UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...8n Nervo vestibulococlear Cb Cerebelo CB Calbindina CaBP...
Transcript of UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...8n Nervo vestibulococlear Cb Cerebelo CB Calbindina CaBP...
1
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE BIOCIÊNCIAS
DEPARTAMENTO DE MORFOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA ESTRUTURAL E FUNCIONAL
ERYCK HOLMES ALVES DA SILVA
CARACTERIZAÇÃO MORFOQUANTITATIVA E NEUROQUÍMICA DO
COMPLEXO COCLEAR NO ENCÉFALO DE MORCEGO (Artibeus planirostris).
Natal-RN
2018
2
ERYCK HOLMES ALVES DA SILVA
CARACTERIZAÇÃO MORFOQUANTITATIVA E NEUROQUÍMICA DO
COMPLEXO COCLEAR NO ENCÉFALO DE MORCEGO (Artibeus planirostris).
Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Biologia Estrutural e Funcional da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Orientador: Prof. Dr. Expedito Silva do Nascimento Júnior. Coorientador: Prof. Dr. Melquisedec Abiaré Dantas Santana.
Natal-RN
2018
3
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Leopoldo Nelson - Centro de Biociências
- CB
Silva, Eryck Holmes Alves da.
Caracterização morfoquantitativa e neuroquímica do complexo
coclear no encéfalo de morcego (Artibeus planirostris) / Eryck
Holmes Alves da Silva. - Natal, 2018.
62 f.: il.
Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande
do Norte. Centro de Biociências. Programa de Pós-Graduação em
Biologia Estrutural e Funcional.
Orientador: Prof. Dr. Expedito Silva do Nascimento Júnior.
Coorientador: Prof. Dr. Melquisedec Abiaré Dantas Santana.
1. Morcegos - Dissertação. 2. Núcleos cocleares -
Dissertação. 3. Imunofluorescência - Dissertação. I. Nascimento
Júnior, Expedito Silva do. II. Santana, Melquisedec Abiaré
Dantas. III. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. IV.
Título.
RN/UF/BSE-CB CDU 599.4
Elaborado por KATIA REJANE DA SILVA - CRB-15/351
4
AUTOR: Silva, Eryck Holmes Alves da
TÍTULO: CARACTERIZAÇÃO MORFOQUANTITATIVA E NEUROQUÍMICA DO
COMPLEXO COCLEAR NO ENCÉFALO DE MORCEGO (Artibeus planirostris).
Dissertação de Mestrado apresentada
ao Programa de Pós-graduação em
Biologia Estrutural e Funcional da
Universidade Federal do Rio Grande do
Norte
DATA DA DEFESA: 28/02/2018
BANCA EXAMINADORA:
______________________________________________________
Professora Dra Renata Figueiredo Anomal Universidade Federal do Rio Grande do Norte
______________________________________________________
Professor Drº Melquisedec Abiaré Dantas Santana Fundação Universidade Federal do Vale do São Francisco
______________________________________________________
Professor Drº Expedito Silva do Nascimento Júnior Universidade Federal do Rio Grande do Norte
5
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus por ter me abençoado e me iluminado por
todo esse tempo de persistência, me fortalecendo e sempre me mostrando o
caminho certo a seguir.
Agradeço aos meus avós: Maria da Penha da Silva (in Memorian), Severino
Felinto da Silva (in Memorian), Raimundo Alves da Silva e Lindinalva Gomes Alves
por todo amor e carinho que têm por mim.
Aos meus pais, Edilson Felinto da Silva e Cristiane Alves da Silva que sempre
me deram apoio nos momentos difíceis e de indecisões, sempre me incentivando.
Essa vitória é de vocês!
À minha linda irmã, Raquel Maria que sempre foi minha companheira e faz
meus dias mais felizes.
Ao meu amigo, Igor Sales que foi de extrema importância nesse processo, me
auxiliando a melhorar em cada etapa durante esses dois anos consecutivos.
À minha família de coração, que por longos meses e anos, vieram me visitar
em Natal ou via Wi-Fi: Hanna Jarine, Heverton Melo, Lucas Bernardo, Matheus
Marley, Marcos Vinicius, Gislainy Câmara, Jonatha Gomes e Carlos Andrade todos
vocês foram um porto seguro em vários momentos.
Ao professor/orientador Expedito Júnior, por abrir o caminho da ciência, e
principalmente pelos ensinamentos, contribuições e orientações.
Ao professor/coorientador Melquisedec Santana, por ser meu braço direito
neste projeto e me ensinar a manter a calma sempre, caro jovem padawan.
Aos professores Miriam, Gilberto e Fernando por sempre estarem disponíveis
à ajudar. E a Regina que sempre auxiliou no laboratório durante todo o processo.
Aos amigos do Labneuro: Dianny, Mayara, Brenna, Naryllene, Nelyane,
Alexander, Alane, Klêydson e Raíssa pelo grande apoio, amizade, companheirismo
e por me ajudar nos experimentos.
Agradeço ao Departamento de Morfologia/UFRN e ao Programa de Pós-
Graduação em Biologia Estrutural e Funcional pela disponibilização da infraestrutura
necessária, dando totais condições para a execução da pesquisa.
Ao CNPq, FAPERN e a CAPES pelo apoio financeiro.
6
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Representação esquemática do sistema auditivo periférico no humano.
Figura 2. Representação esquemática das vias auditivas centrais no humano e no
rato.
Figura 3. Representação esquemática da localização do complexo coclear no
humano.
Figura 4. Representação das proteínas moduladoras de cálcio EF-hand.
Figura 5. Espécime macho de Artibeus planirostris.
Figura 6. Distribuição geográfica de Artibeus planirostris.
Figura 7. Sistema de ecolocalização de Artibeus planirostris.
Figura 8. Árvore molecular das famílias de morcegos descritas.
Figura 9. Esquemas de secções coronais, baseadas no método do Nissl, do
encéfalo de Artibeus planirostris mostrando as delimitações do complexo coclear nos
níveis rostral (A), médio (B) e caudal (C). As linhas pontilhadas demarcam a
estrutura de interesse. Barra: 1000 μm.
Figura 10. Fotomicrografias em campo claro de secções coronais, coradas pelo
método do Nissl, do encéfalo de Artibeus planirostris mostrando a citoarquitetura do
CC em A. Ampliação da caixa em A, mostrando em detalhe a morfologia
arredondada das células do VCA (B). Barra: 500 μm em A e 50 μm em B.
Figura 11. Fotomicrografias em campo claro de secções coronais, coradas pelo
método do Nissl, do encéfalo de Artibeus planirostris mostrando a citoarquitetura do
CC em A. Ampliação da caixa em A, mostrando em detalhe a morfologia ovóide e
pequena (seta) das células do VCAGr (B) e a morfologia fusiforme e espaçada das
células do VCP (C). Barra: 500 μm em A e 50 μm em B e C.
7
Figura 12. Fotomicrografias em campo claro de secções coronais, coradas pelo
método do Nissl, do encéfalo de Artibeus planirostris mostrando a citoarquitetura do
CC em A. Ampliações das caixas em A, mostrando em detalhe a morfologia
pequena e granular das células do DCMo (B), a morfologia fusiforme (seta) das
células do DCFu (C) e a morfologia arredondada e maior das células do DCDp (D).
Barra: 500 μm em A e 50 μm em B, C e D.
Figura 13. Fotomicrografias da imunofluorescência de secções coronais do encéfalo
de Artibeus planirostris mostrando a expressão de CB (vermelho) nos neurônios do
CC no sentido rostrocaudal em A, D e G. Expressão de CR (verde) nos neurônios do
CC no sentido rostrocaudal em B, E e H. Sobreposição das marcações CB
(vermelho) + CR (verde) no CC nos três níveis: rostral, médio e caudal em C, F e I.
Os asteriscos representam ampliação da área para melhor visualização dos
neurônios. Barra: 100 μm.
Figura 14. Fotomicrografias da imunofluorescência de secções coronais do encéfalo
de Artibeus planirostris mostrando a expressão de PV (verde) nos neurônios do CC
no sentido rostrocaudal em A, D, G e J. Expressão de CR (vermelho) nos neurônios
do CC no sentido rostrocaudal em B, E, H e K. Sobreposição das marcações PV
(verde) + CR (vermelho) no CC nos três níveis: rostral, médio e caudal em C, F, I e
L. Os asteriscos representam ampliação da área para melhor visualização dos
neurônios. Barra: 100 μm.
