Spinoza 2012 Artigo Emanuel Fragoso

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    EMANUEL ANGELO DA ROCHA FRAGOSO *

    Recebido em abr. 2012Aprovado em jun. 2012

    UMA INTRODUO TICA DE BENEDICTUS DE SPINOZA

    RESUMOA tica Demonstrada em ordem geomtrica considerada a obra magna do filsofo holandsBenedictus de Spinoza (1632-1677). Publicada no anoda morte do seu autor, em latim e holands, a tica foidesde ento uma obra marcadamente polmica, sejapela sua forma de demonstrar em ordem geomtrica, seja pelas teses nela defendidas, como, por exemplo,a crtica ao antropomorfismo divino e a negao dolivre-arbtrio (absoluto beneplacito). Nossa intenocom o presente texto a de apresentar a tica aosestudiosos de Filosofia em geral e em particular, aosinteressados na obra do pensador holands. Para tal,fundamentamos nossa leitura nas anlises de MartialGueroult e Pierre Macherey.

    PALAVRAS-CHAVEBenedictus de Spinoza. tica. Filosofia. Filosofia Holandesa.

    * Professor do CURSO DE MESTRADO ACADMICO EM FILOSOFIA DAUNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEAR - UECE e Coordenador do GTBENEDICTUS DE SPINOZA.

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    ABSTRACTThe Ethics demonstrated in geometrical order isconsidered the magnum opus of the Dutch philosopherBenedictus de Spinoza (1632-1677). Published in theyear of the authors death, in both Latin and Dutch, theEthics was ever been branded as a polemic piece of workeither by Spinozas way of demonstration in geometricorder either by the theses defended, in it for example,the critique of divine anthropomorphism and the denialof free will (absoluto beneplacito). Our intention withthis paper is to present the philosophy of ethics tostudents in general and in particular, those interestedin the work of the Dutch thinker. To do so, we basedour reading of the analyzes Martial Gueroult and PierreMacherey.

    KEYWORDSBenedictus de Spinoza. Ethics. Philosophy. Dutchphilosophy.

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    A tica, tal como Spinoza a desenvolve, no um livro puramente terico, ela tem tambm umavertente prtica: a liberdade ou a beatitude da mente.Na verdade, esta obra no mais do que a descrioou prescrio do longo e rduo percurso do ser humanoem busca da sua verdadeira liberdade, pois, trata-seda passagem, ou da superao a partir doconhecimento, de um estado cotidiano de submisso spaixes, ou de escravo das paixes, a um estado defelicidade contnua e suprema, ou seja, beatitude. Estapor sua vez, mais do que um fim a se atingir, um fimque vale por si prprio e no a recompensa por algumaao virtuosa. Sobre aquela afirmativa e esta ltima,escreve Spinoza, respectivamente, na proposio 42 daparte 5 da tica: A beatitude no o prmio da virtude,mas a prpria virtude; [...] (E5P42)1; e no prlogo do

    1 Para a citao das obras de Spinoza, utilizaremos as siglas PPC,para os Princpios de Filosofia Cartesiana; TIE para o Tratadoda Reforma do Entendimento; Ep para as Cartas e E para atica. Quanto s citaes referentes s divises internas da ticaou dos Princpios de Filosofia Cartesiana, indicaremos a partecitada em algarismos arbicos, seguida da letra correspondentepara indicar as definies (d), axiomas (a), proposies (p),prefcios (Pref), corolrios (c) e esclios (s), com seusrespectivos nmeros. Quando necessrio, citaremos o originalem latim da edio de Carl Gebhardt, cuja sigla ser SO, seguidado nmero correspondente ao volume (1 a 4), em algarismoarbico. Nos poucos casos em que a obra de Spinoza no constada edio de Gebhardt, como ocorre com algumas Cartas, ouda numerao dos pargrafos do Tratado da Reforma doEntendimento, a partir da edio de Bruder, utilizaremos asrespectivas tradues de Atilano Domnguez para o primeirocaso e a traduo de Ablio Queirs para o segundo.

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    TIE: [...] investigar se existia algo que fosse um bemverdadeiro e capaz de comunicar-se, e de tal naturezaque, por si s, rechaados todos os demais, afetar onimo; mais ainda, se existia algo que, achado eadquirido, me desse para sempre o gozo de uma alegriacontnua e suprema. (TIE, 1, grifo nosso). E pelanoo de virtude, dada na definio 8, da parte 4 datica: [...] a virtude, enquanto se refere ao homem, a prpria essncia ou natureza do homem, enquantotem o poder de fazer algumas coisas que s podem sercompreendidas pelas leis da prpria natureza.(E4Def8), que a diviso entre a teoria e a prtica anulada: o conhecimento do vnculo que me une demodo intemporal com a natureza e com tudo o queexiste que constitui a virtude suprema, ou seja, minhaconscincia da necessidade universal.

    Podemos compreender melhor isto a partir deum esboo geral da composio da tica e das partesque a compem.

    1 A ESTRUTURA DA TICA 2

    A tica como a conhecemos hoje foi publicadaem Latim nas Opera Posthuma (OP) e em holands nasNagelate Schriften (NS), organizadas por seus amigos,vindo luz no final do ano de 1677. Esta obra estdividida em cinco partes, sistematicamente articuladasentre elas, conforme o ttulo geral posto no incio: In

    2 Nossa anlise da estrutura da tica se fundamentar emMartial Gueroult (1997, v. 1 e v. 2) e Pierre Macherey (1997a,1998a, 1997b, 1997c e 1998b).

