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Rita Alberto A praxe académica Coimbra 2003

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Rita Alberto

A praxe académica

Coimbra 2003

Rita Alberto

A praxe académica

Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra

Licenciatura em Sociologia

Fontes de Informação Sociológica

Coimbra 2003

Índice

Introdução……………………………………………………………………………….1

Estado das Artes…………………………………………………………………………3

Avaliação de uma página web …………………………………………………………. 9

Ficha de leitura…………………………………………………………………………11

Conclusão….…………………………………………………………………………...13

Referências Bibliográficas……………………………………………………………...14

Anexo I: “A cidade dos estudantes” -página web avaliada

Anexo II: “O fenómeno coimbrão” -texto de suporte da ficha de leitura

Introdução

A Universidade surge como uma conquista “suada” para os que pela primeira

vez nela ingressam. Uma vez chegados ao latíbulo académico, os novatos são

confrontados com um peculiar processo de “arregimentação” na ordem social da

instituição académica – a “praxe”. Ora, este fenómeno, originado em Coimbra, baseado

em relações sociais específicas, com mecanismos próprios, dimensões simbólicas, foi

evoluindo no segmento do tempo, constituindo-se como uma cultura própria desse

grupo que são os estudantes universitários portugueses. Assim, penso ser pertinente um

estudo, que, apresentando uma breve sinopse histórica da “praxe académica” em

Coimbra, aborde este fenómeno sociologicamente (socialização secundária; a

socialização por antecipação, a “normatividade” assegurada por mecanismos de controle

social; o desvio à ordem e as sanções; as estruturas hierárquicas, as relações de poder…)

e esclareça o significado social dessa “tradição” na cidade – natal de Coimbra, e o

significado que os actores sociais conferem à sua acção.

O que implica o hiato de deixar velado um importante aspecto, transversal a toda

a orgânica dos estudantes da Universidade de Coimbra - o aspecto político, que forjou o

movimento estudantil (limitação conceptual). Por explorar ficarão também as

repercussões da proliferação nacional do fenómeno da praxe de Coimbra (limitação

geográfica). Este é um estudo em que há uma dialéctica específica com o local

geográfico, sendo que aí se deve proceder a uma metodologia incisiva, sendo

interessante o uso de técnicas como a observação participante, e a entrevista.

Sabendo a importância das fontes como pilar duma investigação depurada de

parasitas epistemológicos, procurou-se a diversidade das mesmas, no âmbito da

pesquisa documental (ou seja, enquanto fontes secundárias). Na fase de estudos

exploratórios, tentei averiguar que documentos, desde os mais antigos aos mais

recentes, dos oficiais aos menos convencionais, pudessem conter informação sobre o

tema, ou conduzir-me a outros documentos. Assim, consultei livros, revistas, jornais

(impressos), actas de congressos, para averiguar como tem sido tratado o tema da praxe,

e por que entidades.

Não recorri à estatística porque não achei pertinência para o tema. Poder-se-ia

talvez fazer-se uma “quantificação estatística” de estudantes que são a favor da praxe

académica, e dos estudantes que são contra a praxe académica, e contextualizar esses

1

valores nas coordenadas do espaço e do tempo (há mais estudantes praxistas em

Coimbra do que noutro local geográfico? o número de estudantes praxistas têm

aumentado ou diminuído? e averiguar-se-ia as implicações radicais das respostas a estas

perguntas mais “imediatas”); e foi o que tentei procurar no site do INE, mas

improficuamente, pois não há trabalho estatístico neste campo.

Quanto à legislação, para este tema torna-se indispensável analisar o “Código da

praxe” (o “corão” dos estudantes universitários de Coimbra), e seria interessante a

confrontação deste com a “Constituição da República Portuguesa”, ou a “Declaração

dos Direitos do Homem”.

Para melhor clarificar conceitos não será de desprezar o manejo de um

dicionário ou enciclopédia. O tema da “praxe académica” não aparece abordado

directamente num Dicionário de Sociologia, o que não invalida a sua consulta para a

compreensão de conceitos que lhe estão inextrincavelmente associados.

