O Legado Marxista e a Luta Política Na América Latina

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1 O legado marxista e a luta política na América Latina Ivan Pinheiro * Em primeiro lugar, agradecer o honroso e irrecusável convite para participar deste importante seminário, que se propõe a trazer o legado de Marx para colocá-lo a serviço da luta de classes, em especial na América Latina, e no apenas para uma discusso meramente acad!mica ou diletante"  A vasta o#ra de Marx e Engels é a principal contri#uiço para n$s revolucionários entendermos a natureza do capitalismo e identi%icarmos os aliados e inimigos de classe do proletariado, levando em conta a con&untura e a correlaço de %orças, em cada época, em cada pa's" (onhecendo nossos inimigos e aliados, ) luz dos ensinamentos de Marx, podemos acertar mais do que errar, na luta para destruir o estado #urgu!s e emancipar o proletariado" *o ponto de vista da aço, das contradições do capitalismo e da luta pol'tica, podemos a%irmar que o MANIFESTO DO PATIDO !OM"NISTA, que Marx compartilhou com Engels há + anos, continua to atual quanto %undamental como contri#uiço aos partidos que lutam pela revoluço socialista" Marx está vivo quando se con%irmam suas análises de que o capital extrapolaria seus limites nacionais, assumindo dimenso mundial e aumentando, quanto mais senil, suas tend!ncias destrutivas %rente ) humanidade" .unca %oram to expressivas e inconciliáveis as contradições entre a apropriaço privada do capital e o caráter social da produço e portanto to agudas as crises c'clicas de superproduço, agora com caracter'sticas estruturais, em que no se distinguem, temporalmente, ciclos, mas novas mani%estações de uma mesma crise sist!mica" /rata-se de uma crise glo#al, que 0orge 1einstein chama de crise da civilizaço #urguesa, multi%acética, em que os E2A esto no epicentro" /rata-se de uma crise do modo de produço capitalista" A !ISE DO !APITALISMO#  A crise sist!mica do capitalismo gera necessidades cada vez maiores de reproduço do capital" *isputas de mercados, escassez de %ontes energéticas e recursos naturais atiçam as contradições inter-#urguesas e empurram o imperialismo para novas aventuras militares" Estamos assistindo guerras imperialistas no 3raque e no A%eganisto, e agora na L'#ia, e as tentativas de se a#rirem novos %ocos de con%lito, como no 3r, na 4'ria, na (oréia do .orte, além da continuidade da ocupaço palestina" 5ara tentar sair da crise, o capital saqueia os co%res p6#licos para salvar #anqueiros e oligop$lios7 ataca os direitos sociais e tra#alhistas, diminui a qualidade dos serviços p6#licos7 apro%unda a exploraço e a #ar#árie, a %ome e a miséria" 5ara tal, recrudescero a criminalizaço e a represso aos movimentos sociais e )s organizações populares e revolucionárias" Esta crise, apesar de seus elementos estruturais, no é, por si s$, a crise %inal do capitalismo, que no cairá de podre" Mas, dialeticamente, poderá criar as condições - com o provável acirramento da luta de classes em 8m#ito mundial 9 para colocar em relevo o protagonismo do proletariado e, a depender de certos %atores, in%luenciar positivamente a correlaço de %orças, a#rindo possi#ilidades para o avanço da luta pela superaço do capitalismo, na perspectiva do socialismo"  Apesar da diminuiço relativa e gradual de sua hegemonia econ:mica, cultural, pol'tica e ideol$gica, os E2A ainda det!m a hegemonia militar inconteste, o que lhes permite continuar como o p$lo mais importante num mundo cada vez mais multipolar, ainda que no campo capitalista" .o caso da América Latina, o imperialismo norte-americano é altamente hegem:nico

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O legado marxista e a luta poltica na Amrica LatinaIvan Pinheiro *Em primeiro lugar, agradecer o honroso e irrecusvel convite para participar deste importante seminrio, que se prope a trazer o legado de Marx para coloc-lo a servio da luta de classes, em especial na Amrica Latina, e no apenas para uma discusso meramente acadmica ou diletante.

A vasta obra de Marx e Engels a principal contribuio para ns revolucionrios entendermos a natureza do capitalismo e identificarmos os aliados e inimigos de classe do proletariado, levando em conta a conjuntura e a correlao de foras, em cada poca, em cada pas. Conhecendo nossos inimigos e aliados, luz dos ensinamentos de Marx, podemos acertar mais do que errar, na luta para destruir o estado burgus e emancipar o proletariado.Do ponto de vista da ao, das contradies do capitalismo e da luta poltica, podemos afirmar que o MANIFESTO DO PARTIDO COMUNISTA, que Marx compartilhou com Engels h 163 anos, continua to atual quanto fundamental como contribuio aos partidos que lutam pela revoluo socialista.Marx est vivo quando se confirmam suas anlises de que o capital extrapolaria seus limites nacionais, assumindo dimenso mundial e aumentando, quanto mais senil, suas tendncias destrutivas frente humanidade. Nunca foram to expressivas e inconciliveis as contradies entre a apropriao privada do capital e o carter social da produo e portanto to agudas as crises cclicas de superproduo, agora com caractersticas estruturais, em que no se distinguem, temporalmente, ciclos, mas novas manifestaes de uma mesma crise sistmica. Trata-se de uma crise global, que Jorge Beinstein chama de crise da civilizao burguesa, multifactica, em que os EUA esto no epicentro. Trata-se de uma crise do modo de produo capitalista.A CRISE DO CAPITALISMO:

