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    RAFAEL DOS SANTOS NORONHA

    Ecologia Urbana: Espaos urbanos eficientes por meio doconhecimento do lugar.

    Monografia apresentada como requisito parcial

    para obteno do ttulo de Especialista. Curso

    de ps-graduao lato sensuem Reabilitao

    Ambiental Sustentvel Arquitetnica e

    Urbanstica. Programa de Pesquisa e Ps-

    graduao. Faculdade de Arquitetura e

    Urbanismo. Universidade de Braslia.

    Orientadora: Prof. Marta Adriana Bustos

    Romero

    BRASLIA

    2011

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    II

    minha famlia, e amigos.

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    III

    Agradecimentos

    Agradeo a Deus por ter me colocado em uma famlia maravilhosa, e sempre rodeado de bons

    amigos.

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    IV

    Sumrio

    LISTA DE ILUSTRAES....................................................................................................................VII

    RESUMO.................................................................................................................................................X

    1. INTRODUO................................................................................................................................ 1

    2. NOVOS PARADIGMAS EM BUSCA DA SUSTENTABILIDADE................................................... 3

    2.1. A VISO SISTMICA: A BASE DOS PRINCPIOS ECOLGICOS ......................................... 4

    3. OS PRINCPIOS ECOLGICOS E A ECOLOGIA URBANA......................................................... 6

    3.1. A organizao dos seres vivos .................................................................................................. 6

    3.1.1. Sistemas fechados: .................................................................................................................... 6

    3.1.2. Estruturas dissipativas: .............................................................................................................. 6

    3.1.3. Autorreguladores e auto organizadores: .................................................................................... 7

    3.1.4. Processos cognitivos:................................................................................................................. 7

    3.1.5. Pequena concluso.................................................................................................................... 7

    3.2. Princpios ecolgicos (Capra, 1996. pg. 231-235): .................................................................... 8

    3.2.1. A interdependncia: ................................................................................................................... 8

    3.2.2. A parceria: .................................................................................................................................. 9

    3.2.3. A Natureza cclica dos processos ecolgicos (reciclagem) ....................................................... 9

    3.2.4. Diversidade............................................................................................................................... 10

    3.2.5. Flexibilidade:............................................................................................................................. 10

    4. ESPAOS URBANOS ECOLGICOS. ....................................................................................... 12

    4.1. A Agricultura Urbana (AU)........................................................................................................ 12

    4.1.1. Atividades da Agricultura Urbana (SANTANDREU & LOVO, 2007 p. 12)............................... 13

    4.1.1.1. Produo:............................................................................................................................. 14

    4.1.1.2. Transformao artesanal ..................................................................................................... 14

    4.1.1.3. Comercializao justa e solidria ........................................................................................ 14

    4.1.1.4. Auto consumo ...................................................................................................................... 14

    4.1.1.5. Prestao de Servios ......................................................................................................... 14

    4.1.2. Parmetros globais para a insero da Agricultura Urbana .................................................... 15

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    V

    4.1.2.1. Objetivos: ............................................................................................................................. 15

    4.1.2.2. Diretrizes: ............................................................................................................................. 16

    4.1.2.3. Metodologia da insero da AU........................................................................................... 16

    4.2. A permacultura nos espaos urbanos...................................................................................... 18

    4.2.1. Estratgias (Rodrigues, 2000; Mollison, 1988) ........................................................................ 18

    4.2.1.1. Posio relativa dos elementos: .......................................................................................... 18

    4.2.1.2. Cada elemento deve executar diversas funes................................................................. 19

    4.2.1.3. Cada funo apoiada por diversos elementos .................................................................... 20

    4.2.1.4. Utilizar a reciclagem............................................................................................................. 20

    4.2.1.5. Utilizar a sucesso natural de plantas: ................................................................................ 21

    4.2.1.6. Utilizar a diversidade............................................................................................................ 21

    4.2.1.7. Utilizar a complexidade, atravs da criao de bordas ....................................................... 21

    4.2.1.8. Utilizar recursos biolgicos (renovveis) ............................................................................. 21

    4.3. Pequena concluso.................................................................................................................. 22

    5. O ESTUDO DE CASO: REA VERDE RESIDENCIAL DO PLANO PILOTO, BRASLIA/DF. .... 23

    6. A ANLISE DO LUGAR: REA CENTRAL DA SUPERQUADRA 314 NORTE (BRASLIA / DF).27

    6.1. O ESPAO (ASPECTOS OBJETIVOS): ................................................................................. 28

    6.1.1. Os blocos.................................................................................................................................. 30

    6.1.2. Equipamentos Urbanos, vegetao, caladas, e vias ............................................................. 33

    6.1.2.1. Coreto .................................................................................................................................. 34

    6.1.2.2. Equipamentos de exerccios fsicos mal executados; ......................................................... 35

    6.1.2.3. Parquinho / prgula.............................................................................................................. 35

    6.1.2.4. Caladas e vias.................................................................................................................... 36

    6.1.2.5. Vegetao: ........................................................................................................................... 37

    6.1.2.6. A Prefeitura .......................................................................................................................... 38

    6.2. O CARTER (ASPECTOS SUBJETIVOS).............................................................................. 40

    6.3. O MAPA COMPORTAMENTAL (SOMMER & SOMMER, 1991) ............................................ 43

    6.3.1. METODOLOGIA CENTRADA NO LUGAR ......................................................................... 43

    6.3.2. O MAPA ............................................................................................................................... 44

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    VI

    6.3.3. DIAGNSTICOS COMPORTAMENTAIS ........................................................................... 45

    7. UTILIZAO DE ALGUMAS ESTRATGIAS.............................................................................. 48

    7.1. ESTRATGIA 1 ZONEAMENTO PERMACULTURAL......................................................... 48

    7.1.1. REAS VERDES PRIVATIVAS: ZONA 1............................................................................ 48

    7.1.2. REAS VERDES LIVRES: ZONA 2 .................................................................................... 51

    7.2. ESTRATGIA 2 NAS CERCAS DAS REAS VERDES, DOS PARQUINHOS, ETC. ......... 51

    8. CONCLUSES............................................................................................................................. 53

    9. REFERNCIAS ............................................................................................................................ 55

    ANEXO 01 TABELAS DOS MAPAS COMPORTAMENTAIS.............................................................. 1

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    VII

    Lista de ilustraes

    Quadros

    Quadro 1 - Listado das experincias focadas na Regio Centro Oeste Braslia (DF), por tipo de ator

    que as promove, apia e/ou financia. (SANTANDREU & LOVO, 2007, pg.22) ................................... 13

    Quadro 2 - Tipologias urbanas possveis para atividades de Agricultura Urbana e Periurbana.

    Adaptada (Terrile, 2006 apud SANTANDREU & LOVO, 2007, pg.22)................................................. 15

    Tabelas (anexo 1)

    Tabela 1 - Mapa Comportamental (rea de estudo do trabalho): 08:30 s 09:30.................................. 1

    Tabela 2 - Mapa Comportamental (rea de estudo do trabalho): 09:30 s 10:30.................................. 2

    Tabela 3 - Mapa Comportamental (rea de estudo do trabalho): 10:30 s 11:30.................................. 3

    Tabela 4 - Mapa Comportamental (rea de estudo do trabalho): 14:30 s 15:30.................................. 4

    Tabela 5 - Mapa Comportamental (rea de estudo do trabalho) 15:30 s 16:30................................... 5

    Tabela 6 - Mapa Comportamental (rea de estudo do trabalho) 16:30 s 17:30................................... 6

    Tabela 7 - Continuao da Tabela 6 - Mapa Comportamental (rea de estudo do trabalho) 16:30 s

    17:30........................................................................................................................................................ 7

    Tabela 8 - Mapa Comportamental (rea de estudo do trabalho) 17:30 s 18:30................................... 8

    Tabela 9 - Continuao da Tabela 8 - Mapa Comportamental (rea de estudo do trabalho) 17:30 s

    18:30........................................................................................................................................................ 9

    Figuras

    Figura 1 - rvores na viso sistmica. Fonte: Mollison (1988, p. 140). .................................................. 4

    Figura 2 - Fluxograma de metodologia para poltica de AU. Fonte: site da REDE (Rede de

    Intercmbios de tecnologias alternativas (http://www.rede-mg.org.br/index.php?iid=24&p=2&sid=58

    acesso em 14/03/2011)......................................................................................................................... 17

    Figura 3 - Vista area da cidade de Braslia. Asa sul. Fonte:

    http://h.imagehost.org/view/0784/myaviationnetphotoid009cp5 (acesso:9/5/2011) ............................. 23

    Figura 4 - Calada sombreada com um clima agradvel caminhada................................................ 24

    Figura 5 - Situao (localizao) da Superquadra Norte 314 (SQN 314). Fonte: Google Earth (com

    modificaes) ........................................................................................................................................ 27

    Figura 6 - Superquadra 314 Norte. Braslia DF. Fonte: Google Earth (com modificaes) ................. 28

    Figura 7 - Estudo de caso - rea central da Superquadra 314 Norte. Braslia DF. Fonte: Google Earth

    (com modificaes). .............................................................................................................................. 29

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    VIII

    Figura 8 - Acessos rea de estudo .................................................................................................... 30

    Figura 9 - Vista do Bloco D ................................................................................................................... 31

    Figura 10 - Vista do Bloco E.................................................................................................................. 31

    Figura 11 - Foto da relao direta pilotis do prdio / rea de estudo ................................................... 31

    Figura 12 - Vista do bloco F .................................................................................................................. 32

    Figura 13 - Vista Bloco G ...................................................................................................................... 32

    Figura 14 - Barreiras ao acesso do Bloco G rea de estudo............................................................. 32

    Figura 15 - Mapa esquemtico dos equipamentos urbanos e vegetao ............................................ 33

    Figura 16 - Vista do Coreto ................................................................................................................... 34

    Figura 17 - Conservao ruim das telhas do coreto ............................................................................. 34

    Figura 18 Caladas quebradas, bancos mal encaixados, e sujeira................................................... 34

    Figura 19 - Equipamentos de atividade fsica precrios ....................................................................... 35

    Figura 20 - Vista do parquinho - 1......................................................................................................... 35

    Figura 21 - Vista do parquinho 2........................................................................................................ 35

    Figura 22 - Manuteno precria do parquinho .................................................................................... 36

