Discursos media(tiza)dos: Anlise de Discurso Crtica aplicada

a estudos da mdia Murilo Arajo

Jornalista e ativista LGBT Mestrando em Letras | Estudos Lingusticos | UFV

Para comeo de conversa Proposta do minicurso

fazer uma discusso sobre a relao entre discurso e mdia, a partir de uma apresentao introdutria da Anlise de Discurso

Crtica (ADC), desenvolvida pelo linguista britnico Norman

Fairclough. Em suas teorizaes, o autor oferece reflexes

interessantes que ajudam a compreender e analisar processos

de construo de significado em produtos miditicos de meios

de comunicao diversos, a partir de anlises sociais ricas, que

vo alm da pura anlise textual.

Para comeo de conversa Proposta do minicurso

A fim de contemplar estas discusses, o minicurso ter uma apresentao histrica e terica da ADC, destacando principais

pressupostos e conceitos relacionados questo da mdia, alm

de tratar dos seus principais mtodos e categorias de anlise.

Em todas as etapas, sero discutidos e analisados diversos

exemplos de textos miditicos, especialmente jornalsticos e

publicitrios.

Percurso... Dia 01:

Apresentao histrica e Panorama terico da Anlise do Discurso;

Surgimento e consolidao da ADC;

Principais pressupostos tericos (FAIRCLOUGH 1992, 1999, 2003)

Dia 02: Metodologia de Pesquisa em ADC

Principais categorias de Anlise

Dia 03: Exerccios e prticas de anlise

(Breve) panorama histrico dos estudos lingusticos e da AD

Langue; Parole;

Estruturalismo

Preocupao com as variveis sociais

Sociolingustica

Figura importante: Pcheux

Associao entre uma teoria lingustica (Estruturalismo

saussuriano), uma teoria social (Materialismo Histrico) e uma

teoria do sujeito (Psicanlise Freudiana/Lacaniana)

Anlise do Discurso 1968, Frana

Desenvolvimento de outras teorias em AD

Anlise do Discurso Crtica Anos 1970: Lingustica Crtica Ramo da Lingustica consolidado no incio dos anos 1990

Simpsio na Universidade de Amsterd Teun van Dijk, Gunther Kress, Teo van Leeuwen, Ruth Wodak e

Norman Fairclough Teorias e mtodos de anlise do texto e do discurso, a partir de

uma agenda poltica e crtica que no era tradicionalmente contemplada pelos estudos lingusticos tradicionais (WODAK, 2004).

Anlise do Discurso Crtica 1985: Journal of Pragmatics, por Fairclough (RESENDE &

RAMALHO, 2006).

Anlise do Discurso Crtica Proposta:

Perspectiva crtica: crtica social como elemento intrnseco a qualquer estudo em ADC;

Foco na anlise de discursos a partir de categorias lingusticas: olhar sobre os textos concretos, focado nas questes de linguagem;

Articulao entre estes dois princpios anteriores: a anlise lingustica isolada das questes sociais vale to pouco quanto um olhar sociolgico desvinculado das problemticas lingustico-discursivas (RAMALHO & RESENDE, 2011).

Anlise do Discurso Crtica Relao Dialtica:

A linguagem, ao mesmo tempo em que moldada e constrangida pela estrutura social, tambm tem poder de interveno sobre essa estrutura, na medida em que constitui o mundo em significado.

A anlise e a crtica das questes sociais so importantes porque justificam a investigao dos textos e discursos;

A anlise lingustica importante porque alimenta a crtica e possibilita compreender os problemas sociais (RAMALHO & RESENDE, 2011).

Anlise do Discurso Crtica Relao Dialtica:

A linguagem, ao mesmo tempo em que moldada e constrangida pela estrutura social, tambm tem poder de interveno sobre essa estrutura, na medida em que constitui o mundo em significado.

A anlise e a crtica das questes sociais so importantes porque justificam a investigao dos textos e discursos;

A anlise lingustica importante porque alimenta a crtica e possibilita compreender os problemas sociais (RAMALHO & RESENDE, 2011).

ADC faircloughiana Teoria Social do Discurso (1992)

Dilogos com as Cincias Sociais (1999) Dilogos com a Lingustica Sistmico Funcional (2003)

Teoria Social do Discurso Discourse and Social Change (1992)

Teoria Social do Discurso Discurso como prtica social No atividade puramente individual, nem reflexo direto das

variveis situacionais. O discurso , ao mesmo tempo, uma forma de ao (sobre o mundo e sobre os outros) e uma forma de representao.

