Responsabilidade Social e Ética - Videolivraria · 2014-12-03 · Responsabilidade Social e é...

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Responsabilidade Social e Ética

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Responsabilidade S

ocial e Ética

Responsabilidade Social e Ética

1.ª edição

Responsabilidade Social e éticaElisabete Adami Pereira dos Santos

© 2007 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais.

S237 Santos, Elisabete Adami Pereira dos.

Responsabilidade Social e Ética./Elisabete Adami Pereira dos Santos. — Curitiba: IESDE Brasil S.A., 2007.

168 p.

ISBN: 975-85-7638-777-0

1. Responsabilidade social das empresas. 2. Ética comercial. I. Título.

CDD 361.765

IESDE Brasil S.A Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br

Todos os direitos reservados.

Elisabete Adami Pereira dos Santos

Mestre em Administração pela Pontifícia Univer-sidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Especia-lista em Administração pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Especialista em Gestão Estratégica de Negócios em Energia Elétrica pela FGV e Fun-dação Instituto de Administração (FIA). Bacharel em Administração Pública pela FGV. Bacharel em Filosofia pela Universidade de São Paulo. Profes-sora da PUC-SP, nos cursos de Graduação e Es-pecialização em Administração. Professora do MBA Executivo da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP) e do curso de Especialização em Administração para Engenheiros da Facul-dade de Engenharia Industrial (FEI). Consultora especializada em Estratégia, Gestão de Pesso-as, Responsabilidade Social e Ética Empresarial. Diretora Técnico-Cultural do Instituto Adecon – Administradores, Economistas e Contadores do Setor Elétrico de São Paulo.

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ário Conceito e contextualização de

Responsabilidade Social 9

9 | Abordagens organizacionais

16 | Reflexos no conceito de função das organizações e a Responsabilidade Social

19 | O conceito de Responsabilidade Social;

20 | Filantropia e filantropia estratégica

23 | Conclusão

Avaliação e vantagens da Responsabilidade Social 27

28 | Níveis de Responsabilidade Social e estratégias de respostas

36 | Vantagens competitivas com a Responsabilidade Social

44 | Conclusão

Medidas de desempenho social, indicadores, prêmios e certificações

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54 | Cartas de Princípios

65 | Normas e certificações

79 | Relatórios

84 | Índices de sustentabilidade das bolsas de valores

87 | Conclusão

Atuação da empresa frente à comunidade e público interno

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96 | Atuação frente às comunidades

103 | Atuação junto ao público interno: empregados, funcionários

110 | Conclusão

A Ética Empresarial e prática de valores 121

122 | Ética

128 | Ética Empresarial

140 | Compromissos éticos

146 | Conclusão

Gabarito 155

Referências 159

Anotações 167

Apresentação Responsabilidade S

ocial e ética

Prezado aluno,

O tema principal desta disciplina tem duas faces que se complementam como se fossem dois lados de uma única moeda: Responsabilidade Social e Ética Empresarial.A partir da década de 1970, principalmente nos países mais avançados do ponto de vista econômico e social, esses temas começaram a ganhar grande relevância. Muitos fa-tores contribuíram para isso, e um dos mais importantes foi a tomada de consciência da opinião pública de que as empresas tinham que dar respostas não só aos seus acio-nistas, mas deviam também atender a todas as expectati-vas de todos os seus parceiros relativamente à sua ativida-de, sua postura e seu comportamento.Hoje, naqueles países, e se alargando para outros, como é o caso do Brasil, há de forma quase generalizada, a predis-posição de empresas e sociedade em atentar para todos os aspectos que a atividade econômica de uma organização exerce de impacto no seu entorno. E, tendo em vista a na-tureza das empresas e o ambiente de competição em que se encontram, principalmente frente ao fenômeno da glo-balização econômica que não permite que se fechem em si mesmas, ou em seu mercado, esta importância aumenta de forma exponencial.Dessa forma, na construção das habilidades de um profis-sional de administração, esse tema ganha relevância ainda maior. E, essa disciplina, que antes era apenas oferecida por algumas instituições de ensino, no mundo e no Brasil, passa a ser parte integrante e fundamental na construção das competências do administrador.Iniciaremos com a discussão sobre o conceito de Respon-sabilidade Social, colocando-o dentro dos contornos do mundo competitivo, atual, e frente aos conceitos de orga-nização. Isso enseja posicionamentos diferentes quanto ao que seja a finalidade das empresas e, portanto, colocare-mos esses posicionamentos em discussão, também. A cria-ção de valor, como uma das finalidades das organizações, é assunto tratado neste espaço e ainda é nele que se apre-senta o debate sobre a filantropia empresarial, seu alcance, suas limitações.

Como toda atividade pode e deve ser medida para que o desempenho tenha formas de ser avaliado objetivamente, seguiremos com a focalização dos aspectos relacionados a essa medição, especialmente do desempenho social das empresas. E, no mesmo espaço, enfocaremos as vantagens competitivas que as empresas têm no mercado quando tratam a responsabilidade social de forma estratégica.Em seguida, mostraremos os instrumentos disponíveis e aqueles de maior utilização, para a medição, certificação e até premiação do desempenho social das empresas.A forma como as empresas lidam com as aspirações e as expectativas de seus empregados, que são os maiores res-ponsáveis para a criação de valor em seus produtos e servi-ços, e a forma que trata as comunidades vizinhas que rece-bem os impactos de sua atividade, são temas que também serão abordados. Práticas de excelência são apresentadas co mo exemplos de atuação social e economicamente res-ponsáveis.O último bloco vai apresentar a outra face da moeda, que é a Ética Empresarial. Uma organização preocupada com os valores que pratica frente a todos os seus parceiros, e com os seus parceiros, já está com uma boa parte do ca-minho andado rumo à Responsabilidade Social. Quando a preocupação é acompanhada de mecanismos de cumpri-mento e de verificação desse cumprimento, como através de Códigos de Ética e códigos de conduta, o caminho já está pavimentado e pronto para ser trilhado. Mostraremos a prática de algumas organizações nesse quesito.Na elaboração deste material combinamos, em cada ca-pítulo, além da apresentação de exemplos concretos das práticas, fragmentos de autores relevantes para os temas, bem como exercícios práticos e de reflexão e sugestões de leituras, para que você possa se aprofundar em cada um destes capítulos.Esperamos poder caminhar juntos nesta trilha e que ao fi-nal tenhamos contribuído para o aperfeiçoamento de seus conhecimentos e habilidades como profissional de Admi-nistração.

Medidas de desempenho social, indicadores, prêmios e certificações

Medir, monitorar e gerenciar todas as atividades organizacionais pres-supõe que, também, o desempenho social deva ser medido, monitorado e gerenciado. E uma das funções do feedback que essa atividade de medição tem, no desempenho social, é mostrar para todos os parceiros da organiza-ção como esta atuação da organização está sendo realizada e como ela se situa frente a outras organizações. A atuação social de outras organizações, nesse sentido, também pode ser usada como parâmetro para a ação social.

As formas que se têm, tanto em termos nacionais como internacionais, e que garantem que a empresa está atingindo seu objetivo de Responsabilida-de Social, são oferecidas através de indicadores, certificações e prêmios, em todos os níveis e para variadas dimensões.

As práticas premiadas ou certificadas, além de servirem para o uso da pró-pria organização em seu gerenciamento e melhoria, podem servir também para que outras organizações usem-nas como parâmetros. São, nesse senti-do, orientadoras e atestadoras de práticas adequadas.

Essa parametrização e a utilização das melhores práticas como modelos para a própria atuação da empresa são chamadas de benchmarking. E o pa-râmetro escolhido chama-se benchmark.

Por outro lado, as melhores práticas e a sua conseqüente premiação ou certificação, servem também para a imagem da empresa, portanto, também têm um objetivo empresarial, estratégico.

Na atualidade, há um número razoável de indicadores, premiações e cer-tificações colocadas à disposição das organizações para serem utilizadas.

No início, mesmo nos países mais avançados, essas distinções surgiram de forma tímida, mas foram se consolidando e se espalhando ao longo do mundo, e atualmente são inúmeros os organismos internacionais, e alguns nacionais, que nos fornecem indicadores, prêmios e certificações.

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Da mesma forma que há vários tipos de organismos, há também vários enfoques com diferenciados critérios para avaliação das práticas das empre-sas, no que se refere à Responsabilidade Social e ambiental.

O objetivo deste capítulo é, por conseguinte, mostrar as principais e mais significativas formas dessas distinções e que estão disponíveis para utiliza-ção das organizações que pretendem situar-se concretamente como uma empresa socialmente responsável.

Apresentam-se, também, neste capítulo, para cada uma das distinções mostradas, exemplos de empresa que foram objeto de premiação naquelas práticas.

Essas distinções dividem-se basicamente em quatro grandes blocos:

Cartas de Princípios, que representam documentos de compromissos;

Normas e Certificações;

Relatórios, que em sua maior parte têm um sentido de prestação de contas entre a empresa e seus parceiros, portanto um objetivo voltado mais para essa relação;

Índices híbridos, que representam, em sua maior parte, a vinculação do desempenho social da organização com seu desempenho empresarial.

Cartas de PrincípiosEste nome genérico origina-se pelo caráter dos primeiros documentos

que surgiram a partir da firmação de compromissos entre organismos inter-nacionais, nacionais e entidades governamentais, ou entre ambos e as or-ganizações empresariais. Esses documentos se consolidam com planos de ação prática e com a sua implementação para o cumprimento das metas acordadas.

Os principais documentos deste bloco são: Agenda 21, Pacto Global e Metas do Milênio.

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Medidas de desempenho social, indicadores, prêmios e certificações

Agenda 21

O que é

Um programa de ação para viabilizar a adoção do desenvolvimento sus-tentável e ambientalmente racional em todos os países.

