Agricultura Familiar No Municipio de Sao Luis de Montes Belos

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1 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS UNIDADE UNIVERSITÁRIA DE IPORÁ WARLES RODRIGUES DE OLIVEIRA AGRICULTURA FAMILIAR NO MUNICÍPIO DE SÃO LUIS DE MONTES BELOS IPORÁ/GO 2010

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS

UNIDADE UNIVERSITÁRIA DE IPORÁ

WARLES RODRIGUES DE OLIVEIRA

AGRICULTURA FAMILIAR NO MUNICÍPIO

DE SÃO LUIS DE MONTES BELOS

IPORÁ/GO

2010

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WARLES RODRIGUES DE OLIVEIRA

AGRICULTURA FAMILIAR NO MUNICÍPIO

DE SÃO LUIS DE MONTES BELOS

Trabalho apresentado como exigência para a obtenção do

grau de licenciado no curso de Geografia da Universidade

Estadual de Goiás Unidade Universitária de Iporá.

Orientador: Marcos Antônio Marcelino

IPORÁ/GO

2010

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WARLES RODRIGUES DE OLIVEIRA

AGRICULTURA FAMILIAR NO MUNICÍPIO

DE SÃO LUIS DE MONTES BELOS

Monografia defendida no curso de Geografia da Universidade Estadual de Goiás – Unidade

Universitária de Iporá, para obtenção da qualificação do curso de Licenciatura em Geografia,

aprovada em ___/___de___, pela Banca Examinadora pelos seguintes professores:

BANCA EXAMINADORA

Orientador: Prof. Esp. Marcos Antônio Marcelino

_________________________________________

Nome

_________________________________________

Nome

_________________________________________

Nome

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a minha família que esteve presente em minha caminhada, sendo

sustentáculo para meus momentos difíceis. Papai, Mamãe e Maninha a vocês eu dedico este

humilde trabalho.

A minha companheira e amiga Jéssica a qual se fez compreensiva em meus momentos de

ausência, oferecendo-me ombros fortes nos momentos difíceis, carinho e dedicação nos

momentos de romantismo e sacanagem.

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AGRADECIMENTOS

Meu agradecimento aos “deuses” Zeus, Jesus, Alá, e todas as manifestações

divinas dos mais variadas povos e culturas que moldaram o universo dando-

me o dom da vida.

Maninha, Papai e Mamãe, lhes amo e admiro. Papai e Mamãe não

esquecerei o trabalho árduo que tiveram na criação dos filhos, sou

eternamente grato. Suas admoestações são para mim modelo a ser seguido.

Eu vos amo.

Um agradecimento a todos meus amigos em especial ao Kaibinha, Julio

César, Rogério, Fernandes ao meu orientador Marcos Antonio a todos os

professores que tive ao longo do caminho e ao time do Palmeiras por

embelezar o futebol.

Agradeço a Karl Marx pelas brilhantes idéias comunistas a qual comungo.

Por fim agradeço, à todas as novelas, aos reality shows, que por seu

conteúdo vazio me incentivaram a ir ao quarto ler um livro provavelmente

Marxista.

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Cada dia a natureza produz o suficiente para nossa carência, se cada

um tomasse o que lhe fosse necessário não havia pobreza no mundo

e ninguém morreria de fome.

Gandhi

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RESUMO

O objetivo deste trabalho é discutir sobre a agricultura familiar no município de São Luis de Montes Belos, observando que a mesma está diretamente vinculada a necessidade do capital Global. Busca-se analisar as dificuldades dos agricultores familiares em desenvolverem suas potencialidades diante da ausência de créditos que viabilizem a produção agrícola da pequena propriedade. Pretende-se também demonstrar que desde o regime de sesmarias, a necessidade nacional era/é de desenvolver a grande produção, e no estado de Goiás com o avanço do agronegócio, os investimentos diretamente destinados á pequena produção Familiar é irrisória frente às políticas de investimentos para a grande propriedade. Consideram-se ainda as formas de produção que são desenvolvidas no município de São Luis de Montes Belos e a influencia da indústria Leiteira na modificação do espaço agrário e nas formas de produção da agricultura/pecuária do município de São Luis de Montes Belos. Palavras chave: Agricultura familiar, Modo de produção capitalista, São Luis de Montes Belos.

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INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 9

1 DEBATE TEÓRICO SOBRE A QUESTÃO DA AGRICULTURA FAMILIAR ............... 11

1.1 Os Movimentos Sociais e a Luta Pela Terra no Brasil. .................................................. 15

2 A EXPANSÃO CAPITALISTA E A QUESTÃO DA AGRICULTURA FAMILIAR NO TERRITÓRIO GOIANO .......................................................................................................... 20

2.1 Políticas Públicas e Agricultura Familiar ....................................................................... 22

3 EXTRUTURAÇÃO DA AGRICULTURA FAMILIAR NO MUNICÍPIO DE SÃO LUIS DE MONTES BELOS .............................................................................................................. 25

3.1 O Sistema Produtivo da Agricultura Familiar. ............................................................... 29

3.2 A Participação da Agricultura Familiar no Município de São Luis de Montes Belos ... 33

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................... 38

REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 40

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INTRODUÇÃO

A concentração cada vez maior da população nos centros urbanos e o concomitante

esvaziamento do campo e o crescimento da população urbana, como mercado consumidor,

constituem uma das características mais significativas do processo de desenvolvimento

capitalista.

Nesse sentido a produção de alimento coloca em debate a agricultura capitalista, que

cada vez mais se torna num ramo industrial como qualquer outro, com elevado grau de

mecanização, uso de adubos, fertilizantes, inseticidas, o que requer grandes investimentos, o

que é acessível a grupos reduzidos de investidores. Esse fato levou a expropriação do

trabalhador, sua completa desvinculação da terra e de seus meios de produção,

correspondendo a sua proletarização. De acordo com Oliveira (1998, p 63)

As relações capitalistas são, portanto, relações sociais que pressupõem a troca desigual entre o capital e o trabalho, e ambos, capital e trabalho, são produtos de relações sociais iguais e contraditoriamente desiguais. São pois, relações que tem necessariamente que supor capital e trabalho assalariado.

Com esta afirmação pode-se perceber a desvalorização vivida pelo pequeno produtor

no modelo capitalista, tornando a agricultura um meio de exploração intensiva, onde o homem

é desconsiderado diante de tantas maquinas e implementos agrícolas. Os camponeses ficaram

abandonados a sua própria sorte e seus direitos de cidadão ficam esquecidos. Para Santos

(p.128):

A cidadania, que falta não é apenas urbana, mas também, sobretudo a cidadania rural, para a qual contribuem conjuntamente o mercado e o estado. O homem do campo brasileiro, em sua grande maioria está desarmado diante de uma economia cada vez mais modernizada, concentrada e desalmada, incapaz de se permitir contra as vacilações da natureza, de se armar para acompanhar os progressos técnicos e de se defender contra as oscilações.

Assim, pode-se dizer que a agricultura familiar, enfrenta vários problemas,

desencadeados pela negligência que o modelo capitalista imprimiu para o desenvolvimento do

campo. É nesse contexto, que se propõe fazer uma discussão sobre a questão da agricultura

familiar, tendo como vértice a realidade do município de São Luís de Montes Belos no Estado

de Goiás.

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Os procedimentos metodológicos utilizados para realização deste trabalho foi à análise

teórica de alguns trabalhos que retratam o assunto, tais como: Oliveira (1998), Nozoé (2006),

Alencar (1993), Moreira (1990), Melo (2006), Fernandes e Ramalho (2001), Borges (2007),

Silva (2001) dentre outros. Para complementar a pesquisa foi realizado trabalhos de campo e

entrevistas com pessoa envolvidas na agricultura familiar, assim como foi feito levantamentos

em instituições municipais e estaduais vinculados ao assunto proposto.

O trabalho, esta estruturado em três capítulos.

