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Rev. Belas Artes, N.27, Mai-Ago, 2018 Submetido em Novembro de 2017, Aprovado em Janeiro de 2018, Publicado em Maio 2018 1 1 O USO DE SIMULAÇÕES NO CURSO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS DA BELAS ARTES Dra. Tamya Rocha Rebelo 1 RESUMO O artigo tem o objetivo de apresentar as experiências e percepções dos alunos do curso de Relações Internacionais do Centro Universitário Belas Artes com exercícios de simulação. Para tanto, um questionário foi distribuído e 27 respostas foram analisadas qualitativamente. A pesquisa revelou que grande parte dos estudantes possui uma impressão positiva com relação aos ganhos obtidos com o uso dessa ferramenta de ensino. Em particular, eles acreditam que as simulações os ajudam não apenas a compreender conceitos abstratos, mas também a conectá- los com eventos, processos e atores internacionais. PALAVRAS-CHAVE: Simulação. Aprendizado Ativo. Relações Internacionais. ABSTRACT The article aims to discuss the experiences and perceptions of students from the course of International Relations of the Centro Universitário Belas Artes de São Paulo with simulation exercises. Regarding the data collection, a survey questionnaire was distributed, and a total of 27 responses were quantitatively analyzed. The research shows that the majority of the students had a positive impression toward using simulation in the course of International Relations. In particular, they state that simulations have helped them not only to have a better understanding of abstract concepts but also of international events, processes and actors. KEYWORDS: Simulation. Active Learning. International Relations. INTRODUÇÃO O curso de Relações Internacionais é relativamente novo no Brasil, tendo despertado atenção de boa parte das universidades, públicas e privadas, a partir dos anos 2000. O surgimento desta área, contudo, remonta ao período posterior à Primeira Guerra Mundial, a partir de um interesse específico na compreensão das causas desta guerra e nas ações a serem tomadas pelos Estados para impedir a recorrência de conflitos similares. Como resultado, a essência da disciplina foi atrelada à esfera “internacional”, abrangendo predominantemente as 1 Doutora em Relações Internacionais pela Universidade de São Paulo (USP) e professora do curso de Relações Internacionais do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo.

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Submetido em Novembro de 2017, Aprovado em Janeiro de 2018, Publicado em Maio 2018

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O USO DE SIMULAÇÕES NO CURSO DE RELAÇÕES

INTERNACIONAIS DA BELAS ARTES

Dra. Tamya Rocha Rebelo1

RESUMO

O artigo tem o objetivo de apresentar as experiências e percepções dos alunos do curso de

Relações Internacionais do Centro Universitário Belas Artes com exercícios de simulação. Para

tanto, um questionário foi distribuído e 27 respostas foram analisadas qualitativamente. A

pesquisa revelou que grande parte dos estudantes possui uma impressão positiva com relação

aos ganhos obtidos com o uso dessa ferramenta de ensino. Em particular, eles acreditam que as

simulações os ajudam não apenas a compreender conceitos abstratos, mas também a conectá-

los com eventos, processos e atores internacionais.

PALAVRAS-CHAVE: Simulação. Aprendizado Ativo. Relações Internacionais.

ABSTRACT

The article aims to discuss the experiences and perceptions of students from the course of

International Relations of the Centro Universitário Belas Artes de São Paulo with simulation

exercises. Regarding the data collection, a survey questionnaire was distributed, and a total of

27 responses were quantitatively analyzed. The research shows that the majority of the students

had a positive impression toward using simulation in the course of International Relations. In

particular, they state that simulations have helped them not only to have a better understanding

of abstract concepts but also of international events, processes and actors.

KEYWORDS: Simulation. Active Learning. International Relations.

INTRODUÇÃO

O curso de Relações Internacionais é relativamente novo no Brasil, tendo despertado

atenção de boa parte das universidades, públicas e privadas, a partir dos anos 2000. O

surgimento desta área, contudo, remonta ao período posterior à Primeira Guerra Mundial, a

partir de um interesse específico na compreensão das causas desta guerra e nas ações a serem

tomadas pelos Estados para impedir a recorrência de conflitos similares. Como resultado, a

essência da disciplina foi atrelada à esfera “internacional”, abrangendo predominantemente as

1 Doutora em Relações Internacionais pela Universidade de São Paulo (USP) e professora do curso de Relações

Internacionais do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo.

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interações entre atores estatais para além das fronteiras territoriais. O que outorgou

especificidade à formação do profissional desta área, naquele momento, foi a busca pela

compreensão dos determinantes, objetivos e recursos dos países de modo que previsões

pudessem ser apresentadas sobre as políticas estatais.

A partir da década de 1990, com o final da Guerra Fria, o estudo centrado nas relações entre

os Estados passou a ser fortemente questionado por não incorporar objetos e dinâmicas

importantes para uma compreensão satisfatória do ambiente internacional. A disciplina tinha

sido concebida inicialmente para analisar ações governamentais, tendo o Estado como o ator

central. Contudo, diversos atores (organizações internacionais, empresas transnacionais,

governos subnacionais e indivíduos) passaram a desenvolver estratégias próprias com efeito

em níveis doméstico e internacional, tornando-se objetos de estudo válidos da disciplina de RI.

