A FALSA ACUSAÇÃO DE ALIENAÇÃO PARENTAL E OS DANOS À...

14
Edição 14 Dezembro de 2017 A FALSA ACUSAÇÃO DE ALIENAÇÃO PARENTAL E OS DANOS À SAÚDE DO GENITOR ACUSADO FALSAMENTE DE ABUSO SEXUAL BASTOS,Alder Thiago 1 LIMAVERDE, Daniel Ferreira 2 GOUVEIA, Wagner Camargo 3 MARTINS, Viviane Lima 4 RESUMO: Através da metodologia hipotético-dedutiva, busca-se responder a seguinte indagação: A prática da alienação parental por intermédio de falsas denúncias de abuso sexual contra o menor impõe prejuízo ao direito sanitário do genitor alienado. Isto porque, utiliza-se comumente da mendaz afirmação de abuso sexual em relação ao genitor acusado injustificadamente, posto que, pelos princípios norteadores da proteção ao menor, ele tem o afastamento de sua prole consagrado pela mera menção do ato incestuoso praticado contra um infante. Sabe-se que o incesto causa tamanha repudia moral que é coibido pela legislação civil, mas não há previsão penal enquanto praticado entre pessoas adultas, mas o abuso sexual, por sua vez, tem uma reprovação moral ainda maior porquanto fere a própria inocência da criança vitimada. Nesse contexto, trazendo-se as principais perspectivas da alienação parental foi possível constatar que a legislação é omissiva quanto à pratica do afastamento injustificado do menor e que a punição, em ultima ratio, se dá por denunciação de falso crime, concluindo-se, portanto, que a hipótese é verdadeira ao consagrar os prejuízos a saúde do genitor alienado. PALAVRAS-CHAVES: Genitor, Alienação Parental, Abuso Sexual, Denunciação de falso crime. INTRODUÇÃO Sabendo-se da complexidade envolvendo o direito de família, a ruptura do casamento e dos laços afetivos nem sempre são digeridas a fim de preservar os interesses de crianças e/ou adolescentes, muito menos são capazes de ponderar a própria prolongação do sofrimento que certamente causará aos recém-divorciados. A alienação parental é consagrada pelo sentimento de vingança, ódio, repúdio que se traduz na utilização indevida dos filhos como instrumento para 1 Advogado, Graduado em Direito pela Universidade Paulista (2005). Pós-graduado em Direito Processual Civil. Pós- graduando em Direito Público pela Damásio Educacional e em Direito do Trabalho e Direito Imobiliário pela Escola Paulista de Direito e Mestrando em Direito da Saúde: Dimensões Individuais e Coletivas pela Universidade Santa Cecília UNISANTA (2016). E-mail: [email protected] 2 Advogado, Graduado em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (2010) e Pós-graduado pela PUC/SP em Direito Constitucional (2015). Iniciação científica concluída sob o título "O instituto da desconsideração da personalidade jurídica" (2006). Mestrando em Direito da Saúde: Dimensões Individuais e Coletivas pela Universidade Santa Cecília UNISANTA (2017). E-mail: [email protected] 3 Delegado de Polícia Sede do Guarujá - Graduado em Direito pela Universidade Santa Cecília (2005) e Pós-graduado pela mesma instituição em Direito Penal (2008/2009). Mestrando em Direito da Saúde: Dimensões Individuais e Coletivas pela Universidade Santa Cecília UNISANTA (2016). E-mail: [email protected] 4 Professora Universitária, Doutora em Comunicação e Semiótica e Especialista em Análise das Mídias e Tecnologias Aplicadas à Educação. E-mail: [email protected]

Transcript of A FALSA ACUSAÇÃO DE ALIENAÇÃO PARENTAL E OS DANOS À...

Page 1: A FALSA ACUSAÇÃO DE ALIENAÇÃO PARENTAL E OS DANOS À …uniesp.edu.br/sites/_biblioteca/revistas/20180511142541.pdf · Cecília – UNISANTA (2016). E-mail: thiago@advocaciabastos.adv.br

Edição 14 – Dezembro de 2017

A FALSA ACUSAÇÃO DE ALIENAÇÃO PARENTAL E OS DANOS À

SAÚDE DO GENITOR ACUSADO FALSAMENTE DE ABUSO SEXUAL

BASTOS,Alder Thiago 1

LIMAVERDE, Daniel Ferreira 2

GOUVEIA, Wagner Camargo3

MARTINS, Viviane Lima4

RESUMO: Através da metodologia hipotético-dedutiva, busca-se responder a seguinte indagação:

A prática da alienação parental por intermédio de falsas denúncias de abuso sexual contra o menor

impõe prejuízo ao direito sanitário do genitor alienado. Isto porque, utiliza-se comumente da

mendaz afirmação de abuso sexual em relação ao genitor acusado injustificadamente, posto que,

pelos princípios norteadores da proteção ao menor, ele tem o afastamento de sua prole consagrado

pela mera menção do ato incestuoso praticado contra um infante. Sabe-se que o incesto causa

tamanha repudia moral que é coibido pela legislação civil, mas não há previsão penal enquanto

praticado entre pessoas adultas, mas o abuso sexual, por sua vez, tem uma reprovação moral ainda

maior porquanto fere a própria inocência da criança vitimada. Nesse contexto, trazendo-se as

principais perspectivas da alienação parental foi possível constatar que a legislação é omissiva

quanto à pratica do afastamento injustificado do menor e que a punição, em ultima ratio, se dá por

denunciação de falso crime, concluindo-se, portanto, que a hipótese é verdadeira ao consagrar os

prejuízos a saúde do genitor alienado.

PALAVRAS-CHAVES: Genitor, Alienação Parental, Abuso Sexual, Denunciação de falso crime.