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    quinque Partes distincta (SO2, p. 43). Para PierreMacherey, o emprego do termo partes no foi umaescolha aleatria de Spinoza, mas tal escolha, alm deremeter aos Elementos de Euclides, [...] exprime anecessria integrao entre os diferentes momentos doraciocnio seguido por Spinoza na organizao globalde um projeto unificado, [...] (1997a, p. 17).

    A primeira parte da tica denominadasimplesmente De Deo (Sobre Deus); a segunda, De Natura& Origine Mentis (Da natureza e da origem do Esprito);a terceira, De Origine & Natura Affectuum (Da natureza eda origem das Afeces); a quarta, De Servitute Humana,seu de Affectuum Viribus (Da servido humana ou dasforas das Afeces); e finalmente a quinta, De PotentiaIntellectus, seu de Libertate Humana (Da potncia doEntendimento ou da liberdade humana).

    Na primeira parte, De Deo, trata-se deestabelecer os fundamentos ou os primeiros princpiosdo conhecimento, afirmando Deus como causa nicae primeira. Mas o uso do termo Deus no em absolutoempregado com o mesmo sentido em que utilizadona tradio teolgica judaico-crist, pois no se trataaqui de afirmar o conceito ou os fundamentos de umanova teologia, e sim de afirmar [...] o verdadeiroconhecimento de Deus [...] (E1P15S), [...]manifestamente em ruptura com as representaestradicionais do divino, das quais Spinoza no se cansade denunciar a ininteligibilidade. (MACHEREY,1998a, p. 9-10).

    Na segunda parte, De Natura & Origine Mentis,segundo explica o prprio autor numa breve

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    Introduo, trata-se de explicar as coisas que deveroseguir-se necessariamente da essncia de Deus,explicada na primeira parte. Entretanto, nem todasessas coisas sero objeto de explicao por parte doautor, mas to somente aquelas que podem nosconduzir ao conhecimento da mente [mentis] humanoe da sua beatitude suprema (E2Pref). SegundoMacherey (1998b, p. 5), esta parte [...] consagradaao estudo das condies de funcionamento do regimemental considerado em geral, sem referncia explcita,ao menos inicialmente, natureza especfica dohomem, enquanto este regime mental objetivamentedeterminado pelas leis que definem a ordem darealidade prpria coisa pensante em geral..

    Na terceira parte, De Origine & NaturaAffectuum, um aspecto especfico desse funcionamento desenvolvido, aquele que corresponde ao domnioda afetividade propriamente dita, sem a vantagemreferente ao contexto especial da existncia humana,ou, como escreve Spinoza: [...] determinar a naturezae a fora dos afetos e, inversamente, o que pode oesprito [mens] para as orientar. (E3Pref). Macherey(1998b, p. 5-6) ressalta a importncia desta parte, oumelhor, sua necessidade, porque o homem no estfora da natureza e, enquanto pertencente natureza,ele afetado; ento necessrio compreender comoos afetos e as afeces se ordenam no homem, segundoa ordem natural e necessria.

    Na quarta parte, De Servitute Humana, seu deAffectuum Viribus, trata-se de demonstrar a causa daservido humana, definida muito mais em termos de

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    impotncia do submetido, do que em termos depotncia do afeto, caracterizando os afetos, mostrandoo que h de bom ou de mau neles. Por estacaracterizao podem ser determinados quais so osafetos bons que devem ser cultivados e quais so osafetos que, ao contrrio, devem ser transformados.

    A quinta parte, De Potentia Intellectus, seu deLibertate Humana, uma espcie de explicao final,pice de tudo o que a precedeu, segundo os preceitosda Ordine geometrica demonstrata. Para Macherey(1997a, p. 26-27), esta parte expe as condies daquesto tica fundamental: a reconciliao do racionale do afetivo.

    1.1 A ESTRUTURA INTERNA DAS PARTES DA TICA

    A parte 1 da tica est organizada em oitodefinies, sete axiomas e trinta e seis proposies,com suas respectivas demonstraes, esclios ecorolrios (quando presentes), alm de um apndiceao final, no qual Spinoza descreve a gnese e faz acrtica da iluso finalista e das representaesinadequadas da ordem das coisas que a acompanham.

    As definies desta parte versam sobre a causade si ou causa sui (definio 1), a coisa finita em seugnero (definio 2), a substncia (definio 3), oatributo (definio 4), os modos (definio 5), Deuscomo absolutamente infinito (definio 6), a coisa livreou a liberdade (definio 7) e a eternidade (definio8). Os axiomas por sua vez, versam sobre o real outudo o que existe (axioma 1), concebido por si ou em

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    outro (axioma 2), a necessidade de um efeito de umadada causa (axioma 3), o conhecimento do efeito comodependendo do conhecimento da causa (axioma 4),s se pode compreender coisas que tm algo de comumente si (axioma 5), a ideia verdadeira concorda comseu ideato (axioma 6) e a essncia de uma coisainexistente no envolve a existncia (axioma 7).

    Considerando apenas o contedo posterior sdefinies e aos axiomas, Martial Gueroult (1997, v.1, p. 19) divide esta primeira parte em trs. A primeiradiviso (proposies 1 a 15) consagrada construo da essncia de Deus. E se subdivide emduas sees, sendo que a primeira (proposies 1 a8) trata da deduo dos elementos da essncia deDeus: a substncia de um s atributo; e a segunda(proposies 9 a 15) constri a essncia de Deus porintegrao das substncias a um s atributo em umasubstncia constituda de uma infinidade de atributos,existentes por si, indivisveis e nicos. A segundadiviso (proposies 16 a 29) consagrada deduoda potncia de Deus. Esta diviso, por sua vez, igualmente subdividida em duas sees,compreendendo a primeira (proposies 16 a 20) adeduo de Deus como causa ou natureza Naturantee a segunda (proposies 21 a 29), a deduo de Deuscomo efeito ou natureza Naturada. A terceira e ltimadiviso da parte 1 (proposies 30 a 36), que o seuponto culminante, deduz Deus como identidade desua essncia e de sua potncia, e a necessidadesubsequente tanto de seus efeitos, quanto do modode sua produo.

