Veredas Violadas: o Canto dos Cantos do Sertao

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Veredas Violadas: o canto dos cantos do Sertão Vitor V. Vasconcelos I ; Apinyapon Seingyai II ; I Doutorando em Geologia, Universidade Federal de Ouro Preto, Mestre em Geografia, Especialista em Solos e Meio Ambiente, Bacharel em Filosofia, Técnico em Meio Ambiente, Técnico em Informática, [email protected] II Mestre em Economia, Bacharel em Economia, Bacharel em Direito. Analista do Housing Bank of Thailad. Disponível em: http://pt.scribd.com/doc/175666184/veredas-violadas-o-canto-dos-cantos-do-sertao Versão para língua portuguesa do original publicado em: VASCONCELOS, V.V.; SEINGYAI, A. The Songs of the Violated Vereda Wetlands in the Nooks of Brazilian Savannah Backlands. Campo Terriório, v. 8, n. 16, p. 480-508, august, 2013. Disponível em: http://www.seer.ufu.br/index.php/campoterritorio/article/viewFile/20917/13093

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O artigo procura apresentar resultados dos diálogos estabelecidos no âmbito do evento Veredas Violadas, edição do Festival Sagarana: Feito Rosa para o Sertão, em novembro de 2012. São discutidos aspectos conceituais, culturais e de políticas públicas sobre os ecossistemas de veredas. É dada ênfase especial à percepção do povo veredeiros e o seu relacionamento com seu ambiente, incluindo essa expressão na obra de João Guimarães Rosa. É apresentada uma tipologia de impactos ambientais nos ecossistemas de veredas, com base na etimologia regional com que os sertanejos interpretam esses impactos.

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Veredas Violadas: o canto dos cantos do Sertão

Vitor V. VasconcelosI; Apinyapon SeingyaiII;

I Doutorando em Geologia, Universidade Federal de Ouro Preto, Mestre em Geografia,

Especialista em Solos e Meio Ambiente, Bacharel em Filosofia, Técnico em Meio Ambiente, Técnico em Informática, [email protected]

II Mestre em Economia, Bacharel em Economia, Bacharel em Direito. Analista do Housing Bank

of Thailad.

Disponível em:

http://pt.scribd.com/doc/175666184/veredas-violadas-o-canto-dos-cantos-do-sertao

Versão para língua portuguesa do original publicado em:

VASCONCELOS, V.V.; SEINGYAI, A. The Songs of the Violated Vereda Wetlands in the Nooks of Brazilian

Savannah Backlands. Campo Terriório, v. 8, n. 16, p. 480-508, august, 2013. Disponível em:

http://www.seer.ufu.br/index.php/campoterritorio/article/viewFile/20917/13093

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o canto dos cantos do Sertão

Vitor Vieira Vasconcelos

Apinyapon Seingyai

VEREDAS VIOLADAS: o canto dos cantos do Sertão

THE SONGS OF THE VIOLATED VEREDA WETLANDS IN THE

NOOKS OF BRAZILIAN SAVANNAH BACKLANDS1

Vitor Vieira Vasconcelos Doutorando em Geologia na Universidade Federal de Ouro Preto, Mestre em Geografia, Especialista em

Solos e Meio Ambiente, Bacharel em Filosofia, Graduando em Geografia, Técnico em Meio Ambiente,

Técnico em Informática Industrial

Consultor Legislativo de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Assembleia Legislativa de

Minas Gerais

[email protected]

Apinyapon Seingyai Mestre em Economia, Bacharel em Economia, Bacharel em Direito

Analista do Housing Bank of Thailand

[email protected]

Resumo: O artigo procura apresentar resultados dos diálogos estabelecidos no âmbito

do evento Veredas Violadas, edição do Festival Sagarana: Feito Rosa para o Sertão, em

novembro de 2012. São discutidos aspectos conceituais, culturais e de políticas

públicas sobre os ecossistemas de veredas. É dada ênfase especial à percepção do povo

veredeiros e o seu relacionamento com seu ambiente, incluindo essa expressão na obra

de João Guimarães Rosa. É apresentada uma tipologia de impactos ambientais nos

ecossistemas de veredas, com base na etimologia regional com que os sertanejos

interpretam esses impactos.

Palavras-chave: Veredas, Veredeiros, Populações Tradicionais, Meio Ambiente,

Guimarães Rosa, Sagarana.

Abstract: This report seeks to present the outcome of exchanges conducted within the

event, Songs of Violated Vereda Wetlands (Veredas Violadas), the most recent

celebration of the Sagarana Festival: Becoming Guimarães Rosa for the Backlands

(como Rosa para o Sertão),2 in November 2012. Topics for discussion included

conceptual and cultural aspects, and public policies on the ecosystems of vereda

wetlands. Special emphasis was placed on the perception of traditional populations

living in the Brazilian Savannah hinterlands and their relationship to the Veredas,

including the expression of traditional life in the work of João Guimarães Rosa3. A

typology of the environmental impact on the ecosystems of veredas is presented, based

on the regional etymology by which the peoples of the hinterlands interpret these

impacts.

Keywords: Veredas, Wetlands,, Vereda’s inhabitants, traditional populations,

environment, Guimarães Rosa, Sagarana.

