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1 Apresentação
Curso básico de fotografia
2 Apresentação
STRIX STUDIOS
Rua Salvador, 120, Vieiralves Business Center – 12º andar
CEP: 69057-040 – Manaus, Amazonas
Autor
Mário Bentes
Revisão
Rômulo Araújo
Fotos
Mário Bentes
Wikimedia Commons
Edição
1ª – Outubro de 2011
Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida, sejam quais forem
os meios empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravações os quaisquer outros.
3 Apresentação
Sumário
Apresentação .......................................................................................................................................... 5
História da fotografia .............................................................................................................................. 6
1 – A máquina fotográfica ....................................................................................................................... 9
1.1. Câmara escura ou câmera fotográfica ......................................................................................... 9
1.2. Visor ............................................................................................................................................ 10
1.3. Objetiva ...................................................................................................................................... 11
1.3.1. Objetiva normal ................................................................................................................... 12
1.3.2. Teleobjetiva ......................................................................................................................... 12
1.3.3. Grande angular .................................................................................................................... 13
1.3.4. Objetiva zoom ..................................................................................................................... 13
1.3.5. Objetiva macro .................................................................................................................... 14
1.3.6. ‘Olho de peixe’ .................................................................................................................... 14
2 – Elementos essenciais ....................................................................................................................... 15
2.1. Diafragma ................................................................................................................................... 15
2.2. Obturador ................................................................................................................................... 16
2.3. Sensibilidade (ISO) ...................................................................................................................... 17
2.4. Fotômetro e exposição ............................................................................................................... 17
2.5. A relação entre diafragma, obturador e ISO .............................................................................. 18
2.6. Temperatura de cor e Balanço de branco .................................................................................. 19
3 – Composição fotográfica ................................................................................................................... 21
3.1. Centro de interesse .................................................................................................................... 22
3.2. Regra dos terços ......................................................................................................................... 22
3.3. Focalização ................................................................................................................................. 23
3.4. Formas ........................................................................................................................................ 24
4 Apresentação
3.5. Tonalidade .................................................................................................................................. 24
3.6. Escala .......................................................................................................................................... 25
3.7. Simplificação tonal ..................................................................................................................... 26
4.1. Iluminação de formas ................................................................................................................. 26
4 – Composição fotográfica – Parte 2 ................................................................................................... 27
4.1. Sombras ...................................................................................................................................... 27
4.2. Padrões ....................................................................................................................................... 27
4.3. Movimento ................................................................................................................................. 28
4.4. Perspectiva ................................................................................................................................. 28
4.5. Texturas ...................................................................................................................................... 29
4.6. Ponto de vista alto e baixo ......................................................................................................... 29
4.7. Cores ........................................................................................................................................... 30
Obras consultadas ................................................................................................................................. 31
5 Apresentação
Apresentação
Este não é um exatamente um guia fotográfico. Não tenho essa pretensão. Nada aqui é
definitivo ou imutável, mas apenas uma série de (alguns) conhecimentos acumulados e
organizados em sequência que se propõem didáticos. A ideia desta apostila é levar seu leitor
a entender alguns dos processos essenciais que envolvem o processo fotográfico. A teoria,
como se sabe, é fundamental, mas ainda assim incompleta: somente a prática levará a um
bom resultado do que se pretende, e isso vai além do assunto aqui tratado. E a natureza do
conteúdo disponibilizado é justamente isso: um conjunto de experimentações
compartilhadas a partir de conhecimentos teóricos. São tópicos embasados (alguns com
citações) por pelo menos sete livros da área. Mas não se iluda: nada vai substituir a leitura
completa dos especialistas. E claro, sua vontade de praticar e praticar. Este pequeno
trabalho é uma das formas que encontrei de praticar.
Vamos ao aprendizado (eu me incluo nisso).
Mário Bentes
Jornalista e fotógrafo
6 História da fotografia
História da fotografia
Há consenso entre historiadores que o primeiro registro fotográfico do mundo foi a visão de
telhados de construções a partir de uma janela, em 1826. O nome do pioneiro era o francês
Joseph Nicéphore Niépce, e o registro do que se considera a primeira fotografia foi obtido
com uma exposição de cerca de oito horas e após dez anos de experiências. Durante algum
tempo, o processo criado por Niépce foi chamado de Heliografia – já que usava a luz do Sol
para fazer o registro.
Figura 1 – A imagem registrada por Niépce, em 1826, considerada o primeiro registro feito a partir da luz.
Mas foi a sociedade com outro francês, Louis Jacques Mandé Daguerre, que levou a
fotografia a ser tal como a conhecemos até hoje. Após a morte de Niépce, em 1833, todo o
processo criado pelo pioneiro ficou nas mãos de Daguerre, já que eram sócios. E foi a partir
de alguns experimentos feitos por Niépce após o primeiro registro de imagem estática e
inalterável do mundo que Daguerre levou o processo adiante. Em 1835 houve a descoberta
preponderante do registro fotográfico e é nesse momento também que surgiu uma
conhecida lenda no meio.
Trata-se da descoberta do vapor de mercúrio como agente revelador de imagens a partir de
chapas de prata sensibilizadas com iodeto de prata. Diz a lenda que, após tentar registrar
imagens em seus experimentos e sem que nada tenha sido revelado, Daguerre teria
guardado as chapas em um armário e fechado. No dia seguinte, para sua surpresa, as chapas
7 História da fotografia
continham a imagem que ele havia tentado registrar, no dia seguinte. Atribuiu-se a
revelação ao vapor de mercúrio que, no caso, teria sido gerado acidentalmente por meio de
um termômetro quebrado que estaria guardado no mesmo armário.
