Artigo Edison Macedo

17
1 UM ENFOQUE SOBRE A VALORIZAÇÃO DOS PROFISSIONAIS E DAS PROFISSÕES DO SISTEMA CONFEA/CREA Edison Flavio Macedo Engenheiro eletricista, professor universitário, ex-presidente do Crea/SC e ex-conselheiro federal, atual Gerente de Programas e Projetos do Confea. SQN 309 – Bloco K – Ap. 605 – CEP: 70755-110 - Brasília - DF – Brasil - Tel.: (+55 61) 3298.0304 – E-mail: [email protected] rg.br. RESUMO Os integrantes do Sistema Confea/Crea sempre discutem em seus eventos a importante questão da valorização profissional. Na maior parte das vezes essa discussão se limita ao enfoque da remuneração profissional, quer seja ela o salário dos empregados, quer seja o honorário dos autônomos. Este texto tenta abordar a questão também sob outros ângulos. E vai buscar inspiração nos trabalho de Jaime Pusch sobre uma Política de Valorização Profissional, e nas contribuições de Enio Padilha sobre “as cinco condições fundamentais indicativas da verdadeira valorização profissional”. Antes disso, entretanto, cogita do próprio significado dos termos envolvidos, das disposições capituladas no Código de Ética Profissional e nos fundamentos que podem ser encontrados no Código de Ética do Cidadão, que é a Constituição Federal de 1988. Ao final, chega a uma tríplice indagação: o que o profissional pode fazer por sua própria valorização? E que contribuições o Sistema poderia dar à valorização de seus integrantes? E os governos de vários níveis, teriam eles algum compromisso com a valorização dos principais agentes de seu desenvolvimento? Como se vê, é um tema que perpassa, e é perpassado, por todos os demais assuntos que serão discutidos no transcurso dos congressos nacional, estaduais e seus eventos precursores, em 2010. Tal a importância do tema que o Confea, para discuti-lo nacional e organizadamente, incluiu em seu Portfólio de Programas e Projetos 2009 um projeto específico.  Palavras-chave 1. Valorização Profissional; 2. Sistema Confea/Crea; 3. Sistema de trabalho profissional; 4. Mercado de trabalho profissional; 5. Desenvolvimento sustentável. I. INTRODUÇÃO A definição dos termos: - Como dizia Voltaire “ posso discutir qualquer assunto, desde que, preliminarmente, se definam os termos ”, por isso começaremos este texto com algumas definições de HOUAISS sobre valor, valorizar, valorizaçã o e profissional.  - Valor: medida variável de importância que se atribui a um objeto ou serviço necessário aos desígnios humanos e que, embora condicione o seu preço  monetário, freqüentemente não lhe é idêntico; qualidade humana de natureza física, intelectual ou moral, que desperta admiração ou respeito; capacidade de satisfazer necessidades; utilidade, préstimo, serventia; qualidade do que alcança a excelência, do que obtém primazia ou dignidade superior.  - Valorizar : dar valor, importância a (algo, alguém ou a si próprio) ou reconhecer-lhe o valor de que é dotado.  - Valorização : ato ou efeito de valoriza r(-se)

Transcript of Artigo Edison Macedo

  • 1

    UM ENFOQUE SOBRE A VALORIZAO DOS PROFISSIONAIS E DAS PROFISSES DO SISTEMA CONFEA/CREA

    Edison Flavio Macedo Engenheiro eletricista, professor universitrio, ex-presidente do Crea/SC e ex-conselheiro federal, atual Gerente de Programas e Projetos do Confea. SQN 309 Bloco K Ap. 605 CEP: 70755-110 - Braslia - DF Brasil - Tel.: (+55 61) 3298.0304 E-mail: [email protected].

    RESUMO

    Os integrantes do Sistema Confea/Crea sempre discutem em seus eventos a importante questo da valorizao profissional. Na maior parte das vezes essa discusso se limita ao enfoque da remunerao profissional, quer seja ela o salrio dos empregados, quer seja o honorrio dos autnomos. Este texto tenta abordar a questo tambm sob outros ngulos. E vai buscar inspirao nos trabalho de Jaime Pusch sobre uma Poltica de Valorizao Profissional, e nas contribuies de Enio Padilha sobre as cinco condies fundamentais indicativas da verdadeira valorizao profissional. Antes disso, entretanto, cogita do prprio significado dos termos envolvidos, das disposies capituladas no Cdigo de tica Profissional e nos fundamentos que podem ser encontrados no Cdigo de tica do Cidado, que a Constituio Federal de 1988. Ao final, chega a uma trplice indagao: o que o profissional pode fazer por sua prpria valorizao? E que contribuies o Sistema poderia dar valorizao de seus integrantes? E os governos de vrios nveis, teriam eles algum compromisso com a valorizao dos principais agentes de seu desenvolvimento? Como se v, um tema que perpassa, e perpassado, por todos os demais assuntos que sero discutidos no transcurso dos congressos nacional, estaduais e seus eventos precursores, em 2010. Tal a importncia do tema que o Confea, para discuti-lo nacional e organizadamente, incluiu em seu Portflio de Programas e Projetos 2009 um projeto especfico.

    Palavras-chave 1. Valorizao Profissional; 2. Sistema Confea/Crea; 3. Sistema de trabalho

    profissional; 4. Mercado de trabalho profissional; 5. Desenvolvimento sustentvel.

    I. INTRODUO A definio dos termos:

    - Como dizia Voltaire posso discutir qualquer assunto, desde que, preliminarmente, se definam os termos, por isso comearemos este texto com algumas definies de HOUAISS sobre valor, valorizar, valorizao e profissional.