A crise sistmica do capitalismo gera necessidades cada vez maiores de reproduo do capital. Disputas de mercados, escassez de fontes energticas e recursos naturais atiam as contradies inter-burguesas e empurram o imperialismo para novas aventuras militares. Estamos assistindo guerras imperialistas no Iraque e no Afeganisto, e agora na Lbia, e as tentativas de se abrirem novos focos de conflito, como no Ir, na Sria, na Coria do Norte, alm da continuidade da ocupao palestina.

Para tentar sair da crise, o capital saqueia os cofres pblicos para salvar banqueiros e oligoplios; ataca os direitos sociais e trabalhistas, diminui a qualidade dos servios pblicos; aprofunda a explorao e a barbrie, a fome e a misria. Para tal, recrudescero a criminalizao e a represso aos movimentos sociais e s organizaes populares e revolucionrias.

Esta crise, apesar de seus elementos estruturais, no , por si s, a crise final do capitalismo, que no cair de podre. Mas, dialeticamente, poder criar as condies - com o provvel acirramento da luta de classes em mbito mundial para colocar em relevo o protagonismo do proletariado e, a depender de certos fatores, influenciar positivamente a correlao de foras, abrindo possibilidades para o avano da luta pela superao do capitalismo, na perspectiva do socialismo.

Apesar da diminuio relativa e gradual de sua hegemonia econmica, cultural, poltica e ideolgica, os EUA ainda detm a hegemonia militar inconteste, o que lhes permite continuar como o plo mais importante num mundo cada vez mais multipolar, ainda que no campo capitalista. No caso da Amrica Latina, o imperialismo norte-americano altamente hegemnico e o inimigo principal dos povos da regio. Reconhecer isto no significa alimentar iluses de escolhermos outros imperialismos, como se as contradies entre eles fossem significativas. Os trabalhadores passaram as duas ltimas dcadas do sculo passado numa luta passiva, em funo da avassaladora hegemonia do imperialismo, sobretudo o norte-americano. A desagregao da URSS teve um impacto arrasador, na medida em que deixou de ser um campo em que as foras progressistas e revolucionrias podiam obter apoio e que o mundo deixou de ser bipolar.

No entanto, os trabalhadores vm aumentando a sua combatividade e os povos do Oriente Mdio e do Norte da frica se levantam contra tiranias, o imperialismo e o sionismo. Em vrias partes, os trabalhadores retomam suas lutas e se colocam como vanguarda alternativa na luta de classes.A CORRELAO DE FORAS NA AMRICA LATINAA Amrica Latina uma das regies do mundo em que a resistncia retomou com mais fora, apesar da heterogeneidade dos processos de mudana. Neste sculo, at por volta de 2008, as foras populares e anti-imperialistas contabilizavam mais avanos que retrocessos, sobretudo aps a grande vitria do povo venezuelano, no fracassado golpe contra Chvez em 2002, talvez a primeira derrota golpista dos EUA na regio.Cuba no ficaria mais sozinha na luta contra o imperialismo. Sob a influncia dos avanos na Venezuela, vieram as vitrias de Evo Morales, na Bolvia, e de Rafael Correa, no Equador.

Nesses trs pases, em que os processos de mudanas so os mais avanados, conseguiu-se, a partir de presso popular, a convocao de Assembleias Constituintes livres e soberanas, que abriram espaos para avanos progressistas.Num patamar intermedirio, foram importantes neste perodo as vitrias da FSLN, na Nicargua, e da FMLN, em El Salvador, e a manuteno da Frente Ampla no governo uruguaio.

Os governos dos Kirchner na Argentina, Michele Bachetel no Chile, Lula no Brasil e Lugo no Paraguai, com coligaes heterogneas, derrotaram foras reacionrias em seus respectivos pases. No entanto, no nvel macroeconmico e poltico, suas aes foram sempre no sentido de ampliar os interesses da burguesia de seus pases, aumentando a presena e a explorao capitalista na regio, contribuindo, assim, para uma afirmao burguesa no aparato de Estado. As maiores vitrias desta fase foram o enterro da ALCA em Mar Del Plata, a reeleio de Chvez, a retirada da base norte-americana de Manta, no Equador, e a vitria de Evo Morales no referendo revogatrio. A maior derrota foi o no no referendo constitucional na Venezuela, em dezembro de 2006. Todavia, importante registrar o crescimento das lutas dos trabalhadores, dos grupos tnicos e da reafirmao da cultura originria em grande parte da Amrica Latina.O imperialismo estadunidense, percebendo que iam longe demais as mudanas onde considera seu quintal, retoma com intensidade a presso sobre a regio. Voltam-se, com interveno poltica e aparato blico, suas aes para a Amrica Latina, sobretudo para a regio andina. Trata-se de tentar, no plano ttico, frear o processo de mudanas e, no estratgico, consolidar e expandir o controle sobre as riquezas naturais do continente, que so imensas. Alm do petrleo e do gs, a Amrica do Sul tem as maiores reservas de gua potvel e de biodiversidade do planeta: ao norte, a Amaznia; ao sul, o Aqfero Guarani.