Porém, a lenda é refutada por alguns historiadores, que preferem crer na versão mais
sensata de que Daguerre simplesmente chegara ao vapor de mercúrio por meio de
experimentos, a partir de tentativas e erros. O fato é que em 1837, Daguerre já tinha
padronizado o processo, usando chapas de cobre sensibilizadas com prata e tratadas com
vapores de iodo. A imagem era revelada pela ação do vapor do mercúrio aquecido. E, para
“fixar” a imagem resultante, bastava mergulhá-la numa solução aquecida de sal de cozinha.
Figura 2 – Niépce e Daguerre, respectivamente: considerados os pioneiros do processo fotográfico.
A partir daí, inicia-se o se chama de “revolução fotográfica”, com Daguerre chamando seu
processo de “daguerreótipo”. Apesar da qualidade das imagens não ser das melhores e o
processo de registro ser longo – variavam de 15 a 30 minutos – a invenção se torna popular.
Em julho de 1839, ele vende o processo ao governo francês, recebendo em troca uma
pensão vitalícia de 6 mil francos. Posteriormente, a sensibilidade das chapas foi aumentada
com o uso do brometo de prata como agente acelerador de revelação e uso de prismas na
lente para corrigir o posicionamento da imagem final, que antes vinha com alguma
distorção.
Mais tarde, o matemático Josef Petzval faz uma das mudanças mais importantes no período:
ele cria uma lente dupla (acromática) que possibilita a redução vertiginosa do tempo de
exposição das fotos pelos antigos daguerreótipos – que, até então, eram enormes e lentos.
A mudança proporcionada por Petzval foi o fator decisivo para a imediata popularização do
aparelho. E foi com o inglês Fox Talbot que os daguerreótipos, que só eram capazes de fazer
uma única imagem, passaram a ter a capacidade de registrar mais imagens.
8 História da fotografia
Figura 3 – A evolução do equipamento fotográfico (Tudo sobre Fotografia, página 32).
9 1 – A máquina fotográfica
1 – A máquina fotográfica
Apesar do contínuo avanço tecnológico, o princípio da fotografia é o mesmo desde os
primeiros experimentos (ver História da fotografia, na seção anterior). Todos os
equipamentos disponibilizados no mercado, desde os mais simples e compactos até os mais
profissionais e robustos, atendem a uma estrutura básica de funcionamento que, em
resumo, é conhecida como câmara escura. Vamos começar por entender quais são e como
funcionam os elementos principais do equipamento fotográfico.
1.1. Câmara escura ou câmera fotográfica
A estrutura que chamamos de câmara escura – ou de câmera fotográfica – nada mais é que
uma caixa isolada de forma que não haja entrada de luz para o interior, salvo por uma única
passagem, posicionada de modo que a luz resultante ajude a construir a imagem que se
deseja registrar. Ramalho & Palacin (2004) definem:
“A Câmera fotográfica pode ser definida, basicamente, como a estrutura
vedada à passagem de luz, equipada com um elemento óptico por onde passa
a imagem que será impressa no filme que está em seu interior.” (Escola de
Fotografia, página 25).
Figura 4 – A câmara escura.
10 1 – A máquina fotográfica
Este dispositivo, que permanece exatamente o mesmo desde o advento das primeiras
máquinas fotográficas até os atuais modelos digitais, representa o corpo do equipamento e
é semelhante, em parte, à estrutura de nossa visão. Busselle (1977) faz essa analogia entre a
câmara escura e o olho humano:
“Até certo ponto, pode-se estabelecer um paralelo entre ambos. A pálpebra
corresponde ao obturador; a córnea e a lente do olho trabalham em conjunto,
focalizando as imagens sobre a retina fotossensível; a íris controla a
quantidade de luz que penetra no olho, e ainda coopera com o cristalino para
produzir uma imagem clara e bem-definida, atuando exatamente como o
diafragma de uma câmara. A retina assemelha-se ao filme fotográfico, pois
contém substâncias químicas, e estas são modificadas pela luz de diferentes
comprimentos de onda. Neste ponto, porém, termina a analogia.” (Tudo sobre
Fotografia, página. 10).
Busselle argumenta que as informações captadas pelos olhos são interpretadas pelo cérebro
e que neste ponto se faz a grande diferença: “as fotografias são tiradas pelos fotógrafos, e
não por suas máquinas”. O que ele quer dizer é que os olhos registram o que está diante de
si, em um processo que basicamente não muda, e que o resultado da captação depende de
fatores cerebrais que independem da vontade do indivíduo que observa. Já o processo de
fotografar inclui percepções que vão além do registro visual: fotografamos algo porque
gostamos, porque representa algo para nós; os olhos enxergam independentemente de
nossa vontade, enquanto as câmeras só fotografam se assim determinarmos.
1.2. Visor
O visor é a abertura pela qual o fotógrafo observa e enquadra o assunto que deseja retratar.
É como se fosse uma pequena janela por onde é possível ver a imagem que se forma quando
a luz passa pela abertura principal. A posição do visor no equipamento, assim como sua
estrutura, varia conforme o modelo usado. Alguns modelos têm o visor separado da objetiva
(lente) da câmera, o que resulta em um problema conhecido como paralaxe – um desvio
entre a imagem observada por meio do visor e a imagem de fato retratada pela câmera após
o clique. Ramalho & Palacin (2004) explicam:
“A visão do fotógrafo é levemente deslocada da visão da visão do filme, o que
ocasiona uma diferença de enquadramento, chamada de paralaxe, que
poderá trazer problemas, especialmente nas tomadas muito próximas, pois
corre-se o risco de perder parte da imagem enquadrada pelo visor. ” (Escola de
Fotografia, página 31).
11 1 – A máquina fotográfica
Figura 5 – O erro de paralaxe em um equipamento compacto. O primeiro enquadramento é o mostrado pelo visor, enquanto o
segundo é o que será registrado pela câmera por meio da lente.
