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    Alessandro Pinzani

    Clvis M. de Lima

    Delamar V. Dutra

    (organizadores)

    O PENSAMENTO VIVO DE HABERMAS

    UMA VISO INTERDISCIPLINAR

    Anais do V Colquio Habermas realizado na UFSC

    (Florianpolis, 8 a 11 de setembro de 2008)

    NEFIPO

    Florianpolis

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    SUMRIO

    PREFCIO .......................................................................................................... 5

    I) AO COMUNICATIVA, TEORIA DISCURSIVA,TICA DO DISCURSO

    HABERMAS / ALEXY E O DISCURSO PRTICOAntonio Cavalcanti Maia ...................................................................................... 9

    EL REALISMO PRAGMTICO EN LA CONCEPCIN

    HABERMASIANA DE LA VERDADMara Elena Candioti ......................................................................................... 33

    QUEDA ALGO DE LA HERENCIA KANTIANAEN LA TICA DISCURSIVA DE HABERMAS?Julio De Zan ....................................................................................................... 51

    A CONCEPO DE LIBERDADE EM HABERMAS:UM CONTRASTE COM KANT

    Charles Feldhaus ............................................................................................... 75

    II) AGIR COMUNICATIVO E INFORMAO

    AGIR COMUNICATIVO, TRABALHO IMATERIALE SOCIEDADE DA INFORMAOClvis Ricardo Montenegro De Lima ................................................................. 99

    HABERMAS, INFORMAO E ARGUMENTAOMaria Nlida Gonzlez de Gmez ................................................................... 115

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    EXPOSIO, DISCURSO E INFORMAO:A AO COMUNICATIVA NOS MUSEUSLuisa Maria Rocha ........................................................................................... 139

    III) HABERMAS E O DIREITO

    O CONTEDO MORAL DOS DIREITOSBSICOS SEGUNDO HABERMASDelamar Jos Volpato Dutra ............................................................................ 163

    O CONCEITO DE JUSTIA PS-CONVENCIONAL:DILEMAS ENTRE ISRAEL E ATENAS, A ALIANA E O CONTRATOJovino Pizzi ...................................................................................................... 175

    A LEGITIMIDADE DO TRIBUNAL CONSTITUCIONAL EM EXERCER OCONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE:KELSEN, SCHMITT E HABERMASYuri Frederico Dutra ......................................................................................... 191

    IV) RELIGIO E ESFERA PBLICA

    F E SABER? SOBRE ALGUNS MAL-ENTENDIDOSRELATIVOS A HABERMAS E RELIGIOAlessandro Pinzani .......................................................................................... 211

    HABERMAS E A RELIGIO NA ESFERA PBLICA:UM BREVE ENSAIO DE INTERPRETAOLuiz Bernardo Leite Arajo ................................................................................... 229

    RELIGIO E SECULARISMO: INTERAES E DISSONNCIASNO PROJETO DO LIBERALISMO POLTICOAnderson Avelino de Souza ............................................................................ 245

    PLURALISMO E TOLERNCIA.SOBRE O USO PBLICO DA RAZO EM HABERMASDenilson Luis Werle ......................................................................................... 263

    JRGEN HABERMAS, O ESPAO PBLICO E A VONTADE GERAL

    Jos N. Heck .................................................................................................... 289

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    PREFCIO

    No dia 18 de junho de 2009, Habermas celebrou seu octogsimo

    aniversrio. Os organizadores deste volume gostariam homenagear o pensadoralemo por meio desta coletnea de ensaios que resultam de comunicaes

    apresentadas no V Colquio Habermas, que teve lugar na UFSC em

    Florianpolis no ms de setembro de 2008.

    Desde os primeiros escritos, na metade dos anos de 1950, o

    pensamento de Habermas se caracteriza por uma grande vivacidade, uma

    inexaurvel capacidade de enfrentar novas questes e um vis de forte

    engajamento intelectual e poltico, quando no de aberta polmica (comeandopelo clamor suscitado pela sua resenha da Introduo metafsica de

    Heidegger, em 1953). Isto faz com que at hoje tal pensamento permanea

    incrivelmente vivo e capaz de suscitar o interesse de especialistas das mais

    diferentes reas: da filosofia acadmica sociologia, da cincia da

    comunicao cincia poltica, da cincia da educao quela jurdica. Foi

    justamente para tentar fazer justia a esta pluralidade de interesses e de vises

    no que diz respeito ao pensamento habermasiano que os organizadores do

    Colquio (e deste volume) resolveram reunir pesquisadores provenientes das

    reas acima mencionadas, dedicando o evento discusso do carter

    interdisciplinar de tal pensamento.

    Os ensaios da primeira seo se ocupam de questes ligadas tica do

    discurso e suas relaes com a filosofia kantiana, assim como natureza do

    prprio processo comunicativo. Este ltimo tema aprofundado nos ensaios da

    segunda seo, que mostram a aplicabilidade da teoria comunicativa

    habermasiana a questes concretas tratadas pela teoria da informao. A

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    I

    Ao Comunicativa

    Teoria Discursiva

    tica do Discurso

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    HABERMAS /ALEXY E O DISCURSO PRTICO

    Antonio Cavalcanti Maia1

    A filosofia deve optar sempre pelo noexistente; ela deve se engajarcontrafaticamente, ela deve desafiar arealidade enquanto a reconhece.

    Manfred Frank

    Argumentar constituye, en definitiva, laactividad central de los juristas y se puededecir incluso que hay muy pocas profesiones si es que hay alguna en que laargumentacin juegue un papel ms

    importante que en el Derecho.Manuel Atienza

    Introduo

    Em publicao recenseando o panorama contemporneo dos

    estudos jusfilosficos no mundo de lngua alem, James E. Herget2

    elenca as principais correntes do debate contemporneo: a teoria dodiscurso, a teoria retrica, a teoria dos sistemas e o positivismo legal

    institucionalista. Posso afirmar que, nesse ltimo decnio, a teoria do

    discurso do direito e da democracia de Jrgen Habermas, Robert Alexy

    e Klaus Gnther granjeou uma crescente audincia para as suas teses,

    1 Professor de filosofia de direito da UERJ - Universidade Estadual do Rio de Janeiro ede filosofia do direito e contempornea da PUC/RJ - Pontifcia Universidade Catlica do

    Rio de Janeiro.2 Cf. HERGET, James E. Contemporary German Legal Philosophy. Philadelphia,University of Pennsylvania Press, 1996.

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    jusfilosfico a um diferente patamar, abrindo a perspectiva ps-positivista.

    Destaque-se ainda que a plausibilidade do discurso prtico constitui

    elemento capital na chamada reabilitao da filosofia prtica (como ser

    mais bem explicado no item seguinte). A abertura dessa dimenso terica

    enseja o solo a partir do qual tanto Habermas como Alexy podem oferecer

    a proposta de uma plausvel de superao do estiolado debate

    jusnaturalismo/positivismo jurdico, com a reabertura do domnio

    normativo s discusses racionais, insurgindo-se contra o ceticismo

    dominante no quadro jusfilosfico novecentista. Tal empreitada refuta um

    dos postulados das diversas correntes do positivismo quer seja

    sociolgica, normativa ou realista ao reconhecer que o mundo da tica

    no o mundo do silncio, mas dos argumentos.6

    No caso de Alexy, a sua teoria da argumentao jurdica no

    poderia ter sido desenvolvida sem o texto seminal Teorias da Verdade7,

    de Habermas, no qual este sustenta a possibilidade do discurso prtico.

    Nesse aspecto, o filsofo de Frankfurt, como j mencionado, insurge-se

    contra um elemento central do enfoque positivista como o de Hans

    Kelsen ou o de Alf Ross , ao defender a idoneidade dos discursos

    prticos. A aposta na plausibilidade de tais (...) discursos prticos

    enquanto forma no institucionalizada de tornar explcitas e de avaliar as

    razes a favor de determinadas pretenses de retido ou correo

    normativa como recurso timo para fundamentar propostas prticas e

    resolver conflitos entre normas e interesses contrapostos8 constitui o eixo

    norteador da maior parte dos trabalhos de Habermas (em estreita

    colaborao, neste aspecto, com Apel).

    Tanto Alexy utiliza elementos do trabalho de Habermas quantoeste tambm emprega alguns de seus desenvolvimentos tericos (cabe

    salientar ainda, como afirma Habermas em Facticidade e Validade, que a

    6 MILOVIC, Miroslav. Comunidade da diferena. Rio de Janeiro: Relume Dumar, 2004,p. 58.7 HABERMAS, Jrgen. Teorias de la verdad. In. Teoras de la accin comunicativa:

    complementos y estudios previos. Madrid: Ediciones Ctedra, 1994, p. 113-158.8 ARROYO, Juan Carlos Velasco. La teora discursiva del derecho Sistema jurdico ydemocracia en Habermas.Op. cit., p.122.

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    do Direito. Teorias da Argumentao Jurdica.13 Semelhante, por um lado,

    pois terei sempre em mente mais as convergncias entre esses dois

    projetos do que marcar suas diferenas; por outro, desenvolverei minha

    anlise em uma espcie de zigue-zague, indo de Habermas a Alexy e

    de Alexy a Habermas (neste particular, diferentemente de Atienza cuja

    anlise se estende mais acerca da dmarche alexyana terei como eixo

    principal Habermas).

    1. O discurso prtico

    A tese geral proposta por Alexy considera o discurso jurdico

    como um caso especial do discurso prtico (Sonderfallthese). Gostaria de

    elucidar apenas alguns aspectos dessa modalidade discursiva, sempre

    relacionando-a com a proposta mais ampla desenvolvida por Habermas

    e endossada pelo prprio Alexy. A plausibilidade de tal discurso

    sustentada pelo herdeiro da Escola de Frankfurt atravs do

    estabelecimento de uma analogia com o discurso terico. Enquanto este

    estriba suas teses por meio do processo de inferncia indutivo, baseando-

    se, via de regra, na constatao emprica referida a determinados estados

    de coisas, o discurso prtico conta com um princpio-ponte

    (Brueckenprinzipien) ou passarela diferente, vinculando a fiabilidade de

    suas concluses a um princpio de universalizao. Assim, Habermas

    reconhece que as diferenas entre a lgica da argumentao terica e da

    argumentao prtica no so de tal monta a ponto de banir a ltima do

    reino da racionalidade; que questes poltico-morais podem ser decididascom razo, atravs da fora do melhor argumento.14 Como esclarece

    tambm seu mais abalizado comentador, a finalidade do discurso prtico

    alcanar um acordo racionalmente motivado acerca de pretenses de

    correo problemticas, um acordo que no o produto de

    constrangimentos internos ou externos que interfiram na discusso, mas

    13 ATIENZA, Manuel.As razes do direito. Teorias da argumentao jurdica. So Paulo:

    Landy, 2000.14 MC CARTHY, Thomas. The Critical Theory of Jrgen Habermas. Cambridge: MITPress, 1989, p.311.

