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Escola Secundária Com Terceiro Ciclo de CaneçasAno Lectivo 2011/2012
CONVENTO DE MAFRA Da Promessa à Sagração
Disciplina: Português
Autor: Mariana Sabino nº 12 12º C
Sónia Almeida nº 14 12º F
Sónia Cunha nº 15 12º F
Data: 27 de Maio de 2012
Escola Secundária Com Terceiro Ciclo de Caneças
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Escola Secundária Com Terceiro Ciclo de Caneças
ÍNDICE
1. INTRODUÇÃO........................................................................................................3
2. A PROMESSA DO REI...........................................................................................6
3. CONSTRUÇÃO DO CONVENTO........................................................................8
4. EPOPEIA DA PEDRA..........................................................................................11
5. SAGRAÇÃO DO CONVENTO............................................................................13
6. PALÁCIO NACIONAL DE MAFRA..................................................................14
6.1. O BARROCO.....................................................................................................15
7. CONCLUSÃO........................................................................................................17
8. BIBLIOGRAFIA....................................................................................................19
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Mafra começou por ser, para mim, um homem esfolado. Tinha sete ou oito anos quando meus pais me trouxeram aqui, de excursão com alguns vizinhos. O esfolado era, e continua a ser, aquele S. Bartolomeu que aí está dentro, segurando com a mão direita, enquanto o mármore durar, a pele arrancada. (…) Muitos anos depois, lá pelos finais de 80 ou princípios de 81, estando de passagem por Mafra e contemplando uma vez mais estas arquitecturas, achei-me, sem saber porquê, a dizer: “um dia, gostava de poder meter isto num romance”. Foi assim que o memorial nasceu.
José SaramagoCadernos de Lanzarote III
Escola Secundária Com Terceiro Ciclo de Caneças
1. INTRODUÇÃO
1.1. José Saramago
José de Sousa Saramago nasceu a 16 de Novembro de 1922 na Azinhaga, uma
pequena província no Ribatejo, tendo-se mudado para Lisboa aos 2 anos. Oriundo de
famílias humildes, não pôde, por razões económicas, prosseguir os estudos no liceu,
apesar de ser bom aluno e por isso, continuou os estudos numa escola profissional
aprendendo o ofício de serralheiro mecânico. E esse foi o seu primeiro emprego. Nessa
altura, José Saramago movido pela curiosidade e vontade de aprender mais começou a
visitar, à noite, uma biblioteca pública da capital, desenvolvendo o seu gosto pela
literatura.
Antes de se dedicar em exclusivo à escrita, José Saramago trabalhou em diversas
áreas, desde a Função Pública ao jornalismo, até que em 1947 publicou o seu primeiro
romance Terra do Pecado. Seguiu-se um período de 19 anos sem publicar porque, nas
palavras de Saramago, não tinha para dizer algo que valesse a pena. Apenas em 1966,
uma nova obra, Os Poemas Possíveis, chegou às bancas e a partir daí José Saramago
tornou-se escritor definitivamente.
Em 36 obras publicadas, de quase todos os géneros literários, e mais um sem número
de textos escritos, José Saramago desafiou, agitou e provocou quem o lê. Polémico e
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longe de ser consensual, entrou em rota de colisão com a Igreja, criticando os crentes
em Deus e enumerando as práticas pouco católicas daqueles que se dizem católicos.
Possuidor de uma vasta cultura e saber, José Saramago servia-se do passado histórico
para escrever novas histórias. Um exemplo disso é a obra Memorial do Convento, talvez
a mais conhecida entre os portugueses, onde José Saramago escreve sobre a exploração
dos pobres pelos ricos, sobre a corrupção como algo que é próprio da natureza humana e
centra-se, especialmente, na corrupção religiosa e nos actos macabros da Igreja,
praticados pela Inquisição.
De entre as suas inúmeras publicações destacam-se, além de Memorial do Convento
(1982), Levantado do Chão (1980), O Evangelho Segundo Jesus Cristo (1991), Ensaio
sobre a Cegueira (1995), e Caim (2009).
Galardoado com diversos prémios e Doutoramentos Honoris Causa, é importante
destacar a atribuição do Prémio Luís de Camões em 1995 e o Prémio Nobel da
Literatura em 1998, o primeiro concedido a um escritor de língua portuguesa.
José Saramago faleceu a 18 de Junho de 2010.