Uma das principais tticas utilizadas pelo inimigo foi estimular o separatismo, escolhendo cidades dominadas politicamente por setores burgueses de maior acumulao e que j tm rivalidades antigas com as capitais: Zulia (Venezuela), Santa Cruz de La Sierra (Bolvia) e Quaiaquil (Equador).

No toa que a Quarta Frota da Marinha de Guerra dos EUA voltou a operar no nosso continente, aps mais de 60 anos de inatividade.

Marco importante desta ofensiva ianque foi o assassinato do Comandante Raul Reyes, pelo consrcio poltico/blico representado pelos EUA/Colmbia, num ataque terrorista ao territrio do Equador, cujo Presidente no se acovardou e resolveu defender a soberania de seu pas. Ali se tratava de paralisar as trocas humanitrias na Colmbia, que poderiam criar um clima favorvel a uma negociao poltica a respeito do conflito armado.

A satanizao da insurgncia colombiana e a interrupo das trocas humanitrias, estas poca lideradas por Chvez e a Senadora Piedd Crdoba, criam as condies para a instalao de mais sete bases militares na Colmbia.

O golpe em Honduras parte importante da luta contra o fortalecimento da ALBA e a recuperao, como aliado dos EUA, de um pas que tem uma das maiores bases da Amrica Central (Sotto Cano) e que se localiza estrategicamente entre a Nicargua e El Salvador. Depois veio o aproveitamento do terremoto no Haiti e a cumplicidade do governo da Costa Rica, para o imperialismo instalar mais tropas nesses pases. parte deste esforo para estancar as mudanas e atingir a ALBA a recente tentativa de golpe no Equador.No Paraguai, j sabamos das dificuldades que teria Lugo, se efetivamente quisesse promover as mudanas prometidas. Foi eleito como expresso de um movimento de massas dbil, na esperana de derrotar os conservadores que governavam o pas havia 41 anos e ainda esto no poder. Tendo passado mais da metade de seu governo, o movimento de massas no teve foras para empurrar as mudanas e tudo indica que o Presidente se entregou direita e ao imperialismo, aceitando um pacto com a classe dominante para no ser derrubado por um golpe. Lugo j no governa. Espera apenas acabar seu mandato.

OS PRINCIPAIS INIMIGOS DO IMPERIALISMO NA AMRICA LATINACUBADificilmente teria avanado tanto o processo de mudanas na Amrica Latina se no fora o exemplo da cinqentenria Revoluo Socialista de Cuba, que mostrou a possibilidade de as classes dominadas enfrentarem e derrotarem o imperialismo e escolherem seu prprio destino.

Na dcada de 90 do sculo passado, aps o colapso da URSS, Cuba passou por dificuldades econmicas que exigiram o sacrifcio do perodo especial, uma vez que mais de 80% do seu comrcio dava-se com a URSS e o Leste Europeu. Novas medidas polticas e econmicas foram adotadas para enfrentar tal situao, no sentido de prosseguir com a efetivao do socialismo, apesar do agravamento do cruel bloqueio que hoje j dura mais de 50 anos.

O surgimento dos processos de mudana na Amrica Latina, sobretudo o da Venezuela, deu um novo alento e respaldo Revoluo Cubana.Claro est que o processo de construo do socialismo em Cuba extremamente complexo e vive um momento de grandes dificuldades. O maior desafio do povo cubano justamente manter firme a deciso de seguir construindo sua experincia de socialismo.

Tudo indica que as medidas propostas pelo governo refletem as necessidades geradas pelo processo histrico atual. Rejeitamos as anlises que do como inevitvel em Cuba o retrocesso ao capitalismo, como querem fazer ver os idelogos representantes da burguesia e do imperialismo, que por inmeras vezes j anunciaram a morte do socialismo cubano. Ao mesmo tempo, consideramos justas as preocupaes, no campo revolucionrio, quanto aos riscos de se abrirem brechas para a incidncia da mais-valia. imperioso seguirmos solidrios ao povo, ao governo e ao Partido Comunista Cubano e ao caminho revolucionrio que os cubanos escolheram e desenvolveram a partir de 1959. O povo cubano quem melhor saber dizer como enfrentar seus problemas e continuar encontrando, com a coragem, a obstinao e a criatividade que lhe so peculiares, as sadas para a manuteno e o aprofundamento das conquistas obtidas no processo de construo da sociedade socialista.

A luta pelo fim do bloqueio e pela libertao dos Cinco Heris parte da principal pauta dos revolucionrios de todo o mundo.

