob a forma da repblica parlamentar, pois apenas sob essa forma podiamas duas grandes fraes da burguesia francesa unir-se e pr na ordem do dia odomnio de sua classe, em vez do regime de uma faco privilegiada dessa classe(18 br., p.465-466; grifos no original).

    A contraposio desse trecho com aquele citado mais acima, que procuravaevocar os equvocos polticos tanto da Montanha como do partido da ordem sobreseus respectivos interesses (cf. 18 br., p.463-464), permite realar as deficinciasda imagem da cena poltica basicamente em funo do tipo de explicao que

    ela sugere e mesmo da postura intelectual que ela demanda. A anlise social podebem lanar mo do esquema frente/fundo do palco, mas esse princpio tem quasesempre uma funo retrica. O ponto fundamental, porm, como deve funcionaro mecanismo explicativo recoberto pela imagem. A atuao das foras polticas noproscnio pode ser prisioneira de uma sorte de (auto) iluso, ou no. A forma degoverno pode ser uma tralha para a dominao social, ou no. Os agentes podemenganar-se quanto aos seus propsitos reais, ou no. Mas o sentido da imposturas se revela ao observador quando se veem os dois espaos ao mesmo tempo.Isto posto, no mais possvel entender o mundo poltico se se imagina que suaverdade est fora dele. O partido da ordem, como se l agora, no mero disfarce

    poltico, o ndice (ou o instrumento) da dominao de classe de todas as fraesda burguesia. Seus componentes sabem oscriptpara se comportar diante da plateia,seja na cena pblica, seja fora dela (Nos bastidores envergavam novamentesuas velhas librs orleanistas e legitimistas e retomavam velhas disputas). Elestm plena conscincia dos seus verdadeiros negcios etc.

    Outro exemplo pode ajudar a esclarecer o argumento: o comentrio desen-feitiado de Marx sobre o episdio da formao de um dos gabinetes do governobonapartista na Repblica constitucional (descrito como a queda do ministrioda coalizo e o advento do ministrio dos balconistas LCF, p.309) indica

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    precisamente que a imagem primeiro plano versus fundo da cena se pensar-mos que esses dois lugares se contrapem ou que o segundo contm a verdadedo primeiro no a maneira mais adequada para entendermos o que se passano mundo poltico. Sobre a nomeao do banqueiro Achille Fould, o smbolomximo da presena no gabinete da aristocracia financeira, Marx escreve:

    Louis-Philippe nunca tinha ousado fazer de um verdadeiro loup-cervier[lobo daBolsa] um ministro das Finanas. Sendo a sua monarquia [1830-1848] o nomeideal para o domnio da alta burguesia, os interesses privilegiados deviam, nosseus ministrios, usar nomes [polticos] ideologicamente desinteressados. Em to-dos os lugares, a Repblica burguesa trouxe para o primeiro plano aquilo que asdiferentes monarquias, tanto a legitimista como a orleanista, mantinham escondidono fundo da cena. Ela trouxe de volta terra aquilo que outros haviam mandado s

    nuvens. No lugar dos nomes dos santos, ela colocou os nomes prprios burguesesdos interesses da classe dominante (LCF, p.310; grifos meus).

    O perodo da ditadura parlamentar do partido da ordem (18 br., p.525) e quecorresponde, na periodizao de Marx, ao intervalo entre o 13 de junho de 1849 eo 31 de maio de 1850, foi o perodo em que o contedo (burgus) da dominaopde prescindir da forma poltica (monrquica), em que a realidade dos interessesde classe, simbolizados pelos nomes prprios burgueses, puderam assumir seulugar de direito na cena poltica, em que os negcios antes escondidos no fundo

    da cena foram projetados para o primeiro plano, para a ribalta. Enfim, foi operodo em que a essncia projetou-se na aparncia, exibindo-se como tal.