INTRODUÇÃO

Sabendo-se da complexidade envolvendo o direito de família, a ruptura do casamento e

dos laços afetivos nem sempre são digeridas a fim de preservar os interesses de crianças e/ou

adolescentes, muito menos são capazes de ponderar a própria prolongação do sofrimento que

certamente causará aos recém-divorciados. A alienação parental é consagrada pelo sentimento de

vingança, ódio, repúdio que se traduz na utilização indevida dos filhos como instrumento para

1 Advogado, Graduado em Direito pela Universidade Paulista (2005). Pós-graduado em Direito Processual Civil. Pós-

graduando em Direito Público pela Damásio Educacional e em Direito do Trabalho e Direito Imobiliário pela Escola

Paulista de Direito e Mestrando em Direito da Saúde: Dimensões Individuais e Coletivas pela Universidade Santa

Cecília – UNISANTA (2016). E-mail: [email protected] 2 Advogado, Graduado em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (2010) e Pós-graduado pela PUC/SP em

Direito Constitucional (2015). Iniciação científica concluída sob o título "O instituto da desconsideração da

personalidade jurídica" (2006). Mestrando em Direito da Saúde: Dimensões Individuais e Coletivas pela Universidade

Santa Cecília – UNISANTA (2017). E-mail: [email protected] 3 Delegado de Polícia Sede do Guarujá - Graduado em Direito pela Universidade Santa Cecília (2005) e Pós-graduado

pela mesma instituição em Direito Penal (2008/2009). Mestrando em Direito da Saúde: Dimensões Individuais e

Coletivas pela Universidade Santa Cecília – UNISANTA (2016). E-mail: [email protected] 4 Professora Universitária, Doutora em Comunicação e Semiótica e Especialista em Análise das Mídias e Tecnologias

Aplicadas à Educação. E-mail: [email protected]

Page 2: A FALSA ACUSAÇÃO DE ALIENAÇÃO PARENTAL E OS DANOS À …uniesp.edu.br/sites/_biblioteca/revistas/20180511142541.pdf · Cecília – UNISANTA (2016). E-mail: thiago@advocaciabastos.adv.br

Edição 14 – Dezembro de 2017

agredir e atingir certeiramente o outro cônjuge (alienado), em busca de uma penalização atribuída

ao fracasso da relação conjugal.

Assim, com o objetivo de efetivar o princípio da prioridade aos direitos das crianças e

dos adolescentes, em razão da própria guarida constitucional e dos nevrálgicos prejuízos causados à

saúde mental dos menores vitimados, priorizando-se, evidentemente, a vulnerabilidade da primeira

idade, a alienação parental foi regulamentada pela Lei nº 12.318/2014, discorrendo sobre a

identificação e a punição ao infrator, não havendo repercussão na seara penal, apenas civil e

administrativa.

Richard Gardner (2002) e outros estudiosos que se debruçaram sobre o tema indicam

diversos contextos que são caracterizados com a insensatez da prática de alienação parental,

havendo graus de intensidade da sua propagação frente a criança e/ou o adolescente, dos quais são

mencionados de forma exemplificativa no art. 2º, parágrafo único, e seus respectivos incisos, não

havendo unanimidade na doutrina médica quanto à consagração de uma síndrome, porque não há

inserção da doença no rol de Classificação Internacional de Doenças (CID) e nem no Manual de

Diagnósticos e Estatísticas dos Transtornos Mentais (DSM-5).

Contudo, há um consenso doutrinário que descreve situações de mera campanha

desmoralizadora com graus de intensidades são prejudiciais a higidez mental da criança/adolescente

vitimado, havendo indicativos de natureza mais leve que estão atreladas à manutenção do rancor

perpetuado pelo fracasso da relação afetiva existente entre os genitores, normalmente constatado em

convívio prolongado entre Alienante e Infante, em razão de uma guarda unilateral, como também

há descrições mais graves, cuja exposição à alienação parental se dá de forma nociva, criando

percalços com o objetivo do completo afastamento entre o genitor alienado e a sua prole.

Normalmente esses graus de veemências estão diretamente ligados na forma da ruptura do laço

afetivo do casal, cujo luto pela separação (latu senso) não foi devidamente assimilada por um dos

cônjuges.

Existindo-se diversas modalidades de alienação parental com altíssimo grau de

gravidade, se faz necessário efetuar um corte epistemológico a fim de abordar aquela conduta que

trata exclusivamente da falsa denúncia de abuso sexual, cujo objetivo é alcançar o imediato

afastamento do genitor alienado da sua prole (filho que supostamente foi abusado e as demais

crianças).

Isto porque, ao se sopesar sobre assuntos dessa magnitude, o tempo urge em desfavor da

criança e do adolescente vitimados, pois, se de um lado o abuso sexual é identificado, o menor fica

exposto indevidamente às barbáries trazidas pelo seu abusador. Lembrando-se que, no caso

Page 3: A FALSA ACUSAÇÃO DE ALIENAÇÃO PARENTAL E OS DANOS À …uniesp.edu.br/sites/_biblioteca/revistas/20180511142541.pdf · Cecília – UNISANTA (2016). E-mail: thiago@advocaciabastos.adv.br

Edição 14 – Dezembro de 2017

sugerido pelo recorte deste estudo, trata-se de membro influente e ativo na vida do infante, cuja

obrigação legal é zelar pelo resguardo e proteção da sua prole.

Todavia, se identificar que está de frente a uma falsa acusação de abuso sexual, a

criança é vitimada pela alienação parental, tendo suprimido o seu direito de convívio com o genitor

alienado, podendo perdurar anos até que haja uma solução definitiva, impondo uma desconstrução

do laço afetivo entre criança e genitor, que nem sempre é passível de reconstrução, o que traduz em

prejuízo exclusivo ao menor.

Agrava-se a situação porque a falsa denúncia de abuso sexual implica na assunção

movimentação indevida dos mecanismos estatais para investigar o crime perpetuado contra a

criança e/ou adolescente. Como sopesado, a verificação dos males aos menores passa pelo crivo do

Conselho Tutelar, da própria investigação criminal (Delegacia de Polícia, Instituto Médico Legal)

que deverão instaurar meios para averiguar preliminarmente os fatos que chegaram ao seu

conhecimento.