Como surgiu

Na conferência das Nações Unidas sobre meio ambiente e desenvolvi-mento, realizada no Rio de Janeiro, em 1992, popularmente chamada de Eco-92.

Essa conferência, que congregou 179 países, aprovou o documento con-tendo compromissos para a mudança do padrão de desenvolvimento para o século XXI. A idéia era tornar possível a construção de um plano de ação e de um planejamento participativo em nível global, nacional e local, capaz de permitir, de forma gradual, negociada e pactuada, o nascimento de um novo modelo de desenvolvimento.

Ela representa, portanto, um documento consensual, que sustenta um plano de ação e que deve, necessariamente, dar origem a ações para viabilizá-la.

Os objetivos são ambiciosos e estão vinculados ao estabelecimento de um novo padrão de desenvolvimento que vai do macro ao microcosmo. E, nesse sentido ele pode ser estabelecido para um país, estado, cidade, bairro, rua, e até mesmo para uma instituição como uma escola ou posto de saúde.

A Agenda 21 Global estabelece as linhas gerais, mas tem como pressupos-to que é no nível local que as propostas se concretizam. Porque são as comu-nidades que usam e precisam dos recursos naturais para sua sobrevivência e sabem como mobilizar-se para protegê-los. Portanto, cada um dos níveis, a partir daquelas linhas gerais, pode estabelecer seus próprios compromissos e criar seus fóruns de Agenda 21 Local, compostos pela comunidade e pelo poder público.

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Responsabilidade Social e Ética

O Brasil, a partir do documento de origem, estabeleceu suas próprias áreas temáticas de enfoque, e que refletem as questões principais que nos impactam do ponto de vista social e ambiental e que resultou no documen-to Agenda 21 Brasileira 1. Essas áreas são:

Agricultura sustentável – permitir o planejamento de modelos ideais para o campo;

Cidades sustentáveis – meio urbano;

Infra-estrutura e integração regional – envolve os setores estratégi-cos de transportes, energia e comunicações;

Gestão dos recursos naturais – proteção e uso sustentável dos recur-sos naturais;

Redução das desigualdades sociais – minimização das disparidades;

Ciência e tecnologia para o desenvolvimento sustentável – cons-truir as bases científicas e tecnológicas para a sustentabilidade.

A partir de 2003, a Agenda 21 Brasileira foi elevada à condição de Progra-ma do Plano Plurianual, PPA 2004-2007, passando a ser instrumento condi-cionante de políticas públicas.

O desdobramento da Agenda através de seu plano de ação se dá no estabelecimento de programas, que por sua vez se desdobra em ações. Temos, atualmente, 115 programas compostos por 2 500 ações a serem imple-mentadas.

No Brasil, a Agenda 21 tem mostrado mais eficiência e eficácia nos níveis locais, com a parceria entre comunidades, poder público local e empresas. Porém, uma empresa não pode agir por conta própria, ela terá que se vincu-lar ao governo local e a outras organizações para as definições das ações a serem implementadas.

Exemplos dessas ações

A Acesita, empresa do Grupo Arcelor e maior produtora de aços pla-nos inoxidáveis da América Latina, escolheu a cidade de Timóteo, em Minas Gerais, onde está sua fábrica, para a implantação do Programa

1 Mais informações sobre o documento brasileiro podem ser encontradas em <www.mct.gov.br/index.php/con-tent/view/36148.html>.

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Agenda 21 Global

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Medidas de desempenho social, indicadores, prêmios e certificações

de Melhoria da Qualidade do Ensino. Esse programa atende mais de 20 mil alunos e 1 200 profissionais de educação das 27 escolas públi-cas do município.

A Natura, quando se instalou no município de Cajamar, em São Paulo, comprometeu-se com a implantação da Agenda 21 do município. Foi formado um grupo de trabalho tripartite com a participação da em-presa, do governo local e da ONG Mata Nativa. Algumas ações já foram implementadas: diagnóstico dos aspectos econômicos, políticos, so-cioeconômicos, fiscais e financeiros, e físico-territoriais do município e a realização do Fórum Permanente da Agenda 21 de Cajamar, que é um instrumento de mobilização e de acompanhamento de políticas públi-cas e sua implementação. O grande objetivo é elaborar um plano de desenvolvimento sustentável a partir das potencialidades da cidade.

O Banco do Brasil assinou um Protocolo de Intenções com o Ministé-rio do Meio Ambiente no qual manifesta o interesse em criar e imple-mentar a “Agenda 21 empresarial”. Essa nova agenda, fundamentada nas bases da Agenda 21, contém um plano estratégico que define um novo padrão de desenvolvimento sobre três pilares: sustentabilidade ambiental, justiça social e eficiência econômica. O Banco do Brasil pre-tende com essa agenda mobilizar empresas de outros segmentos e de variados portes para que se envolvam nos requerimentos da Agenda 21 e que contribuam com este novo padrão de desenvolvimento base-ado na sustentabilidade. Dessa forma, pretende trabalhar em parceria com o Instituto Ethos e com o próprio Ministério do Meio Ambiente. Um outro objetivo do banco é o lançamento de uma cartilha conten-do as informações básicas e essenciais sobre esse tema.

A Petrobrás, através do seu Complexo Petroquímico do Rio de Janei-ro – Comperj –, realizou, no dia 25 de agosto de 2007, o 1.º Encontro do Fórum Regional da Agenda 21 Comperj2. O evento reuniu 2 700 representantes do Poder Público, iniciativa privada, Terceiro Setor e lideranças comunitárias dos 15 municípios da área de influência do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro – Comperj: Itaboraí, Cachoeiras de Macacu, Rio Bonito, São Gonçalo, Guapimirim, Casimiro de Abreu, Magé, Maricá, Niterói, Silva Jardim, Nova Friburgo, Rio de Janeiro, Saquarema, Tanguá e Teresópolis. O Fórum Regional da Agen-da 21 Comperj congrega 60 representantes de todos os setores e dos 15 municípios participantes, com participação paritária. O objetivo é o

2 Carta de princípios Com-perj disponível em: <www2.petrobras.com.br/Petro -bras/portugues/pdf/Carta_de_Principios_Final_da_Agenda_21Comperj.pdf>.

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mesmo das Agendas 21 locais: contribuição para “promover o engaja-mento e a integração de diversos setores da sociedade na implemen-tação de políticas locais voltadas ao desenvolvimento sustentável e ao aumento da qualidade de vida da sociedade e do meio ambiente.”

Pacto Global

O que é

Instrumento de compromisso. Pacto de livre adesão de qualquer empre-sa do mundo, com dois objetivos principais:

Disseminar a prática dos 10 princípios no meio empresarial em todo o mundo;

Catalizar suas ações para dar suporte às iniciativas da ONU.

Os princípios contam com o consenso universal e se organizam em torno dos temas direitos humanos, condições de trabalho, proteção do meio am-biente e combate à corrupção, sendo (os 3 primeiros) derivados dos seguin-tes acordos:

Declaração Universal dos Direitos Humanos;

Declaração da Organização Internacional do Trabalho sobre Direitos e Princípios Fundamentais no Trabalho;

Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento.

A motivação surgiu quando o secretário da ONU, Kofi Annan, em 1999 lançou um desafio às empresas para que dessem um caráter mais humano à globalização. A economia mundial deveria, para isso, se tornar mais susten-tável e promover a inclusão social. O Pacto Global foi criado, oficialmente, em 2000.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, sucessor de Kofi Annan, reafir-ma a importância do pacto, pois, segundo ele, “une governos, empresários, trabalhadores e a sociedade civil na convicção de que práticas empresariais baseadas em princípios universais podem trazer ganhos econômicos e so-ciais.” (PACTO GLOBAL, 2007)

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Medidas de desempenho social, indicadores, prêmios e certificações

Nesse mesmo discurso, em janeiro de 2007, em Nova York, o secretário da ONU destacou: “O setor privado está cada vez mais atento a sua relação simbólica com a sociedade e ao papel que as práticas empresariais respon-sáveis podem ter na promoção da estabilidade que as empresas precisam para prosperar.”

O secretário da ONU defende ainda a relação intrínseca entre setor pri-vado e a ONU, apesar de aparentemente terem objetivos diferentes. Dessa forma, ele frisa que:

[...] muitos dos seus objetivos são os mesmos: construir e apoiar o fortalecimento de economias e comunidades, prover oportunidades para pessoas obterem uma forma de sustento e assegurar que todos possam viver em dignidade. (PACTO GLOBAL, 2007)

O pacto já recebeu a adesão de pelo menos 2 500 empresas de mais de 90 países, 151 só no Brasil, que é um dos países com o maior número de ade-sões de empresas: Copel, Novartis, O Boticário, Petrobrás e Belgo são algumas dessas empresas.

As empresas signatárias do pacto são objeto de avaliação por seus avan-ços anuais pela ONU.

Em 2004, aconteceu uma reestruturação do pacto, quando foi decidido que cinco agências da ONU seriam destacadas para ajudar as empresas. As mudanças incluiam ainda um sistema de consulta aos líderes empresariais, a formação de redes locais – grupos regionais que se formaram para impul-sionar os princípios do pacto –, do Fórum anual das redes locais, e a criação da Fundação para o Pacto Global. Foi criada também uma diretoria do Pacto Global, com 20 membros, dentre eles dois brasileiros, o presidente da Petro-brás e o presidente do Instituto Ethos.

Os dez princípios do Pacto Global

O Pacto Global defende dez princípios universais, que derivam da Decla-ração Universal de Direitos Humanos, da Declaração da Organização Inter-nacional do Trabalho sobre Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho, da Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento e da Conven-ção das Nações Unidas contra a Corrupção. Diversas empresas seguem estes princípios e o que segue é a descrição deles, conforme Petrobrás (2007):

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Direitos humanos

Princípio 1 – as empresas devem apoiar e respeitar a proteção de direitos humanos reconhecidos internacionalmente;

Princípio 2 – assegurar-se de sua não-participação em violações desses direitos.