    Se essa interpretao dos acontecimentos faz sentido (se ela empiricamentecorreta, ou seja, se ela est de acordo com os fatos histricos da poltica francesa, outra histria), como integr-la nesse sistema terico e, principalmente, comocompatibiliz-la com o mecanismo explicativo exigido pela problemtica metforada cena poltica? S assumindo que o primeiro plano pode vir a ter seu papelna explicao e, no caso, um papel fundamental. Logo, isso parece indicar que acena poltica e as instituies que a compem no funcionam s como um lugarde mascaramento dos interesses de classe, mas como um lugar ao mesmo tempode desvelamento. o que a interpretao de Marx dos resultados das eleieslegislativas de maro de 1849 indica:

    Se o sufrgio universal no era essa milagrosa varinha mgica pela qual aquelesdignos republicanos a haviam tomado, ele tinha o mrito infinitamente maior deliberar a luta de classes, de permitir s diversas camadas mdias da sociedade bur-guesa superar rapidamente suas iluses e suas decepes, de projetar de um golpetodas as fraes da classe exploradora para o topo do Estado e de assim arrancar-lhe

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    sua enganadora mscara, enquanto a monarquia, com seu sistema censitrio, faziacom que apenas determinadas fraes da burguesia se comprometessem [com atarefa poltica da dominao social], deixando as outras [fraes] escondidas nos

    bastidores, envolvendo-as com a aurola da oposio comum (LCF, p.257).

    A lgica prpria do mundo poltico pode, em funo do papel especfico deinstituies especficas, e do sentido peculiar que essas instituies adquirem emcertos contextos histricos, esclarecer, mesmo para os agentes implicados nessemundo, os princpios genunos do seu funcionamento: o caso, aqui, do sufrgiouniversal. Donde se conclui que a cena oficial pode ser o lugar por excelnciade manifestao (institucional) da luta poltica de classes e no uma simplesaparncia que encobre a realidade essencial.

    Voltarei a essa ideia logo adiante, na seo seguinte. Por ora quero sublinhar

    e essa a tese central do ensaio que a via mais problemtica para superar amera descrio dos acontecimentos em nome da explicao dos processos terpresente a noo de cena poltica como uma projeo ilusria, falseada, cor-rompida daquilo que se passa por detrs do teatro poltico. Parece demasiada,em razo dos trs princpios de anlise que procurei salientar, a interpretao quev, em Marx, a poltica institucional como uma realidade superficial, enganosa,que deve ser desmistificada, despida de seus prprios termos, para que se tenhaacesso realidade profunda dos interesses e dos conflitos de classes (Boito Jr.,2007, p.129). A estratgia intelectual marxiana , penso, um tanto diferente dessa. isso que tentarei demonstrar na prxima seo analisando preferencialmente o

    textoAs lutas de classe em Frana.

    A forma-poltica e as funes do espao poltico

    Na introduo do ensaio sugeri de passagem, com base na analogia entreforma-mercadoria e forma-poltica, que a cena pblica , para Marx, um espaosocial onde a aparncia (aquilo que est vista de todos) produz efeitos socialmenteeficazes, repercutindo, de maneira decisiva, sobre as prticas polticas de classe.Isso quer indicar que o espao poltico no apenas um lugar imaginrio, umaarena, um cenrio onde transcorre a ao isto , o palco das lutas entre foraspuramente polticas. O espao poltico pode funcionar como um mecanismo de

    mediao entre a estrutura poltica e a estrutura econmica. Ele tem, em Marx,um papel ativo na preparao dos papis e na movimentao dos atores, e suacompetncia muito maior (e muito diferente) do que apenas ocultar interessesde classe, ainda que tambm deva faz-lo.

    A funo de mediao entre o nvel econmico e o nvel jurdico-poltico pa-rece se realizar, tomando o caso francs como o exemplo caracterstico da polticacapitalista, de cinco modos combinados. Teramos, assim, cinco funes tpicasdo espao poltico distribudas em quatro categorias: a sua funo social, a suafuno poltica, a sua funo simblica e a na funo ideolgica.

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    (i) O espao poltico o lugar de expresso refratada dos interesses sociais.

    O espao social onde a prtica poltica tem lugar a luta pelo poder de go-vernar, a competio poltica legal, a primazia para legislar, a autoridade para

    discursar etc. no reflete fatalmente o espao social da luta de classes, aindaque aquele no possa ser, para Marx, indiferente a esse, evidentemente. por issoque, na anlise poltica, no se pode estabelecer ponto a ponto a correspondnciaentre partido poltico e classe social, nem se deve faz-lo a qualquer custo.6 Sobo capitalismo, essa anclase, que ocorre quando os interesses sociais passam deum meio a outro, uma das condies tanto da dominao ideolgica pois asfaces polticas adquirem a faculdade alegrica de representarem a sociedadecomo um todo quanto da eficcia poltica do discurso poltico (o interessegeral etc.). Essa refrao por assim dizer a funo socialda cena poltica.De toda forma, h excees e a traduo das pretenses das classes em aes

    polticas efetivas de um espao a outro pode ser direta: Se o 23 de junho de1848 foi a insurreio do proletariado revolucionrio, o 13 de junho de 1849 foia dos pequeno-burgueses democrticos, cada uma dessas duas insurreies sendoapura expresso clssica da classe que havia sido o seu suporte (LCF, p.301;[grifos no original]).