A página da Internet seleccionada para avaliação, contém as primeiras notas de

apresentação de um projecto de investigação sociológica de Elísio Estanque, tendo esta

página o propósito de informar.

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Estado das Artes

As fontes de informação utilizadas foram de tipo documental e institucional.

(Não recorri portanto a fontes pessoais, uma vez que o objectivo principal deste trabalho

é no campo da pesquisa documental).

LIVROS

Os livros são a fonte de informação mais fidedigna, já que são (quanto a critérios

de qualidade descritos pelo professor Paulo Peixoto (2002)): autênticos (os livros

contêm sempre a sua origem: autor, data, fonte, etc), fiáveis (quanto à informação que

contém) e acessíveis (os livros, por serem espólio das bibliotecas públicas, são das

fontes mais acessíveis). Apenas têm a desvantagem de não serem veículo para a

informação mais inédita, de não serem “actualizados”.

Para pesquisar que livros (em suporte tradicional) já foram publicados sobre a

praxe académica, utilizei a base de dados da FEUC (a Porbase). Encontrei alguns livros

sobre o tema. Foi interessante na minha pesquisa, porque alguns dos livros consultados,

conduziam-me a outros livros do mesmo tema.

Caiado, Nuno (1990), Movimentos estudantis em Portugal: 1945-1980. Lisboa:

Cadernos IED.

Cruzeiro, Celso (1989), Coimbra, 1969: a crise académica, o debate de ideias e as

práticas, ontem e hoje. Porto: Edições Afrontamento.

Garrido, Álvaro (1996), Movimento estudantil e crise do Estado Novo. Coimbra:

Minerva Editora.

Grácio, Rui (1995), Obra completa, volume II575 e volume III437, 476, 487. Lisboa:

Fundação Calouste Gulbenkian.

Lamy, Alberto Sousa (1990), A academia de Coimbra: 1537-1990: história, praxe,

boémia, estudo, partidas e piadas, organismos académicos. Lisboa: Rei dos Livros.

3

Lopes, António Rodrigues (1982), A sociedade tradicional académica coimbrã.

Coimbra: s/e.

Notei então que este tema, no que concerne a análises sociológicas, ainda está por desbravar.

REVISTAS

Quanto a revistas e working papers, encontrei (em suporte tradicional) em

algumas revista especializadas de Sociologia, artigos que interessam para a temática da

praxe académica, ainda que por vezes, de modo indirecto.

Frias, Aníbal e Peixoto, Paulo (2001), “Esthétiques urbaines et jeux d’échelles:

expressions graphiques étudiantes et images du patrimoine universitaire a Coimbra”.

Oficina do CES, 162.

Estanque, Elísio e Nunes, João Arriscado (2002), “A Universidade perante a

transformação social e as orientações dos estudantes: o caso da Universidade de

Coimbra”, Oficina do CES, 169.

Cruzeiro, Maria Eduarda (1979) “Costumes estudantis de Coimbra no século XIX:

tradição e conservação institucional”. Análise Social, 60, 795-838.

Nunes, A. Sedas (1968), “A população universitária portuguesa”. Análise Social, 6,

295-385.

Pais, J. Machado (1990), "A construção sociológica da juventude: alguns contributos", Análise Social, 105/106, 139-165.

Prata, Manuel Alberto Carvalho (1993), “A praxe na academia de Coimbra: das práticas

às representações”. Revista História das Ideias, separata do volume 15, 61-176.

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Em suporte electrónico encontrei:

Estanque, Elísio (1989/90), “A cidade dos estudantes: notas para um estudo sociológico

da identidade cultural da juventude universitária de Coimbra”. Revista Via Latina.