A reestruturação da política mundial, bem como os desdobramentos de fenômenos sociais,

culturais, políticos e econômicos nas diversas sociedades, justificaram a necessidade de

ampliação de fundamentos teórico-conceituais. Isto é, o aprimoramento do conhecimento

mostrou-se crucial para a elaboração de novas análises pelo profissional da área.

Nas últimas décadas, a disciplina de RI evoluiu de maneira dinâmica, ampliando e

diversificando a sua abrangência, os tipos de temas e as suas bases conceituais. Isso não

significa que se tenha abandonado as análises com foco no Estado. Pelo contrário, buscou-se o

aperfeiçoamento das ferramentas utilizadas para que também fosse possível aplicá-las à análise

de situações não protagonizadas pelo ator estatal. Na medida em que houve a diversificação das

lentes conceituais e teóricas aplicadas pelo pesquisador, temas importantes foram

contemplados, como os processos de cooperação internacional, o funcionamento de

organizações internacionais, as decisões de política externa e as dinâmicas de participação de

atores transnacionais na arena global. Deste modo, a ampliação do foco da disciplina,

considerando a interação de variados atores dentro e fora das fronteiras do Estado, relevou as

complexidades da arena global.

Quando um estudante ingressa no curso de RI nos dias de hoje, espera-se que ele entenda

este quadro e consiga adquirir uma visão abrangente de seu objeto de trabalho. Muito embora

para muitas universidades a especificidade da disciplina continue a ser o plano exterior,

conferindo destaque às relações entre países, é possível notar a expectativa de que o

internacionalista também tenha contato com uma visão plural, que contemple a riqueza de

abordagens presentes na área. Especificamente, de acordo com o Art. 4º da Minuta de Diretrizes

Curriculares Nacionais para os Cursos de Graduação em Relações Internacionais,

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O Curso de Graduação em Relações Internacionais deve possibilitar a

formação de egresso que revele, pelo menos, as seguintes competências e

habilidades relacionadas a concepção, gerenciamento, gestão e organização

de atividades com interface internacional: I – Formação geral e humanística

que possibilite a compreensão das questões internacionais no seu contexto

político, econômico, histórico, geográfico, estratégico, jurídico, cultural e

social; II - Base cultural ampla que forneça recursos para uma compreensão

adequada de temas internacionais; III - Postura crítica com relação a

argumentos, evidências, discursos e interpretações com relação tanto a

eventos e processos internacionais quanto a abordagens, teorias e perspectivas

em Relações Internacionais; IV – Postura proativa na busca de

conhecimentos; V - Domínio das habilidades relativas à efetiva comunicação

e expressão oral e escrita em língua portuguesa; VI – Conhecimento ou

habilidade de comunicação em língua estrangeira, em especial em língua

inglesa; VII - Capacidade de pesquisa, análise, avaliação e formulação de

cenários para atuação na esfera internacional; VIII - Capacidade de tomada de

decisões; planejamento, condução, análise e avaliação de negociações, e de

resolução de problemas numa realidade diversificada e em constante

transformação; IX – Capacidade de formular, negociar e executar projetos de

cooperação internacional e de captação de recursos externos. (art. 4, Minuta

de Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de Graduacao em

Relacoes Internacionais)

A questão que se coloca, portanto, e a de como facilitar o alcance destas competências e

habilidades com vistas a preparar o internacionalista para enfrentar os desafios de uma área de

estudo em constante transformação. As leituras acadêmicas, inegavelmente, pautam os

primeiros contatos dos estudantes com as particularidades da disciplina e ajudam a sanar

algumas de suas inquietações iniciais. Entretanto, pesquisas sobre recursos de aprendizagem

têm reiterado que o ensino das matérias pode ser aprimorado pelo uso de simulações

(CARUSON, 2005; CLARK et al., 2017; ENGEL et al., 2017; INOUE, VALENÇA, 2017;

SHELLMAN, TURAN, 2006). Ao oferecer ao aluno a possibilidade de aplicar fundamentos

teórico-conceituais em situações fictícias, criam-se inúmeras oportunidades para o

desenvolvimento de seus estudos e melhor entendimento de suas motivações profissionais

(INOUE; VALENÇA, 2017, p. 2).

Dialogando com esses estudos, este artigo tem o objetivo de apresentar a experiência e

implicações derivadas da utilização de simulações de eventos internacionais no curso de

Relações Internacionais do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo. Essa metodologia

permite a elaboração de maneiras alternativas para se pensar em uma gama de conceitos e

questões, incluindo poder, formação de alianças, intervenção militar, paz e organizações

internacionais. Com isso, o artigo se propõe a explorar não apenas os benefícios da aplicação

das simulações em cursos de RI, como também compartilhar as percepções dos alunos em

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relação ao progresso em sua capacidade de retenção do conhecimento a partir desta estratégia

de aprendizado.

