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Espacios. Vol. 35 (Nº 9) Año 2014. Pág. 15 Expansão do setor sucroenergético no sudoeste goiano: evolução e impactos sobre o uso do solo Expansion of the sugarcane industry in southwest Goiás: evolution and impacts on land use Divina Aparecida Leonel Lunas LIMA 1; Alexandre Leonel LUNAS 2; Junior Ruiz GARCIA 3; Luis Carlos Ferreira GOMES 4; Pedro Rogério GIONGO 5; Claudecir GONÇALES 6 Recibido: 05/06/14 • Aprobado: 27/08/14 Contenido 1 Introdução 2. O agronegócio brasileiro e goiano 3. Dinâmica de uso e ocupação das terras no sudoeste goiano 4. Considerações finais 5. Referências RESUMO: Este artigo tem por objetivo analisar o processo de ocupação das terras da Microrregião Sudoeste de Goiás, estado de Goiás, por lavouras temporárias, a saber, cana-de-açúcar, soja, milho e sorgo. Todas as culturas analisadas estão inseridas em cadeias produtivas a partir das agroindústrias instaladas em Goiás. O estudo observou que essas culturas concentram sua ocupação na Mesorregião do Sul Goiano, que tem sido uma região polarizadora dos investimentos agroindustriais, com destaque para a Microrregião Sudoeste de Goiás. Os dados indicam que essa região tem apresentado uma expansão significativa do número de agroindústrias canavieiras, que se somam à consolidação agroindustrial e de grãos, especificamente soja e milho. A competição pela terra entre 2000 e 2011 indica uma maior utilização do solo goiano na região analisada, com taxas ainda positivas de expansão das lavouras. Os dados coletados sobre o setor agroindustrial de carnes e grãos indicam competição diferenciada pela terra, enquanto no setor de carnes observa-se o aumento das opções de confinamento. O setor de grãos, a partir da COMIGO, tem uma estratégia de otimização e melhoria da infraestrutura disponível para os produtores rurais permanecerem na atividade agrícola. Devido às projeções de investimentos e à consolidação das agroindústrias canavieiras no Sudoeste de Goiás, conclui-se que há a necessidade de políticas públicas de gestão do território, que tenham como meta um desenvolvimento econômico e uma sustentabilidade mais adequados à realidade das cadeias produtivas de grãos e carnes instaladas no estado de Goiás a partir da década de 1990. Palavras-chave: agroindústria; setor sucroenergético; uso e ocupação das terras. ABSTRACT: This article aims at analyzing the process of land occupation by temporary crops at the Southwest Micro-region of Goiás State, namely sugarcane, soy, corn and sorghum crops. All cultures analyzed take part in production chains in the scope of agro-industry settled in Goiás State. The study revealed that these cultures are mainly centralized in South Goiás Mesoregion, which has become a polarizing region for agro- industrial investments, especially Southwest Goiás Micro- region. Data indicate that the region has shown a significant expansion in the number of sugarcane agro-industries, in addition to agro-industrial and grain consolidation, specifically soybean and corn. The competition for land between 2000 and 2011 indicates greater use of soil in the region analyzed, as well as positive growth rates of crops. Data collected on the meat and grain agro-industrial sector indicate a differentiated competition for land, whereas in the meat industry there is increasing confinement options. The grain sector has developed through COMIGO a strategy for optimizing and improving the infrastructure available in order to support rural producers in agricultural activities. Due to projected investments and the consolidation of sugarcane agro-industries in Southwest Goiás, we conclude that there is a need for public policies on land management, aimed at an economic development and sustainability more appropriate to the reality of production chains of grains and meat settled in Goiás State since the 1990s. Keywords: agro-industry; sugarcane energy sector; land use and occupation.

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Expansão do setor sucroenergético no sudoeste goiano:

evolução e impactos sobre o uso do solo

Expansion of the sugarcane industry in southwest Goiás: evolution and impacts on

land use

Divina Aparecida Leonel Lunas LIMA 1; Alexandre Leonel LUNAS 2; Junior Ruiz GARCIA 3;