    Figura 23 - Vista do parquinho / prgula............................................................................................... 36

    Figura 24 - Caladas quebradas e estreitas ......................................................................................... 36

    Figura 25 - Via local e contineres no limite da rea............................................................................ 37

    Figura 26 Vista panormica da rea na poca da seca (setembro 2010)......................................... 37

    Figura 27 - Imagem panormica da rea no final das pocas das chuvas (abril 2011) ....................... 38

    Figura 28 - Jardim cercado do Bloco G ................................................................................................ 38

    Figura 29 - Jardim cercado do Bloco E................................................................................................. 38

    Figura 30 - Relao confusa com as vias, facilmente bloqueada e entorno ruim do ponto de vista da

    acessibilidade........................................................................................................................................ 39Figura 31 - Vista da sede da Prefeitura: arquitetura mal elaborada, com carter de improviso .......... 39

    Figura 32 A procura pelo conforto. Pessoas que, aparentemente aproveitariam melhor o parque,

    vo para outras reas pelo desconforto ambiental (foto: setembro, 2010). ......................................... 40

    Figura 33 - Jardins privativos (bloco E)................................................................................................. 41

    Figura 34 - Jardins privativos (bloco G) ................................................................................................ 41

    Figura 35 - Jardins produtivos (bloco E) ............................................................................................... 41

    Figura 36 - Jardins produtivos (bloco E) ............................................................................................... 41

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    IX

    Figura 37 - rea um pouco mais afastada do prdio j mostra sinais de descuido, com mato alto e

    pouca variedade esttica. ..................................................................................................................... 41

    Figura 38 - Mapa Base setorizado para o mapa comportamental........................................................ 44

    Figura 39 - Aspectos comportamentais da rea de estudo .................................................................. 45

    Figura 40 - Adulto brincando com as crianas...................................................................................... 47

    Figura 41 - Imagem da placa de proibio / restrio do uso............................................................... 48

    Figura 42 - Espiral de erva. Fonte: MOLLISON (1988 p. 101) ............................................................. 49

    Figura 43 - Corte AA do espiral de erva. Fonte: MOLLISON (1988 p. 101) ......................................... 49

    Figura 44 - Horta Mandala. Fonte: Mollison (1988 p. 274) ................................................................... 50

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    X

    Resumo

    A sustentabilidade a capacidade de vivermos bem o presente, e ao mesmo tempo garantirmos a

    possibilidade (pelo menos com o que est ao nosso alcance) de boa vida s prximas geraes. A

    viso sistmica enxerga uma realidade interligada, descoberta pela fsica quntica, onde tudo est

    conectado. Esta realidade da vida possui alguns princpios que servem de diretrizes de aes, nabusca do equilbrio e sustentabilidade dos ecossistemas urbanos. O sucesso das cidades, na viso

    sistmica, depende desta correta relao entre as cidades, e seus mais variados componentes. A

    Ecologia Urbana estuda estas ligaes essenciais que as comunidades e cidades humanas possuem

    com a natureza, e entre seus componentes internos, por serem ecossistemas integrantes da

    realidade interligada. A eficincia delas depende de se comportarem como os organismos vivos e

    sadios. Os espaos urbanos so alvos importantes de conceitos cientficos, prticas e polticas que

    visem dar s cidades mais energia e sade. A Agricultura Urbana tem uma poltica internacional de

    desenvolvimento da produo alimentar urbana voltada para o consumo local, a justia social, a

    equidade de gnero, etc. No se limita produo agrcola, em si, mas no fortalecimento dasrelaes comunitrias, e autonomia destas, seguindo as recomendaes de descentralizao da

    gesto urbana. Os espaos urbanos produtivos podem ser executados e planejados nos moldes do

    que a permacultura recomenda, onde se busca sistemas de produo altamente eficientes, voltadas

    ao consumo local, com as caractersticas e flexibilidades dos sistemas naturais: biodiversidade, baixa

    manuteno, etc. O papel dos tcnicos e profissionais levantar a maior quantidade de informaes

    possvel acerca do espao em questo, e dialogar com a comunidade, em uma troca de

    conhecimentos fundamental para se encontrar a melhor soluo possvel para cada caso. Isto

    estimula a buscada autonomia comunitria e, assim, o desenvolvimento de cada vez mais

    conhecimento, pela troca de experincias, e sentimento de colaborao mtua, e parceria

    Palavras-chave: Sustentabilidade; viso sistmica; Ecologia Urbana; espao urbano; Agricultura

    Urbana, permacultura; espao, carter, atmosfera e comportamento do lugar.

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    1. Introduo

    Este trabalho faz parte da concluso do Curso de ps-graduao lato sensuem reabilitao

    ambiental sustentvel arquitetnica e urbanstica, da Universidade de Braslia, ano de 2011. O

    tema Ecologia Urbana: Espaos urbanos eficientes por meio do conhecimento do lugar.

    A necessidade de melhorar a vida no planeta cresce na mesma medida em que os problemas

    aumentam. As cidades esto cada vez mais caticas, inchadas, e injustas, e a vida dos humanos se

    torna insalubre por prejudicar as prprias fontes de seus recursos, poluindo, e consumindo tudo, de

    maneira at infantil, e inconsequente.

    A cultura humana avana em uma tentativa de garantir que sua vida seja salva, e que as prximas

    geraes tenham a possibilidade de viver em melhores condies que as atuais. Os conceitos que

    buscam a sustentabilidade surgem como uma tentativa de garantir oportunidades e vida digna s

    futuras geraes. Porm, para que se sustente vida digna e oportunidades para as prximas

    geraes, preciso, primeiramente, que estas condies sejam alcanadas no presente, por meio da

    contribuio de todos. As mudanas de atitudes so urgentes e necessrias, e a nova sociedade do

    futuro capaz de ser sustentvel est, neste momento, em construo.

    Este trabalho trata da Ecologia Urbana, que, por enxergar as cidades integradas natureza, estuda

    princpios ecolgicos dos sistemas vivos naturais, a fim de aplic-los nos meios urbanos. Foram

    pesquisados alguns destes princpios, seus contextos cientficos, e suas conexes entre as cidades,

    e a sociedade, baseados em Capra (1996), Mollison (1988), Maturana & Varela (1995), Andrade

    (2005; 2010), Sirkis (1999), e Gouva (2002). Alguns dos objetivos so contribuir na divulgao

    destes princpios e da chamada alfabetizao ecolgica (CAPRA, 1996), e sua maneira de enxergar

    a vida.

    O enfoque deste trabalho, na aplicao destas ideias, se deu nos espaos urbanos, por meio de

    maneiras de torn-los mais eficientes, produtivos e provedores de qualidade de vida. Foram

    pesquisadas duas estratgias: a primeira a Agricultura Urbana baseada em Coutinho (2007);

    Moreira (2009 entrevista); no programa Cultivando Cidades para o Futuro, em Belho Horizonte

    (CCF-BH, 2008); e no documento Panorama da Agricultura Urbana no Brasil (2007). A outra

    estratgia pesquisada para os espaos urbanos foi a Permacultura, baseada em Mollison (1988) eRodrigues (2000).

    A principal inteno das duas estratgias citadas fortalecer, caso a caso, a comunidade em suas

    dinmicas diversificadas, e prov-las de tcnicas e hbitos que as tornem cada vez mais

    sustentveis, parceiras, justas, criativas e dinmicas. Leva-se em considerao o mximo de

    conexes entre as caractersticas nicas de cada comunidade: a sua vizinhana, suas necessidades,

    e as fontes dos seus recursos, a fim de estabelecer maior capacidade de abastecimento, renovao,

    reciclagem, trocas, e evoluo dos modos de produo e consumo. Tudo importante: o meio

    ambiente em que se inserem, os costumes, e todo aspecto relevante que seja identificado. Para isso,so utilizados mtodos diversificados de anlises e levantamento de dados.

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    No estudo de caso deste trabalho o espao pblico central da Superquadra 314 norte, em Braslia /

    DF foram realizadas anlises do espao urbano, por meio de observao direta. Primeiramente, o

    levantamento dos aspectos objetivos (estrutura) e qualitativos (carter) do local, a fim de

    identificar sua atmosfera, ou esprito do lugar, baseados em Romero (2001; 2010). No segundo

    momento, foi realizado um mapa comportamental, baseado em Sommer & Sommer (1991), e

    Person (2006) a fim de analisar o padro de comportamento de setores determinados do localestudado.

    A partir deste levantamento, foi possvel identificar a utilizao de algumas estratgias apresentadas

    pela Agricultura Urbana e Permacultura, no local estudado. Entende-se, porm, que estas

    estratgias possuem carter de uma sugesto inicial, pois, seriam necessrios dilogos e/ou

    campanhas junto comunidade a fim de clamar por sua participao e envolvimento para encontrar

    os procedimentos mais adequados possveis. Os mtodos de anlises so, portanto, procedimentos

    iniciais, que servem de repertrio tcnico ao dilogo contnuo com a comunidade estudada, sendo,

    portanto, um importante passo na construo da autonomia e evoluo desta.

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    2. Novos paradigmas em busca da sustentabilidade

    O modo como as cidades e a populao mundial crescem, e o ritmo em que destrumos as florestas,

    fontes dos recursos, so ameaas no s para a vida da fauna e da flora selvagens (no humana),

    como para a nossa prpria vida. Simplesmente, em nossa vida desconectada do planeta, estamos,ns mesmos, acabando com as possibilidades de nossa espcie perdurar, e ameaando toda a vida

    no planeta.

    As necessidades de mudanas no modo de vida da humanidade, e em seu desenvolvimento esto

    cada vez mais presentes na conscincia das pessoas. Na medida em que o tempo avana, novas

    ideias surgem, novas tecnologias so postas em prtica, novas polticas, e novos hbitos ganham

    adeptos na tentativa de fazer o ser humano atual adaptar e/ou transformar seu modo de vida (cultura,

    de modo geral). Mostra-se necessria uma relao estvel com os recursos e ciclos naturais

    oferecidos pelo planeta, e com todos os seres vivos, a fim de que a vida tenha mais chances decontinuar sua bela trajetria, fortalecida pelas atitudes corretas de hoje, que, em constante evoluo,

    permitiro vida boa para as futuras geraes. Isto o que podemos chamar de sustentabilidade.