8
LISTA DE ABREVIAÇÕES
4V Quarto ventrículo
8n Nervo vestibulococlear
Cb Cerebelo
CB Calbindina
CaBP Proteínas ligantes de cálcio
CC Complexo coclear
CN Núcleo coclear
CR Calretinina
DC Núcleo coclear dorsal
DCDp Núcleo coclear dorsal, camada profunda
DCFu Núcleo coclear dorsal, camada fusiforme
DCMo Núcleo coclear dorsal, camada molecular
icp Pedúnculo cerebelar inferior
mcp Pedúnculo cerebelar médio
PV Parvalbumina
s5 Nervo trigêmio, parte sensitiva
sp5 Tracto espinal do trigêmio
SpVe Núcleo vestibular espinal
tz Corpo trapezoide
VBC Complexo vestibular
VC Núcleo coclear ventral
VCA Núcleo coclear ventral, parte anterior
VCAGr Núcleo coclear ventral, camada granular
VCP Núcleo coclear ventral, parte posterior
9
SUMÁRIO
RESUMO
1. INTRODUÇÃO_____________________________________________________ 12
1.1 Sistema auditivo periférico____________________________________________ 12
1.2 Sistema auditivo central______________________________________________ 14
1.3 Proteínas ligantes de cálcio____________________________________________ 16
1.4 Modelo experimental_________________________________________________ 20
1.4.1 – Taxonomia e filogenia__________________________________________ 22
1.5 JUSTIFICATIVA____________________________________________________ 24
2. OBJETIVOS_______________________________________________________ 25
2.1 Geral_____________________________________________________________ 25
2.2 Específicos________________________________________________________ 25
3. METODOLOGIA____________________________________________________ 26
3.1 Sujeitos___________________________________________________________ 26
3.2 Métodos de identificação taxonômica____________________________________ 26
3.3 Procedimentos______________________________________________________ 27
3.3.1 – Anestesia____________________________________________________ 27
3.3.2 – Perfusão____________________________________________________ 27
3.3.3 - Remoção dos encéfalos_________________________________________ 28
3.3.4 – Microtomia___________________________________________________ 28
3.3.5 - Método de Nissl_______________________________________________ 29
3.3.6 – Imunofluorescência____________________________________________ 29
3.4 Obtenção das imagens_______________________________________________ 31
3.5 Análise morfométrica_________________________________________________ 31
3.6 Análise estereológica________________________________________________ 32
3.7 Análise estatística___________________________________________________ 32
4. RESULTADOS_____________________________________________________ 33
4.1 - Caracterização citoarquitetônica, morfométrica e estereológica do complexo
coclear____________________________________________________________
33
5.
4.2 - Análise da distribuição das proteínas ligantes de cálcio no complexo
coclear____________________________________________________________
DISCUSSÃO_______________________________________________________
41
46
6. CONCLUSÃO______________________________________________________ 51
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS_____________________________________ 52
10
RESUMO
O sistema auditivo é de extrema importância para a sobrevivência das espécies.
Tanto os animais que vivem em seu ambiente natural, bem como aqueles criados
em condições controladas de laboratório precisam da audição para detectar perigos,
tais como predadores e veículos motorizados e responder a vocalização de animais
da mesma ou de outras espécies. A orelha é denominada de órgão vestíbulococlear,
por participar diretamente da audição e da manutenção do equilíbrio. A navegação
espacial por parte dos quirópteros está amplamente associada ao mecanismo de
ecolocalização, o qual consiste na emissão de ondas sonoras pelo aparelho fonador
e consequente reflexo em forma de eco, captado pelo aparelho vestíbulococlear.
Embora diversos estudos abordem a dinâmica funcional dos sistemas de
ecolocalização de quirópteros, poucos trabalhos se dedicam a uma análise
morfológica dos centros neurais envolvidos no processamento de tais informações.
O presente estudo tem como objetivo descrever a organização morfoquantitativa e
neuroquímica do complexo coclear no encéfalo do morcego Artibeus planirostris.
Utilizando o método de Nissl foram identificadas todas as subdivisões clássicas
descritas até o presente em outras espécies: núcleo coclear ventral (parte anterior,
parte posterior e camada granular) e núcleo coclear dorsal (camada profunda,
camada fusiforme e camada molecular). A análise neuroquímica das proteínas
ligantes de cálcio, através da técnica de imunofluorescência permitiu identificar a
presença de terminais e pericários imunorreativos a CB, CR e PV de formas
distintas, apresentando especificidades em cada porção do complexo coclear.
Traçando um comparativo entre os vertebrados, o presente estudo fornece a
primeira descrição detalhada dos aspectos morfoquantitativos do morcego Artibeus
planirostris que se mostrou bastante similar às características encontradas nos
roedores, especificamente o rato e a chinchila. A neuroquímica se mostra diferente
aos primatas humanos e não humanos, podendo ser uma relação direta com a
ecolocalização utilizada pelo modelo experimental.
Palavras-chave: sistema auditivo, ecolocalização, citoarquitetura,
imunofluorescência, morcegos.
11
ABSTRACT
The auditory system is extremely important for the survival of the species.
Those that live in your natural environment, as well as those created under controlled
conditions of laboratory need the hearing to detect dangers such as predators and
motor vehicles, respond to vocalizations of animals of the same or other species. The
ear is called a vestibulocochlear organ, because it participates directly in hearing and
in maintaining balance. Spatial navigation by chiroptera is widely associated with the
mechanism of echolocation, which consists of the emission of sound waves by the
vocal apparatus and consequent echo reflex, captured by the vestibulocochlear
apparatus. Although several studies address the functional dynamics of the
chiroptera echolocation systems, few papers are dedicate to a morphological
analysis of the neural centers involved in the processing of such information. The
present study aims to describe the morphoquantitative and neurochemical
organization of the cochlear complex in bat Artibeus planirostris brains. Using the
Nissl’s method all classical subdivisions described up to the present in other species
were identified: ventral cochlear nucleus (anterior part, posterior part and granular
layer) and dorsal cochlear nucleus (deep layer, fusiform layer and molecular layer).
The neurochemical analysis of the calcium binding proteins by means of the
immunofluorescence technique allowed to identify the presence of immunoreactive
terminals and pericals to CB, CR and PV in different ways, presenting specificities in
each part of the cochlear complex. Comparing vertebrates, the present study
provides a first detailed description of the morphoquantitative aspects of the bat
Artibeus planirostris, which was very similar to the characteristics found in rodents,
specifically the rat and the chinchilla. The neurochemistry is different to human and
non-human primates, and may be a direct relation with the echolocation used by the
experimental model.
Key words: auditory system, echolocation, cytoarchitecture, immunofluorescence,
bats.
12
1. INTRODUÇÃO
1.1 SISTEMA AUDITIVO PERIFÉRICO
O sistema auditivo é essencialmente importante na sobrevivência das
espécies, pensando nos animais que vivem em seu ambiente natural, bem como
aqueles domesticados e criados em ambiente humanizado. Existe a necessidade do
auxílio da audição para detectar alguns perigos, tais como predadores e veículos
motorizados e responder a vocalização de animais da mesma ou de outras espécies
(STRAIN e MYERS, 2006).
O sistema auditivo periférico é representado pela orelha, denominada de
órgão vestibulococlear, por participar diretamente da audição e da manutenção do
equilíbrio (DYCE et al., 2010; LIEBICH e KÖNIG, 2011). Anatomicamente a orelha
se divide em externa, média e interna (Figura 1). Caracterizando-as, a orelha
externa consiste em aurícula e meato acústico externo. A aurícula (formada de
cartilagem articular recoberto por pele) apresenta uma forma tortuosa e tem função
de captar os sons e transportar até o meato acústico externo (LIEBICH e KÖNIG,
2011), que é uma espécie de canal que se alonga até a membrana timpânica. Sua
função é direcionar o som captado pela aurícula até a membrana, a qual separa o
meato acústico externo da orelha média (STRAIN e MYERS, 2006).
A orelha média se caracteriza como uma cavidade preenchida por ar no osso
temporal, a qual se comunica com a faringe através da tuba auditiva (GETTY, 1986).
A tuba auditiva apresenta como função equilibrar a pressão dos dois lados da
membrana timpânica (DYCE et al., 2010). A cavidade timpânica encontra-se no
interior do osso temporal (porção petrosa) e é onde estão presentes os três
ossículos auditivos: martelo, bigorna e estribo, importantes na condução sonora.
Estes se comunicam com a janela do vestíbulo, conectando-se assim à orelha
interna (LIEBICH e KÖNIG, 2011).
A orelha interna consiste de dois labirintos: o membranoso, com a presença
de um líquido (endolinfa) e o ósseo. Os dois labirintos estão separados por um
espaço, chamado perilinfático, o qual é preenchido por um líquido, a perilinfa
(GETTY, 1986). A orelha interna consiste em duas porções: coclear e vestibular,
conforme a sua respectiva função. A porção coclear recebe inervação do ramo
13
coclear do VIII par craniano (nervo vestibulococlear) relacionado ao sentido de
audição. A porção vestibular funciona principalmente para o equilíbrio e apresenta
inervação pelo ramo vestibular do VIII par craniano (FRANDSON, 1979).