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Introdução

O Festival Sagarana – Feito Rosa para o Sertão, é realizado anualmente, desde

2008, no distrito de Sagarana, município de Arinos, no Noroeste de Minas Gerais. O

objetivo do festival é servir como um encontro dos povos do sertão, contemplando arte,

literatura, canto, dança, política, tecnologias sociais e demais aspectos que unem a

cultura dos povos do Vale do Urucuia e do Sertão do Brasil. Em 2012, o tema do

festival foi Veredas Violadas, realizado de 14 a 18 de novembro, com o seguinte

chamamento 2:

A quinta edição do festival permite-nos evidenciar, do Vale do Urucuia para o

Mundo, a sua face mais contemplativa. A que nos remete à essencialidade do cuidado

com a terra, com o solo, com as águas e o bioma que as povoa e preserva: o cerrado.

Uma simbiose somente interrompida pela força e ação inescrupulosa do homem,

impulsionadas pelo insensato e insensível do imediatismo capitalista. Cobra-nos, de

forma inusitada e singela, a preservação dos bens culturais e identitários – como as

modas de viola, os causos, os ditos, os fazeres e saberes populares regionais, que

sustentam a própria sobrevivência humana – harmônica, solidária, (com)partilhada e

igualitária; o que resultaria na sustentabilidade integral de comunidades, povos, fauna,

flora, solos e água, num círculo virtuo-frutuoso.

Daí, o tema esta feita intuído para alinhavar o evento – gravitanto o universo

das tecnologias sociais – composto por múltiplos outros acontecimentos, soa como

profecia roseana desentranhada do coração de algum de seus personagens marcantes

(quiça Riobaldo, com sua sabedoria contundente e desprendida?):

Veredas Violadas

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Figura 1 – Arte do Festival Sagarana: Feito Rosa para o Sertão, edição Veredas

Violadas.

Nesse contexto, o evento tomou corpo com o apoio da Assembleia Legislativa

de Minas Gerais – ALMG –, da Fundação Banco do Brasil, do Ministério Público de

Minas Gerais, do Instituto Estadual de Florestas, do Ministério do Desenvolvimento

Agrário, do Ministério do Meio Ambiente e de diversas outras instituições e

movimentos sociais ligados ao desenvolvimento sustentável dos povos sertanejos.

Previamente ao evento, a Consultoria Legislativa da ALMG preparou um estudo

estruturando o conhecimento existente acerca das veredas e do povo veredeiro, para

servir como base para as atividades e discussões a serem realizadas no evento.

O presente artigo parte do conteúdo desse estudo e o desenvolve a partir dos

diálogos realizados no âmbito do festival. As veredas são o tema central, abordando

aspectos conceituais, culturais e de políticas públicas. O artigo está estruturado nesses

três respectivos tópicos, porquanto os aspectos ambientais permeiam todos os temas.

Também foi levada em consideração especial a análise da percepção da população

sertaneja em relação às veredas e sobre a expressão desse ecossistema nas obras do

escritor João Guimarães Rosa. No tópico sobre políticas públicas, é proposta uma

tipologia de impactos ambientais em veredas, tomando por base a etimologia com que

os povos sertanejos compreendem esses impactos.

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Conceituação

As veredas constituem ambientes vales rasos, com solos brejosos e elevada

concentração de matéria orgânica em decomposição, de onde fluem nascentes perenes,

ao longo de todo o ano hidrológico (BOAVENTURA, 1978 e 1988; FERREIRA, 1988;

EITEN, 1993, p. 66). Nesse ambiente, desenvolve-se uma vegetação típica, adaptada ao

encharcamento do solo, em que saltam à vista as palmeiras Buriti (Mauritia vinifera M.

ou flexuosa), com ocorrência também das palmeiras Carimá (Maurítia armata, M.) e

Indaia (Attalea compta) (MARTIUS e SPIX, 1981, p. 109-110; RIBEIRO e WALTER,

2008). O Buriti, espécie-símbolo das veredas, significa ao mesmo tempo, árvore da vida

e árvore de onde flui líquido, em tupi-guarani (LORENZI, 1996). Ao redor da área de

palmeiras, encontra-se um envoltório ovalado de campo de solo úmido com caimento

suave, apresentando espécies de gramíneas também especialmente adaptadas a esse

ambiente (MELO, 1992; EITEN, 2001; IBGE, 2004; MELO e ESPÍNDOLA, 2006).

Figura 2 - Vereda da Capivara, destacando os buritizeiros e o campo úmido do

envoltório. Município de Bonito de Minas-MG. Fonte: Boaventura (2007, p. 90)

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Figura 3 – Ramificação da Vereda do Catolé. Município de Bonito de Minas. Fonte:

Neves (2013)

As veredas marcam a surgência de nascentes e podem acompanhar os cursos de

água por vários quilômetros (AGUIAR e CAMARGO, 2004; AUGUSTIN e MELO,

2009, p. 103; SANTOS e FERREIRA, 2009). Devido a sua função na manutenção da

vazão dos cursos de água, são chamadas de “Berço das Águas” (BOAVENTURA, 2007;

FERREIRA, 2008, p. 6) ou “Mãe das Águas” (JOVENS DO BEIRA RIO, 2009). A

presença de água e a vegetação são razões para justificar o papel ecológico crucial desse

ecossistema para a manutenção da fauna do Cerrado, com funções de dessedentação,

alimentação, abrigo, corredor ecológico e ambiente de reprodução (CASTRO, 1980;

VIANA, 1987; BAGGIO, 2002).