Luis Carlos Ferreira GOMES 4; Pedro Rogério GIONGO 5; Claudecir GONÇALES 6

Recibido: 05/06/14 • Aprobado: 27/08/14

Contenido

1 Introdução

2. O agronegócio brasileiro e goiano

3. Dinâmica de uso e ocupação das terras no sudoeste goiano

4. Considerações finais

5. Referências

RESUMO: Este artigo tem por objetivo analisar o processo de ocupação das

terras da Microrregião Sudoeste de Goiás, estado de Goiás, por

lavouras temporárias, a saber, cana-de-açúcar, soja, milho e

sorgo. Todas as culturas analisadas estão inseridas em cadeias

produtivas a partir das agroindústrias instaladas em Goiás. O

estudo observou que essas culturas concentram sua ocupação na

Mesorregião do Sul Goiano, que tem sido uma região

polarizadora dos investimentos agroindustriais, com destaque

para a Microrregião Sudoeste de Goiás. Os dados indicam que

essa região tem apresentado uma expansão significativa do

número de agroindústrias canavieiras, que se somam à

consolidação agroindustrial e de grãos, especificamente soja e

milho. A competição pela terra entre 2000 e 2011 indica uma

maior utilização do solo goiano na região analisada, com taxas

ainda positivas de expansão das lavouras. Os dados coletados

sobre o setor agroindustrial de carnes e grãos indicam competição

diferenciada pela terra, enquanto no setor de carnes observa-se o

aumento das opções de confinamento. O setor de grãos, a partir

da COMIGO, tem uma estratégia de otimização e melhoria da

infraestrutura disponível para os produtores rurais permanecerem

na atividade agrícola. Devido às projeções de investimentos e à

consolidação das agroindústrias canavieiras no Sudoeste de

Goiás, conclui-se que há a necessidade de políticas públicas de

gestão do território, que tenham como meta um desenvolvimento

econômico e uma sustentabilidade mais adequados à realidade

das cadeias produtivas de grãos e carnes instaladas no estado de

Goiás a partir da década de 1990.

Palavras-chave: agroindústria; setor sucroenergético; uso e

ocupação das terras.

ABSTRACT: This article aims at analyzing the process of land occupation

by temporary crops at the Southwest Micro-region of Goiás

State, namely sugarcane, soy, corn and sorghum crops. All

cultures analyzed take part in production chains in the scope

of agro-industry settled in Goiás State. The study revealed that

these cultures are mainly centralized in South Goiás

Mesoregion, which has become a polarizing region for agro-

industrial investments, especially Southwest Goiás Micro-

region. Data indicate that the region has shown a significant

expansion in the number of sugarcane agro-industries, in

addition to agro-industrial and grain consolidation,

specifically soybean and corn. The competition for land

between 2000 and 2011 indicates greater use of soil in the

region analyzed, as well as positive growth rates of crops.

Data collected on the meat and grain agro-industrial sector

indicate a differentiated competition for land, whereas in the

meat industry there is increasing confinement options. The

grain sector has developed through COMIGO a strategy for

optimizing and improving the infrastructure available in order

to support rural producers in agricultural activities. Due to

projected investments and the consolidation of sugarcane

agro-industries in Southwest Goiás, we conclude that there is

a need for public policies on land management, aimed at an

economic development and sustainability more appropriate to

the reality of production chains of grains and meat settled in

Goiás State since the 1990s.

Keywords: agro-industry; sugarcane energy sector; land use

and occupation.

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1. Introdução

A agropecuária e, por conseguinte, o agronegócio tem desempenhado um importante papel no

desenvolvimento da economia brasileira. Desde a segunda metade da década de 1990, saltou de um

Produto Interno Bruto (PIB) de R$ 648 bilhões, em 1994, para R$ 917,7 bilhões, em 2011,

representando 22,2% do PIB nacional, e registrou uma taxa média anual de 2,15%

(CEPEA/USP/CNA, 2013). Por um lado, esse dinamismo é resultado dos avanços verificados em

diversas cadeias agroindustriais, tais como a produção de carne, soja-milho e cana-de-açúcar

(VIEIRA FILHO, 2010; NEDER; CLEPS JUNIOR, 1997). Por outro, a base de sustentação desse

dinamismo da produção agropecuária, comandada basicamente pelo aumento da produtividade,

verificado no Brasil desde a década de 1960. Contudo, esse processo tem gerado importantes

impactos sobre o uso e ocupação das terras em várias regiões brasileiras, em função da ocupação

das fronteiras agrícolas, em especial das regiões de Cerrado (SHIKI, 1997).

A competição pelo uso e ocupação das terras em diversos momentos na abertura das novas

fronteiras e, mesmo depois, resultou em um intenso deslocamento dos produtores rurais das

tradicionais regiões de cultivo em direção as regiões ditas "desocupadas", como o Centro-Oeste e o

Norte do país e, recentemente, os Cerrados Nordestinos. Esse processo ganhou força a partir da

década de 1960, quando o Brasil começou a ter acesso aos benefícios da chamada "Revolução

Verde" (DELGADO, 1985), iniciada no pós II Guerra, nos países desenvolvidos. A expansão das

áreas de cultivo sob novas bases produtivas receberam grandes incentivos fiscais e aportes de

investimentos públicos e privados com o objetivo de construir um sistema produtivo moderno,

baseado no uso de novas tecnologias e sistemas de manejo, na combinação de insumos e máquinas

(FREDERICO, 2010).

Por um lado, esse processo evidenciou o potencial de aumento da produção não apenas pela

incorporação de novas áreas de cultivo, mas pelo expressivo aumento da produtividade dos fatores

de produção (Gasques et al., 2004, 2007, 2011). Os indicadores de produtividade e produção

brasileiros demonstram que as novas áreas conseguiram atender aos objetivos definidos na

ocupação: a ocupar os ditos "espaços vazios" no meio rural de forma produtiva e com eficiência

econômica. (GASQUES, et al., 2010). Por outro, este modelo tem reforçado de maneira direta e

indireta a concentração de terra no Brasil, excluindo parcela significativa de pequenos produtores

rurais que não conseguem se inserir nesta nova dinâmica produtiva dos possíveis benefícios da

integração da agricultura com a indústria processadora, e ainda gerando uma profunda e intensa

degradação dos ecossistemas brasileiros, em especial, do Cerrado e da "borda" da Floresta

Amazônica, o chamado Arco do Desmatamento (PALMEIRA, 1989; REYDON, 2007), embora os

novos sistemas de manejo tenham aprimorado a relação produção e conservação, por exemplo, o

sistema de plantio direto.

