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    Reitor

    Zaki Akel Sobrinho

    Vice-Reitor

    Rogrio Andrade MulinariDiretor da Editora UFPR

    Gilberto de Castro

    Conselho Editorial

    Andrea Carla DoreCleverson Ribas CarneiroFrancine Lorena CuquelLauro Brito de Almeida

    Maria Rita de Assis Csar Mario Antonio Navarro da Silva

    Nelson Luis da Costa DiasPaulo de Oliveira Perna

    Quintino DalmolinSergio Luiz Meister Berleze

    Sergio Said Staut Junior

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    Edilene Co aci de Lima e Lorena Crdoba

    Coordenao editorialDaniele Soares Carneiro

    Reviso Fabrcio Alberto de Oliveira

    Projeto grfco, editorao eletrnica e capa

    Reinaldo WeberFoto da capa

    Doroteo Giannecchini e Vincenzo Mascio 1995 [1898]: Albm otogrfco de las misiones ranciscanas en la Repblica de Bolivia , La Paz, Banco Central de Bolivia/Archivo y Biblioteca Nacional de Bolivia, otogra a n 36. Legenda original: Los Noctenes y los Chiriguanos que se hallan en litigio entre s, tienen en las manos las fechas y el P.

    Misionero que los apacigua.Reproduzida com a gentil autorizao do Arquivo Franciscano de Tarija, Bolvia .

    Srie Pesquisa, n. 188Coordenao de Processos Tcnicos. Sistemas de Bibliotecas. UFPR

    ISBN 978-85-7335-282-5Re . 626

    Editora UFPR Rua Joo Negro, 280, 2 andar, Centro

    Caixa Postal 17.309Tel.: (41) 3360-7489 / Fax: (41) 3360-7486

    80010-200 - Curitiba - Paran - Brasilwww.editora.u pr.br

    editora@u pr.br2011

    Os outros dos outros: relaes da alteridade na etnologia sul-ameri-

    cana / Edilene Co aci de Lima e Lorena Crdoba (orgs.). Curitiba:Ed. UFPR, 2011.274p.: il., mapas. - (Pesquisa; n. 188)

    ISBN 9788573352825Inclui re ernciasVrios autores

    1. Etnologia Amrica do Sul. 2. Antropologia Amrica do Sul. 3. n-dios da Amrica do Sul. I. Lima, Edilene Co aci de, 1967-. II. Crdoba,Lorena. III. Srie.

    CDD 305.8

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    Agradecimentos

    Agradecemos pro undamente aos autores pelo interesse demonstradono simpsio e pela acolhida da convocatria para colaborarem na colet-nea. Agradecemos ainda aos comentadores do simpsio em Buenos AiresBeatriz Perrone-Moiss (USP) e Philippe Erikson (Paris Ouest-Nanterre)que enriqueceram as apresentaes debatendo sistematicamente as ideiaspropostas e adensando-as com um olhar crtico e comparativo. Philippe,alm disso, aceitou o convite de pre aciar o livro, o que torna nosso agrade-cimento duplo. Tambm agradecemos aos trs pareceristas annimos queencaminharam interessantes e valiosas opinies sobre esta coletnea. Que-remos ainda reconhecer particularmente o generoso e paciente trabalho deLaura Prez Gil e Miguel Carid Naveira, que verteram vrios artigos docastelhano para o portugus. Parte da edio do presente volume oi poss-vel graas ao apoio nanceiro do projeto de pesquisa PICT N 1009-2008,

    outorgado pela Agncia Nacional de Promoo Cient ca e Tecnolgica,da Argentina. Finalmente, agradecemos Editora da UFPR pela possibili-dade de editar este volume em portugus e acilitar sua distribuio.