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    somente o resultado do peso da evidncia e do argumento.15 E esta

    possibilidade de alcanar um acordo racionalmente motivado possibilita

    ao discurso prtico a articulao de um momento reflexivo que pode

    valorar e funcionar como um espcie de contraste s prticas existentes.

    Importa observar, de inicio, tambm que Alexy adota a

    distinao habermasiana entre discurso e ao. Como afirma o filsofo de

    Frankfurt ,

    Com a expresso ao, introduzo o mbito da comunicaoem que tacitamente reconhecemos e pressupomos aspretenses de validade implicadas nas emisses emanifestaes (e, portanto, tambem nas afirmaes), paratrocar informaes (ou seja, experincias relativas ao).

    Com a expresso discurso, introduzo a forma de comunicaocaracterizada pela argumentao, em que se torna tema aspretenses de validade que se demonstram problematicas e seexamina se so ou no legtimas. (...) os discursos no trocaminformaes, mas argumetnos que servem para respaldar (ourechaar) pretenses de validade problematizadas. (...) nosplexos da ao comunicativa seria redundante a explicao dapretenso de validez exposta com as afirmaes, mas talexplicao incontornvel nos discursos, pois estes tematizamo direito que assiste a tais pretenses de validade16.

    Essa aposta no discurso prtico, isto , em um procedimento

    para provar e fundamentar enunciados normativos e valorativos por meio

    de argumentos,17 central perspectiva neofrankfurtiana, constitui um

    diferendo entre as concepes ps-positivistas18 e as diversas vertentes

    15Idem, p.312.16 Sobre essa distino sigo aqui a indicao de Jos Antonio Seaone. Um cdigo ideal yprocedimental de la razn prctica. La teoria de la argumentacin jurdica de RobertAlexy. In org. SERNA, Pedro. De la argumentacin jurdica a la hermenutica. Granada:Editorial Comares, 2005, p. 120. A passagem de Habermas se encontra no texto

    Teorias de la verdad, p. 116 e 117.17 ALEXY, Robert. Derechos, razonamiento jurdico y discurso racional. Op. cit., p. 34.18 Na doutrina ptria o termo ps-positivismo foi introduzido por Paulo Bonavides e jencontra ampla utilizao entre nossos constitucionalistas. Na literatura espanhola, essemovimento de idias capitaneado por Dworkin e Alexy recebeu tambm a denominaode no-positivismo principialista. Confira-se a excelente obra e, em linhas gerais,crtica-reprobatria desses autores , de Alfonso Garca Figueroa, Principios ypositivismo jurdico. El no positivismo principialista en las teoras de Ronald Dworkin yRobert Alexy. Madrid: Centro de Estudios Polticos y Constitucionales, 1998. Na mesmatradio jusfilosfica de lngua castelhana, h a esclarecedora anlise de AlbertCalsamiglia no texto Postpositivismo. In. Doxa, 21-I, 1998, p. 209-220. J Robert Alexyqualifica sua posio como no-positivista, em seu livro El Concepto y la Validez delDerecho. Barcelona: Gedisa, 1994. Posso afirmar aqui, infelizmente sem o devido

    respaldo em face da complexidade do problema, que h uma diferena inequvoca entreps-positivismo e ps-modernidade (termo j usado por inmeros autores paradescrever a configurao do pensamento jurdico contemporneo). No h que se

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    do positivismo jurdico, que no reconhecem a capacidade da

    racionalidade humana para discernir critrios possibilitadores do

    enfrentamento das incontornveis diferenas valorativas presentes nas

    sociedades plurais contemporneas. Habermas (e tambm Alexy)

    enfrenta o problema da justificao dos juzos normativos atravs de uma

    reelaborao dialgica do imperativo categrico kantiano. Trata-se de

    uma regra de universalizao, posta em funcionamento a partir de um

    cuidadoso procedimento argumentativo, norteado por um princpio da

    universalizao de interesses universalizveis em uma discusso

    racional19, que garante a acessibilidade racional ao plano normativo.

    Assim, trata-se de uma lgica da argumentao moral ligada lgica da

    universalizao dos interesses.20

    Ora, a teoria discursiva do direito e da democracia estabelece

    uma conexo entre os conceitos de correo, de justificao e de

    generalizabilidade,21 permitindo assim no s a reabilitao do discurso

    racional no mbito normativo, mas tambm uma reconexo entre direito e

    moral atravs da idia de correo aferida por meio de uma pretenso

    de validade , transferindo a relao entre essas duas esferas normativas

    para um patamar diferente daquele sustentado pelo positivismo jurdico.

    Alm das caractersticas j destacadas neste trabalho acerca

    da concepo de discurso, pode-se destacar as seguintes: em primeiro

    confundir esses dois movimentos tericos. Em uma sentena posso resumir o diferendoentre essas duas abordagens: o ps-positivismo faz uma aposta na reabilitao daracionalidade prtica de matriz kantiana o que completamente contestado pelosautores ps-modernos, via de regra, alinhados matriz nietzschiana. Esclareo tambmque Jrgen Habermas situa seu projeto jusfilosfico tambm em um quadro para alm

    da dicotomia tradicional da filosofia jurdica. Como ele afirma, a teoria do discursonavega entre os escolhos do direito natural e do positivismo do direito (...). (grifo meu)HABERMAS. Jrgen. Posfcio. In. Direito e democracia entre facticidade e validade,vol. II. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997, p. 315. Quanto caracterizao geral domovimento ps-positivismo, permito-me remeter o leitor para o texto Nos vinte anos daCarta Cidad: do Ps-positivismo ao Neoconstitucionalismo, ondedesenvolvi uma sriede consideraes acerca dessa nova constelao do pensamento jurdico. Tal texto foipublicado como no livro SOUZA NETO, Cludio e al. Vinte Anos da Constituio Federalde 1988. Rio de Janeiro, Lumen Juris, 2009, pp. 117-168, em especial pp. 119-130.19 FERRY, Jean-Marc. Habermas, lthique de la communication. Paris: PressesUniversitaires de France, 1987, p. 360.20Idem, p. 381.A razo prtica faz-se valer em discursos de fundamentao, atravs de um princpio

    de generalizao. HABERMAS, Jrgen. Excurso: transcendncia do interior,transcendncia para este mundo. In. Textos e contextos. Lisboa: Instituto Piaget, 2001,p. 139.

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    sinceridade.29 Importa observar que foi Alexy o primeiro a formalizar em

    regras grande parte das regras discursivas avanadas pela teoria

    habermasiana.30

    Saliente-se tambm, como afirma Letizia Gianformaggio, que a

    noo de procedimento constitui uma noo chave nas teorias atuais de

    argumentao jurdica e de argumentao prtica racional, posto que a

    razo prtica pode ser definida como a habilidade de alcanar um

    julgamento prtico de acordo com este sistema de regras. O

    procedimento , em um certo sentido, o conjunto das regras do jogo. Uma

    norma correta se resulta de um determinado procedimento o discurso

    prtico racional. Sendo assim, tanto Habermas quanto Alexy podem sair

    dos impasses presentes nas antinmicas posies do positivismo ceticista

    e da tica material dos valores de Max Scheller e Nicolai Hartmann

    ambas as correntes extremamente influentes no domnio jusfilosfico e de

    teoria constitucional , oferecendo uma via mdia ao decisionismo das

    primeiras correntes (adeptas de um naturalismo cientificista irrefletido) e

    ao absolutismo das segundas (carregadas de concepes metafsicas

    incompatveis com o atual cenrio do pensamento contemporneo).

    Afinal, o procedimento, dentro da teoria discursiva do direito, identifica

    uma espcie de racionalidade formal, a nica que pode dar conta do

    campo das normas, dos deveres e dos valores; e tal procedimento se

    alicera em uma tica minimalista a tica do discurso.

    Difcil no reconhecer a procedncia de parte dos argumentos

    daqueles que reprovam o projeto da teoria do discurso prtico por sua

    excessiva racionalizao, abstrao e confiana nos procedimentos. No

    entanto, deve-se pelo menos ter em mente que as regras do discurso spodem ser cumpridas aproximadamente31 e que, em geral, tanto no

    raciocnio prtico como no raciocnio jurdico no se pode esperar obter

    um mtodo que fornea uma soluo definitiva para cada caso difcil. O

    29 Cf. FETERIS, Eveline T. Argumentation in the field of law. In. EEMEREN, Frans H.Van (ed.). Crucial concepts in argumentation theory. Amsterdam: Amsterdam UniversityPress, 2001, p. 209.30 VELASCO, Juan Carlos.La teora discursiva del derecho: sistema jurdico y

    democracia en Habermas.Op. cit. p.127.31 ALEXY, Robert. A discourse-theoretical conception of practical reason. In. RatioJuris. Op. cit., p. 245.

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    que pode ser criado so estruturas racionais de raciocnio.32 Tais

    estruturas podem oferecer uma parametrizao capaz de submeter ao

    teste discursivo tanto propostas legislativas como decises judiciais.

    2. Teoria da Argumentao

    Os principais desenvolvimentos da teoria da argumentao de

    Habermas esto presentes no texto Teorias da Verdade e no excurso

    sobre argumentao na Teoria do Agir Comunicativo. Estribado em

    Toulmin, Habermas se une aos esforos desse filsofo para mover a

    filosofia alm do estreito foco da lgica formal.