O estado de Goiás, localizado no Centro-Oeste do Brasil, se tornou um dos mais importantes na

produção agropecuária no país. Em período recente, Goiás conta com um diversificado parque

agroindustrial que inclui a produção de carne, soja, milho, açúcar e etanol (LIMA, 2010). No

entanto, observa-se uma tendência à concentração produtiva na região sul de Goiás, tanto da

produção agrícola como da instalação de grandes parques agroindustriais. Esta concentração tem

demonstrado sinais de estrangulamento, em particular, devido à forte expansão do setor

sucroenergético no estado, de acordo com autora. Entende-se que o cenário de competição pelo

uso das terras na região sul de Goiás está provocando um aumento da pressão sobre todos os

setores agroindustriais instalados nesta região, o que pode levar a uma nova organização produtiva.

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Desse modo, o objetivo principal deste trabalho é analisar a ocupação das terras e as atividades

agroindustriais instaladas na Microrregião Sudoeste de Goiás, em função da importante expansão

do setor sucroenergético desde os anos 2000. Na tentativa de evidenciar as mudanças em curso na

região, este estudo analisa a dinâmica das agroindústrias do setor sucroenergético e do setor

processador de grãos. A partir dessa análise, a pesquisa busca responder as seguintes questões: qual

o impacto da evolução do setor sucroenergético no sudoeste goiano sobre o uso e ocupação das

terras e sobre as demais cadeias produtivas instaladas nesta região? Como as relações produtivas do

setor sucroenergético afetam outras cadeias agroindustriais instaladas no Sudoeste Goiás?

Em termos dos procedimentos metodológicos, a pesquisa utiliza tanto dados primários como

secundários para analisar a dinâmica das principais culturas temporárias e das agroindústrias

instaladas no Sudoeste de Goiás. Para isso, foram selecionadas as culturas e agroindústrias do setor

de carnes, soja, milho e canavieira, uma vez que estes são os setores mais relevantes instalados na

região. A principal fonte de dados secundários é o Censo Agropecuário de 1995/96 e 2006. Além

disso, o estudo também faz uso de geotecnologias com o objetivo de representar a dinâmica

espacial de uso e ocupação das terras no Sudoeste Goiás. O presente estudo conta, ainda, com o

levantamento de informações primárias sobre as influências da expansão da cana-de-açúcar em

áreas produtoras de grãos (soja-milho), na região de Santa Helena de Goiás, além das influências

do setor sucroalcooleiro sobre a produção de carne (gado). Para isso, ao longo do estudo foram

realizadas entrevistas com um produtor de gado de corte e com um dos gerentes de uma das

Unidades da Cooperativa Mista dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano Ltda. (COMIGO).

O trabalho está organizado em quatro seções contando com esta introdução e as conclusões. A

segunda seção discute brevemente a evolução do agronegócio no Brasil e a importância do estado

de Goiás. A terceira apresenta e analisa os dados coletados das culturas e das empresas

agroindustriais para avaliar os impactos da expansão da cana-de-açúcar no Sudoeste Goiás sobre o

uso e ocupação das terras e sobre as demais agroindústrias instaladas nesta região. Por fim, nas

considerações finais apontam-se alguns elementos que deveriam compor uma agenda de política

para a gestão da região Sudoeste Goiás.

2. O agronegócio brasileiro e goiano

A atividade agropecuária tem desempenhado importante papel no desenvolvimento da sociedade

brasileira. Estima-se que entre 1994 e 2011 o setor agropecuário tenha representado entre 6% e 7%

do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro (CEPEA/USP/CNA, 2013). Em 2011, o PIB

agropecuário foi da ordem de R$ 264,3 bilhões, representou 6,38% do PIB nacional

(CEPEA/USP/CNA, 2013). Para 2013, as estimativas do Valor Bruto da Produção (VBP)

agropecuária possa alcançar R$ 450,7 bilhões (CNA, 2013).

Em período recente, a agropecuária sustenta todo m conjunto de cadeias produtivas, chamado de

agronegócio ou agribusiness [4]. A parcela do agronegócio no PIB brasileiro oscilou entre 26,4%,

registrado em 1994 e 2003, e 21,8% em 2010 (CEPEA/USP/CNA, 2013) (FIGURA 1). Em 2011, o

PIB do Agronegócio foi de R$ 917,7 bilhões, representando 22,2% do PIB brasileiro

(CEPEA/USP/CNA, 2013). De acordo com a CNA (2008), o agronegócio foi responsável pelo

emprego e ocupação de 37% da força de trabalho do mercado brasileiro.

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Fonte: Preparado pelo autor com base em CEPEA/USP/CNA, 2013.

FIGURA 1 – Evolução e participação do produto interno bruto da agropecuária e do agronegócio no produto interno bruto brasileiro: 1994-2011

Em 2006, o setor agropecuário nacional era composto por mais de 5,17 milhões de

estabelecimentos, os quais ocupavam 330 milhões de hectares (39% do território nacional) (IBGE,

2006). O Brasil ainda possui um importante contingente populacional vivendo na área rural.