Figura 1. Representação esquemática do sistema auditivo periférico no humano.
(Fonte: Anatomy Organ, 2016).
A cóclea é um órgão com característica espiralada que se assemelha a um
caracol. Apresenta divisão em três ductos: rampa vestibular, rampa média e rampa
timpânica (STRAIN e MYERS, 2006; LIEBICH e KÖNIC, 2011). O número de
espirais na cóclea varia entre as espécies. Os seres humanos têm 2,75 espirais,
cães 3,25 e equinos 2,5 espirais (STRAIN e MYERS, 2006). O Órgão Espiral é a
porção da cóclea sensível ao som. Essa estrutura é encontrada sobre a membrana
basilar da rampa média e é dotada de células ciliadas internas, as quais detectam o
som e células ciliadas externas, as quais amplificam o som (MOYES e SCHULTE,
2010). Em cada porção espiralada ao longo do eixo da cóclea existe a presença de
um gânglio espiral, representação de um aglomerado de células, de onde saem
axônios dos neurônios que formam o nervo coclear, o qual se une ao nervo
vestibular formando o nervo vestibulococlear (HENKEL, 2006).
14
1.2 SISTEMA AUDITIVO CENTRAL
A detecção do som começa na cóclea, onde a codificação neural das
informações de frequência sonora é relativamente simples (LUO, 2009). Com isso,
os nervos vestibulococleares penetram no sistema nervoso central na altura do
bulbo (Figura 2), próximos à saída dos nervos facial e trigêmio, e realizam sinapses
no complexo coclear (CC) (DEWEY, 2006).
O CC, representado pelos núcleos cocleares (CN), recebe a informação
auditiva, a qual inicialmente foi processada na cóclea. Com isso apresentam-se
importantes em termos de seu papel na decodificação neural das informações de
frequência sonora e a transformação dessa informação de forma mais simples até
mais complexa. Além disso, devido ao fato de a via de projeção ascendente se
originar dos CN e que os CN enviam axônios para núcleos em nível superior de
forma tonotópica (RYUGO et al., 1981), o mapa tonotópico do CN representa uma
plataforma de trabalho da função auditiva no sistema auditivo central. O CC de
mamíferos consiste em duas divisões, isto é, núcleo coclear ventral (VC) subdividido
em porção anterior (VCA) e porção posterior (VCP) e núcleo coclear dorsal (DC). A
representação neural de frequências de som no CC foi estudada em várias
espécies, como gatos (BOURK et al., 1981), morcegos (FENG e VATER, 1985) e
ratos (YAJIMA e HAYASHI, 1989; KALTENBACH e LAZOR, 1991; WILLOTT et al.,
1982).
Os axônios de neurônios do VC cruzam formando o corpo trapezoide e se
projetam para o complexo olivar superior na ponte, onde realizam sinapses. A partir
desse complexo, são emitidos axônios que formam um feixe chamado de lemnisco
lateral (localizado na ponte) e se projetam ao colículo inferior. Os neurônios do DC
não fazem sinapse no complexo olivar superior, seguem direto e realizam sinapse
no colículo inferior no mesencéfalo (DEWEY, 2006; FERNÁNDEZ et al., 2010; LENT,
2010). O colículo inferior recebe todas as fibras auditivas originadas em níveis mais
baixos. As fibras nervosas saem do mesencéfalo para o núcleo geniculado medial,
localizado no tálamo, que emite fibras nervosas corticais até o lobo temporal do
córtex cerebral, onde se situam as áreas auditivas (DEWEY, 2006; FERNÁNDEZ et
al., 2010, LENT, 2010).
15
O DC, que corresponde ao tubérculo acústico, localiza-se dorso-lateralmente
ao pedúnculo cerebelar inferior (icp), e o VC localiza-se ventralmente ao icp (Figura
3). A organização tonotópica que surge na cóclea é preservada tanto no VC quanto
no DC, de modo que neurônios localizados na porção dorsal respondam a
frequências mais agudas e aqueles localizados mais ventralmente respondam a
frequências mais graves (RYUGO e PARKS, 2003; MACHADO, 2003; SNELL,
2003).
Figura 2. Representação esquemática das vias auditivas centrais no humano, lado
esquerdo, e no rato, lado direito. (BUTLER e LOMBER, 2013; CASPARY et al.,
2008).
16
Figura 3. Representação esquemática da localização do complexo coclear no
humano. (KOMUNE et al., 2015).
Em roedores, o DC apresenta-se estratificado, com a presença de uma
camada molecular superficial, caracterizada pelo seu conteúdo em zinco (FÉRES e
CAIRASCO, 2003). Os principais neurônios de projeção são as células fusiformes,
apresentando orientação radialmente à camada superficial (HUDSPETH, 2000;
MACHADO, 2003). Já o VC, apresenta as células estreladas e as células em
arbusto (HUDSPETH, 2000) e a marcação por zinco é limitada à periferia do VC
(FÉRES e CAIRASCO, 2003).
Vale salientar que existem evidências de correlação entre os aspectos
morfológicos do neurônio e a sua resposta funcional, sendo assim importante no
aspecto da manutenção da tonotopia coclear, resolução temporal, codificação de
intensidade e tons complexos (AQUINO e ARAÚJO, 2002).
1.3 PROTEÍNAS LIGANTES DE CÁLCIO
O cálcio desempenha um papel decisivo na regulação de uma grande
variedade de processos celulares, incluindo metabolismo celular, expressão de
genes, dinâmica do citoesqueleto, ciclo celular, morte celular, neurotransmissão e
processos de transdução de sinal (BRAUNEWELL e GUNDELFINGER, 1999). Por
exemplo, uma elevação descontrolada de cálcio intracelular leva a uma excessiva
ativação celular, injúria e até mesmo a morte da célula (CELIO, 1990).
17
Proteínas ligantes de cálcio (CaBP) servem frequentemente como proteínas
efetoras ou moduladoras para traduzir sinais de cálcio em respostas fisiológicas
adequadas. Ao longo dos anos um grande número destas moléculas de ligação de
cálcio tem sido identificado, refletindo a importância do cálcio e a sua função
reguladora na célula (BRAUNEWELL e GUNDELFINGER, 1999). Funcionalmente as
proteínas efetoras de cálcio podem ser agrupadas em diferentes famílias, baseando-
se nas características estruturais distintas dos seus sítios de ligação ao cálcio. As
CaBP podem ser subdivididas em três grupos: os domínios C2, as proteínas EF-
hands e as anexinas (GERKE et al., 2005).
O domínio C2 é um motivo de ligação de cálcio que foi reconhecido pela
primeira vez como o segundo domínio conservado da proteína cinase C, sendo de
onde o termo 'C2' deriva. Acredita-se que o domínio C2 esteja envolvido na ligação
fosfolipídica dependente de cálcio (DAVLETOV e SUDHOF, 1993). Desde que os
domínios relacionados ao domínio C2 foram encontrados também em proteínas que
não se ligam ao cálcio, outras funções putativas para o domínio C2, como por
exemplo, ligação a inositol-1,3,4,5-tetrafosfato tem sido sugerido (BRAUNEWELL e
GUNDELFINGER, 1999).
O segundo grupo é formado pelas CaBP que exibem como característica
estrutural o motivo EF-hand. Este é um motivo de ligação de cálcio que contém duas
hélices orientadas praticamente perpendiculares uma a outra, flanqueando uma alça
que é tipicamente de 12 resíduos de comprimento. O íon Ca2+ ligado é coordenado
por sete ligantes de oxigênio em um arranjo de bipirâmide pentagonal (GERKE et
al., 2005). Essa estrutura lembra uma mão direita com o polegar e indicador abertos,
representando as duas α-hélices e o terceiro dedo fechado, representando a alça
(CELIO, 1990) (Figura 4).
18
Figura 4. O motivo EF-hand consiste em uma α-hélice (simbolizada pelo dedo
indicador), uma alça em torno do íon Ca2+ (representada pelo dedo médio fechado)
e uma segunda α-hélice (simbolizada pelo polegar). (YÁÑEZ et al., 2012)
As proteínas anexinas, cujos membros interagem com fosfolipídios e
membranas celulares na presença de cálcio formam uma família do tipo não EF-
hand por seu sítio de ligação ao cálcio ser diferente (HEIZMANN e HUNZIKER,
1991). Os sítios de ligação de cálcio das anexinas diferem fundamentalmente do tipo
EF-hand porque somente cinco dos sete sítios de ligação são fornecidos por
oxigênios e porque nenhuma estrutura EF-hand do tipo hélice-alça-hélice é
discernível (GERKE et al., 2005).
