Educação inclusiva: aspectos históricos, políticos e ideológicos … · 2018. 7. 19. ·...

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Los contenidos de este artículo están bajo una licencia Creative Commons Educação inclusiva: aspectos históricos, políticos e ideológicos da sua constituição no cenário internacional Educación inclusiva: aspectos históricos, políticos e ideológicos de su constitución en el escenario internacional Inclusive education: historical, political and ideological aspects of its constitution in the international scenario Volumen 18, Número 2 Mayo-Agosto pp. 1-20 Este número se publica el 1 de mayo de 2018 DOI: https://doi.org/10.15517/aie.v18i2.33213 Daniella de Souza Barbosa Lia Machado Fiuza Fialho Charliton José dos Santos Machado Revista indizada en REDALYC, SCIELO Revista distribuida en las bases de datos: LATINDEX, DOAJ, REDIB, IRESIE, CLASE, DIALNET, SHERPA/ROMEO, QUALIS-CAPES, MIAR Revista registrada en los directorios: ULRICH’S, REDIE, RINACE, OEI, MAESTROTECA, PREAL, CLACSO

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Los contenidos de este artiacuteculo estaacuten bajo una licencia Creative Commons

Educaccedilatildeo inclusiva aspectos histoacutericos poliacuteticos e ideoloacutegicos da sua constituiccedilatildeo no cenaacuterio internacional

Educacioacuten inclusiva aspectos histoacutericos poliacuteticos e ideoloacutegicos de su constitucioacuten en el escenario internacional

Inclusive education historical political and ideological aspects of its constitution in the international scenario

Volumen 18 Nuacutemero 2 Mayo-Agosto

pp 1-20

Este nuacutemero se publica el 1 de mayo de 2018 DOI httpsdoiorg1015517aiev18i233213

Daniella de Souza Barbosa Lia Machado Fiuza Fialho

Charliton Joseacute dos Santos Machado

Revista indizada en REDALYC SCIELO

Revista distribuida en las bases de datos

LATINDEX DOAJ REDIB IRESIE CLASE DIALNET SHERPAROMEO QUALIS-CAPES MIAR

Revista registrada en los directorios

ULRICHrsquoS REDIE RINACE OEI MAESTROTECA PREAL CLACSO

Revista Electroacutenica ldquoActualidades Investigativas en Educacioacutenrdquo

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Educaccedilatildeo inclusiva aspectos histoacutericos poliacuteticos e ideoloacutegicos da sua constituiccedilatildeo no cenaacuterio internacional

Educacioacuten inclusiva aspectos histoacutericos poliacuteticos e ideoloacutegicos de su constitucioacuten en el escenario internacional

Inclusive education historical political and ideological aspects of its constitution in the international scenario

Daniella de Souza Barbosa1 Lia Machado Fiuza Fialho2

Charliton Joseacute dos Santos Machado3

Resumo O imperativo eacutetico de garantia de direitos humanos e igualdade agraves pessoas com deficiecircncia por intermeacutedio da Educaccedilatildeo Inclusiva eacute paradigma relativamente recente no cenaacuterio brasileiro e sua efetivaccedilatildeo eacute complexa Objetiva-se desenvolver uma pesquisa histoacuterica do tipo documental a respeito das poliacuteticas puacuteblicas internacionais de Educaccedilatildeo Especial com ecircnfase nas mudanccedilas paradigmaacuteticas emergentes cronologicamente no Brasil Conclui-se que os seacuteculos XVIII e XIX foram marcados pela segregaccedilatildeo homogeneizante das pessoas com deficiecircncia em escolas especiais e que a partir do seacuteculo XX impulsionadas por documentos internacionais emergem as classes especiais superadas pela ideologia atual de igualdade e inclusatildeo social com respeito agraves diferenccedilas que possibilita natildeo apenas a inclusatildeo na escola regular mas mecanismos de luta para igualdade de condiccedilotildees As reflexotildees ensejam que acordos internacionais impulsionam o Brasil a alinhar sua poliacutetica interna em direccedilatildeo agrave garantia de direitos humanos e igualdade agraves pessoas com deficiecircncia Palavras-chave educaccedilatildeo inclusiva pessoas com deficiecircncia educaccedilatildeo especial Resumen El imperativo eacutetico que permite garantizar derechos humanos e igualdad a las personas con discapacidad por intermedio de la Educacioacuten Inclusiva es un paradigma relativamente reciente en el escenario brasilentildeo y su efectividad es compleja Se pretende desarrollar una investigacioacuten histoacuterica del tipo documental respecto a las poliacuteticas puacuteblicas internacionales de Educacioacuten Especial con eacutenfasis en los cambios paradigmaacuteticos emergentes cronoloacutegicamente en Brasil Se concluye que los siglos XVIII y XIX fueron marcados por la segregacioacuten homogeneizante de las personas con discapacidad en escuelas especiales y que a partir del siglo XX impulsadas por documentos internacionales emergieron las clases especiales superadas por la ideologiacutea actual de igualdad e inclusioacuten social con respecto a las diferencias que posibilita no solo la inclusioacuten en la escuela regular sino mecanismos de lucha para la igualdad de condiciones Las reflexiones plantean que acuerdos internacionales impulsan el Brasil a alinear su poliacutetica interna hacia la garantiacutea de derechos humanos y de igualdad a las personas con discapacidad Palabras clave educacioacuten inclusiva personas con discapacidad educacioacuten especial

1 Professora doutora da Faculdade Mauriacutecio de Nassau Brasil no Curso de Graduaccedilatildeo em Fisioterapia e professora adjunta da Faculdade de Ciecircncias Meacutedicas da Paraiacuteba Professora visitante do Curso de Especializaccedilatildeo em Atendimento Educacional Especializado da Faculdade Integrada de Patos (FIP) entre 2015 e 2016 Endereccedilo eletrocircnico daniellafcmhotmailcom 2 Professora doutora do Centro de Educaccedilatildeo e do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo da Universidade Estadual do Cearaacute (UECE) Brasil Endereccedilo eletrocircnico lia_fialhoyahoocombr 3 Professor doutor associado IV e professor permanente dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo (PPGE) e em Sociologia (PPGS) ambos da Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Brasil Endereccedilo eletrocircnico charlitonlarayahoocombr Ensayo recibido 10 de noviembre 2017 Enviado a correccioacuten 13 de marzo 2018 Aprobado 9 de abril 2018

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Abstract The ethical imperative that guarantees human rights and equality for people with disabilities through Inclusive Education is a relatively recent paradigm in Brazilian scenario and its implementation is complex The objective is to develop a historical documentary-type research a path on international public policies of Special Education with emphasis on paradigmatic changes emerging chronologically in Brazil It is concluded that the eighteenth and nineteenth centuries were marked by the homogenizing segregation of people with disabilities in special schools and that from the twentieth century onwards special classes emerged driven by international documents Such classes were overcome the current ideology of equality and social inclusion towards the differences that make possible not only the inclusion in the regular school but some mechanisms to fight for equality of conditions The reflections show that the international discussions and agreements impel Brazil to align its internal policy towards the guarantee of human rights and equality for people with disabilities Keywords inclusive education people with disabilities special education

1 Introduccedilatildeo

A compreensatildeo dos aspectos histoacutericos poliacuteticos e ideoloacutegicos da Educaccedilatildeo Inclusiva

como modelo transversal de ensino que dialoga e compartilha os mesmos princiacutepios e

praacuteticas da Educaccedilatildeo geral eacute recente no cenaacuterio brasileiro e exige de seus sujeitos

escolares uma reflexatildeo sobre a complexidade desse novo imperativo eacutetico o qual busca

garantir os direitos humanos de populaccedilotildees historicamente excluiacutedas dos espaccedilos sociais

como a escola Igualmente recentes satildeo os estudos sobre as mudanccedilas de paradigmas

provocadas por essa accedilatildeo afirmativa ao longo dos tempos nas poliacuteticas puacuteblicas

educacionais no Brasil

Questionam-se como as poliacuteticas puacuteblicas veiculadas em documentos oficiais de

organismos internacionais - Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) Organizaccedilatildeo das

Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) Organizaccedilatildeo dos Estados

Americanos (OEA) Fundo das Naccedilotildees Unidas para a Infacircncia (Unicef) e Banco Mundial

(BM) - influiacuteram para mudanccedila de compreensatildeo acerca do paradigma segregativo na

Educaccedilatildeo Inclusiva brasileira Para compreender como foi se constituindo a compreensatildeo de

Educaccedilatildeo Inclusiva ao longo dos tempos influenciada pelos organismos internacionais que

lanccedilaram bases ideoloacutegicas nos documentos legais brasileiros desenvolveu-se uma

pesquisa no campo da Histoacuteria da Educaccedilatildeo com objetivo de desenvolver um histoacuterico a

respeito das poliacuteticas puacuteblicas internacionais de Educaccedilatildeo Especial com ecircnfase nas

mudanccedilas paradigmaacuteticas emergentes cronologicamente no Brasil

Metodologicamente realizou-se no primeiro semestre do ano de 2017 uma pesquisa

de abordagem qualitativa de cunho histoacuterico do tipo documental com base em textos

internacionais produzidos no seio dos debates sobre a Educaccedilatildeo Inclusiva em especial

sobre os direitos da pessoa com deficiecircncia tais como 1) Convenccedilatildeo Interamericana para a

Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Pessoas Portadoras de

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Deficiecircncia 2) Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos 3) A Unesco e a Educaccedilatildeo na

Ameacuterica Latina e Caribe 4) Educaccedilatildeo para Todos o compromisso de Dakar 5) A Unesco no

Brasil consolidando compromissos 6) Conferecircncia Mundial de Necessidades Educativas

Especiais Acesso e Qualidade

Salienta-se que a Educaccedilatildeo Especial eacute uma aacuterea do conhecimento relativamente nova

no campo da Educaccedilatildeo brasileira tendo em vista que foi incluiacuteda no curriacuteculo dos cursos de

Pedagogia somente a partir do seacuteculo XIX como resposta da academia agraves demandas das

instituiccedilotildees assistenciais filantroacutepicas privadas que mesmo situadas agrave margem dos

sistemas de ensino jaacute prestavam atendimento educacional agraves pessoas ldquoexcepcionaisrdquo desde

o seacuteculo XVIII isto eacute agravequelas com deficiecircncias sensoriais como a surdez e a cegueira por

exemplo

Nesse sentido a Educaccedilatildeo Especial nasceu sob o paradigma segregacionista de

Educaccedilatildeo que tentava produzir uma reparaccedilatildeo histoacuterica frente aos processos de exclusatildeo

escolar sofridos pelas pessoas que apresentavam singularidades sensoriais e em seguida

por aquelas ditas ldquoidiotasrdquo ou ldquoimbecisrdquo (atualmente denominadas de pessoas com

deficiecircncia intelectual)

Na condiccedilatildeo de temaacutetica emergente nos debates internacionais a Educaccedilatildeo Especial

vem galgando novos contornos que problematizam a visatildeo essencialmente homogeneizante

e segregacionista proporcionando o rompimento de paradigmas histoacutericos e o fomento de

uma ideologia pautada na inclusatildeo Defende-se pois a tese de que os debates

internacionais registrados em documentos oficiais impulsionam mudanccedilas de concepccedilotildees e

consecutivamente de poliacuteticas impulsionando o Brasil a alinhar sua poliacutetica interna em

direccedilatildeo agrave garantia de direitos humanos e igualdade agraves pessoas com deficiecircncia

Importa portanto historicizar a respeito das poliacuteticas puacuteblicas de Educaccedilatildeo Especial

no cenaacuterio internacional com ecircnfase nos avanccedilos emergentes de debates universais nos

seacuteculos XX e XXI a fim de clarificar compreensotildees sobre ideologias propostas de inclusatildeo e

accedilotildees em desenvolvimento com vistas agrave inclusatildeo da pessoa com deficiecircncia nos espaccedilos e

tempos da escola regular no Brasil

2 Histoacuteria da Educaccedilatildeo Especial o contexto brasileiro

A base filosoacutefico-ideoloacutegica que persistiu no cenaacuterio internacional entre os seacuteculos

XVIII e XIX foi a do modelo escolar segregacionista baseado na homogeneizaccedilatildeo das

pessoas de acordo com suas caracteriacutesticas bioloacutegicas ndash concepccedilatildeo organicista Esse

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paradigma preconizava como resposta educacional agraves necessidades de escolarizaccedilatildeo das

crianccedilas ldquoexcepcionaisrdquo a sua institucionalizaccedilatildeo em ldquoescolas especiaisrdquo pressupondo a

deficiecircncia como um fenocircmeno hereditaacuterio com evidecircncias de degenerescecircncia da espeacutecie

humana (Mendes 1995) Assim a segregaccedilatildeo era considerada a melhor forma de se

combater a ameaccedila representada por essa populaccedilatildeo agrave sociedade (Dechichi 2001)

Em suma os alunos eram rotulados como ldquoexcepcionaisrdquo ou seja havia uma visatildeo

patoloacutegica da deficiecircncia o que contribuiacutea para a marginalizaccedilatildeo do aluno no sistema regular

de ensino no Brasil e sua consequente institucionalizaccedilatildeo em espaccedilos escolares de caraacuteter

assistencial tendo em vista que a deficiecircncia era vista como causa e consequecircncia do baixo

rendimento escolar dessas pessoas o que justificava teoricamente sua segregaccedilatildeo em

espaccedilos escolares entendidos como capazes de ldquocurarrdquo ou ldquoeliminarrdquo a deficiecircncia por meio

da Educaccedilatildeo (Voivodic 2004)

A partir do final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX foi percebido que o atendimento

educacional das pessoas com deficiecircncia era tambeacutem um problema do Estado e da rede

regular de ensino sendo necessaacuteria a organizaccedilatildeo de um modelo de escola puacuteblica capaz

de acolher os alunos ldquoportadores de necessidades especiaisrdquo surgindo assim as ldquoescolas

especiaisrdquo puacuteblicas ou a instalaccedilatildeo de ldquoclasses especiaisrdquo nas jaacute existentes que visavam

oferecer agrave pessoa ldquodeficienterdquo uma Educaccedilatildeo agrave parte Emerge nesse cenaacuterio brasileiro o

paradigma da integraccedilatildeo instrucional no qual os discentes com deficiecircncia ndash seja fiacutesica

sensorial ou intelectual ndash poderiam se matricular em salas de aula comuns se possuiacutessem

condiccedilotildees de acompanhar e desenvolver no mesmo ritmo dos estudantes ditos ldquonormaisrdquo

as atividades curriculares programadas para o ensino comum No entanto aqueles que

possuiacutessem rendimento escolar abaixo da meacutedia estipulada pelo sistema de ensino

continuavam segredados da rede regular e sua matriacutecula se limitava agraves ldquoescolas especiaisrdquo

Nesse periacuteodo histoacuterico a normalizaccedilatildeo das condutas de participaccedilatildeo e aprendizagem

dos educandos ldquoportadores de necessidades especiaisrdquo foi definida como o princiacutepio que

representava a base filosoacutefico-ideoloacutegica do modelo de integraccedilatildeo instrucional Vale frisar

que nesse caso natildeo se tratava de ldquonormalizarrdquo esses alunos mas sim o contexto em que se

desenvolviam em outras palavras tinha-se como intuito oferecer aos aprendizes com

deficiecircncia condiccedilotildees de vida diaacuteria o mais semelhante possiacutevel agraves formas e condiccedilotildees de

vida do restante da sociedade

A Educaccedilatildeo Especial no cenaacuterio mundial passou de uma concepccedilatildeo organicista para

uma abordagem funcional A primeira concebia a deficiecircncia como consequecircncia de

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caracteriacutesticas bioloacutegicas e utilizava-se da estrateacutegia de segregaccedilatildeo dos ldquoexcepcionaisrdquo em

instituiccedilotildees assistenciais filantroacutepicas da rede privada de ensino A segunda por sua vez

definia a deficiecircncia em funccedilatildeo das capacidades e habilidades funcionais residuais e

empregava a estrateacutegia da integraccedilatildeo das pessoas ldquoportadoras de necessidades especiaisrdquo

em ldquoescolas especiaisrdquo ou em ldquoclasses especiaisrdquo da rede puacuteblica de ensino a fim de

estabelecer interaccedilotildees sociais entre esses educandos e os alunos ditos ldquonormaisrdquo (Rioux e

Valentine 2006)

Mesmo com essa evoluccedilatildeo filosoacutefico-ideoloacutegica em torno dos objetivos e qualidade dos

serviccedilos educacionais especiais a Educaccedilatildeo Especial no Brasil continuava negligenciada

pelos sistemas regulares de ensino tendo em vista que essa modalidade de ensino ainda

era tida como substitutiva do processo de escolarizaccedilatildeo das pessoas historicamente

marginalizadas da escola comum Seja pela homogeneizaccedilatildeo ndash processo de exclusatildeo fora

da escola ndash seja pela normalizaccedilatildeo ndash procedimento de exclusatildeo dentro da escola ndash a era da

exclusatildeo dessa populaccedilatildeo persistia no cenaacuterio das reformas educacionais gerais desde o

seacuteculo XVIII ateacute meados do seacuteculo XX pois natildeo havia a preocupaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica de

incluir a pauta da Educaccedilatildeo Especial no desenvolvimento dos sistemas regulares de ensino

brasileiro (Saacutenchez 2005)

Ainda que sob formas distintas a exclusatildeo tem sido caracteriacutestica recorrente na

Educaccedilatildeo fomentada no Brasil No paradigma segregacionista as pessoas com deficiecircncia

estatildeo inseridas em escolas especiais e as pessoas sem deficiecircncia no ensino regular No

acircmbito da integraccedilatildeo escolar as pessoas com deficiecircncia estatildeo na mesma instituiccedilatildeo de

ensino que as pessoas sem deficiecircncia mas em grupos separados por ldquoclasses especiaisrdquo o

que pressupotildee a Educaccedilatildeo Especial como modalidade de ensino substitutiva do processo de

escolarizaccedilatildeo desses alunos cujo resultado foi a naturalizaccedilatildeo do fracasso escolar

(Saacutenchez 2005)

A partir da segunda metade do seacuteculo XX emergiu com maior ecircnfase no cenaacuterio

mundial a defesa do paradigma da inclusatildeo como uma accedilatildeo poliacutetica cultural social e

pedagoacutegica desencadeada em defesa dos direitos de todos os estudantes de estarem

aprendendo e participando juntos sem nenhum tipo de discriminaccedilatildeo Essa concepccedilatildeo

fundamentava-se na base filosoacutefico-ideoloacutegica que defendia a garantia dos direitos humanos

e ao mesmo tempo ldquo[] conjuga[va] igualdade e diferenccedila como valores indissociaacuteveis e

que avanccedila[va] em relaccedilatildeo agrave ideacuteia [sic] de equumlidade [sic] formal ao contextualizar as

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circunstacircncias histoacutericas da produccedilatildeo da exclusatildeo dentro e fora da escolardquo (Ministeacuterio da

Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Especial Brasil 2008 p 5)

No decorrer do periacuteodo da era da inclusatildeo no Brasil fortaleceu-se a criacutetica agraves praacuteticas

de conceituaccedilatildeo identificaccedilatildeo e categorizaccedilatildeo dos discentes encaminhados para ambientes

escolares ldquoespeciaisrdquo sob o signo da abordagem da deficiecircncia como uma patologia

individual capaz de determinar o fracasso escolar de seus ldquoportadoresrdquo Aleacutem disso criticava-

se o cunho assistencialista dessa poliacutetica em que a instituiccedilatildeo privada com fins filantroacutepicos

tinha caraacuteter de internato e as pessoas com deficiecircncia eram retiradas do conviacutevio familiar e

social para viverem em instituiccedilotildees asilares Dentro de uma visatildeo biomeacutedica entendia-se

que a responsabilidade social da Educaccedilatildeo Especial era a de curar ou eliminar a deficiecircncia

de seus alunos por meio da Educaccedilatildeo

O movimento mundial pela inclusatildeo escolar conduziu o debate sobre a Educaccedilatildeo

Especial ao questionamento dos modelos de normalizaccedilatildeo de ensino e de aprendizagem

geradores de exclusatildeo nos espaccedilos escolares regulares sob o siacutembolo da integraccedilatildeo

instrucional que instituiacutea ldquoclasses especiaisrdquo na rede regular de ensino notadamente no

sistema puacuteblico Nesse modelo a Educaccedilatildeo de ldquoportadores de necessidades especiaisrdquo

deveria no que fosse possiacutevel enquadrar-se ao sistema geral de educaccedilatildeo a fim de integraacute-

los agrave comunidade Desse modo em vez de a escola ter que se adequar agraves necessidades

fiacutesicas sensoriais intelectuais sociais e culturais do discente este eacute que deveria se adequar

agrave escola em termos de estrutura fiacutesica pedagoacutegica e administrativa

Portanto os tempos espaccedilos praacuteticas e saberes escolares na aacuterea de conhecimento

da Educaccedilatildeo Especial no Brasil historicamente se caracterizaram pela visatildeo da Educaccedilatildeo

que entendia a escolarizaccedilatildeo como um privileacutegio de um grupo dito ldquonormalrdquo e a exclusatildeo ndash

dentro e fora da escola ndash como estrateacutegia para o tratamento das pessoas ditas ldquodeficientesrdquo

Esse entendimento foi legitimado nas poliacuteticas e praacuteticas educacionais ldquoespeciaisrdquo

reprodutoras das relaccedilotildees sociais e de poder que classificavam os grupos humanos de

maneira subalterna uns aos outros transformando as naturais diferenccedilas humanas em

desigualdades e injusticcedilas sociais (Sassaki 2005)

3 Marcos legal e poliacuteticos internacionais de Educaccedilatildeo Inclusiva e a

repercussatildeo no Brasil

A anaacutelise documental dos seis textos legais - 1)Convenccedilatildeo Interamericana para a

Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Pessoas Portadoras de

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Deficiecircncia 2)Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos 3)A Unesco e a Educaccedilatildeo na

Ameacuterica Latina e Caribe 4)Educaccedilatildeo para Todos o compromisso de Dakar 5)A Unesco no

Brasil consolidando compromissos 6)Conferecircncia Mundial de Necessidades Educativas

Especiais Acesso e Qualidade ndash permitiu inferir que sob a era da inclusatildeo no paradigma

veiculado pelos documentos oficiais internacionais a deficiecircncia passa a ser tratada

internacionalmente na perspectiva da abordagem dos direitos humanos ou seja como uma

patologia social produzida em consequecircncia da organizaccedilatildeo social e da relaccedilatildeo entre o

indiviacuteduo e a sociedade cuja responsabilidade sobre essas pessoas singulares seria por

meio da reconstruccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas de Educaccedilatildeo Especial entendidas como accedilotildees

afirmativas em defesa da diferenccedila e da diversidade humana visando agrave superaccedilatildeo dessas

mesmas desigualdades e injusticcedilas atraveacutes da eliminaccedilatildeo de praacuteticas pedagoacutegicas

discriminatoacuterias e excludentes (Sassaki 2005) Nessa vertente prima-se pela oferta de um

atendimento educacional especializado de modo complementar ou suplementar ao processo

de escolarizaccedilatildeo desses alunos sendo ambos os serviccedilos disponibilizados no espaccedilo

comum da escola regular

Logo a partir da deacutecada de 1990 o movimento educacional internacional pela

inclusatildeo que preconizava que todas as pessoas deveriam estar inseridas nos mesmos

espaccedilos e tempos escolares passou a integrar a pauta obrigatoacuteria na escola no Brasil

enfatizando-se especialmente o tema sobre as mais eficientes formas de atendimento

educacional especializado e sobre a escolarizaccedilatildeo dos alunos puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo

Especial no sistema regular de ensino Com efeito passa-se a discutir a garantia do direito agrave

Educaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncia transtorno global do desenvolvimento e com altas

habilidadessuperdotaccedilatildeo segundo os marcos legais poliacuteticos e pedagoacutegicos promulgados

por organismos internacionais como a ONU

Dentro desse processo de evoluccedilatildeo histoacuterica das poliacuteticas puacuteblicas no cenaacuterio

brasileiro a modalidade de ensino da Educaccedilatildeo Especial passou sob o verniz eacutetico-poliacutetico

da Educaccedilatildeo Inclusiva a garantir o acesso a permanecircncia a participaccedilatildeo e o

desenvolvimento acadecircmico e social dos estudantes puacuteblico-alvo do Atendimento

Educacional Especializado (AEE) na escola comum a partir da tentativa de eliminaccedilatildeo das

barreiras pedagoacutegicas arquitetocircnicas comunicacionais e atitudinais Afinal os documentos

internacionais defendem que natildeo eacute o limite individual que determina a deficiecircncia mas sim

as barreiras existentes nos espaccedilos no meio fiacutesico no transporte na informaccedilatildeo na

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comunicaccedilatildeo e nos serviccedilos A escola nessa vertente deve tornar-se um espaccedilo acolhedor

das diferenccedilas

A elaboraccedilatildeo dos direitos que asseguram a participaccedilatildeo de todos e a efetivaccedilatildeo de

uma sociedade inclusiva fica patente a partir de 10 de dezembro de 1948 quando da

elaboraccedilatildeo da Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos pela Assembleia Geral das

Naccedilotildees Unidas que se fundamenta no reconhecimento da dignidade de todas as pessoas e

na universalidade e indivisibilidade desses direitos e portanto no valor da diversidade

humana que se impotildee como condiccedilatildeo para o alcance de tal reconhecimento ao explicitar a

pessoa como sujeito de direito respeitado em suas peculiaridades e particularidades Como

garantia do direito agrave Educaccedilatildeo a citada declaraccedilatildeo internacional normatiza

Art 26 1 Todo ser humano tem direito agrave instruccedilatildeo A instruccedilatildeo seraacute gratuita pelo

menos nos graus elementares e fundamentais A instruccedilatildeo elementar seraacute obrigatoacuteria

A instruccedilatildeo teacutecnico-profissional seraacute acessiacutevel a todos bem como a instruccedilatildeo superior

estaacute baseada no meacuterito 2 A instruccedilatildeo seraacute orientada no sentido do pleno

desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos

direitos humanos e pelas liberdades fundamentais A instruccedilatildeo promoveraacute a

compreensatildeo a toleracircncia e a amizade entre todas as naccedilotildees e grupos raciais ou

religiosos e coadjuvaraacute as atividades das Naccedilotildees Unidas em prol da manutenccedilatildeo da

paz 3 Os pais tecircm prioridade de direito na escolha do gecircnero de instruccedilatildeo que seraacute

ministrada a seus filhos (ONU 1948 p 5)

Tal declaraccedilatildeo parece natildeo gerar mudanccedilas significativas na forma de oferta e

compreensatildeo acerca da educaccedilatildeo inclusiva Quase 30 anos depois dessa primeira

publicaccedilatildeo em 9 de dezembro de 1975 a ONU (1975 p 2) abordou especificamente a

temaacutetica da inclusatildeo ao lanccedilar a Declaraccedilatildeo dos Direitos das Pessoas Deficientes4 que

assevera

As pessoas deficientes tecircm direito a tratamento meacutedico psicoloacutegico e funcional

incluindo-se aiacute aparelhos proteacuteticos e ortoacuteticos agrave reabilitaccedilatildeo meacutedica e social

educaccedilatildeo treinamento vocacional e reabilitaccedilatildeo assistecircncia aconselhamento

serviccedilos de colocaccedilatildeo e outros serviccedilos que lhes possibilitem o maacuteximo

4 ldquoO termo lsquopessoas deficientesrsquo refere-se a qualquer pessoa incapaz de assegurar por si mesma total ou parcialmente as necessidades de uma vida individual ou social normal em decorrecircncia de uma deficiecircncia congecircnita ou natildeo em suas capacidades fiacutesicas ou mentaisrdquo (ONU 1975 p 1)

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desenvolvimento de sua capacidade e habilidades e que acelerem o processo de sua

integraccedilatildeo social

A partir da deacutecada de 1980 o Brasil paiacutes signataacuterio impulsionado por debates

internacionais buscou afirmaccedilatildeo do direito agrave Educaccedilatildeo das pessoas puacuteblico-alvo da

Educaccedilatildeo Especial por meio da realizaccedilatildeo de conferecircncias sobre o tema da inclusatildeo escolar

constituiacutedas por organismos nacionais e internacionais de defesa dos direitos humanos

Ademais ratificaram-se algumas declaraccedilotildees sobre as demandas especiacuteficas dessa aacuterea de

conhecimento que precisavam ser legitimadas democraticamente mediante instrumentos

juriacutedicos locais e de princiacutepios aplicaacuteveis a cada paiacutes-membro

No ano de 1981 por exemplo foram promulgados dois documentos relevantes para a

Educaccedilatildeo Especial a saber a Declaraccedilatildeo de Cuenca sobre novas tendecircncias na Educaccedilatildeo

Especial (UnescoOrealc ndash Cuenca Equador) que recomendava a eliminaccedilatildeo de barreiras

fiacutesicas e a participaccedilatildeo de pessoas ldquodeficientesrdquo na tomada de decisotildees a seu respeito e a

Declaraccedilatildeo de Sunderberg como resultado da Conferecircncia Mundial sobre as Accedilotildees e

Estrateacutegias para a Educaccedilatildeo Prevenccedilatildeo e Integraccedilatildeo dos Impedidos (Unesco ndash

Torremolinos Espanha) cujo tema principal era a equiparaccedilatildeo de oportunidades das

pessoas ldquodeficientesrdquo agrave Educaccedilatildeo formaccedilatildeo cultura e informaccedilatildeo (Carvalho 2002)

A deacutecada de 1980 marcou o Brasil pois deu iniacutecio ao debate mais acirrado para

estimular o cumprimento dos direitos das pessoas ldquodeficientesrdquo agrave Educaccedilatildeo agrave sauacutede e ao

trabalho Em 1981 comemorou-se em todo o mundo o Ano Internacional das Pessoas

Deficientes proclamado pela Assembleia Geral das Naccedilotildees Unidas5 cujo lema foi

participaccedilatildeo plena e igualdade em que a ONU oficializou o embriatildeo do conceito de

sociedade inclusiva Partindo da ideia de que as pessoas ldquodeficientesrdquo formam parte da

sociedade e natildeo satildeo uma sociedade agrave parte o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Cultura (MEC) do

Brasil em consonacircncia com a citada resoluccedilatildeo da ONU traccedilou as seguintes accedilotildees a curto

meacutedio e longo prazo para a oferta do AEE em territoacuterio nacional

I ndash Curto Prazo 1) Estabelecer modelos para serviccedilos de atendimento educacional

2) Organizar seminaacuterios e congressos a niacutevel nacional sobre Educaccedilatildeo Especial

3) Fomentar o desenvolvimento de recursos humanos em Educaccedilatildeo Especial a niacutevel

de 2ordm Grau 4) Sensibilizar os Conselhos de Educaccedilatildeo ordm(Estaduais e Federal) para os

5 ldquoEm sua trigeacutesima sessatildeo de 16 de dezembro de 1976 a Assembleia Geral das Naccedilotildees Unidas pela Resoluccedilatildeo nordm 31123 proclamou oficialmente o ano de 1981 como o Ano Internacional das Pessoas Deficientesrdquo (ONU 1981 p 6)

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problemas da Educaccedilatildeo Especial 5) Assessorar a Secom sobre a publicaccedilatildeo de

material informativo sobre multiplicidade de accedilotildees impliacutecitas na Educaccedilatildeo Especial

6) Promover o levantamento de todo o material bibliograacutefico sobre Educaccedilatildeo Especial

7) Ampliar e reestruturar o atendimento preacute-escolar do Instituto Nacional de Educaccedilatildeo

de Surdos ndash Ines ndash e do Instituto Benjamin Constant ndash IBC ndash visando transformaacute-los

em serviccedilos-modelo 8) Aperfeiccediloar e ampliar programa de bolsa de trabalho para

educandos deficientes 9) Publicar documentos relativos agrave Educaccedilatildeo Especial

elaborados pelo Cenesp 10) Aperfeiccediloar e ampliar o projeto de Assistecircncia Teacutecnica agraves

Secretarias Estaduais de Educaccedilatildeo II ndash Meacutedio Prazo 1) Estimular a formaccedilatildeo de

teacutecnicos especializados a niacutevel de 3ordm Grau 2) Elaborar o II Plano Nacional de

Educaccedilatildeo Especial 3) Normalizaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fiacutesica para deficientes 4) Efetuar

estudos sobre estatiacutestica da Educaccedilatildeo Especial 5) Implementar a modernizaccedilatildeo da

Imprensa Braille III ndash Longo Prazo 1) Estimular nos Estados e Municiacutepios a criaccedilatildeo

de serviccedilos de atendimento educacional que objetivem a integraccedilatildeo e a normalizaccedilatildeo

2) Criar centros de produccedilatildeo de material psicopedagoacutegico 3) Elaborar o I Plano

Nacional Integrado de Assistecircncia ao Excepcional e 4) Estimular a Educaccedilatildeo Especial

de deficientes adultos (ONU 1981 pp 14-15)

Uma importante consequecircncia do Ano Internacional das Pessoas Deficientes (1981) foi

a aprovaccedilatildeo do Programa Mundial de Accedilatildeo relativo agraves Pessoas com Deficiecircncia pela

Assembleia Geral da ONU por meio da Resoluccedilatildeo nordm 3752 de 3 de dezembro de 1982

Prontamente o Ano Internacional e o Programa Mundial de Accedilatildeo contribuiacuteram para um forte

desenvolvimento nesse domiacutenio por intermeacutedio da criaccedilatildeo da Deacutecada das Naccedilotildees Unidas

para as Pessoas com Deficiecircncia (1983-1992) que visava garantir agraves pessoas com

deficiecircncia o exerciacutecio dos seus direitos fundamentais e a sua participaccedilatildeo plena na

sociedade (ONU 1993) Ambos salientavam o direito das pessoas ldquodeficientesrdquo agraves mesmas

oportunidades de que gozavam os demais cidadatildeos visando a todos melhores condiccedilotildees de

vida resultantes do desenvolvimento econocircmico e social de suas comunidades (Unesco

1990)

Aspirando a enfrentar esse desafio mundial e a construir projetos capazes de superar

os processos histoacutericos de exclusatildeo escolar dessas pessoas com base na responsabilidade

comum e universal de todos os povos a Unesco estabeleceu a Conferecircncia Mundial de

Educaccedilatildeo para Todos realizada em Jomtien na Tailacircndia no periacuteodo de 5 a 9 de marccedilo de

1990 Esse evento implicou a solidariedade internacional dos organismos e instituiccedilotildees

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intergovernamentais a fim de satisfazer as necessidades baacutesicas de aprendizagem de seus

cidadatildeos haja vista os altos iacutendices de crianccedilas adolescentes e jovens sem escolarizaccedilatildeo

Somente assim seria possiacutevel promover as transformaccedilotildees nos sistemas de ensino para

assegurar o acesso e a permanecircncia de todos na escola (Unesco 1990)

Os principais referenciais da Declaraccedilatildeo de Jomtien (1990)6 publicados no ano

seguinte pelo Unicef enfatizavam a urgecircncia de uma Educaccedilatildeo de qualidade para todos ao

constituiacuterem a agenda de discussatildeo das poliacuteticas educacionais reforccedilando a necessidade

de elaboraccedilatildeo e a implementaccedilatildeo de accedilotildees voltadas para a universalizaccedilatildeo do acesso agrave

escola a promoccedilatildeo da equidade no acircmbito do ensino fundamental meacutedio e superior a

oferta da Educaccedilatildeo Infantil nas redes puacuteblicas de ensino a estruturaccedilatildeo do atendimento agraves

demandas de alfabetizaccedilatildeo e da modalidade de Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos e a

construccedilatildeo da gestatildeo democraacutetica da escola Sob a perspectiva inclusiva a referida

declaraccedilatildeo nos itens 4 e 5 do artigo 3ordm instituiu que

4 Um compromisso efetivo para superar as disparidades educacionais deve ser

assumido Os grupos excluiacutedos ndash os pobres os meninos e meninas de rua ou

trabalhadores as populaccedilotildees das periferias urbanas e zonas rurais os nocircmades e os

trabalhadores migrantes os povos indiacutegenas as minorias eacutetnicas raciais e linguumliacutesticas

[sic] os refugiados os deslocados pela guerra e os povos submetidos a um regime de

ocupaccedilatildeo ndash natildeo devem sofrer qualquer tipo de discriminaccedilatildeo no acesso agraves

oportunidades educacionais 5 As necessidades baacutesicas de aprendizagem das

pessoas portadoras de deficiecircncias requerem atenccedilatildeo especial Eacute preciso tomar

medidas que garantam a igualdade de acesso agrave educaccedilatildeo aos portadores de todo e

qualquer tipo de deficiecircncia como parte integrante do sistema educativo (Unesco

1990 p 4)

Vale lembrar que as diversas declaraccedilotildees da ONU culminaram em 1993 na publicaccedilatildeo

das Normas sobre a Igualdade de Oportunidades7 para as Pessoas com Deficiecircncia por meio

de resoluccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas adotada pela Assembleia Geral no dia 20 de dezembro de

1993 As normas exortavam os Estados dentre eles o Brasil a assumirem um compromisso

eacutetico e poliacutetico com vistas a operacionalizar dentre outros direitos o acesso ao sistema

6 No Brasil o MEC divulgou o Plano Decenal de Educaccedilatildeo para Todos para o periacuteodo de 1993 a 2003 elaborado em cumprimento agraves resoluccedilotildees da Declaraccedilatildeo de Jomtien (1990)

7 ldquoO termo lsquoigualdade de oportunidadesrsquo significa o processo pelo qual os diversos sistemas da sociedade e o meio envolvente tais como serviccedilos atividades informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo se [sic] tornam acessiacuteveis a todos e em especial agraves pessoas com deficiecircnciardquo (ONU 1993 p 16)

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regular de ensino agraves pessoas com deficiecircncia em igualdade de oportunidades com as demais

pessoas independentemente da natureza e gravidade da sua deficiecircncia tendo como

estrateacutegias complementares as escolas especiais (ONU 1993)

Por conseguinte a tendecircncia dos organismos internacionais atrelados ao

desenvolvimento da Educaccedilatildeo em seus paiacuteses-membros notadamente aqueles ligados agrave

ONU durante as deacutecadas de 1980 e 1990 tinha sido a de promover integraccedilatildeo e

participaccedilatildeo aleacutem de combater a exclusatildeo dos grupos socialmente marginalizados como

era o caso das pessoas ldquodeficientesrdquo O paradigma da inclusatildeo surgiu mais enfaticamente

com a Declaraccedilatildeo de Jomtien (1990) no contexto do movimento poliacutetico mundial para o

fomento de uma agenda internacional em prol do alcance das metas do direito agrave Educaccedilatildeo

das pessoas com deficiecircncia nos sistemas regulares de ensino Seu aacutepice no entanto

ocorreu com a produccedilatildeo de um documento publicado pelo Governo da Espanha em parceria

com a Unesco entre os dias 7 e 10 de junho de 1994 denominado Declaraccedilatildeo de

Salamanca sobre os princiacutepios a poliacutetica e as praacuteticas na aacuterea das necessidades educativas

especiais8 como resultado da Conferecircncia Mundial de Necessidades Educativas Especiais

Acesso e Qualidade

Tal Declaraccedilatildeo teve a finalidade de promover o objetivo da Educaccedilatildeo para Todos ou

seja da Educaccedilatildeo Especial sob a perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva examinando as

mudanccedilas fundamentais das poliacuteticas puacuteblicas educacionais necessaacuterias para desenvolver

tal abordagem nomeadamente qualificando as escolas regulares para atender a todas as

crianccedilas sobretudo as que tecircm necessidades educativas especiais de modo que os

governos com apoio das organizaccedilotildees internacionais pudessem conceder maior prioridade

ao desenvolvimento de seus respectivos Sistemas Nacionais de Educaccedilatildeo sob a

perspectiva inclusiva atraveacutes de medidas poliacuteticas e orccedilamentaacuterias compatiacuteveis com esse

imperativo eacutetico (Unesco 1994)

A partir dessa reflexatildeo acerca das praacuteticas educacionais especiais da qual resultaram

a compreensatildeo de equiparaccedilatildeo de oportunidades de diversos grupos sociais (crianccedilas com

deficiecircncia e crianccedilas bem dotadas crianccedilas que vivem nas ruas e que trabalham crianccedilas

de populaccedilotildees distantes ou nocircmades crianccedilas de minorias linguiacutesticas eacutetnicas ou culturais e

crianccedilas de outros grupos e zonas desfavorecidas ou marginalizadas) a Declaraccedilatildeo de

Salamanca e Linha de Accedilatildeo sobre Necessidades Educativas Especiais proclamou que as

8 A expressatildeo ldquonecessidades educativas especiaisrdquo no citado documento refere-se a todas as crianccedilas e jovens cujas carecircncias se relacionam com deficiecircncias ou dificuldades escolares incluindo nesse escopo as pessoas com deficiecircncia e as superdotadas (UNESCO 1994)

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escolas comuns representavam o meio mais eficaz para combater as atitudes

discriminatoacuterias ressaltando que o princiacutepio fundamental dessa linha de accedilatildeo seria o de que

as escolas inclusivas deveriam acolher todas as crianccedilas independentemente de suas

condiccedilotildees fiacutesicas intelectuais sociais emocionais linguiacutesticas ou outras (Unesco 1994)

Na esteira de construccedilatildeo de uma agenda internacional em torno da promoccedilatildeo de uma

Educaccedilatildeo para Todos em particular para aquelas com necessidades educacionais

especiais capazes de gerar diversos instrumentos e recomendaccedilotildees internacionais

passiacuteveis de serem incorporados ao sistema juriacutedico dos paiacuteses-membros de organismos

internacionais ligados ao fomento da Educaccedilatildeo tornando-os internamente obrigatoacuterios

surgiram outros movimentos sociais em torno da proposta da inclusatildeo escolar como a

Declaraccedilatildeo de Cartagena de Iacutendias as Poliacuteticas Integrais para Pessoas com Deficiecircncias na

Regiatildeo Ibero-Americana na Colocircmbia em 1992 a Conferecircncia Hemisfeacuterica de Pessoas com

Deficiecircncias em WashingtonEUA em 1993 a 5ordf Reuniatildeo do Comitecirc Regional

Intergovernamental do Projeto Principal de Educaccedilatildeo na Ameacuterica Latina e Caribe que

resultou na Declaraccedilatildeo de Santiago realizada no Chile em 1993 a 1ordf Reuniatildeo dos

Participantes da Conferecircncia de Ministros responsaacuteveis pela situaccedilatildeo da pessoa com

deficiecircncia ocorrida em MontrealCanadaacute em 1994 e a publicaccedilatildeo das normas uniformes

sobre a igualdade de oportunidades para pessoas com deficiecircncia aprovadas pela

Assembleia Geral nordm 4896 de 20 de dezembro de 1993 da ONU

Por fim a construccedilatildeo do cenaacuterio internacional da Educaccedilatildeo Especial sob o aspecto

filosoacutefico-ideoloacutegico da inclusatildeo na deacutecada de 1990 culminou com a Convenccedilatildeo

Interamericana para a Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Pessoas

Portadoras de Deficiecircncia9 mais conhecida como Convenccedilatildeo da Guatemala aprovada pelo

Conselho Permanente da OEA na sessatildeo realizada em 26 de maio de 1999 no paiacutes da

Ameacuterica Central supracitado promulgada no Brasil pelo Decreto nordm 39562001 Esse

documento que ainda utilizava a expressatildeo ldquoportador de deficiecircnciardquo afirmava que os

Estados-Partes deveriam se comprometer a tomar as medidas de caraacuteter legislativo social

educacional trabalhista ou de qualquer outra natureza que fossem necessaacuterias para

eliminar a discriminaccedilatildeo contra as pessoas ldquoportadoras de deficiecircnciardquo e proporcionar a sua

plena ldquointegraccedilatildeordquo agrave sociedade

9 ldquo[] o termo lsquodiscriminaccedilatildeo contra as pessoas portadoras de deficiecircnciarsquo significa toda diferenciaccedilatildeo exclusatildeo ou restriccedilatildeo baseada em deficiecircncia antecedente de deficiecircncia consequumlecircncia [sic] de deficiecircncia anterior ou percepccedilatildeo de deficiecircncia presente ou passada que tenha o efeito ou propoacutesito de impedir ou anular o reconhecimento gozo ou exerciacutecio por parte das pessoas portadoras de deficiecircncia de seus direitos humanos e suas liberdades fundamentaisrdquo (OEA 1999 p 3)

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Tendo em vista o protagonismo das agecircncias e organizaccedilotildees intergovernamentais no

panorama mundial como a ONU e suas agecircncias especializadas (Unesco Unicef e BM) e no

cenaacuterio regional como a OEA na busca pela cooperaccedilatildeo internacional a fim de promover e

estimular entre seus paiacuteses-membros o respeito aos direitos humanos e agraves liberdades

fundamentais para todos especialmente entre os grupos minoritaacuterios como no caso da

melhoria das condiccedilotildees de vida para pessoas com deficiecircncia verificou-se que o percurso

histoacuterico poliacutetico e filosoacutefico da Educaccedilatildeo Especial nos anos 1990 culminou no paradigma

inclusivo de garantia da equiparaccedilatildeo de oportunidades direitos e deveres de seu puacuteblico-alvo

no interior do sistema regular de ensino (Peroni 2003)

Em pleno anos 2000 a ONU continuou a fixar padrotildees a trabalhar para tecer

consensos universais e a manter-se como um foacuterum central disseminador para a

comunidade internacional de princiacutepios e orientaccedilotildees gerais para a Educaccedilatildeo atraveacutes de

sua agecircncia especializada da Unesco Ademais seguiu lanccedilando as diretrizes sobre os

caminhos da Educaccedilatildeo Especial atraveacutes de declaraccedilotildees e recomendaccedilotildees acordadas para a

construccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas educacionais inclusivas ao redor do mundo Dessa forma

entre os dias 26 e 28 de abril de 2000 em Dakar Senegal 164 paiacuteses reuniram-se no

Foacuterum Consultivo Internacional para a Educaccedilatildeo para Todos criado em 1991 e composto

por representantes da Unesco Unicef e BM contando com agecircncias bilaterais governos e

sociedade civil para avaliar os progressos globais alcanccedilados desde a Conferecircncia Mundial

de Educaccedilatildeo para Todos realizada dez anos antes em Jomtien Tailacircndia e para aprovar

novo marco de accedilatildeo para a universalizaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Baacutesica (Unesco 2001)

Em 13 de dezembro de 2006 em sessatildeo solene da Assembleia Geral da ONU foi

aprovado o texto final da Convenccedilatildeo sobre os Direitos das Pessoas com Deficiecircncia10

firmado pelo Brasil e por mais 85 naccedilotildees signataacuterias em 30 de marccedilo de 2007 Esse tratado

internacional no que diz respeito ao direito agrave Educaccedilatildeo aos deficientes estabelece que os

Estados-Partes devem assegurar um sistema de Educaccedilatildeo Inclusiva em todos os niacuteveis de

ensino bem como o aprendizado ao longo da vida Em seu artigo 24 determina que as

pessoas com deficiecircncia natildeo sejam excluiacutedas do sistema educacional geral e que as

crianccedilas com deficiecircncia natildeo sejam excluiacutedas do ensino fundamental gratuito e compulsoacuterio

estabelece tambeacutem que elas tenham acesso ao ensino meacutedio e superior inclusivo de

10 Nesse texto a ONU reconhece que ldquo[] a deficiecircncia eacute um conceito em evoluccedilatildeo e que a deficiecircncia resulta da interaccedilatildeo entre pessoas com deficiecircncia e as barreiras atitudinais e ambientais que impedem sua plena e efetiva participaccedilatildeo na sociedade em igualdade de oportunidades com as demais pessoasrdquo (ONU 2012 p 22)

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qualidade e gratuito em igualdade de condiccedilotildees com as demais pessoas na comunidade em

que vivem (ONU 2012)

Ainda no panorama internacional a Unesco lanccedila em 2009 uma coletacircnea intitulada

Orientaccedilotildees Poliacuteticas sobre Inclusatildeo na Educaccedilatildeo a fim de ampliar a compreensatildeo das

questotildees atinentes agraves poliacuteticas e agraves praacuteticas pedagoacutegicas que visam garantir a inclusatildeo

educacional e social Os dados apresentados e as anaacutelises feitas suscitaram

questionamentos e posicionamentos em relaccedilatildeo agraves condiccedilotildees de acesso e de atendimento

nas redes de ensino e possibilitaram o aprofundamento do debate sobre as accedilotildees do poder

puacuteblico e da sociedade com vistas a assegurar o direito de todas as pessoas agrave Educaccedilatildeo

Escolar de Qualidade (No cenaacuterio regional da Ameacuterica Latina e do Caribe houve em 2009

a Campanha Latino-Americana pelo Direito agrave Educaccedilatildeo a fim de promover o

desenvolvimento de pesquisas interdisciplinares para subsidiar a formulaccedilatildeo de poliacuteticas

puacuteblicas intersetoriais que atendessem agraves especificidades educacionais de estudantes com

deficiecircncia transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotaccedilatildeo que

requeiram medidas de atendimento especializado Jaacute na Uniatildeo Europeia a Agecircncia

Europeia para o Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Especial recomendou tambeacutem em 2009

para decisoacuterios poliacuteticos princiacutepios baacutesicos para a Promoccedilatildeo da Qualidade na Educaccedilatildeo

Inclusiva Faacutevero Ferreira Ireland e Barreiros 2009)

A influecircncia histoacuterica direta ou indireta das agecircncias internacionais no direcionamento

das poliacuteticas puacuteblicas dentre elas a Educaccedilatildeo Especial situada no acircmbito geral das

diretrizes da Educaccedilatildeo como um direito de todos e dever do Estado implica o entendimento

de que os fundamentos ideoloacutegicos que datildeo sustentaccedilatildeo agraves poliacuteticas educacionais na aacuterea

de conhecimento da Educaccedilatildeo Especial adotadas pelos governos brasileiros certamente natildeo

foram gerados exclusivamente em acircmbito nacional mas ao contraacuterio em acircmbito

internacional vinculados agraves declaraccedilotildees e recomendaccedilotildees construiacutedas em foros de

abrangecircncia mundial e regional Em consequecircncia torna-se obrigatoacuterio considerar que a

atuaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas teve papel preponderante para a internacionalizaccedilatildeo do

discurso da Educaccedilatildeo Especial na perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva nos anos 1990 e 2000

notadamente pelo trabalho teacutecnico-poliacutetico da Unesco

Na perspectiva da citada agecircncia intergovernamental atuar nessa agenda de

cooperaccedilatildeo internacional e nacional com os Estados-Partes na formulaccedilatildeo de poliacuteticas e

estrateacutegias destinadas ao melhoramento dos sistemas de ensino ldquo[] significa avanccedilar para

uma sociedade educacional onde cada pessoa aprenda durante toda a vida e seja fonte de

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aprendizagem para os demaisrdquo (Unesco 1998 p 11) afinal a ldquo[] educaccedilatildeo desempenha

um papel chave neste processo tendo em vista o seu valor econocircmico e socialrdquo (Unesco

2004 p 33)

Essa compreensatildeo conduz o debate sobre os rumos da Educaccedilatildeo Especial no Brail

tornando-se fundamental para a construccedilatildeo de poliacuteticas de formaccedilatildeo docente financiamento

e gestatildeo escolar necessaacuterias para a transformaccedilatildeo da estrutura educacional a fim de

assegurar as condiccedilotildees de acesso participaccedilatildeo e aprendizagem de todos os estudantes

concebendo a escola como um espaccedilo que reconhece e valoriza as diferenccedilas

Logo o respeito agrave diversidade efetivado no respeito agraves diferenccedilas impulsiona accedilotildees

de cidadania voltadas ao reconhecimento de sujeitos de direitos simplesmente por serem

seres humanos Suas especificidades natildeo devem ser elemento para a construccedilatildeo de

desigualdades discriminaccedilotildees ou exclusotildees mas sim devem pautar as poliacuteticas afirmativas

de respeito agrave diversidade voltadas para a construccedilatildeo de contextos sociais inclusivos cujo

aspecto filosoacutefico-ideoloacutegico se assenta na equiparaccedilatildeo de oportunidades direitos e

deveres em que todas as pessoas teriam condiccedilotildees de vida e chance de realizar seus

projetos como parte do exerciacutecio de sua cidadania e em respeito agrave sua identidade

3 Consideraccedilotildees finais

Esta pesquisa foi instigada pela reflexatildeo que questionava como foi se constituindo a

compreensatildeo de Educaccedilatildeo Inclusiva ao longo dos tempos no Brasil considerando a

influecircncia ideoloacutegica dos documentos legais produzidos pelos organismos internacionais ndash

ONU Unesco OEA Unicef e BM ndash a partir das primeiras deacutecadas do seacuteculo XX Tal

inquietaccedilatildeo acadecircmica fez emergir o interesse em compreender a Histoacuteria da Educaccedilatildeo

Inclusiva em especial no que concerne agrave escolarizaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncia

defendida em acordos e discussotildees internacionais O objetivo com efeito foi desenvolver

um histoacuterico a respeito das poliacuteticas puacuteblicas internacionais de Educaccedilatildeo Especial com

ecircnfase nas mudanccedilas paradigmaacuteticas emergentes cronologicamente no Brasil

Realizou-se uma pesquisa documental nos textos internacionais produzidos sobre os

debates acerca da Educaccedilatildeo Inclusiva em especial para as pessoas com deficiecircncia dentre

os quais destacam-se Convenccedilatildeo Interamericana para a Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas

de Discriminaccedilatildeo contra as Pessoas Portadoras de Deficiecircncia Declaraccedilatildeo Universal dos

Direitos Humanos A Unesco e a Educaccedilatildeo na Ameacuterica Latina e Caribe (1987-1997)

Educaccedilatildeo para Todos o Compromisso de Dakar A Unesco no Brasil Consolidando

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Compromissos Conferecircncia Mundial de Necessidades Educativas Especiais Acesso e

Qualidade Os resultados permitiram desenvolver uma cronologia histoacuterica a qual

possibilitou afirmar que os seacuteculos XVIII e XIX foram marcados pela segregaccedilatildeo

homogeneizante das pessoas com deficiecircncia em escolas especiais com edificaccedilatildeo

especiacutefica que separavam os ditos estudantes ldquonormaisrdquo dos alunos que possuiacuteam algum

tipo de limitaccedilatildeo periacuteodo em que os debates sobre inclusatildeo natildeo possuiacuteam ecircnfase no

cenaacuterio internacional A partir das primeiras deacutecadas do seacuteculo XX os debates internacionais

a respeito da escolarizaccedilatildeo dos entatildeo denominados discentes ldquoespeciaisrdquo foram se

alargando emergiram em congruecircncia as classes especiais no interior das escolas

regulares Posteriormente na segunda metade do seacuteculo XX os debates internacionais

comeccedilaram a sinalizar a superaccedilatildeo de qualquer forma de segregaccedilatildeo e a impulsionar a

ideologia atualmente defendida de igualdade e inclusatildeo social com respeito agraves diferenccedilas

Ao fazer um balanccedilo histoacuterico sobre as poliacuteticas puacuteblicas de Educaccedilatildeo Especial no

cenaacuterio internacional percebeu-se a ausecircncia de documentos especiacuteficos nos seacuteculos XVIII

XIX e iniacutecio do XX Somente ao longo dos seacuteculos XX e XXI especialmente nas deacutecadas

que seguem 1970 averiguou-se que a atuaccedilatildeo das agecircncias especializadas da ONU em

parceria com outras agecircncias internacionais governos organizaccedilotildees natildeo governamentais e

sociedades civis contribuiu de maneira importante para a transiccedilatildeo do discurso educacional

da integraccedilatildeo instrucional para a constituiccedilatildeo de saberes e praacuteticas da Educaccedilatildeo Especial

sob a oacutetica inclusiva ao desempenhar um fundamental papel como foro permanente de

debate educacional e busca de soluccedilotildees contribuindo para a consolidaccedilatildeo de uma agenda

educacional e para a promoccedilatildeo da cooperaccedilatildeo internacional e horizontal com o objetivo de

apoiar os processos de mudanccedila das condiccedilotildees de vida das pessoas com deficiecircncia dentre

elas a inclusatildeo dessas pessoas nos espaccedilos regulares de ensino em equiparaccedilatildeo de

oportunidades direitos e deveres com relaccedilatildeo aos seus pares sem deficiecircncia

A proposta global das Naccedilotildees Unidas visava agrave promoccedilatildeo de uma Educaccedilatildeo para todos

ao longo de toda a vida notadamente para grupos historicamente excluiacutedos como o das

pessoas com deficiecircncia Para tanto durante toda a deacutecada de 1990 houve uma expansatildeo

de acordos internacionais e uma redescoberta da Educaccedilatildeo Especial como campo feacutertil de

investimentos Ocorreu a definiccedilatildeo de uma agenda internacional para a Educaccedilatildeo Especial

materializada em diferentes eventos tais como a Conferecircncia Mundial sobre Educaccedilatildeo para

Todos (1990) a Declaraccedilatildeo de Salamanca (1994) a Convenccedilatildeo da Guatemala (1999) o

Compromisso de Dakar (2000) e a Convenccedilatildeo sobre os Direitos das Pessoas com

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Deficiecircncia (2006) que trataram de pautas de interesses ordinaacuterios agrave comunidade

internacional sobre o tema da Educaccedilatildeo Especial em uma perspectiva de Educaccedilatildeo

Inclusiva

Essas declaraccedilotildees e recomendaccedilotildees resultantes das diferentes cuacutepulas conferecircncias

e eventos regionais e internacionais foram importantes para a construccedilatildeo de consensos em

torno das principais ideias e propostas sobre Educaccedilatildeo Especial nas deacutecadas de 1980 1990

e 2000 ou seja da transiccedilatildeo do modelo integracionista para o inclusivo Nesses eventos ao

se constituiacuterem em foacuteruns gerais propalava-se a necessidade de reformas educativas

nacionais acompanhadas de mudanccedilas no financiamento transformaccedilatildeo curricular e gestatildeo

educacional em torno de sistemas educacionais inclusivos perseguidos tambeacutem no iniacutecio do

seacuteculo XXI que influenciaram a mudanccedila de paradigma acerca do atendimento agrave pessoa

com deficiecircncia no Brasil

No paradigma da inclusatildeo impulsionaram-se projetos de mudanccedilas nas poliacuteticas

puacuteblicas brasileiras ao conceber-se que todos se beneficiam quando as escolas promovem

respostas agraves diferenccedilas individuais dos estudantes Logo a Educaccedilatildeo Especial que surgiu

no campo da Pedagogia como uma aacuterea de conhecimento que se ocupava exclusivamente

do processo de escolarizaccedilatildeo pela via da homogeneizaccedilatildeo dos alunos ldquoexcepcionaisrdquo em

espaccedilos escolares ditos ldquoespeciaisrdquo que orbitavam agrave margem do sistema de ensino puacuteblico e

gratuito passou a integrar os tempos e espaccedilos das escolas regulares mas ficando a

participaccedilatildeo circunscrita agraves ldquoclasses especiaisrdquo e ainda sendo modalidade substitutiva e

normalizadora do processo de escolarizaccedilatildeo dos discentes ldquoportadores de necessidades

especiaisrdquo Atualmente sob a perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva o Brasil tem como

imperativo eacutetico normativo e intelectual ampliar a participaccedilatildeo de todos os estudantes nos

estabelecimentos de ensino regular especialmente daqueles grupos sociais historicamente

excluiacutedos da escola como as pessoas com deficiecircncia atraveacutes de uma abordagem

humaniacutestica e democraacutetica que perceba o sujeito e suas singularidades tendo como

objetivos o crescimento a satisfaccedilatildeo pessoal e a inserccedilatildeo social de todos

4 Referecircncias

Brasil Poder Executivo (2001) Promulga a Convenccedilatildeo Interamericana para a Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Pessoas Portadoras de Deficiecircncia Decreto nordm 3956 Brasil Diaacuterio Oficial [da] Repuacuteblica Federativa do Brasil

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WVA

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Conferecircncia Mundial de Necessidades Educativas Especiais Acesso e Qualidade Declaraccedilatildeo de Salamanca sobre os Princiacutepios a Poliacutetica e as Praacuteticas na Aacuterea das Necessidades Educativas Especiais Salamanca Unesco

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (1998)

A Unesco e a Educaccedilatildeo na Ameacuterica Latina e Caribe (1987-1997) Chile Unesco

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A Unesco no Brasil consolidando compromissos Brasiacutelia Unesco Organizaccedilatildeo dos Estados Americanos (OEA) (1999) Convenccedilatildeo Interamericana para a

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Educaccedilatildeo inclusiva aspectos histoacutericos poliacuteticos e ideoloacutegicos da sua constituiccedilatildeo no cenaacuterio internacional

Educacioacuten inclusiva aspectos histoacutericos poliacuteticos e ideoloacutegicos de su constitucioacuten en el escenario internacional

Inclusive education historical political and ideological aspects of its constitution in the international scenario

Daniella de Souza Barbosa1 Lia Machado Fiuza Fialho2

Charliton Joseacute dos Santos Machado3

Resumo O imperativo eacutetico de garantia de direitos humanos e igualdade agraves pessoas com deficiecircncia por intermeacutedio da Educaccedilatildeo Inclusiva eacute paradigma relativamente recente no cenaacuterio brasileiro e sua efetivaccedilatildeo eacute complexa Objetiva-se desenvolver uma pesquisa histoacuterica do tipo documental a respeito das poliacuteticas puacuteblicas internacionais de Educaccedilatildeo Especial com ecircnfase nas mudanccedilas paradigmaacuteticas emergentes cronologicamente no Brasil Conclui-se que os seacuteculos XVIII e XIX foram marcados pela segregaccedilatildeo homogeneizante das pessoas com deficiecircncia em escolas especiais e que a partir do seacuteculo XX impulsionadas por documentos internacionais emergem as classes especiais superadas pela ideologia atual de igualdade e inclusatildeo social com respeito agraves diferenccedilas que possibilita natildeo apenas a inclusatildeo na escola regular mas mecanismos de luta para igualdade de condiccedilotildees As reflexotildees ensejam que acordos internacionais impulsionam o Brasil a alinhar sua poliacutetica interna em direccedilatildeo agrave garantia de direitos humanos e igualdade agraves pessoas com deficiecircncia Palavras-chave educaccedilatildeo inclusiva pessoas com deficiecircncia educaccedilatildeo especial Resumen El imperativo eacutetico que permite garantizar derechos humanos e igualdad a las personas con discapacidad por intermedio de la Educacioacuten Inclusiva es un paradigma relativamente reciente en el escenario brasilentildeo y su efectividad es compleja Se pretende desarrollar una investigacioacuten histoacuterica del tipo documental respecto a las poliacuteticas puacuteblicas internacionales de Educacioacuten Especial con eacutenfasis en los cambios paradigmaacuteticos emergentes cronoloacutegicamente en Brasil Se concluye que los siglos XVIII y XIX fueron marcados por la segregacioacuten homogeneizante de las personas con discapacidad en escuelas especiales y que a partir del siglo XX impulsadas por documentos internacionales emergieron las clases especiales superadas por la ideologiacutea actual de igualdad e inclusioacuten social con respecto a las diferencias que posibilita no solo la inclusioacuten en la escuela regular sino mecanismos de lucha para la igualdad de condiciones Las reflexiones plantean que acuerdos internacionales impulsan el Brasil a alinear su poliacutetica interna hacia la garantiacutea de derechos humanos y de igualdad a las personas con discapacidad Palabras clave educacioacuten inclusiva personas con discapacidad educacioacuten especial

1 Professora doutora da Faculdade Mauriacutecio de Nassau Brasil no Curso de Graduaccedilatildeo em Fisioterapia e professora adjunta da Faculdade de Ciecircncias Meacutedicas da Paraiacuteba Professora visitante do Curso de Especializaccedilatildeo em Atendimento Educacional Especializado da Faculdade Integrada de Patos (FIP) entre 2015 e 2016 Endereccedilo eletrocircnico daniellafcmhotmailcom 2 Professora doutora do Centro de Educaccedilatildeo e do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo da Universidade Estadual do Cearaacute (UECE) Brasil Endereccedilo eletrocircnico lia_fialhoyahoocombr 3 Professor doutor associado IV e professor permanente dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo (PPGE) e em Sociologia (PPGS) ambos da Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Brasil Endereccedilo eletrocircnico charlitonlarayahoocombr Ensayo recibido 10 de noviembre 2017 Enviado a correccioacuten 13 de marzo 2018 Aprobado 9 de abril 2018

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Abstract The ethical imperative that guarantees human rights and equality for people with disabilities through Inclusive Education is a relatively recent paradigm in Brazilian scenario and its implementation is complex The objective is to develop a historical documentary-type research a path on international public policies of Special Education with emphasis on paradigmatic changes emerging chronologically in Brazil It is concluded that the eighteenth and nineteenth centuries were marked by the homogenizing segregation of people with disabilities in special schools and that from the twentieth century onwards special classes emerged driven by international documents Such classes were overcome the current ideology of equality and social inclusion towards the differences that make possible not only the inclusion in the regular school but some mechanisms to fight for equality of conditions The reflections show that the international discussions and agreements impel Brazil to align its internal policy towards the guarantee of human rights and equality for people with disabilities Keywords inclusive education people with disabilities special education

1 Introduccedilatildeo

A compreensatildeo dos aspectos histoacutericos poliacuteticos e ideoloacutegicos da Educaccedilatildeo Inclusiva

como modelo transversal de ensino que dialoga e compartilha os mesmos princiacutepios e

praacuteticas da Educaccedilatildeo geral eacute recente no cenaacuterio brasileiro e exige de seus sujeitos

escolares uma reflexatildeo sobre a complexidade desse novo imperativo eacutetico o qual busca

garantir os direitos humanos de populaccedilotildees historicamente excluiacutedas dos espaccedilos sociais

como a escola Igualmente recentes satildeo os estudos sobre as mudanccedilas de paradigmas

provocadas por essa accedilatildeo afirmativa ao longo dos tempos nas poliacuteticas puacuteblicas

educacionais no Brasil

Questionam-se como as poliacuteticas puacuteblicas veiculadas em documentos oficiais de

organismos internacionais - Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) Organizaccedilatildeo das

Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) Organizaccedilatildeo dos Estados

Americanos (OEA) Fundo das Naccedilotildees Unidas para a Infacircncia (Unicef) e Banco Mundial

(BM) - influiacuteram para mudanccedila de compreensatildeo acerca do paradigma segregativo na

Educaccedilatildeo Inclusiva brasileira Para compreender como foi se constituindo a compreensatildeo de

Educaccedilatildeo Inclusiva ao longo dos tempos influenciada pelos organismos internacionais que

lanccedilaram bases ideoloacutegicas nos documentos legais brasileiros desenvolveu-se uma

pesquisa no campo da Histoacuteria da Educaccedilatildeo com objetivo de desenvolver um histoacuterico a

respeito das poliacuteticas puacuteblicas internacionais de Educaccedilatildeo Especial com ecircnfase nas

mudanccedilas paradigmaacuteticas emergentes cronologicamente no Brasil

Metodologicamente realizou-se no primeiro semestre do ano de 2017 uma pesquisa

de abordagem qualitativa de cunho histoacuterico do tipo documental com base em textos

internacionais produzidos no seio dos debates sobre a Educaccedilatildeo Inclusiva em especial

sobre os direitos da pessoa com deficiecircncia tais como 1) Convenccedilatildeo Interamericana para a

Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Pessoas Portadoras de

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Deficiecircncia 2) Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos 3) A Unesco e a Educaccedilatildeo na

Ameacuterica Latina e Caribe 4) Educaccedilatildeo para Todos o compromisso de Dakar 5) A Unesco no

Brasil consolidando compromissos 6) Conferecircncia Mundial de Necessidades Educativas

Especiais Acesso e Qualidade

Salienta-se que a Educaccedilatildeo Especial eacute uma aacuterea do conhecimento relativamente nova

no campo da Educaccedilatildeo brasileira tendo em vista que foi incluiacuteda no curriacuteculo dos cursos de

Pedagogia somente a partir do seacuteculo XIX como resposta da academia agraves demandas das

instituiccedilotildees assistenciais filantroacutepicas privadas que mesmo situadas agrave margem dos

sistemas de ensino jaacute prestavam atendimento educacional agraves pessoas ldquoexcepcionaisrdquo desde

o seacuteculo XVIII isto eacute agravequelas com deficiecircncias sensoriais como a surdez e a cegueira por

exemplo

Nesse sentido a Educaccedilatildeo Especial nasceu sob o paradigma segregacionista de

Educaccedilatildeo que tentava produzir uma reparaccedilatildeo histoacuterica frente aos processos de exclusatildeo

escolar sofridos pelas pessoas que apresentavam singularidades sensoriais e em seguida

por aquelas ditas ldquoidiotasrdquo ou ldquoimbecisrdquo (atualmente denominadas de pessoas com

deficiecircncia intelectual)

Na condiccedilatildeo de temaacutetica emergente nos debates internacionais a Educaccedilatildeo Especial

vem galgando novos contornos que problematizam a visatildeo essencialmente homogeneizante

e segregacionista proporcionando o rompimento de paradigmas histoacutericos e o fomento de

uma ideologia pautada na inclusatildeo Defende-se pois a tese de que os debates

internacionais registrados em documentos oficiais impulsionam mudanccedilas de concepccedilotildees e

consecutivamente de poliacuteticas impulsionando o Brasil a alinhar sua poliacutetica interna em

direccedilatildeo agrave garantia de direitos humanos e igualdade agraves pessoas com deficiecircncia

Importa portanto historicizar a respeito das poliacuteticas puacuteblicas de Educaccedilatildeo Especial

no cenaacuterio internacional com ecircnfase nos avanccedilos emergentes de debates universais nos

seacuteculos XX e XXI a fim de clarificar compreensotildees sobre ideologias propostas de inclusatildeo e

accedilotildees em desenvolvimento com vistas agrave inclusatildeo da pessoa com deficiecircncia nos espaccedilos e

tempos da escola regular no Brasil

2 Histoacuteria da Educaccedilatildeo Especial o contexto brasileiro

A base filosoacutefico-ideoloacutegica que persistiu no cenaacuterio internacional entre os seacuteculos

XVIII e XIX foi a do modelo escolar segregacionista baseado na homogeneizaccedilatildeo das

pessoas de acordo com suas caracteriacutesticas bioloacutegicas ndash concepccedilatildeo organicista Esse

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paradigma preconizava como resposta educacional agraves necessidades de escolarizaccedilatildeo das

crianccedilas ldquoexcepcionaisrdquo a sua institucionalizaccedilatildeo em ldquoescolas especiaisrdquo pressupondo a

deficiecircncia como um fenocircmeno hereditaacuterio com evidecircncias de degenerescecircncia da espeacutecie

humana (Mendes 1995) Assim a segregaccedilatildeo era considerada a melhor forma de se

combater a ameaccedila representada por essa populaccedilatildeo agrave sociedade (Dechichi 2001)

Em suma os alunos eram rotulados como ldquoexcepcionaisrdquo ou seja havia uma visatildeo

patoloacutegica da deficiecircncia o que contribuiacutea para a marginalizaccedilatildeo do aluno no sistema regular

de ensino no Brasil e sua consequente institucionalizaccedilatildeo em espaccedilos escolares de caraacuteter

assistencial tendo em vista que a deficiecircncia era vista como causa e consequecircncia do baixo

rendimento escolar dessas pessoas o que justificava teoricamente sua segregaccedilatildeo em

espaccedilos escolares entendidos como capazes de ldquocurarrdquo ou ldquoeliminarrdquo a deficiecircncia por meio

da Educaccedilatildeo (Voivodic 2004)

A partir do final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX foi percebido que o atendimento

educacional das pessoas com deficiecircncia era tambeacutem um problema do Estado e da rede

regular de ensino sendo necessaacuteria a organizaccedilatildeo de um modelo de escola puacuteblica capaz

de acolher os alunos ldquoportadores de necessidades especiaisrdquo surgindo assim as ldquoescolas

especiaisrdquo puacuteblicas ou a instalaccedilatildeo de ldquoclasses especiaisrdquo nas jaacute existentes que visavam

oferecer agrave pessoa ldquodeficienterdquo uma Educaccedilatildeo agrave parte Emerge nesse cenaacuterio brasileiro o

paradigma da integraccedilatildeo instrucional no qual os discentes com deficiecircncia ndash seja fiacutesica

sensorial ou intelectual ndash poderiam se matricular em salas de aula comuns se possuiacutessem

condiccedilotildees de acompanhar e desenvolver no mesmo ritmo dos estudantes ditos ldquonormaisrdquo

as atividades curriculares programadas para o ensino comum No entanto aqueles que

possuiacutessem rendimento escolar abaixo da meacutedia estipulada pelo sistema de ensino

continuavam segredados da rede regular e sua matriacutecula se limitava agraves ldquoescolas especiaisrdquo

Nesse periacuteodo histoacuterico a normalizaccedilatildeo das condutas de participaccedilatildeo e aprendizagem

dos educandos ldquoportadores de necessidades especiaisrdquo foi definida como o princiacutepio que

representava a base filosoacutefico-ideoloacutegica do modelo de integraccedilatildeo instrucional Vale frisar

que nesse caso natildeo se tratava de ldquonormalizarrdquo esses alunos mas sim o contexto em que se

desenvolviam em outras palavras tinha-se como intuito oferecer aos aprendizes com

deficiecircncia condiccedilotildees de vida diaacuteria o mais semelhante possiacutevel agraves formas e condiccedilotildees de

vida do restante da sociedade

A Educaccedilatildeo Especial no cenaacuterio mundial passou de uma concepccedilatildeo organicista para

uma abordagem funcional A primeira concebia a deficiecircncia como consequecircncia de

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caracteriacutesticas bioloacutegicas e utilizava-se da estrateacutegia de segregaccedilatildeo dos ldquoexcepcionaisrdquo em

instituiccedilotildees assistenciais filantroacutepicas da rede privada de ensino A segunda por sua vez

definia a deficiecircncia em funccedilatildeo das capacidades e habilidades funcionais residuais e

empregava a estrateacutegia da integraccedilatildeo das pessoas ldquoportadoras de necessidades especiaisrdquo

em ldquoescolas especiaisrdquo ou em ldquoclasses especiaisrdquo da rede puacuteblica de ensino a fim de

estabelecer interaccedilotildees sociais entre esses educandos e os alunos ditos ldquonormaisrdquo (Rioux e

Valentine 2006)

Mesmo com essa evoluccedilatildeo filosoacutefico-ideoloacutegica em torno dos objetivos e qualidade dos

serviccedilos educacionais especiais a Educaccedilatildeo Especial no Brasil continuava negligenciada

pelos sistemas regulares de ensino tendo em vista que essa modalidade de ensino ainda

era tida como substitutiva do processo de escolarizaccedilatildeo das pessoas historicamente

marginalizadas da escola comum Seja pela homogeneizaccedilatildeo ndash processo de exclusatildeo fora

da escola ndash seja pela normalizaccedilatildeo ndash procedimento de exclusatildeo dentro da escola ndash a era da

exclusatildeo dessa populaccedilatildeo persistia no cenaacuterio das reformas educacionais gerais desde o

seacuteculo XVIII ateacute meados do seacuteculo XX pois natildeo havia a preocupaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica de

incluir a pauta da Educaccedilatildeo Especial no desenvolvimento dos sistemas regulares de ensino

brasileiro (Saacutenchez 2005)

Ainda que sob formas distintas a exclusatildeo tem sido caracteriacutestica recorrente na

Educaccedilatildeo fomentada no Brasil No paradigma segregacionista as pessoas com deficiecircncia

estatildeo inseridas em escolas especiais e as pessoas sem deficiecircncia no ensino regular No

acircmbito da integraccedilatildeo escolar as pessoas com deficiecircncia estatildeo na mesma instituiccedilatildeo de

ensino que as pessoas sem deficiecircncia mas em grupos separados por ldquoclasses especiaisrdquo o

que pressupotildee a Educaccedilatildeo Especial como modalidade de ensino substitutiva do processo de

escolarizaccedilatildeo desses alunos cujo resultado foi a naturalizaccedilatildeo do fracasso escolar

(Saacutenchez 2005)

A partir da segunda metade do seacuteculo XX emergiu com maior ecircnfase no cenaacuterio

mundial a defesa do paradigma da inclusatildeo como uma accedilatildeo poliacutetica cultural social e

pedagoacutegica desencadeada em defesa dos direitos de todos os estudantes de estarem

aprendendo e participando juntos sem nenhum tipo de discriminaccedilatildeo Essa concepccedilatildeo

fundamentava-se na base filosoacutefico-ideoloacutegica que defendia a garantia dos direitos humanos

e ao mesmo tempo ldquo[] conjuga[va] igualdade e diferenccedila como valores indissociaacuteveis e

que avanccedila[va] em relaccedilatildeo agrave ideacuteia [sic] de equumlidade [sic] formal ao contextualizar as

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circunstacircncias histoacutericas da produccedilatildeo da exclusatildeo dentro e fora da escolardquo (Ministeacuterio da

Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Especial Brasil 2008 p 5)

No decorrer do periacuteodo da era da inclusatildeo no Brasil fortaleceu-se a criacutetica agraves praacuteticas

de conceituaccedilatildeo identificaccedilatildeo e categorizaccedilatildeo dos discentes encaminhados para ambientes

escolares ldquoespeciaisrdquo sob o signo da abordagem da deficiecircncia como uma patologia

individual capaz de determinar o fracasso escolar de seus ldquoportadoresrdquo Aleacutem disso criticava-

se o cunho assistencialista dessa poliacutetica em que a instituiccedilatildeo privada com fins filantroacutepicos

tinha caraacuteter de internato e as pessoas com deficiecircncia eram retiradas do conviacutevio familiar e

social para viverem em instituiccedilotildees asilares Dentro de uma visatildeo biomeacutedica entendia-se

que a responsabilidade social da Educaccedilatildeo Especial era a de curar ou eliminar a deficiecircncia

de seus alunos por meio da Educaccedilatildeo

O movimento mundial pela inclusatildeo escolar conduziu o debate sobre a Educaccedilatildeo

Especial ao questionamento dos modelos de normalizaccedilatildeo de ensino e de aprendizagem

geradores de exclusatildeo nos espaccedilos escolares regulares sob o siacutembolo da integraccedilatildeo

instrucional que instituiacutea ldquoclasses especiaisrdquo na rede regular de ensino notadamente no

sistema puacuteblico Nesse modelo a Educaccedilatildeo de ldquoportadores de necessidades especiaisrdquo

deveria no que fosse possiacutevel enquadrar-se ao sistema geral de educaccedilatildeo a fim de integraacute-

los agrave comunidade Desse modo em vez de a escola ter que se adequar agraves necessidades

fiacutesicas sensoriais intelectuais sociais e culturais do discente este eacute que deveria se adequar

agrave escola em termos de estrutura fiacutesica pedagoacutegica e administrativa

Portanto os tempos espaccedilos praacuteticas e saberes escolares na aacuterea de conhecimento

da Educaccedilatildeo Especial no Brasil historicamente se caracterizaram pela visatildeo da Educaccedilatildeo

que entendia a escolarizaccedilatildeo como um privileacutegio de um grupo dito ldquonormalrdquo e a exclusatildeo ndash

dentro e fora da escola ndash como estrateacutegia para o tratamento das pessoas ditas ldquodeficientesrdquo

Esse entendimento foi legitimado nas poliacuteticas e praacuteticas educacionais ldquoespeciaisrdquo

reprodutoras das relaccedilotildees sociais e de poder que classificavam os grupos humanos de

maneira subalterna uns aos outros transformando as naturais diferenccedilas humanas em

desigualdades e injusticcedilas sociais (Sassaki 2005)

3 Marcos legal e poliacuteticos internacionais de Educaccedilatildeo Inclusiva e a

repercussatildeo no Brasil

A anaacutelise documental dos seis textos legais - 1)Convenccedilatildeo Interamericana para a

Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Pessoas Portadoras de

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Deficiecircncia 2)Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos 3)A Unesco e a Educaccedilatildeo na

Ameacuterica Latina e Caribe 4)Educaccedilatildeo para Todos o compromisso de Dakar 5)A Unesco no

Brasil consolidando compromissos 6)Conferecircncia Mundial de Necessidades Educativas

Especiais Acesso e Qualidade ndash permitiu inferir que sob a era da inclusatildeo no paradigma

veiculado pelos documentos oficiais internacionais a deficiecircncia passa a ser tratada

internacionalmente na perspectiva da abordagem dos direitos humanos ou seja como uma

patologia social produzida em consequecircncia da organizaccedilatildeo social e da relaccedilatildeo entre o

indiviacuteduo e a sociedade cuja responsabilidade sobre essas pessoas singulares seria por

meio da reconstruccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas de Educaccedilatildeo Especial entendidas como accedilotildees

afirmativas em defesa da diferenccedila e da diversidade humana visando agrave superaccedilatildeo dessas

mesmas desigualdades e injusticcedilas atraveacutes da eliminaccedilatildeo de praacuteticas pedagoacutegicas

discriminatoacuterias e excludentes (Sassaki 2005) Nessa vertente prima-se pela oferta de um

atendimento educacional especializado de modo complementar ou suplementar ao processo

de escolarizaccedilatildeo desses alunos sendo ambos os serviccedilos disponibilizados no espaccedilo

comum da escola regular

Logo a partir da deacutecada de 1990 o movimento educacional internacional pela

inclusatildeo que preconizava que todas as pessoas deveriam estar inseridas nos mesmos

espaccedilos e tempos escolares passou a integrar a pauta obrigatoacuteria na escola no Brasil

enfatizando-se especialmente o tema sobre as mais eficientes formas de atendimento

educacional especializado e sobre a escolarizaccedilatildeo dos alunos puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo

Especial no sistema regular de ensino Com efeito passa-se a discutir a garantia do direito agrave

Educaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncia transtorno global do desenvolvimento e com altas

habilidadessuperdotaccedilatildeo segundo os marcos legais poliacuteticos e pedagoacutegicos promulgados

por organismos internacionais como a ONU

Dentro desse processo de evoluccedilatildeo histoacuterica das poliacuteticas puacuteblicas no cenaacuterio

brasileiro a modalidade de ensino da Educaccedilatildeo Especial passou sob o verniz eacutetico-poliacutetico

da Educaccedilatildeo Inclusiva a garantir o acesso a permanecircncia a participaccedilatildeo e o

desenvolvimento acadecircmico e social dos estudantes puacuteblico-alvo do Atendimento

Educacional Especializado (AEE) na escola comum a partir da tentativa de eliminaccedilatildeo das

barreiras pedagoacutegicas arquitetocircnicas comunicacionais e atitudinais Afinal os documentos

internacionais defendem que natildeo eacute o limite individual que determina a deficiecircncia mas sim

as barreiras existentes nos espaccedilos no meio fiacutesico no transporte na informaccedilatildeo na

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comunicaccedilatildeo e nos serviccedilos A escola nessa vertente deve tornar-se um espaccedilo acolhedor

das diferenccedilas

A elaboraccedilatildeo dos direitos que asseguram a participaccedilatildeo de todos e a efetivaccedilatildeo de

uma sociedade inclusiva fica patente a partir de 10 de dezembro de 1948 quando da

elaboraccedilatildeo da Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos pela Assembleia Geral das

Naccedilotildees Unidas que se fundamenta no reconhecimento da dignidade de todas as pessoas e

na universalidade e indivisibilidade desses direitos e portanto no valor da diversidade

humana que se impotildee como condiccedilatildeo para o alcance de tal reconhecimento ao explicitar a

pessoa como sujeito de direito respeitado em suas peculiaridades e particularidades Como

garantia do direito agrave Educaccedilatildeo a citada declaraccedilatildeo internacional normatiza

Art 26 1 Todo ser humano tem direito agrave instruccedilatildeo A instruccedilatildeo seraacute gratuita pelo

menos nos graus elementares e fundamentais A instruccedilatildeo elementar seraacute obrigatoacuteria

A instruccedilatildeo teacutecnico-profissional seraacute acessiacutevel a todos bem como a instruccedilatildeo superior

estaacute baseada no meacuterito 2 A instruccedilatildeo seraacute orientada no sentido do pleno

desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos

direitos humanos e pelas liberdades fundamentais A instruccedilatildeo promoveraacute a

compreensatildeo a toleracircncia e a amizade entre todas as naccedilotildees e grupos raciais ou

religiosos e coadjuvaraacute as atividades das Naccedilotildees Unidas em prol da manutenccedilatildeo da

paz 3 Os pais tecircm prioridade de direito na escolha do gecircnero de instruccedilatildeo que seraacute

ministrada a seus filhos (ONU 1948 p 5)

Tal declaraccedilatildeo parece natildeo gerar mudanccedilas significativas na forma de oferta e

compreensatildeo acerca da educaccedilatildeo inclusiva Quase 30 anos depois dessa primeira

publicaccedilatildeo em 9 de dezembro de 1975 a ONU (1975 p 2) abordou especificamente a

temaacutetica da inclusatildeo ao lanccedilar a Declaraccedilatildeo dos Direitos das Pessoas Deficientes4 que

assevera

As pessoas deficientes tecircm direito a tratamento meacutedico psicoloacutegico e funcional

incluindo-se aiacute aparelhos proteacuteticos e ortoacuteticos agrave reabilitaccedilatildeo meacutedica e social

educaccedilatildeo treinamento vocacional e reabilitaccedilatildeo assistecircncia aconselhamento

serviccedilos de colocaccedilatildeo e outros serviccedilos que lhes possibilitem o maacuteximo

4 ldquoO termo lsquopessoas deficientesrsquo refere-se a qualquer pessoa incapaz de assegurar por si mesma total ou parcialmente as necessidades de uma vida individual ou social normal em decorrecircncia de uma deficiecircncia congecircnita ou natildeo em suas capacidades fiacutesicas ou mentaisrdquo (ONU 1975 p 1)

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desenvolvimento de sua capacidade e habilidades e que acelerem o processo de sua

integraccedilatildeo social

A partir da deacutecada de 1980 o Brasil paiacutes signataacuterio impulsionado por debates

internacionais buscou afirmaccedilatildeo do direito agrave Educaccedilatildeo das pessoas puacuteblico-alvo da

Educaccedilatildeo Especial por meio da realizaccedilatildeo de conferecircncias sobre o tema da inclusatildeo escolar

constituiacutedas por organismos nacionais e internacionais de defesa dos direitos humanos

Ademais ratificaram-se algumas declaraccedilotildees sobre as demandas especiacuteficas dessa aacuterea de

conhecimento que precisavam ser legitimadas democraticamente mediante instrumentos

juriacutedicos locais e de princiacutepios aplicaacuteveis a cada paiacutes-membro

No ano de 1981 por exemplo foram promulgados dois documentos relevantes para a

Educaccedilatildeo Especial a saber a Declaraccedilatildeo de Cuenca sobre novas tendecircncias na Educaccedilatildeo

Especial (UnescoOrealc ndash Cuenca Equador) que recomendava a eliminaccedilatildeo de barreiras

fiacutesicas e a participaccedilatildeo de pessoas ldquodeficientesrdquo na tomada de decisotildees a seu respeito e a

Declaraccedilatildeo de Sunderberg como resultado da Conferecircncia Mundial sobre as Accedilotildees e

Estrateacutegias para a Educaccedilatildeo Prevenccedilatildeo e Integraccedilatildeo dos Impedidos (Unesco ndash

Torremolinos Espanha) cujo tema principal era a equiparaccedilatildeo de oportunidades das

pessoas ldquodeficientesrdquo agrave Educaccedilatildeo formaccedilatildeo cultura e informaccedilatildeo (Carvalho 2002)

A deacutecada de 1980 marcou o Brasil pois deu iniacutecio ao debate mais acirrado para

estimular o cumprimento dos direitos das pessoas ldquodeficientesrdquo agrave Educaccedilatildeo agrave sauacutede e ao

trabalho Em 1981 comemorou-se em todo o mundo o Ano Internacional das Pessoas

Deficientes proclamado pela Assembleia Geral das Naccedilotildees Unidas5 cujo lema foi

participaccedilatildeo plena e igualdade em que a ONU oficializou o embriatildeo do conceito de

sociedade inclusiva Partindo da ideia de que as pessoas ldquodeficientesrdquo formam parte da

sociedade e natildeo satildeo uma sociedade agrave parte o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Cultura (MEC) do

Brasil em consonacircncia com a citada resoluccedilatildeo da ONU traccedilou as seguintes accedilotildees a curto

meacutedio e longo prazo para a oferta do AEE em territoacuterio nacional

I ndash Curto Prazo 1) Estabelecer modelos para serviccedilos de atendimento educacional

2) Organizar seminaacuterios e congressos a niacutevel nacional sobre Educaccedilatildeo Especial

3) Fomentar o desenvolvimento de recursos humanos em Educaccedilatildeo Especial a niacutevel

de 2ordm Grau 4) Sensibilizar os Conselhos de Educaccedilatildeo ordm(Estaduais e Federal) para os

5 ldquoEm sua trigeacutesima sessatildeo de 16 de dezembro de 1976 a Assembleia Geral das Naccedilotildees Unidas pela Resoluccedilatildeo nordm 31123 proclamou oficialmente o ano de 1981 como o Ano Internacional das Pessoas Deficientesrdquo (ONU 1981 p 6)

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problemas da Educaccedilatildeo Especial 5) Assessorar a Secom sobre a publicaccedilatildeo de

material informativo sobre multiplicidade de accedilotildees impliacutecitas na Educaccedilatildeo Especial

6) Promover o levantamento de todo o material bibliograacutefico sobre Educaccedilatildeo Especial

7) Ampliar e reestruturar o atendimento preacute-escolar do Instituto Nacional de Educaccedilatildeo

de Surdos ndash Ines ndash e do Instituto Benjamin Constant ndash IBC ndash visando transformaacute-los

em serviccedilos-modelo 8) Aperfeiccediloar e ampliar programa de bolsa de trabalho para

educandos deficientes 9) Publicar documentos relativos agrave Educaccedilatildeo Especial

elaborados pelo Cenesp 10) Aperfeiccediloar e ampliar o projeto de Assistecircncia Teacutecnica agraves

Secretarias Estaduais de Educaccedilatildeo II ndash Meacutedio Prazo 1) Estimular a formaccedilatildeo de

teacutecnicos especializados a niacutevel de 3ordm Grau 2) Elaborar o II Plano Nacional de

Educaccedilatildeo Especial 3) Normalizaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fiacutesica para deficientes 4) Efetuar

estudos sobre estatiacutestica da Educaccedilatildeo Especial 5) Implementar a modernizaccedilatildeo da

Imprensa Braille III ndash Longo Prazo 1) Estimular nos Estados e Municiacutepios a criaccedilatildeo

de serviccedilos de atendimento educacional que objetivem a integraccedilatildeo e a normalizaccedilatildeo

2) Criar centros de produccedilatildeo de material psicopedagoacutegico 3) Elaborar o I Plano

Nacional Integrado de Assistecircncia ao Excepcional e 4) Estimular a Educaccedilatildeo Especial

de deficientes adultos (ONU 1981 pp 14-15)

Uma importante consequecircncia do Ano Internacional das Pessoas Deficientes (1981) foi

a aprovaccedilatildeo do Programa Mundial de Accedilatildeo relativo agraves Pessoas com Deficiecircncia pela

Assembleia Geral da ONU por meio da Resoluccedilatildeo nordm 3752 de 3 de dezembro de 1982

Prontamente o Ano Internacional e o Programa Mundial de Accedilatildeo contribuiacuteram para um forte

desenvolvimento nesse domiacutenio por intermeacutedio da criaccedilatildeo da Deacutecada das Naccedilotildees Unidas

para as Pessoas com Deficiecircncia (1983-1992) que visava garantir agraves pessoas com

deficiecircncia o exerciacutecio dos seus direitos fundamentais e a sua participaccedilatildeo plena na

sociedade (ONU 1993) Ambos salientavam o direito das pessoas ldquodeficientesrdquo agraves mesmas

oportunidades de que gozavam os demais cidadatildeos visando a todos melhores condiccedilotildees de

vida resultantes do desenvolvimento econocircmico e social de suas comunidades (Unesco

1990)

Aspirando a enfrentar esse desafio mundial e a construir projetos capazes de superar

os processos histoacutericos de exclusatildeo escolar dessas pessoas com base na responsabilidade

comum e universal de todos os povos a Unesco estabeleceu a Conferecircncia Mundial de

Educaccedilatildeo para Todos realizada em Jomtien na Tailacircndia no periacuteodo de 5 a 9 de marccedilo de

1990 Esse evento implicou a solidariedade internacional dos organismos e instituiccedilotildees

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intergovernamentais a fim de satisfazer as necessidades baacutesicas de aprendizagem de seus

cidadatildeos haja vista os altos iacutendices de crianccedilas adolescentes e jovens sem escolarizaccedilatildeo

Somente assim seria possiacutevel promover as transformaccedilotildees nos sistemas de ensino para

assegurar o acesso e a permanecircncia de todos na escola (Unesco 1990)

Os principais referenciais da Declaraccedilatildeo de Jomtien (1990)6 publicados no ano

seguinte pelo Unicef enfatizavam a urgecircncia de uma Educaccedilatildeo de qualidade para todos ao

constituiacuterem a agenda de discussatildeo das poliacuteticas educacionais reforccedilando a necessidade

de elaboraccedilatildeo e a implementaccedilatildeo de accedilotildees voltadas para a universalizaccedilatildeo do acesso agrave

escola a promoccedilatildeo da equidade no acircmbito do ensino fundamental meacutedio e superior a

oferta da Educaccedilatildeo Infantil nas redes puacuteblicas de ensino a estruturaccedilatildeo do atendimento agraves

demandas de alfabetizaccedilatildeo e da modalidade de Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos e a

construccedilatildeo da gestatildeo democraacutetica da escola Sob a perspectiva inclusiva a referida

declaraccedilatildeo nos itens 4 e 5 do artigo 3ordm instituiu que

4 Um compromisso efetivo para superar as disparidades educacionais deve ser

assumido Os grupos excluiacutedos ndash os pobres os meninos e meninas de rua ou

trabalhadores as populaccedilotildees das periferias urbanas e zonas rurais os nocircmades e os

trabalhadores migrantes os povos indiacutegenas as minorias eacutetnicas raciais e linguumliacutesticas

[sic] os refugiados os deslocados pela guerra e os povos submetidos a um regime de

ocupaccedilatildeo ndash natildeo devem sofrer qualquer tipo de discriminaccedilatildeo no acesso agraves

oportunidades educacionais 5 As necessidades baacutesicas de aprendizagem das

pessoas portadoras de deficiecircncias requerem atenccedilatildeo especial Eacute preciso tomar

medidas que garantam a igualdade de acesso agrave educaccedilatildeo aos portadores de todo e

qualquer tipo de deficiecircncia como parte integrante do sistema educativo (Unesco

1990 p 4)

Vale lembrar que as diversas declaraccedilotildees da ONU culminaram em 1993 na publicaccedilatildeo

das Normas sobre a Igualdade de Oportunidades7 para as Pessoas com Deficiecircncia por meio

de resoluccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas adotada pela Assembleia Geral no dia 20 de dezembro de

1993 As normas exortavam os Estados dentre eles o Brasil a assumirem um compromisso

eacutetico e poliacutetico com vistas a operacionalizar dentre outros direitos o acesso ao sistema

6 No Brasil o MEC divulgou o Plano Decenal de Educaccedilatildeo para Todos para o periacuteodo de 1993 a 2003 elaborado em cumprimento agraves resoluccedilotildees da Declaraccedilatildeo de Jomtien (1990)

7 ldquoO termo lsquoigualdade de oportunidadesrsquo significa o processo pelo qual os diversos sistemas da sociedade e o meio envolvente tais como serviccedilos atividades informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo se [sic] tornam acessiacuteveis a todos e em especial agraves pessoas com deficiecircnciardquo (ONU 1993 p 16)

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regular de ensino agraves pessoas com deficiecircncia em igualdade de oportunidades com as demais

pessoas independentemente da natureza e gravidade da sua deficiecircncia tendo como

estrateacutegias complementares as escolas especiais (ONU 1993)

Por conseguinte a tendecircncia dos organismos internacionais atrelados ao

desenvolvimento da Educaccedilatildeo em seus paiacuteses-membros notadamente aqueles ligados agrave

ONU durante as deacutecadas de 1980 e 1990 tinha sido a de promover integraccedilatildeo e

participaccedilatildeo aleacutem de combater a exclusatildeo dos grupos socialmente marginalizados como

era o caso das pessoas ldquodeficientesrdquo O paradigma da inclusatildeo surgiu mais enfaticamente

com a Declaraccedilatildeo de Jomtien (1990) no contexto do movimento poliacutetico mundial para o

fomento de uma agenda internacional em prol do alcance das metas do direito agrave Educaccedilatildeo

das pessoas com deficiecircncia nos sistemas regulares de ensino Seu aacutepice no entanto

ocorreu com a produccedilatildeo de um documento publicado pelo Governo da Espanha em parceria

com a Unesco entre os dias 7 e 10 de junho de 1994 denominado Declaraccedilatildeo de

Salamanca sobre os princiacutepios a poliacutetica e as praacuteticas na aacuterea das necessidades educativas

especiais8 como resultado da Conferecircncia Mundial de Necessidades Educativas Especiais

Acesso e Qualidade

Tal Declaraccedilatildeo teve a finalidade de promover o objetivo da Educaccedilatildeo para Todos ou

seja da Educaccedilatildeo Especial sob a perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva examinando as

mudanccedilas fundamentais das poliacuteticas puacuteblicas educacionais necessaacuterias para desenvolver

tal abordagem nomeadamente qualificando as escolas regulares para atender a todas as

crianccedilas sobretudo as que tecircm necessidades educativas especiais de modo que os

governos com apoio das organizaccedilotildees internacionais pudessem conceder maior prioridade

ao desenvolvimento de seus respectivos Sistemas Nacionais de Educaccedilatildeo sob a

perspectiva inclusiva atraveacutes de medidas poliacuteticas e orccedilamentaacuterias compatiacuteveis com esse

imperativo eacutetico (Unesco 1994)

A partir dessa reflexatildeo acerca das praacuteticas educacionais especiais da qual resultaram

a compreensatildeo de equiparaccedilatildeo de oportunidades de diversos grupos sociais (crianccedilas com

deficiecircncia e crianccedilas bem dotadas crianccedilas que vivem nas ruas e que trabalham crianccedilas

de populaccedilotildees distantes ou nocircmades crianccedilas de minorias linguiacutesticas eacutetnicas ou culturais e

crianccedilas de outros grupos e zonas desfavorecidas ou marginalizadas) a Declaraccedilatildeo de

Salamanca e Linha de Accedilatildeo sobre Necessidades Educativas Especiais proclamou que as

8 A expressatildeo ldquonecessidades educativas especiaisrdquo no citado documento refere-se a todas as crianccedilas e jovens cujas carecircncias se relacionam com deficiecircncias ou dificuldades escolares incluindo nesse escopo as pessoas com deficiecircncia e as superdotadas (UNESCO 1994)

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escolas comuns representavam o meio mais eficaz para combater as atitudes

discriminatoacuterias ressaltando que o princiacutepio fundamental dessa linha de accedilatildeo seria o de que

as escolas inclusivas deveriam acolher todas as crianccedilas independentemente de suas

condiccedilotildees fiacutesicas intelectuais sociais emocionais linguiacutesticas ou outras (Unesco 1994)

Na esteira de construccedilatildeo de uma agenda internacional em torno da promoccedilatildeo de uma

Educaccedilatildeo para Todos em particular para aquelas com necessidades educacionais

especiais capazes de gerar diversos instrumentos e recomendaccedilotildees internacionais

passiacuteveis de serem incorporados ao sistema juriacutedico dos paiacuteses-membros de organismos

internacionais ligados ao fomento da Educaccedilatildeo tornando-os internamente obrigatoacuterios

surgiram outros movimentos sociais em torno da proposta da inclusatildeo escolar como a

Declaraccedilatildeo de Cartagena de Iacutendias as Poliacuteticas Integrais para Pessoas com Deficiecircncias na

Regiatildeo Ibero-Americana na Colocircmbia em 1992 a Conferecircncia Hemisfeacuterica de Pessoas com

Deficiecircncias em WashingtonEUA em 1993 a 5ordf Reuniatildeo do Comitecirc Regional

Intergovernamental do Projeto Principal de Educaccedilatildeo na Ameacuterica Latina e Caribe que

resultou na Declaraccedilatildeo de Santiago realizada no Chile em 1993 a 1ordf Reuniatildeo dos

Participantes da Conferecircncia de Ministros responsaacuteveis pela situaccedilatildeo da pessoa com

deficiecircncia ocorrida em MontrealCanadaacute em 1994 e a publicaccedilatildeo das normas uniformes

sobre a igualdade de oportunidades para pessoas com deficiecircncia aprovadas pela

Assembleia Geral nordm 4896 de 20 de dezembro de 1993 da ONU

Por fim a construccedilatildeo do cenaacuterio internacional da Educaccedilatildeo Especial sob o aspecto

filosoacutefico-ideoloacutegico da inclusatildeo na deacutecada de 1990 culminou com a Convenccedilatildeo

Interamericana para a Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Pessoas

Portadoras de Deficiecircncia9 mais conhecida como Convenccedilatildeo da Guatemala aprovada pelo

Conselho Permanente da OEA na sessatildeo realizada em 26 de maio de 1999 no paiacutes da

Ameacuterica Central supracitado promulgada no Brasil pelo Decreto nordm 39562001 Esse

documento que ainda utilizava a expressatildeo ldquoportador de deficiecircnciardquo afirmava que os

Estados-Partes deveriam se comprometer a tomar as medidas de caraacuteter legislativo social

educacional trabalhista ou de qualquer outra natureza que fossem necessaacuterias para

eliminar a discriminaccedilatildeo contra as pessoas ldquoportadoras de deficiecircnciardquo e proporcionar a sua

plena ldquointegraccedilatildeordquo agrave sociedade

9 ldquo[] o termo lsquodiscriminaccedilatildeo contra as pessoas portadoras de deficiecircnciarsquo significa toda diferenciaccedilatildeo exclusatildeo ou restriccedilatildeo baseada em deficiecircncia antecedente de deficiecircncia consequumlecircncia [sic] de deficiecircncia anterior ou percepccedilatildeo de deficiecircncia presente ou passada que tenha o efeito ou propoacutesito de impedir ou anular o reconhecimento gozo ou exerciacutecio por parte das pessoas portadoras de deficiecircncia de seus direitos humanos e suas liberdades fundamentaisrdquo (OEA 1999 p 3)

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Tendo em vista o protagonismo das agecircncias e organizaccedilotildees intergovernamentais no

panorama mundial como a ONU e suas agecircncias especializadas (Unesco Unicef e BM) e no

cenaacuterio regional como a OEA na busca pela cooperaccedilatildeo internacional a fim de promover e

estimular entre seus paiacuteses-membros o respeito aos direitos humanos e agraves liberdades

fundamentais para todos especialmente entre os grupos minoritaacuterios como no caso da

melhoria das condiccedilotildees de vida para pessoas com deficiecircncia verificou-se que o percurso

histoacuterico poliacutetico e filosoacutefico da Educaccedilatildeo Especial nos anos 1990 culminou no paradigma

inclusivo de garantia da equiparaccedilatildeo de oportunidades direitos e deveres de seu puacuteblico-alvo

no interior do sistema regular de ensino (Peroni 2003)

Em pleno anos 2000 a ONU continuou a fixar padrotildees a trabalhar para tecer

consensos universais e a manter-se como um foacuterum central disseminador para a

comunidade internacional de princiacutepios e orientaccedilotildees gerais para a Educaccedilatildeo atraveacutes de

sua agecircncia especializada da Unesco Ademais seguiu lanccedilando as diretrizes sobre os

caminhos da Educaccedilatildeo Especial atraveacutes de declaraccedilotildees e recomendaccedilotildees acordadas para a

construccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas educacionais inclusivas ao redor do mundo Dessa forma

entre os dias 26 e 28 de abril de 2000 em Dakar Senegal 164 paiacuteses reuniram-se no

Foacuterum Consultivo Internacional para a Educaccedilatildeo para Todos criado em 1991 e composto

por representantes da Unesco Unicef e BM contando com agecircncias bilaterais governos e

sociedade civil para avaliar os progressos globais alcanccedilados desde a Conferecircncia Mundial

de Educaccedilatildeo para Todos realizada dez anos antes em Jomtien Tailacircndia e para aprovar

novo marco de accedilatildeo para a universalizaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Baacutesica (Unesco 2001)

Em 13 de dezembro de 2006 em sessatildeo solene da Assembleia Geral da ONU foi

aprovado o texto final da Convenccedilatildeo sobre os Direitos das Pessoas com Deficiecircncia10

firmado pelo Brasil e por mais 85 naccedilotildees signataacuterias em 30 de marccedilo de 2007 Esse tratado

internacional no que diz respeito ao direito agrave Educaccedilatildeo aos deficientes estabelece que os

Estados-Partes devem assegurar um sistema de Educaccedilatildeo Inclusiva em todos os niacuteveis de

ensino bem como o aprendizado ao longo da vida Em seu artigo 24 determina que as

pessoas com deficiecircncia natildeo sejam excluiacutedas do sistema educacional geral e que as

crianccedilas com deficiecircncia natildeo sejam excluiacutedas do ensino fundamental gratuito e compulsoacuterio

estabelece tambeacutem que elas tenham acesso ao ensino meacutedio e superior inclusivo de

10 Nesse texto a ONU reconhece que ldquo[] a deficiecircncia eacute um conceito em evoluccedilatildeo e que a deficiecircncia resulta da interaccedilatildeo entre pessoas com deficiecircncia e as barreiras atitudinais e ambientais que impedem sua plena e efetiva participaccedilatildeo na sociedade em igualdade de oportunidades com as demais pessoasrdquo (ONU 2012 p 22)

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qualidade e gratuito em igualdade de condiccedilotildees com as demais pessoas na comunidade em

que vivem (ONU 2012)

Ainda no panorama internacional a Unesco lanccedila em 2009 uma coletacircnea intitulada

Orientaccedilotildees Poliacuteticas sobre Inclusatildeo na Educaccedilatildeo a fim de ampliar a compreensatildeo das

questotildees atinentes agraves poliacuteticas e agraves praacuteticas pedagoacutegicas que visam garantir a inclusatildeo

educacional e social Os dados apresentados e as anaacutelises feitas suscitaram

questionamentos e posicionamentos em relaccedilatildeo agraves condiccedilotildees de acesso e de atendimento

nas redes de ensino e possibilitaram o aprofundamento do debate sobre as accedilotildees do poder

puacuteblico e da sociedade com vistas a assegurar o direito de todas as pessoas agrave Educaccedilatildeo

Escolar de Qualidade (No cenaacuterio regional da Ameacuterica Latina e do Caribe houve em 2009

a Campanha Latino-Americana pelo Direito agrave Educaccedilatildeo a fim de promover o

desenvolvimento de pesquisas interdisciplinares para subsidiar a formulaccedilatildeo de poliacuteticas

puacuteblicas intersetoriais que atendessem agraves especificidades educacionais de estudantes com

deficiecircncia transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotaccedilatildeo que

requeiram medidas de atendimento especializado Jaacute na Uniatildeo Europeia a Agecircncia

Europeia para o Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Especial recomendou tambeacutem em 2009

para decisoacuterios poliacuteticos princiacutepios baacutesicos para a Promoccedilatildeo da Qualidade na Educaccedilatildeo

Inclusiva Faacutevero Ferreira Ireland e Barreiros 2009)

A influecircncia histoacuterica direta ou indireta das agecircncias internacionais no direcionamento

das poliacuteticas puacuteblicas dentre elas a Educaccedilatildeo Especial situada no acircmbito geral das

diretrizes da Educaccedilatildeo como um direito de todos e dever do Estado implica o entendimento

de que os fundamentos ideoloacutegicos que datildeo sustentaccedilatildeo agraves poliacuteticas educacionais na aacuterea

de conhecimento da Educaccedilatildeo Especial adotadas pelos governos brasileiros certamente natildeo

foram gerados exclusivamente em acircmbito nacional mas ao contraacuterio em acircmbito

internacional vinculados agraves declaraccedilotildees e recomendaccedilotildees construiacutedas em foros de

abrangecircncia mundial e regional Em consequecircncia torna-se obrigatoacuterio considerar que a

atuaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas teve papel preponderante para a internacionalizaccedilatildeo do

discurso da Educaccedilatildeo Especial na perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva nos anos 1990 e 2000

notadamente pelo trabalho teacutecnico-poliacutetico da Unesco

Na perspectiva da citada agecircncia intergovernamental atuar nessa agenda de

cooperaccedilatildeo internacional e nacional com os Estados-Partes na formulaccedilatildeo de poliacuteticas e

estrateacutegias destinadas ao melhoramento dos sistemas de ensino ldquo[] significa avanccedilar para

uma sociedade educacional onde cada pessoa aprenda durante toda a vida e seja fonte de

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aprendizagem para os demaisrdquo (Unesco 1998 p 11) afinal a ldquo[] educaccedilatildeo desempenha

um papel chave neste processo tendo em vista o seu valor econocircmico e socialrdquo (Unesco

2004 p 33)

Essa compreensatildeo conduz o debate sobre os rumos da Educaccedilatildeo Especial no Brail

tornando-se fundamental para a construccedilatildeo de poliacuteticas de formaccedilatildeo docente financiamento

e gestatildeo escolar necessaacuterias para a transformaccedilatildeo da estrutura educacional a fim de

assegurar as condiccedilotildees de acesso participaccedilatildeo e aprendizagem de todos os estudantes

concebendo a escola como um espaccedilo que reconhece e valoriza as diferenccedilas

Logo o respeito agrave diversidade efetivado no respeito agraves diferenccedilas impulsiona accedilotildees

de cidadania voltadas ao reconhecimento de sujeitos de direitos simplesmente por serem

seres humanos Suas especificidades natildeo devem ser elemento para a construccedilatildeo de

desigualdades discriminaccedilotildees ou exclusotildees mas sim devem pautar as poliacuteticas afirmativas

de respeito agrave diversidade voltadas para a construccedilatildeo de contextos sociais inclusivos cujo

aspecto filosoacutefico-ideoloacutegico se assenta na equiparaccedilatildeo de oportunidades direitos e

deveres em que todas as pessoas teriam condiccedilotildees de vida e chance de realizar seus

projetos como parte do exerciacutecio de sua cidadania e em respeito agrave sua identidade

3 Consideraccedilotildees finais

Esta pesquisa foi instigada pela reflexatildeo que questionava como foi se constituindo a

compreensatildeo de Educaccedilatildeo Inclusiva ao longo dos tempos no Brasil considerando a

influecircncia ideoloacutegica dos documentos legais produzidos pelos organismos internacionais ndash

ONU Unesco OEA Unicef e BM ndash a partir das primeiras deacutecadas do seacuteculo XX Tal

inquietaccedilatildeo acadecircmica fez emergir o interesse em compreender a Histoacuteria da Educaccedilatildeo

Inclusiva em especial no que concerne agrave escolarizaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncia

defendida em acordos e discussotildees internacionais O objetivo com efeito foi desenvolver

um histoacuterico a respeito das poliacuteticas puacuteblicas internacionais de Educaccedilatildeo Especial com

ecircnfase nas mudanccedilas paradigmaacuteticas emergentes cronologicamente no Brasil

Realizou-se uma pesquisa documental nos textos internacionais produzidos sobre os

debates acerca da Educaccedilatildeo Inclusiva em especial para as pessoas com deficiecircncia dentre

os quais destacam-se Convenccedilatildeo Interamericana para a Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas

de Discriminaccedilatildeo contra as Pessoas Portadoras de Deficiecircncia Declaraccedilatildeo Universal dos

Direitos Humanos A Unesco e a Educaccedilatildeo na Ameacuterica Latina e Caribe (1987-1997)

Educaccedilatildeo para Todos o Compromisso de Dakar A Unesco no Brasil Consolidando

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Compromissos Conferecircncia Mundial de Necessidades Educativas Especiais Acesso e

Qualidade Os resultados permitiram desenvolver uma cronologia histoacuterica a qual

possibilitou afirmar que os seacuteculos XVIII e XIX foram marcados pela segregaccedilatildeo

homogeneizante das pessoas com deficiecircncia em escolas especiais com edificaccedilatildeo

especiacutefica que separavam os ditos estudantes ldquonormaisrdquo dos alunos que possuiacuteam algum

tipo de limitaccedilatildeo periacuteodo em que os debates sobre inclusatildeo natildeo possuiacuteam ecircnfase no

cenaacuterio internacional A partir das primeiras deacutecadas do seacuteculo XX os debates internacionais

a respeito da escolarizaccedilatildeo dos entatildeo denominados discentes ldquoespeciaisrdquo foram se

alargando emergiram em congruecircncia as classes especiais no interior das escolas

regulares Posteriormente na segunda metade do seacuteculo XX os debates internacionais

comeccedilaram a sinalizar a superaccedilatildeo de qualquer forma de segregaccedilatildeo e a impulsionar a

ideologia atualmente defendida de igualdade e inclusatildeo social com respeito agraves diferenccedilas

Ao fazer um balanccedilo histoacuterico sobre as poliacuteticas puacuteblicas de Educaccedilatildeo Especial no

cenaacuterio internacional percebeu-se a ausecircncia de documentos especiacuteficos nos seacuteculos XVIII

XIX e iniacutecio do XX Somente ao longo dos seacuteculos XX e XXI especialmente nas deacutecadas

que seguem 1970 averiguou-se que a atuaccedilatildeo das agecircncias especializadas da ONU em

parceria com outras agecircncias internacionais governos organizaccedilotildees natildeo governamentais e

sociedades civis contribuiu de maneira importante para a transiccedilatildeo do discurso educacional

da integraccedilatildeo instrucional para a constituiccedilatildeo de saberes e praacuteticas da Educaccedilatildeo Especial

sob a oacutetica inclusiva ao desempenhar um fundamental papel como foro permanente de

debate educacional e busca de soluccedilotildees contribuindo para a consolidaccedilatildeo de uma agenda

educacional e para a promoccedilatildeo da cooperaccedilatildeo internacional e horizontal com o objetivo de

apoiar os processos de mudanccedila das condiccedilotildees de vida das pessoas com deficiecircncia dentre

elas a inclusatildeo dessas pessoas nos espaccedilos regulares de ensino em equiparaccedilatildeo de

oportunidades direitos e deveres com relaccedilatildeo aos seus pares sem deficiecircncia

A proposta global das Naccedilotildees Unidas visava agrave promoccedilatildeo de uma Educaccedilatildeo para todos

ao longo de toda a vida notadamente para grupos historicamente excluiacutedos como o das

pessoas com deficiecircncia Para tanto durante toda a deacutecada de 1990 houve uma expansatildeo

de acordos internacionais e uma redescoberta da Educaccedilatildeo Especial como campo feacutertil de

investimentos Ocorreu a definiccedilatildeo de uma agenda internacional para a Educaccedilatildeo Especial

materializada em diferentes eventos tais como a Conferecircncia Mundial sobre Educaccedilatildeo para

Todos (1990) a Declaraccedilatildeo de Salamanca (1994) a Convenccedilatildeo da Guatemala (1999) o

Compromisso de Dakar (2000) e a Convenccedilatildeo sobre os Direitos das Pessoas com

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Deficiecircncia (2006) que trataram de pautas de interesses ordinaacuterios agrave comunidade

internacional sobre o tema da Educaccedilatildeo Especial em uma perspectiva de Educaccedilatildeo

Inclusiva

Essas declaraccedilotildees e recomendaccedilotildees resultantes das diferentes cuacutepulas conferecircncias

e eventos regionais e internacionais foram importantes para a construccedilatildeo de consensos em

torno das principais ideias e propostas sobre Educaccedilatildeo Especial nas deacutecadas de 1980 1990

e 2000 ou seja da transiccedilatildeo do modelo integracionista para o inclusivo Nesses eventos ao

se constituiacuterem em foacuteruns gerais propalava-se a necessidade de reformas educativas

nacionais acompanhadas de mudanccedilas no financiamento transformaccedilatildeo curricular e gestatildeo

educacional em torno de sistemas educacionais inclusivos perseguidos tambeacutem no iniacutecio do

seacuteculo XXI que influenciaram a mudanccedila de paradigma acerca do atendimento agrave pessoa

com deficiecircncia no Brasil

No paradigma da inclusatildeo impulsionaram-se projetos de mudanccedilas nas poliacuteticas

puacuteblicas brasileiras ao conceber-se que todos se beneficiam quando as escolas promovem

respostas agraves diferenccedilas individuais dos estudantes Logo a Educaccedilatildeo Especial que surgiu

no campo da Pedagogia como uma aacuterea de conhecimento que se ocupava exclusivamente

do processo de escolarizaccedilatildeo pela via da homogeneizaccedilatildeo dos alunos ldquoexcepcionaisrdquo em

espaccedilos escolares ditos ldquoespeciaisrdquo que orbitavam agrave margem do sistema de ensino puacuteblico e

gratuito passou a integrar os tempos e espaccedilos das escolas regulares mas ficando a

participaccedilatildeo circunscrita agraves ldquoclasses especiaisrdquo e ainda sendo modalidade substitutiva e

normalizadora do processo de escolarizaccedilatildeo dos discentes ldquoportadores de necessidades

especiaisrdquo Atualmente sob a perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva o Brasil tem como

imperativo eacutetico normativo e intelectual ampliar a participaccedilatildeo de todos os estudantes nos

estabelecimentos de ensino regular especialmente daqueles grupos sociais historicamente

excluiacutedos da escola como as pessoas com deficiecircncia atraveacutes de uma abordagem

humaniacutestica e democraacutetica que perceba o sujeito e suas singularidades tendo como

objetivos o crescimento a satisfaccedilatildeo pessoal e a inserccedilatildeo social de todos

4 Referecircncias

Brasil Poder Executivo (2001) Promulga a Convenccedilatildeo Interamericana para a Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Pessoas Portadoras de Deficiecircncia Decreto nordm 3956 Brasil Diaacuterio Oficial [da] Repuacuteblica Federativa do Brasil

Carvalho Rosita Edler (2002) A nova LDB e a Educaccedilatildeo Especial (3ordf ed) Rio de Janeiro

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Oportunidades para as Pessoas com Deficiecircncia Recuperado de httpwwwinrptuploadsdocsEdicoes

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Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (1990)

Conferecircncia Mundial de Educaccedilatildeo para Todos Declaraccedilatildeo Mundial de Educaccedilatildeo para Todos Plano de Accedilatildeo para Satisfazer as Necessidades Baacutesicas de Aprendizagem Brasiacutelia Unicef

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (1994)

Conferecircncia Mundial de Necessidades Educativas Especiais Acesso e Qualidade Declaraccedilatildeo de Salamanca sobre os Princiacutepios a Poliacutetica e as Praacuteticas na Aacuterea das Necessidades Educativas Especiais Salamanca Unesco

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (1998)

A Unesco e a Educaccedilatildeo na Ameacuterica Latina e Caribe (1987-1997) Chile Unesco

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Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (2001) Educaccedilatildeo para Todos o Compromisso de Dakar Brasiacutelia Consed

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (2004)

A Unesco no Brasil consolidando compromissos Brasiacutelia Unesco Organizaccedilatildeo dos Estados Americanos (OEA) (1999) Convenccedilatildeo Interamericana para a

Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Pessoas Portadoras de Deficiecircncia Guatemala OEA

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crianccedilas com Siacutendrome de Down (2ordf ed) Petroacutepolis Vozes

Page 3: Educação inclusiva: aspectos históricos, políticos e ideológicos … · 2018. 7. 19. · Revista Electrónica “Actualidades Investigativas en Educación” _____Volumen 18

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Abstract The ethical imperative that guarantees human rights and equality for people with disabilities through Inclusive Education is a relatively recent paradigm in Brazilian scenario and its implementation is complex The objective is to develop a historical documentary-type research a path on international public policies of Special Education with emphasis on paradigmatic changes emerging chronologically in Brazil It is concluded that the eighteenth and nineteenth centuries were marked by the homogenizing segregation of people with disabilities in special schools and that from the twentieth century onwards special classes emerged driven by international documents Such classes were overcome the current ideology of equality and social inclusion towards the differences that make possible not only the inclusion in the regular school but some mechanisms to fight for equality of conditions The reflections show that the international discussions and agreements impel Brazil to align its internal policy towards the guarantee of human rights and equality for people with disabilities Keywords inclusive education people with disabilities special education

1 Introduccedilatildeo

A compreensatildeo dos aspectos histoacutericos poliacuteticos e ideoloacutegicos da Educaccedilatildeo Inclusiva

como modelo transversal de ensino que dialoga e compartilha os mesmos princiacutepios e

praacuteticas da Educaccedilatildeo geral eacute recente no cenaacuterio brasileiro e exige de seus sujeitos

escolares uma reflexatildeo sobre a complexidade desse novo imperativo eacutetico o qual busca

garantir os direitos humanos de populaccedilotildees historicamente excluiacutedas dos espaccedilos sociais

como a escola Igualmente recentes satildeo os estudos sobre as mudanccedilas de paradigmas

provocadas por essa accedilatildeo afirmativa ao longo dos tempos nas poliacuteticas puacuteblicas

educacionais no Brasil

Questionam-se como as poliacuteticas puacuteblicas veiculadas em documentos oficiais de

organismos internacionais - Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) Organizaccedilatildeo das

Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) Organizaccedilatildeo dos Estados

Americanos (OEA) Fundo das Naccedilotildees Unidas para a Infacircncia (Unicef) e Banco Mundial

(BM) - influiacuteram para mudanccedila de compreensatildeo acerca do paradigma segregativo na

Educaccedilatildeo Inclusiva brasileira Para compreender como foi se constituindo a compreensatildeo de

Educaccedilatildeo Inclusiva ao longo dos tempos influenciada pelos organismos internacionais que

lanccedilaram bases ideoloacutegicas nos documentos legais brasileiros desenvolveu-se uma

pesquisa no campo da Histoacuteria da Educaccedilatildeo com objetivo de desenvolver um histoacuterico a

respeito das poliacuteticas puacuteblicas internacionais de Educaccedilatildeo Especial com ecircnfase nas

mudanccedilas paradigmaacuteticas emergentes cronologicamente no Brasil

Metodologicamente realizou-se no primeiro semestre do ano de 2017 uma pesquisa

de abordagem qualitativa de cunho histoacuterico do tipo documental com base em textos

internacionais produzidos no seio dos debates sobre a Educaccedilatildeo Inclusiva em especial

sobre os direitos da pessoa com deficiecircncia tais como 1) Convenccedilatildeo Interamericana para a

Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Pessoas Portadoras de

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Deficiecircncia 2) Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos 3) A Unesco e a Educaccedilatildeo na

Ameacuterica Latina e Caribe 4) Educaccedilatildeo para Todos o compromisso de Dakar 5) A Unesco no

Brasil consolidando compromissos 6) Conferecircncia Mundial de Necessidades Educativas

Especiais Acesso e Qualidade

Salienta-se que a Educaccedilatildeo Especial eacute uma aacuterea do conhecimento relativamente nova

no campo da Educaccedilatildeo brasileira tendo em vista que foi incluiacuteda no curriacuteculo dos cursos de

Pedagogia somente a partir do seacuteculo XIX como resposta da academia agraves demandas das

instituiccedilotildees assistenciais filantroacutepicas privadas que mesmo situadas agrave margem dos

sistemas de ensino jaacute prestavam atendimento educacional agraves pessoas ldquoexcepcionaisrdquo desde

o seacuteculo XVIII isto eacute agravequelas com deficiecircncias sensoriais como a surdez e a cegueira por

exemplo

Nesse sentido a Educaccedilatildeo Especial nasceu sob o paradigma segregacionista de

Educaccedilatildeo que tentava produzir uma reparaccedilatildeo histoacuterica frente aos processos de exclusatildeo

escolar sofridos pelas pessoas que apresentavam singularidades sensoriais e em seguida

por aquelas ditas ldquoidiotasrdquo ou ldquoimbecisrdquo (atualmente denominadas de pessoas com

deficiecircncia intelectual)

Na condiccedilatildeo de temaacutetica emergente nos debates internacionais a Educaccedilatildeo Especial

vem galgando novos contornos que problematizam a visatildeo essencialmente homogeneizante

e segregacionista proporcionando o rompimento de paradigmas histoacutericos e o fomento de

uma ideologia pautada na inclusatildeo Defende-se pois a tese de que os debates

internacionais registrados em documentos oficiais impulsionam mudanccedilas de concepccedilotildees e

consecutivamente de poliacuteticas impulsionando o Brasil a alinhar sua poliacutetica interna em

direccedilatildeo agrave garantia de direitos humanos e igualdade agraves pessoas com deficiecircncia

Importa portanto historicizar a respeito das poliacuteticas puacuteblicas de Educaccedilatildeo Especial

no cenaacuterio internacional com ecircnfase nos avanccedilos emergentes de debates universais nos

seacuteculos XX e XXI a fim de clarificar compreensotildees sobre ideologias propostas de inclusatildeo e

accedilotildees em desenvolvimento com vistas agrave inclusatildeo da pessoa com deficiecircncia nos espaccedilos e

tempos da escola regular no Brasil

2 Histoacuteria da Educaccedilatildeo Especial o contexto brasileiro

A base filosoacutefico-ideoloacutegica que persistiu no cenaacuterio internacional entre os seacuteculos

XVIII e XIX foi a do modelo escolar segregacionista baseado na homogeneizaccedilatildeo das

pessoas de acordo com suas caracteriacutesticas bioloacutegicas ndash concepccedilatildeo organicista Esse

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paradigma preconizava como resposta educacional agraves necessidades de escolarizaccedilatildeo das

crianccedilas ldquoexcepcionaisrdquo a sua institucionalizaccedilatildeo em ldquoescolas especiaisrdquo pressupondo a

deficiecircncia como um fenocircmeno hereditaacuterio com evidecircncias de degenerescecircncia da espeacutecie

humana (Mendes 1995) Assim a segregaccedilatildeo era considerada a melhor forma de se

combater a ameaccedila representada por essa populaccedilatildeo agrave sociedade (Dechichi 2001)

Em suma os alunos eram rotulados como ldquoexcepcionaisrdquo ou seja havia uma visatildeo

patoloacutegica da deficiecircncia o que contribuiacutea para a marginalizaccedilatildeo do aluno no sistema regular

de ensino no Brasil e sua consequente institucionalizaccedilatildeo em espaccedilos escolares de caraacuteter

assistencial tendo em vista que a deficiecircncia era vista como causa e consequecircncia do baixo

rendimento escolar dessas pessoas o que justificava teoricamente sua segregaccedilatildeo em

espaccedilos escolares entendidos como capazes de ldquocurarrdquo ou ldquoeliminarrdquo a deficiecircncia por meio

da Educaccedilatildeo (Voivodic 2004)

A partir do final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX foi percebido que o atendimento

educacional das pessoas com deficiecircncia era tambeacutem um problema do Estado e da rede

regular de ensino sendo necessaacuteria a organizaccedilatildeo de um modelo de escola puacuteblica capaz

de acolher os alunos ldquoportadores de necessidades especiaisrdquo surgindo assim as ldquoescolas

especiaisrdquo puacuteblicas ou a instalaccedilatildeo de ldquoclasses especiaisrdquo nas jaacute existentes que visavam

oferecer agrave pessoa ldquodeficienterdquo uma Educaccedilatildeo agrave parte Emerge nesse cenaacuterio brasileiro o

paradigma da integraccedilatildeo instrucional no qual os discentes com deficiecircncia ndash seja fiacutesica

sensorial ou intelectual ndash poderiam se matricular em salas de aula comuns se possuiacutessem

condiccedilotildees de acompanhar e desenvolver no mesmo ritmo dos estudantes ditos ldquonormaisrdquo

as atividades curriculares programadas para o ensino comum No entanto aqueles que

possuiacutessem rendimento escolar abaixo da meacutedia estipulada pelo sistema de ensino

continuavam segredados da rede regular e sua matriacutecula se limitava agraves ldquoescolas especiaisrdquo

Nesse periacuteodo histoacuterico a normalizaccedilatildeo das condutas de participaccedilatildeo e aprendizagem

dos educandos ldquoportadores de necessidades especiaisrdquo foi definida como o princiacutepio que

representava a base filosoacutefico-ideoloacutegica do modelo de integraccedilatildeo instrucional Vale frisar

que nesse caso natildeo se tratava de ldquonormalizarrdquo esses alunos mas sim o contexto em que se

desenvolviam em outras palavras tinha-se como intuito oferecer aos aprendizes com

deficiecircncia condiccedilotildees de vida diaacuteria o mais semelhante possiacutevel agraves formas e condiccedilotildees de

vida do restante da sociedade

A Educaccedilatildeo Especial no cenaacuterio mundial passou de uma concepccedilatildeo organicista para

uma abordagem funcional A primeira concebia a deficiecircncia como consequecircncia de

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caracteriacutesticas bioloacutegicas e utilizava-se da estrateacutegia de segregaccedilatildeo dos ldquoexcepcionaisrdquo em

instituiccedilotildees assistenciais filantroacutepicas da rede privada de ensino A segunda por sua vez

definia a deficiecircncia em funccedilatildeo das capacidades e habilidades funcionais residuais e

empregava a estrateacutegia da integraccedilatildeo das pessoas ldquoportadoras de necessidades especiaisrdquo

em ldquoescolas especiaisrdquo ou em ldquoclasses especiaisrdquo da rede puacuteblica de ensino a fim de

estabelecer interaccedilotildees sociais entre esses educandos e os alunos ditos ldquonormaisrdquo (Rioux e

Valentine 2006)

Mesmo com essa evoluccedilatildeo filosoacutefico-ideoloacutegica em torno dos objetivos e qualidade dos

serviccedilos educacionais especiais a Educaccedilatildeo Especial no Brasil continuava negligenciada

pelos sistemas regulares de ensino tendo em vista que essa modalidade de ensino ainda

era tida como substitutiva do processo de escolarizaccedilatildeo das pessoas historicamente

marginalizadas da escola comum Seja pela homogeneizaccedilatildeo ndash processo de exclusatildeo fora

da escola ndash seja pela normalizaccedilatildeo ndash procedimento de exclusatildeo dentro da escola ndash a era da

exclusatildeo dessa populaccedilatildeo persistia no cenaacuterio das reformas educacionais gerais desde o

seacuteculo XVIII ateacute meados do seacuteculo XX pois natildeo havia a preocupaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica de

incluir a pauta da Educaccedilatildeo Especial no desenvolvimento dos sistemas regulares de ensino

brasileiro (Saacutenchez 2005)

Ainda que sob formas distintas a exclusatildeo tem sido caracteriacutestica recorrente na

Educaccedilatildeo fomentada no Brasil No paradigma segregacionista as pessoas com deficiecircncia

estatildeo inseridas em escolas especiais e as pessoas sem deficiecircncia no ensino regular No

acircmbito da integraccedilatildeo escolar as pessoas com deficiecircncia estatildeo na mesma instituiccedilatildeo de

ensino que as pessoas sem deficiecircncia mas em grupos separados por ldquoclasses especiaisrdquo o

que pressupotildee a Educaccedilatildeo Especial como modalidade de ensino substitutiva do processo de

escolarizaccedilatildeo desses alunos cujo resultado foi a naturalizaccedilatildeo do fracasso escolar

(Saacutenchez 2005)

A partir da segunda metade do seacuteculo XX emergiu com maior ecircnfase no cenaacuterio

mundial a defesa do paradigma da inclusatildeo como uma accedilatildeo poliacutetica cultural social e

pedagoacutegica desencadeada em defesa dos direitos de todos os estudantes de estarem

aprendendo e participando juntos sem nenhum tipo de discriminaccedilatildeo Essa concepccedilatildeo

fundamentava-se na base filosoacutefico-ideoloacutegica que defendia a garantia dos direitos humanos

e ao mesmo tempo ldquo[] conjuga[va] igualdade e diferenccedila como valores indissociaacuteveis e

que avanccedila[va] em relaccedilatildeo agrave ideacuteia [sic] de equumlidade [sic] formal ao contextualizar as

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circunstacircncias histoacutericas da produccedilatildeo da exclusatildeo dentro e fora da escolardquo (Ministeacuterio da

Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Especial Brasil 2008 p 5)

No decorrer do periacuteodo da era da inclusatildeo no Brasil fortaleceu-se a criacutetica agraves praacuteticas

de conceituaccedilatildeo identificaccedilatildeo e categorizaccedilatildeo dos discentes encaminhados para ambientes

escolares ldquoespeciaisrdquo sob o signo da abordagem da deficiecircncia como uma patologia

individual capaz de determinar o fracasso escolar de seus ldquoportadoresrdquo Aleacutem disso criticava-

se o cunho assistencialista dessa poliacutetica em que a instituiccedilatildeo privada com fins filantroacutepicos

tinha caraacuteter de internato e as pessoas com deficiecircncia eram retiradas do conviacutevio familiar e

social para viverem em instituiccedilotildees asilares Dentro de uma visatildeo biomeacutedica entendia-se

que a responsabilidade social da Educaccedilatildeo Especial era a de curar ou eliminar a deficiecircncia

de seus alunos por meio da Educaccedilatildeo

O movimento mundial pela inclusatildeo escolar conduziu o debate sobre a Educaccedilatildeo

Especial ao questionamento dos modelos de normalizaccedilatildeo de ensino e de aprendizagem

geradores de exclusatildeo nos espaccedilos escolares regulares sob o siacutembolo da integraccedilatildeo

instrucional que instituiacutea ldquoclasses especiaisrdquo na rede regular de ensino notadamente no

sistema puacuteblico Nesse modelo a Educaccedilatildeo de ldquoportadores de necessidades especiaisrdquo

deveria no que fosse possiacutevel enquadrar-se ao sistema geral de educaccedilatildeo a fim de integraacute-

los agrave comunidade Desse modo em vez de a escola ter que se adequar agraves necessidades

fiacutesicas sensoriais intelectuais sociais e culturais do discente este eacute que deveria se adequar

agrave escola em termos de estrutura fiacutesica pedagoacutegica e administrativa

Portanto os tempos espaccedilos praacuteticas e saberes escolares na aacuterea de conhecimento

da Educaccedilatildeo Especial no Brasil historicamente se caracterizaram pela visatildeo da Educaccedilatildeo

que entendia a escolarizaccedilatildeo como um privileacutegio de um grupo dito ldquonormalrdquo e a exclusatildeo ndash

dentro e fora da escola ndash como estrateacutegia para o tratamento das pessoas ditas ldquodeficientesrdquo

Esse entendimento foi legitimado nas poliacuteticas e praacuteticas educacionais ldquoespeciaisrdquo

reprodutoras das relaccedilotildees sociais e de poder que classificavam os grupos humanos de

maneira subalterna uns aos outros transformando as naturais diferenccedilas humanas em

desigualdades e injusticcedilas sociais (Sassaki 2005)

3 Marcos legal e poliacuteticos internacionais de Educaccedilatildeo Inclusiva e a

repercussatildeo no Brasil

A anaacutelise documental dos seis textos legais - 1)Convenccedilatildeo Interamericana para a

Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Pessoas Portadoras de

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Deficiecircncia 2)Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos 3)A Unesco e a Educaccedilatildeo na

Ameacuterica Latina e Caribe 4)Educaccedilatildeo para Todos o compromisso de Dakar 5)A Unesco no

Brasil consolidando compromissos 6)Conferecircncia Mundial de Necessidades Educativas

Especiais Acesso e Qualidade ndash permitiu inferir que sob a era da inclusatildeo no paradigma

veiculado pelos documentos oficiais internacionais a deficiecircncia passa a ser tratada

internacionalmente na perspectiva da abordagem dos direitos humanos ou seja como uma

patologia social produzida em consequecircncia da organizaccedilatildeo social e da relaccedilatildeo entre o

indiviacuteduo e a sociedade cuja responsabilidade sobre essas pessoas singulares seria por

meio da reconstruccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas de Educaccedilatildeo Especial entendidas como accedilotildees

afirmativas em defesa da diferenccedila e da diversidade humana visando agrave superaccedilatildeo dessas

mesmas desigualdades e injusticcedilas atraveacutes da eliminaccedilatildeo de praacuteticas pedagoacutegicas

discriminatoacuterias e excludentes (Sassaki 2005) Nessa vertente prima-se pela oferta de um

atendimento educacional especializado de modo complementar ou suplementar ao processo

de escolarizaccedilatildeo desses alunos sendo ambos os serviccedilos disponibilizados no espaccedilo

comum da escola regular

Logo a partir da deacutecada de 1990 o movimento educacional internacional pela

inclusatildeo que preconizava que todas as pessoas deveriam estar inseridas nos mesmos

espaccedilos e tempos escolares passou a integrar a pauta obrigatoacuteria na escola no Brasil

enfatizando-se especialmente o tema sobre as mais eficientes formas de atendimento

educacional especializado e sobre a escolarizaccedilatildeo dos alunos puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo

Especial no sistema regular de ensino Com efeito passa-se a discutir a garantia do direito agrave

Educaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncia transtorno global do desenvolvimento e com altas

habilidadessuperdotaccedilatildeo segundo os marcos legais poliacuteticos e pedagoacutegicos promulgados

por organismos internacionais como a ONU

Dentro desse processo de evoluccedilatildeo histoacuterica das poliacuteticas puacuteblicas no cenaacuterio

brasileiro a modalidade de ensino da Educaccedilatildeo Especial passou sob o verniz eacutetico-poliacutetico

da Educaccedilatildeo Inclusiva a garantir o acesso a permanecircncia a participaccedilatildeo e o

desenvolvimento acadecircmico e social dos estudantes puacuteblico-alvo do Atendimento

Educacional Especializado (AEE) na escola comum a partir da tentativa de eliminaccedilatildeo das

barreiras pedagoacutegicas arquitetocircnicas comunicacionais e atitudinais Afinal os documentos

internacionais defendem que natildeo eacute o limite individual que determina a deficiecircncia mas sim

as barreiras existentes nos espaccedilos no meio fiacutesico no transporte na informaccedilatildeo na

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comunicaccedilatildeo e nos serviccedilos A escola nessa vertente deve tornar-se um espaccedilo acolhedor

das diferenccedilas

A elaboraccedilatildeo dos direitos que asseguram a participaccedilatildeo de todos e a efetivaccedilatildeo de

uma sociedade inclusiva fica patente a partir de 10 de dezembro de 1948 quando da

elaboraccedilatildeo da Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos pela Assembleia Geral das

Naccedilotildees Unidas que se fundamenta no reconhecimento da dignidade de todas as pessoas e

na universalidade e indivisibilidade desses direitos e portanto no valor da diversidade

humana que se impotildee como condiccedilatildeo para o alcance de tal reconhecimento ao explicitar a

pessoa como sujeito de direito respeitado em suas peculiaridades e particularidades Como

garantia do direito agrave Educaccedilatildeo a citada declaraccedilatildeo internacional normatiza

Art 26 1 Todo ser humano tem direito agrave instruccedilatildeo A instruccedilatildeo seraacute gratuita pelo

menos nos graus elementares e fundamentais A instruccedilatildeo elementar seraacute obrigatoacuteria

A instruccedilatildeo teacutecnico-profissional seraacute acessiacutevel a todos bem como a instruccedilatildeo superior

estaacute baseada no meacuterito 2 A instruccedilatildeo seraacute orientada no sentido do pleno

desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos

direitos humanos e pelas liberdades fundamentais A instruccedilatildeo promoveraacute a

compreensatildeo a toleracircncia e a amizade entre todas as naccedilotildees e grupos raciais ou

religiosos e coadjuvaraacute as atividades das Naccedilotildees Unidas em prol da manutenccedilatildeo da

paz 3 Os pais tecircm prioridade de direito na escolha do gecircnero de instruccedilatildeo que seraacute

ministrada a seus filhos (ONU 1948 p 5)

Tal declaraccedilatildeo parece natildeo gerar mudanccedilas significativas na forma de oferta e

compreensatildeo acerca da educaccedilatildeo inclusiva Quase 30 anos depois dessa primeira

publicaccedilatildeo em 9 de dezembro de 1975 a ONU (1975 p 2) abordou especificamente a

temaacutetica da inclusatildeo ao lanccedilar a Declaraccedilatildeo dos Direitos das Pessoas Deficientes4 que

assevera

As pessoas deficientes tecircm direito a tratamento meacutedico psicoloacutegico e funcional

incluindo-se aiacute aparelhos proteacuteticos e ortoacuteticos agrave reabilitaccedilatildeo meacutedica e social

educaccedilatildeo treinamento vocacional e reabilitaccedilatildeo assistecircncia aconselhamento

serviccedilos de colocaccedilatildeo e outros serviccedilos que lhes possibilitem o maacuteximo

4 ldquoO termo lsquopessoas deficientesrsquo refere-se a qualquer pessoa incapaz de assegurar por si mesma total ou parcialmente as necessidades de uma vida individual ou social normal em decorrecircncia de uma deficiecircncia congecircnita ou natildeo em suas capacidades fiacutesicas ou mentaisrdquo (ONU 1975 p 1)

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desenvolvimento de sua capacidade e habilidades e que acelerem o processo de sua

integraccedilatildeo social

A partir da deacutecada de 1980 o Brasil paiacutes signataacuterio impulsionado por debates

internacionais buscou afirmaccedilatildeo do direito agrave Educaccedilatildeo das pessoas puacuteblico-alvo da

Educaccedilatildeo Especial por meio da realizaccedilatildeo de conferecircncias sobre o tema da inclusatildeo escolar

constituiacutedas por organismos nacionais e internacionais de defesa dos direitos humanos

Ademais ratificaram-se algumas declaraccedilotildees sobre as demandas especiacuteficas dessa aacuterea de

conhecimento que precisavam ser legitimadas democraticamente mediante instrumentos

juriacutedicos locais e de princiacutepios aplicaacuteveis a cada paiacutes-membro

No ano de 1981 por exemplo foram promulgados dois documentos relevantes para a

Educaccedilatildeo Especial a saber a Declaraccedilatildeo de Cuenca sobre novas tendecircncias na Educaccedilatildeo

Especial (UnescoOrealc ndash Cuenca Equador) que recomendava a eliminaccedilatildeo de barreiras

fiacutesicas e a participaccedilatildeo de pessoas ldquodeficientesrdquo na tomada de decisotildees a seu respeito e a

Declaraccedilatildeo de Sunderberg como resultado da Conferecircncia Mundial sobre as Accedilotildees e

Estrateacutegias para a Educaccedilatildeo Prevenccedilatildeo e Integraccedilatildeo dos Impedidos (Unesco ndash

Torremolinos Espanha) cujo tema principal era a equiparaccedilatildeo de oportunidades das

pessoas ldquodeficientesrdquo agrave Educaccedilatildeo formaccedilatildeo cultura e informaccedilatildeo (Carvalho 2002)

A deacutecada de 1980 marcou o Brasil pois deu iniacutecio ao debate mais acirrado para

estimular o cumprimento dos direitos das pessoas ldquodeficientesrdquo agrave Educaccedilatildeo agrave sauacutede e ao

trabalho Em 1981 comemorou-se em todo o mundo o Ano Internacional das Pessoas

Deficientes proclamado pela Assembleia Geral das Naccedilotildees Unidas5 cujo lema foi

participaccedilatildeo plena e igualdade em que a ONU oficializou o embriatildeo do conceito de

sociedade inclusiva Partindo da ideia de que as pessoas ldquodeficientesrdquo formam parte da

sociedade e natildeo satildeo uma sociedade agrave parte o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Cultura (MEC) do

Brasil em consonacircncia com a citada resoluccedilatildeo da ONU traccedilou as seguintes accedilotildees a curto

meacutedio e longo prazo para a oferta do AEE em territoacuterio nacional

I ndash Curto Prazo 1) Estabelecer modelos para serviccedilos de atendimento educacional

2) Organizar seminaacuterios e congressos a niacutevel nacional sobre Educaccedilatildeo Especial

3) Fomentar o desenvolvimento de recursos humanos em Educaccedilatildeo Especial a niacutevel

de 2ordm Grau 4) Sensibilizar os Conselhos de Educaccedilatildeo ordm(Estaduais e Federal) para os

5 ldquoEm sua trigeacutesima sessatildeo de 16 de dezembro de 1976 a Assembleia Geral das Naccedilotildees Unidas pela Resoluccedilatildeo nordm 31123 proclamou oficialmente o ano de 1981 como o Ano Internacional das Pessoas Deficientesrdquo (ONU 1981 p 6)

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problemas da Educaccedilatildeo Especial 5) Assessorar a Secom sobre a publicaccedilatildeo de

material informativo sobre multiplicidade de accedilotildees impliacutecitas na Educaccedilatildeo Especial

6) Promover o levantamento de todo o material bibliograacutefico sobre Educaccedilatildeo Especial

7) Ampliar e reestruturar o atendimento preacute-escolar do Instituto Nacional de Educaccedilatildeo

de Surdos ndash Ines ndash e do Instituto Benjamin Constant ndash IBC ndash visando transformaacute-los

em serviccedilos-modelo 8) Aperfeiccediloar e ampliar programa de bolsa de trabalho para

educandos deficientes 9) Publicar documentos relativos agrave Educaccedilatildeo Especial

elaborados pelo Cenesp 10) Aperfeiccediloar e ampliar o projeto de Assistecircncia Teacutecnica agraves

Secretarias Estaduais de Educaccedilatildeo II ndash Meacutedio Prazo 1) Estimular a formaccedilatildeo de

teacutecnicos especializados a niacutevel de 3ordm Grau 2) Elaborar o II Plano Nacional de

Educaccedilatildeo Especial 3) Normalizaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fiacutesica para deficientes 4) Efetuar

estudos sobre estatiacutestica da Educaccedilatildeo Especial 5) Implementar a modernizaccedilatildeo da

Imprensa Braille III ndash Longo Prazo 1) Estimular nos Estados e Municiacutepios a criaccedilatildeo

de serviccedilos de atendimento educacional que objetivem a integraccedilatildeo e a normalizaccedilatildeo

2) Criar centros de produccedilatildeo de material psicopedagoacutegico 3) Elaborar o I Plano

Nacional Integrado de Assistecircncia ao Excepcional e 4) Estimular a Educaccedilatildeo Especial

de deficientes adultos (ONU 1981 pp 14-15)

Uma importante consequecircncia do Ano Internacional das Pessoas Deficientes (1981) foi

a aprovaccedilatildeo do Programa Mundial de Accedilatildeo relativo agraves Pessoas com Deficiecircncia pela

Assembleia Geral da ONU por meio da Resoluccedilatildeo nordm 3752 de 3 de dezembro de 1982

Prontamente o Ano Internacional e o Programa Mundial de Accedilatildeo contribuiacuteram para um forte

desenvolvimento nesse domiacutenio por intermeacutedio da criaccedilatildeo da Deacutecada das Naccedilotildees Unidas

para as Pessoas com Deficiecircncia (1983-1992) que visava garantir agraves pessoas com

deficiecircncia o exerciacutecio dos seus direitos fundamentais e a sua participaccedilatildeo plena na

sociedade (ONU 1993) Ambos salientavam o direito das pessoas ldquodeficientesrdquo agraves mesmas

oportunidades de que gozavam os demais cidadatildeos visando a todos melhores condiccedilotildees de

vida resultantes do desenvolvimento econocircmico e social de suas comunidades (Unesco

1990)

Aspirando a enfrentar esse desafio mundial e a construir projetos capazes de superar

os processos histoacutericos de exclusatildeo escolar dessas pessoas com base na responsabilidade

comum e universal de todos os povos a Unesco estabeleceu a Conferecircncia Mundial de

Educaccedilatildeo para Todos realizada em Jomtien na Tailacircndia no periacuteodo de 5 a 9 de marccedilo de

1990 Esse evento implicou a solidariedade internacional dos organismos e instituiccedilotildees

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intergovernamentais a fim de satisfazer as necessidades baacutesicas de aprendizagem de seus

cidadatildeos haja vista os altos iacutendices de crianccedilas adolescentes e jovens sem escolarizaccedilatildeo

Somente assim seria possiacutevel promover as transformaccedilotildees nos sistemas de ensino para

assegurar o acesso e a permanecircncia de todos na escola (Unesco 1990)

Os principais referenciais da Declaraccedilatildeo de Jomtien (1990)6 publicados no ano

seguinte pelo Unicef enfatizavam a urgecircncia de uma Educaccedilatildeo de qualidade para todos ao

constituiacuterem a agenda de discussatildeo das poliacuteticas educacionais reforccedilando a necessidade

de elaboraccedilatildeo e a implementaccedilatildeo de accedilotildees voltadas para a universalizaccedilatildeo do acesso agrave

escola a promoccedilatildeo da equidade no acircmbito do ensino fundamental meacutedio e superior a

oferta da Educaccedilatildeo Infantil nas redes puacuteblicas de ensino a estruturaccedilatildeo do atendimento agraves

demandas de alfabetizaccedilatildeo e da modalidade de Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos e a

construccedilatildeo da gestatildeo democraacutetica da escola Sob a perspectiva inclusiva a referida

declaraccedilatildeo nos itens 4 e 5 do artigo 3ordm instituiu que

4 Um compromisso efetivo para superar as disparidades educacionais deve ser

assumido Os grupos excluiacutedos ndash os pobres os meninos e meninas de rua ou

trabalhadores as populaccedilotildees das periferias urbanas e zonas rurais os nocircmades e os

trabalhadores migrantes os povos indiacutegenas as minorias eacutetnicas raciais e linguumliacutesticas

[sic] os refugiados os deslocados pela guerra e os povos submetidos a um regime de

ocupaccedilatildeo ndash natildeo devem sofrer qualquer tipo de discriminaccedilatildeo no acesso agraves

oportunidades educacionais 5 As necessidades baacutesicas de aprendizagem das

pessoas portadoras de deficiecircncias requerem atenccedilatildeo especial Eacute preciso tomar

medidas que garantam a igualdade de acesso agrave educaccedilatildeo aos portadores de todo e

qualquer tipo de deficiecircncia como parte integrante do sistema educativo (Unesco

1990 p 4)

Vale lembrar que as diversas declaraccedilotildees da ONU culminaram em 1993 na publicaccedilatildeo

das Normas sobre a Igualdade de Oportunidades7 para as Pessoas com Deficiecircncia por meio

de resoluccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas adotada pela Assembleia Geral no dia 20 de dezembro de

1993 As normas exortavam os Estados dentre eles o Brasil a assumirem um compromisso

eacutetico e poliacutetico com vistas a operacionalizar dentre outros direitos o acesso ao sistema

6 No Brasil o MEC divulgou o Plano Decenal de Educaccedilatildeo para Todos para o periacuteodo de 1993 a 2003 elaborado em cumprimento agraves resoluccedilotildees da Declaraccedilatildeo de Jomtien (1990)

7 ldquoO termo lsquoigualdade de oportunidadesrsquo significa o processo pelo qual os diversos sistemas da sociedade e o meio envolvente tais como serviccedilos atividades informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo se [sic] tornam acessiacuteveis a todos e em especial agraves pessoas com deficiecircnciardquo (ONU 1993 p 16)

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regular de ensino agraves pessoas com deficiecircncia em igualdade de oportunidades com as demais

pessoas independentemente da natureza e gravidade da sua deficiecircncia tendo como

estrateacutegias complementares as escolas especiais (ONU 1993)

Por conseguinte a tendecircncia dos organismos internacionais atrelados ao

desenvolvimento da Educaccedilatildeo em seus paiacuteses-membros notadamente aqueles ligados agrave

ONU durante as deacutecadas de 1980 e 1990 tinha sido a de promover integraccedilatildeo e

participaccedilatildeo aleacutem de combater a exclusatildeo dos grupos socialmente marginalizados como

era o caso das pessoas ldquodeficientesrdquo O paradigma da inclusatildeo surgiu mais enfaticamente

com a Declaraccedilatildeo de Jomtien (1990) no contexto do movimento poliacutetico mundial para o

fomento de uma agenda internacional em prol do alcance das metas do direito agrave Educaccedilatildeo

das pessoas com deficiecircncia nos sistemas regulares de ensino Seu aacutepice no entanto

ocorreu com a produccedilatildeo de um documento publicado pelo Governo da Espanha em parceria

com a Unesco entre os dias 7 e 10 de junho de 1994 denominado Declaraccedilatildeo de

Salamanca sobre os princiacutepios a poliacutetica e as praacuteticas na aacuterea das necessidades educativas

especiais8 como resultado da Conferecircncia Mundial de Necessidades Educativas Especiais

Acesso e Qualidade

Tal Declaraccedilatildeo teve a finalidade de promover o objetivo da Educaccedilatildeo para Todos ou

seja da Educaccedilatildeo Especial sob a perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva examinando as

mudanccedilas fundamentais das poliacuteticas puacuteblicas educacionais necessaacuterias para desenvolver

tal abordagem nomeadamente qualificando as escolas regulares para atender a todas as

crianccedilas sobretudo as que tecircm necessidades educativas especiais de modo que os

governos com apoio das organizaccedilotildees internacionais pudessem conceder maior prioridade

ao desenvolvimento de seus respectivos Sistemas Nacionais de Educaccedilatildeo sob a

perspectiva inclusiva atraveacutes de medidas poliacuteticas e orccedilamentaacuterias compatiacuteveis com esse

imperativo eacutetico (Unesco 1994)

A partir dessa reflexatildeo acerca das praacuteticas educacionais especiais da qual resultaram

a compreensatildeo de equiparaccedilatildeo de oportunidades de diversos grupos sociais (crianccedilas com

deficiecircncia e crianccedilas bem dotadas crianccedilas que vivem nas ruas e que trabalham crianccedilas

de populaccedilotildees distantes ou nocircmades crianccedilas de minorias linguiacutesticas eacutetnicas ou culturais e

crianccedilas de outros grupos e zonas desfavorecidas ou marginalizadas) a Declaraccedilatildeo de

Salamanca e Linha de Accedilatildeo sobre Necessidades Educativas Especiais proclamou que as

8 A expressatildeo ldquonecessidades educativas especiaisrdquo no citado documento refere-se a todas as crianccedilas e jovens cujas carecircncias se relacionam com deficiecircncias ou dificuldades escolares incluindo nesse escopo as pessoas com deficiecircncia e as superdotadas (UNESCO 1994)

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escolas comuns representavam o meio mais eficaz para combater as atitudes

discriminatoacuterias ressaltando que o princiacutepio fundamental dessa linha de accedilatildeo seria o de que

as escolas inclusivas deveriam acolher todas as crianccedilas independentemente de suas

condiccedilotildees fiacutesicas intelectuais sociais emocionais linguiacutesticas ou outras (Unesco 1994)

Na esteira de construccedilatildeo de uma agenda internacional em torno da promoccedilatildeo de uma

Educaccedilatildeo para Todos em particular para aquelas com necessidades educacionais

especiais capazes de gerar diversos instrumentos e recomendaccedilotildees internacionais

passiacuteveis de serem incorporados ao sistema juriacutedico dos paiacuteses-membros de organismos

internacionais ligados ao fomento da Educaccedilatildeo tornando-os internamente obrigatoacuterios

surgiram outros movimentos sociais em torno da proposta da inclusatildeo escolar como a

Declaraccedilatildeo de Cartagena de Iacutendias as Poliacuteticas Integrais para Pessoas com Deficiecircncias na

Regiatildeo Ibero-Americana na Colocircmbia em 1992 a Conferecircncia Hemisfeacuterica de Pessoas com

Deficiecircncias em WashingtonEUA em 1993 a 5ordf Reuniatildeo do Comitecirc Regional

Intergovernamental do Projeto Principal de Educaccedilatildeo na Ameacuterica Latina e Caribe que

resultou na Declaraccedilatildeo de Santiago realizada no Chile em 1993 a 1ordf Reuniatildeo dos

Participantes da Conferecircncia de Ministros responsaacuteveis pela situaccedilatildeo da pessoa com

deficiecircncia ocorrida em MontrealCanadaacute em 1994 e a publicaccedilatildeo das normas uniformes

sobre a igualdade de oportunidades para pessoas com deficiecircncia aprovadas pela

Assembleia Geral nordm 4896 de 20 de dezembro de 1993 da ONU

Por fim a construccedilatildeo do cenaacuterio internacional da Educaccedilatildeo Especial sob o aspecto

filosoacutefico-ideoloacutegico da inclusatildeo na deacutecada de 1990 culminou com a Convenccedilatildeo

Interamericana para a Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Pessoas

Portadoras de Deficiecircncia9 mais conhecida como Convenccedilatildeo da Guatemala aprovada pelo

Conselho Permanente da OEA na sessatildeo realizada em 26 de maio de 1999 no paiacutes da

Ameacuterica Central supracitado promulgada no Brasil pelo Decreto nordm 39562001 Esse

documento que ainda utilizava a expressatildeo ldquoportador de deficiecircnciardquo afirmava que os

Estados-Partes deveriam se comprometer a tomar as medidas de caraacuteter legislativo social

educacional trabalhista ou de qualquer outra natureza que fossem necessaacuterias para

eliminar a discriminaccedilatildeo contra as pessoas ldquoportadoras de deficiecircnciardquo e proporcionar a sua

plena ldquointegraccedilatildeordquo agrave sociedade

9 ldquo[] o termo lsquodiscriminaccedilatildeo contra as pessoas portadoras de deficiecircnciarsquo significa toda diferenciaccedilatildeo exclusatildeo ou restriccedilatildeo baseada em deficiecircncia antecedente de deficiecircncia consequumlecircncia [sic] de deficiecircncia anterior ou percepccedilatildeo de deficiecircncia presente ou passada que tenha o efeito ou propoacutesito de impedir ou anular o reconhecimento gozo ou exerciacutecio por parte das pessoas portadoras de deficiecircncia de seus direitos humanos e suas liberdades fundamentaisrdquo (OEA 1999 p 3)

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Tendo em vista o protagonismo das agecircncias e organizaccedilotildees intergovernamentais no

panorama mundial como a ONU e suas agecircncias especializadas (Unesco Unicef e BM) e no

cenaacuterio regional como a OEA na busca pela cooperaccedilatildeo internacional a fim de promover e

estimular entre seus paiacuteses-membros o respeito aos direitos humanos e agraves liberdades

fundamentais para todos especialmente entre os grupos minoritaacuterios como no caso da

melhoria das condiccedilotildees de vida para pessoas com deficiecircncia verificou-se que o percurso

histoacuterico poliacutetico e filosoacutefico da Educaccedilatildeo Especial nos anos 1990 culminou no paradigma

inclusivo de garantia da equiparaccedilatildeo de oportunidades direitos e deveres de seu puacuteblico-alvo

no interior do sistema regular de ensino (Peroni 2003)

Em pleno anos 2000 a ONU continuou a fixar padrotildees a trabalhar para tecer

consensos universais e a manter-se como um foacuterum central disseminador para a

comunidade internacional de princiacutepios e orientaccedilotildees gerais para a Educaccedilatildeo atraveacutes de

sua agecircncia especializada da Unesco Ademais seguiu lanccedilando as diretrizes sobre os

caminhos da Educaccedilatildeo Especial atraveacutes de declaraccedilotildees e recomendaccedilotildees acordadas para a

construccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas educacionais inclusivas ao redor do mundo Dessa forma

entre os dias 26 e 28 de abril de 2000 em Dakar Senegal 164 paiacuteses reuniram-se no

Foacuterum Consultivo Internacional para a Educaccedilatildeo para Todos criado em 1991 e composto

por representantes da Unesco Unicef e BM contando com agecircncias bilaterais governos e

sociedade civil para avaliar os progressos globais alcanccedilados desde a Conferecircncia Mundial

de Educaccedilatildeo para Todos realizada dez anos antes em Jomtien Tailacircndia e para aprovar

novo marco de accedilatildeo para a universalizaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Baacutesica (Unesco 2001)

Em 13 de dezembro de 2006 em sessatildeo solene da Assembleia Geral da ONU foi

aprovado o texto final da Convenccedilatildeo sobre os Direitos das Pessoas com Deficiecircncia10

firmado pelo Brasil e por mais 85 naccedilotildees signataacuterias em 30 de marccedilo de 2007 Esse tratado

internacional no que diz respeito ao direito agrave Educaccedilatildeo aos deficientes estabelece que os

Estados-Partes devem assegurar um sistema de Educaccedilatildeo Inclusiva em todos os niacuteveis de

ensino bem como o aprendizado ao longo da vida Em seu artigo 24 determina que as

pessoas com deficiecircncia natildeo sejam excluiacutedas do sistema educacional geral e que as

crianccedilas com deficiecircncia natildeo sejam excluiacutedas do ensino fundamental gratuito e compulsoacuterio

estabelece tambeacutem que elas tenham acesso ao ensino meacutedio e superior inclusivo de

10 Nesse texto a ONU reconhece que ldquo[] a deficiecircncia eacute um conceito em evoluccedilatildeo e que a deficiecircncia resulta da interaccedilatildeo entre pessoas com deficiecircncia e as barreiras atitudinais e ambientais que impedem sua plena e efetiva participaccedilatildeo na sociedade em igualdade de oportunidades com as demais pessoasrdquo (ONU 2012 p 22)

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qualidade e gratuito em igualdade de condiccedilotildees com as demais pessoas na comunidade em

que vivem (ONU 2012)

Ainda no panorama internacional a Unesco lanccedila em 2009 uma coletacircnea intitulada

Orientaccedilotildees Poliacuteticas sobre Inclusatildeo na Educaccedilatildeo a fim de ampliar a compreensatildeo das

questotildees atinentes agraves poliacuteticas e agraves praacuteticas pedagoacutegicas que visam garantir a inclusatildeo

educacional e social Os dados apresentados e as anaacutelises feitas suscitaram

questionamentos e posicionamentos em relaccedilatildeo agraves condiccedilotildees de acesso e de atendimento

nas redes de ensino e possibilitaram o aprofundamento do debate sobre as accedilotildees do poder

puacuteblico e da sociedade com vistas a assegurar o direito de todas as pessoas agrave Educaccedilatildeo