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    Para Macherey (1998a, p. 271-275), o De Deono necessita ser dividido em trs partes, podendo serperfeitamente dividida em duas. A primeira(proposies 1 a 15) versa sobre a natureza divina (queDeus e aquilo que ele ), e se subdivide em duaspartes: a primeira (proposies 1 a 10), versando sobrea substncia e os atributos; a segunda (proposies 11a 15), versando sobre as propriedades (ou prprios)da natureza divina. A segunda diviso (proposies16 a 36) versa sobre a potncia divina (aquilo queDeus faz sendo dado o que ele ) e se subdivide emtrs sees. A primeira (proposies 16 a 20) versasobre a natureza Naturante; a segunda (proposies21 a 29) versa sobre a natureza Naturada; e, por fim,a terceira (proposies 30 a 36) versa sobre aidentidade da natureza Naturante e da naturezaNaturada que define a ordem das coisas: anecessidade absoluta da ao divina cuja potncia nopode se exercer de forma diferente da que exercida.

    A parte 2 da tica est organizada em setedefinies, cinco axiomas e quarenta e noveproposies, com suas respectivas demonstraes,esclios e corolrios (quando presentes), bem comouma breve introduo antes das definies. A estaspartes so acrescidos outros axiomas, em nmero decinco, sete lemas, uma definio e seis postulados(intercalados entre as proposies 13 e 14).

    As definies iniciais desta parte 2 versam sobreos corpos (definio 1), a essncia de uma coisa(definio 2), a ideia (definio 3), a ideia adequada(definio 4), a durao (definio 5), a realidade

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    (definio 6) e as coisas singulares (definio 7). Oscinco axiomas iniciais descrevem as principaiscaractersticas do ser humano. Os axiomas, os lemas,a definio e os postulados intercalados entre aproposio 13 e a 14 no sero considerados emseparado por Gueroult e nem por Macherey.

    Sem considerar as definies e axiomas iniciais,Gueroult (1997, v. 2, p. 12-13) identifica setemomentos principais nesta parte da tica. O primeiro(proposies 1 a 13) consiste na deduo da essnciado homem; o segundo (do esclio da proposio 13at a proposio 23), na deduo da imaginao ouconhecimento do primeiro gnero; o terceiro(proposies 24 a 31), na deduo da natureza noadequada e confusa de todo conhecimento imaginativo;o quarto (proposies 32 a 36), na deduo da naturezado verdadeiro e do falso; o quinto (proposies 37 a44), na deduo da razo ou conhecimento do segundognero (primeiro grau do conhecimento adequado); osexto (proposies 45 a 47), na deduo da cinciaintuitiva, ou conhecimento do terceiro gnero (segundograu do conhecimento adequado); o stimo e ltimo(proposies 48 a 49), na deduo da vontade comopotncia de afirmao prpria da ideia.

    Macherey (1997c, p. 409-417) ir dividir o DeNatura & Origine Mentis em apenas duas partes: aprimeira (proposies 1 a 13) trata da mente (me)enquanto ideia do corpo. Por sua vez, esta parte sesubdivide em duas sees, sendo que a primeira(proposies 1 a 13) trata da natureza do esprito,explicada a partir de sua origem, que o pensamento

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    como atributo de Deus; e a segunda (axiomas, lemas,definio e postulados intercalados entre as proposies13 e 14) trata da natureza dos corpos em geral, e aquelado corpo humano em particular, explicados, a partirdas determinaes prprias da extenso (um resumode fsica e de fisiologia). A segunda diviso desta parte2, versando sobre as formas da atividade pensante, sesubdivide em trs partes: a primeira (proposies 14 a31), versando sobre o conhecimento imediato; a segunda(proposies 32 a 47), sobre o conhecimento racional;e a terceira, proposies 48 (corolrio) e 49 (corolrioe esclio), sobre a passagem do conhecimento ao:querer e compreender.

    A parte 3 da tica est organizada em trsdefinies, dois postulados e cinquenta e noveproposies, com suas respectivas demonstraes,esclios e corolrios (quando presentes). Alm destas,tem como acrscimo um prefcio, um catlogo geraldos afetos (definies 1 a 48) e uma definio geraldos afetos ou recapitulao geral. No prefcio Spinozaexplica que a afetividade, como sendo um fenmenocompletamente natural, assim como todos os outrosfenmenos naturais, deve ser explicada por suas causas.As definies versam sobre a causa adequada e causainadequada (definio 1), agir e sofrer uma ao(definio 2) e afeto como as afeces do corpo(definio 3). Os dois postulados versam sobre asmaneiras como pode o corpo humano ser afetado.

    Macherey (1998b, p. 407-414) vai dividi-la emseis partes: a primeira (proposies 1 a 11) trata daatividade e da passividade; a segunda (proposies 12

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    a 20), dos complexos afetivos e da formao da relaodo objeto; a terceira (proposies 21 a 34), da figurasinterpessoais da afetividade e o mimetismo afetivo; aquarta (proposies 35 a 47), dos conflitos afetivos; aquinta (proposies 48 a 57), dos acidentes e dasvariaes da vida afetiva; por ltimo, a sexta(proposies 58 a 59), dos afetos ativos.

