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Simone Gonçalves de AssisJoviana Quintes AvanciRenata Pires PesceKathie Njaine

RESILIÊNCIA NA

ADOLESCÊNCIA

Refletindo com educadores sobresuperação de dificuldades

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PESQUISADORES

Simone G. Assis (COORDENAÇÃO)Joviana Quintes Avanci

Renata Pires Pesce

Suely Ferreira Deslandes

Liana Furtado Ximenes

Luciene Patrícia Câmara

Lucimar Câmara Marriel

Gabriela Franco Dias Lyra

ISBN: 85-88026-21-X

Este texto é fruto de uma pesquisa financiada pelo Programa de Desenvolvimento Tecnológicoe Inovação em Saúde Pública – PDTSP-SUS, da Fundação Oswaldo Cruz. É continuidade de umtrabalho sobre resiliência desenvolvido pelo Centro Latino Americano de Estudos de Violênciae Saúde Jorge Careli em conjunto com o Fundo das Nações Unidas para a Infância - UNICEF.Também contou com bolsistas do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico eTecnológico/CNPq; do Programa PIBIC do CNPq/Fiocruz; e do Programa de Técnicos/Tecnologistas (Tec-Tec) - Convênio FIOCRUZ-FAPERJ.

Capa, projeto gráfico e editoração: Carlota Rios; Ilustração: Marcelo Tibúrcio; Revisão: MaraLúcia Pires Pesce; Fotos: Gutemberg Brito

Ficha catalográfica

155.5 A848r Assis, Simone Gonçalves de.Resiliência na adolescência: refletindo com educadores sobre superação de

dificuldades/ Simone Gonçalves de Assis; Joviana Quintes Avanci; RenataPires Pesce; Kathie Njaine. __ Rio de Janeiro: FIOCRUZ/ENSP/CLAVES/CNPq, 2008.

68p.ISBN 85-88026-21-X

I. Adolescência. 2. Resiliência. 3. Risco. 4. Proteção. I. Avanci, Joviana Quintes.

II. Pesce, Renata Pires. III. Njaine, Kathie.

AGRADECIMENTOS

Aos alunos e professores que contribuíram com suas idéias e visões de mundo.Às escolas públicas e particulares que sempre se mostraram receptivas ao trabalho.À Secretaria de Educação do município de São Gonçalo – Estado do Rio de Janeiro queacreditou e apoiou esse projeto.A todos os funcionários das escolas, em especial professores, coordenadores e diretores quesempre se dispuseram a ajudar.Ao Claves, que nos oferece suporte e condições de trabalho, bem como o afeto dos seusmembros.Ao Unicef, que nos tornou possível realizar nosso sonho de investigar o tema da resiliência e decontribuir para a promoção de saúde e de qualidade de vida nas escolas brasileiras.

APOIO TÉCNICO

Jerônimo Rufino dos Santos Júnior

Marcelo da Cunha Pereira

Marcelo Silva da Motta

APOIO À DOCUMENTAÇÃO E NORMATIZAÇÃO DA

BIBLIOGRAFIA

Fátima Cristina Lopes dos Santos

Danúzia da Rocha de Paula

ATORES (fotos da peça de teatro “O olho do furacão”, apresentando os resultados da pesquisa).

Texto: Martha Ribeiro. Direção: Marta Guedes e Johayne Hildefonso. Atores: Chico Oliveira; Darla

Féer; Juliano Antunes; Patrícia Micelli; Helena Machado.

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ÍNDICE

Prefácio

Capítulo 1: O QUE É RESILIÊNCIA? 05

Resiliência e vulnerabilidade 07

A resiliência e capacidade de narrar a própria vida 09

O potencial de resiliência e os ciclos da vida 10

Investigando resiliência nas escolas de São Gonçalo/RJ 12

Capítulo 2: OS EFEITOS DAS ADVERSIDADES SOBRE A RESILIÊNCIA 13

Como as adversidades ferem 14

Eventos de vida e resiliência 19

Capítulo 3: OS EFEITOS DA PROTEÇÃO SOBRE A RESILIÊNCIA 21

Pilares familiares para a formação da resiliência 23

A escola protetora 25

A comunidade que cuida 27

Capítulo 4: CARACTERÍSTICAS INDIVIDUAIS QUE FACILITAM A RESILIÊNCIA29

Três formas de lidar com os problemas 30

Encarando os problemas com criatividade e humor 32

A unicidade de cada um 33

A importância da auto-estima 35

O crucial sentimento de competência 36

A capacidade de satisfazer-se com a vida 38

A capacidade de crer no invisível 39

Sucumbindo aos transtornos mentais 40

Agindo de forma anti-social 41

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Conclusão: A ESCOLA E A PROMOÇÃO DE TUTORES DE RESILIÊNCIA 43

Formas de refletir sobre resiliência 48

Referências/Referências sugeridas 52

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PREFÁCIO

Por que algumas crianças e adolescentes, depois de vivenciaremexperiências traumáticas e violentas em suas vidas, conseguem superá-las construindo caminhos positivos? O que os ajuda no enfrentamentodo sofrimento? Por outro lado, por que alguns sucumbem a traumasvividos, trilhando caminhos negativos? Ao final, o que torna uma criançaou ado-lescente mais ou menos resiliente frente as dificuldades davida?

Nos últimos anos, o conceito de resiliência tem despertado ointeresse científico da Psicologia. Os estudos buscaram compreendercomo o indivíduo se coloca frente a situações de risco pessoal esocial. Estudar a resiliência em crianças e adolescentes, e em especialna área de proteção a violações de direitos, como a violência, temtrazido descobertas importantes para apoiar e potencializar ascapacidades de cada menina e menino de superar violências eadversidades em sua vida.

O presente livro, dedicado especialmente ao/a educador/a emsala de aula, buscou investigar os principais fatores (individuais,familiares e ambientais) que impulsionam a capacidade de resiliênciaem adolescentes escolares que vivenciaram situações traumáticas.

A partir de um estudo com 1.923 adolescentes que freqüentama escola, com idades entre 11 a 19 anos, residentes de um municípiode classe popular, do Estado do Rio de Janeiro, o estudo buscoucompreender como esses adolescentes enfrentam e, ainda, comointerpretam as condições adversas em seu cotidiano.

Para o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) eCentro Latino-Americano de Estudos de Violência e Saúde JorgeCarelli (CLAVES), a escolha do ambiente escolar para a investigaçãoda resiliência em adolescentes significou, também o reconhecimentoda escola como um espaço importante de promoção e de proteção

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dos direitos das crianças. As experiências na escola são significativaspara a socialização dos adolescentes, para apoiar na construção de suaauto-estima.

Este estudo pretende oferecer aos profissionais de educaçãoelementos, idéias e ferramentas que ajudem a estimular as capacidadesindividuais, escolares, e familiares de alunos e alunas a partir do trabalhodentro da sala de aula. A resiliência, por ser considerada uma adaptaçãoinesperada frente ao sofrimento, pode ser bastante útil , sepotencializada, no processo de formação integral do estudante. Pode,ainda, contribuir para a melhoria da qualidade do ambiente escolar edas relações sociais nesse espaço.

Este livro vem somar-se a uma segunda publicação especialmentedesenvolvida para os adolescentes e a uma terceira publicação científica,que apresenta o resultado de todo o trabalho de pesquisa realizado nasescolas. Uma peça teatral também foi desenvolvida, como forma decriar uma outra linguagem para o tema da resiliência e assim alcançar,de forma mais lúdica, um público mais amplo, como os familiares e ascomunidades onde vivem os adolescentes.

O UNICEF tem o prazer de ter apoiado este estudo realizadopelo CLAVES, que se soma aos esforços daqueles profissionais daeducação que lutam cotidianamente pela melhoria da qualidade doambiente escolar e comunitário; e que muitas das vezes, tornam-sereferências e pontos de luz para alunos e alunas. Desta forma o UNICEFespera contribuir para que cada menina e menino brasileiro possacrescer sem violência.

Marie-Pierre Poirier

Representante do UNICEF no Brasil

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O QUE É RESILIÊNCIA?

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Dirigiu-se então para eles, cabisbaixo, para lhes mostrar que estava pronto

para morrer. Foi então, que viu seu reflexo na água: o patinho feio se

transformara num magnífico cisne branco... (Hans Christian Anderson, autor

de O Patinho Feio, apud Cyrulnik, 2004: 2).

Não é uma tarefa fácil falar sobre resiliência. De fato, ela existe desde oinício da história da humanidade, sempre que homens e mulheres se defrontamcom adversidades e precisam supera-las ou transforma-las.

No dia-a-dia algumas pessoas lidam, adaptam, mostram superação econstroem caminhos positivos diante de circunstâncias de vida difíceis, enquantooutras apresentam esse potencial menos desenvolvido e sucumbem maisfacilmente frente aos obstáculos. O que acontece e por que alguns e não todossão mais facilmente afetados pelas adversidades que os acometem? Este é odesafio que se coloca quando se quer compreender a resiliência.

O objetivo deste livro é refletir com educadores sobre o potencial

de resiliência que existe em cada um de nós e sobre como essa

capacidade pode ser estimulada em cada aluno, em cada educador e

em toda a escola.

A noção de resiliência foi inaugurada pelas ciências exatas, a física e aengenharia, que a definiram como a energia de deformação máxima que um

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material é capaz de armazenar sem sofrer alterações permanentes (Yunes &Szymanski, 2001). Quando adaptado para as ciências humanas e da saúde, à suadefinição reinam incertezas. A resiliência como característica de uma pessoa,deve ser sempre relativizada e entendida dentro de um conjunto amplo defatores intrínsecos e extrínsecos ao indivíduo.

Desde o final da década de 60 e 70 a resiliência começou a ser estudadacom mais afinco pela psicologia e psiquiatria, designando a capacidade de resistiràs adversidades, a força necessária para a saúde mental estabelecer-se durantea vida, mesmo após a exposição a riscos. Significa a habilidade de acomodar-se ereequilibrar-se constantemente frente às adversidades. Na medicina, teria comofoco a capacidade de uma pessoa resistir à doenças, infecções ou intervenções,com ou sem a ajuda de medicamentos (Tavares, 2001). Na Saúde Pública, encaixa-se perfeitamente na ótica da prevenção e da promoção da saúde, do bem estare da qualidade de vida de indivíduos e sociedades.

Na educação, a resiliência tem ocupado um espaço relevante de estudo ereflexão, uma vez que incita uma nova maneira de conhecer, aprender edesaprender, mais reflexível, flexível e resiliente para empreender, ser e estarcom os outros de um modo diferente. Vera Placco (2001) explicita que:

No mundo atual, em que desafios e dificuldades se apresentam a cada

dia para os seres humanos, em que a competição e a busca por espaços

profissionais e pessoais se tornam mais acirradas, em que as

expectativas externas se chocam com as possibilidades reais de

realização do sujeito, este precisa ser formado – e se autoformar – para

se preservar psicologicamente, para reagir, para ordenar seu mundo,

suas necessidades, suas prioridades, seus desejos e suas ações, de modo

a não se deixar sobrepujar por contingências e circunstâncias a que não

possa, em dado momento e em determinadas situações, controlar e dar

as respostas exigidas. (p.7)

Essa autora acentua que, se os profissionais de educação puderem serformados para serem cada vez mais resilientes em relação às suas vidas pessoaise profissionais, sem dúvida poderão ser mais capazes de formar seus alunos –futuros cidadãos – também cada vez mais resilientes.

O estudo da resiliência é cheio de fascinantes perguntas e quebra-cabeças,alguns dos quais este livro se propõe a começar a desvendar, buscandocompreender e reforçar os fatores que podem contribuir para promover boasaúde e condições de vida para o desenvolvimento de crianças e adolescentesem geral, e também para aqueles que vivenciam condições de vida mais precárias.

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O foco endereçado às fases iniciais da vida deve-se ao fato de ser nelas que seestabelecem as bases sustentadoras e norteadoras do ser humano ao longo desua existência e, portanto, um momento prioritário para se pensar emprevenção.

O conceito de resiliência vem tendo uma evolução ao longo das décadas. Jáfoi entendido como sinônimo de invulnerabilidade, como uma capacidade individualde adaptação bem-sucedida em um ambiente ‘desajustado’ e como qualidadeselásticas e flexíveis do ser humano. Felizmente, nos últimos anos esse conceitovem se complexificando, sendo abordado como um processo dinâmico que, porsua vez, envolve processos sociais e intrapsíquicos de vulnerabilidade e deproteção. A resiliência está ancorada em dois grandes pólos: o da adversidade,representado pelos eventos de vida desfavoráveis; e o da proteção, que apontapara a compreensão das formas de apoio – internas e externas ao indivíduo –que o conduzem a uma reconstrução singular diante do sofrimento causado poruma adversidade.

RESILIÊNCIA E VULNERABILIDADE

Mas o que o patinho feio levará muito tempo para compreender é que a

cicatriz nunca é segura. É uma fenda no desenvolvimento de sua

personalidade, um ponto fraco que pode sempre se dilacerar sobre os golpes

do destino. Essa rachadura obriga o patinho a trabalhar incessantemente

sua metamorfose interminável. Então, poderá levar uma vida de cisne, bela,

porém frágil, porque nunca poderá esquecer seu passado de patinho feio.

Mas, ao se tornar cisne, poderá pensar nele de maneira suportável. Isso

significa que a resiliência, o fato de se tornar bonito apesar de tudo, nada

tem a ver com a invulnerabilidade nem com o êxito social (Cyrulnik 2004: 4).

Resiliência e vulnerabilidade encontram-se em pólos opostos da respostaindividual aos riscos (Luthar & Zigler 1991; Antoni & Koller, 2000). Porvulnerabilidade entende-se a predisposição de uma pessoa para desenvolverpsicopatologias e apresentar problemas de comportamento, ou, dizendo deoutra forma, uma susceptibilidade para que surja um resultado negativo duranteo desenvolvimento. No outro lado, está a resiliência, como a predisposiçãoindividual para resistir às conseqüências negativas das situações de risco edesenvolver-se adequadamente.

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Todavia, ser resiliente não significa ser invulnerável aos problemas. Umapessoa resiliente se abate e sofre com as dificuldades; porém, de forma distintaa outra muito vulnerável, consegue “dar a volta por cima” com mais facilidade epresteza.