VENEZUELA

A queda da Venezuela arrastaria inexoravelmente as esperanas dos povos da Amrica Latina. Seu triunfo, entretanto, pode mudar o curso da histria. (Fidel Castro)Alm de Cuba, o governo venezuelano hoje, em nosso continente, o principal inimigo do imperialismo, pela inspirao a processos semelhantes em outros pases, aos quais presta efetiva solidariedade poltica e material; pela defesa de Cuba Socialista e parceria com ela; pela contribuio decisiva para inviabilizar a ALCA e implantar a ALBA; por ter avanado mais em mudanas institucionais e estruturais; por ter resistido a vrios golpes; por ter criado uma mdia alternativa burguesa; por ter as reservas minerais mais importantes da regio andina e por ter uma relao superior de respeito aos interesses dos trabalhadores em sua marcha a caminho do socialismo.At dezembro de 2006, com a derrota no referendo constitucional, a revoluo bolivariana tinha uma trajetria ascendente, com grandes vitrias, como o golpe miditico (2002), o lockout petroleiro (2003), o referendo revogatrio (2004) e a reeleio de Chvez (2006).

A nica derrota da revoluo bolivariana teve como principal causa o erro de tentar decretar o socialismo atravs de um referendo de uma proposta de reforma constitucional, redigida previamente e apresentada pelo Presidente Chvez e no por subscrio popular, sem uma ampla discusso prvia entre as massas. Mas a derrota teve a virtude de colocar em evidncia todos os problemas da revoluo.

Mas apenas os erros tticos e a ao dos agentes do imperialismo no seriam capazes de derrotar o governo, que contava com quase dois teros do eleitorado. Metade dos eleitores do governo se absteve no referendo, dando vitria direita. a correta anlise desta absteno que pode ou no ajudar a retomada e o avano da revoluo, a depender do enfrentamento de problemas no resolvidos at hoje.

Saltam aos olhos as duas principais causas da absteno: a traio de setores vacilantes, oportunistas e at contrarrevolucionrios que gravitam em torno do governo e o recado de setores populares, insatisfeitos com os rumos e o ritmo da revoluo bolivariana, o chamado voto castigo. Um quadro parecido, apesar de no to dramtico, se deu recentemente nas eleies parlamentares, em que a direita teve um desempenho acima da esperada, elegendo mais de 40% do parlamento.A situao da luta de classes na Venezuela caminha para um confronto, que poder resvalar para a violncia, em face da notria impossibilidade de conciliao entre projetos to antagnicos. Ao que tudo indica, este desempate se dar aps a realizao das eleies presidenciais, em 2012. No ser uma simples eleio a que estamos acostumados na democracia burguesa tradicional, no campo do chamado jogo democrtico, da alternncia de poder.Se Chvez perder, no ser para setores de esquerda, mas para a direita ligada e financiada pelo imperialismo, que revogar todos os avanos e acabar com a ALBA. A repercusso na Amrica Latina (e no mundo) seria desastrosa, um retrocesso muito grande, sem qualquer comparao, por exemplo, com a derrota de Bachelet no Chile.Por isso, contribuir para a vitria de Chvez ser um desafio para toda a esquerda conseqente da Amrica Latina. Por mais que algumas foras de esquerda, como o PCB, tenham restries a alguns aspectos da revoluo bolivariana e no sejam chavistas, esta ser uma das principais batalhas em 2012. Esperamos que o papel da classe trabalhadora na defesa de seu projeto seja o elemento central da vitria de Chvez.Sem dvida, nos doze anos de Revoluo Bolivariana produziram-se grandes avanos, como melhores indicadores sociais a partir das diversas Misiones, a construo ainda que limitada de mecanismos de poder popular, a nacionalizao da PDVSA e de alguns monoplios privados, o fortalecimento do papel do Estado no setor financeiro e na poltica monetria e cambial. Valorizamos tambm grandes avanos na conscincia anti-imperialista e mesmo anticapitalista de amplas camadas populares.

So inegveis as evidncias de que o Presidente Chvez est honestamente convencido da necessidade de construir o socialismo, mesmo cercado por um entourage heterogneo em que, ao lado de socialistas, pontificam contrarrevolucionrios e corruptos. Tm um grande peso na direo do Estado setores da chamada boli-burguesia e fundamentalmente da pequena burguesia, que no tm interesse em mudanas revolucionrias.

Por isso, no podemos fechar os olhos a alguns fatores que podem levar a retrocessos e at mesmo derrota do processo de mudanas, com a volta ao governo dos crculos direitistas associados ao imperialismo contribuindo para o massacre do projeto popular.A economia venezuelana continua sendo basicamente petroleira, sem avanos na diversificao e na substituio de importaes. Trata-se de um pas basicamente importador, inclusive de alimentos, com alta dependncia tecnolgica. No tm sido desenvolvidas a contento, por outro lado, as iniciativas governamentais como as empresas de produo social, as cooperativas e pequenas empresas. Nas novas empresas criadas pelo governo e naquelas que foram estatizadas, a participao dos trabalhadores insuficiente e formal. Em algumas, a direo foi apropriada por gerentes corruptos e ineficientes. A no participao dos trabalhadores na gesto dessas empresas pode gerar um ciclo de capitalismo de Estado.

Em resumo, para avanar na perspectiva socialista, a atual fase, que o PCV define como social-reformista, patritica e progressista s poder ser superada por uma nova correlao de foras em que setores populares e revolucionrios, liderados pela classe operria, alcancem um nvel necessrio de conscincia, unidade, organizao e mobilizao que lhes permitam impor sua hegemonia.

