O mundo rumo à 4ª guerra mundial

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O MUNDO RUMO À 4ª GUERRA MUNDIAL?

Fernando Alcoforado*

No artigo Cientistas calculam probabilidade de uma quarta guerra mundial, publicado no website <https://br.sputniknews.com/portuguese.ruvr.ru/2013_04_12/Cientistas-calculam-probabilidade-de-uma-quarta-guerra-mundial/> é apresentada a tese de Serguei Malkov de que o mundo rumará na próxima década para a 4ª Guerra mundial. Segundo Serguei Malkov, membro da Academia das Ciências Militares e Professor da Universidade de Moscou, a próxima guerra mundial poderá ter início na próxima década, de acordo com a teoria dos ciclos longos de Kondratieff desenvolvida pelo economista soviético Nikolai Kondratieff.

Os ciclos de Kondratieff são períodos de desenvolvimento econômico da civilização moderna com uma duração de quarenta a sessenta anos. Nikolai Kondratieff delineou um total de seis ciclos que abarcam um período histórico entre os anos de 1803 e 2060. O quarto ciclo decorreu aproximadamente entre o fim da Segunda Guerra Mundial e a primeira metade dos anos 1980. Neste momento nós estamos a viver o quinto ciclo que, segundo as previsões de Kondratieff, deverá terminar em 2018. Os adeptos dessa teoria ligam cada ciclo econômico diretamente ao seu nível ou padrão tecnológico. Segundo Serguei Malkov, o período atual é caracterizado pelo desenvolvimento das telecomunicações e da robótica. O ciclo seguinte, o sexto, deverá ficar assinalado por um grande avanço da nanotecnologia, das biotecnologias e das tecnologias da informação e do conhecimento.

Cada ciclo é acompanhado por crises e guerras. O fim do ciclo atual e a transição para o padrão tecnológico seguinte será acompanhado pelo menos por uma fortíssima instabilidade política, ou mesmo por uma guerra mundial, na opinião do Professor da Universidade de Moscou Serguei Malkov. Nós nos encontramos agora na fase de crise que evoluiu para uma depressão e estamos à procura de possíveis saídas desse estado de depressão com o uso da nanotecnologia, biotecnologias, tecnologias da informação e ciências cognitivas. Mas este período é muito perigoso porque ainda não se vislumbra uma saída, enquanto já se acumularam as contradições. Nessa altura, normalmente, acontecem as guerras mundiais. Tanto as comerciais, financeiras, econômicas e políticas, como as guerras propriamente ditas. Acontece uma espécie de reordenamento do mundo.

Realmente, se considerarmos a teoria dos ciclos como um modelo a seguir, podemosverificar que, durante os dois últimos séculos, os acontecimentos mais sangrentos dahistória mundial ocorreram no final de cada uma das chamadas ondas de Kondratieff. Acrise já passou e agora estamos a nos aproximar do ponto fatal. Segundo as previsõesdos partidários da teoria de Kondratieff, o momento crítico irá ocorrer entre 2016 e2017. Na opinião de Malkov, neste momento os Estados Unidos estarão a perder as suasposições em todo o mundo. A instabilidade econômica mundial valorizará o dólar norte-americano e a instabilidade política aumentará a necessidade de os Estados Unidosatuarem como um árbitro internacional. Como os Estados Unidos já não conseguemsustentar a liderança mundial com base no seu poderio econômico, eles irão começar ausar para isso as suas ferramentas políticas, financeiras, tecnológicas e mesmo militares.Os norte-americanos estão simplesmente obrigados a provocar a instabilidade no mundopara manter seu poder mundial.

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Na era contemporânea, o xadrez geopolítico internacional aponta a existência de 3 grandes protagonistas: Estados Unidos, China e Rússia. Do confronto que se estabeleça no futuro entre estas 3 grandes potências militares poderão resultar cenários alternativos ao que se caracterizou pela hegemonia dos Estados Unidos na cena mundial desde o fim do mundo bipolar em que se confrontaram os Estados Unidos e a União Soviética. Tomando por base os 3 grandes protagonistas do xadrez geopolítico internacional contemporâneo, pode-se afirmar que os Estados Unidos têm por objetivo manter sua hegemonia mundial nos planos econômico e militar. Para alcançar este objetivo, as estratégias do governo norte-americano consistem, fundamentalmente, no seguinte: 1) impedir a Rússia de alçar à condição de grande potência mundial e, 2) barrar a ascensão da China como potência econômica hegemônica do planeta. Na prática, o governo dos Estados Unidos quer evitar o enfrentamento no futuro de dois gigantes: a Rússia e a China. Michael Klare, professor de estudos sobre paz e segurança mundiais no Hampshire College, em Amherst, Masachusetts, e autor do recém lançado Rising powers, shrinking planet; the new geopolitics of energy, publicado nos Estados Unidos pela Metropolitan Books, e no Reino Unido pela One World Publications, afirma em artigo de sua autoria Washington analisa cenários para uma “guerra aberta”, publicado no website <http://www.diplomatique.org.br/artigo.php?id=2167>, que conflitos significativos contra potências nucleares como a Rússia e a China é o que os estrategistas ocidentais vislumbram no futuro, como ocorreu no auge da Guerra Fria.

Segundo Klare, hoje, existe aumento das tensões nas relações entre a Rússia e o Ocidente, cada um observando o outro na espera de um enfrentamento. Em Bruxelas, como em Washington, durante muitos anos a Rússia deixou de ser uma prioridade nos programas de defesa. Mas esse não será mais o caso no futuro. Hoje, os Estados Unidos e a União Europeia consideram que é preciso concentrar novamente as preocupações na eventualidade de um confronto com Moscou. Klare afirma que o conflito vislumbrado teria mais chances de ocorrer na frente leste da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), englobando a Polônia e os países bálticos, com armas convencionais de alta tecnologia. Mas poderia se estender até a Escandinávia e o entorno do Mar do Norte, e levar ao recurso de armas nucleares. Os estrategistas norte-americanos e europeus recomendam, portanto, um reforço das capacidades em todas essas regiões e desejam consolidar o crédito da opção nuclear da Otan.