Condições de trabalho

Princípio 3 – as empresas devem apoiar a liberdade de associação e o reconhecimento efetivo do direito à negociação coletiva;

Princípio 4 – apoiar a eliminação de todas as formas de trabalho forçado ou compulsório;

Princípio 5 – apoiar a erradicação efetiva do trabalho infantil; e

Princípio 6 – apoiar a igualdade de remuneração e a eliminação da discriminação no emprego.

Meio ambiente

Princípio 7 – as empresas devem adotar uma abordagem preven-tiva para os desafios ambientais;

Princípio 8 – desenvolver iniciativas para promover maior respon-sabilidade ambiental;

Princípio 9 – incentivar o desenvolvimento e a difusão de tecnolo-gias ambientalmente sustentáveis.

Combate à corrupção

Princípio 10 – as empresas devem combater a corrupção sob to-das as suas formas, inclusive extorsão e propina.

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Medidas de desempenho social, indicadores, prêmios e certificações

Metas de Desenvolvimento do Milênio

O que é

Programa lançado em se-tembro de 2000, na Assembléia do Milênio, durante a Cúpula do Milênio – a maior reunião de dirigentes mundiais, em Nova York3. Durante essa assembléia, chefes de Estado subscreve-ram a Declaração do Milênio. O grande objetivo é a promoção do desenvolvimento sustentá-vel global até 2015, tendo ex-pressado, claramente, a decisão da comunidade internacional de reduzir à metade o número de pessoas que vivem com menos de um dólar por dia até o ano 2015. “O desafio central que enfrentamos hoje é a necessidade de assegurar que a globalização se torne uma força positiva para todos os povos do mundo”(ANNAN, 2000), declarou o ex-secretário-geral da ONU.

São oito metas que vão da erradicação da pobreza e da fome até a prote-ção do meio ambiente.

As Metas de Desenvolvimento do Milênio estabeleceram objetivos am-biciosos – porém factíveis – com respeito à redução da pobreza e à promo-ção do desenvolvimento sustentável entre os países em desenvolvimento. A Declaração do Milênio, aprovada por 189 países, menciona que os governos “não economizariam esforços para libertar nossos homens, mulheres e crian-ças das condições abjetas e desumanas da pobreza extrema” (DECLARAÇÃO DO MILÊNIO, 2000).

Enfatiza-se o papel de todas as partes envolvidas no processo de finan-ciamento ao desenvolvimento. Por um lado, espera-se que os países em de-senvolvimento melhorem suas próprias políticas e condições gerais de go-vernança; por outro lado, os países desenvolvidos são chamados a prestar

3 Saiba mais no site: <www.un.org/millenniumgoals/>.

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apoio aos esforços dos países em desenvolvimento, especialmente no que se refere ao aumento dos fluxos de ajuda oficial e dos investimentos dire-tos do estrangeiro, ao alívio da dívida externa e a maior abertura de seus mercados.

Algumas avaliações, no entanto, mostram que, apesar do amplo consen-so global sobre as metas, os resultados não têm sido animadores. No período de 1998 a 2002, o crescimento per capita ficou em menos de 2% em 60% dos países de baixa renda; em 32% desses países as taxas de crescimento foram negativas. Estimativas indicam que um crescimento sustentável da ordem de 3% é a taxa mínima necessária para que se possam atingir os objetivos de desenvolvimento.

Dessa forma, se continuar o ritmo atual de crescimento, as Metas do Mi-lênio só serão atingidas em 2147. E só serão atingidas se as políticas econô-micas e sociais da maioria dos países sofrerem profundas modificações. Essa é a conclusão do relatório mundial “Arquitetura da Exclusão”, divulgado em dezembro de 2006, no Rio de Janeiro, pelo Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas, o Ibase (AGÊNCIA BRASIL, 2006). O relatório, elabora-do por mais de 400 organizações da sociedade civil em 60 países, aponta que, ao contrário do que propõe a ONU, o estabelecimento de uma parceria mundial para o desenvolvimento das nações não vem sendo cumprido de fato. O estudo revela que embora exista uma “crença disseminada de que os países ricos transfiram quantias substanciais de recursos para as nações pobres, a cada ano centenas de bilhões de dólares saem dos países pobres para os ricos”.

Um relatório da ONU sobre o progresso das Metas do Milênio sugere que, em nível global, o sucesso da iniciativa ainda não pode ser garantido.

O “relatório sobre os Objetivos do Milênio 2007” foi apresentado em Ge-nebra, na Suíça, pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon (2007). Ban disse que o mundo desenvolvido precisa fazer mais pela iniciativa, e afirmou que somente cinco países-doadores estão cumprindo a meta de destinar 0,7% de seu PIB à ajuda externa.

De acordo coma ONU, o progresso mais lento das Metas do Milênio tem sido na África Subsaarina. No Brasil, apesar do sucesso em alguns quesitos como acesso universal à educação, os desafios continuam na área de sanea-mento básico.

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Medidas de desempenho social, indicadores, prêmios e certificações

Segundo o relatório da ONU, no Brasil, o primeiro Objetivo de Desenvol-vimento do Milênio, a redução pela metade da pobreza e fome extremas, já teria sido alcançado, em parte por causa de ações sociais do governo. O relatório ressalta, ainda, o combate ao desmatamento como um dos pro-gressos na área do meio ambiente no Brasil. Em termos gerais, pode-se dizer que houve algum progresso, pois, em todo o mundo, caiu cerca de 20% o número de pessoas que vivem com menos de US$1 por dia. (RÁDIO DAS NAÇÕES UNIDAS, 2007).

As 8 Metas do Desenvolvimento do Milênio

Segundo Veiga (2004, p.13-14), as oito Metas do Desenvolvimento do Mi-lênio são:

Erradicar a extrema pobreza e a fome

Reduzir pela metade, entre 1990 e 2015, a proporção da popula-ção com renda inferior a um dólar-paridade do poder de compra – (PPC) por dia.

Reduzir pela metade, entre 1990 e 2015, a proporção da população que sofre de fome.

Atingir o Ensino Básico universal

Garantir que, até 2015, todas as crianças, de ambos os sexos, termi-nem o ciclo completo de Ensino Básico.

Promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres

Eliminar a disparidade entre os sexos no Ensino Básico, se possível até 2005, e em todos os níveis de ensino, o mais tardar até 2015.

Reduzir a mortalidade infantil

Reduzir em dois terços, entre 1990 e 2015, a mortalidade de crian-ças menores de 5 anos.

Melhorar a saúde materna

Reduzir em três quartos, entre 1990 e 2015, a taxa de mortalidade materna.

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Responsabilidade Social e Ética

Combater o HIV/aids, a malária e outras doenças

Até 2015, conter a propagação do HIV/aids e reverter a tendência atual.

Até 2015, conter a incidência da malária e de outras doenças im-portantes e reverter a tendência atual.

Garantir a sustentabilidade ambiental

Integrar os princípios do desenvolvimento sustentável nas políticas e programas nacionais e reverter a perda de recursos ambientais.

Reduzir pela metade, até 2015, a proporção da população sem acesso permanente e sustentável à água potável segura.

Até 2020, ter alcançado melhora significativa nas vidas de pelo me-nos 100 milhões de favelados.

Estabelecer parceria mundial para o desenvolvimento

Avançar no desenvolvimento de um sistema comercial e financeiro aberto, transparente, previsível e não-discriminatório.

Atender às necessidades especiais dos países menos desenvolvi-dos.

Atender às necessidades especiais dos países sem acesso ao mar e dos pequenos Estados insulares em desenvolvimento.

Tratar globalmente o problema da dívida dos países em desenvol-vimento, mediante ações nacionais e internacionais a fim de tornar a sua dívida sustentável a longo prazo.

Em cooperação com os países em desenvolvimento, formular e executar estratégias que permitam aos jovens obter trabalho dig-no e produtivo.

Em cooperação com as empresas farmacêuticas, proporcionar o acesso a medicamentos essenciais a preços acessíveis nos países em desenvolvimento.

Em cooperação com o setor privado, tornar mais acessíveis os be-nefícios das novas tecnologias, em especial das tecnologias de in-formação.

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Medidas de desempenho social, indicadores, prêmios e certificações

Dadas essas 8 metas internacionais comuns, 18 objetivos e mais de 40 indicadores foram definidos para possibilitar uma avaliação uniforme das metas, nos níveis global, regional e nacional.

O acompanhamento das metas deve considerar especificidades nacio-nais. Assim, cada país deve valer-se de suas capacidades para monitorá-las.

Uma das formas de acompanhamento dos resultados no Brasil tem sido o Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil4, que se torna uma contri-buição importante para a avaliação das Metas do Milênio, pois seus dados desagregados vão além das médias, permitindo verificar o ponto de partida e a evolução do bem-estar das populações de cada município.

Algumas empresas comprometeram-se com algumas das metas e desen-volvem projetos relacionados a elas, como a Amanco e a Souza Cruz, por exemplo (ABRIL, 2004). O município de Barueri, em São Paulo, comprometeu-se com todas as metas e tem a colaboração de instituições como a PUC-SP, que criou um novo campus nesse município.

Normas e certificaçõesNo segundo bloco, temos as normas e as certificações, que estabelecem

procedimentos para que os princípios relativamente ao tema enfocado, que foram acordados, negociados ou comprometidos, possam ser seguidos e aplicados ao cotidiano das empresas. Normalmente, estão baseados em processos.

