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8/16/2019 Ernesto Bono - Nós, a Locura e a antipsiquiatria
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Vivemos nu ma Idade Média enfeita da. Submetidos a uma tecnologia faustosa
e a um cienti f icismo dogmático, chamados erroneamen te de progresso, somos e m
verdade bonecos ric amente vestidos ide u m circo de marionetes.
Gomo seres que pensam e sentem com independência e inteligência, não
existimos. Somos robots de fortíssimos mecanismos de controle social.
Com o surgim ento da chamada Cont racu ltur a (comentada, em parte, pelo
A u t o r ) , mui tos desses aspectos repressivos de controle da Sooiedade têm vindo à
tona.
A Ciência, outro ra apresentada como de indiscutível benefício ao ser humano,
t em sido contestada nos seus mais diversos aspectos, e já não são poucos os
que a vêem mais como uma arma de afirmação do «Establishment».
A psiquiatr ia, como f i lha d o cientific ismo mode rno, tem sido atacada em
suas bases pelos antipsiqu iatras, surgidos conjunt amen te com o movi ment o contra-
cultural . Laing , Cooper, Schatzman e outros , talvez u m tan to fragme ntaria mente,
imas com inegável força, têm sido aríetes contra os rótulos estigmatizantes, contra
a loronificação dos enfermos mentais e sua despersonalização, contra o rechaço ao
contacto real e afectivo com o paciente.
O autor gaúcho, d outo r Ernesto Bon o, irmana- se nesta iobra aos antipsiquiiatras
contemporâneos. Seu tra bal ho, no en tan to, embasa-se em pon tos ainda não toca dos
pelas dispersas correntes da Ant ips iquiatr ia em voga, e nisso está a sua o r ig inal i dade e ined itis mo. Se Laing, Cooper e outros investem co ntra a Sociedade que
cr iar ia o louco e o rechaçaria, o autor neste trabalho vai mais além, apresentando
convincente s argume ntos sobre o mot ivo int ern o e ind ividual que causaria as
idiversas doenças mentais.
A lo ucu ra não é vista por E. Bono com o de causa externa, seja social (An tip si
quiat r ia, Cooper, Laing) ou bioquímica (Psiq uiatria oficia l), mas como a perda de
um a condição até certo ponto inerente ao ser humano: a acção natural que surge
da Liberdade Inter ior .
Se percebêssemos que a nossa Socieda de intere sseira , calc ulist a e nada espon
tânea, está em adiantado estado de putrefacção, não parecerá tão estranha essa
afirmação.
Outross im, a temática sexual, à qual o autor dedica mais de três capítulos,
fo i abordada com extrema objectividade e clareza, talvez mesmo melhor que
Freud e Reich. Nesses capítulos como se estivesse descrevendo o íntimo de um (a) jo ve m qu e des per ta ao sexo , o au to r não só ap res en ta as possíveis origens da
esquizofrenia, que ele aponta como uma exacerbação do pensamento discursivo,
como também oferece um enfoque K ^t ^ n t " êãatójreCSBdót e natural sobre o sexo,
que, quando mal compreendido, é f
crisias,
O auto r, com nove anos de
Porto Alegre, Brasil), apresenta-no:
cerebral», responsável pela estigmati
enfermos mentais.
Este trabalho tem como maioi
ser humano, numa época de tanta (
ou de doença mental .
Como o autor questiona a validase serviram de velhos vícios epistemol
maneira de conhecer ou pensar, que não apenas abre novas perspectivas ao saber
humano, como também ajuda a resolver nossos próprios problemas.
F a c u I d a d i de L e t r a s d e L i s b o a
1 • c i «a I -S i , i - d e l i l . . . .
U L F L 0 0 0 0 0 1 3 3 2 6 2
NÓS, A LOUCURA E A ANTIPSIQUIATRIAERNESTO BONO
viver é preciso/6AFRONTAMENTO
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Volumes já publicados:
1. Alimenteis, saúde e agricultura
(Crítica ida aigriouiitura dominante)
— Ol&utíe Auber t
2. Perspectiva ecológica da agricultura:
China, Estados Unidos e Ter ce i r o Muirido
— IX u ch e t , Rd da le , Messe e Goldste in
3. O Átomo e a Hi stória(O t e r ror atómico, de H i r o x i m a às ceaitraás nucleares)
— Bienre Pizoa
4. Ecologia da cruzada humanista à critica do capitalismo
— antologi a organizada p or Vítor Matias Fetnreira
Cadernos de Ecologia e Sociedade11
5. Não à industrializa ção] selvageml
Victora, Aveline, Heienld, Samir Aimán, Bono
Cadernos de Ecologia e Sociedaãe\2
6. Nós, a Lóucura e a Antipsiquiatria
— Ernesto Botno
A publicar:
O Direito à Diferença
— An tó ni o Carvalho, Ivan IiUich, Afonso Cautela e outros
No Pais das Ruas Azuis
— S ilv ia Monta rroyos
Sobre o Antagonismo Cidade-Campo
— R. Tá vo ra , Lawreuce Háiils, J. Cama*te e outros
NÓS, A LOUCURA E A ANTIPSIQUIATRIAERNESTO BONO
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Do autor:
É A CIÊNCIA UMA NOVA RELIGIÃO?
(O u Os Perigos do Dogma Científico)
Civilização Brasi le ira SA/Rio de Janeiro
Capa: João B.
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© Ernesto Bono, 1976
EDIÇÕES AFRONTAMENTO
Apartado 532 Porto
ÍNDICE GERAL
Introdução 9
Cultura e Contracu l tura 15
A Confusão de u m Jovem e uni Psiquiatra d o Mundo Ve lho 23
Ant i ipsiqu iat r ia e Sexo I 31
A Q U I e AGO RA ou um Novo Enfoque da Vdtía através da Contracu l tura 41
A Psicologia da «Realidade Imediata» e a «Visão Científica das Coisas» 49
A nt ip s i qu ia t r i a Psicológica e Psiquiatr ia Oficial 55
Te st em un ho Pessoal sobre o Choque Insulínáco ou a Psiquiatr ia Oficial
Vista e Sentida pelo Paciente 65
A Liberdade tie uma Hipotética Escola Contracul tura! 69
A «Ver dade», o Pensamento Lógico e o Pensamento Mágico I 75
A «Ve rdade», o Pensamento Lógico e o Pensamento Mág ico I I 81
A «Ver dade», o Pensamento Lógico e o Pensamento Mág ico I I I 87
Ant ipsiqu iat r ia e Sexo I I 93
Bandit ismo Cultural 105
Contracultuira d o Entend imento e d o A m o r 111
O Estudante de O n t e m e de Hoje ou As duas Faces da Mesma Moeda 117
A nt ip s i qu ia t r i a e Sexo I I I 123
Q I — Quociente de quê, do Intelectualismo (falsa sabedoria) ou da I gno
rância (Psicologia)? 133Ant i ipsiqu iat r ia, Antipsicologia e os Meios de Conhecimento 139
A Antipsicologia da Instantaneidade e a Psicologia Tempor al 147
Te mo re s Apocalípticos e o «Complexo de Vítima ou Mártir» 153
Um a Nova Epistemologia ou o «Ver Natuiral» que d i fere do «Eu Sei o
que Estou Vendo » 159
N o Hosp i ta l Psiquiátrico 167
E U SE I O QU E ESTOU VEND O: A Lua! . . . Eu não sei; b r inco com ela 169
Paz e A m o r — u m a Me n s ag e m que o Mundo Matou 181
As Duas Al ternativas do A m o r 187
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INTRODUÇÃO
«O verdadeiro pensar não pode part ir de nenhuma conclusãoinicial, ou seja, a verdade só pode surgir de um estado de nudezpsicológica.»
«Se uma mente inicia a pensar sacando conclusões de seu fundopreexistente, tudo o que dali derivar é falso.»
Verdadeiramente compreendidos esses dois conceitos, o indivíduosofreria u m a mutação psicológica extraordinária, capaz de alterarcompletamente a sua perspectiva em relação a si mesmo e ao mundo.
O ser humano, entretanto, não consegue viver sem o conhecido,sem o sagrado acumulado, sem os dogma s esta belecidos, sem asideias tidas como definitivas, enfim, se m tudo aquilo que seu pensamento f i xou como verdadeiro. Podemos dizer mesmo que há muitomedo no ser huma no, quando se lhe toca no sagrado, princip almentequando esse sagrado está no alto de sua cabeça.
Realmente, o pensamento estabeleceu-se através das crenças epersiste através das mesmas.
E m certos aspectos da vida humana, há evidências tão grandesda necessidade inequivocamente patológica da manutenção do sagrado, do estratif icado, e porque não dizer do morto, que o serhumano médio (médio quanto à capacidade de entender seus problemas vitais) já está razoavelmente esclarecido. Talvez fosse melhordizer desiludido. Falamos dos terrenos políticos e religiosos. Podemosdizer, s em pretensões dogmáticas, que psicologicamente o ser humanomédio não mais espera mui to dessas entidades estabelecidas. Por serhumano médio, pretend emos designar aquele tipo de indivíduo queestá psicologicamente confuso, em conflito, mas não abandonou suabusca no sentido de um esclarecimento mais profundo de si mesmoe da Vida. É um a definição bastante elástica e que requer um a certacapacidade interpretativa do leitor. Para esses são dirigidas estaspalavras. Não são tão encontradiças como possa parecer. Esses ind ivíduos, embora psicologicamente libertos d as entidades mencionadas,têm ainda u m grande entrave pela frent e: o dogmatismo científico.
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A Ciência, outro terreno do chamado conhecimento humano,estabeleceu u m domínio tão absoluto que só admite aplausos. Seuscríticos, e são raríssimos, quando surgem são atacados, e os epítetosdirigidos vão em escala progressiva de indivíduo fora da realidade,neurótico, sonhador, místico a demente ou psicótico e paranóide.Curiosamente, palavras que antes do domínio científico não existiam.