Alguns equipamentos já são fabricados com a correção automática desse desvio, enquanto
outras usam de indicações, marcadores ou linhas vistas pelo visor que ajudam o fotógrafo a
se orientar a evitar os problemas de desvio de imagem. Outros equipamentos, tanto
analógicos quanto digitais, conhecidos como Reflex, não possuem tal problema, pois se
utilizam de esquemas de espelhos internos para mostrar exatamente o que a objetiva vai
registrar.
1.3. Objetiva
A objetiva é a lente (ou conjunto de lentes) da máquina fotográfica. Existem muitos tipos de
lentes no mercado, e são elas que definem a qualidade da foto, somada as características
técnicas da câmera. Ramalho & Palacin (2004) atribuem à lente a missão de agir como “os
olhos da câmera”:
“As objetivas podem ser consideradas os olhos da câmera. Elas são formadas por
conjuntos de lentes cuja função é captar e enviar a imagem que será registrada pelo
filme. Elas podem ser construídas com os mais diversos materiais. As mais simples
podem ser produzidas com plástico e as mais sofisticadas e caras, com cristais de
altíssima qualidade.” (Escola de Fotografia, página 45).
Cada lente é caracterizada pela distância focal1 que pode alcançar, o que pode ser medido a
partir das dimensões da área sensível2 da máquina. Em outras palavras, a distância focal
corresponde à área de enquadramento da câmera com uma determinada objetiva. É
1 A distância focal de uma lente é medida em milímetros (mm) e também corresponde à distância entre a área
sensível da câmera e a lente.
2 Filme, para as máquinas analógicas, ou sensor (CCD), para as máquinas digitais.
12 1 – A máquina fotográfica
importante não confundir distância focal com zoom. Este último se trata de um recurso a
mais que será tratado adiante.
Existe uma infinidade de tipos de objetivas, que são indicadas para cada situação que se
deseja fotografar. Os tipos mais comuns – e adequados para a maior parte dos casos – são
os listados a seguir:
1.3.1. Objetiva normal
Esta é a lente que mais se assemelha ao olho humano em relação à área em que ela pode
enquadrar. São consideradas lentes normais as de distâncias focais de 45, 50 (mais comuns)
ou 55 mm. As objetivas normais são indicadas para a grande maioria dos casos,
principalmente para fotógrafos iniciantes.
Figura 6 – Enquadramento com uma objetiva normal (50 mm).
1.3.2. Teleobjetiva
São as lentes de maior distância que as objetivas normais, com 85 mm ou mais (elas podem
superar os 1000 mm). Elas aumentam o tamanho da imagem na área sensível e são
indicadas em casos em que não há possibilidade de aproximação entre o fotógrafo e o
objeto fotografado, como em casos de fotografia de natureza ou de esportes.
Figura 7 – Enquadramento com uma teleobjetiva (100 mm).
13 1 – A máquina fotográfica
1.3.3. Grande angular
Geralmente possuem distâncias focais de 24 e 35 mm, sendo, portanto, uma lente de menor
distância focal que uma objetiva normal. Sua principal característica é a possibilidade de
enquadrar uma área bem maior que as normais e as teleobjetivas. São usadas para registrar
paisagens, multidões etc.
Figura 8 – Enquadramento com uma grande angular (24 mm).
A relação entre a distância focal e ângulo de enquadramento é inversamente proporcional:
quanto maior a distância focal, menor é a área enquadrada e vice-e-versa.
Figura 9 – A relação entre distância focal e área enquadrada.
1.3.4. Objetiva zoom
Ao contrário das anteriores, que possuem distância focal geralmente fixa, a objetiva zoom
permite ajuste da distância focal. Elas são mais versáteis, pois se adequam aos mais variados
tipos de situação. Mas há um porém: elas perdem em qualidade no que diz respeito às
objetivas de distância focal fixa. No geral, a percepção da queda de qualidade acontece nos
extremos: quando a objetiva zoom é ajustada para atuar como grande angular ou
teleobjetiva. Nos demais casos, a queda de qualidade é muito baixa. O rigor da qualidade é
mais importante para quem trabalha profissionalmente com fotografia.
14 1 – A máquina fotográfica
1.3.5. Objetiva macro
É usada para quando se precisa registrar um objeto pequeno, porém, em riqueza de
detalhes. É usada, em muitos casos, para fotografar insetos e flores.
Figura 10 – Fotografia em modo macro.
1.3.6. ‘Olho de peixe’
A lente “olho de peixe” leva esse nome por conta do formato da lente que, de tão curvada
na superfície, assemelha-se ao olho de um peixe. Tecnicamente, é uma grande angular com
maior poder de abrangência em todas as direções, captando assim mais área visível em uma
imagem que qualquer outro tipo de lente. Esse poder de abrangência, porém, tem um
defeito: a imagem final fica distorcida. No geral, é usada por fotógrafos profissionais para
fotografar grandes multidões ou ainda para dar uma sensação diferenciada no caso de
retratos mais comuns. Por ser uma lente de alto preço e resultado de certo modo previsível,
é indicada para profissionais de alto padrão.
Figura 11 – Fotografia feita com uma lente “olho de peixe” gera distorção da imagem real.
15 2 – Elementos essenciais
2 – Elementos essenciais
Após conhecer as partes principais do equipamento fotográfico, é hora de conhecer alguns
recursos técnicos que, juntos, podem ser classificados como essenciais ao processo
fotográfico. São eles: diafragma, obturador e sensibilidade (ISO3).
2.1. Diafragma
Este é o dispositivo criado para controlar a quantidade de luz que entra a partir da objetiva.