    Por outro lado, essa capacidade de refrao, propriedade fundamental domundo poltico, pode produzir uma fratura na relao de representao e criarum grupo puramente poltico no sentido genuno do termo, isto , sem conexessociais de classe. Essa fratura se deve s exigncias especficas do espao poltico,s suas regras prprias e aos seus movimentos caractersticos. No deve, portanto,surpreender que as anlises de Marx designem partidos sem base social, polti-cos que representam a si mesmos, aes legislativas compreendidas em funode seus prprios meios e fins etc. Tanto assim que os bonapartistas [...] noconstituam uma frao importante da classe dominante, mas antes uma coleode velhos invlidos supersticiosos e de jovens cavaleiros da indstria hereges(LCF, p.291). Mas o caso clssico aqui o dos republicanos da velha guarda. Marxassegura que a certa altura do enredo, os representantes tricolores da burguesiafrancesa passam da posio de partido de classe posio de camarilha poltica(LCF, p.272). Isto , passam a agir em nome prprio e em defesa do seu prprio

    poder legislativo e no conforme o mandato de um grupo social determinado.Quando, entre fins de 1848 e o incio de 1849, o ministrio Barrot decretou suacompleta irrelevncia para garantir o domnio social da burguesia francesa, eles

    6 Poulantzas chama a ateno para a dupla confuso da Cincia Poltica que ou reduz as relaesde classe s relaes entre os partidos polticos (corrente liberal ou pluralista), ou reduz as rela-es entre partidos s relaes de classe (certo marxismo). Na realidade, a cena poltica, comocampo particular de ao dos partidos polticos, encontra-se frequentemente defasada em relaos prticas polticas e ao terreno dos interesses polticos das classes, representadas pelos partidosna cena poltica (Poulantzas, 1971, v.II, p.76 e 72, respectivamente; grifo meu).

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    passaram ofensiva e travaram uma batalha contra Bonaparte pela permannciadas prerrogativas da Assembleia Constituinte (onde reinavam soberanos). Umavez derrotados, nas movimentaes que se seguiram agitao da campanhaeleitoral de maro de 1849 em diante, Os republicanos burgueses doNational

    no representavam [mais] uma frao importante da sua classe no que diz respeitoa seus fundamentos econmicos (LCF, p.290). A lista de exemplos poderia con-tinuar e deveria incluir tambm o caso do divrcio, a partir do segundo semestrede 1851, entre a aristocracia financeira e o partido da ordem (ver18 br., p.513).

    Isso nos permite propor uma segunda ideia.

    (ii) O espao poltico o lugar de constituio de tal ou qual grupo socioe-conmico (classes, fraes, camadas) enquanto grupo especificamentepoltico.

    A peculiaridade aqui que esse espao social tem, em funo da autonomiacaracterstica do mundo poltico, a faculdade de constituir a classe social emagente poltico.7 Essa afuno poltica da cena poltica.

    O espao poltico permite (ou melhor, viabiliza) que os monarquistas das duascasas concorrentes se unifiquem no partido da ordem, alando os interessescaractersticos da grande propriedade fundiria, da alta finana e da classe indus-trial em um nvel especfico: o nvel propriamente poltico (LCF, p.289). Por seuturno, esses interesses sero tanto mais bem-sucedidos quanto mais conseguiremapoderar-se dos principais aparelhos polticos. Exagerando o argumento, pode-sealegar que a hegemonia poltica da burguesia francesa tinha uma data para comear.

    Marx vai observar que a partir do 13 de junho de 1849 dia do levante fracas-sado daMontagne a favor da Constituio e contra a campanha na Itlia que aAssembleia Nacional torna-se apenas um Comit de salvao pblica do partidoda ordem (LCF, p.302; grifos no original). da que esse partido vai retirar oseu poder governamental. Assim, a classe passa a existir no terreno poltico,como fora social autnoma (Poulantzas, 1971), atravs do terreno poltico.