    A quarta parte da tica est organizada em oitodefinies, um axioma e setenta e trs proposies, almde um prefcio e um apndice com trinta e dois captulos,que para satisfazer as exigncias da prtica, recapitulamo conjunto de questes tratadas nesta parte 4, em funodos constrangimentos tericos impostos pela ordemdemonstrativa. As definies versam sobre o Bem(definio 1), o Mal (definio 2), o contingente(definio 3), o possvel (definio 4), os afetos contrriosque arrastam o homem para direes diferentes, no pornatureza, mas sim por acidente (definio 5), os afetospara com uma coisa futura, presente ou passada(definio 6), o apetite enquanto aquilo por cuja causafazemos alguma coisa (definio 7) e virtude e potncia(definio 8). O axioma versa sobre a potncia de umacoisa singular sempre estar limitada por outra maispotente do que ela. No prefcio Spinoza define a servidohumana e analisa o Bem e o Mal, a perfeio e aimperfeio, bem como suas condies fixadas no pelarazo, mas sim pela imaginao.

    Macherey (1997b, p. 433-440) vai dividi-la emduas partes. Destas, a primeira (proposies 1 a 37)ir considerar os homens tais quais eles so, subdividaem trs sees, versando a primeira (proposies 1 a

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    18) sobre as foras dos afetos; a segunda (proposies19 a 28) versa sobre o fundamento natural da virtude;e a terceira (proposies 29 a 37) versar sobre o tilque prprio ou adequado ao til comum: a gnese dasociedade. A segunda diviso desta parte (proposies38 a 73), que versa sobre as condies de umaracionalizao da existncia humana, tambm se divideem trs sees: a primeira (proposies 38 a 58) versasobre a avaliao comparada dos afetos humanos emfuno de sua utilidade, isto , do grau de alegria e detristeza que acompanha seu desenvolvimento; a segunda(proposies 59 a 66), sobre o controle racional dosapetites humanos; e, por fim, a terceira (proposies67 a 73), sobre a vida dos homens livres.

    A quinta parte da tica est organizada em doisaxiomas e quarenta e duas proposies, acrescidas deum prefcio. Os axiomas versam sobre a mudana quenecessariamente ocorre com aes contrriassuscitadas num mesmo sujeito (axioma 1) e sobre apotncia de um efeito ser necessariamente definida pelapotncia da causa pois a essncia do efeito explicadapela essncia da sua causa (axioma 2). No prefciodesta parte Spinoza trata do caminho que conduz liberdade ou da potncia da razo, define a liberdadeou a beatitude da mente e mostra qual o poder darazo sobre os afetos.

    Macherey (1997a, p. 227-230) vai dividi-la emduas partes, a primeira (proposies 1 a 20), na qualtrata dos remdios aos afetos, e a segunda (proposies21 a 42), na qual trata da beatitude suprema. Estaspartes sero por sua vez subdivididas em duas e quatro

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    sees, respectivamente. A primeira delas (proposies1 a 10) versa sobre a terapia psicofisiolgica; a segunda(proposies 11 a 20), sobre uma nova arte de amar: oamor que tem Deus por objeto. J a primeira seo dasegunda diviso (proposies 21 a 31) trata da cinciaintuitiva e o ponto de vista da eternidade; a segunda(proposies 32 a 37) trata do amor intelectual de Deus;a terceira (proposies 38 a 40) trata da liberao doesprito; e, por fim, a quarta e ltima (proposies 41 a42) trata da tica no cotidiano.

    2 AS DEFINIES DA PARTE 1 DA TICA

    Por ser a parte fundante do sistema spinozista,iremos agora analisar mais detidamente os elementosque fundamentam o De Deo e, em ltima instncia,toda a tica, ou seja, as definies iniciais de todo osistema. Iniciaremos nossa anlise conceituando adefinio, ou seja, o que Spinoza considera umadefinio. A seguir iremos considerar a natureza, aclassificao e a lgica das definies da parte 1. Porfim, faremos uma anlise mais detida na definio queabre a tica: a definio de causa sui ou causa de si.

    Ressalte-se que, apesar de nossa anlise serestringir s definies da parte 1, ela pode ser estendidas demais definies, pois todas elas tm o mesmoestatuto na tica, independente do lugar que ocupam.

    2.1 AS DEFINIES DA PARTE 1 DA TICA

    Considerando o subttulo da tica, Ordinegeometrico demonstrata, Maria Carmen Casillas Guisadoafirma que o mtodo empregado na obra dedutivo.

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    A definio, enquanto um dos constituintes dossistemas dedutivos deve determinar [...] o significadode novos termos com ajuda dos termos primitivos oude outras expresses j definidas. (1999, p. 202), e[...] devem aclarar por completo o sentido dosconceitos definidos, estabelecendo o seu significado.(Ibid., p. 202). Alm disso, a definio consiste emenunciar o que caracteriza essencialmente uma coisa,o que faz a coisa a ser definida ser o que ela ; ou,como escreve Spinoza: [...] a verdadeira definio decada coisa no envolve e no exprime seno a naturezada coisa definida. (E1P8S2).