Relao dialtica: o discurso constrangido pela estrutura social, e tambm a constitui e transforma. discurso moldado e restringido pela estrutura social pela classe e por

outras relaes sociais, pelas relaes especficas em instituies particulares, por sistemas de classificao, normas e convenes.

trs aspectos fundamentais desse carter construtivo do discurso: construo (i) das identidades sociais; (ii) das relaes sociais entre as pessoas; e (iii) dos sistemas de conhecimento e crena.

Teoria Social do Discurso Evento discursivo deve ser explicado (e analisado)

a partir de trs dimenses: Num extremo, a prtica social, dimenso mais ampla

do evento discursivo que perpassada por (e revela) relaes de poder, hegemonia e ideologia;

No outro extremo, o texto, dimenso concreta e materializada linguisticamente

E, mediando s dimenses anteriores, a prtica discursiva, que envolve os processos de produo, distribuio e consumo do texto, processos sociocognitivos que se organizam a partir das configuraes da ordem do discurso.

Anlise do texto Aspectos ligados materialidade do texto

enquanto tal.

Explorao descritiva das relaes internas, em termos gramaticais, semnticos, etc.

Categorias: vocabulrio, gramtica, coeso e estrutura textual.

Vinculao terica com a Lingustica Sistmico Funcional (M.A.K. Halliday)

Anlise da prtica discursiva Analisar questes relacionadas produo,

circulao e consumo dos textos. Investigao dos recursos sociocognitivos de quem

produz, circula e interpreta os textos. a natureza desses processos varia entre diferentes

tipos de discurso de acordo com fatores sociais (FAIRCLOUGH, 2001, pp.106-107).

Trabalho mais interpretativo. Categorias: coerncia, fora ilocucionria,

intertextualidade e interdiscursividade.

Anlise da prtica social Explicar a relao que o texto desenvolve com as

prticas sociais mais amplas das quais ele constitui apenas uma parte, pensando esta questo em termos de ideologia e de hegemonia. O discurso o espao e o suporte das lutas sociais

marcadas pelo conflito seja para a sustentao das relaes de dominncia, seja para a resistncia a essa dominncia (GOMES, 2007a, pp. 17-18), sendo o discurso, portanto, o espao privilegiado da concretizao de ideologias e do desenvolvimento de lutas hegemnicas.

Dilogo com as Cincias Sociais Discourse in Late Modernity

(Chouliaraki & Fairclough, 1999)

Mudanas de foco... Discurso como prtica social?

Interesse mais aprofundado nas questes da linguagem e do discurso uma tendncia quase natural num campo de estudos que se vincula Lingustica.

Inclinao problemtica para uma proposta terico-metodolgica que se pretende dialtica.

Olhar para a prtica social em si: a partir de um olhar para a prtica social que se

pode ter uma compreenso mais clara do funcionamento e dos processos de construo de significado operados no e pelo discurso.

Prtica? modos habitualizados, ligados a tempos e

espaos particulares, em que as pessoas aplicam recursos (materiais ou simblicos) para agir

conjuntamente no mundo. Prticas so constitudas ao longo de toda a vida social em

domnios especializados da economia e da poltica, por exemplo, mas tambm no domnio da cultura,

incluindo a vida cotidiana.

(CHOULIARAKI & FAIRCLOUGH, 1999, p. 21).

Prtica social As prticas agregam elementos da vida social:

tipos particulares de atividades

condies materiais, temporais ou espaciais diferentes;

indivduos particulares, que trazem cargas de conhecimentos e experincias diferentes em relaes sociais tambm distintas;

formas lingusticas e semiticas diferentes, bem como diferentes modos de usar a linguagem, e assim por diante.

Momentos da Prtica (David Harvey)

Momentos da prtica Elementos que se configuram como partes de

prticas sociais particulares, funcionando de modo agregado.

So eles: discurso (momento lingustico/semitico):

relaes sociais,

atividade material

fenmeno mental (crenas, valores, ideologias).

Discurso como momento da prtica.

Momentos da prtica Interesses de Chouliaraki & Fairclough:

Quais as relaes entre o momento discursivo e os outros momentos da prtica?

Como o discurso se configura dentro das prticas sociais? Ou, de outro modo: como os textos se configuram enquanto discursos no nvel das prticas sociais?

Ordens do discurso: momentos encadeados de prticas sociais, isto , uma rede de

convenes e valores sociais e institucionais, estruturadas por relaes de poder dentro das instituies, que produzem diferentes

tipos de discurso, gneros discursivos e vozes [estilos], gerados atravs da inculcao e do ordenamento das prticas sociais.

(GOMES, 2007)

Momentos do momento discursivo Como o discurso se configura dentro das prticas

sociais? Atravs das ordens do discurso!

E quais so os elementos das ordens do discurso?

Gneros discursivos;

Discursos;

Estilos.

Esses elementos so como momentos internos ao prprio Momento Discursivo.