Página consultada a 6 de Março de 2003,

<http://www.republicasdeouropreto.hpg.ig.com.br/textos%20novos/08_02/cidade_dos_

estudantes1.htm

Frias, Aníbal (2002), “Les “Repúblicas”d’ étudiants à Coimbra”, Latitudes, 14. Página

consultada a 25 de Maio de 2002,

www.revues-plurielles.org/numero_sommaire.asp?no_revue=17&no_dossier=14 - 5k

Frias, Aníbal (2002) « Le fado de Coimbra, entre tradition et innovation ». Latitudes, 16. Página

consultada a 25 de Maio de 2003,

www.revues-plurielles.org/numero_sommaire.asp?no_revue=17&no_dossier=16 - 5k

JORNAIS

A informação que circula nos jornais sobre a praxe académica, na sua maioria,

são artigos de opinião, em que se emitem juízos de valor sobre esta realidade social,

sendo a realidade sociológica da mesma pouco ou nada abordada.

Pesquisei somente em jornais nacionais. Fui ao arquivo do Jornal de Notícias

http://jn.sapo.pt/arquivo/procura.asp, e, com a equação de pesquisa:

“praxe+universidade+Coimbra”, encontrei vários artigos. Alguns são apenas relatos dos

eventos académicos, outros são considerações sobre a praxe. Os artigos mais

interessantes que encontrei, por abordarem o tema da praxe de uma perspectiva mais

científica, foram: “Carnaval académico”, da autoria de Sérgio Vitorino (2001); e outro

intitulado “Praxes abreviam integração académica”, de Pedro Vila-Chã (2001). De

referir que estes artigos não são facultados integralmente, sendo que o seu acesso total é

pago. Por isso, dever-se-á ir a uma biblioteca (como a Biblioteca Geral da Universidade

de Coimbra) -onde se podem consultar as versões -papel dos jornais, encarando assim

esta pesquisa electrónica como uma primeira fase que facilita o acesso aos artigos

procurados. Ao consultar a versão integral em papel dos artigos, confirmei a qualidade

dos mesmos: do artigo de Vila-Chã (2001) consta o testemunho científico de Rita

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Ribeiro (cuja tese de Mestrado em Sociologia foi sobre a praxe académica); no artigo de

Vitorino(2001) são expostas as opiniões do psicólogo Eduardo Sá e do sociólogo Rui

Santos sobre a praxe.

No “Diário de Notícias”,

http://www.dn.sapo.pt/homepage/pesquisa.asp?codEdicao=699 as notícias mais

frequentes eram as que relatavam casos de abusos da praxe, e suas consequências a

nível da Justiça. Consultei apenas as sinopses dos artigos. Por exemplo: “Aluna poderá

apresentar queixa-crime: a 31 de Janeiro de 2003 depois de ter sido repreendida pela

escola, jovem que denunciou abusos pondera levar caso aos tribunais”. “Regime

disciplinar contra as praxes: a 8 de Janeiro de 2003, Ministério quer nova lei elaborada

por universidades e politécnicos para punir atitudes violentas e abusivas”

FONTES ESPECIALIZADAS

1: TESES

Ao procurar na base de dados da Biblioteca Nacional

(http://sirius.bn.pt/sirius/sirius.exe/queryp) introduzindo a equação de pesquisa “praxe”,

encontrei as seguintes teses, de António Manuel Revez (1999) e de Rita Ribeiro (2001):

Revez, António Manuel Marques (1999), “Dura praxis, sed praxis: relações de poder e

moral na praxe académica da Universidade de Évora”. Tese de mestrado em Sociologia,

especialização em Sociologia do Poder e Sistemas Políticos. Universidade de Évora.

Ribeiro, Rita (2001), “As lições dos aprendizes”. Tese de mestrado em Sociologia.

Universidade do Minho.

Numa pesquisa na base de dados da biblioteca (a Porbase), encontrei outra tese:

Prata, Manuel Alberto Carvalho (1994), “ A Academia de Coimbra: 1880-1926:

sociedade, cultura e política Coimbra”. Tese de doutoramento em Ciências da

Educação (História da Educação). Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação

da Universidade de Coimbra.

6

Na biblioteca da FEUC consultei o inventário de teses de mestrado e

doutoramento em Sociologia, mas a minha busca foi improfícua neste tema.

2: CONGRESSOS E SEMINÁRIOS

Consultei as actas do IV Congresso da Associação Portuguesa de Sociologia, em

formato de CD ROM (que o Professor Paulo Peixoto gentilmente facultou aos seus

alunos), onde consta um artigo de Aníbal Frias sobre a praxe.