    No primeiro volume de sua opus magnum, The Theory of

    Communicative Action Reason and Rationalization of Society33, h um

    breve excurso sobre esta problemtica, tomando-se como ponto de

    partida a dmarche desenvolvida por Stephen Toulmin nos livros The

    uses of argument, de 1958, e Human understanding, de 1972. Habermas

    tambm examina, no referido excursus, os ltimos desenvolvimentos no

    campo da lgica informal implementados pelo trabalho de Wolfgang Klein,

    intitulado Argumentation und argument. A idia central de Habermas no

    tocante sua teoria da argumentao consiste na noo de sistema de

    pretenses de validade. Como ele afirma, argumentos so meios

    atravs dos quais o reconhecimento intersubjetivo de pretenses de

    validade hipoteticamente erguidos por algum proponente pode ser

    alcanado (brought about) e assim opinies so transformadas em

    conhecimento.34 As pretenses de validade, que podem ser

    32 ALEXY, Robert. Rights, legal reasoning and rational discourse. In. Ratio Juris. Op.cit., p. 150.33 HABERMAS, Jrgen. The theory of communicative action reason and rationalizationof society. Boston: Beacon Press, v. I, 1984, p. 22-44.34 Idem, p. 25. Explicitando melhor o que significa essa atividade bsica humana, sirvo-me do magistrio de Manuel Atienza. Mas o que significa argumentar? Que umargumento? O ponto de partida para responder a estas perguntas poderia ser este: emuma argumentao como atividade e em um argumento como resultado dessaatividade existem sempre, pelo menos, estes elementos: 1) uma linguagem, vale dizer,

    argumentar es una actividad ligstica, y un argumento es un producto lingstico que seplasma en un um conjunto de enunciados; 2) uma concluso, isto , o ponto final daargumentao ou o enunciado com o qual se encerra o argumento; 3) uma ou vrias

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    discursivamente resgatadas, so erguidas em relao a trs regies da

    realidade, segundo diferentes aspectos de racionalidade: uma pretenso

    de validade pode ser erguida na dimenso da verdade, em face de

    eventos da natureza externa; uma outra pretenso diz respeito correo

    das normas de ao encontradas na dimenso intersubjetiva aberta pela

    vida social, em que se d a integrao atravs de normas e valores; e,

    por fim, uma pretenso de veracidade e sinceridade pode estar presente

    nos proferimentos ligados expressividade de estados internos. As

    pretenses de validade podem ser resgatadas ou honradas por meio de

    argumentos. Tais alternativas s solues violentas de controvrsia so

    postas em movimento nas prticas argumentativas ligadas ao

    comunicativa, isto , mediatizadas por pretenses de validade que podem

    ser reconhecidas na intersubjetividade. 35

    A argumentao, para Habermas, pode ser compreendida

    como uma pugna em torno dos melhores argumentos a favor de ou contra

    uma pretenso de validade controvertida e serve busca da verdade.

    Verdade, marcada por um esprito falibilista, entendida como

    aceitabilidade racional. Os critrios elencados nas suas reflexes sobre

    argumentao e referenciados situao ideal de fala (que ser objeto de

    consideraes a seguir) possibilitam pensar na idia de um consenso no

    coarctado, isto , em uma aceitao racional de pretenses de validade.

    Tal processo repousa na convico intuitiva de que h uma diferena

    entre convencer e persuadir, entre motivao mediante razes e

    influncia causal, e entre aprendizagem e doutrinamento. Tanto

    Habermas como Alexy se utilizam de Toulmin (e ambos os projetos

    possuem convergncias com a empreitada da nova retrica desenvolvidapor Cham Perelman36).

    premissas, isto , o ponto de partida da argumentao ou os enunciados com que seabre o argumento, e 4) uma relao entre as premissas e a concluso. ATIENZA,Manuel. El derecho como argumentacin. In. Isegora revista de filosofa moral ypoltica, n. 21, novembro de 1999, p. 40.35 FERRY, Jean-Marc. Habermas, lthique de la communication. Op. cit., p. 362.36 Como afirma o prprio Perelman, (...) gostaria de sublinhar que o ponto de vistaretrico se junta ao dos lgicos alemes, nomeadamente Lorenzen, Apel e Habermas,que conferem um primado pragmtica sobre a semntica. PERELMAN, Cham.

    Perspectives rhtoriques sur les problmes smantiques. In. Logique et analyse, n. 67-68, 1974, p. 251, apud. GRCIO, Rui Alexandre. Racionalidade argumentativa. Coimbra:Edies ASA, 1993, p. 150. No mesmo diapaso, para uma excelente apresentao das

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    HABERMAS /ALEXY E O DISCURSO PRTICO 22

    A teoria de Toulmin se origina (assim como as teorias da

    argumentao de Perelman e Habermas) de preocupaes com o

    domnio da tica. A necessidade imperiosa de garantir alguma forma de

    controlabilidade racional ao campo das decises, eleies, condutas e

    opes valorativas funcionou com um aguilho na carne normativa

    desses dois pensadores, testemunhas da barbrie nazista. O

    desenvolvimento de suas diferentes teorias de argumentao (a retrica

    filosfica de Perelman e a lgica argumentativa de Toulmin) converge no

    esforo de submeter o domnio dos negcios humanos a parmetros

    capazes de balizar a ao na conturbada realidade social na qual se

    desenrola a vida coletiva dos seres humanos, encontrando meios no

    violentos para dirimir os inevitveis conflitos dela decorrentes. Saliente-se

    tambm um outro elemento comum a ambas empresas filosficas: a

    utilizao do modelo do direito. O reconhecimento da pertinncia dos

    cnones bsicos do processo judicial, verdadeira decantao de dois mil

    anos de experincia de aprendizado jurdico, serve como um modelo

    alternativo geometria e matemtica, musas inspiradoras de todas as

    diferentes verses do positivismo.

    Embora se assemelhe em muitos aspectos ao projeto da nova

    retrica, a lgica argumentativa desenvolvida por Toulmin segue um

    caminho diferente. No na tradio greco-romana que se encontram os

    elementos capacitadores de estabelecer um enfoque terico crtico s

    posies do positivismo lgico, dominante no quadro filosfico anglo-

    americano, que com seu avatar logicista s reconhece como argumentos

    vlidos aqueles que seguem o modelo de inferncia dedutiva-analtica.

    Entretanto, com as transformaes operadas no mago da tradioanaltica, com a abertura do campo de exame da linguagem ordinria,

    Toulmin, aluno de Wittgenstein, amealhou elementos capazes de

    estabelecer um projeto filosfico ambicioso, nascido do descontentamento

    com as vises absolutistas, que s reconheciam as evidncias empricas

    constringentes e os argumentos dedutivos conclusivos como capazes de

    convergncias entre o filsofo alemo e o propulsor da Escola de Bruxelas, veja-seHAARSCHER, Guy. Perelman and Habermas. In. Law and philosophy n. 5,Netherlands: D. Reidel Publishing Company, 1986, p. 331 -342.

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    que nenhum participante pode ser coagido. Estas condies especificam

    uma norma de comunicao que pode ser nomeada de reciprocidade

    igualitria.40 No mesmo pargrafo, esclarece a filsofa estadunidense:

    os constrangimentos procedimentais da situao ideal de fala so que

    cada participante deve ter uma chance igual de iniciar e continuar a

    comunicao. Cada participante deve ter uma igual chance de fazer

    assertivas, recomendaes e explicaes. Todos devem ter uma igual

    chance de expressar seus desejos, aspiraes e sentimentos. E,

    finalmente, em uma situao de dilogo os falantes devem se sentir livres

    para tematizar aquelas relaes de poder que, em contextos usuais,

    constrangeriam a ampla articulao livre de opinies e posies.

    Disso decorre que aqueles que utilizam o expediente da

    situao ideal de fala no pretendem que tais condies ocorram

    simultaneamente na vida real. Como explica Rouanet: No importa que

    estas condies sejam freqentemente contrafactuais, isto , que no

    sejam sempre presentes em processos comunicativos concretos: eles so

    apenas pressupostos, que podem ou no realizar-se, mas so

    pressupostos necessrios, porque sem eles o ingresso na argumentao

    impossvel.41 Cabe, ainda, esclarecer ser prprio de uma situao

    contraftica a constatao de que o descumprimento de algum de seus

    pressupostos no implica a invalidao deste constructo terico, vale

    dizer, a no observncia emprica dos ditames previstos em tal situao

    no acarreta a sua ineficcia. A qualidade ou caracterstica que atribui a

    algum elemento terico o estatuto de contraftico implica

    necessariamente a sua potencial contestabilidade.

    Em relao SIF, Habermas explica:

    Eu tentei caracterizar a situao ideal de fala no pelos traosprprios personalidade de locutores ideais, mas pelos traosestruturais de uma situao de discurso possvel, a saber, poruma distribuio simtrica de chances de adotar papis nodilogo e de efetuar atos de fala. Esta construo deve permitirdemonstrar que ns podemos efetivamente antecipar uma

    40 BENHABIB, Seyla. Liberal dialogue versus a critical theory of discursive legitimation.In. ROSENBLUM, Nancy L. (ed.) Liberalism and moral life. Cambridge: Harvard

    University Press, 1989, p. 150.41 ROUANET, Srgio Paulo. tica Iluminista e tica discursiva. In. Habermas 60 anos.Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro, 1962, p. 37.

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    Reconhecidamente, tal situao de fala de fato ideal, talvez at utpica;

    mas a antecipao de um consenso alcanado sob as condies

    expressas por esse ideal uma pressuposio necessria de uma

    racionalmente fundamentada comunicao, especialmente uma

    comunicao visando o balano de pretenses de verdade.

    A situao ideal de fala constitui elemento cardeal do discurso

    prtico geral alexyano. Como j salientado, dentro do enfoque de Alexy o

    discurso jurdico uma forma especial de discurso prtico geral. Quando

    Alexy detalha, na sua exposio acerca do discurso prtico, as suas

    regras da razo (cf. Teoria da Argumentao Jurdica, p. 187), utiliza-se

    de e explicita os elementos estruturantes da situao ideal de fala

    habermasiana ou atividade comunicacional pura. Assim, o segundo grupo

    de regras do discurso prtico geral, denominado regras da razo, tem a

    seguinte forma:

    1) Todo falante deve, quando lhe for demandado, fundamentaro que afirma, a no ser que possa dar razes que justifiquem orechao de uma fundamentao.1.1) Quem pode falar pode tomar parte no discurso.1.2) (a) Todos podem problematizar qualquer afirmao.

