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OOOSENTIDODOTRABALHOPARAPESSOASCOMDEFICINCIA
MICHELLE PINTO DE LIMA
Mestra em Administrao pelo Departamento de Administrao da Universidade Federal de Lavras (Ufla).
Professora do Departamento de Gesto e Negcios do Instituto Federal
de Educao, Cincia e Tecnologia do Piau (IFPI).
Praa da Liberdade, 1.597, Centro, Teresina PI Brasil CEP 64000-000
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NATHLIA VASCONCELOS TAVARES
Mestre em Administrao pelo Departamento de Administrao e Economia
da Universidade Federal de Lavras (Ufla).
Professora do Departamento de Administrao da Faculdade Adventista de Minas Gerais (Fadminas).
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MOZAR JOS BRITO
Doutor em Administrao pela Faculdade de Economia, Administrao e Contabilidade
da Universidade de So Paulo (FEA-USP).
Professor do Departamento de Administrao e Economia da Universidade Federal de Lavras (Ufla).
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MNICA CARVALHO ALVES CAPPELLE
Doutora em Administrao pelo Departamento de Administrao
da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Professora do Departamento de Administrao e Economia
da Universidade Federal de Lavras (Ufla).
Campus Universitrio, Caixa Postal 3.037, Lavras MG Brasil CEP 37200-000
E-mail:[email protected]
RAM, REV. ADM. MACKENZIE, V. 14, N. 2SO PAULO, SPMAR./ABR. 2013ISSN 1518-6776 (impresso) ISSN 1678-6971 (on-line)
Submisso: 18 mar. 2012. Aceitao: 10 jan. 2013. Sistema de avaliao: s cegas dupla (double blind review).
UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE. Filipe Almeida (Ed. Seo), Walter Bataglia (Ed.), p. 42-68.
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RESUMO
Esta pesquisa tem o objetivo de analisar o sentido do trabalho para as pessoas
com deficincia (PcD). Optou-se por adotar a perspectiva da psicologia social
para compreender a produo de sentidos relacionados ao trabalho devido suarelao com a produo da subjetividade dos sujeitos. A dimenso do trabalho
como realidade social, como bem afirma Dejours (2004), essencial atividade
humana, contribuindo para a satisfao de necessidades no apenas econmi-
cas, mas tambm psicolgicas e sociais. Para as PcD, o estudo dessa atribuio
de sentidos se torna instigante, visto que o trabalho tem sido considerado uma
importante via de incluso social dessas pessoas na sociedade. Para o desen-
volvimento da pesquisa qualitativa que deu origem a este artigo, optou-se pela
aplicao do mtodo de anlise das prticas discursivas, cujos pressupostos onto-
lgicos e epistemolgicos esto ancorados na abordagem sociocontrucionistadescrita por Spink (2004). Adotou-se a pesquisa qualitativa para a compreenso
da produo de sentidos, com a anlise das prticas discursas. O construcionis-
mo social foi utilizado como mtodo da pesquisa. Foram realizadas entrevistas
em profundidade com pessoas com deficincia inseridas no mercado de traba-
lho escolhidas por meio da tcnica bola de neve. Para o procedimento, realizou-se
uma adaptao do recurso dos mapas de associao de ideias utilizados por
Spink (1999). A anlise dos resultados permitiu a elaborao das categorias que
revelam os sentidos do trabalho para as pessoas com deficincia, entre as quais
se destacam o trabalho como meio de sobrevivncia, a necessidade de ser til
sociedade, de garantia da independncia financeira e pessoal. Observou-se, nas
produes discursivas, a centralidade do trabalho na vida de todos eles, estando,
para alguns, mais relacionado sobrevivncia e, para outros, insero social. As
vivncias no trabalho esto relacionadas ao sentimento de capacidade e utilidade
para com a sociedade. Este trabalho permitiu compreender que as regularidades
encontradas nos repertrios discursivos remetem o sentido do trabalho para o
exerccio pleno de cidadania.
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PALAVRAS-CHAVE
Trabalho; Deficincia; Diversidade; Sentidos; Incluso.
1 INTRODUO
A temtica do sentido no trabalho ainda pouco explorada no Brasil, sendoa maior parte dos estudos baseada nas investigaes desenvolvidas pelo Meaningof Work International Research Team (1987) e, mais recentemente, por Morin(2001). No entanto, conforme destacam Tolfo e Piccinini (2007), muitos auto-res ressaltam que as variveis adotadas naquelas pesquisas destacam apenas acentralidade, as normas sociais e os resultados valorizados do trabalho, o quetorna importante a adoo de outras perspectivas de estudo para compreender aatribuio de sentidos do trabalho pelos sujeitos. preciso considerar uma an-lise do trabalho que extrapole a simples associao entre cidadania e empregoremunerado, como apontam Barnes e Mercer (2005).
Como alternativa, ressaltam-se as abordagens qualitativas adotadas para asprticas discursivas que no esto voltadas para relaes de causa e efeito entrevariveis, mas para a produo de sentidos por meio dos discursos. Optou-se por
adotar a perspectiva terica da psicologia social para compreender a produode sentidos relacionados ao trabalho para pessoas com deficincia (PcD), umavez que, sob essa tica, a atribuio de sentidos resulta da interao entre vari-veis pessoais e ambientais, podendo se revelar distintas entre os entrevistados.O sentido que o trabalho tem para cada indivduo construdo por meio da com-preenso da subjetividade individual, sendo variante, uma vez que os indivduosse apropriam de vrios elementos relativos ao trabalho e os ressignificam.
As razes que apontam para a necessidade de explorar o sentido do trabalhode pessoas com deficincia so justificadas pelos efeitos que o trabalho provoca
na vida dessas pessoas, uma vez que elas saem da condio de isolamento sociale da dependncia de outros para criar seus prprios vnculos em outros espaos,com outras pessoas e desempenhando outras atividades. Qual seria o sentido dotrabalho para as pessoas que tiveram acesso a ele por meio de uma imposiolegal? O sentido do trabalho para uma pessoa com deficincia pode representaruma dimenso interdependente da percepo que ela tem de si mesma e daprpria vida (CARVALHO-FREITAS; MARQUES; SCHERER, 2004). Julga-seimportante conhecer os discursos produzidos a respeito do sentido atribudo aotrabalho para compreender como suas prticas e vivncias contribuem para a
produo desse sentido.
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Para tanto, a seo 2 apresenta a diferenciao entre significado e sentido
do trabalho e as relaes entre o trabalho, subjetividade e pessoa com deficin-
cia. Na seo 3, indicam-se os procedimentos metodolgicos utilizados para a
obteno e anlise dos discursos. Nas sees 4 e 5, analisaram-se os repertrios
discursivos produzidos na constituio dos sentidos relacionados ao trabalhode PcD. Por ltimo, fazem-se as consideraes finais.
2 SIGNIFICADO, SENTIDO ECONSTRUCIONISMO SOCIAL
O construcionismo social considera o discurso sobre o mundo como um
artefato de intercmbio social, e no apenas como um reflexo. Na pesquisa, ocu-pa-se de explicar os processos pelos quais as pessoas descrevem, explicam ou, dealguma forma, do conta do mundo em que vivem (incluindo a si mesmas). Paraisso, o momento da interao entre as pessoas tomado como parte do processopara a produo de sentidos, sendo o lcus da explicao localizado externamen-te, de modo a enfatizar os processos e as estruturas da interao humana. Noconstrucionismo, a compreenso do sentido atribudo a partir do discurso no obtida apenas pela observao, mas tambm pelo contato com o outro, intera-gindo com ele e observando o contexto em que essa interao com outros ocorre.