No primeiro capitulo trabalharemos os debates teóricos sobre a agricultura familiar e o

papel que o estado desenvolveu/desenvolvem na atuação histórica de suas políticas de

incentivo voltadas a este setor e descrevendo as origens das concentrações de renda e o

perpetuar do modelo Latifundiário.

A atuação capitalista e a maneira na qual o estado se fez/faz presente no território

Goiano será desenvolvido no segundo capitulo. Neste capitulo verificaremos que a atuação de

complexos agroindustriais a partir da década de 90 insere o Território na lógica do capital

Global, não sendo diferente, portanto do contexto Nacional na qual a mesma lógica de

incentivo ao avanço capitalista e a proteção e incentivo dos grandes produtores são de fato os

essencialmente privilegiados.

Por ultimo será analisado as características da Região de São Luis de Montes Belos e

as particularidades locais.

Nesta parte serão discutidas as dificuldades da agricultura familiar caracterizada pela

pouca tecnificação da produção. Demonstraremos as políticas de incentivo no qual estão

inseridos os pequenos produtores de São Luis e o modelo agrário do município que

atualmente esta marcada pela produção da pecuária, principalmente na atuação da produção

leiteira e uma reduzida participação da agricultura familiar no contexto local se observado o

potencial do Município estudado.

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1 DEBATE TEÓRICO SOBRE A QUESTÃO DA AGRICULTURA FAMILIAR

Para o entendimento da questão da agricultura familiar, se faz necessário a

compreensão do que se entende pela mesma. A agricultura familiar até o final do século XIX

era designada como categoria de camponês, pequeno produtor ou pequeno proprietário, no

entanto nesta pesquisa é entendida como, aquele proprietário que possui uma pequena parcela

de terras e a utiliza no cultivo para subsistência adquirindo uma renda na maioria das vezes

mínima.

Esse tema é bastante complexo e envolve alguns pontos que norteiam seu debate, tais

como: a luta de classes entre o pequeno e o grande proprietário que de forma desigual

intensifica a disparidade entre ambos, uma vez que o grande produtor teve sempre ao seu lado

o apoio do Estado através das políticas públicas, seguindo os padrões pré-determinados do

modelo capitalista. Neste sentido, pode-se afirmar que a agricultura familiar é uma atividade

negligenciada pelo capital, em detrimento da preferência pelo modelo de exportação que fica

a cargo da grande produção.

No Brasil, a histórica atuação do Estado revela esta realidade, pois as políticas

agrárias desde as Sesmarias, que distribuiu grandes extensões territoriais para poucos

proprietários na tentativa de resolver um problema de colonização das terras brasileiras que

naquele momento era posse de Portugal. Para Nozoé (2006,):

A sesmaria foi o principal instrumento jurídico utilizado no Brasil Colônia para estabelecer as distribuições de terras no território brasileiro, na época, território português por se tratar de uma colônia portuguesa. No entanto, a sesmaria se constituía cada vez mais em um instrumento muito dinâmico que se alterava de acordo com as mudanças no comando da Coroa, ou seja, no Governo. Mas de um modo geral, a sesmaria proporcionou no Brasil a constituição de grandes propriedades rurais, tendo um efeito contrário do que se tinha em Portugal, onde o referido instrumento controlador estabelecia a distribuição de terras ermas - terras retomadas nas batalhas contras os mouros, ou terras abandonadas por conta das pestes ou da migração para o meio urbano no século XIV.

A Lei da Terra foi outro instrumento jurídico que garantiu a continuação do modelo

concentrador e excludente, uma vez que garantia que somente os que tinham dinheiro podiam

ser proprietários de terra. De acordo com Alencar (1993, p 45)

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Essa lei foi, mas um dos indícios da política voltada para o interesse da participação do latifúndio, onde o trabalhador tinha a esperança de um dia poder adquirir sua terra com o dinheiro de seu suor, mas isso não passava de mera ilusão. Assim, a partir de então existia toda uma estrutura voltada para que isso não ocorresse, fortificando assim a relação dos trabalhadores assalariados. E quando nos retornamos ao Brasil de hoje cheio de contrastes pode-se entender o porquê de toda essa política de estrangulamento do camponês que não consegue ter sua terra e condições para nela produzir.

A Revolução Verde se deu com a atuação do Estado que garante através de pacotes

tecnológicos e financiamentos a concentração de terras nas mãos de grandes produtores e

automaticamente a exclusão do camponês e do trabalhador rural, promovendo profunda

transformação no modelo de produção do país: Para Graziano Neto (1985, pg.26).

A modernização significa muito mais que isso. Ao mesmo tempo em que vai ocorrendo; aquele progresso técnico na agricultura vai-se modificando também a organização da produção, do espaço, que diz respeito às relações sociais e de trabalho.O trabalho é modificado, pois a mão-de-obra é substituída pela máquina, gerando profundas transformações na produção agropecuária no país, e promovendo a intensificação do êxodo rural pelos trabalhadores substituídos pelas máquinas, migrando para a cidade em busca de novas condições de trabalho, visto, pois que nem todos conseguiam empregos. A composição e a utilização do trabalho modificam e intensificam o uso do “bóia-fria” ou trabalhador volante; a forma de pagamento da mão-de-obra é cada vez mais a assalariada; os pequenos produtores sejam proprietários, parceiros ou posseiros vão sendo expropriados, dando lugar, em certas regiões a organização da produção em moldes empresariais.

De acordo com Nozoé (2006), o problema se torna ainda mais complexo quando é

detectado a dimensões territoriais do Brasil com suas imensas terras agricultáveis, sendo mal

distribuída e contribuindo ainda mais para o aumento da concentração de terras nas mãos

daqueles que já possuíam grandes extensões.

Outro fator que merece destaque é a corrupção histórica da classe dominante com as

grilagens de terras, principalmente nas regiões Centro Oeste, Norte e Nordeste, onde já existia

a consolidação das pequenas atividades rurais praticadas por nativos, posseiros, camponeses e

pequenos produtores rurais. Como afirma Moreira, (1990, pg 58).

Tem-se no Brasil o retrato da concentração de terras como exemplo maior das desigualdades sociais no campo e suas injustiças que atingem milhões de trabalhadores rurais em detrimento de uma minoria elitizada que resultam de um processo sócio-histórico que acompanha o Brasil desde sua colonização. Iníciando com a sesmaria – instrumento legal da coroa portuguesa para a concessão de terras durante o período colonial, passando pela Lei da Terra de 1850, que consolidou as propriedades privadas no Brasil, e, por último, os processos recentes de grilagem de terras, de incorporação de propriedades por parte do capital da agroindústria, dos financiamentos e políticas públicas para benefício dos mais ricos.

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Esse fato desencadeou uma realidade de expropriação dos pequenos produtores que

perderam suas condições de sobrevivência e em decorrência, cresce o número de posseiros às

margens das grandes propriedades, a proletarização do trabalhador rural nas cidades e

obviamente o crescimento da miséria e da pobreza. Do outro lado, apresenta-se um alto índice

de concentração de terras, e de investimentos governamentais na agricultura. Nesse sentido

pode-se afirmar que a estrutura fundiária brasileira é dinâmica e está em constante

movimento, contudo, sempre no sentido de manter a tradição do latifúndio.

Este fato pode ser confirmado por Melo (2006, p. 39):

A estrutura fundiária brasileira é fruto de 500 anos de apropriação privada da terra, em detrimento do interesse público. Guarda raízes no processo histórico de ocupação do Brasil, particularmente na implantação do regime de sesmarias, que dividiu o território entre poucas famílias de confiança da Coroa portuguesa. Das sesmarias nasceu o latifúndio. A Lei de Terras de 1850 conferiu-lhe o status de propriedade privada.

O resultado do processo histórico de distribuição de terra no Brasil pode ser visto nos

dados demonstrados na Quadro abaixo.