Para tanto, o texto é dividido em três partes. Na primeira seção, são apresentados alguns

estudos que ressaltam os ganhos obtidos a partir da utilização de simulações em cursos de

ensino superior, em particular no campo das Relações Internacionais. Em seguida, apresentam-

se a organização e estrutura das simulações desenvolvidas no Centro Universitário Belas Artes

de São Paulo. Na terceira parte, analisa-se, a partir das respostas obtidas mediante um

questionário, como os estudantes da instituição interpretaram os exercícios. Por fim, algumas

considerações finais são feitas sobre a temática em questão.

A SIMULAÇÃO COMO METODOLOGIA DE APRENDIZAGEM ATIVA

Tradicionalmente, nas aulas expositivas, o conhecimento está centrado na imagem de um

instrutor. Nesse contexto, o professor apresenta suas ideias e os alunos escutam, geralmente de

modo passivo, as informações que lhes são transmitidas. Espera-se, nesse cenário, que os

estudantes tomem notas sobre o conhecimento que foi compartilhado para reproduzir as

informações durante a avaliação.

Nas últimas décadas, observa-se uma mudança na forma como as universidades e os

professores encaram o processo de aprendizagem. Se durante muito tempo houve um enfoque

no método tradicional, centrado no professor, atualmente há um esforço para o

desenvolvimento de estratégias diversificadas, que envolvam o aluno na construção de seu

conhecimento. Em concordância com Brock e Cameron (1999, p. 251), os indivíduos aprendem

e processam informações de formas distintas e, portanto, ainda que as aulas expositivas sejam

estratégias importantes e necessárias, elas têm se tornado insuficientes. Nesse sentido, as

simulações podem ser de grande valia.

As simulações são atividades de metodologia de aprendizado ativo destinadas à melhoria

da capacidade de apreensão do conhecimento dos estudantes, bem como de suas qualidades

pessoais e habilidades participativas. Na área de RI, os alunos geralmente desempenham o papel

de tomadores de decisão e deliberam sobre questões de política internacional, (re)criando

situações análogas a acontecimentos internacionais. O emprego deste exercício permite que o

aluno enfrente desafios e ofereça soluções diante de contextos variados. Muitas vezes, o recurso

é visto como complementar ao conteúdo ministrado em aulas expositivas e dialogadas, um meio

de facilitar a construção de conexões entre conceitos e teorias com fenômenos do mundo real.

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Por ser tradicionalmente voltada para os assuntos “de fora”, isto e, com o enfoque nos

fenômenos que ultrapassam as fronteiras estatais, a disciplina de RI se diferencia de forma

marcante do resto das áreas de Ciências Humanas. Por conta das particularidades da área, as

matérias introdutórias geralmente apresentam um vocabulário especializado, abrangendo

conceitos e teorias a serem aplicados pelo profissional ao longo de sua jornada acadêmica. O

termo soberania, por exemplo, ocupa lugar central nos estudos, referindo-se à autoridade

máxima de um Estado para decidir sobre seus assuntos domésticos e a sua independência para

tomar decisões no sistema internacional. É importante entender que os Estados, unidades

soberanas, estão inseridos em um sistema anárquico, outro conceito-chave da disciplina. Isso

supõe que não existe nenhuma autoridade suprema, que se coloque acima dos atores estatais e

imponha decisões e regras a todos, fazendo com que cada um tenha que lutar por sua própria

sobrevivência. Tanto soberania como anarquia são conceitos abstratos, nem sempre fáceis de

apreensão para alunos pouco familiarizados com esse repertório.

O uso de simulações tem se tornado popular entre professores que buscam formas dinâmicas

de ensino, tanto para ensinar termos complexos, como os supracitados soberania e anarquia,

como para ajudar os alunos a entender as grandes transformações observadas na

contemporaneidade (ENGEL et al., 2017, p. 171). As relações internacionais não são estáticas,

e têm se caracterizado cada vez mais pela interdependência entre os Estados e pelo aumento da

importância de atores não estatais. As transformações no que se referem à emergência de novos

temas e atores têm se destacado na agenda internacional, colocando em destaque processos

como migrações, refúgio, saúde global, democracia, etc. De modo particular, espera-se que os

profissionais da área de RI entendam essas dinâmicas, mostrando-se capazes de analisar o papel

de diferentes atores (Estados, Organizações Não Governamentais, empresas, entre outros), suas

interações e implicações na formulação e implementação de políticas em níveis locais,

nacionais e globais.