ISO 14001

O que é

Uma norma de padrão ambiental que as empresas utilizam para geren-ciar seus processos ambientais, minimizando os efeitos nocivos de suas ati-vidades sobre o meio ambiente. Essa norma refere-se, especificamente, aos Sistemas de Gestão Ambiental (SGA), fazendo parte do conjunto de normas ISO 14000, que cobrem, em sua totalidade, uma vasta gama de assuntos, de Sistemas de Gestão Ambiental e auditorias ambientais até Rotulagem Am-biental e Avaliação do Ciclo de Vida (ACV).

4 Mais informações sobre o Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil estão dis-poníveis em: <www.pnud.org.br/atlas/>.

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Responsabilidade Social e Ética

A definição e conceituação da norma oficial é:

A norma ISO 14001 é uma ferramenta criada para auxiliar empresas a identificar, priorizar e gerenciar seus riscos ambientais como parte de suas práticas usuais. A norma faz com que a empresa dê uma maior atenção às questões mais relevantes de seu negócio. A ISO 14001 exige que as empresas se comprometam com a prevenção da poluição e com melhorias contínuas, como parte do ciclo normal de gestão empresarial. (LRQA, 2007)

Foi criada pela ONG internacional ISO, que é formada por vários institu-tos. No Brasil, é representada pela ABNT.

As empresas certificadas são submetidas a auditorias periódicas que visam constatar se as diretrizes foram incorporadas aos seus processos.

No Brasil, até junho de 2006, atingiu-se a marca de 2 500 certificados ISO 14001. Isso porque as grandes empresas como Petrobrás, Aracruz Celulose e as grandes montadoras de automóveis têm solicitado a seus fornecedores que também se certifiquem. Haroldo Mattos Lemos (LEMOS, 2007), presi-dente do Instituto Brasil PNUMA (Comitê Brasileiro do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) afirma que:

“Praticamente, todas as empresas que foram certificadas com norma ISO 14001 melhora-ram seus desempenhos ambientais e ficaram mais competitivas, pois reduziram o consu-mo de água, energia e matérias-primas, passando a produzir menos efluentes para se rem tratados.” 5

Para obter a certificação ISO 14001, uma empresa deve definir a sua Po-lítica Ambiental, implantar um SGA, cumprir a legislação ambiental aplicá-vel (ao país e àquela localidade) e assumir um compromisso com a melhoria contínua de seu desempenho ambiental.

Em um universo tão grande de empresas certificadas no Brasil, algumas práticas destacam-se:

Basf – para uma empresa que se situa em um setor tão impactante, que é o químico, o fato de ter como preocupação “o crescimento sem destruição da natureza” (ABRIL, 2006, p. 32) é digno de nota. A Basf projetava, em 2006, a inauguração, em São Bernardo do Campo, São Paulo, da Fundação Espaço Eco. A Fundação tem como missão “a disse-minação no meio empresarial do conceito de ecoficiência – o máximo de produção com o mínimo de recursos naturais e emissão de resídu-os”, missão essa que vai além dos interesses da própria empresa. Um dos outros destaques relativamente à essa organização é o comparti-lhamento dos dados sobre a gestão e os indicadores ambientais com todos os funcionários.

5 Para saber mais sobre o Ins-tituto Pnuma Brasil acesse: http://www.brasilpnuma.org.br/.

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Medidas de desempenho social, indicadores, prêmios e certificações

Suzano – foi a primeira organização no mundo a obter a BS 7750, nor-ma que foi precursora da ISO 14001 (ABRIL, 2004). Sendo o setor em que se encontra (papel e celulose) crítico em termos ambientais, qual-quer descuido pressupõe danos ao ambiente, por um lado, e aumento de custos no processo, por outro. Dessa forma, a Suzano, na maior par-te de suas unidades, tem um SGA bastante evoluído. Alguns de seus programas são:

Educação ambiental – através de três frentes que se situam nas comunidades de entorno de suas unidades: Projeto Sementeira (Sul da Bahia e Norte do Espírito Santo); Clube da Sementeira e Projeto Voluntário Verde.

Manejo sustentável – 40% de suas áreas florestais são destinadas à preservação de espécies nativas.

Parque das Neblinas – reserva privada de conservação ambiental, de 2 700 hectares, localizada entre Mogi das Cruzes e Bertioga, no estado de São Paulo, considerada Patrimônio Natural da Humani-dade pela Unesco.

SA 8000

O que é

Uma norma internacional que visa aprimorar o bem-estar e as boas con-dições de trabalho, bem como o desenvolvimento de um sistema de verifi-cação que garanta a contínua conformidade com os padrões estabelecidos pela norma. (FERRAMENTAS DA SER, 2007)

Foi lançada em 1997 pela Social Accountability Internacional, uma orga-nização não-governamental sediada nos Estados Unidos, responsável pelo desenvolvimento e supervisão da norma internacional Social Accountability 8000 (SA 8000).

O maior impulso para a elaboração do padrão SA, finalizado em 1997, foram as denúncias de utilização de mão-de-obra infantil e escrava na in-dústria chinesa de brinquedos, principalmente fornecedora das redes ame-ricanas de varejo. Seus requisitos vão muito além da filantropia e do apoio

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Responsabilidade Social e Ética

a programas comunitários. A norma trata de questões como a mão-de-obra infantil, segurança e saúde do trabalhador, liberdade de associação, discri-

minação, remuneração e horas extras. Conceitu-almente, a SA 8000 funciona como um princípio ético balizador das ações e relações da empresa com os públicos com os quais ela interage – fun-cionários, consumidores, fornecedores e co-munidade. Seu objetivo final é a busca de valor para todos os elos dessa cadeia. (ABRIL, REVISTA EXAME, 2001, p. 34)

A SA 8000 é cada vez mais reconhecida no mundo como um sistema efetivo de implemen-tação, manutenção e verificação de condições dignas de trabalho. Em 2006, eram mais de 160 empresas certificadas com SA 8000 em diversos países, incluindo o Brasil.

Para obter a certificação, a empresa se submete a um processo semelhan-te ao das normas ISO, e tem um sistema de auditoria similar ao da ISO 9000.

Seus requisitos são baseados nas normas internacionais de direitos hu-manos e nas convenções da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

Segundo o site DNV (2007), a SA 8000 fornece padrões transparentes, mensuráveis e verificáveis para certificar o desempenho de empresas em nove áreas essenciais:

Trabalho infantil – proíbe trabalho infantil (menores de 15 anos na maior parte dos casos). As empresas certificadas devem também alo-car fundos para a educação de crianças que possam perder seus em-pregos como resultado dessa norma.

Trabalho forçado – os trabalhadores não podem ser coibidos a deixar os seus documentos de identidade ou pagar “depósitos” como condi-ção para obterem o emprego.

Saúde e segurança – as empresas devem obedecer a padrões básicos de ambiente de trabalho saudável e seguro, incluindo fornecer água potável, banheiros, equipamentos de segurança adequados e treina-mento necessário.

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Medidas de desempenho social, indicadores, prêmios e certificações

Liberdade de associação – protege os direitos dos trabalhadores de unir-se e formar associações para negociar coletivamente, sem temer represálias.

Discriminação – nenhuma discriminação a partir de raça, casta, ori-gem, religião, deficiência, sexo, orientação sexual, sindicalização ou filiação política.

Práticas disciplinares – proíbe castigo corporal, coerção física ou mental ou ainda abuso verbal dos trabalhadores.

Jornada de trabalho – estabelece o máximo de 48 horas de trabalho por semana, pelo menos um dia de folga por semana, o máximo de 12 horas-extra por semana com remuneração diferenciada.

Salários – devem atender aos mínimos padrões legais e fornecer ren-da suficiente para as necessidades básicas, sobrando pelo menos um pouco.

Gestão – define procedimentos para a implementação efetiva pela Administração, revisão da conformidade à SA 8000, desde a determi-nação de pessoas responsáveis até a manutenção de registros, solu-ção de problemas e a adoção de ações corretivas.

Seus objetivos são, portanto, tornar os locais de trabalho mais humanos por meio de um padrão global estabelecido e verificável.

Em agosto de 2007, existiam 968 empresas certificadas no mundo e 73 empresas no Brasil. (SA 8000 AROUND THE WORLD, 2007)

O Brasil tem um número razoável de empresas certificadas por esta norma e alguns de seus destaques são:

Marcopolo – considerada a maior fabricante de ônibus do Brasil. A empresa mantém uma escola de formação profissional e oferece va-gas à comunidade de Caxias do Sul e a jovens considerados em situ-ação de vulnerabilidade social. Após o término do curso, a vaga na empresa está garantida.

Aos empregados, é oferecida carreira com regras claras e afixadas nos murais da empresa. Tem programa de recrutamento interno privile-giando, portanto, os empregados da casa. Os empregados podem acessar livremente as informações sobre a empresa, incluindo folha de

70

Responsabilidade Social e Ética

pagamento, e para isso utilizam a intranet. Todos os empregados são treinados em computação para poder usar dessa prerrogativa. Ainda dispõem de um canal aberto através do qual podem manifestar-se de forma anônima. (ABRIL, 2004, p. 61)

Albras – fabricante de alumínio controlada pela Companhia Vale do Rio Doce, estabeleceu-se em Barcarena, município que fica a 30 qui-lômetros de Belém, no Pará. Quando chegou à cidade, teve que cons-truir quase toda a infra-estrutura para acomodar os empregados da empresa, que eram e são provenientes de várias regiões do país. Os empregados têm direito à moradia, plano de saúde e de previdência, todos subsidiados, e incentivo à educação.