Segundo IBGE (2010), a população rural brasileira era de 29,8 milhões de pessoas em 2010. Ainda,

os dados do Censo Agropecuário de 2006 revelaram que 20,7 milhões de pessoas estavam

ocupadas na agropecuária, sendo que 13,1 milhões tinham algum laço de parentesco com o

produtor.

Um aspecto interessante ao se analisar o desempenho da agropecuária no Brasil ao longo das

últimas três décadas (1980-2010) é que o avanço da produção não ocorreu apenas a partir da

incorporação de novas áreas de produção – expansão da fronteira agrícola –, mas esse processo foi

acompanhado por um importante aumento da Produtividade Total dos Fatores de Produção (PTF) –

conforme destacam os trabalhos de Gasques et al. (2004, 2007, 2011) – que apresentou um

aumento de 362% entre 1975 e 2010. No entanto, a expansão da fronteira agrícola e o

desenvolvimento técnico-científico vivenciado pela agropecuária brasileira contribuiu para que o

estado de Goiás assumisse um importante papel na produção agropecuária do país.

O estado de Goiás apresentou em 2010 um PIB da ordem de 97,6 bilhões, representando 2,6% do

PIB brasileiro, sendo que sua participação em 1999 foi de 2,1%. Esse aumento está relacionado à

expansão recente do setor agropecuário no estado que, em termos do Valor Adicionado Bruto

(VAB), alcançou, em 2010, R$ 12 bilhões, representando 14,1% do VAB estadual e 7% VAB

agropecuário nacional (IBGE, 2013a). A participação do VAB agropecuário de Goiás no VAB

agropecuário nacional era de apenas 4,8% em 1999, um avanço de 2,2%. Em 2011, o Valor Bruto

da Produção (VBP) apenas das culturas temporárias foi de R$ 13 bilhões, correspondeu a 8,34% do

VBP nacional dessas culturas (IBGE, 2013b).

Os dados da Pesquisa Agrícola Municipal (PAM) do IBGE (2013b) revelaram que a área plantada

com culturas temporárias em Goiás aumentou 87% entre 1990 e 2011. Em 2011, o estado tinha 4,9

milhões de hectares em área plantada com culturas temporárias, representando 7,91% da área

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plantada nacional com esse tipo de cultura. Em 2011, as principais culturas em termos de área

plantada verificadas em Goiás foram: soja (2,6 milhões de ha.); milho (960,8 mil ha.); cana-de-

açúcar (697 mil ha.). Essas culturas responderam a 86,4% da área plantada total com culturas

temporárias em Goiás.

Um aspecto interessante na expansão da atividade agrícola em Goiás é sua concentração espacial na

Mesorregião do Sul Goiano (Figura 2). Apenas 5 municípios concentraram 33,7% da área plantada

total com culturas temporárias em Goiás – Jataí, Rio Verde, Cristalina, Chapadão do Céu e

Montividiu.

Fonte: Preparado pelos autores com base em IBGE (2013b). FIGURA 2 – Participação relativa da área plantada do município na área plantada estadual de culturas temporárias: 2011

Em resumo, a agropecuária realiza um importante aporte para criação e geração de riquezas no

país. Neste processo o estado de Goiás assumiu um papel relevante, contudo, verificou-se que há

uma concentração espacial. Assim, a análise da dinâmica e uso das terras no Sudoeste Goiás tem

por objetivo identificar a concentração espacial da produção da soja, milho e cana-de-açúcar, e

como esse processo gera uma concorrência por terras nesta região, tema do próximo item deste

estudo.

3. Dinâmica de uso e ocupação das terras no sudoeste goiano

O estado de Goiás é formado por cinco Mesorregiões: Noroeste Goiano, Norte Goiano, Centro

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Goiano, Leste Goiano e Sul Goiano. A Microrregião Sul Goiano possui a melhor infraestrutura, e

de maior importância, para a produção agropecuária. A base deste desenvolvimento foi a

implantação de políticas federais para a interiorização e ocupação dos espaços brasileiros. De

acordo com Ferreira e Fernandes Filho (2003, p. 106)

A opção pelo desenvolvimento de uma agricultura comercial na região vai se dar na década de 60 e

se consolida na década de 70 em diante, a partir de uma infraestrutura mais adequada, incluindo,

além de estradas e meios de transportes, o crédito agrícola subsidiado, o suporte armazenador, e a

organização política e econômica do produtor rural.

Esta base econômica fomentou a entrada de empresas agroindustriais de forma acelerada na década

de 80, consolidando a Mesorregião do Sul Goiano como a região com maior potencial de

atratividade de investimentos produtivos do setor agroindustrial. As primeiras empresas do setor

concentram-se no processamento de grãos, especificamente soja e milho (LUNAS, 2001).

De acordo com dados da (Tabela 1) a área plantada com lavouras temporárias entre 2000 e 2011

em Goiás ampliou-se em 59%. As cinco Mesorregiões goianas tiveram um crescimento positivo,

indicando um intenso processo de ocupação agrícola do espaço goiano. A Mesorregião Leste

Goiano apresentou a maior taxa de crescimento, 129%, seguida pela Mesorregião Norte de Goiás,

com 86%. O Sul Goiano, apesar de uma intensiva ocupação agrícola, apresentou uma taxa de

crescimento de 53%, saltando de 2,36 milhões de ha para 3,62 milhões. Esta mesorregião

incorporou 1,26 milhões de ha em área plantada, mas que significa quase três vezes maior do que a

área incorporada pela Mesorregião Leste Goiano que tinha apresentado a maior taxa de expansão.