No tocante à viabilidade da utilização da simulação para atender a essas demandas, estudos

mostram que existem técnicas a serem aplicadas para tornar as simulações em uma ferramenta

pedagógica útil (CROOKALL, 1995; NEWMANN; TWIGG, 2000). Outros trabalhos

defendem que as simulações ajudam a desenvolver certas habilidades necessárias para os

profissionais da área. Essa literatura enfatiza que as simulações oferecem meios para que os

participantes ganhem mais confiança acerca de seus posicionamentos em negociações e

processos políticos (CARUSON, 2005; NEWMANN; TWIGG, 2000). Ainda, trabalhos como

o de Clark et al (2017, p. 6) atestam que esse tipo de exercício fomenta o interesse dos

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estudantes pelo assunto tratado na simulação, estimulando seu envolvimento com temas de

política internacional de forma geral.

No que se refere aos efeitos obtidos a partir do uso de simulações, a literatura revela que o

emprego de simulações confere centralidade aos alunos no processo de ensino-aprendizagem.

Essa atividade de metodologia ativa, além de incentivar a autonomia do aluno para pensar e

propor soluções para problemas do cotidiano, consegue estimular a oratória e escrita,

necessárias para as discussões exigidas pela dinâmica (NEWMANN; TWIGG, 2000). Nesse

sentido, o aluno consegue assumir o protagonismo de seu desenvolvimento acadêmico, tendo

o professor o papel de garantir a condução das aprendizagens necessárias. Nas simulações, o

professor se torna um tutor, responsável pela mediação das discussões no grupo. Logo, são os

alunos quem irão prover as respostas.

Durante as dinâmicas, os estudantes também conseguem explorar “suas emocoes e sentidos,

colocando-se na pele daqueles atores que interpretam” (INOUE; VALENÇA, 2017). Esse tipo

de exercício valoriza o espaço onde os estudantes podem aprender a lidar com opiniões

contrárias às suas, desenvolvendo a capacidade de reagir de modo adequado a posições

divergentes (NEWMANN; TWIGG, 2000). Assim, as experiências vividas a partir da

reprodução de funções e situações internacionais despertam sensações que podem modificar as

relações dos alunos com seus pares e com o processo de construção de seu conhecimento. Como

afirmam Inoue e Valença (2017, p.7).

Ao representarem indivíduos, ou construírem cenários onde decisões e

modelos são constituídos, eles proporcionam certo grau de autonomia aos

estudantes para decidirem como agir, construindo, assim, seu ambiente de

aprendizado. Não ha, contudo, a exclusão de leituras, análises e discussão de

textos. Apesar desta caracterização mais lúdica, o material de apoio

tradicional se torna importante na medida em que fundamenta, justifica e

delimita os padrões de atuação e de resposta.

Esta seção buscou apresentar estudos que abordam os efeitos do uso simulação em cursos

de ensino superior, ressaltando os benefícios que este exercício oferece aos alunos. No caso

específico da disciplina de RI, os estudantes conseguem enfrentar dilemas comuns da prática

política, explorando e aperfeiçoando competências necessárias para exercer sua profissão.

Ainda, por meio dessa metodologia ativa, espera-se que o estudante adquira uma ideia mais

abrangente de seu objeto de trabalho, refinando análises referentes ao que atualmente se

entender por “internacional”.

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A EXPERIÊNCIA DO CURSO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS DA BELAS

ARTES

No Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, as simulações foram aplicadas em

várias matérias do curso de Relações Internacionais, dentre as quais se destacam para os

propósitos deste estudo: Análise de Política Externa, Estratégia e Segurança Internacional e

Negociações Internacionais. O exercício, previsto no Plano de Ensino, tinha o propósito central

de facilitar o processo de aprendizagem do conteúdo compartilhado em aulas expositivas.

Especificamente, as atividades foram preparadas para atingir três metas: compreensão de

conceitos e teorias apresentados no curso; elaboração de soluções para problemas complexos;

e desenvolvimento de relações interpessoais. Todas as dinâmicas propostas foram

supervisionadas e orientadas pela docente responsável pelas disciplinas, de modo a garantir um

ambiente propício à reflexão crítica e analítica dos estudantes.

As simulações foram realizadas de 2016 até o primeiro semestre de 2018. Todos os alunos

foram convocados a participar, visto que era parte da nota atribuída para cada bimestre. As

simulações consistiram na recriação de circunstâncias relativas às políticas doméstica e externa

dos Estados, sempre conectadas a eventos mundiais, tais como: crise do mísseis de Cuba,

negociações do acordo nuclear do Irã, intervenção militar na Líbia, a revolução na Ucrânia e o

Zika vírus e o papel das ONGs internacionais. A situação-problema e o cenário foram pensados

e desenvolvidos pela professora responsável, com base em textos jornalísticos e acadêmicos.

Os grupos, formados por alunos com diferentes níveis de conhecimento, variavam de 3 a 5

alunos, dependendo do tamanho da turma.