    Outra classe, outro exemplo: liderada por Ledru-Rollin, no espao polticoque a pequena burguesia de Paris se v devidamente traduzida, e portanto cons-tituda como tal, pelo partido socialdemocrtico. A frase a pequena burguesiademocrtica e o seu representante parlamentar, aMontagne (LCF, p.274), pode

    ser lida enfatizando tanto a classe que o grupo poltico deve representar, conformea percepo tradicional, quanto o prprio grupo poltico, que assume para si adefesa dos interesses da classe. Ele , portanto, a condio social para que a classeviva politicamente. Por sua vez, o sucesso poltico dessa classe vai depender dosucesso da estratgia poltica adotada por seus representantes legislativos. Emmeados de 1849, imagina Marx, Se aMontagne tivesse xito numa insurreio

    7 Para a inspirao original dessa ideia, ver Boito Jr., 2007, p.144-148.

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    parlamentar, o leme do Estado [i.e., o governo] cairia imediatamente em suasmos (LCF, p.298).

    H, igualmente, outra funo poltica do espao poltico.

    (iii) O espao poltico o lugar de recombinao de tais ou quais grupospolticos em funo da dinmica prpria do processo poltico.

    O mundo poltico vive, na prtica, de acordos estratgicos, de alianas tti-cas, de entendimentos pragmticos, isto , de arranjos possveis em nome daconquista e/ou do exerccio do poder de mandar. Da mesma maneira, ele vivedas dissenses pessoais, das rivalidades de grupo, da ventriloquia de intelec-tuais, da concorrncia entre as lideranas, da oposio de valores, das disputascabeudas pelo mesmo poder de mandar. So justamente aquelas combinaesque mantm conforme se acredita esse conflito dentro de limites normais.

    O procedimento interpretativo que eu quero relevar aqui um tanto diferentee no versa sobre as decises mais ou menos conscientes dos agentes para manteresse mundo em bons termos, mas sobre a lgica objetiva desse mundo ao qualeles esto submetidos. Em Marx, a ribalta oficial regida pela luta de classes e algica que conduz esse universo est, em ltima instncia, a servio da realizaodos interesses sociais dominantes. Entretanto, as combinaes e recombinaesentre os grupos polticos profissionais, sua proximidade ou afastamento, enfim,a trama do processo poltico propriamente dito, obedece s regras, ao timing, aojogo de interesses caracterstico do espao poltico (que leva em conta o cimemesquinho, o ressentimento, as crticas maldosas (LCF, p.337)). Mesmo quandoos negcios econmicos determinam objetivamente as posies sociais e as op-es polticas correspondentes dos atores, o que parece contar, em primeiro lugar,para formar suas disposies so as vises de mundo, os espritos do passado,os nomes, os trajes, as frases, os gritos de guerra (cf. 18 br., p.438). o casoda diferena entre legitimistas e orleanistas em torno do direito de sucesso dassuas respectivas casas reais. Essas rixas no podem ser menosprezadas em nomedas diferenas entre a propriedade tradicional e os interesses capitalistas. Mesmoporque, lembre-se, elas foram convertidas, a partir de fevereiro de 1852, emgrandes fatos polticos que o partido da ordem representava na cena pblica, emvez de encen-los, como havia feito at ento, no teatro amador (18 br., p.509).

    A reviso da Constituio, porm, no significava apenas o domnio da burguesiaou da democracia pequeno-burguesa, democracia ou anarquia proletria, repblica

    parlamentar ou Bonaparte, ela significava tambm Orlans ou Bourbon! Assim,brotava em pleno Parlamento o pomo da discrdia que iria inflamar abertamenteo conflito de interesses que dividia o partido da ordem em faces inimigas. O

    partido da ordem era um combinado de substncias sociais heterogneas. A questoda reviso gerou uma temperatura poltica na qual ele voltou a se decompor emseus elementos primitivos (18 br., p.506).