Essa investigao construcionista social procura enfatizar o sentido que asPcD do ao trabalho. Por isso, houve a necessidade de fazer a diferenciao entresentido e significado, uma vez que, segundo Aguiar (2006), muitos trabalhos ostratam como sinnimos, embora no possam ser compreendidos desvincula-dos um do outro, pois um no sem o outro.
A relao entre significado e sentido tratada por Vygotsky (2001), que, ape-sar de ser construtivista, adota consideraes similares ao que tomado peloconstrucionismo para a interpretao dos termos. Para ele, as palavras/signosso o ponto de partida para a busca do sentido, para uma aproximao com a sub-
jetividade do sujeito. O enlace entre significado e sentido reconhecido quandovincula o pensamento com a ao. A atividade humana seria impregnada pelosigno, sobretudo o verbal. Vygotsky (2001) argumenta que o que internali-zado no o gesto como materialidade do movimento, mas a sua significao, aqual tem o poder de transformar o material em cultural. Portanto, os significadosse relacionam com produes histricas e sociais, pois so eles que permitem asocializao das experincias (AMARAL, 1994a).
Embora sejam razoavelmente estveis, os significados se transformam nomovimento histrico pelo processo dialtico, ou seja, pela internalizao de nor-
mas e prticas sociais que afetam os processos psicolgicos que os internalizam e
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os produtos das interaes sociais. Assim como Vygotsky (2001), que considera adinamicidade dos significados na linguagem em virtude do processo de desenvol-vimento humano, Aguiar (2006, p. 14) argumenta que, para compreender melhoro sujeito, os significados so o ponto de partida, pois sabe-se que eles contm
mais do que aparentam e que, por meio de um trabalho de anlise e interpretao,pode-se caminhar para zonas mais profundas, ou seja, para as zonas de sentido.
O sentido tem uma formao dinmica, complexa, constitudo pela articu-lao dos eventos psicolgicos que o sujeito produz perante a realidade. ParaVygotsky (2001, p. 465), a significao atribuda no contexto do uso da palavrae nas condies de interao dos falantes. A variao dos contextos de ocorrnciafaz com que os sentidos sejam ilimitados. Alm da dependncia contextual, osentido atribudo depende da interpretao do mundo que cada pessoa faz, o quea torna vinculada sua estrutura interna de personalidade.
O significado da palavra corresponde ao um signo, enquanto o sentido inesgotvel, pois varia conforme o contexto. o sentido que destaca a singulari-dade historicamente constituda pelo sujeito e se torna a melhor forma de apro-ximao com a subjetividade expressa por ele. Para Leontiev (2004), o homemencontra um processo de significaes pronto, elaborado historicamente e apro-pria-se dele, atribuindo-lhe um sentido pessoal que determinado pelo motivode sua ao. Com base nesses argumentos, Gonzlez Rey (2003, p. 205) consi-dera que o sentido subverte o significado, pois no est submetido a uma lgica
racional externa.O construcionismo considera o sentido como uma construo social, umempreendimento coletivo, interativo, por meio do qual as pessoas constroemos termos a partir dos quais compreendem as situaes e os fenmenos suavolta, e lidam com eles, levando em considerao a dinmica das relaes histo-ricamente datadas e culturalmente localizadas, como afirma Spink e Medrado(2004, p. 41). De acordo com a perspectiva psicossocial, a produo de sentidosno uma atividade cognitiva individual, muito menos uma simples reproduode modelos j predeterminados. Trata-se de uma prtica social, dialgica, que
implica a linguagem em uso, tomada como fenmeno sociolingustico. Por meioda linguagem, as prticas sociais produzem sentido.
Os construcionistas sociais focalizam sua ateno nos processos microsso-ciais, defendendo a compreenso humana a partir da esfera relacional e nas prti-cas discursivas, que, segundo eles, constituem a base de qualquer conhecimento.Miller (1999) afirma que o construcionismo social uma abordagem de conheci-mento que enfatiza a forma como os sentidos de realidade de indivduos e gruposso construdos e sustentados. Alm disso, esses sentidos provocam uma mudan-a no modo como as pessoas interpretam aspectos de sua vida e experincias. O
construcionismo social trata os sentidos da estrutura social como intimamente
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ligados ao conhecimento e s experincias do sujeito, aos mundos da vida coti-diana, bem como linguagem que eles usam para descrever suas experincias.
Contrariamente ao construtivismo que prega a construo do significadopor uma mente individual, no construcionismo social o significado produzi-
do na interao entre as pessoas. o que as pessoas fazem juntas que viabiliza aexistncia de determinadas linhas de ao e interpretao. O potencial de signi-ficao est no relacionamento e na forma como as pessoas enunciam e suple-mentam suas conversas, coordenando suas aes. medida que se compartilhadeterminada descrio de mundo, gera-se possibilidade de ao e de realidade.
Ao focalizar especificamente o trabalho, Simoni (1996) aponta que o sentidovem sendo tratado de forma polissmica. Ele pode significar a forma pela qualhomens e mulheres conseguem garantir sua subsistncia e sobrevivncia. Podesignificar tambm a atividade que coloca em contato vrias pessoas e possibilitaa criao de laos sociais e afetivos de unio (ou desunio). Pode ser tambm aoportunidade de desenvolvimento de sua habilidade tcnica maior. Pode, ainda,significar o ponto de referncia de cada pessoa para se situar no seu contextosocial e histrico. Pode ser tudo isso e mais alguma coisa.
Tratar da questo da produo da significao, do sentido do trabalho pelosindivduos tambm exige uma reflexo com base na psicodinmica do trabalhode Dejours (1993), considerada uma das principais teorias que subsidiam osestudos da subjetividade e do trabalho. Esse olhar vem contribuindo para a an-
lise da relao subjetividade e trabalho e define como seu foco de interesse aanlise dinmica dos processos psquicos mobilizados pelo confronto do sujeitocom a realidade do trabalho.
Dejours (1999, p. 207) defende a concepo de um sujeito que responsvelpor seus atos, capaz de pensar, de interpretar os sentidos da situao em que seencontra, de deliberar ou de decidir e agir. Esse sujeito dotado de inteligncia,a qual tratada no apenas como competncia cognitiva, mas tambm comouma inteligncia que compreende as coisas e a situao. Com base nisso, a PcDfoi considerada neste estudo sobre o sentido do trabalho, pois, segundo Batista,
Pereira e Diniz (1997), o encontro desse sujeito com o trabalho passa pelo rom-pimento de mitos para mostrar que capaz. Primeiro, precisa romper com omito social que o v como algum improdutivo e com um mito familiar que o vcomo dependente, como quem precisa sempre de cuidados especiais e no reneas condies de desenvolver um trabalho que represente realizao ou satisfaodos desejos.
Com base no pressuposto de que o trabalho ocupa papel fundamental naconstruo do sujeito, no exerccio da cidadania e na constituio da sua sub-jetividade, ele ser tomado de uma investigao mais profunda, na tentativa de
compreender os sentidos que tem para as pessoas com deficincia.
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3 TRABALHO, SUBJETIVIDADE E PESSOACOM DEFICINCIA
Para compreender o sentido, importante focalizar o papel do trabalho naproduo da subjetividade do trabalhador. Nas palavras de Heller (2004), a vidacotidiana a vida do homem. Nela, o homem expressa toda a sua individuali-dade, todos os sentidos, suas capacidades intelectuais, habilidades, sentimentose ideologias, estando enraizada a sua subjetividade. pela insero nas organi-zaes e pelo exerccio do seu trabalho que homens e mulheres expressam suasaes e revelam suas subjetividades.