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    tipicamente sido mais que a designao errada, disposta em meio a ter-mos insultantes emprestados de vizinhos malvados, de um conjunto depessoas arbitrariamente amalgamadas em conjuntos rouxos, de contornosapressadamente de nidos por pesquisadores to ingenuamente abertos aosdiscursos maliciosos de seus guias, como erozmente agarrados a suas in-clinaes essencialistas. Como se a chalaa xeno bica de uns (os vizinhosmediadores) osse conjugada angstia taxonmica de outros (pesquisa-dores, missionrios, agentes governamentais) para criar entidades ctcias,com denominaes alaciosas e discriminatrias. Como se o humor poucoamigvel de uns se aliasse compulso manaca hierrquico-classi catria dos outros para conduzir a um usionamento de etnnimos algumas vezesaceitos, quando con rmados pelo uso; outras vezes rejeitados, quando re-primidos pela indignao poltica; mas sempre aproximativos e, ainda maisrequentemente, problemticos.

    No vamos, de qualquer orma, jogar ora o beb junto com a gua dobanho. Se as antigas designaes deixavam a desejar, as novas no se tor-nam por isso, sistematicamente, pertinentes. Os Mocov riem-se dos es or-os de seus vizinhos Toba de serem chamados Qom, termo que, tambmem sua lngua, signi ca nada mais que ns (Alejandro Martn Lpez,neste volume). Igualmente, pode-se imaginar o olhar irnico que pode-riam ter os outros alantes de lngua pano sobre seus vizinhos desejosos de

    serem chamados de Noke Kuin, termo que se poderia traduzir por os nsde ns (Lima, neste volume). Trans ormar um exnimo em endnimograas a um neologismo politicamente correto nem sempre a panaceia,e resulta mais requentemente na criao de politnimos que retocam a achada das categorias neocolonialistas sem deixar de se apoiar sobre ali-cerces capengas. Dito de outro modo, muitos desses termos tm a vanta-gem de serem acilmente despregados como bandeirolas de reivindicaescontemporneas, mas sua novidade, em vrios casos, se limita ao retoqueda maquiagem do signi cante, sem ter em conta a incongruncia da velha ideia, justa e astuciosamente ironizada por Nicols Richard (2008: 33),ao querer que todo grupo humano deva ter um nome (por que no uma bandeira e um hino)... um s nome, um verdadeiro nome.

    Alm disso, apesar de suas origens duvidosas, e mesmo que sejam ina-dequados em absoluto, os etnnimos tradicionais no produzem menose eitos de real que acabam, s vezes paradoxalmente, por lhes con erir a consistncia que altava no comeo. Que eles combinem melhor com o ve-lho tratamento imperial do que com os novos dados empricos no impede

    os etnnimos de agir sobre aqueles que, de tanto us-los, acabam s vezespor se reconhecerem neles, ou ao menos dar-se por satis eitos. O exemplodos Katukina, namente analisado por Edilene Co aci de Lima (neste

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    ApresentaoRelaes de alteridade na Etnologia sul-americana

    Edilene Co aci de Lima e Lorena Crdoba

    No nal de setembro de 2009 oi realizada na cidade de Buenos Aires

    a oitava edio da Reunio de Antropologia do Mercosul (RAM), sob otema Diversidade e poder na Amrica Latina. Naquela oportunidadepropusemos a organizao de um grupo de trabalho denominado Osoutros dos outros: relaes intertnicas na etnologia sul-americana, oqual teve uma clida recepo: recebemos mais de cinquenta resumos,dos quais trinta oram selecionados para ser e etivamente apresentados. A coletnea rene uma seleo dos trabalhos e etivamente apresentados,buscando ampliar um campo de discusso no muito explorado na Etno-logia Sul-americana 1.