    - Valor: medida varivel de importncia que se atribui a um objeto ou servio necessrio aos desgnios humanos e que, embora condicione o seu preo monetrio, freqentemente no lhe idntico; qualidade humana de natureza fsica, intelectual ou moral, que desperta admirao ou respeito; capacidade de satisfazer necessidades; utilidade, prstimo, serventia; qualidade do que alcana a excelncia, do que obtm primazia ou dignidade superior.

    - Valorizar: dar valor, importncia a (algo, algum ou a si prprio) ou reconhecer-lhe o valor de que dotado.

    - Valorizao: ato ou efeito de valorizar(-se)

  • 2

    - Profissional: relativo a profisso; prprio de uma determinada profisso; responsvel e aplicado no cumprimento dos seus deveres de ofcio.

    - Em nosso trabalho A Pletora dos Conselhos e o Engessamento da Sociedade (ainda no publicado) assim conceituamos profissional e cidado-profissional:

    O profissional, ou o cidado-profissional, por sua vez, um cidado que, mediante um aprendizado formal e especfico, adquiriu uma determinada qualificao e uma reconhecida capacitao para o exerccio de um pretendido trabalho, ofcio ou profisso (Art. 5, XIII, da CF/88). Ou seja, um cidado especialmente preparado para o desempenho das mltiplas atividades scio-produtivas a todo instante demandadas pelo processo de desenvolvimento da Sociedade. Em funo do grau de complexidade dessas atividades bem como pela ameaa que possam representar incolumidade pblica -, os cidados-profissionais podem, ou no, ter seus trabalhos, ofcios ou profisses regulamentadas; se regulamentadas, elas podem, ou no, ter a verificao de seus exerccios e a fiscalizao de suas atividades a cargo de uma pessoa jurdica de direito pblico criada por lei, do tipo Ordem ou Conselho Profissional.

    O que aponta o Cdigo de tica Profissional: - Impe situar a Valorizao Profissional no apenas como um valor puramente

    corporativo que se esgota no vis da remunerao profissional, mas como parte importante de um valor social que se procura solidariamente construir.

    - De forma simplificada e exemplificativa podemos considerar a Valorizao Profissional como um edifcio, com suas fundaes, sua estrutura e suas funcionalidades. Nesse edifcio hipottico as fundaes poderiam ser assemelhadas aos princpios ticos solenemente pactuados, que embasam o Cdigo de tica Profissional adotado. Esses princpios ticos so organizados no Cdigo como segue:

    o do objetivo da profisso o da natureza da profisso o da honradez da profisso o da eficcia profissional o do relacionamento profissional o da interveno profissional sobre o meio o da liberdade e segurana profissionais

    - Nessa analogia, a estrutura desse edifcio suas vigas e pilares - representada por um conjunto de elementos caractersticos do sistema de formao (diretrizes curriculares, ttulos e habilitaes acadmicas) e outro conjunto caracterstico do sistema do exerccio (diretrizes profissionais, ttulos e habilitaes profissionais). Na multiplicidade e complexidade dos elementos dessa estrutura, mais de 3000 distintos cursos formam profissionais que se apresentam ao mercado de trabalho sob a forma das 302 profisses ora reconhecidas, conforme disposto inicialmente na Resoluo n 473/2002.

  • 3

    - as funcionalidades dessa construo, por sua vez, ficam evidenciadas pela complexa teia de relaes dessas profisses entre si e pela dinmica dos relacionamentos das mesmas com a sociedade e com os rgos incumbidos de suas verificaes, fiscalizaes e aperfeioamento.

    - O artigo 6 do CEP do captulo Da Identidade das Profisses e dos Profissionais - bem sintetiza o sentido transversal, poderamos dizer, de uma Valorizao Profissional que pretenda ser, simultaneamente, tica e cidad:

    O objetivo das profisses e a ao dos profissionais volta-se para o bem estar e o desenvolvimento do homem, em seu ambiente e em suas diversas dimenses, como indivduo, famlia, comunidade, sociedade, nao e humanidade; nas suas razes histricas, nas geraes atual e futura.

    - No artigo 12 - do captulo Dos Direitos Profissionais -, por outro lado, podemos encontrar o justo respaldo s legtimas reivindicaes remuneratrias:

    Artigo 12: So reconhecidos os direitos individuais universais inerentes aos profissionais, facultados para o pleno exerccio de sua profisso, destacadamente: a) ... ...

    e) justa remunerao proporcional sua capacidade e dedicao e aos graus de complexidade, riscos, experincia e especializao requeridos por sua tarefa; ...

    - Diga-nos colega, o que mais sobre a tica poderemos considerar?

    Conceito amplo da Valorizao Profissional Antes de maior aprofundamento, diremos que o conceito de Valorizao Profissional , simultaneamente, composto e complexo. Por isso seu contedo no poder ser apreendido apenas pela visualizao de suas externalidades mais bvias. Efetivamente, haver que identificar, seno todos, pelo menos alguns de seus pressupostos. Considerando ainda o exemplo do edifcio, poderemos dizer que a construo somente existir se, para a obteno das funcionalidades para as quais foi prevista, for implantada, sobre uma conveniente base, uma planejada estrutura. De outra forma, o edifcio no passar de um castelo de cartas e seus construtores meros improvisadores. Edgar Morin, ao discorrer sobre os Princpios do Conhecimento Pertinente (livro Os Sete Saberes Necessrios Educao do Futuro), sugere que, para que o conhecimento seja pertinente, a educao dever tornar visveis as relaes entre, de um lado, os saberes desunidos, divididos, compartimentados e, de outro lado, as realidades ou problemas cada vez mais multidisciplinares, transversais, multidimensionais, transnacionais, globais e planetrios. Tornar visveis significa desenvolver um esforo de ampliao dos conhecimentos que se dever dispor, desenvolvendo-lhes os aspectos referentes ao contexto, ao global, ao multidimensional e ao complexo relacionados a cada uma dessas realidades, problemas ou questes. Ao final veremos mais sobre essas categorias.

