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SISTEMA AQUÍFERO: ALUVIÕES DO MONDEGO (O6)

Figura O6.1 – Enquadramento litoestratigráfico do sistema aquíferoAluviões do Mondego

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Identificação

Unidade Hidrogeológica: Orla Ocidental

Bacia Hidrográfica: Mondego

Distrito: Coimbra

Concelhos: Coimbra, Figueira da Foz, Montemor-O-Velho e Soure

Enquadramento Cartográfico

Folhas 229, 230, 239, 240, 241, 249 e 250 da Carta Topográfica na escala 1:25 000 doIGeoE

Folhas 19-A, 19-B, 19-C e 19-D do Mapa Corográfico de Portugal na escala 1:50 000 doIPCC

Folhas 19-A e 19-C da Carta Geológica de Portugal na escala 1:50 000 do IGM

Figura O6.2 - Enquadramento geográfico do sistema aquífero Aluviões do Mondego

Enquadramento Geológico

Estratigrafia e Litologia

As formações aquíferas são aluviões constituídas por areias e areias com seixos e calhaus,com intercalações de argilas e lodos. Podem considerar-se vários domínios distintos:

• desde o limite a montante, quando o Mondego deixa o Maciço Hespérico e entra naOrla Ocidental, até ao Açude-Ponte, onde as intercalações de lodos e argilas sãolentículas de pequena espessura e reduzida extensão; encontram-se por vezeshorizontes com muita elevada concentração de calhaus.

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• a partir dos Campos do Bolão, a estrutura aluvionar torna-se mais complexa, os termosargilosos são mais espessos e extensos e as areias, por vezes, são pouco “limpas”. Osistema aquífero constitui aqui um ambiente com condições francamente redutoras que,na água, se traduzem por concentrações muito elevadas de ferro.

• dos campos do Bolão e S. Martinho do Bispo continuando pela margem direita peloscampos de S. Silvestre, S. Martinho de Árvore, Tentúgal e Montemor-O-Velho e pelamargem esquerda pelos campos de Taveiro, Ameal, Pereira e Santo Varão, até junto àestação de Alfarelos, a bacia do Mondego apresenta uma grande regularidademorfológica e estrutural. É nesta área onde, com frequência, as camadas aquíferasapresentam condições de confinamento. A espessura das formações e a ocorrência decamadas espessas de areia condicionam a produtividade das captações, como emTaveiro, onde, simultaneamente, com furos improdutivos se encontram captações quefornecem 60 L/s;

• sector junto a Montemor-O-Velho, em que há um estreitamento da planície aluvionar,Rocha et al. (1981) refere que, a par de furos produtivos, existem furos improdutivosou pouco produtivos e um furo abandonado devido ao excesso de concentração decloretos na água:

• “Campo de Ereira ou Verride”, de contornos circulares, ligado ao estuário peladesignada “garganta de Lares”. Esta zona sofreu uma forte deformação tectónica deorigem diapírica, de que é testemunho o afloramento de Ereira, quase no meio docampo. É para esta zona que confluem os dois principais afluentes do Mondego, oArunca e o rio Foja.

A individualização destes diferentes domínios prende-se, segundo Seabra (1994) às“sucessivas deposições estuarinas e fluviais impostas” no decurso da transgressão Flandrianaonde se formaram “depósitos que na base se expressam como argilas finas, de origem marinhae posteriormente em materiais argilosos acizentados e mais para o topo em níveis de materialarenoso, mais ou menos grosseiro, por vezes com lentículas de calhaus”. Lateralmente, passa-se de níveis mais ou menos arenosos para níveis essencialmente argilosos e para a foz do rioMondego os níveis detríticos mais grosseiros dão lugar a níveis detríticos mais finos comconchas de lamelibrânqueos.

Estas alterações sedimentológicas e morfo-climáticas que se verificaram durante adeposição das aluviões, conferem ao sistema uma grande irregularidade e complexidade naestratificação.