Cada simulação funcionou em duas etapas. A primeira etapa refere-se à fase de preparação

dos alunos, momento em que eles coletaram e analisaram informações sobre os atores

representados (Estados, Organizações Intergovernamentais, Organizações Não

Governamentais, empresas, indivíduos, entre outros). O componente de pesquisa foi crucial

para o desenvolvimento da atividade, pois permitiu contato prévio dos alunos com a história e

particularidades dos atores reproduzidos. Para tanto, os alunos foram estimulados a usar o

computador na aquisição e análise de dados

A título de exemplo, na simulação sobre a intervenção militar na Líbia, os grupos receberam

seus “papeis” uma semana antes e foram orientados a estudar o material de apoio

disponibilizado pelo professor. Constava, neste material de apoio, informações relacionadas

aos protestos que ocorreram na Líbia em 2011, que foram seguidos pelo levante armado por

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dissidentes do regime de Muammar Kadafi. Com base no exposto, os alunos tomaram ciência

de que a comunidade internacional se manifestou contra as hostilidades e o Conselho de

Segurança das Nações Unidas (CSNU) convocou seus membros para decidir acerca da postura

a ser adotada. Cada grupo de estudantes representou uma delegação estatal, membro

permanente do CSNU. Após receberem a instrução de qual país iriam representar (Estados

Unidos, China, Rússia, França e Grã-Bretanha), os alunos ficaram encarregados de pesquisar

sobre as particularidades de sua delegação (histórico de votos no Conselho de Segurança, tom

dos discursos apresentados, interesses na situação da Líbia, etc).

A segunda etapa consistiu na simulação propriamente dita. Nesse momento, os alunos

foram instruídos a aplicar conceitos e teorias na construção de seu posicionamento diante do

“problema” apresentado. Em todas as simulações aplicadas, a problemática foi entregue antes

no início da aula, explicitando o assunto a ser debatido e o número de “rodadas” que os alunos

deveriam cumprir para finalizar o exercício. A professora ficou responsável pela condução das

dinâmicas, conferindo o espaço de fala a um representante de cada grupo por rodada. Além

disso, a professora fez pequenas intervenções quando necessário, indagando, por exemplo,

sobre conceitos importantes e sua relação com os posicionamentos dos jogadores.

No caso específico da simulação sobre a Líbia, os alunos ficaram encarregados de decidir

sobre a viabilidade de uma intervenção militar. Os participantes foram orientados a tomar

decisões levando em consideração não apenas os constrangimentos domésticos e institucionais,

como também a conjuntura internacional. Para os propósitos do exercício, eles assumiram o

posicionamento da sua delegação e agiram de acordo com os protocolos diplomáticos do

Conselho de Segurança em quatro rodadas.

No primeiro instante, os grupos apresentaram sua posição em relação à derrubada do regime

de Muammar Kadafi e a possibilidade de um país ou organização assumir controle territorial e

político sobre a Líbia. Os alunos, nesse contexto, precisavam sobre a viabilidade de uma

intervenção militar e como justificá-la perante à comunidade internacional. Na segunda rodada,

o objetivo era o de familiarizar os alunos com os dilemas de tomada de decisões, muitas vezes

pautada por interesses nacionais específicos. Uma vez que o resultado da primeira rodada foi a

favor da intervenção militar, os grupos foram orientados a se pronunciar sobre a natureza dessa

ação. Para tanto, os grupos dialogaram com vistas a refletir sobre quais eram as iniciativas

viáveis diante dos constrangimentos existentes. Foram instruídos, ainda, a deliberar sobre

aspectos importantes da intervenção, como o financiamento e a logística operacional. A terceira

rodada foi dedicada à votação dos membros permanentes do CSNU. Por fim, no último

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momento do exercício, os grupos redigiram uma resolução, justificando a necessidade do

emprego da força militar neste caso.

É importante frisar que os casos foram elaborados com o intuito de recriar processos

complexos de tomada de decisões. Tendo em mente os objetivos de cada ator, bem como a

disponibilidade de recursos, os grupos optaram por agir de formas diferentes em relação ao

problema apresentado.

A literatura sobre metodologia ativa enfatiza que atividades interativas e centradas no aluno

melhoram os resultados da aprendizagem, aprimorando o processamento cognitivo dos alunos

e promovendo sua capacidade de identificar ligações entre distintos conceitos

(OMELICHEVA; AVDEYEVA, 2008). Nos exercícios de simulação aplicados na Belas Artes,

os alunos produziram análises de estratégia, defesa e política externa, tentando estabelecer

conexões entre a abstração teórica e a prática política. Os estudantes foram instigados a

experimentar, adaptar e alterar estratégias e táticas durante a dinâmica, considerando os

constrangimentos existentes e as consequências de suas decisões. Ao serem expostos a

situações complexas, eles refletiram sobre as suas escolhas e consequente implicações.

RESULTADOS ALCANÇADOS

Um questionário, contendo 12 perguntas relacionadas aos exercícios de simulação, foi

elaborado para avaliar as percepções dos participantes, com um total de 27 respostas. As

perguntas feitas aos alunos foram desenvolvidas com base no estudo de Shellman e Turan

(2006, p. 6), que utilizaram o mesmo método para avaliar se a prática de simulação melhora o

conhecimento dos alunos sobre relações internacionais. Conforme observado na Tabela I, o

aluno foi solicitado a ranquear de uma escala de 05 (alto) e 01 (baixo), a utilidade das

simulações para ampliar seu conhecimento teórico-conceitual sobre o campo de RI. O objetivo

desse levantamento era o de entender como os participantes interpretaram as atividades

empregadas em sala de aula, particularmente como eles percepcionam os processos de

assimilação de conceitos, teorias e processos próprios da RI por meio do uso de simulações.