    - Diga-nos Colega, que outras consideraes voc incluiria nessa relao?

  • 4

    II. A VALORIZAO: UM IMPERATIVO SOB VRIOS NGULOS Valorizao, como vimos, o ato de valorizar(se). E valorizar significa dar valor, importncia a (algo, algum ou a si prprio) ou reconhecer-lhe o valor de que dotado.

    Acontece que em cada diferenciado ngulo de focalizao do indivduo-cidado-profissional objeto de nossos estudos, diferenciados sero os requisitos de sua valorizao. A seguir, alguns desses ngulos:

    - Primeiro, dos seres humanos que habitam este convulsionado planeta, hoje com quase sete bilhes de indivduos, a maior parte dos quais completamente carente dos principais recursos para uma sobrevivncia digna e produtiva. Assinale-se que, nas ltimas dcadas especialmente, alm das condies scio-econmicas desses seres (vide ndice de Gini e IDH) crescem as ameaas decorrentes da progressiva deteriorao das condies ambientais.

    - Segundo, dos indivduos- cidados, aqueles que integram as chamadas sociedades organizadas que se desenvolvem sob a gide de uma constituio nacional caracterizadora de seus principais valores e norteadoras das aspiraes sociais e econmicas pactuadas. No Brasil so quase duzentos milhes. Urge, portanto, que tais princpios e valores sejam efetivamente levados prtica por meio de Projetos Nacionais legitimados, objetivados por polticas pblicas consistente e implementados por planos de governo eficazes;

    - Terceiro, dos cidados-profissionais, aqueles que, optando por uma formao comum e por uma tica consensuada, perseguem objetivos de contnuo aperfeioamento cientfico e tecnolgico comprometidos com a indispensvel defesa dos interesses sociais e humanos, sempre relacionados aos empreendimentos das reas de atuao que lhe so prprias. No SISTEMA CONFEA/CREA esses cidados-profissionais chegam a quase um milho.

    Figura 2: Sistema Profissional

    Seres hum anos -indivduos

    Indivduos-cidados

    C idados-profissionais

    Seres hum anos -indivduos

    Indivduos-cidados

    C idados-profissionais

  • 5

    III. ALGUMAS QUESTES DE ORDEM GERAL: a) O que Maslow nos diz sobre os Seres Humanos?

    Segundo a teoria da motivao ou da hierarquia das necessidades, defendida por Abraham Maslow, as necessidades humanas (e conseqentemente a valorizao que decorre de suas satisfaes) esto organizadas e dispostas em nveis, numa hierarquia de importncia e de influncia, numa pirmide, em cuja base esto as necessidades mais elementares (as fisiolgicas) e no pice as necessidades mais elevadas (de auto-realizao). Entre esses extremos, assim elas evoluem:

    Figura 3: Pirmide de Maslow a) necessidades fisiolgicas (respirao, comida, gua, sexo, sono, homeostase e

    excreo); b) necessidades de atendimento segurana (segurana do corpo, do emprego, de

    recursos, da moralidade, da famlia, da sade, da propriedade), c) necessidades de atendimento s necessidades de amor e relacionamento

    (amizade, famlia, intimidade sexual); d) necessidades de estima (auto-estima, confiana, conquista, respeito dos outros,

    respeito aos outros); e e) necessidades de realizao pessoal (moralidade, criatividade, espontaneidade,

    soluo de problemas, ausncia de preconceitos, aceitao dos fatos). Eis ai as necessidades que esto a merecer nossas primeiras atenes na desafiante jornada que desenvolveremos para a construo de uma base slida para a Valorizao Profissional.

    b) O que nos diz a constituio Federal de 1988 sobre os Indivduos-cidados? A Constituio Federal da Repblica Federativa do Brasil estabelece em seu Prembulo:

    Ns, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assemblia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrtico, destinado a assegurar o exerccio dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurana, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justia como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e

  • 6

    comprometida, na ordem interna e internacional, com a soluo pacfica das controvrsias, promulgamos, sob a proteo de Deus, a seguinte Constituio da Repblica Federativa.

    No Ttulo I Dos Direitos Fundamentais podemos ler: Art. 1 - A Repblica Federativa do Brasil, formada pela unio indissolvel dos Estados e Municpios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrtico de Direito e tem como fundamentos: I - a soberania; II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - o pluralismo poltico. Pargrafo nico - Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituio.

    No Ttulo II Dos Direitos e Garantias Fundamentais consta: Art. 5 - Todos so iguais perante a lei, sem distino de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Pas a inviolabilidade do direito vida, liberdade, igualdade, segurana e propriedade, nos termos seguintes: (seguem-se 77 incisos de direitos e garantias).

    Ainda no Ttulo II, agora com relao aos Direitos Sociais, vamos encontrar 34 incisos na seqncia do caput do artigo 6:

    Art. 6 - So direitos sociais a educao, a sade, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurana, a previdncia social, a proteo maternidade e infncia, a assistncia aos desamparados, na forma desta Constituio.