1.2. Memorial do Convento e contextualização da época do romance
Publicado em 1982, Memorial do Convento é uma das obras mais emblemáticas do
espólio de José Saramago. Considerada por muitos como a sua obra-prima, foi com
Memorial do Convento que o autor alcançou o verdadeiro sucesso.
A acção desenvolve-se no reinado de D. João V, incidindo sobre o período de
construção do Convento de Mafra. O livro conta duas histórias que se entrelaçam
durante a narrativa. A primeira é, como já foi referido, a construção do Convento de
Mafra, onde Saramago fala e critica a opressão que os mais poderosos exerciam sobre o
povo. A segunda história é a história de amor entre Blimunda e Baltasar, pessoas pobres
e humildes, com características que os distinguem: Baltasar não tem a mão esquerda,
perdeu-a na guerra, enquanto Blimunda possui poderes sobrenaturais, e consegue ver
por dentro das pessoas quando em jejum.
A história de Memorial do Convento tem início por volta de 1711, cerca de três anos
após o casamento de D. João V com D. Maria Ana Josefa de Áustria e termina vinte e
oito anos depois, em 1739, com a morte de Baltasar num auto-de-fé.
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O reinado de D. João V constitui uma continuidade da política absolutista,
alimentada pelo ouro do Brasil, e durante este período Portugal vivia um período de
prosperidade económica.
Neste período, a Inquisição reforçou o seu poder na sociedade, todos os crimes eram
julgados pelo Tribunal do Santo Ofício, e os autos-de-fé constituíam a melhor forma de
mostrar o poder inquisitorial.
Na generalidade, os elementos históricos da época são respeitados por José
Saramago no romance. Alguns exemplos são os aspectos relacionados com a construção
do Convento de Mafra que correspondem à realidade, os relatos das práticas da
Inquisição, dos acontecimentos religiosos como as procissões ou o casamento dos
príncipes. Estes elementos permitem ao autor a recriação do ambiente da época.
No entanto, existem outros factos históricos que foram distorcidos, não existindo
total correspondência entre estes e a forma como surgem no romance. É o caso de
Bartolomeu de Gusmão ou as notícias sobre as suas experiências voadoras, assim como
a sua fuga para Espanha e a sua morte. Apesar de o núcleo principal de personagens ser
mais ou menos histórico, existem outras que são ficcionadas e que difundem a intenção
do autor de libertar do esquecimento aqueles que são sempre esquecidos, destacando
para isso, alguns nomes que representam os cerca 20 000 trabalhadores utilizados na
construção do convento de Mafra.
Em suma, a construção do Palácio-Convento de Mafra constitui a acção principal da
obra Memorial do Convento, sendo o elo de ligação entre praticamente todas as
personagens. Também tem um papel fulcral na difusão da intensão do autor de destacar
o povo, sempre esquecido e vítima dos interesses dos poderosos.
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2. A PROMESSA DO REI
«Prometo, pela minha palavra real, que farei construir um convento de franciscanos
na vila de Mafra se a rainha me der um filho no prazo de um ano a contar deste dia em
que estamos…»
Rei D. João V, Memorial do Convento.
A fundação do Convento de Mafra teve origem numa promessa do Rei D. João V,
caso a rainha fosse bem sucedida a concepção de um filho que tardava. D. João V e D.
Maria Ana de Áustria casaram-se a 9 de Julho de 1708, no entanto corria o ano de 1911
e a coroa portuguesa ainda não tinha um herdeiro. Esta situação já era motivo de
conversa pelo povo que culpava a rainha, pois era do conhecimento geral a existência de
filhos bastardos do rei, resultantes das suas relações fugazes com as freiras.
Assim, acredita-se que os franciscanos levaram o rei a fazer tal promessa devido a já
saberem que a rainha estava grávida, pois esta o confessara, e que usaram isso em
proveito próprio.
No entanto, há quem defenda que a devoção religiosa não foi o único motivo que
levou D. João V a construir um monumento de tamanha grandiosidade como o
Convento de Mafra. Há quem defenda que o motivo da promessa se deveu ao facto de o
rei ter uma doença e temer não ter descendência, pelo que o nascimento da princesa D.