É formado por uma série de pequenas lâminas de aço sobrepostas que juntas permitem
várias combinações que controlam a entrada de luz que vai atingir a área sensível da
máquina. A abertura de diafragma é indicada pelos números “f”, informados no
equipamento. A relação entre o número “f” e abertura é inversamente proporcional, assim
quanto maior o número “f” menor a abertura, e vice-e-versa.
Além de controlar a entrada de luz no interior da câmera, o ajuste do diafragma resulta em
outro elemento, chamado de profundidade de campo ou profundidade de foco, que é
caracterizada como a área visível (focada) na imagem retratada. Nas palavras de Ramalho &
Palacin (2004):
“O diafragma pode ser comparado à íris dos nossos olhos, pela capacidade de
controlar a entrada de luz que atingirá o filme. É uma das ferramentas mais
importantes no conjunto de itens que compõem a conspiração fotográfica. É o
diafragma que determina a profundidade de campo, ou seja, quanto de área
‘focada’ teremos entre o primeiro e o último plano da imagem.” (Escola de
Fotografia, página 63).
Figura 12 – O diafragma e a relação entre o número ‘f’ e a abertura: inversamente proporcionais.
3 ISO também é conhecida como ASA, em uma nomenclatura mais antiga.
16 2 – Elementos essenciais
Isso fica mais claro quando entendemos o que é foco. Resumidamente, o foco é um ponto
único na imagem. O diafragma é o meio por onde podemos aumentar ou reduzir a área
focada. No caso de uma imagem com, por exemplo, duas pessoas posicionadas uma atrás da
outra (uma mais perto da câmera e a outra mais longe), o ajuste do diafragma poderá fazer
com que a primeira seja colocada em foco, deixando a segunda “desfocada”. O mesmo pode
ser feito ao contrário: a segunda pessoa, mais distante, ficar focada e a primeira desfocada.
Ou ainda as duas sob o foco da câmera.
Figura 13 – Na primeira imagem, o diafragma foi ajustado com maior abertura (menor número ‘f’), resultando em menor
profundidade de campo. Na segunda, o oposto: menor abertura (maior número ‘f’) e maior profundidade de campo.
2.2. Obturador
O obturador da câmera fotográfica pode ser perfeitamente comparado à pálpebra do olho
humano (Ramalho & Palacin), ao ter a função de se abrir e fechar para, assim como o
diafragma, controlar a entrada de luz que vai incidir na área sensível (filme ou sensor).
Existem dois tipos: obturador central4 e obturador de cortina. O primeiro fica situado na
estrutura da objetiva e são comuns em câmeras compactas. Já o obturador de cortina fica
instalado no interior do corpo da câmera, bem à frente da área sensível à luz.
Nas câmeras, a velocidade do obturador é indicada em partes de segundo (1/x). O valor mais
adequado da velocidade depende da circunstância a que se pretende fotografar. Quanto
maior o valor de x, maior a velocidade do obturador e menor o tempo de exposição do filme
à luz. Quando se quer, por exemplo, “congelar” uma imagem, é necessário usar a velocidade
do obturador a partir de 1/80 ou mais. Velocidades menores, como 1/60 para baixo, correm
o risco de ficar borradas, e por isso exigem algum tipo de apoio para o equipamento.
4 Também conhecido como obturador concêntrico (BUSELLE, 1979).
17 2 – Elementos essenciais
2.3. Sensibilidade (ISO)
Como o próprio nome sugere, a sensibilidade é o fator que torna o filme ou sensor digital
mais ou menos sensível à luz. Ele é ajustado de acordo com as condições de luz do ambiente.
Quando há pouca iluminação, como no caso de fotos noturnas, a sensibilidade (ISO) da
câmera pode ser aumentada, fazendo com que a pouca luz disponível seja captada ao
máximo.
Antigamente, nas câmeras analógicas, era necessário comprar o filme já com a indicação de
sua taxa de sensibilidade. Na prática, os fotógrafos adquiriam filmes, por exemplo, para
serem usados em boas condições de luz, como durante o dia, ou em condições adversas, nas
fotos noturnas. Atualmente, nos equipamentos digitais, a sensibilidade do CCD ou sensor
digital é ajustada na própria câmera. É como se o fotógrafo dispusesse de vários filmes no
mesmo equipamento (CERIBELLI, 2010).
A alta sensibilidade do sensor deve ser usada com cuidado, pois, dependendo do modelo do
equipamento, pode haver o que na fotografia se chama “ruído” ou “granulação” da imagem
final. Nas palavras de Freeman (2005):
“Melhorar a sensibilidade do sensor torna possível fotografar com níveis mais
baixos de luz, mas isso tem uma desvantagem – o ruído. É o equivalente ao
aumento de grão nas películas de elevada velocidade e, embora as causas não
sejam as mesmas, os resultados são semelhantes.” (Manual de Fotografia
Digital – Luz & Iluminação, página 16)
A ISO deve ser uma espécie de “coringa”, sendo ajustada somente quando nenhum dos
outros recursos pôde garantir uma imagem de melhor qualidade.
2.4. Fotômetro e exposição
Como foi possível perceber, os três elementos citados anteriormente dão ao fotógrafo
múltiplas opções para a realização do registro. Mas, evidentemente, nem todas as
combinações entre abertura de diafragma, velocidade do obturador e sensibilidade são
adequadas para todos os registros. Os ajustes individuais de cada um desses mecanismos
vão depender diretamente das condições de luz do ambiente. Então como saber se a
combinação que escolhi vai resultar em uma boa foto?
