O Estado Liberal e o Estado Intervencionista

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O Estado Liberal e o Estado Intervencionista O ESTADO LIBERAL E O ESTADO INTERVENCIONISTA Se dermos atenção a qualquer noticiário, discurso político, conclusões de debates com a presença de associações sindicais ou patronais, ou a quaisquer eventos de natureza socioecon6mica ou politica, damo-nos conta da presença constante do Estado na actividade económica. De facto, nos nossos dias e reconhecida por todos os agentes económicos a vantagem e, em alguns casos mesmo, a necessidade de 0 Estado intervir na actividade produtiva, seja como regulador, dinamizador, arbítrio ou mesmo produtor. Todavia, nem sempre foi este 0 entendimento que os agentes económicos deram ao papel do Estado, pelo que ele nem sempre foi chamado a intervir na economia, acontecendo mesmo situações em que qualquer iniciativa sua na área da produção era considerada como uma intromissão abusiva e inoportuna, que impedia o livre funcionamento da economia de acordo com as leis do mercado. De facto, quando se analisa a função do Estado na economia, apercebemo-nos que num grande período, dominante no século XVIII, a interferência do Estado na esfera económica não era bem vista nem desejável, pois introduzia perturbações ao mecanismo de mercado, dificultando 0 livre jogo da oferta e da procura. É o período do Estado liberal, durante o qual a actividade económica se desenrolava autonomamente, sem lnterferência dos poderes públicos. 0 Estado limitava-se apenas a definir 0 quadro jurídico que a actividade económica teria de respeitar. Este posicionamento do Estado perante a actividade económica corresponde ao início do capitalismo e surgiu no século XVIII associado às ideias liberais, após séculos de outra forma de ordem económica, o feudalismo. Inicialmente, 0 capitalismo assentava na Iiberdade de iniciativa, ou seja, na possibilidade de qualquer indivíduo utilizar os seus meios de produção na actividade produtiva, e na liberdade de concorrência, segundo a qual qualquer empresa podia competir com as outras em qualquer ramo de actividade económica.

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Se dermos atenção a qualquer noticiário, discurso político, conclusões de de¬bates com a presença de associações sindicais ou patronais, ou a quaisquer eventos de natureza socioecon6mica ou politica, damo-nos conta da presença constante do Estado na actividade económica.De facto, nos nossos dias e reconhecida por todos os agentes económicos a vantagem e, em alguns casos mesmo, a necessidade de 0 Estado intervir na actividade produtiva, seja como regulador, dinamizador, arbítrio ou mesmo produtor.

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O Estado Liberal e o Estado Intervencionista O ESTADO LIBERAL E O ESTADO INTERVENCIONISTA