Finalmente, lembre-se que o Ministério Público Estadual, nestes casos, pela

competência institucional que detém, acabará enfrentando a questão tanto no que tange aos

procedimentos judiciais que visam penalizar o suposto infrator, como também em processos

busquem o afastamento do genitor abusador do poder familiar, além, evidentemente, figurar como

custos legis, quanto atua em prol da proteção do menor em eventuais pedidos e fixações de guardas

e visitas dos menores envolvidos nessa suposta relação incestuosa praticada por intermédio de

abusos sexuais.

O Poder Judiciário, por sua vez, igualmente deverá analisar a questão sob a seara do

direito penal, ao estabelecer as condições necessárias para a identificação e punição do crime

noticiado, trazendo todos os meios necessários em buscar da verdade real dos fatos narrados, bem

como decidir sobre os desfechos da suspensão ou perda do Poder de Família, além de intervir na

guarda, muitas vezes, também utilizando os mecanismos dispostos na legislação pátria para

proteção de testemunha, apagando por completo registros de crianças e genitores alienantes, com a

perpetuação do afastamento completo do menor do genitor alienado.

Não se olvida os efeitos perniciosos à saúde mental da criança e/ou do adolescente

envolvido na falsa denúncia, mormente que lhe são impostas perícias invasivas e traumáticas,

inclusive com a verificação das genitálias para analisar se houveram relações sexuais, sem falar nas

demais consequências que serão verificadas a médio e longo prazo, resultante da interrupção

abrupta do contato com aquele pai/mãe acusado de abuso sexual (genitor alienado), cujas marcas

serão percebidas pelo resto da vida das vítimas envolvidas (criança e genitor alienado).

Page 4: A FALSA ACUSAÇÃO DE ALIENAÇÃO PARENTAL E OS DANOS À …uniesp.edu.br/sites/_biblioteca/revistas/20180511142541.pdf · Cecília – UNISANTA (2016). E-mail: thiago@advocaciabastos.adv.br

Edição 14 – Dezembro de 2017

Contudo, pouco se discute sobre os danos efetivamente causados à saúde mental e

social do acusado do genitor alienado, que também responde severamente por um ato inconsequente

e leviano praticado pelo ex-cônjuge. A simples menção à prática de abuso sexual é situação

suficiente para macular seu convívio social e experimentar uma seera reprovação social,

salientando-se que este julgamento moral não restringe na pessoa do acusado, pois acaba atingido,

direta ou indiretamente, os demais membros de sua família (pais, irmãos, avós, sobrinhos do

genitor), sendo os mesmos, de igual modo, afastados por completo do convívio familiar com o

menor alienado.

Nesse contexto, a hipótese apresentada é de que a alienação parental praticada com

falsas denúncias de abuso sexual implica em afronto ao direito sanitário do genitor alienado,

impondo uma análise sob a perspectiva civil e criminal do ato praticado pelo progenitor alienante e

as consequências jurídicas trazidas com seus atos, dos quais não estão relatados na Lei nº

12.318/2010.

A metodologia hipotético-dedutiva será adotada para consolidar a hipótese levantada,

amparando-se a pesquisa em referencial bibliográfico e documental publicadas em meio escrito e

eletrônico, dando enfoque aos meios perniciosos que objetivam afastar injustificadamente o menor

do convívio familiar do genitor alienado.

1 INCESTO

A sociedade brasileira teve sensíveis alterações do paradigma estrutural em relação ao

núcleo familiar desde o início do século XX, possibilitando-se novos arranjos afetivos que busquem

o reconhecimento da necessidade contemporânea, exemplos são o reconhecimento do matrimônio

entre pessoas do mesmo sexo, a dissolução da sociedade conjugal de forma mais célere, o

parentesco por afinidade, entre outros.

No entanto, o incesto ainda é um valor universalmente intransponível pela sociedade

contemporânea, mesmo se tratando de relacionamento amoroso/libidinoso praticado por pessoas

maiores, adultas e capazes de responder pelos seus próprios atos, porque é uma situação que fere a

moral e os bons costumes, sendo – segundo Paulo Lôbo (2010. p. 99-100) – uma fonte primária e

universal em quase todos os povos do mundo. Situações que não envolvam pessoas capazes (em

razão da idade ou da integridade mental) serão tratados no próximo capítulo quando se abordará

especificamente sobre abusos sexuais.

O Código Civil proíbe a relação incestuosa entre pessoas do mesmo núcleo familiar até

o terceiro grau, não havendo legitimação para casamento e regularização da união frente a

Page 5: A FALSA ACUSAÇÃO DE ALIENAÇÃO PARENTAL E OS DANOS À …uniesp.edu.br/sites/_biblioteca/revistas/20180511142541.pdf · Cecília – UNISANTA (2016). E-mail: thiago@advocaciabastos.adv.br

Edição 14 – Dezembro de 2017

sociedade, ainda que este conceito tenha sido, nos últimos tempos, relativizado por decisões

judiciais que permitam casamento entre primos, por exemplo. A proposta legislativa para não haver

permissões de casamento de parentes com proximidade consanguínea se dá pela problemática

genética que a reprodução identificará, havendo inúmeros estudos demonstrando a correlação da má

formação genética com a contiguidade endógena.

Contudo, essa relativização ainda não alcançou os casos do parentesco em linha direta

(pais, filhos, netos), havendo a expressa proibição do reconhecimento do casamento, nos termos do

art. 1.521, Inciso I do Código Civil. A relevância de cunho moral dessa proibição é tamanha que o

próprio dispositivo legal veta o reconhecimento ao casamento, ainda que o parentesco não seja

consanguíneo, quando expressamente utiliza a expressão “parentesco civil” (adoção).

Na seara penal, em ultima ratio, não há identificação de delito penal que atrele à prática

de incesto, sendo certo que o capítulo que trata da dignidade sexual encontra-se a proteção de atos

forçados e não consentidos, cuja variação do delito criminoso relaciona-se diretamente com a forma

empregada (mediante violência, grave ameaça, poder hierárquico, poder familiar). A liberdade

sexual ganhou-se proporções inimagináveis com o advento dos modos contraceptivos, permitindo-

se uma total e irrestrita liberdade do ser humano na escolha dos seus parceiros sexuais, mas a moral

ainda nos permite frear situações de relacionamentos incestuosos praticados por descendência

direta.