Em localizações com sedimentação lodosa abundante e com matéria orgânica sóparcialmente mineralizada, há intensa libertação de gases (metano ?) quando da abertura defuros.

A espessura máxima das aluviões, até agora atravessada, é da ordem de meia centena demetros. A espessura aumenta das margens para a zona axial e de montante para jusante. Comoexemplos, referem-se a zona da Boavista-Coimbra (posição relativamente marginal) comcerca de 25 metros, zona da ponte de Santa Clara (Coimbra) com 40 metros; Ponte Açude(Coimbra) com cerca de 50 metros, Taveiro com cerca de 25 metros, Montemor-O-Velho comcerca de 50 metros e Morraceira (F. Foz) com cerca de 40 metros.

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Na planície litoral, a foz do rio Mondego, depois de ter ocupado diferentes posiçõesimediatamente a sul da Figueira da Foz, acabou por se encostar aos calcários cretácicos doForte de Santa Catarina.

Com continuidade morfológica e hidrogeológica, os depósitos de terraço formam, após a“garganta de Lares”, na margem direita, uma estreita mancha praticamente contínua desdeLares a Figueira da Foz.

Tectónica

As aluviões recobrem as estruturas do substrato pelo que não é fácil a sua detecção. O seuconhecimento é importante pela movimentação que provocam e implicações na espessura esedimentologia das aluviões.

Soares, 1990 in Seabra (1994) refere o “graben” de Antuzede e o próprio abatimento dovestíbulo da ribeira dos Fornos, na margem direita do Mondego, à saída de Coimbra.

A jusante de Montemor-O-Velho localiza-se a área diapírica de Ereira-Verride-Reveles,com afloramentos das Margas de Dagorda no meio das aluviões do rio Mondego.

Seabra (1994), através de métodos de prospecção geofísica, fez a cartografia de numerosasfalhas que cortam transversalmente as aluviões, agrupando-se nas famílias com direcções:NNE-SSW, as mais frequentes, NE-SE, NW-SE e N-S, as menos numerosas.

Segundo a cartografia de Cabral e Ribeiro (1988) são estruturas activas: o pequeno diapirode Ereira; a falha de Zouparria do Monte, com direcção NNE-SSW, coberta pelas aluviõesdos Campos do Bolão, que se prolonga para norte e sul onde estabelece o contacto lateralentre o Liásico e o Cretácico; as falhas em arco que limitam nos flancos NE e SW o anticlinalcomplexo Buarcos-Verride, que cortam as aluviões nas áreas de Ereira e Lares, e que seprolongam pelos vales dos rios Arunca e Pranto, respectivamente.

Hidrogeologia

Características Gerais

O sistema aquífero, com uma área de 148 km2, é muito produtivo, poroso, multicamada(lenticular) e livre a confinado/semiconfinado como resultado da variabilidade das condiçõestexturais e estruturais no volume aluvionar.

O substrato do sistema aquífero é de litologia variada, conforme as formações onde o riofoi escavando o seu leito. Assim, de montante para jusante: na Boavista (Coimbra) as aluviõessobrepõem-se aos arenitos triásicos; os calcários dolomíticos e calcários margosos servem desubstrato nos Campos do Bolão; os calcários, arenitos e argilas do Cretácico são o substratoaté Montemor-O-Velho; na Ereira aparecem as Margas de Dagorda; na Goleta, são asformações jurássicas que constituem o substrato; e, mais a jusante, as formações cretácicasvoltam a ser o substrato do depósito aluvionar.

Parâmetros Hidráulicos e Produtividade

As estatísticas dos valores das características morfológicas mais relevantes dos 68 furosinventariados são apresentadas no Quadro O6.1.