Escolar de Qualidade (No cenaacuterio regional da Ameacuterica Latina e do Caribe houve em 2009

a Campanha Latino-Americana pelo Direito agrave Educaccedilatildeo a fim de promover o

desenvolvimento de pesquisas interdisciplinares para subsidiar a formulaccedilatildeo de poliacuteticas

puacuteblicas intersetoriais que atendessem agraves especificidades educacionais de estudantes com

deficiecircncia transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotaccedilatildeo que

requeiram medidas de atendimento especializado Jaacute na Uniatildeo Europeia a Agecircncia

Europeia para o Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Especial recomendou tambeacutem em 2009

para decisoacuterios poliacuteticos princiacutepios baacutesicos para a Promoccedilatildeo da Qualidade na Educaccedilatildeo

Inclusiva Faacutevero Ferreira Ireland e Barreiros 2009)

A influecircncia histoacuterica direta ou indireta das agecircncias internacionais no direcionamento

das poliacuteticas puacuteblicas dentre elas a Educaccedilatildeo Especial situada no acircmbito geral das

diretrizes da Educaccedilatildeo como um direito de todos e dever do Estado implica o entendimento

de que os fundamentos ideoloacutegicos que datildeo sustentaccedilatildeo agraves poliacuteticas educacionais na aacuterea

de conhecimento da Educaccedilatildeo Especial adotadas pelos governos brasileiros certamente natildeo

foram gerados exclusivamente em acircmbito nacional mas ao contraacuterio em acircmbito

internacional vinculados agraves declaraccedilotildees e recomendaccedilotildees construiacutedas em foros de

abrangecircncia mundial e regional Em consequecircncia torna-se obrigatoacuterio considerar que a

atuaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas teve papel preponderante para a internacionalizaccedilatildeo do

discurso da Educaccedilatildeo Especial na perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva nos anos 1990 e 2000

notadamente pelo trabalho teacutecnico-poliacutetico da Unesco

Na perspectiva da citada agecircncia intergovernamental atuar nessa agenda de

cooperaccedilatildeo internacional e nacional com os Estados-Partes na formulaccedilatildeo de poliacuteticas e

estrateacutegias destinadas ao melhoramento dos sistemas de ensino ldquo[] significa avanccedilar para

uma sociedade educacional onde cada pessoa aprenda durante toda a vida e seja fonte de

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aprendizagem para os demaisrdquo (Unesco 1998 p 11) afinal a ldquo[] educaccedilatildeo desempenha

um papel chave neste processo tendo em vista o seu valor econocircmico e socialrdquo (Unesco

2004 p 33)

Essa compreensatildeo conduz o debate sobre os rumos da Educaccedilatildeo Especial no Brail

tornando-se fundamental para a construccedilatildeo de poliacuteticas de formaccedilatildeo docente financiamento

e gestatildeo escolar necessaacuterias para a transformaccedilatildeo da estrutura educacional a fim de

assegurar as condiccedilotildees de acesso participaccedilatildeo e aprendizagem de todos os estudantes

concebendo a escola como um espaccedilo que reconhece e valoriza as diferenccedilas

Logo o respeito agrave diversidade efetivado no respeito agraves diferenccedilas impulsiona accedilotildees

de cidadania voltadas ao reconhecimento de sujeitos de direitos simplesmente por serem

seres humanos Suas especificidades natildeo devem ser elemento para a construccedilatildeo de

desigualdades discriminaccedilotildees ou exclusotildees mas sim devem pautar as poliacuteticas afirmativas

de respeito agrave diversidade voltadas para a construccedilatildeo de contextos sociais inclusivos cujo

aspecto filosoacutefico-ideoloacutegico se assenta na equiparaccedilatildeo de oportunidades direitos e

deveres em que todas as pessoas teriam condiccedilotildees de vida e chance de realizar seus

projetos como parte do exerciacutecio de sua cidadania e em respeito agrave sua identidade

3 Consideraccedilotildees finais

Esta pesquisa foi instigada pela reflexatildeo que questionava como foi se constituindo a

compreensatildeo de Educaccedilatildeo Inclusiva ao longo dos tempos no Brasil considerando a

influecircncia ideoloacutegica dos documentos legais produzidos pelos organismos internacionais ndash

ONU Unesco OEA Unicef e BM ndash a partir das primeiras deacutecadas do seacuteculo XX Tal

inquietaccedilatildeo acadecircmica fez emergir o interesse em compreender a Histoacuteria da Educaccedilatildeo

Inclusiva em especial no que concerne agrave escolarizaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncia

defendida em acordos e discussotildees internacionais O objetivo com efeito foi desenvolver

um histoacuterico a respeito das poliacuteticas puacuteblicas internacionais de Educaccedilatildeo Especial com

ecircnfase nas mudanccedilas paradigmaacuteticas emergentes cronologicamente no Brasil

Realizou-se uma pesquisa documental nos textos internacionais produzidos sobre os

debates acerca da Educaccedilatildeo Inclusiva em especial para as pessoas com deficiecircncia dentre

os quais destacam-se Convenccedilatildeo Interamericana para a Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas

de Discriminaccedilatildeo contra as Pessoas Portadoras de Deficiecircncia Declaraccedilatildeo Universal dos

Direitos Humanos A Unesco e a Educaccedilatildeo na Ameacuterica Latina e Caribe (1987-1997)

Educaccedilatildeo para Todos o Compromisso de Dakar A Unesco no Brasil Consolidando

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Compromissos Conferecircncia Mundial de Necessidades Educativas Especiais Acesso e

Qualidade Os resultados permitiram desenvolver uma cronologia histoacuterica a qual

possibilitou afirmar que os seacuteculos XVIII e XIX foram marcados pela segregaccedilatildeo

homogeneizante das pessoas com deficiecircncia em escolas especiais com edificaccedilatildeo

especiacutefica que separavam os ditos estudantes ldquonormaisrdquo dos alunos que possuiacuteam algum

tipo de limitaccedilatildeo periacuteodo em que os debates sobre inclusatildeo natildeo possuiacuteam ecircnfase no

cenaacuterio internacional A partir das primeiras deacutecadas do seacuteculo XX os debates internacionais

a respeito da escolarizaccedilatildeo dos entatildeo denominados discentes ldquoespeciaisrdquo foram se

alargando emergiram em congruecircncia as classes especiais no interior das escolas

regulares Posteriormente na segunda metade do seacuteculo XX os debates internacionais

comeccedilaram a sinalizar a superaccedilatildeo de qualquer forma de segregaccedilatildeo e a impulsionar a

ideologia atualmente defendida de igualdade e inclusatildeo social com respeito agraves diferenccedilas

Ao fazer um balanccedilo histoacuterico sobre as poliacuteticas puacuteblicas de Educaccedilatildeo Especial no

cenaacuterio internacional percebeu-se a ausecircncia de documentos especiacuteficos nos seacuteculos XVIII

XIX e iniacutecio do XX Somente ao longo dos seacuteculos XX e XXI especialmente nas deacutecadas

que seguem 1970 averiguou-se que a atuaccedilatildeo das agecircncias especializadas da ONU em

parceria com outras agecircncias internacionais governos organizaccedilotildees natildeo governamentais e

sociedades civis contribuiu de maneira importante para a transiccedilatildeo do discurso educacional

da integraccedilatildeo instrucional para a constituiccedilatildeo de saberes e praacuteticas da Educaccedilatildeo Especial

sob a oacutetica inclusiva ao desempenhar um fundamental papel como foro permanente de

debate educacional e busca de soluccedilotildees contribuindo para a consolidaccedilatildeo de uma agenda

educacional e para a promoccedilatildeo da cooperaccedilatildeo internacional e horizontal com o objetivo de

apoiar os processos de mudanccedila das condiccedilotildees de vida das pessoas com deficiecircncia dentre

elas a inclusatildeo dessas pessoas nos espaccedilos regulares de ensino em equiparaccedilatildeo de

oportunidades direitos e deveres com relaccedilatildeo aos seus pares sem deficiecircncia

A proposta global das Naccedilotildees Unidas visava agrave promoccedilatildeo de uma Educaccedilatildeo para todos

ao longo de toda a vida notadamente para grupos historicamente excluiacutedos como o das

pessoas com deficiecircncia Para tanto durante toda a deacutecada de 1990 houve uma expansatildeo

de acordos internacionais e uma redescoberta da Educaccedilatildeo Especial como campo feacutertil de

investimentos Ocorreu a definiccedilatildeo de uma agenda internacional para a Educaccedilatildeo Especial

materializada em diferentes eventos tais como a Conferecircncia Mundial sobre Educaccedilatildeo para

Todos (1990) a Declaraccedilatildeo de Salamanca (1994) a Convenccedilatildeo da Guatemala (1999) o

Compromisso de Dakar (2000) e a Convenccedilatildeo sobre os Direitos das Pessoas com

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Deficiecircncia (2006) que trataram de pautas de interesses ordinaacuterios agrave comunidade

internacional sobre o tema da Educaccedilatildeo Especial em uma perspectiva de Educaccedilatildeo

Inclusiva

Essas declaraccedilotildees e recomendaccedilotildees resultantes das diferentes cuacutepulas conferecircncias

e eventos regionais e internacionais foram importantes para a construccedilatildeo de consensos em

torno das principais ideias e propostas sobre Educaccedilatildeo Especial nas deacutecadas de 1980 1990

e 2000 ou seja da transiccedilatildeo do modelo integracionista para o inclusivo Nesses eventos ao

se constituiacuterem em foacuteruns gerais propalava-se a necessidade de reformas educativas

nacionais acompanhadas de mudanccedilas no financiamento transformaccedilatildeo curricular e gestatildeo

educacional em torno de sistemas educacionais inclusivos perseguidos tambeacutem no iniacutecio do

seacuteculo XXI que influenciaram a mudanccedila de paradigma acerca do atendimento agrave pessoa

com deficiecircncia no Brasil

No paradigma da inclusatildeo impulsionaram-se projetos de mudanccedilas nas poliacuteticas

puacuteblicas brasileiras ao conceber-se que todos se beneficiam quando as escolas promovem

respostas agraves diferenccedilas individuais dos estudantes Logo a Educaccedilatildeo Especial que surgiu

no campo da Pedagogia como uma aacuterea de conhecimento que se ocupava exclusivamente

do processo de escolarizaccedilatildeo pela via da homogeneizaccedilatildeo dos alunos ldquoexcepcionaisrdquo em

espaccedilos escolares ditos ldquoespeciaisrdquo que orbitavam agrave margem do sistema de ensino puacuteblico e

gratuito passou a integrar os tempos e espaccedilos das escolas regulares mas ficando a

participaccedilatildeo circunscrita agraves ldquoclasses especiaisrdquo e ainda sendo modalidade substitutiva e

normalizadora do processo de escolarizaccedilatildeo dos discentes ldquoportadores de necessidades

especiaisrdquo Atualmente sob a perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva o Brasil tem como

imperativo eacutetico normativo e intelectual ampliar a participaccedilatildeo de todos os estudantes nos

estabelecimentos de ensino regular especialmente daqueles grupos sociais historicamente

excluiacutedos da escola como as pessoas com deficiecircncia atraveacutes de uma abordagem

humaniacutestica e democraacutetica que perceba o sujeito e suas singularidades tendo como

objetivos o crescimento a satisfaccedilatildeo pessoal e a inserccedilatildeo social de todos

4 Referecircncias

Brasil Poder Executivo (2001) Promulga a Convenccedilatildeo Interamericana para a Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Pessoas Portadoras de Deficiecircncia Decreto nordm 3956 Brasil Diaacuterio Oficial [da] Repuacuteblica Federativa do Brasil

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Oportunidades para as Pessoas com Deficiecircncia Recuperado de httpwwwinrptuploadsdocsEdicoes

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Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (1990)

Conferecircncia Mundial de Educaccedilatildeo para Todos Declaraccedilatildeo Mundial de Educaccedilatildeo para Todos Plano de Accedilatildeo para Satisfazer as Necessidades Baacutesicas de Aprendizagem Brasiacutelia Unicef

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (1994)

Conferecircncia Mundial de Necessidades Educativas Especiais Acesso e Qualidade Declaraccedilatildeo de Salamanca sobre os Princiacutepios a Poliacutetica e as Praacuteticas na Aacuterea das Necessidades Educativas Especiais Salamanca Unesco

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (1998)

A Unesco e a Educaccedilatildeo na Ameacuterica Latina e Caribe (1987-1997) Chile Unesco

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Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (2001) Educaccedilatildeo para Todos o Compromisso de Dakar Brasiacutelia Consed

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A Unesco no Brasil consolidando compromissos Brasiacutelia Unesco Organizaccedilatildeo dos Estados Americanos (OEA) (1999) Convenccedilatildeo Interamericana para a

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Deficiecircncia 2) Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos 3) A Unesco e a Educaccedilatildeo na

Ameacuterica Latina e Caribe 4) Educaccedilatildeo para Todos o compromisso de Dakar 5) A Unesco no

Brasil consolidando compromissos 6) Conferecircncia Mundial de Necessidades Educativas

Especiais Acesso e Qualidade

Salienta-se que a Educaccedilatildeo Especial eacute uma aacuterea do conhecimento relativamente nova

no campo da Educaccedilatildeo brasileira tendo em vista que foi incluiacuteda no curriacuteculo dos cursos de

Pedagogia somente a partir do seacuteculo XIX como resposta da academia agraves demandas das

instituiccedilotildees assistenciais filantroacutepicas privadas que mesmo situadas agrave margem dos

sistemas de ensino jaacute prestavam atendimento educacional agraves pessoas ldquoexcepcionaisrdquo desde

o seacuteculo XVIII isto eacute agravequelas com deficiecircncias sensoriais como a surdez e a cegueira por

exemplo

Nesse sentido a Educaccedilatildeo Especial nasceu sob o paradigma segregacionista de

Educaccedilatildeo que tentava produzir uma reparaccedilatildeo histoacuterica frente aos processos de exclusatildeo

escolar sofridos pelas pessoas que apresentavam singularidades sensoriais e em seguida

por aquelas ditas ldquoidiotasrdquo ou ldquoimbecisrdquo (atualmente denominadas de pessoas com

deficiecircncia intelectual)

Na condiccedilatildeo de temaacutetica emergente nos debates internacionais a Educaccedilatildeo Especial

vem galgando novos contornos que problematizam a visatildeo essencialmente homogeneizante

e segregacionista proporcionando o rompimento de paradigmas histoacutericos e o fomento de

uma ideologia pautada na inclusatildeo Defende-se pois a tese de que os debates

internacionais registrados em documentos oficiais impulsionam mudanccedilas de concepccedilotildees e

consecutivamente de poliacuteticas impulsionando o Brasil a alinhar sua poliacutetica interna em

direccedilatildeo agrave garantia de direitos humanos e igualdade agraves pessoas com deficiecircncia

Importa portanto historicizar a respeito das poliacuteticas puacuteblicas de Educaccedilatildeo Especial

no cenaacuterio internacional com ecircnfase nos avanccedilos emergentes de debates universais nos

seacuteculos XX e XXI a fim de clarificar compreensotildees sobre ideologias propostas de inclusatildeo e

accedilotildees em desenvolvimento com vistas agrave inclusatildeo da pessoa com deficiecircncia nos espaccedilos e

tempos da escola regular no Brasil

2 Histoacuteria da Educaccedilatildeo Especial o contexto brasileiro

A base filosoacutefico-ideoloacutegica que persistiu no cenaacuterio internacional entre os seacuteculos

XVIII e XIX foi a do modelo escolar segregacionista baseado na homogeneizaccedilatildeo das

pessoas de acordo com suas caracteriacutesticas bioloacutegicas ndash concepccedilatildeo organicista Esse

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paradigma preconizava como resposta educacional agraves necessidades de escolarizaccedilatildeo das

crianccedilas ldquoexcepcionaisrdquo a sua institucionalizaccedilatildeo em ldquoescolas especiaisrdquo pressupondo a

deficiecircncia como um fenocircmeno hereditaacuterio com evidecircncias de degenerescecircncia da espeacutecie

humana (Mendes 1995) Assim a segregaccedilatildeo era considerada a melhor forma de se

combater a ameaccedila representada por essa populaccedilatildeo agrave sociedade (Dechichi 2001)

Em suma os alunos eram rotulados como ldquoexcepcionaisrdquo ou seja havia uma visatildeo

patoloacutegica da deficiecircncia o que contribuiacutea para a marginalizaccedilatildeo do aluno no sistema regular

de ensino no Brasil e sua consequente institucionalizaccedilatildeo em espaccedilos escolares de caraacuteter

assistencial tendo em vista que a deficiecircncia era vista como causa e consequecircncia do baixo

rendimento escolar dessas pessoas o que justificava teoricamente sua segregaccedilatildeo em

espaccedilos escolares entendidos como capazes de ldquocurarrdquo ou ldquoeliminarrdquo a deficiecircncia por meio

da Educaccedilatildeo (Voivodic 2004)

A partir do final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX foi percebido que o atendimento

educacional das pessoas com deficiecircncia era tambeacutem um problema do Estado e da rede

regular de ensino sendo necessaacuteria a organizaccedilatildeo de um modelo de escola puacuteblica capaz

de acolher os alunos ldquoportadores de necessidades especiaisrdquo surgindo assim as ldquoescolas

especiaisrdquo puacuteblicas ou a instalaccedilatildeo de ldquoclasses especiaisrdquo nas jaacute existentes que visavam

oferecer agrave pessoa ldquodeficienterdquo uma Educaccedilatildeo agrave parte Emerge nesse cenaacuterio brasileiro o

paradigma da integraccedilatildeo instrucional no qual os discentes com deficiecircncia ndash seja fiacutesica

sensorial ou intelectual ndash poderiam se matricular em salas de aula comuns se possuiacutessem

condiccedilotildees de acompanhar e desenvolver no mesmo ritmo dos estudantes ditos ldquonormaisrdquo

as atividades curriculares programadas para o ensino comum No entanto aqueles que

possuiacutessem rendimento escolar abaixo da meacutedia estipulada pelo sistema de ensino

continuavam segredados da rede regular e sua matriacutecula se limitava agraves ldquoescolas especiaisrdquo

Nesse periacuteodo histoacuterico a normalizaccedilatildeo das condutas de participaccedilatildeo e aprendizagem

dos educandos ldquoportadores de necessidades especiaisrdquo foi definida como o princiacutepio que

representava a base filosoacutefico-ideoloacutegica do modelo de integraccedilatildeo instrucional Vale frisar

que nesse caso natildeo se tratava de ldquonormalizarrdquo esses alunos mas sim o contexto em que se

desenvolviam em outras palavras tinha-se como intuito oferecer aos aprendizes com

deficiecircncia condiccedilotildees de vida diaacuteria o mais semelhante possiacutevel agraves formas e condiccedilotildees de

vida do restante da sociedade

A Educaccedilatildeo Especial no cenaacuterio mundial passou de uma concepccedilatildeo organicista para

uma abordagem funcional A primeira concebia a deficiecircncia como consequecircncia de

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caracteriacutesticas bioloacutegicas e utilizava-se da estrateacutegia de segregaccedilatildeo dos ldquoexcepcionaisrdquo em

instituiccedilotildees assistenciais filantroacutepicas da rede privada de ensino A segunda por sua vez

definia a deficiecircncia em funccedilatildeo das capacidades e habilidades funcionais residuais e

empregava a estrateacutegia da integraccedilatildeo das pessoas ldquoportadoras de necessidades especiaisrdquo

em ldquoescolas especiaisrdquo ou em ldquoclasses especiaisrdquo da rede puacuteblica de ensino a fim de

estabelecer interaccedilotildees sociais entre esses educandos e os alunos ditos ldquonormaisrdquo (Rioux e

Valentine 2006)

Mesmo com essa evoluccedilatildeo filosoacutefico-ideoloacutegica em torno dos objetivos e qualidade dos

serviccedilos educacionais especiais a Educaccedilatildeo Especial no Brasil continuava negligenciada

pelos sistemas regulares de ensino tendo em vista que essa modalidade de ensino ainda

era tida como substitutiva do processo de escolarizaccedilatildeo das pessoas historicamente

marginalizadas da escola comum Seja pela homogeneizaccedilatildeo ndash processo de exclusatildeo fora

da escola ndash seja pela normalizaccedilatildeo ndash procedimento de exclusatildeo dentro da escola ndash a era da

exclusatildeo dessa populaccedilatildeo persistia no cenaacuterio das reformas educacionais gerais desde o

seacuteculo XVIII ateacute meados do seacuteculo XX pois natildeo havia a preocupaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica de

incluir a pauta da Educaccedilatildeo Especial no desenvolvimento dos sistemas regulares de ensino

brasileiro (Saacutenchez 2005)

Ainda que sob formas distintas a exclusatildeo tem sido caracteriacutestica recorrente na

Educaccedilatildeo fomentada no Brasil No paradigma segregacionista as pessoas com deficiecircncia

estatildeo inseridas em escolas especiais e as pessoas sem deficiecircncia no ensino regular No

acircmbito da integraccedilatildeo escolar as pessoas com deficiecircncia estatildeo na mesma instituiccedilatildeo de

ensino que as pessoas sem deficiecircncia mas em grupos separados por ldquoclasses especiaisrdquo o

que pressupotildee a Educaccedilatildeo Especial como modalidade de ensino substitutiva do processo de

escolarizaccedilatildeo desses alunos cujo resultado foi a naturalizaccedilatildeo do fracasso escolar

(Saacutenchez 2005)

A partir da segunda metade do seacuteculo XX emergiu com maior ecircnfase no cenaacuterio

mundial a defesa do paradigma da inclusatildeo como uma accedilatildeo poliacutetica cultural social e

pedagoacutegica desencadeada em defesa dos direitos de todos os estudantes de estarem

aprendendo e participando juntos sem nenhum tipo de discriminaccedilatildeo Essa concepccedilatildeo

fundamentava-se na base filosoacutefico-ideoloacutegica que defendia a garantia dos direitos humanos

e ao mesmo tempo ldquo[] conjuga[va] igualdade e diferenccedila como valores indissociaacuteveis e

que avanccedila[va] em relaccedilatildeo agrave ideacuteia [sic] de equumlidade [sic] formal ao contextualizar as

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circunstacircncias histoacutericas da produccedilatildeo da exclusatildeo dentro e fora da escolardquo (Ministeacuterio da

Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Especial Brasil 2008 p 5)

No decorrer do periacuteodo da era da inclusatildeo no Brasil fortaleceu-se a criacutetica agraves praacuteticas

de conceituaccedilatildeo identificaccedilatildeo e categorizaccedilatildeo dos discentes encaminhados para ambientes

escolares ldquoespeciaisrdquo sob o signo da abordagem da deficiecircncia como uma patologia

individual capaz de determinar o fracasso escolar de seus ldquoportadoresrdquo Aleacutem disso criticava-

se o cunho assistencialista dessa poliacutetica em que a instituiccedilatildeo privada com fins filantroacutepicos

tinha caraacuteter de internato e as pessoas com deficiecircncia eram retiradas do conviacutevio familiar e

social para viverem em instituiccedilotildees asilares Dentro de uma visatildeo biomeacutedica entendia-se

que a responsabilidade social da Educaccedilatildeo Especial era a de curar ou eliminar a deficiecircncia

de seus alunos por meio da Educaccedilatildeo

O movimento mundial pela inclusatildeo escolar conduziu o debate sobre a Educaccedilatildeo

Especial ao questionamento dos modelos de normalizaccedilatildeo de ensino e de aprendizagem

geradores de exclusatildeo nos espaccedilos escolares regulares sob o siacutembolo da integraccedilatildeo

instrucional que instituiacutea ldquoclasses especiaisrdquo na rede regular de ensino notadamente no

sistema puacuteblico Nesse modelo a Educaccedilatildeo de ldquoportadores de necessidades especiaisrdquo

deveria no que fosse possiacutevel enquadrar-se ao sistema geral de educaccedilatildeo a fim de integraacute-

los agrave comunidade Desse modo em vez de a escola ter que se adequar agraves necessidades

fiacutesicas sensoriais intelectuais sociais e culturais do discente este eacute que deveria se adequar

agrave escola em termos de estrutura fiacutesica pedagoacutegica e administrativa

Portanto os tempos espaccedilos praacuteticas e saberes escolares na aacuterea de conhecimento

da Educaccedilatildeo Especial no Brasil historicamente se caracterizaram pela visatildeo da Educaccedilatildeo

que entendia a escolarizaccedilatildeo como um privileacutegio de um grupo dito ldquonormalrdquo e a exclusatildeo ndash

dentro e fora da escola ndash como estrateacutegia para o tratamento das pessoas ditas ldquodeficientesrdquo

Esse entendimento foi legitimado nas poliacuteticas e praacuteticas educacionais ldquoespeciaisrdquo

reprodutoras das relaccedilotildees sociais e de poder que classificavam os grupos humanos de

maneira subalterna uns aos outros transformando as naturais diferenccedilas humanas em

desigualdades e injusticcedilas sociais (Sassaki 2005)

3 Marcos legal e poliacuteticos internacionais de Educaccedilatildeo Inclusiva e a

repercussatildeo no Brasil

A anaacutelise documental dos seis textos legais - 1)Convenccedilatildeo Interamericana para a

Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Pessoas Portadoras de

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Deficiecircncia 2)Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos 3)A Unesco e a Educaccedilatildeo na

Ameacuterica Latina e Caribe 4)Educaccedilatildeo para Todos o compromisso de Dakar 5)A Unesco no

Brasil consolidando compromissos 6)Conferecircncia Mundial de Necessidades Educativas

Especiais Acesso e Qualidade ndash permitiu inferir que sob a era da inclusatildeo no paradigma

veiculado pelos documentos oficiais internacionais a deficiecircncia passa a ser tratada

internacionalmente na perspectiva da abordagem dos direitos humanos ou seja como uma

patologia social produzida em consequecircncia da organizaccedilatildeo social e da relaccedilatildeo entre o

indiviacuteduo e a sociedade cuja responsabilidade sobre essas pessoas singulares seria por

meio da reconstruccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas de Educaccedilatildeo Especial entendidas como accedilotildees

afirmativas em defesa da diferenccedila e da diversidade humana visando agrave superaccedilatildeo dessas

mesmas desigualdades e injusticcedilas atraveacutes da eliminaccedilatildeo de praacuteticas pedagoacutegicas

discriminatoacuterias e excludentes (Sassaki 2005) Nessa vertente prima-se pela oferta de um

atendimento educacional especializado de modo complementar ou suplementar ao processo

de escolarizaccedilatildeo desses alunos sendo ambos os serviccedilos disponibilizados no espaccedilo

comum da escola regular

Logo a partir da deacutecada de 1990 o movimento educacional internacional pela

inclusatildeo que preconizava que todas as pessoas deveriam estar inseridas nos mesmos

espaccedilos e tempos escolares passou a integrar a pauta obrigatoacuteria na escola no Brasil

enfatizando-se especialmente o tema sobre as mais eficientes formas de atendimento

educacional especializado e sobre a escolarizaccedilatildeo dos alunos puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo

Especial no sistema regular de ensino Com efeito passa-se a discutir a garantia do direito agrave

Educaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncia transtorno global do desenvolvimento e com altas

habilidadessuperdotaccedilatildeo segundo os marcos legais poliacuteticos e pedagoacutegicos promulgados

por organismos internacionais como a ONU

Dentro desse processo de evoluccedilatildeo histoacuterica das poliacuteticas puacuteblicas no cenaacuterio

brasileiro a modalidade de ensino da Educaccedilatildeo Especial passou sob o verniz eacutetico-poliacutetico

da Educaccedilatildeo Inclusiva a garantir o acesso a permanecircncia a participaccedilatildeo e o

desenvolvimento acadecircmico e social dos estudantes puacuteblico-alvo do Atendimento

Educacional Especializado (AEE) na escola comum a partir da tentativa de eliminaccedilatildeo das

barreiras pedagoacutegicas arquitetocircnicas comunicacionais e atitudinais Afinal os documentos

internacionais defendem que natildeo eacute o limite individual que determina a deficiecircncia mas sim

as barreiras existentes nos espaccedilos no meio fiacutesico no transporte na informaccedilatildeo na

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comunicaccedilatildeo e nos serviccedilos A escola nessa vertente deve tornar-se um espaccedilo acolhedor

das diferenccedilas

A elaboraccedilatildeo dos direitos que asseguram a participaccedilatildeo de todos e a efetivaccedilatildeo de

uma sociedade inclusiva fica patente a partir de 10 de dezembro de 1948 quando da

elaboraccedilatildeo da Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos pela Assembleia Geral das

Naccedilotildees Unidas que se fundamenta no reconhecimento da dignidade de todas as pessoas e

na universalidade e indivisibilidade desses direitos e portanto no valor da diversidade

humana que se impotildee como condiccedilatildeo para o alcance de tal reconhecimento ao explicitar a

pessoa como sujeito de direito respeitado em suas peculiaridades e particularidades Como

garantia do direito agrave Educaccedilatildeo a citada declaraccedilatildeo internacional normatiza

Art 26 1 Todo ser humano tem direito agrave instruccedilatildeo A instruccedilatildeo seraacute gratuita pelo

menos nos graus elementares e fundamentais A instruccedilatildeo elementar seraacute obrigatoacuteria

A instruccedilatildeo teacutecnico-profissional seraacute acessiacutevel a todos bem como a instruccedilatildeo superior

estaacute baseada no meacuterito 2 A instruccedilatildeo seraacute orientada no sentido do pleno

desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos

direitos humanos e pelas liberdades fundamentais A instruccedilatildeo promoveraacute a

compreensatildeo a toleracircncia e a amizade entre todas as naccedilotildees e grupos raciais ou

religiosos e coadjuvaraacute as atividades das Naccedilotildees Unidas em prol da manutenccedilatildeo da

paz 3 Os pais tecircm prioridade de direito na escolha do gecircnero de instruccedilatildeo que seraacute

ministrada a seus filhos (ONU 1948 p 5)

Tal declaraccedilatildeo parece natildeo gerar mudanccedilas significativas na forma de oferta e

compreensatildeo acerca da educaccedilatildeo inclusiva Quase 30 anos depois dessa primeira

publicaccedilatildeo em 9 de dezembro de 1975 a ONU (1975 p 2) abordou especificamente a

temaacutetica da inclusatildeo ao lanccedilar a Declaraccedilatildeo dos Direitos das Pessoas Deficientes4 que

assevera

As pessoas deficientes tecircm direito a tratamento meacutedico psicoloacutegico e funcional

incluindo-se aiacute aparelhos proteacuteticos e ortoacuteticos agrave reabilitaccedilatildeo meacutedica e social

educaccedilatildeo treinamento vocacional e reabilitaccedilatildeo assistecircncia aconselhamento

serviccedilos de colocaccedilatildeo e outros serviccedilos que lhes possibilitem o maacuteximo

4 ldquoO termo lsquopessoas deficientesrsquo refere-se a qualquer pessoa incapaz de assegurar por si mesma total ou parcialmente as necessidades de uma vida individual ou social normal em decorrecircncia de uma deficiecircncia congecircnita ou natildeo em suas capacidades fiacutesicas ou mentaisrdquo (ONU 1975 p 1)

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desenvolvimento de sua capacidade e habilidades e que acelerem o processo de sua

integraccedilatildeo social

A partir da deacutecada de 1980 o Brasil paiacutes signataacuterio impulsionado por debates

internacionais buscou afirmaccedilatildeo do direito agrave Educaccedilatildeo das pessoas puacuteblico-alvo da

Educaccedilatildeo Especial por meio da realizaccedilatildeo de conferecircncias sobre o tema da inclusatildeo escolar

constituiacutedas por organismos nacionais e internacionais de defesa dos direitos humanos

Ademais ratificaram-se algumas declaraccedilotildees sobre as demandas especiacuteficas dessa aacuterea de

conhecimento que precisavam ser legitimadas democraticamente mediante instrumentos

juriacutedicos locais e de princiacutepios aplicaacuteveis a cada paiacutes-membro

No ano de 1981 por exemplo foram promulgados dois documentos relevantes para a

Educaccedilatildeo Especial a saber a Declaraccedilatildeo de Cuenca sobre novas tendecircncias na Educaccedilatildeo

Especial (UnescoOrealc ndash Cuenca Equador) que recomendava a eliminaccedilatildeo de barreiras

fiacutesicas e a participaccedilatildeo de pessoas ldquodeficientesrdquo na tomada de decisotildees a seu respeito e a

Declaraccedilatildeo de Sunderberg como resultado da Conferecircncia Mundial sobre as Accedilotildees e

Estrateacutegias para a Educaccedilatildeo Prevenccedilatildeo e Integraccedilatildeo dos Impedidos (Unesco ndash

Torremolinos Espanha) cujo tema principal era a equiparaccedilatildeo de oportunidades das

pessoas ldquodeficientesrdquo agrave Educaccedilatildeo formaccedilatildeo cultura e informaccedilatildeo (Carvalho 2002)

A deacutecada de 1980 marcou o Brasil pois deu iniacutecio ao debate mais acirrado para

estimular o cumprimento dos direitos das pessoas ldquodeficientesrdquo agrave Educaccedilatildeo agrave sauacutede e ao

trabalho Em 1981 comemorou-se em todo o mundo o Ano Internacional das Pessoas

Deficientes proclamado pela Assembleia Geral das Naccedilotildees Unidas5 cujo lema foi

participaccedilatildeo plena e igualdade em que a ONU oficializou o embriatildeo do conceito de

sociedade inclusiva Partindo da ideia de que as pessoas ldquodeficientesrdquo formam parte da

sociedade e natildeo satildeo uma sociedade agrave parte o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Cultura (MEC) do

Brasil em consonacircncia com a citada resoluccedilatildeo da ONU traccedilou as seguintes accedilotildees a curto

meacutedio e longo prazo para a oferta do AEE em territoacuterio nacional

I ndash Curto Prazo 1) Estabelecer modelos para serviccedilos de atendimento educacional

2) Organizar seminaacuterios e congressos a niacutevel nacional sobre Educaccedilatildeo Especial

3) Fomentar o desenvolvimento de recursos humanos em Educaccedilatildeo Especial a niacutevel

de 2ordm Grau 4) Sensibilizar os Conselhos de Educaccedilatildeo ordm(Estaduais e Federal) para os

5 ldquoEm sua trigeacutesima sessatildeo de 16 de dezembro de 1976 a Assembleia Geral das Naccedilotildees Unidas pela Resoluccedilatildeo nordm 31123 proclamou oficialmente o ano de 1981 como o Ano Internacional das Pessoas Deficientesrdquo (ONU 1981 p 6)

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problemas da Educaccedilatildeo Especial 5) Assessorar a Secom sobre a publicaccedilatildeo de

material informativo sobre multiplicidade de accedilotildees impliacutecitas na Educaccedilatildeo Especial

6) Promover o levantamento de todo o material bibliograacutefico sobre Educaccedilatildeo Especial

7) Ampliar e reestruturar o atendimento preacute-escolar do Instituto Nacional de Educaccedilatildeo

de Surdos ndash Ines ndash e do Instituto Benjamin Constant ndash IBC ndash visando transformaacute-los

em serviccedilos-modelo 8) Aperfeiccediloar e ampliar programa de bolsa de trabalho para

educandos deficientes 9) Publicar documentos relativos agrave Educaccedilatildeo Especial

elaborados pelo Cenesp 10) Aperfeiccediloar e ampliar o projeto de Assistecircncia Teacutecnica agraves

Secretarias Estaduais de Educaccedilatildeo II ndash Meacutedio Prazo 1) Estimular a formaccedilatildeo de

teacutecnicos especializados a niacutevel de 3ordm Grau 2) Elaborar o II Plano Nacional de

Educaccedilatildeo Especial 3) Normalizaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fiacutesica para deficientes 4) Efetuar

estudos sobre estatiacutestica da Educaccedilatildeo Especial 5) Implementar a modernizaccedilatildeo da

Imprensa Braille III ndash Longo Prazo 1) Estimular nos Estados e Municiacutepios a criaccedilatildeo

de serviccedilos de atendimento educacional que objetivem a integraccedilatildeo e a normalizaccedilatildeo

2) Criar centros de produccedilatildeo de material psicopedagoacutegico 3) Elaborar o I Plano

Nacional Integrado de Assistecircncia ao Excepcional e 4) Estimular a Educaccedilatildeo Especial

de deficientes adultos (ONU 1981 pp 14-15)

Uma importante consequecircncia do Ano Internacional das Pessoas Deficientes (1981) foi

a aprovaccedilatildeo do Programa Mundial de Accedilatildeo relativo agraves Pessoas com Deficiecircncia pela

Assembleia Geral da ONU por meio da Resoluccedilatildeo nordm 3752 de 3 de dezembro de 1982

Prontamente o Ano Internacional e o Programa Mundial de Accedilatildeo contribuiacuteram para um forte

desenvolvimento nesse domiacutenio por intermeacutedio da criaccedilatildeo da Deacutecada das Naccedilotildees Unidas

para as Pessoas com Deficiecircncia (1983-1992) que visava garantir agraves pessoas com

deficiecircncia o exerciacutecio dos seus direitos fundamentais e a sua participaccedilatildeo plena na

sociedade (ONU 1993) Ambos salientavam o direito das pessoas ldquodeficientesrdquo agraves mesmas

oportunidades de que gozavam os demais cidadatildeos visando a todos melhores condiccedilotildees de

vida resultantes do desenvolvimento econocircmico e social de suas comunidades (Unesco

1990)

Aspirando a enfrentar esse desafio mundial e a construir projetos capazes de superar

os processos histoacutericos de exclusatildeo escolar dessas pessoas com base na responsabilidade

comum e universal de todos os povos a Unesco estabeleceu a Conferecircncia Mundial de

Educaccedilatildeo para Todos realizada em Jomtien na Tailacircndia no periacuteodo de 5 a 9 de marccedilo de

1990 Esse evento implicou a solidariedade internacional dos organismos e instituiccedilotildees

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intergovernamentais a fim de satisfazer as necessidades baacutesicas de aprendizagem de seus

cidadatildeos haja vista os altos iacutendices de crianccedilas adolescentes e jovens sem escolarizaccedilatildeo

Somente assim seria possiacutevel promover as transformaccedilotildees nos sistemas de ensino para

assegurar o acesso e a permanecircncia de todos na escola (Unesco 1990)

Os principais referenciais da Declaraccedilatildeo de Jomtien (1990)6 publicados no ano

seguinte pelo Unicef enfatizavam a urgecircncia de uma Educaccedilatildeo de qualidade para todos ao

constituiacuterem a agenda de discussatildeo das poliacuteticas educacionais reforccedilando a necessidade

de elaboraccedilatildeo e a implementaccedilatildeo de accedilotildees voltadas para a universalizaccedilatildeo do acesso agrave

escola a promoccedilatildeo da equidade no acircmbito do ensino fundamental meacutedio e superior a

oferta da Educaccedilatildeo Infantil nas redes puacuteblicas de ensino a estruturaccedilatildeo do atendimento agraves

demandas de alfabetizaccedilatildeo e da modalidade de Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos e a

construccedilatildeo da gestatildeo democraacutetica da escola Sob a perspectiva inclusiva a referida

declaraccedilatildeo nos itens 4 e 5 do artigo 3ordm instituiu que

4 Um compromisso efetivo para superar as disparidades educacionais deve ser

assumido Os grupos excluiacutedos ndash os pobres os meninos e meninas de rua ou

trabalhadores as populaccedilotildees das periferias urbanas e zonas rurais os nocircmades e os

trabalhadores migrantes os povos indiacutegenas as minorias eacutetnicas raciais e linguumliacutesticas

[sic] os refugiados os deslocados pela guerra e os povos submetidos a um regime de

ocupaccedilatildeo ndash natildeo devem sofrer qualquer tipo de discriminaccedilatildeo no acesso agraves

oportunidades educacionais 5 As necessidades baacutesicas de aprendizagem das

pessoas portadoras de deficiecircncias requerem atenccedilatildeo especial Eacute preciso tomar

medidas que garantam a igualdade de acesso agrave educaccedilatildeo aos portadores de todo e

qualquer tipo de deficiecircncia como parte integrante do sistema educativo (Unesco

1990 p 4)

Vale lembrar que as diversas declaraccedilotildees da ONU culminaram em 1993 na publicaccedilatildeo

das Normas sobre a Igualdade de Oportunidades7 para as Pessoas com Deficiecircncia por meio

de resoluccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas adotada pela Assembleia Geral no dia 20 de dezembro de

1993 As normas exortavam os Estados dentre eles o Brasil a assumirem um compromisso

eacutetico e poliacutetico com vistas a operacionalizar dentre outros direitos o acesso ao sistema

6 No Brasil o MEC divulgou o Plano Decenal de Educaccedilatildeo para Todos para o periacuteodo de 1993 a 2003 elaborado em cumprimento agraves resoluccedilotildees da Declaraccedilatildeo de Jomtien (1990)

7 ldquoO termo lsquoigualdade de oportunidadesrsquo significa o processo pelo qual os diversos sistemas da sociedade e o meio envolvente tais como serviccedilos atividades informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo se [sic] tornam acessiacuteveis a todos e em especial agraves pessoas com deficiecircnciardquo (ONU 1993 p 16)

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regular de ensino agraves pessoas com deficiecircncia em igualdade de oportunidades com as demais

pessoas independentemente da natureza e gravidade da sua deficiecircncia tendo como

estrateacutegias complementares as escolas especiais (ONU 1993)

Por conseguinte a tendecircncia dos organismos internacionais atrelados ao

desenvolvimento da Educaccedilatildeo em seus paiacuteses-membros notadamente aqueles ligados agrave

ONU durante as deacutecadas de 1980 e 1990 tinha sido a de promover integraccedilatildeo e

participaccedilatildeo aleacutem de combater a exclusatildeo dos grupos socialmente marginalizados como

era o caso das pessoas ldquodeficientesrdquo O paradigma da inclusatildeo surgiu mais enfaticamente

com a Declaraccedilatildeo de Jomtien (1990) no contexto do movimento poliacutetico mundial para o

fomento de uma agenda internacional em prol do alcance das metas do direito agrave Educaccedilatildeo

das pessoas com deficiecircncia nos sistemas regulares de ensino Seu aacutepice no entanto

ocorreu com a produccedilatildeo de um documento publicado pelo Governo da Espanha em parceria

com a Unesco entre os dias 7 e 10 de junho de 1994 denominado Declaraccedilatildeo de

Salamanca sobre os princiacutepios a poliacutetica e as praacuteticas na aacuterea das necessidades educativas

especiais8 como resultado da Conferecircncia Mundial de Necessidades Educativas Especiais

Acesso e Qualidade

Tal Declaraccedilatildeo teve a finalidade de promover o objetivo da Educaccedilatildeo para Todos ou

seja da Educaccedilatildeo Especial sob a perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva examinando as

mudanccedilas fundamentais das poliacuteticas puacuteblicas educacionais necessaacuterias para desenvolver

tal abordagem nomeadamente qualificando as escolas regulares para atender a todas as

crianccedilas sobretudo as que tecircm necessidades educativas especiais de modo que os

governos com apoio das organizaccedilotildees internacionais pudessem conceder maior prioridade

ao desenvolvimento de seus respectivos Sistemas Nacionais de Educaccedilatildeo sob a

perspectiva inclusiva atraveacutes de medidas poliacuteticas e orccedilamentaacuterias compatiacuteveis com esse

imperativo eacutetico (Unesco 1994)

A partir dessa reflexatildeo acerca das praacuteticas educacionais especiais da qual resultaram

a compreensatildeo de equiparaccedilatildeo de oportunidades de diversos grupos sociais (crianccedilas com

deficiecircncia e crianccedilas bem dotadas crianccedilas que vivem nas ruas e que trabalham crianccedilas

de populaccedilotildees distantes ou nocircmades crianccedilas de minorias linguiacutesticas eacutetnicas ou culturais e

crianccedilas de outros grupos e zonas desfavorecidas ou marginalizadas) a Declaraccedilatildeo de

Salamanca e Linha de Accedilatildeo sobre Necessidades Educativas Especiais proclamou que as

8 A expressatildeo ldquonecessidades educativas especiaisrdquo no citado documento refere-se a todas as crianccedilas e jovens cujas carecircncias se relacionam com deficiecircncias ou dificuldades escolares incluindo nesse escopo as pessoas com deficiecircncia e as superdotadas (UNESCO 1994)

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escolas comuns representavam o meio mais eficaz para combater as atitudes

discriminatoacuterias ressaltando que o princiacutepio fundamental dessa linha de accedilatildeo seria o de que

as escolas inclusivas deveriam acolher todas as crianccedilas independentemente de suas

condiccedilotildees fiacutesicas intelectuais sociais emocionais linguiacutesticas ou outras (Unesco 1994)

Na esteira de construccedilatildeo de uma agenda internacional em torno da promoccedilatildeo de uma

Educaccedilatildeo para Todos em particular para aquelas com necessidades educacionais

especiais capazes de gerar diversos instrumentos e recomendaccedilotildees internacionais

passiacuteveis de serem incorporados ao sistema juriacutedico dos paiacuteses-membros de organismos

internacionais ligados ao fomento da Educaccedilatildeo tornando-os internamente obrigatoacuterios

surgiram outros movimentos sociais em torno da proposta da inclusatildeo escolar como a

Declaraccedilatildeo de Cartagena de Iacutendias as Poliacuteticas Integrais para Pessoas com Deficiecircncias na

Regiatildeo Ibero-Americana na Colocircmbia em 1992 a Conferecircncia Hemisfeacuterica de Pessoas com

Deficiecircncias em WashingtonEUA em 1993 a 5ordf Reuniatildeo do Comitecirc Regional

Intergovernamental do Projeto Principal de Educaccedilatildeo na Ameacuterica Latina e Caribe que

resultou na Declaraccedilatildeo de Santiago realizada no Chile em 1993 a 1ordf Reuniatildeo dos

Participantes da Conferecircncia de Ministros responsaacuteveis pela situaccedilatildeo da pessoa com

deficiecircncia ocorrida em MontrealCanadaacute em 1994 e a publicaccedilatildeo das normas uniformes

sobre a igualdade de oportunidades para pessoas com deficiecircncia aprovadas pela

Assembleia Geral nordm 4896 de 20 de dezembro de 1993 da ONU

Por fim a construccedilatildeo do cenaacuterio internacional da Educaccedilatildeo Especial sob o aspecto

filosoacutefico-ideoloacutegico da inclusatildeo na deacutecada de 1990 culminou com a Convenccedilatildeo

Interamericana para a Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Pessoas

Portadoras de Deficiecircncia9 mais conhecida como Convenccedilatildeo da Guatemala aprovada pelo

Conselho Permanente da OEA na sessatildeo realizada em 26 de maio de 1999 no paiacutes da

Ameacuterica Central supracitado promulgada no Brasil pelo Decreto nordm 39562001 Esse

documento que ainda utilizava a expressatildeo ldquoportador de deficiecircnciardquo afirmava que os

Estados-Partes deveriam se comprometer a tomar as medidas de caraacuteter legislativo social

educacional trabalhista ou de qualquer outra natureza que fossem necessaacuterias para

eliminar a discriminaccedilatildeo contra as pessoas ldquoportadoras de deficiecircnciardquo e proporcionar a sua

plena ldquointegraccedilatildeordquo agrave sociedade

9 ldquo[] o termo lsquodiscriminaccedilatildeo contra as pessoas portadoras de deficiecircnciarsquo significa toda diferenciaccedilatildeo exclusatildeo ou restriccedilatildeo baseada em deficiecircncia antecedente de deficiecircncia consequumlecircncia [sic] de deficiecircncia anterior ou percepccedilatildeo de deficiecircncia presente ou passada que tenha o efeito ou propoacutesito de impedir ou anular o reconhecimento gozo ou exerciacutecio por parte das pessoas portadoras de deficiecircncia de seus direitos humanos e suas liberdades fundamentaisrdquo (OEA 1999 p 3)

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Tendo em vista o protagonismo das agecircncias e organizaccedilotildees intergovernamentais no

panorama mundial como a ONU e suas agecircncias especializadas (Unesco Unicef e BM) e no

cenaacuterio regional como a OEA na busca pela cooperaccedilatildeo internacional a fim de promover e

estimular entre seus paiacuteses-membros o respeito aos direitos humanos e agraves liberdades

fundamentais para todos especialmente entre os grupos minoritaacuterios como no caso da

melhoria das condiccedilotildees de vida para pessoas com deficiecircncia verificou-se que o percurso

histoacuterico poliacutetico e filosoacutefico da Educaccedilatildeo Especial nos anos 1990 culminou no paradigma

inclusivo de garantia da equiparaccedilatildeo de oportunidades direitos e deveres de seu puacuteblico-alvo

no interior do sistema regular de ensino (Peroni 2003)

Em pleno anos 2000 a ONU continuou a fixar padrotildees a trabalhar para tecer

consensos universais e a manter-se como um foacuterum central disseminador para a

comunidade internacional de princiacutepios e orientaccedilotildees gerais para a Educaccedilatildeo atraveacutes de

sua agecircncia especializada da Unesco Ademais seguiu lanccedilando as diretrizes sobre os

caminhos da Educaccedilatildeo Especial atraveacutes de declaraccedilotildees e recomendaccedilotildees acordadas para a

construccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas educacionais inclusivas ao redor do mundo Dessa forma

entre os dias 26 e 28 de abril de 2000 em Dakar Senegal 164 paiacuteses reuniram-se no

Foacuterum Consultivo Internacional para a Educaccedilatildeo para Todos criado em 1991 e composto

por representantes da Unesco Unicef e BM contando com agecircncias bilaterais governos e

sociedade civil para avaliar os progressos globais alcanccedilados desde a Conferecircncia Mundial

de Educaccedilatildeo para Todos realizada dez anos antes em Jomtien Tailacircndia e para aprovar

novo marco de accedilatildeo para a universalizaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Baacutesica (Unesco 2001)

Em 13 de dezembro de 2006 em sessatildeo solene da Assembleia Geral da ONU foi

aprovado o texto final da Convenccedilatildeo sobre os Direitos das Pessoas com Deficiecircncia10

firmado pelo Brasil e por mais 85 naccedilotildees signataacuterias em 30 de marccedilo de 2007 Esse tratado

internacional no que diz respeito ao direito agrave Educaccedilatildeo aos deficientes estabelece que os

Estados-Partes devem assegurar um sistema de Educaccedilatildeo Inclusiva em todos os niacuteveis de

ensino bem como o aprendizado ao longo da vida Em seu artigo 24 determina que as

pessoas com deficiecircncia natildeo sejam excluiacutedas do sistema educacional geral e que as

crianccedilas com deficiecircncia natildeo sejam excluiacutedas do ensino fundamental gratuito e compulsoacuterio

estabelece tambeacutem que elas tenham acesso ao ensino meacutedio e superior inclusivo de

10 Nesse texto a ONU reconhece que ldquo[] a deficiecircncia eacute um conceito em evoluccedilatildeo e que a deficiecircncia resulta da interaccedilatildeo entre pessoas com deficiecircncia e as barreiras atitudinais e ambientais que impedem sua plena e efetiva participaccedilatildeo na sociedade em igualdade de oportunidades com as demais pessoasrdquo (ONU 2012 p 22)

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qualidade e gratuito em igualdade de condiccedilotildees com as demais pessoas na comunidade em

que vivem (ONU 2012)

Ainda no panorama internacional a Unesco lanccedila em 2009 uma coletacircnea intitulada

Orientaccedilotildees Poliacuteticas sobre Inclusatildeo na Educaccedilatildeo a fim de ampliar a compreensatildeo das

questotildees atinentes agraves poliacuteticas e agraves praacuteticas pedagoacutegicas que visam garantir a inclusatildeo

educacional e social Os dados apresentados e as anaacutelises feitas suscitaram

questionamentos e posicionamentos em relaccedilatildeo agraves condiccedilotildees de acesso e de atendimento

nas redes de ensino e possibilitaram o aprofundamento do debate sobre as accedilotildees do poder

puacuteblico e da sociedade com vistas a assegurar o direito de todas as pessoas agrave Educaccedilatildeo

Escolar de Qualidade (No cenaacuterio regional da Ameacuterica Latina e do Caribe houve em 2009

a Campanha Latino-Americana pelo Direito agrave Educaccedilatildeo a fim de promover o

desenvolvimento de pesquisas interdisciplinares para subsidiar a formulaccedilatildeo de poliacuteticas

puacuteblicas intersetoriais que atendessem agraves especificidades educacionais de estudantes com

deficiecircncia transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotaccedilatildeo que

requeiram medidas de atendimento especializado Jaacute na Uniatildeo Europeia a Agecircncia

Europeia para o Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Especial recomendou tambeacutem em 2009

para decisoacuterios poliacuteticos princiacutepios baacutesicos para a Promoccedilatildeo da Qualidade na Educaccedilatildeo

Inclusiva Faacutevero Ferreira Ireland e Barreiros 2009)

A influecircncia histoacuterica direta ou indireta das agecircncias internacionais no direcionamento

das poliacuteticas puacuteblicas dentre elas a Educaccedilatildeo Especial situada no acircmbito geral das

diretrizes da Educaccedilatildeo como um direito de todos e dever do Estado implica o entendimento

de que os fundamentos ideoloacutegicos que datildeo sustentaccedilatildeo agraves poliacuteticas educacionais na aacuterea

de conhecimento da Educaccedilatildeo Especial adotadas pelos governos brasileiros certamente natildeo

foram gerados exclusivamente em acircmbito nacional mas ao contraacuterio em acircmbito

internacional vinculados agraves declaraccedilotildees e recomendaccedilotildees construiacutedas em foros de

abrangecircncia mundial e regional Em consequecircncia torna-se obrigatoacuterio considerar que a

atuaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas teve papel preponderante para a internacionalizaccedilatildeo do

discurso da Educaccedilatildeo Especial na perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva nos anos 1990 e 2000

notadamente pelo trabalho teacutecnico-poliacutetico da Unesco

Na perspectiva da citada agecircncia intergovernamental atuar nessa agenda de

cooperaccedilatildeo internacional e nacional com os Estados-Partes na formulaccedilatildeo de poliacuteticas e

estrateacutegias destinadas ao melhoramento dos sistemas de ensino ldquo[] significa avanccedilar para

uma sociedade educacional onde cada pessoa aprenda durante toda a vida e seja fonte de

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aprendizagem para os demaisrdquo (Unesco 1998 p 11) afinal a ldquo[] educaccedilatildeo desempenha

um papel chave neste processo tendo em vista o seu valor econocircmico e socialrdquo (Unesco

2004 p 33)

Essa compreensatildeo conduz o debate sobre os rumos da Educaccedilatildeo Especial no Brail

tornando-se fundamental para a construccedilatildeo de poliacuteticas de formaccedilatildeo docente financiamento

e gestatildeo escolar necessaacuterias para a transformaccedilatildeo da estrutura educacional a fim de

assegurar as condiccedilotildees de acesso participaccedilatildeo e aprendizagem de todos os estudantes

concebendo a escola como um espaccedilo que reconhece e valoriza as diferenccedilas

Logo o respeito agrave diversidade efetivado no respeito agraves diferenccedilas impulsiona accedilotildees

de cidadania voltadas ao reconhecimento de sujeitos de direitos simplesmente por serem

seres humanos Suas especificidades natildeo devem ser elemento para a construccedilatildeo de

desigualdades discriminaccedilotildees ou exclusotildees mas sim devem pautar as poliacuteticas afirmativas

de respeito agrave diversidade voltadas para a construccedilatildeo de contextos sociais inclusivos cujo

aspecto filosoacutefico-ideoloacutegico se assenta na equiparaccedilatildeo de oportunidades direitos e

deveres em que todas as pessoas teriam condiccedilotildees de vida e chance de realizar seus

projetos como parte do exerciacutecio de sua cidadania e em respeito agrave sua identidade

3 Consideraccedilotildees finais

Esta pesquisa foi instigada pela reflexatildeo que questionava como foi se constituindo a

compreensatildeo de Educaccedilatildeo Inclusiva ao longo dos tempos no Brasil considerando a

influecircncia ideoloacutegica dos documentos legais produzidos pelos organismos internacionais ndash

ONU Unesco OEA Unicef e BM ndash a partir das primeiras deacutecadas do seacuteculo XX Tal

inquietaccedilatildeo acadecircmica fez emergir o interesse em compreender a Histoacuteria da Educaccedilatildeo

Inclusiva em especial no que concerne agrave escolarizaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncia

defendida em acordos e discussotildees internacionais O objetivo com efeito foi desenvolver

um histoacuterico a respeito das poliacuteticas puacuteblicas internacionais de Educaccedilatildeo Especial com

ecircnfase nas mudanccedilas paradigmaacuteticas emergentes cronologicamente no Brasil

Realizou-se uma pesquisa documental nos textos internacionais produzidos sobre os

debates acerca da Educaccedilatildeo Inclusiva em especial para as pessoas com deficiecircncia dentre

os quais destacam-se Convenccedilatildeo Interamericana para a Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas

de Discriminaccedilatildeo contra as Pessoas Portadoras de Deficiecircncia Declaraccedilatildeo Universal dos

Direitos Humanos A Unesco e a Educaccedilatildeo na Ameacuterica Latina e Caribe (1987-1997)

Educaccedilatildeo para Todos o Compromisso de Dakar A Unesco no Brasil Consolidando

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Compromissos Conferecircncia Mundial de Necessidades Educativas Especiais Acesso e

Qualidade Os resultados permitiram desenvolver uma cronologia histoacuterica a qual

possibilitou afirmar que os seacuteculos XVIII e XIX foram marcados pela segregaccedilatildeo

homogeneizante das pessoas com deficiecircncia em escolas especiais com edificaccedilatildeo

especiacutefica que separavam os ditos estudantes ldquonormaisrdquo dos alunos que possuiacuteam algum

tipo de limitaccedilatildeo periacuteodo em que os debates sobre inclusatildeo natildeo possuiacuteam ecircnfase no

cenaacuterio internacional A partir das primeiras deacutecadas do seacuteculo XX os debates internacionais

a respeito da escolarizaccedilatildeo dos entatildeo denominados discentes ldquoespeciaisrdquo foram se

alargando emergiram em congruecircncia as classes especiais no interior das escolas

regulares Posteriormente na segunda metade do seacuteculo XX os debates internacionais

comeccedilaram a sinalizar a superaccedilatildeo de qualquer forma de segregaccedilatildeo e a impulsionar a

ideologia atualmente defendida de igualdade e inclusatildeo social com respeito agraves diferenccedilas

Ao fazer um balanccedilo histoacuterico sobre as poliacuteticas puacuteblicas de Educaccedilatildeo Especial no

cenaacuterio internacional percebeu-se a ausecircncia de documentos especiacuteficos nos seacuteculos XVIII

XIX e iniacutecio do XX Somente ao longo dos seacuteculos XX e XXI especialmente nas deacutecadas

que seguem 1970 averiguou-se que a atuaccedilatildeo das agecircncias especializadas da ONU em

parceria com outras agecircncias internacionais governos organizaccedilotildees natildeo governamentais e

sociedades civis contribuiu de maneira importante para a transiccedilatildeo do discurso educacional

da integraccedilatildeo instrucional para a constituiccedilatildeo de saberes e praacuteticas da Educaccedilatildeo Especial

sob a oacutetica inclusiva ao desempenhar um fundamental papel como foro permanente de

debate educacional e busca de soluccedilotildees contribuindo para a consolidaccedilatildeo de uma agenda

educacional e para a promoccedilatildeo da cooperaccedilatildeo internacional e horizontal com o objetivo de

apoiar os processos de mudanccedila das condiccedilotildees de vida das pessoas com deficiecircncia dentre

elas a inclusatildeo dessas pessoas nos espaccedilos regulares de ensino em equiparaccedilatildeo de

oportunidades direitos e deveres com relaccedilatildeo aos seus pares sem deficiecircncia

A proposta global das Naccedilotildees Unidas visava agrave promoccedilatildeo de uma Educaccedilatildeo para todos

ao longo de toda a vida notadamente para grupos historicamente excluiacutedos como o das

pessoas com deficiecircncia Para tanto durante toda a deacutecada de 1990 houve uma expansatildeo

de acordos internacionais e uma redescoberta da Educaccedilatildeo Especial como campo feacutertil de

investimentos Ocorreu a definiccedilatildeo de uma agenda internacional para a Educaccedilatildeo Especial

materializada em diferentes eventos tais como a Conferecircncia Mundial sobre Educaccedilatildeo para

Todos (1990) a Declaraccedilatildeo de Salamanca (1994) a Convenccedilatildeo da Guatemala (1999) o

Compromisso de Dakar (2000) e a Convenccedilatildeo sobre os Direitos das Pessoas com

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Deficiecircncia (2006) que trataram de pautas de interesses ordinaacuterios agrave comunidade

internacional sobre o tema da Educaccedilatildeo Especial em uma perspectiva de Educaccedilatildeo

Inclusiva

Essas declaraccedilotildees e recomendaccedilotildees resultantes das diferentes cuacutepulas conferecircncias

e eventos regionais e internacionais foram importantes para a construccedilatildeo de consensos em

torno das principais ideias e propostas sobre Educaccedilatildeo Especial nas deacutecadas de 1980 1990

e 2000 ou seja da transiccedilatildeo do modelo integracionista para o inclusivo Nesses eventos ao

se constituiacuterem em foacuteruns gerais propalava-se a necessidade de reformas educativas

nacionais acompanhadas de mudanccedilas no financiamento transformaccedilatildeo curricular e gestatildeo

educacional em torno de sistemas educacionais inclusivos perseguidos tambeacutem no iniacutecio do

seacuteculo XXI que influenciaram a mudanccedila de paradigma acerca do atendimento agrave pessoa

com deficiecircncia no Brasil

No paradigma da inclusatildeo impulsionaram-se projetos de mudanccedilas nas poliacuteticas

puacuteblicas brasileiras ao conceber-se que todos se beneficiam quando as escolas promovem

respostas agraves diferenccedilas individuais dos estudantes Logo a Educaccedilatildeo Especial que surgiu

no campo da Pedagogia como uma aacuterea de conhecimento que se ocupava exclusivamente

do processo de escolarizaccedilatildeo pela via da homogeneizaccedilatildeo dos alunos ldquoexcepcionaisrdquo em

espaccedilos escolares ditos ldquoespeciaisrdquo que orbitavam agrave margem do sistema de ensino puacuteblico e

gratuito passou a integrar os tempos e espaccedilos das escolas regulares mas ficando a

participaccedilatildeo circunscrita agraves ldquoclasses especiaisrdquo e ainda sendo modalidade substitutiva e

normalizadora do processo de escolarizaccedilatildeo dos discentes ldquoportadores de necessidades

especiaisrdquo Atualmente sob a perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva o Brasil tem como

imperativo eacutetico normativo e intelectual ampliar a participaccedilatildeo de todos os estudantes nos

estabelecimentos de ensino regular especialmente daqueles grupos sociais historicamente

excluiacutedos da escola como as pessoas com deficiecircncia atraveacutes de uma abordagem

humaniacutestica e democraacutetica que perceba o sujeito e suas singularidades tendo como

objetivos o crescimento a satisfaccedilatildeo pessoal e a inserccedilatildeo social de todos

4 Referecircncias

Brasil Poder Executivo (2001) Promulga a Convenccedilatildeo Interamericana para a Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Pessoas Portadoras de Deficiecircncia Decreto nordm 3956 Brasil Diaacuterio Oficial [da] Repuacuteblica Federativa do Brasil

Carvalho Rosita Edler (2002) A nova LDB e a Educaccedilatildeo Especial (3ordf ed) Rio de Janeiro

WVA

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Conferecircncia Mundial de Educaccedilatildeo para Todos Declaraccedilatildeo Mundial de Educaccedilatildeo para Todos Plano de Accedilatildeo para Satisfazer as Necessidades Baacutesicas de Aprendizagem Brasiacutelia Unicef

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (1994)

Conferecircncia Mundial de Necessidades Educativas Especiais Acesso e Qualidade Declaraccedilatildeo de Salamanca sobre os Princiacutepios a Poliacutetica e as Praacuteticas na Aacuterea das Necessidades Educativas Especiais Salamanca Unesco

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (1998)

A Unesco e a Educaccedilatildeo na Ameacuterica Latina e Caribe (1987-1997) Chile Unesco

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paradigma preconizava como resposta educacional agraves necessidades de escolarizaccedilatildeo das

crianccedilas ldquoexcepcionaisrdquo a sua institucionalizaccedilatildeo em ldquoescolas especiaisrdquo pressupondo a

deficiecircncia como um fenocircmeno hereditaacuterio com evidecircncias de degenerescecircncia da espeacutecie

humana (Mendes 1995) Assim a segregaccedilatildeo era considerada a melhor forma de se

combater a ameaccedila representada por essa populaccedilatildeo agrave sociedade (Dechichi 2001)

Em suma os alunos eram rotulados como ldquoexcepcionaisrdquo ou seja havia uma visatildeo

patoloacutegica da deficiecircncia o que contribuiacutea para a marginalizaccedilatildeo do aluno no sistema regular

de ensino no Brasil e sua consequente institucionalizaccedilatildeo em espaccedilos escolares de caraacuteter

assistencial tendo em vista que a deficiecircncia era vista como causa e consequecircncia do baixo

rendimento escolar dessas pessoas o que justificava teoricamente sua segregaccedilatildeo em

espaccedilos escolares entendidos como capazes de ldquocurarrdquo ou ldquoeliminarrdquo a deficiecircncia por meio

da Educaccedilatildeo (Voivodic 2004)

A partir do final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX foi percebido que o atendimento

educacional das pessoas com deficiecircncia era tambeacutem um problema do Estado e da rede

regular de ensino sendo necessaacuteria a organizaccedilatildeo de um modelo de escola puacuteblica capaz

de acolher os alunos ldquoportadores de necessidades especiaisrdquo surgindo assim as ldquoescolas

especiaisrdquo puacuteblicas ou a instalaccedilatildeo de ldquoclasses especiaisrdquo nas jaacute existentes que visavam

oferecer agrave pessoa ldquodeficienterdquo uma Educaccedilatildeo agrave parte Emerge nesse cenaacuterio brasileiro o

paradigma da integraccedilatildeo instrucional no qual os discentes com deficiecircncia ndash seja fiacutesica

sensorial ou intelectual ndash poderiam se matricular em salas de aula comuns se possuiacutessem

condiccedilotildees de acompanhar e desenvolver no mesmo ritmo dos estudantes ditos ldquonormaisrdquo

as atividades curriculares programadas para o ensino comum No entanto aqueles que

possuiacutessem rendimento escolar abaixo da meacutedia estipulada pelo sistema de ensino

continuavam segredados da rede regular e sua matriacutecula se limitava agraves ldquoescolas especiaisrdquo

Nesse periacuteodo histoacuterico a normalizaccedilatildeo das condutas de participaccedilatildeo e aprendizagem

dos educandos ldquoportadores de necessidades especiaisrdquo foi definida como o princiacutepio que

representava a base filosoacutefico-ideoloacutegica do modelo de integraccedilatildeo instrucional Vale frisar

que nesse caso natildeo se tratava de ldquonormalizarrdquo esses alunos mas sim o contexto em que se

desenvolviam em outras palavras tinha-se como intuito oferecer aos aprendizes com

deficiecircncia condiccedilotildees de vida diaacuteria o mais semelhante possiacutevel agraves formas e condiccedilotildees de

vida do restante da sociedade

A Educaccedilatildeo Especial no cenaacuterio mundial passou de uma concepccedilatildeo organicista para

uma abordagem funcional A primeira concebia a deficiecircncia como consequecircncia de

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caracteriacutesticas bioloacutegicas e utilizava-se da estrateacutegia de segregaccedilatildeo dos ldquoexcepcionaisrdquo em

instituiccedilotildees assistenciais filantroacutepicas da rede privada de ensino A segunda por sua vez

definia a deficiecircncia em funccedilatildeo das capacidades e habilidades funcionais residuais e

empregava a estrateacutegia da integraccedilatildeo das pessoas ldquoportadoras de necessidades especiaisrdquo

em ldquoescolas especiaisrdquo ou em ldquoclasses especiaisrdquo da rede puacuteblica de ensino a fim de

estabelecer interaccedilotildees sociais entre esses educandos e os alunos ditos ldquonormaisrdquo (Rioux e

Valentine 2006)

Mesmo com essa evoluccedilatildeo filosoacutefico-ideoloacutegica em torno dos objetivos e qualidade dos

serviccedilos educacionais especiais a Educaccedilatildeo Especial no Brasil continuava negligenciada

pelos sistemas regulares de ensino tendo em vista que essa modalidade de ensino ainda

era tida como substitutiva do processo de escolarizaccedilatildeo das pessoas historicamente

marginalizadas da escola comum Seja pela homogeneizaccedilatildeo ndash processo de exclusatildeo fora

da escola ndash seja pela normalizaccedilatildeo ndash procedimento de exclusatildeo dentro da escola ndash a era da

exclusatildeo dessa populaccedilatildeo persistia no cenaacuterio das reformas educacionais gerais desde o

seacuteculo XVIII ateacute meados do seacuteculo XX pois natildeo havia a preocupaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica de

incluir a pauta da Educaccedilatildeo Especial no desenvolvimento dos sistemas regulares de ensino

brasileiro (Saacutenchez 2005)

Ainda que sob formas distintas a exclusatildeo tem sido caracteriacutestica recorrente na

Educaccedilatildeo fomentada no Brasil No paradigma segregacionista as pessoas com deficiecircncia

estatildeo inseridas em escolas especiais e as pessoas sem deficiecircncia no ensino regular No

acircmbito da integraccedilatildeo escolar as pessoas com deficiecircncia estatildeo na mesma instituiccedilatildeo de

ensino que as pessoas sem deficiecircncia mas em grupos separados por ldquoclasses especiaisrdquo o

que pressupotildee a Educaccedilatildeo Especial como modalidade de ensino substitutiva do processo de

escolarizaccedilatildeo desses alunos cujo resultado foi a naturalizaccedilatildeo do fracasso escolar

(Saacutenchez 2005)

A partir da segunda metade do seacuteculo XX emergiu com maior ecircnfase no cenaacuterio

mundial a defesa do paradigma da inclusatildeo como uma accedilatildeo poliacutetica cultural social e

pedagoacutegica desencadeada em defesa dos direitos de todos os estudantes de estarem

aprendendo e participando juntos sem nenhum tipo de discriminaccedilatildeo Essa concepccedilatildeo

fundamentava-se na base filosoacutefico-ideoloacutegica que defendia a garantia dos direitos humanos

e ao mesmo tempo ldquo[] conjuga[va] igualdade e diferenccedila como valores indissociaacuteveis e

que avanccedila[va] em relaccedilatildeo agrave ideacuteia [sic] de equumlidade [sic] formal ao contextualizar as

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circunstacircncias histoacutericas da produccedilatildeo da exclusatildeo dentro e fora da escolardquo (Ministeacuterio da

Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Especial Brasil 2008 p 5)

No decorrer do periacuteodo da era da inclusatildeo no Brasil fortaleceu-se a criacutetica agraves praacuteticas

de conceituaccedilatildeo identificaccedilatildeo e categorizaccedilatildeo dos discentes encaminhados para ambientes

escolares ldquoespeciaisrdquo sob o signo da abordagem da deficiecircncia como uma patologia

individual capaz de determinar o fracasso escolar de seus ldquoportadoresrdquo Aleacutem disso criticava-

se o cunho assistencialista dessa poliacutetica em que a instituiccedilatildeo privada com fins filantroacutepicos

tinha caraacuteter de internato e as pessoas com deficiecircncia eram retiradas do conviacutevio familiar e

social para viverem em instituiccedilotildees asilares Dentro de uma visatildeo biomeacutedica entendia-se

que a responsabilidade social da Educaccedilatildeo Especial era a de curar ou eliminar a deficiecircncia

de seus alunos por meio da Educaccedilatildeo

O movimento mundial pela inclusatildeo escolar conduziu o debate sobre a Educaccedilatildeo

Especial ao questionamento dos modelos de normalizaccedilatildeo de ensino e de aprendizagem

geradores de exclusatildeo nos espaccedilos escolares regulares sob o siacutembolo da integraccedilatildeo

instrucional que instituiacutea ldquoclasses especiaisrdquo na rede regular de ensino notadamente no

sistema puacuteblico Nesse modelo a Educaccedilatildeo de ldquoportadores de necessidades especiaisrdquo

deveria no que fosse possiacutevel enquadrar-se ao sistema geral de educaccedilatildeo a fim de integraacute-

los agrave comunidade Desse modo em vez de a escola ter que se adequar agraves necessidades

fiacutesicas sensoriais intelectuais sociais e culturais do discente este eacute que deveria se adequar

agrave escola em termos de estrutura fiacutesica pedagoacutegica e administrativa

Portanto os tempos espaccedilos praacuteticas e saberes escolares na aacuterea de conhecimento

da Educaccedilatildeo Especial no Brasil historicamente se caracterizaram pela visatildeo da Educaccedilatildeo

que entendia a escolarizaccedilatildeo como um privileacutegio de um grupo dito ldquonormalrdquo e a exclusatildeo ndash

dentro e fora da escola ndash como estrateacutegia para o tratamento das pessoas ditas ldquodeficientesrdquo

Esse entendimento foi legitimado nas poliacuteticas e praacuteticas educacionais ldquoespeciaisrdquo

reprodutoras das relaccedilotildees sociais e de poder que classificavam os grupos humanos de

maneira subalterna uns aos outros transformando as naturais diferenccedilas humanas em

desigualdades e injusticcedilas sociais (Sassaki 2005)

3 Marcos legal e poliacuteticos internacionais de Educaccedilatildeo Inclusiva e a

repercussatildeo no Brasil

A anaacutelise documental dos seis textos legais - 1)Convenccedilatildeo Interamericana para a

Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Pessoas Portadoras de

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Deficiecircncia 2)Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos 3)A Unesco e a Educaccedilatildeo na

Ameacuterica Latina e Caribe 4)Educaccedilatildeo para Todos o compromisso de Dakar 5)A Unesco no

Brasil consolidando compromissos 6)Conferecircncia Mundial de Necessidades Educativas

Especiais Acesso e Qualidade ndash permitiu inferir que sob a era da inclusatildeo no paradigma

veiculado pelos documentos oficiais internacionais a deficiecircncia passa a ser tratada

internacionalmente na perspectiva da abordagem dos direitos humanos ou seja como uma

patologia social produzida em consequecircncia da organizaccedilatildeo social e da relaccedilatildeo entre o

indiviacuteduo e a sociedade cuja responsabilidade sobre essas pessoas singulares seria por

meio da reconstruccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas de Educaccedilatildeo Especial entendidas como accedilotildees

afirmativas em defesa da diferenccedila e da diversidade humana visando agrave superaccedilatildeo dessas

mesmas desigualdades e injusticcedilas atraveacutes da eliminaccedilatildeo de praacuteticas pedagoacutegicas

discriminatoacuterias e excludentes (Sassaki 2005) Nessa vertente prima-se pela oferta de um

atendimento educacional especializado de modo complementar ou suplementar ao processo

de escolarizaccedilatildeo desses alunos sendo ambos os serviccedilos disponibilizados no espaccedilo

comum da escola regular

Logo a partir da deacutecada de 1990 o movimento educacional internacional pela

inclusatildeo que preconizava que todas as pessoas deveriam estar inseridas nos mesmos

espaccedilos e tempos escolares passou a integrar a pauta obrigatoacuteria na escola no Brasil

enfatizando-se especialmente o tema sobre as mais eficientes formas de atendimento

educacional especializado e sobre a escolarizaccedilatildeo dos alunos puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo

Especial no sistema regular de ensino Com efeito passa-se a discutir a garantia do direito agrave

Educaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncia transtorno global do desenvolvimento e com altas

habilidadessuperdotaccedilatildeo segundo os marcos legais poliacuteticos e pedagoacutegicos promulgados

por organismos internacionais como a ONU

Dentro desse processo de evoluccedilatildeo histoacuterica das poliacuteticas puacuteblicas no cenaacuterio

brasileiro a modalidade de ensino da Educaccedilatildeo Especial passou sob o verniz eacutetico-poliacutetico

da Educaccedilatildeo Inclusiva a garantir o acesso a permanecircncia a participaccedilatildeo e o

desenvolvimento acadecircmico e social dos estudantes puacuteblico-alvo do Atendimento

Educacional Especializado (AEE) na escola comum a partir da tentativa de eliminaccedilatildeo das

barreiras pedagoacutegicas arquitetocircnicas comunicacionais e atitudinais Afinal os documentos

internacionais defendem que natildeo eacute o limite individual que determina a deficiecircncia mas sim

as barreiras existentes nos espaccedilos no meio fiacutesico no transporte na informaccedilatildeo na

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comunicaccedilatildeo e nos serviccedilos A escola nessa vertente deve tornar-se um espaccedilo acolhedor

das diferenccedilas

A elaboraccedilatildeo dos direitos que asseguram a participaccedilatildeo de todos e a efetivaccedilatildeo de

uma sociedade inclusiva fica patente a partir de 10 de dezembro de 1948 quando da

elaboraccedilatildeo da Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos pela Assembleia Geral das

Naccedilotildees Unidas que se fundamenta no reconhecimento da dignidade de todas as pessoas e

na universalidade e indivisibilidade desses direitos e portanto no valor da diversidade

humana que se impotildee como condiccedilatildeo para o alcance de tal reconhecimento ao explicitar a

pessoa como sujeito de direito respeitado em suas peculiaridades e particularidades Como

garantia do direito agrave Educaccedilatildeo a citada declaraccedilatildeo internacional normatiza

Art 26 1 Todo ser humano tem direito agrave instruccedilatildeo A instruccedilatildeo seraacute gratuita pelo

menos nos graus elementares e fundamentais A instruccedilatildeo elementar seraacute obrigatoacuteria

A instruccedilatildeo teacutecnico-profissional seraacute acessiacutevel a todos bem como a instruccedilatildeo superior

estaacute baseada no meacuterito 2 A instruccedilatildeo seraacute orientada no sentido do pleno

desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos

direitos humanos e pelas liberdades fundamentais A instruccedilatildeo promoveraacute a

compreensatildeo a toleracircncia e a amizade entre todas as naccedilotildees e grupos raciais ou

religiosos e coadjuvaraacute as atividades das Naccedilotildees Unidas em prol da manutenccedilatildeo da

paz 3 Os pais tecircm prioridade de direito na escolha do gecircnero de instruccedilatildeo que seraacute

ministrada a seus filhos (ONU 1948 p 5)

Tal declaraccedilatildeo parece natildeo gerar mudanccedilas significativas na forma de oferta e

compreensatildeo acerca da educaccedilatildeo inclusiva Quase 30 anos depois dessa primeira

publicaccedilatildeo em 9 de dezembro de 1975 a ONU (1975 p 2) abordou especificamente a

temaacutetica da inclusatildeo ao lanccedilar a Declaraccedilatildeo dos Direitos das Pessoas Deficientes4 que

assevera

As pessoas deficientes tecircm direito a tratamento meacutedico psicoloacutegico e funcional

incluindo-se aiacute aparelhos proteacuteticos e ortoacuteticos agrave reabilitaccedilatildeo meacutedica e social

educaccedilatildeo treinamento vocacional e reabilitaccedilatildeo assistecircncia aconselhamento

serviccedilos de colocaccedilatildeo e outros serviccedilos que lhes possibilitem o maacuteximo

4 ldquoO termo lsquopessoas deficientesrsquo refere-se a qualquer pessoa incapaz de assegurar por si mesma total ou parcialmente as necessidades de uma vida individual ou social normal em decorrecircncia de uma deficiecircncia congecircnita ou natildeo em suas capacidades fiacutesicas ou mentaisrdquo (ONU 1975 p 1)

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desenvolvimento de sua capacidade e habilidades e que acelerem o processo de sua

integraccedilatildeo social

A partir da deacutecada de 1980 o Brasil paiacutes signataacuterio impulsionado por debates

internacionais buscou afirmaccedilatildeo do direito agrave Educaccedilatildeo das pessoas puacuteblico-alvo da

Educaccedilatildeo Especial por meio da realizaccedilatildeo de conferecircncias sobre o tema da inclusatildeo escolar

constituiacutedas por organismos nacionais e internacionais de defesa dos direitos humanos

Ademais ratificaram-se algumas declaraccedilotildees sobre as demandas especiacuteficas dessa aacuterea de

conhecimento que precisavam ser legitimadas democraticamente mediante instrumentos

juriacutedicos locais e de princiacutepios aplicaacuteveis a cada paiacutes-membro

No ano de 1981 por exemplo foram promulgados dois documentos relevantes para a

Educaccedilatildeo Especial a saber a Declaraccedilatildeo de Cuenca sobre novas tendecircncias na Educaccedilatildeo

Especial (UnescoOrealc ndash Cuenca Equador) que recomendava a eliminaccedilatildeo de barreiras

fiacutesicas e a participaccedilatildeo de pessoas ldquodeficientesrdquo na tomada de decisotildees a seu respeito e a

Declaraccedilatildeo de Sunderberg como resultado da Conferecircncia Mundial sobre as Accedilotildees e

Estrateacutegias para a Educaccedilatildeo Prevenccedilatildeo e Integraccedilatildeo dos Impedidos (Unesco ndash