    Pensar no futuro da vida, agindo de forma correta no presente.

    Uma sociedade sustentvel aquela que satisfaz suas necessidades sem diminuiras perspectivas das geraes futuras (Lester Brown,... apud CAPRA, 1996. pp. 24).

    Uns dos principais meios de se alcanar a sustentabilidade so, por exemplo: equilbrio ambiental, a

    justia social, a diversidade cultural; a autonomia individual de livre pensamento e expresso, e boa

    qualidade de vida igualitria, acessvel a todas as pessoas. As maneiras de conseguirmos isso esto

    alm da definio concreta, claramente alcanada, ou um objetivo final. So modelos de vida criativose dinmicos que constantemente buscam os prprios aperfeioamentos. Um constante

    desenvolvimento humano, nos quais se integram os anseios, realizaes, e diferentes culturas (como:

    economia, tecnologia, poltica, arte, religio, etc.) com os ciclos e processos naturais.

    A boa qualidade de vida apenas para ns, humanos, no suficiente, nem mesmo possvel. As

    nossas vidas dependem de todas as outras espcies vivas do planeta. A sustentabilidade da

    sociedade humana, na viso ecolgica, passa pelo reconhecimento de que preciso colaborar entre

    si e com toda a natureza. A vida como conhecemos a prpria natureza criando e recriando a si

    mesma, constantemente.

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    2.1. A viso sistmica: a base dos princpios ecolgicos

    Esta viso foi a nova percepo da realidade descoberta pela fsica quntica, que trouxa cincia um

    novo paradigma, modificando o pensamento mecanicista de partes e objetos para um pensamento

    sistmico de relaes dinmicas, em constante evoluo, componentes de um todo integrado

    (CAPRA, 1996 p. 25).

    Esta percepo mudou o pensamento cientfico do sculo XX. A viso mecanicista cartesiana, queprocura explicar as partes para entender o todo, se viu como sendo apenas uma pequena frao deuma realidade muito mais complexa, chamada de viso ecolgica, ou sistmica, que procura analisar,ao invs dos objetos, as relaes complexas entre tudo o que existe. So nestas relaes queacontecem o desenvolver de todos os sistemas vivos, e das condies ambientais que possibilitam avida. Por exemplo, uma rvore muito mais do o conjunto de razes, caule, folhas, e frutos (ver figura1).

    Figura 1 - rvores na viso sistmica. Fonte: Mollison (1988, p. 140).

    Ela depende da variadas espcies de animais, fungos, que a fertilizam, espalham suas sementes, e

    protegem suas razes. A rvore habitat para outras espcies, fonte de alimento para outras, e,

    principalmente, componente colaborativo de uma rede de relaes que depende dela e, ao mesmo

    tempo, possibilita a sua existncia. Na viso sistmica, assim com tudo o que existe. A vida

    construda nesta relao entre grande quantidade de diversos sistemas vivos. Ns (humanos)

    estamos tambm nesta rede, e s existimos por causa dela. Devemos, ento, sermos colaboradores

    da vida, se quisermos perdurar.

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    Arne Naess (1970 apud CAPRA, 1996), filsofo noruegus, prope uma nova viso tica, que

    substitui o antropocentrismo pensamento centrado no homem pelo ecocentrismo pensamento

    centrado na Terra. Ele a chama de ecologia profunda.

    uma viso de mundo que reconhece o valor inerente da vida no humana. Todosos seres vivos so membros de comunidades ecolgicas ligadas umas s outrasnuma rede de interdependncias. (CAPRA, 1998. pp.28).

    A Natureza selvagem passa a ser vista como aliada, e at mesmo professora (Rodrigues, 2000) para

    nossas atitudes. Deixa de ser uma barreira ao desenvolvimento econmico, e sim o meio para um

    real desenvolvimento humano, com culturas possveis de serem sustentadas, de desenvolvimento

    duradouro, em um planeta com ciclos prprios de renovao e recursos limitados.

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    3. Os princpios ecolgicos e a Ecologia Urbana

    A viso da natureza como professora traz o conhecimento de como os ecossistemas naturais

    funcionam, e como a vida se mantm ao longo das eras do planeta. Os princpios da ecologia so

    baseados nesta observao e estudo das relaes e conexes entre as espcies, seus recursos, e

    seus ciclos. Com foi dito, o principal entender como so estabelecidas as relaes, pois a partir

    destas, as condies de vida so mantidas.

    A Ecologia Urbana, como vertente da viso sistmica,estuda as mltiplas relaes urbanas

    (externas e internas), assim como suas conexes com os meios naturais (ANDRADE, 2010 p. 23). O

    gestor ambiental e urbano deve ter este conceito bsico de que a cidade faz parte da natureza

    (SIRKIS, 1999. pg. 18-19). As cidades, assim como tudo o que existe, fazem parte desta rede de

    energia e matria onde tudo se comunica, e de tudo compartilha.

    Os sistemas urbanos, e as comunidades humanas so vistas como ecossistemas vivos e complexos

    (CAPRA, 1996; SIRKIS, 1999). Apresentam os princpios bsicos de organizao que todos os seres

    vivos possuem, e, por isso, devem buscar uma organizao semelhante de relaes, funcionamento /

    metabolismo, a fim de se tornarem sistemas equilibrados e saudveis.

    3.1. A organizao dos seres vivos

    Segundo alguns bilogos1 (apud CAPRA, 1996), estes princpios bsicos de organizao, consistem

    em 4 (quatro) caractersticas que definem certos componentes como sistemas ou seres vivos: 1) so

    sistemas fechados em sua organizao; 2) abertos em sua estrutura (estruturas dissipativas); 3)

    autorreguladores / auto organizadores; 4) com capacidade de cognio.

    3.1.1. Sistemas fechados:

    Esta caracterstica abrange a organizao interna dos seres vivos. Possuem limites estruturais que

    abrigam, dentro de seus limites, as relaes necessrias manuteno de suas funes. O limite

    pode ser a pele, a membrana celular, ou a atmosfera2

    . O padro desta organizao interna e dasrelaes de seus componentes o que determina a classe do sistema (um cavalo, um cachorro, uma

    rvore, o planeta Terra, etc.).

    3.1.2. Estruturas dissipativas:

    Um organismo vivo necessita de fluxo contnuo de ar, de gua e de alimento vindodo meio ambiente atravs do sistema para permanecer vivo e manter sua ordem(CAPRA, 1996. pg. 146).

    1 Prigogine : estruturas dissipativas; Lovelock : teoria de Gaia , Maturana & Varela: autorregulao e autoorganizao (teoria da auto poiese: auto= si mesmo; poiese= poesia, criao); Bateson, e Maturana(independentemente): vida = cognio e processos mentais. (apud CAPRA, 1996).

    2 A teoria de Gaia a Terra como um ser vivo. (LOVELOCK, 1970 apud CAPRA, 1996).

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    Apesar de serem fechados e manterem o seu padro de organizao em circuitos fechados, os

    sistemas vivos so estruturalmente abertos, pela descrio de Prigogine, para permitirem o fluxo de

    energia e matria. Este fluxo constante de energia no interior do sistema vivo o que possibilita toda

    a sua organizao. Ao invs de ser um equilbrio esttico, uma organizao altamente complexa e

    dinmica de movimentos de matria, e processos qumicos, nos quais estas relaes so em parte,

    caticas, e em outra parte, ordenadas. Prigogine d um exemplo de um redemoinho ou um furaco.As instabilidades geram um comportamento inicial catico, porm o sistema tende a se ordenar e

    manter o padro de movimentao intensa.

    3.1.3. Autorreguladores e auto organizadores:

    Esta caracterstica a que permite o sistema organizar os complexos fluxos energia e seus ciclos

    internos. Basicamente, cada sistema possui em si a capacidade de se auto organizar, manter seus

    padres. Nas prprias relaes entre seus componentes so trocadas informaes, enzimas,

    protenas, etc. com o intuito de manter o sistema funcionando bem, em processos contnuos, e se

    desenvolvendo nas instabilidades surgidas. Em comunidades ecolgicas, integrantes do sistema vivo

    Gaia, os ecossistemas so mantidos em equilbrio, onde as diversas espcies se controlam

    mutuamente e se relacionam de maneira a manter as condies de continuidade da vida. O prprio

    planeta se regula para manter suas condies de vida. Capra afirma que a temperatura do sol, desde

    que a vida comeou no planeta, j subiu cerca de 25%. Porm, o planeta em sua capacidade de

    autorregulao, vem mantendo uma temperatura constante, pela biodiversidade e os diversos

    processos qumicos, que, de maneira dinmica, e em conjunto, mantm as condies ideias para a

    vida (LOVELOCK, 1970 apud CAPRA, 1996).

    3.1.4. Processos cognitivos:

    A mente percepo, aprendizagem, memria, tomada de decises, etc. (CAPRA, 1996. p. 144)

    o prprio processo da vida em si. Nos sistemas vivos h um processo cognitivo de conhecimento que

    organiza, e cria os componentes, mantm suas funes em atividade, identifica temperaturas,

    nutrientes, diferenas de presso, etc. De acordo com Bateson (apud CAPRA, 1966), este processo

    mental fenmeno caracterstico dos seres vivos. So atravs destes processos mentais que os

    seres vivos mantm relao com o seu meio ambiente. Mesmo seres sem crebros percebem o meio

    sua volta, e seus componentes atuam a favor das necessidades do sistema. Quando existe, o

    crebro apenas uma das estruturas por meio das quais o processo mental acontece.

    3.1.5. Pequena concluso

    Os limites das cidades (fronteiras) e dos ecossistemas naturais (Terra) so claros (sistemas

    fechados). Pode-se observar, ainda, que so formados por diversos outros sistemas vivos

    (comunidades, famlias, pessoas, fauna e flora), em seu interior, assim como, por exemplo, um

    humano organizado por aes bacterianas e atividades celulares, e a atmosfera mantida pelos

    processos biolgicos de todas as espcies (LOVELOCK, 1970 apud CAPRA, 1996).

    As comunidades humanas so abertas com relao ao fluxo de energia e matria, pois se aproveitam

    de recursos externos e dispensam resduos (estruturas dissipativas). Seus componentes internos

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    (pessoas, infra estrutura, etc.) trabalham para manter o funcionamento do sistema (autorregulao), e

    alguns so os responsveis pela percepo e organizao da cidade (processos cognitivos).