Enriquez (2001, p. 58) refora a importncia do trabalho como fator de equi-lbrio psquico na vida das pessoas, afirmando que o homem sem trabalho ou
no reconhecido em seu trabalho, ou ainda no encontrando nenhum interesseem seu trabalho, est prximo da depresso e comumente chega a esse ponto deruptura. Em nossa sociedade, o trabalho um modo privilegiado de fazer umaobra, de existir, de ter ou pensar ter uma identidade.
A relao do trabalho com a subjetividade , portanto, um campo interdisci-plinar que se caracteriza pela importncia das vivncias e experincias adquiridasno mundo do trabalho e das representaes que os trabalhadores fazem desse coti-diano. Revela a forma como o trabalhador, como sujeito, vive e d sentido s suasexperincias no trabalho. Para Nardi, Tittoni e Bernardes (1997), pensar a subjeti-
vidade relacionada ao trabalho implica pensar os modos como as experincias dotrabalho contribuem para formar modos de agir, pensar, sentir e trabalhar.
Para Nardi, Tittoni e Bernardes (1997), o trabalho considerado um espao noqual se interseccionam dimenses da cultura, em que diferentes variantes sociais classe, gnero, raa, idade etc. atravessam sua prtica. O trabalho como vivn-cia subjetiva admite mltiplas interaes entre diferentes sujeitos em diferentescondies (homem, mulher, negro, pobre, com deficincia ou no, com melho-res currculos ou no, com diferentes modos de pensar, sentir, trabalhar), evocan-do o entrelaamento de diferentes elementos e modos de produzir e trabalhar.
Heller (2004, p. 20) aponta que o trabalhador pertence a um corpo, o qualest apoderado pela direo produtiva materializada nas relaes de trabalho.Esse trabalhador dotado de subjetividade sempre, simultaneamente, ser par-ticular e ser genrico, pois, ao mesmo tempo que sujeito do mundo, sujeitono trabalho, na sua forma de pensar e de agir. Por mais que seja o sujeito notrabalho, ele no se desprende totalmente do seu meio social.
Dejours (1993) afirma que a atividade profissional no s um modo deganhar a vida, mas tambm uma insero social em que os aspectos psquicos efsicos esto fortemente implicados. Ao statussocial, ao exerccio de tal atividade,
associam-se uma roupa especfica, um vocabulrio particular e um lugar. Esses
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elementos tambm fazem parte importante do dia, da rotina e da vida do indiv-duo. Essas diferentes relaes do indivduo com o seu trabalho permeiam o seudesenvolvimento. Trabalhar implica gestos, saber-fazer, engajamento do corpo,mobilizao da inteligncia, capacidade de refletir, de interpretar e de reagir s
situaes; o poder de sentir, de pensar e de inventar (DEJOURS, 2004).O corpo est sempre envolvido em primeiro lugar no trabalho. Nem mesmo
o trabalho intelectual escapa a esse envolvimento, pois no h experincia afetivasem um corpo para experiment-lo: A habilidade, a destreza, a virtuosidade ea sensibilidade tcnica passam pelo corpo, se capitalizam e se memorizam nocorpo e se desenvolvem a partir do corpo (DEJOURS, 2004, p. 29). no corpoque a inteligncia habita, e, por meio desta, podem-se desenvolver as habilida-des necessrias para fazer o trabalho. A formao da inteligncia do corpo noacontece de forma inata, e sim por meio da relao prolongada e perseverante docorpo com a tarefa.
Dejours (2004) ainda ressalta que o que h de essencial no trabalho no per-tence ao mundo visvel, pois a essncia do trabalho contm partes afetivas. A psi-codinmica do trabalho leva em considerao que o trabalho no redutvel a umaatividade de produo no mundo objetivo, mas uma possibilidade de transformara si mesmo, ocasio em que a subjetividade sempre testada, pois trabalhar tam-bm viver junto.
O trabalho tambm uma possibilidade de insero social, devido ao encon-
tro do trabalhador com muitos outros dentro do mesmo espao ou fora dele,deixando de ser apenas uma atividade para ser tambm uma forma de relaosocial. Participar desse mundo social possibilita o aprimoramento da subjetivi-dade, pois tornar visvel o saber-fazer, a inteligncia e a experincia de trabalhar uma forma de obter o reconhecimento dos outros, receber o julgamento dosoutros. Para deixar de ser invisvel e ser reconhecido, o trabalhador precisa estarem cooperao com seus pares.
A dimenso do trabalho como realidade social, como bem afirma Dejours(2004), essencial atividade humana, contribuindo para a satisfao de neces-
sidades no apenas econmicas, mas tambm psicolgicas e sociais. Por essarazo, a questo da insero das pessoas com deficincia no mercado de trabalhotem sido alvo de muitas polticas pblicas que visam facilitar a entrada delas nasorganizaes. Alm de terem o direito de buscar uma qualidade de vida melhorpara si, as pessoas com deficincia possuem habilidades e competncias quepodem ser expressas no trabalho e por meio dele.
No entanto, essa discusso sobre a incluso ganhou maior relevncia quan-do da aprovao de leis especficas que tentam assegurar o direito ao trabalhodas pessoas com deficincia, obrigando empresas a reservar vagas para elas. No
Brasil, a Lei n 8.112, de 11 de dezembro de 1990, que define em at 20% o per-
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centual de vagas em concursos pblicos, e a Lei n 8.213, de 24 de julho de 1991,
que determina uma cota de vagas para a pessoa com deficincia, variando de 2%
a 5%, nas empresas privadas com mais de 100 funcionrios (BRASIL, 1999a,
1999b), impulsionaram a contratao de pessoas com deficincia. Suzano et al.
(2008), em um trabalho que analisa a produo acadmica nacional dos ltimos20 anos sobre a insero da pessoa portadora de deficincia no mercado de tra-
balho, afirmam que um maior interesse nessa temtica de PcD foi constatado
aps a lei, o que pode estar relacionado a um interesse das empresas em conhe-
cer mais a respeito da pessoa com deficincia para saber como contrat-la e gerir
seu trabalho dentro das organizaes.
Para Barnes e Mercer (2005), as polticas que facilitam a entrada de PcD
no mercado de trabalho centram-se em programas de educao e treinamen-
to, alm de vrios incentivos para os empregadores contratarem essas pessoas.
Alm do ganho de incentivos, McLaughli, Bell e Stringer (2004) ressaltam que
a atitude de contratao das PcD pode gerar impacto nas organizaes quanto
ao nvel de aceitao dessas pessoas, uma vez que diminui a distncia social
entre elas e os funcionrios que no tm deficincia, possibilitando a quebra de
julgamentos discriminatrios tradicionalmente atribudos a esses indivduos e
fornecendo ferramentas necessrias para possibilitar o trabalho eficiente dessas
pessoas, transformando deficincias em habilidades. Carvalho-Freitas (2009)
ressalta benefcios apontados por gerentes com a contratao de PcD: melhoria
da imagem da empresa entre clientes e funcionrios, o que tem a ver com a res-ponsabilidade socioambiental dela.