Aí entra em campo um quarto elemento, chamado fotômetro. Essa é a ferramenta pelo qual
o fotógrafo pode “medir” a luz do ambiente e, assim, ajustar os demais elementos com o
objetivo de permitir que somente a quantidade adequada de luz atinja a área sensível. Luz
em demasia (superexposta) resulta no que, comumente, se chama de foto “estourada” – ou
seja, clara demais. Por outro lado, uma foto com quantidade de luz menor que o necessário
18 2 – Elementos essenciais
(subexposta) resulta em uma foto escura. E é por desconhecer como saber fazer a leitura do
fotômetro (ou por ignorar que ele existe), que muitas pessoas estranham o resultado das
fotos feitas em modo manual, mesmo em um equipamento de excelente qualidade.
Existem dois tipos de fotômetros: os internos e os “de mão”. Enquanto o primeiro, presente
na maioria dos equipamentos, seja analógicos ou digitais, resulta em uma medição não
totalmente precisa, o segundo, mais voltado para profissionais de alto padrão (e geralmente
para fotografia de estúdio), gera leituras mais próximas da realidade. A diferença entre os
resultados, porém, é mínimo e pouco influencia o registro do cotidiano.
No caso dos fotômetros embutidos, que é com o qual vamos trabalhar, a leitura da luz é
feita por meio de um pequeno gráfico observável pelo visor da câmera. Tal gráfico varia
conforme o modelo do equipamento, mas, no geral, eles são similares a uma linha com
marcações que variam de -2 (menos dois) a +2 (mais dois), sendo o 0 (zero) o ponto onde a
medição de luz está, digamos, perfeita.
Figura 14 – A primeira imagem mostra o fotômetro em ajuste ideal, “zerado”, em um modelo específico de câmera. A segunda
imagem é o padrão de gráfico de fotômetro encontrado na maioria dos equipamentos.
2.5. A relação entre diafragma, obturador e ISO
Conforme já foi explicado, os três itens anteriores formam os elementos essenciais da
fotografia. Basicamente são eles que definem o resultado de um determinado registro.
Apesar de suas especificidades, cada um deles tem a mesma função: permitir o registro
fotográfico e, de certa forma, controlar a entrada de luz no equipamento. Os ajustes destes
elementos no equipamento fotográfico devem ser feitos tendo em vista a medição exata da
luz e o resultado que se pretende atingir. Fotografar é um ato mais reflexivo que impulsivo.
Então, quando usar maior ou menor abertura de diafragma? Quando aumentar ou diminui a
velocidade do obturador? Usar mais ou menos sensibilidade na ISO? Não é fácil responder
tais perguntas, porque a gama de possibilidades é enorme e não existem configurações
padrões perfeitas para cada situação.
Os equipamentos digitais compactos modernos possuem ajustes de fábrica que, na teoria,
representam os ajustes mais adequados dos três elementos para uma dada situação. Porém,
a essência da fotografia está na liberdade de escolha por parte do fotógrafo, onde o
resultado esperado depende da vontade de quem faz o registro. E é somente o exercício da
19 2 – Elementos essenciais
prática que vai levar você a definir, dentro do que você espera com um determinado registro
fotográfico, os ajustes mais adequados. O fundamental é compreender que cada um dos
elementos influi, de sua forma, no resultado final.
Para facilitar aos iniciantes, porém, vamos listar a seguir algumas situações e os ajustes do
equipamento que, na teoria, são mais adequados.
O que quero com a foto? Ferramenta usada/O que fazer
Pouca profundidade de campo Diafragma. Ajuste por maior abertura (menor número
‘f’). Exemplo: f 2.8
Muita profundidade de campo Diafragma. Ajuste por menor abertura (maior número
‘f’). Exemplo: f 8
Congelar movimentos Obturador. Aumentar velocidade/Diminuir tempo de
exposição. Exemplo: 1/1000
Dar sensação de movimento Obturador. Diminuir velocidade/Aumentar tempo de
exposição. Exemplo: 1/40
2.6. Temperatura de cor e Balanço de branco
Fisicamente falando, o que chamamos de “luz” nada mais é que a parte visível do espectro
eletromagnético emitido pelo Sol. Ou seja, a luz é apenas uma parte de toda a radiação
emitida (Freeman, 2005). E a chamada “luz branca” do Sol possui, na verdade, múltiplas
cores. O arco-íris, fenômeno causado pela refração da luz branca em gotículas de água em
suspensão, é a prova disso.
Cada cor que se torna visível a olho nu – seja por meio do arco-íris ou ainda por meio da
refração da luz na atmosfera, dependendo da hora do dia – possui o que se chama, também
na Física, de temperatura de cor. Na Física, as cores quentes são aquelas mais próximas do
branco (Sol), passando pelo azul; enquanto as cores frias são próximas do vermelho,
passando pelo amarelo e laranja (Trigo, 2005). Essas informações, porém, contrastam com o
que pensamos vulgarmente: costumamos associar o azul, por exemplo, a uma cor fria,
enquanto classificamos o vermelho como quente. Esta notação “vulgar” não está errada e,
na verdade, é usada frequentemente pelos fotógrafos para designar a escala de
temperaturas de cor.
A importância de conhecer essas informações está num dado curioso: nossos olhos têm
certa dificuldade para enxergar a variação de cores do ambiente proporcionadas pela luz.
Portanto, somos incapazes de perceber, a olho nu, se o ambiente que desejamos fotografar
está com temperatura de cor mais quente ou mais fria. Na verdade, o que acontece é que os
olhos se ajustam automaticamente para que enxerguemos as cores do ambiente em tons
mais neutros, equilibrando-as.
20 2 – Elementos essenciais
Já as câmeras fotográficas, por outro lado, enxergam essa diferença tão bem que, se não
fizermos certos ajustes, podemos arruinar nossas fotos. É nesse momento em que devemos
nos preocupar com o que, na fotografia5, é chamado de balanço ou equilíbrio de branco.