    Nos ecossistemas naturais (inclusive em nosso corpo), as relaes entre seus componentes e com os

    recursos que os alimentam so benficas. Todas as espcies (ou componentes) trabalham para

    manter as condies de vida, e possibilidades de evoluo. Um sistema vivo capaz de perdurar

    aquele que possui uma atividade metablica que, em rede, contribui de maneira dinmica para a

    manuteno de todo o sistema que o envolve, com suas diversidades e complexidades.

    O metabolismo das cidades deve manter relaes eficientes entre os seus diversos elementos

    internos, e suas conexes externas. Elas se tornaro sistemas vivos mais saudveis, cheios de vida e

    energia pulsante, repleta de recursos, possibilidades, criatividade, e capacidade de evoluo.

    Para que nossa sociedade se aproxime de tamanha organizao complexa, necessrio que haja

    uma alfabetizao ecolgica(Capra, 1996. pg. 231), a fim de que nossas culturas escolares,

    cientficas, polticas, econmicas, etc. percebam como se desenvolver em uma realidade sistmica, e

    ecolgica. Assim, os princpios das relaes sistmicas fazem parte de uma tentativa de estabelecer

    uma base de consenso de desenvolvimento humano (MATURANA & VARELA, 1995), que se encaixe

    em qualquer diversidade cultural, por fazerem parte de princpios da vida.

    3.2. Princpios ecolgicos (Capra, 1996. pg. 231-235):

    Os princpios ecolgicos so padres existentes na vida que refletem a sua capacidade de se

    transformar e evoluir, de maneira a perdurar, com muito sucesso pela eras do planeta. Alguns destes

    princpios so conhecidos, e servem de modelo para as comunidades humanas sustentveis: a

    interdependncia, a parceria, a reciclagem, a diversidade, e a flexibilidade.

    3.2.1. A interdependncia:

    a natureza de todas as relaes ecolgicas(CAPRA, 1996. pg.231). Como o prprio nome diz,

    uma relao de dependncia mtua (mostrada com a rvore da figura 1), onde todos os sistemas

    vivos que existem possuem um importante papel de manter a vida de diversos seres, e dependem, ao

    mesmo tempo destas e outras espcies para existirem. Este princpio a base de todos os outros.

    Est presente em qualquer escala de anlise; seja no planeta todo a atmosfera mantida pelos

    processos biolgicos de todos os seres vivos , seja nos rgos, e tecidos de um nico sistema vivo.

    Um dos desafios para nossas cidades criar e fortalecer estas relaes dentro das prprias

    comunidades, em cada local, caso a caso. As relaes entre as comunidades diferentes tambm

    essencial nesta realidade de cooperao. A sociedade se nutre com a valorizao destas relaes

    (CAPRA, 1996 p. 232), pois os seus habitantes valorizam as diferentes vises e pontos de vista,

    entendendo-os como necessrios melhoria da vida de todos.

    Tudo e todos devem ser inseridos nos processos comunitrios de gesto da ecologia urbana, a fim de

    haver a cincia das dificuldades, troca de ideias, decises.

    O desenvolvimento sustentvel envolve muito mais fatores do que a simples

    proteo ambiental. Ele busca a reconciliao entre as presses, muitas vezesconflitantes do desenvolvimento econmico, da proteo ambiental e da justiasocial. (SIRKIS, 1999 p. 170)

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    O conhecimento mais aprofundado da comunidade pode facilitar a identificao dos seus limites e

    das suas conexes. Quanto mais conhecimento acerca dos mais variados assuntos, maior a preciso

    das aes e eficcia da participao comunitria no cuidado prprio. A educao da comunidade e o

    contnuo dilogo com os tcnicos so essenciais. Com esses fatores cada vez mais desenvolvidos, a

    prpria descentralizao das gestes urbanas e ambientais (CIDADES..., 2000) pode acontecer de

    maneira mais natural e eficiente.

    A comunidade, a vizinhana e os ecossistemas que os suprem sero valorizados, pois, surge a

    compreenso de que tudo necessrio ao desenvolvimento da vida. Quanto mais relaes benficas

    uma comunidade realizar, internamente, e externamente, melhor ser a sua capacidade de perdurar.

    Sirkis (1999) afirma que o papel do poder pblico no diminudo. Ao invs disso, ainda mais

    complexo, pois tem que conciliar diversas conexes entre as comunidades, contornando burocracias

    e interesses polticos. Os gestores e as comunidades devem ter uma viso generalista, capazes de

    enxergar o quadro total, desde o macro, at o micro, evitando erros de medidas especializadas, que

    no consideram o contexto complexo em que se inserem.

    3.2.2. A parceria:

    Este princpio se mostra como essencial para a sobrevivncia e evoluo dentro desta realidade

    interdependente, pois vista como a capacidade de cooperao mtua. A parceria, por exemplo, a

    condio que permite a coexistncia de organismos dentro de outros, etc, de forma que evoluam

    juntos.

    ...desde a criao das primeiras clulas nucleadas, h mais de dois bilhes deanos, a vida na Terra tem prosseguido por intermdio de arranjos cada vez mais

    intrincados de cooperao e de coevoluo.(...) A parceria um dos certificados dequalidade de vida (CAPRA, 1996. pg.233-234).

    As parcerias nas comunidades humanas fortalecem o empoderamento pessoal, e a democracia. So

    valorizadas as capacidades de cada pessoa, e a troca constante de habilidades e conhecimentos

    (ANDRADE, 2005), favorecendo a evoluo e o aperfeioamento destes processos e das relaes.

    Capra (1996, pg. 234) afirma que quanto mais a parceria for verdadeira, e confiante, na qual a

    inteno a evoluo de todos, melhor ser a combinao das diversidades, pois os parceiros

    aprendem, mudam, e, assim, co-evoluem.

    3.2.3. A Natureza cclica dos processos ecolgicos (reciclagem)So os laos de realimentao dos ecossistemas (CAPRA, 1996. pg.231).Este princpio mostra,

    principalmente, que, em um ecossistema saudvel, o que resduo para um sistema, alimento para

    outro, e toda a rede se mantm neste processo de transformao e trocas, fortalecendo o fluxo de

    matria e energia e mais possibilidades de vida.

    Dentro das comunidades, necessrio conhecer aquilo que gerado de resduo, e estabelecer, no

    prprio local, o mximo de maneiras de aproveit-los, trat-los, e recicl-los, para que o sistema em

    questo tenha este princpio sempre em desenvolvimento.

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    Nas relaes externas, este princpio pode ser visto como a capacidade de estabelecer relaes com

    as diferentes comunidades, para que existam trocas justas de recursos, e energia, baseadas na

    parceria legtima.

    Quanto maior for o nmero de componentes aproveitando, utilizando, transformando e alimentando

    uns aos outros, maior a complexidade do sistema, mas tambm, maior a sua capacidade de

    aproveitar as energias que ele mesmo produz, e as que podem chegar at ele. Uma comunidade

    repleta de possibilidades tem mais maneiras de estabelecer relaes de parceria e aumentar a

    reciclagem interna e externa.

    Nossa estratgia organizar uma rede de intercepo [energtica] desde a fonte,at o despejo. Esta rede uma combinao entre uma teia da vida [elementos vivos]e tecnologias, e desenhada para captar e armazenar a maior quantidade possvelde energia... (MOLLISON, 1988. pg. 13).

    Por exemplo, a energia bsica que nutre a vida a do sol. Portanto, saber aproveit-la

    fundamental. Ela pode produzir energia eltrica, alm de, bem estudada, fornecer conforto climtico,

    e ainda ser o principal combustvel para nossas reas verdes produzirem mais vegetais e oxignio;mais purificao do ar, fornecimento de alimentos, nutrientes para o solo, drenagem urbana,

    tratamento alternativo de guas, etc., alm de grande deleite esttico. Os ventos, e todos os resduos

    orgnicos tambm podem ser trabalhados no local, de maneira que todos sejam responsveis, e

    participantes desta complexa formao de ciclos de reutilizao, reciclagem, etc.

    3.2.4. Diversidade

    Este princpio segue o raciocnio dos outros acima. Quanto mais diverso for um sistema, ou uma

    comunidade, maior ser a sua capacidade de reciclagem, e mais parceria estar envolvida

    fortalecendo a vida de todos os sistemas interdependentes.

    Segundo Capra (1996), a diversidade pressupe uma sobreposio de funes. Quanto mais

    elementos realizando as funes mais essenciais, melhor ser a qualidade do sistema.

    quando um determinado componente destrudo por uma perturbao sria, demodo que um elo da rede seja quebrado, uma comunidade diversificada ser capazde sobreviver e se reorganizar, pois outros elos da rede podem, pelo menosparcialmente, preencher a funo da espcie destruda. (Capra, 1996. g. 235).

    Esta caracterstica faz o sistema ecolgico alcanar uma resistncia necessria para quando

    ocorrerem as inevitveis oscilaes do ambiente interno e externo.

    3.2.5. Flexibilidade:

    Este princpio funciona como uma rede. Quando h perturbaes, essa rede oscila, mas tende a

    voltar ao ponto de estabilidade (lembrando que a estabilidade dinmica).

    Segundo Capra (1996, pg. 234) A falta de flexibilidade [de um sistema] se manifesta como tenso.

    Esta tenso ocorre quando as variveis do sistema so levadas a extremos e geram uma rigidez, que

    de maneira temporria, normal, e faz parte da vida. Porm, a tenso prolongada destrutiva ao

    sistema. Os sistemas devem ser diversos e seus aspectos devem ser variados para que todas as

    variveis sejam interligadas e se aperfeioem em conjunto. Sendo assim, no caso das comunidades

    humanas, valorizar demais uma ideia, poltica, ou ideologia, pode gerar um padro destrutivo

    comunidade.

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    A grande necessidade de desenvolvimento econmico por parte da sociedade um bom exemplo.

    Valorizar demasiadamente tal aspecto torna a sociedade humana negligentes com o meio ambiente,

    e com valores sociais como a justia, a acessibilidade, o amor e o respeito pela vida. Sirkis (1999, pg.

    171) afirma que o crescimento econmico no pode ser considerado como um objetivo, e sim,

    apenas como uma parte importante do desenvolvimento humano. Segundo ele, algo s pode ser

    chamado desenvolvimento, realmente, quando melhora a vida de todos.