Maria Bárbara determinou o cumprimento da promessa. Também o desejo de ostentar o
seu poder e riqueza é apontado como impulsionador deste projecto. Portugal vivia um
período de prosperidade económica, com o dinheiro vindo do Brasil, e D. João V era
conhecido por ser um rei absolutista, excêntrico, e a construção do Convento de Mafra,
obra impotente, vem demonstrar exatamente isso. D. João V queria transformar Portugal
num dos países mais desenvolvidos da Europa, equiparando-o a países como França ou
Itália, onde a cultura impregnava cada rua, e por isso, pensa-se que o Convento de
Mafra foi baseado no Convento de Escurial em Espanha.
Este convento seria também um palácio, onde a família real passaria férias e ficaria
instalada nas temporadas de caça, um dos passatempos favoritos do rei.
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Inicialmente, o convento serviria para abrigar 109 frades Franciscanos. Contudo,
como será abordado adiante, a chegada do ouro do Brasil e a vontade descabida de D.
João V de ser grandioso e construir algo memorável, levaram a que surgissem novas
ideias e os projectos sofressem alterações ao longo da construção do Convento.
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3. CONSTRUÇÃO DO CONVENTO
Apesar da princesa D. Maria Bárbara ter nascido em 1711, a construção do Convento
de Mafra apenas de iniciou em 1717, com um projecto de inicial para albergar somente
13 frades Franciscanos. O arquitecto escolhido pelo rei para projectar o Convento de
Mafra foi João Frederico Ludovice.
Johann Friedrich Ludwig, conhecido em Portugal como João Frederico Ludovice foi
um polifacetado artista alemão, nascido em 1673. Oriundo de uma família da nobreza
protestante, Ludovice, estudou ourivesaria. Emigrou para Itália até que veio finalmente
para Portugal em 1700, começando a trabalhar para a Corte portuguesa quando o jovem
rei D. João V o encarrega de reestruturar o antigo Paço da Ribeira e a antiga Capela
Manuelina. Os seus trabalhos foram muito elogiados, tendo a Capela do Paço da Ribeira
sido considerada como uma das mais belas capelas da Europa. No entanto, o destino de
Ludovice mudou radicalmente quando o rei decretou a construção do Convento de
Mafra. Após uma espécie de concurso público, onde se encontraram projectos de
famosos arquitectos italianos como Filipo Juvara e António Canevari, a escolha de D.
João V recaiu sobre o projecto apresentado por Ludovice. Entre outros projectos,
Ludovice envolveu-se também na construção do Aqueduto das Águas Livres. Faleceu a
18 de Janeiro de 1752.
Após a decretação, em 1711, de D. João V para a edificação de um convento a Nossa
Senhora e Santo António, a ser entregue à Ordem dos Frades Arrábidos, D. João V
escolheu a sua localização, no Alto da Vela e rapidamente se procedeu à compra dos
terrenos.
As obras do Palácio Convento de Mafra iniciaram-se no dia 17 de Novembro de
1717, com uma grandiosa cerimónia onde ocorreu o lançamento da primeira pedra. A
direcção da obra ficou a cargo de Ludovice, que seria substituído em 1730 pelo filho,
também arquitecto. Daí em diante, a construção do convento foi uma tarefa árdua,
penosa e dispendiosa, repleta de sofrimento e manchada pela escravatura e
excentricidade de D. João V. Até 1730, quando foi inaugurado, os projectos de
construção do convento sofreram inúmeras alterações, e o convento para 13 frades
passar-se-ia a um palácio-mosteiro com capacidade para albergar 300 frades
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Franciscanos. Durante treze anos, operários, mestres, médicos, frades, boticários e
animais vieram de todo o país para se alojarem na Ilha da Madeira e darem o seu
contributo para a construção deste audaz monumento.
A Ilha da Madeira tratava-se de uma povoação erguida durante os anos que duraram
os trabalhos de construção do Convento e para além de albergar as várias oficinas de
vidreiros, ferreiros, latoeiros, carpinteiros e pintores, inúmeras casas de pasto, incluía as
barracas de campanha para os soldados, uma ermida de madeira, 8 enfermeiras, boticas
e cozinhas que mal chegavam para os cerca de 45.000 operários, 7.000 guardas e 1270
bois que ali estiveram enquanto se construía o monumento.
As dificuldades para manter os trabalhadores foram enormes, chegando a serem
tomadas medidas drásticas para castigar os que tentavam fugir. Os que fossem
apanhados teriam de trabalhar durante 3 meses em receber pagamento e se voltassem a
tentar a fuga, eram açoitados e enviados para as galés.