Tabela I. Perguntas relacionadas às simulações aplicadas aos estudantes de Relações

Internacionais do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo

PERGUNTAS 5 4 3 2 1

De uma escala de 1 (baixo) a 5 (alto), o quanto a

simulação melhorou seu conhecimento sobre a

disciplina de Relações Internacionais? ☐ ☐ ☐ ☐ ☐

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Fonte: Elaboração própria com base em Shellman e Turan (2006, p. 6)

Um dos principais ganhos alcançados pelo emprego desta metodologia, segundo o

questionário, foi a percepção de que esse tipo de atividade deve ser aplicada em outras matérias

do curso de RI da Belas Artes. Com esse feedback, é possível inferir que os alunos valorizam

a oportunidade de trabalhar com práticas de metodologia ativa. No que se refere ao conteúdo

ministrado, boa parte dos alunos apontaram que as atividades de simulação foram ferramentas

De uma escala de 1 (baixo) a 5 (alto), o quanto a

simulação melhorou seu conhecimento sobre

teorias das Relações Internacionais, indo além das

leituras e discussões em sala de aula?

☐ ☐ ☐ ☐ ☐

De uma escala de 1 (baixo) a 5 (alto), o quanto a

simulação melhorou seu conhecimento sobre

conceitos das Relações Internacionais, indo além

das leituras e discussões em sala de aula?

☐ ☐ ☐ ☐ ☐

De uma escala de 1 (baixo) a 5 (alto), o quanto a

simulação melhorou seu conhecimento sobre

organizações internacionais e seus processos,

indo além das leituras e discussões em sala de

aula?

☐ ☐ ☐ ☐ ☐

De uma escala de 1 (baixo) a 5 (alto), o quanto a

simulação (e seu preparo prévio) melhorou seu

conhecimento sobre o país ou organização que

você representava (economia; governo; situação

política; políticas)?

☐ ☐ ☐ ☐ ☐

De uma escala de 1 (baixo) a 5 (alto), o quanto a

simulação melhorou/desenvolveu suas habilidades

de reflexão analíticas e críticas (capacidade de

solução de problemas, habilidades de negociação,

criatividade, etc?)

☐ ☐ ☐ ☐ ☐

De uma escala de 1 (baixo) a 5 (alto), o quanto

você gostou da atividade de simulação? ☐ ☐ ☐ ☐ ☐

De uma escala de 1 (baixo) a 5 (alto), o quanto a

tecnologia (vídeos, relatórios da mídia, etc)

melhorou sua experiência com a atividade de

simulação?

☐ ☐ ☐ ☐ ☐

Você gostou da atividade de simulação? ☐ ☐ ☐ ☐ ☐

Avalie o exercício de simulação comparado a

outras atividades que você desenvolve em sua

faculdade a partir de uma escala de 1 a 5, sendo 5

a melhor atividade e 1 a pior.

☐ ☐ ☐ ☐ ☐

Você recomendaria a utilização da simulação

como uma ferramenta de aprendizagem

importante em outras disciplinas?

Eu não

recomendo

o uso da

simulação

em outras

disciplinas

Eu

recomendo

o uso da

simulação

em cursos

futuros

Eu

fortemente

recomendo

o uso da

simulação

em cursos

futuros

Você pensou em mudar de curso após participar

de atividades envolvendo simulações? Sim Não

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úteis. Do total de 27 respostas, 21 alunos atribuíram nota máxima para o desenvolvimento da

atividade de simulação e todos recomendaram o seu uso em cursos futuros, como ilustra a figura

abaixo.

Do ponto de vista pedagógico, o questionário aponta que o exercício de simulação é

compreendido pelos estudantes como um caminho de aprendizagem, uma atividade consciente

de construção do conhecimento. Na tentativa de subsidiar a solução de problemas do mundo

real, a simulação trabalha com experiências próximas ao que os alunos vão encontrar em suas

vidas profissionais. Por isso, essa metodologia ajuda a combinar teoria e prática e dessa

articulação é possível proporcionar ao aluno uma visão mais apurada da cena internacional.

Para a maioria dos estudantes, como visto abaixo, a simulação facilitou o processo de apreensão

de conhecimento sobre a disciplina de Relações Internacionais, principalmente sobre

particularidades de países ou organizações, como economia, governo e situação política.