O que há? Por quê esta agressividade? Será que no domínio daCiência, violência passou a sinónimo de sanidade? Ou será que o
sagrado-psicológico de cada u m t em medo? Pode-se admitir que«buscadores da verdade» (ou a Ciência não busca nenhuma forma deverdade?) tenham, como reacção à crítica, a irritação, a chacota?O que é que assim se defende de maneira tão superficial? Não érazoavelmente fácil perceber que o sagrado t em medo?
Poderão negar os irritadiços e auto-suficientes cientistas, ou defensores do cientif icismo, que o mundo está saturado de Ciência?Que os eco-sistemas estão em desequilíbrio? Que as chamadas conquistas científicas têm todas u m carácter dual e que junto com apseudo-benfeitoria trazem u m a real maldição?
Os puristas defendem-se: «Não é a Ciência que está ma l, maso seu mau uso pelo homem...» Podemos responder que cada homemtem a Ciência que merece e que a boa árvore dá bom fruto. A Ciêncianão é um bom fruto pois a árvore de que depende, O PENSAMENTOHUMANO, é uma árvore doente desde o princípio. Ciência e homemnão estão afastados, e ninguém tem o direito de dizer: «Nós estamosdoentes, ma s aquilo que produzimos é bom»...
Poderão os cientistas negar que o inconsciente do homem actualtende a voltar-se para a magia, para o misterioso, para o oculto,para aquilo qu e apenas aparentemente a lógica científica sepultou:o Desconhecido? Senão, como interpretar essa tendência de grandemassa da humanidade? A nostalgia europeia, o que é de facto?Como explicar o impressionante sucesso das obras de Castaneda?Mera fuga da realidade? Ou uma busca de outras realidades?
Estamos realmente atingindo u m ponto de saturação. A desilusãocom a Ciência não está ainda no nível consciente da humanidade, masé um a força irresistível nas camadas mais internas da men te colec
t iva. A Ciência tal como é conhecida actualmente (interpretação eexperimentação do meio considerado externo) t e m seus dias contados, e ser «moderno» é justamente perceber, compreender e sepossível experimentar essas novas tendências.
Ernesto Bono, médico, antipsiquiatra, escritor, autor de É a Ciência uma Nova Religião? (Civilização Brasi le ira S/A), é, pelo menosem nosso meio, a mental idade que melhor consegue, po r assim dizer,colocar as coisas nos seus devidos lugares. Seu primeiro l ivro é aobra mais válida de que temos notícia como crítica e revisão daCiência, equivalente a Te rtium Organum de Ouspenski, e uma introdução a uma recriação pessoal (por cada indivíduo) do mundo. Sempretender ser, Bono é de facto o arauto de uma nova epistemolo giaem qu e cada um dos interessados vai ter que estar completamente
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sozinho, pois nesse terreno não existem facilidades, nem indicaçõesprévias. Seu trabalho, na verdade, não é de acrescentar mais nada ao«bolo condicionante» do indivíduo mias, pelo contrário, ret i rar aquiloque o indivíduo pensa que tem, e que justamente o impede deexistir com mais amplitude.
Bono não .agrada aos intelectuais pois su a l inguagem é sem rebusques. E m verdade suas obras não estão dir ig idas a indivíduos commuitas certezas, mas àqueles que buscam, na dúvida, na insatisfação.
Nesta sua nova obra Nós, a Loucura e a Antipsiquiatria, E. Bonoinveste contra certos dogmas da ps iquiatr ia of ic ial da maneira quelh e é .peculiar, com vigor, com coragem e uti l izando seu «cavalo-de-ibatalha» ma revisão que se tem proposto: da necessidade de queantes que o instrumento dia pesquisa humana, o pensamento ou oraciocínio, se levante com pretensões de absolutismo, se conheçaprofundamente a si mesmo.
É o autor quem diz: «Muitas pesquisas, muitos estudos, váriosanos de observação imparcial levaram-nos a descobrir ou a surpreende r que a verdadeira causa da perturbação mental é exactamenteaquilo que o homem menos conhece e compreende, ou seja, o pensamento é o ego que surge dessa actividade anómala. Tanto a psiquiatr ia of ic ial quanto a antipsiquiatr ia social (Laing, Cooper, etc.)consideram o ego individuai como sofredor e como vítima da doençamental, seja e la encarada como originada de ultravírus, de alteraçõesproteicas; enzimáticas ou microalterações da célula nervosa, ou deproblemas sociais. Denominamos (diz Bono) o nosso enfoque deantipsiquiatr ia psicológica porque apontamos e denunciamos a suposta vítima, ou o eu o u ego (pensamento), como a causa de todaneurose e psicose.
Precisa ser bem percebido qu e Bono não está pregando u m merorevisionismo, como já foi sugerido por alguns superficialistas. Seuenfoque parte do autoconhecimento, u m a forma de entendimentocompletamente desconhecida pelo Ocidente científico, mas altamenteválida para o verdadeiro espírito de busca.
E Bono prossegue: «As doenças mentais continuam incuráveistanto quando tratadas pela psiq uiatr ia oficial, partidária do bioqui-
mismo cerebral, como pela psiquiatria culturalista (ou filosófica, de Ju ng , Fromm, Horney, Reich), embora esses últimos, grosso mo do,sejam mais felizes, princ ipa lmen te quando se valem da própria inteligência, intuição, paciência e amor.»
«Os partidários da psiq uiatri a organicista oficial alegam que nmal do indivíduo está no cérebro e que o cérebro é que tem de sertratado por meios químicos, ou por terapia biológica (choques), va-lendo-se da pseudoverdade definitiva de que o cérebro é a frente do 'pensamento. Jamais se desconfiou do contrário, ou seja, de que é opensamento quem cr ia no homem a impressão de cérebro pensantee de cérebro capaz de conhecer».
E salienta como denúncia-châve: SE NAO SURGISSE E M NÓSO JUÍZO, O RACIOCÍNIO, O PENSAMENTO DISCU RSIVO, COMO
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U M A SOBREIMPOSIÇAO AO SILENCIOSO FAC TO E M SI , J A MA I S PODERÍAMOS CONCLUIR QU E É O CÉREBRO QU EPENSA.
«O juízo É O CÉREBRO QUE M PENSA, é apenas u m pensamento que é justamente quem v a i c r iar a impressão sensorial decérebro permanente a elaborar pensamentos. E é o próprio pensamento quem criará todos os demais dados científicos graças aos quaisos especialistas jurarão estar descrevendo co rrecta e verazmente u m
cérebro natural . Tudo o que vemos e descrevemos a par t i r de umcérebro alheio objectivado é pensamento nosso, nada mais do queisso. O que cremos ver (olhar contaminado), é apenas o nosso conhecimento extrojeotado, são somente os nossos condicionamentos quese sobrepõem ao indefeso facto em si, deturpando-o.»
«N o facto em si prevalece a UN IDADE , INDESCRITÍVEL, IN E X PLICÁVEL , IMPOSSÍVEL DE APR ISI ONA R COM O RACIOCÍNIO,MAS POSSÍVEL DE VIVENCI AR. Vivenoiar independente do pen -s>ar. Quem abusa do pensamento acaba por se matar física ou mentalmente; desgastanse inut i lmente , pois o pensiamlento é o freio daVida. É A PAR TIR DA EXACERBA ÇÃO DO PEN SAM ENT OQUE A DOENÇA M E N T A L O U MESMO FÍSICA SURGE».
E Bono continua: «Nosso conhecimento, nossa lógica e nossa
razão, meras facetas do pensamento discursivo, levam-nos a concluirque mente é igual a actividade cerebral. O cérebro em si, supondoque pudesse objectivar-se e fazer declarações por conte própria,
ja ma is poderia provar isso para ninguém porque necessitaria de u mouvinte pensante previamente condicionado, e por ser um ouvintepensante não ouviria em absoluto e sim est ari a apenas pensan doem ouvir. F o i sempre o raciocínio do observador-cientista que forjoutais conclusões a respeito da mente ser igual a cérebro, e tal aconteceprincipalmente quando ele, pessoalmente, se coloca diante de umcérebro morto e objectivado e começa a raciocinar, graças a seupróprio pensamento. A Mente Verdadeira em nós não declara nada,apenas se manifesta silenciosamente. E se manifesta como Vida purae simples. A mente não precisa do pensamento para SER. ELA va-le-se de actividades mais eficientes, mais reais e autênticas como a
ACÇÃO, a SENSAÇÃO e a INTU IÇÃ O que só podem ocorrer forado espaço-tempo pensados, ou ocorrem no Instante, n o Aqu i e Agoraque todos nós somos.»
«Nós sugerimos que há apenas o DESCONHECIDO, ou a Menteque Vive e que é Vida. Esta Mente-Desconhecido não sabe o que éo corpo, ou o que é o espírito, vida externa ou v ida interna, deus ouhomem, etc, que são conclusões pensadas e portanto inúteis. A Vidaque brota da MEN TE traduz-se por Acção, Sensação e Intuição.Essa mente qu e assim se traduz é o SER humanizando-se.»
E esboçando os fundamentos de uma nova maneira de actuarem relação ao paciente «doente mental», prossegue Bono: «Nenhumpaciente é passível de ser traduzido d e acordo com esquemas conhecidos e preexistentes. U m doente só é alcançado através da comunhão
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intuit ivo-afect iva mèdíco-paciente. U m ps iquiatra ou mesmo anti-psiquiatra é tanto mais eficiente quanto mais vive o problema doenfermo. E para ta l , tem que tornar-se UNO com ele, intuindo sempensar ou raciocinar aquilo que o paciente é, sente, e principalmenteestá pensando de forma tão confusa e exagerada, facto qu e para opsiquiatra atento se traduz por doença mental ou emocional. A psiquiatr ia oficial jamais desconfiou de que a doença mental em si nãoexiste. O que existe ou parece exist ir é uma falsa entid ade (ego) que
em suia tentativa de se a f i rmar e de se exp and ir acaba pro vocandoconfusão e aliteração naqui lo (MENTE-SER) que não lhe pertence.»