    Na Carta 9, endereada a Simon de Vries, Spinozadistingue dois gneros de definio: [...] a definioque serve para explicar uma coisa, da qual s se busca aessncia, pois somente desta se duvida, e uma definioproposta para ser somente examinada. (Ep 9, SO4, p.42). O primeiro gnero [...] explica a coisa tal como fora do entendimento, [...] (Ibid., p. 43), e o segundo[...] explica as coisas tais como so concebidas oupodem ser concebidas por ns, [...] (Ibid., p. 43-44).Enquanto das definies do primeiro gnero, por seremrepresentaes de coisas determinadas, pode-se predicar[...] a verdade ou a falsidade, e para que seja uma boadefinio h de ser verdadeira; o denominado critriode correspondncia, entre o que diz uma sentena e oque ocorre na realidade deve existir uma relao deadequao ou satisfao. (GUISADO, 1999, p. 206),das definies do segundo gnero, por serem simplesmodos do pensamento sem correspondncia exterior,neste gnero de definies no posta em questo a

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    verdade ou no do que foi concebido, ou seja, no sepode exigir [...] a verdade como correspondncia, massim que seja concebvel a definio e o objeto definido[...] (Ibid., p. 206). Em outros termos: no primeirognero, as definies so representaes, e como taistm um objeto determinado, cuja [...] concebibilidade,agora, no concerne mais simplesmente coernciainterior de nosso pensamento, mas possibilidadeintrnseca da coisa representada. (GUEROULT, 1997,v. 1, p. 23). E, no segundo gnero, por no seremrepresentaes, as definies so apenas concepesinternas ao pensamento sem correspondncia exterior,a concebibilidade [...] puramente subjetiva, elaconcerne somente no-contradio interna de nossopensamento, [...] (Ibid., p. 23).

    Nesta mesma Carta, Spinoza cita e analisa oexemplo de uma m Definio, a definio de Borelli:[...] algum disse que duas linhas retas que encerramum espao so ditas figurveis. (Ep 9, SO4, p. 44). Senesta definio os termos linhas retas esto sendoempregados no sentido usado habitualmente pelosgemetras, teremos uma m definio porque elaestaria atribuindo uma natureza inconcebvel em simesma coisa: o espao encerrado entre duas retas.Ora, de acordo com os conceitos acordes pelaGeometria, duas retas podem fazer um nguloqualquer, caso se cruzem, mas nunca encerraro umespao. Alm de ser uma m definio, ela seria,tambm, necessariamente falsa, visto no poder serconforme a natureza da coisa definida. Explicitandoestas duas razes, pode-se afirmar que a definio

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    formulada com termos de sentido diverso do sentidousual em que estes termos so utilizados (mdenominao) e se aplica a algo que inconcebvel,caso seja observado o sentido usual dos termosempregados: um espao encerrado por duas retas(inconcebibilidade real), ou seja, segundo Gueroult, uma m definio [...] porque a estrutura essencial queela atribui coisa ela mesma inconcebvel; e, dessefato, ela falsa, visto ela no ser e no poder serconforme a natureza de seu objeto. (1997, v. 1, p. 24).

    Na hiptese de convencionarmos quesubstituiremos os termos linhas retas por linhascurvas, e sempre que nos referirmos queles,escreveremos estes ltimos, poderamos esclarecer osentido dos termos empregados por Borelli. Por meiodesta conveno, a definio se tornaria concebvelporque eliminaramos as duas razes que a tornam umam definio, seja na perspectiva do sentido dos termos(m denominao), seja na perspectiva da possibilidadeintrnseca do seu objeto (inconcebibilidade real), isto ,a definio agora se torna concebvel porque versa sobreum objeto possvel: o espao encerrado entre duas linhascurvas. Assim convencionada, a definio no ser maisnecessariamente falsa e poderemos introduzir aquesto dela ser ou no verdadeira: no caso de serconforme a natureza do objeto definido ela ser umadefinio verdadeira; em caso contrrio, ela ser falsa.

    Portanto, uma boa definio para Spinoza devecumprir duas exigncias bsicas: em primeiro lugar,deve ser formulada, utilizando os termos em seusentido usual, ou definindo o seu novo sentido, se os

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    utilizarmos em sentido diverso; em segundo lugar, aestrutura essencial atribuda ao objeto deve ela mesmaser concebvel no caso das definies do primeirognero (que se referem aos objetos exteriores aoentendimento); no caso das definies do segundognero (que no se referem s coisas exteriores aoentendimento), devem apenas ser concebveisinternamente. Se qualquer uma destas duas exignciasno for cumprida, teremos uma m definio, semelhana da definio de Borelli. Observe-se queestas condies de Spinoza concernentes s definiesso em tudo semelhantes s condies gerais devalidade das definies do mtodo dedutivo em geral,conforme a citao supra de Guisado (1999, p. 202).

    2.2 A NATUREZA DAS DEFINIES

    No obstante a explicao de Spinoza na Carta9 sobre as definies, como a tica foi escrita ordinegeometrico demonstrata, ou, conforme Guisado (1999,p. 202), dedutivamente, torna-se necessrioexaminarmos a natureza de suas definies. Talnecessidade advm, por um lado, da considerao dosistema spinozista como dedutivo, no qual as definiesdevem cumprir determinadas condies para seremconsideradas adequadas, como, por exemplo, eliminara ambiguidade dos termos definidos, que implica naverificao das condies de adequao requeridas(Ibid., p. 203). Por outro lado, a considerar a anlisede Victor Delbos (1987, p. 7) e Martial Gueroult (1997,v. 1, p. 36), o sistema spinozista, considerado comogeomtrico, implica na verificao das condies deinteligibilidade de suas definies, que devem ser as

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    mesmas das definies geomtricas iniciais, queexcluem necessariamente qualquer questionamentoestranho ao contedo precedentemente posto ouqualquer noo que no seja diretamente exigvel pelasafirmativas, isto , se as definies so imediatamenteevidentes ou se necessitam de algo mais alm delasmesmas para terem a certeza da verdade.