A vida e a obra da escritora Clarice Lispector ilustra a saga de uma pessoaque mostra capacidade de superação frente a inúmeros obstáculos, emboracongregue muitos elementos de vulnerabilidade. Clarice nasceu quando sua famíliaemigrava da Rússia, fugindo da perseguição aos judeus após a revoluçãoBolchevique. Chegou ao Brasil quando tinha apenas dois meses de idade, sendoa caçula entre as três irmãs. A mãe de Clarice sofria de uma paralisia progressivaque a tornou inválida e dela veio a falecer quando a menina tinha apenas noveanos de idade. Esta mãe tão sofrida deixou marcas em Clarice, sobretudo pelosignificado simbólico que ela deu ao nascimento da filha caçula. Seguindo umacrença de sua terra de origem, esta mãe concebeu e deu à luz a Clarice,acreditando que ter um bebê a curaria de sua doença. As marcas desse gestoimpactaram a menina e a mobilizaram ao longo da vida.

Fui deliberadamente criada: com amor e esperança.

Só que não curei minha mãe.

E sinto até hoje essa carga de culpa: fizeram-me para

uma missão determinada e eu falhei. Como se contassem

comigo nas trincheiras de uma guerra e eu tivesse desertado.

Sei que meus pais me perdoaram eu ter nascido em vão e tê-los

traído na grande esperança. Mas eu, não me perdôo (Lispector, 2004: 111).

Entre mudanças de Estado e escolas, vivenciou a perda do pai aos 20 anos ecomeçou a trabalhar como redatora e repórter. Casou-se aos 22 anos e mudou-se com o marido (diplomata), para outro continente (Rosenbaum, 2002). Passoupor sérios problemas relacionais durante os doze anos de casamento, querepresentaram para ela “quilos de chumbo”. Como mãe, vivenciou o sofrimentode constatar os sintomas de esquizofrenia no filho mais novo.

Sua compulsão para escrever foi sua forma de mostrar para a sociedadeseus sentimentos e sua necessidade de autonomia, expressando em sua obra aforça de sua dor: “eu mesma vivo me levantando e caindo de novo e melevantando. Não sei qual é o bem disso, sei que é essa forma confusa de vida quevivo”1 Sua visão existencial foi um atributo que a impulsionou a um amplo universorelacional, ajudando-a a passar por muitas dificuldades econômicas, relacionais eexistenciais.

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A vida de Clarice Lispector é um manancial para se pensar sobre acapacidade de superação que o ser humano desenvolve frente às adversidades.Ou, dizendo de outra maneira, sobre o seu potencial de resiliência.

Caro educador, neste livro procuramos discutir os mecanismos de superaçãode dificuldades que se estabelecem na infância e adolescência. Desde já, queremosdeixar claro que estamos falando das pessoas em formação, em plenocrescimento e desenvolvimento, mas que trazem inscritas, em suas memórias,uma trajetória de alegrias e tristezas e de mecanismos de enfrenta-mento dasdificuldades. Pretendemos apresentar como adolescentes com maior potencialde resiliência concebem o mundo e a si próprios, para pensar como é possívelpromover ambientes sociais e pessoais que consigam enfrentar o “assustadorcontato com a tessitura do viver”2 e desse contato saírem fortalecidos, apesarde pagarem os custos físicos, emocionais, materiais e relacionais decorrentesdos sofrimentos enfrentados.

A RESILIÊNCIA E CAPACIDADE DE NARRAR

A PRÓPRIA VIDA

“É preciso bater duas vezes para provocar um traumatismo” (Freud, 1936).

O primeiro golpe, no real, provoca a dor do ferimento ou a dilaceração da

falta. O segundo, na representação do real, faz surgir o sofrimento de ter

sido humilhado, abandonado (Cyrulnik, 2004:4).

A forma como uma pessoa percebe e elabora os problemas é um aspectoimportante para reforçar o potencial de resiliência. Ao lidar com um problema,a pessoa precisa lhe dar um significado singular, fruto de sua capacidade decompreensão e elaboração. O resultado desse processo se manifesta em gestose narrativas.

O relato de um problema pode variar radicamente se contado por duaspessoas que vivenciaram tal situação, pois na narrativa importam os significadosespecíficos experienciados e atribuídos às percepções, eventos e à vida de cadapessoa. Cada um tem seu sistema de significados, que está sempre setransformando, dependendo do grau de maturidade e da experiência individual.

1 Disponível em: http://www.tvcultura.com.br/aloescola/literatura/claricelispector/ 2 Expressão cunhadapor Clarice Lispector (Rosenbaum, 2002).

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Em momentos de graves adversidades na vida, pode existir uma certadesorientação no sentimento de si. Embora esse ‘senso de demolição’ abale asestruturas individuais e possa levar à fugas, loucura ou à perspectiva de desistênciada vida, existe uma certa estabilidade ou mesmo uma constante luta para criarou manter um sentimento de si estável frente ao caos que pode se instalar.Nesse sentido, ter a capacidade de contar os ‘golpes da vida’ contribui para darsignificado à existência e ao sofrimento, criando narrativas dinâmicas que tornemsensato e coerente o que parece ser o caos da existência humana (Carr, 1986;Crossley, 2000).

Encontrar significado positivo para as adversidades que sofreu e ser capazde obter “escuta” de outras pessoas para os problemas pessoais é uma dascaracterísticas mais presentes em pessoas muito resilientes.

O POTENCIAL DE RESILIÊNCIA E OS CICLOS DA VIDA

Os atributos básicos ao desenvolvimento da resiliência estão presentes emtodas as fases do ciclo vital, cada uma delas passando por diferentes metamorfosesdo potencial de resiliência. Nos primeiros anos, a resiliência é fácil, todavia,frágil. Conforme as reações do meio, as centelhas de resiliência poderão seapagar, se desviar ou se reforçar até se tornarem uma sólida maneira de agir(Cyrulnik, 2004: 164).

O potencial de resiliência de uma pessoa inicia-se antes mesmo de suaconcepção e é fortalecido durante a gravidez por meio das fantasias, dasexpectativas, dos desejos que desperta no núcleo familiar e da trajetória devida dos pais. Os primeiros meses e anos de vida são comprovadamente decisivospara o padrão de desenvolvimento da criança e seu potencial de resiliência,que é definido pelas interações e pela riqueza de estimulação disponível. Noperíodo de 0 a 3 anos, o afeto por si próprio começa a ser implementado,questão fundamental para o desenvolvimento da resiliência. Aí já se instala acapacidade de encarar com otimismo as novidades e dificuldades que surgem.Brincadeiras aparentemente sem sentido como beijar um machucado paraque a dor vá embora e ressaltar o humor de pequenos acidentes sofridospodem ser incorporados pela criança como formas mais leves de enfrentarmomentos difíceis.

A consciência, o significado dos limites e o sentimento de confiança (em sie no mundo) também são formados nessa fase, o que afeta a capacidade detolerar frustrações.

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No primeiro ano de vida, é importante o desenvolvimento da confiança,do sentimento de previsibilidade e da percepção da própria capacidade de afetaros acontecimentos. O cuidado recebido pela criança é decisivo para aestruturação da resiliência. Crianças cujos cuidados iniciais tenham sido ásperospodem desenvolver desconfiança e insegurança.

No segundo e terceiro anos de vida, a mobilidade conquistada permite àcriança fazer escolhas, o que forma a base para seu sentido de independência eautonomia. Se ela experimentar fracassos repetidos e sentimentos negativoscom suas ações, os resultados de todas as novas oportunidades para a mobilidadee a exploração podem ser a vergonha e a dúvida.

No período dos 4 a 7 anos, as relações afetivas são estendidas a um circuitomais amplo. A criança já é capaz de planejar e tomar iniciativa para o alcance demetas específicas, mas neces-sita de mãos estendidas que assegurem seu êxito.O educador assume um papel fundamental para o desenvolvimento da resiliência,especialmente na esfera afetiva. A escola pode estimular a autoconfiança dacriança e seu potencial de resiliência, dando-lhe novas oportunidades para queperceba suas possibilidades (Munist et al, 1998). É preciso esclarecer que osucesso escolar não está necessariamente relacionado à capacidade de resiliênciada criança.

Na troca de afeto com pares a criança precisa sentir que ocupa umlugar no grupo, que é aceita e querida por algumas de suas particularidades.A afirmação da confiança básica, do reconhecimento dos limites que o mundoimpõe e do progresso para a independência vão se consolidar nessa etapada vida.

A criança dos 8 aos 11 anos necessita receber aprovação por suaprodutividade, já que desenvolve um repertório maior de habilidades específicas.A avaliação da competência está em alta nessa etapa, assim como odesenvolvimento de um senso básico de inferioridade, quando a criança se senteincapaz de desenvolver habilidades. Os pares assumem um papel importantenesse tempo de transformações sexuais e dos conflitos específicos da puberdade.As mudanças emocionais se aceleram. Acentua-se o processo de identificação ea criança costuma se separar mais da figura dos pais, caminhando para umamaior independência. Pela ebulição das mudanças, as crises emocionais afetam aconfiança, provocando inseguranças e incertezas.

Na adolescência, os afetos e conflitos são ampliados. O adolescentereexamina sua identidade e os papéis que deve desempenhar. Costuma ocorrerum desajuste consigo mesmo, ha-vendo maior necessidade de afirmação pessoal,de busca de autonomia e de independência em relação à família. É preciso que

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surja um adulto significativo para contrabalançar os conflitos com os pais,freqüentes nessa fase da vida. As relações amorosas são valorizadas e osentimento de confiança é cambaleante.

Na vida adulta o potencial de resiliência continua a se fortalecer ou pode seenfraquecer. Nessa fase, em que os afetos alcançam maior desenvolvimento,estabelecem-se novos núcleos familiares e capacidade de estabelecer intimidadeafetiva com parceiro(a) e filhos é uma das maiores necessidades. A competênciae a satisfação com a ocupação, fundamentais deste momento da vida, podemestar fragilizados se o adulto estiver com seu grau de autoconfiançacomprometido. A bibliografia sobre resiliência a respeito dessa fase da vida sedireciona mais para a forma de enfrentar problemas como mortes e doenças.

Existem ainda poucos trabalhos sobre resiliência na terceira idade. Umestudo indica que idosos com boas condições de saúde referem mais essa faseda vida como o “tempo da resiliência e da fortaleza”. Idosos com problemasgraves de saúde e que referem perdas sentidas como irreparáveis têm maisdificuldades em relação à competência e a autonomia (Hamarat et al., 2002).Esse estudo mostra que mesmo idosos que chegam a terceira idade com aresiliência solidamente estabelecida, podem mostrar mais fragilidade na superaçãode problemas, quando sentem que não estão mais conseguindo lidar com adeterioração física e com as perdas sofridas. Esse fato reforça novamente ocaráter dinâmico da resiliência ao longo da vida.

INVESTIGANDO RESILIÊNCIA NAS ESCOLAS

DE SÃO GONÇALO

Para compreender melhor o que é resiliência optamos por fazer, no anode 2003, uma pesquisa com 1923 alunos de 7ª e 8ª séries do ensino fundamentale 1º e 2º anos do ensino médio de 38 escolas públicas e particulares do municípiode São Gonçalo, na região metropolitana do Rio de Janeiro, sorteadas poramostragem. Demos ênfase aos aspectos individuais, familiares, escolares e sociaiscapazes de promover o potencial de resiliência. (Assis, Pesce & Avanci, 2006).

Todos os adolescentes responderam a um questionário anônimo, quepermitiu conhecer seu potencial de resiliência (Wagnild & Young, 1993; Pesceet al., 2005), os eventos adversos que passaram em suas vidas, os processosexternos de proteção que o meio familiar e social lhes legou e as característicaspessoais que possuem e utilizam ao enfrentar problemas do dia a dia.

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Também foram entrevistados 20 adolescentes que, compartilharam algumashoras com as pesquisadoras, refletindo sobre suas experiências, valores, atitudese opiniões.

As falas e os sentimentos de todos esses adolescentes conduzem aapresentação dos resultados da pesquisa, efetuada a seguir. Também dialogamcom a literatura nacional e internaci-onal produzida sobre resiliência.

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OS EFEITOS DAS ADVERSIDADES

SOBRE A RESILIÊNCIA 2

Um ferimento precoce ou um grave choque emocional deixam um traço

cerebral e afetivo que permanece dissimulado sob a retomada do

desenvolvimento. O tecido portará uma lacuna ou uma malha particular que

irá alterar a continuação da tecedura. Poderá se tornar um tecido bonito e

quente, mas será diferente. O distúrbio é reparável, às vezes até para

melhor, mas não é reversível (Cyrulnik, 2004: 113).

O ser humano se defronta com circunstâncias adversas mesmo antes denascer e delas se defende ao longo de todos os anos de sua existência,transformando-se interminavelmente, dependendo de sua capacidade de elaborare superar problemas e reformular-se cotidianamente, atributos que compõemas raízes da resiliência. Nesse sentido, adversidades conformam vidas, mudandoflexivelmente seus rumos. Cyrulnik (2004) destaca a importância dasmetamorfoses provocadas pelos traumas. Os traumas não podem ser revertidosdepois de ocorridos. No entanto, eles podem ser reelaborados e re-significados,reduzindo o impacto provocado por estresses ou infortúnios ocorridos comcrianças, adolescentes e suas famílias.

Dentre as circunstâncias consideradas mais lesivas para as crianças eadolescentes existe a vitimização provocada por conflitos armados, guerras epor alguns graves desastres e catástrofes naturais. Outros acontecimentos sãodifíceis de serem enfrentados pelas crianças e jovens, abuso físico, psicológico esexual, a negligência, a ocorrência de doenças e mortes na família, os conflitos e

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separação dos pais, a perda de cuidadores ou pessoas significativas, separaçõesprolongadas da mãe, sua própria hospitalização, ausência do pai, convivênciacom a pobreza, asso-ciada à instabilidade da moradia e ao desemprego do principalprovedor da casa (Trombeta & Guzzo, 2002).

Para adolescentes, outros eventos de vida são mais significativos: mudançasde ciclo escolar, transformações próprias da puberdade, problemas no namoro,mudanças de vizinhança e rupturas familiares (Gore & Eckenrode, 1996).

Nem toda adversidade é necessariamente um estresse para o indivíduo.Um evento é considerado estressor quando acarreta mudança interna na pessoa,alterando o componente de afeto e sobrecarregando ou excedendo seusrecursos adaptativos (neuroquímicos, psicológicos e sociais). Acredita-se que,quanto mais uma pessoa desenvolva seu potencial de resiliência, mais poderáminimizar o prejuízo dos problemas na vida interior e nas relações macro emicrosociais.