Quadro 1

Estrutura Fundiária Brasileira em 2003 Estratos de área (ha) Nº de Imóveis % Área total (ha) % Menos de 10 1.409.752 32,90 6.638.598,60 1,60 10 a menos de 25 1.109.841 25,90 18.034.512,20 4,30 25 a menos de 100 1.179.173 27,50 57.747.897,80 13,80 100 a menos de 1.000 523.335 12,20 140.362.235,80 33,50 1.000 mais 68.381 1,60 195.673.396,40 46,80 Totais 4.290.482 100,00 418.456.640,80 100,00

Fonte: Apuração Especial do SNCR – INCRA – out/2003. In. Melo, 2006

Pode-se observar na tabela que a concentração de terras em 2003 é visível, pois as

propriedades de menos de 10 há, ocupam 1,60 % da área total de terras do Brasil, com um

numero de 1.409.752 propriedades enquanto que as maiores de 1000 há ocupam 46,80% com

68.381 propriedades. Portanto, a estrutura fundiária brasileira se consolidou num patamar de

concentração muito alto, que segundo o índice de GINI1 chegou a 0,831 em 1992 e passou

para 0,843 em 1998, ou seja, uma concentração altíssima.

No entanto a redução do número de propriedades de menos de 10 há é significante

em menos de 10 anos, assim como ocorre o crescimento das propriedades superior aos 1000 1 O índice GINI varia de zero a um, representando, respectivamente, igualdade absoluta e concentração absoluta, ou seja, se de dez pessoas, cada um possui 1 hectare, então o índice é zero, se apenas um possui 10 hectares e os demais não possuem nada, então o índice é um.

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há, o que demonstra claramente a contração de terras no Brasil, como pode ser visto nos

gráficos abaixo.

Fonte: Apuração Especial do SNCR – INCRA – out/2003. In. Melo, 2006

Fonte: Apuração Especial do SNCR – INCRA – out/2003. In. Melo, 2006

De acordo com Moreira (1990) esse crescimento da área dos grandes

estabelecimentos em conformidade com o crescimento do total de área para atividade rural no

Distribuição dos Imóveis Rurais por

Categoria em Percentual do Total de

Área

9,317,7

21,1

51,3

0,6

Minifúndio

Pequena Propriedade

Média Propriedade

Grande Propriedade

Não Classificada

Gráfico 2

Estrutura Fundiária Brasileira 1995 e 2003 em % de Área Total dos Estabelecimentos

3%

1,60%

19%18,10%

35%33,50%

43,50% 46,80%

0%5%

10%15%20%25%30%35%40%45%50%

1.995 2.003

Menos de 10 hectares

De 10 a 100 hectares

de 100 a 1.000 hectares

Mais de 1.000 hectares

Gráfico 1

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Brasil, pode ser justificado na grilagem de terras, na incorporação de terras devolutas do

Estado, na aquisição de terras pequenas por parte do capital da agroindústria, na perda de

terras para empreendimentos mirabolantes como usinas hidrelétricas e barragens de

abastecimento de água, por parte dos pequenos produtores, entre outros fatores que

contribuem para essa dinâmica fundiária brasileira. De acordo com Melo (2006,p.43).

Esses dados demonstram que o Brasil possui um dos índices mais altos do mundo em concentração da propriedade da terra. A conseqüência é uma imensa desigualdade no acesso ao trabalho e à renda. Os dados do Censo Demográfico de 2000 informam que cinco milhões de famílias rurais vivem com menos de dois salários mínimos mensais. O meio rural possui os maiores índices de mortalidade infantil, incidência de endemias, insalubridade e analfabetismo.

Outro detalhe que Melo (2006) chama a atenção é que a grande propriedade que

ocupa apenas 2 % do total de áreas e, por outro lado, está com seus majoritários 51% das

terras rurais do Brasil e esses 51% de terras classificadas como grandes propriedades possuem

também 51,4% de imóveis improdutivos, ou seja, mais de 133 milhões de hectares de terras

podem ser desapropriados para a Reforma Agrária.

Neste contexto pode-se dizer que a reforma agrária é a única forma de combater a

concentração de terra e tornar mais justa a vida no campo. No entanto, esses problemas não se

resolvem apenas com a distribuição de terras por parte do Governo, é necessário um conjunto

de políticas agrícolas voltadas para as pequenas propriedades, médias e minifúndios, uma vez

que essa falta de políticas para esses setores da agricultura pode ser considerada um dos

elementos que contribuíram para a consolidação do latifúndio na sociedade contemporânea

1.1 Os Movimentos Sociais e a Luta Pela Terra no Brasil.

Diante do exposto anteriormente pode-se afirmar que o papel do MST (Movimento

dos Sem Terra), da Pastoral da Terra e demais grupos ligados a luta pela terra, é de suma

importância na orientação política em direção a democratização do campo. De acordo com

Fernandes e Ramalho (2001, p. 02):

Nos estudos a respeito do desenvolvimento rural têm-se destacado, principalmente, as análises das dimensões econômicas através de políticas setoriais. Neste sentido, à noção de desenvolvimento rural estão associados o crescimento da agricultura capitalista, a expropriação dos pequenos produtores e o êxodo rural. Nesse processo são gerados conflitos sociais, nos quais são construídas experiências populares de

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resistência a determinadas políticas econômicas, e que são rechaçadas por instituições e pesquisadores. A luta pela terra é um exemplo desta importante forma de ressocialização dos sem-terra, que é vista, muitas vezes, como condição de impedimento ao desenvolvimento. A postura de parte dos políticos, das instituições governamentais e de pesquisadores da questão agrária é a de não reconhecer a ocupação como importante forma de acesso à terra, por meio da implantação de assentamentos rurais que, de fato, tem promovido impactos sócio-territoriais em municípios e microrregiões.No Brasil, onde a concentração fundiária é um processo histórico intocável, a luta pela terra não pode ser desconsiderada quando se discute políticas de democratização de acesso à terra. O Estado é a instituição competente para desenvolver uma política de reforma agrária, mas não tem conseguido efetivá-la. Nas últimas décadas há evidências irrefutáveis que a luta pela terra tem impulsionado as políticas compensatórias de implantação de assentamentos rurais.

No entanto para tentar impedir essa forma de luta popular, a mídia e até mesmo

órgãos governamentais, buscam descredibilitar, tais movimentos, através da mídia e de

discursos políticos levando à opinião pública notícias desvirtuadas dos acontecimentos.

Exemplos deste fato têm o governo, de Fernando Henrique Cardozo, que por meio de medidas

provisórias, criminalizava as ocupações de terras, com apoio explicito da rede Globo de

comunicações. No entanto, a resistência de tais movimentos demonstra sua força, que é

garantida pela preparação e pela experiência de luta. De acordo com Fernandes e Ramalho

(2001, p. 02):

Os sem-terra não se entregam. Mesmo com todos os obstáculos construídos na tentativa de impedir sua marcha, jamais se confessam derrotados. A cada dia, eles criam novas experiências para romper as cercas do latifúndio, do governo federal, do Poder Judiciário, da mídia.As políticas de desenvolvimento rural que eles constróem com suas práticas de luta são distintas das políticas geradas nos gabinetes a partir dos interesses dos ruralistas. No Pontal do Paranapanema, como em diversas outras regiões, os sem- terra estão imprimindo no território a dura marca da luta pela terra, para conquistarem os direitos e a dignidade. Eles elaboram idéias de desenvolvimento rural em que possam fazer parte do processo produtivo.

No contexto da luta pela terra no Brasil, o MST que surgiu durante 1º Encontro

Nacional dos Trabalhadores Rurais Sem Terra em 1984, se constitui no principal movimento

na luta pela terra. O surgimento do MST foi fruto de uma questão agrária não-resolvida no

Brasil, e foi conseqüência, também, de não existir, naquele momento, por parte do

sindicalismo oficial no campo, uma capacidade efetiva de mobilizar e de organizar os

trabalhadores rurais em luta pela terra.