Torremolinos Espanha) cujo tema principal era a equiparaccedilatildeo de oportunidades das

pessoas ldquodeficientesrdquo agrave Educaccedilatildeo formaccedilatildeo cultura e informaccedilatildeo (Carvalho 2002)

A deacutecada de 1980 marcou o Brasil pois deu iniacutecio ao debate mais acirrado para

estimular o cumprimento dos direitos das pessoas ldquodeficientesrdquo agrave Educaccedilatildeo agrave sauacutede e ao

trabalho Em 1981 comemorou-se em todo o mundo o Ano Internacional das Pessoas

Deficientes proclamado pela Assembleia Geral das Naccedilotildees Unidas5 cujo lema foi

participaccedilatildeo plena e igualdade em que a ONU oficializou o embriatildeo do conceito de

sociedade inclusiva Partindo da ideia de que as pessoas ldquodeficientesrdquo formam parte da

sociedade e natildeo satildeo uma sociedade agrave parte o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Cultura (MEC) do

Brasil em consonacircncia com a citada resoluccedilatildeo da ONU traccedilou as seguintes accedilotildees a curto

meacutedio e longo prazo para a oferta do AEE em territoacuterio nacional

I ndash Curto Prazo 1) Estabelecer modelos para serviccedilos de atendimento educacional

2) Organizar seminaacuterios e congressos a niacutevel nacional sobre Educaccedilatildeo Especial

3) Fomentar o desenvolvimento de recursos humanos em Educaccedilatildeo Especial a niacutevel

de 2ordm Grau 4) Sensibilizar os Conselhos de Educaccedilatildeo ordm(Estaduais e Federal) para os

5 ldquoEm sua trigeacutesima sessatildeo de 16 de dezembro de 1976 a Assembleia Geral das Naccedilotildees Unidas pela Resoluccedilatildeo nordm 31123 proclamou oficialmente o ano de 1981 como o Ano Internacional das Pessoas Deficientesrdquo (ONU 1981 p 6)

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problemas da Educaccedilatildeo Especial 5) Assessorar a Secom sobre a publicaccedilatildeo de

material informativo sobre multiplicidade de accedilotildees impliacutecitas na Educaccedilatildeo Especial

6) Promover o levantamento de todo o material bibliograacutefico sobre Educaccedilatildeo Especial

7) Ampliar e reestruturar o atendimento preacute-escolar do Instituto Nacional de Educaccedilatildeo

de Surdos ndash Ines ndash e do Instituto Benjamin Constant ndash IBC ndash visando transformaacute-los

em serviccedilos-modelo 8) Aperfeiccediloar e ampliar programa de bolsa de trabalho para

educandos deficientes 9) Publicar documentos relativos agrave Educaccedilatildeo Especial

elaborados pelo Cenesp 10) Aperfeiccediloar e ampliar o projeto de Assistecircncia Teacutecnica agraves

Secretarias Estaduais de Educaccedilatildeo II ndash Meacutedio Prazo 1) Estimular a formaccedilatildeo de

teacutecnicos especializados a niacutevel de 3ordm Grau 2) Elaborar o II Plano Nacional de

Educaccedilatildeo Especial 3) Normalizaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fiacutesica para deficientes 4) Efetuar

estudos sobre estatiacutestica da Educaccedilatildeo Especial 5) Implementar a modernizaccedilatildeo da

Imprensa Braille III ndash Longo Prazo 1) Estimular nos Estados e Municiacutepios a criaccedilatildeo

de serviccedilos de atendimento educacional que objetivem a integraccedilatildeo e a normalizaccedilatildeo

2) Criar centros de produccedilatildeo de material psicopedagoacutegico 3) Elaborar o I Plano

Nacional Integrado de Assistecircncia ao Excepcional e 4) Estimular a Educaccedilatildeo Especial

de deficientes adultos (ONU 1981 pp 14-15)

Uma importante consequecircncia do Ano Internacional das Pessoas Deficientes (1981) foi

a aprovaccedilatildeo do Programa Mundial de Accedilatildeo relativo agraves Pessoas com Deficiecircncia pela

Assembleia Geral da ONU por meio da Resoluccedilatildeo nordm 3752 de 3 de dezembro de 1982

Prontamente o Ano Internacional e o Programa Mundial de Accedilatildeo contribuiacuteram para um forte

desenvolvimento nesse domiacutenio por intermeacutedio da criaccedilatildeo da Deacutecada das Naccedilotildees Unidas

para as Pessoas com Deficiecircncia (1983-1992) que visava garantir agraves pessoas com

deficiecircncia o exerciacutecio dos seus direitos fundamentais e a sua participaccedilatildeo plena na

sociedade (ONU 1993) Ambos salientavam o direito das pessoas ldquodeficientesrdquo agraves mesmas

oportunidades de que gozavam os demais cidadatildeos visando a todos melhores condiccedilotildees de

vida resultantes do desenvolvimento econocircmico e social de suas comunidades (Unesco

1990)

Aspirando a enfrentar esse desafio mundial e a construir projetos capazes de superar

os processos histoacutericos de exclusatildeo escolar dessas pessoas com base na responsabilidade

comum e universal de todos os povos a Unesco estabeleceu a Conferecircncia Mundial de

Educaccedilatildeo para Todos realizada em Jomtien na Tailacircndia no periacuteodo de 5 a 9 de marccedilo de

1990 Esse evento implicou a solidariedade internacional dos organismos e instituiccedilotildees

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intergovernamentais a fim de satisfazer as necessidades baacutesicas de aprendizagem de seus

cidadatildeos haja vista os altos iacutendices de crianccedilas adolescentes e jovens sem escolarizaccedilatildeo

Somente assim seria possiacutevel promover as transformaccedilotildees nos sistemas de ensino para

assegurar o acesso e a permanecircncia de todos na escola (Unesco 1990)

Os principais referenciais da Declaraccedilatildeo de Jomtien (1990)6 publicados no ano

seguinte pelo Unicef enfatizavam a urgecircncia de uma Educaccedilatildeo de qualidade para todos ao

constituiacuterem a agenda de discussatildeo das poliacuteticas educacionais reforccedilando a necessidade

de elaboraccedilatildeo e a implementaccedilatildeo de accedilotildees voltadas para a universalizaccedilatildeo do acesso agrave

escola a promoccedilatildeo da equidade no acircmbito do ensino fundamental meacutedio e superior a

oferta da Educaccedilatildeo Infantil nas redes puacuteblicas de ensino a estruturaccedilatildeo do atendimento agraves

demandas de alfabetizaccedilatildeo e da modalidade de Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos e a

construccedilatildeo da gestatildeo democraacutetica da escola Sob a perspectiva inclusiva a referida

declaraccedilatildeo nos itens 4 e 5 do artigo 3ordm instituiu que

4 Um compromisso efetivo para superar as disparidades educacionais deve ser

assumido Os grupos excluiacutedos ndash os pobres os meninos e meninas de rua ou

trabalhadores as populaccedilotildees das periferias urbanas e zonas rurais os nocircmades e os

trabalhadores migrantes os povos indiacutegenas as minorias eacutetnicas raciais e linguumliacutesticas

[sic] os refugiados os deslocados pela guerra e os povos submetidos a um regime de

ocupaccedilatildeo ndash natildeo devem sofrer qualquer tipo de discriminaccedilatildeo no acesso agraves

oportunidades educacionais 5 As necessidades baacutesicas de aprendizagem das

pessoas portadoras de deficiecircncias requerem atenccedilatildeo especial Eacute preciso tomar

medidas que garantam a igualdade de acesso agrave educaccedilatildeo aos portadores de todo e

qualquer tipo de deficiecircncia como parte integrante do sistema educativo (Unesco

1990 p 4)

Vale lembrar que as diversas declaraccedilotildees da ONU culminaram em 1993 na publicaccedilatildeo

das Normas sobre a Igualdade de Oportunidades7 para as Pessoas com Deficiecircncia por meio

de resoluccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas adotada pela Assembleia Geral no dia 20 de dezembro de

1993 As normas exortavam os Estados dentre eles o Brasil a assumirem um compromisso

eacutetico e poliacutetico com vistas a operacionalizar dentre outros direitos o acesso ao sistema

6 No Brasil o MEC divulgou o Plano Decenal de Educaccedilatildeo para Todos para o periacuteodo de 1993 a 2003 elaborado em cumprimento agraves resoluccedilotildees da Declaraccedilatildeo de Jomtien (1990)

7 ldquoO termo lsquoigualdade de oportunidadesrsquo significa o processo pelo qual os diversos sistemas da sociedade e o meio envolvente tais como serviccedilos atividades informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo se [sic] tornam acessiacuteveis a todos e em especial agraves pessoas com deficiecircnciardquo (ONU 1993 p 16)

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regular de ensino agraves pessoas com deficiecircncia em igualdade de oportunidades com as demais

pessoas independentemente da natureza e gravidade da sua deficiecircncia tendo como

estrateacutegias complementares as escolas especiais (ONU 1993)

Por conseguinte a tendecircncia dos organismos internacionais atrelados ao

desenvolvimento da Educaccedilatildeo em seus paiacuteses-membros notadamente aqueles ligados agrave

ONU durante as deacutecadas de 1980 e 1990 tinha sido a de promover integraccedilatildeo e

participaccedilatildeo aleacutem de combater a exclusatildeo dos grupos socialmente marginalizados como

era o caso das pessoas ldquodeficientesrdquo O paradigma da inclusatildeo surgiu mais enfaticamente

com a Declaraccedilatildeo de Jomtien (1990) no contexto do movimento poliacutetico mundial para o

fomento de uma agenda internacional em prol do alcance das metas do direito agrave Educaccedilatildeo

das pessoas com deficiecircncia nos sistemas regulares de ensino Seu aacutepice no entanto

ocorreu com a produccedilatildeo de um documento publicado pelo Governo da Espanha em parceria

com a Unesco entre os dias 7 e 10 de junho de 1994 denominado Declaraccedilatildeo de

Salamanca sobre os princiacutepios a poliacutetica e as praacuteticas na aacuterea das necessidades educativas

especiais8 como resultado da Conferecircncia Mundial de Necessidades Educativas Especiais

Acesso e Qualidade

Tal Declaraccedilatildeo teve a finalidade de promover o objetivo da Educaccedilatildeo para Todos ou

seja da Educaccedilatildeo Especial sob a perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva examinando as

mudanccedilas fundamentais das poliacuteticas puacuteblicas educacionais necessaacuterias para desenvolver

tal abordagem nomeadamente qualificando as escolas regulares para atender a todas as

crianccedilas sobretudo as que tecircm necessidades educativas especiais de modo que os

governos com apoio das organizaccedilotildees internacionais pudessem conceder maior prioridade

ao desenvolvimento de seus respectivos Sistemas Nacionais de Educaccedilatildeo sob a

perspectiva inclusiva atraveacutes de medidas poliacuteticas e orccedilamentaacuterias compatiacuteveis com esse

imperativo eacutetico (Unesco 1994)

A partir dessa reflexatildeo acerca das praacuteticas educacionais especiais da qual resultaram

a compreensatildeo de equiparaccedilatildeo de oportunidades de diversos grupos sociais (crianccedilas com

deficiecircncia e crianccedilas bem dotadas crianccedilas que vivem nas ruas e que trabalham crianccedilas

de populaccedilotildees distantes ou nocircmades crianccedilas de minorias linguiacutesticas eacutetnicas ou culturais e

crianccedilas de outros grupos e zonas desfavorecidas ou marginalizadas) a Declaraccedilatildeo de

Salamanca e Linha de Accedilatildeo sobre Necessidades Educativas Especiais proclamou que as

8 A expressatildeo ldquonecessidades educativas especiaisrdquo no citado documento refere-se a todas as crianccedilas e jovens cujas carecircncias se relacionam com deficiecircncias ou dificuldades escolares incluindo nesse escopo as pessoas com deficiecircncia e as superdotadas (UNESCO 1994)

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escolas comuns representavam o meio mais eficaz para combater as atitudes

discriminatoacuterias ressaltando que o princiacutepio fundamental dessa linha de accedilatildeo seria o de que

as escolas inclusivas deveriam acolher todas as crianccedilas independentemente de suas

condiccedilotildees fiacutesicas intelectuais sociais emocionais linguiacutesticas ou outras (Unesco 1994)

Na esteira de construccedilatildeo de uma agenda internacional em torno da promoccedilatildeo de uma

Educaccedilatildeo para Todos em particular para aquelas com necessidades educacionais

especiais capazes de gerar diversos instrumentos e recomendaccedilotildees internacionais

passiacuteveis de serem incorporados ao sistema juriacutedico dos paiacuteses-membros de organismos

internacionais ligados ao fomento da Educaccedilatildeo tornando-os internamente obrigatoacuterios

surgiram outros movimentos sociais em torno da proposta da inclusatildeo escolar como a

Declaraccedilatildeo de Cartagena de Iacutendias as Poliacuteticas Integrais para Pessoas com Deficiecircncias na

Regiatildeo Ibero-Americana na Colocircmbia em 1992 a Conferecircncia Hemisfeacuterica de Pessoas com

Deficiecircncias em WashingtonEUA em 1993 a 5ordf Reuniatildeo do Comitecirc Regional

Intergovernamental do Projeto Principal de Educaccedilatildeo na Ameacuterica Latina e Caribe que

resultou na Declaraccedilatildeo de Santiago realizada no Chile em 1993 a 1ordf Reuniatildeo dos

Participantes da Conferecircncia de Ministros responsaacuteveis pela situaccedilatildeo da pessoa com

deficiecircncia ocorrida em MontrealCanadaacute em 1994 e a publicaccedilatildeo das normas uniformes

sobre a igualdade de oportunidades para pessoas com deficiecircncia aprovadas pela

Assembleia Geral nordm 4896 de 20 de dezembro de 1993 da ONU

Por fim a construccedilatildeo do cenaacuterio internacional da Educaccedilatildeo Especial sob o aspecto

filosoacutefico-ideoloacutegico da inclusatildeo na deacutecada de 1990 culminou com a Convenccedilatildeo

Interamericana para a Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Pessoas

Portadoras de Deficiecircncia9 mais conhecida como Convenccedilatildeo da Guatemala aprovada pelo

Conselho Permanente da OEA na sessatildeo realizada em 26 de maio de 1999 no paiacutes da

Ameacuterica Central supracitado promulgada no Brasil pelo Decreto nordm 39562001 Esse

documento que ainda utilizava a expressatildeo ldquoportador de deficiecircnciardquo afirmava que os

Estados-Partes deveriam se comprometer a tomar as medidas de caraacuteter legislativo social

educacional trabalhista ou de qualquer outra natureza que fossem necessaacuterias para

eliminar a discriminaccedilatildeo contra as pessoas ldquoportadoras de deficiecircnciardquo e proporcionar a sua

plena ldquointegraccedilatildeordquo agrave sociedade

9 ldquo[] o termo lsquodiscriminaccedilatildeo contra as pessoas portadoras de deficiecircnciarsquo significa toda diferenciaccedilatildeo exclusatildeo ou restriccedilatildeo baseada em deficiecircncia antecedente de deficiecircncia consequumlecircncia [sic] de deficiecircncia anterior ou percepccedilatildeo de deficiecircncia presente ou passada que tenha o efeito ou propoacutesito de impedir ou anular o reconhecimento gozo ou exerciacutecio por parte das pessoas portadoras de deficiecircncia de seus direitos humanos e suas liberdades fundamentaisrdquo (OEA 1999 p 3)

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Tendo em vista o protagonismo das agecircncias e organizaccedilotildees intergovernamentais no

panorama mundial como a ONU e suas agecircncias especializadas (Unesco Unicef e BM) e no

cenaacuterio regional como a OEA na busca pela cooperaccedilatildeo internacional a fim de promover e

estimular entre seus paiacuteses-membros o respeito aos direitos humanos e agraves liberdades

fundamentais para todos especialmente entre os grupos minoritaacuterios como no caso da

melhoria das condiccedilotildees de vida para pessoas com deficiecircncia verificou-se que o percurso

histoacuterico poliacutetico e filosoacutefico da Educaccedilatildeo Especial nos anos 1990 culminou no paradigma

inclusivo de garantia da equiparaccedilatildeo de oportunidades direitos e deveres de seu puacuteblico-alvo

no interior do sistema regular de ensino (Peroni 2003)

Em pleno anos 2000 a ONU continuou a fixar padrotildees a trabalhar para tecer

consensos universais e a manter-se como um foacuterum central disseminador para a

comunidade internacional de princiacutepios e orientaccedilotildees gerais para a Educaccedilatildeo atraveacutes de

sua agecircncia especializada da Unesco Ademais seguiu lanccedilando as diretrizes sobre os

caminhos da Educaccedilatildeo Especial atraveacutes de declaraccedilotildees e recomendaccedilotildees acordadas para a

construccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas educacionais inclusivas ao redor do mundo Dessa forma

entre os dias 26 e 28 de abril de 2000 em Dakar Senegal 164 paiacuteses reuniram-se no

Foacuterum Consultivo Internacional para a Educaccedilatildeo para Todos criado em 1991 e composto

por representantes da Unesco Unicef e BM contando com agecircncias bilaterais governos e

sociedade civil para avaliar os progressos globais alcanccedilados desde a Conferecircncia Mundial

de Educaccedilatildeo para Todos realizada dez anos antes em Jomtien Tailacircndia e para aprovar

novo marco de accedilatildeo para a universalizaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Baacutesica (Unesco 2001)

Em 13 de dezembro de 2006 em sessatildeo solene da Assembleia Geral da ONU foi

aprovado o texto final da Convenccedilatildeo sobre os Direitos das Pessoas com Deficiecircncia10

firmado pelo Brasil e por mais 85 naccedilotildees signataacuterias em 30 de marccedilo de 2007 Esse tratado

internacional no que diz respeito ao direito agrave Educaccedilatildeo aos deficientes estabelece que os

Estados-Partes devem assegurar um sistema de Educaccedilatildeo Inclusiva em todos os niacuteveis de

ensino bem como o aprendizado ao longo da vida Em seu artigo 24 determina que as

pessoas com deficiecircncia natildeo sejam excluiacutedas do sistema educacional geral e que as

crianccedilas com deficiecircncia natildeo sejam excluiacutedas do ensino fundamental gratuito e compulsoacuterio

estabelece tambeacutem que elas tenham acesso ao ensino meacutedio e superior inclusivo de

10 Nesse texto a ONU reconhece que ldquo[] a deficiecircncia eacute um conceito em evoluccedilatildeo e que a deficiecircncia resulta da interaccedilatildeo entre pessoas com deficiecircncia e as barreiras atitudinais e ambientais que impedem sua plena e efetiva participaccedilatildeo na sociedade em igualdade de oportunidades com as demais pessoasrdquo (ONU 2012 p 22)

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qualidade e gratuito em igualdade de condiccedilotildees com as demais pessoas na comunidade em

que vivem (ONU 2012)

Ainda no panorama internacional a Unesco lanccedila em 2009 uma coletacircnea intitulada

Orientaccedilotildees Poliacuteticas sobre Inclusatildeo na Educaccedilatildeo a fim de ampliar a compreensatildeo das

questotildees atinentes agraves poliacuteticas e agraves praacuteticas pedagoacutegicas que visam garantir a inclusatildeo

educacional e social Os dados apresentados e as anaacutelises feitas suscitaram

questionamentos e posicionamentos em relaccedilatildeo agraves condiccedilotildees de acesso e de atendimento

nas redes de ensino e possibilitaram o aprofundamento do debate sobre as accedilotildees do poder

puacuteblico e da sociedade com vistas a assegurar o direito de todas as pessoas agrave Educaccedilatildeo

Escolar de Qualidade (No cenaacuterio regional da Ameacuterica Latina e do Caribe houve em 2009

a Campanha Latino-Americana pelo Direito agrave Educaccedilatildeo a fim de promover o

desenvolvimento de pesquisas interdisciplinares para subsidiar a formulaccedilatildeo de poliacuteticas

puacuteblicas intersetoriais que atendessem agraves especificidades educacionais de estudantes com

deficiecircncia transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotaccedilatildeo que

requeiram medidas de atendimento especializado Jaacute na Uniatildeo Europeia a Agecircncia

Europeia para o Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Especial recomendou tambeacutem em 2009

para decisoacuterios poliacuteticos princiacutepios baacutesicos para a Promoccedilatildeo da Qualidade na Educaccedilatildeo

Inclusiva Faacutevero Ferreira Ireland e Barreiros 2009)

A influecircncia histoacuterica direta ou indireta das agecircncias internacionais no direcionamento

das poliacuteticas puacuteblicas dentre elas a Educaccedilatildeo Especial situada no acircmbito geral das

diretrizes da Educaccedilatildeo como um direito de todos e dever do Estado implica o entendimento

de que os fundamentos ideoloacutegicos que datildeo sustentaccedilatildeo agraves poliacuteticas educacionais na aacuterea

de conhecimento da Educaccedilatildeo Especial adotadas pelos governos brasileiros certamente natildeo

foram gerados exclusivamente em acircmbito nacional mas ao contraacuterio em acircmbito

internacional vinculados agraves declaraccedilotildees e recomendaccedilotildees construiacutedas em foros de

abrangecircncia mundial e regional Em consequecircncia torna-se obrigatoacuterio considerar que a

atuaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas teve papel preponderante para a internacionalizaccedilatildeo do

discurso da Educaccedilatildeo Especial na perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva nos anos 1990 e 2000

notadamente pelo trabalho teacutecnico-poliacutetico da Unesco

Na perspectiva da citada agecircncia intergovernamental atuar nessa agenda de

cooperaccedilatildeo internacional e nacional com os Estados-Partes na formulaccedilatildeo de poliacuteticas e

estrateacutegias destinadas ao melhoramento dos sistemas de ensino ldquo[] significa avanccedilar para

uma sociedade educacional onde cada pessoa aprenda durante toda a vida e seja fonte de

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aprendizagem para os demaisrdquo (Unesco 1998 p 11) afinal a ldquo[] educaccedilatildeo desempenha

um papel chave neste processo tendo em vista o seu valor econocircmico e socialrdquo (Unesco

2004 p 33)

Essa compreensatildeo conduz o debate sobre os rumos da Educaccedilatildeo Especial no Brail

tornando-se fundamental para a construccedilatildeo de poliacuteticas de formaccedilatildeo docente financiamento

e gestatildeo escolar necessaacuterias para a transformaccedilatildeo da estrutura educacional a fim de

assegurar as condiccedilotildees de acesso participaccedilatildeo e aprendizagem de todos os estudantes

concebendo a escola como um espaccedilo que reconhece e valoriza as diferenccedilas

Logo o respeito agrave diversidade efetivado no respeito agraves diferenccedilas impulsiona accedilotildees

de cidadania voltadas ao reconhecimento de sujeitos de direitos simplesmente por serem

seres humanos Suas especificidades natildeo devem ser elemento para a construccedilatildeo de

desigualdades discriminaccedilotildees ou exclusotildees mas sim devem pautar as poliacuteticas afirmativas

de respeito agrave diversidade voltadas para a construccedilatildeo de contextos sociais inclusivos cujo

aspecto filosoacutefico-ideoloacutegico se assenta na equiparaccedilatildeo de oportunidades direitos e

deveres em que todas as pessoas teriam condiccedilotildees de vida e chance de realizar seus

projetos como parte do exerciacutecio de sua cidadania e em respeito agrave sua identidade

3 Consideraccedilotildees finais

Esta pesquisa foi instigada pela reflexatildeo que questionava como foi se constituindo a

compreensatildeo de Educaccedilatildeo Inclusiva ao longo dos tempos no Brasil considerando a

influecircncia ideoloacutegica dos documentos legais produzidos pelos organismos internacionais ndash

ONU Unesco OEA Unicef e BM ndash a partir das primeiras deacutecadas do seacuteculo XX Tal

inquietaccedilatildeo acadecircmica fez emergir o interesse em compreender a Histoacuteria da Educaccedilatildeo

Inclusiva em especial no que concerne agrave escolarizaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncia

defendida em acordos e discussotildees internacionais O objetivo com efeito foi desenvolver

um histoacuterico a respeito das poliacuteticas puacuteblicas internacionais de Educaccedilatildeo Especial com

ecircnfase nas mudanccedilas paradigmaacuteticas emergentes cronologicamente no Brasil

Realizou-se uma pesquisa documental nos textos internacionais produzidos sobre os

debates acerca da Educaccedilatildeo Inclusiva em especial para as pessoas com deficiecircncia dentre

os quais destacam-se Convenccedilatildeo Interamericana para a Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas

de Discriminaccedilatildeo contra as Pessoas Portadoras de Deficiecircncia Declaraccedilatildeo Universal dos

Direitos Humanos A Unesco e a Educaccedilatildeo na Ameacuterica Latina e Caribe (1987-1997)

Educaccedilatildeo para Todos o Compromisso de Dakar A Unesco no Brasil Consolidando

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Compromissos Conferecircncia Mundial de Necessidades Educativas Especiais Acesso e

Qualidade Os resultados permitiram desenvolver uma cronologia histoacuterica a qual

possibilitou afirmar que os seacuteculos XVIII e XIX foram marcados pela segregaccedilatildeo

homogeneizante das pessoas com deficiecircncia em escolas especiais com edificaccedilatildeo

especiacutefica que separavam os ditos estudantes ldquonormaisrdquo dos alunos que possuiacuteam algum

tipo de limitaccedilatildeo periacuteodo em que os debates sobre inclusatildeo natildeo possuiacuteam ecircnfase no

cenaacuterio internacional A partir das primeiras deacutecadas do seacuteculo XX os debates internacionais

a respeito da escolarizaccedilatildeo dos entatildeo denominados discentes ldquoespeciaisrdquo foram se

alargando emergiram em congruecircncia as classes especiais no interior das escolas

regulares Posteriormente na segunda metade do seacuteculo XX os debates internacionais

comeccedilaram a sinalizar a superaccedilatildeo de qualquer forma de segregaccedilatildeo e a impulsionar a

ideologia atualmente defendida de igualdade e inclusatildeo social com respeito agraves diferenccedilas

Ao fazer um balanccedilo histoacuterico sobre as poliacuteticas puacuteblicas de Educaccedilatildeo Especial no

cenaacuterio internacional percebeu-se a ausecircncia de documentos especiacuteficos nos seacuteculos XVIII

XIX e iniacutecio do XX Somente ao longo dos seacuteculos XX e XXI especialmente nas deacutecadas

que seguem 1970 averiguou-se que a atuaccedilatildeo das agecircncias especializadas da ONU em

parceria com outras agecircncias internacionais governos organizaccedilotildees natildeo governamentais e

sociedades civis contribuiu de maneira importante para a transiccedilatildeo do discurso educacional

da integraccedilatildeo instrucional para a constituiccedilatildeo de saberes e praacuteticas da Educaccedilatildeo Especial

sob a oacutetica inclusiva ao desempenhar um fundamental papel como foro permanente de

debate educacional e busca de soluccedilotildees contribuindo para a consolidaccedilatildeo de uma agenda

educacional e para a promoccedilatildeo da cooperaccedilatildeo internacional e horizontal com o objetivo de

apoiar os processos de mudanccedila das condiccedilotildees de vida das pessoas com deficiecircncia dentre

elas a inclusatildeo dessas pessoas nos espaccedilos regulares de ensino em equiparaccedilatildeo de

oportunidades direitos e deveres com relaccedilatildeo aos seus pares sem deficiecircncia

A proposta global das Naccedilotildees Unidas visava agrave promoccedilatildeo de uma Educaccedilatildeo para todos

ao longo de toda a vida notadamente para grupos historicamente excluiacutedos como o das

pessoas com deficiecircncia Para tanto durante toda a deacutecada de 1990 houve uma expansatildeo

de acordos internacionais e uma redescoberta da Educaccedilatildeo Especial como campo feacutertil de

investimentos Ocorreu a definiccedilatildeo de uma agenda internacional para a Educaccedilatildeo Especial

materializada em diferentes eventos tais como a Conferecircncia Mundial sobre Educaccedilatildeo para

Todos (1990) a Declaraccedilatildeo de Salamanca (1994) a Convenccedilatildeo da Guatemala (1999) o

Compromisso de Dakar (2000) e a Convenccedilatildeo sobre os Direitos das Pessoas com

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Deficiecircncia (2006) que trataram de pautas de interesses ordinaacuterios agrave comunidade

internacional sobre o tema da Educaccedilatildeo Especial em uma perspectiva de Educaccedilatildeo

Inclusiva

Essas declaraccedilotildees e recomendaccedilotildees resultantes das diferentes cuacutepulas conferecircncias

e eventos regionais e internacionais foram importantes para a construccedilatildeo de consensos em

torno das principais ideias e propostas sobre Educaccedilatildeo Especial nas deacutecadas de 1980 1990

e 2000 ou seja da transiccedilatildeo do modelo integracionista para o inclusivo Nesses eventos ao

se constituiacuterem em foacuteruns gerais propalava-se a necessidade de reformas educativas

nacionais acompanhadas de mudanccedilas no financiamento transformaccedilatildeo curricular e gestatildeo

educacional em torno de sistemas educacionais inclusivos perseguidos tambeacutem no iniacutecio do

seacuteculo XXI que influenciaram a mudanccedila de paradigma acerca do atendimento agrave pessoa

com deficiecircncia no Brasil

No paradigma da inclusatildeo impulsionaram-se projetos de mudanccedilas nas poliacuteticas

puacuteblicas brasileiras ao conceber-se que todos se beneficiam quando as escolas promovem

respostas agraves diferenccedilas individuais dos estudantes Logo a Educaccedilatildeo Especial que surgiu

no campo da Pedagogia como uma aacuterea de conhecimento que se ocupava exclusivamente

do processo de escolarizaccedilatildeo pela via da homogeneizaccedilatildeo dos alunos ldquoexcepcionaisrdquo em

espaccedilos escolares ditos ldquoespeciaisrdquo que orbitavam agrave margem do sistema de ensino puacuteblico e

gratuito passou a integrar os tempos e espaccedilos das escolas regulares mas ficando a

participaccedilatildeo circunscrita agraves ldquoclasses especiaisrdquo e ainda sendo modalidade substitutiva e

normalizadora do processo de escolarizaccedilatildeo dos discentes ldquoportadores de necessidades

especiaisrdquo Atualmente sob a perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva o Brasil tem como

imperativo eacutetico normativo e intelectual ampliar a participaccedilatildeo de todos os estudantes nos

estabelecimentos de ensino regular especialmente daqueles grupos sociais historicamente

excluiacutedos da escola como as pessoas com deficiecircncia atraveacutes de uma abordagem

humaniacutestica e democraacutetica que perceba o sujeito e suas singularidades tendo como

objetivos o crescimento a satisfaccedilatildeo pessoal e a inserccedilatildeo social de todos

4 Referecircncias

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caracteriacutesticas bioloacutegicas e utilizava-se da estrateacutegia de segregaccedilatildeo dos ldquoexcepcionaisrdquo em

instituiccedilotildees assistenciais filantroacutepicas da rede privada de ensino A segunda por sua vez

definia a deficiecircncia em funccedilatildeo das capacidades e habilidades funcionais residuais e

empregava a estrateacutegia da integraccedilatildeo das pessoas ldquoportadoras de necessidades especiaisrdquo

em ldquoescolas especiaisrdquo ou em ldquoclasses especiaisrdquo da rede puacuteblica de ensino a fim de

estabelecer interaccedilotildees sociais entre esses educandos e os alunos ditos ldquonormaisrdquo (Rioux e

Valentine 2006)

Mesmo com essa evoluccedilatildeo filosoacutefico-ideoloacutegica em torno dos objetivos e qualidade dos

serviccedilos educacionais especiais a Educaccedilatildeo Especial no Brasil continuava negligenciada

pelos sistemas regulares de ensino tendo em vista que essa modalidade de ensino ainda

era tida como substitutiva do processo de escolarizaccedilatildeo das pessoas historicamente

marginalizadas da escola comum Seja pela homogeneizaccedilatildeo ndash processo de exclusatildeo fora

da escola ndash seja pela normalizaccedilatildeo ndash procedimento de exclusatildeo dentro da escola ndash a era da

exclusatildeo dessa populaccedilatildeo persistia no cenaacuterio das reformas educacionais gerais desde o

seacuteculo XVIII ateacute meados do seacuteculo XX pois natildeo havia a preocupaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica de

incluir a pauta da Educaccedilatildeo Especial no desenvolvimento dos sistemas regulares de ensino

brasileiro (Saacutenchez 2005)

Ainda que sob formas distintas a exclusatildeo tem sido caracteriacutestica recorrente na

Educaccedilatildeo fomentada no Brasil No paradigma segregacionista as pessoas com deficiecircncia

estatildeo inseridas em escolas especiais e as pessoas sem deficiecircncia no ensino regular No

acircmbito da integraccedilatildeo escolar as pessoas com deficiecircncia estatildeo na mesma instituiccedilatildeo de

ensino que as pessoas sem deficiecircncia mas em grupos separados por ldquoclasses especiaisrdquo o

que pressupotildee a Educaccedilatildeo Especial como modalidade de ensino substitutiva do processo de

escolarizaccedilatildeo desses alunos cujo resultado foi a naturalizaccedilatildeo do fracasso escolar

(Saacutenchez 2005)

A partir da segunda metade do seacuteculo XX emergiu com maior ecircnfase no cenaacuterio

mundial a defesa do paradigma da inclusatildeo como uma accedilatildeo poliacutetica cultural social e

pedagoacutegica desencadeada em defesa dos direitos de todos os estudantes de estarem

aprendendo e participando juntos sem nenhum tipo de discriminaccedilatildeo Essa concepccedilatildeo

fundamentava-se na base filosoacutefico-ideoloacutegica que defendia a garantia dos direitos humanos

e ao mesmo tempo ldquo[] conjuga[va] igualdade e diferenccedila como valores indissociaacuteveis e

que avanccedila[va] em relaccedilatildeo agrave ideacuteia [sic] de equumlidade [sic] formal ao contextualizar as

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circunstacircncias histoacutericas da produccedilatildeo da exclusatildeo dentro e fora da escolardquo (Ministeacuterio da

Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Especial Brasil 2008 p 5)

No decorrer do periacuteodo da era da inclusatildeo no Brasil fortaleceu-se a criacutetica agraves praacuteticas

de conceituaccedilatildeo identificaccedilatildeo e categorizaccedilatildeo dos discentes encaminhados para ambientes

escolares ldquoespeciaisrdquo sob o signo da abordagem da deficiecircncia como uma patologia

individual capaz de determinar o fracasso escolar de seus ldquoportadoresrdquo Aleacutem disso criticava-

se o cunho assistencialista dessa poliacutetica em que a instituiccedilatildeo privada com fins filantroacutepicos

tinha caraacuteter de internato e as pessoas com deficiecircncia eram retiradas do conviacutevio familiar e

social para viverem em instituiccedilotildees asilares Dentro de uma visatildeo biomeacutedica entendia-se

que a responsabilidade social da Educaccedilatildeo Especial era a de curar ou eliminar a deficiecircncia

de seus alunos por meio da Educaccedilatildeo

O movimento mundial pela inclusatildeo escolar conduziu o debate sobre a Educaccedilatildeo

Especial ao questionamento dos modelos de normalizaccedilatildeo de ensino e de aprendizagem

geradores de exclusatildeo nos espaccedilos escolares regulares sob o siacutembolo da integraccedilatildeo

instrucional que instituiacutea ldquoclasses especiaisrdquo na rede regular de ensino notadamente no

sistema puacuteblico Nesse modelo a Educaccedilatildeo de ldquoportadores de necessidades especiaisrdquo

deveria no que fosse possiacutevel enquadrar-se ao sistema geral de educaccedilatildeo a fim de integraacute-

los agrave comunidade Desse modo em vez de a escola ter que se adequar agraves necessidades

fiacutesicas sensoriais intelectuais sociais e culturais do discente este eacute que deveria se adequar

agrave escola em termos de estrutura fiacutesica pedagoacutegica e administrativa

Portanto os tempos espaccedilos praacuteticas e saberes escolares na aacuterea de conhecimento

da Educaccedilatildeo Especial no Brasil historicamente se caracterizaram pela visatildeo da Educaccedilatildeo

que entendia a escolarizaccedilatildeo como um privileacutegio de um grupo dito ldquonormalrdquo e a exclusatildeo ndash

dentro e fora da escola ndash como estrateacutegia para o tratamento das pessoas ditas ldquodeficientesrdquo

Esse entendimento foi legitimado nas poliacuteticas e praacuteticas educacionais ldquoespeciaisrdquo

reprodutoras das relaccedilotildees sociais e de poder que classificavam os grupos humanos de

maneira subalterna uns aos outros transformando as naturais diferenccedilas humanas em

desigualdades e injusticcedilas sociais (Sassaki 2005)

3 Marcos legal e poliacuteticos internacionais de Educaccedilatildeo Inclusiva e a

repercussatildeo no Brasil

A anaacutelise documental dos seis textos legais - 1)Convenccedilatildeo Interamericana para a

Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Pessoas Portadoras de

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Deficiecircncia 2)Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos 3)A Unesco e a Educaccedilatildeo na

Ameacuterica Latina e Caribe 4)Educaccedilatildeo para Todos o compromisso de Dakar 5)A Unesco no

Brasil consolidando compromissos 6)Conferecircncia Mundial de Necessidades Educativas

Especiais Acesso e Qualidade ndash permitiu inferir que sob a era da inclusatildeo no paradigma

veiculado pelos documentos oficiais internacionais a deficiecircncia passa a ser tratada

internacionalmente na perspectiva da abordagem dos direitos humanos ou seja como uma

patologia social produzida em consequecircncia da organizaccedilatildeo social e da relaccedilatildeo entre o

indiviacuteduo e a sociedade cuja responsabilidade sobre essas pessoas singulares seria por

meio da reconstruccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas de Educaccedilatildeo Especial entendidas como accedilotildees

afirmativas em defesa da diferenccedila e da diversidade humana visando agrave superaccedilatildeo dessas

mesmas desigualdades e injusticcedilas atraveacutes da eliminaccedilatildeo de praacuteticas pedagoacutegicas

discriminatoacuterias e excludentes (Sassaki 2005) Nessa vertente prima-se pela oferta de um

atendimento educacional especializado de modo complementar ou suplementar ao processo

de escolarizaccedilatildeo desses alunos sendo ambos os serviccedilos disponibilizados no espaccedilo

comum da escola regular

Logo a partir da deacutecada de 1990 o movimento educacional internacional pela

inclusatildeo que preconizava que todas as pessoas deveriam estar inseridas nos mesmos

espaccedilos e tempos escolares passou a integrar a pauta obrigatoacuteria na escola no Brasil

enfatizando-se especialmente o tema sobre as mais eficientes formas de atendimento

educacional especializado e sobre a escolarizaccedilatildeo dos alunos puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo

Especial no sistema regular de ensino Com efeito passa-se a discutir a garantia do direito agrave

Educaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncia transtorno global do desenvolvimento e com altas

habilidadessuperdotaccedilatildeo segundo os marcos legais poliacuteticos e pedagoacutegicos promulgados

por organismos internacionais como a ONU

Dentro desse processo de evoluccedilatildeo histoacuterica das poliacuteticas puacuteblicas no cenaacuterio

brasileiro a modalidade de ensino da Educaccedilatildeo Especial passou sob o verniz eacutetico-poliacutetico

da Educaccedilatildeo Inclusiva a garantir o acesso a permanecircncia a participaccedilatildeo e o

desenvolvimento acadecircmico e social dos estudantes puacuteblico-alvo do Atendimento

Educacional Especializado (AEE) na escola comum a partir da tentativa de eliminaccedilatildeo das

barreiras pedagoacutegicas arquitetocircnicas comunicacionais e atitudinais Afinal os documentos

internacionais defendem que natildeo eacute o limite individual que determina a deficiecircncia mas sim

as barreiras existentes nos espaccedilos no meio fiacutesico no transporte na informaccedilatildeo na

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comunicaccedilatildeo e nos serviccedilos A escola nessa vertente deve tornar-se um espaccedilo acolhedor

das diferenccedilas

A elaboraccedilatildeo dos direitos que asseguram a participaccedilatildeo de todos e a efetivaccedilatildeo de

uma sociedade inclusiva fica patente a partir de 10 de dezembro de 1948 quando da

elaboraccedilatildeo da Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos pela Assembleia Geral das

Naccedilotildees Unidas que se fundamenta no reconhecimento da dignidade de todas as pessoas e

na universalidade e indivisibilidade desses direitos e portanto no valor da diversidade

humana que se impotildee como condiccedilatildeo para o alcance de tal reconhecimento ao explicitar a

pessoa como sujeito de direito respeitado em suas peculiaridades e particularidades Como

garantia do direito agrave Educaccedilatildeo a citada declaraccedilatildeo internacional normatiza

Art 26 1 Todo ser humano tem direito agrave instruccedilatildeo A instruccedilatildeo seraacute gratuita pelo

menos nos graus elementares e fundamentais A instruccedilatildeo elementar seraacute obrigatoacuteria

A instruccedilatildeo teacutecnico-profissional seraacute acessiacutevel a todos bem como a instruccedilatildeo superior

estaacute baseada no meacuterito 2 A instruccedilatildeo seraacute orientada no sentido do pleno

desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos

direitos humanos e pelas liberdades fundamentais A instruccedilatildeo promoveraacute a

compreensatildeo a toleracircncia e a amizade entre todas as naccedilotildees e grupos raciais ou

religiosos e coadjuvaraacute as atividades das Naccedilotildees Unidas em prol da manutenccedilatildeo da

paz 3 Os pais tecircm prioridade de direito na escolha do gecircnero de instruccedilatildeo que seraacute

ministrada a seus filhos (ONU 1948 p 5)

Tal declaraccedilatildeo parece natildeo gerar mudanccedilas significativas na forma de oferta e

compreensatildeo acerca da educaccedilatildeo inclusiva Quase 30 anos depois dessa primeira

publicaccedilatildeo em 9 de dezembro de 1975 a ONU (1975 p 2) abordou especificamente a

temaacutetica da inclusatildeo ao lanccedilar a Declaraccedilatildeo dos Direitos das Pessoas Deficientes4 que

assevera

As pessoas deficientes tecircm direito a tratamento meacutedico psicoloacutegico e funcional

incluindo-se aiacute aparelhos proteacuteticos e ortoacuteticos agrave reabilitaccedilatildeo meacutedica e social

educaccedilatildeo treinamento vocacional e reabilitaccedilatildeo assistecircncia aconselhamento

serviccedilos de colocaccedilatildeo e outros serviccedilos que lhes possibilitem o maacuteximo

4 ldquoO termo lsquopessoas deficientesrsquo refere-se a qualquer pessoa incapaz de assegurar por si mesma total ou parcialmente as necessidades de uma vida individual ou social normal em decorrecircncia de uma deficiecircncia congecircnita ou natildeo em suas capacidades fiacutesicas ou mentaisrdquo (ONU 1975 p 1)

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desenvolvimento de sua capacidade e habilidades e que acelerem o processo de sua

integraccedilatildeo social

A partir da deacutecada de 1980 o Brasil paiacutes signataacuterio impulsionado por debates

internacionais buscou afirmaccedilatildeo do direito agrave Educaccedilatildeo das pessoas puacuteblico-alvo da

Educaccedilatildeo Especial por meio da realizaccedilatildeo de conferecircncias sobre o tema da inclusatildeo escolar

constituiacutedas por organismos nacionais e internacionais de defesa dos direitos humanos

Ademais ratificaram-se algumas declaraccedilotildees sobre as demandas especiacuteficas dessa aacuterea de

conhecimento que precisavam ser legitimadas democraticamente mediante instrumentos

juriacutedicos locais e de princiacutepios aplicaacuteveis a cada paiacutes-membro

No ano de 1981 por exemplo foram promulgados dois documentos relevantes para a

Educaccedilatildeo Especial a saber a Declaraccedilatildeo de Cuenca sobre novas tendecircncias na Educaccedilatildeo

Especial (UnescoOrealc ndash Cuenca Equador) que recomendava a eliminaccedilatildeo de barreiras

fiacutesicas e a participaccedilatildeo de pessoas ldquodeficientesrdquo na tomada de decisotildees a seu respeito e a

Declaraccedilatildeo de Sunderberg como resultado da Conferecircncia Mundial sobre as Accedilotildees e

Estrateacutegias para a Educaccedilatildeo Prevenccedilatildeo e Integraccedilatildeo dos Impedidos (Unesco ndash

Torremolinos Espanha) cujo tema principal era a equiparaccedilatildeo de oportunidades das

pessoas ldquodeficientesrdquo agrave Educaccedilatildeo formaccedilatildeo cultura e informaccedilatildeo (Carvalho 2002)

A deacutecada de 1980 marcou o Brasil pois deu iniacutecio ao debate mais acirrado para

estimular o cumprimento dos direitos das pessoas ldquodeficientesrdquo agrave Educaccedilatildeo agrave sauacutede e ao

trabalho Em 1981 comemorou-se em todo o mundo o Ano Internacional das Pessoas

Deficientes proclamado pela Assembleia Geral das Naccedilotildees Unidas5 cujo lema foi

participaccedilatildeo plena e igualdade em que a ONU oficializou o embriatildeo do conceito de

sociedade inclusiva Partindo da ideia de que as pessoas ldquodeficientesrdquo formam parte da

sociedade e natildeo satildeo uma sociedade agrave parte o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Cultura (MEC) do

Brasil em consonacircncia com a citada resoluccedilatildeo da ONU traccedilou as seguintes accedilotildees a curto

meacutedio e longo prazo para a oferta do AEE em territoacuterio nacional

I ndash Curto Prazo 1) Estabelecer modelos para serviccedilos de atendimento educacional

2) Organizar seminaacuterios e congressos a niacutevel nacional sobre Educaccedilatildeo Especial

3) Fomentar o desenvolvimento de recursos humanos em Educaccedilatildeo Especial a niacutevel

de 2ordm Grau 4) Sensibilizar os Conselhos de Educaccedilatildeo ordm(Estaduais e Federal) para os

5 ldquoEm sua trigeacutesima sessatildeo de 16 de dezembro de 1976 a Assembleia Geral das Naccedilotildees Unidas pela Resoluccedilatildeo nordm 31123 proclamou oficialmente o ano de 1981 como o Ano Internacional das Pessoas Deficientesrdquo (ONU 1981 p 6)

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problemas da Educaccedilatildeo Especial 5) Assessorar a Secom sobre a publicaccedilatildeo de

material informativo sobre multiplicidade de accedilotildees impliacutecitas na Educaccedilatildeo Especial

6) Promover o levantamento de todo o material bibliograacutefico sobre Educaccedilatildeo Especial

7) Ampliar e reestruturar o atendimento preacute-escolar do Instituto Nacional de Educaccedilatildeo

de Surdos ndash Ines ndash e do Instituto Benjamin Constant ndash IBC ndash visando transformaacute-los

em serviccedilos-modelo 8) Aperfeiccediloar e ampliar programa de bolsa de trabalho para

educandos deficientes 9) Publicar documentos relativos agrave Educaccedilatildeo Especial

elaborados pelo Cenesp 10) Aperfeiccediloar e ampliar o projeto de Assistecircncia Teacutecnica agraves

Secretarias Estaduais de Educaccedilatildeo II ndash Meacutedio Prazo 1) Estimular a formaccedilatildeo de

teacutecnicos especializados a niacutevel de 3ordm Grau 2) Elaborar o II Plano Nacional de

Educaccedilatildeo Especial 3) Normalizaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fiacutesica para deficientes 4) Efetuar

estudos sobre estatiacutestica da Educaccedilatildeo Especial 5) Implementar a modernizaccedilatildeo da

Imprensa Braille III ndash Longo Prazo 1) Estimular nos Estados e Municiacutepios a criaccedilatildeo

de serviccedilos de atendimento educacional que objetivem a integraccedilatildeo e a normalizaccedilatildeo

2) Criar centros de produccedilatildeo de material psicopedagoacutegico 3) Elaborar o I Plano

Nacional Integrado de Assistecircncia ao Excepcional e 4) Estimular a Educaccedilatildeo Especial

de deficientes adultos (ONU 1981 pp 14-15)

Uma importante consequecircncia do Ano Internacional das Pessoas Deficientes (1981) foi

a aprovaccedilatildeo do Programa Mundial de Accedilatildeo relativo agraves Pessoas com Deficiecircncia pela

Assembleia Geral da ONU por meio da Resoluccedilatildeo nordm 3752 de 3 de dezembro de 1982

Prontamente o Ano Internacional e o Programa Mundial de Accedilatildeo contribuiacuteram para um forte

desenvolvimento nesse domiacutenio por intermeacutedio da criaccedilatildeo da Deacutecada das Naccedilotildees Unidas

para as Pessoas com Deficiecircncia (1983-1992) que visava garantir agraves pessoas com

deficiecircncia o exerciacutecio dos seus direitos fundamentais e a sua participaccedilatildeo plena na

sociedade (ONU 1993) Ambos salientavam o direito das pessoas ldquodeficientesrdquo agraves mesmas

oportunidades de que gozavam os demais cidadatildeos visando a todos melhores condiccedilotildees de

vida resultantes do desenvolvimento econocircmico e social de suas comunidades (Unesco

1990)

Aspirando a enfrentar esse desafio mundial e a construir projetos capazes de superar

os processos histoacutericos de exclusatildeo escolar dessas pessoas com base na responsabilidade

comum e universal de todos os povos a Unesco estabeleceu a Conferecircncia Mundial de

Educaccedilatildeo para Todos realizada em Jomtien na Tailacircndia no periacuteodo de 5 a 9 de marccedilo de

1990 Esse evento implicou a solidariedade internacional dos organismos e instituiccedilotildees

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intergovernamentais a fim de satisfazer as necessidades baacutesicas de aprendizagem de seus

cidadatildeos haja vista os altos iacutendices de crianccedilas adolescentes e jovens sem escolarizaccedilatildeo

Somente assim seria possiacutevel promover as transformaccedilotildees nos sistemas de ensino para

assegurar o acesso e a permanecircncia de todos na escola (Unesco 1990)

Os principais referenciais da Declaraccedilatildeo de Jomtien (1990)6 publicados no ano

seguinte pelo Unicef enfatizavam a urgecircncia de uma Educaccedilatildeo de qualidade para todos ao

constituiacuterem a agenda de discussatildeo das poliacuteticas educacionais reforccedilando a necessidade

de elaboraccedilatildeo e a implementaccedilatildeo de accedilotildees voltadas para a universalizaccedilatildeo do acesso agrave

escola a promoccedilatildeo da equidade no acircmbito do ensino fundamental meacutedio e superior a

oferta da Educaccedilatildeo Infantil nas redes puacuteblicas de ensino a estruturaccedilatildeo do atendimento agraves

demandas de alfabetizaccedilatildeo e da modalidade de Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos e a

construccedilatildeo da gestatildeo democraacutetica da escola Sob a perspectiva inclusiva a referida

declaraccedilatildeo nos itens 4 e 5 do artigo 3ordm instituiu que

4 Um compromisso efetivo para superar as disparidades educacionais deve ser

assumido Os grupos excluiacutedos ndash os pobres os meninos e meninas de rua ou

trabalhadores as populaccedilotildees das periferias urbanas e zonas rurais os nocircmades e os

trabalhadores migrantes os povos indiacutegenas as minorias eacutetnicas raciais e linguumliacutesticas

[sic] os refugiados os deslocados pela guerra e os povos submetidos a um regime de

ocupaccedilatildeo ndash natildeo devem sofrer qualquer tipo de discriminaccedilatildeo no acesso agraves

oportunidades educacionais 5 As necessidades baacutesicas de aprendizagem das

pessoas portadoras de deficiecircncias requerem atenccedilatildeo especial Eacute preciso tomar

medidas que garantam a igualdade de acesso agrave educaccedilatildeo aos portadores de todo e

qualquer tipo de deficiecircncia como parte integrante do sistema educativo (Unesco

1990 p 4)

Vale lembrar que as diversas declaraccedilotildees da ONU culminaram em 1993 na publicaccedilatildeo

das Normas sobre a Igualdade de Oportunidades7 para as Pessoas com Deficiecircncia por meio

de resoluccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas adotada pela Assembleia Geral no dia 20 de dezembro de

1993 As normas exortavam os Estados dentre eles o Brasil a assumirem um compromisso

eacutetico e poliacutetico com vistas a operacionalizar dentre outros direitos o acesso ao sistema

6 No Brasil o MEC divulgou o Plano Decenal de Educaccedilatildeo para Todos para o periacuteodo de 1993 a 2003 elaborado em cumprimento agraves resoluccedilotildees da Declaraccedilatildeo de Jomtien (1990)

7 ldquoO termo lsquoigualdade de oportunidadesrsquo significa o processo pelo qual os diversos sistemas da sociedade e o meio envolvente tais como serviccedilos atividades informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo se [sic] tornam acessiacuteveis a todos e em especial agraves pessoas com deficiecircnciardquo (ONU 1993 p 16)

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regular de ensino agraves pessoas com deficiecircncia em igualdade de oportunidades com as demais

pessoas independentemente da natureza e gravidade da sua deficiecircncia tendo como

estrateacutegias complementares as escolas especiais (ONU 1993)

Por conseguinte a tendecircncia dos organismos internacionais atrelados ao

desenvolvimento da Educaccedilatildeo em seus paiacuteses-membros notadamente aqueles ligados agrave

ONU durante as deacutecadas de 1980 e 1990 tinha sido a de promover integraccedilatildeo e

participaccedilatildeo aleacutem de combater a exclusatildeo dos grupos socialmente marginalizados como

era o caso das pessoas ldquodeficientesrdquo O paradigma da inclusatildeo surgiu mais enfaticamente

com a Declaraccedilatildeo de Jomtien (1990) no contexto do movimento poliacutetico mundial para o

fomento de uma agenda internacional em prol do alcance das metas do direito agrave Educaccedilatildeo

das pessoas com deficiecircncia nos sistemas regulares de ensino Seu aacutepice no entanto

ocorreu com a produccedilatildeo de um documento publicado pelo Governo da Espanha em parceria

com a Unesco entre os dias 7 e 10 de junho de 1994 denominado Declaraccedilatildeo de

Salamanca sobre os princiacutepios a poliacutetica e as praacuteticas na aacuterea das necessidades educativas

especiais8 como resultado da Conferecircncia Mundial de Necessidades Educativas Especiais

Acesso e Qualidade

Tal Declaraccedilatildeo teve a finalidade de promover o objetivo da Educaccedilatildeo para Todos ou

seja da Educaccedilatildeo Especial sob a perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva examinando as

mudanccedilas fundamentais das poliacuteticas puacuteblicas educacionais necessaacuterias para desenvolver

tal abordagem nomeadamente qualificando as escolas regulares para atender a todas as

crianccedilas sobretudo as que tecircm necessidades educativas especiais de modo que os

governos com apoio das organizaccedilotildees internacionais pudessem conceder maior prioridade

ao desenvolvimento de seus respectivos Sistemas Nacionais de Educaccedilatildeo sob a

perspectiva inclusiva atraveacutes de medidas poliacuteticas e orccedilamentaacuterias compatiacuteveis com esse

imperativo eacutetico (Unesco 1994)

A partir dessa reflexatildeo acerca das praacuteticas educacionais especiais da qual resultaram

a compreensatildeo de equiparaccedilatildeo de oportunidades de diversos grupos sociais (crianccedilas com

deficiecircncia e crianccedilas bem dotadas crianccedilas que vivem nas ruas e que trabalham crianccedilas

de populaccedilotildees distantes ou nocircmades crianccedilas de minorias linguiacutesticas eacutetnicas ou culturais e

crianccedilas de outros grupos e zonas desfavorecidas ou marginalizadas) a Declaraccedilatildeo de

Salamanca e Linha de Accedilatildeo sobre Necessidades Educativas Especiais proclamou que as

8 A expressatildeo ldquonecessidades educativas especiaisrdquo no citado documento refere-se a todas as crianccedilas e jovens cujas carecircncias se relacionam com deficiecircncias ou dificuldades escolares incluindo nesse escopo as pessoas com deficiecircncia e as superdotadas (UNESCO 1994)

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escolas comuns representavam o meio mais eficaz para combater as atitudes

discriminatoacuterias ressaltando que o princiacutepio fundamental dessa linha de accedilatildeo seria o de que

as escolas inclusivas deveriam acolher todas as crianccedilas independentemente de suas

condiccedilotildees fiacutesicas intelectuais sociais emocionais linguiacutesticas ou outras (Unesco 1994)

Na esteira de construccedilatildeo de uma agenda internacional em torno da promoccedilatildeo de uma

Educaccedilatildeo para Todos em particular para aquelas com necessidades educacionais

especiais capazes de gerar diversos instrumentos e recomendaccedilotildees internacionais

passiacuteveis de serem incorporados ao sistema juriacutedico dos paiacuteses-membros de organismos

internacionais ligados ao fomento da Educaccedilatildeo tornando-os internamente obrigatoacuterios

surgiram outros movimentos sociais em torno da proposta da inclusatildeo escolar como a

Declaraccedilatildeo de Cartagena de Iacutendias as Poliacuteticas Integrais para Pessoas com Deficiecircncias na

Regiatildeo Ibero-Americana na Colocircmbia em 1992 a Conferecircncia Hemisfeacuterica de Pessoas com

Deficiecircncias em WashingtonEUA em 1993 a 5ordf Reuniatildeo do Comitecirc Regional

Intergovernamental do Projeto Principal de Educaccedilatildeo na Ameacuterica Latina e Caribe que

resultou na Declaraccedilatildeo de Santiago realizada no Chile em 1993 a 1ordf Reuniatildeo dos

Participantes da Conferecircncia de Ministros responsaacuteveis pela situaccedilatildeo da pessoa com

deficiecircncia ocorrida em MontrealCanadaacute em 1994 e a publicaccedilatildeo das normas uniformes

sobre a igualdade de oportunidades para pessoas com deficiecircncia aprovadas pela

Assembleia Geral nordm 4896 de 20 de dezembro de 1993 da ONU

Por fim a construccedilatildeo do cenaacuterio internacional da Educaccedilatildeo Especial sob o aspecto

filosoacutefico-ideoloacutegico da inclusatildeo na deacutecada de 1990 culminou com a Convenccedilatildeo

Interamericana para a Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Pessoas

Portadoras de Deficiecircncia9 mais conhecida como Convenccedilatildeo da Guatemala aprovada pelo

Conselho Permanente da OEA na sessatildeo realizada em 26 de maio de 1999 no paiacutes da

Ameacuterica Central supracitado promulgada no Brasil pelo Decreto nordm 39562001 Esse

documento que ainda utilizava a expressatildeo ldquoportador de deficiecircnciardquo afirmava que os

Estados-Partes deveriam se comprometer a tomar as medidas de caraacuteter legislativo social

educacional trabalhista ou de qualquer outra natureza que fossem necessaacuterias para

eliminar a discriminaccedilatildeo contra as pessoas ldquoportadoras de deficiecircnciardquo e proporcionar a sua

plena ldquointegraccedilatildeordquo agrave sociedade

9 ldquo[] o termo lsquodiscriminaccedilatildeo contra as pessoas portadoras de deficiecircnciarsquo significa toda diferenciaccedilatildeo exclusatildeo ou restriccedilatildeo baseada em deficiecircncia antecedente de deficiecircncia consequumlecircncia [sic] de deficiecircncia anterior ou percepccedilatildeo de deficiecircncia presente ou passada que tenha o efeito ou propoacutesito de impedir ou anular o reconhecimento gozo ou exerciacutecio por parte das pessoas portadoras de deficiecircncia de seus direitos humanos e suas liberdades fundamentaisrdquo (OEA 1999 p 3)

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Tendo em vista o protagonismo das agecircncias e organizaccedilotildees intergovernamentais no

panorama mundial como a ONU e suas agecircncias especializadas (Unesco Unicef e BM) e no

cenaacuterio regional como a OEA na busca pela cooperaccedilatildeo internacional a fim de promover e

estimular entre seus paiacuteses-membros o respeito aos direitos humanos e agraves liberdades

fundamentais para todos especialmente entre os grupos minoritaacuterios como no caso da

melhoria das condiccedilotildees de vida para pessoas com deficiecircncia verificou-se que o percurso

histoacuterico poliacutetico e filosoacutefico da Educaccedilatildeo Especial nos anos 1990 culminou no paradigma

inclusivo de garantia da equiparaccedilatildeo de oportunidades direitos e deveres de seu puacuteblico-alvo

no interior do sistema regular de ensino (Peroni 2003)

Em pleno anos 2000 a ONU continuou a fixar padrotildees a trabalhar para tecer

consensos universais e a manter-se como um foacuterum central disseminador para a

comunidade internacional de princiacutepios e orientaccedilotildees gerais para a Educaccedilatildeo atraveacutes de

sua agecircncia especializada da Unesco Ademais seguiu lanccedilando as diretrizes sobre os

caminhos da Educaccedilatildeo Especial atraveacutes de declaraccedilotildees e recomendaccedilotildees acordadas para a

construccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas educacionais inclusivas ao redor do mundo Dessa forma

entre os dias 26 e 28 de abril de 2000 em Dakar Senegal 164 paiacuteses reuniram-se no

Foacuterum Consultivo Internacional para a Educaccedilatildeo para Todos criado em 1991 e composto

por representantes da Unesco Unicef e BM contando com agecircncias bilaterais governos e

sociedade civil para avaliar os progressos globais alcanccedilados desde a Conferecircncia Mundial

de Educaccedilatildeo para Todos realizada dez anos antes em Jomtien Tailacircndia e para aprovar

novo marco de accedilatildeo para a universalizaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Baacutesica (Unesco 2001)

Em 13 de dezembro de 2006 em sessatildeo solene da Assembleia Geral da ONU foi

aprovado o texto final da Convenccedilatildeo sobre os Direitos das Pessoas com Deficiecircncia10

firmado pelo Brasil e por mais 85 naccedilotildees signataacuterias em 30 de marccedilo de 2007 Esse tratado

internacional no que diz respeito ao direito agrave Educaccedilatildeo aos deficientes estabelece que os

Estados-Partes devem assegurar um sistema de Educaccedilatildeo Inclusiva em todos os niacuteveis de

ensino bem como o aprendizado ao longo da vida Em seu artigo 24 determina que as

pessoas com deficiecircncia natildeo sejam excluiacutedas do sistema educacional geral e que as

crianccedilas com deficiecircncia natildeo sejam excluiacutedas do ensino fundamental gratuito e compulsoacuterio

estabelece tambeacutem que elas tenham acesso ao ensino meacutedio e superior inclusivo de

10 Nesse texto a ONU reconhece que ldquo[] a deficiecircncia eacute um conceito em evoluccedilatildeo e que a deficiecircncia resulta da interaccedilatildeo entre pessoas com deficiecircncia e as barreiras atitudinais e ambientais que impedem sua plena e efetiva participaccedilatildeo na sociedade em igualdade de oportunidades com as demais pessoasrdquo (ONU 2012 p 22)

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qualidade e gratuito em igualdade de condiccedilotildees com as demais pessoas na comunidade em

que vivem (ONU 2012)

Ainda no panorama internacional a Unesco lanccedila em 2009 uma coletacircnea intitulada

Orientaccedilotildees Poliacuteticas sobre Inclusatildeo na Educaccedilatildeo a fim de ampliar a compreensatildeo das

questotildees atinentes agraves poliacuteticas e agraves praacuteticas pedagoacutegicas que visam garantir a inclusatildeo

educacional e social Os dados apresentados e as anaacutelises feitas suscitaram

questionamentos e posicionamentos em relaccedilatildeo agraves condiccedilotildees de acesso e de atendimento

nas redes de ensino e possibilitaram o aprofundamento do debate sobre as accedilotildees do poder

puacuteblico e da sociedade com vistas a assegurar o direito de todas as pessoas agrave Educaccedilatildeo

Escolar de Qualidade (No cenaacuterio regional da Ameacuterica Latina e do Caribe houve em 2009

a Campanha Latino-Americana pelo Direito agrave Educaccedilatildeo a fim de promover o

desenvolvimento de pesquisas interdisciplinares para subsidiar a formulaccedilatildeo de poliacuteticas

puacuteblicas intersetoriais que atendessem agraves especificidades educacionais de estudantes com

deficiecircncia transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotaccedilatildeo que

requeiram medidas de atendimento especializado Jaacute na Uniatildeo Europeia a Agecircncia

Europeia para o Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Especial recomendou tambeacutem em 2009

para decisoacuterios poliacuteticos princiacutepios baacutesicos para a Promoccedilatildeo da Qualidade na Educaccedilatildeo

Inclusiva Faacutevero Ferreira Ireland e Barreiros 2009)

A influecircncia histoacuterica direta ou indireta das agecircncias internacionais no direcionamento

das poliacuteticas puacuteblicas dentre elas a Educaccedilatildeo Especial situada no acircmbito geral das

diretrizes da Educaccedilatildeo como um direito de todos e dever do Estado implica o entendimento

de que os fundamentos ideoloacutegicos que datildeo sustentaccedilatildeo agraves poliacuteticas educacionais na aacuterea

de conhecimento da Educaccedilatildeo Especial adotadas pelos governos brasileiros certamente natildeo

foram gerados exclusivamente em acircmbito nacional mas ao contraacuterio em acircmbito

internacional vinculados agraves declaraccedilotildees e recomendaccedilotildees construiacutedas em foros de

abrangecircncia mundial e regional Em consequecircncia torna-se obrigatoacuterio considerar que a

atuaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas teve papel preponderante para a internacionalizaccedilatildeo do

discurso da Educaccedilatildeo Especial na perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva nos anos 1990 e 2000

notadamente pelo trabalho teacutecnico-poliacutetico da Unesco

Na perspectiva da citada agecircncia intergovernamental atuar nessa agenda de

cooperaccedilatildeo internacional e nacional com os Estados-Partes na formulaccedilatildeo de poliacuteticas e

estrateacutegias destinadas ao melhoramento dos sistemas de ensino ldquo[] significa avanccedilar para

uma sociedade educacional onde cada pessoa aprenda durante toda a vida e seja fonte de

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aprendizagem para os demaisrdquo (Unesco 1998 p 11) afinal a ldquo[] educaccedilatildeo desempenha

um papel chave neste processo tendo em vista o seu valor econocircmico e socialrdquo (Unesco

2004 p 33)

Essa compreensatildeo conduz o debate sobre os rumos da Educaccedilatildeo Especial no Brail

tornando-se fundamental para a construccedilatildeo de poliacuteticas de formaccedilatildeo docente financiamento

e gestatildeo escolar necessaacuterias para a transformaccedilatildeo da estrutura educacional a fim de

assegurar as condiccedilotildees de acesso participaccedilatildeo e aprendizagem de todos os estudantes

concebendo a escola como um espaccedilo que reconhece e valoriza as diferenccedilas

Logo o respeito agrave diversidade efetivado no respeito agraves diferenccedilas impulsiona accedilotildees

de cidadania voltadas ao reconhecimento de sujeitos de direitos simplesmente por serem

seres humanos Suas especificidades natildeo devem ser elemento para a construccedilatildeo de

desigualdades discriminaccedilotildees ou exclusotildees mas sim devem pautar as poliacuteticas afirmativas

de respeito agrave diversidade voltadas para a construccedilatildeo de contextos sociais inclusivos cujo

aspecto filosoacutefico-ideoloacutegico se assenta na equiparaccedilatildeo de oportunidades direitos e

deveres em que todas as pessoas teriam condiccedilotildees de vida e chance de realizar seus

projetos como parte do exerciacutecio de sua cidadania e em respeito agrave sua identidade

3 Consideraccedilotildees finais

Esta pesquisa foi instigada pela reflexatildeo que questionava como foi se constituindo a

compreensatildeo de Educaccedilatildeo Inclusiva ao longo dos tempos no Brasil considerando a

influecircncia ideoloacutegica dos documentos legais produzidos pelos organismos internacionais ndash

ONU Unesco OEA Unicef e BM ndash a partir das primeiras deacutecadas do seacuteculo XX Tal

inquietaccedilatildeo acadecircmica fez emergir o interesse em compreender a Histoacuteria da Educaccedilatildeo

Inclusiva em especial no que concerne agrave escolarizaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncia

defendida em acordos e discussotildees internacionais O objetivo com efeito foi desenvolver

um histoacuterico a respeito das poliacuteticas puacuteblicas internacionais de Educaccedilatildeo Especial com

ecircnfase nas mudanccedilas paradigmaacuteticas emergentes cronologicamente no Brasil

Realizou-se uma pesquisa documental nos textos internacionais produzidos sobre os

debates acerca da Educaccedilatildeo Inclusiva em especial para as pessoas com deficiecircncia dentre

os quais destacam-se Convenccedilatildeo Interamericana para a Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas

de Discriminaccedilatildeo contra as Pessoas Portadoras de Deficiecircncia Declaraccedilatildeo Universal dos

Direitos Humanos A Unesco e a Educaccedilatildeo na Ameacuterica Latina e Caribe (1987-1997)

Educaccedilatildeo para Todos o Compromisso de Dakar A Unesco no Brasil Consolidando

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Compromissos Conferecircncia Mundial de Necessidades Educativas Especiais Acesso e

Qualidade Os resultados permitiram desenvolver uma cronologia histoacuterica a qual

possibilitou afirmar que os seacuteculos XVIII e XIX foram marcados pela segregaccedilatildeo

homogeneizante das pessoas com deficiecircncia em escolas especiais com edificaccedilatildeo

especiacutefica que separavam os ditos estudantes ldquonormaisrdquo dos alunos que possuiacuteam algum

tipo de limitaccedilatildeo periacuteodo em que os debates sobre inclusatildeo natildeo possuiacuteam ecircnfase no

cenaacuterio internacional A partir das primeiras deacutecadas do seacuteculo XX os debates internacionais

a respeito da escolarizaccedilatildeo dos entatildeo denominados discentes ldquoespeciaisrdquo foram se

alargando emergiram em congruecircncia as classes especiais no interior das escolas

regulares Posteriormente na segunda metade do seacuteculo XX os debates internacionais

comeccedilaram a sinalizar a superaccedilatildeo de qualquer forma de segregaccedilatildeo e a impulsionar a

ideologia atualmente defendida de igualdade e inclusatildeo social com respeito agraves diferenccedilas

Ao fazer um balanccedilo histoacuterico sobre as poliacuteticas puacuteblicas de Educaccedilatildeo Especial no

cenaacuterio internacional percebeu-se a ausecircncia de documentos especiacuteficos nos seacuteculos XVIII

XIX e iniacutecio do XX Somente ao longo dos seacuteculos XX e XXI especialmente nas deacutecadas

que seguem 1970 averiguou-se que a atuaccedilatildeo das agecircncias especializadas da ONU em

parceria com outras agecircncias internacionais governos organizaccedilotildees natildeo governamentais e

sociedades civis contribuiu de maneira importante para a transiccedilatildeo do discurso educacional

da integraccedilatildeo instrucional para a constituiccedilatildeo de saberes e praacuteticas da Educaccedilatildeo Especial

sob a oacutetica inclusiva ao desempenhar um fundamental papel como foro permanente de

debate educacional e busca de soluccedilotildees contribuindo para a consolidaccedilatildeo de uma agenda

educacional e para a promoccedilatildeo da cooperaccedilatildeo internacional e horizontal com o objetivo de

apoiar os processos de mudanccedila das condiccedilotildees de vida das pessoas com deficiecircncia dentre

elas a inclusatildeo dessas pessoas nos espaccedilos regulares de ensino em equiparaccedilatildeo de

oportunidades direitos e deveres com relaccedilatildeo aos seus pares sem deficiecircncia

A proposta global das Naccedilotildees Unidas visava agrave promoccedilatildeo de uma Educaccedilatildeo para todos

ao longo de toda a vida notadamente para grupos historicamente excluiacutedos como o das

pessoas com deficiecircncia Para tanto durante toda a deacutecada de 1990 houve uma expansatildeo

de acordos internacionais e uma redescoberta da Educaccedilatildeo Especial como campo feacutertil de

investimentos Ocorreu a definiccedilatildeo de uma agenda internacional para a Educaccedilatildeo Especial

materializada em diferentes eventos tais como a Conferecircncia Mundial sobre Educaccedilatildeo para

Todos (1990) a Declaraccedilatildeo de Salamanca (1994) a Convenccedilatildeo da Guatemala (1999) o

Compromisso de Dakar (2000) e a Convenccedilatildeo sobre os Direitos das Pessoas com

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Deficiecircncia (2006) que trataram de pautas de interesses ordinaacuterios agrave comunidade

internacional sobre o tema da Educaccedilatildeo Especial em uma perspectiva de Educaccedilatildeo

Inclusiva

Essas declaraccedilotildees e recomendaccedilotildees resultantes das diferentes cuacutepulas conferecircncias

e eventos regionais e internacionais foram importantes para a construccedilatildeo de consensos em

torno das principais ideias e propostas sobre Educaccedilatildeo Especial nas deacutecadas de 1980 1990

e 2000 ou seja da transiccedilatildeo do modelo integracionista para o inclusivo Nesses eventos ao

se constituiacuterem em foacuteruns gerais propalava-se a necessidade de reformas educativas

nacionais acompanhadas de mudanccedilas no financiamento transformaccedilatildeo curricular e gestatildeo

educacional em torno de sistemas educacionais inclusivos perseguidos tambeacutem no iniacutecio do

seacuteculo XXI que influenciaram a mudanccedila de paradigma acerca do atendimento agrave pessoa

com deficiecircncia no Brasil

No paradigma da inclusatildeo impulsionaram-se projetos de mudanccedilas nas poliacuteticas

puacuteblicas brasileiras ao conceber-se que todos se beneficiam quando as escolas promovem

respostas agraves diferenccedilas individuais dos estudantes Logo a Educaccedilatildeo Especial que surgiu

no campo da Pedagogia como uma aacuterea de conhecimento que se ocupava exclusivamente

do processo de escolarizaccedilatildeo pela via da homogeneizaccedilatildeo dos alunos ldquoexcepcionaisrdquo em

espaccedilos escolares ditos ldquoespeciaisrdquo que orbitavam agrave margem do sistema de ensino puacuteblico e

gratuito passou a integrar os tempos e espaccedilos das escolas regulares mas ficando a

participaccedilatildeo circunscrita agraves ldquoclasses especiaisrdquo e ainda sendo modalidade substitutiva e

normalizadora do processo de escolarizaccedilatildeo dos discentes ldquoportadores de necessidades

especiaisrdquo Atualmente sob a perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva o Brasil tem como

imperativo eacutetico normativo e intelectual ampliar a participaccedilatildeo de todos os estudantes nos

estabelecimentos de ensino regular especialmente daqueles grupos sociais historicamente

excluiacutedos da escola como as pessoas com deficiecircncia atraveacutes de uma abordagem

humaniacutestica e democraacutetica que perceba o sujeito e suas singularidades tendo como

objetivos o crescimento a satisfaccedilatildeo pessoal e a inserccedilatildeo social de todos

4 Referecircncias

Brasil Poder Executivo (2001) Promulga a Convenccedilatildeo Interamericana para a Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Pessoas Portadoras de Deficiecircncia Decreto nordm 3956 Brasil Diaacuterio Oficial [da] Repuacuteblica Federativa do Brasil

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Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (1994)

Conferecircncia Mundial de Necessidades Educativas Especiais Acesso e Qualidade Declaraccedilatildeo de Salamanca sobre os Princiacutepios a Poliacutetica e as Praacuteticas na Aacuterea das Necessidades Educativas Especiais Salamanca Unesco

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (1998)

A Unesco e a Educaccedilatildeo na Ameacuterica Latina e Caribe (1987-1997) Chile Unesco

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A Unesco no Brasil consolidando compromissos Brasiacutelia Unesco Organizaccedilatildeo dos Estados Americanos (OEA) (1999) Convenccedilatildeo Interamericana para a

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circunstacircncias histoacutericas da produccedilatildeo da exclusatildeo dentro e fora da escolardquo (Ministeacuterio da

Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Especial Brasil 2008 p 5)

No decorrer do periacuteodo da era da inclusatildeo no Brasil fortaleceu-se a criacutetica agraves praacuteticas

de conceituaccedilatildeo identificaccedilatildeo e categorizaccedilatildeo dos discentes encaminhados para ambientes

escolares ldquoespeciaisrdquo sob o signo da abordagem da deficiecircncia como uma patologia

individual capaz de determinar o fracasso escolar de seus ldquoportadoresrdquo Aleacutem disso criticava-

se o cunho assistencialista dessa poliacutetica em que a instituiccedilatildeo privada com fins filantroacutepicos

tinha caraacuteter de internato e as pessoas com deficiecircncia eram retiradas do conviacutevio familiar e

social para viverem em instituiccedilotildees asilares Dentro de uma visatildeo biomeacutedica entendia-se

que a responsabilidade social da Educaccedilatildeo Especial era a de curar ou eliminar a deficiecircncia

de seus alunos por meio da Educaccedilatildeo

O movimento mundial pela inclusatildeo escolar conduziu o debate sobre a Educaccedilatildeo

Especial ao questionamento dos modelos de normalizaccedilatildeo de ensino e de aprendizagem

geradores de exclusatildeo nos espaccedilos escolares regulares sob o siacutembolo da integraccedilatildeo

instrucional que instituiacutea ldquoclasses especiaisrdquo na rede regular de ensino notadamente no

sistema puacuteblico Nesse modelo a Educaccedilatildeo de ldquoportadores de necessidades especiaisrdquo

deveria no que fosse possiacutevel enquadrar-se ao sistema geral de educaccedilatildeo a fim de integraacute-

los agrave comunidade Desse modo em vez de a escola ter que se adequar agraves necessidades

fiacutesicas sensoriais intelectuais sociais e culturais do discente este eacute que deveria se adequar

agrave escola em termos de estrutura fiacutesica pedagoacutegica e administrativa

Portanto os tempos espaccedilos praacuteticas e saberes escolares na aacuterea de conhecimento

da Educaccedilatildeo Especial no Brasil historicamente se caracterizaram pela visatildeo da Educaccedilatildeo

que entendia a escolarizaccedilatildeo como um privileacutegio de um grupo dito ldquonormalrdquo e a exclusatildeo ndash

dentro e fora da escola ndash como estrateacutegia para o tratamento das pessoas ditas ldquodeficientesrdquo

Esse entendimento foi legitimado nas poliacuteticas e praacuteticas educacionais ldquoespeciaisrdquo

reprodutoras das relaccedilotildees sociais e de poder que classificavam os grupos humanos de

maneira subalterna uns aos outros transformando as naturais diferenccedilas humanas em

desigualdades e injusticcedilas sociais (Sassaki 2005)

3 Marcos legal e poliacuteticos internacionais de Educaccedilatildeo Inclusiva e a

repercussatildeo no Brasil

A anaacutelise documental dos seis textos legais - 1)Convenccedilatildeo Interamericana para a

Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Pessoas Portadoras de

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Deficiecircncia 2)Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos 3)A Unesco e a Educaccedilatildeo na

Ameacuterica Latina e Caribe 4)Educaccedilatildeo para Todos o compromisso de Dakar 5)A Unesco no

Brasil consolidando compromissos 6)Conferecircncia Mundial de Necessidades Educativas

Especiais Acesso e Qualidade ndash permitiu inferir que sob a era da inclusatildeo no paradigma

veiculado pelos documentos oficiais internacionais a deficiecircncia passa a ser tratada

internacionalmente na perspectiva da abordagem dos direitos humanos ou seja como uma

patologia social produzida em consequecircncia da organizaccedilatildeo social e da relaccedilatildeo entre o

indiviacuteduo e a sociedade cuja responsabilidade sobre essas pessoas singulares seria por

meio da reconstruccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas de Educaccedilatildeo Especial entendidas como accedilotildees

afirmativas em defesa da diferenccedila e da diversidade humana visando agrave superaccedilatildeo dessas

mesmas desigualdades e injusticcedilas atraveacutes da eliminaccedilatildeo de praacuteticas pedagoacutegicas

discriminatoacuterias e excludentes (Sassaki 2005) Nessa vertente prima-se pela oferta de um

atendimento educacional especializado de modo complementar ou suplementar ao processo

de escolarizaccedilatildeo desses alunos sendo ambos os serviccedilos disponibilizados no espaccedilo

comum da escola regular

Logo a partir da deacutecada de 1990 o movimento educacional internacional pela

inclusatildeo que preconizava que todas as pessoas deveriam estar inseridas nos mesmos

espaccedilos e tempos escolares passou a integrar a pauta obrigatoacuteria na escola no Brasil

enfatizando-se especialmente o tema sobre as mais eficientes formas de atendimento

educacional especializado e sobre a escolarizaccedilatildeo dos alunos puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo

Especial no sistema regular de ensino Com efeito passa-se a discutir a garantia do direito agrave

Educaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncia transtorno global do desenvolvimento e com altas

habilidadessuperdotaccedilatildeo segundo os marcos legais poliacuteticos e pedagoacutegicos promulgados

por organismos internacionais como a ONU

Dentro desse processo de evoluccedilatildeo histoacuterica das poliacuteticas puacuteblicas no cenaacuterio

brasileiro a modalidade de ensino da Educaccedilatildeo Especial passou sob o verniz eacutetico-poliacutetico

da Educaccedilatildeo Inclusiva a garantir o acesso a permanecircncia a participaccedilatildeo e o

desenvolvimento acadecircmico e social dos estudantes puacuteblico-alvo do Atendimento