Uma boa descrição das veredas pode ser obtida na obra Grande Sertão:

Veredas, de Guimarães Rosa:

Saem dos mesmos brejos – buritizais enormes. Por lá, sucuri geme.

Cada sucuriú do grosso: voa corpo no veado e se enrosca nele, abofa

– trinta palmos! Tudo em volta, é um barro colador, que segura até

casco de mula, arranca ferradura por ferradura. Com medo de mãe-

cobra, se vê muito bicho retardar ponderado, paz de hora de poder

água beber, esses escondidos atrás de touceiras de buritirama. Mas o

sassafrás dá mato, guardando o poço; o que cheira um bom perfume.

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Jacaré grita, uma, duas, três vezes, rouco roncado. Jacaré choca –

olhalhão, crespido do lamal, feio mirado na gente. Eh, ele sabe se

engordar. Nas lagoas aonde nem um de asas não pousa, por causa de

fome de jacaré e de piranha serrafina. Ou outra – lagoa que nem

abre o olho, de tanto junco. Daí longe em longe, os brejos vão

virando rios. Buritizal vem com eles, buriti se segue, segue. (ROSA,

1986, p. 29-30)

As veredas são um nicho ecológico típico do Bioma Cerrado, com ocorrência

mais comum nas áreas planas, como as chapadas (AUGUSTIN e MELO, 2009, p. 103).

Todavia, também são registradas veredas no Bioma Caatinga (Área de Proteção

Ambiental – APA – Dunas e Veredas do Médio-Baixo São Francisco, na Bahia) e em

campos de altitude (como a Serra do Cabral, em Minas Gerais, e a Área de Relevante

Interesse Ecológico – Arie – Buriti, no Paraná) (CARRIJO, 2007). Há o registro de

buritizais em grande parte do Bioma Amazônico, todavia em um contexto ambiental

distinto das veredas. A ocorrência de veredas no Estado de Minas Gerais foi mapeada

pelo Instituto Estadual de Florestas – IEF – de 2005 a 2009 (SEMAD, 2006 E 2009). A

localização das veredas, bem como sua proteção por unidades de conservação, pode ser

observada no mapa da Figura 4.

O termo vereda tem raiz etimológica do celta “cavalo” (voredos), apropriado

pelo latim como cavalo mensageiro (veredus), palavra que posteriormente adquiriu o

sentido de caminho, tendo remetimento aos trilhos percorridos pelos cavaleiros

mensageiros (SILVEIRA BUENO, 1974, p. 4227). No Brasil, os ambientes de veredas

remetem etimologicamente a “caminho das águas”, como também ao fato de esses

ambientes serem trechos comuns para as trilhas de tropeiros e boiadeiros, em razão da

presença de água e do microclima ameno, em contraposição às chapadas quentes e com

escassos cursos de água (SOUZA, 1973, p. 297).

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Figura 4 - Mapa com a localização das veredas no Estado de Minas Gerais, bem como das unidades de conservação com ocorrência desse

ecossistema.

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Aspectos Culturais

A percepção dos grupos sociais sobre as veredas e a relação que têm com elas

são bastante diversos, conforme se observa nas seguintes citações compiladas por

Ferreira (2003, p. 160):

É onde nasce os córregos. É cheia de buritis. Serve como aguada para

o gado e para fazer represa para irrigação de lavoura.

(Informação verbal, fazendeiro, 45 anos)

É um brejo cheio de buriti com atoladô de criação na seca. Também é

aonde a gente cortava folha de buriti para cobrir os rancho de palha,

hoje usamos telha.

(Informação verbal, vaqueiro, 36 anos)

É um brejo danado, cheio de capim-navaia que só da gente encostá

corta, tem buriti também e vara reta de pindaíba prá caibro de

rancho. Serve para escondê gato-do-mato pegadô de galinha de

manhã cedo. Tá acabando.

(Informação verbal, morador de beira-rio, 52 anos)

É aonde nasce os corgos e de onde a gente puxava os rego d’água pra

tocá o monjolo. Tinha muito poço bão de pescá piaba bocuda entre os

pé de buriti. As veis a gente dá de cara com sucuri escondido no meio

do capim. Antigamente tinha até jacaré. Hoje já dismataram quase

tudo. Os buriti estão morrendo no meio das represa.

(Informação verbal, pequeno proprietário de terras 65 anos)

Os depoimentos mostram como as veredas são percebidas com um viés de tran-

sição, em que contrastam a convivência tradicional com as veredas e a sua degradação

ambiental devido os novos modos de ocupação do solo, mormente em virtude do des-

matamento e dos barramentos para irrigação. Alguns grupos se referem a ela com con-

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sideração e nostalgia, outros sob um viés mais utilitarista. Esses olhares serão abordados

no decorrer deste relato.

Merecem destaque, nesse contexto, os moradores tradicionais do sertão que

apresentam maior vínculo com as veredas: os veredeiros. Os veredeiros apresentam um

sistema de produção agroextrativista, com plantio rotativo no campo úmido de envoltó-

rio da vereda, agroextrativismo e soltio de gado (COSTA, 2005). Nas épocas de chuva,

deixam o gado se movimentar livremente pelas chapadas, enquanto na época de seca,

aproveitam os campos ainda úmidos do envoltório da vereda. Suas casas tradicional-

mente se assentam próximas à vereda, beneficiando-se do microclima mais fresco e

úmido.