«Isto que todos desconhecem (pr inci pal ment e a própria Ciência)e que chamamos pensamento discursivo, por incrível que possa pa recer, é a or igem e a causa deflagradora e sustentadora de toda equalquer doença mental, para não dizer física.»
Antes de se proferirem os clássicos epítetos vexatórios, que sepreste bastante atenção a essa entidade barulhenta, interna, desconhecida para quase todos, o nosso bem amado eu pensante. A verdadeira Ciência, ainda não nascida, começa aí. Quem quiser viver quese aperceba.
Dr . PAULO ROBERTO OLDENBURG
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C U L T U R A E C ON T RA C U L T U RA
A propósito da cultura dos povos, quem se desse ao trabalhode fazer u m levantamento histórico deparar-se-ia com um detalheconstante: a quase invariável RESISTÊNCIA oferecida pelos que«estão por cima» contra toda e qualquer inovação introduzida pelosverdadeiros criadores e génios de qualquer época e latitude.
Como u m a verdadeira praga, qualquer ideologia que os sereshumanos abraçam logo acaba por se consolidar e estrati f icar até se
tornar permanente, intocável, irremovível, insuperável, tabu... Todanovidade, se sobrevive ao desgaste que tem de enfrentar, acabasempre por se transformar em dogma. Nã o existe sequer u m ramodo conhecimento humano qu e tenha escapado de decorrência tão la mentável e constrangedora. Isso acontece porque o conhecimento,que não tem grande importância em si, como dado aqu isiti vo, é sempre motivo de reforço psicológico. O conhecedor, que é a falsa enti dade pensante — não confundir com sua existência o u SER — , necessita sentir-se importante e seguro através dos pareceres ou opiniões alheias que ele colecta em sua memória e rotula de conhecimento, geraimiente com pretensões de definitivo.
A necessidade de dogmatizai ' é própria daqueles indivíduos quese reúnem para formar organizações que se propõem divulgar determinadas ideologias. São invariavelmente as ideias, não as vivências,
que tentam sufocar e al terar a sucessão espontânea dos factos naturais, que se renovam sempre e que são a própria mente l ivre mani-f estando-se. Mesmo qu e ainda não exista um a instituição, um a pessoasozinha, ignorante e desconhecedora de si mesma, se chega a abraçardeterminado ponto de vista, digamos u m pensamento, ideia ou informação alheia, logo a transforma n u m dado ment al absoluto, numal ei ou dogma, em defesa do qual é capaz das piores atitudes epatifarias.
As seitas religiosas e seus respectivos chefes e defensores quasesempre estiveram à frente nessa constante intransigência, que tantomal provocou e ainda há-de provocar... (Não estamos falando dosMestres...) As agremiações políticas, seus cabeças e prosélitos, mesmoqu e se d i gam do centro, da esquerda ou da d irei ta , vêm logo atrás.
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Os partidários e defensores de determinados movimentos culturais,filosóficos, artísticos e mesmo científicos sofrem do mesmo mal ,porém de forma mais atenuada. Os estragos qu e estas ideologiassuscitam são mais psicológicos, morais e emocionais qu e propr iamente materiais o u corporais. Malgr ado todas essas intransigências,a Vida, em seu sentido mais profundo, longe está de ser exclusivamente religião, política, ciência ou filosofia. A V ida é liberdadepura e, por ser l iberdade, permite que o pensamento do homem se
in t rometa onde não deve, com suas ideologias e pretensões de cont inuidade e permanência. O m a l de tudo sempre está no homemqu e não cansa de antepor ou sobrepor seus fantasmas pensados àrealidade imediata da V ida . Pode-se constatar, se o pensamento seaquieta, que V ida é um oceano profundo, in f in i to , insondável e, antesde mais nada, impossível de aprisionar, explicar e conceitualizar.V id a é o que é; quando muito pede apenas ao homem que a v iva ea s inta de forma integral, sem grandes modificações nem muitadiscussão ao redor dos prós ou contras, geralm ente simples ideias,amontoado de palavras. Estas são as costumeiras rainhas qu e cr iame matam fantasmas, os quais só parecem t e r algum significado porqu e atrás deles está o pensamento di scursivo do hom em condicio nado.
Nesse incessante f lu i r .renovador da Vida, alguns anos atrás sur
gi u no mundo ocidental u m movimento revolucionário conhecidocomo Contracultura, com inúmeros adeptos e m todas as partes domundo. Grosso modo, a intenção do movimento, qu e brotou quaseque espontaneamente, era a de revital izar a cu l tura vigente, tecnicista, cientificista, robotizada, cibernética, capaz apenas de massif icar o homem. Além de transformá-lo numa «coisa», entre outrosmales, petrifica e busca anular a consciência de Ser em cada u mde nós. No encalço da Contracultura, já se fala em antiuniversidades,anticiência, antiescola, antifilosofia, antiarte, anti-relágião, antiisto,antiaquilo...
No Ocidente, nas últimas décadas, a psicologia filosófica (certascorrentes da Psicanálise), a religião, em sentido lato, e pr incipal-miente a arte em geral sofreram profundas transformações graças àinterferência da geração jovem, de cuja influência marcante nenhum
sociólogo ou político das décadas de 50 e 60 suspeitava. Dentre osramos do conhecimento humano, os poucos que v inha m a mod i f i -car-se eram exactamente as artes plásticas, a l i teratura e a música,por serem mais facilmente cultuadas e manobradas pela nova geração.
De outro lado, a Filosofia e a Ciência teórica em seus conceitosbásicos (origens primordiais do Ser Consciente no homem ou Ontologia, o u realidades, .primeiras e últimas da matéria - energia noespaço-tempo) .permaneceram estagnadas. Houve u m progresso (oucomplicação) aparente na superfície, em sentido horizontal; e m profundidade, nada...
Já há algumas décadas (ou séculos?) que da filosofia ocidentalnão se espera mais nada. Tal deficiência decorre dela mesma e da
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t i rania do conhecimento e metodologia científica. De um lado, a esteri l idade filosófica deve-se a um a dialéctica, a um a lógica restr ita esufocante, a uma sistemática to la e infundada e a um racionalismo eintelectualismo exagerados. De outro lado, a ma ior ia dos filósofos deescola deixou-se esmagai' e superar pela pretensa eficiência i rre futável dos argumentos e «provas» científicas. E não esqueçamos queraríssimos são os cientistas que suspeitam da validade dos frutosalcançados pela própria Ciência. Se duv idam de algo, geralmente é
mui to pouco; é só um a questão de trocar u m parecer ou uma opiniãopor outra. O corpo da doutr ina científica, como u m todo, é intocável.Quem estuda Ciência, f atalmente se condiciona à dialéctica científica,reforçada por inf ini tas «provas», consubstanciaçÕes da própria dia-léotica. Alguém, ao acabar condicionado, ou torna-se cientista (pouquíssimos, aliás), ou torna-se cientificista, que é u m simpatizanteexaltado, que conhece fragmentos, mas não compreende nada... U mfilósofo que tente refutar a Ciência tem de tornar-se antes de tudou m cientista o u c ientif ic ista, e se tal f izer d if i c i lmente conseguirárefutar algo, pois terá antes de tudo de condicionar-se mentalmenteà problemática e enfoque científicos... Indubitavelmente, d iscutir oudesfazer sofismas apresentados em termos matemáticos e reforçadosaparentemente por pseudoprovas laboratoriais não é para qualquerum... , daí porque ninguém consegue nada contra a Ciência teóricaou contra o cientificismo vigente. Ademais, raros são aqueles quecompreendem de instante a instante, e graças a isso não se deixamcondicionar por ne nhuma doutr ina.. .
A Ciência causa-nos a impressão pensada de estar a aperfei-çoar-se e a evoluir para u m «cada vez melhor». Todavia, o que vemocorrendo é «um cada vez pior», por causa do infindável complicarque a própria Ciência pôs em movimento, f ruto da análise cartesianae da metodol ogia preconizada por Bacon e Gali leu.. .
Devido a isso tudo e a outros factores mais — guerras, injustiçassociais, miséria, inflação, e tc .—alguns indivíduos mais atentos, i n tuit ivamente insatisfeitos, culturalmente não demasiadamente condicionados, depararam-se com a incontida «inflação cultural» de nossotempo e disseram BASTA ! , partindo para outra... De ta l guinadasaltou fora a Contracultura. No s anos que se seguiram, muitas modificações ocorreram graças a ela, não só nos hábitos e costumes comona própria cu l tura geral e no modo de pensar. Houve uma tentat ivade simplificar tudo. O parecer de todos os criadores f o i solicitadoco m um propósito sincero de renovar. Até certo ponto poderia d i -zer-se que a Co ntrac ultur a pretendeu provocar u m retorno às origens,um a simplificação sumária, uma volta à espontaneidade e inocênciain fant i l do homem, quando a Vida fluía (e a inda f lui) co m maioralegria e felicidade.
Alguns jovens, abraçando a Contracultura — de certa formarepresentada vivamente pelos próprios hippies — , chegaram até aabandonar as escolas e universidades, no intu i to de v iver em si mes-
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nlos ta l renovação e d i fundir os propósitos desse movimento. Outros,ao ligarem-se ao movimento, tomaram-se extremamente radicais...
Malgrado todas essas aparentes boas intenções, pergunta-se: seráqu e a Contracultura alcançará o seu intent o renovador? Não acabaráel a também por se tornar mais um a barre ira à l i v re expressão damente humana? Ê provável que sim, embora tampouco custe fic arbem atento para evitar qu e isso aconteça.