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    Os interesses das duas famlias da nobreza francesa se excluam mutuamente,seja porque Orlans ou Bourbon eram nomes que bancavam, respectivamente,os aristocratas da grande propriedade fundiria e a indstria capitalista (as duasprincipais fraes nas quais se repartia a burguesia francesa), seja porque Orlansou Bourbon eram, afinal, ou Orlans, ou Bourbon: conforme suas respectivaspretenses, s uma casa real deveria governar. A soluo para instituir definitiva-mente o governo comum (18 br., p.508) das duas faces polticas (ou das duasfraes burguesas,pois aqui d no mesmo), recombinando e fundindo os elementoscomponentes do partido da ordem, eles mesmos a partir de ento subdivididos emgrupos especficos e antagonismos independentes (18 br., p.511), foi a ditadurapessoal do segundo Bonaparte. Sua qumica consistiu em fazer desaparecer asdiferenas polticas fazendo desaparecer o prprio partido da ordem (v. 18 br.,p.525). Uma soluo poltica conforme a dinmica do processo poltico, portanto.

    (iv) O espao poltico o lugar de traduo dos interesses sociais numalinguagem poltica.

    Em Marx a poltica no certamente uma linguagem. Todavia, ela exige,produz e impe, para o seu funcionamento adequado, uma linguagem prpria. Suaeficcia tanto maior quanto mais o simbolismo caracterstico de cada situao, decada evento importante consegue traduzir o esprito, o clima da poca e manterem segredo os interesses materiais que definem em ltimo caso o seu contedo.Justamente por isso o espao poltico funciona por conotao:

    Lamartine [como chefe do] Governo provisrio; isso no representava primeiravista nenhum interesse real, nenhuma classe bem definida, era a prpria revolu-o de Fevereiro [de 1848], a insurreio geral acompanhada das suas iluses, dasua poesia, do seu contedo imaginrio e da sua retrica. De resto, tanto por sua

    posio como por suas opinies, o porta-voz da revoluo de Fevereiro pertencia burguesia (LCF, p.243; grifos no original).

    O governo provisrio que despontou das barricadas de Fevereiro e da vitriasobre a monarquia de Louis-Philippe era um governo de compromisso entre as

    diferentes classes. De acordo com Marx, a pequena-burguesia republicana estavarepresentada na figura de Ledru-Rollin; a burguesia republicana por Cavaignac;os legitimistas por Crmieux, e a classe operria tinha, por sua vez, Louis Blanc eAlbert (LCF, p.243). Todavia, era na figura de Lamartine, aquele que era ao mesmotempo o ministro dos Negcios Estrangeiros e o autor dasMditations potiques,isto , o poeta-smbolo do romantismo literrio francs, que a revoluo polticaencontrou o seu encanto e a sua expresso. Que ele fosse, na realidade, um liberalmoderado, avesso s reformas sociais, e um adversrio da substituio da tricolorpelo drapeau rouge contava menos, em termos simblicos, do que as confianas

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    polticas divulgadas em seus livros: a f no progresso, a simpatia pelas revolu-es (uma das formas de realizao da vontade divina), a paz dos povos, o votouniversal. Exatamente aquilo com que os revolucionrios de 1848 sonhavam.

    A necessidade dos agentes sociais em traduzir, em nome da legitimidade dosseus interesses e da validade universal dos seus propsitos, fatos e feitos numimaginrio idealizado, justamente o primeiro tema de O 18 brumrio de LusBonaparte (ver18 br., p.437-440). O efeito prtico dos ideais, das paixes e dasiluses codificadas sobre a prtica poltica pode ser estimado pelo uso que osheris (ou os comediantes) do presente tm de fazer dos heris do passado. Eessa linguagem tanto melhor se for alugada, o que aumenta seu poder sugestivo:Camile Desmoulins, Danton, Robespierre, Saint-Just, Napoleo, os heris, assimcomo os partidos e as massas da velha Revoluo Francesa, desempenharam emtrajes romanos e com frases romanas a tarefa de sua poca: libertar e instaurar a

    sociedade burguesa moderna (18 br., p.438; [grifos no original]).Assim como no existe poder sem ideologia, no existe poltica sem um vo-cabulrio poltico que d sentido s prticas dos agentes sociais. Portanto, mesmoA revoluo social do sculo XIX deve retirar sua poesia de algum lugar, naexpectativa de que seu contedo social ultrapasse sua retrica (18 br., p.440).Essa afuno simblica do espao poltico. O que nos conduz quinta funodo espao poltico.

    (v) O espao poltico o lugar de expresso/ocultao dos interesses sociais.