    Entretanto, cumpre ressaltar a distino entreos objetos temticos da Geometria e da Metafsica:quanto primeira, seu objeto de estudo so os seresde razo (as essncias das coisas que no tem existnciaexterior a ns); quanto segunda, seu objeto temticoso os seres fisicamente reais (as essncias das coisasque tm existncia exterior a ns, seja na durao ouna eternidade). desta distino dos objetos temticosque advm a importncia da natureza das definiesmetafsicas, pois elas versam sobre as essncias decoisas exteriores a ns constituindo um conjunto denoes fundamentais no sistema spinozista. Para Gueroult(Ibid., p. 27), ao contrrio da Geometria, a admisso daverdade destas noes deve necessariamente ultrapassara mera concebibilidade interna ao entendimento. Asdefinies metafsicas, ou os [...] pressupostos daPhilosophia so investidos de uma evidncia ao menosigual quela dos pressupostos da Geometria, [...](Ibid., p. 36), ou seja, elas devem poder sustentarapenas por si a certeza da verdade preconizada porSpinoza em sua definio de mtodo, para que possamser o fundamento de toda a tica. Ou, como escreveLouis Meyer, no Prfatio dos PPC, Pois, como todoconhecimento certo e seguro de uma coisa

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    desconhecida somente pode ser extrado e derivadode coisas previamente conhecidas com certeza, necessrio assentar antes estas na base, para levantardepois sobre elas, como um fundamento slido, todo oedifcio do conhecimento humano, sem risco deste seabater por si mesmo ou de desabar ao menor choque.(SO1, p. 127, grifo nosso).

    Pelo exposto, evidencia-se a necessidade dasdefinies da tica serem consideradas comopertencentes ao primeiro gnero citado por Spinoza naCarta 9, referindo-se s coisas exteriores ao pensamento,definindo-as verdadeiramente, ou seja, como definiesde coisas externas ao nosso entendimento ecorrespondentes a elas. Todavia, cumpre examinarmosse seria lcito consider-las em tal sentido forte, ou, emcaso contrrio, a despeito de sua necessidade de certeza,as definies devem ser consideradas num sentido maisfraco, incluindo-se no segundo gnero, ao lado dasnoes internas ao pensamento, sem nenhumacorrespondncia exterior. Ou, ainda, apesar de remota,numa terceira hiptese: a de que as definies seriamuma mera conveno verbal, restringindo-se a assinalaro significado desta ou daquela palavra.

    Nesta ltima hiptese, as definies seriamapenas nominais, cuja funo dentro do sistema serianica e necessariamente a de nomear as coisas; ou,como escreve Gueroult, ao analisar esta hiptese: [...]elas se contentariam em explicar os nomes pelos quaisnos convm designar tal ou tal coisa, e seu enunciadono acarreta, como aquele dos axiomas, nossoassentimento necessrio. (1997, v. 1, p. 20, grifo do

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    autor). Neste caso, no seria lcito considerar asdefinies como noes fundamentais na tica, poisestaramos tratando de convenes verbais; e, comotais, a nica pretenso de evidncia que poderiam terseria a consensual. Assinale-se aqui que no a hiptesedas definies serem nominais o que lhes interdita afuno de noes fundamentais, mas sim a hiptesede que esta seja a sua nica funo dentro da tica.Como vimos acima, no exemplo dado por Spinoza deuma m definio, nomear corretamente as coisas fundamental para a concebibilidade das definies, e,por conseguinte, para a garantia de suas funes naobra. Com efeito, a importncia da designao corretadas coisas explicitamente sustentada por Spinoza naparte 2 da tica, ao escrever que [...] a maioria doserros consiste apenas em que no aplicamoscorretamente os nomes s coisas. (E2P47S).

    Se considerarmos as definies spinozistas nosentido mais fraco, como simples modos dopensamento sem correspondncia exterior a este, nose poderia indagar acerca da verdade ou no dasdefinies, pois, como vimos acima, uma definioverdadeira em relao aos seres fisicamente reais aquela que est conforme com a natureza da coisadefinida. Ora, neste caso, as definies no seriamrepresentaes de objetos exteriores ao entendimento,o que nos interditaria de considerar as definies comoconformes ou no natureza de um objeto, visto nohaver nenhum representado. Neste caso, a nicanecessidade das definies seria a da concebibilidadeinterna. Se no podemos questionar a conformidade

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    aos objetos ou no das definies deste gnero, elasno podem ser consideradas como definies de seresfisicamente reais e, muito menos, comoindubitavelmente certas pela Metafsica; porconsequncia, as definies deste gnero estoexcludas como noes fundamentais da tica.

    Por fim, resta-nos considerar as definies datica como pertencentes ao primeiro gnero citado porSpinoza na Carta 9 ou, no sentido forte: as definiesso representaes de objetos exteriores ao pensamentoque convm ou devem convir a estes mesmos objetos,definindo-os verdadeiramente. A licitude como noesfundamentais do sistema spinozista das definies assimconsideradas repousa sobre um paralelo entre aGeometria e a Metafsica, pois Spinoza confere ao ordinegeometrico, ou s matemticas (Mathesis), a funo deelevar o entendimento finito inteligibilidade do que racional; ou como escreve no Apndice parte 1 da tica,aps descrever o prejuzo das causas finais: Isto s porsi seria causa bastante para que a verdade ficasse parasempre oculta ao gnero humano, se a Matemtica, queno se ocupa de finalidades, mas apenas da essnciadas figuras e respectivas propriedades, no desse aconhecer aos homens uma outra norma de verdade.(E1A, SO2, p. 79).