U m amigo nosso, há algum tempo atrás, mui to desalentado, afir
mava que a Contracultura já era *. Isto é, que o movimento hippie,a arte pop, a música rock e outras afins, os festivais, o teatro vivo,o cinema subterrâneo vanguardista, em suma, todo o movimentoprafrentex ** , l iderado por alguns inovadores de verdade, havia sidodigerido, assimilado e conspurcado pelo mundo. A Contracultura,portanto, fora transformada em mercadoria de consumo. E m parteestamos de acordo com ele, porque, de facto, o mundo comporta-sedesse modo: digere, consome, copia, bestifica e massifica todo intentode renovação, toda novidade do homem. Assim que, olhando as coisaspo r esse prisma, conclui-se que a Contracultura já era.
To da vi a, avançando u m pouco mais, quiséramos sugerir que averdadeira Con tracu ltura ainda n e m nasceu. A nosso ver, o quehouve f o i apenas um a espécie de modificação na superfície. Poucos
são os que conseguem mergulhar nas águas profundas da V ida. Atransformação deu-se apenas no corriqueiro — desculpem o aparenteradicalismo. A verdade continua aguardando os valentes que a v iven-ciem. E como já dizia alguém: OCORREU A P E N A S MA IS U M AESTÚPIDA REVOLTA DENTRO DO PRESÍDIO... Alguma coisamodif icou no inter ior do cárcere, mas as paredes da prisão continuam de pé. A limitação e a intolerância de certos homens, cabeçasda sociedade de consumo, continuam .as (mesmas. Po r isso, se a Contracultura vingasse totalm ente , poderi a transformar- se em mais u mdogma.
Todas as inovações que introduzimos resultam em nada porquesão sempre modificações superficiais, aparentes. O homem vive «aremendar pano novo e m vestido velho e o estrago sempre fica pior».O pano novo, no caso, são as nossas boas intenções, as nossas i deia s
revolucionárias, que logo de ixam de ser novas e acabam servindoapenas para estragar ou deturpar os factos da Vida, que se renovamsempre... O vestido velho é a nossa ment e co ndicionada que se escraviza a u m a aberração que todos cultuamos, a respeito da qual apsicologia académica nem desconfia, chamada eu-pensamento.
Alguém já terá meditado no motivo pelo qual o homem acabasempre transformando em dogma tudo aquilo que abraça? Isto ocorre,talvez, porque ele, com o próprio pensamento, busca amiúde auto--reforços psicológicos e materiais. Quer a estabilidade, a segurança,a permanência e a sobrevivência mater ia l e espir i tual numa Vida o u
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* lá era: estava ultrapassada.** Prafrentex: avançado.
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Natureza ou mesmo Manifestação que provavelmente nunca começou,ne m há-de terminar; numa manifestação que é e se renova de instante a instante, não sendo nunca a mesma. O Homem Desperto,lúcido, é essa própria Natureza ou Vida, UNO COM ELA . Todavia,o homem embotado pelo pensamento discursivo mata o v iver (o instante ) e substitui-o pelo sobreviver (o tempo-memória, com seuontem-hoje-amanhã) e não alcança ne m u m a coisa nem outra. Istoé, não v ive ne m sobrevive.
A mente humana, já l imi tada pelo pensamento à condição deego-niemória, em seu nível semi-iinconsciente, constata que a verdadeira V ida é u m f luxo que se renova sempre, o que é exactamenteo bom e o belo da Vida, a própria Imo rtalid ade. Todavia, pensamentos aglutinados e ineficazes (ego) assustam-se com isso, e e m plenoRI O D A V ID A buscam, intencionalmente, criar u m a i lha artif icial(consciência egotista) com pretensões de estabilidade, permanência,segurança e im utab ilid ade. Dessa forma cria-se u m a barre i ra , aoF luxo V i ta l , barre ira essa (o próprio ego-pensamento) qu e acabaráfatalmente sendo assaltada pelas inconformes ondas da Vida. Estastradu25Ír-se-ão, no próprio homem embotado, como dor, temor eangústia. O homem condicionado, como sói acontecer, tenta fugirda dor, do temor e da angústia por meio de u m autopreenchimento
inútil, representado pelas suas conquistas materiais e culturais. Oque alcança, contudo, é somente um a exacerbação da dor, do temore da angústia e por isso seu desespero não tem fim. Este é o retratodo homem moderno e de sua sociedade e mbrut ecid a, onde o egoísmoimpera absoluto. De que adiantam religiões, filosofias e Ciências seo ma l todo provém do egoísmo e egotismo de seus participantes eseguidores, que se disfarça e se reforça sempre de mi l maneiras?
Somos os culpados da actual e lamentável situação cu l tural quetodos conhecem; não só dessa, mas de todas as outras também. Asintuições, as vivências, as revelações, as inspirações dos grandes gé nios são meros relâmpagos ou faíscas da verdadeira Vida, que oego-pensamento e m cada u m de nós esconde. Sempre que o Novo seexterioriza por nosso intermédio, matamo-lo, porque passamos a u t i -lizá-lo com propósitos de auto-reforço egoísta.
Não amamos, não damos luz e calor como o Sol, simplesmentepo r dar, ne m perfume e beleza como as flores, nem frutos e sombracomo as árvores, nós não damos coisíssima alguma. Tudo aquilo quecriamos ou fazemos visa somente nossa segurança mater ia l e psicológica, visa o engrandecimento da sombra (ego), a expansão do euforjado de pensamentos mortos. Buscamos a glória e o reconhecimento do s homens e no entanto nossas acções nunca se restringemao espontâneo: fazer por fazer, a judar por ajudar, amar por amar,renovar por renovar. Ê n o renovar que está a Verdadeira Vida.
Po r que será que o património cu l tural moderno é tão caóticoe intragável? Talvez porque não passe de u m amontoado de coisasmortas, ineficientes, se m valor algum. A cultura e m vigor, que nosimp ingem como Ciência, Religião, Filosofia, Sociologia, Técnica, Psi-
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cologia, etc, é boa e vol ta a ser eficaz apenas quando conseguimosdevolver-lhe a V ida que possuía quando determinado homem intuiuou v ivenciou a Verdade Viva, qu e morreu ao ser registrada no papel,transformando-se em cultura geral. Não nos l i mitemos, pois, à letramor ta ou à pretensa validade e f idelidade dos l ivros didácticos, cujaspáginas não pa ram de aumentar e de complicar o nosso viver.
Superficialmente falando, não seria preciso renovar nada e muitomenos «emendar pano novo e m vestido vel ho». A renovação te m de
ocorrer e m profundidade, na própria mente do homem. Os vícios dapsique humana, que correspondem ao vestido velho, devem desaparecer, para que o génio e a intuição vo l tem a brotar espontaneamente,como o pano novo apenas, por meio do qual se poderá realmentefor jar u m vestido também novo ou uma nova cultura. E esta, paraser válida e autêntica, terá que ser verdadeiramente relativa, sempr e pronta a ceder lugar às novidades qu e for em surgindo.
É de se perguntar, valerá a pena abandonar as escolas e universidades para só seguir a onda cont racul tural ? Responder acertadamente é mui to difícil. Se o jovem, como alguns há, se torna a própriaContracultura Viva, talvez valha, mas se se propuser forjar mais umaorganização com o rótulo de Contracultura, então a troca terá sidoinútil. Ademais, não é preciso tanto, os moços já são a própria RE
NOVAÇÃO DA V I D A em pessoa, com a condição de estarem atentose não se deixarem enganar e condicionar pela cu l tura tumular que ju l g am encontrar e m seus livros didácticos ou de le i tura. Trocar u mamontoado de ideias po r outras é pura perda de tempo e vitalidade.
Os livros culturais ou contraculturais contêm somente informações; verbalizações mortas daquilo que num determinado instantefora Vida para se u escritor. A instrução por mais precisa que pareçaser, como a Matemática, Geometria, Física, Química, etc, não merece a submissão to tal e o acatamento completo da mente do estudante. Tais informações não devem se r desprezadas ou postas de lado,mas também não podem nem devem ser encaradas como verdadesabsolutas e consequentemente supervalorizadas. O ego, que não passade uma impressão pensada (memória-imaginação), só pode juntaraquilo que não presta, qu e está morto e não tem valor algum. A me
mória psicológica, em outras palavras, o ego-pensamento ou o nomequ e no s de ram — não confundir com memória factual, at é certoponto necessária para nos situarmos no espaço — não passa de umcemitério pleno de cadáveres em decomposição. Por isso dissemosanter iormente que a Contracultura nem havia nascido.
Se a actual Contracultura se propõe substituir a cu l tura vigente,tomando seu lugar como dogma, então não ocorrerá mudança alguma.Estaremos pondo mais um a vez «pano novo e m vestido velho». Continuará vigorando sempre a velha cultura, novamente rebocada ouretocada para que pareça mais nova.
Apreender significa renovar, nunca acumular. Numa escola autêntica não deveria haver hierarquia. Se há, então não existe liberdade de aprender. A verdadeira aprendizagem é aquela em que,
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mesmo qu e exista u m professor in formand o (o u ensinando) e alunosescutando, todos na realidade estão aprendendo. Se todos estão aprendendo, ninguém conhece mais ou conhece menos; todos SABEM QUENAO SABEM.. . Não se t rata de encher a cuca* de coisas fúteis.O propósito f i na l do estudo não é o de acumular, mas o de desembaraçar a mente dos resíduos condicionantes que o ego-pensamentoamontoa na memória, memória que ele próprio é. Se tal acontecer,então poderá falar-se numa Verdadeira Contracultura...
* a cuca: a cabeça.
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A CONFUSÃO DE UM JO VE M E UM PSIQ UIAT RADO MUNDO VELHO
Eu tenho pela frente como que doisCaminhos, uma chance de vidaE uma chance para a morte.Porém, enquanto a vida se mePromete e me foge, a morteCada vez mais se me acercaE me envolve.E justamente o amor que
Seria tolda a razão ide minha vidaSerá por certo o único causadorDa minha morte.
O amor é a única coisa que vale,Eu só concebo viver para o amor.Sendo o amor a única coisa que vale,Eu só concebo morrer por amor.
(Poesia inédita de Itaboraí Tovo)
Escuta os jovens. Quanto menosidade têm, mais sabem.E sobre a única coisa a sersabida: o amor...