Frias, Aníbal (2000), “ «Patrimonialização» da Alta e da Praxe académica de Coimbra”.

Actas do IV Congresso da Associação Portuguesa de Sociologia: Associação

Portuguesa de Sociologia (em CDROM).

Nas actas do I Congresso Português de Sociologia outro artigo, potencialmente

relevante para este tema, sobressai:

Costa, António Firmino; Machado, F. Luís e Almeida, João Ferreira (1990), “Famílias,

estudantes e universidade: painéis de observação sociográfica”. Actas do I Congresso

Português de Sociologia -A sociologia e a sociedade portuguesa na viragem do século.

Lisboa: Editorial Fragmentos.

Durante a minha pesquisa na Internet encontrei as actas do Colóquio “Viver (n)a

cidade”, onde Elísio Estanque escreveu o texto:

Estanque, Elísio (1991), “Coimbra, a cidade de passagem: contribuições para um estudo

sociológico da cultura estudantil universitária Coimbra”. Actas do Colóquio Viver (n)a

Cidade. Lisboa: LNEC/ISCTE. Página consultada a 6 de Março de 2003.

Malogradamente, perdi o endereço desta página, cometendo o erro de não a guardar nos

“bookmarks”.

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Ao consultar as referências bibliográficas da Oficina do CES nº 162, deparei-me

com a referência de outro documento eventualmente pertinente:

Frias, Aníbal (2001), “Les traditions et leurs critiques en France e tau Portugal”. Actas

do Congresso da Associação Portuguesa de Antropologia - “práticas e terrenos da

antropologia”. Lisboa.

3. MONOGRAFIAS

Numa pesquisa na base de dados da Biblioteca Municipal, encontrei as seguintes

monografias:

Casanova, José Luís (1993), Estudantes Universitários: composição social,

representações e valores. Lisboa: Instituto de Ciências Sociais.

Balsa, Casimiro et al (2001), Perfil dos estudantes do ensino superior: desigualdades e

diferenciação. Lisboa: Editora Colibri.

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Avaliação de uma página web

A página:

http://www.republicasdeouropreto.hpg.ig.com.br/textos%20novos/08_02/cidade

_dos_estudantes1.htm, foi a que escolhi para a avaliar.

Esta página é constituída por um artigo de Elísio Estanque (1989/90), retirado da

Revista Via Latina. Segundo os critérios de qualidade expostos pelo professor Paulo

Peixoto (2002), esta pode classificar-se como “boa”.

O autor da página está identificado e contactável (é indicada a instituição para a

qual o autor trabalha, e em nome da qual apresenta os resultados) e é um sociólogo, ou

seja, procede a uma abordagem científica do tema da praxe académica.

A página pertence a um site institucional brasileiro: projecto de reconstrução histórica

das repúblicas estudantis da UFOP. Falha a qualidade desta página por não ter links para

outras páginas do mesmo tema, e vice-versa (pesquisando em modo de “pesquisa

avançada” no Google, nos itens “Localizar páginas semelhantes à páginas” e “Localizar

páginas com link(s) para a página” não foram devolvidos quaisquer registos.) A

informação divulgada nesta página, é úbera em conteúdo, sendo que o nível da

informação corresponde às expectativas da minha procura, sem no entanto se apresentar

demasiadamente elaborada (e potencialmente inacessível). E esta informação é de facto

interessante, contribuindo com algo de inédito para o estudo deste tema.

Nomeadamente, porque responderá a questões como “Porquê uma tão grande adesão

aos rituais académicos e à vida boémia, por parte dos estudantes?” ou “Quais os

aspectos, materiais e simbólicos que mais decididamente contribuem para reproduzir

uma cultura estudantil, supostamente específica de Coimbra?”, e explorará outras,

indirectamente (mas de modo pertinente) relacionadas com o tema. (Abordará, por

exemplo, o ponto da relação entre os estudantes universitários e a sua relação com a

cidade). O autor referirá ainda algumas questões que ficam por explorar.