    (b) Todos podem introduzir qualquer afirmativa nodiscurso.(c) Todos podem expressar suas opinies, desejos e

    necessidades.45

    No necessria muita perspiccia para se reconhecer a

    dificuldade de se sustentar a plausibilidade de um construto terico como

    a SIF em um horizonte cultural marcado, por um lado, pelo cientificismo

    naturalista positivista e, por outro, pela apologia da fragmentao e da

    incomensurabilidade dos discursos tericos ps-modernos. Relativismo econtextualismo marcam a ordem do dia em nosso tempo. As inmeras

    crticas idia de SIF obrigaram Habermas a um refinamento de seu

    posicionamento. Uma das mais desafiadoras reprovaes provm de uma

    crtica imanente teoria crtica da sociedade realizada por Albrecht

    Wellmer vis--vis Habermas (e, sobretudo, Apel). Parte dos problemas

    deve-se ao que destacou Rainer Rochlitz: Habermas abandonou esse

    conceito em razo em razo dos mal-entendidos substancialistas que ele

    45 ALEXY, Robert. Teoria de la argumentacin jurdica.Op. cit., p. 283.

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    suscitou.46 Este problema foi denominado no debate tcnico como

    fallacy of misplaced concretennes. Assim, Habermas desloca o foco de

    sua discusso da idia de SIF para a noo de pressupostos pragmticos

    da argumentao, abandonando a referncia SIF. Os pressupostos

    pragmticos da argumentao no so nada mais do que idealizaes

    imanentes ao uso geral da linguagem. Com efeito, como afirma

    Habermas, em Conscincia Moral e Agir Comunicativo, h uma tenso

    que se manifesta na comunicao cotidiana como a fora factual dos

    pressupostos contrafactuais.

    Concluso

    Os esforos desenvolvidos neste artigo procuraram expor

    elementos bsicos presentes na teoria discursiva do direito e da

    democracia. Esta abordagem do pensamento terico contemporneo abre

    um novo campo para a reflexo moral e jurdica, recolocando o problema

    da relao entre legalidade e legitimidade em um patamar diferente

    daquele defendido pelo main stream do pensamento jusfilosfico

    novecentista o positivismo jurdico. Robert Alexy pode consistentemente

    superar o positivismo jurdico graas ancoragem filosfica oferecida

    pela empresa terica de Habermas (em estreita colaborao com Apel).

    E, graas adeso crescente da comunidade de pesquisadores no

    mbito do direito s teses defendidas por essa escola, reconhece-se que

    a razo prtica no est mais relegada a um campo para alm do tangvel

    e testvel, possibilitando desarmar o ceticismo moral e o relativismoaxiolgico subjacentes s diversas verses do positivismo jurdico. Afinal,

    no so poucos aqueles que concordam com essa idia bsica de

    Habermas:

    No estou convencido de que a teoria da vontade, segundo aqual as normas ho de ser entendidas como expresso davontade de algum que ostenta o poder, coincida com nossas

    46

    ROCHLITZ, Rainer. Fonction gnalogique et force justificative de largumentation.In. BOUCHINDHOMME, Christian e ROCHLITZ, Rainer (ed.). Habermas, la raison, lacritique. Paris Les ditions du Cerf, 1996, p.203.

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    de las justificaciones ya logradas a travs de los consensos fundados en

    el mejor argumento.

    En Verdad y Justificacin (1999) presenta una reelaboracin de

    la idea de verdad, admitiendo la insuficiencia de una concepcin limitada

    a lo discursivo. La verdad no puede ser un mero concepto de xito

    (Erfolgsbegriff)- concede5. Aunque insiste en la fuerza del discurso

    racional para ir ms all de los propios contextos, no deja de ver que l a

    justificacin no est ligada indisolublemente a la verdad. Un enunciado

    puede considerarse justificado si, bajo las exigentes condiciones de un

    discurso racional, puede resistir todos los intentos de refutacin; pero

    quiere decir quepor eso sea verdadero?

    La preocupacin por esta cuestin le conduce a retomar el

    anlisis de conceptos filosficos centrales, como son los de verdad y

    objetividad, y a asumir cuestiones epistemolgicas -y hasta ontolgicas-

    que por cierto tiempo haba relegado. Esto no significa un abandono de

    la pragmtica formal6; por el contrario, el giro lingstico-pragmtico

    sigue definiendo el horizonte de problematizacin, y ms bien profundiza

    en l con la expectativa de avanzar en la propuesta de un realismo

    epistemolgico que pueda dar sustento a una idea de verdad no

    restringida. Sin esta impronta realista, la idea de verdad tiende a

    identificarse con la de justificacin racional entendida de manera

    coherentista, y en este caso se hace muy difcil lograr el objetivo de evadir

    el contextualismo7. Habermas reconoce que las prcticas de justificacin

    pertenecen siempre a contextos concretos y, por eso mismo, ve la

    necesidad de precisar alguna instancia que permita ir ms all de la

    efectividad y limitacin de las prcticas epistmicas vigentes.Advierte conclaridad que para superar una posible clausura de los contextos

    pragmticos y lingsticos, es imprescindible mostrar que, an cuando se

    den diversas aperturas de sentido, podemos seguir refirindonos a un

    5 VJ, p. 496 VJ, p. 107 Se trata de pensar un concepto no epistmico de verdad que explique cmo puedemantenerse, bajo las premisas de una relacin con el mundo impregnada

    lingsticamente, la diferencia entre la verdad de un enunciado y su aseverabilidadjustificada. VJ, p. 19.

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    o en un cierto idealismo lingstico. Pero tambin considera inviable los

    intentos de salir de las dificultades de lo trascendental a travs de una

    naturalizacin de esas condiciones.

    Si bien en su estudio Qu significa pragmtica universal8,

    haba rehusado el uso del trmino trascendental para calificar su anlisis

    de los presupuestos universales de la comunicacin, en Verdad y

    Justificacin este trmino es considerado nuevamente en su versin ms

    dbil como el anlisis de las condiciones de posibilidad que son

    irrebasables, aunque siempre vinculadas a la contingencia y

    temporalidad. El objetivo es evitar falsas polarizaciones y ponderar el

    alcance que ha tenido la transformacin de la problemtica trascendental

    de Kant producida en el siglo XX. Segn la formulacin kantiana, la

    problemtica trascendental no tiene que ver tanto con los objetos, sino

    con nuestra forma de conocerlos en la medida en que este conocimiento

    debe ser posible a priori; se trata de la reconstruccin de las condiciones

    universales y necesarias para la constitucin del objeto de experiencia y

    de conocimiento. Pero las modificaciones operadas por las lneas

    hermenuticas, pragmticas y neopragmticas en la concepcin del

    conocimiento y del sujeto, entendido como sujeto vinculado a horizontes

    lingsticos especficos y a prcticas concretas, pusieron en crisis las

    exigencias por las cuales se garantizaban las condiciones de

    inteligibilidad de manera necesaria. El uso que en estas filosofas se le ha

    dado al trmino trascendental implica sin duda un nuevo sentido,

    comprendido como la bsqueda de estructuras del mundo de la vida9, en

    la remisin a la gramtica profunda de los diversos juegos lingsticos10, o

    bien como el anlisis de las condiciones de posibilidad de nuestrasprcticas y experiencias. En cuanto las condiciones trascendentales dejan

    de ser condiciones necesarias del conocimiento, no puede excluirse la

    posibilidad de que nos aten a una visin del mundo limitada por la propia

    perspectiva y marcada por la contingencia. El concepto de trascendental

    8 Incluido en Teora de la Accin Comunicativa. Complementos y estudios previos ,

    Madrid, Ctedra, 1989. p. 322 a 324.9 VJ, p. 21-2310 VJ, p. 40

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    posicin que ya est condicionada. La universalidad establecida va

    emprica, al modo de la generalizacin, no confiere necesidad y an

    cuando se establezca que las condiciones de conocimientos, (concebidas

    como las estructuras de la mente) son comunes, esto no permitira an

    superar la idea escptica de que el mundo en s es inaccesible para

    nuestra experiencia. La salida de las dificultades de lo trascendental no

    est en naturalizar estas condiciones concedindoles un origen

    mundano, ya que este intento no slo conduce a aporas sino que est

    adems viciado de un cientificismo reduccionista.

    Esto nos pone en una particular tensin. No es sencillo

    concebir lo trascendental sin que se filtren ciertos supuestos idealistas y a

    la vez eludir las aporas que surgen al pensarlas desde esquemas

    naturalistas. Esto pareciera poner en jaque todo intento de articulacin

    entre ambas. Sin embargo, considera Habermas que estas dificultades

    ms que a una negacin, nos enfrentan a la necesidad de revisar los

    supuestos acerca del conocimiento. El sesgo idealista que amenaza en

    las posiciones trascendentales y la distorsin que se produce cuando las

    condiciones de posibilidad son asimiladas a las condiciones empricas y

    analizadas en trminos de la ciencia experimental, no son ms que dos

    caras de la misma moneda: ambas responden a una concepcin del

    conocimiento como representacin. Este es el origen de las paradojas.

    Por eso, no se trata de abandonar la perspectiva trascendental o el

    naturalismo, sino de pensarlos desde otros marcos, de tal modo que sin

    perder su especificidad, eviten tanto los lastres de los dualismos mente/

    cuerpo, o mente/ mundo, como las huellas de la dicotoma subjetivismo/

    objetivismo. Slo as puede pensarse una conjuncin renovada. Porsupuesto, en esta operacin las perspectivas mencionadas quedan

    transformadas: lo trascendental, en cuanto las condiciones no son

    totalmente a priori y el naturalismo, en cuanto pierde su enfoque

    fisicalista y deja de considerar a la gnesis de estructuras como un

    proceso causal.

    La propuesta habermasiana consiste en capitalizar lo que en

    muchas de estas posiciones se expresa como un alejamiento delmentalismo y, por lo tanto, de las consecuencias que de all se derivan

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    las sensaciones. No se produce en el interior de una conciencia, sino

    que se entiende como una actividad compleja de aprendizaje a partir del

    procesamiento inteligente de los desengaos y fracasos experimentados

    realizativamente. Sean acciones comunicativas o estratgicas, o bien

    intervenciones sobre el mundo, las prcticas involucran pretensiones

    epistmicas susceptibles de ser puestas en cuestin; y es justamente en

    el xito o en el fracaso de las acciones instrumentales que se revela la

    validez (o no) de nuestro saber respecto a algo del mundo.