    E, finalmente, numa abordagem no exaustiva de nossa Carta Magna, vamos encontrar no ttulo VII Dos Princpios Gerais da Atividade Econmica a seguinte disposio:

    Art. 170 - A ordem econmica, fundada na valorizao do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existncia digna, conforme os ditames da justia social, observados os seguintes princpios: I - soberania nacional; II - propriedade privada; III - funo social da propriedade; IV - livre concorrncia; V - defesa do consumidor; VI - defesa do meio ambiente; VII - reduo das desigualdades regionais e sociais; VIII - busca do pleno emprego; IX - tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constitudas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administrao no Pas. Pargrafo nico - assegurado a todos o livre exerccio de qualquer atividade econmica, independentemente de autorizao de rgos pblicos, salvo nos casos previstos em lei.

    O conjunto dessas disposies constitucionais, resultante de um alentado trabalho histrico em prol de liberdades individuais to acalentadas - e submetidas a processo de limitao autoritria por mais de duas dcadas surge agora como uma plataforma sobre a qual os indivduos vo conceber e implementar seus projetos de cidadania, os cidados vo encontrar os indispensveis estmulos para sua qualificao profissional e os profissionais vo buscar o necessrio reconhecimento para a proposio de polticas de valorizao.

  • 7

    c) Alguns importantes macro-indicadores internacionalmente aceitos para medir a valorizao dos seres humanos e dos indivduos-cidados

    Citaremos dois, pelo menos dois: o ndice de Gini e o IDH. - Quanto ao ndice de Gini, transcrevemos a seguir considerao sobre o mesmo colhida do site Desafios do Desenvolvimento.

    ndice de Gini, criado pelo matemtico italiano Conrado Gini, um instrumento para medir o grau de concentrao de renda em determinado grupo.Ele aponta a diferena entre os rendimentos dos mais pobres e dos mais ricos. Numericamente, varia de zero a um (alguns apresentam de zero a cem). O valor zero representa a situao de igualdade, ou seja, todos tm a mesma renda. O valor um (ou cem) est no extremo oposto, isto , uma s pessoa detm toda a riqueza. Na prtica, o ndice de Gini costuma comparar os 20% mais pobres com os 20% mais ricos.

    De acordo com o Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), o ndice de Gini da distribuio da renda do trabalho no Brasil caiu de 0,541, em 2006, para 0,528, em 2007, posicionando o pas quase no final da lista de 177 pases considerados. Apesar dessa melhoria o Brasil continua tendo ndice muito pior do que os outros pases do BRIC, sigla representativa do grupo de pases de maior potencial dentre os emergentes. O grupo inclui China (0,470), Rssia (0,399) e ndia (0,368). - Quanto ao IDH

    O IDH foi criado para medir o nvel de desenvolvimento humano dos pases a partir de indicadores de educao (alfabetizao e taxa de matrcula), longevidade (expectativa de vida ao nascer) e renda (PIB per capita). Seus valores variam de 0 (nenhum desenvolvimento humano) a 1 (desenvolvimento humano total). Pases com IDH at 0,499 so considerados de desenvolvimento humano baixo; com ndices entre 0,500 e 0,799 so considerados de desenvolvimento humano mdio; e com ndices maiores que 0,800 so considerados de desenvolvimento humano alto.

    O Relatrio de Desenvolvimento Humano 2007/2008 do Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) coloca o Brasil na 70 posio mundial dentre 177 pases estudados, com IDH de 0,800, atrs de outros sul-americanos como Uruguai (0,852), Chile (0,867) e Argentina (0,869). Nas Amricas ocupa a 15 posio. Como se v, muito grande o desafio que se nos apresenta. O Brasil, considerado como pas emergente, includo no grupo do G20, e apesar de suas imensas potencialidades, ainda est posicionado de forma extremamente constrangedora no rank mundial quando se trata da distribuio da renda e dos indicadores da educao, longevidade e renda.

    - Diga-nos Colega, que outros indicadores voc incluiria?

  • 8

    IV. DIFERENTES VISES DA VALORIZAO

    4.1. Uma viso limitada da valorizao nos levaria a questes puramente internas, corporativistas e, no caso do Sistema Confea/Crea, altamente conflitantes no mbito das mais de 300 profisses diferenciadas existentes. Efetivamente, o incrvel contencioso das atribuies profissionais tem levado esses segmentos a um impressionante desgaste de suas energias, principalmente no mbito municipal onde as atividades profissionais se desenvolvem. Os itens abaixo poderiam, por si s, constiturem amplo material de debate visando a otimizao das relaes dessas profisses entre si e com a sociedade brasileira.

    Figura 4: Microscpio

    a) viso da remunerao profissional: - Salrios (dos empregados) considerando a existncia de um Salrio Mnimo

    Profissional estabelecido em lei; - Honorrios (dos autnomos) considerando a existncia de Tabelas de Honorrios

    Profissionais registradas nos Conselhos Regionais; - Lucro (dos empresrios) considerando as condies de mercado

    b) viso das reservas de mercado: - Combate ao exerccio ilegal das profisses (leigos) considerando a aplicao de

    sanes legais e administrativas; - Combate s exorbitncias de atribuies (profissionais) considerando o grande

    contencioso histrico; - Implementao das Matrizes do Conhecimento considerando o advento e a

    implementao de nova normatizao disciplinadora. c) viso do emprego tradicional:

    - Pleno emprego, sub-emprego e desemprego considerando as jornadas de trabalho, as remuneraes praticadas e a regularidade do exerccio;

    - Emprego Pblico considerando a grande dissintonia ora existente nos Planos de Cargos e Salrios, em flagrante desfavor das profisses do Sistema Confea/Crea;

    - Emprego Privado considerando, como diria Wladimir Pirr y Longo, a microcefalia do setor produtivo nacional e as dificuldades de ocupao no Brasil, por brasileiros, de espaos de trabalho de mais elevadas densidades tecnolgicas.

    d) viso dos indicadores referenciais ou condies fundamentais da Valorizao Profissional (aproveitadas do artigo elaborado pelo engenheiro eletricista Enio Padilha, cujo inteiro teor est disponvel no site www.eniopadilha.com.br). O colega Enio resumiu seu entendimento sobre o que denominamos acima de viso limitada da valorizao da seguinte forma:

    preciso ver o clssico objetivo de melhorar a remunerao no mais como um objetivo e sim como uma conseqncia de um processo. Para isso preciso revisitar o conceito de Valorizao Profissional. E entender que, ganhar mais no significa, automaticamente, ser mais valorizado. No entanto, quando se , realmente, valorizado pelo mercado, ganhar mais uma conseqncia natural.