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Submetido em Novembro de 2017, Aprovado em Janeiro de 2018, Publicado em Maio 2018

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Interessante frisar que um dos pontos principais da aplicação desta atividade é a de

permitir que os estudantes tenham a oportunidade de aplicar conceitos e teorias em situações

recorrentes da área de RI. O arcabouço teórico-conceitual da disciplina, encontrado em livros e

artigos acadêmicos, nem sempre é de fácil assimilação. Ainda, é importante enfatizar que

muitos alunos não respondem de forma satisfatória às abordagens convencionais, enfrentando

dificuldades para estabelecer conexões entre abstrações teóricas e o mundo real apenas por

meio de aulas expositivas. Portanto, as simulações oferecem aos alunos novas possibilidades

de compreensão dos eventos internacionais, desenvolvendo sua capacidade de aplicação de

conhecimentos em situações próximas ao que acontece no dia a dia, observação reforçada pelos

gráficos abaixo.

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Com base nas respostas dos alunos e na avaliação feita durante as dinâmicas, é possível

concluir que por meio das simulações os alunos entendem que teorias e conceitos são mais do

que simples abstrações. No caso da disciplina de RI, são ferramentas que os ajudam a entender

as dificuldades de cooperar dentro da anarquia, bem como a importância da comunicação entre

diferentes atores. Ao participar ativamente das negociações, os estudantes tornam-se capazes

de perceber de forma mais completa o ambiente estratégico no qual estão inseridos.

Ainda, ao incluir organizações na simulação, e não apenas Estados, os estudantes aprendem

como os constrangimentos organizacionais, a exemplo de regras e cultura, devem ser

considerados para prever ou reagir à determinada ação. A reflexão sobre as decisões a serem

tomadas por instituições internacionais, nesse sentido, permite ao aluno pensar sobre o

problema sendo debatido, bem como reformular suas concepções mediante às estratégias de

outros participantes, sejam Estados ou não.

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De modo geral, os alunos entendem que o envolvimento em simulações traz benefícios,

proporcionando o treino de habilidades de tomada de decisão na solução de problemas

complexos, competência considerada primordial para um internacionalista. A encenação de

situações revela uma variedade de jogos, bem como a manipulação de informações pelos

participantes. Nessas dinâmicas, os alunos são levados a questionar concepções previamente

tidas como fixas, aprimorando sua visão crítica e tornando-se mais conscientes sobre as

implicações e limitações de suas decisões.

Por fim, além de permitir que os estudantes relacionem o conhecimento de livros e artigos

com desafios do mundo real, a atividade também funcionou como um dispositivo de

acompanhamento da evolução dos alunos. Mediante à recriação de processos complexos, o

professor conseguiu avaliar como os alunos aplicam conceitos e teorias na prática, podendo

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notar o desenvolvimento do pensamento crítico e analítico. Nessas oportunidades, buscou-se

uma harmonização no conhecimento do vocabulário básico das RI.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As experiências e resultados do uso de simulações no curso de Relações Internacionais

do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo reforçam pesquisas anteriores que atestam os

benefícios relacionadas ao emprego desta metodologia nos cursos de ensino superior. As

referências acadêmicas utilizadas permitem um melhor conhecimento das potencialidades

inerentes à utilização desta estratégia de ensino, contribuindo para fomentar a discussão sobre

metodologias ativas – ainda pouco explorada – no campo de RI.

Neste texto, buscou-se pontuar a importância que este método adquire para os

participantes. Partir das concepções dos estudantes é uma forma de compreender como eles

interpretam a evolução na aprendizagem de temas de relações internacionais por meio das

simulações. O principal ganho para os envolvidos, como mencionado, refere-se à articulação

entre conceitos abstratos e a prática política. Por meio do questionário, foi possível notar o

interesse dos alunos pela utilização deste exercício em outros cursos da área. Além disso, os

estudantes sinalizaram que suas habilidades e competências para lidar com as demandas da

profissão foram aperfeiçoadas durante os exercícios. Essas observações indicam a possibilidade

de complementar as aulas expositivas com exercícios dinâmicos, em particular as simulações,

visto como um caminho relevante de aproximação do estudante ao mundo prático.

REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇAO BRASILEIRA DE RELAÇOES INTERNACIONAIS. Minuta de Diretrizes

Curriculares Nacionais para os Cursos de Graduacao em Relacoes Internacionais. Disponivel

em: <https://www.abri.org.br/informativo/view?TIPO=13&ID_INFORMATIVO=139>.

Acesso em: 30 jul. 2018.

BROCK, Kathy L.; CAMERON, Beverly J. “Enlivening Science Courses with Kolb’s Learning

Preference Model.” PS: Political Science and Politics, 32: 251–256, 1999.

CARUSON, Kiki. “So, You Want to Run for Elected Office? How to Engage Students in the

Campaign Process Without Leaving the Classroom.” PS: Political Science and Politics,

38(April): 305–310, 2005.

CLARK, N.; VAN DYKE, G.; LOEDEL, P.; SCHERPEREEL, J.; SOBISCH, A.

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Submetido em Novembro de 2017, Aprovado em Janeiro de 2018, Publicado em Maio 2018

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“EU simulations and engagement: Motivating greater interest in European Union politics”,

Journal of Political Science Education, 13(2), 152-170, 2017.