As galés eram embarcações a remos. Os remadores eram prisioneiros que eram
marcados em brasa com duas letras nas costas. Esta punição era bastante temida pelos
condenados já que um condenado às galés vivia muito pouco tempo, pois quase não
tinham descanso, comiam mal e eram chicoteados quando não obedeciam.
A construção do convento de Mafra ficou marcada por uma época de trabalhos
forçados, muitos homens foram reduzidos à condição de escravos, obrigados a deixar as
suas terras e famílias para trabalharem numa obra que era um mero capricho do rei.
Muitos trabalhadores adoeceram, devido às condições precárias onde trabalhavam e
viviam, e morreram. Para compensar as famílias, D. João V determinou a atribuição de
uma esmola de 3 mil réis, um hábito para ser amortalhado, uma cova e cinco missas por
alma. Além disso, existiam inúmeros problemas com demoras nos pagamentos aos
trabalhos.
A obra de Mafra empregava tanta gente que se tornava difícil em qualquer outro
lugar do Reino encontrar um carpinteiro ou um balde cal.
À excepção da pedra lioz de Pêro Pinheiro e Sintra, quase tudo foi importado. Itália,
Brasil, Holanda, França e Antuérpia enviavam encomendas de mármores, madeiras,
esculturas, paramentos, baixelas, utensílios de culto e sinos. De Itália vieram pranchas
de nogueira para os caixotões da sacristia e do coro; Do Brasil, angelim destinado a
portas e janelas; França, Itália e Bélgica contribuíram com estátuas, sinos, carrilhões,
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indumentárias eclesiásticas e Pêro Pinheiro, Sintra e Loures deram os mármores que
constituem as colunas e vergas. E tudo isto foi pago com o ouro proveniente do Brasil.
A 22 de Outubro de 1730, apesar de as obras ainda estarem atrasadas, celebrou-se a
Sagração da Basílica, numa festa que durou 8 dias. Em 1744, a construção ainda não
estava terminada mas D. João V comprou os terrenos num perímetro de 3 léguas em
torno do Convento de Mafra, para fazer uma cerca para os padres do convento e para
mandar fazer uma tapada, onde o príncipe D. José pudesse caçar.
A construção do Convento só terminou, oficialmente, em 1750 com a morte do rei,
embora muitos pormenores só viessem a ser concluídos nos reinados seguintes.
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4. EPOPEIA DA PEDRA
Um dos episódios principais de Memorial do Convento é o relato do transporte de
uma enorme pedra de Pêro Pinheiro para Mafra (15 km), no capítulo XIX, que tomou a
designação de Epopeia da Pedra.
Uma epopeia é um extenso poema que narra as acções heróicas, grandiosas e
memoráveis de um povo. O capítulo XIX é exatamente a consagração heróica do
transporte de uma enorme pedra de Pêro Pinheiro para Mafra, que se destinava à
varanda situada sobre o pórtico da igreja. É neste capítulo que José Saramago faz
sobressair a força e a determinação do povo, elegendo-o como o verdadeiro herói da
obra e tirando-o do anonimato. O povo é o herói que, humilhado, sacrificado e
miserável, alcança uma dimensão trágica e se eleva na sua força e humanidade.
As pessoas que construíram o convento constituem o povo anónimo que trabalha e
sofre às ordens do rei, apenas para satisfazer a sua vaidade. É um povo humilde e
trabalhador, enaltecido pelo autor que tenta tirá-lo do anonimato, individualizando-o em
vários personagens e simbolicamente atribuindo-lhe um nome para cada letra do
alfabeto, num simples desejo de o tornar imortal e o incluir na História de Portugal: «…
Alcino, Brás, Cristóvão, Daniel, Egas, Firmino…».
A descrição do transporte da pedra no carro chamado nau da Índia enumera as
dificuldades da viagem e inspira o tom emocional e humorístico do narrador - «…vão
aqui seiscentos homens que não fizeram nenhum filho à rainha e eles é que pagam o
voto, que se lixam, com perdão da anacrónica voz».
A pedra com trinta toneladas, sete metros de comprimentos, três metros de largura e
setenta e quatro centímetros de espessura, obrigou ao recurso de seiscentos homens e
um carro puxado por duzentas juntas de bois. Assim que a avistaram, os homens
soltaram um gemido de espanto, adivinhando o esforço que lhes seria exigido para
transportar aquele rochedo. No entanto, decerto que o que imaginaram não se
equiparava sequer ao esforço que foram sujeitos.