Entende-se que a ocupação das terras em Goiás, especificamente na Mesorregião do Sul Goiano,

tem sido comandada pelo efeito de atração da infraestrutura da região que intensifica a disputa

pelas melhores áreas de cultivo. Neste contexto, o setor sucroenergético tem tensionado a dinâmica

de ocupação das áreas pelo grande volume de investimentos. A estratégia da maioria das empresas

deste setor é o controle direto da produção da matéria-prima, a cana-de-açúcar, e, como

conseqüência, o controle sobre a terra [5].

Na (Tabela 1) apresentam-se os dados das lavouras selecionadas neste estudo (cana-de-açúcar,

milho, soja e sorgo) para o Brasil, Goiás, Centro-Oeste, Mesorregiões goianas e a Microrregião

Sudoeste de Goiás. Os dados foram trabalhados com médias trienais entre 2000 e 2011.

TABELA 1 – Área plantada em ha das culturas analisada, média trienal do período de 2000 a 2011, por região selecionadas

Região/Cultura Média 00-01 Média 03-05 Média 06-08 Média 09-11

Lavouras temporárias (ha)

Brasil 46.354.328 55.579.150 56.996.534 60.110.778

Centro-Oeste 10.439.933 14.879.477 15.543.613 17.359.866

Goiás 3.213.970 4.093.186 4.048.711 4.589.537

Noroeste Goiano 43.233 68.823 61.059 59.913

Norte Goiano 86.113 111.422 136.645 143.665

Centro Goiano 264.697 305.591 302.966 304.105

Leste Goiano 333.141 474.005 551.713 678.050

Sul Goiano 2.486.786 3.133.344 2.996.328 3.403.804

Micro. Sudoeste de Goiás 1.386.019 1.658.456 1.619.700 1.878.351

Cana-de-açúcar (ha)

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Brasil 5.036.329 5.608.689 7.229.401 9.209.068

Centro-Oeste 420.906 514.489 723.568 1.221.790

Goiás 157.597 181.461 310.561 600.134

Noroeste Goiano 398 344 429 1.641

Norte Goiano 1.530 1.023 1.644 3.893

Centro Goiano 51.396 76.242 107.716 128.654

Leste Goiano 7.175 6.952 17.903 28.999

Sul Goiano 97.098 96.900 182.870 436.947

Micro. Sudoeste de Goiás 39.248 38.298 51.660 137.961

Soja (ha)

Brasil 14.686.021 21.185.213 21.302.260 23.044.429

Centro-Oeste 6.084.173 9.554.523 9.638.005 10.404.163

Goiás 1.644.351 2.477.440 2.281.291 2.442.365

Noroeste Goiano 2.225 26.930 23.709 23.187

Norte Goiano 21.578 49.227 68.777 75.083

Centro Goiano 22.584 49.554 35.046 48.455

Leste Goiano 123.984 244.469 278.830 378.883

Sul Goiano 1.473.980 2.107.260 1.874.929 1.916.757

Micro. Sudoeste de Goiás 800.863 1.055.298 970.847 1.014.968

Milho (ha)

Brasil 12.621.794 12.819.310 13.918.486 13.570.927

Centro-Oeste 1.987.206 2.310.148 3.208.748 3.747.932

Goiás 833.577 675.943 811.624 908.448

Noroeste Goiano 17.159 16.247 16.009 15.075

Norte Goiano 40.397 33.819 35.447 31.586

Centro Goiano 109.954 98.985 95.177 76.303

Leste Goiano 118.445 95.910 119.353 128.483

Sul Goiano 547.621 430.982 545.638 657.000

Micro. Sudoeste de Goiás 346.659 291.468 357.043 502.793

Sorgo (ha)

Brasil 528.391 840.588 748.899 744.940

Centro-Oeste 331.814 517.259 459.331 457.578

Goiás 166.346 280.272 254.195 272.466

Noroeste Goiano 60 161 1.828 2.168

Norte Goiano 226 1.539 5.750 10.817

Centro Goiano 2.847 5.990 7.285 4.603

Leste Goiano 6.452 13.502 16.977 18.507

Sul Goiano 156.877 259.080 222.355 236.371

Micro. Sudoeste de Goiás 109.970 179.698 149.017 136.967

Fonte: Elaborado pelos autores com dados do Sidra-IBGE (2013).

Os dados indicam que a Microrregião Sudoeste Goiás tem intensificado o uso das terras com a

incorporação de áreas para as diferentes culturas, representando aumento contínuo da área plantada

para as diferentes culturas. Observa-se na (Tabela 1) que todas as culturas analisadas demonstram

expansão na área plantada, o único recuo verificado para as culturas refere-se à média trienal do

período 2006-2008 para as culturas da soja e do sorgo. Este período compreende o surto de

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investimentos do setor sucroenergético em Goiás com a implantação de novas agroindústrias

canavieiras principalmente na Mesorregião do Sul Goiano (LIMA, 2010).