Para compreender a engenharia pela qual as adversidades da vida searticulam ao comportamento humano, é necessário refletir sobre mecanismose processos de riscos, biológicos, psicológicos, sócio-culturais e sua inserçãono tempo e na história individual. A identificação desses processos possibilitauma maior compreensão dos efeitos provocados pelos golpes da vida natrajetória de cada um.

COMO AS ADVERSIDADES FEREM

Existem muitas concepções sobre os eventos de vida como estressores oufatores de risco, capazes de ferir a integridade da criança. Uma primeira linhade pensamento, mais tradicional, afere a compreensão dos eventos adversos devida como estressores estáticos. A simples presença do fator de risco já preveriaa ocorrência de conseqüências indesejáveis. Uma segunda corrente consideraque o potencial lesivo de uma situação estressante estaria relacionado àquantidade de eventos enfrentados. Isso significaria que o acúmulo de adversidadesao longo do tempo seria um fator fundamental para provocar conseqüênciasno indivíduo, e que um único estressor pode não ter impacto significante. Aocontrário, a combinação de duas ou mais adversidades elevaria a possibilidadede conseqüências negativas para o desenvolvimento. Esse maior potencial lesivonão se daria apenas pelo número de problemas, mas, principalmente, pelo impactoe pela potencialização de um estressor sobre o outro (Garmezy, 1993).

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Outro fator importante que complexifica ainda mais esse cenário é ainterferência da habilidade de significar positiva ou negativamente as dificuldadesvivenciadas.

São inúmeros os ‘golpes do destino’ pelos quais têm passado os adolescentesde São Gonçalo, sempre indesejáveis mas nem sempre evitáveis. Vale a penarefletir sobre o grau de vulnerabilidade desses jovens em plena etapa dedesenvolvimento, pois todo ser humano possui seu limite para lidar com aadversidade.

Viver em condições sócio-econômicas precárias é um fator de risco sempreapontado na literatura nacional e internacional para o desenvolvimento infanto-juvenil. É também o mais citado pelos adolescentes de São Gonçalo. Configura-se como uma ameaça constante, aumentando a vulnerabilidade da criança e desua família. A precariedade das condições sociais está associada à subnutrição, àprivação social, à desvantagem educacional e a uma série de outras limitações(Cecconello & Koller, 2000).

Nas famílias dos estratos populares e naquelas constituídas por pais compouca escolaridade, verificou-se freqüência maior de problemas, maisadversidades no relacionamento familiar e menor supervisão dos filhos. Sofrerprivações sócio-econômicas não é, contudo, suficiente para afirmar que pobrezaseja sinônimo de violência, especialmente na família.

Outro evidente foco de manifestação da desigualdade social surge naparticipação escolar. No nível macro-estrutural, a oferta de escolas para apopulação de baixa renda é mais precária, seja quanto à estrutura física comoquanto à qualidade do ensino ministrado. Os adolescentes da pesquisa quepassaram por mais privações materiais têm pior desempenho em português emate-mática, participação menos ativa em sala de aula e em grupos estudantis,têm mais fragilidade para o uso de substâncias psicoativas e mais manifestaçõesde sofrimento emocional.

A morte dos pais ou cuidadores é uma situação muito traumatizante parauma criança ou um adolescente. A fase da vida em que a perda ocorreu temsido destacada em estudos que investigam os efeitos dessa adversidade (Rutter,1988). Muitas são as controvérsias sobre a capacidade da criança reagir à perdade um dos pais por meio de uma forma saudável de luto. De modo geral,parece que não há um período crítico especial do desenvolvimento afetadopela experiência de perda de cuidadores. A reação da dor imediata parece sermais curta em crianças pequenas, contudo conseqüências tardias podem advir eserem maiores.

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Para a criança de idade escolar não é a percepção da falta, mas arepresentação da perda o que mais mobiliza. Nessa fase da vida, a criança tem,muitas vezes, mais capacidade do que o adulto para enfrentar a verdade damorte. Para vencer, ela precisa comandar a representação da perda e descobrirfatores de resiliência como a encenação do evento vivido por meio do desenho,da narrativa, do jogo ou do teatro. Já o pré-adolescente ou o adolescenteprecisa comandar a forma como deseja expressar sua infelicidade. Quanto maisnova é a criança, é menos provável que seu luto se assemelhe ao do adulto(Cyrulnik, 2004). Independente do período da vida que se der a morte doprogenitor, a existência de um contexto afetivo estável na família facilita paraque a criança ou adolescente retome mais prontamente o curso de sua evolução,familiarizando-se ativamente com o novo arranjo familiar.

Dar a criança ou ao adolescente informações exatas e sinceras,demonstrando simpatia e apoio é uma postura das mais eficazes, facilitando umareação à perda com realismo, e diminuindo as conseqüências oriundas dessaexperiência. É preciso que o adulto seja capaz de tolerar a saudade, o sofrimentoe a angústia da criança ou adolescente, se deseja ajudá-lo a passar de formapositiva, momento tão difícil.

A morte de irmãos também pode afetar muito a criança e o adolescente.De modo geral, os efeitos duradouros de experiências de morte de pessoassignificativas resultam de fatores antecedentes e procedentes a perda, mas doque da morte em si. Em muitos casos, a perda de um dos pais implica em mudançasde moradia, de cuidadores, de papéis familiares, em maiores dificuldadeseconômicas, além de modificações na habilidade relacional do genitorsobrevivente. Com freqüência ocorre ainda a inclusão de um novo cuidador.

O potencial de resiliência é similar entre os que viveram a perda de pais eirmãos e os que não passaram por tal adversidade, apontando para o fato deque existem fatores mediadores cruciais que contribuem para a superação deadversidades. Em casos de perdas de cuidadores é importante que não apenas afamília próxima à criança, mas também a sociedade como um todo encontremeios de ajudar o genitor sobrevivente a cuidar de seus filhos.

Os problemas médicos na família também são eventos altamenteestressantes e de grande magnitude na vida dos adolescentes. Dependendo dagravidade dos agravos à saúde, do tempo que duram e das conseqüênciasemocionais e financeiras que deixam na família, tais eventos podem trazer tantosofrimento quanto a perda de um dos pais.

A pesquisa mostra que quase todos os adolescentes vivenciaram mortes deparentes próximos, doenças ou acidentes de familiares, incluindo a presença

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muito freqüente de uso de álcool e drogas na família. Doenças agudas e crônicasperpassam as histórias familiares, trazendo para dentro de casa a instabilidadeda vida.

Vivenciar problemas de saúde na família não afeta diretamente a resiliênciados adolescentes. Porém, os mais resilientes mostram-se mais conformadosdiante das perdas por que passaram. Apesar da tristeza que sentem, seus relatoscaminham para um mesmo sentido: “a gente tem que superar, vai fazer o quê”,“era hora dele ir mesmo”.

Viver a dor das brigas e a separação dos pais é outro acontecimento da vidaque atinge muito os adolescentes. Discussões familiares envolvendo filhos, separaçãodos pais, novo casamento de ambos ou de um deles e incômodo com o nascimentode um irmão ou irmã são eventos delicados de serem abordados e que provocaramlágrimas e angústia nos adolescentes de São Gonçalo.

Um contraponto positivo ao processo de separação dos pais se dá quando,a partir da ruptura do casal se consegue reduzir as brigas, obter maior estabilidadee prover afeto constante à criança e adolescente. Nessa situação, os efeitospodem ser minorados substancialmente, pois famílias com relações conflituosas,permeadas pela rejeição e pela hostilidade são mais prejudiciais à criança queuma família estável, em que os pais estão separados.

Os adolescentes de São Gonçalo que vivenciaram brigas e separações entrepais relatam pior relacionamento com o pai e fraco apoio social, situações quepropiciam maior ocorrência de violência física, psicológica e sexual. Tambémtêm pior desempenho em português e matemática e menor participação emsala de aula. Não se constatou associação entre vivenciar brigas e separaçõesfamiliares e comprometimento do potencial de resiliência.

Parte das conseqüências das separações conjugais sobre os filhos provémda instabilidade que ocorre na capacidade de supervisiona-los, pois os paisperdem tempo criticando as ações e omissões um do outro, além de se sentireminseguros quanto à divisão do amor filial diante da nova conjuntura familiar.

Outro duro golpe é crescer numa família com dinâmicas violentas. O acúmulodo conhecimento científico comprova que viver em condições de violênciaprovoca prejuízos severos ao desenvolvimento humano, a curto ou longo prazo.A violência pode ser mais devastadora quando é cometida por aqueles de quemse espera afeto e proteção, em especial, os pais.

Uma das formas menos detectadas e mais lesivas para a formação do indivíduoé a violência psicológica. Ocorre quando os adultos sistematicamente humilham,demonstram falta de interesse, tecem críticas excessivas, induzem culpa,desencorajam, ignoram sentimentos ou cobram excessivamente a criança ou

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adolescente. Essa forma de violência pode potencializar comportamentos deagressividade, passividade, hiperatividade, depressão e baixa auto-estima (Sanchez& Minayo, 2004) e desencadear sentimentos de medo, menos valia e rejeição.

Metade dos adolescentes entrevistados em São Gonçalo já vivenciou pelomenos um tipo de violência psicológica indicando a relevância que esse problematem para crianças e adolescentes. Um em cada três jovens testemunhouhumilhação entre os pais e metade deles refere que humilha e é humilhadopelos irmãos nas brigas do dia-a-dia. A convivência com o sentimento dedesvalorização de si parece ser um dos poucos eventos adversos que por si sótem capacidade de afetar o potencial de superação de problemas.

Outro tipo de violência muito freqüente nas famílias é a violência física, quetambém se configura como uma forma distorcida de comunicação e de relaçãointerpessoal. É um fenômeno comum e costuma atingir todas as classes sociais,embora envolvendo de forma diferenciada os vários integrantes do núcleofamiliar.

Conhecer as práticas disciplinares utilizadas pela família para socializar acriança é uma forma precoce de reconhecer a violência física em etapas aindainiciais do desenvolvimento infantil. A utilização de práticas estritas e punitivassão compreendidas como indicadores de risco no contexto familiar, pois seassociam ao abuso físico e emocional (Koller, 1999).

Constatamos que adolescentes que sofrem e que não sofrem violênciafísica na família têm potencial de resiliência similar. É grande a seriedade doproblema: 30,5% passaram por violência física severa praticada pela mãe e 16,2%pelo pai, caracterizada por atos com alto potencial de ferir, como chutar, morderou dar murros, espancar, ameaçar ou usar arma de fogo ou faca; 39,8% vivenciamagressões físicas entre irmãos a ponto de se machucarem, e 16,6% assistiramviolência entre pais. Testemunhar agressão entre os pais foi duas vezes maismencionado pelos adolescentes com reduzido potencial de resiliência.

A violência sexual é outra gravíssima adversidade que acomete crianças eadolescentes, podendo se manifestar de variadas formas. Envolve a participaçãode um agressor em estágio mais avançado de desenvolvimento psicológico esexual em relação à criança e ao adolescente vítima da violência. Pode serpraticada através de estimulação direta da criança ou a utilizando para obtergratificação sexual, seja ela imposta pela força ou pela sedução. Nem sempre éacompanhada pelo contato corporal, ocorrendo atos violentos como exibiçãode partes íntimas para a criança, sexualizando-a precocemente, pornografiainfantil e prostituição. É tão mais grave quando envolve figuras de afeto eautoridade como pais, irmãos ou outros familiares.

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A violência sexual costuma originar conseqüências psicológicas, com sintomasque incluem angústia, medo, ansiedade, culpa, vergonha e depressão que podemacompanhar todo o ciclo de vida de quem passou por essa experiência. Podemtambém ocorrer reações somáticas como fadiga, tensão, cefaléia, insônia,pesadelos, anorexia e náuseas. Como repercussões tardias pode-se estabelecerproblemas na esfera ginecológica, uso de drogas e álcool, depressão, tentativade suicídio e outros sintomas conversivos ou dissociativos (Neves et al. 2004).

Adolescentes menos resilientes informaram três vezes mais em relaçãoaos mais hábeis na superação de problemas que a relação com os pais já envolveuuma experiência sexual, indicando que essa quebra de confiança na figura parentalparece desestruturar as bases que dão suporte à resiliência, provavelmenteporque destrói as fontes de proteção tão necessárias às crianças.

Enfrentar adversidades na escola também atinge a formação dosadolescentes. A escola é um local em que as desigualdades sociais estão sacralizadasna vida dos jovens. Suas condições físicas e materiais e a qualidade do ensinosinalizam-lhes seu lugar no mundo e os limites dos ‘possíveis sociais’ que podemalmejar. Configura-se também como um local com freqüentes conflitos quepodem prejudicar seu desenvolvimento. Por ser um local saturado de sentidosocial onde crianças e adolescentes passam longas horas do dia e onde estáoficialmente inscrito ser o lugar para “aprender”, a escola ajuda, promove ouprejudica o aprendizado imediato e a capacidade futura de inserção no mundo.

O relacionamento com colegas pode ser outra fonte de estresse presentena escola. Para alguns adolescentes o tempo passado na escola pode setransformar em um ‘inferno na terra’, especialmente quando são humilhadosou agredidos pelos pares. Pode também se transformar no ‘paraíso’ quandoeles se sentem aceitos pelos colegas.

Do ponto de vista da formação, na escola o adolescente é oficialmenteavaliado pela sua competência acadêmica e relacional. Ser bem sucedido emambos os casos é uma meta nem sempre alcançada, originando muito estresse.Quando não conseguem êxito nesta empreitada, o sofrimento e o sentimentode incompetência podem prejudicar o desenvolvimento futuro, imprimindo napsique do jovem o sentimento de fracasso escolar (pelo qual, na verdade, éapenas parcialmente responsável).

Os adolescentes de São Gonçalo que enfrentam muitos problemas na escolasão bastante vulneráveis: têm menor supervisão familiar; possuem piorrelacionamento com pais e professores; contam com menos apoio social; fazemmais uso de substâncias psicoativas; cometem mais atos anti-sociais; sentem maissofrimento psíquico; têm mais baixa auto-estima; são mais insatisfeitos com a

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vida; são mais vítimas de violência na família, escola e localidade. No entanto,não se diferenciam dos que têm poucos problemas na escola quanto ao potencialde resiliência.