O extrativismo do Buriti é especialmente notório, com a palha de suas folhas e

pendões servindo para a construção das casas e para a confecção de artesanato (GOMES

e FREITAS, 2010, p. 337-345). Os frutos são utilizados para alimentação de animais de

produção e também das famílias – com eles se fabricam doces, paçoca, farinha e óleo –

bem como para a produção de sabão (MARTINS e CLEPS JUNIOR, 2011, p. 8). Deles

também se faz vinho (ou licor), iguaria pouco conhecida fora do universo veredeiro: “O

vinho-doce, espesso, no cálice, o licor-de-buriti, que fala os segredos dos Gerais, a

rolar altos ventos, secos ares, a vereda viva” (ROSA, 2001, p. 255), nas palavras de

Guimarães Rosa.

Da relação entre os veredeiros e as veredas nascem laços simbólicos e culturais

próprios. Ressaltam-se as lendas sobre o “João do Mato”, espírito brincalhão e guardião

que cuida dos animais das veredas, tal como um “vaqueiro de bichos”. Todavia, a

presença do João do Mato depende também da presença dos veredeiros, desaparecendo

quando estes porventura são expulsos de suas moradas. Dessa forma, os veredeiros

contam diversas histórias de como aumentam os casos de animais mortos, inclusive por

caçadores, após a remoção dos veredeiros (COSTA, 2011, p. 164-165). O pano de fundo

dessa lenda refere-se, claramente, ao cuidado que os veredeiros têm com a manutenção

das veredas, por essas serem vistas como essenciais para a perpetuação da sua

existência. Esse cuidado permeia certas precauções sociais, como no seguinte relato:

“não mexíamos no coração da vereda e por isso ela continuava viva e o mato se

regenerava” (MARTINS e CLEPS JUNIOR, 2011, p. 8), em um contexto de plantio

rotativo nos campos úmido do envoltório da vereda, com períodos de pousio

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(MARTINS, 2011, p. 115). A relação de respeito para com as veredas também emerge

nas diversas estórias envolvendo os perigos das sucuris e jacarés nos lagos das veredas,

bem como dos veredeiros que, em um misto de heroísmo e insensatez, mergulham

nesses lagos para salvar as reses arrastadas para as profundezas por esses predadores

(JACINTO, 1998, p. 76-77).

Figura 5 - Choça de palha de buriti e terreiro, nas imediações de vereda. Município de

Bonito de Minas-MG. Fonte: Boaventura (2007, p. 153)

Expressando a importância cultural das veredas, Guimarães Rosa, em seu conto

“Buriti”, enfoca como os buritis e seus brejos são considerados simbolicamente como

fonte de força de vida (inclusive com teor erótico) para os povos que vivem em seu

entorno (ALMEIDA, 2008). Esse sentido também se encontra na obra “Grande Sertão”

(SOBRINHO, 2003): “todo buritizal e florestal: ramagem e amar em água” (ROSA,

1994, p. 432).

Outro aspecto cultural de interesse sobre as veredas são as histórias de globos

luminosos que surgem à noite e circulam pelas veredas, até que, de repente, descem

sobre o solo e desaparecem. De acordo com os veredeiros, essas luzes seriam os

espíritos de quem enterrou ouro nas veredas, em períodos antigos. Essas lendas levavam

os mais corajosos a espreitar a noite, à espera dessas luzes, com o objetivo de descobrir

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o ponto em que a luz desce para o solo, assinalando a localização do suposto tesouro.

Esse fenômeno dos globos luminosos é objeto de lendas em diversos lugares do mundo,

sendo sempre observado em áreas brejosas com acúmulo de matéria orgânica. A

explicação científica mais aceita é que se trata de uma bioquimioluminescência causada

pela combustão espontânea de gases de fosfina (PH3), resultado da combustão

anaeróbica da matéria orgânica (MILLS, 1980 e 2000). Guimarães Rosa também se

debruçou sobre as histórias de bioquimioluminescência no “Grande Sertão: Veredas”,

como se observa:

Assim, olhe: tem um marimbú - um brejo matador, no Riacho Ciz - lá

se afundou uma boiada quase inteira, que apodreceu; em noites, de

depois, deu para se ver, deitado a fora, se deslambendo em vento, do

cafofo, e perseguindo: tudo, um milhão de lavareda azul, de jãdelãfo,

fogo-fá. Gente que não sabia, avistaram, e endoideceram de correr

fuga. Pois essa estória foi espalhada por toda a parte, viajou mais, se

duvidar, do que eu ou o senhor, falavam que era sinal de castigo, que

o mundo ia se acabar naquele ponto, causa de, em épocas, terem

castrado um padre, ali perto umas vinte léguas, por via do padre não

ter consentido de casar um filho com sua própria mãe. A que, até,

cantigas rimaram: do Fogo-Azul-do-Fim-do-Mundo. Hê, hê?...