Algumas proteínas EF-hand possuem papéis regulatórios, interagindo com
outras proteínas, sendo comumente denominadas 'proteínas sensores de cálcio',
como por exemplo a calmodulina e a troponina C (SCHWALLER, 2010). Outras
estão envolvidas com as funções de tamponamento e transporte de cálcio, e são
denominadas 'proteínas ligantes de cálcio', como é o caso da parvalbumina (PV),
calbidina (CB) e calretinina (CR). Essa classificação foi primeiramente proposta por
Silva e Reinach (1991) e promovem uma boa correlação entre suas características
estruturais e funcionais. Entretanto, se presente em concentrações suficientemente
altas, proteínas sensores podem funcionar como proteínas tampões (SCHWALLER,
2010).
As proteínas tampões, como a PV, CB e CR, representam um sistema mais
passivo responsável pela diminuição da amplitude dos sinais de cálcio (HOF et al.,
1999). Um tampão intracelular, como a CB, precisa somente ligar o cálcio
19
eficientemente, e não requer mudanças conformacionais e exposição hidrofóbica,
como a calmodulina e a troponina C (SKELTON et al., 1994).
A PV foi originalmente purificada a partir de músculo de peixes e devido ao
seu baixo peso molecular (12 kDa) e uma elevada solubilidade em água, foi
chamada de parvalbumina (parvusis em latim significa pequeno), embora ela não
tenha nenhuma semelhança funcional com soro de albumina (YÁÑEZ et al., 2012). A
primeira estrutura prototípica de um domínio EF-hand foi determinada em PV, que
curiosamente é uma proteína EF-hand atípica. PV possui um número ímpar de
domínios EF-hand (3), e os sítios de ligação de Ca2+ são sítios mistos para Ca2+ e
Mg2+ (SCHWALLER, 2010). Trabalhos com imunoistoquímica já confirmaram que
PV além de estar presente no músculo, também está bem distribuído em tecidos não
musculares como ossos, dentes, pele, encéfalo, próstata, glândulas seminais,
testículos e ovários de ratos (ARIF, 2009).
A CB foi extraída a partir do duodeno de aves, onde facilita o transporte do
cálcio através da mucosa, e em seguida foi detectada e mapeada no encéfalo (HOF
et al., 1999). CB possui 6 domínios EF-hand, quatro dos quais ligam Ca2+ com
média ou alta afinidade (SCHWALLER, 2010).
A CR foi inicialmente descoberta na retina de aves, de onde surgiu seu nome
(ROGERS, 1987). É a proteína ligante de cálcio descrita mais recentemente, sendo
abundantemente expressa no sistema nervoso, e possui sequências de aminoácidos
homólogas a CB (JACOBOWITZ e WINSKY, 1991). CR tem 6 domínios EF- hands,
cinco dos quais são capazes de ligar íons Ca2+ (SCHWALLER, 2010).
Essas três CaBP são particularmente interessantes de um ponto de vista
morfológico, uma vez que elas ocorrem somente em certas subpopulações de
células nervosas no sistema nervoso central e periférico. Assim, elas podem ser
usadas seletivamente para visualizar células, vias e núcleos encefálicos
(ANDRESSEN et al., 1993).
20
1.4 MODELO EXPERIMENTAL
Um grupo de mamíferos, os quirópteros, apresenta estruturas
caracteristicamente diferenciadas de orientação sensório-motora, através de um
sistema sonar, capaz de detectar a presença de barreiras físicas ou até mesmo
presas no ambiente (SCHNITZLER e KALKO, 2001). Com isso, este grupo de
mamíferos apresenta um sistema auditivo muito mais integrado ao sistema motor
quando comparado ao sistema visual.
O Artibeus planirostris (Chiroptera, Phyllostomidae) é um morcego que
apresenta pelagem de coloração castanho-acinzentada e listras faciais pouco
evidentes (Figura 5). É uma espécie de tamanho médio, com comprimento do corpo
variando de 7,5 a 11 cm, e massa corporal entre 40 e 69 g (REIS et al., 2013).
Apresenta ampla distribuição geográfica, ocorrendo em zonas tropicais de diversos
países ao longo da metade norte da América do Sul (HOLLIS, 2005). É um morcego
comum em muitas regiões do Brasil (Figura 6) (ZORTÉA, 2007).
Figura 5. Espécime macho de Artibeus planirostris. (Foto: Marília Barros).
21
Figura 6. Distribuição geográfica do Artibeus planirostris, destacada em
amarelo. (Fonte: The IUCN Red List).
Como animais noturnos, os morcegos têm uma menor proporção de cones na
retina, uma estrutura responsável pela percepção de cores. No entanto, não são
cegos e, utilizam de um processo chamado ecolocalização, ilustrado na figura 7,
para se orientar num dado espaço e/ou seu habitat. Por utilizar primariamente do
sistema de ecolocalização, os olhos são pequenos, as orelhas são grandes, o tragus
bem desenvolvido e na maior família brasileira, Phyllostomidae, a folha nasal
proeminente toma parte importante no direcionamento dos ultrassons que saem
pelas narinas (NEUWEILER, 2000). Durante este processo, eles transmitem sons de
alta frequência pela boca e nariz, os quais refletem por superfícies dos ambientes,
indicando a direção e distância relativa dos objetos (FENTON, 1992).
q
Figura 7. Sistema de ecolocalização do Artibeus planirostris. (Baseado em
REIS et al., 2013; HOLLIS, 2005).
22
1.4.1 TAXONOMIA E FILOGENIA
Os morcegos, mamíferos placentários, pertencem à ordem Chiroptera, a qual
tem sido tradicionalmente dividida, com base em caracteres morfológicos de
espécies fósseis e atuais, em duas subordens monofiléticas: Megachiroptera e
Microchiroptera (SIMMONS, 1994; SIMMONS e GEISLER, 1998) e composta por
cerca de 1.100 espécies (KUNZ e LUMSDEN, 2003). Os megaquirópteros
correspondem a uma única família (Pteropodidae), à qual pertencem as espécies de
raposas-voadoras que ocorrem exclusivamente nas zonas tropicais do Velho Mundo
(NEUWEILER, 2000). Já os microquirópteros são cosmopolitas e englobam as 17
demais famílias (SIMMONS, 1998), incluindo a família Phyllostomidae à qual
pertence A. planirostris. Os microquirópteros desenvolveram um complexo sistema
de ecolocalização laringeal ausente nas raposas-voadoras, que apresentam apenas
algumas espécies cavernícolas (gênero Rousettus) capazes de utilizar um sistema
rudimentar de ecolocalização a partir de estalidos da língua (ALTRINGHAM, 1996).
Atualmente, porém, esta classificação tem sido contrariada por estudos
filogenéticos baseados em dados moleculares, que indicam que alguns grupos de
morcegos com ecolocalização sofisticada compartilham um ancestral comum com as
raposas-voadoras (TEELING et al. 2005; TEELING, 2009; VAN DER BUSSCHE e
HOOFER, 2004). Dessa forma, a família Pteropodidae e mais cinco famílias de
microquirópteros foram agrupados na subordem Yinpterochiroptera, e as famílias
restantes, incluindo a Phyllostomidae, na subordem Yangochiroptera (Figura 8)
(JONES e TEELING, 2006; TEELING et al., 2012).
23
Figura 8. Árvore molecular das famílias de morcegos descritas. Família do modelo
experimental em destaque no tracejado em vermelho. (Adaptado de JONES e
TEELING, 2006).
Dentre os diferentes táxons de morcegos, a família Mormoopidae é a mais
filogeneticamente próxima da família Phyllostomidae (DATZMANN et al., 2010;
JONES e TEELING, 2006). Muito provavelmente, o ancestral comum de ambas as
famílias foi um insetívoro, uma vez que a insetivoria estrita é a estratégia de
forrageio adotada pelos mormoopídeos e pela maciça maioria das espécies de
morcegos. Morcegos filostomídeos especializados no consumo de frutos, como o
gênero Artibeus, representam condições mais derivadas e recentes em relação às
espécies insetívoras/onívoras, hematófagas, carnívoras e nectarívoras da família
(BAKER et al., 2012). As relações filogenéticas entre as diferentes espécies de
Artibeus têm sido amplamente debatidas nos últimos anos (LIM et al., 2004;
MARQUES-AGUIAR, 1994; VAN DEN BUSSCHE et al., 1998). Estudos recentes
indicam que A. planirostris é espécie irmã de A. amplus e estreitamente relacionada
à A. obscurus (REDONDO et al., 2008), porém a filogenia do gênero ainda não é
consensual.
24
1.5 JUSTIFICATIVA
O sistema auditivo do morcego está envolvido em seu dia a dia devido ao
processo chamado ecolocalização, emitindo ondas sonoras as quais refletem e
retorna em forma de eco, conectando assim diversas áreas do sistema nervoso,
entre elas o complexo coclear.