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A partir de então os conflitos de classes, a luta pela terra tem um representante

organizado e devido a isso poderoso e que pode ser considerada um ícone da lutas sociais

brasileiras no combate a violência estrutural do meio rural no Brasil. Stédile (2003, p.49):

Existe no meio rural uma violência estrutural. Uma violência que decorre da estrutura da posse de terra, do poder econômico dela resultante, do controle político que os senhores das terras exercem sobre a população local. Essa violência mantém enormes contingentes populacionais condenados à miséria, à fome, à dependência, à mendicância, impede que seus filhos tenham acesso à escola, controla seus votos, sua participação política. Impede em muitas regiões do sertão semi-árido que as pessoas tenham acesso à água, como forma de mantê-los dependentes da boa vontade, do senhor das terras e das águas.

No que se refere à violência estrutural, pode se dizer que consiste na violência

causada aos pequenos trabalhadores rurais, aos posseiros, aos nativos, aos quilombolas,

durante todo o processo de consolidação da estrutura fundiária brasileira, a qual se deu de

vários aspectos: sócios, econômicos e principalmente culturais, a medida que os mesmos

foram desterritorializados.

Para Haesbaert (2004) essa desterritorialização ocorre no campo físico pela perda da

terra e no campo simbólico pela perda da referência e da identidade cultural daqueles que

perdem o contato com o espaço vivido por muitos anos e ali se fizeram parte integrante de

suas paisagens. De acordo Borges (2005, p, 12):

A desterritorialização sertaneja resultou em um intenso movimento migratório no sentido campo/cidade, o que desencadeou um crescimento urbano acelerado e, em conseqüência, uma urbanização desordenada. O sertanejo desprovido de recursos financeiros e de formação educacional, foi excluído da cidade, ocupando as áreas periféricas e sem infraestrura, além de se sujeitar aos subempregos, devido à falta de qualificação profissional, exigida pela economia urbana. Em outras palavras, os sertanejos se constituem nos deserdados da modernização, que também não têm “direito à cidade”.

Ainda de Acordo com o autor:

Nesse contexto é importante que no processo de planejamento das soluções para a questão no campo no Brasil, se pense mais que a distribuição de terras para os trabalhadores rurais. É preciso que pense na reintegração cultural, social e econômica de milhares de famílias a um espaço rural que durante muitos anos fez parte de suas vivências e hoje é algo que não lhes pertencem mais, é também algo que eles procuram com muita intensidade. Nesse sentido, acredita-se que a valorização da pequena produção e da pequena propriedade é uma forma de contribuição com trabalhador rural, dando-lhe dignidade através do seu próprio sustento.

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Pode-se afirmar que embora o processo de desterritorialização do pequeno produtor

ocorreu deste de inicio da produção do território brasileiro, o mesmo, intensifica a partir da

década de 1960, com a política modernização do campo. A partir desse momento o governo

brasileiro passa a desenvolver políticas que visa a expansão do agronegócio no país Para

tanto, cria o Sistema Nacional de Créditos Rurais, que fica responsável por reformular as

políticas de créditos no país, cria também a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária –

EMBRAPA – e a Empresa Brasileira de Extensão Rural – EMBRATER. Mas o que consolida

esse processo de modernização da agricultura no cento do país são os programas de créditos

rurais como o Programa de Cooperação Nipo-Brasileira de Desenvolvimento dos Cerrados ––

PRODECER – e o Programa de Desenvolvimento dos Cerrados – POLOCENTRO de acordo

com Coelho (2001, p. 30):

Entretanto, os dois maiores programas foram o POLOCENTRO e o PRODECER. O primeiro foi um programa bastante ambicioso, criado pelo Governo para estimular o rápido desenvolvimento e modernização da agricultura no Centro-Oeste, na região dos Cerrados e era baseado na concessão de crédito subsidiado em várias áreas selecionadas em função da existência de certa infra-estrutura (inclusive estradas vicinais e eletrificação) e calcário. A ação direta do programa iria fortalecer mais ainda essa infra-estrutura e influenciar o desenvolvimento agrícola nas áreas ao redor.

Para Borges (2007) é verdade que todos os investimentos supracitados aperfeiçoaram

a atividade agrária do Brasil, porém não se deve esquecer que eles estão vinculados ao

processo de reestruturação da economia brasileira, que consiste no fortalecimento da indústria

e intensificação da urbanização. Como afirma Gonçalves Neto (1997):

O planejamento nacional, contudo, deixa claro o caráter caudatário da agricultura em relação ao centro de decisões, localizado na cidade.(...) se o planejamento agropecuário visa promover o desenvolvimento do setor agrário, pretende, antes de tudo, assegurar que este não cause problemas ao processo de desenvolvimento como um todo, além de garantir a sua contribuição subordinada para o sucesso do projeto.

Contudo, esses programas não foram destinados aos pequenos produtores e sim aos

grandes proprietários de terra e às grandes incorporações nacionais e internacionais

representantes do capital internacional que iriam levar o produto brasileiro do agronegócio

para o exterior. De Acordo com Coelho (2001, p. 30):

O POLOCENTRO beneficiou principalmente grandes e médios produtores. Enquanto durou, foram aprovados 3. 373 projetos, em um montante de US$ 577 milhões, sendo que 81% dos estabelecimentos acima de 200 hectares receberam

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88% dos recursos do crédito e os acima de 1.000 hectares (39% dos projetos) absorveram 60% dos recursos totais do programa.

Como pode-se notar na publicação de Coelho, houve, da mesma forma que ocorreu

com a estrutura fundiária, uma concentração de recurso financeiros para o desenvolvimento

agrícola e pecuário no Brasil quando 39% dos projetos absorveram 60% dos recursos

investidos na incrementação da agropecuária para a agroindústria. Além, é claro, das

prioridades de atendimento para as propriedades de mais de 1.000 hectares.

Nesse sentido, pode-se destacar que o debate até então exposto é de suma

importância, para compreendermos a questão da agricultura familiar, no Brasil, no qual foi

possível perceber que as dificuldades que hoje enfrenta esse setor é resultado de um processo

histórico de exclusão do pequeno produtor, pela política brasileira de desenvolvimento.

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2 A EXPANSÃO CAPITALISTA E A QUESTÃO DA AGRICULTURA

FAMILIAR NO TERRITÓRIO GOIANO

A realidade exposta no primeiro capítulo não é diferente no caso da expansão

capitalista pelo território goiano. Isso se deve ao fato, de que Goiás foi e continua sendo um

referencial da política de modernização da agricultura no Brasil. De acordo com Moraes

(2005, p 13): “Os estudos contemporâneos sobre a modernização do território goiano colocam

como ênfase a modernização da agricultura vista como carro chefe das mudanças estruturais e

da renda fundiária agrícola, que inseriu a região na dinâmica do capitalismo globalizado”.

Esse fato promove um conjunto de transformações, alterando significativamente a estrutura

do território goiano. De acordo com Borges (2007, p.40):

Uma das transformações evidentes e de maior impacto deu-se na relação cidade campo, fator comum a todas as regiões inseridas no processo de modernização do setor agrário. Diante desse fato pode-se caracterizar o território goiano da seguinte forma: o campo se constitui por avançada tecnologia e um vazio demográfico, enquanto o setor urbano, símbolo do “moderno”, se configura-se em um espaço desordenado e com grande concentração demográfica. Diante desse quadro, o rural que antes era sinônimo de atraso passa a ter uma conotação de moderno e o urbano símbolo do moderno é miscigenado com o rural, proporcionado pelo então modelo híbrido de produção agrária. Em outras palavras, é para o urbano que é direcionado os deserdados da “modernização”. A cidade se enche de terra. E a terra é habitada por máquinas.