    Ahora bien: si admitimos que es la resistencia que la realidad

    ofrece a nuestras construcciones y a nuestras acciones lo que genera

    nuestro saber, esto nos compromete con el presupuesto epistemolgico

    de corte realista de un mundo independiente de la mente13. El

    compromiso realista puede resultar algo desconcertante: de qu

    realismo se trata?Cmo dar cuenta de la intuicin realista una vez que

    hemos admitido la funcin constructiva de las prcticas epistmicas y

    lingsticas? Cmo entender esa independencia del mundo una vez

    que se han rechazado los clsicos dualismos? El desafo es elaborar una

    concepcin realista que vaya ms all los modelos tradicionales y que

    pueda dar respuesta al interrogante de cmo se conjuga esa

    independencia con los procesos de configuracin de sentido, y a la vez

    explicar el modo en que el lenguaje se vincula a una realidad, que si bien

    est estructurada simblicamente, lo trasciende.

    Este es el programa que Putnam viene desarrollando desde

    hace muchos aos desde un pragmatismo de algn modo kantiano, y

    del cual Habermas toma importantes elementos para dar cuenta tanto de

    los procesos comunicativos implcitos en el conocimiento, como de lareferencia del lenguaje al mundo 14. Putnam ha mostrado que la

    posibilidad de ajuste, correccin y aprendizaje responde a la intuicin

    realista de que los objetos existen con independencia del lenguaje, es

    decir, que no son construidos por l. Ms an, que nuestro esfuerzo

    cognoscitivo consiste en esa persistencia en encontrar descripciones

    13

    VJ, p. 40-4114 PUTNAM, H.: The meaning of meaning, Mind, Language and Reality, Vol. 2,Cambridge University Press, 1975, p. 279

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    coacciones) del mejor argumento; y d) la sinceridad de las emisiones de

    todos los participantes. La idealizacin de determinadas propiedades

    formales y procesuales de la prctica argumentativa, deba asegurar que

    el dilogo racional incluyese todas las voces, temas y posibles

    perspectivas, de tal modo que la pretensin de validez no se viese

    reducida a un determinado mbito.

    Esta idea fuerte de verdad y esta incondicionalidad haban sido

    presentadas en perspectiva pragmtica tambin por Apel y Putnam

    haciendo referencia a las condiciones ideales de justificacin19. Sin

    embargo, estas exigencias resultan contraintuitivas y limitativas. Son

    conocidas las objeciones al respecto y Habermas en buena parte las

    reconoce20. Sin duda este debate merecera un anlisis especfico. Pero

    ms que hacer hincapi en las objeciones referidas a la posibilidad de

    lograr y hasta de precisar estas condiciones, nos interesa ahora mostrar

    otro aspecto de la cuestin: la insuficiencia de las instancias puramente

    discursivas, an cuando se presenten en condiciones ideales. En efecto,

    el carcter normativo de las condiciones de argumentacin no alcanza

    para excluir la falibilidad de los consensos logrados. No hay ningn nexo

    conceptual entre la verdad y la aseveracin racional, an cuando se

    plantee en condiciones ideales. La verdad trasciende la justificacin; es

    una propiedad que los enunciados no pueden perder (un enunciado es

    verdadero o no), mientras que la justificacin est sujeta al tiempo y a la

    historia. Los argumentos que ahora, en una determinada situacin

    epistmica, resultan contundentes y convincentes para sostener la verdad

    de un enunciado, pueden mostrarse como falso en otra situacin

    epistmica. Este uso de algn modo cautelar de la nocin de verdad eslo que mantiene siempre la distancia entre ambas, an cuando se

    aduzcan condiciones ideales de dilogo21. Una mirada histrica

    19 Putnam lo presenta como condiciones epistmicas ideales (RVH), Apel como eldilogo en una comunidad ideal de comunicacin. Ver al respecto: Falibilismo, teoraconsensual de la verdad y fundamentacin ltima, en Teora de la verdad y tica deldiscurso, Paids, Barcelona, 1991.20 Ha sido admitidas por Habermas, por ejemplo, las objeciones de C. Lafont: Verdad,saber y realidad, en La filosofa moral y poltica de J. Habermas, Biblioteca Nueva,

    Madrid, 1997, p. 239 a 260.21 Por una parte, el uso cautelar del predicado de verdad indica que inclusoenunciados muy bien justificados pueden acabar resultando falsos a la luz de nuevas

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    los logros obtenidos, por lo cual el proceso queda siempre abierto y sigue

    una marcha recursiva.

    Es esta percepcin estereoscpica de los procesos de

    cooperacin y entendimiento, estratificados en tramas de accin y

    discurso, lo que permite dar cuenta del dinamismo de bsqueda de la

    verdad. Por una parte, asumimos que nuestros discursos estn insertos

    en el mundo de la vida; pero por otra, que nicamente si nos guiamos por

    la verdad entendida en un sentido independiente del contexto (esto es de

    manera incondicional), podr la argumentacin cumplir el papel de

    eliminar las perturbaciones de las certezas de accin que se han

    mostrado problemticas. Y este carcter incondicional no puede

    obtenerse separadamente ni de las certezas de accin sobre las cuales

    descansa la rutina cotidiana, ni sobre la aseverabilidad justificada.

    La verdad tiene as un rostro jnico, mediando entre las

    certezas de accin y la aseverabilidad discursivamente justificada22. La

    situacin parece paradjica: sin acceso directo a las condiciones de

    verdad, slo pueden hacerse efectivas las pretensiones de verdad a

    travs de buenas razones. Pero a su vez, las buenas razones tambin

    caen bajo reserva falibilista, de tal modo que la distancia entre

    aceptabilidad racional y verdad no puede en definitiva salvarse.

    El que esta brecha no pueda cerrarse, no es motivo para una

    posicin escptica que autorice a volver sin modificaciones a las

    convicciones de las prcticas cotidianas. Los acuerdos logrados sobre lo

    que se discute como verdadero y el aprendizaje que de all resulta ,

    conducen de manea ineludible a un desplazamiento, un descentramiento

    respecto a la posicin anterior.De este modo, se explican no solamentelos procesos de correccin y ajuste, sino tambin que una justificacin

    lograda en un determinado contexto pretenda una verdad que vaya ms

    all de l. La duda contextualista no podr superarse slo en el plano

    argumentativo, sin considerar las modificaciones que se producen en las

    relaciones y mutuas incidencias entre discurso y plexos de accin. Por

    eso el carcter de incondicionalidad de la verdad se vincula tanto a las

    22 VJ, p. 244

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    condiciones ideales de la argumentacin, como al descentramiento de la

    comunidad de comunicacin.

    Ninguna de estas condiciones podra pensarse sin la

    anticipacin del concepto formal de un mundo objetivo compartido. Esto

    indica, en primer lugar, que slo puede establecerse la diferencia entre

    verdad y justificacin si referimos a un mundo que no ha sido producido

    por nosotros y nos impone restricciones, un mundo que trasciende

    nuestros acuerdos. Pero en segundo trmino indica que, si reconocemos

    algo como verdadero admitimos que su validez es incondicional, es decir

    es vlido para todos y en todas partes. A esta universalidad le

    corresponde por el lado de la referencia, la suposicin de que el mundo

    es uno y el mismo para todos, con independencia de la perspectiva desde

    la cual nos refiramos a algo. Es decir, suponemos tanto la existencia de

    posibles objetos de los que podemos enunciar hechos, como as tambin

    la conmensurabilidad de nuestros sistemas de referencia23.La referencia

    a los objetos, en base a la cual los hombres pueden actuar e interactuar,

    se entrelaza as con la referencia semntica que se establece en la accin

    comunicativa cuando se afirma algo del mundo.

    La objetividad del mundo y la intersubjetividad del

    entendimiento se remiten recprocamente.No podra haber comprensin e

    interaccin sin que los participantes se refieran a un mismo mundo y con

    ello se estabilice un espacio pblico24. Ms que una prescripcin o una

    convencin destinada a salvar dificultades tericas, se trata de

    condiciones de posibilidad descentralizadas de lo que puede constatarse

    como un factum: los hombres se comunican.

    3. Verdad y justicia

    Habermas ha conseguido as, con la distincin entre verdad y

    justificacin, poner un freno al posible cierre del discurso sobre s mismo,

    y al riesgo de que la justificacin quede vinculada a las circunstancias del

    23 VJ, p. 149-15024 TAC, Taurus, Madrid, 1987, I, p. 110, II p. 161 y siguientes.

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    EL REALISMO PRAGMTICO EN LA CONCEPCIN HABERMASIANA DE LA VERDAD 47

    contexto. Cabe preguntarse ahora, si esta distincin y la posicin realista

    a la cual se vincula modifican de algn modo el valor y alcance del

    discurso en el plano moral.

    Una comprensin cognitivista de la moral como la de

    Habermas- implica el reconocimiento de que en la argumentacin

    intervienen juicios de verdad, pero son las mismas las pautas la que

    permiten evaluar la verdad y la correccin moral? En la concepcin

    habermasiana ambas pretensiones de validez dependen de la resolucin

    discursiva. Sin embargo hay diferencias: mientras la idea de verdad

    requiere la referencia al mundo, la validez de la norma consiste en su

    potencialidad para ser reconocida, lo cual tiene que fundarse en el

    discurso bajo condiciones de justificacin aproximativamente ideales25.

    En otros trminos: en el orden moral se sigue exigiendo una concepcin

    epistmica de las pretensiones de validez26.

    Hay aqu una clara oposicin a lo que podra llamarse un

    realismo moral. Cmo podra el mundo de las relaciones

    interpersonales, un mundo estructurado simblicamente y que, en cierto

    modo, producimos nosotros mismos a travs de acciones e instituciones,

    decidir si los juicios morales son vlidos o no? Pueden las normas

    depender de la contingencia y facticidad de las mismas? Sin duda

    Habermas quiere evitar tanto las fundamentaciones ontolgicas como las

    sociologizantes, y por ello insiste en que las afirmaciones precedentes no

    deben menoscabar el carcter de incondicionalidad de las normas

    morales. No se trata de reproducir hechos, sino de apelar a normas

    dignas de reconocimiento.