    Dentro de uma comunidade sempre haver diferentes pontos de vista e conflitos. A flexibilidade pode,

    nestes casos, ser vista como uma flexibilidade mental por parte das comunidades e dos gestores

    urbanos, polticos, economistas, ambientalistas, urbanistas, etc. Com essa flexibilidade em mente, as

    melhores solues tendem a aparecer, pois estaro de acordo com o melhoramento de cada ponto

    de vista considerado, e a prpria diversidade ideolgica, complexa e dinmica tende a mostrar a

    melhor soluo. Em atividades de curso permacultural3 vrias decises que envolviam o grupo eram

    tomadas por consenso. Ou seja, um treinamento para as pessoas exercitarem a flexibilidade mental e

    perceberem que as melhores ideias surgem em conjunto.

    a alfabetizao ecolgica inclui o conhecimento de que ambos os lados de umconflito podem ser importantes, dependendo do contexto, e que as contradies nombito de uma comunidade so sinais de sua diversidade e de sua vitalidade, edesse modo contribuem para a diversidade do sistema. (CAPRA 1996, pg.235).

    Segundo Maturana e Varela (1995) a base de consenso existente para permitir o dilogo entre as

    diferentes comunidades, a aceitao desta diversidade de ideias, e o entendimento que so estas

    diversidades que podem mostrar as melhores solues, em cada caso. Segundo os autores, um

    abandono das certezas rgidas ou verdades absolutas, e a noo de que a construo de uma

    sociedade sustentvel ainda est no incio, e ningum sabe como ela realmente ser. Devido a isto,

    entende-se que preciso a participao criativa de todos na construo de um mundo mais justo, da

    maneira que possamos deixar s geraes futuras o maior patrimnio que existe: a Vida.

    3 1 mdulo de Curso de design permacultural (PDC) realizado pelo autor, em 2007.

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    4. Espaos Urbanos ecolgicos.

    Como visto anteriormente, os princpios ecolgicos nos fornecem a direo para que a criatividade

    conjunta estabelea o melhor caminho de atuao nas cidades. Porm, um dos trabalhos dos

    profissionais abastecer as comunidades com possibilidades tcnicas, atravs de uma produo deinformao sobre a realidade em uma linguagem acessvel e transparente, democratizando o acesso

    informao. (BERNARDES, 2010, pg.22).

    Os espaos urbanos so elementos muito importantes nas cidades. Suas funes tm papel muito

    importante no metabolismo urbano, e suas conexes / relaes com a cidade e com a comunidade

    usuria devem ser fortalecidas.

    Neste trabalho, apresentam-se duas categorias de estratgias que se complementam, e visam tornar

    os espaos urbanos em espaos ecolgicos e produtivos, contribuindo com um metabolismo mais

    diversificado e cclico das cidades: a permacultura, e a agricultura urbana. Ambas visam uma

    produo mais sustentvel e descentralizada de alimentos, voltadas para o local, de uma maneira

    ecolgica, onde os recursos para produo podem ser captados na prpria comunidade, de maneira

    que a quantidade de resduos dispensados diminui, favorecendo a conservao e capacidade de a

    natureza se renovar. Alm disso, contribuem para a insero de funes diversas nos espaos

    pblicos, seguindo os princpios ecolgicos, como a diversidade (sobreposio de funes). As aes

    devem ser adequadas ao meio ambiente, com o uso de materiais e energias renovveis, sistemas

    vivos, favorecendo o fluxo energtico e de matria, pela constante renovao, reciclagem, evoluo,

    etc.

    4.1. A Agricultura Urbana (AU)

    Ainda um conceito em construo, definido de diferentes maneiras, embasadas, principalmente,

    pelas prticas existentes, espalhadas pelas cidades do mundo todo, na Bolvia, Peru, Cuba, e Brasil,

    por exemplo. Devido a essa diversidade de manifestaes, expe-se, aqui, o conceito dado pela

    pesquisa Panorama da Agricultura Urbana e Periurbana no Brasil (SANTANDREU & LOVO,

    2007):

    A Agricultura Urbana e Periurbana (AUP) um conceito multi dimensional que inclui

    a produo, o agro extrativismo e a coleta, a transformao e a prestao deservios, de forma segura, para gerar produtos agrcolas (hortalias, frutas, ervasmedicinais, plantas ornamentais, etc.) e pecurios (animais de pequeno, mdio egrande porte) voltados ao auto consumo, trocas, e doaes, ou comercializao, (re)aproveitando-se, de forma eficiente e sustentvel, dos recursos e insumos locais(solo, gua, resduos slidos, mo-de-obra, saberes etc.). Essas atividades podemser praticadas nos espaos intra urbanos ou periurbanos, estando vinculadas sdinmicas urbanas ou das regies metropolitanas, e articuladas com a gestoterritorial e ambiental das cidades. (SANTANDREU & LOVO, 2007, pp.: 5 )

    Esta maneira ecolgica de produzir nas cidades vai pelo caminho contrrio das grandes produes

    agroindustriais. Suas metas so direcionadas para a autonomia e fortalecimento da comunidade

    local, que a pratique, e para o desenvolvimento do equilbrio e da conscincia ambiental produo

    agroecolgica, que (como ecolgica) estuda as relaes da produo com os aspectos sociais,ambientais, e com o que mais se apresentar. (Altieri, 1986 apud SANTANDREU & LOVO, 2007. p.

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    40). Ou seja, uma produo alimentar, porm, envolve todo o seu contexto cultural, social,

    ambiental, etc.

    4.1.1. Atividades da Agricultura Urbana

    A pesquisa (SANTANDREU & LOVO, 2007) revela que a AU uma realidade existente em todas as

    regies brasileiras (pesquisadas 11 regies metropolitanas): Belo Horizonte (MG), Curitiba (PR),Porto Alegre (RS), Rio de Janeiro (RJ), So Paulo (SP), Braslia (DF) e Goinia (GO), Belm (PA),

    Fortaleza (CE), Recife (PE) e Salvador (BA). No total, identificaram 600 iniciativas (com previso de

    que haja muito mais) cuja grande parte voltada para o auto consumo e comercializao formal /

    informal da produo. Em quase todas as regies, existem as parcerias com o poder pblico, porm,

    em Braslia, a parceria acontece apenas com o setor privado, sociedade civil ou academia (quadro 1).

    Quadro 1 - Listado das experincias focadas na Regio Centro Oeste Braslia (DF), por tipo de ator queas promove, apia e/ou financia. (SANTANDREU & LOVO, 2007, pg.22)Ator que promove ou financia Regio Centro Oeste Braslia (DF)

    Associao Assistencial e Habitacional nas reasUrbana, Rural, Comercial e Entorno (AAHCE)

    Associao de Agricultura Ecolgica (AGE)

    Assoc. dos Produtores do Alagado e Santa Maria

    Associao dos produtores rurais de AlexandreGusmo

    Assoc. dos Moradores Organizados paraHabitao Urbana e Rural do DF e Entorno(AMOR-DF)

    Associao dos Produtores Rurais do Ncleo RuralTabatinga (APRONTAG)

    Assoc. dos Produtores Rurais Hortflorifrutcolas daColnia Agrcola do Ncleo Bandeirante 1(ASCOAGRINB)

    Associao dos Produtores Rurais do Ncleo RuralBoa Esperana

    Associao dos Produtores Rurais da ColniaAgrcola Veredas Samambaia

    Associao dos Produtores Rurais do Ncleo RuralCrrego das Corujas

    Associao das Donas de Casa da Chapadinha

    Associao dos Excludos do Projeto Zumbi

    Associao dos Produtores Rurais do Ncleo RuralGuariroba

    Associao do Grupo de Moradores do INCRA 9

    Associao dos Produtores do INCRA 7

    Associao dos Produtores Rurais do Ncleo RuralLajes da Jibia

    Associao dos Participantes do Mercado deProdutos Orgnicos de Braslia

    Associao dos Produtores Rurais Novo Horizonte- Betinho (ASPRONTE)

    Associao dos Moradores e Produtores RuraisPalmas e Rodeador

    Sociedade civil, academia e setor privado

    Associao dos Produtores Rurais da Reserva A

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    Existem cinco (5) categorias de atividades agroecolgicas que auxiliam na compreenso do que

    considerado prtica ou iniciativa de AU: a produo, transformao artesanal, comrcio justo e

    solidrio; auto consumo; e prestao de servios (SANTANDREU & LOVO, 2007).

    A diversidade de atividades de Agricultura Urbana visa atender s exigncias da abordagemecolgica desta poltica. Cada caso merece estudo aprofundado de suas condies e relaes

    possveis, para que, as atividades de menor intensidade sejam supridas pelas relaes entre

    comunidades diferentes que se complementem pela parceria, onde juntas evoluem e criam as

    condies para isso.

    4.1.1.1. Produo:

    Esto includos o cultivo agrcola (hortalias, plantas ornamentais, frutferas, medicinais, madeireiras)

    e criao de pequenos e grandes animais. A produo ecolgica tambm exige que haja a produo

    de insumos (sementes, mudas, composto, hmus), reaproveitamento de resduos e gua no loc, paraque a produo seja mais sustentvel.

    4.1.1.2. Transformao artesanal

    Abrange a produo da prpria comunidade e a transformao destes produtos de maneira artesanal,

    realizadas pelas famlias envolvidas com o processo. Podem ser gelias, doces, etc.

    4.1.1.3. Comercializao justa e solidria

    Toda a produo e transformao devem ser comercializadas de uma maneira justa com as

    comunidades vizinhas, e dentro da prpria comunidade, em comrcios formais e informais, como os

    tradicionais mercados orgnicos

    4.1.1.4. Auto consumo

    A produo (ou parte dela) pode ser voltada ao consumo da prpria comunidade, ou doaes a

    instituies, alm de trocas internas, ou com outras comunidades

    4.1.1.5. Prestao de Servios

    Toda a experincia da comunidade pode (e deve) servir de base para novas iniciativas e

    capacitaes. Esta troca constante de conhecimento necessria para o desenvolvimento e

    divulgao de novas tecnologias, modos de cultivo, etc., de maneira que sigam um caminho de

    evoluo e aperfeioamento.