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n Média Desviopadrão

Mínimo Q1 Mediana Q3 Máximo

Profundidade (m) 62 26,0 9,9 8,0 18,0 24,1 33,3 50Fim Ralos (m) 40 22,3 8,9 7,1 15,5 20,4 28,5 38,5

% Zona Captada 40 33,7 10,7 10,9 27,9 35,3 40,4 56,7

Quadro O6.1 - Características morfológicas dos furos do sistema aquífero

Além destes furos foram inventariados dois Poços de Drenos Horizontais (PDH),localizados na zona da Boavista, que são a origem do abastecimento de água a Coimbra. Ascaracterísticas desses poços são apresentadas no Quadro O6.2

Poço Profundidade(m) N.º Drenos Comprimento ralosPDH1 22,4 9 290,0PDH2 20,5 9 252,5

Quadro O6.2 - Características dos poços com drenos horizontais

Estes resultados permitem tecer algumas considerações gerais sobre as características dosfuros e sobre o sistema aquífero: grande parte dos furos executados, principalmente osdestinados ao abastecimento, foram localizados nas áreas marginais do sistema aquífero.Apesar disso é notório o aumento da profundidade para a zona axial do sistema aquífero e demontante para jusante. Realça-se que a profundidade máxima atingida foi de 50 metros.

As estatísticas da profundidade da base dos tubos ralos revelam que a profundidade dazona captante segue de perto a profundidade da perfuração; isto é, não há, em regra, perdasignificativa de metros perfurados.

Como tendência geral, há aumento da profundidade dos furos para jusante que resulta deidêntica tendência na variação da espessura da aluvião.

A percentagem da zona captante, relativamente à profundidade dos furos, é na grandemaioria dos casos inferior a 50 % da profundidade perfurada. Na zona da Boavista, estarelação segue os valores mais elevados registados. Para além dos aspectos relacionados com odimensionamento dos furos (e.g. necessidade de manter os ralos sempre submersos), significaque a zona inferior captada do volume aluvionar é a que à partida apresenta melhorescaracterísticas hidrogeológicas.

As estatísticas dos valores da produtividade dos 68 furos inventariados no sistema aquíferosão apresentadas no Quadro O6.3.

n Média Desviopadrão

Mínimo Q1 Mediana Q3 Máximo

Caudal (L/s) 50 34,0 31,3 0,0 13,5 21,8 44,0 125,0Caudal específico(L/s/m)

46 15,3 18,4 0,11 4,9 7,6 15,2 83,3

Nível Hidrostático (m) 53 -1,8 1,2 -5,3 -2,7 -2,0 -0,9 +0,4

Quadro O6.3 - Estatísticas da produtividade dos furos do sistema aquíferoAluviões do Mondego

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Os valores característicos da produtividade dos poços de drenos horizontais que são aorigem do abastecimento de água a Coimbra são apresentados no Quadro O6.4.

Poço Caudal Ensaio(L/s)

Caudal Específico(L/s/m)

Caudal / Ralos(L/s/m)

CaudalExploração (L/s)

PDH1 62,5 312,5 2,15 62,5PDH2 62,5 168,9 2,50 62,5

Quadro O6.4 - Estatísticas da produtividade dos poços de drenos horizontais do sistemaaquífero Aluviões do Mondego

A variabilidade dos caudais é grande e traduz a variabilidade da textura e da estrutura quesão características dos volumes aluvionares. As captações mais produtivas e com melhorrendimento (aqui avaliado pelo caudal específico) localizam-se na área de montante dosistema aquífero, nomeadamente na área da Boavista. Com efeito, aqui, a areia, os seixos e oscalhaus constituem praticamente toda a coluna sedimentar e há uma ligação rio/aquífero semconstrangimentos de camadas argilosas e/ou siltosas, que são abundantes mais a jusante.

Da Boavista até aos campos de Ereira, o caudal dos furos tem tendência para diminuir.Esta tendência geral no sistema aquífero pode expressar-se pela relação:

Caudal (L/s) = 1,3 × M (km) –182,5 com r=0,45

M é a distância à meridiana.

O caudal específico segue uma distribuição espacial idêntica à do caudal: é influenciadopela variabilidade litológica e pela ligação hidráulica às linhas de água.