    Em e eito, a partir da temtica proposta, procuraram-se os distintosolhares possveis sobre as representaes e a construo da alteridade na Etnologia Sul-americana a partir de um ponto de vista bem particular. Quan-do se ala em relaes de alteridade e, no Brasil, neste contexto, alam--se mais de relaes intertnicas geralmente se ala de vinculaes entrgrupos indgenas e distintos representantes da sociedade externa: o Estadoem suas diversas acepes, antroplogos, missionrios, militares, programas de desenvolvimento etc. Naquela ocasio, entretanto, propusemo-nos

    a discutir as relaes que os diversos grupos indgenas sul-americanos tmestabelecido entre si, e undamentalmente os conhecimentos antropolgi-cos recprocos derivados dessas mesmas relaes. Ao invs de privilegiar relaes entre ndios e brancos para emprestar a expresso de ErlandNordenskild (2003) , como se as mesmas constitussem um ponto departida dado, inquestionvel, propusemo-nos a analisar as relaes de alte-ridade a partir de outro ngulo, en ocando explicitamente a ateno sobre

    1 preciso en atizar aqui iniciativas anteriores engajadas em propsitos correlatos aos

    nossos. Uma delas, bastante pioneira, o livro organizado por Alcida Ramos (1980), no qualrelaes hierrquicas entre grupos indgenas so abordadas. Outras duas iniciativas mais recentes Franchetto e Heckenberger (2000) e Gallois (2005) alcanam a temtica a partir de um ocoregional o alto Xingu e as Guianas, respectivamente.

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    os jogos de relaes, conexes e trans ormaes entre diversas socialidadesindgenas e, em todo caso, a seguir, ou simultaneamente, levantar a partirdeste conhecimento os diversos modos possveis de articulao (Ramos1980) entre as sociedades regionais, provinciais, nacionais etc.

    De orma pac ca ou no, em virtude de sistemas de intercmbio debens materiais ou imateriais (nomes, cnjuges, tro us, matrias-primas,vinganas, cantos, mitos) ou bem por conjunturas histricas espec cas(guerras, epidemias, migraes, colonizaes), sabido que diversas rela-es, de di erentes pro undidades temporais e espaciais, oram estabeleci-das entre di erentes grupos de indgenas: seja entre vizinhos de di erentesliaes lingusticas seja entre grupos linguisticamente aparentados. Po-demos lembrar, a ttulo de exemplo, a simbiose guerreira dos povos delngua pano (Erikson 1986), o ideal de exogamia lingustica que at poucotempo atrs comandava os casamentos no alto rio Negro (Andrello 2006),os conglomerados regionais marcadamente multitnicos (Arawak, Caribe,Tupi) do alto Xingu (Franchetto e Heckenberger 2000), as relaes hie-rrquicas entre os di erentes grupos do Chaco (Mbaya-Guaycur e Gua-na-Arawak, Caduveo e Chamacoco, Chiriguano e Chan) (Oberg 1948;Susnik 1994; Combs e Villar 2007; Richard 2008), ou ainda as comple-xas relaes piemontinas entre grupos de terras altas (Andes) e baixas(Amaznia, Chaco) (Renard-Casevitz, Saignes e Taylor 1988). O mais in-

    teressante nesses casos como ditas con guraes sociolgicas do lugarmuitas vezes a uma rica etno-etnogra a plasmada em um corpus maisou menos extenso de conhecimentos e discursos sobre a alteridade tnica:pensamos, por exemplo, na interpretao da alteridade tnica na chave zo-olgica, nas atribuies de canibalismo, selvageria ou barbarismo implci-tas em numerosas cosmologias sul-americanas, na gura do chuncho dospovos andinos, no Inca de diversos grupos de lngua pano, nas danasdos chiriguanos para os Chipaya (Fausto 2007; Renard-Casevitz, Saignese Taylor 1988; Combs 2004; Cordeu 2003; Sendn 2010; Calvia 2000;Baumann 1981). Ditos saberes se plasmam em uma multiplicidade de re-gistros como histrias orais, rituais, coreogra as, mitos ou representaesgr cas, assim como em diversos suportes da cultura material (ornamentos,tatuagens, pinturas, jogos de os). Em consequncia, a proposta consistiuem refetir acerca de como essas relaes de alteridade se estabeleceram,se continuam ou no ativas, e como se trans ormam a partir das relaesestabelecidas com o Estado nacional ou outros agentes exteriores, como a ao missionria, militar ou ainda a partir da atuao contempornea de

    planos de desenvolvimento ou de agncias no governamentais. Em lugarde privilegiar as relaes dos grandes blocos monolticos dos brancos edos ndios, propusemos elucidar como operam as associaes intertni-