Constatamos que, no ano anterior à pesquisa, um em cada cinco adolescentesfoi humilhado na escola. As escolas contribuem para a reprodução da violênciapsicológica em seu interior e ao admitirem maus-tratos entre alunos etratamentos humilhantes e desrespeitosos entre o corpo discente e docente.Vários países vêm se preocupando, ultimamente, com comportamentos decrianças e adolescentes “prepotentes e agressivos, tais como colocar apelidos,ofender, humilhar, discriminar, intimidar, perseguir, assediar, aterrorizar, agredir,roubar e quebrar pertences” (Lopes Neto e Saavedra, 2003). O termo quetem sido utilizado para nomear o fenôneno é “bullying”. Em seu grau maissevero, esses comportamentos mais agressivos podem também ocasionar emsuas vítimas a perda de interesse ou o medo de freqüentar a escola. Comfreqüência, as agressões incluem ações diretas (agressão física ou sexual) eindiretas (agressões emocionais: impor apelidos, insultos, atitudespreconceituosas), que encobrem uma relação desigual de poder.

A violência na comunidade está relacionada à violência social, sendocomprovadamente mais presente nas localidades onde a população tem menorpoder aquisitivo e onde faltam recursos institucionais protetores da saúde,educação, habitação e segurança pública. Manifesta-se por relações baseadas emmeios agressivos de solução de conflitos nos locais em que as famílias residem,freqüentemente com criminosos dominando o território e cerceando o direitode ir e vir. Além dos efeitos deletérios da convivência em áreas de elevadorisco, o medo originado pelo descontrole e insegurança toma lugar de destaquenessas áreas, sendo tão limitador quanto os reais eventos que ocorrem.

Os adolescentes que mais vivenciaram violência na comunidade tambémmostram um perfil vulnerável, embora também não tenham mostradocomprometimento da resiliência.

De todas as adversidades apresentadas neste capítulo, as únicas queisoladamente se mostraram relacionadas à redução do potencial de resiliênciase referem à família: ter sofrido violência psicológica por pessoa significativa,testemunhar violência física entre os pais e ter passado por uma experiênciasexual com um dos pais.

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EVENTOS DE VIDA E RESILIÊNCIA

Jamais conseguimos liquidar nossos problemas, sempre resta deles algum

vestígio, mas podemos dar-lhes uma outra vida, mais suportável e, às vezes,

até bonita e com sentido (Cyrulnik, 2004:12)

A capacidade de resiliência significa encontrar forças para transformarintempéries em perspectivas. Certamente que as adversidades são fatoresnecessários para se tecer a resiliência, mas são, isoladamente, insuficientes parapromovê-la. Verificamos ao longo do capítulo que poucas circunstâncias difíceisestão associadas diretamente com a resiliência. À primeira vista isso causariaestranheza: afinal, apenas aprende a superar as adversidades aqueles que asviveram?

A teoria dá substrato para interpretar esses achados, baseada em dois fatos.O primeiro deles é que as experiências negativas de vida são moderadas peladimensão de proteção que cerca o adolescente. Quanto mais protegido for,menor probabilidade de que surjam conseqüências severas oriundas dos estresses.

O segundo e importante aspecto é a relevância da forma como asadversidades são sentidas, interpretadas e narradas. Embora eventos estressantessejam pensados como acontecimentos que desviam o indivíduo de seudesenvolvimento sadio, apenas ele próprio pode narrar e avaliar o que lheaconteceu. Mais do que conhecer os eventos de vida e como eles se engendramno comportamento humano, importa saber as diferenças individuais napercepção das situações adversas. Elas distinguirão o modo como se atravessamos problemas.

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OS EFEITOS DA PROTEÇÃO SOBRE

A RESILIÊNCIA 3

Acumulam-se evidências de que seres humanos de todas as idades são mais

felizes e mais capazes de desenvolverem melhor seus talentos quando

estão seguros de que, por trás deles, existem uma ou mais pessoas que

virão em sua ajuda caso surjam dificuldades (Bowlby, 2001:139)

O cinema italiano divulgou no ano de 1997 um filme intitulado “A vida ébela” sob a direção de Roberto Benigni, que mostrou como um pai judeuconseguiu, durante a segunda guerra mundial, criar uma “bolha” de proteçãosobre seu filho pequeno. Apesar das monstruosidades de um campo deconcentração nazista, a criança passou por tragédias que seriam capazes dedestruir qualquer ser humano, com um mínimo de cicatrizes pessoais.

O filme se baseia em fantasias criadas pelo pai e as crueldades eram comobrincadeiras entre pessoas que se fingiam de boas e más. Todo esse castelo deareia tinha como finalidade criar um entorno afetivo e material que permitisseà criança manter seu ciclo de desenvolvimento, apesar das circunstâncias hostisali existentes. O final do filme mostra que o pai foi bem sucedido em seu intentoprotetor, embora ele próprio tenha sucumbido ao horror nazista.

Na vida real, não é possível e nem desejável para o ser humano viver presoa uma bolha, mesmo que sua essência seja o afeto e a proteção. Sem troca, ficadifícil para o ser humano crescer, se desenvolver e se tornar capaz de reconhecere superar dificuldades.

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Mas, a existência de um entorno afetivo e material protetor e sensível aomundo exterior é

o aspecto determinante para se proteger uma criança que enfrentaadversidades de sofrer conseqüências mais graves e duradouras. O entornoprecisa ser estável e responsável, para dar à criança o sentimento de continuidadee de futuro; amoroso, para permitir que aprenda a dar e receber afeto; confiável,para prover segurança de que pode contar com outros para superar problemas;flexível, com limites negociados e adaptados ao possível de cada indivíduo eaberto para lidar com o novo; firme o suficiente para facilitar a introjeção delimites e normas culturais; e respeitoso, para que as pessoas aprendam os direitose os deveres da vida em comunidade. Esse entorno nunca é perfeito neminvulnerável, mas quando o saldo protetor é mais intenso e constante, consegueminorar os efeitos daninhos das adversidades.

Os mecanismos de proteção que um indivíduo dispõe internamente ouque capta do meio em que vive são elementos cruciais para estimular o potencialde resiliência ao longo da vida. Existem três tipos principais de proteção atuandodesde a infância e adolescência. A primeira está na própria capacidade individualde se desenvolver de forma autônoma, com auto-estima positiva, autocontrolee com características de temperamento afetuoso e flexível. A segunda é dadapela família quando provê estabilidade, respeito mútuo, apoio e suporte. Aterceira é o apoio oferecido pelo ambiente social, através do relacionamentocom amigos, professores e com outras pessoas significativas que têm papel dereferência, reforçando o sentimento de ser uma pessoa querida e amada. (Brooks,1994; Emery & Forehand, 1996, Garmezy, 1985).

Os fatores que oferecem proteção são, portanto, influências que modificam,melhoram ou alteram a resposta de uma pessoa a algum evento de vida que lhedesencadeou sofrimento. São mais que fatores isolados, são encadeados numaengenharia em que se sustentam os mecanismos ou processos de proteção.

Os mecanismos protetores têm significados distintos segundo os momentosespecíficos da vida de cada pessoa. Um estudo que acompanhou crianças recém-nascidas até fazerem quarenta anos de idade comprovou que quanto maior onúmero de estresses acumulados ao longo da vida, mais fatores de proteçãoforam necessários durante a infância e juventude para contrabalançar os aspectosnegativos e aumentar os resultados positivos no desenvolvimento. Os principaismediadores entre sofrer adversidades e apresentar conseqüências negativasforam o temperamento da criança e da sua família e o suporte emocional dentroe fora da família. Os adultos resilientes eram descritos na primeira infânciacomo pessoas mais afetuosas, ativas, de boa índole e fáceis de lidar. Quando

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adolescentes tenderam a mostrar maior autoconceito, autocontrole, facilidadeem interagir com amigos, professores e inserir-se em grupos. (Werner & Smith,2001).

Existem várias formas de ser apoiado (Sherbourne & Stewart, apud Choret al, 2001). Uma delas é a afetiva, quando o adolescente tem alguém quedemonstra amor e o manifesta em gestos como dar um abraço e fazendo-osentir-se querido. Outra forma é o apoio emocional, que se expressa naexistência de pessoas que o escutem quando precisa conversar, quando precisafalar de si ou de seus problemas, de suas preocupações, de seus medos maisíntimos e com quem possa relaxar. Outra forma de apoio é a que ofereceinformações e aconselhamento, ajudando o jovem a compreender uma certasituação. Existem ainda apoios por meio de recursos materiais como pessoasque estejam ao lado da criança e do adolescente para medica-la quando fornecessário e ajuda-la nas tarefas diárias. Estar junto de pessoas que são divertidase alegres é também uma forma de apoio.

PILARES FAMILIARES PARA A FORMAÇÃO DA

RESILIÊNCIA

O que se produzir – casa habitável ou ruína estéril – será a soma do que

pensaram e pensamos de nós, do quanto nos amaram e nos amamos, do

que nos fizeram pensar que valemos e do que fizemos para confirmar ou

mudar isso, esse selo, sinete, essa marca. (Luft, 2004: 22)

A importância de uma base familiar sólida para o desenvolvimento saudávelda criança, principalmente na primeira infância, é um importante fator de proteção(Garmezy, 1991; Werner & Smith, 2001; Rutter, 1971; Bowlby, 1990).

A família tem como função básica o apoio e a proteção de seus filhos, epara que isso ocorra precisa estar emocionalmente equilibrada. Embora toda equalquer família não seja isenta de problemas, algumas são mais capazes deencontrar alternativas para soluções dos conflitos, conseguindo reduzir os efeitosdestrutivos trazidos pela vida.

Bom relacionamento com os pais é um dos fatores protetores maissalientados na literatura, a ponto de um importante pesquisador afirmar que“os pais que conseguem manter o lar unido estão, na verdade, prestando a seusfilhos um serviço de inestimável importância” (Winnicott, 2001:43). Na verdade,

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esse autor salienta que o rompimento da estrutura familiar não conduzautomaticamente ao aparecimento de distúrbios clínicos na criança, já que algunstraços saudáveis como crescimento emocional prematuro, independência eresponsabilidade podem originar dessa ruptura, mostrando o quão complexa einterconectada é a rede que tece a qualidade da atenção oferecida pela famíliaa uma criança.

Nesse sentido, a separação dos pais pode proporcionar alívio para oadolescente se a família se reconstrói de forma mais harmoniosa e com maiorbem estar emocional, em contraposição há famílias em que pai e mãe moramjuntos mas estão permanentemente em conflito e insatisfeitos. Nesse últimocaso, o ambiente relacional e afetivo se deteriora.

A organização familiar também é influenciada pelo estrato social e culturalao qual a família pertence. Porém, a inserção social por si só não se mostracapaz de alterar o potencial de resiliência de uma criança ou adolescente. Dizendode outra maneira, ter melhor condição sócio-econômica pode privilegiar algumaspessoas por estarem menos submetidas a estresses oriundos da pobreza, sementretanto, ser capaz de dificultar a habilidade individual de superação dosobstáculos encontrados ao longo da vida.

Alguns atributos protetores encontram-se associados ao bomrelacionamento familiar: possuir mais elevada auto-estima, ter mais satisfaçãocom a vida, ser mais supervisionado pelos pais e se sentir mais apoiado emocionale afetivamente.

Em geral, os adolescentes mais resilientes destacam a felicidade daconvivência familiar, sem muitos problemas, preocupações e maus-tratos.Prevalecem mais noções de respeito, alegria, afeto, união, compreensão,confiança, agrado e sentimentos mais calorosos de realização e satisfação. Osque demonstram menos resiliência são mais econômicos ao se referirem àssuas famílias e demonstram maior dificuldade para falar sobre o assunto.

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Cury (2003) aponta sugestões para ser um pai ou mãe

suficientemente bons:

1)dêem aos filhos, mais do que objetos materiais, de forma que tenhamcondição de se abrir afetivamente para o outro;

2)preocupem-se em nutrir sua personalidade, mais do que apenas o corpoe o exterior. Nada vale mais do que aprender a refletir sobre a vida, sentirsegurança, ter otimismo, superar os medos e prevenir os conflitos;

3)ensinem-lhes a pensar, mais do que apenas lhes mostrar os erros, pois assim se desenvolve a consciência crítica e a responsabilidade social;

4)preparem seus filhos para os fracassos e não apenas para os aplausos.Aprender a se levantar após uma queda estimula a ousadia, apaciência, a capacidade de aproveitar oportunidades e a determinação;

5)dialoguem com eles, estimulando sua inteligência e companheirismo;

6)contem-lhes histórias e não apenas repassem informações. Através dashistórias fictícias e reais, se passam valores morais e comprometimentoemocional;

7)nunca desistam de seus filhos, acreditando sempre que eles podem setornar grandes seres humanos.

O relacionamento com irmãos é freqüentemente conturbado pelas disputas,porém são também comuns os sentimentos positivos, o companheirismo e ocompartilhamento de segredos. Há evidente associação entre vivenciar bomrelacionamento com irmãos e ter mais elevado potencial de resiliência. Nasrelações estabelecidas por esses adolescentes, configura-se a constanteoportunidade de aprender a negociar, ouvir e efetuar críticas, elaborar falhas epedir desculpas. Os adolescentes menos resilientes denotam menor capacidaderelacional fraterna com difi-culdade de elaborar a história do relacionamento.

A supervisão familiar sobre o adolescente é outro importante pilar para aresiliência. Dependendo do modelo educativo existente na família a criançaganha maior ou menor capacidade de adaptação e relacionamento com o mundoexterno. O modelo educativo familiar vem sendo cada vez mais compreendidocomo algo aprendido e que pode ser transformado, especialmente em famíliasque se relacionam por meio da violência.

Muitos estudos que avaliam programas de prevenção à violência praticadapor jovens têm demonstrado que os de melhores resultados são os voltadospara o acompanhamento familiar durante a primeira infância e para o treinamentode habilidades parentais. Nessas propostas há investimento no ensino sobre

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desenvolvimento infantil; sobre fatores que predispõem ao comportamentoviolento; sobre resolução de conflitos; sobre a discussão de métodos disciplinares;sobre supervisão cotidiana com definição de regras claras e estáveis; sobrerecompensas, punições e negociação de conflitos. A modificação da comunicaçãofamiliar é a meta principal que se almeja nesses programas (Sherman et al, 1997;Nuttal et al, 1998).

Uma estratégia de alguns pais para ocupar o tempo dos filhos e manter omonitoramento é ocupá-los em atividades produtivas. No grupo mais resilientehouve maior ênfase na responsabilização dos adolescentes com tarefas, seja nasatividades domésticas, no auxílio ao trabalho do pai ou nos estudos.