Levando em consideração a importância fisiológica e comportamental do
sistema auditivo, como no caso do gênero Artibeus, é fundamental aprofundar o
conhecimento acerca da organização desse sistema, uma vez que alguns núcleos
do complexo coclear podem apresentar localização, citoarquitetura e neuroquímica
distintas de outras espécies já estudadas. Adicionalmente, a ausência de estudos
mais detalhados sobre a anatomia quantitativa do complexo coclear em quirópteros
impedem uma análise comparativa refinada entre as espécies com o intuito de
fornecer maior clareza sobre as rotas evolutivas do sistema auditivo ao longo do
tempo.
O presente trabalho visa preencher lacunas importantes na compreensão da
filogenia do complexo coclear, através da utilização de técnicas para caracterização
citoarquitetônica e neuroquímica, associadas a ferramentas de neuroanatomia
quantitativa.
25
2. OBJETIVOS
2.1 GERAL
Caracterizar a organização morfológica do complexo coclear no encéfalo de
morcego A. planirostris.
2.2 ESPECÍFICOS
Delimitar citoarquitetonicamente e por imunofluorescência para CaBP, os
núcleos cocleares no encéfalo do morcego A. planirostris;
Estimar o volume total do complexo coclear;
Estimar o comprimento rostrocaudal do complexo coclear;
Comparar a média das áreas dos corpos neuronais dos núcleos cocleares.
26
3. METODOLOGIA
3.1 SUJEITOS
Cinco animais adultos foram utilizados no experimento. Os exemplares de A.
planirostris utilizados no estudo foram capturados no campus da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte - UFRN, Natal (RN), Nordeste do Brasil (Licença
SISBIO Nº 25233-2).
Os procedimentos de coleta aconteceram em quatro diferentes ocasiões:
18/10/2012, 21/11/2012 e 26/02/2013 em um fragmento de vegetação, no Centro de
Biociências (coordenadas em UTM: 25M 256251 / 9353764), e no dia 13/06/2013
num agrupamento arbóreo, nas proximidades da Reitoria da UFRN (coordenadas
em UTM: 25M 256226 / 9354214).
Em relação às capturas, foram utilizadas de uma a três redes de neblina
Ecotone® de nylon, com dimensões 12 x 3 m e tamanho de malha 19 x 19 mm. As
redes foram armadas no nível do solo e, em cada noite de captura, foram abertas
logo após o pôr do sol e permaneceram expostas por duas horas consecutivas.
Cada indivíduo capturado foi analisado quanto ao sexo e à faixa etária. Foram
mantidos em sacos de algodão até o término da amostragem e transporte até o
laboratório. Os demais indivíduos foram soltos no mesmo local de captura. Todos os
animais capturados para o estudo foram perfundidos imediatamente após a coleta
no Laboratório de Neuroanatomia – Departamento de Morfologia – DMOR/UFRN.
Para o presente estudo, todos os cuidados foram tomados no sentido de evitar
dor e sofrimento aos animais durante os procedimentos experimentais, seguindo
estritamente às normas e princípios da Lei Arouca, a qual versa sobre o tratamento
de animais em pesquisas e atividades científicas e às normas estabelecidas pelo
Comitê de Ética para uso de Animais da UFRN (CEUA). O projeto referente a este
estudo foi aprovado pelo CEUA (protocolo N.º 009/2012 – anexo).
3.2 MÉTODOS DE IDENTIFICAÇÃO TAXONÔMICA
Todos os espécimes capturados e utilizados no estudo foram identificados por
uma especialista em quirópteros (Msc. Marília Abero Sá de Barros). Em campo, a
27
identificação até o nível de espécie foi baseada em um conjunto de características
morfológicas externas de acordo com os estudos propostos por Aguirre et al. (2009),
Haynes e Lee Jr. (2004), Hollis (2005), Miranda et al. (2011), Reis et al. (2013) e
Simmons e Voss (1998).
Para diferenciação de espécies do gênero Artibeus, estes estudos levam em
consideração, especialmente, padrões da pelagem, das listras faciais e da
morfologia da folha nasal. A espécie foi identificada como Artibeus planirostris por
apresentar: 1. Pelagem castanho-claro ou cinza-clara, curta, pouco densa e áspera;
2. Listras faciais pouco evidentes; 3. Borda inferior da folha nasal completamente
livre; 4. Antebraço com poucos pelos; 5. Pontas das asas esbranquiçadas; 6. Bordas
das orelhas e trago de coloração não diferenciada; 7. Ausência de máscara escura
ao redor dos olhos.
Para confirmação da identificação taxonômica em laboratório, um indivíduo da
espécie foi sacrificado para retirada e exame detalhado do crânio. A confirmação da
espécie com base na morfometria craniana foi realizada segundo os estudos de
Barquez et al. (1999), Haynes e Lee Jr. (2004), Hollis (2005) e Simmons e Voss
(1998). Esta análise confirmou a identificação do indivíduo como A. planirostris,
devido à ocorrência das seguintes características morfológicas: 1. Constrição pós-
orbitária ampla (> 7,3 mm); 2. Arco supraorbital pouco acentuado; 3. Processo pós-
orbital pouco desenvolvido; 4. Presença de terceiro molar superior; 5. Largura do
canino (> 8,4 mm); 6. Maior comprimento do crânio (> 29.5 mm).
3.3 PROCEDIMENTOS
3.3.1 ANESTESIA
Os animais foram anestesiados com uma injeção intraperitoneal de ketamina
(5mg/Kg), xilazina (0,5mg/Kg), diazepam (0,5mg/Kg) e cloridrato de tramadol
(5mg/Kg).
3.3.2 PERFUSÃO
Depois de anestesiados, cada animal foi submetido à perfusão transcardíaca,
compreendendo os seguintes passos:
28
I- Posicionamento do animal em decúbito dorsal sobre tela de arame e sob
ponto de água;
II- Toracotomia, com incisão de pele, músculos e arco costal, sendo estes
removidos em bloco, para exposição do coração;
III- Cardiopunção no ventrículo esquerdo, utilizando uma agulha 16G (1,5 x
10 mm), a qual foi direcionada para a aorta ascendente, seguindo uma
incisão no átrio direito. A agulha foi conectada a uma bomba peristáltica
(Cole-Parmer), passando-se 150 ml de solução salina a 0,9% em tampão
fosfato 0,1M, pH 7,4 com heparina (Parinex, Hipolabor, 2ml/1000ml de
solução salina) a um fluxo de 60 ml/min, seguida de 300 ml de solução de
paraformaldeido 4% em tampão fosfato 0,1M, pH 7,4, dos quais 150 ml a
um fluxo inicial de 60 ml/min e 150 ml o fluxo final de 30 ml/min, durando
todo o procedimento de perfusão aproximadamente em média 30 minutos.
3.3.3 REMOÇÃO DOS ENCÉFALOS
Após perfundidos, os encéfalos foram retirados da cavidade craniana, com
uso de um osteótomo. Em seguida, foram pós-fixados na mesma solução
fixadora utilizada na perfusão por duas horas e então colocados em solução
sacarose 30% em tampão fosfato 0,1 M, pH 7,4, a 4 ºC, até serem submetidos à
microtomia.
3.3.4 MICROTOMIA
Os encéfalos foram congelados através de gelo seco e depois seccionados
utilizando um micrótomo de deslizamento (Leica SM 2000R). Foram obtidas
secções coronais de 30 μm de espessura, as quais foram distribuídas
sequencialmente em 6 compartimentos, em um meio líquido contendo tampão
fosfato 0,1M, pH 7,4, de maneira cíclica e sequenciada. A distância entre uma
secção e a outra imediatamente seguinte de um mesmo compartimento é de
aproximadamente 180 μm. Os cortes de um compartimento foram montados em
lâminas de vidro e submetidos à coloração de Nissl, o que permitiu a
demarcação das estruturas. Os cortes selecionados dos demais compartimentos
restantes (cinco) foram armazenados em solução anticongelante (sacarose,
29
etileno glicol e tampão fosfato 0,05M pH 7,4) e conservados a -20 ºC para
utilização posterior em procedimentos de imunofluorescência.
3.3.5 MÉTODO DE NISSL
Para o estudo da citoarquitetura foi utilizado à coloração pelo método de
Nissl, utilizando o corante thionina. Através do método de Nissl, foram corados: o
retículo endoplasmático rugoso, o núcleo e o nucléolo das células, podendo ser
elas tanto neurônios como células da glia, tornando assim possível a
identificação de seu tamanho, forma e localização. A cor da marcação é azul-
arroxeada. Foram montados em lâminas de vidro gelatinizados os cortes de uma
das séries de cada encéfalo.