BOLVIANa Bolvia, h um fator que tem dado boas condies de governabilidade ao governo popular. Evo foi eleito de baixo para cima, no contexto de grandes mobilizaes, como as Guerras do Gs e da gua, que haviam derrubado trs presidentes burgueses.

Com a vitria no referendo revogatrio de agosto de 2008, evitou-se, pelo menos por agora, o separatismo de Santa Cruz e um golpe de direita que estava em curso. O Presidente saiu fortalecido, consagrado em meio ao seu mandato, em referendo convocado por ele prprio, com 67% dos votos, 14% a mais do que quando foi eleito em 2005. Mas preciso ficar claro que quem derrotou o golpe e o separatismo foram as massas e que o processo no est imune a retrocessos, sobretudo se limitar-se aos aspectos culturais e democrticos, que so importantes, mas no decisivos na luta de classes.Uma grande virtude do processo boliviano a tradio de luta e de unidade da COB (Confederao Operria Boliviana).

EQUADORComo na Venezuela e na Bolvia, a mdia burguesa o maior partido de oposio, coadjuvado pelas associaes empresariais, partidos conservadores, a cpula da igreja catlica e ONGs financiadas pela USAID, sob a direo da embaixada norte-americana.

Rafael Correa, apesar de limitaes, promoveu algumas mudanas. Comeou com uma auditoria da dvida externa, que reconheceu apenas 30% do total at ento cobrado pelos credores. A partir da presso popular, efetivou-se uma Constituinte livre e soberana, independente do parlamento, propiciando uma nova constituio (promulgada em julho de 2008) avanada em termos de direitos sociais. Importantes medidas de Rafael Correa foram a determinao de retirada da base militar dos EUA e a integrao de seu pas ALBA. Correa tambm vem estatizando gradualmente a indstria petroleira, com a criao de um novo marco regulatrio, em que o Equador retoma sua soberania sobre parte de suas riquezas e usufrui de seus rendimentos. Todavia, o governo Correa tem que sair do marco personalista, passando a agir em consonncia com os trabalhadores do Equador, para que possa enfrentar o imperialismo e a burguesia e implementar uma sada progressista e popular.BRASIL: A POLTICA EXTERNA PRAGMTICANa Amrica Latina difcil um comunista se dizer oposio a Lula e a Dilma. compreensvel. No imaginrio da esquerda latino-americana, Lula socialista e sua poltica externa parece anti-imperialista.

O Brasil a oitava economia capitalista do mundo. No plano poltico, as lideranas burguesas dividem-se entre as que, de um lado, defendem um Estado promotor de polticas compensatrias e incentivador de um desenvolvimentismo capaz de acelerar o crescimento capitalista e pretensamente resolver as desigualdades sociais atravs do ciclo virtuoso da produo, emprego, consumo e aquelas que, de outro, defendem a ampliao das polticas neoliberais, com mais retirada de direitos dos trabalhadores, mais privatizao, mais dependncia ao capital financeiro internacional.

Os governos petistas representam os setores desenvolvimentistas da burguesia, que querem se expandir e competir no mercado externo, o que pressupe algum grau de autonomia, no conflitiva, com os interesses norte-americanos.

Navegando entre as contradies interburguesas e interimperialistas, a poltica externa brasileira coerentemente pragmtica. Ao mesmo tempo em que aceita liderar as tropas da ONU que ocupam o Haiti, a pedido de Washington, ajuda Chvez a vencer o golpe petroleiro e Evo ao golpe separatista.

Com sua eficiente diplomacia, o capitalismo brasileiro vai ganhando mercados. Aos olhos de Washignton, Lula se apresentava como uma alternativa moderada ao radicalismo de Chvez e Evo Morales; aos olhos da esquerda latino-americana, se apresentava como aliado, mas que cobra um preo alto pela solidariedade: o aproveitamento de oportunidades na busca de mercados. E o estado brasileiro, principalmente atravs de bancos pblicos, que alavanca as grandes empreiteiras e monoplios multinacionais de origem brasileira a invadirem e crescerem em vrias partes do mundo, sobretudo na Amrica Latina.

Quando o governo brasileiro ajuda a inviabilizar a ALCA ou lidera a criao da UNASUL (Unio das Naes Sul-Americanas) devemos saud-lo, pois isto objetivamente contraria os interesses dos EUA. Mas no esqueamos o outro lado da questo: o Brasil um contraponto capitalista ao movimento de integrao anti-imperialista da regio, representado pela ALBA.

A esquerda no pode conciliar e deixar de marcar diferenas com Lula e Dilma, que governam fundamentalmente para o capital, tanto na poltica externa como na interna. A tarefa principal dos governos petistas destravar o capitalismo, custe o que custar, depredando o meio ambiente e reduzindo os direitos trabalhistas, inclusive com a cooptao de setores do movimento sindical e popular. Alis, o governo Lula jogou papel importante para cooptar e degenerar a CUT, uma central que j foi combativa, afastando da luta anticapitalista e anti-imperialista na Amrica Latina um enorme contingente de trabalhadores.Com Dilma, a poltica externa ainda tende a uma inflexo, cujos sinais so as crticas ao Ir, as mudanas nos quadros dirigentes do Ministrio de Relaes Exteriores, a absteno cmplice na agresso imperialista Lbia e, sobretudo, a vergonhosa recente visita de Obama ao Brasil.A vinda do presidente dos EUA ao Brasil foi um gesto forte que marcou um claro movimento de estreitamento das relaes entre os dois pases. Obama foi o primeiro estadista estrangeiro a visitar o Brasil aps a posse de Dilma. Mas no foi uma visita qualquer.