A cultura da cana-de-açúcar em Goiás apresentou uma ampliação na área plantada de de 442,5 mil

ha. A Mesorregião do Sul Goiano foi responsável pela incorporação de 339,8 mil há e a

Microrregião Sudoeste contribuiu com 98,7 mil ha. Já a cultura da soja incorporou 798 mil ha em

Goiás, sendo que 442,8 mil ha foram da Mesorregião Sul Goiano e 214,1 mil ha da Microrregião

Sudoeste de Goiás. Os dados do milho mostram uma incorporação de 74,87 mil ha no estado, sendo

109,4 mil ha da Mesorregião do Sul Goiano e 156,1 mil ha da Microrregião Sudoeste de Goiás. Por

fim, para o sorgo, que compete diretamente com o milho no período de cultivo conhecido como

safrinha, há a menor incorporação, para o estado foi 106,1 mil ha, sendo 79,5 mil ha da

mesorregião e 27 mil ha da Microrregião Sudoeste de Goiás.

Na (Figura 3) visualiza-se a localização das usinas sucroenergéticas instaladas em Goiás,

demonstrando que a concentração produtiva ocorreu na Mesorregião do Sul Goiano. Das 32 usinas

em operação no estado, 24 estão localizadas no Sul Goiano. O número elevado de usinas nesta

mesorregião contribui para uma maior pressão pela ocupação do solo e pela utilização mais

eficiente deste recurso, a terra, considerado finito e de alto custo pelas empresas agroindustriais.

Destaca-se, ainda, que alguns grupos instalados nesta região encontram-se em fase de consolidação

e expansão de suas áreas, o que aumentará a pressão pela terra na medida em que as empresas

avançarem na produção de etanol e, na segunda etapa, de açúcar.

Fonte: Preparados pelos autores a partir dos dados da SEPLAN (2013).

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FIGURA 3 – Usinas sucroenergéticas no Estado de Goiás, 2012.

A consolidação das agroindústrias canavieiras na Microrregião do Sudoeste de Goiás induz a uma

nova organização das demais culturais que competem pela terra. Este novo cenário tem elevado de

maneira significativa o preço da terra na região, seja para a compra seja para o arrendamento

(LIMA, 2010). Outro movimento observado é uma pressão sobre as áreas de assentamentos, no

sentido de que sejam realizados plantios de cana-de-açúcar para as usinas próximas. Na

Microrregião Sudoeste Goiás estão implantados os maiores parques agroindustriais de carnes

(suínos e aves) e de grãos de Goiás. O principal município desta microrregião é Rio Verde, que

abriga o maior número de unidades produtivas do setor agroindustrial instalado no estado. Na

(Figura 4) optou-se por apresentar os dados das empresas do setor sucroenergético com o recorte

espacial da Microrregião Sudoeste de Goiás. Observa-se que a microrregião abriga 9 unidades

industriais em operação, com 1 unidade em implantação para 2013/2014 e 3 unidades com provável

implantação em 2013/2015. Estes dados indicam que a região abriga o maior número de usinas

sucroenergéticas instaladas em Goiás.

Fonte: Preparados pelos autores a partir dos dados da SEPLAN (2013).

FIGURA 4 – Usinas sucroenergéticas na Microrregião Sudoeste de Goiás, 2012.

Os problemas associados à expansão do setor sucroalcooleiro já não estão mais restritos apenas ao

estado de São Paulo (Camargo et al., 2008). A expansão da produção de etanol e açúcar em São

Paulo, segundo os autores, estimulou o deslocamento dos produtores de gado para o Centro-Oeste e

Norte do país. Desse modo, a expansão da cana-de-açúcar não deverá reduzir, em um primeiro

momento, as áreas de matas, mas deverá reduzir as áreas já desmatadas destinadas a outras

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atividades agropecuárias tais como: milho, soja, feijão, laranja e a atividade pecuária, provocando

potencialmente, uma pressão para abertura de novas áreas. Essa dinâmica por estimular o avanço

para novas áreas, eventualmente com vegetação nativa, tais como o Cerrado e a Floresta

Amazônica. Este é um resultado possível da expansão da cana-de-açúcar no Sudeste e Centro-Oeste

do país, pois tal expansão poderá induzir o deslocamento da pecuária em direção a novas fronteiras

agrícolas das regiões Centro-Oeste e Norte do país (VIEIRA JÚNIOR et al., 2008).

Esse processo já tem sido observado nos últimos anos em Goiás, onde há uma substituição de terras

antes ocupadas por pasto pelo plantio de cana-de-açúcar, conforme apresentado nos estudos de

Lima (2010) e Lima; Garcia (2011). Vários fatores têm motivado essa mudança, dentre os

principais tem-se a valorização das terras e a pressão de produzir a matéria-prima na menor

distância possível do local de beneficiamento.

Como citado por produtor de carne da região (MEROLA, 2013), a produção de carne sempre teve

oscilações no mercado, autorregulando-se os preços em função da oferta e demanda, como também

competindo com outras áreas de produção. Merola (2013) cita que a região de Santa Helena de

Goiás continua produzindo carne como nos anos anteriores, porém houve grande substituição das

terras com pastagem por áreas de confinamento, onde a produção de carne por unidade de área é

alta.