    Percebe-se que, esta atividade prope ir alm de hortas comunitrias. De alguma maneira, ela clama

    pelo aumento da participao da comunidade, e d bases para a sua autonomia. Alm disso, abrange

    o intercmbio de informaes e experincias que tenham em sua base, uma conscincia ambiental e

    ecolgica em contnua expanso.

    A versatilidade que est presente nesta viso ecolgica (sistmica) da produo agrcola e pecuria,

    nos meios urbanos, permite Agricultura Urbana inserir-se nos mais diversos locais, e contextos

    podendo ser fonte de renda, justia social e dignidade para muitas famlias, se receber a devida

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    valorizao e importncia que ela tem. Os locais urbanos que so aptos a receber a Agricultura

    Urbana so muito variados, necessitando de estudo e aprofundamento de caso. esto no quadro 2:

    Quadro 2 - Tipologias urbanas possveis para atividades de Agricultura Urbana e Periurbana. Adaptada(Terrile, 2006 apud SANTANDREU & LOVO, 2007, pg.22)Tipologias possveis para atividades de AUP

    Tipologias Espaos caractersticos

    Espaos Privados

    Lotes vagos; Terrenos baldios particulares ou comdvidas sobre a propriedade; Lajes e tetos;Quintais ou Ptios; reas periurbanas; reasverdes em conjuntos habitacionais.

    Espaos Pblicos

    Terrenos de propriedade Municipal, Estadual eFederal com espaos possveis de utilizao deacordo com a caracterizao feita nas linhasabaixo:

    Verdes urbanos Praas e parques.

    Institucionais Escolas e Creches; Posto de Sade; Hospitais;Presdios; Edifcios Pblicos e privados.

    No edificveis

    Laterais de vias frreas; Laterais de estradas eavenidas; Margens de cursos dgua; reasinundveis; Faixa sob linhas de alta tenso;Ambientes aquticos (rios e lagoas).

    Unidades de conservaoreas de Proteo Ambiental; ReservasEcolgicas; Outras unidades desde que sejapermitido o manejo e uso de potencialidades.

    reas de tratamento Aterro sanitrio; Lagoas de oxidao.

    4.1.2. Parmetros globais para a insero da Agricultura Urbana

    todas as aes desenvolvidas, tanto pelo governo, como tambm pela sociedadecivil precisam ser cada vez mais unificadas; achar os caminhos de encontro, ecrescerem como um processo para traar uma poltica pblica organizada(ILZINHO, 2008 - entrevista: vdeo internet).

    A grande quantidade de prticas e a necessidade de valorizao Agricultura Urbana, levaram as

    ONGs, e associaes, juntamente com o poder pblico, ao estabelecimento de parmetros globais

    para a execuo, organizao e fortalecimento das iniciativas, organizando, assim, seus objetivos,

    diretrizes e metodologia de insero nas comunidades. A continuidade das iniciativas e acomunicao entre as comunidades visam aperfeioar a prtica. Percebe-se que a inteno

    estabelecer conexes, relaes de parceria, continuidade e evoluo nos processos de produo

    agroecolgica local e urbana, voltada para o seio da comunidade envolvida. Atualmente, a poltica de

    Agricultura Urbana conta com uma lista de objetivos e diretrizes (SANTANDREU & LOVO, 2007), e, um

    fluxograma metodolgico que auxiliam nessa padronizao e organizao (site REDE).

    Os objetivos so:

    4.1.2.1. Objetivos:

    Promoo da Agroecologia, do Consumo de Hbitos Saudveis, da Construo deConhecimentos Respeitando o Dilogo de Saberes, ao Respeito Diversidadetnica, Racial e Cultural;

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    Promoo da Equidade de Gnero, Justia Scio-ambiental e a Solidariedade;

    Promoo da Soberania Alimentar e Segurana Alimentar Nutricional;

    Promoo da Economia Justa, Solidria e Familiar e o Consumo Responsvel;

    Promover a Participao, Empoderamento e Autonomia do(as) Agricultores(as)Urbanos e Periurbanos. (SANTANDREU & LOVO, 2007)

    4.1.2.2. Diretrizes:

    Fortalecer a conscincia cidad em torno dos benefcios da AUP;

    Desenvolver capacidades tcnicas e de gesto dos e das agricultoras urbanas eperiurbanas;

    Fortalecer cadeias produtivas locais e regionais, fomentando a produo,comercializao e o consumo;

    Facilitar o financiamento para atividades de AUP;

    Promover a intersetorialidade e a gesto descentralizada e participativa e;

    Fortalecer a institucionalizao para o desenvolvimento da AUP. (SANTANDREU &LOVO, 2007).

    Devido necessidade de maior organizao desta poltica, Clair Ilzinho, da prefeitura de Belo

    Horizonte, um dos coordenadores do CCF-BH, esclarece:

    4.1.2.3. Metodologia da insero da AU

    O programa Cultivando Cidades para o Futuro Belo Horizonte, 2008 (CCF-BH, 2008) teve como um

    dos objetivos estabelecer uma metodologia de insero da prtica de AU nos espaos pblicos.

    A metodologia alcanada no programa visa estabelecer uma comunicao constante com a

    comunidade, de forma que esta sempre participe de todos os processos, desde o diagnstico, at asconcluses e lies aprendidas, com o decorrer das atividades. Veja a figura 2, que ilustra o

    fluxograma a ser seguido:

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    Figura 2 - Fluxograma de metodologia para poltica de AU. Fonte: site da REDE (Rede de Intercmbios detecnologias alternativas (http://www.rede-mg.org.br/index.php?iid=24&p=2&sid=58 acesso em14/03/2011).

    Observa-se que a primeira fase formar uma equipe local de trabalho. Esta atitude visa a

    aproximao fundamental com a comunidade na agroecologia. Fortalece as relaes deinterdependncia e parceria no interior da comunidade, como vimos nos princpios ecolgicos.

    O diagnstico a segunda fase , ento, feito por todo o grupo (desde os coordenadores, tcnicos

    e comunidade). Atravs de trocas de informaes empricas, locais; repertrios tcnicos, e educao

    ambiental, o sistema (comunidade e parceiros) fica mais capacitado e ciente do perfil, necessidades,

    desejos, anseios, possibilidades, e potencialidades da prpria comunidade, e de seu meio ambiente.

    As intervenes so criadas em conjunto. O objetivo final do diagnstico produzir um documento

    estratgico, e, a partir dele, realizar nova capacitao da equipe (tcnicos e comunidade), e prepar-

    la para as prximas fases, que consistem em estabelecer o plano estratgico de atuao em curto e

    longo prazo, e, posteriormente, executar as prticas das aes planejadas e, a institucionalizao de

    polticas. Todo o processo deve ser monitorado e, dada ateno especial para a busca da equidade

    de gnero.

    Pode-se perceber que a prtica da AU, devidamente valorizada, tem grande contribuio na busca de

    cidades mais sustentveis. Ao contribuir com a diversidade de funes aos espaos pblicos, e

    valorizao da comunidade local, promove a justia social, o acesso a alimento de qualidade,

    embelezamento da cidade, conforto bioclimtico, cidades vivas, etc.

    Pode-se entender que, quanto mais produo agroecolgica uma cidade realizar, menor ser a

    necessidade de novos campos agroindustriais, que devastam a biodiversidade de nossos

    ecossistemas; maior ser a autonomia e dignidade das pessoas, pois estas participaro e sero

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    capacitadas para evolurem em suas relaes internas externas. Devido a isso, a valorizao desta

    poltica contribui na transformao do metabolismo de nossas cidades.

    Importante ressaltar que a produo agroecolgica visa a manuteno da vida humana e no-

    humana, pela sua viso sistmica (relaes e conexes) de produo. A permacultura com suas

    estratgias complementa a Agricultura Urbana, pelo seu mtodo criativo de gerar em cada

    componente do sistema diversas funes, utilizando-se, para isso, sistemas vivos; a observao dos

    padres ambientais; recursos renovveis de energia, e estratgias de desenho / projeto que buscam

    alta eficincia e baixo impacto, capazes de gerar, em um local especfico, sistemas vivos ecolgicos e

    produtivos que se autorregulam, dinmicos, com pouca necessidade de gastos com manuteno, e

    simplicidade de produo, facilmente abraada pela comunidade.

    4.2. A permacultura nos espaos urbanos

    Permacultura (agricultura permanente) um mtodo de desenho (projeto) emanuteno de ecossistemas produtivos de forma consciente, nos quais existe adiversidade, a estabilidade e a resilincia (capacidade de recuperao) dosecossistemas naturais. (MOLLISON, 1988. pg. IX).

    Aplicar a permacultura nos espaos urbanos torn-los vivos, e produtivos. A sua maneira de pensar

    a ocupao humana criativa e aumenta a capacidade cognitiva da comunidade (tpico 3.1.4), pela

    conexo que cria com os princpios e padres da natureza. Todo e qualquer elemento tem valor e

    serve como importante componente na criao das relaes de parcerias, das transformaes,

    reciclagens e produes necessrias dentro do sistema. Em uma cidade, envolve desde as

    construes, as vias, as caadas, as pessoas, o sol, a chuva, o vento, etc. Tudo o que for possvel

    deve participar deste sistema contnuo e dinmico de relaes de parceria e evoluo mtua.

    Os trs pilares bsicos da permacultura so o Cuidado com o planeta,a fim de garantir a

    continuao da vida; o Cuidado com as pessoas, para que acessem os recursos necessrios sua

    prpria existncia; e o Estabelecimento de limites para a populao e o consumo, a fim de

    garantir o atendimento aos dois princpios anteriores (MOLLISON, 1988).

    Existem diversas estratgias que criam, nas ocupaes humanas, as condies de se conectarem

    mais ainda com o seu meio ambiente natural, e desenvolverem uma conscincia ecolgica cada vez

    mais apurada. Aqui so apresentadas algumas destas. So estratgias gerais, e podem servir em

    diversas escalas de anlise.

    4.2.1. Estratgias (Rodrigues, 2000; Mollison, 1988)

    A permacultura, como um sistema de projeto, no contm nada novo. Ela organizao que sempre esteve ali, mas de uma maneira diferente, de forma que todos[elementos] trabalhem para conservar energia ou para produzir mais energia do que consumido. (Mollison, 1988. p.9 com adaptaes).