O controle sobre onde e com quem o adolescente vai quando sai de casamostrou ser a forma mais comum de supervisão dos responsáveis. Os maisresilientes dizem duas vezes mais que os menos resilientes que seus pais sabemaonde vão e com quem estão quando saem de casa. Os escolares maissupervisionados pelos pais agregam em suas vidas vários mecanismos protetivos:tendem a ter mais elevada auto-estima, mais satisfação com a vida, menos sintomasde sofrimento psíquico e melhor desempenho escolar. Também mostram melhorrelacionamento familiar, escolar e na sociedade em geral.

A ESCOLA PROTETORA

A maioria dos alunos tem tendência inconsciente a imitar os seus

educadores, sejam os seus pais ou os seus professores. Só isto já justificaria

o cuidado que se deveria tomar na escolha e na formação dos membros do

corpo docente. Há, porém, mais ainda: os alunos são extremamente

sensíveis ao estado emocional do seu professor. Deste depende criar um

ambiente de confiança, de cordialidade e de compreensão das dificuldades e

aprendizagem de cada um, ambiente este que favorece o rendimento do

ensino além de consolidar a personalidade dos próprios alunos (Weil, 2001)

Uma escola protetora é aquela que cuida do seu corpo docente e discente.Pesquisas bra-sileiras e latino-americanas efetuadas pela Unesco têm evidenciadoque é possível existir escolas com elevado desempenho acadêmico dos alunosapesar do reduzido nível educacional e sócio-econômico dos pais. Nessasinstituições, as quais a Unesco chama de ‘inovadoras’ e ‘destacáveis’, constata-seum leque de mecanismos de proteção: clima dialógico na comunidade escolar;

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valorização dos estudantes enquanto protagonistas; trabalho coletivo; autoridadeescolar compartilhada, existindo uma evidente liderança dos diretores;planejamento participativo; rotinas e atividades que vão além dos horáriosescolares; relação de afeto, de respeito, de diálogo e de confiança entre alunose professores e gestores; participação da família e da comunidade nas atividadeseducacionais; re-significação do espaço físico da escola; incremento dasociabilidade e construção do sentido de pertencimento; gestão inovadora, abertae flexível às mudanças; administração eficiente e estabilidade de recursosfinanceiros e materiais necessários às atividades (recursos colaborativos dos paise da comunidade). Os fatores que tornam essas escolas relevantes não são osinvestimentos tecnológicos e sim sua forma de gestão e seus processos pedagógicoscentrados em valores muito especiais (Abramovay, 2003; Unesco, 2002).

Como esses estudos e muitos outros mostram, o desempenho acadêmiconão é apenas estimulado pela competência formal dos professores ao repassaremo conteúdo das matérias. O desenvolvimento dos alunos cresce quando a escolaé capaz de ensinar valores e criar um ambiente de respeito que propicia confiançapara aprender. Professores e funcionários que sejam sérios, competentes ecapazes de incentivar os adolescentes a superarem suas dificuldades de formaafetiva são essenciais para que uma escola se torne protetora para seus alunos.

Cury (2003) imagina uma ‘escola dos sonhos’:

1.em que os adolescentes seriam treinados na arte da interrogação e dodiálogo;

2.o conhecimento seria humanizado e não meramente técnico;

3.o professor seria mais que o repassador de conhecimentos, estariahumanizado e sua história de vida deveria estar integrada ao seudiálogo com os alunos, cada vez mais pessoalizado;

4.os educadores deveriam também se ver como “escultores daemoção”, gastando parte da aula observando os alunos com maisdificuldades e timidez, possibilitando trocas entre eles e estimulando-osa participarem das aulas;

5.a auto-estima estaria em posição de destaque, a regra seria elogiarsinceramente antes de criticar; o racional e o emocional não seriamapartados e sim trabalhados em conjunto;

6.a participação em projetos sociais e a arte de criar projetos seriam omote que conduziria essa escola e que teria o compromisso primordialde promover e proteger crianças e adolescentes enquanto as educa.

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Os adolescentes de São Gonçalo com maior potencial de resiliência sentem-se bem e encorajados na escola, participam mais das atividades em sala de aula eem grupos de estudo e trabalho, além de se relacionarem mais facilmente comos professores.

Alunos e alunas com menor capacidade de superação de problemasconsideram que seus professores passam-lhes um sentimento de incompetência.Também avaliam que recebem menos apoio escolar, tanto por parte dos colegasquanto da instituição em geral.

Outra forma de uma escola se tornar mais protetora é encarar de frenteos preconceitos existentes entre adolescentes e sociedade, freqüentementeescamoteados. Trabalhar as diferenças sociais traz benefícios concretos se indicaformas de tolerância como estratégia relacional. O enfrentamento da violêncianas escolas só pode dar certo se houver investimento em relacionamentos maisseguros e respeitosos.

As relações de amizade que os adolescentes constroem também contribuempara sua competência social, pois favorecem a aquisição de habilidades quepropiciam a socialização e o desenvolvimento cognitivo e emocional. Além disso,estimulam a capacidade de enfrentar positivamente as transformações doambiente (Cecconello & Koller, 2000). Os adolescentes menos resilientes têmum círculo de amizade mais restrito, denotando uma relação menos intensacom os amigos, pela própria postura mais reservada do jovem. À escola protetoracabe cuidar desses adolescentes com menor capacidade relacional.

A COMUNIDADE QUE CUIDA

O potencial de proteção que uma comunidade oferece às suas crianças eadolescentes é inestimável, quando é capaz de prover serviços públicos comoeducação, saúde, segurança e habitação de qualidade. Na realidade brasileira,especialmente em muitas localidades de menor poder aquisitivo, esse papelprotetor ainda não passa de uma promessa e em algumas sequer existem essesserviços básicos.

Se uma comunidade dispuser de creches e escolas suficientes e de boaqualidade, os pais podem trabalhar e se despreocupar com os filhos durante umcerto período do dia. Se houver um clima de confiança, vizinhos podem conheceruns aos outros e proporcionar maior proteção mútua.

A comunidade que cuida é aquela que propicia fatores de proteção como:inclusão econômica, social e cultural, particularmente dos jovens e pais de família;

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valorização de atitudes e comportamentos não-criminosos, não-violentos e não-discriminatórios; desenvolvimento urbano e social; grupos e redes de supervisãoe apoio para crianças, adolescentes e jovens; limitação e controle do acesso adrogas, álcool e armas de fogo (Sherman et al., 1997).

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4CARACTERÍSTICAS INDIVIDUAIS QUE

FACILITAM A RESILIÊNCIA

Na verdade, a resiliência se tricota com milhares de determinantes que

serão necessários analisar, alguns são, provavelmente, mais acessíveis e

eficazes que outros. A tecelagem do sentimento de si parece um fator

capital para a atitude de resiliência (Cyrulnik, 2002:17)

Adolescentes mais e menos resilientes constroem-se como tais a partirda habilidade ímpar ao ser humano de criar e recriar-se a partir das condiçõesque usufrui e percebe no mundo que o cerca, das relações que nele estabelecee dos limites e possibilidades que reconhece em si mesmo. Tal como disse ofilósofo francês Jean Paul Sartre a respeito da vida de Jean Genet, um jovemabandonado em instituições de assistência francesa e com envolvimento com acriminalidade antes de se tornar um escritor famoso: “eu sou aquilo que conseguifazer com o que fizeram de mim”.

Neste capítulo tenta-se destacar as estratégias individuais de enfrentamentodas dificuldades que os adolescentes adotam em suas vidas.

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TRÊS FORMAS DE LIDAR COM OS PROBLEMAS

A forma de encarar os problemas cotidianos varia de pessoa para pessoa emesmo numa mesma pessoa em diferentes circunstâncias e etapas da vida.Entretanto, embora cada indivíduo possua um acervo de estratégias para enfrentaras dificuldades, em geral, opta por algumas e habitua-se a utilizá-las. Compreenderde que forma as pessoas mais resilientes enfrentam as dificuldades é um temaque apenas recentemente vem sendo estudado.

Coping é uma palavra inglesa que significa estratégias adaptativas cognitivase comportamentais que uma pessoa utiliza frente aos diferentes estresses,avaliadas pelo indivíduo como situações que sobrecarregam ou excedem seusrecursos pessoais. É mais do que um único mecanismo de adaptação; é umconstante processo adaptativo que o indivíduo lança mão ao administraradversidades cotidianas e inesperadas, vencendo-as, minimizando-as ou toleran-do-as. Essas estratégias requerem uma avaliação do indivíduo sobre o fenômenoestressante por meio da percepção, da interpretação e da representação quefaz da situação. A utilização das estratégias de coping tem duas funções: regularo estado emocional que acompanha o estresse e atuar diretamente na situaçãoque originou o estresse (Folkman & Lazarus, 1985).

O coping é considerado por alguns como um processo transacionalenfatizando a relação existente entre a pessoa, o ambiente em que vive e seustraços de personalidade (Bronfenbrener, 2002; Antoniazzi et al. 1998, Dell´Aglio& Hutz, 2002). Especialmente na infância e na adolescência, vale lembrar que oaprendizado e a incorporação de estratégias de coping é parcial e decorrenteda capacidade dos pais e pessoas importantes nessa etapa de desenvolvimentopara lidarem com o estresse.

Estratégias ativas de enfrentamento do problema é uma forma muito comumde lidar com as adversidades (coping ativo). Significa entrar no “olho” do furacão,tomando atitudes concretas que visam não apenas procurar a fonte do problemae tentar solucioná-lo diretamente com os envolvidos, mas também buscarinformações e apoio social em pessoas ou instituições que pos-sam ajudar.

A maioria dos adolescentes de São Gonçalo tem uma forma ativa de enfrentaros problemas. Os mais resilientes utilizam mais essas estratégias do que os commais dificuldades de superação dos problemas, quando estes se dão na escola,com os pais, colegas e namorados. Também costumam buscar mais ajuda dospais, de outros adultos e dos amigos. São ainda mais dispostos a procurarem apessoa que causou o problema, tentando dialogar sobre o assunto. Conversarimediatamente sobre o problema quando ele aparece e depois não se preocupar

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mais com ele também distingue claramente os adolescentes mais resilientes naesfera da relação com os outros, indicando elevada capacidade de enfrentar assituações e depois ‘descansar’, reduzin-do possivelmente o impacto da ansiedadeque acompanha os desafios.

Estratégias internas de lidar com as adversidades são também maneiras devivenciar as dificuldades (coping interno). Entre os adolescentes de São Gonçaloforam identificadas atitudes como: aceitar os próprios limites ao enfrentardificuldades; confirmar para si mesmo que os problemas fazem parte da vida;ceder à vontade dos outros, visando resolver os problemas; pensar sobre oproblema e tentar achar soluções alternativas; só pensar nos problemas quandoeles aparecem; e pensar positivamente sobre os problemas, não se preocupandocom eles porque eles costumam se ajeitar.

Embora ser mais ou menos resiliente não implique, de uma forma geral, nautilização de mais estratégias internas, em algumas esferas de ação os maisresilientes fazem mais uso delas: na escola, na relação com pais e namorados.Evidenciam mais confiança de que tudo acabará bem quando têm problemascom os pais, racionalizando mais as dificuldades que têm com eles, com colegase namorados, tentando achar soluções alternativas e tendem a se preocuparcom problemas escolares só quando eles surgem. Na esfera individual, os maisresilientes aceitam melhor seus limites quando têm problemas consigo próprios.Entre eles se aplica a noção de que “frente às dificuldades, tudo tem uma solução.Nada vai aparecer que você não possa resolver”. Ou ainda, de que “na vidasempre vai haver problemas”, justificando a necessidade de ser corajoso e capaznão apenas de receber suporte, mas também de dar apoio a outras pessoas emmomentos difíceis.

Evitar enfrentar os problemas é outra estratégia utilizada pelos adolescentespara lidar com as dificuldades (coping de evitação). É um mecanismo de fuga dasadversidades, caracterizado por comportamentos como ausência de iniciativa ebloqueio emocional; atitudes de evitação e distração em relação ao problema;além de situações de expressão emocional de raiva, tristeza ou dor. Todasessas ações visam controlar as emoções que acompanham um eventoestressante e não o problema propriamente dito. Procuram adiar a necessidadede lidar com o agressor, mantendo-o longe ou evitando saber de sua existência(Dell´Aglio, 2000).

Os adolescentes de São Gonçalo que são menos resilientes tendem a fugirmais dos problemas pois utilizam esse mecanismo em todas as áreas de seurelacionamento. Costumam esperar que “o pior vai acontecer”. Também tentamnão pensar nos problemas escolares e em suas próprias dificuldades porque

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imaginam que não podem mudar nada. Essas ações indicam sofrimento emocionalconstante e pessimismo, com evidente incapacidade de esperar que a situaçãomelhore. Alguns desses adolescentes demonstraram claramente o desânimo efalta de vontade de reagir às dificuldades, com um sentimento de negação doproblema.

Os adolescentes que utilizam mais estratégias de fugir dos problemas emtodas as áreas relacionais são os que mais consumiram substâncias psicoativasno ano anterior à pesquisa, tais como álcool (até ficar de porre), cigarro,maconha e cocaína, possivelmente como reflexo das dificuldades objetivas esubjetivas que os angustia. Adolescentes mais e menos resilientes apresentamcomportamentos similares quanto ao consumo de substâncias legais ou ilegais.

ENCARANDO OS PROBLEMAS COM CRIATIVIDADE E HUMOR

A criança que aprende a brincar com o medo, a rir dele e fazer rir dele

utiliza sua pequena tragédia para fazer dela uma estratégia relacional... Em

caso de aflição, se leva um tombo ou se machuca, ela é capaz de provocar

a ajuda de que precisa, sabe como transformar sua desgraça em relação

(Cyrulnik, 2004: 85).

Transformar dor em peça de arte é um dom comum em pessoas queaprendem a sublimar o sofrimento de forma reparadora. A estratégia decicatrização por meio da arte é considerada um dos mais preciosos fatores deresiliência, destacando-se principalmente a capacidade de encarar com humoras adversidades.

Para se recuperar do primeiro golpe que representa o impacto diretocausado pelos problemas, é necessário tempo para a cicatrização do corpo e damemória. Para superar o segundo golpe, a representação do sofrimento e dosentimento de dor e humilhação oriunda da adversidade, é preciso mudar aprópria idéia sobre o que sucedeu; é preciso reelaborar a representação dadesgraça sofrida e encená-la para os outros. Neste sentido, atividades artísticase esportivas ocupam posição destacada como formas eficazes de metamorfosearum sofrimento vivido em um episódio social menos pesado e, algumas vezes,até agradável. No caso do humor, trata-se de transformar uma percepção quemachuca em representação que faz sorrir (Cyrulnik, 2004).