Indicadores EthosForam lançados em 2000, pelo Instituto Ethos de Empresas e Responsa-

bilidade Social, que é uma organização não-governamental criada com a missão de “mobilizar, sensibilizar e ajudar as empresas a gerir seus negócios de forma socialmente responsável, tornando-as parceiras na construção de uma sociedade sustentável e justa.” (ETHOS, 2007)

O Instituto Ethos tem 1 205 associados, entre empresas de diferentes se-tores e portes. O faturamento desses associados representa aproximadamen-te 35% do PIB brasileiro e empregam cerca de 2 milhões de pessoas. O que move essas empresas associadas é o interesse em estabelecer padrões éticos de relacionamento com funcionários, clientes, fornecedores, comunidade, acionistas, Poder Público e com o meio ambiente.

Em 2003, havia 323 empresas participantes e, em 2004, 442.

Os Indicadores Ethos de Responsabilidade Social Empresarial represen-tam uma metodologia de acompanhamento e monitoramento de práticas de Responsabilidade Social. Seu objetivo é auxiliar as empresas a gerenciar seus impactos sociais e ambientais, através de um instrumento de auto-ava-liação e, conseqüentemente, de aprendizagem. São atualizados anualmente e seu uso é essencialmente interno.

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Medidas de desempenho social, indicadores, prêmios e certificações

Os Indicadores Ethos estão estruturados em torno de sete grandes temas:

Valores e transparência;

Público interno;

Meio ambiente,

Fornecedores;

Consumidores e clientes;

Comunidade;

Governo e sociedade.

Valores, transparência e governança

Parte do preceito de que os valores e os princípios éticos formam a base da cultura de uma empresa. São eles que vão orientar sua conduta e fun-damentar sua missão social. A noção de Responsabilidade Social Empresa-rial decorre da compreensão de que a ação das empresas deve, necessaria-mente, orientarem-se para seus stakeholders: buscar trazer benefícios para a sociedade, propiciar a realização profissional dos empregados, promover benefícios para os parceiros e para o meio ambiente e trazer retorno para os investidores. Seus focos são: auto-regulação da conduta e relação transparen-te com a sociedade.

A auto-regulação da conduta é formada por:

compromissos éticos;

enraizamento na cultura organizacional;

governança corporativa.

A relação transparente com a sociedade envolve:

relações com a concorrência;

diálogo com as partes interessadas (stakeholders);

Balanço Social.

72

Responsabilidade Social e Ética

Público interno

A empresa socialmente responsável não se limita a respeitar os direi-tos dos trabalhadores, consolidados na legislação trabalhista e nos pa-drões da Organização Internacional do Trabalho (OIT), ainda que esse seja um pressuposto indispensável. Mas deve ir além e investir em de-senvolvimento pessoal e profissional, bem como na melhoria das con-dições de trabalho e no estreitamento de suas relações com os emprega-dos. Também deve estar atenta ao respeito às culturas locais, revelado por um relacionamento ético e responsável com as minorias e com as ins-tituições que representam seus interesses. Para Bacelar Jr. (2000) os focos são: diálogo e participação, respeito ao indivíduo e trabalho decente. O foco do diálogo e a participação desdobram-se em:

relações com sindicatos;

relações com trabalhadores terceirizados;

gestão participativa;

Respeito ao indivíduo formado por:

compromisso com o futuro das crianças;

com o desenvolvimento infantil;

com valorização da diversidade;

com a eqüidade racial;

com a eqüidade de gênero.

Trabalho decente representa:

política de remuneração;

benefícios e carreira;

cuidado com a saúde;

segurança e condições de trabalho;

compromisso com o desenvolvimento profissional e com a empre-gabilidade;

73

Medidas de desempenho social, indicadores, prêmios e certificações

comportamento frente a demissões;

preparação para a aposentadoria.

Meio ambiente

Ao relacionar-se com o meio ambiente, a empresa causa impactos de di-ferentes tipos e intensidades. Uma empresa ambientalmente responsável procura minimizar os impactos negativos e amplificar os positivos. Portanto, deve agir para a manutenção e melhoria das condições ambientais, minimi-zando o risco em operações potencialmente agressivas ao meio ambiente e disseminando para outras empresas as práticas e conhecimentos adquiri-dos nesse sentido. Os objetivos são: sustentabilidade da economia florestal, responsabilidade frente às gerações futuras e gerenciamento do impacto ambiental.

Sustentabilidade da economia florestal – representa a criação de um sistema de gestão que assegura que a empresa não contribua para a utilização predatória e ilegal das florestas.

Responsabilidade frente às gerações futuras – formado por com-promisso com a melhoria da qualidade ambiental e educação e cons-cientização ambientais.

Gerenciamento do impacto ambiental – pressupõe gerenciamento do impacto no meio ambiente e do ciclo de vida dos produtos e servi-ços (balizadas pela utilização de critérios nacionais e internacionais de proteção ambiental como os da ISO 14000) e minimização de entradas e saídas de material.

Fornecedores

A empresa socialmente responsável se envolve com seus fornecedores e parceiros, cumprindo os contratos estabelecidos e trabalhando pelo aprimo-ramento de suas relações de parceria. A ela cabe transmitir os valores de seu código de conduta a todos os participantes de sua cadeia de fornecedores, tomando-o como orientador em casos de conflitos de interesse. A empresa deve conscientizar-se de seu papel no fortalecimento da cadeia de fornece-dores, atuando no desenvolvimento dos elos mais fracos e na valorização da livre concorrência. Seu principal foco é a seleção, a avaliação e a parceria com os fornecedores.

74

Responsabilidade Social e Ética

Esse foco por sua vez, relaciona-se com as seguintes ações: utilização de critérios na seleção e avaliação de fornecedores, preocupação com a utili-zação de trabalho infantil ou trabalho escravo na cadeia produtiva, e apoio ao desenvolvimento de fornecedores, priorizando a pequena e a média empresa.

Consumidores e clientes

A Responsabilidade Social, em relação aos clientes e consumidores, exige da empresa o investimento permanente no desenvolvimento de produtos e serviços confiáveis, que minimize os riscos de danos à saúde dos usuários e das pessoas em geral. A publicidade de produtos e serviços deve garantir seu uso adequado.

Informações detalhadas devem estar incluídas nas embalagens e deve ser assegurado suporte ao cliente antes, durante e após o consumo. A em-presa deve alinhar-se aos interesses do cliente e buscar satisfazer suas neces-sidades. Seu foco é a dimensão social do consumo, que se vincula à política de comunicação comercial, a excelência do atendimento e ao conhecimento e gerenciamento dos danos potenciais dos produtos e serviços.

Comunidade

A comunidade em que a empresa está inserida lhe fornece a infra-estru-tura e o capital social representado por seus empregados e parceiros, contri-buindo decisivamente para a viabilização de seus negócios. O investimento pela empresa em ações que tragam benefícios sociais para a comunidade é uma contrapartida justa, além de reverter em ganhos para o ambiente inter-no e na percepção que os clientes têm da própria empresa. O respeito aos costumes e culturas locais e o empenho na educação e na disseminação de valores sociais devem fazer parte de uma política de envolvimento comu-nitário da empresa, resultado da compreensão de seu papel de agente de melhorias sociais. Esse item focaliza-se em relações com a comunidade local e ação social.

Relações com a comunidade local – compõem-se de gerenciamento do impacto da empresa na comunidade de entorno e relações com organizações locais.

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Medidas de desempenho social, indicadores, prêmios e certificações

Ação social – composta de financiamento da ação social e envolvi-mento com a ação social.

Governo e sociedade

A empresa deve relacionar-se de forma ética e responsável com os po-deres públicos, cumprindo as leis e mantendo interações dinâmicas com seus representantes, visando à constante melhoria das condições sociais e políticas do país. O comportamento ético pressupõe que as relações entre a empresa e os governos sejam transparentes e honestas para sociedade, acio-nistas, empregados, clientes, fornecedores e distribuidores. Cabe à empre-sa manter uma atuação política coerente com seus princípios éticos e que evidencie seu alinhamento com os interesses da sociedade. Composto por: transparência política e liderança social.

Transparência política – compõe-se de contribuições para campa-nhas políticas (critérios claros para seleção e doações a políticos e partidos políticos), construção da cidadania pelas empresas, e práticas anticorrupção e antipropina.

Liderança social – vincula-se à liderança e à influência social e partici-pação em projetos sociais governamentais.

Indicadores Ethos para micro e pequenas empresas

O Instituto Ethos desenvolveu, em parceria com o Sebrae, e utilizando as mesmas dimensões anteriores, um guia para o estabelecimento de indica-dores para micro e pequenas empresas.

Estágios das empresas em níveis de Responsabilidade Social

Sendo os Indicadores Ethos de Responsabilidade Social Empresarial uma metodologia de acompanhamento e monitoramento de práticas de Respon-sabilidade Social para ajudar as empresas no gerenciamento do resultado de suas ações em termos sociais e ambientais, seu uso focaliza-se na auto-avaliação da organização. Dessa forma, a empresa pode saber em que está-gio encontra-se em sua prática de Responsabilidade Social. A figura a seguir ajuda nessa localização.

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Responsabilidade Social e Ética

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Não vemos aplicação disso em nossa em-presa (Justifique).

Não havíamos tratado antes desse assunto.

Representa um está-gio básico de ações da empresa, no qual ela ainda se encon-tra em nível reativo às exigências legais.

Estágio 1 Estágio 2

Representa um es-tágio intermediário de ações, no qual a empresa mantém postura defensiva sobre os temas, mas já começa a enca-minhar mudanças e avanços em relação à conformidade de suas práticas.

Estágio 3 Estágio 4

Representa um estágio avançado de ações, no qual já são reconheci-dos os benefícios de ir além da conformidade legal, preparando-se para novas pressões regulamentadoras do mercado, da socieda-de etc. A Responsabili-dade So cial e o desen-volvimento sustentável são tidos como estraté-gicos para o negócio.