Curiosamente, esta informação é divulgada por um site brasileiro. Este site

apresenta textos que se referem às realidades brasileira e portuguesa, sendo válida

apenas neste círculo geográfico. O artigo de Elísio Estanque é “centrado na cidade de

Coimbra e em particular na sua juventude universitária”, restrição conceptual essa que

convém a esta minha pesquisa.

9

Embora a informação não seja muito actual (data da década de noventa),

corresponde ainda à informação pretendida. Não encontrei no site a data da última

actualização.

A redacção do documento é clara, acessível e bem estruturada. O autor faz uma

apresentação dos objectivos do seu estudo: a divulgação de um primeiro estudo sobre a

identidade cultural dos estudantes, em que releva a perspectiva dos próprios estudantes,

nomeadamente, o cariz “festivo, as práticas de convívio e a boémia estudantil”, pois crê

constituírem uma dimensão fundamental para a compreensão dos fenómenos culturais e

simbólicos de Coimbra. Seguidamente, o autor vai explanando as conclusões do seu

estudo por itens (item número 1, 2, 3, 4). As fontes do documento são fidedignas, e

estão bem referenciadas. Ao nível mais técnico, o acesso à informação também é de

qualidade. A navegação é fácil, as páginas carregam rapidamente, e o acesso à

informação é gratuito.

O texto de Elísio Estanque, destina-se particularmente à comunidade científica,

já que é “um projecto de investigação sociológica”. Mas também é de compreensão

acessível para o cidadão comum. Já o público-alvo deste site é mais vasto: é de facto a

população estudantil universitária brasileira, contendo “dicas para estudantes”,

“documentos estudantis”, uma “agenda cultural”, entre outras.

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Ficha de Leitura

Lopes, António Rodrigues (1982) “Instituições fundamentais -o fenómeno coimbrão, a

instituição académica, a praxe”, in idem, A sociedade tradicional académica coimbrã -

introdução ao estudo etnoantropológico”. Coimbra: s/e.

Data de leitura: Maio de 2003

Localização: Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra

Assunto: Caracterização da história, da estrutura e do perfil cultural da sociedade

tradicional académica de Coimbra.

Palavras-chave: instituição (académica), praxe, sociedade estudantil, estrutura

Área científica: Antropologia

Neste capítulo, o autor fala da dicotomia geográfica, cultural e política entre a

sociedade tradicional académica e a sociedade “futrica” (a população de Coimbra não

universitária), mostrando a influência da primeira na cidade de Coimbra e na própria

língua portuguesa.

Caracteriza-se a sociedade académica como uma “instituição”, já que um

conjunto de ideias, costumes, práticas comuns aos estudantes universitários, se

cristalizaram em “normas”; normas essas que têm uma permanência bastante estável no

tempo, organizando as relações nesta sociedade, relações essas que assentam em

“vínculos de autoridade” e “elementos ideológicos” (Lopes, 1982: 41), segundo uma lei

(a praxe). As práticas académicas são norteadas por uma “teoria de símbolos”, e pela

vontade consciente de criação de uma auto e hetero-imagem “mística”.

Na sua análise, o autor “decompõe” a realidade académica em três vertentes: a

política (a “praxe”, a Associação Académica, o Conselho de Veteranos, o Conselho de

Repúblicas, são os seus elementos constituintes), a estrutural (a “iniciação”, a

“solidariedade”, o “último acto” e as “reuniões de carro”) e a mitológica (o traje

académico - capa e batina – as latadas, a queima das fitas, e o fado da Serenata).