Educacional Especializado (AEE) na escola comum a partir da tentativa de eliminaccedilatildeo das

barreiras pedagoacutegicas arquitetocircnicas comunicacionais e atitudinais Afinal os documentos

internacionais defendem que natildeo eacute o limite individual que determina a deficiecircncia mas sim

as barreiras existentes nos espaccedilos no meio fiacutesico no transporte na informaccedilatildeo na

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comunicaccedilatildeo e nos serviccedilos A escola nessa vertente deve tornar-se um espaccedilo acolhedor

das diferenccedilas

A elaboraccedilatildeo dos direitos que asseguram a participaccedilatildeo de todos e a efetivaccedilatildeo de

uma sociedade inclusiva fica patente a partir de 10 de dezembro de 1948 quando da

elaboraccedilatildeo da Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos pela Assembleia Geral das

Naccedilotildees Unidas que se fundamenta no reconhecimento da dignidade de todas as pessoas e

na universalidade e indivisibilidade desses direitos e portanto no valor da diversidade

humana que se impotildee como condiccedilatildeo para o alcance de tal reconhecimento ao explicitar a

pessoa como sujeito de direito respeitado em suas peculiaridades e particularidades Como

garantia do direito agrave Educaccedilatildeo a citada declaraccedilatildeo internacional normatiza

Art 26 1 Todo ser humano tem direito agrave instruccedilatildeo A instruccedilatildeo seraacute gratuita pelo

menos nos graus elementares e fundamentais A instruccedilatildeo elementar seraacute obrigatoacuteria

A instruccedilatildeo teacutecnico-profissional seraacute acessiacutevel a todos bem como a instruccedilatildeo superior

estaacute baseada no meacuterito 2 A instruccedilatildeo seraacute orientada no sentido do pleno

desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos

direitos humanos e pelas liberdades fundamentais A instruccedilatildeo promoveraacute a

compreensatildeo a toleracircncia e a amizade entre todas as naccedilotildees e grupos raciais ou

religiosos e coadjuvaraacute as atividades das Naccedilotildees Unidas em prol da manutenccedilatildeo da

paz 3 Os pais tecircm prioridade de direito na escolha do gecircnero de instruccedilatildeo que seraacute

ministrada a seus filhos (ONU 1948 p 5)

Tal declaraccedilatildeo parece natildeo gerar mudanccedilas significativas na forma de oferta e

compreensatildeo acerca da educaccedilatildeo inclusiva Quase 30 anos depois dessa primeira

publicaccedilatildeo em 9 de dezembro de 1975 a ONU (1975 p 2) abordou especificamente a

temaacutetica da inclusatildeo ao lanccedilar a Declaraccedilatildeo dos Direitos das Pessoas Deficientes4 que

assevera

As pessoas deficientes tecircm direito a tratamento meacutedico psicoloacutegico e funcional

incluindo-se aiacute aparelhos proteacuteticos e ortoacuteticos agrave reabilitaccedilatildeo meacutedica e social

educaccedilatildeo treinamento vocacional e reabilitaccedilatildeo assistecircncia aconselhamento

serviccedilos de colocaccedilatildeo e outros serviccedilos que lhes possibilitem o maacuteximo

4 ldquoO termo lsquopessoas deficientesrsquo refere-se a qualquer pessoa incapaz de assegurar por si mesma total ou parcialmente as necessidades de uma vida individual ou social normal em decorrecircncia de uma deficiecircncia congecircnita ou natildeo em suas capacidades fiacutesicas ou mentaisrdquo (ONU 1975 p 1)

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desenvolvimento de sua capacidade e habilidades e que acelerem o processo de sua

integraccedilatildeo social

A partir da deacutecada de 1980 o Brasil paiacutes signataacuterio impulsionado por debates

internacionais buscou afirmaccedilatildeo do direito agrave Educaccedilatildeo das pessoas puacuteblico-alvo da

Educaccedilatildeo Especial por meio da realizaccedilatildeo de conferecircncias sobre o tema da inclusatildeo escolar

constituiacutedas por organismos nacionais e internacionais de defesa dos direitos humanos

Ademais ratificaram-se algumas declaraccedilotildees sobre as demandas especiacuteficas dessa aacuterea de

conhecimento que precisavam ser legitimadas democraticamente mediante instrumentos

juriacutedicos locais e de princiacutepios aplicaacuteveis a cada paiacutes-membro

No ano de 1981 por exemplo foram promulgados dois documentos relevantes para a

Educaccedilatildeo Especial a saber a Declaraccedilatildeo de Cuenca sobre novas tendecircncias na Educaccedilatildeo

Especial (UnescoOrealc ndash Cuenca Equador) que recomendava a eliminaccedilatildeo de barreiras

fiacutesicas e a participaccedilatildeo de pessoas ldquodeficientesrdquo na tomada de decisotildees a seu respeito e a

Declaraccedilatildeo de Sunderberg como resultado da Conferecircncia Mundial sobre as Accedilotildees e

Estrateacutegias para a Educaccedilatildeo Prevenccedilatildeo e Integraccedilatildeo dos Impedidos (Unesco ndash

Torremolinos Espanha) cujo tema principal era a equiparaccedilatildeo de oportunidades das

pessoas ldquodeficientesrdquo agrave Educaccedilatildeo formaccedilatildeo cultura e informaccedilatildeo (Carvalho 2002)

A deacutecada de 1980 marcou o Brasil pois deu iniacutecio ao debate mais acirrado para

estimular o cumprimento dos direitos das pessoas ldquodeficientesrdquo agrave Educaccedilatildeo agrave sauacutede e ao

trabalho Em 1981 comemorou-se em todo o mundo o Ano Internacional das Pessoas

Deficientes proclamado pela Assembleia Geral das Naccedilotildees Unidas5 cujo lema foi

participaccedilatildeo plena e igualdade em que a ONU oficializou o embriatildeo do conceito de

sociedade inclusiva Partindo da ideia de que as pessoas ldquodeficientesrdquo formam parte da

sociedade e natildeo satildeo uma sociedade agrave parte o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Cultura (MEC) do

Brasil em consonacircncia com a citada resoluccedilatildeo da ONU traccedilou as seguintes accedilotildees a curto

meacutedio e longo prazo para a oferta do AEE em territoacuterio nacional

I ndash Curto Prazo 1) Estabelecer modelos para serviccedilos de atendimento educacional

2) Organizar seminaacuterios e congressos a niacutevel nacional sobre Educaccedilatildeo Especial

3) Fomentar o desenvolvimento de recursos humanos em Educaccedilatildeo Especial a niacutevel

de 2ordm Grau 4) Sensibilizar os Conselhos de Educaccedilatildeo ordm(Estaduais e Federal) para os

5 ldquoEm sua trigeacutesima sessatildeo de 16 de dezembro de 1976 a Assembleia Geral das Naccedilotildees Unidas pela Resoluccedilatildeo nordm 31123 proclamou oficialmente o ano de 1981 como o Ano Internacional das Pessoas Deficientesrdquo (ONU 1981 p 6)

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problemas da Educaccedilatildeo Especial 5) Assessorar a Secom sobre a publicaccedilatildeo de

material informativo sobre multiplicidade de accedilotildees impliacutecitas na Educaccedilatildeo Especial

6) Promover o levantamento de todo o material bibliograacutefico sobre Educaccedilatildeo Especial

7) Ampliar e reestruturar o atendimento preacute-escolar do Instituto Nacional de Educaccedilatildeo

de Surdos ndash Ines ndash e do Instituto Benjamin Constant ndash IBC ndash visando transformaacute-los

em serviccedilos-modelo 8) Aperfeiccediloar e ampliar programa de bolsa de trabalho para

educandos deficientes 9) Publicar documentos relativos agrave Educaccedilatildeo Especial

elaborados pelo Cenesp 10) Aperfeiccediloar e ampliar o projeto de Assistecircncia Teacutecnica agraves

Secretarias Estaduais de Educaccedilatildeo II ndash Meacutedio Prazo 1) Estimular a formaccedilatildeo de

teacutecnicos especializados a niacutevel de 3ordm Grau 2) Elaborar o II Plano Nacional de

Educaccedilatildeo Especial 3) Normalizaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fiacutesica para deficientes 4) Efetuar

estudos sobre estatiacutestica da Educaccedilatildeo Especial 5) Implementar a modernizaccedilatildeo da

Imprensa Braille III ndash Longo Prazo 1) Estimular nos Estados e Municiacutepios a criaccedilatildeo

de serviccedilos de atendimento educacional que objetivem a integraccedilatildeo e a normalizaccedilatildeo

2) Criar centros de produccedilatildeo de material psicopedagoacutegico 3) Elaborar o I Plano

Nacional Integrado de Assistecircncia ao Excepcional e 4) Estimular a Educaccedilatildeo Especial

de deficientes adultos (ONU 1981 pp 14-15)

Uma importante consequecircncia do Ano Internacional das Pessoas Deficientes (1981) foi

a aprovaccedilatildeo do Programa Mundial de Accedilatildeo relativo agraves Pessoas com Deficiecircncia pela

Assembleia Geral da ONU por meio da Resoluccedilatildeo nordm 3752 de 3 de dezembro de 1982

Prontamente o Ano Internacional e o Programa Mundial de Accedilatildeo contribuiacuteram para um forte

desenvolvimento nesse domiacutenio por intermeacutedio da criaccedilatildeo da Deacutecada das Naccedilotildees Unidas

para as Pessoas com Deficiecircncia (1983-1992) que visava garantir agraves pessoas com

deficiecircncia o exerciacutecio dos seus direitos fundamentais e a sua participaccedilatildeo plena na

sociedade (ONU 1993) Ambos salientavam o direito das pessoas ldquodeficientesrdquo agraves mesmas

oportunidades de que gozavam os demais cidadatildeos visando a todos melhores condiccedilotildees de

vida resultantes do desenvolvimento econocircmico e social de suas comunidades (Unesco

1990)

Aspirando a enfrentar esse desafio mundial e a construir projetos capazes de superar

os processos histoacutericos de exclusatildeo escolar dessas pessoas com base na responsabilidade

comum e universal de todos os povos a Unesco estabeleceu a Conferecircncia Mundial de

Educaccedilatildeo para Todos realizada em Jomtien na Tailacircndia no periacuteodo de 5 a 9 de marccedilo de

1990 Esse evento implicou a solidariedade internacional dos organismos e instituiccedilotildees

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intergovernamentais a fim de satisfazer as necessidades baacutesicas de aprendizagem de seus

cidadatildeos haja vista os altos iacutendices de crianccedilas adolescentes e jovens sem escolarizaccedilatildeo

Somente assim seria possiacutevel promover as transformaccedilotildees nos sistemas de ensino para

assegurar o acesso e a permanecircncia de todos na escola (Unesco 1990)

Os principais referenciais da Declaraccedilatildeo de Jomtien (1990)6 publicados no ano

seguinte pelo Unicef enfatizavam a urgecircncia de uma Educaccedilatildeo de qualidade para todos ao

constituiacuterem a agenda de discussatildeo das poliacuteticas educacionais reforccedilando a necessidade

de elaboraccedilatildeo e a implementaccedilatildeo de accedilotildees voltadas para a universalizaccedilatildeo do acesso agrave

escola a promoccedilatildeo da equidade no acircmbito do ensino fundamental meacutedio e superior a

oferta da Educaccedilatildeo Infantil nas redes puacuteblicas de ensino a estruturaccedilatildeo do atendimento agraves

demandas de alfabetizaccedilatildeo e da modalidade de Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos e a

construccedilatildeo da gestatildeo democraacutetica da escola Sob a perspectiva inclusiva a referida

declaraccedilatildeo nos itens 4 e 5 do artigo 3ordm instituiu que

4 Um compromisso efetivo para superar as disparidades educacionais deve ser

assumido Os grupos excluiacutedos ndash os pobres os meninos e meninas de rua ou

trabalhadores as populaccedilotildees das periferias urbanas e zonas rurais os nocircmades e os

trabalhadores migrantes os povos indiacutegenas as minorias eacutetnicas raciais e linguumliacutesticas

[sic] os refugiados os deslocados pela guerra e os povos submetidos a um regime de

ocupaccedilatildeo ndash natildeo devem sofrer qualquer tipo de discriminaccedilatildeo no acesso agraves

oportunidades educacionais 5 As necessidades baacutesicas de aprendizagem das

pessoas portadoras de deficiecircncias requerem atenccedilatildeo especial Eacute preciso tomar

medidas que garantam a igualdade de acesso agrave educaccedilatildeo aos portadores de todo e

qualquer tipo de deficiecircncia como parte integrante do sistema educativo (Unesco

1990 p 4)

Vale lembrar que as diversas declaraccedilotildees da ONU culminaram em 1993 na publicaccedilatildeo

das Normas sobre a Igualdade de Oportunidades7 para as Pessoas com Deficiecircncia por meio

de resoluccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas adotada pela Assembleia Geral no dia 20 de dezembro de

1993 As normas exortavam os Estados dentre eles o Brasil a assumirem um compromisso

eacutetico e poliacutetico com vistas a operacionalizar dentre outros direitos o acesso ao sistema

6 No Brasil o MEC divulgou o Plano Decenal de Educaccedilatildeo para Todos para o periacuteodo de 1993 a 2003 elaborado em cumprimento agraves resoluccedilotildees da Declaraccedilatildeo de Jomtien (1990)

7 ldquoO termo lsquoigualdade de oportunidadesrsquo significa o processo pelo qual os diversos sistemas da sociedade e o meio envolvente tais como serviccedilos atividades informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo se [sic] tornam acessiacuteveis a todos e em especial agraves pessoas com deficiecircnciardquo (ONU 1993 p 16)

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regular de ensino agraves pessoas com deficiecircncia em igualdade de oportunidades com as demais

pessoas independentemente da natureza e gravidade da sua deficiecircncia tendo como

estrateacutegias complementares as escolas especiais (ONU 1993)

Por conseguinte a tendecircncia dos organismos internacionais atrelados ao

desenvolvimento da Educaccedilatildeo em seus paiacuteses-membros notadamente aqueles ligados agrave

ONU durante as deacutecadas de 1980 e 1990 tinha sido a de promover integraccedilatildeo e

participaccedilatildeo aleacutem de combater a exclusatildeo dos grupos socialmente marginalizados como

era o caso das pessoas ldquodeficientesrdquo O paradigma da inclusatildeo surgiu mais enfaticamente

com a Declaraccedilatildeo de Jomtien (1990) no contexto do movimento poliacutetico mundial para o

fomento de uma agenda internacional em prol do alcance das metas do direito agrave Educaccedilatildeo

das pessoas com deficiecircncia nos sistemas regulares de ensino Seu aacutepice no entanto

ocorreu com a produccedilatildeo de um documento publicado pelo Governo da Espanha em parceria

com a Unesco entre os dias 7 e 10 de junho de 1994 denominado Declaraccedilatildeo de

Salamanca sobre os princiacutepios a poliacutetica e as praacuteticas na aacuterea das necessidades educativas

especiais8 como resultado da Conferecircncia Mundial de Necessidades Educativas Especiais

Acesso e Qualidade

Tal Declaraccedilatildeo teve a finalidade de promover o objetivo da Educaccedilatildeo para Todos ou

seja da Educaccedilatildeo Especial sob a perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva examinando as

mudanccedilas fundamentais das poliacuteticas puacuteblicas educacionais necessaacuterias para desenvolver

tal abordagem nomeadamente qualificando as escolas regulares para atender a todas as

crianccedilas sobretudo as que tecircm necessidades educativas especiais de modo que os

governos com apoio das organizaccedilotildees internacionais pudessem conceder maior prioridade

ao desenvolvimento de seus respectivos Sistemas Nacionais de Educaccedilatildeo sob a

perspectiva inclusiva atraveacutes de medidas poliacuteticas e orccedilamentaacuterias compatiacuteveis com esse

imperativo eacutetico (Unesco 1994)

A partir dessa reflexatildeo acerca das praacuteticas educacionais especiais da qual resultaram

a compreensatildeo de equiparaccedilatildeo de oportunidades de diversos grupos sociais (crianccedilas com

deficiecircncia e crianccedilas bem dotadas crianccedilas que vivem nas ruas e que trabalham crianccedilas

de populaccedilotildees distantes ou nocircmades crianccedilas de minorias linguiacutesticas eacutetnicas ou culturais e

crianccedilas de outros grupos e zonas desfavorecidas ou marginalizadas) a Declaraccedilatildeo de

Salamanca e Linha de Accedilatildeo sobre Necessidades Educativas Especiais proclamou que as

8 A expressatildeo ldquonecessidades educativas especiaisrdquo no citado documento refere-se a todas as crianccedilas e jovens cujas carecircncias se relacionam com deficiecircncias ou dificuldades escolares incluindo nesse escopo as pessoas com deficiecircncia e as superdotadas (UNESCO 1994)

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escolas comuns representavam o meio mais eficaz para combater as atitudes

discriminatoacuterias ressaltando que o princiacutepio fundamental dessa linha de accedilatildeo seria o de que

as escolas inclusivas deveriam acolher todas as crianccedilas independentemente de suas

condiccedilotildees fiacutesicas intelectuais sociais emocionais linguiacutesticas ou outras (Unesco 1994)

Na esteira de construccedilatildeo de uma agenda internacional em torno da promoccedilatildeo de uma

Educaccedilatildeo para Todos em particular para aquelas com necessidades educacionais

especiais capazes de gerar diversos instrumentos e recomendaccedilotildees internacionais

passiacuteveis de serem incorporados ao sistema juriacutedico dos paiacuteses-membros de organismos

internacionais ligados ao fomento da Educaccedilatildeo tornando-os internamente obrigatoacuterios

surgiram outros movimentos sociais em torno da proposta da inclusatildeo escolar como a

Declaraccedilatildeo de Cartagena de Iacutendias as Poliacuteticas Integrais para Pessoas com Deficiecircncias na

Regiatildeo Ibero-Americana na Colocircmbia em 1992 a Conferecircncia Hemisfeacuterica de Pessoas com

Deficiecircncias em WashingtonEUA em 1993 a 5ordf Reuniatildeo do Comitecirc Regional

Intergovernamental do Projeto Principal de Educaccedilatildeo na Ameacuterica Latina e Caribe que

resultou na Declaraccedilatildeo de Santiago realizada no Chile em 1993 a 1ordf Reuniatildeo dos

Participantes da Conferecircncia de Ministros responsaacuteveis pela situaccedilatildeo da pessoa com

deficiecircncia ocorrida em MontrealCanadaacute em 1994 e a publicaccedilatildeo das normas uniformes

sobre a igualdade de oportunidades para pessoas com deficiecircncia aprovadas pela

Assembleia Geral nordm 4896 de 20 de dezembro de 1993 da ONU

Por fim a construccedilatildeo do cenaacuterio internacional da Educaccedilatildeo Especial sob o aspecto

filosoacutefico-ideoloacutegico da inclusatildeo na deacutecada de 1990 culminou com a Convenccedilatildeo

Interamericana para a Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Pessoas

Portadoras de Deficiecircncia9 mais conhecida como Convenccedilatildeo da Guatemala aprovada pelo

Conselho Permanente da OEA na sessatildeo realizada em 26 de maio de 1999 no paiacutes da

Ameacuterica Central supracitado promulgada no Brasil pelo Decreto nordm 39562001 Esse

documento que ainda utilizava a expressatildeo ldquoportador de deficiecircnciardquo afirmava que os

Estados-Partes deveriam se comprometer a tomar as medidas de caraacuteter legislativo social

educacional trabalhista ou de qualquer outra natureza que fossem necessaacuterias para

eliminar a discriminaccedilatildeo contra as pessoas ldquoportadoras de deficiecircnciardquo e proporcionar a sua

plena ldquointegraccedilatildeordquo agrave sociedade

9 ldquo[] o termo lsquodiscriminaccedilatildeo contra as pessoas portadoras de deficiecircnciarsquo significa toda diferenciaccedilatildeo exclusatildeo ou restriccedilatildeo baseada em deficiecircncia antecedente de deficiecircncia consequumlecircncia [sic] de deficiecircncia anterior ou percepccedilatildeo de deficiecircncia presente ou passada que tenha o efeito ou propoacutesito de impedir ou anular o reconhecimento gozo ou exerciacutecio por parte das pessoas portadoras de deficiecircncia de seus direitos humanos e suas liberdades fundamentaisrdquo (OEA 1999 p 3)

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Tendo em vista o protagonismo das agecircncias e organizaccedilotildees intergovernamentais no

panorama mundial como a ONU e suas agecircncias especializadas (Unesco Unicef e BM) e no

cenaacuterio regional como a OEA na busca pela cooperaccedilatildeo internacional a fim de promover e

estimular entre seus paiacuteses-membros o respeito aos direitos humanos e agraves liberdades

fundamentais para todos especialmente entre os grupos minoritaacuterios como no caso da

melhoria das condiccedilotildees de vida para pessoas com deficiecircncia verificou-se que o percurso

histoacuterico poliacutetico e filosoacutefico da Educaccedilatildeo Especial nos anos 1990 culminou no paradigma

inclusivo de garantia da equiparaccedilatildeo de oportunidades direitos e deveres de seu puacuteblico-alvo

no interior do sistema regular de ensino (Peroni 2003)

Em pleno anos 2000 a ONU continuou a fixar padrotildees a trabalhar para tecer

consensos universais e a manter-se como um foacuterum central disseminador para a

comunidade internacional de princiacutepios e orientaccedilotildees gerais para a Educaccedilatildeo atraveacutes de

sua agecircncia especializada da Unesco Ademais seguiu lanccedilando as diretrizes sobre os

caminhos da Educaccedilatildeo Especial atraveacutes de declaraccedilotildees e recomendaccedilotildees acordadas para a

construccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas educacionais inclusivas ao redor do mundo Dessa forma

entre os dias 26 e 28 de abril de 2000 em Dakar Senegal 164 paiacuteses reuniram-se no

Foacuterum Consultivo Internacional para a Educaccedilatildeo para Todos criado em 1991 e composto

por representantes da Unesco Unicef e BM contando com agecircncias bilaterais governos e

sociedade civil para avaliar os progressos globais alcanccedilados desde a Conferecircncia Mundial

de Educaccedilatildeo para Todos realizada dez anos antes em Jomtien Tailacircndia e para aprovar

novo marco de accedilatildeo para a universalizaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Baacutesica (Unesco 2001)

Em 13 de dezembro de 2006 em sessatildeo solene da Assembleia Geral da ONU foi

aprovado o texto final da Convenccedilatildeo sobre os Direitos das Pessoas com Deficiecircncia10

firmado pelo Brasil e por mais 85 naccedilotildees signataacuterias em 30 de marccedilo de 2007 Esse tratado

internacional no que diz respeito ao direito agrave Educaccedilatildeo aos deficientes estabelece que os

Estados-Partes devem assegurar um sistema de Educaccedilatildeo Inclusiva em todos os niacuteveis de

ensino bem como o aprendizado ao longo da vida Em seu artigo 24 determina que as

pessoas com deficiecircncia natildeo sejam excluiacutedas do sistema educacional geral e que as

crianccedilas com deficiecircncia natildeo sejam excluiacutedas do ensino fundamental gratuito e compulsoacuterio

estabelece tambeacutem que elas tenham acesso ao ensino meacutedio e superior inclusivo de

10 Nesse texto a ONU reconhece que ldquo[] a deficiecircncia eacute um conceito em evoluccedilatildeo e que a deficiecircncia resulta da interaccedilatildeo entre pessoas com deficiecircncia e as barreiras atitudinais e ambientais que impedem sua plena e efetiva participaccedilatildeo na sociedade em igualdade de oportunidades com as demais pessoasrdquo (ONU 2012 p 22)

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qualidade e gratuito em igualdade de condiccedilotildees com as demais pessoas na comunidade em

que vivem (ONU 2012)

Ainda no panorama internacional a Unesco lanccedila em 2009 uma coletacircnea intitulada

Orientaccedilotildees Poliacuteticas sobre Inclusatildeo na Educaccedilatildeo a fim de ampliar a compreensatildeo das

questotildees atinentes agraves poliacuteticas e agraves praacuteticas pedagoacutegicas que visam garantir a inclusatildeo

educacional e social Os dados apresentados e as anaacutelises feitas suscitaram

questionamentos e posicionamentos em relaccedilatildeo agraves condiccedilotildees de acesso e de atendimento

nas redes de ensino e possibilitaram o aprofundamento do debate sobre as accedilotildees do poder

puacuteblico e da sociedade com vistas a assegurar o direito de todas as pessoas agrave Educaccedilatildeo

Escolar de Qualidade (No cenaacuterio regional da Ameacuterica Latina e do Caribe houve em 2009

a Campanha Latino-Americana pelo Direito agrave Educaccedilatildeo a fim de promover o

desenvolvimento de pesquisas interdisciplinares para subsidiar a formulaccedilatildeo de poliacuteticas

puacuteblicas intersetoriais que atendessem agraves especificidades educacionais de estudantes com

deficiecircncia transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotaccedilatildeo que

requeiram medidas de atendimento especializado Jaacute na Uniatildeo Europeia a Agecircncia

Europeia para o Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Especial recomendou tambeacutem em 2009

para decisoacuterios poliacuteticos princiacutepios baacutesicos para a Promoccedilatildeo da Qualidade na Educaccedilatildeo

Inclusiva Faacutevero Ferreira Ireland e Barreiros 2009)

A influecircncia histoacuterica direta ou indireta das agecircncias internacionais no direcionamento

das poliacuteticas puacuteblicas dentre elas a Educaccedilatildeo Especial situada no acircmbito geral das

diretrizes da Educaccedilatildeo como um direito de todos e dever do Estado implica o entendimento

de que os fundamentos ideoloacutegicos que datildeo sustentaccedilatildeo agraves poliacuteticas educacionais na aacuterea

de conhecimento da Educaccedilatildeo Especial adotadas pelos governos brasileiros certamente natildeo

foram gerados exclusivamente em acircmbito nacional mas ao contraacuterio em acircmbito

internacional vinculados agraves declaraccedilotildees e recomendaccedilotildees construiacutedas em foros de

abrangecircncia mundial e regional Em consequecircncia torna-se obrigatoacuterio considerar que a

atuaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas teve papel preponderante para a internacionalizaccedilatildeo do

discurso da Educaccedilatildeo Especial na perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva nos anos 1990 e 2000

notadamente pelo trabalho teacutecnico-poliacutetico da Unesco

Na perspectiva da citada agecircncia intergovernamental atuar nessa agenda de

cooperaccedilatildeo internacional e nacional com os Estados-Partes na formulaccedilatildeo de poliacuteticas e

estrateacutegias destinadas ao melhoramento dos sistemas de ensino ldquo[] significa avanccedilar para

uma sociedade educacional onde cada pessoa aprenda durante toda a vida e seja fonte de

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aprendizagem para os demaisrdquo (Unesco 1998 p 11) afinal a ldquo[] educaccedilatildeo desempenha

um papel chave neste processo tendo em vista o seu valor econocircmico e socialrdquo (Unesco

2004 p 33)

Essa compreensatildeo conduz o debate sobre os rumos da Educaccedilatildeo Especial no Brail

tornando-se fundamental para a construccedilatildeo de poliacuteticas de formaccedilatildeo docente financiamento

e gestatildeo escolar necessaacuterias para a transformaccedilatildeo da estrutura educacional a fim de

assegurar as condiccedilotildees de acesso participaccedilatildeo e aprendizagem de todos os estudantes

concebendo a escola como um espaccedilo que reconhece e valoriza as diferenccedilas

Logo o respeito agrave diversidade efetivado no respeito agraves diferenccedilas impulsiona accedilotildees

de cidadania voltadas ao reconhecimento de sujeitos de direitos simplesmente por serem

seres humanos Suas especificidades natildeo devem ser elemento para a construccedilatildeo de

desigualdades discriminaccedilotildees ou exclusotildees mas sim devem pautar as poliacuteticas afirmativas

de respeito agrave diversidade voltadas para a construccedilatildeo de contextos sociais inclusivos cujo

aspecto filosoacutefico-ideoloacutegico se assenta na equiparaccedilatildeo de oportunidades direitos e

deveres em que todas as pessoas teriam condiccedilotildees de vida e chance de realizar seus

projetos como parte do exerciacutecio de sua cidadania e em respeito agrave sua identidade

3 Consideraccedilotildees finais

Esta pesquisa foi instigada pela reflexatildeo que questionava como foi se constituindo a

compreensatildeo de Educaccedilatildeo Inclusiva ao longo dos tempos no Brasil considerando a

influecircncia ideoloacutegica dos documentos legais produzidos pelos organismos internacionais ndash

ONU Unesco OEA Unicef e BM ndash a partir das primeiras deacutecadas do seacuteculo XX Tal

inquietaccedilatildeo acadecircmica fez emergir o interesse em compreender a Histoacuteria da Educaccedilatildeo

Inclusiva em especial no que concerne agrave escolarizaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncia

defendida em acordos e discussotildees internacionais O objetivo com efeito foi desenvolver

um histoacuterico a respeito das poliacuteticas puacuteblicas internacionais de Educaccedilatildeo Especial com

ecircnfase nas mudanccedilas paradigmaacuteticas emergentes cronologicamente no Brasil

Realizou-se uma pesquisa documental nos textos internacionais produzidos sobre os

debates acerca da Educaccedilatildeo Inclusiva em especial para as pessoas com deficiecircncia dentre

os quais destacam-se Convenccedilatildeo Interamericana para a Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas

de Discriminaccedilatildeo contra as Pessoas Portadoras de Deficiecircncia Declaraccedilatildeo Universal dos

Direitos Humanos A Unesco e a Educaccedilatildeo na Ameacuterica Latina e Caribe (1987-1997)

Educaccedilatildeo para Todos o Compromisso de Dakar A Unesco no Brasil Consolidando

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Compromissos Conferecircncia Mundial de Necessidades Educativas Especiais Acesso e

Qualidade Os resultados permitiram desenvolver uma cronologia histoacuterica a qual

possibilitou afirmar que os seacuteculos XVIII e XIX foram marcados pela segregaccedilatildeo

homogeneizante das pessoas com deficiecircncia em escolas especiais com edificaccedilatildeo

especiacutefica que separavam os ditos estudantes ldquonormaisrdquo dos alunos que possuiacuteam algum

tipo de limitaccedilatildeo periacuteodo em que os debates sobre inclusatildeo natildeo possuiacuteam ecircnfase no

cenaacuterio internacional A partir das primeiras deacutecadas do seacuteculo XX os debates internacionais

a respeito da escolarizaccedilatildeo dos entatildeo denominados discentes ldquoespeciaisrdquo foram se

alargando emergiram em congruecircncia as classes especiais no interior das escolas

regulares Posteriormente na segunda metade do seacuteculo XX os debates internacionais

comeccedilaram a sinalizar a superaccedilatildeo de qualquer forma de segregaccedilatildeo e a impulsionar a

ideologia atualmente defendida de igualdade e inclusatildeo social com respeito agraves diferenccedilas

Ao fazer um balanccedilo histoacuterico sobre as poliacuteticas puacuteblicas de Educaccedilatildeo Especial no

cenaacuterio internacional percebeu-se a ausecircncia de documentos especiacuteficos nos seacuteculos XVIII

XIX e iniacutecio do XX Somente ao longo dos seacuteculos XX e XXI especialmente nas deacutecadas

que seguem 1970 averiguou-se que a atuaccedilatildeo das agecircncias especializadas da ONU em

parceria com outras agecircncias internacionais governos organizaccedilotildees natildeo governamentais e

sociedades civis contribuiu de maneira importante para a transiccedilatildeo do discurso educacional

da integraccedilatildeo instrucional para a constituiccedilatildeo de saberes e praacuteticas da Educaccedilatildeo Especial

sob a oacutetica inclusiva ao desempenhar um fundamental papel como foro permanente de

debate educacional e busca de soluccedilotildees contribuindo para a consolidaccedilatildeo de uma agenda

educacional e para a promoccedilatildeo da cooperaccedilatildeo internacional e horizontal com o objetivo de

apoiar os processos de mudanccedila das condiccedilotildees de vida das pessoas com deficiecircncia dentre

elas a inclusatildeo dessas pessoas nos espaccedilos regulares de ensino em equiparaccedilatildeo de

oportunidades direitos e deveres com relaccedilatildeo aos seus pares sem deficiecircncia

A proposta global das Naccedilotildees Unidas visava agrave promoccedilatildeo de uma Educaccedilatildeo para todos

ao longo de toda a vida notadamente para grupos historicamente excluiacutedos como o das

pessoas com deficiecircncia Para tanto durante toda a deacutecada de 1990 houve uma expansatildeo

de acordos internacionais e uma redescoberta da Educaccedilatildeo Especial como campo feacutertil de

investimentos Ocorreu a definiccedilatildeo de uma agenda internacional para a Educaccedilatildeo Especial

materializada em diferentes eventos tais como a Conferecircncia Mundial sobre Educaccedilatildeo para

Todos (1990) a Declaraccedilatildeo de Salamanca (1994) a Convenccedilatildeo da Guatemala (1999) o

Compromisso de Dakar (2000) e a Convenccedilatildeo sobre os Direitos das Pessoas com

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Deficiecircncia (2006) que trataram de pautas de interesses ordinaacuterios agrave comunidade

internacional sobre o tema da Educaccedilatildeo Especial em uma perspectiva de Educaccedilatildeo

Inclusiva

Essas declaraccedilotildees e recomendaccedilotildees resultantes das diferentes cuacutepulas conferecircncias

e eventos regionais e internacionais foram importantes para a construccedilatildeo de consensos em

torno das principais ideias e propostas sobre Educaccedilatildeo Especial nas deacutecadas de 1980 1990

e 2000 ou seja da transiccedilatildeo do modelo integracionista para o inclusivo Nesses eventos ao

se constituiacuterem em foacuteruns gerais propalava-se a necessidade de reformas educativas

nacionais acompanhadas de mudanccedilas no financiamento transformaccedilatildeo curricular e gestatildeo

educacional em torno de sistemas educacionais inclusivos perseguidos tambeacutem no iniacutecio do

seacuteculo XXI que influenciaram a mudanccedila de paradigma acerca do atendimento agrave pessoa

com deficiecircncia no Brasil

No paradigma da inclusatildeo impulsionaram-se projetos de mudanccedilas nas poliacuteticas

puacuteblicas brasileiras ao conceber-se que todos se beneficiam quando as escolas promovem

respostas agraves diferenccedilas individuais dos estudantes Logo a Educaccedilatildeo Especial que surgiu

no campo da Pedagogia como uma aacuterea de conhecimento que se ocupava exclusivamente

do processo de escolarizaccedilatildeo pela via da homogeneizaccedilatildeo dos alunos ldquoexcepcionaisrdquo em

espaccedilos escolares ditos ldquoespeciaisrdquo que orbitavam agrave margem do sistema de ensino puacuteblico e

gratuito passou a integrar os tempos e espaccedilos das escolas regulares mas ficando a

participaccedilatildeo circunscrita agraves ldquoclasses especiaisrdquo e ainda sendo modalidade substitutiva e

normalizadora do processo de escolarizaccedilatildeo dos discentes ldquoportadores de necessidades

especiaisrdquo Atualmente sob a perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva o Brasil tem como

imperativo eacutetico normativo e intelectual ampliar a participaccedilatildeo de todos os estudantes nos

estabelecimentos de ensino regular especialmente daqueles grupos sociais historicamente

excluiacutedos da escola como as pessoas com deficiecircncia atraveacutes de uma abordagem

humaniacutestica e democraacutetica que perceba o sujeito e suas singularidades tendo como

objetivos o crescimento a satisfaccedilatildeo pessoal e a inserccedilatildeo social de todos

4 Referecircncias

Brasil Poder Executivo (2001) Promulga a Convenccedilatildeo Interamericana para a Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Pessoas Portadoras de Deficiecircncia Decreto nordm 3956 Brasil Diaacuterio Oficial [da] Repuacuteblica Federativa do Brasil

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Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (1990)

Conferecircncia Mundial de Educaccedilatildeo para Todos Declaraccedilatildeo Mundial de Educaccedilatildeo para Todos Plano de Accedilatildeo para Satisfazer as Necessidades Baacutesicas de Aprendizagem Brasiacutelia Unicef

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (1994)

Conferecircncia Mundial de Necessidades Educativas Especiais Acesso e Qualidade Declaraccedilatildeo de Salamanca sobre os Princiacutepios a Poliacutetica e as Praacuteticas na Aacuterea das Necessidades Educativas Especiais Salamanca Unesco

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (1998)

A Unesco e a Educaccedilatildeo na Ameacuterica Latina e Caribe (1987-1997) Chile Unesco

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Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (2001) Educaccedilatildeo para Todos o Compromisso de Dakar Brasiacutelia Consed

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A Unesco no Brasil consolidando compromissos Brasiacutelia Unesco Organizaccedilatildeo dos Estados Americanos (OEA) (1999) Convenccedilatildeo Interamericana para a

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Deficiecircncia 2)Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos 3)A Unesco e a Educaccedilatildeo na

Ameacuterica Latina e Caribe 4)Educaccedilatildeo para Todos o compromisso de Dakar 5)A Unesco no

Brasil consolidando compromissos 6)Conferecircncia Mundial de Necessidades Educativas

Especiais Acesso e Qualidade ndash permitiu inferir que sob a era da inclusatildeo no paradigma

veiculado pelos documentos oficiais internacionais a deficiecircncia passa a ser tratada

internacionalmente na perspectiva da abordagem dos direitos humanos ou seja como uma

patologia social produzida em consequecircncia da organizaccedilatildeo social e da relaccedilatildeo entre o

indiviacuteduo e a sociedade cuja responsabilidade sobre essas pessoas singulares seria por

meio da reconstruccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas de Educaccedilatildeo Especial entendidas como accedilotildees

afirmativas em defesa da diferenccedila e da diversidade humana visando agrave superaccedilatildeo dessas

mesmas desigualdades e injusticcedilas atraveacutes da eliminaccedilatildeo de praacuteticas pedagoacutegicas

discriminatoacuterias e excludentes (Sassaki 2005) Nessa vertente prima-se pela oferta de um

atendimento educacional especializado de modo complementar ou suplementar ao processo

de escolarizaccedilatildeo desses alunos sendo ambos os serviccedilos disponibilizados no espaccedilo

comum da escola regular

Logo a partir da deacutecada de 1990 o movimento educacional internacional pela

inclusatildeo que preconizava que todas as pessoas deveriam estar inseridas nos mesmos

espaccedilos e tempos escolares passou a integrar a pauta obrigatoacuteria na escola no Brasil

enfatizando-se especialmente o tema sobre as mais eficientes formas de atendimento

educacional especializado e sobre a escolarizaccedilatildeo dos alunos puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo

Especial no sistema regular de ensino Com efeito passa-se a discutir a garantia do direito agrave

Educaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncia transtorno global do desenvolvimento e com altas

habilidadessuperdotaccedilatildeo segundo os marcos legais poliacuteticos e pedagoacutegicos promulgados

por organismos internacionais como a ONU

Dentro desse processo de evoluccedilatildeo histoacuterica das poliacuteticas puacuteblicas no cenaacuterio

brasileiro a modalidade de ensino da Educaccedilatildeo Especial passou sob o verniz eacutetico-poliacutetico

da Educaccedilatildeo Inclusiva a garantir o acesso a permanecircncia a participaccedilatildeo e o

desenvolvimento acadecircmico e social dos estudantes puacuteblico-alvo do Atendimento

Educacional Especializado (AEE) na escola comum a partir da tentativa de eliminaccedilatildeo das

barreiras pedagoacutegicas arquitetocircnicas comunicacionais e atitudinais Afinal os documentos

internacionais defendem que natildeo eacute o limite individual que determina a deficiecircncia mas sim

as barreiras existentes nos espaccedilos no meio fiacutesico no transporte na informaccedilatildeo na

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comunicaccedilatildeo e nos serviccedilos A escola nessa vertente deve tornar-se um espaccedilo acolhedor

das diferenccedilas

A elaboraccedilatildeo dos direitos que asseguram a participaccedilatildeo de todos e a efetivaccedilatildeo de

uma sociedade inclusiva fica patente a partir de 10 de dezembro de 1948 quando da

elaboraccedilatildeo da Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos pela Assembleia Geral das

Naccedilotildees Unidas que se fundamenta no reconhecimento da dignidade de todas as pessoas e

na universalidade e indivisibilidade desses direitos e portanto no valor da diversidade

humana que se impotildee como condiccedilatildeo para o alcance de tal reconhecimento ao explicitar a

pessoa como sujeito de direito respeitado em suas peculiaridades e particularidades Como

garantia do direito agrave Educaccedilatildeo a citada declaraccedilatildeo internacional normatiza

Art 26 1 Todo ser humano tem direito agrave instruccedilatildeo A instruccedilatildeo seraacute gratuita pelo

menos nos graus elementares e fundamentais A instruccedilatildeo elementar seraacute obrigatoacuteria

A instruccedilatildeo teacutecnico-profissional seraacute acessiacutevel a todos bem como a instruccedilatildeo superior

estaacute baseada no meacuterito 2 A instruccedilatildeo seraacute orientada no sentido do pleno

desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos

direitos humanos e pelas liberdades fundamentais A instruccedilatildeo promoveraacute a

compreensatildeo a toleracircncia e a amizade entre todas as naccedilotildees e grupos raciais ou

religiosos e coadjuvaraacute as atividades das Naccedilotildees Unidas em prol da manutenccedilatildeo da

paz 3 Os pais tecircm prioridade de direito na escolha do gecircnero de instruccedilatildeo que seraacute

ministrada a seus filhos (ONU 1948 p 5)

Tal declaraccedilatildeo parece natildeo gerar mudanccedilas significativas na forma de oferta e

compreensatildeo acerca da educaccedilatildeo inclusiva Quase 30 anos depois dessa primeira

publicaccedilatildeo em 9 de dezembro de 1975 a ONU (1975 p 2) abordou especificamente a

temaacutetica da inclusatildeo ao lanccedilar a Declaraccedilatildeo dos Direitos das Pessoas Deficientes4 que

assevera

As pessoas deficientes tecircm direito a tratamento meacutedico psicoloacutegico e funcional

incluindo-se aiacute aparelhos proteacuteticos e ortoacuteticos agrave reabilitaccedilatildeo meacutedica e social

educaccedilatildeo treinamento vocacional e reabilitaccedilatildeo assistecircncia aconselhamento

serviccedilos de colocaccedilatildeo e outros serviccedilos que lhes possibilitem o maacuteximo

4 ldquoO termo lsquopessoas deficientesrsquo refere-se a qualquer pessoa incapaz de assegurar por si mesma total ou parcialmente as necessidades de uma vida individual ou social normal em decorrecircncia de uma deficiecircncia congecircnita ou natildeo em suas capacidades fiacutesicas ou mentaisrdquo (ONU 1975 p 1)

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desenvolvimento de sua capacidade e habilidades e que acelerem o processo de sua

integraccedilatildeo social

A partir da deacutecada de 1980 o Brasil paiacutes signataacuterio impulsionado por debates

internacionais buscou afirmaccedilatildeo do direito agrave Educaccedilatildeo das pessoas puacuteblico-alvo da

Educaccedilatildeo Especial por meio da realizaccedilatildeo de conferecircncias sobre o tema da inclusatildeo escolar

constituiacutedas por organismos nacionais e internacionais de defesa dos direitos humanos

Ademais ratificaram-se algumas declaraccedilotildees sobre as demandas especiacuteficas dessa aacuterea de

conhecimento que precisavam ser legitimadas democraticamente mediante instrumentos

juriacutedicos locais e de princiacutepios aplicaacuteveis a cada paiacutes-membro

No ano de 1981 por exemplo foram promulgados dois documentos relevantes para a

Educaccedilatildeo Especial a saber a Declaraccedilatildeo de Cuenca sobre novas tendecircncias na Educaccedilatildeo

Especial (UnescoOrealc ndash Cuenca Equador) que recomendava a eliminaccedilatildeo de barreiras

fiacutesicas e a participaccedilatildeo de pessoas ldquodeficientesrdquo na tomada de decisotildees a seu respeito e a

Declaraccedilatildeo de Sunderberg como resultado da Conferecircncia Mundial sobre as Accedilotildees e

Estrateacutegias para a Educaccedilatildeo Prevenccedilatildeo e Integraccedilatildeo dos Impedidos (Unesco ndash

Torremolinos Espanha) cujo tema principal era a equiparaccedilatildeo de oportunidades das

pessoas ldquodeficientesrdquo agrave Educaccedilatildeo formaccedilatildeo cultura e informaccedilatildeo (Carvalho 2002)

A deacutecada de 1980 marcou o Brasil pois deu iniacutecio ao debate mais acirrado para

estimular o cumprimento dos direitos das pessoas ldquodeficientesrdquo agrave Educaccedilatildeo agrave sauacutede e ao

trabalho Em 1981 comemorou-se em todo o mundo o Ano Internacional das Pessoas

Deficientes proclamado pela Assembleia Geral das Naccedilotildees Unidas5 cujo lema foi

participaccedilatildeo plena e igualdade em que a ONU oficializou o embriatildeo do conceito de

sociedade inclusiva Partindo da ideia de que as pessoas ldquodeficientesrdquo formam parte da

sociedade e natildeo satildeo uma sociedade agrave parte o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Cultura (MEC) do

Brasil em consonacircncia com a citada resoluccedilatildeo da ONU traccedilou as seguintes accedilotildees a curto

meacutedio e longo prazo para a oferta do AEE em territoacuterio nacional

I ndash Curto Prazo 1) Estabelecer modelos para serviccedilos de atendimento educacional

2) Organizar seminaacuterios e congressos a niacutevel nacional sobre Educaccedilatildeo Especial

3) Fomentar o desenvolvimento de recursos humanos em Educaccedilatildeo Especial a niacutevel

de 2ordm Grau 4) Sensibilizar os Conselhos de Educaccedilatildeo ordm(Estaduais e Federal) para os

5 ldquoEm sua trigeacutesima sessatildeo de 16 de dezembro de 1976 a Assembleia Geral das Naccedilotildees Unidas pela Resoluccedilatildeo nordm 31123 proclamou oficialmente o ano de 1981 como o Ano Internacional das Pessoas Deficientesrdquo (ONU 1981 p 6)

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problemas da Educaccedilatildeo Especial 5) Assessorar a Secom sobre a publicaccedilatildeo de

material informativo sobre multiplicidade de accedilotildees impliacutecitas na Educaccedilatildeo Especial

6) Promover o levantamento de todo o material bibliograacutefico sobre Educaccedilatildeo Especial

7) Ampliar e reestruturar o atendimento preacute-escolar do Instituto Nacional de Educaccedilatildeo

de Surdos ndash Ines ndash e do Instituto Benjamin Constant ndash IBC ndash visando transformaacute-los

em serviccedilos-modelo 8) Aperfeiccediloar e ampliar programa de bolsa de trabalho para

educandos deficientes 9) Publicar documentos relativos agrave Educaccedilatildeo Especial

elaborados pelo Cenesp 10) Aperfeiccediloar e ampliar o projeto de Assistecircncia Teacutecnica agraves

Secretarias Estaduais de Educaccedilatildeo II ndash Meacutedio Prazo 1) Estimular a formaccedilatildeo de

teacutecnicos especializados a niacutevel de 3ordm Grau 2) Elaborar o II Plano Nacional de

Educaccedilatildeo Especial 3) Normalizaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fiacutesica para deficientes 4) Efetuar

estudos sobre estatiacutestica da Educaccedilatildeo Especial 5) Implementar a modernizaccedilatildeo da

Imprensa Braille III ndash Longo Prazo 1) Estimular nos Estados e Municiacutepios a criaccedilatildeo

de serviccedilos de atendimento educacional que objetivem a integraccedilatildeo e a normalizaccedilatildeo

2) Criar centros de produccedilatildeo de material psicopedagoacutegico 3) Elaborar o I Plano

Nacional Integrado de Assistecircncia ao Excepcional e 4) Estimular a Educaccedilatildeo Especial

de deficientes adultos (ONU 1981 pp 14-15)

Uma importante consequecircncia do Ano Internacional das Pessoas Deficientes (1981) foi

a aprovaccedilatildeo do Programa Mundial de Accedilatildeo relativo agraves Pessoas com Deficiecircncia pela

Assembleia Geral da ONU por meio da Resoluccedilatildeo nordm 3752 de 3 de dezembro de 1982

Prontamente o Ano Internacional e o Programa Mundial de Accedilatildeo contribuiacuteram para um forte

desenvolvimento nesse domiacutenio por intermeacutedio da criaccedilatildeo da Deacutecada das Naccedilotildees Unidas

para as Pessoas com Deficiecircncia (1983-1992) que visava garantir agraves pessoas com

deficiecircncia o exerciacutecio dos seus direitos fundamentais e a sua participaccedilatildeo plena na

sociedade (ONU 1993) Ambos salientavam o direito das pessoas ldquodeficientesrdquo agraves mesmas

oportunidades de que gozavam os demais cidadatildeos visando a todos melhores condiccedilotildees de

vida resultantes do desenvolvimento econocircmico e social de suas comunidades (Unesco

1990)

Aspirando a enfrentar esse desafio mundial e a construir projetos capazes de superar

os processos histoacutericos de exclusatildeo escolar dessas pessoas com base na responsabilidade

comum e universal de todos os povos a Unesco estabeleceu a Conferecircncia Mundial de

Educaccedilatildeo para Todos realizada em Jomtien na Tailacircndia no periacuteodo de 5 a 9 de marccedilo de

1990 Esse evento implicou a solidariedade internacional dos organismos e instituiccedilotildees

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intergovernamentais a fim de satisfazer as necessidades baacutesicas de aprendizagem de seus

cidadatildeos haja vista os altos iacutendices de crianccedilas adolescentes e jovens sem escolarizaccedilatildeo

Somente assim seria possiacutevel promover as transformaccedilotildees nos sistemas de ensino para

assegurar o acesso e a permanecircncia de todos na escola (Unesco 1990)

Os principais referenciais da Declaraccedilatildeo de Jomtien (1990)6 publicados no ano

seguinte pelo Unicef enfatizavam a urgecircncia de uma Educaccedilatildeo de qualidade para todos ao

constituiacuterem a agenda de discussatildeo das poliacuteticas educacionais reforccedilando a necessidade

de elaboraccedilatildeo e a implementaccedilatildeo de accedilotildees voltadas para a universalizaccedilatildeo do acesso agrave

escola a promoccedilatildeo da equidade no acircmbito do ensino fundamental meacutedio e superior a

oferta da Educaccedilatildeo Infantil nas redes puacuteblicas de ensino a estruturaccedilatildeo do atendimento agraves

demandas de alfabetizaccedilatildeo e da modalidade de Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos e a

construccedilatildeo da gestatildeo democraacutetica da escola Sob a perspectiva inclusiva a referida

declaraccedilatildeo nos itens 4 e 5 do artigo 3ordm instituiu que

4 Um compromisso efetivo para superar as disparidades educacionais deve ser

assumido Os grupos excluiacutedos ndash os pobres os meninos e meninas de rua ou

trabalhadores as populaccedilotildees das periferias urbanas e zonas rurais os nocircmades e os

trabalhadores migrantes os povos indiacutegenas as minorias eacutetnicas raciais e linguumliacutesticas

[sic] os refugiados os deslocados pela guerra e os povos submetidos a um regime de

ocupaccedilatildeo ndash natildeo devem sofrer qualquer tipo de discriminaccedilatildeo no acesso agraves

oportunidades educacionais 5 As necessidades baacutesicas de aprendizagem das

pessoas portadoras de deficiecircncias requerem atenccedilatildeo especial Eacute preciso tomar

medidas que garantam a igualdade de acesso agrave educaccedilatildeo aos portadores de todo e

qualquer tipo de deficiecircncia como parte integrante do sistema educativo (Unesco

1990 p 4)

Vale lembrar que as diversas declaraccedilotildees da ONU culminaram em 1993 na publicaccedilatildeo

das Normas sobre a Igualdade de Oportunidades7 para as Pessoas com Deficiecircncia por meio

de resoluccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas adotada pela Assembleia Geral no dia 20 de dezembro de

1993 As normas exortavam os Estados dentre eles o Brasil a assumirem um compromisso

eacutetico e poliacutetico com vistas a operacionalizar dentre outros direitos o acesso ao sistema

6 No Brasil o MEC divulgou o Plano Decenal de Educaccedilatildeo para Todos para o periacuteodo de 1993 a 2003 elaborado em cumprimento agraves resoluccedilotildees da Declaraccedilatildeo de Jomtien (1990)

7 ldquoO termo lsquoigualdade de oportunidadesrsquo significa o processo pelo qual os diversos sistemas da sociedade e o meio envolvente tais como serviccedilos atividades informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo se [sic] tornam acessiacuteveis a todos e em especial agraves pessoas com deficiecircnciardquo (ONU 1993 p 16)

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regular de ensino agraves pessoas com deficiecircncia em igualdade de oportunidades com as demais

pessoas independentemente da natureza e gravidade da sua deficiecircncia tendo como

estrateacutegias complementares as escolas especiais (ONU 1993)

Por conseguinte a tendecircncia dos organismos internacionais atrelados ao

desenvolvimento da Educaccedilatildeo em seus paiacuteses-membros notadamente aqueles ligados agrave

ONU durante as deacutecadas de 1980 e 1990 tinha sido a de promover integraccedilatildeo e

participaccedilatildeo aleacutem de combater a exclusatildeo dos grupos socialmente marginalizados como

era o caso das pessoas ldquodeficientesrdquo O paradigma da inclusatildeo surgiu mais enfaticamente

com a Declaraccedilatildeo de Jomtien (1990) no contexto do movimento poliacutetico mundial para o

fomento de uma agenda internacional em prol do alcance das metas do direito agrave Educaccedilatildeo

das pessoas com deficiecircncia nos sistemas regulares de ensino Seu aacutepice no entanto

ocorreu com a produccedilatildeo de um documento publicado pelo Governo da Espanha em parceria

com a Unesco entre os dias 7 e 10 de junho de 1994 denominado Declaraccedilatildeo de

Salamanca sobre os princiacutepios a poliacutetica e as praacuteticas na aacuterea das necessidades educativas

especiais8 como resultado da Conferecircncia Mundial de Necessidades Educativas Especiais

Acesso e Qualidade

Tal Declaraccedilatildeo teve a finalidade de promover o objetivo da Educaccedilatildeo para Todos ou

seja da Educaccedilatildeo Especial sob a perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva examinando as

mudanccedilas fundamentais das poliacuteticas puacuteblicas educacionais necessaacuterias para desenvolver

tal abordagem nomeadamente qualificando as escolas regulares para atender a todas as

crianccedilas sobretudo as que tecircm necessidades educativas especiais de modo que os

governos com apoio das organizaccedilotildees internacionais pudessem conceder maior prioridade

ao desenvolvimento de seus respectivos Sistemas Nacionais de Educaccedilatildeo sob a

perspectiva inclusiva atraveacutes de medidas poliacuteticas e orccedilamentaacuterias compatiacuteveis com esse

imperativo eacutetico (Unesco 1994)

A partir dessa reflexatildeo acerca das praacuteticas educacionais especiais da qual resultaram

a compreensatildeo de equiparaccedilatildeo de oportunidades de diversos grupos sociais (crianccedilas com

deficiecircncia e crianccedilas bem dotadas crianccedilas que vivem nas ruas e que trabalham crianccedilas

de populaccedilotildees distantes ou nocircmades crianccedilas de minorias linguiacutesticas eacutetnicas ou culturais e

crianccedilas de outros grupos e zonas desfavorecidas ou marginalizadas) a Declaraccedilatildeo de

Salamanca e Linha de Accedilatildeo sobre Necessidades Educativas Especiais proclamou que as

8 A expressatildeo ldquonecessidades educativas especiaisrdquo no citado documento refere-se a todas as crianccedilas e jovens cujas carecircncias se relacionam com deficiecircncias ou dificuldades escolares incluindo nesse escopo as pessoas com deficiecircncia e as superdotadas (UNESCO 1994)

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escolas comuns representavam o meio mais eficaz para combater as atitudes

discriminatoacuterias ressaltando que o princiacutepio fundamental dessa linha de accedilatildeo seria o de que

as escolas inclusivas deveriam acolher todas as crianccedilas independentemente de suas

condiccedilotildees fiacutesicas intelectuais sociais emocionais linguiacutesticas ou outras (Unesco 1994)

Na esteira de construccedilatildeo de uma agenda internacional em torno da promoccedilatildeo de uma

Educaccedilatildeo para Todos em particular para aquelas com necessidades educacionais

especiais capazes de gerar diversos instrumentos e recomendaccedilotildees internacionais

passiacuteveis de serem incorporados ao sistema juriacutedico dos paiacuteses-membros de organismos

internacionais ligados ao fomento da Educaccedilatildeo tornando-os internamente obrigatoacuterios

surgiram outros movimentos sociais em torno da proposta da inclusatildeo escolar como a

Declaraccedilatildeo de Cartagena de Iacutendias as Poliacuteticas Integrais para Pessoas com Deficiecircncias na

Regiatildeo Ibero-Americana na Colocircmbia em 1992 a Conferecircncia Hemisfeacuterica de Pessoas com

Deficiecircncias em WashingtonEUA em 1993 a 5ordf Reuniatildeo do Comitecirc Regional

Intergovernamental do Projeto Principal de Educaccedilatildeo na Ameacuterica Latina e Caribe que

resultou na Declaraccedilatildeo de Santiago realizada no Chile em 1993 a 1ordf Reuniatildeo dos

Participantes da Conferecircncia de Ministros responsaacuteveis pela situaccedilatildeo da pessoa com

deficiecircncia ocorrida em MontrealCanadaacute em 1994 e a publicaccedilatildeo das normas uniformes

sobre a igualdade de oportunidades para pessoas com deficiecircncia aprovadas pela

Assembleia Geral nordm 4896 de 20 de dezembro de 1993 da ONU

Por fim a construccedilatildeo do cenaacuterio internacional da Educaccedilatildeo Especial sob o aspecto

filosoacutefico-ideoloacutegico da inclusatildeo na deacutecada de 1990 culminou com a Convenccedilatildeo

Interamericana para a Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Pessoas

Portadoras de Deficiecircncia9 mais conhecida como Convenccedilatildeo da Guatemala aprovada pelo

Conselho Permanente da OEA na sessatildeo realizada em 26 de maio de 1999 no paiacutes da

Ameacuterica Central supracitado promulgada no Brasil pelo Decreto nordm 39562001 Esse

documento que ainda utilizava a expressatildeo ldquoportador de deficiecircnciardquo afirmava que os

Estados-Partes deveriam se comprometer a tomar as medidas de caraacuteter legislativo social

educacional trabalhista ou de qualquer outra natureza que fossem necessaacuterias para

eliminar a discriminaccedilatildeo contra as pessoas ldquoportadoras de deficiecircnciardquo e proporcionar a sua

plena ldquointegraccedilatildeordquo agrave sociedade

9 ldquo[] o termo lsquodiscriminaccedilatildeo contra as pessoas portadoras de deficiecircnciarsquo significa toda diferenciaccedilatildeo exclusatildeo ou restriccedilatildeo baseada em deficiecircncia antecedente de deficiecircncia consequumlecircncia [sic] de deficiecircncia anterior ou percepccedilatildeo de deficiecircncia presente ou passada que tenha o efeito ou propoacutesito de impedir ou anular o reconhecimento gozo ou exerciacutecio por parte das pessoas portadoras de deficiecircncia de seus direitos humanos e suas liberdades fundamentaisrdquo (OEA 1999 p 3)

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Tendo em vista o protagonismo das agecircncias e organizaccedilotildees intergovernamentais no

panorama mundial como a ONU e suas agecircncias especializadas (Unesco Unicef e BM) e no

cenaacuterio regional como a OEA na busca pela cooperaccedilatildeo internacional a fim de promover e

estimular entre seus paiacuteses-membros o respeito aos direitos humanos e agraves liberdades

fundamentais para todos especialmente entre os grupos minoritaacuterios como no caso da

melhoria das condiccedilotildees de vida para pessoas com deficiecircncia verificou-se que o percurso

histoacuterico poliacutetico e filosoacutefico da Educaccedilatildeo Especial nos anos 1990 culminou no paradigma

inclusivo de garantia da equiparaccedilatildeo de oportunidades direitos e deveres de seu puacuteblico-alvo

no interior do sistema regular de ensino (Peroni 2003)

Em pleno anos 2000 a ONU continuou a fixar padrotildees a trabalhar para tecer

consensos universais e a manter-se como um foacuterum central disseminador para a

comunidade internacional de princiacutepios e orientaccedilotildees gerais para a Educaccedilatildeo atraveacutes de

sua agecircncia especializada da Unesco Ademais seguiu lanccedilando as diretrizes sobre os

caminhos da Educaccedilatildeo Especial atraveacutes de declaraccedilotildees e recomendaccedilotildees acordadas para a

construccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas educacionais inclusivas ao redor do mundo Dessa forma

entre os dias 26 e 28 de abril de 2000 em Dakar Senegal 164 paiacuteses reuniram-se no

Foacuterum Consultivo Internacional para a Educaccedilatildeo para Todos criado em 1991 e composto

por representantes da Unesco Unicef e BM contando com agecircncias bilaterais governos e

sociedade civil para avaliar os progressos globais alcanccedilados desde a Conferecircncia Mundial

de Educaccedilatildeo para Todos realizada dez anos antes em Jomtien Tailacircndia e para aprovar

novo marco de accedilatildeo para a universalizaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Baacutesica (Unesco 2001)

Em 13 de dezembro de 2006 em sessatildeo solene da Assembleia Geral da ONU foi

aprovado o texto final da Convenccedilatildeo sobre os Direitos das Pessoas com Deficiecircncia10

firmado pelo Brasil e por mais 85 naccedilotildees signataacuterias em 30 de marccedilo de 2007 Esse tratado

internacional no que diz respeito ao direito agrave Educaccedilatildeo aos deficientes estabelece que os

Estados-Partes devem assegurar um sistema de Educaccedilatildeo Inclusiva em todos os niacuteveis de

ensino bem como o aprendizado ao longo da vida Em seu artigo 24 determina que as

pessoas com deficiecircncia natildeo sejam excluiacutedas do sistema educacional geral e que as

crianccedilas com deficiecircncia natildeo sejam excluiacutedas do ensino fundamental gratuito e compulsoacuterio

estabelece tambeacutem que elas tenham acesso ao ensino meacutedio e superior inclusivo de

10 Nesse texto a ONU reconhece que ldquo[] a deficiecircncia eacute um conceito em evoluccedilatildeo e que a deficiecircncia resulta da interaccedilatildeo entre pessoas com deficiecircncia e as barreiras atitudinais e ambientais que impedem sua plena e efetiva participaccedilatildeo na sociedade em igualdade de oportunidades com as demais pessoasrdquo (ONU 2012 p 22)

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qualidade e gratuito em igualdade de condiccedilotildees com as demais pessoas na comunidade em

que vivem (ONU 2012)

Ainda no panorama internacional a Unesco lanccedila em 2009 uma coletacircnea intitulada

Orientaccedilotildees Poliacuteticas sobre Inclusatildeo na Educaccedilatildeo a fim de ampliar a compreensatildeo das

questotildees atinentes agraves poliacuteticas e agraves praacuteticas pedagoacutegicas que visam garantir a inclusatildeo

educacional e social Os dados apresentados e as anaacutelises feitas suscitaram

questionamentos e posicionamentos em relaccedilatildeo agraves condiccedilotildees de acesso e de atendimento

nas redes de ensino e possibilitaram o aprofundamento do debate sobre as accedilotildees do poder

puacuteblico e da sociedade com vistas a assegurar o direito de todas as pessoas agrave Educaccedilatildeo

Escolar de Qualidade (No cenaacuterio regional da Ameacuterica Latina e do Caribe houve em 2009

a Campanha Latino-Americana pelo Direito agrave Educaccedilatildeo a fim de promover o

desenvolvimento de pesquisas interdisciplinares para subsidiar a formulaccedilatildeo de poliacuteticas

puacuteblicas intersetoriais que atendessem agraves especificidades educacionais de estudantes com

deficiecircncia transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotaccedilatildeo que

requeiram medidas de atendimento especializado Jaacute na Uniatildeo Europeia a Agecircncia

Europeia para o Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Especial recomendou tambeacutem em 2009

para decisoacuterios poliacuteticos princiacutepios baacutesicos para a Promoccedilatildeo da Qualidade na Educaccedilatildeo

Inclusiva Faacutevero Ferreira Ireland e Barreiros 2009)

A influecircncia histoacuterica direta ou indireta das agecircncias internacionais no direcionamento

das poliacuteticas puacuteblicas dentre elas a Educaccedilatildeo Especial situada no acircmbito geral das

diretrizes da Educaccedilatildeo como um direito de todos e dever do Estado implica o entendimento

de que os fundamentos ideoloacutegicos que datildeo sustentaccedilatildeo agraves poliacuteticas educacionais na aacuterea

de conhecimento da Educaccedilatildeo Especial adotadas pelos governos brasileiros certamente natildeo

foram gerados exclusivamente em acircmbito nacional mas ao contraacuterio em acircmbito

internacional vinculados agraves declaraccedilotildees e recomendaccedilotildees construiacutedas em foros de

abrangecircncia mundial e regional Em consequecircncia torna-se obrigatoacuterio considerar que a

atuaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas teve papel preponderante para a internacionalizaccedilatildeo do

discurso da Educaccedilatildeo Especial na perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva nos anos 1990 e 2000

notadamente pelo trabalho teacutecnico-poliacutetico da Unesco

Na perspectiva da citada agecircncia intergovernamental atuar nessa agenda de

cooperaccedilatildeo internacional e nacional com os Estados-Partes na formulaccedilatildeo de poliacuteticas e

estrateacutegias destinadas ao melhoramento dos sistemas de ensino ldquo[] significa avanccedilar para

uma sociedade educacional onde cada pessoa aprenda durante toda a vida e seja fonte de

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aprendizagem para os demaisrdquo (Unesco 1998 p 11) afinal a ldquo[] educaccedilatildeo desempenha

um papel chave neste processo tendo em vista o seu valor econocircmico e socialrdquo (Unesco

2004 p 33)

Essa compreensatildeo conduz o debate sobre os rumos da Educaccedilatildeo Especial no Brail

tornando-se fundamental para a construccedilatildeo de poliacuteticas de formaccedilatildeo docente financiamento

e gestatildeo escolar necessaacuterias para a transformaccedilatildeo da estrutura educacional a fim de

assegurar as condiccedilotildees de acesso participaccedilatildeo e aprendizagem de todos os estudantes

concebendo a escola como um espaccedilo que reconhece e valoriza as diferenccedilas

Logo o respeito agrave diversidade efetivado no respeito agraves diferenccedilas impulsiona accedilotildees

de cidadania voltadas ao reconhecimento de sujeitos de direitos simplesmente por serem

seres humanos Suas especificidades natildeo devem ser elemento para a construccedilatildeo de

desigualdades discriminaccedilotildees ou exclusotildees mas sim devem pautar as poliacuteticas afirmativas

de respeito agrave diversidade voltadas para a construccedilatildeo de contextos sociais inclusivos cujo

aspecto filosoacutefico-ideoloacutegico se assenta na equiparaccedilatildeo de oportunidades direitos e

deveres em que todas as pessoas teriam condiccedilotildees de vida e chance de realizar seus

projetos como parte do exerciacutecio de sua cidadania e em respeito agrave sua identidade

3 Consideraccedilotildees finais

Esta pesquisa foi instigada pela reflexatildeo que questionava como foi se constituindo a

compreensatildeo de Educaccedilatildeo Inclusiva ao longo dos tempos no Brasil considerando a

influecircncia ideoloacutegica dos documentos legais produzidos pelos organismos internacionais ndash

ONU Unesco OEA Unicef e BM ndash a partir das primeiras deacutecadas do seacuteculo XX Tal

inquietaccedilatildeo acadecircmica fez emergir o interesse em compreender a Histoacuteria da Educaccedilatildeo

Inclusiva em especial no que concerne agrave escolarizaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncia

defendida em acordos e discussotildees internacionais O objetivo com efeito foi desenvolver

um histoacuterico a respeito das poliacuteticas puacuteblicas internacionais de Educaccedilatildeo Especial com

ecircnfase nas mudanccedilas paradigmaacuteticas emergentes cronologicamente no Brasil

Realizou-se uma pesquisa documental nos textos internacionais produzidos sobre os

debates acerca da Educaccedilatildeo Inclusiva em especial para as pessoas com deficiecircncia dentre

os quais destacam-se Convenccedilatildeo Interamericana para a Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas

de Discriminaccedilatildeo contra as Pessoas Portadoras de Deficiecircncia Declaraccedilatildeo Universal dos

Direitos Humanos A Unesco e a Educaccedilatildeo na Ameacuterica Latina e Caribe (1987-1997)

Educaccedilatildeo para Todos o Compromisso de Dakar A Unesco no Brasil Consolidando

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Compromissos Conferecircncia Mundial de Necessidades Educativas Especiais Acesso e

Qualidade Os resultados permitiram desenvolver uma cronologia histoacuterica a qual

possibilitou afirmar que os seacuteculos XVIII e XIX foram marcados pela segregaccedilatildeo

homogeneizante das pessoas com deficiecircncia em escolas especiais com edificaccedilatildeo

especiacutefica que separavam os ditos estudantes ldquonormaisrdquo dos alunos que possuiacuteam algum

tipo de limitaccedilatildeo periacuteodo em que os debates sobre inclusatildeo natildeo possuiacuteam ecircnfase no

cenaacuterio internacional A partir das primeiras deacutecadas do seacuteculo XX os debates internacionais

a respeito da escolarizaccedilatildeo dos entatildeo denominados discentes ldquoespeciaisrdquo foram se

alargando emergiram em congruecircncia as classes especiais no interior das escolas

regulares Posteriormente na segunda metade do seacuteculo XX os debates internacionais

comeccedilaram a sinalizar a superaccedilatildeo de qualquer forma de segregaccedilatildeo e a impulsionar a

ideologia atualmente defendida de igualdade e inclusatildeo social com respeito agraves diferenccedilas

Ao fazer um balanccedilo histoacuterico sobre as poliacuteticas puacuteblicas de Educaccedilatildeo Especial no

cenaacuterio internacional percebeu-se a ausecircncia de documentos especiacuteficos nos seacuteculos XVIII

XIX e iniacutecio do XX Somente ao longo dos seacuteculos XX e XXI especialmente nas deacutecadas

que seguem 1970 averiguou-se que a atuaccedilatildeo das agecircncias especializadas da ONU em

parceria com outras agecircncias internacionais governos organizaccedilotildees natildeo governamentais e

sociedades civis contribuiu de maneira importante para a transiccedilatildeo do discurso educacional

da integraccedilatildeo instrucional para a constituiccedilatildeo de saberes e praacuteticas da Educaccedilatildeo Especial

sob a oacutetica inclusiva ao desempenhar um fundamental papel como foro permanente de

debate educacional e busca de soluccedilotildees contribuindo para a consolidaccedilatildeo de uma agenda

educacional e para a promoccedilatildeo da cooperaccedilatildeo internacional e horizontal com o objetivo de

apoiar os processos de mudanccedila das condiccedilotildees de vida das pessoas com deficiecircncia dentre

elas a inclusatildeo dessas pessoas nos espaccedilos regulares de ensino em equiparaccedilatildeo de

oportunidades direitos e deveres com relaccedilatildeo aos seus pares sem deficiecircncia

A proposta global das Naccedilotildees Unidas visava agrave promoccedilatildeo de uma Educaccedilatildeo para todos

ao longo de toda a vida notadamente para grupos historicamente excluiacutedos como o das

pessoas com deficiecircncia Para tanto durante toda a deacutecada de 1990 houve uma expansatildeo

de acordos internacionais e uma redescoberta da Educaccedilatildeo Especial como campo feacutertil de

investimentos Ocorreu a definiccedilatildeo de uma agenda internacional para a Educaccedilatildeo Especial

materializada em diferentes eventos tais como a Conferecircncia Mundial sobre Educaccedilatildeo para

Todos (1990) a Declaraccedilatildeo de Salamanca (1994) a Convenccedilatildeo da Guatemala (1999) o

Compromisso de Dakar (2000) e a Convenccedilatildeo sobre os Direitos das Pessoas com

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Deficiecircncia (2006) que trataram de pautas de interesses ordinaacuterios agrave comunidade

internacional sobre o tema da Educaccedilatildeo Especial em uma perspectiva de Educaccedilatildeo

Inclusiva

Essas declaraccedilotildees e recomendaccedilotildees resultantes das diferentes cuacutepulas conferecircncias

e eventos regionais e internacionais foram importantes para a construccedilatildeo de consensos em

torno das principais ideias e propostas sobre Educaccedilatildeo Especial nas deacutecadas de 1980 1990

e 2000 ou seja da transiccedilatildeo do modelo integracionista para o inclusivo Nesses eventos ao

se constituiacuterem em foacuteruns gerais propalava-se a necessidade de reformas educativas

nacionais acompanhadas de mudanccedilas no financiamento transformaccedilatildeo curricular e gestatildeo

educacional em torno de sistemas educacionais inclusivos perseguidos tambeacutem no iniacutecio do

seacuteculo XXI que influenciaram a mudanccedila de paradigma acerca do atendimento agrave pessoa

com deficiecircncia no Brasil

No paradigma da inclusatildeo impulsionaram-se projetos de mudanccedilas nas poliacuteticas

puacuteblicas brasileiras ao conceber-se que todos se beneficiam quando as escolas promovem

respostas agraves diferenccedilas individuais dos estudantes Logo a Educaccedilatildeo Especial que surgiu

no campo da Pedagogia como uma aacuterea de conhecimento que se ocupava exclusivamente

do processo de escolarizaccedilatildeo pela via da homogeneizaccedilatildeo dos alunos ldquoexcepcionaisrdquo em

espaccedilos escolares ditos ldquoespeciaisrdquo que orbitavam agrave margem do sistema de ensino puacuteblico e

gratuito passou a integrar os tempos e espaccedilos das escolas regulares mas ficando a

participaccedilatildeo circunscrita agraves ldquoclasses especiaisrdquo e ainda sendo modalidade substitutiva e

normalizadora do processo de escolarizaccedilatildeo dos discentes ldquoportadores de necessidades

especiaisrdquo Atualmente sob a perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva o Brasil tem como

imperativo eacutetico normativo e intelectual ampliar a participaccedilatildeo de todos os estudantes nos

estabelecimentos de ensino regular especialmente daqueles grupos sociais historicamente

excluiacutedos da escola como as pessoas com deficiecircncia atraveacutes de uma abordagem

humaniacutestica e democraacutetica que perceba o sujeito e suas singularidades tendo como

objetivos o crescimento a satisfaccedilatildeo pessoal e a inserccedilatildeo social de todos

4 Referecircncias

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Conferecircncia Mundial de Educaccedilatildeo para Todos Declaraccedilatildeo Mundial de Educaccedilatildeo para Todos Plano de Accedilatildeo para Satisfazer as Necessidades Baacutesicas de Aprendizagem Brasiacutelia Unicef

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (1994)

Conferecircncia Mundial de Necessidades Educativas Especiais Acesso e Qualidade Declaraccedilatildeo de Salamanca sobre os Princiacutepios a Poliacutetica e as Praacuteticas na Aacuterea das Necessidades Educativas Especiais Salamanca Unesco

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (1998)

A Unesco e a Educaccedilatildeo na Ameacuterica Latina e Caribe (1987-1997) Chile Unesco

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Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (2001) Educaccedilatildeo para Todos o Compromisso de Dakar Brasiacutelia Consed

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A Unesco no Brasil consolidando compromissos Brasiacutelia Unesco Organizaccedilatildeo dos Estados Americanos (OEA) (1999) Convenccedilatildeo Interamericana para a

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comunicaccedilatildeo e nos serviccedilos A escola nessa vertente deve tornar-se um espaccedilo acolhedor

das diferenccedilas

A elaboraccedilatildeo dos direitos que asseguram a participaccedilatildeo de todos e a efetivaccedilatildeo de

uma sociedade inclusiva fica patente a partir de 10 de dezembro de 1948 quando da

elaboraccedilatildeo da Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos pela Assembleia Geral das

Naccedilotildees Unidas que se fundamenta no reconhecimento da dignidade de todas as pessoas e

na universalidade e indivisibilidade desses direitos e portanto no valor da diversidade

humana que se impotildee como condiccedilatildeo para o alcance de tal reconhecimento ao explicitar a

pessoa como sujeito de direito respeitado em suas peculiaridades e particularidades Como

garantia do direito agrave Educaccedilatildeo a citada declaraccedilatildeo internacional normatiza

Art 26 1 Todo ser humano tem direito agrave instruccedilatildeo A instruccedilatildeo seraacute gratuita pelo

menos nos graus elementares e fundamentais A instruccedilatildeo elementar seraacute obrigatoacuteria

A instruccedilatildeo teacutecnico-profissional seraacute acessiacutevel a todos bem como a instruccedilatildeo superior

estaacute baseada no meacuterito 2 A instruccedilatildeo seraacute orientada no sentido do pleno

desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos

direitos humanos e pelas liberdades fundamentais A instruccedilatildeo promoveraacute a

compreensatildeo a toleracircncia e a amizade entre todas as naccedilotildees e grupos raciais ou

religiosos e coadjuvaraacute as atividades das Naccedilotildees Unidas em prol da manutenccedilatildeo da

paz 3 Os pais tecircm prioridade de direito na escolha do gecircnero de instruccedilatildeo que seraacute

ministrada a seus filhos (ONU 1948 p 5)

Tal declaraccedilatildeo parece natildeo gerar mudanccedilas significativas na forma de oferta e

compreensatildeo acerca da educaccedilatildeo inclusiva Quase 30 anos depois dessa primeira

publicaccedilatildeo em 9 de dezembro de 1975 a ONU (1975 p 2) abordou especificamente a

temaacutetica da inclusatildeo ao lanccedilar a Declaraccedilatildeo dos Direitos das Pessoas Deficientes4 que

assevera

As pessoas deficientes tecircm direito a tratamento meacutedico psicoloacutegico e funcional

incluindo-se aiacute aparelhos proteacuteticos e ortoacuteticos agrave reabilitaccedilatildeo meacutedica e social

educaccedilatildeo treinamento vocacional e reabilitaccedilatildeo assistecircncia aconselhamento

serviccedilos de colocaccedilatildeo e outros serviccedilos que lhes possibilitem o maacuteximo

4 ldquoO termo lsquopessoas deficientesrsquo refere-se a qualquer pessoa incapaz de assegurar por si mesma total ou parcialmente as necessidades de uma vida individual ou social normal em decorrecircncia de uma deficiecircncia congecircnita ou natildeo em suas capacidades fiacutesicas ou mentaisrdquo (ONU 1975 p 1)

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desenvolvimento de sua capacidade e habilidades e que acelerem o processo de sua

integraccedilatildeo social

A partir da deacutecada de 1980 o Brasil paiacutes signataacuterio impulsionado por debates

internacionais buscou afirmaccedilatildeo do direito agrave Educaccedilatildeo das pessoas puacuteblico-alvo da

Educaccedilatildeo Especial por meio da realizaccedilatildeo de conferecircncias sobre o tema da inclusatildeo escolar

constituiacutedas por organismos nacionais e internacionais de defesa dos direitos humanos

Ademais ratificaram-se algumas declaraccedilotildees sobre as demandas especiacuteficas dessa aacuterea de

conhecimento que precisavam ser legitimadas democraticamente mediante instrumentos

juriacutedicos locais e de princiacutepios aplicaacuteveis a cada paiacutes-membro

No ano de 1981 por exemplo foram promulgados dois documentos relevantes para a

Educaccedilatildeo Especial a saber a Declaraccedilatildeo de Cuenca sobre novas tendecircncias na Educaccedilatildeo

Especial (UnescoOrealc ndash Cuenca Equador) que recomendava a eliminaccedilatildeo de barreiras

fiacutesicas e a participaccedilatildeo de pessoas ldquodeficientesrdquo na tomada de decisotildees a seu respeito e a

Declaraccedilatildeo de Sunderberg como resultado da Conferecircncia Mundial sobre as Accedilotildees e

Estrateacutegias para a Educaccedilatildeo Prevenccedilatildeo e Integraccedilatildeo dos Impedidos (Unesco ndash

Torremolinos Espanha) cujo tema principal era a equiparaccedilatildeo de oportunidades das

pessoas ldquodeficientesrdquo agrave Educaccedilatildeo formaccedilatildeo cultura e informaccedilatildeo (Carvalho 2002)

A deacutecada de 1980 marcou o Brasil pois deu iniacutecio ao debate mais acirrado para

estimular o cumprimento dos direitos das pessoas ldquodeficientesrdquo agrave Educaccedilatildeo agrave sauacutede e ao

trabalho Em 1981 comemorou-se em todo o mundo o Ano Internacional das Pessoas

Deficientes proclamado pela Assembleia Geral das Naccedilotildees Unidas5 cujo lema foi

participaccedilatildeo plena e igualdade em que a ONU oficializou o embriatildeo do conceito de

sociedade inclusiva Partindo da ideia de que as pessoas ldquodeficientesrdquo formam parte da

sociedade e natildeo satildeo uma sociedade agrave parte o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Cultura (MEC) do