O espaço para o desenvolvimento da pecuária de corte de forma extensiva, em regiões canavieiras,

diminuiu significativamente. Merola (2013) argumenta que a consequência disso é a oferta de gado

para os confinamentos, pois em épocas anteriores havia leilões semanais na região, mas com a

substituição de pastagens pelo cultivo de cana-de-açúcar, ocorreu uma diminuição na oferta de

gado. Assim, para manter os confinamentos em funcionamento há a necessidade de se buscar de

gado em regiões circunvizinhas que mantêm a produção em área de pastagem, em terras com valor

muito aquém daquelas localizadas na região de Santa Helena de Goiás.

Com a valorização de terras na região a viabilidade econômica para o setor de carnes passou a ser

unicamente por meio de confinamento e semi-confinamento, utilizando-se subprodutos da

agroindústria como componentes da dieta alimentar do gado. Como opção de alimento existe a

torta de filtro, bagaço de cana e vinhaça na alimentação de bovinos em confinamento. Estes

produtos são oriundos das próprias áreas de plantio de cana que substituíram as pastagens de gado.

O mercado de carne tem se tornado cada vez mais exigente e empresarial, fazendo com que tanto a

comercialização quanto o sistema de criação sejam rigorosamente acompanhados, para se tornar

competitivo e economicamente viável (MEROLA, 2013). Assim como o setor de carne, também o

setor de grãos tem sentido a diminuição de áreas disponíveis para cultivo. Os produtores de soja

têm arrendado áreas de produção para produtores ou até mesmo donos de usina para o cultivo de

cana-de-açúcar.

Um importante indicativo do comportamento de tendências do setor agroindustrial de grãos da

região é dado pela gestão da Cooperativa Mista dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano Ltda.

(COMIGO). Foi realizada uma entrevista com um de seus gerentes [6] para traçar um perfil das

ações da empresa para o setor de grãos da região. A cooperativa não se posiciona contra o

desenvolvimento da cultura nem contra a expansão desse segmento do agronegócio, até porque está

atuando na assistência a seus associados que produzem cana-de-açúcar. Apesar disso, existe uma

preocupação no atendimento de seus associados que produzem grãos e/ou exploram a pecuária e,

de forma significativa, tem ampliado sua infraestrutura para atendê-los como veremos a seguir as

ações no período de 2011-2012 (COMIGO, 2013):

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1. De janeiro a março de 2011: aquisição em Montes Claros de Goiás de uma área do armazém

de grãos de 90 mil sacas, bem como da loja agropecuária; compra de uma fábrica de Sal

Mineral (antiga Sal Plantel), com capacidade de produção de 3,5 mil sacos/dia; em Rio

Verde, reforma do esmagamento de soja incluindo a modernização e troca de equipamentos

para otimizar a produção; em Montividiu, inauguração de um armazém graneleiro com

capacidade para 1,5 milhão de sacas; e, em Iporá, a realização de um dia de campo com a

demonstração de 25 experimentos da COMIGO para incentivar o plantio de soja aos

cooperados da região; em Rio Verde, a realização, de 12 a 16 de abril, da TECNOSHOW

COMIGO, feira com o objetivo de congregar os produtores rurais e apresentar máquinas,

equipamentos e novas tecnologias da área rurícola;

2. Lançamento em maio de 2011, após pesquisas e testes, de nova ração de gado de corte;

3. Em Palmeiras de Goiás, em setembro de 2011, foi adquirido de um terreno para a

construção de uma loja agropecuária que foi inaugurada em julho de 2012. Esta loja é a 13ª

loja agropecuária da COMIGO;

4. Apresentação de pesquisas aos 300 cooperados que participaram do 10º Seminário do Leite

em relação ao manejo, nutrição, programa Balde Cheio, dentre outros;

5. Em Acreúna, em julho de 2012, foi feita a ampliação da capacidade de recepção e secagem

de grãos da unidade armazenadora para 270 t/h.;

6. Em Montes Claros de Goiás, inauguração da Fábrica de Suplemento Mineral com

capacidade de 220 ton./dia, de dois silos graneleiros com capacidade de 300 mil sacas cada

um e o início da operação de um secador de 150 t/h;

7. Em agosto de 2012, em Jataí, foi inaugurada a ampliação da capacidade de recepção,

secagem e armazenagem de grãos. A capacidade total do armazém foi elevada de 700 mil

para 1 milhão de sacas e a recepção e secagem de 150 passou a 300 t/h;

8. Em Caiapônia em agosto de 2012 foi inaugurada a ampliação da armazenagem de grãos de

450 mil para 1.050 mil sacas. Já a capacidade de recepção/secagem foi aumentada para 300

ton./hora;

9. No mesmo período, em Rio Verde, com um público de 500 pessoas, foi realizado o 11º

Seminário de Desenvolvimento da Pecuária. Nesta edição foram apresentadas seis estações

temáticas voltadas à pecuária de leite e corte. Ainda no mesmo município foi realizado o

11º Workshop CTC de Agricultura que teve como intuito apresentar os resultados das

pesquisas conduzidas durante o ano no Centro Tecnológico da COMIGO (CTC) em

parceria com empresas e instituições de pesquisa e ensino; ainda em Rio Verde, no