(ROSA, 1986, p. 59)

As Veredas e as Políticas Públicas

Para os veredeiros “chapadas e veredas é dom de Deus”, e por isso mesmo

“tinha(m), todos, os direitos de plantar” (depoimentos colhidos por Martins e Cleps

Junior (2011, p. 7)). Dessa forma, seu modo de produzir e de conceber o mundo não se

encontra assentado em um modelo de apropriação privada das propriedades. Em seus

dizeres: “a terra era solta e eu sou que nem bicho do mato, em qualquer lugar

empasto” (depoimento colhido por COSTA, 2011, p. 186). Em algumas regiões,

todavia, grandes fazendeiros se declaravam donos das terras, embora permitissem que

os veredeiros continuassem morando “de favor” nessas propriedades (MARTINS, 2011,

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p. 99). Essa liberdade territorial, todavia, foi posta em cheque pelas novas lógicas de

apropriação do território, introduzidas com as políticas públicas de crédito para

produção agrícola. Esse fenômeno torna-se mais forte a partir da década de 1970, com a

instalação de empreendimentos de silvicultura, bem como de empreendimentos

agrícolas de imigrantes do Sul do país.

Esses novos modos de produção também causaram grandes impactos ambientais

sobre as veredas. A “morte das veredas” (NUMAN, 2005, p. 3-4) recebe nomes

regionais em razão das suas diversas formas de degradação, que pode ser traduzida, de

maneira geral, na seguinte tipologia de impactos ambientais: veredas esgotadas,

aterradas, secas e afogadas.

As veredas esgotadas se originam da drenagem do brejo central, por meio de

cavas que perfuram o perfil argiloso que segura a água no interior da vereda. Essa

drenagem permite o cultivo na terra sempre úmida do núcleo da vereda, porém, além do

impacto ambiental do desmate da vegetação, também elimina a função de regulação

hídrica, pois a vereda deixa de verter água na estação seca. Diversas veredas foram

esgotadas com incentivos governamentais do programa Pró-Várzeas, durante as décadas

de 1970 e 1980. Atualmente, há uma tendência de esgotamento de veredas por pequenos

proprietários para a plantação de cana, nas regiões Norte e Noroeste de Minas, o que

tem gerado conflitos pelo uso da água com a população a jusante das veredas

(VASCONCELOS et al., 2010).

As veredas aterradas resultam do assoreamento proveniente da área de

drenagem no entorno das veredas, especialmente nas regiões de solos mais arenosos.

Muitas veredas foram aterradas após instalação de empreendimentos de silvicultura nas

décadas de 1970 e 1980, conduzidos sem o manejo de solo adequado (GOMES e

FREITAS, 2010, p. 348). Também é significativo o impacto de assoreamento

proveniente de estradas sem infraestrutura adequada de manejo de águas pluviais

(BOAVENTURA, 2007, p. 203-204).

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Figura 6 – Vereda da Vaca Brava, esgotada, utilizada para plantio de Cana. Bacia do Rio

Cochá, Norte de Minas Gerais. Fonte: Vasconcelos et al. (2010)

Figura 7 – Vereda Galho do Assapeixe, aterrando buritis em virtude do assoreamento de

plantações de eucalipto. Nascente do Córrego do Peixe, Município de São Francisco-

MG. Fonte: NUMAN (2005)

As veredas secas ocorrem quando as veredas são atingidas por queimadas em

períodos em que a turfa não está úmida o suficiente para impedir a sua combustão

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(BAHIA et al., 2009, p. 8). Nesses casos, mesmo após o fim da queimada superficial, a

turfa misturada à terra continua se carbonizando em brasa (NUMAN, 2005, p. 43-44),

nas profundezas da vereda, por semanas a fio, exalando fumaça por meio de ranhuras de

metros de profundidade. Após o processo de carbonização, a terra/turfa carbonizada

transforma-se em uma substância dura, totalmente infértil e sem capacidade de reter

água. Há relatos de veredas secas que demoraram mais de 10 anos para se regenerarem

e suportar a vegetação e a circulação de água (VASCONCELOS e SANTACRUZ

JUNIOR, 2007, p. 5).

As veredas afogadas são o resultado do barramento das veredas para fins

agropecuários, como irrigação e dessedentação do gado (FERREIRA, 2003). Em um

ambiente com escassos cursos de água, as veredas apresentam-se como as localizações

mais práticas para o represamento. Após a construção do barramento, transforma-se o

ambiente de lótico (água corrente) em lêntico (água parada), além de subir o nível de

água, o que faz com que pereça a maioria da flora naturalmente associada à vereda

(VASCONCELOS, 2010, p. 114). Os troncos de buritizeiros mortos servem de

testemunho do impacto ambiental.

Figura 8 – Solo carbonizado em vereda seca, anos após o incêndio. Parque Estadual

Veredas do Peruaçu. Fonte: Vasconcelos et al. (2010)

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Figura 9 – Buritis mortos em virtude de barramento em vereda na Bacia de Entre-

Ribeiros, afluente do Rio Paracatu, Noroeste de Minas Gerais. Fonte: Martins Junior

(2006)

Outro impacto ambiental significativo é o de soltio de gado no envoltório de

campo úmido que drena para a vereda. A compactação do solo e a degradação da

vegetação pelo gado fazem com que a capacidade de infiltração e reservação da água

pela vereda seja comprometida, diminuindo a vazão de recursos hídricos, especialmente

no período das secas (BOAVENTURA, 2007, p. 201). Neves (2011), Maffia et al.