Os cortes foram montados em lâminas gelatinizadas e deixados secar por
aproximadamente uma semana. Em seguida, foram submetidos à coloração de
Nissl, passando inicialmente por uma desidratação dos cortes em concentrações
crescentes de alcoóis etílicos (1x 70% por 2h, 2x 95% por 3 minutos cada, 2x
100% por 3 minutos cada) sendo posteriormente diafanizadas em xilol (1x por 3
minutos e 1x por 30 minutos). Os cortes foram reidratados em concentrações
decrescentes de alcoóis etílicos por 2 minutos cada, chegando a thionina onde
ficou por 40 segundos. Foram então mergulhados 15 vezes em água destilada e
novamente desidratados (álcool 50% 1x, 1x 70%, 2x 95%, 3x 100% por 2
minutos cada) e diafanizados (2x em xilol por 2 minutos cada), sendo, ao final,
cobertos com lamínula utilizando como meio de montagem o Entellan.
3.3.6 IMUNOFLUORESCÊNCIA
As demais séries dos encéfalos dos animais foram submetidas para
imunofluorescência com o objetivo de identificar neurônios imunorreativos às
proteínas ligantes de cálcio (CaBP): Calbindina (CB), Calretinina (CR) e
Parvalbumina (PV). Os anticorpos que foram utilizados nesse estudo foram os
mesmos utilizados previamente em outros estudos nesse laboratório, e por não
apresentarem nenhuma reação cruzada e por terem sido testados, dispensaram
a necessidade de haver um grupo controle.
30
As reações da imunofluorescência foram realizadas com os cortes
mergulhados em solução e foram utilizados anticorpos contra cada uma das
substâncias supracitadas. Utilizamos o protocolo a seguir:
1- Os cortes foram submetidos a 5 lavagens durante 5 minutos cada,
em solução de tampão fosfato 0,1 M, pH 7,4, em agitador orbital.
2- Pré-tratados com boridreto de sódio 1%, durante 20 minutos.
3- Seguiram em 5 lavagens em tampão fosfato 0,1 M, pH 7,4, de 5
minutos cada.
4- Foi realizado o bloqueio com 150µl de albumina de soro bovino
(BSA) e 2.850 µl de Triton X-100, durante 1 hora.
5- 5 lavagens em tampão fosfato 0,1 M, pH 7,4, de 5 minutos cada.
6- Incubação do anticorpo primário: 3µl de anticorpo primário diluído
em 60µl de BSA e 2.937µl de Triton X-100 a 0,4%, overnight, à
temperatura ambiente, em rotor. Diluição 1:1000.
7- 5 lavagens em tampão fosfato 0,1 M, pH 7,4, de 5 minutos cada.
8- Incubação do anticorpo secundário fluorescente: 6µl de anticorpo
secundário diluído em 2.994µl de Triton X-100 a 0,4%, durante 120
minutos, à temperatura ambiente, em rotor. Diluição 1:500.
9- 3 lavagens em solução tampão fosfato 0,1 M, pH 7,4, de 5 minutos
cada.
10- Montagem dos cortes em lâminas de vidro previamente
gelatinizadas e secagem à temperatura ambiente.
11- Após a secagem, as lâminas foram cobertas com lamínulas
utilizando como meio de montagem ERV-Mount (Erviegas Ltda),
estando prontas para serem examinadas ao microscópio de
fluorescência.
Os anticorpos que foram utilizados com suas respectivas diluições e
fabricantes são expostos na tabela a seguir:
31
Tabela 1. Substâncias, anticorpos e soro normal com diluições utilizadas:
Substância
Anticorpo primário (diluição)
Anticorpo secundário fluorescente (diluição)
CR Rb α CR (1:1000) SIGMA Gt α Rb 488 (1:500) ABCAM
CB Ms α CB (1:1000) SIGMA Dk α Ms 594 (1:500) ABCAM
CR Rb α CR (1:1000) CHEMICON Gt α Rb 594 (1:500) ABCAM
PV Ms α PV (1:1000) SIGMA Dk α Ms 488 (1:500) ABCAM
3.4 OBTENÇÃO DAS IMAGENS
As secções do encéfalo montados em lâminas histológicas foram analisadas
através de microscópio óptico e de fluorescência (Nikon Ni-U) e então selecionadas.
As imagens digitais foram obtidas através de uma câmera de vídeo (Nikon DS-Ri1)
acoplada ao microscópio, ajustado com as objetivas de 2X, 4X, 10X, 20X e 40X, e
conectada a um computador com o software NIS instalado. As imagens foram
analisadas e, com o auxílio do software Canvas 12, transformadas em escala de
cinza e ajustadas para brilho, contraste e resolução. O software Canvas 12 também
foi utilizado para a construção dos esquemas, tomando como base o atlas
estereotáxico do cérebro do rato (PAXINOS e WATSON, 2007) e atlas do morcego
Desmodus rotundus murinus (BHATNAGAR, 2008).
3.5 ANÁLISE MORFOMÉTRICA
Em relação à mensuração das células, foram utilizadas secções frontais do
encéfalo dos cinco exemplares de A. planirostris submetidos à coloração de Nissl.
Todos os cortes que representavam a região de interesse foram amostrados para
cada núcleo, a fim de obter o perfil celular em toda a extensão rostrocaudal dos
núcleos estudados. Foi utilizado o software NIS ELEMENTS AR para medir a área
das células, bem como para selecionar as células que foram mensuradas. As
medições foram realizadas nas objetivas de 10X e 20X.
32
Para seleção das células, o software gerou uma grade com linhas verticais e
horizontais distantes em 100µm, onde as células que estavam dentro dos quadrados
e que estavam na região de interesse foram selecionadas. Para o CC, foram
selecionadas 50 células por corte em cada subdivisão. Ao final de cada sessão de
contagem, uma tabela de áreas celulares foi disponibilizada pelo software NIS. Estes
dados foram exportados para o Excel e utilizados em posterior análise no software
estatístico.
Para calcular o comprimento rostrocaudal do complexo coclear, foi utilizado o
seguinte cálculo: Nº de cortes por compartimento * distância entre os cortes.
Chegando assim ao valor do comprimento da estrutura estudada.
3.6 ANÁLISE ESTEREOLÓGICA
Para estimar o volume de ambos os núcleos (direito e esquerdo), foram
selecionados entre 6 a 7 imagens, na coloração de Nissl de cinco espécimes,
contendo os núcleos em um aumento de 40 vezes. A amostragem de cada área foi
sistemática e uniformemente aleatória (SURS) (GUNDERSEN et al., 1999). Essas
imagens foram analisadas com o auxílio do software Canvas 12, utilizando sempre o
mesmo computador e o mesmo zoom a fim de evitar equívocos na análise.
A partir da imagem, posicionamos um grid de contagem, respeitando os limites
da figura a ser analisada, contendo pontos equidistantes e com área conhecida.
Para o CC foi utilizado grid de 100 µm com área por ponto de 35.061 µm2. Em cada
imagem, os pontos que tocavam toda a dimensão do CC foram contados. O método
para calcular o volume foi o de Cavalieri com o seguinte cálculo: V= Σp * a/p * t * F-1,
onde Σp é a soma dos pontos que tocam o núcleo, a/p é a área dos pontos, t é a
espessura do corte e F-1 é o inverso da distância entre os cortes (HOWARD e REED,
2010). Para testar a confiabilidade dos dados, foi realizado o teste de coeficiente de
erro, onde se observou um valor de 2%, sendo menor do que o limite de 15%
(GUNDERSEN et al., 1999).
3.7 ANÁLISE ESTATÍSTICA
Para todos os testes, foi realizada previamente a análise de normalidade dos
dados, através do teste de Kolmogorov-Smirnov. Os dados obtidos foram expressos
33
em média ± desvio padrão (DP). Foi realizado o Test t Student para amostras
independentes. Para análise de múltiplas comparações foi utilizado análise de
variância (ANOVA) de uma via seguido do pós-teste de Bonferroni. Um valor de
p<0,05 foi considerado como estatisticamente significativo. O software estatístico
utilizado foi o GraphPad Prism 6.0.
4. RESULTADOS
O presente estudo fornece a primeira descrição detalhada da avaliação
citoarquitetônica pelo método de Nissl e imunoistoquímica para CaBP (PV, CR e CB)
do CC de morcego Artibeus planirostris. Os dados foram organizados em duas
sessões obedecendo à ordem rostrocaudal das secções coronais.