‘Bater o branco’
Resumidamente, fazer o equilíbrio do branco ou, como se costuma dizer, “bater o branco”,
nada mais é que informar à câmera o padrão que ela deverá usar para “enxergar” todas as
outras cores presentes na cena. E por que o branco? Freeman (2005), explica:
“Como vimos nas páginas 10-11, o branco é um estado de espírito que
reconhecemos como neutro. Ajustar as zonas de luz intensa num cenário para
o branco neutro fará a imagem parecer ‘normal’, ou seja, ‘correta’.” (Manual
de Fotografia Digital – Luz & Iluminação, página 28)
Ou seja, é mais fácil definir o aspecto de “neutralidade” entre todas as cores de um
ambiente pelo branco – já que não existe “branco claro” ou “branco escuro”6 – que por
qualquer outra cor, cujos tons podem variar. E como fazer tal ajuste? Os controles variam de
acordo com o modelo de equipamento, mas existem padrões presentes na grande maioria
das câmeras digitais modernas. São elas: luz solar, nublado, sombra, flash, tungstênio e
fluorescente, além do modo automático. Tais opções se adequam à maioria das situações e
costumam ser suficientes.
Na área mais profissional da fotografia, os fotógrafos costumam usar um aparelho para fazer
a medição manual da temperatura de cor, chamado “Kelvinômetro” – os valores
correspondentes às temperaturas das cores são medidos em unidades de kelvin7 (K).
Figura 15 – O kelvinômetro.
5 O termo também é muito comum na área do vídeo, que é fotografia em movimento.
6 “Branco-gelo” ou “branco-neve”, divulgadas como cores de tintas de parede, não contam nesse contexto. Tais
denominações são meramente rotulativas e comerciais. Fisicamente falando, só existe um branco, que é a Luz
– a parte visível do eletromagnetismo do Sol.
7 Kelvin é a medida padrão da temperatura termodinâmica. O nome foi adotado em homenagem ao físico e
engenheiro irlandês William Thomson, que foi o primeiro Lorde Kelvin na ocasião do “par do Reino Unido”.
21 3 – Composição fotográfica
3 – Composição fotográfica
O que define uma boa fotografia? Que tipo de critérios o fotógrafo – profissional ou amador
– deve adotar para fazer seus registros? Não existem regras definitivas. O que existem são
caminhos não imutáveis por onde se pode passar para, na teoria fazer um registro que
agrade aos olhos. É o que se chama de composição fotográfica: o chamado
“enquadramento” de objetos, figuras, pessoas, animais ou qualquer que seja o assunto
fotografado, mas de forma que tudo – absolutamente tudo – fique organizado de maneira
que não existam fatores que tornem a foto desagradável.
Buselle (1979) define a composição fotográfica:
“A composição nada mais é que a arte de dispor os elementos do tema –
formas, linhas, tons e cores – de maneira organizada e agradável. Na maioria
dos casos, não só sentimos mais prazer em olhar para uma fotografia
organizada, como também uma maior facilidade em entendê-la.” (Tudo sobre
Fotografia, página 16).
Como já dito, não existem o que alguns poderiam chamar de “regras” definidas para um
bom registro. O que há são caminhos por onde o fotógrafo pode percorrer para tornar a
fotografia mais agradável aos olhos. Nas palavras de Ramalho & Palacin (2004):
“Primeira regra: na fotografia, as regras existem para serem quebradas
quando for conveniente. Tome as regras como linhas-mestre, mas não hesite
em abandoná-las em favor de uma tomada8 emocional de uma fotografia.”
(Escola de Fotografia, página 156).
Muitos autores abordam diferentes tipos e conceitos de composição, sendo alguns comuns
entre si e outros mais específicos, definidos a partir de suas próprias experiências na área da
fotografia. Porém, neste curso, vamos trabalhar com 16 conceitos conhecidos e eficazes na
composição de fotos: centro de interesse, focalização, forma, tonalidade, escala,
8 Tomada (ou take, em inglês) é um termo muito comum na área audiovisual, mas é inerente ao registro
fotográfico. O processo de registro audiovisual é, em suma, um desdobramento do registro fotográfico. Ambos
os tipos de equipamento – câmeras fotográficas e filmadoras – trabalham basicamente do mesmo modo. Por
tomada, pode-se entender como ‘enquadramento’.
22 3 – Composição fotográfica
simplificação tonal, iluminação de formas, sombras, movimento, perspectiva, texturas,
regras dos terços, ponto de vista alto e baixo, cores e padrões.
3.1. Centro de interesse
O centro de interesse, de acordo com Ramalho & Palacin, representa o assunto da imagem
retratada. Este não deve ser confundido como centro da imagem. Para entender melhor,
você deve se perguntar: o que quero mostrar com essa foto? A resposta a esta pergunta
deve levar você a definir o centro de interesse. O enquadramento da foto, assim como
outras técnicas de composição, deve girar em torno desse fim.
3.2. Regra dos terços
A regra dos terços é o conceito que responde a uma questão levantada no tópico anterior.
Se o centro de interesse não representa necessariamente o centro da imagem, então onde
deve ficar posicionado o meu assunto? Na verdade, há um consenso de que a imagem
principal de uma fotografia – o assunto – não deve estar posicionada ao centro, pois resulta
na desarmonia da imagem. Em suma, o assunto centralizado vai atrair a atenção do
observador de tal forma que os outros elementos serão ignorados. A regra dos terços define
os pontos onde o assunto deve ser posicionado para que todo o conjunto visual possa ser
mais bem visualizado. Tal “regra”, conforme explicam Ramalho & Palacin, foi criada na
Renascença:
“Essa regra foi criada há muito tempo, lá pelo século XIV durante o período
conhecido como Renascença. Se o próprio Leonardo da Vinci e Michelângelo
adotaram essas regras em suas obras-primas você, sem pretensão alguma,
deveria dar alguma atenção.” (Escola de Fotografia, página 157).