    4.2.1.1. Posio relativa dos elementos:

    Envolve a anlise das necessidades e dos produtos que cada elemento gera. Abrange tanto oselementos construdos, quanto os naturais. Pode-se entender que,quanto mais elementos inserirmos,

    mais produtos e necessidades vo aparecer, abrindo espao para novos componentes, e

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    aperfeioamento dos que j estiverem ali. Assim, o planejamento de todo o espao deve ser feito com

    base nestas relaes entre as necessidades da comunidade, e os produtos e combustveis de seus

    componentes produtivos. Esta estratgia estabelece um padro de posicionamento dos tipos de

    produo de maneira que o aproveitamento energtico seja otimizado, e o gasto minimizado. A

    inteno que o prprio sistema se realimente pelo correto posicionamento e criao de fluxos de

    energia e matria ao longo deste.

    Mollison (1988) estabelece um sistema de zoneamento que vai desde a zona 0 at a zona 5, e

    sugere o carter das atividades praticadas em cada um:

    Zona 0: onde se localiza o projeto da moradia integrado a componentes naturais como estufas, e

    telhados verdes, prgulas com videiras, potes de plantas, e animais de companhia.

    Zona 1: Componentes que necessitam observao continuada, visitas freqentes, necessidades

    de cuidado especial, como viveiros de plantas, e pequenos animais; horta, reservatrios de guas

    da chuva precisam estar bem prximos moradia. Nesses locais, tambm se realizam a

    reciclagem dos resduos orgnicos. Aqui se organiza a natureza para que sirva s nossas

    necessidades.

    Zona 2: Componentes que necessitam menos trabalho de acompanhamento. Pomares,

    pequenos depsitos de produo, pequenas lagoas, etc.

    Zona 3: Onde se localizam as produes maiores, para comrcio de produtos e animais.

    Grandes reservatrios de gua, armazns, ou seja, sistemas agrcolas da grande escala,

    manejados com adubos naturais, ou esterco vindo da Zona 1 e 2.

    Zona 4: rea que faz limite com os ecossistemas selvagens, porm, ainda passvel de manejopara coleta, a fim de atender s necessidades domsticas. Voltada para rvores resistentes, sem

    podas, e/ou voluntrias. Nesta zona, pode-se praticar a silvicultura (manejo sustentvel de

    florestas)..

    Zona 5: Ecossistema selvagem, natural. Voltado para recreao ocasional, ou simplesmente para

    deix-lo se desenvolver sozinho. Neste local, onde devemos aprender as regras a serem

    seguidas em nossas comunidades.

    Tratando-se de espaos urbanos (vazios) dentro da malha urbana, percebe-se mais possibilidades de

    trat-los at a Zona 2. De acordo com Rodrigues (2000), as outras zonas (3 e 4) poderiam ser

    inseridas nos arredores da cidade e/ou nos parques urbanos.

    4.2.1.2. Cada elemento deve executar diversas funes

    Com uma boa posio estabelecida, um elemento tem a possibilidade de criar conexes mais

    variadas e assumir diversas funes dentro de um sistema. A autora d um exemplo de um lago que

    possa servir de reservatrio de gua para irrigao, criao de peixes, habitat para pssaros, refletor

    de luz para amadurecimento de frutas e rea de recreao.

    No enfoque urbano, um dos objetivos tornar os espaos urbanos (pblicos, particulares, etc.) mais

    eficientes. Ao analisar os excessivos espaos gramados em nossas cidades, pode-se perceber que

    estes poderiam servir para a produo ecolgica de alimentos, e, ainda, abrigar pequenos viveiros de

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    animais, voltados para o consumo e aproveitamento da prpria comunidade, e ainda auxiliarem na

    infraestrutura urbana, dependendo das necessidades locais (Mollison, 1988. pg. I). Isto , delegar

    mais funes a esses espaos, na tentativa de distribuir em nossas cidades, diversas funes

    realizadas pelo maior nmero possvel de componentes.

    Os equipamentos urbanos podem ter variadas funes como um abrigo, piso, ou viveiro de plantas

    que sejam, tambm, um reservatrio de gua, ou um captador solar, por exemplo. Os espaos

    urbanos podem se tornar locais ldicos para as crianas, que, ao mesmo tempo em que divertem,

    aprendem a importncia da produo alimentar, e da conscincia ecolgica. Observam a

    biodiversidade, e a beleza do lugar, em espaos de convvio, e reunies comunitrias.

    A produo agroecolgica ainda fortalece a organizao da comunidade, que se torna o principal

    elemento a realizar mais funes. Desta forma, possvel que cada vez mais pessoas se envolvam

    e produzam o que forem comer.

    4.2.1.3. Cada funo apoiada por diversos elementos

    As necessidades da comunidade devem ser atendidas das mais variadas formas, por exemplo, gua,

    produo de energia e alimentos so necessidades bsicas. Para serem atendidas, podem ser

    produzidas de diferentes maneiras, integradas aos equipamentos urbanos, de maneira criativa.

    Assim, como visto anteriormente, esta sobreposio de diversas funes gera um sistema mais

    flexvel, e forte pela diversidade de prticas, e as diferentes relaes que elas geram dentro do

    sistema.

    Analisemos, por exemplo, a captao de gua da chuva. Esta necessidade pode ser apoiada pelos

    mais diversos elementos, bastando para isso, reservatrios estrategicamente locados na rea. Uma

    via urbana, por exemplo, pode servir como um poderoso captador, que ao longo de seu caminho, vai

    distribuindo as guas pelas reas verdes das cidades. Estas, por sua vez, necessitam estar

    preparadas para receber o fluxo de gua, com espcies arbreas que bebam muita gua, como

    eucaliptos. Os edifcios em podem estar preparados com reservatrios, e etc. Desta maneira, a

    irrigao de jardins ornamentais, ou as guas dos vasos sanitrios, e limpeza de pisos so garantidos

    pela atitude de captar a energia que entra no sistema, e utilizada, transformada, etc. Quanto mais

    reservatrios, e tratamentos alternativos de guas, melhor para os mananciais, pois a reutilizao das

    guas aspecto essencial em uma comunidade mais sustentvel.

    Desta forma, cada funo pode ser pensada desta maneira, aliando diversos elementos que

    trabalhem em conjunto e alimentem o sistema por meio da diversidade de opes.

    4.2.1.4. Utilizar a reciclagem

    Quanto mais reciclagem praticarmos, melhor. Nossos lixos orgnicos servem de adubo para os

    nossos jardins; alguns restos de materiais podem ser teis como materiais de construo de jardins,

    hortas, etc. As relaes com outras comunidades so fundamentais e podem estabelecer trocas de

    materiais, produtos, de forma que o que resduo para um seja recurso para o outro. Estas relaes

    podem ser tanto externas, quanto internas, dependendo do nvel e do tipo das atividades existentes

    na comunidade, e nas vizinhanas.

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    4.2.1.5. Utilizar a sucesso natural de plantas:

    Acelerao do sistema. Aumentar os nveis orgnicos do solo, utilizando os processos que j

    estejam em desenvolvimento no local, mesmo que seja o crescimento de espcies consideradas

    daninhas. Pode-se utilizar, tambm, restos de madeiras, serragens, folhas secas, palhas, etc., para

    proteger o solo e enriquec-lo de nutrientes.

    4.2.1.6. Utilizar a diversidade

    Utilizar ao mesmo tempo espcies vegetais frutferas, de hortas, de diferentes ciclos. Este princpio

    est presente em todos os outros, seja nos elementos e suas funes, seja nos diferentes tipos de

    produo (frutferas, hortalias, etc.). Nos cultivos vegetais, devemos usar as espcies

    companheiras, parceiras, consorciadas, a fim de criar, mesmo em pequenos espaos, um sistema

    evolutivo diversificado(Rodrigues, 2000. pg. 32). A autora (Rodrigues, 2000) recomenda utilizar

    variedades de espcies que: a) sejam teis e possam ser armazenadas; b) fixem nutrientes no solo,

    como as leguminosas; c) sejam inseticidas e/ou atrativas a predadores; d) sejam adaptadas ao local,

    e sobrevivam em condies adversas. Importante ressaltar a importncia dos conhecimentos mais

    variados que permitam a construo de sistemas, tambm, variados.

    Segundo a autora (Rodrigues, 2000), o uso de vegetao nativa deve se estender em todos os tipos

    de produo (paisagismo ornamental, alimentar, produtivo), pelas espcies da regio serem mais

    adaptadas e fortalecerem a estabilidade do sistema por manterem seus ciclos de energia e matria

    com uma manuteno muito baixa.

    4.2.1.7. Utilizar a complexidade, atravs da criao de bordas

    Os limites entre dois meios diferentes e antagnicos, inicialmente, (caladas e gramados; espelhosdgua e terreno, por exemplo) servem como espaos de transio que possibilitam a insero de

    mais espcies, configurando cercas vivas, por exemplo, que se utilizem, ainda, de duas ou mais

    espcies produtivas, que sigam formatos sinuosos, a fim de aumentar a rea de contato do limite, e

    maior quantidade de espcies. Quanto mais o limite for sinuoso, criam-se maior quantidade de nichos

    diversificados, com diferentes condies de iluminao, ventilao, umidade, etc. Desta forma,

    possibilita o abrigo para maior diversidade de espcies, pois, os micro climas diferenciados permitem

    o desenvolvimento de diferentes tipos de micro ecossistemas, controlados e limitados pelo prprio

    desenho dos limites. Esses espaos servem como transio e devem servir com elementos parceiros

    de ambos os meio a que se prope integrar. A inteno desta estratgia acabar com a

    incompatibilidade entre diferentes meios e maximizar a sua interdependncia

    4.2.1.8. Utilizar recursos biolgicos (renovveis)

    Segundo a autora (Rodrigues, 2000), o uso de combustveis fsseis aceito somente nas fases

    iniciais de implantao do sistema permacultural, para escavar, e formar espaos de reservatrios e

    condutores de guas, por exemplo. Depois de consolidado, os animais, o sol, os ventos, a gua, e as

    plantas so as fontes de recursos do sistema, sendo essencial o correto manejo destas, para o

    desenvolvimento continuado, flexvel e dinmico. Pode-se entender que, dentro das possibilidades

    apresentadas, o uso de materiais renovveis como o bambu e a madeira nos equipamentos urbanos

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    de grande utilidade, e ainda podem ser produzidos prximos ao local, a fim de servirem para os

    prximos equipamentos, ou para a manuteno e evoluo facilitada dos que j existirem.