  • 9

    E props cinco condies fundamentais indicativas da verdadeira valorizao profissional:

    I. a dignidade profissional, que determinada pelo respeito que a sua presena impe. A certeza interior que voc est fazendo o melhor, da melhor maneira possvel e que ningum, em momento algum, poder desestabilizar a sua atuao;

    II. a realizao profissional, que se d quando voc consegue ver materializada as suas idias sem intervenes, sem mutilaes, sem comprometimentos. A sensao maravilhosa de ver que o seu trabalho teve princpio, meio e fim;

    III. o reconhecimento profissional, que aquela impagvel manifestao do mercado (no apenas do cliente) de que seu trabalho diferenciado e valioso;

    IV. a segurana profissional, que uma condio indispensvel para determinar que voc tem valor profissional. A to sonhada valorizao profissional nunca chegar para um profissional que no seja absolutamente seguro quanto ao seu trabalho. Que no tenha certezas profissionais. Que no transpire convico e competncia;

    V. a perspectiva promissora, que representada pela confiante viso de futuro construda pelo profissional. Se o seu trabalho no lhe d perspectiva promissora, voc no tem uma vida ligada a esse trabalho. Ele, definitivamente, no vale a pena.

    4.2. Uma viso ampla da valorizao, por sua vez, nos levaria necessidade da formulao de uma Poltica de Valorizao Profissional capaz de considerar, dentre outros pontos: - o profissional, a profisso, a sociedade e o Estado; - o delineamento da identidade profissional (propsito, misso, viso, princpios e

    valores); - o processo de qualificao continuada dos profissionais; - a insero do profissional no ciclo histrico e no processo de desenvolvimento; - a viso do mercado de oportunidades, tanto na rea privada como na pblica, em

    meio s mudanas tecnolgicas e estruturais; - as profundas implicaes sobre esse mercado, decorrentes do intenso dinamismo do

    processo de globalizao; - as atuais eficincia e a eficcia das organizaes representativas desses profissionais

    e o conjunto de aes pretendidas visando o fortalecimento das mesmas; - instrumentos, mecanismos e recursos de todas as ordens disponibilizveis.

    Em 2001, para estimular o debate em torno dos temas do IV Congresso Nacional de Profissionais, solicitamos do Arquiteto Jaime Bernardo Pusch a elaborao de um texto referencial abordando a questo da Valorizao Profissional. Desse texto aproveitaremos agora alguns trechos, como se estivssemos hipoteticamente entrevistando o autor.

  • 10

    - Diga-nos Jaime, como seria a conduo de uma poltica de valorizao profissional? - No seria possvel hodiernamente pensar-se na formulao de quaisquer polticas sem a participao do segmento social a que ela se destina. Por isso, dentro de uma perspectiva democrtica, a manifestao de cada cidado e de todos fundamento de legitimidade. A via prtica seria desnecessrio dizer pela conduo evolutiva atravs de seus representantes. Democraticamente, a formulao desta poltica deve surgir do mbito do sistema profissional e ter sua conduo por seus representantes. Este sistema j est pronto. o sistema Confea/Crea. - Compete ao Confea ou aos Creas promover uma poltica de valorizao profissional? Teriam porventura essas organizaes o poder, o dever ou a faculdade da ao? - Olhando pelo prisma do direito, vamos encontrar a resposta na prpria lei regulamentadora das profisses, a Lei 5.194/66. Em seu artigo 1 caracteriza nossas profisses pelas realizaes de interesse social e humano. Se forem profisses que visam o Homem e a Sociedade, j temos uma resposta. O sistema Confea/Crea pode, deve e tem a vontade fundada de promover uma poltica de valorizao profissional. Eis que existe em funo do profissional e a ele se volta na sua caracterizao de realizador social e humano. E isso se desdobra nos coletivos profissionais e em cada um dos engenheiros, arquitetos, engenheiros agrnomos, gelogos, gegrafos, meteorologistas, tecnlogos e tcnicos. - Qual o papel do Sistema Confea/Crea? - Ao mesmo tempo em que o Sistema Confea/Crea o legtimo promotor de uma poltica de valorizao profissional, ele um dos alvos das mudanas que essa poltica puder formular. No uma contradio. Antes, uma tomada de conscincia dos profissionais de que uma de suas instituies como todas em geral oferece respostas muito lentas no tempo e que precisa de uma reviso em seus fundamentos, prticas e alcance. Tambm uma tomada de conscincia do prprio sistema. Efetivamente, no se pode supor que seja possvel promover aes que visem a valorizao profissional sem que a capacidade de resposta institucional com elas esteja afinada. - E quanto a elaborao dessa poltica, quais os primeiros passos? - O primeiro passo para a elaborao de uma poltica de valorizao profissional o estabelecimento de um diagnstico da situao atual das profisses. Devemos elaborar objetivamente um perfil da coisa e, com sinceridade, detectarmos o grau de descompasso com uma realidade projetada, as causas dos fatos e os possveis recursos a serem acionados para a sua reverso. Depois, dentro ainda do modelo sistmico, faremos um roteiro de avaliao.