(2009) e Pereira (2010), por meio do monitoramento da vazão de veredas degradadas e

não degradadas, mostraram que as veredas conservadas possuem uma maior capacidade

de regularização de vazão durante a estação seca e eventuais veranicos. Projetos de

monitoramento de veredas cercadas para isolamento do gado e regeneração da

vegetação também reportam um aumento significativo de vazões (VIEIRA, 2012).

O reconhecimento da importância ecológica e da necessidade de regularização

dos recursos hídricos fez com que fossem tomadas providências pelo poder público,

com o intuito de assegurar sua preservação. A Lei Federal nº 12.651, de 2012, em seu

art. 4º, inciso XI, define que o entorno de 50 metros, a partir do limite do espaço

permanentemente brejoso e encharcado da vereda, é considerado área de preservação

permanente. No caso do uso consolidado das veredas até 22 de julho de ano de 2008,

essa lei prevê que as pequenas propriedades rurais (com área menor que 4 módulos

fiscais) são obrigadas a recuperar a vereda até apenas os primeiros 30 metros desse

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495 Veredas Violadas:

o canto dos cantos do Sertão

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entorno (art. 61-A, § 7º). Não obstante, a lei facilita a manutenção de certas atividades

de povos tradiconais em veredas, ao caracterizá-las como de baixo impacto, tais como

exploração agroflorestal, coleta de produtos vegetais para artesanato, e manutenção das

moradias tradicionais.

Outras regulamentações legais importantes para a preservação das veredas foram

a Lei Estadual nº 13.635, de 2000, que declara o Buriti como árvore imune de corte em

Minas Gerais, bem como o Decreto Distrital nº 14.783, de 1993, que traz a mesma

proteção para o Buriti no Distrito Federal.

Em que pese a importante proteção trazida pela legislação ambiental ao

ambiente das veredas, também toca reconhecer que esses instrumentos legais

praticamente inviabilizaram o modo de produção dos veredeiros, passando a ser

considerados um problema jurídico-social.

Os órgãos de gestão das águas também enfrentam dificuldades ao agir junto às

comunidades veredeiras. As famílias veredeiras partem da concepção de que a água,

como um dom de deus, deve sempre fluir em liberdade, de modo a manter a vida da

vereda, apropriada por ninguém, enquanto a cultura dos órgãos de gestão das águas se

pauta pela contenção (RIBEIRO e GALIZONI, 2003, p. 136). Um exemplo claro é a

prática dos veredeiros de deixar as torneiras, mangueiras e captações correrem à

vontade próximo à casa no interior da vereda, ao passo que as campanhas ambientais

tentam convencê-los a mudar esse hábito (RODRIGUES, 2011, p. 9). A gente veredeira

apresenta uma ligação emocional clara com a água que flui nas veredas e no entorno de

seus quintais. Tal dependência da água pode ser observada na seguinte passagem:

“Um dia que Clenilda dormiu aqui, ela dormia com um copo de água

debaixo da cama. Ela falava que era pecado dormir com sede. Falava

que se a gente dormir com sede a alma sai para beber água, e se ela

não voltar, a gente morre.” (relato colhido por Rodrigues (2011, p.

11))

Essa vinculação entre água, vereda e felicidade das gentes do sertão também

transparece no “Grande Sertão: Veredas”:

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496 Veredas Violadas:

o canto dos cantos do Sertão

Vitor Vieira Vasconcelos

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“’o melhor de tudo é a água” (ROSA, 1986, p. 41)

“perto de muita água, tudo é feliz” (ROSA, 1986, p. 21)

“uma baixada toda avistada, felizinha de aprazível, com uma lagoa

muito correta, rodeada de buritizal dos mais altos: buriti – verde que

afina e se eveste, belim-beleza” (ROSA, 1986, p. 35)

“buriti quer tudo azul, e não se aparta de sua água – carece de

espelho” (ROSA, 1986, p. 27)

Uma outra estratégia do poder público, com o intuito de preservação das veredas

foi a criação das unidades de conservação em áreas de grande ocorrência desse

ambiente. Em Minas Gerais, foram criados o Parque Federal Grande Sertão-Veredas, em

1989; o Parque Estadual Veredas do Peruaçu, em 1994; a Reserva Estadual de

Desenvolvimento Sustentável Veredas do Acari, em 2003; a APA Pandeiros, em 1995; e,

no interior dessa última, o Refúgio da Fauna Silvestre Pandeiros, em 2004. No caso dos

dois parques, todavia, por serem unidades de proteção integral, foi necessário deslocar

os povos veredeiros que lá viviam. Na implantação do Parque Grande Sertão, foi

negociada a realocação dos veredeiros em assentamentos de reforma agrária. Inobstante,

foi imposta aos veredeiros uma nova lógica de produção e moradia, associada aos

programas de ocupação do Incra e à legislação ambiental, ocasionando a perda de sua

cultura (MARTINS e CLEPS JUNIOR, 2011). Também como parte dessa negociação,

foi elaborado o Plano de Desenvolvimento Sustentável do Entorno do Parque Grande

Sertão Veredas (FUNATURA, 2002a), em 2002, para a porção mineira do parque, com

foco nas estratégias de agroextrativismo e de turismo rural/ecológico nessas regiões.

Além disso, foram propostos diversos projetos que poderiam alavancar o

desenvolvimento sustentável da região.

Em razão das diversas unidades de conservação criadas no Norte de Minas

Gerais, instituiu-se o Mosaico de Unidades de Conservação Sertão Veredas-Peruaçu.