    Segundo Gueroult, a legitimidade das definiesMetafsicas resulta da identificao da Metafsica coma Geometria, de tal modo que a potncia de verdadepela qual devam ser concebidos os seres fisicamentereais no possa ser outra que aquela pela qual soconcebidos os seres de razo. O que funda este paralelo

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    o fato de que a revelao do entendimento comopotncia de verdade dada ao homem pela Geometria,porque somente nesta que o homem [...] apreendeem ato a produo espontnea de ideias pelo seupensamento, e vendo a verdade destas ideias se impora ele do fato que, as produzindo ele mesmo, ele asapreende interiormente em sua gnese. (Ibid., p. 28),ou seja, os seres de razo da Geometria, ou seresgeomtricos, tm uma especificidade que os outrosseres de razo no tem: ns podemos determinar-lhesuma causa adequada, enquanto que os outros seres derazo implicam a ignorncia das verdadeiras causas.De fato, a definio especfica de uma figuraGeomtrica pode ser substituda por uma definiogentica (que explica a gnese da figura), ainda que afigura na natureza no seja engendrada como foidescrita nesta definio. Entretanto, mesmo sendofictcia, segundo Gilles Deleuze que se fundamentanos 73, 75 e 76 do TIE esta causa pode ser utilizadacomo um [...] bom ponto de partida, caso a utilizemospara conhecer a nossa potncia de compreender, comoum trampolim para atingir a ideia de Deus(determinando Deus o movimento da linha ou dosemicrculo). (2002, p. 54-55).

    Para Gueroult, (Ibid., p. 28), se a Metafsica possvel como cincia, ela deve poder utilizar estapotncia de verdade de modo que o entendimentopossa produzir espontaneamente as ideias dos seresreais, semelhana da Geometria que produzespontaneamente as ideias dos seres de razo. De fato,ao expor as propriedades do entendimento, no que se

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    refere produo das ideias, Spinoza considera que estase d por duas vias: o entendimento [...] forma certasideias absolutamente, e algumas a partir de outras. (TIE, 108). O exemplo utilizado para as ideias que se formamabsolutamente extrado da Geometria: Assim queforma a ideia da quantidade absolutamente, semreferncia a outros conhecimentos, [...] (Ibid., 108,grifo nosso). Portanto, apesar das distines temticas,a fonte produtora das ideias fundamentais da Geometriae da Metafsica a mesma: o entendimento finitoenquanto parte do entendimento infinito, ou seja, oentendimento como potncia de verdade.

    2.3 A CLASSIFICAO DAS DEFINIES DA PARTE 1

    Das oito definies da parte 1 da tica, seteforam escritas como notae per se, pois no serodemonstradas ulteriormente. Somente a sexta (adefinio de Deus) ser demonstrada nas proposiesseguintes desta parte. Entretanto, a necessidade dedemonstr-la no implica a sua excluso das notionscommunes, isto , princpios universalmente aceitos,evidentes, indemonstrveis e indispensveis que estona base de nosso raciocnio. Spinoza explica quesomente h necessidade de demonstrar, porque oshomens no fazem [...] distino entre asmodificaes das substncias e as prprias substnciase no saberem como so produzidas as coisas.(E1P8S2), donde, [...] confundem a natureza divinacom a natureza humana [...] (E1P8S2); ou ento,porque os homens no esto livres de preconceitos(E2P40S1).

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    2.4 A LGICA DAS DEFINIES DA PARTE 1

    Segundo Guisado, Os termos primitivos de umateoria dedutiva so aqueles que se aceitam semnecessidade de se explicar seu significado e cujapropriedade a independncia lgica, [...] (1999, p.199, grifo do autor). com a ajuda dos termosprimitivos que as definies vo determinar osignificado de novos termos, denominados derivados,que, por sua vez, iro compor-se com os primitivospara definirem outros termos. Para Guisado (Ibid., p.200), Spinoza vai utilizar os termos primitivosdenominados prprios, em suas definies, como, porexemplo, essncia, existncia, o limitado e causa; e ostermos primitivos denominados imprprios ou lgicos,como por exemplo, implicar, conceber e a negao.Assim, as noes de causa sui (E1Def1), livre (E1Def7)e eternidade (E1Def8) so definidas pelos termosprimitivos prprios essncia e existncia e pelos termosprimitivos lgicos implicar e conceber. J a noo definitude em seu gnero (E1Def2) definida pelos termosprimitivos prprios o limitado e essncia. O termosubstncia (E1Def3) derivado do termo primitivoprprio existncia e dos primitivos lgicos conceber e anegao. O termo atributo (E1Def4) deriva do termoprimitivo prprio essncia e do derivado substncia. Otermo modo (E1Def5) deriva do primitivo prprioexistncia, do primitivo lgico conceber e do derivadosubstncia. O termo Deus (E1Def6) deriva dos termosprimitivos prprios essncia, existncia e o limitado, doprimitivo lgico a negao e dos derivados substncia,atributo, eterno (E1Def8) e infinito (definido na prpria

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    E1Def6). O termo necessria (E1Def7) foi definido apartir do termo primitivo prprio existncia.

    Podemos observar que dentre as sete definiesnot per se, as trs que definem o critrio dasubstancialidade (E1Def3), do atributo (E1Def4) e domodo (E1Def5) dependem dos termos primitivosprprios existncia e essncia. Das quatro restantes destegrupo, que definem as propriedades, causa sui (E1Def1),eternidade (E1Def8), livre (E1Def7) e finitude em seugnero (E1Def2), as trs primeiras dependemunicamente de termos primitivos, os prprios essncia eexistncia e os lgicos implicar e conceber. J a quartadefinio de propriedade, deriva dos termos primitivosprprios essncia e o limitado. Donde os termos primitivosprprios existncia e essncia esto na base de toda atica. Ora, estes termos esto reunidos em uma nicadefinio, a definio de causa sui.