O governo brasileiro montou um palanque de honra para Obama falar ao mundo, em especial Amrica Latina, para ajudar os EUA a recuperarem sua influncia poltica e reduzir o justo sentimento antiamericano que nutre a maioria dos povos. Nem na ditadura militar, um presidente estadunidense teve uma recepo to espalhafatosa como a que Dilma lhe ofereceu.

Em verdade, o Brasil esteve trs dias sob interveno do governo ianque, que decidiu tudo sobre a passagem de Obama pelo pas. Passamos pelo vexame de agentes da CIA revistarem Ministros de Estado brasileiros, em eventos da visita.No caso da Amrica Latina, foi um gesto de solidariedade aos EUA em sua luta contra os processos de mudana, sobretudo na Venezuela, Bolvia e no Equador.

A moeda de troca foi um mero aceno norte-americano pretenso obsessiva do Estado burgus brasileiro de ocupar uma cadeira permanente no Conselho de Segurana da ONU, um smbolo para elevar o Brasil categoria de potncia capitalista mundial.

Enganam-se os que pensam que existe contradio entre a poltica externa do governo Lula e a de Dilma, ambas fundamentalmente a servio do capital. Trata-se agora de uma inflexo pragmtica. Aps uma fase em que o Brasil expandiu e consolidou seus interesses comerciais em novos mercados como Amrica Latina, frica, sia e Oriente Mdio, a tarefa principal agora dar mais ateno aos maiores mercados do mundo, para cuja disputa segmentos da burguesia brasileira se sentem mais preparados.

O governo brasileiro, durante os trs dias em que Obama presidiu de fato o Brasil, no fez qualquer gesto ou apelo aos EUA, sequer de carter humanitrio, pelo fim do bloqueio a Cuba, o desmonte do centro de tortura em Guantnamo, a criao do Estado Palestino, o fim da interveno militar no Iraque e no Afeganisto.

Debochando da soberania brasileira, Obama ordenou os ataques militares contra a Lbia a partir do territrio brasileiro.

Os principais objetivos da vinda de Obama ao Brasil foram as reservas petrolferas do pr-sal e a licitao para a compra de avies militares.

Cada vez fica mais claro que, no caso brasileiro, o imperialismo no apenas um inimigo externo a combater, mas um inimigo tambm interno, que se entrelaou com os setores hegemnicos da burguesia brasileira. O pacto Obama/Dilma refora o papel do Brasil como ator coadjuvante e scio minoritrio dos interesses do imperialismo norte-americano na Amrica Latina, como tristemente j indicava a vergonhosa liderana brasileira das tropas militares de interveno no Haiti.

COLMBIA: OUTRA GRANDE DISPUTA!O imperialismo sabe que no haver paz na Colmbia e, quem sabe, na Amrica Latina, sem o reconhecimento do carter beligerante e poltico das FARC. Sabe tambm que a soluo no poder ser estritamente militar, pois o conflito colombiano antes de tudo poltico, econmico e social. O imperialismo tambm precisa derrotar a insurgncia, para que no sirva de exemplo. No podemos esquecer que no so convencionais, mas insurgentes, as foras que resistem ao imperialismo na Palestina, no Iraque e no Afeganisto. Foras armadas convencionais no resistem aos ataques areos das grandes potncias imperialistas. Dependendo dos desdobramentos da crise do capitalismo, nenhuma forma de luta poder ser descartada. O direito dos povos rebelio poder se transformar em dever.Mas como difcil vencer a insurgncia militarmente, no s pelo aspecto blico como tambm por seu histrico enraizamento no povo colombiano, o imperialismo a sataniza como narcoterrorista, tentando isol-la, inclusive de setores reformistas da esquerda latino-americana, preocupados com a sua votao na prxima eleio.

Mas se no pode derrotar a guerrilha, no interessa ao imperialismo o fim do conflito colombiano, para justificar a luta contra o narcoterrorismo, que usa como pretexto para criar mais bases na Colmbia e arredores. A Colmbia est para a Amrica Latina como Israel para o Oriente Mdio. um dos principais receptores de ajuda militar norte-americana. E as FARC no podem entregar suas armas e descer as montanhas, sob pena de um novo extermnio, como nos anos 90, em que 5.000 militantes da Unio Patritica foram assassinados pelo estado colombiano, aps a assinatura de um acordo de paz com a guerrilha para que esta se transformasse num partido poltico legal!Para forar o estado colombiano a reconhecer o contedo poltico, econmico e social do conflito, devemos lutar muito para que a UNASUL chame para si a iniciativa de viabilizar o incio de um processo de negociao poltica, para a qual a liderana do Brasil fundamental.

As FARC so um fator de resistncia ocupao imperialista da Colmbia e, porque no dizer, da Amaznia.