Vamos à definição objetiva de Bavister (2008):
“A ‘ferramenta’ mais comum para a composição é a regra dos terços. Ela
consiste em dividir a área da imagem em uma grade de nove segmentos de
mesmo tamanho, usando linhas verticais e horizontais imaginárias. A ideia é
colocar o ponto focal em uma das quatro intersecções criadas pelas linhas,
para que o ponto sempre fique a um terço das margens da imagem,
equilibrando-a.” (Guia de Fotografia Digital, página 95).
23 3 – Composição fotográfica
Figura 16 – A ‘regra dos terços’ aplicada em uma fotografia.
3.3. Focalização
A focalização é a técnica de composição criada a partir da manipulação da profundidade de
campo da foto por meio de ajustes no diafragma da câmera. Lembre-se que, por meio do
diafragma, é possível controlar não apenas a quantidade de luz na câmara escura, mas
também o quanto da imagem, no sentido de profundidade, será focada. Com a focalização,
você pode, por exemplo, colocar seu assunto ou centro de interesse em foco enquanto o
restante do cenário fica desfocado.
Figura 17 – O assunto da imagem, a modelo, está focalizada enquanto o fundo está sem foco.
24 3 – Composição fotográfica
3.4. Formas
O conceito de formas na composição consiste em dar destaque aos contornos do assunto
fotografado usando, para isso, os mais variados modos. É possível dar ênfase à forma do
assunto usando a iluminação ambiente, posicionando o centro de interesse conforme a
necessidade, posicionando o assunto sob o fundo neutro ou ainda mudando a posição da
câmera. As luzes do início da manhã e fim da tarde são ideais para este tipo de composição.
Quando falamos em “posicionar” o assunto, não falamos de movê-lo literalmente de onde
ele está, mas movê-lo espacialmente de acordo com as infinitas possibilidades de
enquadramento a partir do posicionamento do fotógrafo. Fotografar é, acima de tudo, um
exercício de paciência e, em geral, cansativo.
3.5. Tonalidade
À primeira vista, pode ser confundido com a técnica de formas, mas há sutis diferenças. A
composição, neste caso, é feita quando o assunto retratado possui uma tonalidade de cor
diferenciada do restante do cenário, fazendo com que ele se destaque naturalmente. Em
muitos casos, para que funcione, é necessário fazer vários tipos de enquadramento para que
o assunto fique isolado entre outros elementos, conduzindo o olhar do observador até ele. É
importante lembrar que as fotografias em preto e branco com um único elemento colorido
não se enquadram neste tipo de composição, já que neste caso houve uma interferência
técnica no processo.
Figura 18 – A iluminação do ambiente dá ênfase nas formas do assunto, o carregador.
25 3 – Composição fotográfica
Figura 19 – A cor azul da blusa do menino contrasta com o restante do cenário.
3.6. Escala
As fotos em escala são aquelas
em que o assunto do registro
fotográfico é colocado em
destaque por meio de uma
espécie de “distorção” criada
pelo enquadramento. Um
exemplo é a foto de um inseto,
que pode ficar “gigante” na
foto em relação aos outros
elementos se você se
aproximar dele para retratá-lo.
Do mesmo modo, você pode
“diminuir” grandes objetos
frente a outros elementos.
Figura 20 – O homem não parece tão menor que a estátua do Cristo, graças a composição em escala.
26 3 – Composição fotográfica
3.7. Simplificação tonal
Esta é uma técnica de composição usada por fotógrafos mais experientes e com maior
conhecimento das propriedades da luz. Resumidamente, consiste em usar as próprias
condições atmosféricas para eliminar elementos desnecessários do cenário. É uma técnica
que depende mais da observação e do momento em que se faz o registro, não estando
totalmente no controle de quem fotografa.
Figura 21 – As condições atmosféricas durante o momento do registro proporcionaram um olhar diferenciado para a paisagem.
4.1. Iluminação de formas
Ao contrário da técnica das formas,
em que, no geral, se usa a própria
iluminação ambiente para enfatizar
os contornos do assunto retratado,
a iluminação de formas é mais
artificial, sendo feita, geralmente,
com auxílio de iluminação auxiliar. É
mais voltada a trabalhos em estúdio
ou em caso de retratos, com uso
controlado do flash. Entretanto, a
técnica também pode ser usada
com luz natural, mas, neste caso, é
o assunto que se ajusta conforme a
iluminação – e não o contrário,
como em formas.
Figura 22 – Luz artificial foi usada para destacar a silhueta do corpo da modelo.
27 4 – Composição fotográfica – Parte 2
4 – Composição fotográfica – Parte 2
4.1. Sombras
A técnica das sombras pode ser usada, por
exemplo, para mostrar de uma maneira diferente
e atrativa uma imagem que, em outras situações,
seria clichê. Academicamente falando, é usar a
técnica conhecida como Semiótica9, porém na
imagem: em vez de mostrar o signo (pessoa ou
objeto), mostra-se seu significado (sua forma
através da sombra), transmitindo a mensagem
(assunto) do registro fotográfico.
Figura 23 – Na primeira imagem, o diafragma foi ajustado com maior abertura (menor número ‘f’)
4.2. Padrões
Um quadro cheio de elementos do mesmo
formato, ainda que com cores e tamanhos
diferentes, forma o que se chama de padrões. Há
padrões na própria natureza ou criadas pelo
homem, seja por meio de construções ou ainda
em singelas intervenções cotidianas. A ideia dos
padrões é que, visualmente, eles são
inconscientemente confortáveis ao observador
por não resultar em ruídos; uma imagem com
elementos padronizados entre si gera
uniformidade e conforto visual.