A adio de mulheres, estrangeiros e minorias fora de trabalho representa
uma diversidade de cultura, raa ou origem nacional. A fim de responder a esses
desafios, os empregadores tero de aprender a valorizar a diversidade e contratar
funcionrios de fontes no tradicionais. Para Fleury (2000), a organizao gera
valor quando administra a diversidade, pois h um redirecionamento das rela-
es com os clientes internos, externos e com a sociedade. A diversidade presen-
te na comunidade est representada na empresa, com suas maiorias e minorias.
Para Esteves (2000), contratar e valorizar diferentes representantes da comuni-dade torna o ambiente de trabalho mais parecido com a sociedade sua volta.
As pessoas com deficincia tm conquistado mais espao no mercado de tra-
balho. De acordo com os dados do Ministrio do Trabalho e Emprego, o nmero
de PcD contratadas no Brasil subiu de 22.314, em 2007, para 25.844, em 2008.
Um crescimento superior a 15%. Dados da Delegacia Regional do Trabalho em
So Paulo (DRT-SP) mostram que, desde a criao do programa de incluso de
pessoa com deficincia, em 2001, cerca de 47 mil pessoas foram empregadas
(dados at maio de 2006). Apesar do aumento da oferta de vagas como cum-
primento da exigncia imposta pela lei, a falta de informao sobre a potencia-
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lidade para o trabalho da pessoa com deficincia ainda persiste, como afirmam
Tanaka e Manzini (2005), aliada crena de que ela no ir corresponder ao
ritmo imposto pela produtividade no emprego. Para os autores, a falha no pro-
cesso de formao e qualificao profissional o fator que dificulta a insero de
PcD no mercado de trabalho, aliada falta de condies estruturais e funcionaisdas empresas para receb-las. A fora da lei que obriga as empresas a contratar
pessoas com deficincia propiciou um cenrio marcado pela coexistncia de rea-
lidades diferentes, pois o acesso ao trabalho formal, antes reservado apenas para
o trabalhador fsica e mentalmente normal, tambm direito das PcD.
Ao estabelecerem padres de normatividade, previsibilidade, processos homo-
geneizados, as organizaes exigem que seus funcionrios se adaptem estrutura
predefinida, ficando segregados aqueles impossibilitados disso, o que contribui
para gerar uma diferenciao social e a legitimao de esteretipos e estigmas,
que se interpem na relao de um sujeito com outro, alvo de segregao. Para
Amaral (1994a), a opinio sobre o outro e a modalidade da relao ficam definidas
a prioripelo esteretipo, indicando as possibilidades e impossibilidades dessa rela-
o, inclusive no que tange s expectativas acerca do outro. Sendo negada essa pos-
sibilidade de participar da construo do mundo laboral, restam queles que no
preenchem as condies da normalidade as atividades mecnicas. Potencialidades
e limites singulares da PcD no so levados em considerao, e diferenas biolgi-
cas, psicolgicas ou fsicas acabam por se transformar em diferenas sociais.
Goffman (1988) compreende o estigma como um conceito que se fundanuma relao em que so considerados atributos depreciativos de uma pessoa.
Ele seria construdo sobre a identidade social virtual (constituda por uma impu-
tao feita por outra pessoa) e a identidade social real (constituda pelas carac-
tersticas que o sujeito acredita ter ou acredita ser). O estigma, ento, pode ser
utilizado como critrio de diferenciao e distino das pessoas com deficincia
nos espaos sociais, uma vez que h a identificao do atributo (deficincia) e sua
utilizao na relao como forma de desvalorizao desse outro (PcD).
Se para as PcD ainda se apresentam todas essas dificuldades como forma de
obstculos para a sua incluso no mercado de trabalho, o sentido atribudo ao tra-balho para aqueles que conseguiram ter um emprego formal, ou no, seria dife-
rente? Como elas prprias avaliam o sentido do trabalho em suas vidas? Quando
o sentido do trabalho atribudo, uma dimenso afetivo-emocional, que atua
influenciando e transformando sua interpretao, tambm vem tona. Inves-
tigar os discursos produzidos por esse pblico fundamental para aproximar-se
da sua subjetividade, de forma que tal compreenso seja fonte de estmulo
para que polticas pblicas e prticas organizacionais atendam melhor aos seus
anseios e tragam novos referenciais para ampliar as possibilidades de interao
no e sobre o trabalho.
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4 PROCEDIMENTOS METODOLGICOS
Para compreender o sentido do trabalho para a PcD, optou-se por uma pes-quisa qualitativa para a investigao da produo de sentidos do trabalho, uti-lizando como mtodo a anlise das prticas discursivas proposto por Spink eMedrado (2004). O caminho para o entendimento da produo de sentidos dotrabalho est situado nas prticas discursivas, foco central da anlise na aborda-gem construcionista.
Partiu-se do pressuposto, como recomenda a abordagem construcionista, deque a linguagem tomada como prtica social. O enunciado dessas pessoas umaunidade do ato de comunicao. Para Spink e Medrado (2004), os sujeitos sociaisfazem uso de diferentes formas de linguagem e das enunciaes para construir
seus repertrios interpretativos, que servem de mecanismo de produo de sen-tidos acerca da realidade scio-histrica em que esto inseridos. Esses repert-rios, considerados unidades de prticas discursivas, uma complexa corrente deoutros enunciados. Ao produzi-los, o sujeito utiliza um sistema de linguagem ede enunciaes preexistentes para dar sentido s coisas, fazendo uso de repert-rios interpretativos que so unidades de construo das prticas discursivas. Somarcados por termos, metforas, sinais, figuras de linguagem e imagens utiliza-dos nas conversaes que do origem produo dos sentidos acerca da realidade.
As pessoas empregam os repertrios interpretativos para justificar a sua
viso de mundo e as suas aes e manter a legitimidade dos seus pontos de vistano momento da interao social. Para Potter e Wheterell (1987), a identificao ea categorizao desses repertrios podem contribuir para a descoberta, a apreen-so e a interpretao de alguma verso particular de um evento para validar ouquestionar os prprios comportamentos e para manter a credibilidade na intera-o. A identificao dos sentidos favorece a possibilidade de categorizao, dandomaior visibilidade ao processo de produo de sentido.
Neste estudo, a pesquisa qualitativa veio atender adequadamente ao proces-so de investigao dos sentidos para as PcD. Tal escolha metodolgica se justifi-
cou por se saber que a produo do fenmeno social se assenta em um espao decomplexas relaes de sentido, as quais no podem simplesmente ser reduzidas operacionalizao de variveis, dada sua dinamicidade no contexto social e res-significao por cada sujeito.
4.1 PESQUISA DE CAMPO E PROCESSO DE COLETADE INFORMAES
No ms de julho de 2010, foram realizadas entrevistas semiestruturadas com
dez pessoas com algum tipo de deficincia, sendo seis homens e quatro mulheres
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com idade variando de 16 a 50 anos. A amostra exigia pessoas com deficincia
inseridas no mercado de trabalho, e a tcnica de acesso aos entrevistados ocorreu
de forma que um indicava outro para ser entrevistado (bola de neve). Todos os par-
ticipantes eram moradores da regio metropolitana da cidade de So Paulo, com
diferentes tipos de deficincia: quatro entrevistados possuam deficincia fsica;dois, deficincia visual; um, deficincia auditiva; e trs eram pessoas com defi-
cincia mental. Estas ltimas pertenciam mesma empresa. A maior parte dos
entrevistados, sete pessoas, j havia tido outras experincias de trabalho, em outros
locais, exercendo outras funes. Apenas no caso de trs pessoas, as que apresenta-
vam deficincia mental, tratava-se do primeiro emprego. Metade dos entrevistados
havia passado por algum tipo de formao profissional especfico para pessoas
com deficincia. Tais cursos foram oferecidos pela prefeitura e pelo Senai.