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O bom humor nem sempre é bem visto pelos outros como positivo. Umapessoa pode utilizá-lo como uma estratégia defensiva, ferina e destrutiva paraatingir a outrem, ultrapassando os limites do bom senso. Com atos ferinos,pode ou não amenizar seu sofrimento interno, mas estará, com suas ações,reproduzindo o afastamento e a falta de capacidade relacional escondida portrás da ironia.

As pessoas que conseguem usar suas habilidades para cantar, atuar ou contarpoeticamente suas dores, certamente passam por um processo de elaboraçãoque costuma trazer a simpatia e o apoio dos pares. Reescrevem cotidianamentesua história de forma mais leve, assim como fez Joaquim, um estudante de umaescola pública de São Gonçalo, ao narrar numa peça teatral o sofrimento familiardesencadeado pelo grave problema de saúde de seu pai. Ao fazer isso, tornouseu pai mais humano e falível e foi capaz de minorar os sérios problemas queaté então tinha com ele. Neste processo de re-significar as cicatrizes que doemem seu coração, este adolescente, ainda tão jovem, se apóia em muitosmecanismos promotores de resiliência.

A UNICIDADE DE CADA UM

Um dos muitos fios que tricotam a resiliência é ainda pouco compreendido.Refere-se aos aspectos herdados biologicamente e que seriam responsáveispela unicidade genética de cada um e sua possibilidade de transformação pelaação da cultura.

Em relação ao sexo é mais fácil perceber que a genética define o sexofeminino e o masculino, mas é a cultura que determina a distinção de gênero eas formas de inserção no mundo. Meninas mostram um comportamento bemdistinto dos meninos. Entre os adolescentes de São Gonçalo, constatamos queas primeiras vivenciam menos adversidades na vida, possuem mais apoio social etêm atributos individuais mais fortalecidos que os rapazes, a exemplo daauto-estima e do sentimento de competência. No entanto, em relação aresiliência, não notamos dis-tinção entre os sexos.

No que se refere à cor da pele, embora cada vez mais se apreenda que asdiferenças genéticas entre as raças são mínimas, a cultura introduz muitasdistinções e preconceitos. Entre os jovens de São Gonçalo, verificamos umperfil muito similar entre os de cor da pele branca ou negra. Apenas algumasdiferenciações foram encontradas.

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A primeira delas é o fato de que adolescentes negros têm pais com menorescolaridade e suas famílias estão em maior número nos estratos populares.São também adolescentes mais velhos e com maior distorção série-idade. Outradistinção refere-se à violência física perpetrada pelo pai, mais citada pelos jovensnegros.

Adolescentes negros referiram mais que os brancos que o relacionamentocom pessoas de outras classes sociais é pior. Também disseram fazer mais usode maconha. Tendem ainda a usar estratégias internas e de evitação em quasetodas as áreas do relacionamento. Todavia, não apresentam diferença nopotencial de resiliência, quando comparados aos jovens brancos.

Outros atributos como inteligência e temperamento são igualmenteimportantes para a formação da capacidade de resiliência. Também não se temclareza sobre o papel desempenhado pela biologia e pelo ambiente culturalnessas características tão individuais.

Desde bebê as crianças manifestam diferenças em suas reações a situaçõesestressantes. Parte das diferenças que compõem o temperamento individualtem a ver com o material genético de cada um, como o tratamento que acriança obtém de seus cuidadores e com sua capacidade de representar o cuidadoque recebe de forma mais segura e afetuosa ou mais instável e apática. Todosestes ‘temperos’ se conectam mais eficazmente quando há menos situaçõesestressantes próximas ao entorno da criança e da família. À medida que sedesenvolve como adolescente ou adulto, mesmo na presença de algumasinevitáveis transformações que ocorrem em seu temperamento, esse atributose mantém razoavelmente estável e ocupa papel importante na determinaçãodas interações entre o indivíduo e o meio ambiente (Rutter, 1988).

O temperamento de uma criança possibilita também sua forma de vivenciaros riscos desde tenra idade. Por exemplo, dois bebês gêmeos poderão suscitarambientes sensoriais muito dife-rentes e que atuarão de forma diferenciada nodesenvolvimento afetivo de cada um. Basta, por exemplo, que o primeiro anascer receba da mãe um significado especial por ser de determinado sexo, porter algum atributo simbolicamente importante ou por ser o objeto de esperançade sua mãe. Para o bebê que simboliza esperança, a mãe inconscientementepoderá responder mais prontamente a qualquer gesto, mímica ou palavra, criandouma vinculação mais segura que lhe permitirá desenvolver melhor a capacidadede responder às adversidades.

Cyrulnik (2004) exemplifica este fato com a história de Lou e Cloclo, duasirmãs gêmeas dizigóticas que receberam esses nomes pelo significado atribuídopela mãe ao nascerem: Lou foi reconhecida pela mãe por ser um bebê muito

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delicado (mesmo atributo pelo qual esta mãe sofrera críticas constantes de suaprogenitora quando era pequena), lhe evocando um sentimento de proteçãoincondicional. Por sua vez, Cloclo foi vista como uma garota brincalhona echorona, que sabia “se virar sozinha”. Um ano e meio depois, Lou se transformouem uma menina tranqüila e fácil de se consolar. Já a brincalhona Cloclo reagiagritando desesperadamente a cada frustração. Temperamento e meio relacionalinteragem desde cedo, sendo moldados interativamente ao longo das dificuldades,tornando difícil separar o que é inato daquilo que é adquirido ao longo da vida.

Outro fator individual importante para a superação das adversidadesimpostas pela vida é

o nível de inteligência. Sabe-se que crianças com quociente de inteligênciamais elevado estão menos envolvidas em problemas de comportamento eostentam mais elevada auto-estima, competência e possivelmente são maisresilientes (Rutter, 1988). Todavia, a interpretação dos testes que tratam esseassunto em culturas diferentes não pode ser realizada de forma homogênea eainda existem poucas evidências sobre a relação existente entre inteligência eresiliência.

A IMPORTÂNCIA DA AUTO-ESTIMA

A resiliência é um atributo calcado na capacidade de possuir uma estimapositiva por si mesmo. Ter elevada auto-estima significa sentimentos e atitudesde aprovação a si próprio, considerando-se capaz e uma pessoa de valor. Emboraa auto-estima seja uma experiência subjetiva e individual, está acessível às demaispessoas por meio de relatos verbais, gestos e comportamentos (Coopersmith,1967; Rosenberg, 1989).

Os atributos individuais que conformam a auto-estima são moldados nasrelações cotidianas desde a primeira infância e são decisivos na relação doindivíduo consigo mesmo e com os outros, exercendo uma marcante influênciana sua percepção dos acontecimentos e das pessoas e influenciando seucomportamento e suas vivências (Sánchez & Escribano, 1999).

Os adolescentes mais resilientes relataram cinco vezes mais elevada auto-estima que os menos resilientes. Os primeiros enfatizam mais sua competênciae valor, afirmando estarem satisfeitos consigo mesmos, terem várias boasqualidades, serem capazes de fazer coisas tão bem quanto a maioria das pessoas,sentirem que são pessoas de valor e terem uma atitude positiva em relação a sipróprio. Possuem também maior satisfação corporal.

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O CRUCIAL SENTIMENTO DE COMPETÊNCIA

O sentimento de competência é uma importante característica que protegeo indivíduo contra o desenvolvimento de problemas emocionais ecomportamentais, funcionando como um preditor de bem estar psicológico.Esse tema tem relevância nos estudos sobre a infância embora a definição decompetência social seja ainda vaga. Ampla variedade de termos é usada comosinônimos, sem que seja feita uma distinção adequada deles. Pizzinato & Sarriera(2003) sugerem que seria mais correto denominar “habilidades sociais” emreferência a comportamentos sociais específicos, e “competência social” oimpacto dessas condutas. Na infância, a competência social representa a habilidadede selecionar metas e levá-las a cabo de forma eficaz e apropriada, bem comoa realização dos objetivos interpessoais.

A competência social está atrelada à noção de comportamentos socialmenteaceitos e um indivíduo é considerado competente socialmente quando é capazde interagir de forma eficaz com os outros e com o ambiente social. É umconceito multidimensional e interativo e não decorre da simples presença deum ou mais atributo, mas da interação entre eles. Usualmente, três aspectossão considerados como importantes para se aferir competência na infância e naadolescência: habilidades sociais, competência acadêmica e problemas decomportamento (Lemos & Meneses, 2002).

A competência é reforçada por uma série de fatores: desenvolvimento daauto-estima, da auto-eficácia, da auto-avaliação positiva e crítica; habilidade paraentender normas sociais, para interagir com pares e adultos e para regularemoções especialmente as negativas; capacidade para apresentar comportamentovoltado para objetivos; confiança nas pessoas e no mundo; estabelecimento deobjetivos realistas e planejamento de esforços para alcançá-los; além dacapacidade de sentir empatia pelos outros (Cecconello & Koller, 2000). A empatiaconsiste em, através da percepção do estado ou da condição de outra pessoa,compartilhar emocionalmente com elas, colocando-se no seu lugar.

A autoconfiança é também considerada um fator protetor importante paraa superação das adversidades. Os adolescentes mais resilientes têm maisconvicção de que vão conseguir terminar os estudos e conseguir emprego.Também sabem mais o que fazer para alcançar os sonhos e as metas que têm navida, utilizando termos como “esperança”, “força de vontade”, “coragem”,“determinação”, “persistência”, “seguir em frente” e “correr atrás do seuobjetivo”, indicando a confiança que têm em sua própria autoria para construirsua vida. Consideram-se mais determinados, defendendo suas idéias e opiniões

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e persistindo quando algo planejado não dá certo. Possuem ainda uma visão deandamento de seus planos em relação ao futuro, enquanto nos menos resilientespredomina a idéia de que estão estagnados ou retrocedendo.

Outra forma de aferir a competência é o desempenho escolar. Adolescentesmais e menos resilientes mostraram desempenho em matemática e portuguêssimilar. Todavia, a capacidade de atuar frente aos colegas mostrou ser atingidanos menos resilientes, que participam menos em sala de aula e em gruposestudantis com ênfase nos esportes, artes ou grêmios. Essa falta de confiançacertamente afeta a inserção do estudante e ocasiona dificuldades que podemcomprometer sua performance.

Embora se reconheça que o fracasso escolar é produzido em parte pelaprópria instituição de ensino e não apenas pela competência acadêmica individualde cada aluno, sabe-se que repetidos insucessos podem comprometer osentimento de competência pela rejeição dos pares e professores, por maioresdificuldades em realizar tarefas em sala de aula e de estabelecer rela-çõesinterpessoais. Todavia, não há ainda evidências suficientes de causalidade entredificuldades de aprendizagem e competência social (Lemos & Meneses, 2002),pois vários outros fatores interferem nessa auto-avaliação, além do desempenhoformalmente medido por meio de testes. Neste sentido, a vivência de dificuldadesescolares aumenta a vulnerabilidade da criança para inadaptação psicossocial; oinverso, o bom desempenho na escola, reflete-se na competência acadêmica.

A CAPACIDADE DE SE SATISFAZER COM A VIDA

Algumas pessoas conseguem passar por muitas adversidades ao longo doseu desenvolvimento sem afetar substancialmente a satisfação que possuem coma vida. Os mais resilientes se inserem nesse grupo. A avaliação de possuir ou nãouma vida de boa qualidade depende de aspectos objetivos e subjetivos. Dentreos primeiros está a satisfação de necessidades básicas e as criadas pelo grau dedesenvolvimento econômico e social da sociedade. Os aspectos subjetivos dizemrespeito à representação que a pessoa faz de seu bem-estar, sua realizaçãopessoal, do sentimento de felicidade, amor e prazer que consegue usufruir (Souzaet al., 2003).

O sentimento subjetivo de bem-estar psicológico é um atributo existencialque abrange aspectos afetivos (positivos e negativos) e a capacidade de julgar sedeterminado aspecto traz ou não satisfação pessoal. Esse componente subjetivo

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é comumente aferido como a satisfação que o indivíduo tem nas várias esferasda vida: familiar, escolar, amorosa, ambiental, profissional e existencial, bemcomo decorre de atributos individuais como personalidade, auto-estima esentimento de competência pessoal. Obviamente, ele também depende da visãode bem-estar que circula nos diferentes grupos sociais e do momento de crisesocial e econômica vigente em cada sociedade. Nesse caso, o julgamento desatisfação ou insatisfação com a vida se baseia na comparação com um padrãoexistente na sociedade, compreendido e adaptado pela pessoa (Diener et al.,1985). Não é, portanto, imposto ao indivíduo, embora este seja certamenteinfluenciado pelo seu possível social na hierarquia da sociedade, família e escola,tal qual sinalizado por Witier (1997:61), “o apetite da vida está estreitamenteligado ao menu que lhe é oferecido”.

Os adolescentes de São Gonçalo que são mais resilientes referem comfreqüência três vezes maior sentirem prazer com suas vidas que os menosresilientes. Os que acreditam mais em sua capacidade de superação de problemasafirmam que estão mais satisfeitos com sua vida; que ela está próxima da formacomo gostariam que ela fosse; que suas condições de vida são excelentes; queestão conseguindo alcançar as coisas importantes que desejam; e, finalmente,que se pudessem viver a vida de novo, não mudariam quase nada nela.

Entre esses adolescentes com menos satisfação na vida é mais comum:avaliar-se negativamente; ter problemas de saúde física e mental; apresentarcomportamentos de risco; ser vítima de adversidades como perdas e doençasna família; ter problemas de relacionamento familiares, na escola e entre amigos;viver muitas dificuldades sócio-econômicas.

A CAPACIDADE DE CRER NO INVISÍVEL

Para a maioria das pessoas, transcendência é sinônimo de figura divina eestá comumente vinculada à religião; para outros, reflete crenças e valoresmorais acerca da dignidade humana. A espiritualidade tem sido considerada umimportante fator de proteção para a saúde física e psicológica do indivíduo.

Entre os estudantes de São Gonçalo, os mais resilientes se declaram maisvinculados a alguma religião. Confiança em Deus e busca de contato íntimo como mundo sagrado foi mais enfatizado pelos primeiros, que consideram areligiosidade como uma raiz que os sustenta. A freqüência à igreja é uma formade apoio social apontada por alguns adolescentes.