A diminuição do caudal específico (q) na direcção de jusante pode exprimir-se pelarelação:

q (L/s) = 0,7 × M (km) –100,9 com r=0,42

A tendência para a diminuição do caudal e do caudal específico na direcção de jusantepodem justificar-se pelo aumento da fracções argilosa e siltosa na textura da aluvião.

Os valores da transmissividade (T) apresentados (Quadro O6.5) foram calculados pelainterpretação de resultados de ensaios de bombagem e utilização do modelo de Theis ou suaaproximação logarítmica.

n Média Desviopadrão

Mínimo Q1 Mediana Q3 Máximo

T (m2/dia) 10 4812 7315 680 1056 1475 2265 21600

Quadro O6.5 – Principais estatísticas de transmissividade

Os valores determinados são altos, sendo na zona da Boavista excepcionalmente elevados.O caudal específico (q) e a transmissividade (T) relacionam-se através da expressão:

T(m2/dia) = 539,9 q(L/s/m) – 3086,7 com r=0,90

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Análise Espaço-temporal da Piezometria

O nível freático está próximo da superfície do terreno, a apenas a alguns metros deprofundidade. Tem variações sazonais, nomeadamente relacionadas com o nível da água narede de drenagem superficial. Inventariou-se um furo com o nível da água acima da superfíciedo terreno. Este facto pode eventualmente associar-se a níveis da água no topo do substratocretácio que aqui foi intersectado. A ser assim, confirmaria que, neste local, o SistemaAquífero de Tentúgal tem descarga oculta nas aluviões do Mondego.

O escoamento subterrâneo, em linhas gerais, dá-se em direcção aos cursos de água queatravessam longitudinalmente o sistema aquífero e, ao longo do volume aluvionar, até aoestuário.

Não existem elementos que permitam quantificar a análise espaço-temporal dapiezometria.

Balanço Hídrico

A recarga do sistema faz-se por infiltração directa da precipitação e através de influênciasde cursos de água superficiais. Estima-se que a recarga directa pela precipitação seja da ordemde 300 mm/ano, isto é, o equivalente a 48 hm3/ano. Peixinho de Cristo (1998) estima osrecursos renováveis deste sistema entre 45 a 50 hm3/ano.

Admite-se que os sistemas aquíferos que marginam e se prolongam sob as aluviões doMondego tenham descargas ocultas.

A recarga por infiltração a partir do rio depende da diferença de potencial hidráulico entrea água do rio e do aquífero.

A relação hidráulica entre o sistema aquífero e as linhas de água que o atravessam é denatureza sazonal (influente ou efluente) dependendo da posição relativa dos níveis de águaque, por sua vez, depende do regime de escoamento nas linhas de água e/ou da bombagem nosistema aquífero.

Na maior parte da extensão, o sistema aquífero é subordinado ao rio. Isto é, as reservas e osrecursos intrínsecos do sistema aquífero são muito inferiores aos recursos exploráveis. Aexploração do sistema aquífero induz a infiltração (captura) da água no leito dos rio e traduz-se, por isso, por um “prejuízo” no caudal do escoamento superficial.

A exploração das captações, como as que se localizam na Boavista (Coimbra) e abastecema cidade de Coimbra, utiliza este mecanismo da infiltração induzida.

As saídas naturais do sistema ocorrem quando as águas são mais altas no aquífero que norio e incluem a água de infiltração directa das precipitações, das descargas dos sistemasaquíferos subjacentes e do armazenamento marginal após o período de águas altas nas linhasde água.

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Qualidade

Considerações Gerais

Nos campos do Bolão, as camadas de areia aluvionar superficiais foram exploradas eresultaram importantes depressões preenchidas por material de aterro e entulho queprovavelmente constituem importante foco de contaminação do sistema aquífero.

Dispõe-se de análises referentes a período compreendido entre 1957 e 1992. Só foiconsiderada uma análise por captação. Alguns valores do sódio foram obtidos por balançoiónico.