Representa um está-gio proativo de ação, no qual a empresa atingiu padrões con-siderados de excelên-cia em suas práticas, envolvendo fornece-dores, consumidores, clientes, a comunida-de e também influen-ciando políticas pú-blicas de interesse da sociedade.

Resultados consolidados – 2004

Apresenta-se a seguir o resultado consolidado, referente a 2004, das 442 empresas participantes, que utilizaram os Indicadores Ethos como ferramen-ta de gerenciamento de suas práticas de Responsabilidade Social. Na mesma tabela, há o comparativo com os anos anteriores, bem como as notas das empresas consideradas benchmark (parâmetro de comparação) e as notas máximas para cada tema.

As diferenças verificadas entre o benchmark e as empresas participantes justificam-se pelo fato de que há uma participação maior de empresas de grande porte no grupo de benchmark.

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Medidas de desempenho social, indicadores, prêmios e certificações

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Responsabilidade Social e Ética

O porte das empresas e seu desempenho frente aos temas – 2004

A avaliação feita pelo Instituo Ethos relativamente a estes resultados foi que as empresas de pequeno porte apresentaram resultado geral superior às empresas de médio porte, e as empresas de grande porte obtiveram os melhores resultados em todos os temas.

Gráfico 1 – Tema X porte das empresas participantes

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Empresas que utilizam os Indicadores Ethos

Algumas das empresas que utilizam os Indicadores Ethos para fazer o diagnóstico de sua atuação social são PriceWaterhouseCoopers, Promon, Sadia, Motorola, Pão de Açúcar, DPaschoal, Elektro, Companhia das Letras, CNEC Engenharia, Bradesco, Associação Alumni, Apis Flora e muitas outras, de vários portes e em todas as regiões do Brasil.

Abaixo, dois gráficos que mostram, a partir dos dados de 2004, a compo-sição por porte, e a composição por região.

Gráfico 2 – Distribuição por porte das empresas participantes

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Medidas de desempenho social, indicadores, prêmios e certificações

Gráfico 3 – Distribuição por região das empresas participantes

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RelatóriosOs relatórios representam, genericamente, os canais de comunicação

que as empresas utilizam para dar conta de suas ações de Responsabilidade Social aos seus parceiros e às partes interessadas no negócio.

Os três tipos de relatório que têm sido mais utilizados para essa presta-ção de contas são apresentados a seguir.

Balanço Social IbaseA idéia de Balanço Social começou a ser discutida na década de 1970, em

vários países e também no Brasil.

De acordo com Andrade (2007, p.16),

No Brasil, o debate sobre as questões sociais das empresas iniciou-se com a fundação, em 1961, da ACDE (Associação Cristã de Dirigentes Empresariais). [...] Em 1977, no 2.º Encontro Nacional de Dirigentes Cristãos de Empresas, uma das questões debatidas foi o Balanço Social. Em 1986, a ACDE constituiu a Fides (Fundação Instituto de Desenvolvimento Empresarial e Social) com o objetivo de promover, divulgar e contribuir com empresas nas questões sociais.[...]. Na década de 1980, a Fides chegou a elaborar um modelo para o Balanço Social.

Somente nos anos 1980, no entanto, é que surgiram os primeiros, e poucos, balanços sociais de empresas. “A partir da década de 1990, corpora-ções de diferentes setores passaram a publicar o Balanço Social anualmente.” (TORRES; MANSUR, 2007)

Ainda, de acordo com Andrade (2007, p. 17),

[...] o Balanço Social da Nitrofértil, empresa estatal situada na Bahia, realizado em 1984, é considerado o primeiro documento brasileiro do gênero, que carrega o nome de Balanço

80

Responsabilidade Social e Ética

Social. No mesmo período, estava sendo realizado o Balanço Social do Sistema Telebrás, publicado em meados da década de 1980. O do Banespa, realizado em 1992, compõe a lista das empresas precursoras no Brasil.

O sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, lançou em junho de 1997 uma campanha pela divulgação voluntária do Balanço Social. A partir daí, começa a ter maior visibilidade e a contar com o apoio e a participação de algumas lideranças empresariais. Hoje, já se pode falar sobre o relativo sucesso dessa iniciativa e “afirmar que o processo de construção de uma nova mentalida-de e de novas práticas no meio empresarial está em pleno curso”. (TORRES; MANSUR, 2007)

O Balanço Social do Ibase (Instituto Brasileiro de Análise Sociais e Econô-micas) foi, portanto, a primeira versão do Balanço Social.

Betinho partiu de um modelo simplificado que pudesse ser utilizado como instrumento de gestão, de melhoria de imagem, de instrumento ge-rencial para tomada de decisão e de prestação de contas a todos os interes-sados das ações e dos resultados das empresas.

O que é

Um demonstrativo anual contendo um conjunto de informações sobre os projetos, benefícios e ações sociais dirigidas aos empregados, investidores, analistas de mercado, acionistas e à comunidade.

É também um instrumento estratégico para avaliar e multiplicar o exercí-cio da Responsabilidade Social corporativa.

No Balanço Social, a empresa mostra o que faz por seus profissionais, de-pendentes, colaboradores e comunidade, dando transparência às atividades que buscam melhorar a qualidade de vida para todos. Ou seja, sua função principal é tornar pública a Responsabilidade Social Empresarial, construin-do maiores vínculos entre a empresa, a sociedade e o meio ambiente.

81

Medidas de desempenho social, indicadores, prêmios e certificações

O selo Balanço Social Ibase

O Ibase lançou o Selo Balanço Social Ibase/Betinho, em 1998, para esti-mular maior participação das empresas. As empresas que publicam o Balan-ço Social no modelo sugerido pelo Ibase, com a metodologia e os critérios propostos, recebem o selo.

As empresas mostram, em seus anúncios, embalagens, através de Selo que investem em educação, saúde, cultura, esportes e meio am-biente. É uma demonstração para a sociedade e para o mercado que está comprometida com as ques-tões sociais e ambientais, que in-vestimentos fez e faz para isso, e a quem beneficiou.

Em 1999, oito empresas receberam o selo; em 2000 foram 25; em 2001, 22; em 2002, 41, em 2003, 59; em 2004, 63; em 2005, 28, e em 2006 foram 52 empresas.

Balanço Social EthosBaseado num relato detalhado dos princípios e das ações da organização,

esse guia incorpora os Indicadores Ethos de Responsabilidade Social Empre-sarial e a planilha proposta pelo Ibase, sugerindo um detalhamento maior do contexto das tomadas de decisão em relação aos problemas encontrados e aos resultados obtidos.

O guia tem o objetivo de permitir que as empresas façam um relato abran-gente de seus princípios e ações.

Para a empresa, o guia também serve como um instrumento de gestão.

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Responsabilidade Social e Ética

Como o Instituto Ethos não contabiliza os usuários de seu modelo, para fins de divulgação e de tornar públicas suas ações de Responsabilidade Social, as empresas têm utilizado mais frequentemente o Balanço Social Ibase.

Global Reporting Initiative – GRI – Diretrizes para Relatórios de Sustentabilidade

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O GRI é uma organização não-governamental internacional, com sede em Amsterdã, e surgiu em 1997 por iniciativa do Programa das Nações Unidas para o meio ambiente.

Sua missão é desenvolver e disseminar globalmente as Diretrizes para Re-latórios de Sustentabilidade, de aplicabilidade global, para a elaboração de relatórios de sustentabilidade e que podem ser utilizadas voluntariamente por empresas do mundo todo.

A ONG tem focado suas atividades no desenvolvimento e na melhoria de um padrão de relatório que aborde os aspectos relacionados à sustentabili-dade, sobre as dimensões econômica, ambiental e social de suas atividades, produtos e serviços, econômica, social e ambiental das organizações. O ob-jetivo é auxiliar a organização relatora e suas partes interessadas a articular e compreender suas contribuições para o desenvolvimento sustentável.

Objetiva, também, dar aos relatórios de sustentabilidade a mesma uti-lidade e seriedade dos relatórios e balanços financeiros, conferindo-lhes o status de documento, incentivando as empresas a estabelecer metas e a controlá-las.

Esse modelo para a elaboração das Diretrizes para Relatórios de Sustenta-bilidade é considerado o modelo mais completo e abrangente, com seu uso disseminado ao longo do mundo. Dessa forma tornou-se padrão internacio-nal de relatórios de sustentabilidade.

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Medidas de desempenho social, indicadores, prêmios e certificações

A primeira edição das Diretrizes foi publicada em junho de 2000. As tur-bulências acontecidas ao longo do mundo, nos primeiros anos do século XXI, ajudaram a expandir a necessidade, sentida por parte das populações, e, por conseguinte, pelas organizações, de se obter padrões mais elevados de responsabilidade. Portanto, os fatores que motivaram a criação da GRI e das Diretrizes se avolumaram, mostrando a necessidade de sua continuidade, in-tensificação e utilização das diretrizes pelas organizações.

As Diretrizes contêm princípios para definição adequada do conteúdo do relatório e para garantir a qualidade da informação relatada, indicadores de desempenho e protocolos técnicos com metodologias de compilação, fontes de referências etc.

O modelo GRI está em sua terceira versão, a chamada G3, e já se encontra disponível em português.6

Relatório de Sustentabilidade – Finalidade

Em suas Diretrizes para 2006, o GRI define assim a finalidade da elabora-ção dos relatórios de sustentabilidade:

Elaborar relatórios de sustentabilidade é a prática de medir, divulgar e prestar contas para stakeholders internos e externos do desempenho organizacional, visando ao desenvolvi-mento sustentável. “Relatório de sustentabilidade” é um termo amplo considerado sinô-nimo de outros relatórios cujo objetivo é descrever os impactos econômicos, ambientais e sociais (triple bottom line) de uma organização, como o relatório de Responsabilidade Social Empresarial, o Balanço Social etc. (GLOBAL REPORTING, 2007)

Parceria com o Instituto Ethos

O Instituto Ethos é o parceiro oficial do GRI no Brasil. Em 2001, o Instituto Ethos organizou o lançamento no Brasil da primeira versão das diretrizes. Nessa ocasião, apenas a Natura estava disposta a realizar seu relatório nesse modelo.