O autor fará um percurso histórico na definição de “praxe”, auscultando-lhe o

carácter normativo, e a hierarquia na estratificação desta sociedade. A praxe enquanto

elemento jurídico regulador, que evolui do simples direito costumeiro (para o direito

11

imposto. O “Palito Métrico” é uma compilação de memórias, eventos, quotidianos da

vida académica estudantil de Coimbra, contados em verso, que descrevem um padrão

“da vida portuguesa em geral e da académica em particular”. Sem ter um carácter

coercivo, este documento tem já um cariz normativo (através de conceitos como

“caloirologia”, “novatologia” e “praxiologia”, que definiam certos procedimentos em

relação aos estudantes com o grau hierárquico inferior). No Palito Métrico é bem

explícita a estratificação hierárquica, (que se manterá no “Código da Praxe”, excepto

com algumas alterações na nomenclatura), e desta se partirá para os rituais de

“iniciação” do “caloiro”, que corresponde ao seu “processo de aculturação”. Daqui

resultam outras componentes da vida académica, como as sanções, as protecções e os

decretus. A “codificação moderna da praxe” foi feita em 1957, com um carácter

pretensamente inovador, com a promulgação do “Código da Praxe Académica”, uma

compilação de regras de praxar, mantendo a estrutura hierárquica da organização da

sociedade académica, com as mesmas componentes (as “iniciações”, as “protecções”, as

“sanções”), embora algo alteradas. Este código veio apenas sistematizar juridicamente

“uma realidade de normas sociais” (Lopes, 1982: 48), com o intuito de regular as

práticas, e defender a herança tradicional, em busca de um “ordenamento à medida da

sociedade académica” (Lopes, 1982: 49). A praxe estava assegurada pelo seu “corpus”

(a sua prática constante e generalizada) e o pelo seu “animus” (o acreditar da

legitimidade da praxe). Assim, a Praxe é mecanismo jurídico e ideologia do poder

político.

Este texto é uma análise antropológica do fenómeno da praxe académica,

contribuindo assim para um olhar científico sobre este tema, e para uma credibilização

do fenómeno da praxe académica enquanto objecto de estudo. Baseando-se num

trabalho empírico, apoiado pela teoria antropológica (e por alguma teoria sociológica), o

autor explora o significado da praxe para os actores sociais que a praticam, bem como o

seu significado em termos mais latos.

No entanto, necessita de ser complementado com um estudo mais actual, pois

entretanto o fenómeno da praxe já sofreu algumas mutações, nomeadamente, e a mais

visível, a promulgação de novos códigos da praxe, revistos e actualizados (o último,

data de 2001).

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Conclusão

Na elaboração deste trabalho deparei-me com algumas dificuldades

metodológicas. A “praxe académica” é um fenómeno específico de um grupo social, os

estudantes universitários portugueses. Contudo, é um tema pouco tratado

cientificamente, em que apenas os artigos de opinião abundam. De facto, as

perspectivas da Sociologia portuguesa são escassas, e as perspectivas da Sociologia

estrangeira são praticamente inexistentes. Assim, a busca de informação sobre este tema

não foi muito profícua…deparei-me com bastante “silêncio” nas pesquisas efectuadas

na Internet, e tive de recorrer frequentemente a sinónimos para expressões. O grau de

pertinência científica da (pouca) informação encontrada foi quase nulo. Foi impossível

encontrar artigos em revistas internacionais de Sociologia.

Deste “estado das artes”, se conclui que o património teórico sobre a praxe

académica é escasso.

Claro que esta “lacuna” nas Ciências Sociais é uma vantagem para a

investigação, pois sendo um tema por desbravar, poder-se-á analisá-lo de inúmeras

perspectivas sociológicas, em que a “imaginação sociológica” pode actuar plenamente.

Seria por exemplo interessante fazer análises de conteúdo dos gritares académicos,

aplicar entrevistas aos estudantes “praxistas” e aos estudantes “anti-praxe”, proceder a

uma observação – participante dos eventos académicos mais significativos como a

“Recepção ao Caloiro”, a “Latada” e a “Queima das fitas”.

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Referências Bibliográficas

Balsa, Casimiro et al (2001), Perfil dos estudantes do ensino superior: desigualdades e

diferenciação. Lisboa: Editora Colibri.

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Cadernos IED.

Casanova, José Luís (1993), Estudantes Universitários: composição social,

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Costa, António Firmino; Machado, F. Luís e Almeida, João Ferreira (1990), “Famílias,

estudantes e universidade: painéis de observação sociográfica”. Actas do I Congresso

Português de Sociologia -A sociologia e a sociedade portuguesa na viragem do século.