Figura 24 – Na primeira imagem, o diafragma foi ajustado com maior abertura (menor número ‘f’)
9 A Semiótica (do grego σημειωτικός *sēmeiōtikos+ literalmente "a ótica dos sinais") é a ciência geral dos signos
e da semiose que estuda todos os fenômenos culturais como se fossem sistemas sígnicos, isto é, sistemas de
significação (definição do Wikipedia). No geral, é dividida em Signo, Significante e Significado.
28 4 – Composição fotográfica – Parte 2
4.3. Movimento
O registro fotográfico é estático, ou seja,
uma imagem parada no tempo. Mas isso
não impede o fotógrafo de dar a
sensação de movimento à sua imagem.
Na verdade, a sensação de movimento
dá ainda mais força e dinamismo para
aquilo que se quer registrar. Uma das
técnicas mais conhecidas para dar a
ideia de movimento em uma fotografia é
chamada de “panning” – muito usada na
área de fotografia de esportes e
fotojornalismo. Mas pode ser aplicada
para os mais variados fins.
Figura 25 – Apesar de ser uma imagem estática, a sensação de movimento existe pela técnica do “panning”.
4.4. Perspectiva
A perspectiva é a forma usada para
dar a sensação de três dimensões
em uma fotografia. O fotógrafo
deve trabalhar, principalmente, com
a ideia de profundidade no
momento do enquadramento e,
para isso, deve trabalhar
paralelamente com o conceito de
“linhas” – que podem ser visíveis ou
invisíveis na imagem. A composição
em linha começa, geralmente, no
canto inferior da imagem e segue
até que o centro de interesse seja
atingido. Para formá-la, basta usar
elementos contidos no próprio
ambiente: cercas, estradas, ruas,
árvores alinhadas.
Figura 26 – As linhas sinuosas do batente conduzem o olhar do observador de um canto a outro da imagem, gerando a sensação de
profundidade e, portanto, de perspectiva.
29 4 – Composição fotográfica – Parte 2
4.5. Texturas
O conceito de textura é mais artístico,
voltado a um registro abstrato.
Qualquer superfície que contenha
uma textura com cores e formatos
interessantes rende um bom registro
fotográfico. A técnica,
evidentemente, pode ser aproveitada
para outros registros, como
documentais ou fotojornalísticos –
desde que o fator textura esteja
presente. É importante salientar que,
em muitos casos, a textura de uma
determinada superfície só torna-se
fotograficamente interessante
quando a posição de incidência da luz
permite. Quando a luz incide
diretamente sobre a textura, por
exemplo, alguns de seus detalhes
mais interessantes são perdidos.
Figura 27 – A textura do solo a partir das rachaduras do fundo seco de um rio. Neste caso, a incidência de luz não fez diferença porque
as rachaduras proporcionadas pela seca se destacam naturalmente.
4.6. Ponto de vista alto e baixo
É possível dar mais ou menos
importância a objetos ao
posicionar a câmera mais
abaixo ou mais acima do
centro de interesse. Deve ser
usado com cautela para não
distorcer
desnecessariamente o
objeto-alvo do registro. Um
bom exemplo é o registro de
pessoas: o ponto de vista
baixo pode “engordar”
alguém, enquanto o
contrário “emagrece”.
Figura 28 – O ponto de vista baixo engrandece o poste de energia e dá destaque para as árvores ao redor. A distorção causada, neste
caso, não compromete a imagem.
30 4 – Composição fotográfica – Parte 2
4.7. Cores
Quando se fala em cores, não
estamos falando
necessariamente em fotografar
objetivos multicoloridos, mas
em dar mais destaque para as
cores presentes em um cenário.
Registrar um belo céu azul, o
verde do mar, os tons pastéis
da areia formados pelas
condições do clima ou ainda
enquadrar objetos de cores
similares – e eliminar outros
que possam destoar – são
exemplos de composição em
cores. A foto ao lado, por
exemplo, mostra boa parte dos
elementos na cor verde,
gerando uniformidade e
conforto visual
Figura 29 – O verde do Fusca e os vários tons de verde das árvores criam uma sensação de harmonia na imagem.
Evidentemente, retratos de
objetos ou cenários com
múltiplas cores também são
válidos, desde que a
quantidade de cores
dialogue entre si e gere
harmonia na imagem. Uma
técnica para identificar cores
que, juntas, possam causar
um bom resultado está na
sigla “VAVA”: Vermelho,
Azul, Verde e Amarelo.
Procure localizar algumas
dessas cores em um
ambiente e experimente
vários tipos de
enquadramentos.
Figura 30 – O vermelho se destaca entre o restante da vegetação, onde predomina o verde.
31 Obras consultadas
Obras consultadas
RAMALHO, José Antônio. Escola de Fotografia. José Antônio Ramalho, Vitché Palacin. — São
Paulo: Futura, 2004.
BUSELLE, Michael. Tudo sobre Fotografia. — São Paulo: Pioneira, 1979.
BAVISTER, Steve. Guia de Fotografia Digital / Steve Bavister; tradução de Lúcia Marques. —
São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2011.
TRIGO, Thales. Equipamento Fotográfico: teoria e prática / Thales Trigo. — 3ª ed. rev. e
ampl. — São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2005.
Guia Completo de Fotografia (National Geographic Brasil) / [tradução de Ana Ban]. — São
Paulo: Editora Abril, 2008
FREEMAN, Michael. Luz & Iluminação / [tradução de João Bernardo Paiva Boléo]. — Lisboa:
Centralivros, 2005.
CERIBELLI, Cíntia. Fotografia Digital & Tratamento de Imagem. — São Paulo: Editora Escala,
2010.