(Sete Sermões aos Mor tos • — L ui z Ca rlo s Ma ci el )
As palavras que acabamos de transcrever, patéticas, algo românticas, mas profundamente sinceras, são de um jovem de 18 anos emconflito consigo mesmo e com o mun do . O jo vem poeta, apesar desensível, pensa demasiado e não consegue conciliar o sentir com opensar. O sentir, sendo real e próprio do instante, do agora, portantomui to intenso e vivo nessa idade, geralmente tenta suplantar osfreios da razão. Do pensamento, protótipo da ineficiência que todoscostumamos exaltar, brotam os ideais quase sempre frustrados, osmodelos de conduta e vi rt ud e, os senti mento s de culpa (pensada), as
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manias de grandeza, o hábito quase mecânico de comparar. Dopensamento brotam também o intelecto, a razão, o vício de suporqu e ser alguém ou vencer na vida é sempre uma questão de cada vezmais e não de cada vez menos, de simplificação.
As palavras do poema traduzem ainda a alma confusa de um jo vem qu e pe lo simples co mp ar ar e ra ci oc in ar — pois não sabe queisso é ma u — não acei ta o modo de viv er dos mai s velhos, ou mesmoo modo de viver de .alguns jovens idosos; em outras palavras, não
aceita esta assombrosa e incessante exploração humana, este canibal ismo camuflado que se repete em qualquer lat i tude, independentemente da forma de governo existente. Recusa esta falsa vida, própriada civilização moderna (e de auíWouer outro tempo também), naqual , embora os homens não cheguem a se entredevorar carnalmente,mesmo assim se exploram e vampirizam mutuamente naquilo quehá de mais sagrado neles mesmos, que é a vitalidade, a saúde, apotência humana, a liberdade individual , os sentimentos puros, ol i v re se ntir, agi r e intuir . Todas essas coisas formidáveis que fazemdo homem um homem, mias que o próprio indivíduo, inconscientemente da forma de governo existente. Recusa esta falsa vida, própriaego ou eu, gosta de roubar ou de arrancar de seu próximo, como sea ele mesmo lhe faltasse alguma coisa. E a propósito, não custalembrar que não há uma velha terra redonda, que não cansaria de
g i rar pelo Universo afora; o que há, e isto sim, é exactamente estenosso velho mundo psicológico que, malgrado o progresso aparente,não se modificou em nada, naquilo que é essencial e não aparentemente material.
U m outro rapaz, por ignorância ou por descuido, condicionando-seàs substâncias ou drogas, temeroso das consequências legais e repressão e também preocupado com sua saúde, vai buscar auxílio médiconu m determinado Hospital Psiquiátrico, Pavilhão de Toxicómanos,auxílio esse quase sempre inútil. O especialista, ao deparar-se com o
jo ve m que já con hec ia , po r passagem an te ri or , vo lt a a entrevistá-lo e,bastante decepcionado, pergunta-lhe com certa irritação: «Quando éque vais parar com essa porcaria de tóxicos?» Como resposta, o rapazbalbucia e declara estar confuso, sem força de vontade... Não sabe
se pára de uma vez por to das ou se cont inu a no embalo até se aniqui lar . . . O psi quia tra, raci onal e object ivista , não esperando t al confissão desalentadora, um pouco apressado por sobrecarga de t rabalho, volta a pergun tar: MA S COMO, R A P A Z , QUERES V IV EROU QUERES MORRER? E aqui começa toda a problemática daVida : viver ou morrer; todavia, nem o paciente nem o facultativosabem bem o que é isso. Nesse encontro bastante comum, defron-tam-se de um lado a razão f r i a e prática de alguém que diz conhe-cer-se a si mesmo, e inclusive estar capacitado para compr eender econhecer a mente alheia (em realidade pouco conhece e quase nadacompreende) , de outr o está o instinto confuso de vida e morte dealguém que não se conhece, mas que pelo menos é sincero. O jovemsó não percebe que seu instinto é apenas uma amálgama de pensa-
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mentos caóticos que precisa m ou devem escolher entre a vida e amorte...
Bem, depois da pergunta inquisi tor ia l do especialista, supõe-seque o rapa z nada mai s respondesse, conservando- se n u m silêncioangustiante e dramático, talvez idêntico ao de Cristo, que teve decalar (não porque não soubesse o que dizer, mas porque era inútildialo gar) quando Pila tos lhe per gun tou : O que é a Verdade? E sealguma resposta deu, pro vave lmen te não fez qu alqu er sentido ao
pensamento lógico do especialista...É sobre esses dois contrastes que vamos discorrer: de um lado
a pergunta incisiva do psiquiatra: «Queres morrer ou queres viver?»,do outr o, os dizeres algo pessimistas do jo ve m p oeta.
No primeiro caso, é de se supor que quando o facultativo fez talpergunta ao rapaz visava tão-somente sacudi-lo e trazê-lo de volta à«realidade». Em outras palavras, de volta a este superficialismo torturante, fruto de nossos condicio namentos. Para a ma ior ia dos psiquiatras, todo doente mental (psicótico ou neurótico), alcoolista outoxicómano, é um alienado que não quer aceitar a «realidade». Ev i dentemente não havia qualquer má intenção no profi ssiona l em dizero que disse. Não obstante, ao perguntar '«queres viver ou queresmorrer», ele mesmo não se deu conta de que suas palavras tocavamo ponto fundamental do problema (ou viver diário), que é exactamente o causador do condicionamento às substâncias (ou drogas), asquais podem pre jud ica r (ou não) os indivíduos quando a elas sesubmetem e por causa delas se condicionam.
«Queres viver?», coisa mui to boa para um médico que se diz«realista e imediatista», «ou queres morrer?», coisa mui to ru im, aniquilamento, desaparecimento, findar de tudo, término da vida, doexistir. Co m relação a essa segunda alt erna tiva , assim pensa o médico, assim pensam todos os demais elucubradores presentes, passados e futuros. Com a men te cheia de precon ceito s, convencemo-nosda validade definitiva das descobertas e conclusões científicas, ouentão deixamo-nos envolver pelas conclusões intelectualóides de algu m filósofo, psicólogo, ps iquiatra, teólogo, religioso e daí raciocinarmos também dessa maneira.
Mas que sabemos exactamente do AUTÊNTICO VIVER ou mesmo do que é MORRER? Será que essa insana labuta diária, esse cami-balismo t empo ral , onde preva lecem os fantasmas do ont em e doamanhã (memória-imaginação), traduzem o autêntico viver, o instante atemporal , vivenciável só no AGORA? É claro que neste agorapode caber o hoje, mas ele não deve ser encarado como o dia de 24horas que o relógio marca e que todos conhecem.
Como profissionais especializados, professores, médicos, engenheiros, cientistas, religiosos, políticos, milita res, comerciantes, industrialistas, Jazemos do viver diário u m inferno, uma desumana corridapara a destruição e morte. Vivemos a aniq uil ar o que não nos convém e exploramo s, roubamos, ment imos e até mesmo matamos, sempre em busca do cada vez mais. Com isso deturpamos o que é real
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e belo na Vida , o instante vivif ica dor, o presente intemp oral . Planta mos o joio da hipo cris ia e da confusão por entre o Trigo da Vidae da Verdade. Todavia, quando alguém, jovem ou velho, não importa,desconfia dessa trapaça, mas não sabe o que acontece n em sabe e x-primir-se e se rebela, amiúde fugindo pela tangente das substâncias,logo lhe perguntamos: «Queres viver ou queres morrer?» Tudo oque tocamos se transforma em monturo, em podridão, em velhice, emcoisa mo rta , por causa da desenfreada ganância do ego em nós — ego
que nada tem a ver com as invencionices pensadas de certos psicólogos, psicanalistas e psiquiatras — e depois, de man eira intelect ua-lóide, perguntamos: «Queres viver essa beleza de Vida?» Fôssemosno mínimo um pouco humildes e sinceros nesses momentos e dar--nos-íamos conta de que a «realidade» que nos envolve não prestaporque como pessoas (máscaras) pensantes não prestamos. Não ficaríamos também fazendo o jogo da hipocr isia raci ona l, excla mandoà-toa: «Alienado, alienado!» Se esse é o mundo que o velho pensadorcr ia ou sobrepõe à Realidade Ime dia ta, algun s jovens te ri am sobejasrazões em quer er intox ioar-se, não estivessem eles enganando-setambém. A droga evidentemente é uma alternativa inútil. É tolicequerer destruir o mundo; e maior tolice é tentar aniquilar-se a simesmo. Tudo o que é ru i m e que queremos destruir, seja o supostoaspecto obje ctivo (o mund o) , seja o subject ivo (o ego-pensamento ),
se soluc iona , se disso lve e desaparece pelo rect o disce rni men to e pelarecta compreensão, sem que para tal haja alguém (ego) que discernee compreenda... Sim, amigos, isso é possível... Quem compreende,compreende e basta! Quem pensa, reforça-se a si mesmo e cai naprópria armadi lha, sobrepõe ao facto em si um mundo de misériasdualistas, u m círculo sem fim de tolices e complicações.
Tu do desconhecemos sob re a V id a, t od av ia o pe nsam ento devassoe egotista arma (em argumentos, dialéctica) um mundo tenebroso,que diz estar à beira do abismo, do tipo apocalipse atómico. O mesmo raciocínio (que é só memória, por tanto coisa velha) também ficadizendo que o mundo começou assim, que tem um passado históricota l e qual, e que no futuro a Terra terminará assim ou assado (ouassada?). A especulação, sempre valendo-se de seus prolongamentos
fictícios, a palavra, a escrita, os meios de comunioação, lamenta-seou assusta-se com aquilo que haverá de acontecer amanhã. Profetiza,ou conclui estatisticamente, que haverá fome, superpopulação, desemprego, miséria, conflitos de classe, degenerações, depravações doscostumes, invasões interplanetárias e outros f antasmas pensados. Enquanto pode, o julgamento em nós idolatra suas próprias criaçõese projecções, as máquinas. Dura nt e a ju vent ude , nosso ego não cuidane m um pouco do equilíbrio me nt al e corporal, mas gasta fort una sque não te m (e por tan to va i roubá-las do próximo) para, por exemplo, manter seu automóvel sempre em forma...