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Vários estudos indicam que a religião e o apoio da igreja são importantespromotores de resiliência para jovens (Cook, 2000; Sameroff, 1993). Umadolescente que freqüenta igreja pode maximizar seu desenvolvimento, casoela promova orientação, ajudando-o a adquirir habilidades cognitivas e emocionaise modificar positivamente seu comportamento; estimule a expressão de suaidentidade e lhe ofereça uma comunidade de apoio e estabilidade.

Possuir alguma religião, bem como freqüentar igrejas, tem se mostradoimportante fator de proteção para dificultar o aparecimento de sofrimento psíquicoe outros problemas na esfera da saúde mental, além de estimular a capacidade dese satisfazer com a vida e aumentar o potencial de resiliência (Cook, 2000;Hutchinson, 2004; Grom, 2000; Elison, 1991; Christopher, 2000; Volcan, 2003).

O aspecto protetor da religiosidade também se manifesta na redução decomportamentos anti-sociais como transgressão e uso de substâncias psicoativas(Kaplan et al, 1994). Entre os adolescentes de São Gonçalo a transgressão e ouso de drogas foram significativamente mais presentes entre os jovens que nãoseguem religião.

Para esses jovens, a capacidade de crer na transcendência é sinônimo dafigura divina, tendo se materializado na religião. Todavia, essa força interna queproduz alívio ao sofrimento e regenera a energia enfraquecida pelas adversidadespode gerar conformismo ou esperança que propicia transformações. A crençano “invisível” não é um atributo isolado do indivíduo. Sua compreensão apenaspode ser tangenciada quando é avaliada em conjunto a outros aspectos individuais,familiares, sociais e conjunturais.

SUCUMBINDO AOS TRANSTORNOS MENTAIS

Frente às adversidades, é comum que uma pessoa vivencie uma sensação desofrimento mental, que pode ser ocasional ou se manter como umcomportamento que comprometa a quali-dade de vida e perturbe o potencial deresiliência individual. Pequenas e constantes dificuldades cotidianas podem ser tãoou mais importantes para gerar sofrimento emocional que grandes problemas oucatástrofes. Conflitos familiares ou escolares habituais podem provocar reaçõesque mobilizam todo o aparato psicológico do adolescente, promovendo desgastee sofrimento, com freqüente repercussão sobre a saúde física.

Tais problemas costumam estar associados a transtornos psiquiátricosmenores, denominados sofrimento psíquico. Caracterizam-se por sintomas de

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depressão leve, ansiedade e agravos psicossomáticos, tais como dores de cabeça,insônia, entre outros. Correspondem a uma sensação de mal-estar inespecífico,situada num espaço intermediário entre saúde e doença, podendo se transformarem doença em função de sua intensidade e cronicidade.

O sofrimento psíquico costuma se relacionar, indiretamente, com ascondições sócio-econômicas; e diretamente, aos eventos de vida estressantes(Busnello et al,1993; Lima, 1995).

Do total de adolescentes de São Gonçalo pesquisados, 535 (29,4%)evidenciaram sinais de sofrimento psíquico. Esta forma de problema emocionalatinge preferencialmente adolescentes menos resilientes, que apresentammaiores proporções de sintomas ansiosos e depressivos como dormir mal, perderinteresse pelas coisas, ter dificuldade de pensar com clareza e de tomar decisõese vivenciar sentimento de inutilidade. Também nesse grupo é maior o númerodos que têm idéias de acabar com a vida. O sentimento difuso de medo éigualmente mais predominante entre os que têm a resiliência menos desenvolvida.

Mais precário apoio social e menores níveis de auto-estima se mostrarammais comuns entre aqueles jovens que vivenciam sofrimento emocional. Nessegrupo sobressai a utilização de estratégias internas e de evitação dos problemasem quase todas as áreas de relacionamento e são mais comuns osrelacionamentos de qualidade regular ou ruim.

Embora algum grau de sofrimento psíquico seja inevitável ao ser humano,seu excesso leva a problemas de adaptação às demandas cotidianas. Todavia,vivenciar transtornos em alguma fase da vida não significa ter destino lacrado. Asuperação de fragilidades na saúde mental vivenciadas na infância e adolescênciaé sempre possível pois existe um potencial latente de resiliência que pode sertecido ao longo da vida. Acompanhando uma população de 698 crianças nascidasem 1955 no Havaí até que fizessem 40 anos, Werner & Smith (2001) constaramque aos dez anos de idade 25 delas tinham dificuldades emocionais causadorasde desordens de conduta, comportamento anti-social, neuroses e sociopatia.Aos dezoito anos o número de jovens com severos problemas de saúde mentalhavia se elevado para 70. O acompanhamento do grupo por mais duas décadasmostrou que, surpreendentemente, 83% das mulheres e 66,7% dos homensque haviam tido problemas de saúde mental na adolescência conseguiramminimizar ou superar tais dificuldades. Lograram uma adaptação positiva emsuas trajetórias de vida até os 40 anos, trabalhando, formando famílias e sesentindo satisfeitos consigo mesmos. Os poucos que não conseguiram melhorarsuas vidas, prosseguiram com sérios problemas de saúde mental que lhesimpossibilitaram a adaptação ao meio e a satisfação pessoal. Nesse grupo estão

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os que tinham esquizofrenia, depressão crônica e problemas com uso de drogasnas fases iniciais da vida. Os pontos de virada destacados pelos mais resilientesforam o encontro de um parceiro amoroso que os aceitou e deu suporte, ou aintegração em grupos religiosos.

AGINDO DE FORMA ANTI-SOCIAL

A tendência anti-social implica esperança. Falta de esperança é a

característica básica da criança que sofreu privação e que, obviamente,

não está sendo anti-social o tempo todo (Winnicott, 1978: 503).

O período da adolescência é denominado por alguns como a idade datransgressão (Burke, 1985). Nele se eleva o potencial de enfrentamento de normase regras pois os jovens buscam a liberdade a qualquer preço. Estudos com estudantesbrasileiros têm mostrado que, independente de estrato social, são comuns ocometimento de transgressões como estelionato, danos ao patrimônio, furtos,roubos e porte de armas, que, em sua maioria, costumam passar desapercebidosda sociedade em geral (Claves, 2000; Assis & Avanci, 2004).

Não é uma tarefa fácil pensar a relação entre resiliência e cometimento deatos infracionais, tenham eles sido ou não registrados no sistema de justiça.Adolescentes (e adultos também), independente do estrato social, cometemalgumas infrações sem que sejam pegos e, por vezes, sem que as considerem umerro. Por outro lado, alguns autores indicam que cometer infrações na infânciae adolescência pode ser uma forma de enfrentamento dos problemas. Sartre(2001) escreve sobre a vida de Jean Genet, uma criança pobre e abandonadaque conhece a vida infracional e é presa, encontrando na arte de escrever suaforma de superar as dificuldades. Cyrulnik (2002), comentando sobre a situaçãode meninos latino-americanos que vendem drogas nas ruas, considera essecomportamento como uma forma de resiliência no meio cultural dos que estãosocialmente humilhados e excluídos.

Impedidos em sua aventura social e cultural, eles se tornam resilientesgraças à delinqüência. Eles se refazem e às suas famílias e encontram suadignidade tornando-se delinqüentes (Cyrulnik, 2002; p.17).

As condições de vida dos adolescentes de São Gonçalo que relatam cometertransgressões indicam elevada vulnerabilidade e a existência de escassosmecanismos de proteção. Esses meninos e meninas têm passado por mais

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adversidades no relacionamento e nas condições de saúde dos familiares (inclusivea morte dos pais) e mais problemas na escola e na comunidade. Têm mais fracoapoio social, pior desempenho escolar e menor participação em sala de aula.No plano individual, têm mais baixa auto-estima, padecem com mais freqüênciade sofrimento psíquico, são menos ligados à religião e enfrentam mais problemasde relacionamento com familiares, pares e professores. Os jovens maisvulneráveis tendem a usar estratégias internas e de evitação dos problemas emquase todas as áreas de relacionamento; a supervisão familiar sobre eles é frouxaou inexistente e costumam vivenciar mais todas as formas de violência na família,na escola e na localidade. Muitos têm parentes que foram indiciados ou presos,indicando proximidade com o universo infracional, tema apontado em váriosestudos (Schoemaker, 1996; Assis, 1999; Assis & Constantino, 2001).

O perfil de vulnerabilidade dos adolescentes menos resilientes se completacom menor potencial de resiliência: falsificam mais assinaturas em documentosescolares ou de identidade; danificam mais objetos (carteiras escolares, vidraças,telefones, pichar paredes, riscar carros); brigam freqüentemente com outrosgrupos de jovens; furtam mais objetos e portam mais armas (branca e de fogo).

O potencial da resiliência ao longo da vida é evidenciado entre adolescentescom comprometimento infracional. O estudo que acompanhou recém-nascidosaté os 40 anos de idade identificou que aos 18 anos, 15% dos jovens estavamenvolvidos em furtos, roubos, agressões, posse e uso de drogas e delitos sexuais.Observando-se o perfil desses transgressores, os estudiosos verificaram queaos 10 anos, eles já se destacavam das demais crianças por terem problemas norendimento escolar e de saúde mental.

O acompanhamento do grupo transgressor até os 40 anos mostrou que75% dos homens e 90% das mulheres haviam se adaptado à vida em sociedade ese afastado das ações infracionais. Possibilitaram essa transformação o fato deterem vivido na infância com pelo menos uma pessoa que proporcionouestabilidade para suas vidas, ter servido ao exército (uma das poucas possibilidadesde emprego), ter conseguido manter uma relação conjugal estável na vida adultae ter se tornado um pai provedor para seus próprios filhos. Todos esses fatoresque possibilitaram a recuperação estão calcados no sentimento de segurança eestabilidade.

Esse estudo, porém, alertou que mesmo aos 40 anos de idade, os indivíduosque foram delinqüentes na juventude ainda eram vulneráveis financeiramente,tinham expectativas pouco realistas para o futuro e apresentavam uma taxaelevada de mortalidade, bem superior a todos os demais que foram seguidospor quatro décadas. (Werner & Smith, 2001)

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A ESCOLA E A PROMOÇÃO DE

TUTORES DE RESILIÊNCIA

Uma vez que aprendemos a observar os Homens com a expressão “vir-a-

ser”, podemos constatar que os que foram privados dessas aquisições

precoces [recursos internos adquiridos ao longo dos primeiros anos que

permitem ao indivíduo aproveitar a oportunidade de toda mão estendida]

poderão obtê-las mais tarde porém mais lentamente, contanto que o meio,

compreendendo como se constrói um temperamento, disponha em torno

dos feridos alguns tutores de resiliência (Cyrulnik, 2004: 209-210).

Uma pessoa com um potencial de resiliência consolidado robustamente,uma vez atingida por um trauma que lhe cause muito sofrimento, apela tantoaos seus recursos internos como aos apoios externos para superar sua dor.Pessoas que passaram grande provação precisam ter o apoio de pelo menosuma pessoa significativa, que através do afeto favoreça o tratamento da ferida ea re-significação do trauma (Cyrulnik, 2004). Alguém da família, uma professorada escola ou do curso extracurricular, um amigo, uma pessoa religiosa, umvizinho ou um faxineiro, podem se tornar tutores de resiliência.

Qualquer que seja o temperamento da criança, a sua capacidade de lidarcom as dificulda-des é influenciada pelo seus cuidadores. Ela precisa sentir que éespecial. Pais, avós ou educadores têm grande potencial para reforçar nela anoção de que as dificuldades fazem parte da vida e podem ser superadas, semque se perca os trilhos do desenvolvimento. A resiliência, conforme apresentamos

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ao longo deste livro, não é um estado adquirido e imutável, mas um processocuja construção se inicia bem precocemente e continua a ser elaborado, setransformando ao longo dos anos até a velhice.

Esse trabalho que oferecemos aos educadores pretendeu mostrar que aresiliência pode ser um fenômeno psicológico passível de ser construído epromovido através de processos educativos que facilitem ou tornem as pessoasmais capazes de enfrentar as dificuldades que perpassam a vida de qualquer serhumano. Acreditamos estar diante de um conceito potencial, de uma ferramentacapaz de instrumentalizar a sociedade como um todo (não apenas trabalhadoresda área de saúde, da educação ou da infância em geral) que precisa estarcomprometida com a vida de crianças e adolescentes que crescem em meio aproblemas mais variados.

Diversas tentativas têm sido iniciadas no âmbito da promoção de resiliência.A Organização Panamericana de Saúde (OPAS), por exemplo, publicou doismanuais cujo enfoque é orientado para programas de ação e promoção deresiliência para crianças e adolescentes. O objetivo maior desses trabalhos évislumbrar possibilidades de dar um passo da teoria em direção à ação. Propõemaos agentes de saúde e educadores formas de ação que promovam resiliênciaem nível individual e de programas (Kotliarenco et al., 1997, Munist et al, 1998).

Um dos tutores de resiliência mais potentes que a sociedade podeimplementar é a escola, já que possui funções que vão além da produção ereprodução do conhecimento. A escola é responsável por exemplos e incentivospara a formação do indivíduo e, portanto, é urgente investir na escola comoespaço que contribui para a promoção da saúde, qualidade de vida e bem-estardos indivíduos que dela fazem parte. Os professores e funcionários da escola,por terem contato direto e diário com os alunos sob sua tutela estão emposição única e privilegiada no que tange não apenas à identificação e à ajudados que passam por dificuldades, mas também quanto ao papel de interviremvisando evitar as conseqüências trazidas por diversos problemas.

A escola, diferentemente de outras instituições com potencial paraintervenção, pode oferecer a todas as crianças uma base consistente e regularao longo da maioria dos anos de formação da personalidade do indivíduo. Tema vantagem de acompanhar o crescimento e desenvolvimento dos jovens e depoder acessar aos pais e responsáveis. Seu papel no desenvolvimento da resiliênciapode se dar nas mais diferentes atividades como: trabalhar habilidades específicase apropriadas para cada faixa etária; ensinar a coordenar e integrar a áreacognitiva, afetiva e comportamental; articular a área acadêmica com a educaçãopara saúde e para a vida familiar; criar materiais claros, modernos e didáticos;

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treinar professores e pessoas especializadas que possuem papel fundamental navida dos alunos. Programas multifacetados em termos de conteúdo e método,intersetoriais, calcados no desenvolvimento infantil e que atendam àsespecificidades de cada grupo e dos diferentes contextos nos quais a criança seencontra, precisam ser amadurecidos para que se alcancem medidas efetivamentepreventivas e de promoção de resiliência (The Consortium on the School-based Promotion of Social Competence, 1996).