Um de seus objetivos é auxiliar na gestão territorial sustentável das áreas de entorno e

dos corredores de vegetação nativa entre essas unidades. Tomando como referência os

moldes do Plano de Desenvolvimento Sustentável do Entorno do Parque Grande Sertão

Veredas, o conselho gerenciou em 2008 a elaboração do Plano de Desenvolvimento de

Base Conservacionista do Mosaico Sertão Veredas / Peruaçu (FUNATURA, 2002b).

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o canto dos cantos do Sertão

Vitor Vieira Vasconcelos

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Ainda no âmbito do Mosaico Sertão Veredas-Peruaçu, destaca-se o Projeto

Desenvolvimento do Plano de Implantação do Sistema de Áreas Protegidas e

Corredores de Conectividade entre Unidades de Conservação RPPN de Porto Cajueiro e

Parque Estadual Veredas do Peruaçú (AMDA, 2009), gerido pela Associação Mineira de

Defesa do Meio Ambiente – Amda – a partir de 2009, com parceria do Instituto

Estadual de Florestas – IEF –, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos

Naturais – Ibama – e do Sindicato da Indústria do Açúcar em Minas Gerais –

Sindaçúcar. O projeto tem como objetivo o planejamento territorial sustentável da

região, para, por meio da alocação ordenada de reservas legais de empreendimentos

agropecuários, conjugadas às áreas de preservação permanente, assegurar a manutenção

de corredores de vegetação de cerrado e de veredas entre as unidades de conservação

mencionadas.

As famílias veredeiras, assim como outros povos tradicionais do sertão,

apresentaram um verdadeiro salto de qualidade de vida ao passarem a ser beneficiados

por políticas de redistribuição de renda e de acesso a serviços públicos, tais como o

bolsa-família, o Luz para Todos, a aposentadoria rural e o transporte escolar

(VASCONCELOS et al., 2010, p. 4). Em suas próprias palavras:

Nois é muito agradecido a esse governo porque ele é muito bom pra

gente, ele nos manda essa ajudinha todo mês, é pouco mais dá pra

comprar arroz e feijão pra todo mundo comer, hoje ninguém morre de

fome, não é como antes que nois tinha que se virar, se o plantio da

vereda, a plantação fosse boa tinha comida se fosse ruim ninguém

comia. (Relato colhido por Gonçalves et al., (2010, p. 9))

Esses recursos provenientes de políticas públicas permitiram aos veredeiros

investir em sua moradia e atividades produtivas, fazendo com que as antigas choças de

palha de buriti e os plantios rotativos, ambos escondidos nas veredas, dessem lugar a

clareiras abertas ocupadas por casas de alvenaria, com energia elétrica e circundadas por

quintais, pastagens e plantações. Apesar da inegável melhoria na qualidade de vida,

essas políticas também acabaram por ampliar e consolidar a ocupação das veredas e de

suas áreas úmidas de entorno (VASCONCELOS et al., 2010, p. 4).

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498 Veredas Violadas:

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Vitor Vieira Vasconcelos

Apinyapon Seingyai

Por todas essas violações e transformações pelas quais passaram as gentes que

antes se denominavam veredeiras, hoje seus discursos são muito mais de saudosismo de

tempos passados e experiências vividas do que de pertencimento a um ambiente

presente, haja vista que as novas lógicas sociais e de produção têm levado ao abandono

gradual dos usos e costumes antigos e gerado novas apropriações dos ambientes

sertanejos em função de seus usos atuais (FERREIRA, 2003, p. 213). Nesses termos,

tomam corpo as palavras de Riobaldo, no “Grande Sertão: Veredas”:

"Me deu saudade de algum buritizal, na ida duma vereda em capim

tem-te verde, termo de chapada. Saudades, dessas que respondem ao

vento; saudades dos Gerais. O senhor vê: o remôo do vento nas

palmas dos buritis todos, quando é ameaço de tempestade. Alguém

esquece isso? O vento é verde. Aí, no intervalo, o senhor pega o

silêncio põe no colo. Eu sou donde eu nasci. Sou de outros lugares."

(ROSA, 2001, p. 306)

Em virtude de as veredas serem essenciais para a manutenção das vazões dos

rios da bacia do São Francisco, seria de se esperar que merecessem atenção especial do

Programa de Revitalização do Rio São Francisco, por meio do qual o Governo Federal

busca manter a vazão do rio, como compensação pela implantação do projeto de

transposição nessa bacia. Entretanto, a maior parte dos recursos está direcionada ou para

ações de convivência com a seca no ambiente semiárido, ou para ações de saneamento

concentradas no Alto São Francisco, onde se encontram as maiores cidades. Os recursos

para revegetação de áreas nativas e para cercamento de nascentes têm sido utilizados em

toda a porção mineira da Bacia do São Francisco, por meio de parceria com o IEF, mas

foram concentrados para produção de mudas em matas ciliares, em virtude da maior

facilidade técnica para recuperação desses ambientes.