É sempre o juízo (posit ivo ou negativo ) e suas armas, os meiosde comunioação, que nos mostram, de forma sobreposta e pensada,u m hipotético mundo velho, cheio de crimes, misérias, guerras e
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desolação. Depois, o mesmo juízo, através da boca de alguém, racionalmente mal avisado, vem declarar^nos que tudo isso é autêntico,real, que tudo isso acontece e que esse é o viver de cada dia...
«Queres, portanto, v iver t al vida?», pergunta o psiquiatra ao jo ve m con fuso. Or a, convenh amos , se esse fosse mesmo o autênticoviver, preferível seria então mor rer , desaparecer. Os toxicómanos eos suicidas são a consequência de nossa lógica deturpada, do excessode informações intoxicantes e de nossa confusão mental . . .
Amigos, isso não é viver! Isso é o velho pensamento que ofuscaa Vida sempre renovada e a ela tenta sobrepor-se. É inútil buscar ouquerer alcançar ansiosamente o dinamismo do Novo através dassubstâncias. Nessa at i tude, há intenção pensada e onde há buscaou procura intencional há confusão e perdição. O viver autênticoestá em nós, desde que não se pense a respeito. Se estivermos coma men te con diciona da ou cheia de preconceitos e idiossincrasias, aVida, que também está fora de nós, apresentar-se-nos-á com todosos véus ofuscantes que forem pensados. As drogas, se não provocamloucura, paranóia, delírios, como muitas vezes acontece (mas nemsempre), só podem acabar revelando a beleza, a Vida e a Realidadequ e já existem em nós. Todavia, elas só entreabrem a porta do Desconhecido, que logo se fecha. A chave, no caso, é ainda o pensamento eeste não tem de ab r i r na da, e sim apenas sumir- se. Se Vi da e Re ali
dade somos nós mesmos, teremos de nos simpl ifi car e silenciarmo-nosmentalmente para que elas saltem fora de per si. ..
O que precisamos, isto sim, é estar mui to atentos com as aberrações que vamos colectando como cultura, provenha ela de livros,revistas, jornais, TV ou cinemas. A falsa cultura vigente sufocou anossa p r imi t i va e ino cen te man eir a de ver e sen ti r as coisas. Essemundo velh o — que como bola-esfera pode n em exis tir, malgr ado ohipnotizante poder unif icad or dos meios de comunicação, que transforma factos isolados em hipotética aldeia global — ou essas «coisas»que, desnecessariamente, se nos acrescentam ao nosso viver diário,são apenas uma deturpação pensada, uma monstrificação racional,uma aberração que quase nunca está realmente presente na Realidade Imediata que nós somos sem mui to pensar. E esta restringe-se
àquilo que o órgão sensorial não condicionado percebe como evidentee real, percepção essa que supostamente corresponderia a algumobjecto ou ser que estaria fora de nós. O dentro e o fora pensadossão uma mentira. Se o pensamento se tranqui l iza um pouco, é fácilperceb er q ue tud o é um a coisa só. Não há um percep tor , ne m coisapercebida: só há PERCEBER... Silêncio, ego-pensamento tagarela, esome-te para que isso possa ser transfonnado em VIDA!... A Realidade Imediata é o que existe de per si, sem que o pensamento comparativo, analítico, o u a memória, cheia de preconceitos, se intrometa. To da vi a, essa Re al id ad e Ime di at a ou su je it o UNO com seu Me io égeralmente substituída e supla ntad a pelas imagens sobrepostas denosso pensamento e por aquelas que os meios de comunicação quer em impingir-tfios.
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Portanto, no lugar do «Queres viver?» do psiquiatra, sugere-sesomente que há um Viver autêntico e real, rest rit o ao Aq ui e Ag ora.Que significado tem o «queres viver ou queres morrer?» do especialista? Ou o que revela essa pretensa «realidade» intelectual queobviamente não convence mais ninguém? Que adia nta a certas múmias, escravas do velho pensar ou do velho raciocínio, exclamaremescandalizadas: «Mas isso é alienação, incoerência, non sense, esquizofrenia?» São essas mesmas múmias que fazem deste mundo umcemitério...
E agora duas palavras ao jovem poeta que para nós simbolizae representa toda uma geração sincera, mas em grande confusão...
Como estilo, forma, beleza, sinceridade e até mesmo românticosubjectivismo, o poema é até mu i t o bom. Determinadas sugestõesque ele encerra merecem contudo alguns comentários, que servempara qu alquer um , não só para o jo vem autor, mas princi palme ntepara nós mesmos, que estamos fazendo a contra gosto o jogo do pensamento e das palavras.
Queremos sugerir antes de tudo que o verdad eiro V IV ER nãote m qual quer caminho diant e de si; nem conduz à Mor te ou à Vid a.O Real Viver caracteriza-se por não apresentar qualquer caminhopreexistente. O verdadeiro viver é o próprio caminho, faz o caminho,torna-se caminho. É a estrada que se percorre agora. Ninguém deve
buscar o caminho da Vida ou da Morte, porque se tal caminho preexistisse seria puro pensamento. No mesmo in stan te em que seVive, vai-se abrindo o único sendeiro à nossa frent e, que somos nósmesmos. Não devemos achar, pensando, que exista um caminho certoe que mereça ser percorrido (isto é pensamento). Não devemostampouco buscar insistente e ansiosamente o caminho da Verdade(este é outro pensamento). O Caminho surge de forma renovada,mas para que ele surja é preciso Vive r, em out ras palavra s, sentir,actuar e intuir . A Vida é, e nós somos a Vida. A Verdadeira Vidaé Amor (ou Liberdade, Espontaneidade e Harmonia), essa jóia quetodos que rem apris ionar e man ter cativa. O Am or só pode sobrevi verem co mpleta liber dade. Dizer que a mort e é o fim , ou que corresponde ao ani qui lam ent o da Vida , ou que é o apagar ou sumir-se detudo, é pura tolice pensada. Já disse um sábio em determinadaocasião: SE A MORTE FOSSE U M BURAC O, A VI DA JÁ TER IAACABADO. . . Esse pretenso .aniquilamento ou desaparecimento l i gado à mor te é pensamento, filh o abnegado do racio nalis ta, cult i vador da memória, escravo do ego. Os ideais que se têm a resp eitoda morte (espiritualismo) ou a negação deles (materialismo, ni i l ismo) são sempre pensamentos.
A Morte é como o Amor, livre e espontânea; não aceita qualquerexplicação racio nal , não aceit a palavr as, não aceita desculpas, surgeapenas, como a própria Vida... Já foi dito que nós deturpamos overdadeiro viver com as nossas palavras e consequentes mentirasque delas decorrem. Transformamos a Vida num inferno e esse é ovelh o mund o que todo s conhecem. A Vi da parece aceit ar as nossas
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sobreimposíções pensadas po r causa das pala vras , e não pode de-fender-se de nossas mentirosas pretensões. A morte (ou a própriaVida, num outro n ível ) , toda via, não se subm ete ao mesmo jogo.
Tu do o que, pen sando, dis sermos sobre ela (e sob re a Vi da autênticatambém) é ment ira . A Mor te é o desconhecido i macul ado. O Desconhecido nada tem a ver com o aniqui lame nto pensado (nii lis mo) ,nem com sobrevivências pensadas (espiritualismo).
Vida e Morte são faces de uma mesma moeda chamada AMO R.E esta moeda não se compra. Ela auto-entrega-se com a verdadeiramorte ou desa pare cimen to do ego em nós. É só precis o estender amão e pegar sem reter. Não queiramos, pois, viver sempre, de formacontínua, com am or; ne m ansiemos mo rr er por causa do amor. Seta l fizerm os, não estaremos a mando em absolu to, estaremo s pensando. Não busquemos reter o amor, nem tenhamos medo de amar.Am ar é renova r. Sejamos A mor , de insta nte a insta nte e espontaneamente, pois o verdadeiro amor é a seiva de tudo e abraça tanto avida como a morte. E ele sendo, e nós com ele, impossível serácomeçar, impossível será terminar, impossível será viver (condicio-nadamente) , impossível será morrer, .porque de instante a instante,numa harmónica e perpétua renovação, o SER (Deus) em nós sussurrará baixinho: EU SOU O CAMINHO , A VER DADE , A V ID A E O
AMOR, sempre novo, sempre surpreendente. Abre os olhos e vê.Vive mas não retenhas...»
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ANTIPSIQUIATRIA E S E XO — I
O tema sexual é vastíssimo, sem dúvida alguma, e sobre ele sepoderiam escrever l ivros e mais livros, como 'aliás muitos já andaramfazendo desde que surgiu a Psicanálise. Todavia, o simples sexonatural , u ma prática que não requer palavras, é tanto mais autênticoquanto menos se fala a respeito. O verdadeiro sexo pratica-se e nãose discute; e se se discute é porque aparentemente se tornou u mproblema. Todavia, o que torna o sexo um problema é exactamente opensamento humano, qu e sempre se intromete naquilo que não lhepertence. Se o sexo for problema, é-o porque f o i hipervalorizado,ou porque a sociedade hipócrita impôs restrições e limitações, ouentão porque tacha de certo ou errado, baptiza de pecaminoso ouant inatural aquilo que é, apenas. O sexo tem de funcionar harmon icamente, não importa como. E funciona pelo actuar e sentir. O quedistorce o sexo é o pensamento; já vere mos por quê. Reconhecemosque o erotismo-imaginação aumenta u m pouco a sensação sexual( l ib ido), todavia é exactamente pelo excesso de imaginação quemuitas vezes nos perdemos.