    La correccin (Richtigkeit) del juicio y normas morales no tieneese punto de referencia a objetos que se exiga a los enunciados

    verdaderos -argumenta-. Las convicciones morales no se quiebran ni

    quedan cuestionadas por la resistencia que ofrece el mundo, sino por

    los disensos no resueltos entre los oponentes que actan en un mismo

    mundo social. La resistencia muchas veces percibida en primera

    instancia como protesta, grito o apelacin- no proviene de la operacin

    25 , p. 5426 VJ, p. 270

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    EL REALISMO PRAGMTICO EN LA CONCEPCIN HABERMASIANA DE LA VERDAD 49

    mide por las condiciones que rigen la formacin imparcial del juicio. Y

    nosotros mismos agrega Habermas- contribuimos a la satisfaccin de

    condiciones de validez de los juicios y normas morales mediante la

    construccin de un mundo de relaciones interpersonales bien

    ordenadas.30 En este sentido unaperspectiva deontolgica se articula con

    una cierta teleologa en cuanto exige la realizacin de una comunidad de

    argumentacin capaz de afrontar situaciones nuevas en condiciones de

    imparcialidad y tambin en condiciones para el discernimiento.

    Y esto merece una reflexin final. Verdad y justicia son

    presentadas por Habermas como ideas reguladoras, y en este sentido

    son anlogas. Pero creemos que, si la proyeccin de un mundo justo no

    solamente es pauta orientadora sino que conlleva una exigencia de

    realizacin, hay que dar un paso ms y admitir que verdad y justicia

    tambin se implican mutuamente. Lo justo est implicado en la

    consecucin de la verdaden tanto que las instancias discursivas exigen

    determinadas condiciones en la comunidad; pero por otro lado, no

    podemos dejar de ver que lo justo envuelve lo verdadero, de lo contrario

    lo procedimental operara en el vaco.

    En la medida en que las sociedades se vuelven ms

    complejas, van apareciendo con mayor frecuencia materias inesperadas y

    situaciones que exigen nuevas regulaciones; la legitimidad de las normas

    que se deriven del discurso se asienta tanto en la calidad de los

    argumentos y en la informacin que se maneje al respecto, como en las

    posibilidades de participacin y el acceso al dilogo en igualdad de

    condiciones. La accesibilidad de los discursos depende tanto de los

    ordenamientos sociales y polticos como de la formacin e informacin delos participantes. Tanto en el orden de la norma moral como en de la

    norma jurdica, estn implicados a) juicios que conciernen a la

    ponderacin de la informacin que refiere a nuevas situaciones o bien al

    alcance de descubrimientos cientficos, y b) juicios que refieren a la

    ponderacin de las situaciones de dilogo en la que se resuelven los

    30 VJ, p. 274

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    QUEDA ALGO DE LA HERENCIA KANTIANA EN LATICA DISCURSIVA DE HABERMAS?

    Julio De Zan1

    I

    J. Habermas haba adherido desde el principio al Programa de

    Transformacin de la Filosofa propuesto por K.-O. Apel en los aos

    sesenta, entendido como transformacin de la Filosofa trascendental

    clsica de la subjetividad en una filosofa pragmtico trascendental de la

    intersubjetividad, que fundamenta el carcter discursivo, o dialgico de larazn. En este contexto terico ha sostenido Habermas que la operacin

    fundacional de la tica del discurso consiste en la transformacin

    comunicativa del imperativo categrico de Kant. Al hacer esto interpreta el

    imperativo kantiano como un principio de universalizabilidad que se

    realiza por medio del procedimiento del discurso. En la evolucin posterior

    de su pensamiento queda claro sin embargo que Habermas no admite

    ms que una forma dbil, difcil de definir, de filosofa trascendental. En

    una peculiar formulacin ms reciente del principio del principio de la tica

    discursiva se evidencia ya una completa detrascendentalizacin de su

    concepcin: Una ley es vlida en sentido moral si puede ser aceptada

    por todos, desde la perspectiva de cada cual (wenn es aus der

    perspective eines jeden von allen akzeptiert werden kann. El subrrayado

    es nuestro JDZ). En consecuencia, una persona acepta el punto de vista

    moral si, como legislador democrtico hace un examen de conciencia

    1CONICET/UNSAM, Argentina

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    QUEDA ALGO DE LA HERENCIA KANTIANA EN LA TICA DISCURSIVA DE HABERMAS? 52

    acerca de si la prctica que resultara del seguimiento universal de una

    norma hipotticamente ponderada, puede ser aceptada por todos los

    posibles afectados en tanto que colegisladores potenciales2. Esta

    formulacin introduce un desplazamiento que recuerda la propuesta de

    Rawls en El liberalismo poltico sobre la aceptabilidad fctica de la idea

    poltica de la justicia como equidad mediante el consenso entrecruzado de

    concepciones filosficas y morales diferentes. Pero Rawls aclara

    reiteradamente que la bsqueda de un consenso entrecruzado no es un

    punto de vista moral, sino poltico, el cual no presupone ninguna tica en

    particular3.

    Para Kant una mxima es moral en tanto que universalizable, y

    conforme a esto podra interpretarse que debera contar en principio con

    el posible asentimiento racional de todos, pero los textos de la

    Grundlegungungno dicen eso, sino que exponen la cosa desde el otro

    lado, el lado del sujeto de la reflexin y de la accin, y dicen que tengo

    que examinar si sera posible, y si yo podra querer que la mxima de

    conducta se convirtiera en ley universal, es decir, si podra aceptar que

    tambin todos los dems actuaran de la misma forma con respecto a m4.

    Es claro que para averiguar si no sera contradictorio, y si yo podra

    aceptar la universalizacin de la mxima en cuestin no es necesario

    2 J. Habermas, La inclusin del otro, Barcelona, 1999, p. 61-61. Voy a prescindir aqu delas crticas de Apel y de la confrontacin de las diferencias del planteo apeliano originariocon la concepcin habermasiana de la tica discursiva, porque las crticas de Apelpresuponen la exposicin de ese planteamiento y contribuyen a su aclaracin ydesarrollo. Incluso dira que son interesantes sobre todo para una interpretacin msprecisa de la concepcin apeliana. Adems esta discusin, que ha recorrido variasetapas, es bastante conocida, por lo menos en sus aspectos ms generales, y ha sidoreunida por el autor en un volumen reciente (Apel versus Habermas, Ed. Comares,

    Grtanada 2004). En cuanto a los textos de Habermas, tendr en cuenta especialmentesus escritos ms recientes.3 J. Rawls, La justicia como equidad. Una reformulacin, Edic. a cargo de Erin Kelly,Paids, Barcelona, 2000, p.58-59.4 Hay que poder querer que una mxima de nuestra accin sea ley universal. Tal es elcanon del juicio moral de la misma en general. Algunas acciones estn de tal modoconstituidas, que su mxima no puede ser ni siquiera pensada sin contradiccin comoley natural universal En otras no se encuentra esa contradiccin interna, pero esimposible quererque su mxima se eleve a la universalidad, porque tal voluntad seracontradictoria consigo misma I. Kant, Grundlegunng der Metaphisik der Sitten,Akademke Textausgabe, IV, Walter de Guyter, Berlin New York, 1968, pg. 424;traduccin espaola de Manuel Garca Morente, Espasa Calpe, Madrid, 1946, yreimpresiones sucesivas, pg. 76. (En adelante las citas de esta obra de Kant se realizan

    dentro del texto de nuestra exposicin mediante la abreviatura: Grund. seguida en primerlugar de la cifra que indica la pgina correspondiente de la citada edicin alemana, y ensegundo trmino de la pgina de la traduccin precursora de Garca Morente,

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    QUEDA ALGO DE LA HERENCIA KANTIANA EN LA TICA DISCURSIVA DE HABERMAS? 53

    ningn procedimiento comunicativo, y no tiene sentido la bsqueda de

    consenso mediante un discurso; lo que se requiere es un anlisis lgico,

    y un examen de conciencia (Grund. 424, GM 77). La operacin de la ED

    no consiste entonces simplemente en la transformacin discursiva de la

    formulacin kantiana, sino que presupone al mismo tiempo un cambio de

    perspectiva.

    En el Prlogo a la Grundlegung Kant haba diferenciado

    claramente dos niveles de la reflexin moral: 1) el nivel de la

    fundamentacin a priori del principio universal de la moralidad y, 2) el

    nivel de la aplicacin de aquel principio al examen de las mximas

    particulares, y del juicio sobre la accin en las diferentes situaciones

    concretas Grund. 398, GM 19). (Un poco ms adelante volver sobre esta

    distincin kantiana a la que no se ha prestado suficiente atencin).

    Solamente en este segundo nivel de la aplicacin es necesario recurrir de

    alguna manera al procedimiento del juicio reflexivo, o reflexionante en el

    sentido de la Tercera Crtica, y tiene sentido la confrontacin discursiva de

    distintos puntos de vista5. En Habermas se oscurece la diferencia entre

    estos dos niveles porque el anlisis y la justificacin se realiza en ambos

    mediante el mismo procedimiento de los discursos morales empricos, los

    cuales permiten quizs llegar a un consenso, pero tambin quizs no. En

    todo caso, los consensos de los discursos reales empricos son siempre

    contingentes.

    Por eso la clave de la fundamentacin de la doctrina kantiana

    de la moralidad no es el punto de vista de la universalizabilidad, entendida

    como aceptabilidad universal (aunque esta pueda derivarse como una

    consecuencia), sino la demostracin de la necesidadracional y moral dela ley como deber. Cuando se trata de explicar la ley moral, escribe Kant,

    La cuestin es, pues esta: es una ley necesaria para todos los seres

    racionales juzgar siempre sus acciones segn mximas tales que puedan

    ellos querer que se conviertan en leyes universales? Si es as, habr de

    estar ya (enteramente a priori) enlazada con el concepto de la voluntad de

    un ser racional en general (Grund436, GM 80). Lo que es necesario y

    5 Cfr. Kant, Crtica de la Razn Prctica, segunda parte.

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    universalizable es por lo tanto el criterio de la moralidad que se debe

    emplear en el examen y en el juicio de las mximas y normas particulares,

    es decir, no las mximas de cada uno, sino solamente el imperativo

    categrico. No se trata de investigar ahora si la deduccin trascendental

    de este imperativo ha sido llevada a cabo con xito por Kant, sino

    solamente de indicar el camino por donde l consideraba necesario

    buscar el fundamento de la ley moral, y cul es la diferencia especfica del

    imperativo categrico de la moralidad frente a los imperativos hipotticos.