Para avanar nas mudanas sociais na Amrica Latina e evitar guerras e retrocessos, alm da necessidade decisiva de elevar o empenho e a organizao dos trabalhadores na luta de classes, h uma tarefa importante: derrotar o principal brao do imperialismo norte-americano em nosso continente, o estado terrorista da Colmbia. REFORMA OU REVOLUO?A crise deveria enterrar as iluses dos que ainda consideram possvel humanizar o capitalismo. No h mais, como na poca de ouro da socialdemocracia, anis para a burguesia dar aos trabalhadores para no perder os dedos. Alis, no final do sculo passado ela j os havia tomado de volta, aproveitando-se da queda da Unio Sovitica. parte importante das tarefas dos revolucionrios o combate sem trgua e conciliao aos reformistas, to bem definidos por Eustoquio Contreras, em seu livro "Princpios e Valores do Processo Revolucionrio": "O reformismo uma corrente poltico-partidria favorvel a mudanas graduais e no acredita em mudanas revolucionrias. Ideologicamente os reformistas so pessoas comprometidas com determinados interesses, aos quais defendem diante da possibilidade de serem afetados por qualquer mudana radical. Os reformistas se esforam para conter as lutas revolucionrias aplicando uma artificial poltica de conciliao entre as classes com interesses opostos. O reformista colaborara com a burguesia na implementao de reformas parciais, que no afetam os seus interesses de classe, enquanto enganam as classes exploradas com a promessa de reformas, que iro gradualmente resolver os problemas dos oprimidos e explorados."

Marx, na obra O 18 Brumrio de Lus Bonaparte, j afirmava que o carter peculiar da social-democracia resume-se no fato de exigir instituies democrtico-republicanas como meio no de acabar com dois extremos, capital e trabalho assalariado, mas de enfraquecer seu antagonismo e transform-lo em harmonia. Segundo Marx, a social-democracia surge na Europa visando promover a transformao da sociedade por um processo democrtico, porm, uma transformao dentro dos limites da pequena burguesia.

No h tambm mais espao, no capitalismo cada vez mais globalizado, para iluses nacional-desenvolvimentistas ou nacional-libertadoras, baseadas em alianas dos trabalhadores com as chamadas burguesias nacionais. Mesmo nos pases em que o desenvolvimento das foras produtivas se processa em ritmos mais lentos que nas naes de capitalismo avanado, as contradies de setores minoritrios das burguesias nacionais com o imperialismo so residuais, at porque dependem cada vez mais do grande capital e dos monoplios.Na fase imperialista do capitalismo, ainda mais em meio sua maior crise, a hegemonia no Estado burgus pertence aos segmentos associados aos grandes monoplios. Quem manda so os grandes capitalistas ligados aos bancos, agronegcio, exportadores de matria prima, grandes indstrias.Cada vez mais se acentuar no mundo a contradio entre o capital e o trabalho. No apenas nos pases desenvolvidos ou emergentes, como o caso do Brasil, plenamente associado de forma subordinada ao imperialismo. s olhar para pases pouco desenvolvidos, como a Bolvia e a Venezuela, para entender a iluso de alianas com as burguesias nacionais. Vejam a violncia da burguesia boliviana, diante de uma revoluo que no socialista, mas ainda democrtica e cultural, e o dio que nutre a burguesia venezuelana frente revoluo bolivariana.

No estgio atual do capitalismo, e sobretudo em decorrncia de sua profunda crise, se evidenciar cada vez mais a centralidade do trabalho. Esto sendo jogados no lixo da histria todos os mitos construdos pelo neoliberalismo, como o estado mnimo, o livre-mercado e o fim da classe operria.

Ao contrrio do que dizem os profetas do fim da histria e os reformistas, o proletariado aumenta no mundo, em quantidade e qualidade. As camadas mdias se proletarizam. Em todas as partes, sobretudo nos pases desenvolvidos, apesar da atual fragilidade e fragmentao do movimento operrio e sindical, h grandes possibilidades de a luta de classes se intensificar.

Outra iluso reformista a ser combatida a iluso de transio ao socialismo apenas pela via institucional.

Marx, inspirado na rica experincia da Comuna de Paris, chamava a ateno para a impossibilidade de uma transio revolucionria sem a hegemonia poltico-militar do proletariado, um poder popular verdadeiramente democrtico com o objetivo de varrer as instituies do estado burgus e a hegemonia das classes dominantes.

A tomada do poder poltico por parte da maioria do povo nunca foi nem ser uma concesso generosa das classes dominantes. O sistema de explorao que funde os interesses das chamadas burguesias nacionais com os do imperialismo no cai de podre nem pelo passar do tempo. Os exploradores no entregam voluntariamente o poder aos explorados, nem mesmo quando setores representativos destes ltimos ganham uma eleio, nos marcos da democracia burguesa. s vezes, so obrigados, a contragosto, a entregar o governo a setores populares, mas estes s alcanaro o poder com lutas muito duras, acumulando foras e golpeando o estado burgus, utilizando-se de mtodos e formas de luta as mais variadas (institucionais e insurgentes), adaptadas s circunstncias, tendo principalmente em conta a correlao de foras entre as classes em luta.