A antipsiquiatr ia (psicológica) é um aspecto da Contracul turaque se propõe, pelo mínimo, denunciar o estúpido e grotesco método utilizado pela psiquiatria oficial e científica com relação àsdoenças mentais, entre as quais a roais comum é sem dúvida alguma
a esquizofrenia.De nossa parte, pretendemos dar um aspecto prático e imediato
a este debate sobre sexo, a fim de que ele não fique restrito somenteao nível verbal e teórico, parecendo a pulga qu e morde o elefante (acultura) ou o vento qu e tenta derrubar a montanha (psiquiatr ia).
Nesta nossa prime ira ten tati va, focalizaremos u m aspecto banalda prática sexual chamado masturbação. S im, banal, porém, emcertos momentos, po r causa da cultura preconceituosa e por causa dapsiquiatr ia científica, a masturbação transforma-se n u m verdadeiroproblema e drama para aquele qu e l im i ta toda a sua actividadesexual a essa prática apenas.
Não pretendemos inven tar nada. Limitar-nos-emos a descreversituações desagradáveis qu e, po r descuido e por causa do pensamento,
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afectaram mu it as pessoas jove ns qu e an da m por aí, as quais, porvergonha, por timidez e medo do ridículo, escondem ciosamente seussegredos fr ustr ant es par a que ninguém os descubra, como se existissealguém que, de uma maneira ou outra, não tivesse tido também,em seu devido tempo, alguma complicação sexual. Desgraçadamente,o que prevalece entre os homens pretensamen te sociais é o farisaís-mo. E como somos medonhamente hipócritas em relação a esse aspecto tão ba nal da vida chamado sexo! Como se recita estu pida ment e
a comédia do supemracho ou da fêmea perfeita, exclusivamente heterossexuais! E como também a religião judaico-cristã, no Ocidente,t em servido apenas para que certas pessoas pensantes e mal avisadasexacerbassem em si mesmas neuroses e psicoses, as quais, amiúde, seor ig inam de incríveis e injustificáveis sentimentos de culpa recalcados! A tese do pecado e castigo divi no do cristian ismo orto doxot em servido apenas para an iqu i l a r indivíduos que mal estavam despertando livremente para o sexo, indivíduos que, condicionados previamente por falsas informações repressivas, acabaram por se fortalecer de ta l mod o como egos, como entes escravos do pensamentodiscursivo, que lá pelas tantas termi nar am praticand o o suicídio ouse fragm enta ram psiquicamente (esquizofrenicamente) pela loucura...
Como em nossa exposição não podemos contar factos ao pé da
letra, ne m envol ver nomes de pacientes, par a não com prom eterninguém, vamos construir com palavras situações que correspondeme corresponderam a factos pessoais. Como médico que somos, conhecemos mui to bem essa outra realidade que a psiquiatr ia faz questãode desconhecer, ou seja, o pensamento, a memória, a imaginaçãoindividual como causa das psicoses e neuroses... O que contarmosvalerá p ara homens e mulh eres , porq ue ocorre em ambos os sexos,embora saibamos que às vezes a parte mais lesada seja a masculina,por não poder disfarçar sua pseudo-impotência...
Digamo s que um adolescente amad urece sexu almen te; como nãopode deixar de ser, sente-se impedido a encontrar gratificação sexual.De alguma maneira descobre a prática masturbatória. Se o rapaz (oumesmo moça) não pensa mui to a respeito, ele simplesmente se mas
turba to da vez que sent ir necessidade pr emente , sem con flito men ta lalgum. Alivi a-s e e pro nto . Há a lguns que fazem isso várias vezes aodia. E nem por isso se consideram desgraçados ou perdidos. Indubitavelmente, diante da sociedade actual , é praticamente impossívelque um jovem encontre logo a seguir um outro meio de alívio sexual,sem que venh a a vio lar os tabus e leis impostas po r essa mesmasociedade. Sabemos que, modernamente falando, a situação melhoro u bastant e, mor men te nas grandes cidades, em q ue alguns jovens,formando grupos, mandam os conselhos e preconceitos dos maisvelhos às favas e resolve m ou al iv ia m suas necessidades sexuaisentre si, sem fazer mui to drama pensado. Não obstante, há aindamuitos lugares (mas mu ito s mesmos) em que isso não ocorre, e mque ainda prevalece a trem enda hipocrisia mor al burguesa do século
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passado, em que alguém, se quiser sair da prática masturbatória, éobrigado a v isi tar uma prostituta. E esta nem sempre é a melhorprofessora que existe para a iniciação sexual de um jovem tímidoe inexp erie nte. Não estamos incluindo aqui os impedimentos sociais eos tabus que envolvem a donzela, os quais são mui to piores que osdo varão.
Entrementes, apesar de certo afrouxamento dos laços morais,muitos jovens há que persistem na prática masturbatória até depois
dos vinte anos, e mesmo até casar. Se não pensam demasiadamentesobre aquil o que fazem e se não ali men ta m sentime ntos de inf eri oridade, mantendo uma certa autoconfiança, no fi m tud o se resolvebem. Todavia, um grande número de pessoas há, ent re os ado lescentes e jovens de ambos os sexos, que ou se matam ou terminam loucospor causa do PEN SAM ENT O AO REDO R da masturbação. Esta éperfeitamente inócua e não provo ca ma l algum . Até certo ponto é u mmal (ou bem) necessário, pois, como diz o ditado: «Na fa l ta de cão,caça-se c om gato.» O hipócrita mo ralis ta dos séculos passados e iníciodeste século, contudo, d i fundia aos quatro ventos que a masturbaçãolevava o indivíduo à loucura, à morte, ao enfraquecimento, à decadência. Certos falsos doutores de outrora declaravam que o actomasturbatório provocava degenerações ou doenças cerebrais, musculares, pulmonares, gástrioas, ósseas, reumáticas, artríticas, etc. Isso
de facto constata-se em certos pacientes, não po rque se mas tur bam ,mas porque, em pensamento, se desesperam terrivelmente com aquiloque fazem. Acham que a masturbação é um fim de mundo e tentamparar com a vontade pensada, mas não conseguem, exactamente porque é o pensamento quem faz o drama e quer solucioná-lo pensandoainda mai s. O temor , o sentim ento de culpa e inf erio rida de, o desespero pensados consomem tais indivíduos. Hoje, graças a Deus, asituação melhorou bastante. A própria Medicina, a Psicanálise, Psiquiatr ia e Psicologia se esforçam bastante para derrubar e eliminarcertas invencionices perniciosas. Todavia, os tabus de antanho aindapersistem por entre as classes mais conservadoras da população. Ospreconceitos sobre a masturbação continuam. E são esses preconceitos mórbidos que enlouquecem e matam, embora saibamos que apsiquiatr ia oficial e a psicanálise não concordam connosco.
É sabido que a masturbação suscita por parte de quem a praticaum a certa necessidade de imaginar, isto é, uma imaginação eróticaprévia, e como ela é pensamento, o farsante intr omete- se onde nãodeve. No acto masturbatório podemos considerar três tempos: p r i -meiro, o do estímulo, excitação e pré-ejaculação; segundo, o da ejaculação, e (terceiro o da pós-ejaculação com afrouxamento da tensãosexual, muscula r e nervosa. No pri meir o tempo o indivíduo nãosomente se fricciona como também imagina situações eróticas. Aquia imaginação é l i v r e ; vale tudo. Não há como conter a imaginaçãolibidinosa, esse aspecto par cia l do pensamen to. A pessoa pode imaginar situações heterossexuais, homossexuais, incestuosas, sadomaso-quistas, bestiais, etc, de forma espontânea. Digamos que alguém
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imagine situações heterossexuais. Ao aíoançar a ejaculação, senteu m leve torpor e enfraquecimento que, se não pensar demasiado, nãoo molestará em nada. Mas se pensar a respeito de seu torpor o uobnubilamento passageiros, logo começa, se não avisado previamente,a imaginar que vai ficar fraco, doente, e que se persistir mui to poderá até perder a masculinidade (se moça, a femini l idade, tornan-do-se fríg ida ), a potência, enlouquecerá ou morrerá, etc. E m suma,levantam-se pensamentos de temor e de sentimento de culpa. Se a
pessoa insiste em pensar sempre sobre o mesmo tema, não somentenão conseguirá parar de se masturbar, como também poderá acabaradoecendo mesmo, não i m por ta a doença por enquanto. Diante dessasituação, o indivíduo temeroso f az m i l promessas pensadas de quenunca mais se masturbará. Exactamente po r condenar o acto com opensamento, daqui a algumas horas estará a masturbar-se de novo,pois o acto reforça-se sempre com a intromissão e identificação doego-pensamento, e com suas aprovações e incriminações pensadas.Assim se instala o hábito. Pela simples repetição, ou por causa dotemor, por causa de pensamentos negativos, promessas, e sentimentosde culpa, a tragédia pensada do indivíduo aumenta consideravelmente.
Vejamos, agora, outra situação: digamos que o jovem, ao apelarpara a imaginação erótica, vê surgir em sua mente imagens de re lacionamento homossexual. Enquanto está a excitar-se, el e aceita-ase estimula-se mais, m as depois de alcançada a ejaculação seus sentimentos de culpa pensados serão mui to maiores. Nã o somente inventará, pensando, tudo aquilo qu e dissemos acima como, inclusive, acabará por se convencer de que, por ter imaginado tais coisas, elenasceu homossexual. Naturalmente, o sentimento de culpa, destafeita, será mui to maior, a crise psicológica aumentará. Não apenasacredita que poderá perder-se por causa das supostas doenças futuras,que a masturbação suscitar ia, como inclu sive se convence de quenão é homem e que a Natureza andou a fazer-lhe algumas brincadeiras sujas. «Sim — pensa el e para consigo — , u m homem que sepreza, u m homem que é realmente homem (sic) jamais imaginariaum a situação erótica de fundo homossexual. Isso são coisas de fres
cos *, só pode ser. Consequentemente, se eu imagino isso, so u fresco...Que desgraça!... Que vergonha!...»