    No espao poltico, as guerras pelo poder parecem ser, principalmente paraos seus protagonistas, to somente um conflito poltico entre foras rivais, semconexo com a luta em torno dos negcios econmicos das classes. Conforme omarxismo de Marx, isso de fato pode ocorrer, como procurei explicar at aqui.Todavia, a anlise social no estar completa se no se puder demonstrar em quetermos, ou em que medida, agentes polticos (indivduos, partidos, faces parla-mentares, grupos de interesse, jornais, clubes polticos etc.) exprimem interessesde classeenquanto exprimem seus prprios interesses. Essa conexo mais oumenos obrigatria, postulada pelo marxismo clssico, especialmente complexae isso pelo menos por trs razes: (i) foras polticas podem espelhar interesses

    sociais mesmo sem o saber ou sem o querer; (ii) interesses econmico-sociais nemsempre conseguem encontrar foras polticas inteiramente fiis aos seus propsitosou esculpidas segundo sua imagem e semelhana, e (iii) o modo mais racional emais eficiente (ou legtimo) de foras polticas exprimirem interesses sociais noespao poltico justamente escondendo essa relao de correspondncia. Essadissimulao no intencional (ou no precisa ser intencional), uma vez que oespao poltico capitalista ao mesmo tempo o lugar de manifestao/realizaodos interesses sociais e o lugar de dissimulao/falsificaoda natureza particulardesses interesses.

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    Antes de ilustrar essa ideia, que pretende sintetizar todo o argumento do ensaio,vejamos em que termos Marx pensou o espao poltico como um mecanismo deexpresso e de ocultao dos interesses sociais de classe.

    Nos textos histricos, a relao entre a realidade poltica e a representao

    cientfica da realidade poltica se realiza de maneira complicada. Isso porque afuno ideolgica da cena oficial, da qual tratarei a seguir, inseparvel da suafuno simblica, o que multiplica o seu carter fetichista. Conforme Rouanet,o fetichismo, tal como analisado por Marx na seo 4 do captulo I de O capital(Marx, 1983, esp. p.70-73), designa no [...] o movimento pelo qual as relaesentre os homens assumem a forma de uma relao entre coisas, mas oprocessopelo qual as relaes sociais se projetam numa forma aparente, [...] a forma--mercadoria, que as torna invisveis (Rouanet, 1985, p.91; grifos no original).Essa aparncia no contingente, mas necessria para o funcionamento de todo

    o sistema. A forma-mercadoria o veculo que viabiliza, reificando, as relaeseconmicas capitalistas (a produo, a troca etc.), e que ao mesmo tempo misti-fica e esconde a sua essncia social (a explorao). A falsa conscincia sobreo mundo econmico assim a percepo exata do real fetichizado (Rouanet,1985, p.103). Logo, a equao verdadeiro versus falso tem aqui outra gramtica.

    possvel sustentar que o espao poltico funciona nas formaes sociaiscapitalistas segundo a mesma lgica incorporada na forma-mercadoria. Poder--se-ia falar, ento, numaforma-poltica. A sugesto aqui que essa forma-polticateria, por analogia, os mesmos predicados da forma-mercadoria. Isso desloca, por-tanto, o sentido latente que a expresso cena poltica traz consigo (um exterior

    falso contra um interior verdadeiro), e repe, em outro sentido e conformeoutra regra, a relao essncia e aparncia.H inmeros exemplos nos textos polticos de Marx da funo ideolgica

    da poltica, ideolgica significando aqui a conscincia ao mesmo tempo falsae possvel das relaes sociais reais. Provavelmente o mais conhecido dentretodos o caso da relao entre o campesinato parcelar e o presidente Lus Napo-leo Bonaparte (ver18 br., p.532). Essa figura , alis, ilustrativa daquelas trspossibilidades que referi mais acima sobre a conexo entre faces polticas einteresses de classe.

    Marx anota que Bonaparte foi eleito em 10 de dezembro de 1848 com seis

    milhes de votos, derrotando Cavaignac, Ledru-Rollin, Raspail, Lamartine etc.,e a maior parte desses votos veio dos camponeses, a classe mais numerosa dasociedade francesa (18 br., p.533). Foi assim e por esse meio que essa classe fezsua entrada no espao poltico. Com um detalhe: para os camponeses, Napoleono era uma pessoa [real], mas um programa poltico, um smbolo. Era como seeles dissessem para as demais foras sociais: basta de impostos, abaixo os ricos,abaixo a Repblica, viva o Imperador. Isso porque Napoleo, o nome que esseaventureiro carregava, era o mesmo nome do nico homem que havia defendi-do plenamente os interesses e os sonhos da classe camponesa recm-criada em