A modernização do campo coloca o Estado de Goiás no topo da importância

econômica, pois se transforma em um importante mercado consumidor de produtos

internacional, e exportador de produtos primários, o que é muito importante para a economia

do país, pois é o que matem a balança comercial brasileira em hávit. Assim, consolida a

territorialização do capital na fronteira agrícola do país. Configuração retratada após 1990

pela instalação dos complexos agroindustriais, consolidando de vez o setor agrário no modo

de produção capitalista. (BORGES 2007, p. 40)

De acordo com Estevam (2000, p. 45):

Esse processo foi baseado na introdução de tecnologia avançada no campo, que transformou a paisagem "improdutiva" do cerrado goiano num dos maiores produtores de grãos do planeta, modificando a identidade agrária do estado, com a desintegração da tradicional agricultura familiar. Esse modelo beneficiou os grandes produtores em detrimento das pequenas unidades de produção, ou seja, o campesinato.

Page 21: Agricultura Familiar No Municipio de Sao Luis de Montes Belos

21

Para Silva apud Borges (2007, p. 42) “Assim o Estado Nacional cumpre o seu papel:

o de manutenção e ampliação do poder da classe dominante no campo”. E completa

afirmando:

Este processo desencadeou um desenvolvimento desigual e contraditório no cerrado, processo dialético, resultante das novas relações estabelecidas entre homem x natureza e homem x homem para territorializar-se, se fez em detrimento à exclusão de uma parcela da população, isto é da desterritorialização do camponês e da ascensão dos grandes produtores.

Essa citação afirma o foi colocado anteriormente, pois Goiás não só acompanha o

modelo excludente brasileiro, como é representante do mesmo. Esse fato leva a adiantar

que essa estrutura é resultado de um conjunto de políticas e intenções do Estado no

processo de exploração do território brasileiro que, para Chaveiro apud Borges (2007,

p.47):

É possível encadear uma síntese das intenções políticas que perpassam todas as políticas territoriais dos anos 30 até os nossos dias, nos diversos padrões territoriais constituídos nesse ínterim: Da política do Estado Novo, passando por 50 com o desenvolvimentismo de JK; de 60 a 80 Com desenvolvimentismo graduando-se com a denominada abertura de fronteiras para o capital estrangeiro refuncionalizando partes antes destinadas a atividades econômicas desintegradas, e apresentando o milagre econômico como salvação do que se referia como uma economia dependente; e de 90 aos nossos dias, com a caracterização dos modelos de modernização da agricultura, mediante a consolidação do parque industrial brasileiro, do novo sistema de comunicação aparatado pela transição democrática e servindo a internacionalização do neoliberalismo, percebe-se o esforço do estado brasileiro, sustentados por pactos entre elites, às vezes nacional, outras vezes, dessa com a internacional, utilizar o território brasileiro para incorporar o país a uma dinâmica de uma economia internacional.

Na atualidade é possível verificar na atuação do Estado, que o mesmo, mantêm o

modelo excludente e concentrador, pois as políticas implantadas no estado beneficia

claramente a grande produção.

De acordo com uma pesquisa feita por Borges (2007), entre 2000 e 2003 o FCO

(Fundo Constitucional do Centro Oeste) investiu nos grandes empreendimentos rurais de

Goiás .R$ 832.229.600,9, conseguiu gerar 82.519 empregos; No comércio e prestação de

serviço foram investidos R$ 107.107.381,97 para gerar apenas 8.510 empregos: Na indústria

o investimento foi de R$ 362.649.050,41 gerou 47.468 empregos, sendo em média de R$

7.639,86. Já o FCO PRONAF(Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar)

com simplesmente R$ 46.358.031,61 gerou 29.357 empregos.

Page 22: Agricultura Familiar No Municipio de Sao Luis de Montes Belos

22

De forma sintetizado o quadro abaixo demonstra que embora os investimentos do

PRONAF, que esta ligada a pequena produção, seja menor, os gastos com a geração de

emprego também é menor, o que demonstra que as políticas desenvolvidas pelo Estado

prioriza a grande produção e não a geração de emprego, que propagado pela política goiana.

Quadro 2: Média de Recursos Investidos Por Intermédio dos Programas do FCO e do Banco do Povo por Empregos Gerados – 2001 a 2003

Tipo de Investimento Total Investido em R$ Empregos Gerados Média de R$ p/ emprego gerado

FCO PRONAF 46.358.031,61 29.357 1.579,11 FCO Rural 832.229.600,98 82.519 10.085,31 FCO Indústria 362.649.050,41 47.468 7.639,86 FCO Comércio/Serviço 107.107.381,97 8.510 12.586,06 Banco do Povo 73.573.742,35 84.559 870,08 Fonte: Revista Economia & Desenvolvimento, Ano VII, nº 21, out/dez 2005, in Borges (2007)

É neste contexto, que se pretende analisar a questão da pequena propriedade e da

agricultura familiar no Município de São Luiz dos Montes em Goiás, na tentativa de

compreender essa atividade na lógica brasileira e goiana.

2.1 Políticas Públicas e Agricultura Familiar

Na atualidade a atuação das políticas públicas brasileira, de forma significante, vem

intervindo, para melhor, na agricultura familiar. Como exemplo deste fato pode ser

considerado o PRONAF (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar) que

por meio de algumas vias como o PAA (Programa de Aquisição de Alimentos), o PNAE

(Plano Nacional de Alimentação Escolar), o FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da

Educação), inseriram a pequena produção no mercado consumidor, principalmente no que se

refere à aquisição de alimentos por parte do governo

Para a compreensão da importância das políticas supracitadas, para a agricultura

familiar no Brasil, segue no quadro abaixo o significada de ambas. O quadro das etapas do

PRONAF encontra-se em anexo.

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PRONAF O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – PRONAF é um programa do Governo Federal criado em 1995, com o intuito de atender de forma diferenciada os mini e pequenos produtores rurais que desenvolvem suas atividades mediante emprego direto de sua força de trabalho e de sua família. Tem como objetivo o fortalecimento das atividades desenvolvidas pelo produtor familiar, de forma a integrá-lo à cadeia de agronegócios, proporcionando-lhe aumento de renda e agregando valor ao produto e à propriedade, mediante a modernização do sistema produtivo, valorização do produtor rural e a profissionalização dos produtores familiares.

a) Para os produtores:

I. Obtenção de financiamento de custeio e investimento com encargos e condições adequadas a realidade da agricultura familiar, de forma ágil e sem custos adicionais; II. O aumento de renda mediante melhoria de produtividade, do uso racional da terra e da propriedade; III. Melhoria das condições de vida do produtor e de sua família; IV. Agilidade no atendimento;

V. Para os produtores que honrarem seus compromissos, garantia de recursos para a safra seguinte, com a renovação do crédito até 5 anos, no caso de custeio das atividades.

b) Para o país:

PAA Tem por objetivo incentivar a agricultura familiar, compreendendo ações vinculadas à distribuição de produtos agropecuários para pessoas em situação de insegurança alimentar e à formação de estoques estratégicos, sendo constituído por instrumentos que permitem a estruturação e o desenvolvimento da agricultura familiar. é acionado após a colheita, no momento da comercialização, quando o esforço do pequeno produtor precisa ser recompensado com a venda da sua produção a preço justo, de forma a remunerar o investimento e o custeio da lavoura, incluindo a mão-de-obra, e lhe permita ter recursos financeiros suficientes para a sobrevivência de sua família com dignidade. Considerado como uma das principais ações estruturantes da estratégia Fome Zero, o PAA constitui-se em mais um mecanismo de apoio à agricultura familiar, a exemplo do Programa Nacional de Agricultura Familiar - Pronaf e do Proagro Mais, seguro específico para os agricultores familiares. Instituído pelo Art. 19 da Lei n. 10.696, de 02 de julho de 2003, e regulamentado pelo Decreto n. 6.447, de 07 de maio de 2008, o PAA tem como finalidade precípua o apoio aos agricultores familiares, por meio da aquisição de alimentos de sua produção, com dispensa de licitação. Os alimentos adquiridos diretamente dos agricultores familiares ou de suas associações e cooperativas são destinados à formação de estoques governamentais ou à doação para pessoas em situação de insegurança alimentar e nutricional, atendidas por programas sociais locais. A operacionalização do PAA é simples, pois a compra é feita diretamente pela Conab, por preço compensador, respeitando as peculiaridades e hábitos alimentares regionais e a situação do mercado local.