O novo orçamento militar dos Estados Unidos marca uma mudança de orientação principal. Enquanto nos últimos anos os Estados Unidos davam prioridade às “operações anti-insurrecionais em grande escala”, eles devem agora se preparar para um “retorno da rivalidade entre grandes potências”, sem descartar a possibilidade de um conflito aberto com um “inimigo de envergadura”, como a Rússia ou a China. A Rússia e a China são os “principais rivais” dos Estados Unidos, segundo Klare, porque eles possuem armas muito sofisticadas para neutralizar algumas das vantagens dos norte-americanos que precisa mostrar que tem a capacidade de causar perdas intoleráveis a um agressor bem equipado, para dissuadi-lo de executar manobras provocadoras ou fazê-lo se arrepender amargamente caso venha a lançá-las. Tal objetivo exige reforço da capacidade norte-americana de se contrapor a um hipotético ataque russo às posições da Otan no Leste Europeu. A instalação de quatro batalhões na Polônia e nos países bálticos é ainda mais notável quando se pensa que será a primeira guarnição semipermanente de forças multinacionais da Otan no território da ex-União Soviética.

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Theresa May, nova primeira-ministra britânica, obteve o aval de seu Parlamento para a preservação e o desenvolvimento do programa de mísseis nucleares Trident, afirmando que a ameaça nuclear não desapareceu, pelo contrário, acentuou-se. Para justificarem a preparação de um conflito maior contra um “inimigo de envergadura”, os analistas norte-americanos e europeus invocam quase sempre a agressão russa na Ucrânia e o expansionismo de Pequim no Mar da China Meridional. Nessa nova era de “rivalidade entre as grandes potências”, a força de ataque norte-americana parece menos temível do que antes, enquanto a capacidade das potências rivais não para de aumentar. As manobras de Moscou na Crimeia e no leste da Ucrânia e as forças ativas na Crimeia e na Síria mostram que a Rússia deu passos de gigante no desenvolvimento de sua capacidade de utilizar sua força de maneira eficaz.

Da mesma forma, ao transformar recifes e atóis do Mar da China Meridional em ilhotas suscetíveis de abrigar instalações importantes, Pequim provocou surpresa e preocupação nos Estados Unidos, que por muito tempo consideraram essa zona um “lago norte-americano”. Os ocidentais estão impressionados com a potência crescente do Exército chinês. Washington desfruta hoje uma superioridade naval e aérea na região, mas a audácia das manobras chinesas sugere que Pequim se tornou um rival que não pode ser negligenciado. Os estrategistas não enxergam nenhum outro recurso senão preservar uma ampla superioridade a fim de impedir futuros concorrentes potenciais de prejudicar os interesses norte-americanos. Daí as ameaças insistentes de um conflito maior, que justificariam as despesas suplementares no armamento hipersofisticado que um “inimigo de envergadura” exige.

Klare afirma que somas fabulosas são consagradas à aquisição de equipamentos de ponta aptos a ultrapassar os sistemas russos e chineses de defesa e a reforçar as capacidades norte-americanas nas zonas potenciais de conflito, como o Mar Báltico ou a região oeste do Pacífico. O Pentágono também vai comprar submarinos (da classe Virginia) e destróieres (Burke) suplementares para enfrentar os avanços chineses no Pacífico. Ele começou a implantar seu sistema antimíssil de última geração, o Thaad (Terminal High Altitude Area Defense), na Coreia do Sul. Oficialmente, trata-se de enfrentar a Coreia do Norte, mas também é possível perceber que esta decisão visa fazerfrente à ameaça representada pela China.

É altamente improvável que Donald Trump renuncie à preparação de um conflito com a China ou a Rússia. Trump repetiu várias vezes que pretende reconstruir as capacidades militares “esgotadas” do país. A intimidação e os treinamentos militares em zonas sensíveis como o Leste Europeu e o Mar da China Meridional podem se tornar a nova norma, com os riscos de escalada involuntária que isso implica. Washington, Moscou e Pequim, de qualquer forma, anunciaram que instalariam nessas regiões forças suplementares e conduziriam exercícios ali. A abordagem ocidental desse tipo de conflito maior conta igualmente com numerosos apoiadores na Rússia e na China. O problema não se resume, portanto, a uma oposição Leste-Oeste: a eventualidade de uma guerra aberta entre grandes potências se espalha nas mentes e leva os tomadores de decisão a se prepararem para ela.

A escalada de uma possível 4ª Guerra Mundial pode ser utilizada como uma saída para a crise geral do sistema capitalista mundial que eclodiu em 2008 nos Estados Unidos como ocorreu com o advento da 1ª Guerra Mundial após a depressão de 1873, da 2ª Guerra Mundial após a depressão de 1929 e da 3ª Guerra Mundial (Guerra Fria) para fazer frente ao sistema socialista liderado pela União Soviética após 1945. Pelo

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exposto, poderá se concretizar a previsão do professor Malkov da Rússia sobre o advento de uma nova guerra mundial com base nos ciclos longos de Kondratieff .

*Fernando Alcoforado, 77, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento(Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015) e As Grandes Revoluções Científicas, Econômicas e Sociais que Mudaram o Mundo(Editora CRV, Curitiba, 2016). Possui blog na Internet (http://fernando.alcoforado.zip.net). E-mail: [email protected].