Brasil em consonacircncia com a citada resoluccedilatildeo da ONU traccedilou as seguintes accedilotildees a curto

meacutedio e longo prazo para a oferta do AEE em territoacuterio nacional

I ndash Curto Prazo 1) Estabelecer modelos para serviccedilos de atendimento educacional

2) Organizar seminaacuterios e congressos a niacutevel nacional sobre Educaccedilatildeo Especial

3) Fomentar o desenvolvimento de recursos humanos em Educaccedilatildeo Especial a niacutevel

de 2ordm Grau 4) Sensibilizar os Conselhos de Educaccedilatildeo ordm(Estaduais e Federal) para os

5 ldquoEm sua trigeacutesima sessatildeo de 16 de dezembro de 1976 a Assembleia Geral das Naccedilotildees Unidas pela Resoluccedilatildeo nordm 31123 proclamou oficialmente o ano de 1981 como o Ano Internacional das Pessoas Deficientesrdquo (ONU 1981 p 6)

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problemas da Educaccedilatildeo Especial 5) Assessorar a Secom sobre a publicaccedilatildeo de

material informativo sobre multiplicidade de accedilotildees impliacutecitas na Educaccedilatildeo Especial

6) Promover o levantamento de todo o material bibliograacutefico sobre Educaccedilatildeo Especial

7) Ampliar e reestruturar o atendimento preacute-escolar do Instituto Nacional de Educaccedilatildeo

de Surdos ndash Ines ndash e do Instituto Benjamin Constant ndash IBC ndash visando transformaacute-los

em serviccedilos-modelo 8) Aperfeiccediloar e ampliar programa de bolsa de trabalho para

educandos deficientes 9) Publicar documentos relativos agrave Educaccedilatildeo Especial

elaborados pelo Cenesp 10) Aperfeiccediloar e ampliar o projeto de Assistecircncia Teacutecnica agraves

Secretarias Estaduais de Educaccedilatildeo II ndash Meacutedio Prazo 1) Estimular a formaccedilatildeo de

teacutecnicos especializados a niacutevel de 3ordm Grau 2) Elaborar o II Plano Nacional de

Educaccedilatildeo Especial 3) Normalizaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fiacutesica para deficientes 4) Efetuar

estudos sobre estatiacutestica da Educaccedilatildeo Especial 5) Implementar a modernizaccedilatildeo da

Imprensa Braille III ndash Longo Prazo 1) Estimular nos Estados e Municiacutepios a criaccedilatildeo

de serviccedilos de atendimento educacional que objetivem a integraccedilatildeo e a normalizaccedilatildeo

2) Criar centros de produccedilatildeo de material psicopedagoacutegico 3) Elaborar o I Plano

Nacional Integrado de Assistecircncia ao Excepcional e 4) Estimular a Educaccedilatildeo Especial

de deficientes adultos (ONU 1981 pp 14-15)

Uma importante consequecircncia do Ano Internacional das Pessoas Deficientes (1981) foi

a aprovaccedilatildeo do Programa Mundial de Accedilatildeo relativo agraves Pessoas com Deficiecircncia pela

Assembleia Geral da ONU por meio da Resoluccedilatildeo nordm 3752 de 3 de dezembro de 1982

Prontamente o Ano Internacional e o Programa Mundial de Accedilatildeo contribuiacuteram para um forte

desenvolvimento nesse domiacutenio por intermeacutedio da criaccedilatildeo da Deacutecada das Naccedilotildees Unidas

para as Pessoas com Deficiecircncia (1983-1992) que visava garantir agraves pessoas com

deficiecircncia o exerciacutecio dos seus direitos fundamentais e a sua participaccedilatildeo plena na

sociedade (ONU 1993) Ambos salientavam o direito das pessoas ldquodeficientesrdquo agraves mesmas

oportunidades de que gozavam os demais cidadatildeos visando a todos melhores condiccedilotildees de

vida resultantes do desenvolvimento econocircmico e social de suas comunidades (Unesco

1990)

Aspirando a enfrentar esse desafio mundial e a construir projetos capazes de superar

os processos histoacutericos de exclusatildeo escolar dessas pessoas com base na responsabilidade

comum e universal de todos os povos a Unesco estabeleceu a Conferecircncia Mundial de

Educaccedilatildeo para Todos realizada em Jomtien na Tailacircndia no periacuteodo de 5 a 9 de marccedilo de

1990 Esse evento implicou a solidariedade internacional dos organismos e instituiccedilotildees

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intergovernamentais a fim de satisfazer as necessidades baacutesicas de aprendizagem de seus

cidadatildeos haja vista os altos iacutendices de crianccedilas adolescentes e jovens sem escolarizaccedilatildeo

Somente assim seria possiacutevel promover as transformaccedilotildees nos sistemas de ensino para

assegurar o acesso e a permanecircncia de todos na escola (Unesco 1990)

Os principais referenciais da Declaraccedilatildeo de Jomtien (1990)6 publicados no ano

seguinte pelo Unicef enfatizavam a urgecircncia de uma Educaccedilatildeo de qualidade para todos ao

constituiacuterem a agenda de discussatildeo das poliacuteticas educacionais reforccedilando a necessidade

de elaboraccedilatildeo e a implementaccedilatildeo de accedilotildees voltadas para a universalizaccedilatildeo do acesso agrave

escola a promoccedilatildeo da equidade no acircmbito do ensino fundamental meacutedio e superior a

oferta da Educaccedilatildeo Infantil nas redes puacuteblicas de ensino a estruturaccedilatildeo do atendimento agraves

demandas de alfabetizaccedilatildeo e da modalidade de Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos e a

construccedilatildeo da gestatildeo democraacutetica da escola Sob a perspectiva inclusiva a referida

declaraccedilatildeo nos itens 4 e 5 do artigo 3ordm instituiu que

4 Um compromisso efetivo para superar as disparidades educacionais deve ser

assumido Os grupos excluiacutedos ndash os pobres os meninos e meninas de rua ou

trabalhadores as populaccedilotildees das periferias urbanas e zonas rurais os nocircmades e os

trabalhadores migrantes os povos indiacutegenas as minorias eacutetnicas raciais e linguumliacutesticas

[sic] os refugiados os deslocados pela guerra e os povos submetidos a um regime de

ocupaccedilatildeo ndash natildeo devem sofrer qualquer tipo de discriminaccedilatildeo no acesso agraves

oportunidades educacionais 5 As necessidades baacutesicas de aprendizagem das

pessoas portadoras de deficiecircncias requerem atenccedilatildeo especial Eacute preciso tomar

medidas que garantam a igualdade de acesso agrave educaccedilatildeo aos portadores de todo e

qualquer tipo de deficiecircncia como parte integrante do sistema educativo (Unesco

1990 p 4)

Vale lembrar que as diversas declaraccedilotildees da ONU culminaram em 1993 na publicaccedilatildeo

das Normas sobre a Igualdade de Oportunidades7 para as Pessoas com Deficiecircncia por meio

de resoluccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas adotada pela Assembleia Geral no dia 20 de dezembro de

1993 As normas exortavam os Estados dentre eles o Brasil a assumirem um compromisso

eacutetico e poliacutetico com vistas a operacionalizar dentre outros direitos o acesso ao sistema

6 No Brasil o MEC divulgou o Plano Decenal de Educaccedilatildeo para Todos para o periacuteodo de 1993 a 2003 elaborado em cumprimento agraves resoluccedilotildees da Declaraccedilatildeo de Jomtien (1990)

7 ldquoO termo lsquoigualdade de oportunidadesrsquo significa o processo pelo qual os diversos sistemas da sociedade e o meio envolvente tais como serviccedilos atividades informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo se [sic] tornam acessiacuteveis a todos e em especial agraves pessoas com deficiecircnciardquo (ONU 1993 p 16)

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regular de ensino agraves pessoas com deficiecircncia em igualdade de oportunidades com as demais

pessoas independentemente da natureza e gravidade da sua deficiecircncia tendo como

estrateacutegias complementares as escolas especiais (ONU 1993)

Por conseguinte a tendecircncia dos organismos internacionais atrelados ao

desenvolvimento da Educaccedilatildeo em seus paiacuteses-membros notadamente aqueles ligados agrave

ONU durante as deacutecadas de 1980 e 1990 tinha sido a de promover integraccedilatildeo e

participaccedilatildeo aleacutem de combater a exclusatildeo dos grupos socialmente marginalizados como

era o caso das pessoas ldquodeficientesrdquo O paradigma da inclusatildeo surgiu mais enfaticamente

com a Declaraccedilatildeo de Jomtien (1990) no contexto do movimento poliacutetico mundial para o

fomento de uma agenda internacional em prol do alcance das metas do direito agrave Educaccedilatildeo

das pessoas com deficiecircncia nos sistemas regulares de ensino Seu aacutepice no entanto

ocorreu com a produccedilatildeo de um documento publicado pelo Governo da Espanha em parceria

com a Unesco entre os dias 7 e 10 de junho de 1994 denominado Declaraccedilatildeo de

Salamanca sobre os princiacutepios a poliacutetica e as praacuteticas na aacuterea das necessidades educativas

especiais8 como resultado da Conferecircncia Mundial de Necessidades Educativas Especiais

Acesso e Qualidade

Tal Declaraccedilatildeo teve a finalidade de promover o objetivo da Educaccedilatildeo para Todos ou

seja da Educaccedilatildeo Especial sob a perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva examinando as

mudanccedilas fundamentais das poliacuteticas puacuteblicas educacionais necessaacuterias para desenvolver

tal abordagem nomeadamente qualificando as escolas regulares para atender a todas as

crianccedilas sobretudo as que tecircm necessidades educativas especiais de modo que os

governos com apoio das organizaccedilotildees internacionais pudessem conceder maior prioridade

ao desenvolvimento de seus respectivos Sistemas Nacionais de Educaccedilatildeo sob a

perspectiva inclusiva atraveacutes de medidas poliacuteticas e orccedilamentaacuterias compatiacuteveis com esse

imperativo eacutetico (Unesco 1994)

A partir dessa reflexatildeo acerca das praacuteticas educacionais especiais da qual resultaram

a compreensatildeo de equiparaccedilatildeo de oportunidades de diversos grupos sociais (crianccedilas com

deficiecircncia e crianccedilas bem dotadas crianccedilas que vivem nas ruas e que trabalham crianccedilas

de populaccedilotildees distantes ou nocircmades crianccedilas de minorias linguiacutesticas eacutetnicas ou culturais e

crianccedilas de outros grupos e zonas desfavorecidas ou marginalizadas) a Declaraccedilatildeo de

Salamanca e Linha de Accedilatildeo sobre Necessidades Educativas Especiais proclamou que as

8 A expressatildeo ldquonecessidades educativas especiaisrdquo no citado documento refere-se a todas as crianccedilas e jovens cujas carecircncias se relacionam com deficiecircncias ou dificuldades escolares incluindo nesse escopo as pessoas com deficiecircncia e as superdotadas (UNESCO 1994)

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escolas comuns representavam o meio mais eficaz para combater as atitudes

discriminatoacuterias ressaltando que o princiacutepio fundamental dessa linha de accedilatildeo seria o de que

as escolas inclusivas deveriam acolher todas as crianccedilas independentemente de suas

condiccedilotildees fiacutesicas intelectuais sociais emocionais linguiacutesticas ou outras (Unesco 1994)

Na esteira de construccedilatildeo de uma agenda internacional em torno da promoccedilatildeo de uma

Educaccedilatildeo para Todos em particular para aquelas com necessidades educacionais

especiais capazes de gerar diversos instrumentos e recomendaccedilotildees internacionais

passiacuteveis de serem incorporados ao sistema juriacutedico dos paiacuteses-membros de organismos

internacionais ligados ao fomento da Educaccedilatildeo tornando-os internamente obrigatoacuterios

surgiram outros movimentos sociais em torno da proposta da inclusatildeo escolar como a

Declaraccedilatildeo de Cartagena de Iacutendias as Poliacuteticas Integrais para Pessoas com Deficiecircncias na

Regiatildeo Ibero-Americana na Colocircmbia em 1992 a Conferecircncia Hemisfeacuterica de Pessoas com

Deficiecircncias em WashingtonEUA em 1993 a 5ordf Reuniatildeo do Comitecirc Regional

Intergovernamental do Projeto Principal de Educaccedilatildeo na Ameacuterica Latina e Caribe que

resultou na Declaraccedilatildeo de Santiago realizada no Chile em 1993 a 1ordf Reuniatildeo dos

Participantes da Conferecircncia de Ministros responsaacuteveis pela situaccedilatildeo da pessoa com

deficiecircncia ocorrida em MontrealCanadaacute em 1994 e a publicaccedilatildeo das normas uniformes

sobre a igualdade de oportunidades para pessoas com deficiecircncia aprovadas pela

Assembleia Geral nordm 4896 de 20 de dezembro de 1993 da ONU

Por fim a construccedilatildeo do cenaacuterio internacional da Educaccedilatildeo Especial sob o aspecto

filosoacutefico-ideoloacutegico da inclusatildeo na deacutecada de 1990 culminou com a Convenccedilatildeo

Interamericana para a Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Pessoas

Portadoras de Deficiecircncia9 mais conhecida como Convenccedilatildeo da Guatemala aprovada pelo

Conselho Permanente da OEA na sessatildeo realizada em 26 de maio de 1999 no paiacutes da

Ameacuterica Central supracitado promulgada no Brasil pelo Decreto nordm 39562001 Esse

documento que ainda utilizava a expressatildeo ldquoportador de deficiecircnciardquo afirmava que os

Estados-Partes deveriam se comprometer a tomar as medidas de caraacuteter legislativo social

educacional trabalhista ou de qualquer outra natureza que fossem necessaacuterias para

eliminar a discriminaccedilatildeo contra as pessoas ldquoportadoras de deficiecircnciardquo e proporcionar a sua

plena ldquointegraccedilatildeordquo agrave sociedade

9 ldquo[] o termo lsquodiscriminaccedilatildeo contra as pessoas portadoras de deficiecircnciarsquo significa toda diferenciaccedilatildeo exclusatildeo ou restriccedilatildeo baseada em deficiecircncia antecedente de deficiecircncia consequumlecircncia [sic] de deficiecircncia anterior ou percepccedilatildeo de deficiecircncia presente ou passada que tenha o efeito ou propoacutesito de impedir ou anular o reconhecimento gozo ou exerciacutecio por parte das pessoas portadoras de deficiecircncia de seus direitos humanos e suas liberdades fundamentaisrdquo (OEA 1999 p 3)

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Tendo em vista o protagonismo das agecircncias e organizaccedilotildees intergovernamentais no

panorama mundial como a ONU e suas agecircncias especializadas (Unesco Unicef e BM) e no

cenaacuterio regional como a OEA na busca pela cooperaccedilatildeo internacional a fim de promover e

estimular entre seus paiacuteses-membros o respeito aos direitos humanos e agraves liberdades

fundamentais para todos especialmente entre os grupos minoritaacuterios como no caso da

melhoria das condiccedilotildees de vida para pessoas com deficiecircncia verificou-se que o percurso

histoacuterico poliacutetico e filosoacutefico da Educaccedilatildeo Especial nos anos 1990 culminou no paradigma

inclusivo de garantia da equiparaccedilatildeo de oportunidades direitos e deveres de seu puacuteblico-alvo

no interior do sistema regular de ensino (Peroni 2003)

Em pleno anos 2000 a ONU continuou a fixar padrotildees a trabalhar para tecer

consensos universais e a manter-se como um foacuterum central disseminador para a

comunidade internacional de princiacutepios e orientaccedilotildees gerais para a Educaccedilatildeo atraveacutes de

sua agecircncia especializada da Unesco Ademais seguiu lanccedilando as diretrizes sobre os

caminhos da Educaccedilatildeo Especial atraveacutes de declaraccedilotildees e recomendaccedilotildees acordadas para a

construccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas educacionais inclusivas ao redor do mundo Dessa forma

entre os dias 26 e 28 de abril de 2000 em Dakar Senegal 164 paiacuteses reuniram-se no

Foacuterum Consultivo Internacional para a Educaccedilatildeo para Todos criado em 1991 e composto

por representantes da Unesco Unicef e BM contando com agecircncias bilaterais governos e

sociedade civil para avaliar os progressos globais alcanccedilados desde a Conferecircncia Mundial

de Educaccedilatildeo para Todos realizada dez anos antes em Jomtien Tailacircndia e para aprovar

novo marco de accedilatildeo para a universalizaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Baacutesica (Unesco 2001)

Em 13 de dezembro de 2006 em sessatildeo solene da Assembleia Geral da ONU foi

aprovado o texto final da Convenccedilatildeo sobre os Direitos das Pessoas com Deficiecircncia10

firmado pelo Brasil e por mais 85 naccedilotildees signataacuterias em 30 de marccedilo de 2007 Esse tratado

internacional no que diz respeito ao direito agrave Educaccedilatildeo aos deficientes estabelece que os

Estados-Partes devem assegurar um sistema de Educaccedilatildeo Inclusiva em todos os niacuteveis de

ensino bem como o aprendizado ao longo da vida Em seu artigo 24 determina que as

pessoas com deficiecircncia natildeo sejam excluiacutedas do sistema educacional geral e que as

crianccedilas com deficiecircncia natildeo sejam excluiacutedas do ensino fundamental gratuito e compulsoacuterio

estabelece tambeacutem que elas tenham acesso ao ensino meacutedio e superior inclusivo de

10 Nesse texto a ONU reconhece que ldquo[] a deficiecircncia eacute um conceito em evoluccedilatildeo e que a deficiecircncia resulta da interaccedilatildeo entre pessoas com deficiecircncia e as barreiras atitudinais e ambientais que impedem sua plena e efetiva participaccedilatildeo na sociedade em igualdade de oportunidades com as demais pessoasrdquo (ONU 2012 p 22)

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qualidade e gratuito em igualdade de condiccedilotildees com as demais pessoas na comunidade em

que vivem (ONU 2012)

Ainda no panorama internacional a Unesco lanccedila em 2009 uma coletacircnea intitulada

Orientaccedilotildees Poliacuteticas sobre Inclusatildeo na Educaccedilatildeo a fim de ampliar a compreensatildeo das

questotildees atinentes agraves poliacuteticas e agraves praacuteticas pedagoacutegicas que visam garantir a inclusatildeo

educacional e social Os dados apresentados e as anaacutelises feitas suscitaram

questionamentos e posicionamentos em relaccedilatildeo agraves condiccedilotildees de acesso e de atendimento

nas redes de ensino e possibilitaram o aprofundamento do debate sobre as accedilotildees do poder

puacuteblico e da sociedade com vistas a assegurar o direito de todas as pessoas agrave Educaccedilatildeo

Escolar de Qualidade (No cenaacuterio regional da Ameacuterica Latina e do Caribe houve em 2009

a Campanha Latino-Americana pelo Direito agrave Educaccedilatildeo a fim de promover o

desenvolvimento de pesquisas interdisciplinares para subsidiar a formulaccedilatildeo de poliacuteticas

puacuteblicas intersetoriais que atendessem agraves especificidades educacionais de estudantes com

deficiecircncia transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotaccedilatildeo que

requeiram medidas de atendimento especializado Jaacute na Uniatildeo Europeia a Agecircncia

Europeia para o Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Especial recomendou tambeacutem em 2009

para decisoacuterios poliacuteticos princiacutepios baacutesicos para a Promoccedilatildeo da Qualidade na Educaccedilatildeo

Inclusiva Faacutevero Ferreira Ireland e Barreiros 2009)

A influecircncia histoacuterica direta ou indireta das agecircncias internacionais no direcionamento

das poliacuteticas puacuteblicas dentre elas a Educaccedilatildeo Especial situada no acircmbito geral das

diretrizes da Educaccedilatildeo como um direito de todos e dever do Estado implica o entendimento

de que os fundamentos ideoloacutegicos que datildeo sustentaccedilatildeo agraves poliacuteticas educacionais na aacuterea

de conhecimento da Educaccedilatildeo Especial adotadas pelos governos brasileiros certamente natildeo

foram gerados exclusivamente em acircmbito nacional mas ao contraacuterio em acircmbito

internacional vinculados agraves declaraccedilotildees e recomendaccedilotildees construiacutedas em foros de

abrangecircncia mundial e regional Em consequecircncia torna-se obrigatoacuterio considerar que a

atuaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas teve papel preponderante para a internacionalizaccedilatildeo do

discurso da Educaccedilatildeo Especial na perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva nos anos 1990 e 2000

notadamente pelo trabalho teacutecnico-poliacutetico da Unesco

Na perspectiva da citada agecircncia intergovernamental atuar nessa agenda de

cooperaccedilatildeo internacional e nacional com os Estados-Partes na formulaccedilatildeo de poliacuteticas e

estrateacutegias destinadas ao melhoramento dos sistemas de ensino ldquo[] significa avanccedilar para

uma sociedade educacional onde cada pessoa aprenda durante toda a vida e seja fonte de

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aprendizagem para os demaisrdquo (Unesco 1998 p 11) afinal a ldquo[] educaccedilatildeo desempenha

um papel chave neste processo tendo em vista o seu valor econocircmico e socialrdquo (Unesco

2004 p 33)

Essa compreensatildeo conduz o debate sobre os rumos da Educaccedilatildeo Especial no Brail

tornando-se fundamental para a construccedilatildeo de poliacuteticas de formaccedilatildeo docente financiamento

e gestatildeo escolar necessaacuterias para a transformaccedilatildeo da estrutura educacional a fim de

assegurar as condiccedilotildees de acesso participaccedilatildeo e aprendizagem de todos os estudantes

concebendo a escola como um espaccedilo que reconhece e valoriza as diferenccedilas

Logo o respeito agrave diversidade efetivado no respeito agraves diferenccedilas impulsiona accedilotildees

de cidadania voltadas ao reconhecimento de sujeitos de direitos simplesmente por serem

seres humanos Suas especificidades natildeo devem ser elemento para a construccedilatildeo de

desigualdades discriminaccedilotildees ou exclusotildees mas sim devem pautar as poliacuteticas afirmativas

de respeito agrave diversidade voltadas para a construccedilatildeo de contextos sociais inclusivos cujo

aspecto filosoacutefico-ideoloacutegico se assenta na equiparaccedilatildeo de oportunidades direitos e

deveres em que todas as pessoas teriam condiccedilotildees de vida e chance de realizar seus

projetos como parte do exerciacutecio de sua cidadania e em respeito agrave sua identidade

3 Consideraccedilotildees finais

Esta pesquisa foi instigada pela reflexatildeo que questionava como foi se constituindo a

compreensatildeo de Educaccedilatildeo Inclusiva ao longo dos tempos no Brasil considerando a

influecircncia ideoloacutegica dos documentos legais produzidos pelos organismos internacionais ndash

ONU Unesco OEA Unicef e BM ndash a partir das primeiras deacutecadas do seacuteculo XX Tal

inquietaccedilatildeo acadecircmica fez emergir o interesse em compreender a Histoacuteria da Educaccedilatildeo

Inclusiva em especial no que concerne agrave escolarizaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncia

defendida em acordos e discussotildees internacionais O objetivo com efeito foi desenvolver

um histoacuterico a respeito das poliacuteticas puacuteblicas internacionais de Educaccedilatildeo Especial com

ecircnfase nas mudanccedilas paradigmaacuteticas emergentes cronologicamente no Brasil

Realizou-se uma pesquisa documental nos textos internacionais produzidos sobre os

debates acerca da Educaccedilatildeo Inclusiva em especial para as pessoas com deficiecircncia dentre

os quais destacam-se Convenccedilatildeo Interamericana para a Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas

de Discriminaccedilatildeo contra as Pessoas Portadoras de Deficiecircncia Declaraccedilatildeo Universal dos

Direitos Humanos A Unesco e a Educaccedilatildeo na Ameacuterica Latina e Caribe (1987-1997)

Educaccedilatildeo para Todos o Compromisso de Dakar A Unesco no Brasil Consolidando

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Compromissos Conferecircncia Mundial de Necessidades Educativas Especiais Acesso e

Qualidade Os resultados permitiram desenvolver uma cronologia histoacuterica a qual

possibilitou afirmar que os seacuteculos XVIII e XIX foram marcados pela segregaccedilatildeo

homogeneizante das pessoas com deficiecircncia em escolas especiais com edificaccedilatildeo

especiacutefica que separavam os ditos estudantes ldquonormaisrdquo dos alunos que possuiacuteam algum

tipo de limitaccedilatildeo periacuteodo em que os debates sobre inclusatildeo natildeo possuiacuteam ecircnfase no

cenaacuterio internacional A partir das primeiras deacutecadas do seacuteculo XX os debates internacionais

a respeito da escolarizaccedilatildeo dos entatildeo denominados discentes ldquoespeciaisrdquo foram se

alargando emergiram em congruecircncia as classes especiais no interior das escolas

regulares Posteriormente na segunda metade do seacuteculo XX os debates internacionais

comeccedilaram a sinalizar a superaccedilatildeo de qualquer forma de segregaccedilatildeo e a impulsionar a

ideologia atualmente defendida de igualdade e inclusatildeo social com respeito agraves diferenccedilas

Ao fazer um balanccedilo histoacuterico sobre as poliacuteticas puacuteblicas de Educaccedilatildeo Especial no

cenaacuterio internacional percebeu-se a ausecircncia de documentos especiacuteficos nos seacuteculos XVIII

XIX e iniacutecio do XX Somente ao longo dos seacuteculos XX e XXI especialmente nas deacutecadas

que seguem 1970 averiguou-se que a atuaccedilatildeo das agecircncias especializadas da ONU em

parceria com outras agecircncias internacionais governos organizaccedilotildees natildeo governamentais e

sociedades civis contribuiu de maneira importante para a transiccedilatildeo do discurso educacional

da integraccedilatildeo instrucional para a constituiccedilatildeo de saberes e praacuteticas da Educaccedilatildeo Especial

sob a oacutetica inclusiva ao desempenhar um fundamental papel como foro permanente de

debate educacional e busca de soluccedilotildees contribuindo para a consolidaccedilatildeo de uma agenda

educacional e para a promoccedilatildeo da cooperaccedilatildeo internacional e horizontal com o objetivo de

apoiar os processos de mudanccedila das condiccedilotildees de vida das pessoas com deficiecircncia dentre

elas a inclusatildeo dessas pessoas nos espaccedilos regulares de ensino em equiparaccedilatildeo de

oportunidades direitos e deveres com relaccedilatildeo aos seus pares sem deficiecircncia

A proposta global das Naccedilotildees Unidas visava agrave promoccedilatildeo de uma Educaccedilatildeo para todos

ao longo de toda a vida notadamente para grupos historicamente excluiacutedos como o das

pessoas com deficiecircncia Para tanto durante toda a deacutecada de 1990 houve uma expansatildeo

de acordos internacionais e uma redescoberta da Educaccedilatildeo Especial como campo feacutertil de

investimentos Ocorreu a definiccedilatildeo de uma agenda internacional para a Educaccedilatildeo Especial

materializada em diferentes eventos tais como a Conferecircncia Mundial sobre Educaccedilatildeo para

Todos (1990) a Declaraccedilatildeo de Salamanca (1994) a Convenccedilatildeo da Guatemala (1999) o

Compromisso de Dakar (2000) e a Convenccedilatildeo sobre os Direitos das Pessoas com

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Deficiecircncia (2006) que trataram de pautas de interesses ordinaacuterios agrave comunidade

internacional sobre o tema da Educaccedilatildeo Especial em uma perspectiva de Educaccedilatildeo

Inclusiva

Essas declaraccedilotildees e recomendaccedilotildees resultantes das diferentes cuacutepulas conferecircncias

e eventos regionais e internacionais foram importantes para a construccedilatildeo de consensos em

torno das principais ideias e propostas sobre Educaccedilatildeo Especial nas deacutecadas de 1980 1990

e 2000 ou seja da transiccedilatildeo do modelo integracionista para o inclusivo Nesses eventos ao

se constituiacuterem em foacuteruns gerais propalava-se a necessidade de reformas educativas

nacionais acompanhadas de mudanccedilas no financiamento transformaccedilatildeo curricular e gestatildeo

educacional em torno de sistemas educacionais inclusivos perseguidos tambeacutem no iniacutecio do

seacuteculo XXI que influenciaram a mudanccedila de paradigma acerca do atendimento agrave pessoa

com deficiecircncia no Brasil

No paradigma da inclusatildeo impulsionaram-se projetos de mudanccedilas nas poliacuteticas

puacuteblicas brasileiras ao conceber-se que todos se beneficiam quando as escolas promovem

respostas agraves diferenccedilas individuais dos estudantes Logo a Educaccedilatildeo Especial que surgiu

no campo da Pedagogia como uma aacuterea de conhecimento que se ocupava exclusivamente

do processo de escolarizaccedilatildeo pela via da homogeneizaccedilatildeo dos alunos ldquoexcepcionaisrdquo em

espaccedilos escolares ditos ldquoespeciaisrdquo que orbitavam agrave margem do sistema de ensino puacuteblico e

gratuito passou a integrar os tempos e espaccedilos das escolas regulares mas ficando a

participaccedilatildeo circunscrita agraves ldquoclasses especiaisrdquo e ainda sendo modalidade substitutiva e

normalizadora do processo de escolarizaccedilatildeo dos discentes ldquoportadores de necessidades

especiaisrdquo Atualmente sob a perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva o Brasil tem como

imperativo eacutetico normativo e intelectual ampliar a participaccedilatildeo de todos os estudantes nos

estabelecimentos de ensino regular especialmente daqueles grupos sociais historicamente

excluiacutedos da escola como as pessoas com deficiecircncia atraveacutes de uma abordagem

humaniacutestica e democraacutetica que perceba o sujeito e suas singularidades tendo como

objetivos o crescimento a satisfaccedilatildeo pessoal e a inserccedilatildeo social de todos

4 Referecircncias

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Conferecircncia Mundial de Educaccedilatildeo para Todos Declaraccedilatildeo Mundial de Educaccedilatildeo para Todos Plano de Accedilatildeo para Satisfazer as Necessidades Baacutesicas de Aprendizagem Brasiacutelia Unicef

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (1994)

Conferecircncia Mundial de Necessidades Educativas Especiais Acesso e Qualidade Declaraccedilatildeo de Salamanca sobre os Princiacutepios a Poliacutetica e as Praacuteticas na Aacuterea das Necessidades Educativas Especiais Salamanca Unesco

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (1998)

A Unesco e a Educaccedilatildeo na Ameacuterica Latina e Caribe (1987-1997) Chile Unesco

Revista Electroacutenica ldquoActualidades Investigativas en Educacioacutenrdquo

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Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (2001) Educaccedilatildeo para Todos o Compromisso de Dakar Brasiacutelia Consed

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (2004)

A Unesco no Brasil consolidando compromissos Brasiacutelia Unesco Organizaccedilatildeo dos Estados Americanos (OEA) (1999) Convenccedilatildeo Interamericana para a

Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Pessoas Portadoras de Deficiecircncia Guatemala OEA

Peroni Vidal (2003) Poliacutetica educacional e papel do Estado no Brasil dos anos 1990 Satildeo

Paulo Xamatilde Rioux Marcia e Valentine Fraser (2006) Does theory matter Exploring the nexus between

disability human rights and public policy Em Dianne Pothier e Richard Devlin (Eds) Critical disability theory essays in philosophy politics policy and law (pp 47-69) Vancouver The University of British Columbia

Saacutenchez Pilar Arnaiz (2005) A Educaccedilatildeo Inclusiva um meio de construir escolas para

todos no seacuteculo XXI Revista da Educaccedilatildeo Especial 7-18 Recuperado de httpportalmecgovbrseesparquivospdfinclusaopdf

Sassaki Romeu Kasumi (2005) Inclusatildeo o paradigma do seacuteculo 21 Revista da Educaccedilatildeo

Especial 19-23 Voivodic Maria Antonieta Machado de Almeida (2004) Inclusatildeo escolar de crianccedilas de

crianccedilas com Siacutendrome de Down (2ordf ed) Petroacutepolis Vozes

Page 10: Educação inclusiva: aspectos históricos, políticos e ideológicos … · 2018. 7. 19. · Revista Electrónica “Actualidades Investigativas en Educación” _____Volumen 18

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desenvolvimento de sua capacidade e habilidades e que acelerem o processo de sua

integraccedilatildeo social

A partir da deacutecada de 1980 o Brasil paiacutes signataacuterio impulsionado por debates

internacionais buscou afirmaccedilatildeo do direito agrave Educaccedilatildeo das pessoas puacuteblico-alvo da

Educaccedilatildeo Especial por meio da realizaccedilatildeo de conferecircncias sobre o tema da inclusatildeo escolar

constituiacutedas por organismos nacionais e internacionais de defesa dos direitos humanos

Ademais ratificaram-se algumas declaraccedilotildees sobre as demandas especiacuteficas dessa aacuterea de

conhecimento que precisavam ser legitimadas democraticamente mediante instrumentos

juriacutedicos locais e de princiacutepios aplicaacuteveis a cada paiacutes-membro

No ano de 1981 por exemplo foram promulgados dois documentos relevantes para a

Educaccedilatildeo Especial a saber a Declaraccedilatildeo de Cuenca sobre novas tendecircncias na Educaccedilatildeo

Especial (UnescoOrealc ndash Cuenca Equador) que recomendava a eliminaccedilatildeo de barreiras

fiacutesicas e a participaccedilatildeo de pessoas ldquodeficientesrdquo na tomada de decisotildees a seu respeito e a

Declaraccedilatildeo de Sunderberg como resultado da Conferecircncia Mundial sobre as Accedilotildees e

Estrateacutegias para a Educaccedilatildeo Prevenccedilatildeo e Integraccedilatildeo dos Impedidos (Unesco ndash

Torremolinos Espanha) cujo tema principal era a equiparaccedilatildeo de oportunidades das

pessoas ldquodeficientesrdquo agrave Educaccedilatildeo formaccedilatildeo cultura e informaccedilatildeo (Carvalho 2002)

A deacutecada de 1980 marcou o Brasil pois deu iniacutecio ao debate mais acirrado para

estimular o cumprimento dos direitos das pessoas ldquodeficientesrdquo agrave Educaccedilatildeo agrave sauacutede e ao

trabalho Em 1981 comemorou-se em todo o mundo o Ano Internacional das Pessoas

Deficientes proclamado pela Assembleia Geral das Naccedilotildees Unidas5 cujo lema foi

participaccedilatildeo plena e igualdade em que a ONU oficializou o embriatildeo do conceito de

sociedade inclusiva Partindo da ideia de que as pessoas ldquodeficientesrdquo formam parte da

sociedade e natildeo satildeo uma sociedade agrave parte o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Cultura (MEC) do

Brasil em consonacircncia com a citada resoluccedilatildeo da ONU traccedilou as seguintes accedilotildees a curto

meacutedio e longo prazo para a oferta do AEE em territoacuterio nacional

I ndash Curto Prazo 1) Estabelecer modelos para serviccedilos de atendimento educacional

2) Organizar seminaacuterios e congressos a niacutevel nacional sobre Educaccedilatildeo Especial

3) Fomentar o desenvolvimento de recursos humanos em Educaccedilatildeo Especial a niacutevel

de 2ordm Grau 4) Sensibilizar os Conselhos de Educaccedilatildeo ordm(Estaduais e Federal) para os

5 ldquoEm sua trigeacutesima sessatildeo de 16 de dezembro de 1976 a Assembleia Geral das Naccedilotildees Unidas pela Resoluccedilatildeo nordm 31123 proclamou oficialmente o ano de 1981 como o Ano Internacional das Pessoas Deficientesrdquo (ONU 1981 p 6)

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problemas da Educaccedilatildeo Especial 5) Assessorar a Secom sobre a publicaccedilatildeo de

material informativo sobre multiplicidade de accedilotildees impliacutecitas na Educaccedilatildeo Especial

6) Promover o levantamento de todo o material bibliograacutefico sobre Educaccedilatildeo Especial

7) Ampliar e reestruturar o atendimento preacute-escolar do Instituto Nacional de Educaccedilatildeo

de Surdos ndash Ines ndash e do Instituto Benjamin Constant ndash IBC ndash visando transformaacute-los

em serviccedilos-modelo 8) Aperfeiccediloar e ampliar programa de bolsa de trabalho para

educandos deficientes 9) Publicar documentos relativos agrave Educaccedilatildeo Especial

elaborados pelo Cenesp 10) Aperfeiccediloar e ampliar o projeto de Assistecircncia Teacutecnica agraves

Secretarias Estaduais de Educaccedilatildeo II ndash Meacutedio Prazo 1) Estimular a formaccedilatildeo de

teacutecnicos especializados a niacutevel de 3ordm Grau 2) Elaborar o II Plano Nacional de

Educaccedilatildeo Especial 3) Normalizaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fiacutesica para deficientes 4) Efetuar

estudos sobre estatiacutestica da Educaccedilatildeo Especial 5) Implementar a modernizaccedilatildeo da

Imprensa Braille III ndash Longo Prazo 1) Estimular nos Estados e Municiacutepios a criaccedilatildeo

de serviccedilos de atendimento educacional que objetivem a integraccedilatildeo e a normalizaccedilatildeo

2) Criar centros de produccedilatildeo de material psicopedagoacutegico 3) Elaborar o I Plano

Nacional Integrado de Assistecircncia ao Excepcional e 4) Estimular a Educaccedilatildeo Especial

de deficientes adultos (ONU 1981 pp 14-15)

Uma importante consequecircncia do Ano Internacional das Pessoas Deficientes (1981) foi

a aprovaccedilatildeo do Programa Mundial de Accedilatildeo relativo agraves Pessoas com Deficiecircncia pela

Assembleia Geral da ONU por meio da Resoluccedilatildeo nordm 3752 de 3 de dezembro de 1982

Prontamente o Ano Internacional e o Programa Mundial de Accedilatildeo contribuiacuteram para um forte

desenvolvimento nesse domiacutenio por intermeacutedio da criaccedilatildeo da Deacutecada das Naccedilotildees Unidas

para as Pessoas com Deficiecircncia (1983-1992) que visava garantir agraves pessoas com

deficiecircncia o exerciacutecio dos seus direitos fundamentais e a sua participaccedilatildeo plena na

sociedade (ONU 1993) Ambos salientavam o direito das pessoas ldquodeficientesrdquo agraves mesmas

oportunidades de que gozavam os demais cidadatildeos visando a todos melhores condiccedilotildees de

vida resultantes do desenvolvimento econocircmico e social de suas comunidades (Unesco

1990)

Aspirando a enfrentar esse desafio mundial e a construir projetos capazes de superar

os processos histoacutericos de exclusatildeo escolar dessas pessoas com base na responsabilidade

comum e universal de todos os povos a Unesco estabeleceu a Conferecircncia Mundial de

Educaccedilatildeo para Todos realizada em Jomtien na Tailacircndia no periacuteodo de 5 a 9 de marccedilo de

1990 Esse evento implicou a solidariedade internacional dos organismos e instituiccedilotildees

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intergovernamentais a fim de satisfazer as necessidades baacutesicas de aprendizagem de seus

cidadatildeos haja vista os altos iacutendices de crianccedilas adolescentes e jovens sem escolarizaccedilatildeo

Somente assim seria possiacutevel promover as transformaccedilotildees nos sistemas de ensino para

assegurar o acesso e a permanecircncia de todos na escola (Unesco 1990)

Os principais referenciais da Declaraccedilatildeo de Jomtien (1990)6 publicados no ano

seguinte pelo Unicef enfatizavam a urgecircncia de uma Educaccedilatildeo de qualidade para todos ao

constituiacuterem a agenda de discussatildeo das poliacuteticas educacionais reforccedilando a necessidade

de elaboraccedilatildeo e a implementaccedilatildeo de accedilotildees voltadas para a universalizaccedilatildeo do acesso agrave

escola a promoccedilatildeo da equidade no acircmbito do ensino fundamental meacutedio e superior a

oferta da Educaccedilatildeo Infantil nas redes puacuteblicas de ensino a estruturaccedilatildeo do atendimento agraves

demandas de alfabetizaccedilatildeo e da modalidade de Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos e a

construccedilatildeo da gestatildeo democraacutetica da escola Sob a perspectiva inclusiva a referida

declaraccedilatildeo nos itens 4 e 5 do artigo 3ordm instituiu que

4 Um compromisso efetivo para superar as disparidades educacionais deve ser

assumido Os grupos excluiacutedos ndash os pobres os meninos e meninas de rua ou

trabalhadores as populaccedilotildees das periferias urbanas e zonas rurais os nocircmades e os

trabalhadores migrantes os povos indiacutegenas as minorias eacutetnicas raciais e linguumliacutesticas

[sic] os refugiados os deslocados pela guerra e os povos submetidos a um regime de

ocupaccedilatildeo ndash natildeo devem sofrer qualquer tipo de discriminaccedilatildeo no acesso agraves

oportunidades educacionais 5 As necessidades baacutesicas de aprendizagem das

pessoas portadoras de deficiecircncias requerem atenccedilatildeo especial Eacute preciso tomar

medidas que garantam a igualdade de acesso agrave educaccedilatildeo aos portadores de todo e

qualquer tipo de deficiecircncia como parte integrante do sistema educativo (Unesco

1990 p 4)

Vale lembrar que as diversas declaraccedilotildees da ONU culminaram em 1993 na publicaccedilatildeo

das Normas sobre a Igualdade de Oportunidades7 para as Pessoas com Deficiecircncia por meio

de resoluccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas adotada pela Assembleia Geral no dia 20 de dezembro de

1993 As normas exortavam os Estados dentre eles o Brasil a assumirem um compromisso

eacutetico e poliacutetico com vistas a operacionalizar dentre outros direitos o acesso ao sistema

6 No Brasil o MEC divulgou o Plano Decenal de Educaccedilatildeo para Todos para o periacuteodo de 1993 a 2003 elaborado em cumprimento agraves resoluccedilotildees da Declaraccedilatildeo de Jomtien (1990)

7 ldquoO termo lsquoigualdade de oportunidadesrsquo significa o processo pelo qual os diversos sistemas da sociedade e o meio envolvente tais como serviccedilos atividades informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo se [sic] tornam acessiacuteveis a todos e em especial agraves pessoas com deficiecircnciardquo (ONU 1993 p 16)

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regular de ensino agraves pessoas com deficiecircncia em igualdade de oportunidades com as demais

pessoas independentemente da natureza e gravidade da sua deficiecircncia tendo como

estrateacutegias complementares as escolas especiais (ONU 1993)

Por conseguinte a tendecircncia dos organismos internacionais atrelados ao

desenvolvimento da Educaccedilatildeo em seus paiacuteses-membros notadamente aqueles ligados agrave

ONU durante as deacutecadas de 1980 e 1990 tinha sido a de promover integraccedilatildeo e

participaccedilatildeo aleacutem de combater a exclusatildeo dos grupos socialmente marginalizados como

era o caso das pessoas ldquodeficientesrdquo O paradigma da inclusatildeo surgiu mais enfaticamente

com a Declaraccedilatildeo de Jomtien (1990) no contexto do movimento poliacutetico mundial para o

fomento de uma agenda internacional em prol do alcance das metas do direito agrave Educaccedilatildeo

das pessoas com deficiecircncia nos sistemas regulares de ensino Seu aacutepice no entanto

ocorreu com a produccedilatildeo de um documento publicado pelo Governo da Espanha em parceria

com a Unesco entre os dias 7 e 10 de junho de 1994 denominado Declaraccedilatildeo de

Salamanca sobre os princiacutepios a poliacutetica e as praacuteticas na aacuterea das necessidades educativas

especiais8 como resultado da Conferecircncia Mundial de Necessidades Educativas Especiais

Acesso e Qualidade

Tal Declaraccedilatildeo teve a finalidade de promover o objetivo da Educaccedilatildeo para Todos ou

seja da Educaccedilatildeo Especial sob a perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva examinando as

mudanccedilas fundamentais das poliacuteticas puacuteblicas educacionais necessaacuterias para desenvolver

tal abordagem nomeadamente qualificando as escolas regulares para atender a todas as

crianccedilas sobretudo as que tecircm necessidades educativas especiais de modo que os

governos com apoio das organizaccedilotildees internacionais pudessem conceder maior prioridade

ao desenvolvimento de seus respectivos Sistemas Nacionais de Educaccedilatildeo sob a

perspectiva inclusiva atraveacutes de medidas poliacuteticas e orccedilamentaacuterias compatiacuteveis com esse

imperativo eacutetico (Unesco 1994)

A partir dessa reflexatildeo acerca das praacuteticas educacionais especiais da qual resultaram

a compreensatildeo de equiparaccedilatildeo de oportunidades de diversos grupos sociais (crianccedilas com

deficiecircncia e crianccedilas bem dotadas crianccedilas que vivem nas ruas e que trabalham crianccedilas

de populaccedilotildees distantes ou nocircmades crianccedilas de minorias linguiacutesticas eacutetnicas ou culturais e

crianccedilas de outros grupos e zonas desfavorecidas ou marginalizadas) a Declaraccedilatildeo de

Salamanca e Linha de Accedilatildeo sobre Necessidades Educativas Especiais proclamou que as

8 A expressatildeo ldquonecessidades educativas especiaisrdquo no citado documento refere-se a todas as crianccedilas e jovens cujas carecircncias se relacionam com deficiecircncias ou dificuldades escolares incluindo nesse escopo as pessoas com deficiecircncia e as superdotadas (UNESCO 1994)

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escolas comuns representavam o meio mais eficaz para combater as atitudes

discriminatoacuterias ressaltando que o princiacutepio fundamental dessa linha de accedilatildeo seria o de que

as escolas inclusivas deveriam acolher todas as crianccedilas independentemente de suas

condiccedilotildees fiacutesicas intelectuais sociais emocionais linguiacutesticas ou outras (Unesco 1994)

Na esteira de construccedilatildeo de uma agenda internacional em torno da promoccedilatildeo de uma

Educaccedilatildeo para Todos em particular para aquelas com necessidades educacionais

especiais capazes de gerar diversos instrumentos e recomendaccedilotildees internacionais

passiacuteveis de serem incorporados ao sistema juriacutedico dos paiacuteses-membros de organismos

internacionais ligados ao fomento da Educaccedilatildeo tornando-os internamente obrigatoacuterios

surgiram outros movimentos sociais em torno da proposta da inclusatildeo escolar como a

Declaraccedilatildeo de Cartagena de Iacutendias as Poliacuteticas Integrais para Pessoas com Deficiecircncias na

Regiatildeo Ibero-Americana na Colocircmbia em 1992 a Conferecircncia Hemisfeacuterica de Pessoas com

Deficiecircncias em WashingtonEUA em 1993 a 5ordf Reuniatildeo do Comitecirc Regional

Intergovernamental do Projeto Principal de Educaccedilatildeo na Ameacuterica Latina e Caribe que

resultou na Declaraccedilatildeo de Santiago realizada no Chile em 1993 a 1ordf Reuniatildeo dos

Participantes da Conferecircncia de Ministros responsaacuteveis pela situaccedilatildeo da pessoa com

deficiecircncia ocorrida em MontrealCanadaacute em 1994 e a publicaccedilatildeo das normas uniformes

sobre a igualdade de oportunidades para pessoas com deficiecircncia aprovadas pela

Assembleia Geral nordm 4896 de 20 de dezembro de 1993 da ONU

Por fim a construccedilatildeo do cenaacuterio internacional da Educaccedilatildeo Especial sob o aspecto

filosoacutefico-ideoloacutegico da inclusatildeo na deacutecada de 1990 culminou com a Convenccedilatildeo

Interamericana para a Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Pessoas

Portadoras de Deficiecircncia9 mais conhecida como Convenccedilatildeo da Guatemala aprovada pelo

Conselho Permanente da OEA na sessatildeo realizada em 26 de maio de 1999 no paiacutes da

Ameacuterica Central supracitado promulgada no Brasil pelo Decreto nordm 39562001 Esse

documento que ainda utilizava a expressatildeo ldquoportador de deficiecircnciardquo afirmava que os

Estados-Partes deveriam se comprometer a tomar as medidas de caraacuteter legislativo social

educacional trabalhista ou de qualquer outra natureza que fossem necessaacuterias para

eliminar a discriminaccedilatildeo contra as pessoas ldquoportadoras de deficiecircnciardquo e proporcionar a sua

plena ldquointegraccedilatildeordquo agrave sociedade

9 ldquo[] o termo lsquodiscriminaccedilatildeo contra as pessoas portadoras de deficiecircnciarsquo significa toda diferenciaccedilatildeo exclusatildeo ou restriccedilatildeo baseada em deficiecircncia antecedente de deficiecircncia consequumlecircncia [sic] de deficiecircncia anterior ou percepccedilatildeo de deficiecircncia presente ou passada que tenha o efeito ou propoacutesito de impedir ou anular o reconhecimento gozo ou exerciacutecio por parte das pessoas portadoras de deficiecircncia de seus direitos humanos e suas liberdades fundamentaisrdquo (OEA 1999 p 3)

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Tendo em vista o protagonismo das agecircncias e organizaccedilotildees intergovernamentais no

panorama mundial como a ONU e suas agecircncias especializadas (Unesco Unicef e BM) e no

cenaacuterio regional como a OEA na busca pela cooperaccedilatildeo internacional a fim de promover e

estimular entre seus paiacuteses-membros o respeito aos direitos humanos e agraves liberdades

fundamentais para todos especialmente entre os grupos minoritaacuterios como no caso da

melhoria das condiccedilotildees de vida para pessoas com deficiecircncia verificou-se que o percurso

histoacuterico poliacutetico e filosoacutefico da Educaccedilatildeo Especial nos anos 1990 culminou no paradigma

inclusivo de garantia da equiparaccedilatildeo de oportunidades direitos e deveres de seu puacuteblico-alvo

no interior do sistema regular de ensino (Peroni 2003)

Em pleno anos 2000 a ONU continuou a fixar padrotildees a trabalhar para tecer

consensos universais e a manter-se como um foacuterum central disseminador para a

comunidade internacional de princiacutepios e orientaccedilotildees gerais para a Educaccedilatildeo atraveacutes de

sua agecircncia especializada da Unesco Ademais seguiu lanccedilando as diretrizes sobre os

caminhos da Educaccedilatildeo Especial atraveacutes de declaraccedilotildees e recomendaccedilotildees acordadas para a

construccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas educacionais inclusivas ao redor do mundo Dessa forma

entre os dias 26 e 28 de abril de 2000 em Dakar Senegal 164 paiacuteses reuniram-se no

Foacuterum Consultivo Internacional para a Educaccedilatildeo para Todos criado em 1991 e composto

por representantes da Unesco Unicef e BM contando com agecircncias bilaterais governos e

sociedade civil para avaliar os progressos globais alcanccedilados desde a Conferecircncia Mundial

de Educaccedilatildeo para Todos realizada dez anos antes em Jomtien Tailacircndia e para aprovar

novo marco de accedilatildeo para a universalizaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Baacutesica (Unesco 2001)

Em 13 de dezembro de 2006 em sessatildeo solene da Assembleia Geral da ONU foi

aprovado o texto final da Convenccedilatildeo sobre os Direitos das Pessoas com Deficiecircncia10

firmado pelo Brasil e por mais 85 naccedilotildees signataacuterias em 30 de marccedilo de 2007 Esse tratado

internacional no que diz respeito ao direito agrave Educaccedilatildeo aos deficientes estabelece que os

Estados-Partes devem assegurar um sistema de Educaccedilatildeo Inclusiva em todos os niacuteveis de

ensino bem como o aprendizado ao longo da vida Em seu artigo 24 determina que as

pessoas com deficiecircncia natildeo sejam excluiacutedas do sistema educacional geral e que as

crianccedilas com deficiecircncia natildeo sejam excluiacutedas do ensino fundamental gratuito e compulsoacuterio

estabelece tambeacutem que elas tenham acesso ao ensino meacutedio e superior inclusivo de

10 Nesse texto a ONU reconhece que ldquo[] a deficiecircncia eacute um conceito em evoluccedilatildeo e que a deficiecircncia resulta da interaccedilatildeo entre pessoas com deficiecircncia e as barreiras atitudinais e ambientais que impedem sua plena e efetiva participaccedilatildeo na sociedade em igualdade de oportunidades com as demais pessoasrdquo (ONU 2012 p 22)

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qualidade e gratuito em igualdade de condiccedilotildees com as demais pessoas na comunidade em

que vivem (ONU 2012)

Ainda no panorama internacional a Unesco lanccedila em 2009 uma coletacircnea intitulada

Orientaccedilotildees Poliacuteticas sobre Inclusatildeo na Educaccedilatildeo a fim de ampliar a compreensatildeo das

questotildees atinentes agraves poliacuteticas e agraves praacuteticas pedagoacutegicas que visam garantir a inclusatildeo

educacional e social Os dados apresentados e as anaacutelises feitas suscitaram

questionamentos e posicionamentos em relaccedilatildeo agraves condiccedilotildees de acesso e de atendimento

nas redes de ensino e possibilitaram o aprofundamento do debate sobre as accedilotildees do poder

puacuteblico e da sociedade com vistas a assegurar o direito de todas as pessoas agrave Educaccedilatildeo

Escolar de Qualidade (No cenaacuterio regional da Ameacuterica Latina e do Caribe houve em 2009

a Campanha Latino-Americana pelo Direito agrave Educaccedilatildeo a fim de promover o

desenvolvimento de pesquisas interdisciplinares para subsidiar a formulaccedilatildeo de poliacuteticas

puacuteblicas intersetoriais que atendessem agraves especificidades educacionais de estudantes com

deficiecircncia transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotaccedilatildeo que

requeiram medidas de atendimento especializado Jaacute na Uniatildeo Europeia a Agecircncia

Europeia para o Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Especial recomendou tambeacutem em 2009

para decisoacuterios poliacuteticos princiacutepios baacutesicos para a Promoccedilatildeo da Qualidade na Educaccedilatildeo

Inclusiva Faacutevero Ferreira Ireland e Barreiros 2009)

A influecircncia histoacuterica direta ou indireta das agecircncias internacionais no direcionamento

das poliacuteticas puacuteblicas dentre elas a Educaccedilatildeo Especial situada no acircmbito geral das

diretrizes da Educaccedilatildeo como um direito de todos e dever do Estado implica o entendimento

de que os fundamentos ideoloacutegicos que datildeo sustentaccedilatildeo agraves poliacuteticas educacionais na aacuterea

de conhecimento da Educaccedilatildeo Especial adotadas pelos governos brasileiros certamente natildeo

foram gerados exclusivamente em acircmbito nacional mas ao contraacuterio em acircmbito

internacional vinculados agraves declaraccedilotildees e recomendaccedilotildees construiacutedas em foros de

abrangecircncia mundial e regional Em consequecircncia torna-se obrigatoacuterio considerar que a

atuaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas teve papel preponderante para a internacionalizaccedilatildeo do

discurso da Educaccedilatildeo Especial na perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva nos anos 1990 e 2000

notadamente pelo trabalho teacutecnico-poliacutetico da Unesco

Na perspectiva da citada agecircncia intergovernamental atuar nessa agenda de

cooperaccedilatildeo internacional e nacional com os Estados-Partes na formulaccedilatildeo de poliacuteticas e

estrateacutegias destinadas ao melhoramento dos sistemas de ensino ldquo[] significa avanccedilar para

uma sociedade educacional onde cada pessoa aprenda durante toda a vida e seja fonte de

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aprendizagem para os demaisrdquo (Unesco 1998 p 11) afinal a ldquo[] educaccedilatildeo desempenha

um papel chave neste processo tendo em vista o seu valor econocircmico e socialrdquo (Unesco

2004 p 33)

Essa compreensatildeo conduz o debate sobre os rumos da Educaccedilatildeo Especial no Brail

tornando-se fundamental para a construccedilatildeo de poliacuteticas de formaccedilatildeo docente financiamento

e gestatildeo escolar necessaacuterias para a transformaccedilatildeo da estrutura educacional a fim de

assegurar as condiccedilotildees de acesso participaccedilatildeo e aprendizagem de todos os estudantes

concebendo a escola como um espaccedilo que reconhece e valoriza as diferenccedilas

Logo o respeito agrave diversidade efetivado no respeito agraves diferenccedilas impulsiona accedilotildees

de cidadania voltadas ao reconhecimento de sujeitos de direitos simplesmente por serem

seres humanos Suas especificidades natildeo devem ser elemento para a construccedilatildeo de

desigualdades discriminaccedilotildees ou exclusotildees mas sim devem pautar as poliacuteticas afirmativas

de respeito agrave diversidade voltadas para a construccedilatildeo de contextos sociais inclusivos cujo

aspecto filosoacutefico-ideoloacutegico se assenta na equiparaccedilatildeo de oportunidades direitos e

deveres em que todas as pessoas teriam condiccedilotildees de vida e chance de realizar seus

projetos como parte do exerciacutecio de sua cidadania e em respeito agrave sua identidade

3 Consideraccedilotildees finais

Esta pesquisa foi instigada pela reflexatildeo que questionava como foi se constituindo a

compreensatildeo de Educaccedilatildeo Inclusiva ao longo dos tempos no Brasil considerando a

influecircncia ideoloacutegica dos documentos legais produzidos pelos organismos internacionais ndash

ONU Unesco OEA Unicef e BM ndash a partir das primeiras deacutecadas do seacuteculo XX Tal

inquietaccedilatildeo acadecircmica fez emergir o interesse em compreender a Histoacuteria da Educaccedilatildeo

Inclusiva em especial no que concerne agrave escolarizaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncia

defendida em acordos e discussotildees internacionais O objetivo com efeito foi desenvolver

um histoacuterico a respeito das poliacuteticas puacuteblicas internacionais de Educaccedilatildeo Especial com

ecircnfase nas mudanccedilas paradigmaacuteticas emergentes cronologicamente no Brasil

Realizou-se uma pesquisa documental nos textos internacionais produzidos sobre os

debates acerca da Educaccedilatildeo Inclusiva em especial para as pessoas com deficiecircncia dentre

os quais destacam-se Convenccedilatildeo Interamericana para a Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas

de Discriminaccedilatildeo contra as Pessoas Portadoras de Deficiecircncia Declaraccedilatildeo Universal dos

Direitos Humanos A Unesco e a Educaccedilatildeo na Ameacuterica Latina e Caribe (1987-1997)

Educaccedilatildeo para Todos o Compromisso de Dakar A Unesco no Brasil Consolidando

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Compromissos Conferecircncia Mundial de Necessidades Educativas Especiais Acesso e

Qualidade Os resultados permitiram desenvolver uma cronologia histoacuterica a qual

possibilitou afirmar que os seacuteculos XVIII e XIX foram marcados pela segregaccedilatildeo

homogeneizante das pessoas com deficiecircncia em escolas especiais com edificaccedilatildeo

especiacutefica que separavam os ditos estudantes ldquonormaisrdquo dos alunos que possuiacuteam algum

tipo de limitaccedilatildeo periacuteodo em que os debates sobre inclusatildeo natildeo possuiacuteam ecircnfase no

cenaacuterio internacional A partir das primeiras deacutecadas do seacuteculo XX os debates internacionais

a respeito da escolarizaccedilatildeo dos entatildeo denominados discentes ldquoespeciaisrdquo foram se

alargando emergiram em congruecircncia as classes especiais no interior das escolas

regulares Posteriormente na segunda metade do seacuteculo XX os debates internacionais

comeccedilaram a sinalizar a superaccedilatildeo de qualquer forma de segregaccedilatildeo e a impulsionar a

ideologia atualmente defendida de igualdade e inclusatildeo social com respeito agraves diferenccedilas

Ao fazer um balanccedilo histoacuterico sobre as poliacuteticas puacuteblicas de Educaccedilatildeo Especial no

cenaacuterio internacional percebeu-se a ausecircncia de documentos especiacuteficos nos seacuteculos XVIII

XIX e iniacutecio do XX Somente ao longo dos seacuteculos XX e XXI especialmente nas deacutecadas

que seguem 1970 averiguou-se que a atuaccedilatildeo das agecircncias especializadas da ONU em

parceria com outras agecircncias internacionais governos organizaccedilotildees natildeo governamentais e

sociedades civis contribuiu de maneira importante para a transiccedilatildeo do discurso educacional

da integraccedilatildeo instrucional para a constituiccedilatildeo de saberes e praacuteticas da Educaccedilatildeo Especial

sob a oacutetica inclusiva ao desempenhar um fundamental papel como foro permanente de

debate educacional e busca de soluccedilotildees contribuindo para a consolidaccedilatildeo de uma agenda

educacional e para a promoccedilatildeo da cooperaccedilatildeo internacional e horizontal com o objetivo de

apoiar os processos de mudanccedila das condiccedilotildees de vida das pessoas com deficiecircncia dentre

elas a inclusatildeo dessas pessoas nos espaccedilos regulares de ensino em equiparaccedilatildeo de

oportunidades direitos e deveres com relaccedilatildeo aos seus pares sem deficiecircncia

A proposta global das Naccedilotildees Unidas visava agrave promoccedilatildeo de uma Educaccedilatildeo para todos

ao longo de toda a vida notadamente para grupos historicamente excluiacutedos como o das

pessoas com deficiecircncia Para tanto durante toda a deacutecada de 1990 houve uma expansatildeo

de acordos internacionais e uma redescoberta da Educaccedilatildeo Especial como campo feacutertil de

investimentos Ocorreu a definiccedilatildeo de uma agenda internacional para a Educaccedilatildeo Especial

materializada em diferentes eventos tais como a Conferecircncia Mundial sobre Educaccedilatildeo para

Todos (1990) a Declaraccedilatildeo de Salamanca (1994) a Convenccedilatildeo da Guatemala (1999) o

Compromisso de Dakar (2000) e a Convenccedilatildeo sobre os Direitos das Pessoas com

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Deficiecircncia (2006) que trataram de pautas de interesses ordinaacuterios agrave comunidade

internacional sobre o tema da Educaccedilatildeo Especial em uma perspectiva de Educaccedilatildeo

Inclusiva

Essas declaraccedilotildees e recomendaccedilotildees resultantes das diferentes cuacutepulas conferecircncias

e eventos regionais e internacionais foram importantes para a construccedilatildeo de consensos em

torno das principais ideias e propostas sobre Educaccedilatildeo Especial nas deacutecadas de 1980 1990

e 2000 ou seja da transiccedilatildeo do modelo integracionista para o inclusivo Nesses eventos ao

se constituiacuterem em foacuteruns gerais propalava-se a necessidade de reformas educativas

nacionais acompanhadas de mudanccedilas no financiamento transformaccedilatildeo curricular e gestatildeo

educacional em torno de sistemas educacionais inclusivos perseguidos tambeacutem no iniacutecio do

seacuteculo XXI que influenciaram a mudanccedila de paradigma acerca do atendimento agrave pessoa

com deficiecircncia no Brasil

No paradigma da inclusatildeo impulsionaram-se projetos de mudanccedilas nas poliacuteticas

puacuteblicas brasileiras ao conceber-se que todos se beneficiam quando as escolas promovem

respostas agraves diferenccedilas individuais dos estudantes Logo a Educaccedilatildeo Especial que surgiu

no campo da Pedagogia como uma aacuterea de conhecimento que se ocupava exclusivamente

do processo de escolarizaccedilatildeo pela via da homogeneizaccedilatildeo dos alunos ldquoexcepcionaisrdquo em

espaccedilos escolares ditos ldquoespeciaisrdquo que orbitavam agrave margem do sistema de ensino puacuteblico e

gratuito passou a integrar os tempos e espaccedilos das escolas regulares mas ficando a

participaccedilatildeo circunscrita agraves ldquoclasses especiaisrdquo e ainda sendo modalidade substitutiva e

normalizadora do processo de escolarizaccedilatildeo dos discentes ldquoportadores de necessidades

especiaisrdquo Atualmente sob a perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva o Brasil tem como

imperativo eacutetico normativo e intelectual ampliar a participaccedilatildeo de todos os estudantes nos

estabelecimentos de ensino regular especialmente daqueles grupos sociais historicamente

excluiacutedos da escola como as pessoas com deficiecircncia atraveacutes de uma abordagem

humaniacutestica e democraacutetica que perceba o sujeito e suas singularidades tendo como

objetivos o crescimento a satisfaccedilatildeo pessoal e a inserccedilatildeo social de todos

4 Referecircncias

Brasil Poder Executivo (2001) Promulga a Convenccedilatildeo Interamericana para a Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Pessoas Portadoras de Deficiecircncia Decreto nordm 3956 Brasil Diaacuterio Oficial [da] Repuacuteblica Federativa do Brasil

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Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (1990)

Conferecircncia Mundial de Educaccedilatildeo para Todos Declaraccedilatildeo Mundial de Educaccedilatildeo para Todos Plano de Accedilatildeo para Satisfazer as Necessidades Baacutesicas de Aprendizagem Brasiacutelia Unicef

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (1994)

Conferecircncia Mundial de Necessidades Educativas Especiais Acesso e Qualidade Declaraccedilatildeo de Salamanca sobre os Princiacutepios a Poliacutetica e as Praacuteticas na Aacuterea das Necessidades Educativas Especiais Salamanca Unesco

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (1998)

A Unesco e a Educaccedilatildeo na Ameacuterica Latina e Caribe (1987-1997) Chile Unesco

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Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (2001) Educaccedilatildeo para Todos o Compromisso de Dakar Brasiacutelia Consed

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (2004)

A Unesco no Brasil consolidando compromissos Brasiacutelia Unesco Organizaccedilatildeo dos Estados Americanos (OEA) (1999) Convenccedilatildeo Interamericana para a

Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Pessoas Portadoras de Deficiecircncia Guatemala OEA

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problemas da Educaccedilatildeo Especial 5) Assessorar a Secom sobre a publicaccedilatildeo de

material informativo sobre multiplicidade de accedilotildees impliacutecitas na Educaccedilatildeo Especial

6) Promover o levantamento de todo o material bibliograacutefico sobre Educaccedilatildeo Especial

7) Ampliar e reestruturar o atendimento preacute-escolar do Instituto Nacional de Educaccedilatildeo

de Surdos ndash Ines ndash e do Instituto Benjamin Constant ndash IBC ndash visando transformaacute-los

em serviccedilos-modelo 8) Aperfeiccediloar e ampliar programa de bolsa de trabalho para

educandos deficientes 9) Publicar documentos relativos agrave Educaccedilatildeo Especial

elaborados pelo Cenesp 10) Aperfeiccediloar e ampliar o projeto de Assistecircncia Teacutecnica agraves

Secretarias Estaduais de Educaccedilatildeo II ndash Meacutedio Prazo 1) Estimular a formaccedilatildeo de

teacutecnicos especializados a niacutevel de 3ordm Grau 2) Elaborar o II Plano Nacional de

Educaccedilatildeo Especial 3) Normalizaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fiacutesica para deficientes 4) Efetuar

estudos sobre estatiacutestica da Educaccedilatildeo Especial 5) Implementar a modernizaccedilatildeo da

Imprensa Braille III ndash Longo Prazo 1) Estimular nos Estados e Municiacutepios a criaccedilatildeo

de serviccedilos de atendimento educacional que objetivem a integraccedilatildeo e a normalizaccedilatildeo

2) Criar centros de produccedilatildeo de material psicopedagoacutegico 3) Elaborar o I Plano

Nacional Integrado de Assistecircncia ao Excepcional e 4) Estimular a Educaccedilatildeo Especial

de deficientes adultos (ONU 1981 pp 14-15)

Uma importante consequecircncia do Ano Internacional das Pessoas Deficientes (1981) foi

a aprovaccedilatildeo do Programa Mundial de Accedilatildeo relativo agraves Pessoas com Deficiecircncia pela

Assembleia Geral da ONU por meio da Resoluccedilatildeo nordm 3752 de 3 de dezembro de 1982

Prontamente o Ano Internacional e o Programa Mundial de Accedilatildeo contribuiacuteram para um forte

desenvolvimento nesse domiacutenio por intermeacutedio da criaccedilatildeo da Deacutecada das Naccedilotildees Unidas

para as Pessoas com Deficiecircncia (1983-1992) que visava garantir agraves pessoas com

deficiecircncia o exerciacutecio dos seus direitos fundamentais e a sua participaccedilatildeo plena na

sociedade (ONU 1993) Ambos salientavam o direito das pessoas ldquodeficientesrdquo agraves mesmas

oportunidades de que gozavam os demais cidadatildeos visando a todos melhores condiccedilotildees de

vida resultantes do desenvolvimento econocircmico e social de suas comunidades (Unesco

1990)

Aspirando a enfrentar esse desafio mundial e a construir projetos capazes de superar

os processos histoacutericos de exclusatildeo escolar dessas pessoas com base na responsabilidade

comum e universal de todos os povos a Unesco estabeleceu a Conferecircncia Mundial de

Educaccedilatildeo para Todos realizada em Jomtien na Tailacircndia no periacuteodo de 5 a 9 de marccedilo de

1990 Esse evento implicou a solidariedade internacional dos organismos e instituiccedilotildees

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intergovernamentais a fim de satisfazer as necessidades baacutesicas de aprendizagem de seus

cidadatildeos haja vista os altos iacutendices de crianccedilas adolescentes e jovens sem escolarizaccedilatildeo

Somente assim seria possiacutevel promover as transformaccedilotildees nos sistemas de ensino para

assegurar o acesso e a permanecircncia de todos na escola (Unesco 1990)

Os principais referenciais da Declaraccedilatildeo de Jomtien (1990)6 publicados no ano

seguinte pelo Unicef enfatizavam a urgecircncia de uma Educaccedilatildeo de qualidade para todos ao

constituiacuterem a agenda de discussatildeo das poliacuteticas educacionais reforccedilando a necessidade

de elaboraccedilatildeo e a implementaccedilatildeo de accedilotildees voltadas para a universalizaccedilatildeo do acesso agrave

escola a promoccedilatildeo da equidade no acircmbito do ensino fundamental meacutedio e superior a

oferta da Educaccedilatildeo Infantil nas redes puacuteblicas de ensino a estruturaccedilatildeo do atendimento agraves

demandas de alfabetizaccedilatildeo e da modalidade de Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos e a

construccedilatildeo da gestatildeo democraacutetica da escola Sob a perspectiva inclusiva a referida

declaraccedilatildeo nos itens 4 e 5 do artigo 3ordm instituiu que

4 Um compromisso efetivo para superar as disparidades educacionais deve ser

assumido Os grupos excluiacutedos ndash os pobres os meninos e meninas de rua ou

trabalhadores as populaccedilotildees das periferias urbanas e zonas rurais os nocircmades e os

trabalhadores migrantes os povos indiacutegenas as minorias eacutetnicas raciais e linguumliacutesticas

[sic] os refugiados os deslocados pela guerra e os povos submetidos a um regime de

ocupaccedilatildeo ndash natildeo devem sofrer qualquer tipo de discriminaccedilatildeo no acesso agraves

oportunidades educacionais 5 As necessidades baacutesicas de aprendizagem das

pessoas portadoras de deficiecircncias requerem atenccedilatildeo especial Eacute preciso tomar

medidas que garantam a igualdade de acesso agrave educaccedilatildeo aos portadores de todo e

qualquer tipo de deficiecircncia como parte integrante do sistema educativo (Unesco

1990 p 4)

Vale lembrar que as diversas declaraccedilotildees da ONU culminaram em 1993 na publicaccedilatildeo

das Normas sobre a Igualdade de Oportunidades7 para as Pessoas com Deficiecircncia por meio

de resoluccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas adotada pela Assembleia Geral no dia 20 de dezembro de

1993 As normas exortavam os Estados dentre eles o Brasil a assumirem um compromisso

eacutetico e poliacutetico com vistas a operacionalizar dentre outros direitos o acesso ao sistema

6 No Brasil o MEC divulgou o Plano Decenal de Educaccedilatildeo para Todos para o periacuteodo de 1993 a 2003 elaborado em cumprimento agraves resoluccedilotildees da Declaraccedilatildeo de Jomtien (1990)

7 ldquoO termo lsquoigualdade de oportunidadesrsquo significa o processo pelo qual os diversos sistemas da sociedade e o meio envolvente tais como serviccedilos atividades informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo se [sic] tornam acessiacuteveis a todos e em especial agraves pessoas com deficiecircnciardquo (ONU 1993 p 16)

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regular de ensino agraves pessoas com deficiecircncia em igualdade de oportunidades com as demais

pessoas independentemente da natureza e gravidade da sua deficiecircncia tendo como

estrateacutegias complementares as escolas especiais (ONU 1993)

Por conseguinte a tendecircncia dos organismos internacionais atrelados ao

desenvolvimento da Educaccedilatildeo em seus paiacuteses-membros notadamente aqueles ligados agrave

ONU durante as deacutecadas de 1980 e 1990 tinha sido a de promover integraccedilatildeo e

participaccedilatildeo aleacutem de combater a exclusatildeo dos grupos socialmente marginalizados como

era o caso das pessoas ldquodeficientesrdquo O paradigma da inclusatildeo surgiu mais enfaticamente

com a Declaraccedilatildeo de Jomtien (1990) no contexto do movimento poliacutetico mundial para o

fomento de uma agenda internacional em prol do alcance das metas do direito agrave Educaccedilatildeo

das pessoas com deficiecircncia nos sistemas regulares de ensino Seu aacutepice no entanto

ocorreu com a produccedilatildeo de um documento publicado pelo Governo da Espanha em parceria

com a Unesco entre os dias 7 e 10 de junho de 1994 denominado Declaraccedilatildeo de

Salamanca sobre os princiacutepios a poliacutetica e as praacuteticas na aacuterea das necessidades educativas

especiais8 como resultado da Conferecircncia Mundial de Necessidades Educativas Especiais

Acesso e Qualidade

Tal Declaraccedilatildeo teve a finalidade de promover o objetivo da Educaccedilatildeo para Todos ou

seja da Educaccedilatildeo Especial sob a perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva examinando as

mudanccedilas fundamentais das poliacuteticas puacuteblicas educacionais necessaacuterias para desenvolver

tal abordagem nomeadamente qualificando as escolas regulares para atender a todas as

crianccedilas sobretudo as que tecircm necessidades educativas especiais de modo que os

governos com apoio das organizaccedilotildees internacionais pudessem conceder maior prioridade

ao desenvolvimento de seus respectivos Sistemas Nacionais de Educaccedilatildeo sob a

perspectiva inclusiva atraveacutes de medidas poliacuteticas e orccedilamentaacuterias compatiacuteveis com esse

imperativo eacutetico (Unesco 1994)

A partir dessa reflexatildeo acerca das praacuteticas educacionais especiais da qual resultaram

a compreensatildeo de equiparaccedilatildeo de oportunidades de diversos grupos sociais (crianccedilas com

deficiecircncia e crianccedilas bem dotadas crianccedilas que vivem nas ruas e que trabalham crianccedilas

de populaccedilotildees distantes ou nocircmades crianccedilas de minorias linguiacutesticas eacutetnicas ou culturais e

crianccedilas de outros grupos e zonas desfavorecidas ou marginalizadas) a Declaraccedilatildeo de

Salamanca e Linha de Accedilatildeo sobre Necessidades Educativas Especiais proclamou que as

8 A expressatildeo ldquonecessidades educativas especiaisrdquo no citado documento refere-se a todas as crianccedilas e jovens cujas carecircncias se relacionam com deficiecircncias ou dificuldades escolares incluindo nesse escopo as pessoas com deficiecircncia e as superdotadas (UNESCO 1994)

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escolas comuns representavam o meio mais eficaz para combater as atitudes

discriminatoacuterias ressaltando que o princiacutepio fundamental dessa linha de accedilatildeo seria o de que

as escolas inclusivas deveriam acolher todas as crianccedilas independentemente de suas

condiccedilotildees fiacutesicas intelectuais sociais emocionais linguiacutesticas ou outras (Unesco 1994)

Na esteira de construccedilatildeo de uma agenda internacional em torno da promoccedilatildeo de uma

Educaccedilatildeo para Todos em particular para aquelas com necessidades educacionais

especiais capazes de gerar diversos instrumentos e recomendaccedilotildees internacionais

passiacuteveis de serem incorporados ao sistema juriacutedico dos paiacuteses-membros de organismos

internacionais ligados ao fomento da Educaccedilatildeo tornando-os internamente obrigatoacuterios

surgiram outros movimentos sociais em torno da proposta da inclusatildeo escolar como a

Declaraccedilatildeo de Cartagena de Iacutendias as Poliacuteticas Integrais para Pessoas com Deficiecircncias na

Regiatildeo Ibero-Americana na Colocircmbia em 1992 a Conferecircncia Hemisfeacuterica de Pessoas com

Deficiecircncias em WashingtonEUA em 1993 a 5ordf Reuniatildeo do Comitecirc Regional

Intergovernamental do Projeto Principal de Educaccedilatildeo na Ameacuterica Latina e Caribe que

resultou na Declaraccedilatildeo de Santiago realizada no Chile em 1993 a 1ordf Reuniatildeo dos

Participantes da Conferecircncia de Ministros responsaacuteveis pela situaccedilatildeo da pessoa com

deficiecircncia ocorrida em MontrealCanadaacute em 1994 e a publicaccedilatildeo das normas uniformes

sobre a igualdade de oportunidades para pessoas com deficiecircncia aprovadas pela

Assembleia Geral nordm 4896 de 20 de dezembro de 1993 da ONU

Por fim a construccedilatildeo do cenaacuterio internacional da Educaccedilatildeo Especial sob o aspecto

filosoacutefico-ideoloacutegico da inclusatildeo na deacutecada de 1990 culminou com a Convenccedilatildeo

Interamericana para a Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Pessoas

Portadoras de Deficiecircncia9 mais conhecida como Convenccedilatildeo da Guatemala aprovada pelo

Conselho Permanente da OEA na sessatildeo realizada em 26 de maio de 1999 no paiacutes da

Ameacuterica Central supracitado promulgada no Brasil pelo Decreto nordm 39562001 Esse

documento que ainda utilizava a expressatildeo ldquoportador de deficiecircnciardquo afirmava que os

Estados-Partes deveriam se comprometer a tomar as medidas de caraacuteter legislativo social

educacional trabalhista ou de qualquer outra natureza que fossem necessaacuterias para

eliminar a discriminaccedilatildeo contra as pessoas ldquoportadoras de deficiecircnciardquo e proporcionar a sua

plena ldquointegraccedilatildeordquo agrave sociedade

9 ldquo[] o termo lsquodiscriminaccedilatildeo contra as pessoas portadoras de deficiecircnciarsquo significa toda diferenciaccedilatildeo exclusatildeo ou restriccedilatildeo baseada em deficiecircncia antecedente de deficiecircncia consequumlecircncia [sic] de deficiecircncia anterior ou percepccedilatildeo de deficiecircncia presente ou passada que tenha o efeito ou propoacutesito de impedir ou anular o reconhecimento gozo ou exerciacutecio por parte das pessoas portadoras de deficiecircncia de seus direitos humanos e suas liberdades fundamentaisrdquo (OEA 1999 p 3)

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Tendo em vista o protagonismo das agecircncias e organizaccedilotildees intergovernamentais no

panorama mundial como a ONU e suas agecircncias especializadas (Unesco Unicef e BM) e no

cenaacuterio regional como a OEA na busca pela cooperaccedilatildeo internacional a fim de promover e

estimular entre seus paiacuteses-membros o respeito aos direitos humanos e agraves liberdades

fundamentais para todos especialmente entre os grupos minoritaacuterios como no caso da

melhoria das condiccedilotildees de vida para pessoas com deficiecircncia verificou-se que o percurso

histoacuterico poliacutetico e filosoacutefico da Educaccedilatildeo Especial nos anos 1990 culminou no paradigma

inclusivo de garantia da equiparaccedilatildeo de oportunidades direitos e deveres de seu puacuteblico-alvo

no interior do sistema regular de ensino (Peroni 2003)

Em pleno anos 2000 a ONU continuou a fixar padrotildees a trabalhar para tecer

consensos universais e a manter-se como um foacuterum central disseminador para a

comunidade internacional de princiacutepios e orientaccedilotildees gerais para a Educaccedilatildeo atraveacutes de

sua agecircncia especializada da Unesco Ademais seguiu lanccedilando as diretrizes sobre os

caminhos da Educaccedilatildeo Especial atraveacutes de declaraccedilotildees e recomendaccedilotildees acordadas para a

construccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas educacionais inclusivas ao redor do mundo Dessa forma

entre os dias 26 e 28 de abril de 2000 em Dakar Senegal 164 paiacuteses reuniram-se no

Foacuterum Consultivo Internacional para a Educaccedilatildeo para Todos criado em 1991 e composto

por representantes da Unesco Unicef e BM contando com agecircncias bilaterais governos e

sociedade civil para avaliar os progressos globais alcanccedilados desde a Conferecircncia Mundial

de Educaccedilatildeo para Todos realizada dez anos antes em Jomtien Tailacircndia e para aprovar

novo marco de accedilatildeo para a universalizaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Baacutesica (Unesco 2001)