Todos os participantes ocupavam vagas destinadas a PcD. Apenas trs entre-vistados (com deficincia fsica) tinham ensino mdio completo e julgavam ocupar
um cargo compatvel com o seu nvel de escolaridade, com chances de ascender
na hierarquia da empresa (instituio financeira). A outra pessoa com deficincia
fsica era manobrista em um estacionamento da cidade. O deficiente auditivo e os
cegos ocupavam o cargo de assistente administrativo. Os demais, com deficincia
intelectual, estavam na experincia do primeiro emprego e ocupavam o cargo de
auxiliar de servios gerais. Todos trabalhavam seis horas por dia.
A seguinte pergunta foi feita a todos os entrevistados: Qual o sentido do
trabalho para voc?. De acordo com a fluncia verbal de cada um deles, novasperguntas surgiam para esclarecer alguns aspectos sobre o que estava sendo fala-
do pelo entrevistado. Para entrevistar a pessoa com deficincia auditiva, obteve-se o
auxlio de um intrprete de libras. Especialmente para as pessoas com deficin-
cia mental, maiores esclarecimentos e novas informaes foram solicitados para
permitir melhor compreenso do contedo apresentado por elas.
Tendo em vista a centralidade dos repertrios interpretativos na abordagem
construcionista para a compreenso da produo de sentidos, a anlise privile-
giou a linguagem verbal e a dialogia implcita na produo de sentidos e o enca-
deamento das associaes de ideias (SPINK; LIMA, 2004, p. 106). Tal anlise
iniciou-se com a releitura do conjunto de informaes coletadas de maneira a
no categorizar ou mesmo classificar os dados. A partir das leituras, foi reali-
zada a transcrio do texto de cada entrevista por meio da escrita das gravaes,
verificando-se os temas abordados. Todas as respostas foram listadas, com a
identificao das mais frequentes. Isso permitiu o estabelecimento de categorias
temticas capazes de abranger a totalidade dos discursos dos entrevistados.
Para o procedimento de anlise, realizou-se uma adaptao do recurso dos
mapas de associao de ideias utilizados por Spink (1999). Para a elaborao do
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mapa, as perguntas formuladas guiaram a disposio das respostas. Tal disposio
procurava identificar a construo dos discursos e dos repertrios utilizados
nessa construo e a dialogia implcita na produo de sentidos. Para conse-
cuo desse objetivo, o dilogo foi mantido intacto, sem fragmentao, apenas
sendo deslocado para as colunas previamente definidas em funo dos objetivosda pesquisa. Os mapas de associao de ideias como recurso de anlise permi-
tem a visualizao do encadeamento das associaes de ideias das pessoas com
deficincia entrevistadas. Considerando a importncia da ordem das associaes,
quatro colunas foram utilizadas para a construo dos mapas.
Considerando que a entrevista associativa composta de temas e subtemas,
a primeira coluna dos mapas serviu de referncia para a introduo de cada novo
ncleo associativo, pois so as perguntas feitas pelo entrevistador. Na segunda
coluna, denominada primeira associao, foram colocadas as respostas dadas
s perguntas da primeira coluna, compreendendo as primeiras associaes feitas
sobre o tema, sem separao entre sujeito/objeto. A terceira engloba as explica-
es e os esclarecimentos sobre os sentidos das associaes feitas a cada tema. A
quarta e ltima coluna refere-se s falas que explicitam a afetividade das associa-
es, incluindo sentimentos, emoes e valores atribudos ao trabalho. A coluna
denominada de qualificadores.
QUADRO1
MAPA DE ASSOCIAO DE IDEIAS:O SENTIDO DO TRABALHO PARA ENTREVISTADO P1
OBJETO PRIMEIRA ASSOCIAO EXPLICAO DAS ASSOCIAES QUALIFICADORES
Qual o sentido do
trabalho para voc?
Com o trabalho a
gente se sente til...
sabe que serve praalguma coisa.
A gente precisa sustentar
a famlia, pagar contas,
comprar roupas, comida.
A gente se sente
responsvel.
Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados da pesquisa.
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Os mapas foram preenchidos com as respostas mais frequentes, sempre res-peitando a sequencialidade e a dialogia, ou seja, a linha narrativa desenvolvidapela interao entre pesquisador e pesquisado. As respostas das pessoas com de-ficincia que sero indicadas com a letra P maiscula seguida do nmero que
as identifica geraram discursos que caracterizaram seus sentidos sobre o traba-lho, como demonstrado no Quadro 1. Essas prticas discursivas foram objeto deanlise. A categorizao das respostas foi feita pela anlise do discurso como umtodo, pois se considerou que o conjunto do discurso que permite a identificaodo posicionamento do sujeito diante da questo que estava sendo tratada, e noo contedo das afirmaes tomado isoladamente.
5 OS SENTIDOS DO TRABALHO
As referncias ao sentido do trabalho apresentaram conotaes diversas nosdiscursos dos entrevistados, essencialmente ligados a emprego ou atividade sala-rial, como espao de socializao, fonte de recompensas simblicas, tais comosentimento de utilidade, independncia financeira e pessoal etc.
A anlise dos discursos produzidos permitiu a criao de sete categorias apartir das quais foi possvel compreender os sentidos atribudos. Essas categoriasforam: sobrevivncia, necessidade de ser til, independncia financeira e pes-
soal, identidade social, capacitao/preparao para o trabalho, esforo pessoal eno ter um trabalho.
A discusso dos dados por categorias acompanha alguns trechos de verba-lizaes dos participantes. Sero tratados apenas os temas mais presentes nosdiscursos das pessoas entrevistadas, e, respeitando-se a natureza do estudo qua-litativo, esses resultados obtidos jamais podero ser generalizados para a com-preenso do sentido do trabalho para todas as PcD.
O trabalho foi relatado por todos os entrevistados como o eixo principal emsua vida, devido ao seu carter instrumental, pois por meio dele que conse-
guem adquirir coisas materiais e sustentar a famlia. O trabalho uma formaprivilegiada que o trabalhador tem para assegurar a manuteno e reproduode sua vida. Para os entrevistados, a independncia financeira que ajuda naconquista da autonomia, pois, muito mais do que as pessoas sem deficincia,eles sempre dependeram financeiramente de seus familiares. como se a rendaobtida por meio do trabalho ajudasse na emancipao desses sujeitos. As pessoascom deficincia querem conquistar direito vida independente, o que implicaequiparao de oportunidades, como trabalho.
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Gosto muito da minha independncia, tanto pessoal quanto profissional...
quando se tem dinheiro, pode gastar, sabe se pode gastar, quanto dinheiro vai
receber (P2).
O trabalho muda tudo. Me sinto como um cidado que tem o direito de comprar
coisas, de chegar num lugar e passar o carto. A pessoa poder sair e gastar o pr-
prio dinheiro, sem ter que gastar o dinheiro dos seus pais (P3).
importante trabalhar para ganhar dinheiro, pois depender dos outros muito
ruim (P7).
[...] todo mundo precisa pagar conta, comprar casa, roupa, calado, sustentar os
filhos (P6).
[...] preciso sustentar a famlia (P1).
[...] trabalho por preciso (P4).
Trabalhar importante para ganhar dinheiro, queria comprar coisas (P8).
Com o trabalho possvel ter coisas materiais (P10).