Não se desconhece o Complexo de Édipo e Electra da teoria de Freud, em que a criança,

em dado momento da construção de sua personalidade, fantasia o namoro com o genitor do sexo

oposto, sem ter conhecimento do que se trata um namoro de fato, das circunstâncias envolvidas e da

existência da satisfação da libido, justamente por não haver maturidade para tal compreensão.

A problemática surge quando a consciência dos atos e a repúdia incestuosa persiste no

imaginário e se concretiza na fase adulta, demonstrando uma desestrutura familiar inadmissível sob

o ponto de vista moral e ético da sociedade contemporânea, cujo valor não será penalmente

reprovável, porque o ato incestuoso se dá entre adultos e pessoas capazes, mas não haverá o

reconhecimento social pelas instituições civis da formação deste núcleo familiar, impossibilitando-

se legalizar a construção de um matrimônio.

2 ABUSO SEXUAL

O abuso sexual contra crianças e/ou adolescentes é um tema extremamente polêmico e

enseja uma repúdia social porque a exposição sexual prematura desses infantes, cuja fantasia erótica

se dá, segundo estudos, pela própria inocência existente nessas pessoas vulneráveis, decorre de um

Page 6: A FALSA ACUSAÇÃO DE ALIENAÇÃO PARENTAL E OS DANOS À …uniesp.edu.br/sites/_biblioteca/revistas/20180511142541.pdf · Cecília – UNISANTA (2016). E-mail: thiago@advocaciabastos.adv.br

Edição 14 – Dezembro de 2017

distúrbio psicológico extremamente grave e inaceitável de agressores, cominando a reprovação da

sociedade pelo próprio Código Penal vigente ao tratar da violação à sexualidade de crianças e

adolescentes.

A problemática surge com maior intensidade quando o desejo libidinoso se dá no seio

familiar, onde o genitor deveria focar seus esforços para proteger e salvaguardar

criança/adolescente da exposição prematura à sexualidade, se torna o próprio expositor, utilizando-

se, pois, do sigilo familiar e do acesso irrestrito ao menor para seduzir e ter para si os atos

voluptuosos decorrentes do assédio sexual perpetuado naquele momento.

A criança, por sua vez, quanto mais nova, menos ciência tem da decência do ato,

praticando-o com a inocência que lhe é peculiar, posto demonstrar o afeto e a entrega decorrente da

relação entre pais e filhos. O ato libidinoso praticado com crianças por aquele que deve protege-la é

tão repugnante que o próprio agressor, ciente da reprovação social, impõe à criança meios de

manter aquele segredo devidamente guardado no seio familiar, transformando-a em culpada pelo

ato por ele praticado (Trindade. 2017).

O abuso sexual, de qualquer espécie, com ou sem conjugação carnal, é repudiado pela

sociedade contemporânea e está representado no ordenamento jurídico nacional, com penas severas

à prática ou qualquer meio que exponha a criança a uma sexualidade prematura. O Código Penal,

em conformidade com as alterações de 2009, regulamentou a proteção especial aos crimes contra

liberdade sexual, presumindo estupros e conjunções carnais de quaisquer espécies com menores de

14 anos e em relação aos absolutamente incapazes.

A constatação do ato repugnante implica em severas penas de reclusão e o imediato

afastamento (sempre que possível) do indivíduo em relação à criança abusada e daquelas demais

que residem naquele núcleo familiar, ante o risco de a prática libidinosa expor todos os entes

familiares. Ainda que o enfoque não seja o assédio sexual para solucionar a presente pesquisa, se

faz necessário adentrar à sua análise para constatar os danos ocasionados aos menores que são

vitimados pela prática de abusos sexuais. A ponderação de Jorge Trindade (2017. p. 476), sobre este

ao explicar que:

No âmbito do Poder Judiciário, o enfrentamento dessas questões é premente e exige ações

rápidas de profissionais que, muitas vezes, se sentem perplexos e imobilizados para atuar

com intervenções plenas e eficazes. No caso do incesto, a prova da violência é difícil de ser

produzida, pois o evento opera no segredo familiar, no “amor” perverso velado como um

tesouro.

Desta maneira, o abuso sexual praticado por aquele que tenha a guarda direta ou indireta

(cônjuge do genitor, por exemplo) do menor, quando denunciado, porque se trata de crime que

depende da representação da vítima ou de seu representante legal, desencadeia de três formas

autônomas no Poder Judiciário.

Page 7: A FALSA ACUSAÇÃO DE ALIENAÇÃO PARENTAL E OS DANOS À …uniesp.edu.br/sites/_biblioteca/revistas/20180511142541.pdf · Cecília – UNISANTA (2016). E-mail: thiago@advocaciabastos.adv.br

Edição 14 – Dezembro de 2017

O primeiro processo derivará nas ações investigativas do crime praticado, restringindo-

se à busca da persecução penal, com a atribuição de pena privativa de liberdade ao acusado, nos

termos dos artigos insertos no Título IV, Capitulo II, que tratam dos crimes atrelados à liberdade

sexual de crianças e adolescentes. As penas são duríssimas, variando de 8 a 15 anos, devendo ser

aplicado o agravante quando o crime é praticado por parentes próximos diretos ou por afinidade.

Em um segundo momento, não havendo a necessária espera da apuração do delito, ante

o risco que a criança está exposta pela mera menção do abuso sexual, o Ministério Público ou

qualquer entidade de proteção aos direitos das crianças e dos adolescentes, com base na Lei nº

8.069/1990, que instituiu o Estatuto da Criança e do Adolescente, permite o afastamento provisório

do Poder de Família até que as circunstâncias de abuso sejam apurados, rompendo-se de imediato o

contato com a vítima. Esses processos são direcionados ao Juízo da Vara da Infância e da

Juventude, nos termos do art. 148, parágrafo único, alínea “b” do Estatuto da Criança e do

Adolescente, havendo o prazo máximo de 120 dias para conclusão dos trabalhos (art. 163).