Algumas empresas brasileiras que adotaram o relatório de sustentabili-dade, além da Natura, que permanece desde o início, são: Petrobrás, Medley, Banco ABN, CPFL, Banco Itaú, Serasa, Grupo AES, Bunge, Usiminas, Suzano, Souza Cruz, e outras.

6 Para acessar o G3: <www.globalreporting.org/Home/WhatWeDoPortuguese.htm>.

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Responsabilidade Social e Ética

Índices de sustentabilidade das bolsas de va-lores

Ao final do século XX, surge a necessidade da demonstração da vincu-lação entre as atividades de Responsabilidade Social das organizações à sua performance empresarial. A partir desse momento surge, primeiro nos países industrializados, e depois em alguns outros países, como é o caso do Brasil, um instrumento de monitoramento que vem ganhando muita força no cenário econômico, tanto internacional como nacional.

Esse instrumento tem a forma de índice acompanhado de ferramentas de avaliação e que tem o nome genérico de índice de sustentabilidade das bolsas de valores.

Seu objetivo é listar e medir a criação de valor de empresas que possuem ações em bolsas de valores, e que aliem performance financeira com postu-ras de Responsabilidade Social e ambiental.

Vejamos dois desses índices:

Dow Jones Sustainability Indexes – DJSI – Índice de sustentabilidade Dow Jones7

Este índice reúne empresas consideradas responsáveis, no âmbito social e ambiental, e que tenham ações cotadas na bolsa de Nova Iorque. O foco principal é a verificação se a preocupação com o meio ambiente e a rela-ção com a sociedade em que a empresa atua são compatíveis e harmônicas com o desenvolvimento dos seus negócios. O índice Dow Jones mede o de-sempenho das Companhias e utiliza os indicadores do GRI, possibilitando, dessa forma, aos investidores, o acesso a um critério integrado, em termos de sustentabilidade, para as suas decisões de investimento. A qualidade da estratégia e do gerenciamento da organização, e seu desempenho, ao lidar com as oportunidades e os riscos derivados do ambiente econômico, am-biental e social e que impactam suas atividades, são quantificadas e utiliza-das para identificar aquelas organizações que são atrativas em termos de investimento.

O índice foi criado em janeiro de 1999, pela Dow Jones Indexes e pelo Sus-tainability Asset Management (SAM) Group, da Suíça, e é formado por 10%

7 Para mais informações: <www.sustainability-inde-xes.com/>.

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Medidas de desempenho social, indicadores, prêmios e certificações

das companhias mais bem classificadas em termos de sustentabilidade cor-porativa dentre as 2 500 empresas com maior valor de mercado que com-põem o Dow Jones Global Index, representando nove setores econômicos e 73 segmentos industriais de 33 países.

Desde seu surgimento, o desempenho desse índice tem sido visivelmen-te superior ao índice Dow Jones. No ano de 2006, ficou em quase 2 pontos percentuais: o índice Dow Jones foi de 14% e o DJSI, 15,9%. Do que se con-clui que a participação da empresa nesse Índice e em outros com a mesma natureza pode se traduzir em ganhos financeiros.

A seguir, um comparativo apresentado pelo Guia Exame Boa Cidadania Cor-porativa, entre dezembro de 1993 e setembro de 2004. (ABRIL, 2004, p. 14):

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A Petrobrás, depois de quatro anos de tentativa, conseguiu, em setembro de 2006, participar do índice Dow Jones. Ela considera que a participação da empresa nesse índice trará ganhos para a organização, principalmente rela-cionados ao interesse dos investidores internacionais na empresa, conforme sua manifestação:

A Petrobras considera sua inclusão neste índice uma excelente oportunidade para re-forçar sua imagem e reputação junto à comunidade financeira e ao mercado de capitais como uma empresa socialmente responsável, abrindo caminho para o ingresso de novos investidores, aproximando a Petrobras das expectativas do mercado quanto à tendência de investir em empresas socialmente responsáveis. (PETROBRÁS, 2007)

A Aracruz, maior produtora mundial de celulose de eucalipto, conse-guiu fazer parte do Índice Dow Jones de Sustentabilidade, da Bolsa de Nova

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Responsabilidade Social e Ética

Iorque, em setembro de 2005.

A promoção das empresas através da visibilidade proporcionada pela par-ticipação no índice deu origem ao surgimento de outros índices, em outros países, como o da Bolsa de Londres, o da Bolsa de Johanesburgo, na África do Sul, bom como a Bolsa de Valores de São Paulo, que veremos a seguir.

Índice de Sustentabilidade Empresarial da Bolsa de Valores de São Paulo – ISE

O ISE foi lançado em dezembro de 2005. No ano de 2006, sua valorização foi de 21,6%, frente aos 17,3% do Índice Bovespa (Ibovespa).

A Bovespa, juntamente com outras instituições como Abrapp, Anbid, Apimec, IBGC, IFC, Instituto Ethos e Ministério do Meio Ambiente, decidiram unir esforços para criar um índice de ações que fosse um referencial para os investimentos socialmente responsáveis.

Essas organizações formaram, então, um Conselho Deliberativo presidi-do pela Bovespa, que é o órgão responsável pelo desenvolvimento do ISE. Posteriormente, o Conselho passou a contar também com o PNUMA em sua composição. A Bovespa é responsável pelo cálculo e pela gestão técnica do índice.

“O ISE tem por objetivo refletir o retorno de uma carteira composta por ações de empresas com reconhecido comprometimento com a Responsabilidade Social e a sustentabilidade empresarial, e também atuar como promotor das boas práticas no meio empresarial brasileiro.”(BOVESPA, 2007)

Começou com uma carteira de 28 empresas, que passaram por uma ba-teria de testes que avaliavam os aspectos econômico-financeiros, sociais e ambientais, o chamado conceito de triple bottom line, o mesmo usado pelo GRI e pelo DJIS. Durante 2006, esses questionários passaram a incluir ques-tões como corrupção e direitos humanos. Em julho de 2007, participavam dessa carteira 34 empresas.

Uma das utilizações dos questionários desses índices é para exercício da própria organização, pois através deles conseguem identificar falhas e me-lhorar o sistema de gestão da empresa. Como afirma a diretora da área cor-

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Medidas de desempenho social, indicadores, prêmios e certificações

porativa da Suzano Holding: “O ISE nos alertou para questões importantes que não faziam parte do nosso dia-a-dia.” (ABRIL, 2006, p. 22)

De qualquer forma, a participação nesse Índice, seguindo os passos do que foi apontado no item anterior, pode representar ganhos financeiros, pois aumenta o interesse dos investidores no negócio. De acordo com um di-rigente da Braskem, uma das participantes do ISE: “Em nossas reuniões com analistas e investidores estrangeiros, as questões relativas à sustentabilidade são freqüentemente abordadas.” (ABRIL, 2006, p. 22)

ConclusãoNeste capítulo, percorremos as várias formas que as empresas têm à dis-

posição para estabelecerem princípios de Responsabilidade Social, tanto em termos de modelos para o seu gerenciamento como em sua prática efetiva, beneficiando todos os seus parceiros (stakeholders), e sua inserção enquanto empresa nos desafios colocados pelos organismos, pactos e alianças inter-nacionais e globais. Esses desafios, cujo objetivo principal é o rumo para um mundo de sustentabilidade ambiental e social, estão colocados para todos e, principalmente para os governos, empresas e entidades sociais, que deverão trabalhar em conjunto, estabelecendo acordos, alianças e ações conjuntas, garantindo o futuro das atuais e próximas gerações.

Muitas empresas, inclusive brasileiras, já assumiram a necessidade de in-corporar aos seus processos de gestão, práticas de responsabilidade socio-ambiental, e muitas outras firmaram pactos, assinaram protocolos, desen-volveram e aplicaram indicadores, elaboraram e publicaram seus balanços com suas práticas. O número de empresas que se utilizam desses instrumen-tos e práticas só tende a crescer e cada vez mais, na medida em que cresce a consciência das sociedades, dos consumidores, dos empregados e de todos os outros parceiros de que “fazer o bem faz bem”. Isso não é apenas um jogo de palavras, não é só uma garantia em termos de imagem e de aumento de fatias do mercado, mas, principalmente, representa o objetivo efetivo de co-laborar para um mundo mais justo e mais saudável.

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Responsabilidade Social e Ética

Ampliando seus conhecimentos

A Responsabilidade Social mudou(EXAME, 2006)

Para o principal executivo da AccountAbility, as empresas devem incorpo-rar aspectos sociais e ambientais a seus modelos de negócios.

Fundada em 1995, na Inglaterra, a AccountAbility é uma ONG voltada para a promoção da transparência na prestação de contas de empresas, governos e organizações da sociedade civil. Ao longo desses anos, Simon Zadek, seu prin-cipal executivo, pôde observar de perto a evolução do movimento da Respon-sabilidade Social e a transformação das práticas das companhias.

GBC – Como o movimento da Responsabilidade Social está mudando? Zadek – Há uma evolução clara. Nos anos 1980, com o surgimento do movi-mento ambientalista, as empresas começaram a falar em meio ambiente e a repensar o impacto de seus processos. Nos anos 1990, impulsionadas pelas cadeias de negócios globais, elas começaram a se preocupar com aspectos sociais, como a promoção de relações justas de trabalho. Nos últimos anos, esses assuntos convergiram para o conceito da sustentabilidade. Isso ocorreu num momento em que a internet deu à sociedade meios de protestar contra práticas irresponsáveis. O que vemos hoje são companhias mais preocupadas com a prestação de contas, passando de uma abordagem de conformidade para uma abordagem mais estratégica. O movimento da Responsabilidade Social evoluiu de uma discussão sobre “o que as empresas não devem fazer” para uma discussão sobre “o que as empresas devem fazer”.