A independncia financeira esteve sempre relacionada com a independnciapessoal nos discursos. A possibilidade de planejar a prpria vida, ter filhos, teruma casa, fazer planos sobre o futuro, sair de casa sozinho para um lugar de
trabalho e decidir sobre qual emprego o melhor lugar para trabalhar so algunsaspectos relacionados a essa independncia. As falas dos entrevistados reforamque o encontro do sujeito com o trabalho impulsiona o rompimento do mitosocial que considera a PcD incapaz, improdutiva para a sociedade e dependentede sua famlia, conforme argumentam Batista, Pereira e Diniz (1997).
Como preconiza a psicodinmica do trabalho, o sentido do trabalho para osentrevistados envolve no apenas uma atividade laboral. As experincias que osujeito tem no e por meio do trabalho moldam sua subjetividade, provocandotransformaes em si mesmos: O trabalho importante pra mim porque me
faz crescer, me faz sentir responsvel, aprendi a ser responsvel (P6).
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Participar de um espao produtivo provoca sentimento de utilidade, de estarno mundo para participar ativamente de sua construo, fazendo com que asPcD se sintam um ser humano completo, conforme a fala de muitos. Ter umavida produtiva, participativa, em que as capacidades pessoais e profissionais so
aproveitadas, contribui para melhorar a autoestima, fazendo com que exeram acidadania em toda completude. Para Carvalho-Freitas, Marques e Scherer (2004),o trabalho, para uma pessoa com deficincia, representa uma dimenso interde-pendente da percepo que tem de si mesma e da prpria vida. Esse sujeito dotrabalho tambm sujeito do mundo (HELLER, 2004), de modo que as experin-cias do trabalho contribuem significativamente para moldar a subjetividade dessetrabalhador, refletindo-se na expresso desse sujeito em seu meio social.
[...] a gente serve pra alguma coisa (P4).
[...] trabalho ter uma vida til (P5, P6).
[...] trabalhando a gente se sente um ser humano completo (P1).
medida que o trabalho da PcD reconhecido pelos outros, ele torna-se vis-vel e a PcD deixa de ser invisvel para a sociedade. Segundo Lima, Hopfer e Sou-za-Lima (2004), o reconhecimento a forma especfica de retribuio moral--simblica dada ao ego, como compensao por sua contribuio eficcia daorganizao do trabalho. Como nos discursos abaixo, as pessoas com deficinciaprecisam lidar muito cedo com o sentimento de no poder fazer parte, ficandoexcludas de atividades corriqueiras, mesmo na infncia. O trabalho resgata essapossibilidade de insero, esse sentimento de pertena sociedade.
Ter um trabalho significa ser reconhecido pelas outras pessoas, pois voc j tem
que lidar com a dificuldade muito cedo, do tipo olhar os colegas andando de bici-cleta, jogando na linha do gol e no poder fazer nada daquilo. Ter um trabalho
significa ter importncia (P3).
Ter um trabalho ter uma boa posio social (P10).
Para que esse reconhecimento ocorra, necessrio que o trabalho da PcDseja oportunizado. As habilidades para fazer algo somente se tornam evidentes
quando se estabelece uma relao entre o corpo e a tarefa.
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O sentido do trabalho foi relacionado tambm com o seu carter social, pois
para os pesquisados, alm de um meio de sobrevivncia, uma fonte de renda, o
trabalho se constitui em uma forma de satisfao de necessidades sociais, de se
relacionar com outras pessoas, de fazer amigos, de conversar. Encontra-se a a
valorizao da insero e da relao social propiciada pelo trabalho. A integraosocial traz sentimentos de igualdade, que ajudam a quebrar o esteretipo social
que rotula as pessoas como deficientes e incapazes. Como ressaltam Alves e
Galeo-Silva (1999), a ocupao profissional um requisito bsico para a inclu-
so das pessoas com deficincia, no apenas por fatores econmicos que facili-
tam e at promovem a independncia, mas tambm como uma forma de conv-
vio e integrao social. A participao em outros espaos, com outros indivduos,
com outras atividades, permite que as pessoas com deficincia adquiram novas
experincias relacionais, o que bastante valorizado por elas.
Porque aqui eu conheo novos amigos, pessoas diferentes (P7).
Aqui eu tenho amigos, as pessoas so legais (P6).
Ligada identidade social, uma satisfao psicolgica tambm se apresenta
quando relatam o fato de serem reconhecidos pelos outros como trabalhado-
res. Isso fica expresso nos discursos quando falam do uniforme da empresa, da
roupa para o trabalho, da conversa mais formal com os clientes e outros funcio-
nrios, aspectos relacionados identidade profissional que propiciam o statusde
ser trabalhador.
Aqui tem crach, a roupa, sabe sapato? (P9).
Aqui tem que trabalhar com o pblico e eu me adaptei bem a isso porque gostomuito de conversar. Tambm tem que cumprir horrios e regras (P4).
A necessidade de conseguir um trabalho sentida pelas pessoas com defi-
cincia como uma maneira de obter maior aceitao social. Mesmo com as dificul-
dades inerentes insero no mercado de trabalho relatadas pelos entrevistados,
estes continuam acreditando que tm muita capacidade para o trabalho, poden-
do contribuir efetivamente para a empresa e a sociedade.
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Somos deficientes e no inteis (P5).
O sentido do trabalho est relacionado oportunidade de mostrar minha capaci-
dade (P2).
Ainda possvel notar a presena do esteretipo social segundo o qual apessoa com deficincia considerada incapaz de realizar tarefas que as pessoasnormais executam, conforme descrito a seguir:
No meu trabalho eu no coloco dificuldades. Se tiver que pegar uma caixa, o
pessoal fala: Deixa que eu pego. Eu respondo: No, deixa que eu pego. o meu
trabalho. (P3)
Isso se relaciona tambm com a questo do estigma, com a percepo queeles construram a respeito de si mesmos, o que corrobora a ideia de Goffman(1988), quando trata da identidade social virtual e real. Por se julgarem, desdecedo, menos capazes que outros, as PcD acreditam que encontraro um espaoprofissional que as discriminar por sua deficincia. A discrepncia entre a iden-tidade virtual e a identidade real de um indivduo estraga a sua identidade social,pois tem como efeito afast-lo da sociedade e de si mesmo de tal maneira que setorna uma pessoa desacreditada em um mundo no receptivo. Mas, como ressal-ta o prprio autor, em muitos casos ele descobrir que h pessoas compassivas,dispostas a adotar seu ponto de vista no mundo e a compartilhar o sentimento deque ele humano e essencialmente normal apesar das aparncias.
Quando comecei a trabalhar, pensei que eles tinham d de mim (P3).
Ainda tratam a deficincia com preconceito. Olham pra voc e acham que vocno capaz (P1).
Quando eu era adolescente percebia muito preconceito, sendo at discriminada
numa entrevista. Me disseram que minha carteira estava em branco e a entrevis-
tadora perguntou se ela era s de enfeite. Eu falei que a carteira seria preenchida
quando algum me desse uma oportunidade para trabalhar. Eu via outras pes-
soas com o mesmo nvel de escolaridade que eu ou at menor sendo contratado
e eu no (P2).
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A sociedade e, em muitos casos, a prpria famlia julgam a PcD incapaz,
reforando tal estigma, como bem afirma esta entrevistada de 32 anos, em sua
primeira experincia de trabalho:
Eu estou trabalhando agora porque meu pai e minha me no deixavam antes. Eu
queria, mas meu pai tinha medo de eu me perder. Ele achava que eu no sabia
me virar sozinha (P7).