Dilogo com a Lingustica Sistmico Funcional

Analysing discourse: textual analysis for social research (Fairclough, 2003)

Antes de qualquer coisa... LSF? Teoria geral do funcionamento da linguagem humana,

concebida a partir de uma abordagem descritiva baseada no uso lingustico. (...) fornece descries plausveis sobre o

como e o porqu de a lngua variar em funo de e em relao com grupos de falantes e contextos de uso. Mas,

para alm de ser uma teoria de descrio gramatical, razo pela qual adquire muitas vezes a designao mais restrita

de Gramtica Sistmico-Funcional (GSF), ela fornece tambm instrumentos de descrio, uma tcnica e uma metalinguagem que so teis para a anlise de textos.

(GOUVEIA, 2009, p. 14) [grifos nossos]

Lingustica Sistmico Funcional Conceito importante: multifuncionalidade.

SISTMICO: lngua como sistema;

Possibilidades mais ou menos restritas de significao.

Diante das possibilidades, os sujeitos fazem escolhas.

Possibilidades + escolhas = texto.

FUNCIONAL: preocupao com o funcionamento do sistema lingustico

O sistema tem relao com as funes sociais da linguagem.

Em ltima instncia, as redes de escolhas correspondem a (meta)funes que a linguagem desempenha.

E ns com isso? Fairclough se apropria da noo de multifuncionalidade.

compreenses semelhantes sobre a linguagem;

Faz um processo de reconfigurao. objetivos diferenciados.

Em Discurso e Mudana Social (2001 [1992]), o autor j prope algumas recontextualizaes da perspectiva original de Halliday. Mas em Analysing Discourse (2003), que o autor cumpre a tarefa de aprofundar a rearticulao dos conceitos da LSF.

Os trs tipos de significado Lembram da pergunta?

Como o discurso se configura dentro das prticas sociais?

Lembram da resposta? Atravs das ordens do discurso!

Aqui, Fairclough d outra resposta: os usos cotidianos da linguagem so formas atravs das quais representamos, agimos/interagimos e (nos) identificamos (n)o mundo.

E o que a gente faz com os elementos das ordens do discurso? Mantm. A mesma coisa.

Os trs tipos de significado Como? Segundo o autor:

Gneros: formas de AO;

Discursos: formas de representao;

Estilos: formas de identificao;

Trs tipos de significado: Significado acional referente aos gneros;

Significado representacional referente aos discursos

Significado identificacional referente aos estilos

Por que significados em vez de funes?

Significado acional Analisar, no gnero:

o que as pessoas fazem, ou, de modo mais particular, o que as pessoas fazem discursivamente?

quais tipos de interao so estabelecidos atravs dos gneros?

existem processos de mudana e/ou hibridismo de gneros?

estas mudanas genricas indicam mudanas nas prticas sociais mais amplas?

os gneros so mediados por tecnologias comunicacionais? em que estas tecnologias interferem?

Significado representacional Analisar, nos discursos:

quais processos, participantes e/ou circunstncias so representados/excludos?

quando representados, quais so colocados em destaque?

como os atores sociais so representados?

existem processos de recontextualizao de determinados campos da vida social?

h metforas?

so feitas lexicalizaes?

Significado identificacional Analisar, nos estilos:

qual a relao aparente entre o falante/escritor e as informaes que expressa em seu texto?

como isso se expressa em termos de modalizao?

quais traos identitrios so perceptveis a partir desta relao?

h uma mistura significativa de estilos?

com quais valores o indivduo se compromete?

como estes valores so apresentados linguisticamente?

Sistema de Transitividade Gramtica Sistmico Funcional (FUZER & CABRAL, 2010 baseado em HALLYDAY & MATTHIESEN, 2004)

Tipo de processo Significado da

categoria Participantes Exemplos de verbos

Material Criativo Transformativo

fazer acontecer

Ator Meta Escopo Beneficirio Atributo

comprar, vender, mexer, pintar, cortar, quebrar, riscar, limpar, sujar, bater, matar

Mental Perceptivo Cognitivo Emotivo Desiderativo

perceber pensar sentir desejar

Experienciador Fenmeno

perceber, ouvir, ver, lembrar, esquecer, pensar, saber, gostar, odiar, amar, querer

Relacional Intensivo Possessivo Circunstancial

caracterizar identificar

Portador Atributo Identificado Identificador

ser (otimista) ser (o presidente) estar (em paz) ter (livros)

Comportamental comportar-se Comportante Comportamento

rir, chorar, dormir, cantar, bocejar

Verbal dizer

Dizente Verbiagem Receptor Alvo

dizer, perguntar, responder, contar, relatar, explicar

Existencial existir Existente haver, existir

Obrigado!

http://muriloaraujo.com murilodearaujo@yahoo.com.br