Uma das ações enfocadas para a preservação das veredas é o Programa Vereda

Viva, conduzido pelo Ministério Público Estadual desde 2005, em articulação com

diversas instituições acadêmicas e órgãos públicos participantes do Núcleo

Interinstitucional de Estudos e Ações Ambientais do Norte de Minas – Niea-NM – e do

Grupo de Combate a Delitos Ambientais do Norte de Minas – GDA-NM (LIMA, 2009,

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499 Veredas Violadas:

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p. 73-75). O programa consiste em realizar estudos técnico-científicos sobre veredas

degradadas, identificando o passivo ambiental e a responsabilidade pela degradação

(NUMAN, 2005). O Ministério Público Estadual, em seguida, negocia termos de ajuste

de conduta com os empreendedores, viabilizando projetos de preservação das veredas,

de educação ambiental e de desenvolvimento sustentável da população veredeira,

executados pelas próprias instituições acadêmicas. O Programa Raízes, gerido nos

mesmos moldes do Vereda Viva, foca os empreendimentos de silvicultura e também tem

como uma de suas prioridades a proteção das veredas (LIMA, 2009, p. 73-75).

Com ação específica nas veredas da APA Pandeiros, o IEF conduz, desde 2004,

o projeto Preservação Ambiental e Geração Alternativa de Renda. O objetivo do projeto

é a diversificação produtiva de famílias que anteriormente viviam da produção de

carvão de origem nativa. O projeto inclui ações de educação ambiental e diversificação

de renda com agroextrativismo, apresentando como um de seus resultados a

significativa diminuição das queimadas na área da unidade de conservação.3

A organização não governamental Movimento Verde, em cooperação com o IEF

e com a empresa Kinross, desenvolve o Projeto Nascentes do Paracatu, desde o ano de

2006. O projeto realiza o cercamento, monitoramento e educação ambiental para a

regeneração de mais de 90 nascentes, grande parte delas veredas, dentro da Bacia do

Rio Paracatu, no Noroeste de Minas Gerais. Parte do aumento na vazão das veredas e

demais nascentes recuperadas é utilizada para desenvolvimento de irrigação por parte

dos proprietários rurais que aderem ao projeto, trazendo aumento de renda para a

população sob o princípio da sustentabilidade. (VIEIRA, 2012)

Também há iniciativas acadêmicas independentes, como o projeto de extensão

Vereda Sustentável, da Universidade Nacional de Brasília – UNB –, executado desde

2005, e que foca na educação e assistência técnica para segurança alimentar,

desenvolvimento sustentável e conservação ambiental em assentamentos rurais com

ocorrência de veredas. Também se destaca o projeto etnográfico Opará – tradições,

identidades, territorialidades e mudanças entre populações rurais e ribeirinhas no

Sertão Roseano – (UNIMONTES, 2010), conduzido pela Universidade Estadual de

Montes Claros – Unimontes – de 2007 a 2010, que elaborou estudos sobre as diversas

etnografias dos povos do Sertão, incluindo eixo específico sobre os veredeiros.

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500 Veredas Violadas:

o canto dos cantos do Sertão

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Reflexões Finais

Degradadas, pisoteadas, aterradas, afogadas, esgotadas e secas, as veredas

apresentam uma história sofrida, assim como a dos veredeiros que viveram e vivem em

seu entremeio. Todavia, como mãe, berço e caminho das águas, as veredas ainda

apresentam valor inestimável para cada ser vivo do sertão, seja ele humano, animal ou

planta. O reconhecimento da importância ambiental e social associada às veredas é

processo essencial para sua conservação.

Para não-concluir, nada melhor do que as boas vindas do Festival Veredas

Violadas 4:

As veredas, antes verdadeiros oásis na imensidão da travessia sertaneja, fonte

de alimento e água pura para os passantes e viventes de seu entorno, hoje subsistem

diminuídas na servidão às monoculturas, que as cerceiam com suas teias aradas, à

custa da vida ceifada de milhares de espécimes de uma rara biodiversidade. Mas a

viola ponteia e verte acordes e o violeiro entoa cantos que gestam a resistência, a

revolução cotidiana para a auto-redenção de tudo que é bicho e planta viva, ares e

minerais e junto ao poeta faz-se voz de toda a precisão:

VEREDAS VIOLADAS

VERTENDO ENCANTOS

ACORDES SERTÃO

Agradecimentos

Agradecimentos a Almir Paraca e a todas as instituições que organizaram e

participaram do Festival Sagarana. Agradecimentos especiais à Gerência de Meio

Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Consultoria Temática da ALMG, pelo

apoio técnico e de revisão linguística.

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501 Veredas Violadas:

o canto dos cantos do Sertão

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Notas de Fim

1 The Portuguese title is intentionally ambiguous, in a poetical style. Veredas (Pathways) are a kind of

oasis vegetation inside the Cerrado (Brazilian Savannah). Violadas (touched) refers both to the

environmental violation of this vegetation and also to sing accompanied by the sound of someone playing

the viola (traditional twelve string guitar used in the Brazilian countryside). “Canto dos cantos” refers to

the “nook of the nooks” and also, implicitly to the “The Song of Songs” from the Bible, as well as some

interplay among these meanings, like “song of the nooks” or “nook of the songs”. Savannah Backlands

(Sertão) refers to the hinterlands of the Brazilian Savannah.

2 Disponível na página do evento: http://www.festivalsagarana.com.br/?p=719, acesso em 7/12/2012.

3 Geração alternativa de renda nas veredas mineiras preserva unidade de conservação. Jornal Estado de

Minas. 30/05/2012.

4 Disponível em: http://institutohr.org.br/pdg2012/sagarana-feito-rosa-para-o-sertao/, acesso em

7/12/2012.

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