    2.5 A DEFINIO INICIAL: CAUSA SUI

    Por causa de si entendo aquilo cuja essncia envolvea existncia; ou isto, aquilo cuja natureza no podeser concebida seno como existente. (E1Def1)3.

    Com esta definio notum per se Spinoza iniciaa tica. Apesar de no estar definindo nenhuma coisae sim uma propriedade, esta uma das definiesfundamentais do sistema spinozista por postular aidentidade entre aquilo que e aquilo que concebido,ou seja, a definio que funda a ontologia spinozista

    3 Cf. o original: Per causam sui intelligo id cujus essentia involvitexistentiam sive id cujus natura non potest concipi nisi existens.(E1Def1, SO2, p. 45).

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    porque possibilita que aquilo que o entendimento finito(por ser parte do entendimento infinito) concebe dacoisa e o que a coisa em si sejam postos como idnticos.Segundo Deleuze (2002, p. 62), Spinoza inverte atradio que empregava a noo de causa sui emanalogia com a causalidade eficiente, como causa deum efeito distinto, ou, num sentido apenas derivado, noqual a noo de causa sui significaria to somente comopor uma causa, fazendo da causa sui o arqutipo de todaa causalidade, no seu sentido originrio e exaustivo.

    Como vimos acima, as definies em Spinozapodem ser de dois gneros: o primeiro explica a coisatal como fora do entendimento, e o segundo explica acoisa tal como concebida ou pode ser concebida porns. Ora, apesar da necessidade que as definies datica tm de pertencerem ao primeiro gnero, pelo fatoda definio de causa sui uma propriedade, e comotal, considerada pela tradio um conceito derivado esempre in alio , estar antecedendo a definio desubstncia considerada como um conceito primitivo,e sempre in se , no estaramos inclinados a consideraresta definio como uma exceo, e, por conseguinte,inclu-la no segundo gnero citado?

    Ademais, se considerarmos o que Spinozaescreve na Carta 60, a Tschirnhaus: [...] julgo quebasta observar o seguinte, cumpre averiguar aquelaideia da qual possa se deduzir todas, [...] (Ep 60, SO4,p. 271), constataramos que a definio de substnciaest mais acorde com esta condio do que a de causasui, ou seja, a definio de substncia seria maisadequada a uma introduo ao sistema, pois esta nos

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    assemelha mais primitiva do que uma definio depropriedade (da substncia). Alm disso, podemostambm indagar o porqu da definio de causa suiestar definindo a propriedade de algo (a substncia)ser a causa de si mesmo, sem que se tenha antesdefinido este algo ou sequer postulado a sua existncia.

    Quanto primeira questo, devemos considerara importncia da causa sui como propriedade necessriae fundamental da substncia absolutamente infinitaou Deus. Vimos anteriormente que devido falta deateno ou por preconceito dos homens, a definiosexta (ou de Deus) necessita ser ulteriormentedemonstrada. Ora, a propriedade de ser causa de simesmo deve necessariamente pertencer ao serabsolutamente infinito, ou seja, sem a causa suidefinida, Spinoza no poderia provar a existnciadivina e nem sequer postular a sua existncia. No dizerde Gueroult, a causa sui um importante [...] meiode prova, porque ela a propriedade decisiva dasubstncia que vai permitir estabelecer a existncia deDeus. (Ibid., p. 41). A utilizao da propriedade dealgo ser a causa de si mesmo, ou a causa sui comomeio de prova para a existncia de Deus, pode sermelhor evidenciada se examinarmos a forma das duasprovas que utilizam o argumento ontolgico: a primeirae a ltima dentre as quatro provas apresentadas porSpinoza fundamentam-se no argumento ontolgico deforma distinta, sendo esta fundamentao indireta naprimeira, atravs da demonstrao pelo absurdo e naltima a fundamentao direta. A utilizao dadefinio de causa sui nestas provas indispensvel,

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    porque na primeira ela que interdita negar que aessncia divina no envolve a existncia (E1P7D eE1P8S2), sob pena de incorrermos em um absurdo(E1P11D), isto , concebermos um ser absolutamenteinfinito que no capaz de se autoproduzir; e na segundaela afirmada como uma propriedade necessria deum ente absolutamente infinito, isto , Deus (E1P11S).

    Quanto segunda questo, em Geometria oentendimento produz espontaneamente as ideias dosseres de razo sem postular a existncia externa ou node tais seres, podendo [...] definir uma certa propriedadeseparadamente, sem saber se alguma figura possa possu-la. (GUEROULT, 1997, v. 1, p. 40). Donde surge oproblema: [...] procurar a figura que possua talpropriedade ou, se for o caso, demonstrar que ela nopode existir em nenhuma. (Ibid., p. 40), pois Para cadacoisa deve poder designar-se a causa, ou razo, pela quala coisa existe ou no existe. (E1P11D2). Na Metafsicaocorre o mesmo, pode-se definir a propriedade de umacoisa sem que seja necessrio, simultaneamente,postularmos a existncia ou no desta coisa. De fato, se afonte produtora das ideias fundamentais da Metafsica a mesma da Geometria, ou seja, o entendimento finitoenquanto parte do entendimento infinito, no haveriaporque postularmos um estatuto diferente para as noesfundamentais da Metafsica, ainda que os objetostemticos sejam distintos.

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