Muitos pais no preparam seu filho para a vida e preferem deix-lo em casa, sem
fazer nada (P10).
Esses esteretipos e preconceitos impedem a visualizao de potencialidadesindividuais de PcD, pois no lhes so dadas oportunidades para que suas capaci-
dades venham tona. O direito ao trabalho um direito de cidadania, perseguido
como forma de integrao social pela PcD, merecedora de iguais condies de
oportunidades e reconhecimento como qualquer outra. A promoo dos direitos
humanos das PcD legitimada quando essa integrao vem acompanhada de
iguais condies de oportunidades e reconhecimento.
As PcD afirmaram que o ambiente propiciado pelo trabalho lhes permite
descobrir coisas novas por meio da rotina de trabalho. O confronto do sujeito com
o trabalho possibilita a internalizao das prticas sociais, a adaptao a normase metas, o ritmo imposto de produtividade, entre outros aspectos fixados inde-
pendentemente de sua vontade. O engajamento do corpo no trabalho lhe permite
experimentar a execuo de atividades que antes no faziam parte da sua vida
diria, por meio de uma socializao profissional, que ocorre pelo treinamento na
tarefa ou pela simples observao do modo de fazer de outros funcionrios.
Eu aprendi s observando as pessoas fazerem (P1).
O sentido do trabalho... importante pela independncia financeira, faz a pessoa
crescer, adquirir conhecimentos, ter a oportunidade de estar se aprimorando (P2).
No entanto, alguns relataram trabalhos repetitivos que no eram de seu inte-
resse, atividades consideradas inferiores em comparao com outras desempe-
nhadas por outras pessoas na mesma empresa. Tais atividades foram mais rela-
tadas pelos entrevistados com deficincia mental. Nesse caso, com base no nvel
de comprometimento da deficincia, e a empresa provavelmente adotou planos
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de trabalho diferentes para eles, que no exigissem atendimento ao pblico, ou
tarefas mais complexas, com alto nvel de exigncia intelectual. Ainda que esses
sujeitos desempenhem tarefas simples, tais como arrumar o lixo, recolher e lim-
par bandejas, foi demonstrada a satisfao deles com a identidade social de ser
um trabalhador.
Eu queria mesmo era ficar na mquina de sorvete. Todo dia tenho que arrumar
lixo, limpar bandeja (P8).
Todo dia tenho que tirar chiclete debaixo da mesa que a moa deixa e limpar,
limpar. Mas eu gosto de trabalhar aqui porque meu pai me v, meus amigos
tambm, e eu tenho um trabalho (P9).
Em conformidade com a argumentao de Januzzi (1996, p. 115), o trabalho
proposto s PcD enfatiza o disciplinamento e a aprendizagem de atividades sim-
ples da vida diria e prtica, o que possibilita ao deficiente somente a ocupao
de empregos no qualificados. Para essas pessoas, a possibilidade de ascender
profissionalmente no sistema capitalista, em que o mercado de trabalho traz
como pressuposto o mrito por habilidades, fica bastante comprometida.
Quanto preparao/capacitao para o trabalho, os entrevistados afirma-
ram que fizeram alguns cursos, oferecidos pela prefeitura, Senai, Eletrobras,entre outros rgos, todos inseridos em algum projeto voltado especificamen-
te para a insero de PcD no mercado de trabalho. Alm disso, o tratamento
em instituies hospitalares propiciou o contato com outras pessoas que tambm
tinham deficincia e trabalhavam, despertando a potencialidade para o trabalho.
O encaminhamento por meio de cadastro feito nos prprios hospitais propiciou
a primeira experincia de trabalho para muitos deles. Isso demonstra quanto
importante a rede de contatos sociais para facilitar a insero e a incluso dessas
pessoas no mercado de trabalho:
[...] enquanto fazia o tratamento no Hospital das Clnicas, tive contato com algu-
mas pessoas que levavam uma vida normal, que trabalhavam, foi a que eu vi que
eu tambm era capaz de trabalhar (P10).
O esforo pessoal investido para a obteno e a manuteno do emprego foi
considerado por muitos entrevistados. Procurar cursos de qualificao e tornar
visveis suas capacidades e responsabilidades com a tarefa foi considerado como
vitria pessoal:
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Fao um monte de coisas que muitos normais no fazem. Eu tive que ralar pra
estar aqui (P3).
Trabalhei num hospital e achava que eles no valorizavam o que eu sabia fazer.Pedi demisso e sa de l. Fiquei em casa estudando e fazendo cursos para con-
seguir algo melhor (P10).
Alguns entrevistados alegaram haver muitas PcD que no se esforam o
suficiente no trabalho, se encostam, nas palavras deles. Isso porque acreditam
que no sero demitidas em virtude da obrigao que a empresa tem em cum-
prir a cota. Essa situao deixa os pesquisados em situao de desconforto, pois
em muito contribui para prejudicar a imagem de quem se dedica e se esfora,reforando a concepo de que no vale a pena contratar quem tem deficincia.
Quanto possibilidade de no ter um trabalho, todos os entrevistados afir-
maram que se sentiriam muito tristes com essa situao, pois significaria o
comprometimento de tudo o que foi citado anteriormente: ter amigos, ser res-
ponsvel pelo sustento familiar, adquirir coisas, status, independncia, autonomia,
poder de deciso sobre a prpria vida, alm de inmeras outras coisas propicia-
das pelo trabalho.
Ficaria muito triste, pois veria minha famlia com fome (P1).
Ficaria em depresso, no me imagino sem trabalho. Ficaria muito chateada (P2).
Observa-se ento que o sentido do trabalho, para eles, passa por questes
relacionadas instrumentalidade do trabalho, uma vez que por meio dele que
possvel comprar coisas e adquirir autonomia financeira para sustentar a si
prprio e a famlia. No entanto, as questes de ordem material no so suficien-
tes para explicar todas as razes do trabalho. Para Amaral (1994b, p. 131-132), na
sociedade capitalista o trabalho visto essencialmente como possibilidade de
insero no circuito de produo-consumo. O potencial de elemento significati-
vo do trabalho envolve autorrealizao, autoestima, independncia econmica,
autonomia, prazer no processo e produto, sentimento de aceitao e pertenci-
mento... enfim, o resgate da viso do trabalho como fonte de satisfao das pes-
soas com deficincia, aspectos fluentes em todos os discursos dos entrevistados.
Para todos eles, o trabalho tem valor tambm porque propicia novas apren-
dizagens, possibilidade de aprimoramento e desenvolvimento. A identidade
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pessoal e a profissional revelam-se interdependentes, uma vez que ser reconhe-
cido pelos outros como um trabalhador lhes confere ao mesmo tempo um sen-
timento de diferenciao e de igualdade. Diferenciao porque, em comparao
com outras pessoas com deficincia, eles se sentem vitoriosos. Igualdade porque
sentem que, como os normais, podem gozar dos mesmos privilgios de umavida comum.
6 CONSIDERAES FINAIS
Neste estudo, cujo objetivo foi compreender o sentido do trabalho para pes-
soas com deficincia j inseridas no mercado de trabalho, observou-se a impor-
tncia que o trabalho tem na vida delas, no apenas pelo seu carter instrumen-tal, de ganho material, mas tambm por outros aspectos mais subjetivos, como
o sentimento de ser importante para a sociedade. Os mltiplos sentidos atribu-
dos ao trabalho so oriundos de experincias e vivncias propiciadas pelo encon-
tro desses sujeitos com a realidade do trabalho.