  • 11

    Jaime Pusch tambm sugere que, dentre outros, sejam devidamente examinados alguns pontos por ele destacados e relacionados ao SISTEMA DE TRABALHO PROFISSIONAL, conforme os desenhos e indicaes a seguir:

    Figura 5: Sistema de Trabalho Profissional a) em relao ao profissional e o servio: formao bsica, papel social, liderana,

    capacidade agenciadora, direitos e deveres, sociabilidade, tica, iniciativa, auto-estima, adequabilidade, compatibilidade, qualidade, atualidade e atribuies profissionais;

    b) em relao ao cliente e a remunerao: identificao do perfil, obrigatoriedade da contratao, correta utilizao, justa remunerao e confiabilidade;

    c) em relao ao ambiente regulatrio: regulamentao, atualidade legal, fiscalizao, agilidade, presena classista e cidadania.

    - Diga Colega, de que outras vises voc cogitaria?

    CONTROLECONTROLEPoder gestor (pblico)Poder gestor (pblico)

    AMBIENTE ATUAL

    PROFISSIONAISPROFISSIONAIS

    PROCESSO

    SERVIOSPROFISSIONAIS

    Solicitao de servios

    Resultado dos Servios

    Tcnicas e procedimentosRemunerao

    Normas

    Expectativas eExpectativas ecarncias dacarncias dacomunidadecomunidade

    AMBIENTE MODIFICADO

    Satisfao daSatisfao dacomunidadecomunidade

    CONTROLECONTROLEPoder gestor (pblico)Poder gestor (pblico)

    AMBIENTE ATUAL

    PROFISSIONAISPROFISSIONAIS

    PROCESSO

    SERVIOSPROFISSIONAIS

    Solicitao de servios

    Resultado dos Servios

    Tcnicas e procedimentosRemunerao

    Normas

    Expectativas eExpectativas ecarncias dacarncias dacomunidadecomunidade

    AMBIENTE MODIFICADO

    Satisfao daSatisfao dacomunidadecomunidade

  • 12

    V. ALGUNS PR-REQUISITOS DA VALORIZAO PROFISSIO-NAL Alguns dos pr-requisitos bsicos da Valorizao dos seres humanos-indivduos-cidados-profissionais e diretamente dependentes das capacidades que eles possuem, ou procuram desenvolver, so: - a conscincia dos direitos e dos deveres - o comeo de tudo, o mnimo que se

    espera de todos aqueles que vivem numa sociedade capaz de oportunizar aos cidados, primeiro, e aos cidados-profissionais, depois, a proatividade indispensvel para assegurar o exerccio dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurana, o bem estar, o desenvolvimento e a igualdade. Reconhece-se que no um aprendizado fcil, principalmente quando se vive numa sociedade permissiva em que os maus exemplos so dados pelos ocupantes de posies de ampla visibilidade social, eletivas ou no, em todos os poderes da Repblica. Mas a histria tem demonstrado que as sociedades humanas tem a compulso da mudana e, mais cedo ou mais tarde, liberta potenciais inimaginveis para a superao de seus problemas;

    - a capacidade de lutar por eles - tomemos emprestado do famoso pensador argentino Jos Ingenieiros (As Foras Morais) um trecho que nos ajudar a entender, e internalizar, este pr-requisito: O pensamento e a ao devem andar juntos como a bssola que orienta e a hlice que impulsiona, para que possam ser eficazes. Essa capacidade dependente, fundamentalmente, no apenas da existncia e do exerccio de efetiva liderana como do grau de proatividade que as mesmas possam apresentar. Lembramos aqui o conceito de proatividade de uma das apostilas do Gespblica: capacidade de se antecipar aos fatos, a fim de prevenir a ocorrncia de situaes indesejveis e aumentar a confiana e a previsibilidade dos processos.

    - a capacidade de estabelecer consensos sobre essa poderemos exemplificar invocando algumas digamos assim - provas documentais:

    1. os documentos mais emblemticos e recentes do consenso dos seres humanosindivduos so a Declarao Universal dos Direitos do Homem e a Carta da Terra, ambos da ONU;

    2. os documentos alusivos ao consenso dos cidados so as Constituies de cada Pas, por eles solene e democraticamente aprovadas. (a CF88 no caso brasileiro). Esse consenso, entretanto, parece no ter sido suficiente ainda, no Brasil, para desencadear outro resultado a ele diretamente relacionado: um consistente Projeto de Nao alinhando polticas, programas, projetos e planos de governo;

    3. os documentos alusivos ao consenso dos cidados-profissionais, por sua vez, so os Cdigos de tica Profissional. No Sistema Confea/Crea o CEP atual foi proposto pelo CDEN em 2002 e nesse mesmo ano adotado pelo Confea, por meio da Resoluo 1.002/2002;

    4. outro documento exemplificativo desse consenso o da Formulao Estratgica do Sistema Profissional (verses 2007 e 2008), que estabelece os Objetivos Estratgicos do Sistema Profissional a partir dos quais so desdobradas as Metas e os Projetos das organizaes que o integram.

    E tem mais, o Sistema Confea/Crea institucionalizou, pelo menos, dois processos para a obteno de consensos relacionados aos seus objetivos estratgicos:

    - os Congressos Nacionais de Profissionais (CNPs), precedidos pelos 27 Congressos Estaduais de Profissionais (CEPs), e estes pelos Encontros

  • 13

    Microrregionais de Profissionais (EMRs), eventos esses que se realizam desde 1993; e

    - as edies anuais da Formulao Estratgica do Sistema Profissional, que a partir de 2007 ampliaram o seu foco e passaram a abranger a totalidade das organizaes que integram esse Sistema.