Lisboa: Editorial Fragmentos

Cruzeiro, Celso (1989), Coimbra, 1969: a crise académica, o debate de ideias e as

práticas, ontem e hoje. Porto: Edições Afrontamento.

Cruzeiro, Maria Eduarda (1979) “Costumes estudantis de Coimbra no século XIX:

tradição e conservação institucional”. Análise Social, 60, 795-838.

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da identidade cultural da juventude universitária de Coimbra”. Revista Via Latina.

Página consultada a 6 de Março de 2003,

<http://www.republicasdeouropreto.hpg.ig.com.br/textos%20novos/08_02/cidade_dos_

estudantes1.htm

Estanque, Elísio (1991), “Coimbra, a cidade de passagem: contribuições para um estudo

sociológico da cultura estudantil universitária Coimbra”. Actas do Colóquio Viver (n)a

Cidade. Lisboa: LNEC/ISCTE. Página consultada a 6 de Março de 2003.

14

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transformação social e as orientações dos estudantes: o caso da Universidade de

Coimbra”, Oficina do CES, 169.

Frias, Aníbal (2000), “ «Patrimonialização» da Alta e da Praxe académica de Coimbra”.

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do Congresso da Associação Portuguesa de Antropologia - “práticas e terrenos da

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Frias, Aníbal (2002), “Les “Repúblicas”d’ étudiants à Coimbra”, Latitudes, 14. Página

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www.revues-plurielles.org/numero_sommaire.asp?no_revue=17&no_dossier=14 - 5k

Frias, Aníbal (2002), « Le fado de Coimbra, entre tradition et innovation ». Latitudes, 16. Página

consultada a 25 de Maio de 2003,

www.revues-plurielles.org/numero_sommaire.asp?no_revue=17&no_dossier=16 - 5k

Garrido, Álvaro (1996), Movimento estudantil e crise do Estado Novo. Coimbra:

Minerva Editora.

Grácio, Rui (1995), Obra completa, volume II575 e volume III437, 476, 487. Lisboa:

Fundação Calouste Gulbenkian.

Lamy, Alberto Sousa (1990), A academia de Coimbra: 1537-1990: história, praxe,

boémia, estudo, partidas e piadas, organismos académicos. Lisboa: Rei dos Livros.

15

Lopes, António Rodrigues (1982), A sociedade tradicional académica coimbrã.

Coimbra: s/e.

Nunes, A. Sedas (1968), “A população universitária portuguesa”. Análise Social, 6,

295-385.

Peixoto, Paulo (2002) “Fontes de Informação Sociológica”. Pesquisado a Dezembro de

2002, http://www4.fe.uc.pt/fontes.

Pais, J. Machado (1990), "A construção sociológica da juventude: alguns contributos", Análise Social, 105/106, 139-165.

Prata, Manuel Alberto Carvalho (1993), “A praxe na academia de Coimbra: das práticas

às representações”. Revista História das Ideias, separata do volume 15, 61-176.

Prata, Manuel Alberto Carvalho (1994), “ A Academia de Coimbra: 1880-1926:

sociedade, cultura e política Coimbra”. Tese de doutoramento em Ciências da

Educação (História da Educação). Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação

da Universidade de Coimbra.

Revez, António Manuel Marques (1999), “Dura praxis, sed praxis: relações de poder e

moral na praxe académica da Universidade de Évora”. Tese de mestrado em Sociologia,

especialização em Sociologia do Poder e Sistemas Políticos. Universidade de Évora.

Ribeiro, Rita (2001), “As lições dos aprendizes”. Tese de mestrado em Sociologia.

Universidade do Minho.

Vila-Chã, Pedro (2001), “Praxes abreviam integração académica”. Jornal de Notícias,

29 de Dezembro, pp.12.

Vitorino, Sérgio (2001), “Carnaval académico”. Jornal de Notícias, 6 de Maio, pp.4-7.

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ANEXO I

“A cidade dos estudantes”

Página web avaliada

ANEXO II

“O fenómeno coimbrão”

Texto de suporte da ficha de leitura