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    cas no interior dessas macrocategorias orjadas pela imaginao ocidentalobservando os processos singulares mediante os quais as relaes entre odiversos grupos indgenas oram construdas, atualizadas ou modi cadas a partir do avano das rentes de colonizao e do contato com os agentesdas sociedades nacionais.Seguindo estas ideias bsicas que apresentamos os trabalhos divididosem trs grandes blocos temticos. O primeiro, intitulado Guerra, Comr-cio e Redes de Intercmbio, rene cinco artigos. Os trabalhos insistemna anlise da guerra, dos confitos e das trocas negativas que um grupoparticular mantm com um ou mais grupos vizinhos. s vezes os parceirospertencem mesma amlia lingustica (c . Peggion), s vezes a grupos dedi erentes liaes lingusticas que dividem um mesmo territrio (c . Bo-ssert et al.), e em outras oportunidades combinam-se ambas modalidadesde associao (c . Prez Gil). As redes de troca e intercmbio assim estabelecidas podem ser tanto matrimoniais quanto materiais: bens, cnjuges enarrativas correm em sentido duplo (c . Andrade, Cohn, Prez Gil).

    A partir da anlise dos relatos da histria oral, Karenina Andrade ana-lisa as relaes de troca que, atravs da navegao, os Yekuana da bacido Orenoco mantm com outros grupos tnicos, como os Mawiisha, osMaaku, os Sanum e, nalmente, os brancos. De natureza aparentemen-te comercial, esta prtica se plasma em uma rica tradio oral chamada

    wtunn, que resulta de suma importncia simblica para a reproduocotidiana da identidade yekuana. No segundo trabalho, Federico Bossert, Jos Braunstein e Alejandra Si redi propem uma anlise etno-histrica (desde ns do sculo XIX at meados do XX) das relaes intertnicasentre os Nivacl e os Pilag do mdio Pilcomayo (Gran Chaco, Norte da Argentina e Sul do Paraguai). De di erentes amlias lingusticas, mas pr-ximos territorialmente, ambos os grupos oram descritos pela maioria dasontes documentais como inimigos tradicionais at a primeira metadedo sculo XX. Os autores mostram a mudana que ocorre nos vnculosentre ambos os grupos a partir daquele momento e, em particular, comoincide em sua relao mtua a crescente associao com os agentes brancoda regio (negociantes de gado, militares, missionrios anglicanos). Os ci-clos de vingana e guerra endmica so interpretados como uma orma dereproduo social regional que renovava um vnculo de sociabilidade querelativiza a categoria de inimigo e de alteridade. Por sua vez, ClariceCohn investiga o mundo dos Mebengokr tendo como oco as mulherese seu entorno cotidiano. A incorporao de bens e smbolos do outro

    pode apreciar-se particularmente na relao que a mulher mebengokr temcom seus roados, bem como com os produtos cultivados; para isso, a autora examina o polissmico termo kukradja, que expressa as matizes

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    da concepo mebengokr de pessoa, alteridade e di erena. Edmundo Pe-ggion apresenta um trabalho sobre os Tenharim que combina a utilizaode ontes histricas com seus prprios dados etnogr cos. Nele o autorbusca analisar os confitos e alianas que se registram desde o sculo XX at o presente no interior dos grupos denominados Tupi-Kagwahiva. Oautor analisa as disputas guerreiras documentadas, assim como a caa scabeas dos inimigos, associando-as signi cativamente s redes de troca matrimonial entre as metades exogmicas, demonstrando a complexidadeda concepo de alteridade tnica entre tais grupos. Encerrando este bloco,Laura Prez Gil expe a relao que os Yaminawa do alto Juru e do alto rioMapuya (ambos no Peru) estabelecem com outra etnia de lngua pano, os Amahuaca, e tambm com os Ashaninka, alantes de uma lngua arawak. Atravs da anlise de narrativas orais, podemos ver como os Ashaninka so coletivamente eleitos pelos Yaminawa como mediadores das relaescom o mundo dos brancos, enquanto com os Amahuaca as relaes so deoutro teor, j que remetem a um extenso histrico no qual se pode rastreartanto um circuito de confitos guerreiros quanto uma pre erncia por in-tercmbios matrimoniais sistemticos.