Em 13 de dezembro de 2006 em sessatildeo solene da Assembleia Geral da ONU foi

aprovado o texto final da Convenccedilatildeo sobre os Direitos das Pessoas com Deficiecircncia10

firmado pelo Brasil e por mais 85 naccedilotildees signataacuterias em 30 de marccedilo de 2007 Esse tratado

internacional no que diz respeito ao direito agrave Educaccedilatildeo aos deficientes estabelece que os

Estados-Partes devem assegurar um sistema de Educaccedilatildeo Inclusiva em todos os niacuteveis de

ensino bem como o aprendizado ao longo da vida Em seu artigo 24 determina que as

pessoas com deficiecircncia natildeo sejam excluiacutedas do sistema educacional geral e que as

crianccedilas com deficiecircncia natildeo sejam excluiacutedas do ensino fundamental gratuito e compulsoacuterio

estabelece tambeacutem que elas tenham acesso ao ensino meacutedio e superior inclusivo de

10 Nesse texto a ONU reconhece que ldquo[] a deficiecircncia eacute um conceito em evoluccedilatildeo e que a deficiecircncia resulta da interaccedilatildeo entre pessoas com deficiecircncia e as barreiras atitudinais e ambientais que impedem sua plena e efetiva participaccedilatildeo na sociedade em igualdade de oportunidades com as demais pessoasrdquo (ONU 2012 p 22)

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qualidade e gratuito em igualdade de condiccedilotildees com as demais pessoas na comunidade em

que vivem (ONU 2012)

Ainda no panorama internacional a Unesco lanccedila em 2009 uma coletacircnea intitulada

Orientaccedilotildees Poliacuteticas sobre Inclusatildeo na Educaccedilatildeo a fim de ampliar a compreensatildeo das

questotildees atinentes agraves poliacuteticas e agraves praacuteticas pedagoacutegicas que visam garantir a inclusatildeo

educacional e social Os dados apresentados e as anaacutelises feitas suscitaram

questionamentos e posicionamentos em relaccedilatildeo agraves condiccedilotildees de acesso e de atendimento

nas redes de ensino e possibilitaram o aprofundamento do debate sobre as accedilotildees do poder

puacuteblico e da sociedade com vistas a assegurar o direito de todas as pessoas agrave Educaccedilatildeo

Escolar de Qualidade (No cenaacuterio regional da Ameacuterica Latina e do Caribe houve em 2009

a Campanha Latino-Americana pelo Direito agrave Educaccedilatildeo a fim de promover o

desenvolvimento de pesquisas interdisciplinares para subsidiar a formulaccedilatildeo de poliacuteticas

puacuteblicas intersetoriais que atendessem agraves especificidades educacionais de estudantes com

deficiecircncia transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotaccedilatildeo que

requeiram medidas de atendimento especializado Jaacute na Uniatildeo Europeia a Agecircncia

Europeia para o Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Especial recomendou tambeacutem em 2009

para decisoacuterios poliacuteticos princiacutepios baacutesicos para a Promoccedilatildeo da Qualidade na Educaccedilatildeo

Inclusiva Faacutevero Ferreira Ireland e Barreiros 2009)

A influecircncia histoacuterica direta ou indireta das agecircncias internacionais no direcionamento

das poliacuteticas puacuteblicas dentre elas a Educaccedilatildeo Especial situada no acircmbito geral das

diretrizes da Educaccedilatildeo como um direito de todos e dever do Estado implica o entendimento

de que os fundamentos ideoloacutegicos que datildeo sustentaccedilatildeo agraves poliacuteticas educacionais na aacuterea

de conhecimento da Educaccedilatildeo Especial adotadas pelos governos brasileiros certamente natildeo

foram gerados exclusivamente em acircmbito nacional mas ao contraacuterio em acircmbito

internacional vinculados agraves declaraccedilotildees e recomendaccedilotildees construiacutedas em foros de

abrangecircncia mundial e regional Em consequecircncia torna-se obrigatoacuterio considerar que a

atuaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas teve papel preponderante para a internacionalizaccedilatildeo do

discurso da Educaccedilatildeo Especial na perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva nos anos 1990 e 2000

notadamente pelo trabalho teacutecnico-poliacutetico da Unesco

Na perspectiva da citada agecircncia intergovernamental atuar nessa agenda de

cooperaccedilatildeo internacional e nacional com os Estados-Partes na formulaccedilatildeo de poliacuteticas e

estrateacutegias destinadas ao melhoramento dos sistemas de ensino ldquo[] significa avanccedilar para

uma sociedade educacional onde cada pessoa aprenda durante toda a vida e seja fonte de

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aprendizagem para os demaisrdquo (Unesco 1998 p 11) afinal a ldquo[] educaccedilatildeo desempenha

um papel chave neste processo tendo em vista o seu valor econocircmico e socialrdquo (Unesco

2004 p 33)

Essa compreensatildeo conduz o debate sobre os rumos da Educaccedilatildeo Especial no Brail

tornando-se fundamental para a construccedilatildeo de poliacuteticas de formaccedilatildeo docente financiamento

e gestatildeo escolar necessaacuterias para a transformaccedilatildeo da estrutura educacional a fim de

assegurar as condiccedilotildees de acesso participaccedilatildeo e aprendizagem de todos os estudantes

concebendo a escola como um espaccedilo que reconhece e valoriza as diferenccedilas

Logo o respeito agrave diversidade efetivado no respeito agraves diferenccedilas impulsiona accedilotildees

de cidadania voltadas ao reconhecimento de sujeitos de direitos simplesmente por serem

seres humanos Suas especificidades natildeo devem ser elemento para a construccedilatildeo de

desigualdades discriminaccedilotildees ou exclusotildees mas sim devem pautar as poliacuteticas afirmativas

de respeito agrave diversidade voltadas para a construccedilatildeo de contextos sociais inclusivos cujo

aspecto filosoacutefico-ideoloacutegico se assenta na equiparaccedilatildeo de oportunidades direitos e

deveres em que todas as pessoas teriam condiccedilotildees de vida e chance de realizar seus

projetos como parte do exerciacutecio de sua cidadania e em respeito agrave sua identidade

3 Consideraccedilotildees finais

Esta pesquisa foi instigada pela reflexatildeo que questionava como foi se constituindo a

compreensatildeo de Educaccedilatildeo Inclusiva ao longo dos tempos no Brasil considerando a

influecircncia ideoloacutegica dos documentos legais produzidos pelos organismos internacionais ndash

ONU Unesco OEA Unicef e BM ndash a partir das primeiras deacutecadas do seacuteculo XX Tal

inquietaccedilatildeo acadecircmica fez emergir o interesse em compreender a Histoacuteria da Educaccedilatildeo

Inclusiva em especial no que concerne agrave escolarizaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncia

defendida em acordos e discussotildees internacionais O objetivo com efeito foi desenvolver

um histoacuterico a respeito das poliacuteticas puacuteblicas internacionais de Educaccedilatildeo Especial com

ecircnfase nas mudanccedilas paradigmaacuteticas emergentes cronologicamente no Brasil

Realizou-se uma pesquisa documental nos textos internacionais produzidos sobre os

debates acerca da Educaccedilatildeo Inclusiva em especial para as pessoas com deficiecircncia dentre

os quais destacam-se Convenccedilatildeo Interamericana para a Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas

de Discriminaccedilatildeo contra as Pessoas Portadoras de Deficiecircncia Declaraccedilatildeo Universal dos

Direitos Humanos A Unesco e a Educaccedilatildeo na Ameacuterica Latina e Caribe (1987-1997)

Educaccedilatildeo para Todos o Compromisso de Dakar A Unesco no Brasil Consolidando

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Compromissos Conferecircncia Mundial de Necessidades Educativas Especiais Acesso e

Qualidade Os resultados permitiram desenvolver uma cronologia histoacuterica a qual

possibilitou afirmar que os seacuteculos XVIII e XIX foram marcados pela segregaccedilatildeo

homogeneizante das pessoas com deficiecircncia em escolas especiais com edificaccedilatildeo

especiacutefica que separavam os ditos estudantes ldquonormaisrdquo dos alunos que possuiacuteam algum

tipo de limitaccedilatildeo periacuteodo em que os debates sobre inclusatildeo natildeo possuiacuteam ecircnfase no

cenaacuterio internacional A partir das primeiras deacutecadas do seacuteculo XX os debates internacionais

a respeito da escolarizaccedilatildeo dos entatildeo denominados discentes ldquoespeciaisrdquo foram se

alargando emergiram em congruecircncia as classes especiais no interior das escolas

regulares Posteriormente na segunda metade do seacuteculo XX os debates internacionais

comeccedilaram a sinalizar a superaccedilatildeo de qualquer forma de segregaccedilatildeo e a impulsionar a

ideologia atualmente defendida de igualdade e inclusatildeo social com respeito agraves diferenccedilas

Ao fazer um balanccedilo histoacuterico sobre as poliacuteticas puacuteblicas de Educaccedilatildeo Especial no

cenaacuterio internacional percebeu-se a ausecircncia de documentos especiacuteficos nos seacuteculos XVIII

XIX e iniacutecio do XX Somente ao longo dos seacuteculos XX e XXI especialmente nas deacutecadas

que seguem 1970 averiguou-se que a atuaccedilatildeo das agecircncias especializadas da ONU em

parceria com outras agecircncias internacionais governos organizaccedilotildees natildeo governamentais e

sociedades civis contribuiu de maneira importante para a transiccedilatildeo do discurso educacional

da integraccedilatildeo instrucional para a constituiccedilatildeo de saberes e praacuteticas da Educaccedilatildeo Especial

sob a oacutetica inclusiva ao desempenhar um fundamental papel como foro permanente de

debate educacional e busca de soluccedilotildees contribuindo para a consolidaccedilatildeo de uma agenda

educacional e para a promoccedilatildeo da cooperaccedilatildeo internacional e horizontal com o objetivo de

apoiar os processos de mudanccedila das condiccedilotildees de vida das pessoas com deficiecircncia dentre

elas a inclusatildeo dessas pessoas nos espaccedilos regulares de ensino em equiparaccedilatildeo de

oportunidades direitos e deveres com relaccedilatildeo aos seus pares sem deficiecircncia

A proposta global das Naccedilotildees Unidas visava agrave promoccedilatildeo de uma Educaccedilatildeo para todos

ao longo de toda a vida notadamente para grupos historicamente excluiacutedos como o das

pessoas com deficiecircncia Para tanto durante toda a deacutecada de 1990 houve uma expansatildeo

de acordos internacionais e uma redescoberta da Educaccedilatildeo Especial como campo feacutertil de

investimentos Ocorreu a definiccedilatildeo de uma agenda internacional para a Educaccedilatildeo Especial

materializada em diferentes eventos tais como a Conferecircncia Mundial sobre Educaccedilatildeo para

Todos (1990) a Declaraccedilatildeo de Salamanca (1994) a Convenccedilatildeo da Guatemala (1999) o

Compromisso de Dakar (2000) e a Convenccedilatildeo sobre os Direitos das Pessoas com

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Deficiecircncia (2006) que trataram de pautas de interesses ordinaacuterios agrave comunidade

internacional sobre o tema da Educaccedilatildeo Especial em uma perspectiva de Educaccedilatildeo

Inclusiva

Essas declaraccedilotildees e recomendaccedilotildees resultantes das diferentes cuacutepulas conferecircncias

e eventos regionais e internacionais foram importantes para a construccedilatildeo de consensos em

torno das principais ideias e propostas sobre Educaccedilatildeo Especial nas deacutecadas de 1980 1990

e 2000 ou seja da transiccedilatildeo do modelo integracionista para o inclusivo Nesses eventos ao

se constituiacuterem em foacuteruns gerais propalava-se a necessidade de reformas educativas

nacionais acompanhadas de mudanccedilas no financiamento transformaccedilatildeo curricular e gestatildeo

educacional em torno de sistemas educacionais inclusivos perseguidos tambeacutem no iniacutecio do

seacuteculo XXI que influenciaram a mudanccedila de paradigma acerca do atendimento agrave pessoa

com deficiecircncia no Brasil

No paradigma da inclusatildeo impulsionaram-se projetos de mudanccedilas nas poliacuteticas

puacuteblicas brasileiras ao conceber-se que todos se beneficiam quando as escolas promovem

respostas agraves diferenccedilas individuais dos estudantes Logo a Educaccedilatildeo Especial que surgiu

no campo da Pedagogia como uma aacuterea de conhecimento que se ocupava exclusivamente

do processo de escolarizaccedilatildeo pela via da homogeneizaccedilatildeo dos alunos ldquoexcepcionaisrdquo em

espaccedilos escolares ditos ldquoespeciaisrdquo que orbitavam agrave margem do sistema de ensino puacuteblico e

gratuito passou a integrar os tempos e espaccedilos das escolas regulares mas ficando a

participaccedilatildeo circunscrita agraves ldquoclasses especiaisrdquo e ainda sendo modalidade substitutiva e

normalizadora do processo de escolarizaccedilatildeo dos discentes ldquoportadores de necessidades

especiaisrdquo Atualmente sob a perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva o Brasil tem como

imperativo eacutetico normativo e intelectual ampliar a participaccedilatildeo de todos os estudantes nos

estabelecimentos de ensino regular especialmente daqueles grupos sociais historicamente

excluiacutedos da escola como as pessoas com deficiecircncia atraveacutes de uma abordagem

humaniacutestica e democraacutetica que perceba o sujeito e suas singularidades tendo como

objetivos o crescimento a satisfaccedilatildeo pessoal e a inserccedilatildeo social de todos

4 Referecircncias

Brasil Poder Executivo (2001) Promulga a Convenccedilatildeo Interamericana para a Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Pessoas Portadoras de Deficiecircncia Decreto nordm 3956 Brasil Diaacuterio Oficial [da] Repuacuteblica Federativa do Brasil

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Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (1990)

Conferecircncia Mundial de Educaccedilatildeo para Todos Declaraccedilatildeo Mundial de Educaccedilatildeo para Todos Plano de Accedilatildeo para Satisfazer as Necessidades Baacutesicas de Aprendizagem Brasiacutelia Unicef

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (1994)

Conferecircncia Mundial de Necessidades Educativas Especiais Acesso e Qualidade Declaraccedilatildeo de Salamanca sobre os Princiacutepios a Poliacutetica e as Praacuteticas na Aacuterea das Necessidades Educativas Especiais Salamanca Unesco

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (1998)

A Unesco e a Educaccedilatildeo na Ameacuterica Latina e Caribe (1987-1997) Chile Unesco

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Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (2001) Educaccedilatildeo para Todos o Compromisso de Dakar Brasiacutelia Consed

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (2004)

A Unesco no Brasil consolidando compromissos Brasiacutelia Unesco Organizaccedilatildeo dos Estados Americanos (OEA) (1999) Convenccedilatildeo Interamericana para a

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intergovernamentais a fim de satisfazer as necessidades baacutesicas de aprendizagem de seus

cidadatildeos haja vista os altos iacutendices de crianccedilas adolescentes e jovens sem escolarizaccedilatildeo

Somente assim seria possiacutevel promover as transformaccedilotildees nos sistemas de ensino para

assegurar o acesso e a permanecircncia de todos na escola (Unesco 1990)

Os principais referenciais da Declaraccedilatildeo de Jomtien (1990)6 publicados no ano

seguinte pelo Unicef enfatizavam a urgecircncia de uma Educaccedilatildeo de qualidade para todos ao

constituiacuterem a agenda de discussatildeo das poliacuteticas educacionais reforccedilando a necessidade

de elaboraccedilatildeo e a implementaccedilatildeo de accedilotildees voltadas para a universalizaccedilatildeo do acesso agrave

escola a promoccedilatildeo da equidade no acircmbito do ensino fundamental meacutedio e superior a

oferta da Educaccedilatildeo Infantil nas redes puacuteblicas de ensino a estruturaccedilatildeo do atendimento agraves

demandas de alfabetizaccedilatildeo e da modalidade de Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos e a

construccedilatildeo da gestatildeo democraacutetica da escola Sob a perspectiva inclusiva a referida

declaraccedilatildeo nos itens 4 e 5 do artigo 3ordm instituiu que

4 Um compromisso efetivo para superar as disparidades educacionais deve ser

assumido Os grupos excluiacutedos ndash os pobres os meninos e meninas de rua ou

trabalhadores as populaccedilotildees das periferias urbanas e zonas rurais os nocircmades e os

trabalhadores migrantes os povos indiacutegenas as minorias eacutetnicas raciais e linguumliacutesticas

[sic] os refugiados os deslocados pela guerra e os povos submetidos a um regime de

ocupaccedilatildeo ndash natildeo devem sofrer qualquer tipo de discriminaccedilatildeo no acesso agraves

oportunidades educacionais 5 As necessidades baacutesicas de aprendizagem das

pessoas portadoras de deficiecircncias requerem atenccedilatildeo especial Eacute preciso tomar

medidas que garantam a igualdade de acesso agrave educaccedilatildeo aos portadores de todo e

qualquer tipo de deficiecircncia como parte integrante do sistema educativo (Unesco

1990 p 4)

Vale lembrar que as diversas declaraccedilotildees da ONU culminaram em 1993 na publicaccedilatildeo

das Normas sobre a Igualdade de Oportunidades7 para as Pessoas com Deficiecircncia por meio

de resoluccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas adotada pela Assembleia Geral no dia 20 de dezembro de

1993 As normas exortavam os Estados dentre eles o Brasil a assumirem um compromisso

eacutetico e poliacutetico com vistas a operacionalizar dentre outros direitos o acesso ao sistema

6 No Brasil o MEC divulgou o Plano Decenal de Educaccedilatildeo para Todos para o periacuteodo de 1993 a 2003 elaborado em cumprimento agraves resoluccedilotildees da Declaraccedilatildeo de Jomtien (1990)

7 ldquoO termo lsquoigualdade de oportunidadesrsquo significa o processo pelo qual os diversos sistemas da sociedade e o meio envolvente tais como serviccedilos atividades informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo se [sic] tornam acessiacuteveis a todos e em especial agraves pessoas com deficiecircnciardquo (ONU 1993 p 16)

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regular de ensino agraves pessoas com deficiecircncia em igualdade de oportunidades com as demais

pessoas independentemente da natureza e gravidade da sua deficiecircncia tendo como

estrateacutegias complementares as escolas especiais (ONU 1993)

Por conseguinte a tendecircncia dos organismos internacionais atrelados ao

desenvolvimento da Educaccedilatildeo em seus paiacuteses-membros notadamente aqueles ligados agrave

ONU durante as deacutecadas de 1980 e 1990 tinha sido a de promover integraccedilatildeo e

participaccedilatildeo aleacutem de combater a exclusatildeo dos grupos socialmente marginalizados como

era o caso das pessoas ldquodeficientesrdquo O paradigma da inclusatildeo surgiu mais enfaticamente

com a Declaraccedilatildeo de Jomtien (1990) no contexto do movimento poliacutetico mundial para o

fomento de uma agenda internacional em prol do alcance das metas do direito agrave Educaccedilatildeo

das pessoas com deficiecircncia nos sistemas regulares de ensino Seu aacutepice no entanto

ocorreu com a produccedilatildeo de um documento publicado pelo Governo da Espanha em parceria

com a Unesco entre os dias 7 e 10 de junho de 1994 denominado Declaraccedilatildeo de

Salamanca sobre os princiacutepios a poliacutetica e as praacuteticas na aacuterea das necessidades educativas

especiais8 como resultado da Conferecircncia Mundial de Necessidades Educativas Especiais

Acesso e Qualidade

Tal Declaraccedilatildeo teve a finalidade de promover o objetivo da Educaccedilatildeo para Todos ou

seja da Educaccedilatildeo Especial sob a perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva examinando as

mudanccedilas fundamentais das poliacuteticas puacuteblicas educacionais necessaacuterias para desenvolver

tal abordagem nomeadamente qualificando as escolas regulares para atender a todas as

crianccedilas sobretudo as que tecircm necessidades educativas especiais de modo que os

governos com apoio das organizaccedilotildees internacionais pudessem conceder maior prioridade

ao desenvolvimento de seus respectivos Sistemas Nacionais de Educaccedilatildeo sob a

perspectiva inclusiva atraveacutes de medidas poliacuteticas e orccedilamentaacuterias compatiacuteveis com esse

imperativo eacutetico (Unesco 1994)

A partir dessa reflexatildeo acerca das praacuteticas educacionais especiais da qual resultaram

a compreensatildeo de equiparaccedilatildeo de oportunidades de diversos grupos sociais (crianccedilas com

deficiecircncia e crianccedilas bem dotadas crianccedilas que vivem nas ruas e que trabalham crianccedilas

de populaccedilotildees distantes ou nocircmades crianccedilas de minorias linguiacutesticas eacutetnicas ou culturais e

crianccedilas de outros grupos e zonas desfavorecidas ou marginalizadas) a Declaraccedilatildeo de

Salamanca e Linha de Accedilatildeo sobre Necessidades Educativas Especiais proclamou que as

8 A expressatildeo ldquonecessidades educativas especiaisrdquo no citado documento refere-se a todas as crianccedilas e jovens cujas carecircncias se relacionam com deficiecircncias ou dificuldades escolares incluindo nesse escopo as pessoas com deficiecircncia e as superdotadas (UNESCO 1994)

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escolas comuns representavam o meio mais eficaz para combater as atitudes

discriminatoacuterias ressaltando que o princiacutepio fundamental dessa linha de accedilatildeo seria o de que

as escolas inclusivas deveriam acolher todas as crianccedilas independentemente de suas

condiccedilotildees fiacutesicas intelectuais sociais emocionais linguiacutesticas ou outras (Unesco 1994)

Na esteira de construccedilatildeo de uma agenda internacional em torno da promoccedilatildeo de uma

Educaccedilatildeo para Todos em particular para aquelas com necessidades educacionais

especiais capazes de gerar diversos instrumentos e recomendaccedilotildees internacionais

passiacuteveis de serem incorporados ao sistema juriacutedico dos paiacuteses-membros de organismos

internacionais ligados ao fomento da Educaccedilatildeo tornando-os internamente obrigatoacuterios

surgiram outros movimentos sociais em torno da proposta da inclusatildeo escolar como a

Declaraccedilatildeo de Cartagena de Iacutendias as Poliacuteticas Integrais para Pessoas com Deficiecircncias na

Regiatildeo Ibero-Americana na Colocircmbia em 1992 a Conferecircncia Hemisfeacuterica de Pessoas com

Deficiecircncias em WashingtonEUA em 1993 a 5ordf Reuniatildeo do Comitecirc Regional

Intergovernamental do Projeto Principal de Educaccedilatildeo na Ameacuterica Latina e Caribe que

resultou na Declaraccedilatildeo de Santiago realizada no Chile em 1993 a 1ordf Reuniatildeo dos

Participantes da Conferecircncia de Ministros responsaacuteveis pela situaccedilatildeo da pessoa com

deficiecircncia ocorrida em MontrealCanadaacute em 1994 e a publicaccedilatildeo das normas uniformes

sobre a igualdade de oportunidades para pessoas com deficiecircncia aprovadas pela

Assembleia Geral nordm 4896 de 20 de dezembro de 1993 da ONU

Por fim a construccedilatildeo do cenaacuterio internacional da Educaccedilatildeo Especial sob o aspecto

filosoacutefico-ideoloacutegico da inclusatildeo na deacutecada de 1990 culminou com a Convenccedilatildeo

Interamericana para a Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Pessoas

Portadoras de Deficiecircncia9 mais conhecida como Convenccedilatildeo da Guatemala aprovada pelo

Conselho Permanente da OEA na sessatildeo realizada em 26 de maio de 1999 no paiacutes da

Ameacuterica Central supracitado promulgada no Brasil pelo Decreto nordm 39562001 Esse

documento que ainda utilizava a expressatildeo ldquoportador de deficiecircnciardquo afirmava que os

Estados-Partes deveriam se comprometer a tomar as medidas de caraacuteter legislativo social

educacional trabalhista ou de qualquer outra natureza que fossem necessaacuterias para

eliminar a discriminaccedilatildeo contra as pessoas ldquoportadoras de deficiecircnciardquo e proporcionar a sua

plena ldquointegraccedilatildeordquo agrave sociedade

9 ldquo[] o termo lsquodiscriminaccedilatildeo contra as pessoas portadoras de deficiecircnciarsquo significa toda diferenciaccedilatildeo exclusatildeo ou restriccedilatildeo baseada em deficiecircncia antecedente de deficiecircncia consequumlecircncia [sic] de deficiecircncia anterior ou percepccedilatildeo de deficiecircncia presente ou passada que tenha o efeito ou propoacutesito de impedir ou anular o reconhecimento gozo ou exerciacutecio por parte das pessoas portadoras de deficiecircncia de seus direitos humanos e suas liberdades fundamentaisrdquo (OEA 1999 p 3)

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Tendo em vista o protagonismo das agecircncias e organizaccedilotildees intergovernamentais no

panorama mundial como a ONU e suas agecircncias especializadas (Unesco Unicef e BM) e no

cenaacuterio regional como a OEA na busca pela cooperaccedilatildeo internacional a fim de promover e

estimular entre seus paiacuteses-membros o respeito aos direitos humanos e agraves liberdades

fundamentais para todos especialmente entre os grupos minoritaacuterios como no caso da

melhoria das condiccedilotildees de vida para pessoas com deficiecircncia verificou-se que o percurso

histoacuterico poliacutetico e filosoacutefico da Educaccedilatildeo Especial nos anos 1990 culminou no paradigma

inclusivo de garantia da equiparaccedilatildeo de oportunidades direitos e deveres de seu puacuteblico-alvo

no interior do sistema regular de ensino (Peroni 2003)

Em pleno anos 2000 a ONU continuou a fixar padrotildees a trabalhar para tecer

consensos universais e a manter-se como um foacuterum central disseminador para a

comunidade internacional de princiacutepios e orientaccedilotildees gerais para a Educaccedilatildeo atraveacutes de

sua agecircncia especializada da Unesco Ademais seguiu lanccedilando as diretrizes sobre os

caminhos da Educaccedilatildeo Especial atraveacutes de declaraccedilotildees e recomendaccedilotildees acordadas para a

construccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas educacionais inclusivas ao redor do mundo Dessa forma

entre os dias 26 e 28 de abril de 2000 em Dakar Senegal 164 paiacuteses reuniram-se no

Foacuterum Consultivo Internacional para a Educaccedilatildeo para Todos criado em 1991 e composto

por representantes da Unesco Unicef e BM contando com agecircncias bilaterais governos e

sociedade civil para avaliar os progressos globais alcanccedilados desde a Conferecircncia Mundial

de Educaccedilatildeo para Todos realizada dez anos antes em Jomtien Tailacircndia e para aprovar

novo marco de accedilatildeo para a universalizaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Baacutesica (Unesco 2001)

Em 13 de dezembro de 2006 em sessatildeo solene da Assembleia Geral da ONU foi

aprovado o texto final da Convenccedilatildeo sobre os Direitos das Pessoas com Deficiecircncia10

firmado pelo Brasil e por mais 85 naccedilotildees signataacuterias em 30 de marccedilo de 2007 Esse tratado

internacional no que diz respeito ao direito agrave Educaccedilatildeo aos deficientes estabelece que os

Estados-Partes devem assegurar um sistema de Educaccedilatildeo Inclusiva em todos os niacuteveis de

ensino bem como o aprendizado ao longo da vida Em seu artigo 24 determina que as

pessoas com deficiecircncia natildeo sejam excluiacutedas do sistema educacional geral e que as

crianccedilas com deficiecircncia natildeo sejam excluiacutedas do ensino fundamental gratuito e compulsoacuterio

estabelece tambeacutem que elas tenham acesso ao ensino meacutedio e superior inclusivo de

10 Nesse texto a ONU reconhece que ldquo[] a deficiecircncia eacute um conceito em evoluccedilatildeo e que a deficiecircncia resulta da interaccedilatildeo entre pessoas com deficiecircncia e as barreiras atitudinais e ambientais que impedem sua plena e efetiva participaccedilatildeo na sociedade em igualdade de oportunidades com as demais pessoasrdquo (ONU 2012 p 22)

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qualidade e gratuito em igualdade de condiccedilotildees com as demais pessoas na comunidade em

que vivem (ONU 2012)

Ainda no panorama internacional a Unesco lanccedila em 2009 uma coletacircnea intitulada

Orientaccedilotildees Poliacuteticas sobre Inclusatildeo na Educaccedilatildeo a fim de ampliar a compreensatildeo das

questotildees atinentes agraves poliacuteticas e agraves praacuteticas pedagoacutegicas que visam garantir a inclusatildeo

educacional e social Os dados apresentados e as anaacutelises feitas suscitaram

questionamentos e posicionamentos em relaccedilatildeo agraves condiccedilotildees de acesso e de atendimento

nas redes de ensino e possibilitaram o aprofundamento do debate sobre as accedilotildees do poder

puacuteblico e da sociedade com vistas a assegurar o direito de todas as pessoas agrave Educaccedilatildeo

Escolar de Qualidade (No cenaacuterio regional da Ameacuterica Latina e do Caribe houve em 2009

a Campanha Latino-Americana pelo Direito agrave Educaccedilatildeo a fim de promover o

desenvolvimento de pesquisas interdisciplinares para subsidiar a formulaccedilatildeo de poliacuteticas

puacuteblicas intersetoriais que atendessem agraves especificidades educacionais de estudantes com

deficiecircncia transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotaccedilatildeo que

requeiram medidas de atendimento especializado Jaacute na Uniatildeo Europeia a Agecircncia

Europeia para o Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Especial recomendou tambeacutem em 2009

para decisoacuterios poliacuteticos princiacutepios baacutesicos para a Promoccedilatildeo da Qualidade na Educaccedilatildeo

Inclusiva Faacutevero Ferreira Ireland e Barreiros 2009)

A influecircncia histoacuterica direta ou indireta das agecircncias internacionais no direcionamento

das poliacuteticas puacuteblicas dentre elas a Educaccedilatildeo Especial situada no acircmbito geral das

diretrizes da Educaccedilatildeo como um direito de todos e dever do Estado implica o entendimento

de que os fundamentos ideoloacutegicos que datildeo sustentaccedilatildeo agraves poliacuteticas educacionais na aacuterea

de conhecimento da Educaccedilatildeo Especial adotadas pelos governos brasileiros certamente natildeo

foram gerados exclusivamente em acircmbito nacional mas ao contraacuterio em acircmbito

internacional vinculados agraves declaraccedilotildees e recomendaccedilotildees construiacutedas em foros de

abrangecircncia mundial e regional Em consequecircncia torna-se obrigatoacuterio considerar que a

atuaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas teve papel preponderante para a internacionalizaccedilatildeo do

discurso da Educaccedilatildeo Especial na perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva nos anos 1990 e 2000

notadamente pelo trabalho teacutecnico-poliacutetico da Unesco

Na perspectiva da citada agecircncia intergovernamental atuar nessa agenda de

cooperaccedilatildeo internacional e nacional com os Estados-Partes na formulaccedilatildeo de poliacuteticas e

estrateacutegias destinadas ao melhoramento dos sistemas de ensino ldquo[] significa avanccedilar para

uma sociedade educacional onde cada pessoa aprenda durante toda a vida e seja fonte de

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aprendizagem para os demaisrdquo (Unesco 1998 p 11) afinal a ldquo[] educaccedilatildeo desempenha

um papel chave neste processo tendo em vista o seu valor econocircmico e socialrdquo (Unesco

2004 p 33)

Essa compreensatildeo conduz o debate sobre os rumos da Educaccedilatildeo Especial no Brail

tornando-se fundamental para a construccedilatildeo de poliacuteticas de formaccedilatildeo docente financiamento

e gestatildeo escolar necessaacuterias para a transformaccedilatildeo da estrutura educacional a fim de

assegurar as condiccedilotildees de acesso participaccedilatildeo e aprendizagem de todos os estudantes

concebendo a escola como um espaccedilo que reconhece e valoriza as diferenccedilas

Logo o respeito agrave diversidade efetivado no respeito agraves diferenccedilas impulsiona accedilotildees

de cidadania voltadas ao reconhecimento de sujeitos de direitos simplesmente por serem

seres humanos Suas especificidades natildeo devem ser elemento para a construccedilatildeo de

desigualdades discriminaccedilotildees ou exclusotildees mas sim devem pautar as poliacuteticas afirmativas

de respeito agrave diversidade voltadas para a construccedilatildeo de contextos sociais inclusivos cujo

aspecto filosoacutefico-ideoloacutegico se assenta na equiparaccedilatildeo de oportunidades direitos e

deveres em que todas as pessoas teriam condiccedilotildees de vida e chance de realizar seus

projetos como parte do exerciacutecio de sua cidadania e em respeito agrave sua identidade

3 Consideraccedilotildees finais

Esta pesquisa foi instigada pela reflexatildeo que questionava como foi se constituindo a

compreensatildeo de Educaccedilatildeo Inclusiva ao longo dos tempos no Brasil considerando a

influecircncia ideoloacutegica dos documentos legais produzidos pelos organismos internacionais ndash

ONU Unesco OEA Unicef e BM ndash a partir das primeiras deacutecadas do seacuteculo XX Tal

inquietaccedilatildeo acadecircmica fez emergir o interesse em compreender a Histoacuteria da Educaccedilatildeo

Inclusiva em especial no que concerne agrave escolarizaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncia

defendida em acordos e discussotildees internacionais O objetivo com efeito foi desenvolver

um histoacuterico a respeito das poliacuteticas puacuteblicas internacionais de Educaccedilatildeo Especial com

ecircnfase nas mudanccedilas paradigmaacuteticas emergentes cronologicamente no Brasil

Realizou-se uma pesquisa documental nos textos internacionais produzidos sobre os

debates acerca da Educaccedilatildeo Inclusiva em especial para as pessoas com deficiecircncia dentre

os quais destacam-se Convenccedilatildeo Interamericana para a Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas

de Discriminaccedilatildeo contra as Pessoas Portadoras de Deficiecircncia Declaraccedilatildeo Universal dos

Direitos Humanos A Unesco e a Educaccedilatildeo na Ameacuterica Latina e Caribe (1987-1997)

Educaccedilatildeo para Todos o Compromisso de Dakar A Unesco no Brasil Consolidando

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Compromissos Conferecircncia Mundial de Necessidades Educativas Especiais Acesso e

Qualidade Os resultados permitiram desenvolver uma cronologia histoacuterica a qual

possibilitou afirmar que os seacuteculos XVIII e XIX foram marcados pela segregaccedilatildeo

homogeneizante das pessoas com deficiecircncia em escolas especiais com edificaccedilatildeo

especiacutefica que separavam os ditos estudantes ldquonormaisrdquo dos alunos que possuiacuteam algum

tipo de limitaccedilatildeo periacuteodo em que os debates sobre inclusatildeo natildeo possuiacuteam ecircnfase no

cenaacuterio internacional A partir das primeiras deacutecadas do seacuteculo XX os debates internacionais

a respeito da escolarizaccedilatildeo dos entatildeo denominados discentes ldquoespeciaisrdquo foram se

alargando emergiram em congruecircncia as classes especiais no interior das escolas

regulares Posteriormente na segunda metade do seacuteculo XX os debates internacionais

comeccedilaram a sinalizar a superaccedilatildeo de qualquer forma de segregaccedilatildeo e a impulsionar a

ideologia atualmente defendida de igualdade e inclusatildeo social com respeito agraves diferenccedilas

Ao fazer um balanccedilo histoacuterico sobre as poliacuteticas puacuteblicas de Educaccedilatildeo Especial no

cenaacuterio internacional percebeu-se a ausecircncia de documentos especiacuteficos nos seacuteculos XVIII

XIX e iniacutecio do XX Somente ao longo dos seacuteculos XX e XXI especialmente nas deacutecadas

que seguem 1970 averiguou-se que a atuaccedilatildeo das agecircncias especializadas da ONU em

parceria com outras agecircncias internacionais governos organizaccedilotildees natildeo governamentais e

sociedades civis contribuiu de maneira importante para a transiccedilatildeo do discurso educacional

da integraccedilatildeo instrucional para a constituiccedilatildeo de saberes e praacuteticas da Educaccedilatildeo Especial

sob a oacutetica inclusiva ao desempenhar um fundamental papel como foro permanente de

debate educacional e busca de soluccedilotildees contribuindo para a consolidaccedilatildeo de uma agenda

educacional e para a promoccedilatildeo da cooperaccedilatildeo internacional e horizontal com o objetivo de

apoiar os processos de mudanccedila das condiccedilotildees de vida das pessoas com deficiecircncia dentre

elas a inclusatildeo dessas pessoas nos espaccedilos regulares de ensino em equiparaccedilatildeo de

oportunidades direitos e deveres com relaccedilatildeo aos seus pares sem deficiecircncia

A proposta global das Naccedilotildees Unidas visava agrave promoccedilatildeo de uma Educaccedilatildeo para todos

ao longo de toda a vida notadamente para grupos historicamente excluiacutedos como o das

pessoas com deficiecircncia Para tanto durante toda a deacutecada de 1990 houve uma expansatildeo

de acordos internacionais e uma redescoberta da Educaccedilatildeo Especial como campo feacutertil de

investimentos Ocorreu a definiccedilatildeo de uma agenda internacional para a Educaccedilatildeo Especial

materializada em diferentes eventos tais como a Conferecircncia Mundial sobre Educaccedilatildeo para

Todos (1990) a Declaraccedilatildeo de Salamanca (1994) a Convenccedilatildeo da Guatemala (1999) o

Compromisso de Dakar (2000) e a Convenccedilatildeo sobre os Direitos das Pessoas com

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Deficiecircncia (2006) que trataram de pautas de interesses ordinaacuterios agrave comunidade

internacional sobre o tema da Educaccedilatildeo Especial em uma perspectiva de Educaccedilatildeo

Inclusiva

Essas declaraccedilotildees e recomendaccedilotildees resultantes das diferentes cuacutepulas conferecircncias

e eventos regionais e internacionais foram importantes para a construccedilatildeo de consensos em

torno das principais ideias e propostas sobre Educaccedilatildeo Especial nas deacutecadas de 1980 1990

e 2000 ou seja da transiccedilatildeo do modelo integracionista para o inclusivo Nesses eventos ao

se constituiacuterem em foacuteruns gerais propalava-se a necessidade de reformas educativas

nacionais acompanhadas de mudanccedilas no financiamento transformaccedilatildeo curricular e gestatildeo

educacional em torno de sistemas educacionais inclusivos perseguidos tambeacutem no iniacutecio do

seacuteculo XXI que influenciaram a mudanccedila de paradigma acerca do atendimento agrave pessoa

com deficiecircncia no Brasil

No paradigma da inclusatildeo impulsionaram-se projetos de mudanccedilas nas poliacuteticas

puacuteblicas brasileiras ao conceber-se que todos se beneficiam quando as escolas promovem

respostas agraves diferenccedilas individuais dos estudantes Logo a Educaccedilatildeo Especial que surgiu

no campo da Pedagogia como uma aacuterea de conhecimento que se ocupava exclusivamente

do processo de escolarizaccedilatildeo pela via da homogeneizaccedilatildeo dos alunos ldquoexcepcionaisrdquo em

espaccedilos escolares ditos ldquoespeciaisrdquo que orbitavam agrave margem do sistema de ensino puacuteblico e

gratuito passou a integrar os tempos e espaccedilos das escolas regulares mas ficando a

participaccedilatildeo circunscrita agraves ldquoclasses especiaisrdquo e ainda sendo modalidade substitutiva e

normalizadora do processo de escolarizaccedilatildeo dos discentes ldquoportadores de necessidades

especiaisrdquo Atualmente sob a perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva o Brasil tem como

imperativo eacutetico normativo e intelectual ampliar a participaccedilatildeo de todos os estudantes nos

estabelecimentos de ensino regular especialmente daqueles grupos sociais historicamente

excluiacutedos da escola como as pessoas com deficiecircncia atraveacutes de uma abordagem

humaniacutestica e democraacutetica que perceba o sujeito e suas singularidades tendo como

objetivos o crescimento a satisfaccedilatildeo pessoal e a inserccedilatildeo social de todos

4 Referecircncias

Brasil Poder Executivo (2001) Promulga a Convenccedilatildeo Interamericana para a Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Pessoas Portadoras de Deficiecircncia Decreto nordm 3956 Brasil Diaacuterio Oficial [da] Repuacuteblica Federativa do Brasil

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WVA

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de Educaccedilatildeo Especial na Perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva Brasiacutelia MEC Recuperado de httpportalmecgovbrarquivospdfpoliticaeducespecialpdf

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com Deficiecircncia Recuperado de httpwwwpessoacomdeficienciagovbrappsitesdefaultfilespublicacoesconvencaopessoascomdeficienciapdf

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (1990)

Conferecircncia Mundial de Educaccedilatildeo para Todos Declaraccedilatildeo Mundial de Educaccedilatildeo para Todos Plano de Accedilatildeo para Satisfazer as Necessidades Baacutesicas de Aprendizagem Brasiacutelia Unicef

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (1994)

Conferecircncia Mundial de Necessidades Educativas Especiais Acesso e Qualidade Declaraccedilatildeo de Salamanca sobre os Princiacutepios a Poliacutetica e as Praacuteticas na Aacuterea das Necessidades Educativas Especiais Salamanca Unesco

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (1998)

A Unesco e a Educaccedilatildeo na Ameacuterica Latina e Caribe (1987-1997) Chile Unesco

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Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (2001) Educaccedilatildeo para Todos o Compromisso de Dakar Brasiacutelia Consed

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (2004)

A Unesco no Brasil consolidando compromissos Brasiacutelia Unesco Organizaccedilatildeo dos Estados Americanos (OEA) (1999) Convenccedilatildeo Interamericana para a

Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Pessoas Portadoras de Deficiecircncia Guatemala OEA

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Especial 19-23 Voivodic Maria Antonieta Machado de Almeida (2004) Inclusatildeo escolar de crianccedilas de

crianccedilas com Siacutendrome de Down (2ordf ed) Petroacutepolis Vozes

Page 13: Educação inclusiva: aspectos históricos, políticos e ideológicos … · 2018. 7. 19. · Revista Electrónica “Actualidades Investigativas en Educación” _____Volumen 18

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regular de ensino agraves pessoas com deficiecircncia em igualdade de oportunidades com as demais

pessoas independentemente da natureza e gravidade da sua deficiecircncia tendo como

estrateacutegias complementares as escolas especiais (ONU 1993)

Por conseguinte a tendecircncia dos organismos internacionais atrelados ao

desenvolvimento da Educaccedilatildeo em seus paiacuteses-membros notadamente aqueles ligados agrave

ONU durante as deacutecadas de 1980 e 1990 tinha sido a de promover integraccedilatildeo e

participaccedilatildeo aleacutem de combater a exclusatildeo dos grupos socialmente marginalizados como

era o caso das pessoas ldquodeficientesrdquo O paradigma da inclusatildeo surgiu mais enfaticamente

com a Declaraccedilatildeo de Jomtien (1990) no contexto do movimento poliacutetico mundial para o

fomento de uma agenda internacional em prol do alcance das metas do direito agrave Educaccedilatildeo

das pessoas com deficiecircncia nos sistemas regulares de ensino Seu aacutepice no entanto

ocorreu com a produccedilatildeo de um documento publicado pelo Governo da Espanha em parceria

com a Unesco entre os dias 7 e 10 de junho de 1994 denominado Declaraccedilatildeo de

Salamanca sobre os princiacutepios a poliacutetica e as praacuteticas na aacuterea das necessidades educativas

especiais8 como resultado da Conferecircncia Mundial de Necessidades Educativas Especiais

Acesso e Qualidade

Tal Declaraccedilatildeo teve a finalidade de promover o objetivo da Educaccedilatildeo para Todos ou

seja da Educaccedilatildeo Especial sob a perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva examinando as

mudanccedilas fundamentais das poliacuteticas puacuteblicas educacionais necessaacuterias para desenvolver

tal abordagem nomeadamente qualificando as escolas regulares para atender a todas as

crianccedilas sobretudo as que tecircm necessidades educativas especiais de modo que os

governos com apoio das organizaccedilotildees internacionais pudessem conceder maior prioridade

ao desenvolvimento de seus respectivos Sistemas Nacionais de Educaccedilatildeo sob a

perspectiva inclusiva atraveacutes de medidas poliacuteticas e orccedilamentaacuterias compatiacuteveis com esse

imperativo eacutetico (Unesco 1994)

A partir dessa reflexatildeo acerca das praacuteticas educacionais especiais da qual resultaram

a compreensatildeo de equiparaccedilatildeo de oportunidades de diversos grupos sociais (crianccedilas com

deficiecircncia e crianccedilas bem dotadas crianccedilas que vivem nas ruas e que trabalham crianccedilas

de populaccedilotildees distantes ou nocircmades crianccedilas de minorias linguiacutesticas eacutetnicas ou culturais e

crianccedilas de outros grupos e zonas desfavorecidas ou marginalizadas) a Declaraccedilatildeo de

Salamanca e Linha de Accedilatildeo sobre Necessidades Educativas Especiais proclamou que as

8 A expressatildeo ldquonecessidades educativas especiaisrdquo no citado documento refere-se a todas as crianccedilas e jovens cujas carecircncias se relacionam com deficiecircncias ou dificuldades escolares incluindo nesse escopo as pessoas com deficiecircncia e as superdotadas (UNESCO 1994)

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escolas comuns representavam o meio mais eficaz para combater as atitudes

discriminatoacuterias ressaltando que o princiacutepio fundamental dessa linha de accedilatildeo seria o de que

as escolas inclusivas deveriam acolher todas as crianccedilas independentemente de suas

condiccedilotildees fiacutesicas intelectuais sociais emocionais linguiacutesticas ou outras (Unesco 1994)

Na esteira de construccedilatildeo de uma agenda internacional em torno da promoccedilatildeo de uma

Educaccedilatildeo para Todos em particular para aquelas com necessidades educacionais

especiais capazes de gerar diversos instrumentos e recomendaccedilotildees internacionais

passiacuteveis de serem incorporados ao sistema juriacutedico dos paiacuteses-membros de organismos

internacionais ligados ao fomento da Educaccedilatildeo tornando-os internamente obrigatoacuterios

surgiram outros movimentos sociais em torno da proposta da inclusatildeo escolar como a

Declaraccedilatildeo de Cartagena de Iacutendias as Poliacuteticas Integrais para Pessoas com Deficiecircncias na

Regiatildeo Ibero-Americana na Colocircmbia em 1992 a Conferecircncia Hemisfeacuterica de Pessoas com

Deficiecircncias em WashingtonEUA em 1993 a 5ordf Reuniatildeo do Comitecirc Regional

Intergovernamental do Projeto Principal de Educaccedilatildeo na Ameacuterica Latina e Caribe que

resultou na Declaraccedilatildeo de Santiago realizada no Chile em 1993 a 1ordf Reuniatildeo dos

Participantes da Conferecircncia de Ministros responsaacuteveis pela situaccedilatildeo da pessoa com

deficiecircncia ocorrida em MontrealCanadaacute em 1994 e a publicaccedilatildeo das normas uniformes

sobre a igualdade de oportunidades para pessoas com deficiecircncia aprovadas pela

Assembleia Geral nordm 4896 de 20 de dezembro de 1993 da ONU

Por fim a construccedilatildeo do cenaacuterio internacional da Educaccedilatildeo Especial sob o aspecto

filosoacutefico-ideoloacutegico da inclusatildeo na deacutecada de 1990 culminou com a Convenccedilatildeo

Interamericana para a Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Pessoas

Portadoras de Deficiecircncia9 mais conhecida como Convenccedilatildeo da Guatemala aprovada pelo

Conselho Permanente da OEA na sessatildeo realizada em 26 de maio de 1999 no paiacutes da

Ameacuterica Central supracitado promulgada no Brasil pelo Decreto nordm 39562001 Esse

documento que ainda utilizava a expressatildeo ldquoportador de deficiecircnciardquo afirmava que os

Estados-Partes deveriam se comprometer a tomar as medidas de caraacuteter legislativo social

educacional trabalhista ou de qualquer outra natureza que fossem necessaacuterias para

eliminar a discriminaccedilatildeo contra as pessoas ldquoportadoras de deficiecircnciardquo e proporcionar a sua

plena ldquointegraccedilatildeordquo agrave sociedade

9 ldquo[] o termo lsquodiscriminaccedilatildeo contra as pessoas portadoras de deficiecircnciarsquo significa toda diferenciaccedilatildeo exclusatildeo ou restriccedilatildeo baseada em deficiecircncia antecedente de deficiecircncia consequumlecircncia [sic] de deficiecircncia anterior ou percepccedilatildeo de deficiecircncia presente ou passada que tenha o efeito ou propoacutesito de impedir ou anular o reconhecimento gozo ou exerciacutecio por parte das pessoas portadoras de deficiecircncia de seus direitos humanos e suas liberdades fundamentaisrdquo (OEA 1999 p 3)

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Tendo em vista o protagonismo das agecircncias e organizaccedilotildees intergovernamentais no

panorama mundial como a ONU e suas agecircncias especializadas (Unesco Unicef e BM) e no

cenaacuterio regional como a OEA na busca pela cooperaccedilatildeo internacional a fim de promover e

estimular entre seus paiacuteses-membros o respeito aos direitos humanos e agraves liberdades

fundamentais para todos especialmente entre os grupos minoritaacuterios como no caso da

melhoria das condiccedilotildees de vida para pessoas com deficiecircncia verificou-se que o percurso

histoacuterico poliacutetico e filosoacutefico da Educaccedilatildeo Especial nos anos 1990 culminou no paradigma

inclusivo de garantia da equiparaccedilatildeo de oportunidades direitos e deveres de seu puacuteblico-alvo

no interior do sistema regular de ensino (Peroni 2003)

Em pleno anos 2000 a ONU continuou a fixar padrotildees a trabalhar para tecer

consensos universais e a manter-se como um foacuterum central disseminador para a

comunidade internacional de princiacutepios e orientaccedilotildees gerais para a Educaccedilatildeo atraveacutes de

sua agecircncia especializada da Unesco Ademais seguiu lanccedilando as diretrizes sobre os

caminhos da Educaccedilatildeo Especial atraveacutes de declaraccedilotildees e recomendaccedilotildees acordadas para a

construccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas educacionais inclusivas ao redor do mundo Dessa forma

entre os dias 26 e 28 de abril de 2000 em Dakar Senegal 164 paiacuteses reuniram-se no

Foacuterum Consultivo Internacional para a Educaccedilatildeo para Todos criado em 1991 e composto

por representantes da Unesco Unicef e BM contando com agecircncias bilaterais governos e

sociedade civil para avaliar os progressos globais alcanccedilados desde a Conferecircncia Mundial

de Educaccedilatildeo para Todos realizada dez anos antes em Jomtien Tailacircndia e para aprovar

novo marco de accedilatildeo para a universalizaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Baacutesica (Unesco 2001)

Em 13 de dezembro de 2006 em sessatildeo solene da Assembleia Geral da ONU foi

aprovado o texto final da Convenccedilatildeo sobre os Direitos das Pessoas com Deficiecircncia10

firmado pelo Brasil e por mais 85 naccedilotildees signataacuterias em 30 de marccedilo de 2007 Esse tratado

internacional no que diz respeito ao direito agrave Educaccedilatildeo aos deficientes estabelece que os

Estados-Partes devem assegurar um sistema de Educaccedilatildeo Inclusiva em todos os niacuteveis de

ensino bem como o aprendizado ao longo da vida Em seu artigo 24 determina que as

pessoas com deficiecircncia natildeo sejam excluiacutedas do sistema educacional geral e que as

crianccedilas com deficiecircncia natildeo sejam excluiacutedas do ensino fundamental gratuito e compulsoacuterio

estabelece tambeacutem que elas tenham acesso ao ensino meacutedio e superior inclusivo de

10 Nesse texto a ONU reconhece que ldquo[] a deficiecircncia eacute um conceito em evoluccedilatildeo e que a deficiecircncia resulta da interaccedilatildeo entre pessoas com deficiecircncia e as barreiras atitudinais e ambientais que impedem sua plena e efetiva participaccedilatildeo na sociedade em igualdade de oportunidades com as demais pessoasrdquo (ONU 2012 p 22)

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qualidade e gratuito em igualdade de condiccedilotildees com as demais pessoas na comunidade em

que vivem (ONU 2012)

Ainda no panorama internacional a Unesco lanccedila em 2009 uma coletacircnea intitulada

Orientaccedilotildees Poliacuteticas sobre Inclusatildeo na Educaccedilatildeo a fim de ampliar a compreensatildeo das

questotildees atinentes agraves poliacuteticas e agraves praacuteticas pedagoacutegicas que visam garantir a inclusatildeo

educacional e social Os dados apresentados e as anaacutelises feitas suscitaram

questionamentos e posicionamentos em relaccedilatildeo agraves condiccedilotildees de acesso e de atendimento

nas redes de ensino e possibilitaram o aprofundamento do debate sobre as accedilotildees do poder

puacuteblico e da sociedade com vistas a assegurar o direito de todas as pessoas agrave Educaccedilatildeo

Escolar de Qualidade (No cenaacuterio regional da Ameacuterica Latina e do Caribe houve em 2009

a Campanha Latino-Americana pelo Direito agrave Educaccedilatildeo a fim de promover o

desenvolvimento de pesquisas interdisciplinares para subsidiar a formulaccedilatildeo de poliacuteticas

puacuteblicas intersetoriais que atendessem agraves especificidades educacionais de estudantes com

deficiecircncia transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotaccedilatildeo que

requeiram medidas de atendimento especializado Jaacute na Uniatildeo Europeia a Agecircncia

Europeia para o Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Especial recomendou tambeacutem em 2009

para decisoacuterios poliacuteticos princiacutepios baacutesicos para a Promoccedilatildeo da Qualidade na Educaccedilatildeo

Inclusiva Faacutevero Ferreira Ireland e Barreiros 2009)

A influecircncia histoacuterica direta ou indireta das agecircncias internacionais no direcionamento

das poliacuteticas puacuteblicas dentre elas a Educaccedilatildeo Especial situada no acircmbito geral das

diretrizes da Educaccedilatildeo como um direito de todos e dever do Estado implica o entendimento

de que os fundamentos ideoloacutegicos que datildeo sustentaccedilatildeo agraves poliacuteticas educacionais na aacuterea

de conhecimento da Educaccedilatildeo Especial adotadas pelos governos brasileiros certamente natildeo

foram gerados exclusivamente em acircmbito nacional mas ao contraacuterio em acircmbito

internacional vinculados agraves declaraccedilotildees e recomendaccedilotildees construiacutedas em foros de

abrangecircncia mundial e regional Em consequecircncia torna-se obrigatoacuterio considerar que a

atuaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas teve papel preponderante para a internacionalizaccedilatildeo do

discurso da Educaccedilatildeo Especial na perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva nos anos 1990 e 2000

notadamente pelo trabalho teacutecnico-poliacutetico da Unesco

Na perspectiva da citada agecircncia intergovernamental atuar nessa agenda de

cooperaccedilatildeo internacional e nacional com os Estados-Partes na formulaccedilatildeo de poliacuteticas e

estrateacutegias destinadas ao melhoramento dos sistemas de ensino ldquo[] significa avanccedilar para

uma sociedade educacional onde cada pessoa aprenda durante toda a vida e seja fonte de

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aprendizagem para os demaisrdquo (Unesco 1998 p 11) afinal a ldquo[] educaccedilatildeo desempenha

um papel chave neste processo tendo em vista o seu valor econocircmico e socialrdquo (Unesco

2004 p 33)

Essa compreensatildeo conduz o debate sobre os rumos da Educaccedilatildeo Especial no Brail

tornando-se fundamental para a construccedilatildeo de poliacuteticas de formaccedilatildeo docente financiamento

e gestatildeo escolar necessaacuterias para a transformaccedilatildeo da estrutura educacional a fim de

assegurar as condiccedilotildees de acesso participaccedilatildeo e aprendizagem de todos os estudantes

concebendo a escola como um espaccedilo que reconhece e valoriza as diferenccedilas

Logo o respeito agrave diversidade efetivado no respeito agraves diferenccedilas impulsiona accedilotildees

de cidadania voltadas ao reconhecimento de sujeitos de direitos simplesmente por serem

seres humanos Suas especificidades natildeo devem ser elemento para a construccedilatildeo de

desigualdades discriminaccedilotildees ou exclusotildees mas sim devem pautar as poliacuteticas afirmativas

de respeito agrave diversidade voltadas para a construccedilatildeo de contextos sociais inclusivos cujo

aspecto filosoacutefico-ideoloacutegico se assenta na equiparaccedilatildeo de oportunidades direitos e

deveres em que todas as pessoas teriam condiccedilotildees de vida e chance de realizar seus

projetos como parte do exerciacutecio de sua cidadania e em respeito agrave sua identidade

3 Consideraccedilotildees finais

Esta pesquisa foi instigada pela reflexatildeo que questionava como foi se constituindo a

compreensatildeo de Educaccedilatildeo Inclusiva ao longo dos tempos no Brasil considerando a

influecircncia ideoloacutegica dos documentos legais produzidos pelos organismos internacionais ndash

ONU Unesco OEA Unicef e BM ndash a partir das primeiras deacutecadas do seacuteculo XX Tal

inquietaccedilatildeo acadecircmica fez emergir o interesse em compreender a Histoacuteria da Educaccedilatildeo

Inclusiva em especial no que concerne agrave escolarizaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncia

defendida em acordos e discussotildees internacionais O objetivo com efeito foi desenvolver

um histoacuterico a respeito das poliacuteticas puacuteblicas internacionais de Educaccedilatildeo Especial com

ecircnfase nas mudanccedilas paradigmaacuteticas emergentes cronologicamente no Brasil

Realizou-se uma pesquisa documental nos textos internacionais produzidos sobre os

debates acerca da Educaccedilatildeo Inclusiva em especial para as pessoas com deficiecircncia dentre

os quais destacam-se Convenccedilatildeo Interamericana para a Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas

de Discriminaccedilatildeo contra as Pessoas Portadoras de Deficiecircncia Declaraccedilatildeo Universal dos

Direitos Humanos A Unesco e a Educaccedilatildeo na Ameacuterica Latina e Caribe (1987-1997)

Educaccedilatildeo para Todos o Compromisso de Dakar A Unesco no Brasil Consolidando

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Compromissos Conferecircncia Mundial de Necessidades Educativas Especiais Acesso e

Qualidade Os resultados permitiram desenvolver uma cronologia histoacuterica a qual

possibilitou afirmar que os seacuteculos XVIII e XIX foram marcados pela segregaccedilatildeo

homogeneizante das pessoas com deficiecircncia em escolas especiais com edificaccedilatildeo

especiacutefica que separavam os ditos estudantes ldquonormaisrdquo dos alunos que possuiacuteam algum

tipo de limitaccedilatildeo periacuteodo em que os debates sobre inclusatildeo natildeo possuiacuteam ecircnfase no

cenaacuterio internacional A partir das primeiras deacutecadas do seacuteculo XX os debates internacionais

a respeito da escolarizaccedilatildeo dos entatildeo denominados discentes ldquoespeciaisrdquo foram se

alargando emergiram em congruecircncia as classes especiais no interior das escolas

regulares Posteriormente na segunda metade do seacuteculo XX os debates internacionais

comeccedilaram a sinalizar a superaccedilatildeo de qualquer forma de segregaccedilatildeo e a impulsionar a

ideologia atualmente defendida de igualdade e inclusatildeo social com respeito agraves diferenccedilas

Ao fazer um balanccedilo histoacuterico sobre as poliacuteticas puacuteblicas de Educaccedilatildeo Especial no

cenaacuterio internacional percebeu-se a ausecircncia de documentos especiacuteficos nos seacuteculos XVIII

XIX e iniacutecio do XX Somente ao longo dos seacuteculos XX e XXI especialmente nas deacutecadas

que seguem 1970 averiguou-se que a atuaccedilatildeo das agecircncias especializadas da ONU em

parceria com outras agecircncias internacionais governos organizaccedilotildees natildeo governamentais e

sociedades civis contribuiu de maneira importante para a transiccedilatildeo do discurso educacional

da integraccedilatildeo instrucional para a constituiccedilatildeo de saberes e praacuteticas da Educaccedilatildeo Especial

sob a oacutetica inclusiva ao desempenhar um fundamental papel como foro permanente de

debate educacional e busca de soluccedilotildees contribuindo para a consolidaccedilatildeo de uma agenda

educacional e para a promoccedilatildeo da cooperaccedilatildeo internacional e horizontal com o objetivo de

apoiar os processos de mudanccedila das condiccedilotildees de vida das pessoas com deficiecircncia dentre

elas a inclusatildeo dessas pessoas nos espaccedilos regulares de ensino em equiparaccedilatildeo de

oportunidades direitos e deveres com relaccedilatildeo aos seus pares sem deficiecircncia

A proposta global das Naccedilotildees Unidas visava agrave promoccedilatildeo de uma Educaccedilatildeo para todos

ao longo de toda a vida notadamente para grupos historicamente excluiacutedos como o das

pessoas com deficiecircncia Para tanto durante toda a deacutecada de 1990 houve uma expansatildeo

de acordos internacionais e uma redescoberta da Educaccedilatildeo Especial como campo feacutertil de

investimentos Ocorreu a definiccedilatildeo de uma agenda internacional para a Educaccedilatildeo Especial

materializada em diferentes eventos tais como a Conferecircncia Mundial sobre Educaccedilatildeo para

Todos (1990) a Declaraccedilatildeo de Salamanca (1994) a Convenccedilatildeo da Guatemala (1999) o

Compromisso de Dakar (2000) e a Convenccedilatildeo sobre os Direitos das Pessoas com

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Deficiecircncia (2006) que trataram de pautas de interesses ordinaacuterios agrave comunidade

internacional sobre o tema da Educaccedilatildeo Especial em uma perspectiva de Educaccedilatildeo

Inclusiva

Essas declaraccedilotildees e recomendaccedilotildees resultantes das diferentes cuacutepulas conferecircncias

e eventos regionais e internacionais foram importantes para a construccedilatildeo de consensos em

torno das principais ideias e propostas sobre Educaccedilatildeo Especial nas deacutecadas de 1980 1990

e 2000 ou seja da transiccedilatildeo do modelo integracionista para o inclusivo Nesses eventos ao

se constituiacuterem em foacuteruns gerais propalava-se a necessidade de reformas educativas

nacionais acompanhadas de mudanccedilas no financiamento transformaccedilatildeo curricular e gestatildeo

educacional em torno de sistemas educacionais inclusivos perseguidos tambeacutem no iniacutecio do

seacuteculo XXI que influenciaram a mudanccedila de paradigma acerca do atendimento agrave pessoa

com deficiecircncia no Brasil

No paradigma da inclusatildeo impulsionaram-se projetos de mudanccedilas nas poliacuteticas

puacuteblicas brasileiras ao conceber-se que todos se beneficiam quando as escolas promovem

respostas agraves diferenccedilas individuais dos estudantes Logo a Educaccedilatildeo Especial que surgiu

no campo da Pedagogia como uma aacuterea de conhecimento que se ocupava exclusivamente

do processo de escolarizaccedilatildeo pela via da homogeneizaccedilatildeo dos alunos ldquoexcepcionaisrdquo em

espaccedilos escolares ditos ldquoespeciaisrdquo que orbitavam agrave margem do sistema de ensino puacuteblico e

gratuito passou a integrar os tempos e espaccedilos das escolas regulares mas ficando a

participaccedilatildeo circunscrita agraves ldquoclasses especiaisrdquo e ainda sendo modalidade substitutiva e

normalizadora do processo de escolarizaccedilatildeo dos discentes ldquoportadores de necessidades

especiaisrdquo Atualmente sob a perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva o Brasil tem como

imperativo eacutetico normativo e intelectual ampliar a participaccedilatildeo de todos os estudantes nos

estabelecimentos de ensino regular especialmente daqueles grupos sociais historicamente

excluiacutedos da escola como as pessoas com deficiecircncia atraveacutes de uma abordagem

humaniacutestica e democraacutetica que perceba o sujeito e suas singularidades tendo como

objetivos o crescimento a satisfaccedilatildeo pessoal e a inserccedilatildeo social de todos

4 Referecircncias

Brasil Poder Executivo (2001) Promulga a Convenccedilatildeo Interamericana para a Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Pessoas Portadoras de Deficiecircncia Decreto nordm 3956 Brasil Diaacuterio Oficial [da] Repuacuteblica Federativa do Brasil

Carvalho Rosita Edler (2002) A nova LDB e a Educaccedilatildeo Especial (3ordf ed) Rio de Janeiro

WVA

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Educaccedilatildeo Inclusiva Brasiacutelia Unesco Mendes Eniceacuteia Gonccedilalves (1995) Deficiecircncia mental a construccedilatildeo cientiacutefica de um

conceito e a realidade educacional (Tese de Doutorado em Psicologia) Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Brasil

Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Especial Brasil (2008) Poliacutetica Nacional

de Educaccedilatildeo Especial na Perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva Brasiacutelia MEC Recuperado de httpportalmecgovbrarquivospdfpoliticaeducespecialpdf

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Resoluccedilatildeo nordm 31123 aprovada pela Assembleia Geral da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas em 161276 Recuperado de httpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextome002911pdf

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Oportunidades para as Pessoas com Deficiecircncia Recuperado de httpwwwinrptuploadsdocsEdicoes

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com Deficiecircncia Recuperado de httpwwwpessoacomdeficienciagovbrappsitesdefaultfilespublicacoesconvencaopessoascomdeficienciapdf

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (1990)

Conferecircncia Mundial de Educaccedilatildeo para Todos Declaraccedilatildeo Mundial de Educaccedilatildeo para Todos Plano de Accedilatildeo para Satisfazer as Necessidades Baacutesicas de Aprendizagem Brasiacutelia Unicef

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (1994)

Conferecircncia Mundial de Necessidades Educativas Especiais Acesso e Qualidade Declaraccedilatildeo de Salamanca sobre os Princiacutepios a Poliacutetica e as Praacuteticas na Aacuterea das Necessidades Educativas Especiais Salamanca Unesco

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (1998)

A Unesco e a Educaccedilatildeo na Ameacuterica Latina e Caribe (1987-1997) Chile Unesco

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Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (2001) Educaccedilatildeo para Todos o Compromisso de Dakar Brasiacutelia Consed

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (2004)

A Unesco no Brasil consolidando compromissos Brasiacutelia Unesco Organizaccedilatildeo dos Estados Americanos (OEA) (1999) Convenccedilatildeo Interamericana para a

Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Pessoas Portadoras de Deficiecircncia Guatemala OEA

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todos no seacuteculo XXI Revista da Educaccedilatildeo Especial 7-18 Recuperado de httpportalmecgovbrseesparquivospdfinclusaopdf

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Especial 19-23 Voivodic Maria Antonieta Machado de Almeida (2004) Inclusatildeo escolar de crianccedilas de

crianccedilas com Siacutendrome de Down (2ordf ed) Petroacutepolis Vozes

Page 14: Educação inclusiva: aspectos históricos, políticos e ideológicos … · 2018. 7. 19. · Revista Electrónica “Actualidades Investigativas en Educación” _____Volumen 18

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escolas comuns representavam o meio mais eficaz para combater as atitudes

discriminatoacuterias ressaltando que o princiacutepio fundamental dessa linha de accedilatildeo seria o de que

as escolas inclusivas deveriam acolher todas as crianccedilas independentemente de suas

condiccedilotildees fiacutesicas intelectuais sociais emocionais linguiacutesticas ou outras (Unesco 1994)

Na esteira de construccedilatildeo de uma agenda internacional em torno da promoccedilatildeo de uma

Educaccedilatildeo para Todos em particular para aquelas com necessidades educacionais

especiais capazes de gerar diversos instrumentos e recomendaccedilotildees internacionais

passiacuteveis de serem incorporados ao sistema juriacutedico dos paiacuteses-membros de organismos

internacionais ligados ao fomento da Educaccedilatildeo tornando-os internamente obrigatoacuterios

surgiram outros movimentos sociais em torno da proposta da inclusatildeo escolar como a

Declaraccedilatildeo de Cartagena de Iacutendias as Poliacuteticas Integrais para Pessoas com Deficiecircncias na

Regiatildeo Ibero-Americana na Colocircmbia em 1992 a Conferecircncia Hemisfeacuterica de Pessoas com

Deficiecircncias em WashingtonEUA em 1993 a 5ordf Reuniatildeo do Comitecirc Regional

Intergovernamental do Projeto Principal de Educaccedilatildeo na Ameacuterica Latina e Caribe que

resultou na Declaraccedilatildeo de Santiago realizada no Chile em 1993 a 1ordf Reuniatildeo dos

Participantes da Conferecircncia de Ministros responsaacuteveis pela situaccedilatildeo da pessoa com

deficiecircncia ocorrida em MontrealCanadaacute em 1994 e a publicaccedilatildeo das normas uniformes

sobre a igualdade de oportunidades para pessoas com deficiecircncia aprovadas pela

Assembleia Geral nordm 4896 de 20 de dezembro de 1993 da ONU

Por fim a construccedilatildeo do cenaacuterio internacional da Educaccedilatildeo Especial sob o aspecto

filosoacutefico-ideoloacutegico da inclusatildeo na deacutecada de 1990 culminou com a Convenccedilatildeo

Interamericana para a Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Pessoas

Portadoras de Deficiecircncia9 mais conhecida como Convenccedilatildeo da Guatemala aprovada pelo

Conselho Permanente da OEA na sessatildeo realizada em 26 de maio de 1999 no paiacutes da

Ameacuterica Central supracitado promulgada no Brasil pelo Decreto nordm 39562001 Esse

documento que ainda utilizava a expressatildeo ldquoportador de deficiecircnciardquo afirmava que os

Estados-Partes deveriam se comprometer a tomar as medidas de caraacuteter legislativo social

educacional trabalhista ou de qualquer outra natureza que fossem necessaacuterias para

eliminar a discriminaccedilatildeo contra as pessoas ldquoportadoras de deficiecircnciardquo e proporcionar a sua

plena ldquointegraccedilatildeordquo agrave sociedade

9 ldquo[] o termo lsquodiscriminaccedilatildeo contra as pessoas portadoras de deficiecircnciarsquo significa toda diferenciaccedilatildeo exclusatildeo ou restriccedilatildeo baseada em deficiecircncia antecedente de deficiecircncia consequumlecircncia [sic] de deficiecircncia anterior ou percepccedilatildeo de deficiecircncia presente ou passada que tenha o efeito ou propoacutesito de impedir ou anular o reconhecimento gozo ou exerciacutecio por parte das pessoas portadoras de deficiecircncia de seus direitos humanos e suas liberdades fundamentaisrdquo (OEA 1999 p 3)

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Tendo em vista o protagonismo das agecircncias e organizaccedilotildees intergovernamentais no

panorama mundial como a ONU e suas agecircncias especializadas (Unesco Unicef e BM) e no

cenaacuterio regional como a OEA na busca pela cooperaccedilatildeo internacional a fim de promover e

estimular entre seus paiacuteses-membros o respeito aos direitos humanos e agraves liberdades

fundamentais para todos especialmente entre os grupos minoritaacuterios como no caso da

melhoria das condiccedilotildees de vida para pessoas com deficiecircncia verificou-se que o percurso

histoacuterico poliacutetico e filosoacutefico da Educaccedilatildeo Especial nos anos 1990 culminou no paradigma

inclusivo de garantia da equiparaccedilatildeo de oportunidades direitos e deveres de seu puacuteblico-alvo

no interior do sistema regular de ensino (Peroni 2003)

Em pleno anos 2000 a ONU continuou a fixar padrotildees a trabalhar para tecer

consensos universais e a manter-se como um foacuterum central disseminador para a

comunidade internacional de princiacutepios e orientaccedilotildees gerais para a Educaccedilatildeo atraveacutes de

sua agecircncia especializada da Unesco Ademais seguiu lanccedilando as diretrizes sobre os

caminhos da Educaccedilatildeo Especial atraveacutes de declaraccedilotildees e recomendaccedilotildees acordadas para a

construccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas educacionais inclusivas ao redor do mundo Dessa forma

entre os dias 26 e 28 de abril de 2000 em Dakar Senegal 164 paiacuteses reuniram-se no

Foacuterum Consultivo Internacional para a Educaccedilatildeo para Todos criado em 1991 e composto

por representantes da Unesco Unicef e BM contando com agecircncias bilaterais governos e

sociedade civil para avaliar os progressos globais alcanccedilados desde a Conferecircncia Mundial

de Educaccedilatildeo para Todos realizada dez anos antes em Jomtien Tailacircndia e para aprovar

novo marco de accedilatildeo para a universalizaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Baacutesica (Unesco 2001)

Em 13 de dezembro de 2006 em sessatildeo solene da Assembleia Geral da ONU foi

aprovado o texto final da Convenccedilatildeo sobre os Direitos das Pessoas com Deficiecircncia10

firmado pelo Brasil e por mais 85 naccedilotildees signataacuterias em 30 de marccedilo de 2007 Esse tratado

internacional no que diz respeito ao direito agrave Educaccedilatildeo aos deficientes estabelece que os

Estados-Partes devem assegurar um sistema de Educaccedilatildeo Inclusiva em todos os niacuteveis de

ensino bem como o aprendizado ao longo da vida Em seu artigo 24 determina que as

pessoas com deficiecircncia natildeo sejam excluiacutedas do sistema educacional geral e que as

crianccedilas com deficiecircncia natildeo sejam excluiacutedas do ensino fundamental gratuito e compulsoacuterio

estabelece tambeacutem que elas tenham acesso ao ensino meacutedio e superior inclusivo de

10 Nesse texto a ONU reconhece que ldquo[] a deficiecircncia eacute um conceito em evoluccedilatildeo e que a deficiecircncia resulta da interaccedilatildeo entre pessoas com deficiecircncia e as barreiras atitudinais e ambientais que impedem sua plena e efetiva participaccedilatildeo na sociedade em igualdade de oportunidades com as demais pessoasrdquo (ONU 2012 p 22)

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qualidade e gratuito em igualdade de condiccedilotildees com as demais pessoas na comunidade em

que vivem (ONU 2012)

Ainda no panorama internacional a Unesco lanccedila em 2009 uma coletacircnea intitulada

Orientaccedilotildees Poliacuteticas sobre Inclusatildeo na Educaccedilatildeo a fim de ampliar a compreensatildeo das

questotildees atinentes agraves poliacuteticas e agraves praacuteticas pedagoacutegicas que visam garantir a inclusatildeo

educacional e social Os dados apresentados e as anaacutelises feitas suscitaram

questionamentos e posicionamentos em relaccedilatildeo agraves condiccedilotildees de acesso e de atendimento

nas redes de ensino e possibilitaram o aprofundamento do debate sobre as accedilotildees do poder

puacuteblico e da sociedade com vistas a assegurar o direito de todas as pessoas agrave Educaccedilatildeo

Escolar de Qualidade (No cenaacuterio regional da Ameacuterica Latina e do Caribe houve em 2009

a Campanha Latino-Americana pelo Direito agrave Educaccedilatildeo a fim de promover o

desenvolvimento de pesquisas interdisciplinares para subsidiar a formulaccedilatildeo de poliacuteticas

puacuteblicas intersetoriais que atendessem agraves especificidades educacionais de estudantes com

deficiecircncia transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotaccedilatildeo que

requeiram medidas de atendimento especializado Jaacute na Uniatildeo Europeia a Agecircncia

Europeia para o Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Especial recomendou tambeacutem em 2009

para decisoacuterios poliacuteticos princiacutepios baacutesicos para a Promoccedilatildeo da Qualidade na Educaccedilatildeo

Inclusiva Faacutevero Ferreira Ireland e Barreiros 2009)

A influecircncia histoacuterica direta ou indireta das agecircncias internacionais no direcionamento

das poliacuteticas puacuteblicas dentre elas a Educaccedilatildeo Especial situada no acircmbito geral das

diretrizes da Educaccedilatildeo como um direito de todos e dever do Estado implica o entendimento

de que os fundamentos ideoloacutegicos que datildeo sustentaccedilatildeo agraves poliacuteticas educacionais na aacuterea

de conhecimento da Educaccedilatildeo Especial adotadas pelos governos brasileiros certamente natildeo

foram gerados exclusivamente em acircmbito nacional mas ao contraacuterio em acircmbito

internacional vinculados agraves declaraccedilotildees e recomendaccedilotildees construiacutedas em foros de

abrangecircncia mundial e regional Em consequecircncia torna-se obrigatoacuterio considerar que a

atuaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas teve papel preponderante para a internacionalizaccedilatildeo do

discurso da Educaccedilatildeo Especial na perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva nos anos 1990 e 2000

notadamente pelo trabalho teacutecnico-poliacutetico da Unesco

Na perspectiva da citada agecircncia intergovernamental atuar nessa agenda de

cooperaccedilatildeo internacional e nacional com os Estados-Partes na formulaccedilatildeo de poliacuteticas e

estrateacutegias destinadas ao melhoramento dos sistemas de ensino ldquo[] significa avanccedilar para

uma sociedade educacional onde cada pessoa aprenda durante toda a vida e seja fonte de

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aprendizagem para os demaisrdquo (Unesco 1998 p 11) afinal a ldquo[] educaccedilatildeo desempenha

um papel chave neste processo tendo em vista o seu valor econocircmico e socialrdquo (Unesco

2004 p 33)

Essa compreensatildeo conduz o debate sobre os rumos da Educaccedilatildeo Especial no Brail

tornando-se fundamental para a construccedilatildeo de poliacuteticas de formaccedilatildeo docente financiamento

e gestatildeo escolar necessaacuterias para a transformaccedilatildeo da estrutura educacional a fim de

assegurar as condiccedilotildees de acesso participaccedilatildeo e aprendizagem de todos os estudantes

concebendo a escola como um espaccedilo que reconhece e valoriza as diferenccedilas

Logo o respeito agrave diversidade efetivado no respeito agraves diferenccedilas impulsiona accedilotildees

de cidadania voltadas ao reconhecimento de sujeitos de direitos simplesmente por serem

seres humanos Suas especificidades natildeo devem ser elemento para a construccedilatildeo de

desigualdades discriminaccedilotildees ou exclusotildees mas sim devem pautar as poliacuteticas afirmativas

de respeito agrave diversidade voltadas para a construccedilatildeo de contextos sociais inclusivos cujo

aspecto filosoacutefico-ideoloacutegico se assenta na equiparaccedilatildeo de oportunidades direitos e

deveres em que todas as pessoas teriam condiccedilotildees de vida e chance de realizar seus

projetos como parte do exerciacutecio de sua cidadania e em respeito agrave sua identidade

3 Consideraccedilotildees finais

Esta pesquisa foi instigada pela reflexatildeo que questionava como foi se constituindo a

compreensatildeo de Educaccedilatildeo Inclusiva ao longo dos tempos no Brasil considerando a

influecircncia ideoloacutegica dos documentos legais produzidos pelos organismos internacionais ndash

ONU Unesco OEA Unicef e BM ndash a partir das primeiras deacutecadas do seacuteculo XX Tal

inquietaccedilatildeo acadecircmica fez emergir o interesse em compreender a Histoacuteria da Educaccedilatildeo

Inclusiva em especial no que concerne agrave escolarizaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncia

defendida em acordos e discussotildees internacionais O objetivo com efeito foi desenvolver

um histoacuterico a respeito das poliacuteticas puacuteblicas internacionais de Educaccedilatildeo Especial com

ecircnfase nas mudanccedilas paradigmaacuteticas emergentes cronologicamente no Brasil

Realizou-se uma pesquisa documental nos textos internacionais produzidos sobre os

debates acerca da Educaccedilatildeo Inclusiva em especial para as pessoas com deficiecircncia dentre

os quais destacam-se Convenccedilatildeo Interamericana para a Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas

de Discriminaccedilatildeo contra as Pessoas Portadoras de Deficiecircncia Declaraccedilatildeo Universal dos

Direitos Humanos A Unesco e a Educaccedilatildeo na Ameacuterica Latina e Caribe (1987-1997)

Educaccedilatildeo para Todos o Compromisso de Dakar A Unesco no Brasil Consolidando

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Compromissos Conferecircncia Mundial de Necessidades Educativas Especiais Acesso e

Qualidade Os resultados permitiram desenvolver uma cronologia histoacuterica a qual

possibilitou afirmar que os seacuteculos XVIII e XIX foram marcados pela segregaccedilatildeo

homogeneizante das pessoas com deficiecircncia em escolas especiais com edificaccedilatildeo

especiacutefica que separavam os ditos estudantes ldquonormaisrdquo dos alunos que possuiacuteam algum

tipo de limitaccedilatildeo periacuteodo em que os debates sobre inclusatildeo natildeo possuiacuteam ecircnfase no

cenaacuterio internacional A partir das primeiras deacutecadas do seacuteculo XX os debates internacionais

a respeito da escolarizaccedilatildeo dos entatildeo denominados discentes ldquoespeciaisrdquo foram se

alargando emergiram em congruecircncia as classes especiais no interior das escolas

regulares Posteriormente na segunda metade do seacuteculo XX os debates internacionais

comeccedilaram a sinalizar a superaccedilatildeo de qualquer forma de segregaccedilatildeo e a impulsionar a

ideologia atualmente defendida de igualdade e inclusatildeo social com respeito agraves diferenccedilas