O PNAE Também conhecido como programa da merenda Escolar, consiste na transferência de recursos financeiros do Governo Federal, em caráter suplementar, aos estados, Distrito Federal e municípios, para a aquisição de gêneros alimentícios destinados à merenda escolar. O mesmo teve sua origem na década de 40. Mas foi em 1988, com a promulgação da nova Constituição Federal, que o direito à alimentação escolar para todos os alunos do Ensino Fundamental foi assegurado

O FNDE é uma autarquia do Ministério da Educação que tem como missão prover recursos e executar ações para o desenvolvimento da educação, visando garantir ensino de qualidade a todos os brasileiros. O FNDE tem como valores a transparência, a cidadania e o controle social, a inclusão social, a avaliação de resultados e a excelência na gestão. Entre seus principais desafios estão a eficiência na gestão do salário-educação (maior fonte de recursos da educação básica), na gestão dos programas finalísticos e nas compras governamentais, além da busca permanente de parcerias estratégicas e do fortalecimento institucional. Os recursos do FNDE são direcionados aos estados, ao Distrito Federal, aos municípios e organizações não-governamentais para atendimento às escolas públicas de educação básica. Em 2010, o

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24

orçamento previsto é de cerca de R$ 26 bilhões. Entre as suas ações mais importantes estão o Programa Nacional de Alimentação Escolar, o Programa Nacional do Livro Didático, o Programa Dinheiro Direto na Escola e os programas de transporte escolar. O FNDE também libera recursos para diversos projetos e ações educacionais, como o Brasil Alfabetizado, a educação de jovens e adultos, a educação especial, o ensino em áreas remanescentes de quilombos e a educação escolar indígena.

Fonte: www.mec.br

De acordo com o exposto no site da CONAB (Companhia Nacional de

Abastecimento) http://www.conab.gov.br/:

A aquisição dos produtos oriundos da agricultura familiar na hora oportuna, por preço compensador, trazendo segurança e incentivo para o pequeno agricultor, que passa a planejar suas atividades pela perspectiva de um horizonte maior de previsibilidade. A partir desta ação de compra do governo federal, outros objetivos são delineados.

Nesse sentido pode-se dizer que as políticas são instrumentos essenciais para o

fortalecimento da agricultura familiar, pois contribui consideravelmente para o ganho do

produtor. No entanto, outros fatores entravam seu maior beneficio como a falta de órgãos ou a

incompetência dos existentes para dar assistência ao pequeno produtor, isto porque a grande

maioria dos mesmos não tem se quer a idéia de existência e significado de tais programas.

Outro detalhe referente ao assunto é a burocratização dos financiamentos, que

embora possua capital para o investimento, não é acessível para os que verdadeiramente

necessitam, fato que poderia ser intermediado por órgãos de assistência ao pequeno produtor.

A agricultura familiar é de extrema importância para economia, seja de qualquer

país. Para se ter uma idéia da participação da produção da agricultura familiar na economia

brasileira, veja dados da Conab, dispostos no seu site. http://www.conab.gov.br/

A agricultura familiar gera mais de 80% da ocupação no setor rural e responde no Brasil por sete de cada 10 empregos no campo e por cerca de 40% da produção agrícola. Atualmente a maior parte dos alimentos que abastecem a mesa dos brasileiros vem das pequenas propriedades. A agricultura familiar favorece o emprego de práticas produtivas ecologicamente mais equilibradas, como a diversificação de cultivos, o menor uso de insumos industriais e a preservação do patrimônio genético. Em 2009, cerca de 60% dos alimentos que compuseram a cesta alimentar distribuída pela Conab originaram-se da Agricultura Familiar.

Diante deste contexto, no terceiro capítulo será discutida a questão da agricultura

familiar, no município de São Luis de Montes Belo, no qual será avaliada a sua estruturação e

sua inserção na política agrária brasileira e por conseqüência goiana.

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25

3 EXTRUTURAÇÃO DA AGRICULTURA FAMILIAR NO MUNICÍPIO

DE SÃO LUIS DE MONTES BELOS

O município de São Luis de Montes Belos está situado no Centro Goiano, na

microrregião de Anicuns, a 120 km de Goiânia, Mapa (1).

São Luis de Montes Belos teve sua criação em 1953, cinco anos depois de ter-se

tornado distrito de Barreirinho, então pertencente ao município da cidade de Goiás, podendo

assim ser considerada uma cidade jovem, se considerando o período de emancipação.

Atualmente, no imaginário da população local e regional, se tem uma idéia que o

município passa por um rápido crescimento populacional e econômico. No que se refere à

questão populacional, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE, esse

crescimento atingiu a casa de 6.17% de 1980 até 2007 quando a população que era de 25.228

habitantes chegou a 26.784 habitantes.

Outro fator que se percebe na dinâmica populacional é que houve nesse período um

movimento migratório significante na direção campo – cidade, como demonstra o quadro

abaixo:

POPULAÇÃO RESIDENTE POR SITUAÇÃO DE DOMICILIO

ANO TOTAL URBANA RURAL

1980 25.228 16.561 8.667

2007 26.784 23.439 3.345

Fonte IBGE: Censo 2007, adaptada pelo autor.

Algumas características físicas determinam a ocupação e o uso do solo no município,

como é o caso da estrutura geológica que possui o relevo configurado da seguinte forma: 50%

da área ondulado se constituindo em área de elevado desgaste pelas forças exógenas, 30% de

área plana, se constituindo em áreas de sedimentação, 20% de região ondulado, se

constituindo em relevo de rochas intrusivas resistente aos processos intempéricos, como é o

caso do granito.

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Grande parte da área plana e ondulada é ocupada pela atividade pecuária e em menor

escala pela agricultura, onde predomina a agricultura tradicional, tendo em vista que a

agricultura moderna não é uma referência no município. A região mais elevadas, pelo difícil

acesso e uso de máquinas, é ocupada por pastagem e reservas de vegetação natural, como

pode ser percebida no mapa de uso da terra do município, com destaque a atividade da

pecuária extensiva.

Outro fator natural do município de grande relevância para ocupação e uso do solo é

a hidrografia que é bastante rico, como pode ser visto no mapa supracitado. Na sua grande

maioria as atividades agrícolas de produção familiar estão localizadas próximas aos cursos

d’água, por se constituir em solos mais profundos e úmidos, que o torna mais férteis,

principalmente pela riqueza em matéria orgânica, decomposta com maior rapidez pela

umidade que acelera a ação dos microorganismos decompositores.

No que se refere à vegetação, o mapa denuncia um grande impacto ambiental, tendo

em vista os poucos pontos de cerrado e mata ciliares, representados no mapa. O mesmo ainda

revela que a atividade agrícola na região é irrisória, pelos poucos pontos apresentados no

mapa. Assim, como foi afirmado anteriormente e que pode ser visto claramente no mapa, a

pecuária ocupa a imensa maioria do município, haja visto a área de pastagem.

A questão ambiental é um problema eminente no município, que devido a ausência

de fiscalização, caracteriza-o como expressamente degradado, ocorrendo, portanto a

compactação do solo, desmatamento de áreas de preservação permanente, desmatamento de

matas ciliares e o concomitante assoreamento de cursos d’água.a figura seguinte:

Figura: 01 assoreamento do córrego São Luis. Fonte: Oliveira, W.R Set/2010

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29

3.1 O Sistema Produtivo da Agricultura Familiar.

As relações de trabalho no município de São Luis de Montes Belos são descritas por

Rodrigues (2003 pg. 86) como “sistema diversificado de subsistência: sistema integrado

agricultura-pecuária; sistema especializado em pecuária leiteira; sistema especializado em

agricultura intensiva.”