CROOKALL, David. “A Guide to the Literature of Simulation/Gaming.” In: CROOKALL,

David; ARAI, Karen (ed). Simulation and Gaming across Disciplines and Cultures: ISAGA

at a Watershed. Thousand Oaks: Sage, 1995, p. 151-177.

ENGEL, S.; PALLAS, J.; LAMBERT, S. “Model United Nations and Deep Learning:

Theoretical and Professional Learning”, Journal of Political Science Education 13.2, 171-

184, 2017.

INOUE, C.; VALENÇA, M. “Contribuicoes Do Aprendizado Ativo Ao Estudo Das Relacoes

Internacionais Nas Universidades Brasileiras”. Meridiano 47 - Journal of Global Studies 18

(1), 2017.

NEWMANN, William W.; TWIGG, Judyth L. “Active Engagement of the Intro IR Student: A

Simulation Approach.” PS: Political Science and Politics, v. 33, Dezembro, 2000, p. 835-42.

OMELICHEVA, M. Y.; AVDEYEVA, O. “Teaching with Lecture or Debate? Testing the

Effectiveness of Traditional versus Active Learning Methods of Instruction.” PS: Political

Science & Politics 41 (3): 603–7, 2008.

ANEXO

Tabela II. Respostas do questionário sobre o uso das simulações no curso de Relações

Internacionais do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo

Q.1, Q.2, Q.3, Q.4, Q.5, Q.6, Q.7, Q.8, Q.9, Q. 10, Q.11, Q.12

"4","4","4","4","4","3","5","4","5","5","Eu fortemente recomendo o uso da simulação em cursos futuros","Não"

"5","4","3","4","4","5","5","5","5","5","Eu fortemente recomendo o uso da simulação em cursos futuros","Não"

"5","5","5","5","5","5","5","5","5","5","Eu fortemente recomendo o uso da simulaçãoem cursos futuros","Não"

"4","5","5","4","4","4","5","5","5","4","Eu fortemente recomendo o uso da simulação em cursos futuros","Não"

"4","4","4","5","5","5","4","5","5","5","Eu fortemente recomendo o uso da simulação em cursos futuros","Não"

"4","5","5","5","4","4","5","5","5","4","Eu recomendo o uso da simulação em cursos futuros","Não"

"4","4","3","5","5","5","5","4","5","4","Eu recomendo o uso da simulação em cursos futuros","Não"

"4","5","5","5","4","3","5","5","5","4","Eu fortemente recomendo o uso da simulação em cursos futuros","Não"

"5","4","5","4","5","4","5","4","5","5","Eu fortemente recomendo o uso da simulação em cursos futuros","Não"

"4","5","3","5","5","3","4","5","4","4","Eu recomendo o uso da simulação em cursos futuros","Não"

"5","5","4","4","5","5","4","3","5","4","Eu fortemente recomendo o uso da simulaçãoem cursos futuros","Não"

"4","5","5","5","5","5","4","5","5","4","Eu fortemente recomendo o uso da simulação em cursos futuros","Não"

"3","3","2","4","4","4","5","4","3","3","Eu recomendo o uso da simulação em cursos futuros","Não"

"5","5","5","5","5","5","5","5","5","5","Eu fortemente recomendo o uso da simulação em cursos futuros","Não"

"5","5","5","5","5","5","5","4","5","5","Eu fortemente recomendo o uso da simulação em cursos futuros","Não"

"4","4","4","5","5","5","5","4","5","5","Eu fortemente recomendo o uso da simulação em cursos futuros","Não"

"5","5","5","5","5","5","5","5","5","5","Eu fortemente recomendo o uso da simulação em cursos futuros","Não"

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"5","4","5","5","5","5","5","5","5","5","Eu fortemente recomendo o uso da simulação em cursos futuros","Não"

"3","3","4","4","4","4","1","3","1","2","Eu recomendo o uso da simulação em cursos futuros","Não"

"4","5","5","4","4","5","5","5","5","5","Eu fortemente recomendo o uso da simulação em cursos futuros","Não"

"5","5","5","5","5","5","5","5","5","5","Eu fortemente recomendo o uso da simulação em cursos futuros","Não"

"4","3","4","4","4","4","5","3","5","4","Eu recomendo o uso da simulação em cursos futuros","Não"

"4","3","5","4","5","5","5","5","5","4","Eu fortemente recomendo o uso da simulação em cursos futuros","Não"

"5","4","4","4","5","4","5","5","5","5","Eu fortemente recomendo o uso da simulação em cursos futuros","Não"

"5","4","4","4","5","4","5","5","5","5","Eu fortemente recomendo o uso da simulação em cursos futuros","Não"

"4","4","4","3","4","4","3","4","4","4","Eu fortemente recomendo o uso da simulação em cursos futuros","Não"

"4","4","5","5","5","5","5","4","5","4","Eu fortemente recomendo o uso da simulação em cursos futuros","Não"

Fonte: Elaboração própria.