As estatísticas referentes às análises consideradas são apresentadas no Quadro O6.6. Nãoforam consideradas três análises de água de furos localizados na Morraceira (Figueira da Foz)para não enviezar as estatísticas. Com efeito, trata-se de águas claramente distintas das outras,de mineralização muito elevada, superior à água do mar, cuja captação se destina àaquacultura e produção de sal. O resíduo seco dessas água varia entre 44,6 g/l e 56,5 g/l, comconcentrações em Cloreto entre 29,8 g/L e 30,5 g/L.

n Média Desviopadrão

Mínimo Q1 Mediana Q3 Máximo

Condutividade (µS/cm) 25 402 335 56 146 190 637 1330pH 25 6,8 0,6 5,6 6,4 6,6 7,3 7,7Bicarbonato (mg/L) 25 171,4 142,8 17,1 42,7 109,8 293 414,8Cloreto (mg/L) 25 67,7 75,9 12,4 28,4 35,5 56,8 301,8Sulfato (mg/L) 24 14 13,6 0 3,7 8,2 25,5 43,5Nitrato (mg/L) 23 2,3 2,7 0 0,2 1,3 3 9,9Sódio (mg/L) 23 46,1 52,6 8,3 15,6 24,8 48,5 169,9Cálcio (mg/L) 24 35 35 3,6 6,8 15,6 56,4 116,9Magnésio (mg/L) 24 11,8 8,5 2,2 5,5 7,1 20,3 28,4Ferro (mg/L) 21 0,24 0,21 0 0,1 0,14 0,4 0,8

Quadro O6.6 – Principais estatísticas relativas à água do sistema aquíferoAluviões do Mondego

No que respeita à classificação destas águas, parece que a fácies varia com os sectores dosistema aquífero:

• Na zona da Boavista a água é de fácies mista tanto no que respeita aos aniões como aoscatiões. Os aniões cloreto e bicarbonatos dominam, em regra, do mesmo modo que o sódioe o cálcio são os catiões mais abundantes;

• após a Ponte-Açude de Coimbra, a partir da qual a planície aluvionar alarga, até à região deSanto Varão, as águas passam a ser, com frequência, de fácies bicarbonatada cálcica oubicarbonatada sódica. Esta mudança de fácies é acompanhada de aumento damineralização. Estes factos sugerem contribuição de águas do substrato. Na região deTaveiro são cloretadas sódicas;

• após Santo Varão, as águas passam a ser de fácies cloretada sódica, revelando a influênciadas marés oceânicas no escoamento e na composição físico-química da água subterrânea.

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Figura O6.3 - Diagrama de Piper relativo às águas do sistema aquíferoAluviões do Mondego

Qualidade para Consumo Humano

Na apreciação da qualidade da água para consumo humano discriminam-se desde já asanálises de água salgada das aluviões da Morraceira: são impróprias para consumo humano.

O zonamento que se fez a propósito da classificação das águas coincide com o zonamentoda qualidade da água para consumo humano: zona da Boavista onde, regra geral, a qualidadeda água está abaixo ou ligeiramente acima dos VMRs; zona a jusante do Açude-Ponte atéSanto Varão com qualidade da água variável, com locais onde alguns dos VMRs sãoclaramente ultrapassados; zona a jusante de Santo Varão, com os VMRs a seremultrapassados para muitos dos parâmetros.

No Quadro O6.7 pode observar-se as violações, em percentagem, dos parâmetrosanalisados face aos VMRs eVMAs definidos nos Anexos I e VI do Decreto-Lei N.º 236/98,de 1 de Agosto.

Referem-se as concentrações baixas em nitrato embora com a ressalva de que a maisrecente tem a data de 1992.

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Anexo VI Anexo I -Categoria A1Parâmetro

<VMR >VMR >VMA <VMR >VMR >VMA

pH 100 0 0 100 0

Condutividade 56 44 96 4

Cloretos 16 80 92 8

Sulfatos 71 29 0 100 0 0

Cálcio 96 4

Magnésio 100 0 0

Sódio 39 61 13

Nitratos 100 0 0 100 0 0

Ferro 10 90 38 24 52 29

Quadro O6.7 – Apreciação da qualidade da água face aos valores normativos

Peixinho de Cristo (1998) chama a atenção para a “evolução negativa da qualidade da águaque se traduz pela subida progressiva das concentrações de elementos da cadeia azotada emmuitas zonas do aquífero, nomeadamente a jusante de Coimbra, e pela ocorrência pontual decoliformes fecais, nomeadamente em áreas de descarga de efluentes domésticos, como sucedepor exemplo, junto à bordadura norte do Campo do Bolão e que obrigou já ao abandono dealgumas captações”.