Ao fazer um balanccedilo histoacuterico sobre as poliacuteticas puacuteblicas de Educaccedilatildeo Especial no

cenaacuterio internacional percebeu-se a ausecircncia de documentos especiacuteficos nos seacuteculos XVIII

XIX e iniacutecio do XX Somente ao longo dos seacuteculos XX e XXI especialmente nas deacutecadas

que seguem 1970 averiguou-se que a atuaccedilatildeo das agecircncias especializadas da ONU em

parceria com outras agecircncias internacionais governos organizaccedilotildees natildeo governamentais e

sociedades civis contribuiu de maneira importante para a transiccedilatildeo do discurso educacional

da integraccedilatildeo instrucional para a constituiccedilatildeo de saberes e praacuteticas da Educaccedilatildeo Especial

sob a oacutetica inclusiva ao desempenhar um fundamental papel como foro permanente de

debate educacional e busca de soluccedilotildees contribuindo para a consolidaccedilatildeo de uma agenda

educacional e para a promoccedilatildeo da cooperaccedilatildeo internacional e horizontal com o objetivo de

apoiar os processos de mudanccedila das condiccedilotildees de vida das pessoas com deficiecircncia dentre

elas a inclusatildeo dessas pessoas nos espaccedilos regulares de ensino em equiparaccedilatildeo de

oportunidades direitos e deveres com relaccedilatildeo aos seus pares sem deficiecircncia

A proposta global das Naccedilotildees Unidas visava agrave promoccedilatildeo de uma Educaccedilatildeo para todos

ao longo de toda a vida notadamente para grupos historicamente excluiacutedos como o das

pessoas com deficiecircncia Para tanto durante toda a deacutecada de 1990 houve uma expansatildeo

de acordos internacionais e uma redescoberta da Educaccedilatildeo Especial como campo feacutertil de

investimentos Ocorreu a definiccedilatildeo de uma agenda internacional para a Educaccedilatildeo Especial

materializada em diferentes eventos tais como a Conferecircncia Mundial sobre Educaccedilatildeo para

Todos (1990) a Declaraccedilatildeo de Salamanca (1994) a Convenccedilatildeo da Guatemala (1999) o

Compromisso de Dakar (2000) e a Convenccedilatildeo sobre os Direitos das Pessoas com

Revista Electroacutenica ldquoActualidades Investigativas en Educacioacutenrdquo

______________________________________________________________Volumen 18 Nuacutemero 2 Antildeo 2018 ISSN 1409-4703

18

Deficiecircncia (2006) que trataram de pautas de interesses ordinaacuterios agrave comunidade

internacional sobre o tema da Educaccedilatildeo Especial em uma perspectiva de Educaccedilatildeo

Inclusiva

Essas declaraccedilotildees e recomendaccedilotildees resultantes das diferentes cuacutepulas conferecircncias

e eventos regionais e internacionais foram importantes para a construccedilatildeo de consensos em

torno das principais ideias e propostas sobre Educaccedilatildeo Especial nas deacutecadas de 1980 1990

e 2000 ou seja da transiccedilatildeo do modelo integracionista para o inclusivo Nesses eventos ao

se constituiacuterem em foacuteruns gerais propalava-se a necessidade de reformas educativas

nacionais acompanhadas de mudanccedilas no financiamento transformaccedilatildeo curricular e gestatildeo

educacional em torno de sistemas educacionais inclusivos perseguidos tambeacutem no iniacutecio do

seacuteculo XXI que influenciaram a mudanccedila de paradigma acerca do atendimento agrave pessoa

com deficiecircncia no Brasil

No paradigma da inclusatildeo impulsionaram-se projetos de mudanccedilas nas poliacuteticas

puacuteblicas brasileiras ao conceber-se que todos se beneficiam quando as escolas promovem

respostas agraves diferenccedilas individuais dos estudantes Logo a Educaccedilatildeo Especial que surgiu

no campo da Pedagogia como uma aacuterea de conhecimento que se ocupava exclusivamente

do processo de escolarizaccedilatildeo pela via da homogeneizaccedilatildeo dos alunos ldquoexcepcionaisrdquo em

espaccedilos escolares ditos ldquoespeciaisrdquo que orbitavam agrave margem do sistema de ensino puacuteblico e

gratuito passou a integrar os tempos e espaccedilos das escolas regulares mas ficando a

participaccedilatildeo circunscrita agraves ldquoclasses especiaisrdquo e ainda sendo modalidade substitutiva e

normalizadora do processo de escolarizaccedilatildeo dos discentes ldquoportadores de necessidades

especiaisrdquo Atualmente sob a perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva o Brasil tem como

imperativo eacutetico normativo e intelectual ampliar a participaccedilatildeo de todos os estudantes nos

estabelecimentos de ensino regular especialmente daqueles grupos sociais historicamente

excluiacutedos da escola como as pessoas com deficiecircncia atraveacutes de uma abordagem

humaniacutestica e democraacutetica que perceba o sujeito e suas singularidades tendo como

objetivos o crescimento a satisfaccedilatildeo pessoal e a inserccedilatildeo social de todos

4 Referecircncias

Brasil Poder Executivo (2001) Promulga a Convenccedilatildeo Interamericana para a Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Pessoas Portadoras de Deficiecircncia Decreto nordm 3956 Brasil Diaacuterio Oficial [da] Repuacuteblica Federativa do Brasil

Carvalho Rosita Edler (2002) A nova LDB e a Educaccedilatildeo Especial (3ordf ed) Rio de Janeiro

WVA

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______________________________________________________________Volumen 18 Nuacutemero 2 Antildeo 2018 ISSN 1409-4703

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Dechichi Claacuteudia (2001) Transformando o ambiente da sala de aula em um contexto promotor do desenvolvimento do aluno deficiente mental (Tese de Doutorado em Psicologia Educacional) Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Brasil

Faacutevero Osmar Ferreira Windyz Ireland Timothy e Barreiros Deacutebora (2009) Tornar a

Educaccedilatildeo Inclusiva Brasiacutelia Unesco Mendes Eniceacuteia Gonccedilalves (1995) Deficiecircncia mental a construccedilatildeo cientiacutefica de um

conceito e a realidade educacional (Tese de Doutorado em Psicologia) Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Brasil

Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Especial Brasil (2008) Poliacutetica Nacional

de Educaccedilatildeo Especial na Perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva Brasiacutelia MEC Recuperado de httpportalmecgovbrarquivospdfpoliticaeducespecialpdf

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) (1948) Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos

Humanos Recuperado de httpunesdocunescoorgimages0013001394139423porpdf

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) (1975) Declaraccedilatildeo dos Direitos das Pessoas

Deficientes Recuperado de httpportalmecgovbrseesparquivospdfdec_defpdf Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) (1981) Ano Internacional das Pessoas Deficientes

Resoluccedilatildeo nordm 31123 aprovada pela Assembleia Geral da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas em 161276 Recuperado de httpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextome002911pdf

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) (1993) Normas sobre a Igualdade de

Oportunidades para as Pessoas com Deficiecircncia Recuperado de httpwwwinrptuploadsdocsEdicoes

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) (2012) Convenccedilatildeo sobre os Direitos das Pessoas

com Deficiecircncia Recuperado de httpwwwpessoacomdeficienciagovbrappsitesdefaultfilespublicacoesconvencaopessoascomdeficienciapdf

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (1990)

Conferecircncia Mundial de Educaccedilatildeo para Todos Declaraccedilatildeo Mundial de Educaccedilatildeo para Todos Plano de Accedilatildeo para Satisfazer as Necessidades Baacutesicas de Aprendizagem Brasiacutelia Unicef

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (1994)

Conferecircncia Mundial de Necessidades Educativas Especiais Acesso e Qualidade Declaraccedilatildeo de Salamanca sobre os Princiacutepios a Poliacutetica e as Praacuteticas na Aacuterea das Necessidades Educativas Especiais Salamanca Unesco

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (1998)

A Unesco e a Educaccedilatildeo na Ameacuterica Latina e Caribe (1987-1997) Chile Unesco

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Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (2001) Educaccedilatildeo para Todos o Compromisso de Dakar Brasiacutelia Consed

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (2004)

A Unesco no Brasil consolidando compromissos Brasiacutelia Unesco Organizaccedilatildeo dos Estados Americanos (OEA) (1999) Convenccedilatildeo Interamericana para a

Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Pessoas Portadoras de Deficiecircncia Guatemala OEA

Peroni Vidal (2003) Poliacutetica educacional e papel do Estado no Brasil dos anos 1990 Satildeo

Paulo Xamatilde Rioux Marcia e Valentine Fraser (2006) Does theory matter Exploring the nexus between

disability human rights and public policy Em Dianne Pothier e Richard Devlin (Eds) Critical disability theory essays in philosophy politics policy and law (pp 47-69) Vancouver The University of British Columbia

Saacutenchez Pilar Arnaiz (2005) A Educaccedilatildeo Inclusiva um meio de construir escolas para

todos no seacuteculo XXI Revista da Educaccedilatildeo Especial 7-18 Recuperado de httpportalmecgovbrseesparquivospdfinclusaopdf

Sassaki Romeu Kasumi (2005) Inclusatildeo o paradigma do seacuteculo 21 Revista da Educaccedilatildeo

Especial 19-23 Voivodic Maria Antonieta Machado de Almeida (2004) Inclusatildeo escolar de crianccedilas de

crianccedilas com Siacutendrome de Down (2ordf ed) Petroacutepolis Vozes

Page 15: Educação inclusiva: aspectos históricos, políticos e ideológicos … · 2018. 7. 19. · Revista Electrónica “Actualidades Investigativas en Educación” _____Volumen 18

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Tendo em vista o protagonismo das agecircncias e organizaccedilotildees intergovernamentais no

panorama mundial como a ONU e suas agecircncias especializadas (Unesco Unicef e BM) e no

cenaacuterio regional como a OEA na busca pela cooperaccedilatildeo internacional a fim de promover e

estimular entre seus paiacuteses-membros o respeito aos direitos humanos e agraves liberdades

fundamentais para todos especialmente entre os grupos minoritaacuterios como no caso da

melhoria das condiccedilotildees de vida para pessoas com deficiecircncia verificou-se que o percurso

histoacuterico poliacutetico e filosoacutefico da Educaccedilatildeo Especial nos anos 1990 culminou no paradigma

inclusivo de garantia da equiparaccedilatildeo de oportunidades direitos e deveres de seu puacuteblico-alvo

no interior do sistema regular de ensino (Peroni 2003)

Em pleno anos 2000 a ONU continuou a fixar padrotildees a trabalhar para tecer

consensos universais e a manter-se como um foacuterum central disseminador para a

comunidade internacional de princiacutepios e orientaccedilotildees gerais para a Educaccedilatildeo atraveacutes de

sua agecircncia especializada da Unesco Ademais seguiu lanccedilando as diretrizes sobre os

caminhos da Educaccedilatildeo Especial atraveacutes de declaraccedilotildees e recomendaccedilotildees acordadas para a

construccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas educacionais inclusivas ao redor do mundo Dessa forma

entre os dias 26 e 28 de abril de 2000 em Dakar Senegal 164 paiacuteses reuniram-se no

Foacuterum Consultivo Internacional para a Educaccedilatildeo para Todos criado em 1991 e composto

por representantes da Unesco Unicef e BM contando com agecircncias bilaterais governos e

sociedade civil para avaliar os progressos globais alcanccedilados desde a Conferecircncia Mundial

de Educaccedilatildeo para Todos realizada dez anos antes em Jomtien Tailacircndia e para aprovar

novo marco de accedilatildeo para a universalizaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Baacutesica (Unesco 2001)

Em 13 de dezembro de 2006 em sessatildeo solene da Assembleia Geral da ONU foi

aprovado o texto final da Convenccedilatildeo sobre os Direitos das Pessoas com Deficiecircncia10

firmado pelo Brasil e por mais 85 naccedilotildees signataacuterias em 30 de marccedilo de 2007 Esse tratado

internacional no que diz respeito ao direito agrave Educaccedilatildeo aos deficientes estabelece que os

Estados-Partes devem assegurar um sistema de Educaccedilatildeo Inclusiva em todos os niacuteveis de

ensino bem como o aprendizado ao longo da vida Em seu artigo 24 determina que as

pessoas com deficiecircncia natildeo sejam excluiacutedas do sistema educacional geral e que as

crianccedilas com deficiecircncia natildeo sejam excluiacutedas do ensino fundamental gratuito e compulsoacuterio

estabelece tambeacutem que elas tenham acesso ao ensino meacutedio e superior inclusivo de

10 Nesse texto a ONU reconhece que ldquo[] a deficiecircncia eacute um conceito em evoluccedilatildeo e que a deficiecircncia resulta da interaccedilatildeo entre pessoas com deficiecircncia e as barreiras atitudinais e ambientais que impedem sua plena e efetiva participaccedilatildeo na sociedade em igualdade de oportunidades com as demais pessoasrdquo (ONU 2012 p 22)

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qualidade e gratuito em igualdade de condiccedilotildees com as demais pessoas na comunidade em

que vivem (ONU 2012)

Ainda no panorama internacional a Unesco lanccedila em 2009 uma coletacircnea intitulada

Orientaccedilotildees Poliacuteticas sobre Inclusatildeo na Educaccedilatildeo a fim de ampliar a compreensatildeo das

questotildees atinentes agraves poliacuteticas e agraves praacuteticas pedagoacutegicas que visam garantir a inclusatildeo

educacional e social Os dados apresentados e as anaacutelises feitas suscitaram

questionamentos e posicionamentos em relaccedilatildeo agraves condiccedilotildees de acesso e de atendimento

nas redes de ensino e possibilitaram o aprofundamento do debate sobre as accedilotildees do poder

puacuteblico e da sociedade com vistas a assegurar o direito de todas as pessoas agrave Educaccedilatildeo

Escolar de Qualidade (No cenaacuterio regional da Ameacuterica Latina e do Caribe houve em 2009

a Campanha Latino-Americana pelo Direito agrave Educaccedilatildeo a fim de promover o

desenvolvimento de pesquisas interdisciplinares para subsidiar a formulaccedilatildeo de poliacuteticas

puacuteblicas intersetoriais que atendessem agraves especificidades educacionais de estudantes com

deficiecircncia transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotaccedilatildeo que

requeiram medidas de atendimento especializado Jaacute na Uniatildeo Europeia a Agecircncia

Europeia para o Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Especial recomendou tambeacutem em 2009

para decisoacuterios poliacuteticos princiacutepios baacutesicos para a Promoccedilatildeo da Qualidade na Educaccedilatildeo

Inclusiva Faacutevero Ferreira Ireland e Barreiros 2009)

A influecircncia histoacuterica direta ou indireta das agecircncias internacionais no direcionamento

das poliacuteticas puacuteblicas dentre elas a Educaccedilatildeo Especial situada no acircmbito geral das

diretrizes da Educaccedilatildeo como um direito de todos e dever do Estado implica o entendimento

de que os fundamentos ideoloacutegicos que datildeo sustentaccedilatildeo agraves poliacuteticas educacionais na aacuterea

de conhecimento da Educaccedilatildeo Especial adotadas pelos governos brasileiros certamente natildeo

foram gerados exclusivamente em acircmbito nacional mas ao contraacuterio em acircmbito

internacional vinculados agraves declaraccedilotildees e recomendaccedilotildees construiacutedas em foros de

abrangecircncia mundial e regional Em consequecircncia torna-se obrigatoacuterio considerar que a

atuaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas teve papel preponderante para a internacionalizaccedilatildeo do

discurso da Educaccedilatildeo Especial na perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva nos anos 1990 e 2000

notadamente pelo trabalho teacutecnico-poliacutetico da Unesco

Na perspectiva da citada agecircncia intergovernamental atuar nessa agenda de

cooperaccedilatildeo internacional e nacional com os Estados-Partes na formulaccedilatildeo de poliacuteticas e

estrateacutegias destinadas ao melhoramento dos sistemas de ensino ldquo[] significa avanccedilar para

uma sociedade educacional onde cada pessoa aprenda durante toda a vida e seja fonte de

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aprendizagem para os demaisrdquo (Unesco 1998 p 11) afinal a ldquo[] educaccedilatildeo desempenha

um papel chave neste processo tendo em vista o seu valor econocircmico e socialrdquo (Unesco

2004 p 33)

Essa compreensatildeo conduz o debate sobre os rumos da Educaccedilatildeo Especial no Brail

tornando-se fundamental para a construccedilatildeo de poliacuteticas de formaccedilatildeo docente financiamento

e gestatildeo escolar necessaacuterias para a transformaccedilatildeo da estrutura educacional a fim de

assegurar as condiccedilotildees de acesso participaccedilatildeo e aprendizagem de todos os estudantes

concebendo a escola como um espaccedilo que reconhece e valoriza as diferenccedilas

Logo o respeito agrave diversidade efetivado no respeito agraves diferenccedilas impulsiona accedilotildees

de cidadania voltadas ao reconhecimento de sujeitos de direitos simplesmente por serem

seres humanos Suas especificidades natildeo devem ser elemento para a construccedilatildeo de

desigualdades discriminaccedilotildees ou exclusotildees mas sim devem pautar as poliacuteticas afirmativas

de respeito agrave diversidade voltadas para a construccedilatildeo de contextos sociais inclusivos cujo

aspecto filosoacutefico-ideoloacutegico se assenta na equiparaccedilatildeo de oportunidades direitos e

deveres em que todas as pessoas teriam condiccedilotildees de vida e chance de realizar seus

projetos como parte do exerciacutecio de sua cidadania e em respeito agrave sua identidade

3 Consideraccedilotildees finais

Esta pesquisa foi instigada pela reflexatildeo que questionava como foi se constituindo a

compreensatildeo de Educaccedilatildeo Inclusiva ao longo dos tempos no Brasil considerando a

influecircncia ideoloacutegica dos documentos legais produzidos pelos organismos internacionais ndash

ONU Unesco OEA Unicef e BM ndash a partir das primeiras deacutecadas do seacuteculo XX Tal

inquietaccedilatildeo acadecircmica fez emergir o interesse em compreender a Histoacuteria da Educaccedilatildeo

Inclusiva em especial no que concerne agrave escolarizaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncia

defendida em acordos e discussotildees internacionais O objetivo com efeito foi desenvolver

um histoacuterico a respeito das poliacuteticas puacuteblicas internacionais de Educaccedilatildeo Especial com

ecircnfase nas mudanccedilas paradigmaacuteticas emergentes cronologicamente no Brasil

Realizou-se uma pesquisa documental nos textos internacionais produzidos sobre os

debates acerca da Educaccedilatildeo Inclusiva em especial para as pessoas com deficiecircncia dentre

os quais destacam-se Convenccedilatildeo Interamericana para a Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas

de Discriminaccedilatildeo contra as Pessoas Portadoras de Deficiecircncia Declaraccedilatildeo Universal dos

Direitos Humanos A Unesco e a Educaccedilatildeo na Ameacuterica Latina e Caribe (1987-1997)

Educaccedilatildeo para Todos o Compromisso de Dakar A Unesco no Brasil Consolidando

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Compromissos Conferecircncia Mundial de Necessidades Educativas Especiais Acesso e

Qualidade Os resultados permitiram desenvolver uma cronologia histoacuterica a qual

possibilitou afirmar que os seacuteculos XVIII e XIX foram marcados pela segregaccedilatildeo

homogeneizante das pessoas com deficiecircncia em escolas especiais com edificaccedilatildeo

especiacutefica que separavam os ditos estudantes ldquonormaisrdquo dos alunos que possuiacuteam algum

tipo de limitaccedilatildeo periacuteodo em que os debates sobre inclusatildeo natildeo possuiacuteam ecircnfase no

cenaacuterio internacional A partir das primeiras deacutecadas do seacuteculo XX os debates internacionais

a respeito da escolarizaccedilatildeo dos entatildeo denominados discentes ldquoespeciaisrdquo foram se

alargando emergiram em congruecircncia as classes especiais no interior das escolas

regulares Posteriormente na segunda metade do seacuteculo XX os debates internacionais

comeccedilaram a sinalizar a superaccedilatildeo de qualquer forma de segregaccedilatildeo e a impulsionar a

ideologia atualmente defendida de igualdade e inclusatildeo social com respeito agraves diferenccedilas

Ao fazer um balanccedilo histoacuterico sobre as poliacuteticas puacuteblicas de Educaccedilatildeo Especial no

cenaacuterio internacional percebeu-se a ausecircncia de documentos especiacuteficos nos seacuteculos XVIII

XIX e iniacutecio do XX Somente ao longo dos seacuteculos XX e XXI especialmente nas deacutecadas

que seguem 1970 averiguou-se que a atuaccedilatildeo das agecircncias especializadas da ONU em

parceria com outras agecircncias internacionais governos organizaccedilotildees natildeo governamentais e

sociedades civis contribuiu de maneira importante para a transiccedilatildeo do discurso educacional

da integraccedilatildeo instrucional para a constituiccedilatildeo de saberes e praacuteticas da Educaccedilatildeo Especial

sob a oacutetica inclusiva ao desempenhar um fundamental papel como foro permanente de

debate educacional e busca de soluccedilotildees contribuindo para a consolidaccedilatildeo de uma agenda

educacional e para a promoccedilatildeo da cooperaccedilatildeo internacional e horizontal com o objetivo de

apoiar os processos de mudanccedila das condiccedilotildees de vida das pessoas com deficiecircncia dentre

elas a inclusatildeo dessas pessoas nos espaccedilos regulares de ensino em equiparaccedilatildeo de

oportunidades direitos e deveres com relaccedilatildeo aos seus pares sem deficiecircncia

A proposta global das Naccedilotildees Unidas visava agrave promoccedilatildeo de uma Educaccedilatildeo para todos

ao longo de toda a vida notadamente para grupos historicamente excluiacutedos como o das

pessoas com deficiecircncia Para tanto durante toda a deacutecada de 1990 houve uma expansatildeo

de acordos internacionais e uma redescoberta da Educaccedilatildeo Especial como campo feacutertil de

investimentos Ocorreu a definiccedilatildeo de uma agenda internacional para a Educaccedilatildeo Especial

materializada em diferentes eventos tais como a Conferecircncia Mundial sobre Educaccedilatildeo para

Todos (1990) a Declaraccedilatildeo de Salamanca (1994) a Convenccedilatildeo da Guatemala (1999) o

Compromisso de Dakar (2000) e a Convenccedilatildeo sobre os Direitos das Pessoas com

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Deficiecircncia (2006) que trataram de pautas de interesses ordinaacuterios agrave comunidade

internacional sobre o tema da Educaccedilatildeo Especial em uma perspectiva de Educaccedilatildeo

Inclusiva

Essas declaraccedilotildees e recomendaccedilotildees resultantes das diferentes cuacutepulas conferecircncias

e eventos regionais e internacionais foram importantes para a construccedilatildeo de consensos em

torno das principais ideias e propostas sobre Educaccedilatildeo Especial nas deacutecadas de 1980 1990

e 2000 ou seja da transiccedilatildeo do modelo integracionista para o inclusivo Nesses eventos ao

se constituiacuterem em foacuteruns gerais propalava-se a necessidade de reformas educativas

nacionais acompanhadas de mudanccedilas no financiamento transformaccedilatildeo curricular e gestatildeo

educacional em torno de sistemas educacionais inclusivos perseguidos tambeacutem no iniacutecio do

seacuteculo XXI que influenciaram a mudanccedila de paradigma acerca do atendimento agrave pessoa

com deficiecircncia no Brasil

No paradigma da inclusatildeo impulsionaram-se projetos de mudanccedilas nas poliacuteticas

puacuteblicas brasileiras ao conceber-se que todos se beneficiam quando as escolas promovem

respostas agraves diferenccedilas individuais dos estudantes Logo a Educaccedilatildeo Especial que surgiu

no campo da Pedagogia como uma aacuterea de conhecimento que se ocupava exclusivamente

do processo de escolarizaccedilatildeo pela via da homogeneizaccedilatildeo dos alunos ldquoexcepcionaisrdquo em

espaccedilos escolares ditos ldquoespeciaisrdquo que orbitavam agrave margem do sistema de ensino puacuteblico e

gratuito passou a integrar os tempos e espaccedilos das escolas regulares mas ficando a

participaccedilatildeo circunscrita agraves ldquoclasses especiaisrdquo e ainda sendo modalidade substitutiva e

normalizadora do processo de escolarizaccedilatildeo dos discentes ldquoportadores de necessidades

especiaisrdquo Atualmente sob a perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva o Brasil tem como

imperativo eacutetico normativo e intelectual ampliar a participaccedilatildeo de todos os estudantes nos

estabelecimentos de ensino regular especialmente daqueles grupos sociais historicamente

excluiacutedos da escola como as pessoas com deficiecircncia atraveacutes de uma abordagem

humaniacutestica e democraacutetica que perceba o sujeito e suas singularidades tendo como

objetivos o crescimento a satisfaccedilatildeo pessoal e a inserccedilatildeo social de todos

4 Referecircncias

Brasil Poder Executivo (2001) Promulga a Convenccedilatildeo Interamericana para a Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Pessoas Portadoras de Deficiecircncia Decreto nordm 3956 Brasil Diaacuterio Oficial [da] Repuacuteblica Federativa do Brasil

Carvalho Rosita Edler (2002) A nova LDB e a Educaccedilatildeo Especial (3ordf ed) Rio de Janeiro

WVA

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______________________________________________________________Volumen 18 Nuacutemero 2 Antildeo 2018 ISSN 1409-4703

19

Dechichi Claacuteudia (2001) Transformando o ambiente da sala de aula em um contexto promotor do desenvolvimento do aluno deficiente mental (Tese de Doutorado em Psicologia Educacional) Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Brasil

Faacutevero Osmar Ferreira Windyz Ireland Timothy e Barreiros Deacutebora (2009) Tornar a

Educaccedilatildeo Inclusiva Brasiacutelia Unesco Mendes Eniceacuteia Gonccedilalves (1995) Deficiecircncia mental a construccedilatildeo cientiacutefica de um

conceito e a realidade educacional (Tese de Doutorado em Psicologia) Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Brasil

Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Especial Brasil (2008) Poliacutetica Nacional

de Educaccedilatildeo Especial na Perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva Brasiacutelia MEC Recuperado de httpportalmecgovbrarquivospdfpoliticaeducespecialpdf

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) (1948) Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos

Humanos Recuperado de httpunesdocunescoorgimages0013001394139423porpdf

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) (1975) Declaraccedilatildeo dos Direitos das Pessoas

Deficientes Recuperado de httpportalmecgovbrseesparquivospdfdec_defpdf Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) (1981) Ano Internacional das Pessoas Deficientes

Resoluccedilatildeo nordm 31123 aprovada pela Assembleia Geral da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas em 161276 Recuperado de httpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextome002911pdf

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) (1993) Normas sobre a Igualdade de

Oportunidades para as Pessoas com Deficiecircncia Recuperado de httpwwwinrptuploadsdocsEdicoes

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) (2012) Convenccedilatildeo sobre os Direitos das Pessoas

com Deficiecircncia Recuperado de httpwwwpessoacomdeficienciagovbrappsitesdefaultfilespublicacoesconvencaopessoascomdeficienciapdf

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (1990)

Conferecircncia Mundial de Educaccedilatildeo para Todos Declaraccedilatildeo Mundial de Educaccedilatildeo para Todos Plano de Accedilatildeo para Satisfazer as Necessidades Baacutesicas de Aprendizagem Brasiacutelia Unicef

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (1994)

Conferecircncia Mundial de Necessidades Educativas Especiais Acesso e Qualidade Declaraccedilatildeo de Salamanca sobre os Princiacutepios a Poliacutetica e as Praacuteticas na Aacuterea das Necessidades Educativas Especiais Salamanca Unesco

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (1998)

A Unesco e a Educaccedilatildeo na Ameacuterica Latina e Caribe (1987-1997) Chile Unesco

Revista Electroacutenica ldquoActualidades Investigativas en Educacioacutenrdquo

______________________________________________________________Volumen 18 Nuacutemero 2 Antildeo 2018 ISSN 1409-4703

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Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (2001) Educaccedilatildeo para Todos o Compromisso de Dakar Brasiacutelia Consed

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (2004)

A Unesco no Brasil consolidando compromissos Brasiacutelia Unesco Organizaccedilatildeo dos Estados Americanos (OEA) (1999) Convenccedilatildeo Interamericana para a

Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Pessoas Portadoras de Deficiecircncia Guatemala OEA

Peroni Vidal (2003) Poliacutetica educacional e papel do Estado no Brasil dos anos 1990 Satildeo

Paulo Xamatilde Rioux Marcia e Valentine Fraser (2006) Does theory matter Exploring the nexus between

disability human rights and public policy Em Dianne Pothier e Richard Devlin (Eds) Critical disability theory essays in philosophy politics policy and law (pp 47-69) Vancouver The University of British Columbia

Saacutenchez Pilar Arnaiz (2005) A Educaccedilatildeo Inclusiva um meio de construir escolas para

todos no seacuteculo XXI Revista da Educaccedilatildeo Especial 7-18 Recuperado de httpportalmecgovbrseesparquivospdfinclusaopdf

Sassaki Romeu Kasumi (2005) Inclusatildeo o paradigma do seacuteculo 21 Revista da Educaccedilatildeo

Especial 19-23 Voivodic Maria Antonieta Machado de Almeida (2004) Inclusatildeo escolar de crianccedilas de

crianccedilas com Siacutendrome de Down (2ordf ed) Petroacutepolis Vozes

Page 16: Educação inclusiva: aspectos históricos, políticos e ideológicos … · 2018. 7. 19. · Revista Electrónica “Actualidades Investigativas en Educación” _____Volumen 18

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qualidade e gratuito em igualdade de condiccedilotildees com as demais pessoas na comunidade em

que vivem (ONU 2012)

Ainda no panorama internacional a Unesco lanccedila em 2009 uma coletacircnea intitulada

Orientaccedilotildees Poliacuteticas sobre Inclusatildeo na Educaccedilatildeo a fim de ampliar a compreensatildeo das

questotildees atinentes agraves poliacuteticas e agraves praacuteticas pedagoacutegicas que visam garantir a inclusatildeo

educacional e social Os dados apresentados e as anaacutelises feitas suscitaram

questionamentos e posicionamentos em relaccedilatildeo agraves condiccedilotildees de acesso e de atendimento

nas redes de ensino e possibilitaram o aprofundamento do debate sobre as accedilotildees do poder

puacuteblico e da sociedade com vistas a assegurar o direito de todas as pessoas agrave Educaccedilatildeo

Escolar de Qualidade (No cenaacuterio regional da Ameacuterica Latina e do Caribe houve em 2009

a Campanha Latino-Americana pelo Direito agrave Educaccedilatildeo a fim de promover o

desenvolvimento de pesquisas interdisciplinares para subsidiar a formulaccedilatildeo de poliacuteticas

puacuteblicas intersetoriais que atendessem agraves especificidades educacionais de estudantes com

deficiecircncia transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotaccedilatildeo que

requeiram medidas de atendimento especializado Jaacute na Uniatildeo Europeia a Agecircncia

Europeia para o Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Especial recomendou tambeacutem em 2009

para decisoacuterios poliacuteticos princiacutepios baacutesicos para a Promoccedilatildeo da Qualidade na Educaccedilatildeo

Inclusiva Faacutevero Ferreira Ireland e Barreiros 2009)

A influecircncia histoacuterica direta ou indireta das agecircncias internacionais no direcionamento

das poliacuteticas puacuteblicas dentre elas a Educaccedilatildeo Especial situada no acircmbito geral das

diretrizes da Educaccedilatildeo como um direito de todos e dever do Estado implica o entendimento

de que os fundamentos ideoloacutegicos que datildeo sustentaccedilatildeo agraves poliacuteticas educacionais na aacuterea

de conhecimento da Educaccedilatildeo Especial adotadas pelos governos brasileiros certamente natildeo

foram gerados exclusivamente em acircmbito nacional mas ao contraacuterio em acircmbito

internacional vinculados agraves declaraccedilotildees e recomendaccedilotildees construiacutedas em foros de

abrangecircncia mundial e regional Em consequecircncia torna-se obrigatoacuterio considerar que a

atuaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas teve papel preponderante para a internacionalizaccedilatildeo do

discurso da Educaccedilatildeo Especial na perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva nos anos 1990 e 2000

notadamente pelo trabalho teacutecnico-poliacutetico da Unesco

Na perspectiva da citada agecircncia intergovernamental atuar nessa agenda de

cooperaccedilatildeo internacional e nacional com os Estados-Partes na formulaccedilatildeo de poliacuteticas e

estrateacutegias destinadas ao melhoramento dos sistemas de ensino ldquo[] significa avanccedilar para

uma sociedade educacional onde cada pessoa aprenda durante toda a vida e seja fonte de

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aprendizagem para os demaisrdquo (Unesco 1998 p 11) afinal a ldquo[] educaccedilatildeo desempenha

um papel chave neste processo tendo em vista o seu valor econocircmico e socialrdquo (Unesco

2004 p 33)

Essa compreensatildeo conduz o debate sobre os rumos da Educaccedilatildeo Especial no Brail

tornando-se fundamental para a construccedilatildeo de poliacuteticas de formaccedilatildeo docente financiamento

e gestatildeo escolar necessaacuterias para a transformaccedilatildeo da estrutura educacional a fim de

assegurar as condiccedilotildees de acesso participaccedilatildeo e aprendizagem de todos os estudantes

concebendo a escola como um espaccedilo que reconhece e valoriza as diferenccedilas

Logo o respeito agrave diversidade efetivado no respeito agraves diferenccedilas impulsiona accedilotildees

de cidadania voltadas ao reconhecimento de sujeitos de direitos simplesmente por serem

seres humanos Suas especificidades natildeo devem ser elemento para a construccedilatildeo de

desigualdades discriminaccedilotildees ou exclusotildees mas sim devem pautar as poliacuteticas afirmativas

de respeito agrave diversidade voltadas para a construccedilatildeo de contextos sociais inclusivos cujo

aspecto filosoacutefico-ideoloacutegico se assenta na equiparaccedilatildeo de oportunidades direitos e

deveres em que todas as pessoas teriam condiccedilotildees de vida e chance de realizar seus

projetos como parte do exerciacutecio de sua cidadania e em respeito agrave sua identidade

3 Consideraccedilotildees finais

Esta pesquisa foi instigada pela reflexatildeo que questionava como foi se constituindo a

compreensatildeo de Educaccedilatildeo Inclusiva ao longo dos tempos no Brasil considerando a

influecircncia ideoloacutegica dos documentos legais produzidos pelos organismos internacionais ndash

ONU Unesco OEA Unicef e BM ndash a partir das primeiras deacutecadas do seacuteculo XX Tal

inquietaccedilatildeo acadecircmica fez emergir o interesse em compreender a Histoacuteria da Educaccedilatildeo

Inclusiva em especial no que concerne agrave escolarizaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncia

defendida em acordos e discussotildees internacionais O objetivo com efeito foi desenvolver

um histoacuterico a respeito das poliacuteticas puacuteblicas internacionais de Educaccedilatildeo Especial com

ecircnfase nas mudanccedilas paradigmaacuteticas emergentes cronologicamente no Brasil

Realizou-se uma pesquisa documental nos textos internacionais produzidos sobre os

debates acerca da Educaccedilatildeo Inclusiva em especial para as pessoas com deficiecircncia dentre

os quais destacam-se Convenccedilatildeo Interamericana para a Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas

de Discriminaccedilatildeo contra as Pessoas Portadoras de Deficiecircncia Declaraccedilatildeo Universal dos

Direitos Humanos A Unesco e a Educaccedilatildeo na Ameacuterica Latina e Caribe (1987-1997)

Educaccedilatildeo para Todos o Compromisso de Dakar A Unesco no Brasil Consolidando

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Compromissos Conferecircncia Mundial de Necessidades Educativas Especiais Acesso e

Qualidade Os resultados permitiram desenvolver uma cronologia histoacuterica a qual

possibilitou afirmar que os seacuteculos XVIII e XIX foram marcados pela segregaccedilatildeo

homogeneizante das pessoas com deficiecircncia em escolas especiais com edificaccedilatildeo

especiacutefica que separavam os ditos estudantes ldquonormaisrdquo dos alunos que possuiacuteam algum

tipo de limitaccedilatildeo periacuteodo em que os debates sobre inclusatildeo natildeo possuiacuteam ecircnfase no

cenaacuterio internacional A partir das primeiras deacutecadas do seacuteculo XX os debates internacionais

a respeito da escolarizaccedilatildeo dos entatildeo denominados discentes ldquoespeciaisrdquo foram se

alargando emergiram em congruecircncia as classes especiais no interior das escolas

regulares Posteriormente na segunda metade do seacuteculo XX os debates internacionais

comeccedilaram a sinalizar a superaccedilatildeo de qualquer forma de segregaccedilatildeo e a impulsionar a

ideologia atualmente defendida de igualdade e inclusatildeo social com respeito agraves diferenccedilas

Ao fazer um balanccedilo histoacuterico sobre as poliacuteticas puacuteblicas de Educaccedilatildeo Especial no

cenaacuterio internacional percebeu-se a ausecircncia de documentos especiacuteficos nos seacuteculos XVIII

XIX e iniacutecio do XX Somente ao longo dos seacuteculos XX e XXI especialmente nas deacutecadas

que seguem 1970 averiguou-se que a atuaccedilatildeo das agecircncias especializadas da ONU em

parceria com outras agecircncias internacionais governos organizaccedilotildees natildeo governamentais e

sociedades civis contribuiu de maneira importante para a transiccedilatildeo do discurso educacional

da integraccedilatildeo instrucional para a constituiccedilatildeo de saberes e praacuteticas da Educaccedilatildeo Especial

sob a oacutetica inclusiva ao desempenhar um fundamental papel como foro permanente de

debate educacional e busca de soluccedilotildees contribuindo para a consolidaccedilatildeo de uma agenda

educacional e para a promoccedilatildeo da cooperaccedilatildeo internacional e horizontal com o objetivo de

apoiar os processos de mudanccedila das condiccedilotildees de vida das pessoas com deficiecircncia dentre

elas a inclusatildeo dessas pessoas nos espaccedilos regulares de ensino em equiparaccedilatildeo de

oportunidades direitos e deveres com relaccedilatildeo aos seus pares sem deficiecircncia

A proposta global das Naccedilotildees Unidas visava agrave promoccedilatildeo de uma Educaccedilatildeo para todos

ao longo de toda a vida notadamente para grupos historicamente excluiacutedos como o das

pessoas com deficiecircncia Para tanto durante toda a deacutecada de 1990 houve uma expansatildeo

de acordos internacionais e uma redescoberta da Educaccedilatildeo Especial como campo feacutertil de

investimentos Ocorreu a definiccedilatildeo de uma agenda internacional para a Educaccedilatildeo Especial

materializada em diferentes eventos tais como a Conferecircncia Mundial sobre Educaccedilatildeo para

Todos (1990) a Declaraccedilatildeo de Salamanca (1994) a Convenccedilatildeo da Guatemala (1999) o

Compromisso de Dakar (2000) e a Convenccedilatildeo sobre os Direitos das Pessoas com

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Deficiecircncia (2006) que trataram de pautas de interesses ordinaacuterios agrave comunidade

internacional sobre o tema da Educaccedilatildeo Especial em uma perspectiva de Educaccedilatildeo

Inclusiva

Essas declaraccedilotildees e recomendaccedilotildees resultantes das diferentes cuacutepulas conferecircncias

e eventos regionais e internacionais foram importantes para a construccedilatildeo de consensos em

torno das principais ideias e propostas sobre Educaccedilatildeo Especial nas deacutecadas de 1980 1990

e 2000 ou seja da transiccedilatildeo do modelo integracionista para o inclusivo Nesses eventos ao

se constituiacuterem em foacuteruns gerais propalava-se a necessidade de reformas educativas

nacionais acompanhadas de mudanccedilas no financiamento transformaccedilatildeo curricular e gestatildeo

educacional em torno de sistemas educacionais inclusivos perseguidos tambeacutem no iniacutecio do

seacuteculo XXI que influenciaram a mudanccedila de paradigma acerca do atendimento agrave pessoa

com deficiecircncia no Brasil

No paradigma da inclusatildeo impulsionaram-se projetos de mudanccedilas nas poliacuteticas

puacuteblicas brasileiras ao conceber-se que todos se beneficiam quando as escolas promovem

respostas agraves diferenccedilas individuais dos estudantes Logo a Educaccedilatildeo Especial que surgiu

no campo da Pedagogia como uma aacuterea de conhecimento que se ocupava exclusivamente

do processo de escolarizaccedilatildeo pela via da homogeneizaccedilatildeo dos alunos ldquoexcepcionaisrdquo em

espaccedilos escolares ditos ldquoespeciaisrdquo que orbitavam agrave margem do sistema de ensino puacuteblico e

gratuito passou a integrar os tempos e espaccedilos das escolas regulares mas ficando a

participaccedilatildeo circunscrita agraves ldquoclasses especiaisrdquo e ainda sendo modalidade substitutiva e

normalizadora do processo de escolarizaccedilatildeo dos discentes ldquoportadores de necessidades

especiaisrdquo Atualmente sob a perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva o Brasil tem como

imperativo eacutetico normativo e intelectual ampliar a participaccedilatildeo de todos os estudantes nos

estabelecimentos de ensino regular especialmente daqueles grupos sociais historicamente

excluiacutedos da escola como as pessoas com deficiecircncia atraveacutes de uma abordagem

humaniacutestica e democraacutetica que perceba o sujeito e suas singularidades tendo como

objetivos o crescimento a satisfaccedilatildeo pessoal e a inserccedilatildeo social de todos

4 Referecircncias

Brasil Poder Executivo (2001) Promulga a Convenccedilatildeo Interamericana para a Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Pessoas Portadoras de Deficiecircncia Decreto nordm 3956 Brasil Diaacuterio Oficial [da] Repuacuteblica Federativa do Brasil

Carvalho Rosita Edler (2002) A nova LDB e a Educaccedilatildeo Especial (3ordf ed) Rio de Janeiro

WVA

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Dechichi Claacuteudia (2001) Transformando o ambiente da sala de aula em um contexto promotor do desenvolvimento do aluno deficiente mental (Tese de Doutorado em Psicologia Educacional) Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Brasil

Faacutevero Osmar Ferreira Windyz Ireland Timothy e Barreiros Deacutebora (2009) Tornar a

Educaccedilatildeo Inclusiva Brasiacutelia Unesco Mendes Eniceacuteia Gonccedilalves (1995) Deficiecircncia mental a construccedilatildeo cientiacutefica de um

conceito e a realidade educacional (Tese de Doutorado em Psicologia) Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Brasil

Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Especial Brasil (2008) Poliacutetica Nacional

de Educaccedilatildeo Especial na Perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva Brasiacutelia MEC Recuperado de httpportalmecgovbrarquivospdfpoliticaeducespecialpdf

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) (1948) Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos

Humanos Recuperado de httpunesdocunescoorgimages0013001394139423porpdf

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) (1975) Declaraccedilatildeo dos Direitos das Pessoas

Deficientes Recuperado de httpportalmecgovbrseesparquivospdfdec_defpdf Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) (1981) Ano Internacional das Pessoas Deficientes

Resoluccedilatildeo nordm 31123 aprovada pela Assembleia Geral da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas em 161276 Recuperado de httpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextome002911pdf

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) (1993) Normas sobre a Igualdade de

Oportunidades para as Pessoas com Deficiecircncia Recuperado de httpwwwinrptuploadsdocsEdicoes

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) (2012) Convenccedilatildeo sobre os Direitos das Pessoas

com Deficiecircncia Recuperado de httpwwwpessoacomdeficienciagovbrappsitesdefaultfilespublicacoesconvencaopessoascomdeficienciapdf

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (1990)

Conferecircncia Mundial de Educaccedilatildeo para Todos Declaraccedilatildeo Mundial de Educaccedilatildeo para Todos Plano de Accedilatildeo para Satisfazer as Necessidades Baacutesicas de Aprendizagem Brasiacutelia Unicef

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (1994)

Conferecircncia Mundial de Necessidades Educativas Especiais Acesso e Qualidade Declaraccedilatildeo de Salamanca sobre os Princiacutepios a Poliacutetica e as Praacuteticas na Aacuterea das Necessidades Educativas Especiais Salamanca Unesco

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (1998)

A Unesco e a Educaccedilatildeo na Ameacuterica Latina e Caribe (1987-1997) Chile Unesco

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Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (2001) Educaccedilatildeo para Todos o Compromisso de Dakar Brasiacutelia Consed

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (2004)

A Unesco no Brasil consolidando compromissos Brasiacutelia Unesco Organizaccedilatildeo dos Estados Americanos (OEA) (1999) Convenccedilatildeo Interamericana para a

Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Pessoas Portadoras de Deficiecircncia Guatemala OEA

Peroni Vidal (2003) Poliacutetica educacional e papel do Estado no Brasil dos anos 1990 Satildeo

Paulo Xamatilde Rioux Marcia e Valentine Fraser (2006) Does theory matter Exploring the nexus between

disability human rights and public policy Em Dianne Pothier e Richard Devlin (Eds) Critical disability theory essays in philosophy politics policy and law (pp 47-69) Vancouver The University of British Columbia

Saacutenchez Pilar Arnaiz (2005) A Educaccedilatildeo Inclusiva um meio de construir escolas para

todos no seacuteculo XXI Revista da Educaccedilatildeo Especial 7-18 Recuperado de httpportalmecgovbrseesparquivospdfinclusaopdf

Sassaki Romeu Kasumi (2005) Inclusatildeo o paradigma do seacuteculo 21 Revista da Educaccedilatildeo

Especial 19-23 Voivodic Maria Antonieta Machado de Almeida (2004) Inclusatildeo escolar de crianccedilas de

crianccedilas com Siacutendrome de Down (2ordf ed) Petroacutepolis Vozes

Page 17: Educação inclusiva: aspectos históricos, políticos e ideológicos … · 2018. 7. 19. · Revista Electrónica “Actualidades Investigativas en Educación” _____Volumen 18

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aprendizagem para os demaisrdquo (Unesco 1998 p 11) afinal a ldquo[] educaccedilatildeo desempenha

um papel chave neste processo tendo em vista o seu valor econocircmico e socialrdquo (Unesco

2004 p 33)

Essa compreensatildeo conduz o debate sobre os rumos da Educaccedilatildeo Especial no Brail

tornando-se fundamental para a construccedilatildeo de poliacuteticas de formaccedilatildeo docente financiamento

e gestatildeo escolar necessaacuterias para a transformaccedilatildeo da estrutura educacional a fim de

assegurar as condiccedilotildees de acesso participaccedilatildeo e aprendizagem de todos os estudantes

concebendo a escola como um espaccedilo que reconhece e valoriza as diferenccedilas

Logo o respeito agrave diversidade efetivado no respeito agraves diferenccedilas impulsiona accedilotildees

de cidadania voltadas ao reconhecimento de sujeitos de direitos simplesmente por serem

seres humanos Suas especificidades natildeo devem ser elemento para a construccedilatildeo de

desigualdades discriminaccedilotildees ou exclusotildees mas sim devem pautar as poliacuteticas afirmativas

de respeito agrave diversidade voltadas para a construccedilatildeo de contextos sociais inclusivos cujo

aspecto filosoacutefico-ideoloacutegico se assenta na equiparaccedilatildeo de oportunidades direitos e

deveres em que todas as pessoas teriam condiccedilotildees de vida e chance de realizar seus

projetos como parte do exerciacutecio de sua cidadania e em respeito agrave sua identidade

3 Consideraccedilotildees finais

Esta pesquisa foi instigada pela reflexatildeo que questionava como foi se constituindo a

compreensatildeo de Educaccedilatildeo Inclusiva ao longo dos tempos no Brasil considerando a

influecircncia ideoloacutegica dos documentos legais produzidos pelos organismos internacionais ndash

ONU Unesco OEA Unicef e BM ndash a partir das primeiras deacutecadas do seacuteculo XX Tal

inquietaccedilatildeo acadecircmica fez emergir o interesse em compreender a Histoacuteria da Educaccedilatildeo

Inclusiva em especial no que concerne agrave escolarizaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncia

defendida em acordos e discussotildees internacionais O objetivo com efeito foi desenvolver

um histoacuterico a respeito das poliacuteticas puacuteblicas internacionais de Educaccedilatildeo Especial com

ecircnfase nas mudanccedilas paradigmaacuteticas emergentes cronologicamente no Brasil

Realizou-se uma pesquisa documental nos textos internacionais produzidos sobre os

debates acerca da Educaccedilatildeo Inclusiva em especial para as pessoas com deficiecircncia dentre

os quais destacam-se Convenccedilatildeo Interamericana para a Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas

de Discriminaccedilatildeo contra as Pessoas Portadoras de Deficiecircncia Declaraccedilatildeo Universal dos

Direitos Humanos A Unesco e a Educaccedilatildeo na Ameacuterica Latina e Caribe (1987-1997)

Educaccedilatildeo para Todos o Compromisso de Dakar A Unesco no Brasil Consolidando

Revista Electroacutenica ldquoActualidades Investigativas en Educacioacutenrdquo

______________________________________________________________Volumen 18 Nuacutemero 2 Antildeo 2018 ISSN 1409-4703

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Compromissos Conferecircncia Mundial de Necessidades Educativas Especiais Acesso e

Qualidade Os resultados permitiram desenvolver uma cronologia histoacuterica a qual

possibilitou afirmar que os seacuteculos XVIII e XIX foram marcados pela segregaccedilatildeo

homogeneizante das pessoas com deficiecircncia em escolas especiais com edificaccedilatildeo

especiacutefica que separavam os ditos estudantes ldquonormaisrdquo dos alunos que possuiacuteam algum

tipo de limitaccedilatildeo periacuteodo em que os debates sobre inclusatildeo natildeo possuiacuteam ecircnfase no

cenaacuterio internacional A partir das primeiras deacutecadas do seacuteculo XX os debates internacionais

a respeito da escolarizaccedilatildeo dos entatildeo denominados discentes ldquoespeciaisrdquo foram se

alargando emergiram em congruecircncia as classes especiais no interior das escolas

regulares Posteriormente na segunda metade do seacuteculo XX os debates internacionais

comeccedilaram a sinalizar a superaccedilatildeo de qualquer forma de segregaccedilatildeo e a impulsionar a

ideologia atualmente defendida de igualdade e inclusatildeo social com respeito agraves diferenccedilas

Ao fazer um balanccedilo histoacuterico sobre as poliacuteticas puacuteblicas de Educaccedilatildeo Especial no

cenaacuterio internacional percebeu-se a ausecircncia de documentos especiacuteficos nos seacuteculos XVIII

XIX e iniacutecio do XX Somente ao longo dos seacuteculos XX e XXI especialmente nas deacutecadas

que seguem 1970 averiguou-se que a atuaccedilatildeo das agecircncias especializadas da ONU em

parceria com outras agecircncias internacionais governos organizaccedilotildees natildeo governamentais e

sociedades civis contribuiu de maneira importante para a transiccedilatildeo do discurso educacional

da integraccedilatildeo instrucional para a constituiccedilatildeo de saberes e praacuteticas da Educaccedilatildeo Especial

sob a oacutetica inclusiva ao desempenhar um fundamental papel como foro permanente de

debate educacional e busca de soluccedilotildees contribuindo para a consolidaccedilatildeo de uma agenda

educacional e para a promoccedilatildeo da cooperaccedilatildeo internacional e horizontal com o objetivo de

apoiar os processos de mudanccedila das condiccedilotildees de vida das pessoas com deficiecircncia dentre

elas a inclusatildeo dessas pessoas nos espaccedilos regulares de ensino em equiparaccedilatildeo de

oportunidades direitos e deveres com relaccedilatildeo aos seus pares sem deficiecircncia

A proposta global das Naccedilotildees Unidas visava agrave promoccedilatildeo de uma Educaccedilatildeo para todos

ao longo de toda a vida notadamente para grupos historicamente excluiacutedos como o das

pessoas com deficiecircncia Para tanto durante toda a deacutecada de 1990 houve uma expansatildeo

de acordos internacionais e uma redescoberta da Educaccedilatildeo Especial como campo feacutertil de

investimentos Ocorreu a definiccedilatildeo de uma agenda internacional para a Educaccedilatildeo Especial

materializada em diferentes eventos tais como a Conferecircncia Mundial sobre Educaccedilatildeo para

Todos (1990) a Declaraccedilatildeo de Salamanca (1994) a Convenccedilatildeo da Guatemala (1999) o

Compromisso de Dakar (2000) e a Convenccedilatildeo sobre os Direitos das Pessoas com

Revista Electroacutenica ldquoActualidades Investigativas en Educacioacutenrdquo

______________________________________________________________Volumen 18 Nuacutemero 2 Antildeo 2018 ISSN 1409-4703

18

Deficiecircncia (2006) que trataram de pautas de interesses ordinaacuterios agrave comunidade

internacional sobre o tema da Educaccedilatildeo Especial em uma perspectiva de Educaccedilatildeo

Inclusiva

Essas declaraccedilotildees e recomendaccedilotildees resultantes das diferentes cuacutepulas conferecircncias

e eventos regionais e internacionais foram importantes para a construccedilatildeo de consensos em

torno das principais ideias e propostas sobre Educaccedilatildeo Especial nas deacutecadas de 1980 1990

e 2000 ou seja da transiccedilatildeo do modelo integracionista para o inclusivo Nesses eventos ao

se constituiacuterem em foacuteruns gerais propalava-se a necessidade de reformas educativas

nacionais acompanhadas de mudanccedilas no financiamento transformaccedilatildeo curricular e gestatildeo

educacional em torno de sistemas educacionais inclusivos perseguidos tambeacutem no iniacutecio do

seacuteculo XXI que influenciaram a mudanccedila de paradigma acerca do atendimento agrave pessoa

com deficiecircncia no Brasil

No paradigma da inclusatildeo impulsionaram-se projetos de mudanccedilas nas poliacuteticas

puacuteblicas brasileiras ao conceber-se que todos se beneficiam quando as escolas promovem

respostas agraves diferenccedilas individuais dos estudantes Logo a Educaccedilatildeo Especial que surgiu

no campo da Pedagogia como uma aacuterea de conhecimento que se ocupava exclusivamente

do processo de escolarizaccedilatildeo pela via da homogeneizaccedilatildeo dos alunos ldquoexcepcionaisrdquo em

espaccedilos escolares ditos ldquoespeciaisrdquo que orbitavam agrave margem do sistema de ensino puacuteblico e

gratuito passou a integrar os tempos e espaccedilos das escolas regulares mas ficando a

participaccedilatildeo circunscrita agraves ldquoclasses especiaisrdquo e ainda sendo modalidade substitutiva e

normalizadora do processo de escolarizaccedilatildeo dos discentes ldquoportadores de necessidades

especiaisrdquo Atualmente sob a perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva o Brasil tem como

imperativo eacutetico normativo e intelectual ampliar a participaccedilatildeo de todos os estudantes nos

estabelecimentos de ensino regular especialmente daqueles grupos sociais historicamente

excluiacutedos da escola como as pessoas com deficiecircncia atraveacutes de uma abordagem

humaniacutestica e democraacutetica que perceba o sujeito e suas singularidades tendo como

objetivos o crescimento a satisfaccedilatildeo pessoal e a inserccedilatildeo social de todos

4 Referecircncias

Brasil Poder Executivo (2001) Promulga a Convenccedilatildeo Interamericana para a Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Pessoas Portadoras de Deficiecircncia Decreto nordm 3956 Brasil Diaacuterio Oficial [da] Repuacuteblica Federativa do Brasil

Carvalho Rosita Edler (2002) A nova LDB e a Educaccedilatildeo Especial (3ordf ed) Rio de Janeiro

WVA

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______________________________________________________________Volumen 18 Nuacutemero 2 Antildeo 2018 ISSN 1409-4703

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Dechichi Claacuteudia (2001) Transformando o ambiente da sala de aula em um contexto promotor do desenvolvimento do aluno deficiente mental (Tese de Doutorado em Psicologia Educacional) Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Brasil

Faacutevero Osmar Ferreira Windyz Ireland Timothy e Barreiros Deacutebora (2009) Tornar a

Educaccedilatildeo Inclusiva Brasiacutelia Unesco Mendes Eniceacuteia Gonccedilalves (1995) Deficiecircncia mental a construccedilatildeo cientiacutefica de um

conceito e a realidade educacional (Tese de Doutorado em Psicologia) Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Brasil

Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Especial Brasil (2008) Poliacutetica Nacional

de Educaccedilatildeo Especial na Perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva Brasiacutelia MEC Recuperado de httpportalmecgovbrarquivospdfpoliticaeducespecialpdf

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) (1948) Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos

Humanos Recuperado de httpunesdocunescoorgimages0013001394139423porpdf

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) (1975) Declaraccedilatildeo dos Direitos das Pessoas

Deficientes Recuperado de httpportalmecgovbrseesparquivospdfdec_defpdf Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) (1981) Ano Internacional das Pessoas Deficientes

Resoluccedilatildeo nordm 31123 aprovada pela Assembleia Geral da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas em 161276 Recuperado de httpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextome002911pdf

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) (1993) Normas sobre a Igualdade de

Oportunidades para as Pessoas com Deficiecircncia Recuperado de httpwwwinrptuploadsdocsEdicoes

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) (2012) Convenccedilatildeo sobre os Direitos das Pessoas

com Deficiecircncia Recuperado de httpwwwpessoacomdeficienciagovbrappsitesdefaultfilespublicacoesconvencaopessoascomdeficienciapdf

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (1990)

Conferecircncia Mundial de Educaccedilatildeo para Todos Declaraccedilatildeo Mundial de Educaccedilatildeo para Todos Plano de Accedilatildeo para Satisfazer as Necessidades Baacutesicas de Aprendizagem Brasiacutelia Unicef

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (1994)

Conferecircncia Mundial de Necessidades Educativas Especiais Acesso e Qualidade Declaraccedilatildeo de Salamanca sobre os Princiacutepios a Poliacutetica e as Praacuteticas na Aacuterea das Necessidades Educativas Especiais Salamanca Unesco

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (1998)

A Unesco e a Educaccedilatildeo na Ameacuterica Latina e Caribe (1987-1997) Chile Unesco

Revista Electroacutenica ldquoActualidades Investigativas en Educacioacutenrdquo

______________________________________________________________Volumen 18 Nuacutemero 2 Antildeo 2018 ISSN 1409-4703

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Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (2001) Educaccedilatildeo para Todos o Compromisso de Dakar Brasiacutelia Consed

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (2004)

A Unesco no Brasil consolidando compromissos Brasiacutelia Unesco Organizaccedilatildeo dos Estados Americanos (OEA) (1999) Convenccedilatildeo Interamericana para a

Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Pessoas Portadoras de Deficiecircncia Guatemala OEA

Peroni Vidal (2003) Poliacutetica educacional e papel do Estado no Brasil dos anos 1990 Satildeo

Paulo Xamatilde Rioux Marcia e Valentine Fraser (2006) Does theory matter Exploring the nexus between

disability human rights and public policy Em Dianne Pothier e Richard Devlin (Eds) Critical disability theory essays in philosophy politics policy and law (pp 47-69) Vancouver The University of British Columbia

Saacutenchez Pilar Arnaiz (2005) A Educaccedilatildeo Inclusiva um meio de construir escolas para

todos no seacuteculo XXI Revista da Educaccedilatildeo Especial 7-18 Recuperado de httpportalmecgovbrseesparquivospdfinclusaopdf

Sassaki Romeu Kasumi (2005) Inclusatildeo o paradigma do seacuteculo 21 Revista da Educaccedilatildeo

Especial 19-23 Voivodic Maria Antonieta Machado de Almeida (2004) Inclusatildeo escolar de crianccedilas de

crianccedilas com Siacutendrome de Down (2ordf ed) Petroacutepolis Vozes

Page 18: Educação inclusiva: aspectos históricos, políticos e ideológicos … · 2018. 7. 19. · Revista Electrónica “Actualidades Investigativas en Educación” _____Volumen 18

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Compromissos Conferecircncia Mundial de Necessidades Educativas Especiais Acesso e

Qualidade Os resultados permitiram desenvolver uma cronologia histoacuterica a qual

possibilitou afirmar que os seacuteculos XVIII e XIX foram marcados pela segregaccedilatildeo

homogeneizante das pessoas com deficiecircncia em escolas especiais com edificaccedilatildeo

especiacutefica que separavam os ditos estudantes ldquonormaisrdquo dos alunos que possuiacuteam algum

tipo de limitaccedilatildeo periacuteodo em que os debates sobre inclusatildeo natildeo possuiacuteam ecircnfase no

cenaacuterio internacional A partir das primeiras deacutecadas do seacuteculo XX os debates internacionais

a respeito da escolarizaccedilatildeo dos entatildeo denominados discentes ldquoespeciaisrdquo foram se

alargando emergiram em congruecircncia as classes especiais no interior das escolas

regulares Posteriormente na segunda metade do seacuteculo XX os debates internacionais

comeccedilaram a sinalizar a superaccedilatildeo de qualquer forma de segregaccedilatildeo e a impulsionar a

ideologia atualmente defendida de igualdade e inclusatildeo social com respeito agraves diferenccedilas

Ao fazer um balanccedilo histoacuterico sobre as poliacuteticas puacuteblicas de Educaccedilatildeo Especial no

cenaacuterio internacional percebeu-se a ausecircncia de documentos especiacuteficos nos seacuteculos XVIII

XIX e iniacutecio do XX Somente ao longo dos seacuteculos XX e XXI especialmente nas deacutecadas

que seguem 1970 averiguou-se que a atuaccedilatildeo das agecircncias especializadas da ONU em

parceria com outras agecircncias internacionais governos organizaccedilotildees natildeo governamentais e

sociedades civis contribuiu de maneira importante para a transiccedilatildeo do discurso educacional

da integraccedilatildeo instrucional para a constituiccedilatildeo de saberes e praacuteticas da Educaccedilatildeo Especial

sob a oacutetica inclusiva ao desempenhar um fundamental papel como foro permanente de

debate educacional e busca de soluccedilotildees contribuindo para a consolidaccedilatildeo de uma agenda

educacional e para a promoccedilatildeo da cooperaccedilatildeo internacional e horizontal com o objetivo de

apoiar os processos de mudanccedila das condiccedilotildees de vida das pessoas com deficiecircncia dentre

elas a inclusatildeo dessas pessoas nos espaccedilos regulares de ensino em equiparaccedilatildeo de

oportunidades direitos e deveres com relaccedilatildeo aos seus pares sem deficiecircncia

A proposta global das Naccedilotildees Unidas visava agrave promoccedilatildeo de uma Educaccedilatildeo para todos

ao longo de toda a vida notadamente para grupos historicamente excluiacutedos como o das

pessoas com deficiecircncia Para tanto durante toda a deacutecada de 1990 houve uma expansatildeo

de acordos internacionais e uma redescoberta da Educaccedilatildeo Especial como campo feacutertil de

investimentos Ocorreu a definiccedilatildeo de uma agenda internacional para a Educaccedilatildeo Especial

materializada em diferentes eventos tais como a Conferecircncia Mundial sobre Educaccedilatildeo para

Todos (1990) a Declaraccedilatildeo de Salamanca (1994) a Convenccedilatildeo da Guatemala (1999) o

Compromisso de Dakar (2000) e a Convenccedilatildeo sobre os Direitos das Pessoas com

Revista Electroacutenica ldquoActualidades Investigativas en Educacioacutenrdquo

______________________________________________________________Volumen 18 Nuacutemero 2 Antildeo 2018 ISSN 1409-4703

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Deficiecircncia (2006) que trataram de pautas de interesses ordinaacuterios agrave comunidade

internacional sobre o tema da Educaccedilatildeo Especial em uma perspectiva de Educaccedilatildeo

Inclusiva

Essas declaraccedilotildees e recomendaccedilotildees resultantes das diferentes cuacutepulas conferecircncias

e eventos regionais e internacionais foram importantes para a construccedilatildeo de consensos em

torno das principais ideias e propostas sobre Educaccedilatildeo Especial nas deacutecadas de 1980 1990

e 2000 ou seja da transiccedilatildeo do modelo integracionista para o inclusivo Nesses eventos ao

se constituiacuterem em foacuteruns gerais propalava-se a necessidade de reformas educativas

nacionais acompanhadas de mudanccedilas no financiamento transformaccedilatildeo curricular e gestatildeo

educacional em torno de sistemas educacionais inclusivos perseguidos tambeacutem no iniacutecio do

seacuteculo XXI que influenciaram a mudanccedila de paradigma acerca do atendimento agrave pessoa

com deficiecircncia no Brasil

No paradigma da inclusatildeo impulsionaram-se projetos de mudanccedilas nas poliacuteticas

puacuteblicas brasileiras ao conceber-se que todos se beneficiam quando as escolas promovem

respostas agraves diferenccedilas individuais dos estudantes Logo a Educaccedilatildeo Especial que surgiu

no campo da Pedagogia como uma aacuterea de conhecimento que se ocupava exclusivamente

do processo de escolarizaccedilatildeo pela via da homogeneizaccedilatildeo dos alunos ldquoexcepcionaisrdquo em

espaccedilos escolares ditos ldquoespeciaisrdquo que orbitavam agrave margem do sistema de ensino puacuteblico e

gratuito passou a integrar os tempos e espaccedilos das escolas regulares mas ficando a

participaccedilatildeo circunscrita agraves ldquoclasses especiaisrdquo e ainda sendo modalidade substitutiva e

normalizadora do processo de escolarizaccedilatildeo dos discentes ldquoportadores de necessidades

especiaisrdquo Atualmente sob a perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva o Brasil tem como

imperativo eacutetico normativo e intelectual ampliar a participaccedilatildeo de todos os estudantes nos

estabelecimentos de ensino regular especialmente daqueles grupos sociais historicamente

excluiacutedos da escola como as pessoas com deficiecircncia atraveacutes de uma abordagem

humaniacutestica e democraacutetica que perceba o sujeito e suas singularidades tendo como

objetivos o crescimento a satisfaccedilatildeo pessoal e a inserccedilatildeo social de todos

4 Referecircncias

Brasil Poder Executivo (2001) Promulga a Convenccedilatildeo Interamericana para a Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Pessoas Portadoras de Deficiecircncia Decreto nordm 3956 Brasil Diaacuterio Oficial [da] Repuacuteblica Federativa do Brasil

Carvalho Rosita Edler (2002) A nova LDB e a Educaccedilatildeo Especial (3ordf ed) Rio de Janeiro

WVA

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______________________________________________________________Volumen 18 Nuacutemero 2 Antildeo 2018 ISSN 1409-4703

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Dechichi Claacuteudia (2001) Transformando o ambiente da sala de aula em um contexto promotor do desenvolvimento do aluno deficiente mental (Tese de Doutorado em Psicologia Educacional) Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Brasil

Faacutevero Osmar Ferreira Windyz Ireland Timothy e Barreiros Deacutebora (2009) Tornar a

Educaccedilatildeo Inclusiva Brasiacutelia Unesco Mendes Eniceacuteia Gonccedilalves (1995) Deficiecircncia mental a construccedilatildeo cientiacutefica de um

conceito e a realidade educacional (Tese de Doutorado em Psicologia) Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Brasil

Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Especial Brasil (2008) Poliacutetica Nacional

de Educaccedilatildeo Especial na Perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva Brasiacutelia MEC Recuperado de httpportalmecgovbrarquivospdfpoliticaeducespecialpdf

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) (1948) Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos

Humanos Recuperado de httpunesdocunescoorgimages0013001394139423porpdf

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) (1975) Declaraccedilatildeo dos Direitos das Pessoas

Deficientes Recuperado de httpportalmecgovbrseesparquivospdfdec_defpdf Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) (1981) Ano Internacional das Pessoas Deficientes

Resoluccedilatildeo nordm 31123 aprovada pela Assembleia Geral da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas em 161276 Recuperado de httpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextome002911pdf

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) (1993) Normas sobre a Igualdade de

Oportunidades para as Pessoas com Deficiecircncia Recuperado de httpwwwinrptuploadsdocsEdicoes

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) (2012) Convenccedilatildeo sobre os Direitos das Pessoas

com Deficiecircncia Recuperado de httpwwwpessoacomdeficienciagovbrappsitesdefaultfilespublicacoesconvencaopessoascomdeficienciapdf

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (1990)

Conferecircncia Mundial de Educaccedilatildeo para Todos Declaraccedilatildeo Mundial de Educaccedilatildeo para Todos Plano de Accedilatildeo para Satisfazer as Necessidades Baacutesicas de Aprendizagem Brasiacutelia Unicef

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (1994)

Conferecircncia Mundial de Necessidades Educativas Especiais Acesso e Qualidade Declaraccedilatildeo de Salamanca sobre os Princiacutepios a Poliacutetica e as Praacuteticas na Aacuterea das Necessidades Educativas Especiais Salamanca Unesco

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (1998)

A Unesco e a Educaccedilatildeo na Ameacuterica Latina e Caribe (1987-1997) Chile Unesco

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Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (2001) Educaccedilatildeo para Todos o Compromisso de Dakar Brasiacutelia Consed

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (2004)

A Unesco no Brasil consolidando compromissos Brasiacutelia Unesco Organizaccedilatildeo dos Estados Americanos (OEA) (1999) Convenccedilatildeo Interamericana para a

Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Pessoas Portadoras de Deficiecircncia Guatemala OEA

Peroni Vidal (2003) Poliacutetica educacional e papel do Estado no Brasil dos anos 1990 Satildeo

Paulo Xamatilde Rioux Marcia e Valentine Fraser (2006) Does theory matter Exploring the nexus between

disability human rights and public policy Em Dianne Pothier e Richard Devlin (Eds) Critical disability theory essays in philosophy politics policy and law (pp 47-69) Vancouver The University of British Columbia

Saacutenchez Pilar Arnaiz (2005) A Educaccedilatildeo Inclusiva um meio de construir escolas para

todos no seacuteculo XXI Revista da Educaccedilatildeo Especial 7-18 Recuperado de httpportalmecgovbrseesparquivospdfinclusaopdf

Sassaki Romeu Kasumi (2005) Inclusatildeo o paradigma do seacuteculo 21 Revista da Educaccedilatildeo

Especial 19-23 Voivodic Maria Antonieta Machado de Almeida (2004) Inclusatildeo escolar de crianccedilas de

crianccedilas com Siacutendrome de Down (2ordf ed) Petroacutepolis Vozes

Page 19: Educação inclusiva: aspectos históricos, políticos e ideológicos … · 2018. 7. 19. · Revista Electrónica “Actualidades Investigativas en Educación” _____Volumen 18

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Deficiecircncia (2006) que trataram de pautas de interesses ordinaacuterios agrave comunidade

internacional sobre o tema da Educaccedilatildeo Especial em uma perspectiva de Educaccedilatildeo

Inclusiva

Essas declaraccedilotildees e recomendaccedilotildees resultantes das diferentes cuacutepulas conferecircncias

e eventos regionais e internacionais foram importantes para a construccedilatildeo de consensos em

torno das principais ideias e propostas sobre Educaccedilatildeo Especial nas deacutecadas de 1980 1990

e 2000 ou seja da transiccedilatildeo do modelo integracionista para o inclusivo Nesses eventos ao

se constituiacuterem em foacuteruns gerais propalava-se a necessidade de reformas educativas

nacionais acompanhadas de mudanccedilas no financiamento transformaccedilatildeo curricular e gestatildeo

educacional em torno de sistemas educacionais inclusivos perseguidos tambeacutem no iniacutecio do

seacuteculo XXI que influenciaram a mudanccedila de paradigma acerca do atendimento agrave pessoa

com deficiecircncia no Brasil

No paradigma da inclusatildeo impulsionaram-se projetos de mudanccedilas nas poliacuteticas

puacuteblicas brasileiras ao conceber-se que todos se beneficiam quando as escolas promovem

respostas agraves diferenccedilas individuais dos estudantes Logo a Educaccedilatildeo Especial que surgiu

no campo da Pedagogia como uma aacuterea de conhecimento que se ocupava exclusivamente

do processo de escolarizaccedilatildeo pela via da homogeneizaccedilatildeo dos alunos ldquoexcepcionaisrdquo em

espaccedilos escolares ditos ldquoespeciaisrdquo que orbitavam agrave margem do sistema de ensino puacuteblico e

gratuito passou a integrar os tempos e espaccedilos das escolas regulares mas ficando a

participaccedilatildeo circunscrita agraves ldquoclasses especiaisrdquo e ainda sendo modalidade substitutiva e

normalizadora do processo de escolarizaccedilatildeo dos discentes ldquoportadores de necessidades

especiaisrdquo Atualmente sob a perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva o Brasil tem como

imperativo eacutetico normativo e intelectual ampliar a participaccedilatildeo de todos os estudantes nos

estabelecimentos de ensino regular especialmente daqueles grupos sociais historicamente

excluiacutedos da escola como as pessoas com deficiecircncia atraveacutes de uma abordagem

humaniacutestica e democraacutetica que perceba o sujeito e suas singularidades tendo como

objetivos o crescimento a satisfaccedilatildeo pessoal e a inserccedilatildeo social de todos

4 Referecircncias

Brasil Poder Executivo (2001) Promulga a Convenccedilatildeo Interamericana para a Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Pessoas Portadoras de Deficiecircncia Decreto nordm 3956 Brasil Diaacuterio Oficial [da] Repuacuteblica Federativa do Brasil

Carvalho Rosita Edler (2002) A nova LDB e a Educaccedilatildeo Especial (3ordf ed) Rio de Janeiro

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Dechichi Claacuteudia (2001) Transformando o ambiente da sala de aula em um contexto promotor do desenvolvimento do aluno deficiente mental (Tese de Doutorado em Psicologia Educacional) Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Brasil

Faacutevero Osmar Ferreira Windyz Ireland Timothy e Barreiros Deacutebora (2009) Tornar a

Educaccedilatildeo Inclusiva Brasiacutelia Unesco Mendes Eniceacuteia Gonccedilalves (1995) Deficiecircncia mental a construccedilatildeo cientiacutefica de um

conceito e a realidade educacional (Tese de Doutorado em Psicologia) Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Brasil

Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Especial Brasil (2008) Poliacutetica Nacional

de Educaccedilatildeo Especial na Perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva Brasiacutelia MEC Recuperado de httpportalmecgovbrarquivospdfpoliticaeducespecialpdf

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) (1948) Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos

Humanos Recuperado de httpunesdocunescoorgimages0013001394139423porpdf

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) (1975) Declaraccedilatildeo dos Direitos das Pessoas

Deficientes Recuperado de httpportalmecgovbrseesparquivospdfdec_defpdf Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) (1981) Ano Internacional das Pessoas Deficientes

Resoluccedilatildeo nordm 31123 aprovada pela Assembleia Geral da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas em 161276 Recuperado de httpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextome002911pdf

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) (1993) Normas sobre a Igualdade de

Oportunidades para as Pessoas com Deficiecircncia Recuperado de httpwwwinrptuploadsdocsEdicoes

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) (2012) Convenccedilatildeo sobre os Direitos das Pessoas

com Deficiecircncia Recuperado de httpwwwpessoacomdeficienciagovbrappsitesdefaultfilespublicacoesconvencaopessoascomdeficienciapdf

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (1990)

Conferecircncia Mundial de Educaccedilatildeo para Todos Declaraccedilatildeo Mundial de Educaccedilatildeo para Todos Plano de Accedilatildeo para Satisfazer as Necessidades Baacutesicas de Aprendizagem Brasiacutelia Unicef

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (1994)

Conferecircncia Mundial de Necessidades Educativas Especiais Acesso e Qualidade Declaraccedilatildeo de Salamanca sobre os Princiacutepios a Poliacutetica e as Praacuteticas na Aacuterea das Necessidades Educativas Especiais Salamanca Unesco

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (1998)

A Unesco e a Educaccedilatildeo na Ameacuterica Latina e Caribe (1987-1997) Chile Unesco

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Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (2001) Educaccedilatildeo para Todos o Compromisso de Dakar Brasiacutelia Consed

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (2004)

A Unesco no Brasil consolidando compromissos Brasiacutelia Unesco Organizaccedilatildeo dos Estados Americanos (OEA) (1999) Convenccedilatildeo Interamericana para a

Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Pessoas Portadoras de Deficiecircncia Guatemala OEA

Peroni Vidal (2003) Poliacutetica educacional e papel do Estado no Brasil dos anos 1990 Satildeo

Paulo Xamatilde Rioux Marcia e Valentine Fraser (2006) Does theory matter Exploring the nexus between

disability human rights and public policy Em Dianne Pothier e Richard Devlin (Eds) Critical disability theory essays in philosophy politics policy and law (pp 47-69) Vancouver The University of British Columbia

Saacutenchez Pilar Arnaiz (2005) A Educaccedilatildeo Inclusiva um meio de construir escolas para

todos no seacuteculo XXI Revista da Educaccedilatildeo Especial 7-18 Recuperado de httpportalmecgovbrseesparquivospdfinclusaopdf

Sassaki Romeu Kasumi (2005) Inclusatildeo o paradigma do seacuteculo 21 Revista da Educaccedilatildeo

Especial 19-23 Voivodic Maria Antonieta Machado de Almeida (2004) Inclusatildeo escolar de crianccedilas de

crianccedilas com Siacutendrome de Down (2ordf ed) Petroacutepolis Vozes

Page 20: Educação inclusiva: aspectos históricos, políticos e ideológicos … · 2018. 7. 19. · Revista Electrónica “Actualidades Investigativas en Educación” _____Volumen 18

Revista Electroacutenica ldquoActualidades Investigativas en Educacioacutenrdquo

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Dechichi Claacuteudia (2001) Transformando o ambiente da sala de aula em um contexto promotor do desenvolvimento do aluno deficiente mental (Tese de Doutorado em Psicologia Educacional) Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Brasil

Faacutevero Osmar Ferreira Windyz Ireland Timothy e Barreiros Deacutebora (2009) Tornar a

Educaccedilatildeo Inclusiva Brasiacutelia Unesco Mendes Eniceacuteia Gonccedilalves (1995) Deficiecircncia mental a construccedilatildeo cientiacutefica de um

conceito e a realidade educacional (Tese de Doutorado em Psicologia) Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Brasil

Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Especial Brasil (2008) Poliacutetica Nacional

de Educaccedilatildeo Especial na Perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva Brasiacutelia MEC Recuperado de httpportalmecgovbrarquivospdfpoliticaeducespecialpdf

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) (1948) Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos

Humanos Recuperado de httpunesdocunescoorgimages0013001394139423porpdf

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) (1975) Declaraccedilatildeo dos Direitos das Pessoas

Deficientes Recuperado de httpportalmecgovbrseesparquivospdfdec_defpdf Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) (1981) Ano Internacional das Pessoas Deficientes

Resoluccedilatildeo nordm 31123 aprovada pela Assembleia Geral da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas em 161276 Recuperado de httpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextome002911pdf

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) (1993) Normas sobre a Igualdade de

Oportunidades para as Pessoas com Deficiecircncia Recuperado de httpwwwinrptuploadsdocsEdicoes

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) (2012) Convenccedilatildeo sobre os Direitos das Pessoas

com Deficiecircncia Recuperado de httpwwwpessoacomdeficienciagovbrappsitesdefaultfilespublicacoesconvencaopessoascomdeficienciapdf

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (1990)

Conferecircncia Mundial de Educaccedilatildeo para Todos Declaraccedilatildeo Mundial de Educaccedilatildeo para Todos Plano de Accedilatildeo para Satisfazer as Necessidades Baacutesicas de Aprendizagem Brasiacutelia Unicef

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (1994)

Conferecircncia Mundial de Necessidades Educativas Especiais Acesso e Qualidade Declaraccedilatildeo de Salamanca sobre os Princiacutepios a Poliacutetica e as Praacuteticas na Aacuterea das Necessidades Educativas Especiais Salamanca Unesco

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (1998)

A Unesco e a Educaccedilatildeo na Ameacuterica Latina e Caribe (1987-1997) Chile Unesco

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Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (2001) Educaccedilatildeo para Todos o Compromisso de Dakar Brasiacutelia Consed

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (Unesco) (2004)

A Unesco no Brasil consolidando compromissos Brasiacutelia Unesco Organizaccedilatildeo dos Estados Americanos (OEA) (1999) Convenccedilatildeo Interamericana para a

Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Pessoas Portadoras de Deficiecircncia Guatemala OEA

Peroni Vidal (2003) Poliacutetica educacional e papel do Estado no Brasil dos anos 1990 Satildeo

Paulo Xamatilde Rioux Marcia e Valentine Fraser (2006) Does theory matter Exploring the nexus between

disability human rights and public policy Em Dianne Pothier e Richard Devlin (Eds) Critical disability theory essays in philosophy politics policy and law (pp 47-69) Vancouver The University of British Columbia

Saacutenchez Pilar Arnaiz (2005) A Educaccedilatildeo Inclusiva um meio de construir escolas para

todos no seacuteculo XXI Revista da Educaccedilatildeo Especial 7-18 Recuperado de httpportalmecgovbrseesparquivospdfinclusaopdf

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Especial 19-23 Voivodic Maria Antonieta Machado de Almeida (2004) Inclusatildeo escolar de crianccedilas de

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Revista Electroacutenica ldquoActualidades Investigativas en Educacioacutenrdquo

______________________________________________________________Volumen 18 Nuacutemero 2 Antildeo 2018 ISSN 1409-4703

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