O enfoque do trabalho será direcionado a relação de trabalho do “sistema

diversificado de subsistência”, por ser predominante no município de São Luis de Montes

Belos, sendo que para fazer uma analise das outras relações de trabalho, seria necessário um

redirecionamento do trabalho e um maior aprofundamento nestes aspectos citados.

Portanto segundo o autor o sistema diversificado de subsistência “caracteriza-se por

um processo de maior diversificação, dedicando-se a uma multiplicidade de atividades”, como

a combinação de produção leiteira e a pequena agricultura, sendo este, o modelo

predominante no município.

Para compreender a lógica desse modelo foi feito um trabalho de campo na

propriedade do Senhor José Alves de Oliveira, que produz arroz, feijão, frango, mel, suínos e

outros, foi feita também, uma entrevista com o produtor, como pode ser visto no diálogo entre

o pesquisador e o Sr. José Alves:

- Na atualidade o senhor produz na sua propriedade?

- Uai aqui agora eu tô produzino aqui é só aves mesmo, suínos, e a pequena

produção de ovos, e tem a, tem a apicultura tamém né. Produz pouco tamém mas já ajuda um

pouco.

- E onde o Sr comercializa os produtos?

- É pra são Luis mesmo.

- O Sr não produz leite.Por qual motivo?

- Uai um dos grande motivo é, é aquele né, cê, não tem uma certeza uma segurança

dum, dum preço do leite né cê, começa entregar ele num valor hoje, depois ele já abaixa e a

ração, o trato do gado vai só subino não abaixa tamém ai como diz, ai agente não consegue

trabalhar com o leite, ez paga ele num preço muito ruim.

De acordo com a entrevista, pode-se entender que o modelo diversificado de

produção é uma forma de se precaver, pois quando um produto não está valorizado no

mercado, outro pode recompensar a arrecadação, mas mesmo aquele que não se encontra

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30

valorizado serve como complemento do outro, já que o ganho da agricultura familiar é

pequeno.

A produção leiteira como já citada anteriormente pelo senhor José Alves como não

atrativa economicamente é demonstrada também pelo Senhor Werley Candido de Jesus, que

além de não promover a venda de produtos na feira local, não destina a produção de leite para

a agroindústria Laticínios Morrinhos (LEITBOM), destinando sua produção de queijo para o

município de Palminópolis Goiás. Para compreender tal realidade foi realizada uma entrevista

com o mesmo a qual resultou no diálogo a seguir.

- O que Senhor pode comentar prá gente sobre sua produção de queijo? Por que você

acha melhor produzir o queijo atualmente?

- uai o queijo eu acho que é assim uma forma, forma mais rentável prá gente que é

um pequeno produtor né e tem apenas dez vaquinhas e to ai com seis, sete paridas, então

varia ai de quarenta a cinqüenta litros de leite prá baixo né, não passa disso, então é uma

forma que dá pra mim trabalhar na propriedade eu vou ter um pouquinho mais de trabalho

né mais eu to aqui pra isso mesmo né.

- E quantos hectares você tem?

- É cinco, cinco hectares

- O senhor produz queijo só pro município de São Luis ou algum outro município

também?

- Não eu vendo aqui no município né pras pessoas pros vizinhos, todo mundo

compra o nosso queijo mais, mais eu tenho uma freguesia fora do município tamém, no

município de Palminópolis.

- Essa produção que você destina para palminópolis é uma produção Grande?

- é uma produção Grande sim, até eu não consigo, a demanda lá é um pouco maior,

é eu não consigo abastecer umas padarias lá, porque em virtude de palminópolis te uma

associação mais adiantada do que a nossa, nós também pretendemos chegar, o nosso ideal é

esse, mas ainda estamos num patamar menor, é então lá o leite que eles comercializam é, tem

um preço melhor, então o produtor de lá, num, num, num, se adequara a fazer queijo, ele

prefere vender o leite, e eu entro nessa brexa ai eu abasteço as padarias lá.

- E além do queijo você produz mais alguma outra coisa, pra complementar essa

renda familiar.

- Sim além de, do queijo, agente aproveita o Soro né, agente engorda os porcos só

mesmo pra, pra, só mesma pra, pra, num sobra muito pra vender mais prá subsistência.

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Agente tem o porco, tem sempre o porco gordo no chiqueiro, tem tamém, tem as

galinhas, ovos, agente sempre vende frango tamém.

- Qual é problema hoje pra agricultura familiar?

- A agricultura familiar agente barra, justamente nisso ai, a as coisas hoje, o leite

por exemplo ele tem mais valor, quem tem grande volume, com agente tem pouco, volume, é

por isso essa é a grande importância da associação no meu ponto de vista.

- Qual é a verdadeira importância da associação?

- Isso se ocê tive quantidade agente pode ter além de quantidade e qualidade a

conseqüência é o melhor preço.

No que se refere à questão do leite dois pontos são perceptíveis nas entrevistas o

primeiro se refere, a criatividade do produtor em driblar as dificuldades da produção, o qual

produz queijo e busca mercado em outro município, onde o preço do leite é melhor e não é

compensativo a produção de queijo. Por outro lado este fato revela a importância do

associativismo para a pequena produção, fato que percebido pelo próprio produtor, como

pôde ser visto no final da entrevista.

O segundo ponto, é que a, que contradição do levantamento feito por Rodrigues

(2005, p.89) que afirma que:

Há indicações bastante claras de que a produção leiteira tende a se tornar uma estratégia produtiva dominante entre os produtores familiares de Goiás. Este processo está relacionado tanto a dificuldade de ingresso no mercado da lavoura tecnificada, quanto na forte expansão de agroindústrias processadoras de leite na região.

Esse fato pode ser justificado pelo o controle de preço do leite, que é comandado

mundialmente pela Nestle que detem o monopólio comercial e também pela necessidade de

tecnificação da produção, que para a grande maioria dos produtores é impossível, dado o

preço de investimento. Essa necessidade de tecnificação pode ser entendida na fala do

superintendente da empresa, laticínios Morrinhos (LEITBOM), Juscelino Oliveira, citada por

Rodrigues (2003. p.132):

Assim, para os produtores que entregam até novecentos litros de leite em média por dia, o preço pago é de R$ 0,23 por litro; já aqueles que produzem entre novecentos e noventa e nove litros de leite por dia, o preço atual é de R$ 0,27; por fim aqueles que produzem mais que três mil litros de leite diariamente receberão em maio R$ 0,32 por litro.

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32

Ainda sobre esta questão, pode-se considerar o fator climático, pois em Goiás, há um

longo período de estiagem, que acarreta a carência de pastagem e o gado precisa ser

confinado, o que onera a produção do leite, que não é compensado pelo preço pago pelos

laticínios.

Outra atividade desenvolvida pelo Sr. José Alves é a participação na lavoura

comunitária, que segundo ele é mais compensativo do que produzir individualmente, tendo

em vista a parceria com outros produtores e órgãos como a prefeitura e Emater, que facilitam

a produção e reduz gastos. O dialogo abaixo revela detalhes desta atividade.

- O senhor pode nos falar sobre a lavoura comunitária? O que vocês produzem lá? - Uai a lavoura comunitária nossa por enquanto nós tamos produzino por enquanto

só a produção de milho mesmo. - São quantos associados?

- Nos somos vinte associados. la da a média de produção de 80 90 sacas por cada

colheita que agente faiz anual né.

- E a parceria é com o município? Com o estado?

- Esse ano, de quer dizer de dois ano pra cá né, nois teve uma sorte grande né, por

que a parceria com o município também foi grande né, que antes era mais memo só com o

estado. Nóis temos uma parceria hoje agora com o município aqui que eles vem ajudando

com o preparo do solo né,

- E a Emater? No caso?