    Saliente-se, por importante, que esses dois importantes processos sero unificados a partir de 2010, vez que tal unificao permear o temrio do VII CNP.

    - Diga Colega, que outros requisitos voc incluiria?

    VI. ALGUNS REQUISITOS DA VALORIZAO PROFISSIONAL Estes requisitos conjugam-se com os pr-requisitos vistos anteriormente para compor uma viso mais compreensiva que se necessita ter relativamente a: a) primeiro, a necessidade de cada profissional construir, desde os seus primeiros

    fundamentos, uma identidade profissional prpria. Mais uma vez apelando para Houassis, poderemos dizer que: uma identidade o conjunto de caractersticas e circunstncias que distinguem uma pessoa ou uma coisa e graas s quais possvel individualiza-las. E o que profissional tambm j vimos anteriormente. Um exemplo, que encontramos no site www.vocation.com.br, talvez sirva para sedimentar nosso entendimento sobre a identidade em apreo. o seguinte:

    IDENTIDADE PROFISSIONAL: Voc j tem a sua? 1. Voc tem conscincia de quais so os seus sonhos e como poder realiz-

    los? 2. voc tem a impresso de que est no rumo certo para alcanar o seu lugar no

    mundo do trabalho sem deixar seus sonhos (pessoais e profissionais) perdidos no caminho?

    3. voc sabe quais so os tipos de atividades profissionais mais apropriadas ao seu perfil?

    4. voc sabe dizer quais so as suas principais competncias e habilidades? 5. voc sabe quais as profisses mais indicadas para colocar em prtica as suas

    competncias e habilidades? 6. voc j teve a oportunidade de indicar seus traos marcantes que podero

    diferenci-lo no desempenho profissional? 7. voc est convencido de que fez a escolha profissional adequada para a sua

    vida? 8. voc j tem traado um projeto de vida? 9. voc tem disponibilizado um tempo para planejar a sua carreira? 10. voc considera o curso escolhido uma chance para o exerccio de uma

    profisso que v lhe proporcionar prazer e qualidade de vida?

    b) segundo: a necessidade da internalizao da Identidade do Sistema Profissional a que se pertence. Essa identidade constituda pelo conjunto de representaes que seus integrantes formulam sobre o significado dessa organizao, em um contexto social, isto , quem uma organizao depende de como seus integrantes compreendem a si mesmos como uma organizao. No se confunda identidade com imagem, esta apenas uma representao construda pelos observadores externos.

  • 14

    Em processo memorvel, desenvolvido no transcurso da Formulao Estratgica do Sistema Profissional, em 2007, foi pactuada pelas lideranas participantes a seguinte redao representativa da Identidade do Sistema Confea/Crea:

    Negcio: Defesa dos interesses sociais e humanos relacionados aos empreendimentos profissionais e preservao dos preceitos ticos pactuados. Misso: Atuar eficiente e eficazmente como instncia superior da verificao, da fiscalizao e do aperfeioamento do exerccio e das atividades profissionais, orientando seus esforos de agente pblico para a defesa da cidadania e a promoo do desenvolvimento sustentvel. Viso: Ser reconhecido pela sociedade e pelo universo profissional como uma instituio colocada servio da qualidade de vida e do bem-estar dos brasileiros, e como tal, socialmente eficaz, organizacionalmente eficiente e eticamente responsvel. Princpios e Valores: - Integridade, tica e cidadania; - Cincia&Tecnologia e soberania; - Servios de excelncia sociedade; - Valorizao profissional e funcional; - Participao e posicionamento social. - Unidade de ao, parceria e transparncia. -

    c) terceiro: necessidade de uma viso prospectiva dos espaos de atuao profissional: a Formulao Estratgico do Sistema Profissional (FES) foi realizada com base em consistente viso de futuro. E para obt-la foram realizados trs exerccios de construo de cenrios prospectivos, o primeiro em 2003, do qual resultou a publicao denominada Cenrio Minerva, e o segundo e terceiro como parte do processo de realizao das FES-2007 e FES-2008. Embora no sendo do escopo deste trabalho, apresentamos na sequncia um Box referente aos eventos (fatos portadores do futuro) considerados quando da cenarizao realizada em 2008:

    - Novo modelo de formao acadmica; - atendimento s necessidades do mercado de profissionais requalificados em

    curto prazo; - recuperao e fortalecimento do complexo de instituies de PD&I; - crescimento anual do PIB; - equilbrio estrutural da economia internacional; - aumento de investimentos em infraestrutura; - Agncias reguladoras e marcos regulatrios; - Explorao da camada do pr-sal; - Mitigao dos impactos das mudanas climticas na sustentabilidade

    ambiental; - Crescimento da produo agrcola; - Copa do Mundo de 2014; - Desenvolvimento das cidades (planos diretores); - Mudanas na regulamentao das profisses; - Demandas sociais por mais qualidade na gesto das organizaes; - Reconhecimento do papel social do Sistema Confea/Crea pela sociedade; e - Insero internacional do Sistema Profissional.

  • 15

    Em relao a esses eventos foram consideradas as oportunidades (relativas a eventos com alta probabilidade de ocorrncia no perodo cenarizado 2010/2014), as transies (eventos que ainda no ocorrem, mas contam com condies favorveis para que venham a ocorrer) e os desafios (eventos que no ocorrem hoje, e tambm no contam com condies favorveis a que venham ocorrer at 2014, mas que foram includos no Cenrio Desejado).