Os educadores certamente exercem papel fundamental nessa empreitada,por isso, é preciso também falar em professores resilientes. É necessárioestimular a resiliência na prática docente e nas novas exigências do ensino.A complexidade na sala de aula requer equilíbrio por parte dos educadores quelidam no cotidiano com a imprevisibilidade e a necessidade de tomar decisõesimediatas, que muitas vezes vão além de regras, teorias e procedimentosconhecidos e disponíveis.

Castro (2001) destaca que diante das transformações sociais sobre o serhumano neste novo milênio, da enorme influência do professor na construçãodo conhecimento e da constituição subjetiva do aluno, os educadores deparam-se com desafios que desencadeiam inquietações, frustrações e ansiedades,principalmente entre aqueles iniciantes na profissão. Conforme afirma a autora:“essa nova dimensão na formação supõe o fortalecimento da capacidade deresiliência dos jovens professores, permitindo-lhes melhor responder aos desafiossituados na sua realidade, encorajados a viver a experiência humana de aprendere ensinar” (p.119).

A idéia de que as instituições formadoras precisam responsabilizar-se emoferecer, além do conhecimento acadêmico, condições para que os educadorespossam confrontar-se com as adversidades presentes no mundo atual (Castro,2001). Essa preparação exige também uma disponibilidade pessoal que envolvereflexão, renovação e aperfeiçoamento profissional. O processo reflexivo porparte de formadores, professores e aqueles que estão em formação deve revelarque, muitas vezes, soluções específicas e lógicas podem ser acrescentadas deemoção, amor e intuição.

Educadores resilientes são “aqueles que usam sua energia produtivamentepara realizar metas na escola em face às adversidades” (Patterson e cols, 2004,3). Os autores dessa definição operacional de resiliência observaram, atravésde um estudo, que professores mais resistentes e perseverantes em relação àsdificuldades são aqueles que fizeram uma escolha ativa pela profissão, portandovalores pessoais relacionados ao senso de justiça social. Em geral, expressam acerteza de que seus alunos precisam dele enquanto educador e exibem

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sentimento de compaixão e compreensão das necessidades do aluno. Algunsprofessores apontam sua espiritualidade, religião ou simplesmente alguma crençacomo uma fonte de resiliência por proporcionar força necessária para enfrentaras dificuldades do dia a dia.

Outra característica dos educadores resilientes é reconhecer que muitode seu desenvolvimento profissional vem da troca e da interação com outraspessoas. Quando necessário procuram informações com colegas de profissão,em outras instituições, através de eventos ou mesmo em outras fontes comointernet. Da mesma forma, procuram estender seus aprendizados para outroscolegas, tentando ajudá-los nos desafios de ser educador, e assim tecer umatroca bastante produtiva de vários lados.

Outro ponto interessante entre esses professores é que eles não se colocamcomo vítimas, mas tendem a se responsabilizar e resolvem muitos problemas,mesmo que tenha que ser através de uma forma não tradicional, mas intuitiva ecriativa o suficiente para muitas vezes driblar a demanda burocrática que tendea esgotá-los (Patterson e cols, 2004; Stanford, 2001).

Estudos que têm se preocupado com a resiliência entre os profissionais deeducação mostram especificidades para diretores e professores:

DIRETORES: (Krovetz, 2004)

1-delegar atividades, treinando, confiando e estimulando os outros afazerem o melhor;

2-discernir o que é importante do que não é;

3-aceitar confrontos às suas idéias, sem tomá-los como uma ofensapessoal;

4-desenvolver grupos de suporte rotineiros;

5-buscar aconselhamento, quando necessário.

PROFESSORES: (Patterson et al. 2004)

1-estímulo a valores que os apóiem na tomada de decisões;

2-desenvolvimento continuado e em formas de capacitação, mesmo forado sistema educativo;

3-estímulo à capacidade de liderança e monitoramento;

4-habilidade de assumir responsabilidades e resolver problemas.

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Muito se tem a fazer pelos alunos mais vulneráveis devido a uma série defatores como pobreza, doenças, divórcio dos pais, uso de álcool e drogas efracasso na escola. Esses jovens são aqueles que mostram mais dificuldades deaprendizagem, que estão freqüentemente tristes, que têm algum distúrbio físicoou psicológico entre outros sinais de sofrimento. Muitas vezes são ignoradosou sofrem humilhações com rótulos e deboches. Wang (1998) defende a idéiade promover a resiliência educacional, ou seja, “a capacidade do aluno de obtersucesso acadêmico e social na escola apesar da exposição à adversidades pessoaise provenientes de seu meio”. A escola com maiores condições de sucesso emrelação à resiliência educacional é aquela mais construtiva, inclusiva e engajadacom as famílias e a comunidade através de programas de envolvimento.

O educador, sozinho, não tem condições de alterar as condições de riscoque os adolescentes vivem. Mesmo assim pode gerar efeito positivo na vida deseus alunos. O olhar do professor sobre a capacidade de seus alunos afeta aforma como ele se relaciona com o jovem e conduz suas aulas. A crença de queos alunos podem aprender e contribuir para a sociedade, os leva mais facilmentea alcançar bom desempenho acadêmico, além de formar as bases da cidadania.

Uma estratégia de intervenção considerada como fomentadora de resiliênciafoi proposta inicialmente por Werner & Smith (2001) e defendida por Brooks(1994) tendo como base a “teoria da atribuição”. Essa abordagem refere-se aum modelo de intervenção por meio do qual variáveis associadas à auto-estimapossam ser localizadas e estimuladas na criança. A teoria da atribuição estáimplicada em intervenções para promoção de resiliência pois aborda questõesrelacionadas a como criar um ambiente dentro de casa e na escola para aumentara probabilidade de uma criança ser bem sucedida, e perceber que o sucesso édevido à suas habilidades e esforços. Nessa proposta, busca-se criar um ambienteque mostre à criança que erros e fracassos não são apenas aceitáveis, comotambém esperados, devendo ser vistos como aprendizados para situações futuras.Tais intervenções devem se apoiar no conhecimento do temperamento dacriança, de seus interesses, forças, vulnerabilidades, habilidades cognitivas e nostipos de comportamentos de coping por ela adotados. Intervenções que nãolevam em consideração as singularidades das crianças certamente serão menosefetivas e vão contra o espírito da proposta.

A escola pode beneficiar-se dessa abordagem de algumas formas.Primeiramente favorecendo o desenvolvimento do senso de responsabilidadeda criança, levando-a a contribuir para sua formação e no funcionamento doespaço escolar. Por exemplo, o sentimento de propriedade (considerar a escolaum ambiente seu) proporciona na criança maior motivação para aprender e ter

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sucesso acadêmico. Os educadores podem também fortalecer a habilidade dacriança para tomar decisões, fato que favorece um controle maior dela emrelação à sua própria vida. Sua iniciativa pode ser estimulada em sala de aulapara que decida a melhor maneira de realizar uma atividade. A tarefa deestimulação é bem sucedida quando a escola tem pessoas (principalmenteprofessores) que demonstram acreditar no potencial da criança por meio degestos de apreciação de seu desempenho, como por exemplo, por um simplesrecado positivo deixado num caderno ou na folha do exame escolar. É importanteainda, estimular o senso de auto-disciplina não por meio de humilhação ou coerção,mas por regras a serem estabelecidas e seguidas com a colaboração dos alunos.

Educadores dedicados à infância e à adolescência precisam ter acesso ameios de estimular medidas favoráveis e protetivas capazes de auxiliar umacriança ou um jovem a resistir a determinado risco ou recuperar-se dos efeitosdeste. Não há dúvida de que certamente existem componentes mais fáceis eeficazes de serem estimulados tanto do ponto de vista individual quanto docomunitário.

As formas de agir da escola revelando estímulos e cuidados pode e deveser também desenvolvida no ambiente familiar e comunitário para que a auto-estima e o senso de competência social das crianças e jovens sejam mantidos, oupossam ser recuperados. A família é de extrema relevância no papel de tutorde resiliência das crianças e adolescentes. Portanto, incluir os pais e a família emprogramas de intervenção e monitorá-los nas dificuldades cotidianas aumenta aefetividade das ações (Rolf & Johnson, 1999).

O incentivo à resiliência também tem sido usado em programas de prevençãoà violência juvenil. Um exemplo já avaliado e que produz bons resultados é oque utiliza três vertentes de intervenção em escolas: atividades semanais deprevenção de violência e resolução de conflitos em sala de aula; troca deconhecimento por meio de visitação a organizações que tratam vítimas deviolência e que fazem pesquisa a respeito; educação pró-ativa, com a produçãode vídeos, programas de rádio e televisão, jornais escolares, como atividades deprotagonismo juvenil que criam autonomia e propõem iniciativas de promoçãoe prevenção sob a ótica dos próprios adolescentes (Gabriel et al. 1996).

Em relação a qualquer intervenção, é importante ressaltar que o trabalhocom um determinado grupo em algum contexto pode não funcionar para omesmo grupo ou outro grupo em diferentes contextos, nem para todas ascrianças com problemas similares. Conseqüentemente, programas universaisestão longe de ser ideais, já que processos básicos de proteção podem seradquiridos de diferentes formas (Masten, 1999).

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Ao final deste texto, reiteramos que o desenvolvimento pleno de umapessoa é menos influenciado pelas adversidades e mais pelos recursos protetoresdispostos ao longo da vida. Enfatizar a proteção na adolescência (e em outrasfases da vida) é fundamental para desenvolver

o potencial de resiliência. Portanto, fortalecer o meio social se torna crucialpara que se alcance maior proteção à criança e ao jovem, investimento seguropara o futuro de uma sociedade mais saudável.

O Brasil, assim como outros países considerados em desenvolvimento, sofrede problemas cruciais nas áreas de saúde, educação, moradia, trabalho edistribuição de renda, acrescidos da violência social. Mas são milhões de pessoasque enfrentam essas dificuldades a cada dia e que lançam mão de todos osrecursos possíveis para superá-las. Essa enorme capacidade criativa temcaracterizado o brasileiro, além da solidariedade e do humor. Portanto, não édemais dizer que existe na “genética” e na cultura brasileiras um forte potencialde superação que se recria no cotidiano e que faz com que muitas pessoassonhem e alcancem seus objetivos na vida, apesar das extremas dificuldadescom que se deparam.

FORMAS DE REFLETIR SOBRE RESILIÊNCIA

1-Solicitar que os alunos pesquisem músicas que falem sobre a capacidadede superação de problemas.

Algumas sugestões são indicadas a seguir:

Queira Basta ser sincero e desejar profundoVocê será capaz de sacudir o mundo, vaiTente outra vezTenteE não diga que a vitória está perdidaSe é de batalhas que se vive a vidaTente outra vez – Raul Seixas,Paulo Coelho e Marcelo Motta

Nunca deixe que lhe digamQue não vale a penaAcreditar no sonho que se temOu que seus planos nunca vão dar certoOu que você nunca vai ser alguémSe você quiser alguém em quem confiar

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Confie em si mesmoQuem acredita sempre alcançaMas é claro que o solVai voltar amanhãMais uma vez, eu seiMais uma vez – Renato Russo

É isso aí você não pode parar esperar o tempo ruim vir te abraçaracreditar que sonhar sempre é preciso é o que mantém os irmãos vivoa. o pensamento, é a força criadora irmãob.o amanhã é ilusório, porque ainda não existec. o hoje é real, é a realidade que você pode interferir mas aoportunidade de mudança, tá no PRESENTE não espere o futuro mudara sua vida porque o futuro, será a conseqüência dopresenteA vida é desafio - Racional Mc´s

Vivemos esperandoDias melhoresDias de paz, dias a maisDias que não deixaremos para trásVivemos esperandoO dia em que seremos melhoresMelhores no amor, melhores na dorMelhores em tudoVivemos esperandoO dia em que seremos para sempreVivemos esperandoDias melhores para sempreDias melhores para sempreDias Melhores – Jota Quest

2- Trabalhar com as histórias de vida de pessoas com capacidade deresiliência. Clarice Lispector e Hebert Vianna são alguns exemplos divulgadosatravés dos meios comunicação. Outros exemplos da própria escola e dacomunidade também podem ser lembrados.

Vocalista e líder dos Paralamas do Sucesso, Hebert Vianna, no auge desua carreira profissional, sofreu um acidente que o deixou paraplégico,além de ter perdido sua esposa. Por muitos meses o cantor ficouinternado oscilando entre o estado de coma e uma lenta e difícilrecuperação de memória e movimentos. Com o apoio médico, da família ede sua força interna conseguiu superar o difícil problema vivido e, hoje,voltou a tocar, a cantar, a cuidar dos filhos e reconstruir a sua vida.

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A ginasta Jade Barbosa de 14 anos de idade, viveu uma infãncia difícilcom a perda da mãe e com problemas financeiros. A partir de então,mora apenas com o pai e o irmão. Apesar de sua trajetória difícil, Jadese dedicou muito ao esporte e hoje faz parte da equipe brasileira deginástica, alcançando vitórias importantes.

3- Desenvolver dinâmicas de grupo com alunos. Apresentar situações difíceis,comuns a faixa etária e discutir possibilidades concretas de enfrentamento doproblema. Vale a pena atentar para alguns aspectos na discussão realizada comos alunos:

• sintonizar empaticamente com o relato das adversidades enfrentadas

pelos alunos;

• perceber os sentimentos causados pelo problema e o grau de sofrimento

existente;

• observar se existem mecanismos de apoio nas falas dos alunos quando

comentam seus problemas, destacando o núcleo familiar, escolar e o

grupo de pares;

• verificar a capacidade individual de aprender a buscar apoio. Ressaltar

a importância desse atributo;

• constatar se o aluno explicita apreço e confiança em si mesmo. Caso

positivo, procurar reforçar ao máximo esse atributo. Adolescentes que

mostram pouca confiança em si próprio precisam estar atentos para a

importância de se investir nesse atributo de comportamento;

• perceber as formas de enfrentamento do problema, se são mais ativas,

reflexivas ou evitativas. Lembre que todas as estratégias são úteis,

dependendo do problema enfrentado. O perfil vulnerável se instala

quando uma pessoa opta quase que exclusivamente por evitar ou

internalizar os problemas.

• destacar características de temperamento que interferem na capacidade

de resiliência, lembrando que todos somos seres em construção, que

evoluimos e mudamos ao longo de nossas vidas.

4- O professor pode também refletir sobre sua própria resiliência, sejaindividualmente ou em seu grupo de pares e na escola como um todo.

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