    A segunda parte intitula-se Modos de classi cao e etnonmia. Os tra-balhos que a compem tratam o mesmo problema a partir de di erentesngulos: alguns a partir de dados etnogr cos (c . Macedo, Lima), outros

    desde o ponto de vista etno-histrico (c . Combs, Crdoba e Villar), eoutro ainda estabelecendo algumas generalizaes comparativas (c . Gru-pioni). O o comum que perpassa a todos a anlise do jogo varivel dosetnnimos e, num sentido mais geral, da classi cao do prprio em rela-o ao outro. Em chave ortemente relacional, os trabalhos mostram queas denominaes tnicas so indissociveis dos jogos relacionais que cada grupo mantm com o exterior, sejam grupos tnicos vizinhos, inimigos t-nicos, missionrios, instituies estatais, antroplogos etc. As modalidadesdestas mesmas relaes so as que, ao longo da histria, azem com que emcada contexto espec co algumas denominaes tnicas surjam e perdurem,enquanto outras so esquecidas. Em todo caso, ca claro que quando seanalisam os etnnimos e as classi caes h sempre que se ter em conta seucarter genrico, relacional, contextual, assim como sua operao em uma trama varivel de mediaes que refete as diversas experincias de contato.

    Isabelle Combs descreve as denominaes genricas que os indgenasutilizam para quali car mais que classi car seus outros. No Chacoboreal as categorizaes recprocas oram tomadas por verdadeiros etnni-

    mos por diversos agentes externos (missionrios, militares, exploradores,antroplogos), com o resultado previsvel de que com requncia obscure-cem o panorama da classi cao tnica regional. A autora analisa os distin-

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    tos nveis de sentido do termo moro, esboando paralelos com categoriassimilares entre os povos de lngua guarani do Chaco. Lorena Crdoba eDiego Villar analisam as sucessivas estruturas de nominao tnica entreos pano meridionais. A partir de uma anlise de ontes que parte do s-culo XVIII, o trabalho chega at os dados etnogr cos contemporneossobre os Chacobos da Amaznia boliviana, identi cando trs momentoshistricos nos quais o aparecimento ou desaparecimento dos etnnimospano pode pr-se em relao signi cativa com diversas tramas de relaesintertnicas: as sociedades indgenas dos lhanos de Mojos, os missionrios jesutas, ranciscanos e seculares, os bares caucheiros, os militares e exploradores enviados por Espanha e Portugal no contexto colonial e, depois,por Bolvia, Brasil e Peru no contexto das disputas ronteirias entre os es-tados nacionais. Por sua vez, Denise Grupioni apresenta um trabalho com-parativo que abrange di erentes casos desde o noroeste amaznico at oChaco argentino. A partir da anlise dos termos que em di erentes lnguasdenominam de outro, o distante ou o di erente, a autora se pergunta que tipo de relao social se pode in erir da recorrncia do uso de denomi-naes que uncionam como pluralizadores para di erenciar os coletivos.Edilene Co aci de Lima busca analisar a mudana do etnnimo Katukina desde o incio do sculo XX at os atuais Noke kuin (gente verdadeira) delngua pano na Amaznia brasileira. O jogo das mudanas etnonmicas s

    se esclarece luz da relao com os agentes polticos e demais grupos comos quais interagem. As atuais disputas sobre o que constitui o autnticoe o tnico, assim, permitem explicar a busca por uma denominao queproduza unidade e aceitao no mbito pblico e poltico, ainda que custa de diluir as di erenas no interior do prprio grupo o que no se az(ou, ao menos, no ainda) com inteiro sucesso. Finalmente, Silvia Macedoescreve sobre a construo da identidade entre os Waypi dos dois ladosda ronteira Brasil-Guiana Francesa. Atravs de sua prpria experinciade pesquisa, mostra que em regio de ronteira a combinao de mlti-plos critrios de classi cao tnica no matemtica: quem indgena,quem branco, quem indgena brasileiro ou quem indgena da Guiana deve-se analisar a partir de contextos espec cos, os resultadossendo ento variveis.