    Esto ltimo es reiterado claramente por Kant en diferentes lugares: si la

    accin es buena como medio para alguna otra cosa, entonces el

    imperativo es hipottico; pero si la accin es representada como buena en

    s, esto es, como necesaria en una voluntad en s conforme con la razn,

    entonces el imperativo es categrico(Grund. 414, GM. 629.

    El criterio de la necesidad conceptual es el que permite

    establecer tambin la diferencia del Imperativo categrico y los

    hipotticos. No hace falta explicar en general cmo sea posible un

    imperativo hipottico, porque el que quiere el fin quiere tambin los

    medios indispensables para conseguirlo En cambio el nico problema

    que necesita solucin es, sin duda alguna, el de cmo sea posible el

    imperativo de la moralidad, porque este no es hipottico y, por lo tanto, la

    necesidad representada objetivamente no puede basarse en ninguna

    suposicin previa, como en los imperativos hipotticos (Grund.. 417 y

    419, GM. 66 y 69). La solucin al problema planteado cree encontrarla

    Kant en el concepto mismo de un imperativo categrico: Cuando pienso

    en general [en lo que es] un imperativo hipottico, no s de antemano

    cul ser su contenido; no lo s hasta que la condicin me es dada. Perosi pienso un imperativo categrico, ya s al punto lo que contiene, pues

    como este imperativo, aparte de la ley, no contiene ms que la necesidad

    (el subrrayado es nuestro: JDZ) de la mxima de conformarse con esta

    ley, y como esta ley no tiene ninguna condicin que la limite, no queda

    pues nada ms que la universalidad de la ley en cuanto tal, a la que ha de

    conformarse la mxima de la accin, y esta conformidad es lo nico que

    el imperativo representa como propiamente necesario (Grund. 420-421,GM 71-72). La universalidad en el sentido de Kant no es el resultado de

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    formal. El mero punto de vista del consenso no tiene como discernir

    adecuadamente estas diferencias moralmente relevantes.

    II

    Habermas distingue por cierto entre un acuerdo fctico y un

    acuerdo vlido. Pero esta diferencia est definida de manera

    procedimental, atendiendo a los medios empleados para alcanzar el

    consenso, el cual puede obtenerse mediante los procedimientos de la

    racionalidad estratgica, o mediante la racionalidad comunicativa del

    discurso en el cual se hacen valer solamente los buenos argumentos en

    una interaccin comunicativa orientada al entendimiento intersubjetivo.

    Esta distincin es importante, pero no basta para aclarar la diferencia de

    la tica discursiva frente a la moral por acuerdo del contractualismo7. La

    salida de esta encerrona estaba ya para Kant en el pasaje de los

    intereses e inclinaciones empricas de la voluntad natural, o de las

    determinaciones del arbitrio, al orden de la libertad racional, que

    solamente se determina mediante la propia razn autnoma. El examen

    crtico de las acciones y de las mximas conforme al imperativo

    categrico est regido precisamente por el deber de ajustar aquella

    voluntad natural contingente, o el arbitrio, a la necesidad, o al deber

    incondicionado de la ley moral como ley de la razn pura prctica.

    Reinhard Brandt ha observado que En la reconstruccin

    habermasiana de la Filosofa Moral de Kant no se habla de necesidad, y

    el desplazamiento de la ley moral al campo de los intereses y deseosempricos no puede conducir ya de hecho a este concepto. Habermas

    remite por otro lado en general la representacin de la necesidad a la

    metafsica, o a la filosofa trascendental, que l parece considerar como

    7 Cfr.: D. Gauthier, La moral por acuerdo (1986), Barcelona, 1994; tambin P. Stemmer,

    Handeln zugunsten anderer, Berln 2000. Sobre el debate del contractualismo moral, cfr.:Moral als Vertrag? Beitrge zum moralischen Kontraktualismus, W. De Gruyter, Berlin,2003.

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    otra forma de metafsica, las cuales son dejadas de lado en el modo de

    pensar post-metafsico de su Filosofa8.

    Habermas podra responder a estas crticas diciendo que la

    autonoma de la tica como disciplina filosfica, su independencia de la

    religin y de la metafsica, que haba sido ya un objetivo de Kant, se ha

    radicalizado en la poca contempornea por el abandono de la idea de

    sistema en la Filosofa9. Por otro lado, como sostiene Aristteles, la

    Filosofa prctica no tiene como fin el mero conocimiento de lo que es,

    sino la realizacin prctica de lo que ella estudia, y este fin se vera

    impedido si se parte de presupuestos problemticos sobre los cuales hay

    posiciones muy diferentes. Podra argumentarse tambin que la exigencia

    del discurso moral comunicativo para la fundamentacin de normas se

    deriva a partir de razones especficamente prctico-morales. La pregunta

    por lo que es bueno para los hombres, y de lo que es justo en una

    determinada circunstancia, no puede responderse de manera vinculante

    sin escuchar los puntos de vista de los propios sujetos aludidos, o

    directamente afectados. Esta apertura comunicativa del discurso moral es

    para Tugendhat una exigencia que se deriva del propio principio kantiano

    de la autonoma de la conciencia y de la voluntad moral de las personas10.

    Este argumento me parece correcto, pero si preguntamos cmo se ha

    fundamentado el principio de autonoma, comprobamos que estamos

    siempre todava en el mismo lugar.

    El planteamiento habemasiano de la tica discursiva se ha

    inspirado ciertamente en la primera frmula del imperativo categrico de

    Kant, interpretado como principio de universalizacin, o de

    universalizabilidad. Pero l concibe ahora la universalizacin como elresultado de un consenso real o posible, obtenido mediante el

    procedimiento comunicativo de un discurso. En el contexto de esta

    interpretacin de la universalizabilidad como aceptabilidad, o como

    8 Reinhard Brandt, loc. Cit. p. 55.9 Cfr. Julio De Zan, La des-estructuracin del campo disciplinario de la Filosofa, enSaber, poder, creer, edit por Dorando Michelini y otros, Ed. del ICALA, Ro Cuarto, 2001.10 Cfr. E. Tugendhat, Lecciones de tica, Gedisa, Barcelona, 1997, 308-309. Cfr. J. De

    Zan, La identidad del sujeto y la constitucin de la moral, en Theoria. UniversidadNacional de Tucumn. Nmero extraordinario en homenaje a Roberto Rojo, 2004, pp.169-173.

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    consenso universal, se entiende entonces la crtica de Habermas al

    procedimiento monolgico de Kant, por cuanto ste tendra que apoyarse

    en el tcito presupuesto de que en la formacin del juicio moral, cada

    uno, en virtud de su propia imaginacin, tendra la suficiente capacidad

    para ponerse en la situacin de cualquier otro. Pero si ya no podemos

    fiarnos ms en la existencia de una precomprensin comn, ms o menos

    homognea en todos los implicados, entonces el punto de vista moral

    solamente puede realizarse todava bajo condiciones comunicativas que

    aseguran que cada uno examine la aceptabilidad de la universalizacin de

    una norma desde la propia comprensin de s mismo y del mundo. De

    esta manera el imperativo categrico es reinterpretado conforme a la

    teora del discurso11. Las condiciones trascendentales de la moralidad

    universalista de Kant son interpretadas aqu en sentido cuasi-

    heideggeriano, como una precomprensin trascendendental sobre las

    condiciones de vida y la disposicin de los intereses, las cuales seran de

    hecho relativamente homogneas en las culturas tradicionales, pero no ya

    en la sociedad moderna. Esta concepcin est ms prxima a la de

    Aristteles y los comunitaristas contemporneos que al punto de vista

    moral de Kant, al cual no se puede atribuir en absoluto esta manera de

    pensar lo trascendental. En la Grundlegungreitera Kant que no es posible

    encontrar el punto de apoyo de la tica en ese tipo de condiciones

    empricas, histricas o antropolgicas. Podra argumentarse contra Kant

    que estas condiciones son importantes para la vida moral, pero la crtica

    de Habermas no da en el blanco.

    El citado texto de Habermas parece presuponer que el juicio de

    la moralidad de las mximas de la accin se fundamenta en Kant delmismo modo que el juicio esttico, es decir, como el juicio reflexivo de la

    Tercera Crtica, en el que juegan un papel central la imaginacin y el

    sentido comn de una cultura, sin tener en cuenta la mencionada

    diferenciacin kantiana del Prlogo de la Grundlegung entre el

    fundamento (Grund) en el que se apoya toda la filosofa moral, que es su

    parte pura, o a priori, y su aplicacin (ihre Anwendung). Este segundo

    11 Habermas, Die Enbeziehung1999, p. 49; trad. espaola: La inclusin del otro,Barcelona 1999, p. 64.

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    paso, de la aplicacin del principio de la moralidad en el examen de las

    mximas y en el juicio sobre la accin moral, exige por cierto todava

    escribe Kant- un ejercicio de la facultad de discernimiento, aguzada

    mediante la experiencia (durch Erfahrung geschrfte Urteilskraft)12.

    Esta especial exigencia que plantea a la Urteilskraft la

    aplicacin de la ley moral se explica en el texto kantiano pordos razones:

    1) en parte para diferenciar en qu casos tienen su aplicacin y, 2) en

    parte para lograr que las leyes morales puedan penetrar en la voluntad

    con el vigor para ponerlas en prctica, dado que el hombre... no puede

    tan fcilmente hacerlas eficaces in concreto en las circunstancias

    cambiantes de su vida (in seinen Lebenswandel). A esta segunda razn

    de la necesidad de un ejercicio reflexivo del juicio moral va a dedicar Kant

    especficamente toda la Segunda Parte de la Crtica de la Razn Prctica.