Os problemas iniciaram-se logo quando tiveram de colocar a pedra em cima do carro
- “Escuro ainda, tocou a corneta.. (....)..Vinha puxada a braço a grande alarido de
quem fazia a força e de quem a mandava fazer, um homem distraiu-se, deixou ficar um
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pé debaixo da roda, ouviu-se um berro, um grito de dor insuportada, a viagem começa
mal.”. As aflições foram ouvidas durante vários dias, desde as subidas, descidas,
feridos, mortos (Francismo Marques), resvalamento da plataforma que matou dois bois,
enfim, as dificuldades foram grandes e várias durante o percurso até Mafra.
Demoraram oito dias a chegarem a destino e quando entraram em Mafra, foi como se
tivessem chegado de uma guerra perdida, sujos, esfarrapados e sem riquezas. Todos se
admiraram com o tamanho da pedra, com excepção de Baltasar que, em comparação
com a Basílica, a achava pequena.
Como já referido, os homens são tirados do anonimato e alguns adquirem até algum
destaque neste episódio, como por exemplo Francisco Marques e Manuel Milho.
Francisco Marques é um trabalhador que morre no caminho de regresso a Mafra,
esmagado pelo carro que resvalou numa descida e é o símbolo de todos aqueles que
morreram no caminho só por causa de uma pedra.
Manuel Milho é como que um representante dos trabalhadores, homem digno com
uma personalidade forte, rebelde e corajoso, é capaz de reflectir sobre a
igualdade/desigualdade entre os homens. É um contador de histórias. Todas as noites
durante viagem, durante o descanso, conta um bocadinho de uma história. A história
fala de uma rainha que não sabia se gostava de ser rainha porque não sabia o que era ser
mulher. Então, um dia foi ter com um ermitão que vivia sozinha no monte e este
aconselhou-a a largar tudo e a ir à procura das respostas às suas dúvidas. E assim foi. O
rei, humilhado por ter sido abandonado, mandou homens procurar a rainha e o ermitão
mas nenhum foi encontrado e nunca se soube se o eremita chegou a ser homem e a
rainha chegou a ser mulher.
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5. SAGRAÇÃO DO CONVENTO
A 22 de Outubro de 1730, data do 41º aniversário do rei, celebrou-se a cerimónia de
Sagração da Basílica. Esta data foi escolhida porque segundo o ritual, a sagração das
basílicas deveria ocorrer aos Domingos e porque o rei tinha medo de morrer antes da
sagração. Assim, embora as obras ainda estivessem atrasadas e o convento em
construção, a realização da cerimónia decorreu sob a presidência do Cardeal Patriarca
D. Tomás de Almeida, com a participação de toda a Família Real, Corte e
representantes de todas as Ordem.
As cerimónias revestiram-se de grande luxo e ostentação, uma vez que se vivia um
período de prosperidade económica no reino e o rei gostava de exibir esse poder, através
de excentricidades e exageros. Em Memorial do Convento, Saramago põe em destaque
essa ostentação recorrendo a uma descrição de alguns objectos dispendiosos que
adornavam a cerimónia como o magnífico trono patriarcal, as cadeiras e dossel de
veludo carmesim com guarnições de ouro, o chão coberto de alcatifas ou o vinho
branco numa garrafa de prata.
Calcula-se que tenham assistido à cerimónia mais de vinte mil pessoas, excluindo os
cerca de quarenta e cinco mil operários. Os festejos prolongaram-se por oito dias, os
mesmos que levou a pedra a ser transportada de Pêro Pinheiro para Mafra. E ela lá
estava, na varanda da sala Benedictione, onde o Patriarca lançou a bênção ao povo.
De notar que a determinação do rei em dar início às cerimónias de inauguração neste
dia, implicou a contratação de mais operários numa manifestação do poder absolutista
do rei. No entanto, os homens recusavam-se a ir trabalhar para Mafra, pois sabiam que
iriam ter de ali passar muitos e penosos anos, o que levou a que D. João V decretasse
que todos os homens deveriam ser enviados para trabalhar nas obras do convento, como
Saramago descreve no seguinte excerto do capítulo XXI: “Ordeno que todos os
corregedores do reino se mande que reúnam e enviem para Mafra quantos operários se
encontrarem nas suas jurisdições, sejam eles carpinteiros, pedreiros ou braçais,
retirando-os, ainda que por violência, dos seus mesteres, e que sob nenhum pretexto os
deixem ficar, não lhes valendo considerações de família, dependência ou anterior
obrigação, porque nada está acima da vontade real, salvo a vontade divina (..)”