Complexo Industrial, foi inaugurado o novo laboratório de análises para produtos

alimentícios, matérias-primas e amostras de solos;

10. A COMIGO tem realizada uma série de investimentos para a estruturação de serviços e

processamento agroindustrial dos grãos do Sudoeste de Goiás concentrando esses

investimentos no município de Rio Verde que teve a partir de outubro de 2012 as seguintes

ações: ampliação da fábrica I de esmagamento de soja; instalação de um tombador com

capacidade de 300 t/h; ampliação da unidade de laticínios que passa a produzir, também,

leite longa vida; nova fábrica de ração ampliando a capacidade produtiva de 50 para 110 t/h;

construção e ampliação de uma nova fábrica de fertilizantes ampliando a capacidade de 110

para 170 t/h; Ainda no município de Rio Verde, na localidade conhecida como Ponte de

Pedra, uma área agrícola de assentamento rural, foi realizada a construção de 4 silos com

capacidade total de 1 milhão e 200 mil sacas e está em construção 2 secadores com

capacidade de 150 t/h cada um no município de Rio Verde. Em Santa Helena de Goiás,

outro município da região, foram realizadas as seguintes ações: aumento da capacidade de

secagem de 100 para 250t/h; instalação de um tombador automático; nova balança,

modernização da antiga balança e das máquinas de limpeza, pré-limpeza e aeração;

construção de um silo pulmão com capacidade de 7 mil sacas; no município de Paraúna

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foram realizadas melhorias nas máquinas de transporte de grãos e instalação de duas

balanças. Entende-se que a gestão da cooperativa é baseada na estruturação de prestação de

serviços para os agricultores da região em diversas modalidades, incentivando a adoção de

tecnologias e continuidade das atividades produtivas do setor agrícola da região.

4. Considerações finais

A análise dos dados indica um processo de concentração dos investimentos no setor

sucroenergético instalado na Microrregião Sudoeste Goiás e que estes investimentos têm provocado

uma disputa intensa pela terra e mudanças em outros sistemas produtivos, determinando, assim,

uma mudança nas políticas públicas municipais quanto à gestão do território. Estes investimentos

têm incentivado a expansão das lavouras de cana-de-açúcar na microrregião analisada, gerando

uma intensificação do uso do solo.

Outro fator detectado na pesquisa é a intensificação do processo de ocupação do solo goiano com

as atividades agrícolas. As principais são as lavouras temporárias que estão em crescimento

acentuado a partir da evolução dos investimentos no setor agroindustrial goiano. Os principais

grãos analisados neste estudo, soja, milho e sorgo, apresentaram taxas de crescimento na região

analisada e para as demais regiões tiveram taxas positivas de expansão, indicando que há uma

possibilidade de ocupação produtiva no solo goiano sob as áreas produtivas deste estado.

As culturas de milho e soja apresentam as maiores taxas de expansão comparadas com a cana-de-

açúcar, demonstrando que o Estado de Goiás apresenta ainda componentes de ocupação produtiva

do setor agrícola, mesmo em regiões consolidadas, como a Mesorregião do Sul Goiano. Esta

intensificação da produção pressiona os preços das terras e a eficiência da utilização de tecnologias

para poupar este recurso favorecendo que a Microrregião do Sudoeste de Goiás tenha um dos

melhores indicadores de adoção de tecnologia e ocupação do solo.

Nas entrevistas realizadas observou-se que os demais setores agroindústrias de carne e grãos

construíram estratégias específicas para a competição acirrada pela terra na região. Na pecuária

percebe-se a intensificação do sistema de confinamento com a liberação das áreas de pastagens e,

no setor de grãos, por meio dos dados da COMIGO, a opção tem sido dotar os produtores de grãos

de condições para a sua manutenção na atividade através de uma extensa rede de pesquisas,

serviços e produtos. Salienta-se que há a necessidade de uma gestão compartilhada do território

goiano alicerçada em uma sólida política pública que privilegie o desenvolvimento econômico do

Estado de Goiás.

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1 Universidade Estadual de Goiás – Pró-Reitoria de Pesquisa, Doutora em Desenvolvimento Econômico pela Unicamp – SP –

Professora do Mestrado Interdisciplinar Territórios e Expressões Culturais no Cerrado – UEG – E-mail: [email protected]

2 Unidade Universitária da UEG de Santa Helena de Goiás – Mestre em Contabilidade pela UNB- DF – E-mail:

[email protected]

3 Departamento de Economia da Universidade Federal do Paraná – Doutor em Desenvolvimento Econômico, Espaço e Meio

Ambiente pelo IE/Unicamp – SP – E-mail: [email protected]

4 Unidade Universitária da UEG de Santa Helena de Goiás – Doutor Educação: Currículo PUC/SP; Mestre em Administração:

Planejamento pela PUC – SP – E-mail: [email protected].

5 Unidade Universitária da UEG de Santa Helena de Goiás – Doutor Ciências – Irrigação e Drenagem pela ESALQ/USP – SP – E-

mail: [email protected]

6 Instituto Federal Goiano – Doutor em Geografia pela UFU – MG – E-mail: [email protected]

Vol. 35 (Nº 9) Año 2014