    Con respecto a la razn 1) es preciso observar que, a

    diferencia del juicio esttico del gusto, y de la concepcin habermasiana

    de la fundamentacin de la tica, el juicio moral se apoya en una ley

    objetiva, a priori, pero esta ley no se aplica directamente a las decisiones

    y a las acciones, sino a las mximas que las orientan, las cuales se

    mantienen todava en un nivel de generalidad. Yo puedo haber testeado

    la moralidad de una mxima conforme al criterio de la universalizabilidad,

    pero debo justificar todava mi decisin y mi accin conforme a dicha

    mxima, es decir, la aplicacin de la mxima en las diferentes situaciones

    de la accin. Este pasaje no puede realizarse mediante la lgica de la

    subsuncin del juicio determinante. Es la especial exigencia planteada a

    la Urteilskraft, de la que habla el texto de la Grundlegungcon respecto a

    los problemas de aplicacin de la ley moral, la que tiene queinterpretarse entonces en el sentido del juicio reflexivo de la Tercera

    Crtica, porque toda accin en contexto es singular y nica, como lo es

    una obra de arte. Pero en Kant, a diferencia de lo que piensa Habermas,

    es solamente en este nivel de la aplicacin, y no en el de la

    fundamentacin, que juega el juicio reflexivo, con su exigencia de ponerse

    en el lugar de los otros.

    12Loc. cit. en nota 5.

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    de Hannah Arendt en sus estudios sobre la doctrina kantiana del juicio

    esttico13. Aqu solamente puedo mencionar ahora un texto de la

    Metafsica de las costumbres, segn el cual el procedimiento del juicio

    reflexivo, o reflexionante, que el legislador debe tener en cuenta, es el

    criterio de legitimidad de las leyes jurdicas, que han de regirse por el

    siguiente principio: lo que no puede decidir el pueblo (la totalidad de los

    sbditos) sobre s mismo y sus integrantes [porque sera contrario a su

    propio bien, o a sus intereses], tampoco puede el soberano decidirlo

    sobre el pueblo14. Por lo tanto el legislador antes de promulgar una ley

    debe reflexionar si ella podra ser aceptada como justa por l mismo como

    parte del pueblo y por el resto de los ciudadanos. Pero esta necesidad de

    ponerse en el lugar del otro, y de reflexionar sobre su posible

    aceptabilidad, puede considerarse como una consecuencia del carcter

    emprico y contingente de las leyes jurdicas, a diferencia de la ley moral.

    Lo que tendra que cuestionarse, desde el punto de vista de la Escuela de

    Frankfurt, es si este experimento mental como procedimiento para la

    aplicacin de la ley moral y para la legitimacin de las leyes jurdicas es

    por s mismo enteramente confiable sin haber pasado por el control crtico

    del discurso pblico, celebrado como un proceso real, bajo las

    condiciones normativas de simetra de la relacin comunicativa, y de no

    exclusin y no violencia.

    III

    El punto de partida kantiano de Habermas se apoya solamenteen la primera frmula del imperativo como si se tratara de una formulacin

    autnoma y suficiente para la fundamentacin de la tica,

    independientemente de la segunda, que manda tratar a la humanidad,

    tanto en nosotros mismos como en la persona de cualquier otro siempre

    tambin como fin, y nunca meramente como medio (Grund. 329;GM 84).

    13

    Hanna Arendt, Das Urteilen, Mnchen, 1998.14 I. Kant, Metafsica de las costumbres, Ed. Tecnos, Madrid, traduccin deA. Cortina y J. Conill, 1989, p. 162-163.

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    Podramos decir sin embargo que la primera frmula independientemente

    de la segunda permanece incompleta e indeterminada, o susceptible de

    diferentes lecturas, porque el principio de universalizabilidad es todava

    meramente formal; pero todas las mximas del obrar humano tienen al

    mismo tiempo tambin una materia, es decir un fin (Grund437; GM 95); el

    contenido universalizable de esta finalidad moral est dado por el

    principio objetivo de la humanidad y de toda naturaleza racional en

    general como fin en s mismo En este principio la humanidad no es

    representada como un fin subjetivo que nos proponemos realizar, sino

    como el fin objetivo que, cualquiera sean los fines que tengamos,

    constituye como ley la condicin suprema limitativa de todos los fines

    subjetivos (Grund. 430-431; GM, 87). Una determinacin integral de la

    ley moral en sus formulaciones anteriores es: que todas las mximas, por

    propia legislacin deben concordar con un reino posible de los fines

    (Grund. 437;GM 95). Con esta determinacin integral la ley moral deja de

    ser meramente formal, avanza ms all del terreno de lo permitido y lo

    prohibido, y abre un horizonte teleolgico de tareas a realizar, un deber

    positivo de humanidad15. Este contenido esencial de la moralidad

    kantiana, que implica el reconocimiento del valor de la persona humana, y

    de su dignidad innegociable, que no tienen en cuenta el utilitarismo y el

    contractualismo, tampoco aparece adecuadamente reflexionado en la

    tica discursiva de Habermas.

    La segunda formulacin de la ley moral no slo le da un

    contenido teleolgico al formalismo de la primera, del cual se derivan,

    segn Kant, todos los otros fines de la Razn pura prctica, sino que

    aclara tambin, al mismo tiempo, cmo debe ser interpretada la primera,de tal manera que se diferencie de todos los posibles acuerdos fcticos

    que no tienen otro criterio de validez y de obligacin moral ms all del

    mero consenso, como es el caso en el contractualismo y del

    consensualismo moral.

    El contractualismo tiene un punto de partida emprico, en el

    hecho de que, en la medida en que los individuos estn interesados en

    15 Cfr. A. Cortina, El comunitarismo universalista de la filosofa kantiana, en J.C.Cordn, Moral, Derecho y poltica en I. Kant, Cuenca, 1999, p. 241-252.

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    mantener relaciones de intercambio y de cooperacin con los dems,

    concuerdan tambin en el inters de mantener un sistema de reglas

    simtricas cuya aplicacin cuente con su asentimiento, y que ellos

    respetarn estas reglas siempre que tambin todos los dems se

    sometan al mismo tiempo a ellas. Esta moral por acuerdo es una

    estrategia de instrumentalizacin recproca: yo me abstengo de hacer

    tales cosas al prjimo, y me obligo a ser solidario con l, no por respeto a

    la dignidad de su persona, sino para que (o a condicin de que) tambin

    l haga lo mismo con respecto a m, y para que ambos podamos confiar

    recprocamente y as mantener una relacin provechosa. El objeto y

    contenido de estos consensos no es el respeto de la dignidad de la

    persona como fin en s mismo, y el deber de no instrumentalizar a nadie

    para otros fines, sino las mutuas ventajas subjetivas de tal

    comportamiento. El concepto de algo que pueda considerarse bueno sin

    restricciones, es decir por s mismo, de manera incondicional y, en cierto

    modo absoluto, como es la buena voluntad y su finalidad objetiva en el

    sentido de Kant, tiene que carecer de significado para la racionalidad

    instrumental del contractualismo moral, el cual emplea la palabra bueno

    en un sentido relativo, o instrumental y carece de una idea de bien en

    sentido puramente moral.

    Uno de los ejes de la teora de la accin social de Habermas es

    precisamente la distincin entre la racionalidad instrumental y la

    racionalidad comunicativa. Sin duda este ltimo concepto excluye la

    instrumentalizacin asimtrica del otro como objeto en la accin social.

    Pero la racionalidad comunicativa puede ser todava instrumental con

    referencia a los fines objetivos perseguidos en comn, en tantorecomienda una accin como un medio necesario, o como el camino ms

    corto y econmico, para el logro de tal o cual fin que hemos acordado

    como deseable para todos. El imperativo categrico es, en cambio, una

    regla de la razn sin punto de referencia alguno exterior a la racionalidad

    de la propia regla y a la calidad intrnseca de la accin. De este concepto

    no encuentro nada en Habermas, ni siquiera el planteamiento de las

    dificultades que conlleva, porque si bien es claro que el obrar moral nopuede ser medio para otra cosa, no resulta fcil comprender por cierto

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    qu significa que una accin sea racional y moral en s y por s,

    prescindiendo de toda referencia a un fin exterior y emprico, dificultad

    que el propio Kant reconoce, porque en esta idea del valor absoluto de la

    de la mera buena voluntad hay algo que es muy extrao (etwas so

    befremdliches) para la manera ordinaria de pensar (Grund. 394; GM,

    29).

    Habermas se remite en cambio, como el contractualismo, a los

    fines, intereses y motivaciones empricas, como contribuciones

    epistmicas a un discurso en el que se examinan normas, y que tiene

    lugar con el objetivo de obtener un acuerdo16. Cabe reiterar entonces la

    pregunta si con los procedimientos de la racionalidad consensual

    comunicativa del discurso se salva el sentido de la moralidad, o si es

    necesario pensar todava, ms all de este concepto habermasiano, otro

    nivel diferente de la racionalidad propiamente moral, que complemente o

    ample la dicotoma de las dos formas fundamentales de la racionalidad

    prctica, comunicativa e instrumental, mediante la diferenciacin tripartita

    de: racionalidad instrumental, racionalidad comunicativa y racionalidad

    moral, a fin de rehabilitar, quizs mediante nuevos argumentos, el punto

    de vista moralen el sentido de Kant. Despus del giro pragmtico de la

    Filosofa, la racionalidad estrictamente moral no podra prescindir de la

    racionalidad comunicativa, pero esta necesita al mismo tiempo de una

    brjula que le permita alcanzar el punto de vista moral. El discurso y la

    vida moral necesitan de un punto de incondicionalidad para orientarse y

    no quedar a la deriva de la relatividad de los consensos fcticos del

    Lebenswelt, siempre revisables, o provisorios, los cuales no pueden dar a

    la conciencia moral un respaldo cierto en las decisiones crticas deconsecuencias irreversibles.

    IV

    Avanzando ms all del problema de la fundamentacin de la

    tica, quiero confrontar todava, de manera muy esquemtica, la

    16 J. Habermas, Loc. cit. La Inclusin

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    discurso, compatibles con el significado de la segunda frmula del

    imperativo kantiano.

    Volviendo ahora al problema planteado de la Filosofa poltica,

    Habermas confronta como representativas las posiciones de Rousseau y

    de Kant sobre la bsqueda de la conexin interna entre la soberana

    popular de la democracia y la independencia indisponible de los derechos

    del hombre. Pero encuentra que la solucin del problema planteado es

    insatisfactoria en ambos autores y se resuelve mediante la primaca de

    uno de los dos principios, de la soberana popular en Rouss