- É no caso é Emater e juntamente a prefeitura também né. Na parte de aragem esses

trem né a prefeitura ta entrano e ta ajudano né. E tem a parceria que vem do governo que é

da metade dos insumos, metade dos adubo no caso eles pagam pra gente, mas seno que

agente depois devolve 2% na OVG pra ese dá pras pequenas pessoa.

- Vocês tem que devolver uma quantia depois?

- É é depois da colheita 2% nois devolve pra eles NE

O que pode ser entendido com essa entrevista é que, o sistema comunitário ao qual se

insere o Sr. José Alves, é exemplo do que foi discutido no capítulo anterior, quando foi

imposto a parceria e ajuda de políticas públicas de incentivo a pequena produção. A prefeitura

contribui com o maquinário, o Estado com os insumos e a EMATER com a orientação, o que

facilitou a produção, pois todos os associados, não condições de adquirir maquinário, de

adquirir os insumos e nem possuem técnicas de produção de otimize a produção

Page 33: Agricultura Familiar No Municipio de Sao Luis de Montes Belos

33

3.2 A Participação da Agricultura Familiar no Município de São Luis de Montes Belos

A estrutura da pequena produção agrícola de São Luis de Montes é tradicional,

basicamente produz arroz, milho, e feijão, que é a base alimentar da família. O milho é um

produto de extrema importância para o sistema diversificado de subsistência, pois consiste no

principal alimento dos animais, principalmente das galinhas e do porco e do gado, no período

de estiagem, atividades complementares, no sistema de produção supracitado. A importância

do milho é demonstrada o quadro abaixo, quando em 2007 a produção superou em 150% a de

arroz, base alimentar da família brasileira.

PRODUTO QUANTIDADE PRODUZIDA ARÉA COLHIDA

Arroz em casca 170 toneladas 120 hectares

Milho (em grãos) 2.000 toneladas 500 hectares

FONTE: IBGE, Produção agrícola municipal, censo 2007.

No que se refere à forma de produção, o modelo também é tradicional,

predominantemente manual, também se destacado o uso do animal como ferramenta de

trabalho, como demonstram a figuras de trabalho manual e uso do animal abaixo:

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34

Figura 02: pratica de trabalho de forma manual Fonte: OLIVEIRA. W. Rodrigues

Figura 03: pratica de trabalho com uso de força animal Fonte: OLIVEIRA. W. Rodrigues

Page 35: Agricultura Familiar No Municipio de Sao Luis de Montes Belos

35

A comercialização do excedente, que é pouco, pois a prioridade é produzir a

alimentação, é feito no próprio município, para atravessadores ou diretamente para os

consumidores através de feiras semanais, que ocorrem em São Luis de Montes Belos e

municípios vizinhos, como Firminópolis, Turvânia, Aurilândia e Sanclerlandia.

Tais feiras geralmente são bastante movimentadas, como demonstra a figura 4,

oportunidade para bons negócios, no entanto, a concorrência é grande, pois participam, além

dos produtores da região, comerciantes, atravessadores, que adquire produtos no CEASA e

vende com uma boa margem de lucro nestas localidades. O gráfico abaixo demonstra a

participação de feirantes:

Figura 04: Feira dominical de São Luis de Montes Belos Fonte: OLIVEIRA, W.R Out/2010

Comercio na Feira Livre de São Luís de Montes Belos Fonte: Levantamento e Elaboração do Autor.09/2010.

33%

49%

18%

Feirantes Agricultores/Produção Local

Feirantes Agricultores/Produção de Outros Municipios

Feirantes Não Agricultores/ Produtos Ceasa

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36

Como pôde ser visto, o numero de produtores de outros locais superam, os

produtores locais. Na pesquisa feita, os produtores locais se queixam dos impostos pagos para

o lote individual na feira como também as burocracias Sanitárias para comercializarem

produtos alimentícios como a Carne de Suínos, ou o Mel nos mercados da área urbana.

Para os consumidores a concorrência não é uma desvantagem, pois além de segurar o

preço, os produtores locais não produzem tudo que necessário para o consumo local. Como

exemplo, pode ser considerado a banana, um produto escasso no município, produzida em

Silvolândia, destinada para o CEASA em Goiânia nas feiras da região.

É importante ressaltar que a comercialização na feira é diversificada, ovos, verduras,

legumes, frango caipira, guarirobas, rapaduras, queijos, pequi, conservas de pequi, pimenta,

farinha de mandioca de milho, polvilho, bananas e outros, no entanto, nota-se que há uma

especialização de bancas na comercialização de determinados produtos, conforme demonstra

a figura 5 de um feirante local, o Senhor Jordino Ferreira Gomes de Souza que é especializado

em comercializar Rapadura e farinha de mandioca, queijo e polvilho.

O que se pode perceber durante a pesquisa de campo, é que as bancas que

comercializam uma maior diversidade de produtos, são as dos produtores locais e da região e

aquelas que vendem apenas um ou dois produtos são dos atravessadores que compram o

produto no CEASA e revendem nas feiras, como é caso da banana.

Figura 04: Agricultor e feirante em São Luis de Montes Belos. Fonte: OLIVEIRA, W.R Nov/2010

A venda dos produtos sem nota fiscal se torna cada dia mais difícil segundo o que se

observa nas conversações com os produtores, portanto a forma que eles encontram de fazer a

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venda principalmente de Porcos, Frangos e Ovos é feita no Varejo por meio de indicações de

familiares e amigos que cooperam para a comercialização destes produtos.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O que se pode perceber durante esta pesquisa é que há carência de informações dos

produtores, os quais, em sua grande maioria desconhecem os programas de governo que

atuam em benefício da agricultura familiar, o que explica a baixa procura aos órgãos

competentes, como o Banco do Brasil, a Caixa Econômica dentre outros. Apenas 38% dos

produtores ligados a agricultura familiar são inseridos no PRONAF. A parceria entre

prefeitura e produtores é precária, na qual a compra de alimentos pela prefeitura é insuficiente

para o abastecimento da merenda escolar. Não há uma preparação técnica desejável para a

otimização da produtividade. As associações existentes são amadoras e despreparadas para o

acompanhamento da realidade do setor.

Nesse sentido, pode-se afirmar que as dificuldades da agricultura familiar no

município de São Luís de Montes Belos, são mais internas do que externas. Embora o setor

ainda não receba atenção necessária por parte do poder público, as condições atuais, como foi

visto anteriormente, é bem melhor do que em outros municípios, o problema que também é

estrutural, é a burocratização e a incompetência dos órgãos responsáveis pelas informações e

formações dos produtores e agentes assistencialistas, que dificultam o acesso aos benefícios,

atualmente implantados.

Outro fator, propiciado pela pesquisa e que merece destaque, é a resistência e a

simplicidade dos produtores do município, que mesmo com as dificuldades encontradas, se

mantém na profissão. De acordo com Borges (2010):

O pequeno produtor resiste, mais do que pela necessidade e pela imposição, o que é uma realidade, é pelo o amor ao estilo de vida, é pelo sentimento de pertencer ao lugar, é olhar o outro e se sentir igual, é se sentir em casa. É entendo esse sentimento, que as políticas públicas poderiam contribuir de verdade. É conhecendo que se entende é entendendo que se respeita é respeitando que se contribui.

Esta resistência é fruto do vinculo com a terra, que demonstra o desejo de

emancipação do seu trabalho e encontrar uma perspectiva de produção que possa o manter no

local onde o homem do campo realmente pode desenvolver suas atividades que é a produção

tanto agrícola como pecuária.

Assim diante dos dados expostos é necessário ressaltar a importância de se optar por

investimentos na agricultura familiar que é fonte de trabalho e renda para o mercado local e

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como afirma os dados da CONAB, “gera mais de 80% da ocupação no setor rural”

demonstrando sua relevância para a estratégia de empregos e alimentação no espaço local e

nacional

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REFERÊNCIAS

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