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    1789 (LCF, p.273). De acordo com esse juzo, os camponeses, ao elegerem essaalternativa, ocultavam-se atrs da figura mtica do verdadeiro Bonaparte, deposi-tando seus sufrgios na figura desse pseudo-Bonaparte, que deveria represent-losideologicamente; e esse pseudo-Bonaparte ocultava, por sua vez, o fato de que

    ele mesmo no representava de fato os interesses reais dos camponeses, mas seusprprios propsitos polticos (tornar-se um ditador atravs de um golpe de Estado)e, por tabela, os desgnios polticos objetivos da sociedade francesa. Ele deveria,atravs dessa ditadura, garantir a ordem civil (isto , a ordem burguesa; 18 br.,p.540) numa conjuntura em que nenhuma das fraes dominantes a fidalguiafinanceira, a burguesia industrial e a aristocracia da terra haviam conseguidoencontrar, atravs de seus representantes parlamentares, uma soluo constitu-cional. Esse jogo de espelhos bastante complexo e feito de uma comdia deenganos e autoenganos. As foras sociais nunca esto onde deveriam e as foras

    polticas nunca so aquilo que parecem. Os interesses reais das classes parecemento s se realizar, no espao poltico, de maneira equivocada. O formidvelpartido da ordem, escreve Marx, dividido em suas disputas dinsticas, viu-seobrigado, para sua vergonha, medida que evoluam os acontecimentos polticosentre 1850-1851, a levar a srio o pseudo-Bonaparte, esse personagem ridculo eordinrio que lhe causa horror em nome da tranquilidade social (LCF, p.341). Suarepresentao poltica era, portanto, o oposto do que gostariam seus homens polti-cos e de letras, mas o possvel em face do que exigiam objetivamente as classesque estavam na origem do partido da ordem. Do seu lado, essa figura srdida seiludia sobre as causas que [...] lhe conferiam o carter de homem indispensvel

    da poltica francesa: Bonaparte supunha, dir Marx, que sua centralidade e im-portncia para o pas se deviam exclusivamente ao poder mgico do seu nomee caricatura que ele constantemente oferecia de Napoleo (LCF, p.341), e noao inevitvel reforo do Poder Executivo diante do Poder Legislativo, exignciaobjetiva desse momento de crise poltica e social. J os pequenos proprietriosrurais, em funo da sua situao social, exigiam, em nome dos seus interesses,um poder governamental ilimitado que os protegesse contra as outras classes,e especialmente contra a explorao econmica atravs do sistema de hipotecas.O resultado histrico disso foi um Poder Executivo com o poder de submeter aoseu domnio a sociedade inteira (18 br., p.533). Essa era, todavia, uma demanda

    que no atendia objetivamente aos interesses objetivos do campesinato parcelar.Tanto que Lus Bonaparte no revogou os impostos que pesavam sobre a pe-quena propriedade e, principalmente, no aniversrio da sua proclamao comopresidente da Repblica, em 20 de dezembro de 1849, decretou a restaurao doimposto sobre o vinho (LCF, p.314; grifos no original). Esse imposto, argumentaMarx, era o imposto que arruinava e mantinha na misria a massa dos pequenosproprietrios da Frana.

    Nesse contexto, poderamos dizer ento dos interesses econmicos das clas-ses, que o seu espao de aparecimento (o seu teatro, para manter a metfora)

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    igualmente o espao do seu desaparecimento ou mais propriamente, do seuaparecimento sob uma forma reificada (partidos polticos sem base social, polticosque representam a si mesmos, aes legislativas compreendidas em funo de seusprprios meios e fins etc.). Logo, a condio para que os interesses econmicos

    das classes existam politicamente que eles sejam invisveis: isto , que eles en-contrem um smbolo vivel no espao poltico que os escamoteie. Todavia, umavez que os interesses sociais assumem uma forma-poltica no espao poltico, elespassam a existir e a agir conforme os princpios e a lgica desse espao.

    Se isso minimamente correto, ento as anlises polticas do mundo poltico(das suas foras caractersticas, dos seus personagens, dos seus discursos) noso to desprovidas de interesse assim. Com a condio de, com toda a prudnciadevida, e com toda a conscincia dessa srie de operaes realizadas pelo espaopoltico, reatar os barbantes que ligam agentes polticos a classes sociais. Se e

    quando essa operao for possvel.Referncias bibliogrficas

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