Se dermos ateno a qualquer noticirio, discurso poltico, concluses de debates com a presena de associaes sindicais ou patronais, ou a quaisquer eventos de natureza socioecon6mica ou politica, damo-nos conta da presena constante do Estado na actividade econmica.De facto, nos nossos dias e reconhecida por todos os agentes econmicos a vantagem e, em alguns casos mesmo, a necessidade de 0 Estado intervir na actividade produtiva, seja como regulador, dinamizador, arbtrio ou mesmo produtor.Todavia, nem sempre foi este 0 entendimento que os agentes econmicos deram ao papel do Estado, pelo que ele nem sempre foi chamado a intervir na economia, acontecendo mesmo situaes em que qualquer iniciativa sua na rea da produo era considerada como uma intromisso abusiva e inoportuna, que impedia o livre funcionamento da economia de acordo com as leis do mercado.De facto, quando se analisa a funo do Estado na economia, apercebemo-nos que num grande perodo, dominante no sculo XVIII, a interferncia do Estado na esfera econmica no era bem vista nem desejvel, pois introduzia perturbaes ao mecanismo de mercado, dificultando 0 livre jogo da oferta e da procura. o perodo do Estado liberal, durante o qual a actividade econmica se desenrolava autonomamente, sem lnterferncia dos poderes pblicos. 0 Estado limitava-se apenas a definir 0 quadro jurdico que a actividade econmica teria de respeitar.Este posicionamento do Estado perante a actividade econmica corresponde ao incio do capitalismo e surgiu no sculo XVIII associado s ideias liberais, aps sculos de outra forma de ordem econmica, o feudalismo.Inicialmente, 0 capitalismo assentava na Iiberdade de iniciativa, ou seja, na possibilidade de qualquer indivduo utilizar os seus meios de produo na actividade produtiva, e na liberdade de concorrncia, segundo a qual qualquer empresa podia competir com as outras em qualquer ramo de actividade econmica.Estes dois tipos de liberdade - liberdade de iniciativa e de concorrncia - aliados existncia de muitas empresas de pequena dimenso. conduziam no interveno do Estado na esfera econmica, que ficava reservada s empresas privadas movidas pelo lucro. Ao Estado apenas competia a requlamentao jurdica da economia, a defesa da ordem social e a garantia das liberdades individuais.Todavia, 0 funcionamento da economia segundo as leis do mercado de concorrncia perfeita veio a ser gradualmente perturbado, em virtude do aparecimento de outras formas de mercado contraries a livre concorrncia. So os resultados da concentrao industrial e financeira ocorrida aps a Revoluo Industrial, que originou as situaes de monoplio e de oligoplio.Assim, a partir de meados do sculo passado, as regras de mercado tornaram-se incapazes de assegurar 0 equilbrio nos diversos mercados, vindo a verificar-se algumas situaes de desarticulao entre a oferta e a procura, com excesso de produo de certos bens (mais lucrativos) em detrimento de outros, nomeadamente bens de primeira necessidade ou de satisfao colectiva, cujo baixo preo de venda - para assegurar o seu consumo por todos - no oferecia perspectivas de rendibilidade, levando o investidor a desinteressar-se da sua produo.Deste modo, 0 Estado liberal conheceu graves crises econmlcas resultantes da desadequao da oferta procura.

A grande crise de 1929 surge como a mais perfeito exemplo do facto de uma economia por si s dificilmente conseguir regular-se. Nesta crise, o excesso de produo face procura tornou-se de tal forma grande que as empresas, vendo os seus stocks, nomeadamente de bens de produo, a acumularem-se nos arrnazns, diminuiram a respectiva produo. Naturalmente, esta quebra na produo foi acompanhada do desemprego e de menores rendimentos nas mos dos consumidores a que se reflectia em menor consumo e, em consequncia, em nova acurnulao de bens em armazm, menor produo. menor emprego, menor consumo e assim. de forma circular, a crise originava mais crise ainda.

Perante esta incapacidade de as leis do mercado regularem a economia, a Estado foi forcado a intervir, no sentido de prevenir outras crises e minimizar os seus efeitos.Em consequncia, a Estado torna-se num agente que ira intervir directamente na esfera produtiva. o perodo do Estado intervencionista, durante a qual a Estado junta a actividade que desenvolvia no perodo anterior (funes relacionadas com a defesa do territrio e dos cidados) uma aco mais directa, passando a tomar medidas de natureza econmica tendo em conta as objectivos polticos, econmicos e sociais que pretende ver alcanados.Todavia, a interveno do Estado raramente atinge aspectos que visem a confrontao com a actividade empresarial privada. As orientaes de politica econmica so meramente indicativas, no obrigando as empresas ao cumprimento rgido dos seus objectivos.Muitas vezes, a interveno do Estado na economia faz-se atravs do estabelecimento de relaes complementares com as empresas privadas, nomeadamente fornecendo as empresas certos produtos a preos reduzidos, como, par exemplo, a energia, concedendo subsdios as empresas que produzem bens considerados essenciais ao que promovem a criao de novas pastas de trabalho, etc.Em consequncia da crise de 1929, a economista liberal ingls John Maynard Keynes na sua obra Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, faz um apelo para que as poderes pblicos passassem a intervir em certas reas da economia como as do emprego, do rendimento, do investimento, etc., com vista a minorarem as efeitos das crises econmicas.E, assim, hoje frequente assistir-se interveno do Estado na actividade econmica de diversas formas, das quais se destacam:

conduo de politicas anti-crise, atravs de instrumentos fiscais, monetrios e de controlo dos preos:

elaborao de um planeamento de caractersticas indicativas, que parte do diagnostico e caracterizao socioeconmica do pas, visando a desenvolvimento nacional e regional;

constituio de um sector pblico empresarial;

requlao da actividade econmica:

fiscalizao dos agentes econmicos:

dinamizao da economia.