    VII. ELEMENTOS PARA A DEFINIO DE UMA POLTICA DE VALORIZAO PROFISSIONAL

    Algumas linhas de ao para o estabelecimento, primeiro, e a implementao, depois, das Diretrizes de uma Poltica de Valorizao Profissional:

    1 Linha - o que o profissional poder fazer por si mesmo (com base na identidade profissional prpria que estabeleceu e na identidade do sistema profissional que internalizou):

    - a conscientizao do momento histrico (interesse pelos assuntos poltico, sociais, econmicos e ambientais da nao e de seu tempo);

    - a conscientizao do perfil necessrio (o que mais a sociedade e o mercado demandam dos profissionais vide os estudos sobre o Engenheiro do Sculo XXI e Inova Engenharia, da CNI);

    - a conscientizao de suas responsabilidades (perfeito domnio da forma e do contedo do atual Cdigo de tica Profissional);

    - a preparao para a ao competente (implementao de plano de qualificao continuada)

    Em relao conscientizao do perfil necessrio, vejam o que nos informa o estudo conjunto realizado pelo SENAI/IEL, com o ttulo INOVA ENGENHARIA:

    A nova realidade de rpida evoluo tecnolgica exige que o engenheiro tenha: - slido conhecimento das reas bsicas; - capacidade para apropriar-se de novos conhecimentos de forma autnomo e

    independente; - esprito de pesquisa para acompanhar e contribuir com o desenvolvimento cientfico

    e tecnolgico do pas; - capacidade para conceber e operar sistemas complexos, com competncia para

    usar modernos equipamentos, principalmente recursos computacionais, estaes de trabalho e redes de comunicao;

    - aptido para desenvolver solues originais e criativas para os problemas de projetos, da produo e da administrao;

    - pleno domnio sobre conceitos como a qualidade total, produtividade, segurana do trabalho e preservao do meio ambiente;

    - habilidade para trabalhar em equipe, para coordenar grupos multidisciplinares e para conceber, projetar, executar e gerir empreendimentos de engenharia;

    - conhecimento de aspectos legais e normativos e compreenso de problemas administrativos, econmicos, polticos e sociais, de forma a compreender e intervir na sociedade como cidado pleno, principalmente no que se refere s repercusses ticas, ambientais e polticas de seu trabalho;

    - domnio de lnguas estrangeiras, necessrio para o acesso direto s informaes geradas em pases avanados, onde surgem as principais inovaes;

    - percepo de mercado e capacidade de formalizar novos problemas, alm de encontrar sua soluo.

  • 16

    2 Linha - o que o Sistema poder fazer pelo profissional - prepar-lo para a cidadania-profissional; - apoi-lo no esforo de educao continuada; - instrumentaliz-lo para a ao social e humana; - combater o exerccio ilegal da profisso; - cenarizar a participao profissional nos PND e PEDs; - conscientizar e prevenir sobre as infraes ticas - garantir o cumprimento da legislao do SMP - facilitar o intercmbio internacional; - apoiar o associativismo e o cooperativismo.

    3 Linha - o que a unio, os estados e os municpios podero fazer pelos profissionais - projetos nacional, regionais, estaduais e municipais de desenvolvimento; - polticas pblicas de gerao de empregos, de cincia e tecnologia, energtica, de

    transportes, de saneamento bsico, agrcola, industrial etc.; - insero soberana no processo de globalizao; - Planos de Cargos e Salrios, nos vrios nveis, valorizadores do trabalho profissional; - garantia do cumprimento da legislao profissional; - recuperao das instituies de PD&I; - planos de governo, nos vrios nveis, com aes voltadas gerao de emprego e

    incentivo ao desenvolvimento C&T.

    E agora Colega, queremos ver a sua proatividade, ajudando a formular para o Sistema Profissional uma Poltica de Valorizao.

    VIII. CONSIDERAES FINAIS Por tudo o que foi dito, evidenciam-se as colocaes de Edgar Morin sobre as categorias referenciais do conhecimento pertinente e do novo compromisso de sempre consider-las em relao s questes de nosso tempo ou, at mesmo, s atividades cotidianas. Fica para os leitores o exerccio do cruzamento da questo da Valorizao Profissional com cada uma dessas categorias, ou seja:

    1. o contexto ( insuficiente o conhecimento dos dados e informaes isoladamente); 2. o global (o global maior do que o contexto, o conjunto das diversas partes ligadas

    a ele de forma inter-retroativa ou organizacional); 3. o multidimensional (considera as vrias dimenses comportadas pelo tema: poltica,

    social, econmica, etc);

  • 17

    4. o complexo (que considera a unio entre a unidade e a diversidade).

    IX. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS BLASI, Joo Henrique. Responsabilidades Profissionais. Florianpolis, Crea/SC, 1984,

    32 p. de CASTRO, Orlando Ferreira. Deontologia da Engenharia, Arquitetura e Agronomia e

    Legislao Profissional. Goinia, Crea/GO, 1995, 527 p. MACEDO, Edison Flavio. Manual do Profissional. 4 edio/Confea. Florianpolis.

    Grfica Recorde, 1999. 199 p. PUSCH, Jaime Bernardo de Carvalho. Elementos para uma poltica de valorizao

    profissional. Florianpolis. Crea/SC. 1985. 33 p. MACEDO, Edison Flavio e PUSCH, Jaime Bernardo de Carvalho. Cdigo de tica

    Profissional Comentado engenharia, arquitetura, agronomia, geologia, geografia e meteorologia. Braslia. 2003.