    A terceira e ltima parte se intitula Figuras de alteridade: mitos, pr-ticas e rituais. Os trabalhos que a compem apresentam uma maior diver-sidade geogr ca, dado que abarcam desde o alto Xingu at o piemonteperuano-boliviano. Os trabalhos descrevem prticas como estas e a utiliza-

    o de elementos rituais espec cos (c . Ferri, Lolli), assim como contex-tos mais cotidianos de praxis social (c . Vanzolini). Em uno da prpria localizao dos casos etnogr cos, dois dos artigos tratam explicitamente a

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    interao entre as populaes das chamadas terras altas e das terras bai-xas (c . Ferri, Sendn). A alteridade vista desde os relatos mticos e a his-tria oral (c . Lpez, Sendn) aporta uma imagem singular dos outros,aqueles com os quais no s se trocam relaes positivas, como alianasmatrimoniais, estividades ou elementos rituais, seno tambm as aesnegativas, como as acusaes de eitiaria (c . Vanzolini, Lolli, Lpez).

    Francis Ferri analisa as di erentes danas que se podem apreciar atual-mente nas estas da cidade de Apolo, situada no piemonte andino do ladoboliviano. Refetindo as tenses de uma zona de ronteira na qual se en-trecruzam o andino com o amaznico, a mesma estrutura ritual e poltica das apolenhas permitem analisar diversos registros que alam do processode construo de uma sociedade multitnica. Assim, durante as estas pa-tronais os diversos grupos de bailarinos mostram diversas coreogra as cuja anlise revela uma dinmica de contato cultural, exogamia lingustica e re-laes intertnicas tanto histricas quanto contemporneas entre os grupostnicos do altiplano e do oriente boliviano. Na sequncia, Pedro Lolli ex-plora as trocas rituais entre os Yuhupdeh e as populaes tucano do igarapCastanha, no noroeste amaznico. Na regio do alto rio Negro, a regra deexogamia lingustica rege a troca matrimonial; entretanto, sabido queessa regra no se aplica aos grupos maku, que aos olhos das outras socieda-des da regio so localizados numa escala in erior na hierarquia regional.

    No entanto, atravs da anlise de uma esta praticada por esses ltimospara seus vizinhos tukano, o autor prope uma visada alternativa sobreesta suposta in erioridade social: os Yuhupdeh so os nicos habitantes da regio que conservam a prtica ritual das fautas de jurupari, a qual lhescon ere um lugar superior na hierarquia em relao a seus vizinhos, ainda que seja na es era simblica-ritual. Alejandro Lpez aborda a relao queos Mocov do Chaco argentino mantm na prtica e no imaginrio socialcom outros grupos chaquenhos. Apresentando ontes do sculo XIX podeapreciar-se uma mudana notria na prtica de trocas negativas e positivasentre os Mocov e os Abipones. Transposto este tempo, este ltimo grupose perde nas ontes histricas, e parece ser reposto pelo auge dos Toba. Na atualidade, para o Mocov os nicos outros so os Toba, condensao da alteridade com a qual devem disputar domnios simblicos (como o xa-manismo ou as prticas evanglicas), polticos (representantes dos partidospolticos, acesso a planos sociais) ou lingustico (acesso ao material escolarem lngua indgena). Ainda que os Toba sejam vistos como aliados nomacrocontexto discursivo do aborgene, sua maior densidade populacio-

    nal os az perigosos competidores pelos recursos estatais. No contexto an-dino, Pablo Sendn analisa o mito dos chullpas (seres do tempo pr-solar)em uma populao quchua do distrito de Marcapata (Cuzco, Peru). Em