As experincias advindas da insero da PcD no ambiente do trabalho pro-
piciam o aprendizagem, seja pelo treinamento de habilidades para desempenho
na tarefa, seja pela observao do trabalho de outras pessoas. O cumprimento de
regras, normas e metas estipuladas pela empresa para todos os funcionrios faz
com que a PcD exera um papel profissional e tenha um comportamento coe-rente com o que estabelecido pela empresa no processo de socializao. Essas
aprendizagens so internalizadas pelo sujeito e passam a integrar um conjun-
to de competncias que o tornam mais apto at para outros trabalhos, gerando
novas e melhores possibilidades de emprego.
Ser reconhecido pelos colegas do trabalho e pelas outras pessoas como um
trabalhador traz um sentimento de realizao e competncia. Realizao porque
o indivduo se reconhece como pertencente a um grupo de pessoas privilegiadas,
que podem ter uma vida normal, ou seja, a vida que uma pessoa sem deficin-
cia teria, com famlia, casa, filhos, carro, emprego. Alm disso, fazer o mesmotrabalho realizado por outras pessoas sem nenhuma deficincia, no mesmo espa-
o, contribui para essa realizao profissional e gera a sensao de vitria sobre
todas as dificuldades enfrentadas ao longo da vida.
As vivncias no trabalho contribuem tambm para a produo de sentidos,
principalmente quando h referncias ao espao de convivncia na empresa. Os
novos relacionamentos firmados com outros funcionrios e com clientes permi-
tem que as PcD saiam do isolamento social e faam parte de novos grupos que
no apenas a famlia, a escola e o bairro. Essa insero em outras redes de contato
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social amplia o sentimento de integrao sociedade. Aspectos como conhecer
mais pessoas, deslocar-se para o emprego sozinho, ter um horrio de trabalho,
ter um trabalho a fazer etc. modificam a realidade dessas pessoas, que antes
tinham seus espaos delimitados e eram tratadas como dependentes da ajuda
de outros.A iniciativa do governo de impor a contratao por fora da Lei de Cotas
considerada benfica, pois, sem ela, muitas PcD que hoje trabalham estariam
em situao de dependncia financeira e isolamento social. A lei uma garantia
de oportunidade de trabalho, pois consenso que de outra forma seria muito
mais difcil conseguir um emprego. No entanto, vale ressaltar que o esforo pes-
soal e o interesse em aprender so fundamentais para conseguir um trabalho e
manter-se empregado, para qualquer pessoa, com ou sem deficincia.
As reflexes contidas neste trabalho, alm de apresentarem alguns fatoresrelacionados ao sentido do trabalho, revelaram a necessidade de desenvolvimen-
to de novas pesquisas de carter longitudinal. Sugere-se a realizao de estudos
mais aprofundados sobre as histrias da insero das pessoas com deficincias
no mercado de trabalho, de modo a revelar toda a subjetividade que marca a par-
ticipao desses sujeitos sociais no contexto do trabalho.
THE MEANING OF WORK FOR PERSONS
WITH DISABILITY
ABSTRACT
This research aims to analyze the meaning of work for people with disability
(PwD). We chose to adopt the perspective of social psychology to understand
the production of meanings related to work because of his relationship with the
production of subjectivity. The size of the work as a social reality, as well as
claims Dejours (2004), it is essential to human activity, contributing not onlyto the satisfaction of economic needs, but also psychological and social. For the
PwD, the study of this assigning senses becomes compelling as the work has
been considered an important means of inclusion of these people in society. We
adopted a qualitative research for understanding the production of meaning, with
the analysis of discursive practices and techniques of interview partners (Spink,
2004). Social constructionism was used as a research method. We conducted
ten interviews with disabled people entered the labor market chosen by snowball
technique. For the analysis procedure, there was an adaptation of the feature
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maps of the association of ideas used by Spink (1999). The analysis allowed the
elaboration of the categories survival, need to be useful, financial and personal
independence, social identity, job training, personal effort and not having a job.
It was observed in the discursive productions in the centrality of work all their
lives, while for some more related to survival and for others, social inclusion. Theexperiences at work are related to feelings of capability and usefulness to society.
This work allowed us to understand that the regularities found in the discursive
repertoires refer the meaning of work for the full exercise of citizenship.
KEYWORDS
Labor; Disability; Diversity; Senses; Inclusion.
EL SIGNIFICADO DEL TRABAJO PARA LAS PERSONAS
CON DISCAPACIDAD
RESUMEN
Esta investigacin tiene como objetivo analizar el significado del trabajo para
las personas con discapacidad (PcD). Optamos por adoptar la perspectiva de la
psicologa social para entender la produccin de significados relacionados con el
trabajo debido a su relacin con la produccin de subjetividad. El tamao de la
obra como una realidad social, como bien dice Dejours (2004), es esencial a
la actividad humana, contribuyendo no slo a la satisfaccin de las necesidades
econmicas, sino tambin psicolgica y sociales. Para PcD, el estudio de esta atri-
bucin de sentido se hace inevitable que el trabajo ha sido considerado como un
medio importante para la inclusin social de estas personas en la sociedad. Para
el desarrollo de la investigacin cualitativa que tuvo como resultado este artculo
se opt por el mtodo de anlisis de las prcticas discursivas, los supuestos onto-lgicos y epistemolgicos que se anclan en el enfoque descrito por Spink scio-
contrucionista (2004). Adoptamos la investigacin cualitativa para entender la
produccin de sentido, con el anlisis de discursas prcticas. El construccionis-
mo social se utiliz como mtodo de investigacin. Se llevaron a cabo entrevistas
en profundidad con personas con discapacidad en el mercado laboral elegido por
la tcnica de bola de nieve. Para el procedimiento, se produjo una adaptacin de
los mapas de caractersticas de la asociacin de ideas utilizadas por Spink (1999).
El anlisis ha permitido el desarrollo de la supervivencia de las categoras, deben
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ser tiles la independencia, financiera y de la identidad personal, social, capaci-tacin para el trabajo, el esfuerzo personal y no tienen un trabajo. Se observen las producciones discursivas la centralidad del trabajo en las vidas de todosellos, siendo, para algunos, ms relacionado con la supervivencia, y para otros,
la inclusin social. Las experiencias en el trabajo estn relacionadas con los sen-timientos de la capacidad y utilidad para la sociedad. Este trabajo permiti com-prender que las regularidades que se encuentran en los repertorios discursivosse refieren al significado del trabajo para el ejercicio pleno de la ciudadana.
PALABRAS CLAVE
Trabajo; Discapacidad; Diversidad; Sentidos; Inclusin.
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C o p y r i g h t o f R e v i s t a d e A d m i n i s t r a o M a c k e n z i e i s t h e p r o p e r t y o f U n i v e r s i d a d e
P r e s b i t e r i a n a M a c k e n z i e , R A M - R e v i s t a d e A d m i n i s t r a c a o M a c k e n z i e a n d i t s c o n t e n t m a y n o t
b e c o p i e d o r e m a i l e d t o m u l t i p l e s i t e s o r p o s t e d t o a l i s t s e r v w i t h o u t t h e c o p y r i g h t h o l d e r ' s
e x p r e s s w r i t t e n p e r m i s s i o n . H o w e v e r , u s e r s m a y p r i n t , d o w n l o a d , o r e m a i l a r t i c l e s f o r
i n d i v i d u a l u s e .
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