O coitado do rapaz confunde realidade imediata, realidade nominal , que só sente, age e i n t u i , co m tolices e conclusões pensadase imaginadas. Não sabe que o sexo se define actuando e não pensando. Alguns, acreditando n a trapaça de sua imaginação, conformar--se-ão com o que pensam e passarão a actuar exclu sivam ente comohomossexuais, convencidos de que a Natureza ou Deus os fez assim.Não se apercebem de que a verdadeira Natureza faz e sente livremente, jamais pensa, malgrado este fenómeno psíquico destorcente
* fresco: e feminado, homossexuai.
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(o pensamento), mas em certas ocasiões mui to útil, ocorra com maisfrequência no homem. Aqui , naturalmente, não estamos sugerindoqu e se pare de pensar definitivamente. De qualquer modo, aqueleque se propõe parar de pensar, exactamente por ter-se proposto isso,continuará pensando, mesmo qu e tenha a impressão pensada de queparou de pensar. O pensamento cessa espontaneamente, sem que portrás haja qualquer intenção egot ist a— apenas alertamos as pessoascom relação à perniciosidade do pensamento discursivo ou falado.
Bem, mas se o jovem ao excitar-se na prática masturbatóriaimaginasse outras situações, que anteriorme nte citamos, o sentimentode culpa f inal seria o mesmo: dramático, absurdo e exagerado.
Todo mundo pratica e goza o sexo, mas todos escondem enver gonhados o que fazem. E isto é hipocrisia. Se resolvem falar, dizemtolices e (monstruosidades distorcentes. Só saem preconceitos e maispreconceitos: o sexo natural é assim, o antinatural é assado.
O sexo como acto e sensação puras é pansexual ou polissexual,embora possa acabar por se definir unissexualmente. O sexo comopensamento é um a calamidade; ou é só heterossexual, que é o quea hipócrita sociedade admite às claras (porque às escuras vale tudo),ou então, se sai da heterossexualidade, é perversão. Talvez perversãoseja persistir sempre n a mesma prática, ou convencer-se de que osexo é de l imitado por barreiras qu e separam o certo do errado. Nessecaso, até a heterossexualidade seria perversa, porque, quando cr iminosamente exaltada e endeusada, a própria noção de heterossexualidade leva alguns m a l informados a praticarem o suicídio por nãose considerarem os tais, ou leva outros à loucura, por causa de umexagerado sentimento de culpa pensado.
Voltemos à nossa história. Admitamos que o jovem por causada prática masturbatória se surpreenda agora imaginando situaçõeshomossexuais e acabe por se julgar homossexual. Se aceita essaconclusão pensada em termos absolutos, ao relacionar-se sexualmente com o próximo, escolherá, sempre que possa, alguém de seupróprio sexo. Se não aceitar as imagens que o assaltam, vai-se travarum a luta terrível dentro dele. V a i sentir 'tuna ânsia louca de quererprovar a si mesmo qu e tais imaginações não correspondem à reali
dade (e não correspondem mesmo). Mas em vez de ignorá-las, t ranquilamente, se m pensar tanto e sem nunca perder a confiança emsuas possibilid ades, ou na própria Vida, promete a si mesmo que naprimeira oportunidade visitará u m prostíbulo e provará a si mesmoque é homem.. . O pobre rapaz não sabe porém que o sexo é tantomais eficiente quanto menos o pensamento e a consequente vontadeconsciente ou pensada (e u quero fazer isso, preciso fazer isso...) oufreios da Vida se intrometem. O sexo só funciona pelo sentir e peloagir. Se, diante de outra pessoa, ele com o pensamento quer forçaro erotismo sexual em si mesmo, jamais v a i conseguir seu intento,porque, nesses momentos, estará apenas duvidando de si mesmo, daNatureza, a qual tão-somente lh e pede que a sinta e actue de acordo,sem pensar. Assim, ao procurar um a mulher, que não precisa ser
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necessariamente u m a profissional, o j ovem v a i colocar e m xeque asua v i r i l i dade . Esforça-se, imagina situações eróticas, roga com opensamento, implora mentalmente e não consegue nada. A erecçãonecessária não surge. Se a mulher fo r inte l igente poderá in terv i r eestimular o rapaz, levando-o porém a u m acto sexual insatisfatório,com ejaculação precoce, pelo simples facto de não ter sabido entre-gar-se completamente. Admitamos que o jovem não tenha conseguido nada. Que tragédia imaginária, que desespero se instala em
sua mente!.. . Se o coitado tiver com quem desabafar seu problema,parcialmente, é claro — s i m , pois, el e jamais irá confessar a outrosque é assaltado por imaginações homossexuais durante o acto masturbatório — a crise diminuirá u m pouco. Se tentar, entretanto, esquecer à força suas conclusões pensadas, três serão os desfechos:torna-se u m doente psicossomático, acaba louco ou suicida-se.
Depois desse encontro frustrado, mas nem por isso tão traumat izante quanto parece, o rapaz começará a pensar se m parar, emagrecerá e perderá inclusive o sono. Para el e tudo estará perdido. Quemhaverá de ajudá-lo? Quem haverá de compreendê-lo e tirá-lo daquelebeco sem saída, daquele caos pensado, caos emocional e posteriormente físico? Ninguém, pois ele concluirá que não há nenhumapessoa capacitada em ajudá-lo ou compreendê-lo. Teme o ridículo e a
intolerância do próximo. De facto, nesses momentos o mundo é bemmesquinho. E m quem o pobre rapaz poderia confiar? Teria que seru m indivíduo mui to especial. U m amigo autêntico ou uma amigaafectuosa. Os próprios pais, quem sabe! U m irmão mais velho! Geralmente, esse alguém não existe. Ou se existe é difícil de se encontrarnum momento desses. Não obstante o drama pensado, em verdadenão há tragédia alguma em termos reais, porquanto a actividadesexual ou v i r i l i dade do rapaz continua intacta. Ele é tão masculino
não importa o que venha a fazer sexua lmente — como sempr e.A natureza neste ponto não falha. E se parece falhar é porque opensamento se intromete como u m freio. O próprio ego-pensamento,causador dessa aparente calamidade, se div ide e passa de um ladoa exercer o papel de juiz supremo, de inquis idor, d e carrasco, deintransigente impiedoso — aquilo qu e Freud chamou de superego —
e começa a crítica massacrante. De outro lado, sempre o mesmoego-pensamento, passa a identif icar-se no papel de vítima al imentando sentimentos de injustiça, de inferioridade, de culpa; e m outrosmomentos, u m terceiro aspecto do mesmo ego farsante tenta apagartudo aqui lo que ele mesmo elabora, recalca seus maus frutos ao In consciente Verdadeiro. E neste momento a Fonte da V ida é parcialmente obstruída pois, malgrado o homem não se aperceba disso, aVida brota ou manifesta-se de dentro para fora. A confusão mentalinstala-se no lugar da Vida.
O ego, que deveria silenciar-se e sumir-se, reforça-se cada vezmais com suas intromissões calamitosas, e quanto mais tenta emenda r pior f ica a situação. Ele é o próprio aprendiz de feiticeiro que,ao tomar conta da mente, provoca confusão. O caos pensado é tão
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grande que a integridade psíquica, ou essa tolice qu e chamamosconsciente pensado — mínima parcela da mente tota l — não resisteao impacto. E implanta-se o surto esquizofrénico, para não falarem surto epiléptico. O indivíduo passa a ter uma conduta estranha,que os psiquiatras rotulam logo. Aparentemente, não há mais u mcentro pensante unificado ou um eu-pensamento coeso e coerente.Exterioriza-se uma incoerência, esquisitice tanto no falar como noaotuar, raciocinar, avaliar, etc. Em suma, o jovem, sem se aperceber
do qu e acontece, passa a exteriorizar u m perfeito quadro esquizóide.Nã o dorme, não come, não sabe o que faz nem sabe quem é, andasempre atemorizado, alucinado. Às vezes, torna-se perigoso e agressivo para consigo mesmo ou para c om o próximo.
^ A conduta ideal, nestes casos, principalmente se isso é a p r i -meira vez que ocorre, é de sedar o paciente co m tranquilizantesleves, soníferos, e obrigá-lo ao sono, ao descanso físico, a fi m de queo «disco mental qu e gira a mais de cem por hora» d iminua u mpouco su a rotação. A confusão e a inconsciência exteriorizadas sãodevidas exactamente ao excesso de crítica e tagarelice mental. E mcertos casos, quando se interfere com inteligência, temos constatadoque o paciente recupera parcialmente seu equilíbrio. Quando issoacontece, deve-se entrar com a devida psicoterapia esclaredora ereeducadora. Se o motivo for realmente sexual, é preciso que o rapaz
se aperceba de que, se o desvario mental se imp lantou nele, foi porsua própria culpa ou descuido, ou seja, p or ter reforçado, mi l vezescom o pensamento, u m drama inexistente. Terá que forçosamentereinstruir-se a respeito de sexo e flagrar-se das safadezas subtis deseu egozinho pensante. Terá que ser sincero e humi lde para consigomesmo e admi t i r certa inibição sexual passageira. A prática sexualdeverá de ixar de ser problema para ele, e novas tentativas só poderão ser efectuadas quando reconquistar o equilíbrio emocional, ouquando estiver plenamente convencido de que tudo não passou deu m m a u pesadelo. Isso é o que resumidissimamente se poderi a fazer,sem complicar demasiadamente as coisas, e com grandes possibilidades de inverter e e l iminar o quadro de psicose e neurose.
Infelizmente, quão longe está tudo isso daquilo que de facto
ocorre actualmente!Basta o j ovem (ou a jove m) ext erio riz ar sintomas esquisitos,que logo os familiares apreensivos correm ao especialista e m psiquiatr ia , o qual, amiúde cheio de preconceitos culturais e condicionamentos livrescos, já de saída baptiza o co