4.1. CARACTERIZAÇÃO CITOARQUITETÔNICA, MORFOMÉTRICA E
ESTEREOLÓGICA DO COMPLEXO COCLEAR
Entre os exemplares analisados, o comprimento do encéfalo variou entre
16,1 e 21,5mm, com um valor médio de 17,65mm, do polo frontal do córtex cerebral
ao limite bulbo-espinal. A análise das secções coronais do encéfalo do A. planirostris
coradas pelo método de Nissl revelaram que o CC estende-se desde a porção
média da ponte até o nível mais rostral do bulbo ao longo do eixo rostrocaudal. O
CC destaca-se como um conjunto celular heterogêneo citoarquitetônicamente,
disposto látero-inferiormente ao pedúnculo cerebelar inferior (icp) e lateralmente ao
nervo vestibulococlear (8n), tracto espinal do trigêmio (sp5) e corpo trapezoide (tz)
ao longo da maior parte de sua extensão (Figura 9). Adicionalmente, é possível
verificar que o CC em A. planirostris aparentemente sofre um aumento em seu
tamanho ao longo do eixo rostrocaudal, ocupando toda a porção lateral do bulbo nos
níveis médios e finalmente apresentando uma aparente redução em seu tamanho,
assumindo uma posição mais dorsal nas secções caudais. Assim, verificamos
quanto à topografia, uma dorsalização do complexo em relação à parede lateral do
tronco encefálico ao longo de sua extensão rostrocaudal (Figura 9A, B e C).
34
Figura 9. Esquemas de secções coronais, baseadas no método do Nissl, do
encéfalo de Artibeus planirostris mostrando as delimitações do CC nos níveis rostral,
médio e caudal. As linhas pontilhadas demarcam a estrutura de interesse. Barra:
1000 μm.
35
O método de Nissl permitiu identificar todas as subdivisões clássicas
descritas até o presente (Figura 10, 11 e 12). O núcleo coclear ventral porção
anterior (VCA) surge nas secções rostrais como um pequeno aglomerado de células
predominantemente arredondadas (Figura 10A e B). Nas secções médias, o CC
sofre um pequeno aumento no seu tamanho, sendo possível verificar a presença do
núcleo coclear ventral porção posterior (VCP) com células fusiformes mais
esparsamente distribuídas em posição mais inferior (Figura 11A e C). Neste mesmo
nível é possível verificar a presença de uma fina camada celular densamente corada
pelo método de Nissl, lateral e dorsalmente posicionada ao VCP, a qual
denominamos de núcleo coclear ventral anterior porção granular (VCAGr) (Figura
11A e B). A sequência rostrocaudal do CC de A. planirostris apontou o surgimento
do núcleo coclear dorsal (DC), superiormente ao VCP nos níveis médios do
complexo (Figura 11A).
Figura 10. Fotomicrografias em campo claro de secções coronais, coradas pelo
método do Nissl, do encéfalo de Artibeus planirostris mostrando a citoarquitetura do
CC em A. Ampliação da caixa em A, mostrando em detalhe a morfologia
arredondada das células do VCA (B). Barra: 500 μm em A e 50 μm em B.
36
Adicionalmente, foi possível verificar a gradativa diminuição no tamanho
relativo do VCA ao longo da extensão rostrocaudal (Figura 11A). O DC foi
caracterizado por subpopulações celulares distintas citoarquitetonicamente, sendo
possível identificar a presença de três lâminas celulares dispostas obliquamente em
relação ao plano mediano, tendo sido essas classificadas do plano mais profundo ao
superficial tanto nas secções médias quanto nas secções caudais: núcleo coclear
dorsal profundo (DCDp) (Figura 12A e D); núcleo coclear dorsal fusiforme (DCFu)
(Figura 12A e C) e núcleo coclear dorsal molecular (DCMo) (Figura 12A e C). Nas
secções em nível caudal do CC, o icp delimita-o medialmente em quase todo o seu
eixo dorsoventral, bem como, foi possível verificar a manutenção da laminação
celular do DC (Figuras 9C e 12A).
Figura 11. Fotomicrografias em campo claro de secções coronais, coradas pelo
método do Nissl, do encéfalo de Artibeus planirostris mostrando a citoarquitetura do
CC em A. Ampliação da caixa em A, mostrando em detalhe a morfologia ovóide e
pequena (seta) das células do VCAGr (B) e a morfologia fusiforme e espaçada das
células do VCP (C). Barra: 500 μm em A e 50 μm em B e C.
37
Figura 12. Fotomicrografias em campo claro de secções coronais, coradas pelo
método do Nissl, do encéfalo de Artibeus planirostris mostrando a citoarquitetura do
CC em A. Ampliações das caixas em A, mostrando em detalhe a morfologia
pequena e granular das células do DCMo (B), a morfologia fusiforme (seta) das
células do DCFu (C) e a morfologia arredondada e maior das células do DCDp (D).
Barra: 500 μm em A e 50 μm em B, C e D.
A análise morfométrica permitiu caracterizar os perfis celulares do CC, onde
observamos a predominância de células arredondadas distribuídas
heterogeneamente por toda a extensão do complexo. A morfometria viabilizou a
organização do CC em distintas subdivisões. A subdivisão ventral (VC) e dorsal (DC)
do complexo foram caracterizadas por células arredondadas e ovóides,
apresentando média de área de 127,4±6,7 μm2 e 115,6±8,8 μm2 respectivamente.
Em geral, os neurônios no VC apresentaram-se distribuídos de forma difusa dentro
dos limites citoarquitetônicos do núcleo comparadas à distribuição neuronal no DC.
38
Em conjunto, foi observada diferença significativa entre as médias das áreas
celulares do VC e do DC (p<0,05). Os dados por animais encontram-se descritos na
Tabela 2.
Tabela 2. Análise morfométrica. Valores expressos como média ± desvio padrão da
área celular em casos investigados por subdivisão no CC.
CC
VC DC
Animalm / Peso (g) Média ± DP (μm2) Média ± DP (μm2)
M1 / 45,50 127 ± 22 126 ± 33
M2 / 46,00 122 ± 16 108 ± 37
M3 / 47,00 132 ± 22 115 ± 49
M4 / 39,50 120 ± 15 123 ± 36
M5 / 43,00 136 ± 18 106 ± 38
Média 127,4 ± 6,7a 115,6 ± 8,8a
Legenda: a VC vs DC p < 0.05; teste t; m morcego.
A análise citoarquitetônica confirmou a existência da subdivisão do VC em
uma porção anterior denominada VCA caracterizada por formas celulares
arredondadas e média de área celular de 138,2±8,2 μm2. Além disso, identificamos
a porção posterior denominada de VCP caracteristicamente com formatos neuronais
fusiformes e distribuídos mais difusamente em relação ao VCA. As médias de área
celular no VCP foi de 138,2±8,9 μm2, não havendo diferenças significativas entre
essas duas subdivisões do complexo por esse parâmetro. Por fim, foi possível
identificar VCAGr com células pequenas e ovóides. A média da área celular na
porção citada equivale a 27±5,8 μm2. Em conjunto, quando analisados os dados
observou-se uma diferença significativa do VCAGr entre as duas outras porções,
VCA e VCP (p<0,001). Os valores individuais por animais podem ser observados na
Tabela 3.
39
Tabela 3. Análise morfométrica. Valores expressos como média ± desvio padrão da área celular em casos investigados por
subdivisão do CN.
Legenda: a DCMo vs DCFu p < 0.001; b DCMo vs DCDp p < 0.001; c DCFu vs DCDp p < 0.001; d VCAGr vs VCA p < 0.001;
e VCAGr vs VCP p < 0.001; ANOVA + Bonferroni post hoc; m morcego.
DC VC
DCMo DCFu DCDp VCA VCAGr VCP
Animalm / Peso (g) Média ± DP
(μm2)
Média ± DP
(μm2)
Média ± DP
(μm2)
Média ± DP
(μm2)
Média ± DP
(μm2)
Média ± DP
(μm2)
M1 / 45,50 23 ± 8 79 ± 40 121 ± 42 141 ± 25 24 ± 10 138 ± 32
M2 / 46,00 27 ± 10 62 ± 25 120 ± 52 130 ± 4 37 ± 19 133 ± 23
M3 / 47,00 28 ± 11 92 ± 34 134 ± 46 139 ± 5 24 ± 10 150 ± 20
M4 / 39,50 28 ± 9 91 ± 30 110 ± 32 131 ± 20 23 ± 8 127 ± 19
M5 / 43,00 24 ± 10 97 ± 32 123 ± 43 150 ± 22 27 ± 11 143 ± 25
Média 26,0 ± 2,3a, b 84,2 ± 14,1a, c 121,6 ± 8,6 b, c 138,2 ± 8,2d 27 ± 5,8 d, e 138,2 ± 8,9 e
40
Quando analisadas as laminações do DC, observou-se da camada mais
profunda à superficial, diferenças na morfologia celular. O DCDp apresentou uma
morfologia de células maiores e mais espaçadas entre si, esta porção possui média
de área celular de 121,6±8,6 μm2. O DCFu localizado entre as duas laminações,
apresentou uma fina camada de células achatadas súpero-inferiormente. A média da
área celular desta porção foi de 84,2±14,1 μm2. Por conseguinte, o DCMo é a
laminação mais superficial do núcleo, apresentando morfologia de células pequenas,
ovóides e granulares. A média da área celular desta porção foi de 26,0±2,3 μm2. Em
conjunto, observou-se diferenças entre as três laminações quando comparadas
entre si, sendo a camada do DCDp a que apresentou maiores áreas celulares
(p<0,001). Maiores detalhes podem ser observados na Tabela 3.