O terceiro ponto é o processo que se discute a guarda do menor, em que o Juiz da Vara

Cível ou da Vara Especializada em Direito de Família, ao analisar as acusações, por seu dever legal,

também deve afastar a guarda e a visita autônoma sempre que lhe for noticiado quaisquer espécies

de negligência, imprudência ou imperícia com relação aos cuidados dos menores, com maior ênfase

quando envolve crimes que exponham à integridade física e psicológica dos menores envolvidos no

litígio de família.

Na Comarca de Santos, por exemplo, este caso seria direcionado a três varas distintas,

uma das varas criminais, buscando a persecução penal, a própria vara da infância e da juventude e,

por fim, a vara de família especializada na matéria que envolvam litígios de guarda.

Em todos esses casos seriam admitidas a instrução processual com a realização de

exames periciais autônomas que buscassem desvendar a prática do suposto abuso sexual, com a

relação multidisciplinar envolvendo médicos de diversas especialidades, psicólogos e assistentes

sociais, a fim de trazer uma investigação profunda sobre os riscos que envolvam criança e

adolescentes, salvaguardando-se, ainda, o direito aos princípios constitucionais da ampla defesa e

do contraditório em todas as etapas processuais de cada procedimento judicial autônomo.

Desta maneira, a mera menção de abuso sexual, ainda que não haja qualquer conjunção

carnal, expõe o menor, por inúmeras vezes, a reviver o abuso sofrido, o que por si só, já traz uma

problemática imensa e traumática à vida daquela criança/adolescente que será maculada em sua

existência.

Ademais, como formas preventivas para que o abuso sexual, se verídico, não se

perpetue, ancorando-se nos princípios do melhor interesse do menor e da prioridade absoluta em

Page 8: A FALSA ACUSAÇÃO DE ALIENAÇÃO PARENTAL E OS DANOS À …uniesp.edu.br/sites/_biblioteca/revistas/20180511142541.pdf · Cecília – UNISANTA (2016). E-mail: thiago@advocaciabastos.adv.br

Edição 14 – Dezembro de 2017

proteger crianças e adolescentes vitimados por crimes contra sua dignidade sexual, o afastamento

da criança se perpetua até que seja verificada a cabal ausência de risco ao menor, sem prejuízo das

cominações legais existentes.

Portanto, a legislação brasileira torna-se implacável em buscar uma solução para que

crimes dessa natureza não sejam praticados, especialmente quando se trata de menores de idade,

cuja sua formação encontra-se incompleta para entender a gravidade do ato praticado e a

desestruturação do seio familiar existente pelo desequilíbrio perpetuado por esse promiscuo ato.

3 ALIENAÇÃO PARENTAL

A alienação parental foi trazida pelo ordenamento jurídico através da Lei nº

12.318/2010, impondo no seu artigo 2º que se considerar-se-á ato alienativo a interferência na

formação psicológica do menor com promoção ou indução de um dos genitores ou parentes

próximos os quais estejam confiados a sua autoridade guarda ou vigilância, causado prejuízos com

o vínculo em relação ao genitor alienado. Como bem ponderam Ana Carolina Carpes Madaleno e

Rolf Madaleno (2017. p. 99):

O art. 2.º da Lei da Síndrome da Alienação Parental considera como ato de alienação a

maligna interferência na formação psicológica da criança ou do adolescente, promovida ou

induzida por um dos genitores, ou mesmo por terceiros que estão próximos do menor, quer

em decorrência dos vínculos de parentesco, como ocorre com avós, tios e até mesmo

irmãos maiores e capazes, ou pessoas que tenham a criança ou adolescente sobre sua

autoridade em razão da guarda ou vigilância, sempre tendo como objetivo o repúdio pela

criança da pessoa do outro genitor, ou que ocorra alguma falha e solução de continuidade

na manutenção desses vínculos.

Nesse contexto, a criança é subitamente programada a ter o mesmo rancor e

ressentimento trazidos pelo genitor alienante, buscando a sua eliminação do genitor alienado, por

completo, da vida da criança e do adolescente vitimado. Implica na desconstrução do laço afetivo

que naturalmente vigora entre pais e filhos, sem que essa causa seja identificado na própria relação,

mas sim por interferência direta de terceiro que, maliciosamente, através de suas mágoas transfere-

as ao menor.

Como trazido no introdutório, há diversos modos que se operam a alienação parental,

desde um ressentimento expressados na verbalização de um xingamento, quanto em casos mais

graves, em razão do afastamento que se dá por manobras de acusações de crimes que

potencialmente exponham a criança a perigo, cuja “finalidade é uma só: levar o filho a afastar-se de

quem o ama. Tal gera contradição de sentimentos e, muitas vezes, a destruição do vínculo afetivo”,

como acrescenta Maria Berenice Dias (2017. p. 24).

Page 9: A FALSA ACUSAÇÃO DE ALIENAÇÃO PARENTAL E OS DANOS À …uniesp.edu.br/sites/_biblioteca/revistas/20180511142541.pdf · Cecília – UNISANTA (2016). E-mail: thiago@advocaciabastos.adv.br

Edição 14 – Dezembro de 2017

Assim, a alienação parental é nefasta porque afeta diretamente a mudança paradoxal de

que a criança estava alicerçada quando mantinha o convívio com o genitor alienado, este menor de

repente se vê obrigado a lidar não somente com a separação (lato sensu) de seus pais, mas também

começa a ter que tomar partido para que sua vida mantenha-se harmônica, cuja pressão e

manipulação nem sempre é facilmente identificada e/ou compreendida pela criança envolvida.

Por sua vez, o genitor alienado também é igualmente vitimado pela nevrálgica tentativa

de afastamento empregado pela alienação parental, mormente que existe a consciência de que o

núcleo familiar não é rompido, haja vista que a criança manterá como o elo eterno do casal, mas

sim dividido porque os pais não deixarão de ter contato e usufruir da companhia e compartilhar dos

ensinamentos necessários para o desenvolvimento dessa criança à fase adulta.