GBC – E o que as empresas devem fazer?

Zadek – O mais importante é integrar práticas ambientais e sociais a seus modelos de negócios. Para algumas companhias, essas práticas deverão tratar de mudanças climáticas, transgênicos ou proteção da biodiversidade. Para outras, poderão estar relacionadas a saúde pública, consumo consciente ou lobby responsável. O assunto varia de empresa para empresa e de setor para setor.

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Medidas de desempenho social, indicadores, prêmios e certificações

GBC – Que empresas já adotaram essa visão?

Zadek – No Brasil, a Natura é um exemplo, porque ela desenhou um novo modelo de negócios com preocupações ambientais e sociais. A British Petro-leum está tentando deixar de ser uma empresa de petróleo para oferecer di-versas fontes de energia, porque entendeu que a sobrevivência do negócio depende dessa mudança. A Diageo teve de colocar a preocupação com o con-sumo responsável de bebidas alcoólicas no centro de sua estratégia para con-seguir ganhar novos mercados e atrair uma nova geração de consumidores.

GBC – O que as empresas mais avançadas têm em comum?

Zadek – Muitas têm marcas que são fortes entre os consumidores ou visí-veis para outras empresas. Isso faz com que sejam mais vulneráveis a ataques à sua reputação ou que tenham resultados sempre que conseguem abordar preocupações da sociedade. Também são empresas com líderes que aceitam tomar riscos e percebem que tratar de temas socioambientais poderá colocá-los numa posição de destaque. Jeffrey Immelt, da GE, é um exemplo. Ele está fazendo com que a GE deixe de ser reconhecida apenas pela excelência ope-racional para ser reconhecida pela forma como transforma aspectos socioam-bientais em inovação.

GBC – Que dificuldades essas companhias enfrentam?

Zadek - Uma dificuldade é conciliar o modelo de negócios atual, baseado no curto prazo, com a criação de um novo modelo para o futuro. Outra é que as pessoas que falam de Responsabilidade Social muitas vezes não entendem de negócios ou não têm experiência nisso.

Atividades de aplicação1. Leia os trechos abaixo extraídos de uma entrevista com a diretora-

executiva do desenvolvimento sustentável do Banco ABN Amro Real, sobre o engajamento do banco aos objetivos colocados pelas “Metas do Milênio”, e a seguir responda à questão colocada:

“Num olhar rápido, alguns poderiam pensar que esse assunto (Metas do Milênio) é de responsabilidade exclusiva dos governos dos países-membros. A verdade é parcial. Sem a atuação efetiva dos governos, dificilmente os objetivos poderão ser atingidos. Por outro lado, a par-

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ticipação das empresas e da sociedade é fundamental para a melhoria desses indicadores. [...] E aqui falamos de empresas de todos os portes, pois não é necessária a criação de programas específicos que atendam aos Objetivos do Milênio. Tampouco que cada organização contribua com todos os objetivos ao mesmo tempo. Na verdade, o que se deseja é um novo olhar sobre o que as corporações já fazem ou podem fazer pelo desenvolvimento.[...] No caso do ABN Amro Real, entendemos que seria importante investir em atividades relacionadas ao nosso ne-gócio. É o caso, por exemplo, do microcrédito (1)...[...] O mesmo acon-tece na avaliação de risco, uma das atividades centrais de um banco. Ao incluir um questionário socioambiental na avaliação de crédito de todos os clientes empresariais, assumimos uma posição importante em relação à meta de... (2)[...] Da mesma forma, o trabalho voluntário de nossos funcionários é voltado para um dos temas mais relevantes para o país... [...] com o Projeto Escola Brasil (3). Já em termos de ges-tão, um de nossos desafios é aumentar o número de mulheres em cargos de gerência, colaborando para o objetivo (4)...”. (REVISTA ME-LHOR – gestão de pessoas – Ano 14, n. 237, p. 128)

Responda a alternativa que melhor corresponda à ordem correta re-lativamente às quatro Metas do Milênio sobre as quais a entrevistada fala.

a) Garantir a sustentabilidade ambiental; (2) Erradicar a extrema po-breza e a fome; (3) Reduzir a mortalidade infantil; (4) Promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres.

b) Erradicar a extrema pobreza e a fome; (2) Reduzir a mortalidade infantil; (3) Atingir o Ensino Básico universal; (4) Promover a igual-dade entre os sexos e a autonomia das mulheres;

c) Erradicar a extrema pobreza e a fome; (2) Garantir a sustentabilida-de ambiental; (3) Atingir o Ensino Básico universal; (4) Promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres.

d) Garantir a sustentabilidade ambiental; (2) Erradicar a extrema po-breza e a fome; (3). Atingir o Ensino Básico universal; (4) Promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres.

2. Na Revista da Semana (edição 4, Ano 1, n. 4, de 24 de setembro de 2007, na seção “Polêmica”, p. 13) há uma discussão sobre os prós e os contras

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quanto a questão do mercado de carbono. O mercado de créditos de carbono começou a vigorar em fevereiro de 2005 e representa, pelo Protocolo de Kyoto, assinado em conferência da ONU, em 1997, para os países desenvolvidos que têm metas de redução das emissões de gases de efeito estufa, a possibilidade de comprarem títulos de pro-jetos que reduzem a poluição em outros países. O Brasil tem 230 pro-jetos em fase de aprovação pela ONU e o potencial para movimentar, com esses e outros projetos, US$1,2 bilhão até 2012. O primeiro leilão de crédito de carbono em bolsa do mundo foi realizado pela Bolsa de Mercadoria e Futuros (BM&F), no dia 26 de setembro de 2007, e, a Prefeitura de São Paulo que ofertou os títulos (800 mil certificados pro-venientes da captura e queima de 808 450 toneladas de gás metano no Aterro Bandeirantes em São Paulo) vai embolsar R$34 milhões com a venda, que serão aplicados em melhorias ambientais nos bairros vi-zinhos ao aterro sanitário, de acordo com o prefeito da cidade. (Oesp, 27/09/2007, p. A30).

– Do lado dos argumentos favoráveis está a possibilidade de que há países em desenvolvimento de arrecadar dinheiro para financiar pro-jetos ambientais.

“O Brasil é o segundo país, depois da Índia, em projetos para redu-ção de emissão de gases. São 61 empresas brasileiras com créditos já emitidos – ou seja, recebendo dinheiro. Como o preço médio pago em 2006 foi de 8 euros por crédito, chega-se ao valor para os projetos brasileiros de 90,4 milhões de euros, ou R$240 milhões.”

– Do lado dos argumentos contrários estão, principalmente, os am-bientalistas que consideram o modelo de créditos de carbono não adequado e não atendendo aos objetivos de contenção do aqueci-mento global. Quanto ao primeiro leilão de créditos, realizado pela BM&F, foi assim avaliado por um destes ambientalistas: “O primeiro leilão público de créditos de carbono começa mal. Se esse leilão for bem sucedido, estaremos institucionalizando o jeitinho brasileiro de burlar as regras de Kioto.” Na continuação dos argumentos contrários há um sobre o próprio sentido das metas do Protocolo de Kioto que, no entender desse conjunto de argumentos, seriam insuficientes para conter as conseqüências do efeito estufa.

Questão: Analise esses argumentos, procure mais dados sobre esse as-

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Responsabilidade Social e Ética

sunto, e discuta a eficácia da negociação dos créditos de carbono, ten-do como pano de fundo os princípios 7, 8 e 9 do Pacto Global relativa-mente ao meio ambiente e a Agenda 21, cuja conferência estabeleceu compromissos para a mudança do padrão de desenvolvimento para o século XXI, principalmente quanto às metas de erradicar a extrema pobreza e a fome, garantir a sustentabilidade ambiental e estabelecer parceria mundial para o desenvolvimento. Um pano de fundo maior, obviamente, é o conceito de sustentabilidade.

3. Quanto à utilização, pelas empresas, de princípios de Responsabilida-de Social, como ferramenta de gerenciamento de suas práticas, sem, no entanto, divulgá-las, pode-se dizer que:

a) é muito importante que a organização tenha práticas de Respon-sabilidade Social efetivas e que essas práticas consolidem-se em ações para todos os seus parceiros, e ela não precise divulgá-las. O importante é que as pessoas, que são objeto dessas ações, sintam que elas existem.

b) a utilização dos princípios de Responsabilidade Social, auxiliando o gerenciamento da empresa é só o início. è importante que a em-presa continue e amplie sua atuação, isto é, que ela pratique, efeti-vamente, e divulgue através de instrumentos apropriados, como o Balanço Social, e consiga mostrar sua atuação para que tenha uma boa imagem e consiga com isso a admiração do seu mercado, e nele permaneça por algum tempo.

c) isso não vale para nada. O importante é que a empresa tenha um bom marketing para que seja admirada e consiga fatias maiores de mercado e tenha sua empresa na mídia garantida.

d) a utilização dos princípios de Responsabilidade Social, auxiliando o gerenciamento da empresa é só o início. É importante que a em-presa continue e amplie sua atuação, isto é, que ela pratique, efeti-vamente, e divulgue através de instrumentos apropriados, como o Balanço Social, e consiga mostrar sua atuação, não só de suas ações de Responsabilidade Social, mas como essas ações estão vincula-das ao seu desempenho empresarial. Isso vai fazer com que consi-ga com isso admiração do seu mercado, ampliando-o e garantin-do, assim, a sustentabilidade.