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    seguida analisa de modo comparativo outras verses do mito encontradasentre as populaes indgenas do sul peruano e do altiplano boliviano,as quais, consideradas em seu conjunto, compem uma refexo coletiva sobre os dilemas de uma regio de ronteira entre as populaes quchua,agrcolas e pastoris e aquelas outras pertencentes s bordas da foresta. Fi-nalmente, Mariana Vanzolini dedica-se anlise do caso aweti, um povode ala tupi que habita na regio do alto Xingu. Este conglomerado mul-titnico descrito na literatura antropolgica como portador de um tipode moral paci sta, a qual rege as trocas matrimoniais e cerimoniais. A autora prope, entretanto, outro olhar, descrevendo a sociologia implcita em suas acusaes de eitiaria, sugerindo que a noo aweti de pessoase baseia em uma srie de contrastes relacionais (xinguano/no xinguano,parente/no parente, humano/no humano) que no operam segundo umcritrio xo, mas em uno de diversas relaes sociais.

    Para encerrar, a rmamos no incio que o campo de discusso das re-laes intertnicas, no sentido aqui proposto, est pouco desenvolvido na etnologia sul-americana. Esperamos, com essas diversas contribuies, daum passo adiante para suprir essa lacuna. No custa lembrar, entretanto,que o desenvolvimento relativamente baixo da discusso talvez seja devido ao modo particular como trabalham os antroplogos. A pesquisa decampo, a nal, acaba tendo lugar, na maior parte das vezes, em um nico

    grupo. De todo modo, esses mesmos antroplogos di cilmente esquecemuma lio undamental, resumida magistralmente por Lvi-Strauss, diri-gindo-se a um pblico leigo, em que a rma que a diversidade cultural menos uno do isolamento dos grupos que das relaes que os unem. Osartigos que seguem, de di erentes maneiras, pretendem dar conta de expore analisar as relaes que esto em jogo aqui, em um contnuo azer-se daspopulaes indgenas como, de resto, de quaisquer outras.

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    Sumrio

    Mapa com as principais etnias citadas / 21

    Jogando com espelhos: os Yekuana e seus outros / 23Karenina Vieira Andrade

    A guerra intertnica no mdio Pilcomayo (1883-1938) / 39

    Federico Bossert, Jos Braunstein e Alejandra Sifredi Os Mebengokr e seus Outros do ponto de vista das mulheres / 57Clarice Cohn

    Con itos e alianas indgenas no sul do Estado do Amazonas.O caso dos Tenharim do rio Marmelos (Tupi-Kagwahiva) / 71Edmundo Antonio Peggion

    Adversrios e mediadores: os outros dos Yaminawa no processo de contato / 83Laura Prez Gil

    Os moros ruivos, ou a classi cao impossvel / 95Isabelle Combs

    As estruturas da nominao tnica na histria dos panos meridionais / 109Lorena Crdoba e Diego Villar

    Comparando taxonomias sociais amerndias, inves gando noes de gente / 119Denise Fajardo Grupioni

    Quem so os Noke Kuin? Acerca das transformaes dos Katukina (pano) / 135Edilene Cofaci de Lima

    Quais outros? Relaes intertnicas na fronteira, o caso dos Waypi no Brasile na Guiana francesa / 149Silvia Lopes da Silva Macedo

    As mscaras sociotnicas das danas apolenhas (Apolo, piemonte boliviano) / 159Francis Ferri

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    Os Yuhupdeh vistos de outro lugar / 169Pedro Lolli

    O toba no tem amigos: Perspec vas mocov sobre o outro aborgene / 183 Alejandro Mar n Lpez

    Percepes andinas da alteridade: chullpas e chunchus no sul peruano / 197Pablo F. Sendn

    O parentesco perver do: nota sobre a fei aria entre os Awe do Alto Xingu / 211Marina Vanzolini

    Bibliogra a Geral / 225

    Sobre os autores / 263