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Escola Secundária Com Terceiro Ciclo de Caneças
6. PALÁCIO NACIONAL DE MAFRA
Apesar de ser vulgarmente denominado como Convento de Mafra, este monumento é
na verdade um palácio que integra Basílica, Paço Real e um Convento. Fachadas de
dimensões assombrosas, apenas, no seu tempo, excedidas em alguns metros, pelo
Mosteiro do Escorial em Espanha. O corpo central corresponde ao espaço ocupado pela
igreja. Possui também uma importante biblioteca com cerca de 40.000 livros, um núcleo
conventual com um hospital da época e dois carrilhões com 92 sinos – os maiores
naquele tempo. Ocupa 38.000 m, com 1.200 divisões, 4.700 portas e janelas e 156
escadas. Apesar de toda a excentricidade, o Palácio nunca foi residência habitual da
Família Real, sendo especialmente visitado por D. João V, no período das festas
religiosas ou na época de caça.
A Sala de Audiências, também designada Sala do Trono, destinava-se às recepções
de gala e encontra-se totalmente revestida de pinturas murais, executadas nos princípios
de oitocentos por Domingos Sequeira e Cirilo Wolkmar Machado. Esta sala é também
decorada por frescos deslumbrantes, que dão a ideia de relevo.
A Sala da Bênção situada ao meio da galeria principal, é uma das mais imponentes
do Palácio, medindo 26 metros de comprimento. Está revestida de mármores de
variados tons da região de Pêro Pinheiro, apresenta uma abóbada cilíndrica e
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Figura 1 – Palácio Nacional de Mafra
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apainelada, e as paredes ornamentadas com pilastras dóricas e molduragens. Nesta sala
ficavam as tribunas donde a família real assistia à missa através das três janelas que dão
para o interior da igreja. No centro desta sala, avulta o famoso busto de D. João V,
encomendado por seu filho, D. José I, ao mestre italiano Alexandro Giusti. As salas
estão decoradas com mobiliário dos séculos XVIII e XIX, conservando muitas das
pinturas setecentistas que primitivamente pertenceram à Basílica, da autoria do francês
Pierre Antoine Quillard, dos mestres italianos Trevisani, Massucci, Conca e Corrado e
dos pintores nacionais Francisco Vieira Lusitano, Inácio de Oliveira Bernardes e André
Gonçalves.
Um enorme corredor atravessa o palácio, permitindo acesso a todas as suas salas e
aposentos. Na sala de Caça, pode ver-se uma impressionante quantidade de troféus,
exibindo a quantidade de animais caçados nas tapadas e algum mobiliário provém,
mesmo, das hastes dos veados.
Por outro lado, o Mosteiro apresenta-se modesto, reflectindo o estilo de vida dos
monges franciscanos, humilde e contendo somente o essencial. Possui uma cozinha, a
botica, o hospital e as celas dos monges onde se viam os artefados utilizados pelos
monges para se autopunirem.
Por fim, a Basílica que contém uma série de esculturas e um interior em mármore,
com 11 capelas, 45 tribunas e 40 estátuas de figuras religiosas e 110 sinos.
Quando D. João VI partiu para a Brasil em 1807 levou consigo muitas das riquezas
artísticas que adornavam as paredes do Palácio. Mais tarde, após a dissolução das
ordens religiosas, o mosteiro foi abandonado. Na posterioridade, o palácio continuou a
ser habitado sobretudo em períodos estivais para os reis caçarem na Tapada de Mafra.
Em Outubro de 1910, D. Manuel II passou, no Palácio de Mafra, a sua última noite em
território português antes de partir para o exílio em Inglaterra, aquando da Implantação
da República.
6.1. O Barroco
O Palácio de Mafra é o mais importante monumento do barroco em Portugal. O
nome “barroco” deriva da palavra espanhola barueco, que simbolizava uma pérola de
forma irregular.