Neste novo paradigma, as leis civis foram adaptadas para reconhecer a importância de

ambos os genitores na atuação conjunta visando o desenvolvimento do menor, ainda que eles

próprios não tenham mais afinidades/interesses na vinda conjugal em comum, acentuando a

necessidade do estabelecimento de uma cumplicidade cujo objetivo é o bem-estar da criança e do

adolescente de forma prioritária, como preconiza a Constituição Federal (art. 227, caput).

A alienação parental sob o ponto de vista do adulto alienado também lhe traz amargor,

mormente que deve lidar com a nova realidade que nem sempre é a companhia do filho, bem como

trabalhar com essa carga emocional de desafeto empregada pelo ex-cônjuge que, em casos

extremos, utiliza manobras para o afastamento por completo, impondo um impacto psicológico

demasiadamente amplificado porque, segundo aponta Jorge Trindade (2017. P. 399):

No tratamento da SAP, o genitor alienado também merece cuidados especiais. Incluído no

tratamento, deve ser conscientizado de que está sendo envolvido no contexto da alienação,

requisito primeiro para dar início às mudanças capazes de romper com o círculo pernicioso

instaurado pela Síndrome.

Nesse sentido, deverá o alienado abandonar o papel que lhe foi atribuído, passando a

desempenhar uma função ativa em busca não só de sua saúde emocional, mas também da

higidez dos vínculos, principalmente visando a um desenvolvimento saudável dos filhos.

Nesse contexto, fica evidenciado os prejuízos causados pela alienação parental tanto à

criança e/ou ao adolescente vitimado, quando também ao genitor alienado, cujos impactos

psicológicos são agravados pela própria rotina e ausência de convívio com a sua prole.

4 CONSEQUÊNCIA JURÍDICA DA ACUSAÇÃO À SAÚDE DO GENITOR

ALIENADO

O risco exponencial de crimes de abusos sexuais é majorado em razão da proximidade

do convívio do menor com o seu abusador, tratando-se de delito que depende de representação da

própria vítima (ou seu representante legal), ainda mais quando se trata de um parente tão próximo

Page 10: A FALSA ACUSAÇÃO DE ALIENAÇÃO PARENTAL E OS DANOS À …uniesp.edu.br/sites/_biblioteca/revistas/20180511142541.pdf · Cecília – UNISANTA (2016). E-mail: thiago@advocaciabastos.adv.br

Edição 14 – Dezembro de 2017

como o próprio genitor do menor, cujo incesto abusivo é praticado sob a proteção do sigilo familiar.

Maria Berenice Dias (2017. p. 323), nesse articular, ressalta que “[...] O medo e a vergonha acabam

impedindo o seu reconhecimento”. Assim, são uníssonas a doutrina e a jurisprudência ao

estabelecer que a medida protetiva inicial que deve ser imposta quando se enfrenta a denúncia de

abuso sexual ao menor é o afastamento imediato do abusador e da vítima, até que hajam as

apurações dos fatos narrados perante a autoridade policial, Conselho Tutelar e/ou Ministério

Público.

Evidentemente, em se tratando de uma acusação falsa de assédio sexual partido por um

dos genitores em face do outro, aquele que é acusado tem o afastamento imediato de contatos com o

menor supostamente vitimado e os demais que componham a relação familiar, sendo instaurados

medidas administrativas (Conselho Tutelar, Delegacia de Polícia) e Poder Judiciário (Ministério

Público, Poder Judiciário) para averiguar os fatos narrados, justamente acautelando-se os interesses

da criança e do adolescente vitimado.

Sabendo-se que cerca destas 70% a 80% destas denúncias são falsas (Calçada. 2014) e

visam a prática da alienação parental e que cada vez é mais crescente essa repugnante prática

adotada tanto pela mãe quanto pelo pai do menor (são relatados a prática por ambos os genitores) e

também por terceiros próximos (avôs e avós), necessário sopesar a problemática à saúde mental do

próprio genitor acusado injustamente.

O impacto à saúde do genitor alienado é também visivelmente identificado porque deve

conviver primeiramente com a rejeição social que assombra a mera menção de ser abusador de

crianças e/ou adolescente, ainda mais quando essa prática é revelada com abuso sexual, a segunda

questão é a própria ruptura do laço familiar, alicerçada por decisões judiciais que acautelam o

interesse do menor, a terceira, sem dúvida é o tempo que, segundo Mônica Guazzelli (2015. p. 26) é

uma vitória parcial “porque a morosidade do processo recairá exclusivamente sobre o réu, mesmo

que ele seja inocente!”

Nesse contexto, não é difícil estabelecer uma rejeição familiar, não somente aquela

propositalmente imposta pelo genitor alienante, mas também daquelas pessoas que circulam o ciclo

de convivência do genitor alienado, porque se faz imprescindível estabelecer uma série de

mecanismos de autodefesa, o que gera, muitas das vezes, também uma depressão, já que a menção

deste crime bárbaro afasta as pessoas de seu convívio social.

Desta feita, não apenas crianças e adolescentes são vitimados pelas nefastas acusações

caluniosas, mas também o genitor que tem simultaneamente o afastamento do seu filho, a ausência

de defesa imediata dos fatos narrados, já que a própria perícia não é um trabalho simplório e rápido.

Como denota-se das explicações trazidas por Sandra Maria Baccara Araújo (Dias et al. 2017, p.

Page 11: A FALSA ACUSAÇÃO DE ALIENAÇÃO PARENTAL E OS DANOS À …uniesp.edu.br/sites/_biblioteca/revistas/20180511142541.pdf · Cecília – UNISANTA (2016). E-mail: thiago@advocaciabastos.adv.br

Edição 14 – Dezembro de 2017

161): “As falas acusações contra o ex-parceiro (a), é um mecanismo para destruí-lo. Incutir nos

filhos falsas memórias, faz parte da atuação do alienador na direção de sua vingança. Tais

acusações falsas, como já discutida causam problemas graves na vida do alienado e de seus filhos”.