    4.3. Pequena concluso

    Definio do desenho permacultural: sistema conceitual, material e estratgicode montagem de componentes em padres que funcionam para beneficiar a vida emtodas as suas formas. Busca prover sustentabilidade e lugares seguros para tudo oque vivo nesta Terra.

    Projeto funcional: Todo componente de um desenho deve funcionar de vriasmaneiras. Toda funo essencial precisa ser realizada por vrios componentes.

    Princpios de Autorregulao: O propsito de um projeto funcional eautorregulador posicionar os componentes de modo que cada um atenda snecessidades, e aceite produtos de outros elementos. (MOLLISON, 1988 p. 69)

    A quantidade de estratgias permaculturais imensa. Estas estratgias muitas vezes se sobrepem,

    ficando difcil estabelecer onde uma comea e a outra termina, assim como as complexas conexes

    que elas buscam estabelecer, espelhadas nos sistemas vivos. Mollison (1988) esclarece que o limite

    para a utilizao de estratgias, e at a criao de novas, est na criatividade, e disposio dos

    envolvidos.

    Aliar as polticas de Agricultura Urbana com a permacultura, em nossas cidades, algo quase

    automtico, pois seus conceitos acabam se sobrepondo, tambm. Ambas no se restringem

    produo alimentar ou de produtos agropecurios. Preocupam-se, principalmente com as pessoas

    envolvidas e a qualidade de suas vidas, tendo como requisito para isto, o desenvolvimento de uma

    conscincia ambiental, e comunitria, com dilogos compreensivos, que se fortalecem nasdiversidades e usam isto para ser a base de suas aes. Buscam, tambm, um mundo mais vivo,

    diversificado onde cada pessoa tem a oportunidade participar dos processos que envolvem suas

    necessidades, de maneira justa, e inclusiva, alm de adquirirem a conscincia ambiental de

    responsabilidade sobre si mesmas.

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    5. O Estudo de caso: rea verde residencial do Plano Piloto,

    Braslia/DF.

    A metodologia de aplicao da Agricultura Urbana (tpico 4.1.2.3 - figura 2), compreende uma fasede diagnstico que requer um levantamento das possibilidades de terrenos viveis de receberem a

    produo agroecolgica. De acordo com o quadro 2, as reas verdes pblicas esto includas. Na

    cidade de Braslia, os espaos verdes pblicos so abundantes, porm, no apresentam muita

    atividade social, nem atividades diversificadas que estabeleam mais funes e flexibilidade a estas

    reas.

    Figura 3 - Vista area da cidade de Braslia. Asa sul. Fonte:

    http://h.imagehost.org/view/0784/myaviationnetphotoid009cp5 (acesso:9/5/2011)

    Braslia uma cidade tombada pela UNESCO como patrimnio da humanidade. Foi construda nos

    moldes do movimento modernista, e projetada por Lucio Costa. Como Romero (2001) afirma, existemdiversas abordagens sobre esta cidade, onde as descries j so amplamente divulgadas e

    conhecidas, portanto, no realizaremos neste trabalho um detalhamento de suas conhecidas formas,

    e sim aspectos de suas reas verdes que pedem por um cuidado mais elaborado, a fim de se

    tornarem espaos mais sustentveis e ecolgicos.

    As reas verdes de Braslia se configuram em grandes espaos gramados com espcies arbreas

    nativas ou exticas distribudas pela cidade. Logicamente no se pode deixar de destacar suas

    qualidades. A beleza esttica do verde, o silncio, e o frescor de suas sombras, remetem queles que

    com elas se relacionam, o quanto necessria esta relao humana com o meio natural. A ideiamodernista de cidade parque possibilita esta maior relao, e maior tranqilidade de seus moradores,

    pois nos arredores de suas moradias, impera o silncio e a pouca atividade urbana. Pode-se at

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    dizer que como se houvesse um pouco do campo dentro da cidade, aspecto importante em uma

    cidade sustentvel (Andrade, 2010).

    Figura 4 - Calada sombreada com um clima agradvel caminhada

    No perodo da noite, o silncio constante na maior parte da cidade; na parte da manh, comum

    acordar com as revoadas dos pssaros. Estas qualidades podem e devem ser preservadas para que

    o futuro tambm possa vivenciar essas sensaes, e dar continuidade a essa caractersticas

    agradveis de um meio urbano.

    Como a cidade possui forte carter patrimonial, entende-se que todo o cuidado necessrio para que

    medidas de interveno em seus espaos no prejudiquem a morfologia da cidade, nem as suas

    caractersticas to importantes, de cintures verdes, e arquitetura moderna. Quanto maior o debate

    de diferentes disciplinas, e conhecimento mais abrangente sobre cada local especfico, as

    intervenes podem ser aliadas da preservao.

    Preservar um patrimnio no quer dizer distanciamento deste ou estagnao. Ao contrrio, existem

    as mais diversas abordagens de valorizao e manuteno dos bens patrimoniais, que visam se

    adequar s economias, e costumes locais. Alm disso, como visto nos princpios ecolgicos (tpico

    3), os sistemas que costumam perdurar pelo tempo so dinmicos, e flexveis, continuamente em

    evoluo para que se mantenham vivos, e interconectados com toda a teia da vida. Um dos objetivos

    deste trabalho visa contribuir com a aproximao entre os princpios da ecologia e a preservao de

    Braslia.

    Os espaos verdes de Braslia so considerados espaos de pouco uso ou atividade, sem o

    dinamismo e diversidades das cidades tradicionais. Isto, porque, de maneira geral, a morfologia da

    separao das atividades torna os espaos vazios quando no se realizam tais atividades

    (TUKIENICZ, 1985 apud ROMERO, 2000), com algumas poucas excees de atividades

    espontneas no planejadas.

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    A histria de criao da cidade tambm contribui para esta pouca atividade nos espaos urbanos, e

    relao distante com a sua populao.

    a (...) rgida estrutura de espao funcional, [do] (...) plano [de Lcio Costa] noestava preparado para abrigar as manifestaes reinvidicatrias de uma populaosem histria comum. Por esse motivo, o plano no possui espaos nem para areunio programada nem para o encontro furtivo e fugaz das massas recm

    liberadas. (ROMERO, 2000. pg.133 ).Holanda(2002), por meio de pesquisas nas Superquadras 405/406 Norte e 102/302 sul constatou

    essa falta de uso nas reas verdes das Superquadras, e alm disso, expe o carter de

    segregao que estes apresentam, por servir apenas classe mdia, moradora do local,

    uniformizando os usurios.

    Os princpios ecolgicos, como os vistos anteriormente, pedem uma abordagem diferenciada para a

    sobrevivncia e boa sade dos sistemas. As comunidades devem ser participativas, diversificadas e

    os componentes urbanos devem ser eficientes, nos quais, quanto mais atividades, melhor a vida da

    populao envolvida.

    Este mais um desafio a ser encarado pelas comunidades em Braslia. Como configurar a cidade de

    maneira em que seus espaos de alta qualidade sejam justos, socialmente? Uma pergunta para

    reflexo...

    Baseado nos princpios da Ecologia Urbana, esta caracterstica montona presente nos espaos

    urbanos das reas residenciais do Plano Piloto de Braslia, pode, em si mesma ser a sua prpria

    ameaa. O risco de apropriaes sem estudos e planejamentos existe. Holanda (2002, pg 356)

    constata que, principalmente na Asa Norte, existem diversos bocados de urbanidade, ou seja,

    apropriaes espontneas, que fogem ao controle da legislao, ou do plano original de Lucio Costa,

    como as fachadas das comerciais que deveriam se voltar para dentro das Superquadras, mas se

    voltam para as ruas externas. Isto, segundo o autor (HOLANDA, 2002 p. 356), pelo fato de o Plano

    Piloto ter engordado de uma maneira no prevista e o trfego de veculos intenso nestas vias atrai

    mais o olhar dos consumidores motorizados do que dos poucos pedestres que transitam pelo

    interior da superquadra. Os famosos puxadinhos das comerciais e das casas das 700 tambm so

    comportamentos que, pela falta de usos habituais nos gramados, cria-se a permisso coletiva para tal

    atitude.

    O plano no previa (e nem poderia prever) nem os detalhes urbansticos, nem a

    infra estrutura necessria para uma sociedade que cresceu de modo vertiginoso eque, alm disso, precisou imitar apressadamente o que as imagens de mdiaimpunham como condio essencial de qualidade de vida (ROMERO, 2001. pg.133)

    A rigidez excessiva na manuteno e gesto destes espaos ignora a incapacidade de evitar as

    ocupaes e manifestaes espontneas. Por esta razo, estas so feitas sem uma capacitao

    adequada ou acompanhamento do poder pblico. Com o passar do tempo, podem descaracterizar as

    malhas verdes da cidade, e prejudicar a qualidade de vida das pessoas, moradoras do local.

    Estabelecer funes nas reas verdes baseadas na permacultura e agricultura urbana uma maneira

    de proteger o verde, e, alm disso, aproxim-lo mais ainda de seus moradores, por meio de espaos

    de lazer, contemplao e descanso, altamente produtivos, dinmicos, educativos, e feitos pela prpriacriatividade coletiva, aliada aos conhecimentos tcnicos, necessrios a intervenes adequadas. A

    permacultura e a Agricultura Urbana enxergam, nos espaos sem uso e sem atividade social, alto

  • 8/6/2019 Reabilita_RafaelNoronha_Mongrafia_2011

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    potencial de abrigar uma vida comunitria intensa, de fortalecer a gesto urbana e ambiental

    descentralizada e coletiva, pela autonomia e capacitao local, aliada viso global do poder pblico

    de realizar polticas de integrao dos diferentes grupos.

    De acordo com as ideias da Ecologia urbana, pensar os detalhes urbanos fundamental, e disso

    depende o sucesso de uma comunidade. Portanto, justamente na diversidade de usos e apropriaes

    que os gestores urbanos devem trabalhar, ao invs de tentar uniformizar, ou industrializar uma

    populao como se fosse uma mquina. Somos sistemas vivos, ento, que nos administremos como

    tais, no como mquinas, ou peas destas. Conhecer a diversidade de usos, atividades, pessoas,

    pensamentos, expresses, etc. possibilita a criao das conexes adequadas entre os componentes

    urbanos do local com as c