Este estilo artístico nasceu em Itália mas rapidamente se expandiu para outros países
europeus e caracterizava-se pelo movimento, pelo dramatismo e pelo exagero.
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Escola Secundária Com Terceiro Ciclo de Caneças
Durante este período, as construções baseavam-se principalmente nos palácios e nas
igrejas, com os arquitectos a entenderem estes dois edifícios como um só, uma grande
escultura, única e indivisível, tal como acontece no Palácio Nacional de Mafra. A sua
forma era ditada por complexos traçados geométricos que imprimiam qualidades
dinâmicas aos espaços e às fachadas, abandonando-se os esquemas clássicos.
A arquitectura barroca caracterizou-se pelo uso de colunas, frisos, frontões, arcos e
cúpulas. Como decoração recorreu-se a baixos-relevos, pinturas, mosaicos, mármores e
talha dourada.
Apesar de o estilo barroco apresentar características únicas em cada país, existem
algumas características que são comuns a este estilo, nomeadamente:
A tendência para a representação realista;
A procura do movimento e do infinito;
A tentativa de integração das diferentes disciplinas artísticas;
Emocional sobre o racional: o seu propósito é impressionar os sentidos do
observador, baseando-se no princípio segundo o qual a fé deveria ser
atingida através dos sentidos e da emoção e não apenas pelo raciocínio;
Busca de efeitos decorativos e visuais, através de curvas, contracurvas,
colunas retorcidas;
Violentos contrastes de luz e sombra;
Pintura com efeitos ilusionistas, dando-nos às vezes a impressão de ver o
céu, tal a aparência de profundidade conseguida;
A amplitude, a contorção e a exagerada riqueza ornamental, ausência de espaços
vazios e o gosto pela teatralidade
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7. CONCLUSÃO
O Palácio Nacional de Mafra constitui a maior obra do estilo barroco em Portugal.
Constituído por mais de um milhar de divisões e ostentando a excentricidade de uma
época e do rei D. João V. A verdade é que este palácio foi construído apenas para
satisfazer o ego e o desejo de grandiosidade do rei, e a sua construção envolveu muito
sofrimento por parte do povo e muitas mortes.
E é exatamente isso que José Saramago transmite através da obra Memorial do
Convento. O convento de Mafra, como é vulgarmente designado, é uma obra
grandiosas, no entanto que destaca a vulnerabilidade do rei como ser humano: doente e
sujeito a doenças como qualquer Homem, a envelhecer a cada dia que passa e com
medo da morte, tal como o mais simples dos mortais. Evidencia a sua vaidade e a
inveja, revelando que nem os reis ou os poderosos são imunes aos pecados e aos vícios.
Além disso, a sua natureza adúltera revela ainda a fraqueza da carne.
José Saramago aproveita também a história da construção do Convento de Mafra
para denunciar a humilhação do povo e a sua miséria. Obrigados a trabalhar, muitas
vezes sem receber sequer ordenado e em condições desumanas, milhares de homens
trabalharam sem descanso, durante anos, para realizar um capricho de sua majestade,
que nem sabia muito bem o que queria, e por isso estava sempre a alterar os projectos de
construção do convento. Muitos adoeceram devido às condições em que viviam e outros
morreram.
Assim, em Memorial do Convento, a construção do Convento constitui a acção
principal e evidencia os verdadeiros protagonistas desta obra: o povo português. Além
disso, fala dos constrangimentos do amor do rei e da rainha, que está na origem da sua
construção; lembra o trabalho forçado dos trabalhadores que o construíram e denuncia a
vaidade do rei e a prepotência da Igreja, a exploração dos humildes e a instauração um
clima de medo, à custa da ignorância do povo e da injustiça, que serve o jogo do poder.
Lembrando que José Saramago era comunista convicto e que Memorial do Convento
foi publicado em 1982, pode-se considerar esta história como uma alegoria à exploração
dos trabalhadores nos tempos modernos, um mote à luta dos mesmos pelos seus direitos
e uma caracterização da ignorância do povo português que se deixa manipular e iludir
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Escola Secundária Com Terceiro Ciclo de Caneças
pela classe política, acabando por pagar pelos excessos que quem se deveria preocupar
em governar de forma a criar riqueza e em função dos interesses do povo e não em
função dos seus próprios interesses.
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8. BIBLIOGRAFIA
AA. VV.; Convento de Mafra; http://virgiliomafra.tripod.com/Conv.html; 24 de
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