Alexandra Ullmann (Dias et al. 2017, p. 150) defende que subsistindo “dúvida, a

criança deve continuar a conviver com ambos os genitores mesmo que a convivência seja

acompanhada por profissionais indicados pelo Juízo, isento de opiniões e influencias de qualquer

das partes”, o que faz total sentido, sendo que atualmente a estatística apontam que os crimes de

abusos sexuais relatados contra crianças e adolescentes tendem a ser praticados através de mendaz

afirmativa.

Portanto se torna evidenciado que as acusações por falso crime que visam o afastamento

da criança do genitor alienado impõem medidas desumanas porque envolvem a perniciosa prática

criminal que é repudiada desde os primórdios da humanidade contemporânea, sendo um ato mais

covarde que possa ser praticado a fim de afastar um amor puro que existem entre genitor e filhos.

5 RESPONSABILIDADES CIVIL, CRIMINAL E ADMINISTRATIVA

Como cediço, o ato de denunciar caluniosamente o genitor de um abuso sexual

praticado contra o seu próprio filho é tipificado pelo Código Penal Brasileiro no art. 339, sendo um

crime tutelado pela prática dos interesses primários da justiça, posto que se corrobora com esse

delito a instauração de procedimentos investigativos (judiciais e administrativos), cujo propósito,

sem dúvida, é o afastamento da criança e do genitor alienado. Diferencia-se, pois, da calúnia

tipificada no art. 139 do Código Penal, mormente que o núcleo deste artigo busca à dignidade da

pessoa, enquanto a denunciação caluniosa persegue a manutenção da dignidade da justiça.

De salientar que as penas impostas pela prática do crime tipificado no art. 339 do

Código Penal pode ser de 2 a 8 anos de reclusão, mais multa, não havendo causas de aumento de

pena que se apliquem aos casos análogos ao presente estudo, enquanto, o art. 139 do Código Penal

é demasiadamente mais brando, propondo uma pena que varia de três meses a um ano, e multa.

Portanto, percebe-se que a criminalização reprovada não é aquela que atinge o direito do cidadão

vítima da alienação parental (genitor ou infante), mas movimentação ineficaz dos mecanismos

judiciais que são colocados à disposição do cidadão para apuração de crimes tipificados no Código

Penal brasileiro.

Não havendo qualquer conduta criminal praticada por ato de alienação parental com

essa gravidade, a seara criminal não será instaurada. A par disso, tramita atualmente o projeto de

Lei nº 4.488/2016, de autoria do Deputado Arnaldo Faria de Sá, que propõe a criminalização da

Page 12: A FALSA ACUSAÇÃO DE ALIENAÇÃO PARENTAL E OS DANOS À …uniesp.edu.br/sites/_biblioteca/revistas/20180511142541.pdf · Cecília – UNISANTA (2016). E-mail: thiago@advocaciabastos.adv.br

Edição 14 – Dezembro de 2017

alienação parental de 3 meses a 3 anos, tendo situações de agravamento como decorre do parágrafo

2º, Incisos I, II e III.

De todo modo são poucas as esperanças que haja a criminalização de atos de alienação

porquanto o parecer da Deputada Sra. Shéridan, Relatora da Comissão de Seguridade Social e

Família já se posicionou que o sistema penal brasileiro não tem capacidade de absorver, em ultima

ratio, mais de 270 mil casos anuais que versa sobre o tema de prática de alienações parentais, o que

transparece a ausência de punibilidade dos atos narrados para os casos que não tratarem, de alguma

maneira, do abuso sexual falsamente levado ao Poder Judiciário ou Administrativo.

As sanções administrativas direcionadas à prática da alienação parental são descritas

pelo art. 6º da Lei nº 12.318/2010, em que preconiza:

Art. 6o Caracterizados atos típicos de alienação parental ou qualquer conduta que dificulte

a convivência de criança ou adolescente com genitor, em ação autônoma ou incidental, o

juiz poderá, cumulativamente ou não, sem prejuízo da decorrente responsabilidade civil ou

criminal e da ampla utilização de instrumentos processuais aptos a inibir ou atenuar seus

efeitos, segundo a gravidade do caso:

I - declarar a ocorrência de alienação parental e advertir o alienador;

II - ampliar o regime de convivência familiar em favor do genitor alienado;

III - estipular multa ao alienador;

IV - determinar acompanhamento psicológico e/ou biopsicossocial;

V - determinar a alteração da guarda para guarda compartilhada ou sua inversão;

VI - determinar a fixação cautelar do domicílio da criança ou adolescente;

VII - declarar a suspensão da autoridade parental.

Parágrafo único. Caracterizado mudança abusiva de endereço, inviabilização ou obstrução

à convivência familiar, o juiz também poderá inverter a obrigação de levar para ou retirar a

criança ou adolescente da residência do genitor, por ocasião das alternâncias dos períodos

de convivência familiar.

Verifica-se que as penas são demasiadamente brandas à gravidade, mormente que o

máximo que se alcançará, em atos extremamente graves, é a declaração de suspensão do poder

familiar, contudo, em nenhum momento leva a presente legislação sobre os fatos atuais e os efetivos

prejuízos causados à saúde do menor vitimado por alienação parental.

Sabido, por estudos especializados, que a alienação parental gera uma desconstrução da

identidade afetiva entre genitor e filho, bem como impacta negativamente na saúde mental dos

envolvidos, porquanto a criança crescerá sem uma de suas referências, mais que isso, pode

desenvolver distúrbios por se sentir rejeitada ou preterida pelo genitor que é alienado.

No mesmo compasso é o pensamento em relação ao genitor, como visto no tópico

anterior, pois o mesmo é penalizado porque não mantem convívio familiar com o menor, muitas

vezes martirizado por consequência de um ato que sequer deveria ser ventilado entre genitor e filho,

igualmente podendo lhe causar sérios transtornos psicológicos, cujo potencial de dano à saúde é

identificado.