Seja qual for a via da conquista do poder, o caminho ao socialismo s pode ser pavimentado na mobilizao e ao das massas exploradas, sob a direo de uma vanguarda revolucionria.

fundamental, portanto, a luta sem trguas contra todas as formas de reformismo, como as teorizaes sobre os novos sujeitos, o movimentismo (cujo maior exemplo o Frum Social Mundial), marcado pela averso poltica e aos partidos e pelo privilgio de atuao em ONGs e movimentos sociais os quais, em que pese o fato de alguns deles levantarem bandeiras justas, no compreendem a necessidade da luta global pela superao do capitalismo.No nunca demais lembrar a passagem de Marx e Engels, no Manifesto do Partido Comunista:

Os comunistas no se rebaixam a dissimular suas opinies e seus fins. Proclamam abertamente que seus objetivos s podem ser alcanados pela derrubada violenta de toda a ordem social existente.

DE QUE SOCIALISMO FALAMOS? A continuidade e o avano do atual processo de transformaes na Amrica Latina e a possibilidade de ele vir a assumir um carter socialista vo depender principalmente da correlao de foras, do nvel de conscincia, unidade, organizao e mobilizao das massas populares.

correto os revolucionrios participarem dos processos de mudanas que se do em pases como Venezuela, Bolvia e Equador, desde que mantenham autonomia e viso crtica, combinando unidade e luta. Para isto, preciso que os comunistas deixem claro, nesses pases, as limitaes de conceitos de socialismo tais como bolivariano, cidado, do sculo XXI, do bom viver.

Na Ideologia Alem e no Manifesto do Partido Comunista, Marx duela com as adjetivaes do socialismo, todas elas de contedo reformista.Estes adjetivos podem at se adaptar atual fase dos processos revolucionrios nesses pases, mas no ao socialismo. At porque em Nossa Amrica, com exceo de Cuba, no h ainda qualquer revoluo socialista em curso, mas importantes processos de mudanas, que podemos caracterizar como revolues nacionais e democrticas.

necessrio relermos os conceitos que nos legaram Marx, Lenin e outros pensadores a respeito do socialismo, para reafirm-los e os adaptarmos ao mundo contemporneo. Estes conceitos no foram negados na derrota da experincia de construo do socialismo na Unio Sovitica e outros pases do Leste Europeu. Pelo contrrio, continuam atuais. Apesar de o saldo da Revoluo Russa ter sido positivo, ali foram ignorados ou deturpados vrios destes princpios, sobretudo aqueles relativos democracia operria, que levaram hipertrofia e ao esclerosamento do Partido e sua fuso (e confuso) com o Estado e as organizaes de massa.Portanto, no se trata de inventarmos novos socialismos, como se fosse possvel conjugar elementos do socialismo e do capitalismo. Este um terreno pantanoso, em que se adjetivam o substantivo socialismo at como moderno ou democrtico, como se fosse velho ou antidemocrtico.E no haver revoluo socialista se no se comear a desconstruir o estado burgus e os poderes de fato constitudos pela mdia hegemnica, o aparato policial militar, a justia. E a transio ao socialismo s ser assegurada pela instaurao do Poder Popular a democracia direta e protagnica das massas e o estabelecimento de novas relaes de produo, com a supresso da explorao do homem pelo homem. Mas no podemos cair no voluntarismo, deixando de reconhecer as dificuldades por que passam os processos de mudanas na Amrica do Sul. A primeira coisa reconhecermos que ainda no estamos, objetiva e subjetivamente, em situaes pr-revolucionrias. Segundo Marx, a revoluo no se d da noite para o dia e no depende apenas de vontade. um processo com durao de difcil previso e no linear, sujeito a retrocessos. .Esses processos esto atingindo um ponto crucial, que est chegando mais cedo na Venezuela, mas no tardar a chegar na Bolvia e no Equador. Trata-se de um momento de inflexo, em que se apresenta a dicotomia reforma ou revoluo.

H uma certa fadiga nas massas exploradas, pois as mudanas no chegam s relaes entre capital e trabalho. Os trabalhadores so portadores de direitos formalizados na constituio e usufruem da melhoria dos servios pblicos, mas no sentem qualquer mudana mais significativa em suas condies de vida e na distribuio de renda.

Essa uma limitao de revolues nacionais e democrticas hegemonizadas por setores da pequena e mdia burguesia e no pelo proletariado; portanto, reformistas. A maior virtude de processos como estes que tornam evidente a luta de classes, contrapondo os interesses do capital aos do proletariado, dos trabalhadores e de setores das camadas mdias. Isto no ocorre em processos mitigados, de conciliao de classe, como no Brasil, em que os governos e os partidos ditos de esquerda que lhes apiam no mobilizam as massas e no enfrentam ideologicamente o capitalismo.

A maior debilidade desses processos a falta de instrumentos polticos e organizaes de massas que impulsionem as mudanas no sentido da revoluo permanente, verdadeiramente socialista, que v na direo da constituio do duplo poder e da ruptura com o estado burgus.

* Ivan Pinheiro Secretrio Geral do PCB (Partido Comunista Brasileiro)Palestra em seminrio sobre Marx, em Maracay (Venezuela), organizado pela Prefeitura de Girardot, a Frente Alfredo Maneiro e o Movimento Continental Bolivariano.