As captações da Boavista, que abastecem a cidade de Coimbra e grande parte do concelho,consistem em dois poços com drenos horizontais e radiais, construídos nas aluviões damargem direita do Mondego, a montante do Açude-Ponte. A exploração da captação induz ainfiltração da água através do fundo e margens da albufeira criada pelo Açude-Ponte.

O controlo da qualidade físico-química da água efectuado pelo laboratório dos SMAS deCoimbra, entre 1 de Janeiro de 1996 e 31 de Dezembro de 1997, numa das captações (PDH1)é apresentado no Quadro O6.8. O controlo da outra captação (PDH2) tem resultadosidênticos, pelo que só se apresenta de uma delas.

Parâmetro nValorMédio Mínimo Máximo

pH 82 6,9 6,7 7,0Alcalinidade total 28 21,8 16,2 28,9Anidrido carbónico 22 6,8 4,6 9,4Ferro 29 <0,001 0,104Nitritos 32 0,003 0 0,073Manganês 12 0,014 0,011 0,018Oxidabilidade 26 1,.2 0,2 3,2Oxigénio dissolvido 74 51,9 30,2 75Cloretos 22 11,9 10,3 14,1Sulfatos 20 9,9 8,6 11,5Cálcio 23 6,8 5,4 8,7Magnésio 23 3,2 2,5 4,1

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Sódio 26 9,4 7,6 11Potássio 25 1,5 1,2 1,9Condutividade 94 109 98,2 120,9Dureza total 23 30,1 26,4 36,6Fósforo 22 0,038 0,013 0,081Nitratos 35 3,97 2,63 5,77Azoto amoniacal 8 <0,05 0,11Azoto Kjeldhal 8 <0,25 0,38Sulfureto hidrogénio 8 <0,083 <0,083Carência bioquímica de oxigénio 58 0,78 0 16Compostos orgânicos halogenados 6 <0,41 <0,41Compostos orgânicos de estanho 6 <0,00315 0,00315Compostos orgânicos de fósforo 6 <0,05 <0,05Arsénio 6 <0,0043 <0,0043Mercúrio 6 <0,0005 0,00058Níquel 6 <0,001 0,0037Cádmio 6 <0,00005 <0,00005Crómio 6 <0.00509 <0.00509Cianetos 6 <0,0005 0,002Hidrocarbonetos dissolvidos/emulsionados 6 <10,0 <10,0Fluoretos 19 0,0687 0,0461 0,1000

Quadro O6.8 - Qualidade físico-química da água da captação PDH1

Uso Agrícola

Na apreciação da qualidade da água para uso no regadio discriminam-se desde já asanálises de água salgada das aluviões da Morraceira: são impróprias para o regadio.

Das restantes, 62,5 % são da classe C1S1, 25 % pertencem à classe C2S1 e os restantes12,5% incluem-se na classe C3S1.

As águas da classe C1S1, que representam perigos de salinização e de alcalinização baixos,distribuem-se pela zona da Boavista e na margem esquerda, até Taveiro.

As águas da classe C2S1, que representam perigos de salinização médio e de alcalinizaçãobaixo, distribuem-se desde a Ponte Açude até Montemor, com predomínio na margemesquerda.

As águas da classe C3S1, que representam perigos de salinização alto e de alcalinizaçãobaixo, seguem uma distribuição espacial idêntica às da classe anterior, com predomínio dafaixa central e margem direita das aluviões.

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Figura O6.4 - Diagrama de classificação da qualidade da água para uso agrícola

Bibliografia

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