Há que se ressaltar que a saúde psicológica das vítimas envolvidas podem ser resolvidos

em discussão de indenizações por danos extrapatrimoniais em razão da negligência, imprudência

Page 13: A FALSA ACUSAÇÃO DE ALIENAÇÃO PARENTAL E OS DANOS À …uniesp.edu.br/sites/_biblioteca/revistas/20180511142541.pdf · Cecília – UNISANTA (2016). E-mail: thiago@advocaciabastos.adv.br

Edição 14 – Dezembro de 2017

e/ou imperícia estabelecida na criação do menor e na imposição de prejuízos que serão perpetuados

em suas respectivas vidas, observando o curto prazo prescricional diante da perpetuação dos danos

causados.

Contudo, entende-se que não é meio suficiente para coibir a prática apresentada de

forma reiterada na sociedade brasileira, posto que, como trazido pela Deputada Sra. Shéridan, há

270 mil novos casos por ano, cujo risco à saúde mental da população deve ser sopesado de forma

incisiva, obstando em meios que reduzam drasticamente estes números.

CONCLUSÃO

Diante do exposto, sem a pretensão do esgotamento do tema, foi possível identificar a

validade da hipótese ventilada no presente trabalho, sendo certo que as falsas denúncias também

trazem prejuízos à saúde do genitor alienado, porquanto é subitamente retirado do convívio do

menor, impondo uma série de tratamentos médicos/jurídicos para comprovar a sua respectiva

inocência, bem como também foi possível demonstrar que as consequências jurídicas da nefasta

alienação parental praticada por meio de denunciação de falso crime.

Nesse contexto, é de salientar que pouca proteção é vislumbrada na legislação que trata

a matéria, mormente que a preocupação é a manutenção do contato e do núcleo familiar, que em

casos extremos como o abordado nesta temática, apresenta efetivo risco à saúde do menor e do

próprio genitor alienado, porquanto os transtornos decorrentes do afastamento e da ruptura do laço

familiar acrescentam uma severa pena que é perpetuada pela enternidade.

No caso da alienação parental praticada pela falsa denúncia de abuso sexual, a

persecução penal representa uma pena severa, porquanto o núcleo criminal atingido é aquele que

versa sobre a dignidade da justiça e não da integridade/dignidade física ou psicológica das pessoas

envolvidas, mas, nos demais casos em que há manipulação gravosa das crianças e dos adolescentes,

as penas são demasiadamente brandas, podendo, no máximo, ser resolvido na esfera civil por danos

extrapatrimoniais.

REFERÊNCIAS

ARAÚJO, Sandra Maria Baccara. O genitor alienador e as falsas acusações de abuso sexual. In:

Incesto e a síndrome da alienação parental, coordenado por DIAS, Maria Berenice. Incesto e a

síndrome da alienação parental. 4ª Ed. rev. ampl. atual. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2017.

BRASIL. COMISSÃO DE SEGURIDADE SOCIAL E FAMÍLIA. Parecer sobre o Anteprojeto nº

4.488/2016 de Relatoria da Deputada Shéridan. Disponibilizado em:

http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1594677&filename=Tra

mitacao-PRL+1+CSSF+%3D%3E+PL+4488/2016. Acesso em: 26/02/2018

Page 14: A FALSA ACUSAÇÃO DE ALIENAÇÃO PARENTAL E OS DANOS À …uniesp.edu.br/sites/_biblioteca/revistas/20180511142541.pdf · Cecília – UNISANTA (2016). E-mail: thiago@advocaciabastos.adv.br

Edição 14 – Dezembro de 2017

BRASIL. Anteprojeto nº 4.488/2016 de Relatoria da Deputada Shéridan. Disponibilizado em:

http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1594677&filename=Tra

mitacao-PRL+1+CSSF+%3D%3E+PL+4488/2016. Acesso em: 26/02/2018

______. Lei nº 12.318, de 26 de agosto de 2010. Dispõe sobre a alienação parental e altera o art.

236 da Lei 8.069 de 13 de julho de 1990. Disponível em:

<http:://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12318.htm>. Acesso em: 18

ago. 2017.

CALÇADA, Andreia. Perdas Irreparáveis. Alienação Parental e Falsas Acusações de Abuso Sexual,

Rio de Janeiro: PUBLIT, 2014.

DIAS, Maria Berenice. Alienação Parental: Realidade difícil de ser reconhecida. In: Incesto e a

síndrome da alienação parental. DIAS, Maria Berenice (coord) 4ª Ed. rev. ampl. atual. São Paulo:

Revistas dos Tribunais, 2017.

____. Incesto e o mito da família feliz. In: Incesto e a síndrome da alienação parental. DIAS, Maria

Berenice (coord) 4ª Ed. rev. ampl. atual. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2017.

GARDNER, Richard A. O DSM-IV tem equivalente para o diagnóstico de Síndrome de Alienação

Parental (SAP)? - Traduzido por RAFAELI. Rita. Disponível em:

http://www.alienacaoparental.com.br/textos-sobre-sap-1/o-dsm-iv-tem-equivalente. Acesso em 09

mai. 2017.

GUAZZELLI, Mônica. Falsa denúncia de abuso sexual. Revista Digital Multidisciplinar do

Ministério Público – Criança e Adolescente, ISSN nº 2237-7581. V. 1, n. 11. 2015. Disponibilizado

em

https://www.mprs.mp.br/media/areas/infancia/arquivos/revista_digital/numero_11/artigo_monic.pdf

. Acesso em 20/02/2018

LÔBO. Paulo. Direito Civil. Famílias. 3. Ed. São Paulo: Saraiva, 2010.

MADALENO, Ana Carolina Carpes; MADALENO, Rolf. Síndrome da Alienação Parental,

importância da detecção aspectos legais e processuais. 4. ed. rev. e atual. – Rio de Janeiro:

Forense, 2017.

TRINDADE. Jorge. Manual de Psicologia Jurídica para operadores do Direito. 8. Ed. Porto Alegre:

Livraria do Advogado, 2017.

ULLMANN, Alexandra. Da inconstitucionalidade do princípio da culpabilidade presumida nas

falsas acusações de abuso sexual. In: Incesto e a síndrome da alienação parental, coordenado por

DIAS, Maria Berenice. Incesto e a síndrome da alienação parental. 4ª Ed. rev. ampl. atual. São

Paulo: Revistas dos Tribunais, 2017.