A partir da análise estereológica, foi possível calcular a estimativa de
volume total para o CC, onde a média do volume para o CC direito foi de 1,84±0,29
mm³ e a média do volume para o CC esquerdo foi de 1,98±0,20 mm³. Os antímeros
apresentaram volumes semelhantes não havendo diferença significativa entre eles
(p=0,4). O volume do CC foi dado a partir da média entre os dois antímeros,
totalizando o valor de 1,91±0,10 mm³. Posteriormente foi calculado o coeficiente de
erro para a estimativa do volume, apresentando média geral de 2%. Também foi
realizado o cálculo do comprimento rostrocaudal do CC, sendo este 7,2 mm. Análise
por animal descrita completamente na Tabela 4.
41
Tabela 4. Análise estereológica. Valores brutos seguidos da expressão destes
valores como média ± desvio padrão do volume do CC em casos investigados por
antímero.
CC
Esquerdo Direito
Animalm / Peso (g) Volume (mm³) Volume (mm³) Média ± DP (mm³)
M1 / 45,50 2,27 1,86 2,06 ± 0,29
M2 / 46,00 2,04 2,20 2,12 ± 0,11
M3 / 47,00 1,98 1,65 1,81 ± 0,23
M4 / 39,50 1,75 1,48 1,61 ± 0,19
M5 / 43,00 1,85 2,01 1,93 ± 0,11
Média 1,98 ± 0,20 1,84 ± 0,29 1,91 ± 0,10 (CE: 2%)
Teste t relativo aos
antímeros
NS NS
Legenda: m: morcego; NS: não significativo; CE: coeficiente de erro.
4.2. ANÁLISE DA DISTRIBUIÇÃO DAS PROTEÍNAS LIGANTES DE CÁLCIO NO
COMPLEXO COCLEAR
A análise da distribuição das CaBP no complexo coclear, através da técnica
de imunofluorescência permitiu identificar a presença de terminais e pericários
imunorreativos a CB em secções médias e caudais do complexo coclear apenas no
DCMo (Figura 13D e G). Por outro lado, a distribuição de fibras imunorreativos a CR
foi observada no DCDp das secções médias e uma densa imunorreatividade a CR
foi observada nas porções VCA e VCP (Figura 13B e E). Nas secções caudais do
complexo a imunorreatividade a CR foi caracterizada pela distribuição de pequenos
neurônios envolvidos por uma densa neurópila no DCDp e DCFu. Adicionalmente,
neurônios imunorreativos a CR aparentemente maiores em relação àqueles
observados no DC foram visualizados no VCP (Figura 13H). Embora não tenhamos
realizado nenhum tipo de quantificação, a análise preliminar da marcação
imunoistoquímica para CB e CR no complexo sugere a presença de neurônios
duplamente marcados na porção DCFu (Figura 13I). O conjunto de secções
42
submetidas à imunofluorescência para PV revelaram uma maciça marcação de
neurônios apenas nas porções DCMo e DCFu. O DCDp não apresentou elementos
imunocorados para PV (Figura 14D, G e J). Por outro lado, observamos neurônios
imunorreativos a PV em ambas as subdivisões do VC (Figura 14A, D e G).
Ressaltamos que uma grande proporção de neurônios no VC apresentou dupla
marcação para PV e CR (Figura 14C, F e I). Também podemos destacar que a
laminação encontrada no DC pôde ser melhor evidenciada pela distribuição das
CaBP, onde DCDp apresenta maior imunorreatividade para CR, enquanto que as
camadas DCFu e DCMo apresentam uma mistura entre neurônios imunorreativos a
CB e PV (Figura 13D e G e Figura 14G e J).
43
Figura 13. Fotomicrografias da imunofluorescência de secções coronais do encéfalo
de Artibeus planirostris mostrando a expressão de CB (vermelho) nos neurônios do
CC no sentido rostrocaudal em A, D e G. Expressão de CR (verde) nos neurônios do
CC no sentido rostrocaudal em B, E e H. Sobreposição das marcações CB
(vermelho) + CR (verde) no CC nos três níveis: rostral, médio e caudal em C, F e I.
Os asteriscos representam ampliação da área para melhor visualização dos
neurônios. Barra: 100 μm.
44
45
Figura 14. Fotomicrografias da imunofluorescência de secções coronais do encéfalo
de Artibeus planirostris mostrando a expressão de PV (verde) nos neurônios do CC
no sentido rostrocaudal em A, D, G e J. Expressão de CR (vermelho) nos neurônios
do CC no sentido rostrocaudal em B, E, H e K. Sobreposição das marcações PV
(verde) + CR (vermelho) no CC nos três níveis: rostral, médio e caudal em C, F, I e
L. Os asteriscos representam ampliação da área para melhor visualização dos
neurônios. Barra: 100 μm.
46
5. DISCUSSÃO
5.1 CITOARQUITETURA
O CC formado pelo DC e VC recebe entrada da porção coclear do nervo
vestibulococlear, oitavo par craniano. A divisão em ventral e dorsal ocorre em todas
as espécies estudadas até o presente. Entretanto, os estudos de anatomia e a
fisiologia apresentam uma tendência a abordar mais o DC, isso ocorre nas variadas
espécies, incluindo o humano (BAIZER et al, 2014), morcego (ZOOK e
CASSEDAY,1982), o babuíno (MOORE et al., 1996), o gato (OSEN, 1969), a
chinchila (FLECKEISEN et al., 1991), a cobaia (HACKNEY et al., 1990), o hamster
(ZHANG e GUAN, 2008), o macaco (RUBIO et al., 2008), o rato (WOUTERLOOD et
al., 1984; BAZWINSKY et al., 2008), o coelho (DISTERHOFT et al., 1980), o gambá
(RYUGO et al., 1995). Se observarmos, os estudos tendem a seguir a descrição de
um núcleo específico do complexo, ao invés de relatar a descrição do complexo
total. Com base nisso, o presente estudo se propôs a analisar todas as divisões do
complexo de Artibeus planirostris.
Os neurônios nos CN os quais diferem em suas propriedades anatômicas e
fisiológicas, originam diferentes caminhos auditivos paralelos ascendentes,
relacionados com o processamento de aspectos específicos das informações
acústicas, portanto, é essencial para maior compreensão do processamento auditivo
do tronco encefálico (TYPLT et al, 2012). Para a subdivisão do VCA, três principais
tipos de células morfológicas foram descritas por Osen (1969) no gato: células
espessas esféricas, células espinhas globulares e células estreladas, onde é
descrito que os tipos celulares encontrados apresentam relação direta com a função
da cóclea e suas fibras emitidas até o complexo coclear. Se compararmos aos
achados observados em nosso estudo, é possível encontrar semelhanças com as
células esféricas e as globulares, sendo encontradas também na porção anterior do
VC. As células se apresentam de morfologia semelhante, e principalmente quando
se leva em consideração que o VCA recebe os feixes de axônios da cóclea,
apresentando assim uma possível morfologia celular associada a sua função.
Assim como observado em A. planirostris, as diferenças anatômicas são mais
óbvias na laminação celular do DC do que no VC dos CN em mamíferos. De forma
47
evolutiva, se partirmos dos mamíferos não primatas, passando pelos primatas não
humanos e chegando até o homem, há uma redução progressiva: 1) no número de
células granulares no CC; 2) a organização das células DCFu (também
denominadas bipolares ou piramidais); 3) diminuição da laminação de células
granulares associadas no DC; e 4) perda da camada granular entre o VCA e VCP
(FUSE, 1913; MOSKOWITZ, 1969; DUBLIN, 1976; MOORE e OSEN, 1979,
MOORE, 1980; HEIMAN-PATTERSON e STROMINGER, 1985). Sendo assim, a
relação da utilização do sistema auditivo com a organização celular está
completamente envolvida com os aspectos comportamentais e evolutivos de cada
espécie.
Um estudo em Macaca mullata indica que o DC de primata não humano
contém uma arquitetura de células granulares apropriada para realizar a integração
de entrada acústica e somatossensorial usada por não primatas para se orientar
para sons, argumentando que as características neuronais entre os DC são
semelhantes (RUBIO et al., 2008). Sabemos que este processo das células
granulares se repete na nossa espécie estudada, encontradas no VCAGr e DCMo,
tendo em vista a utilização de seu aparelho auditivo como importante meio de
localização e orientação espacial. No VC dos primatas, os mesmos tipos de células
anatômicas são encontrados em outros mamíferos. As células arbustivas são mais
comuns anteriormente, enquanto as células multipolares são mais comuns
posteriormente (ADAMS, 1986; ADAMS, 1997; RHODE et al,. 2010).
5.2 ESTEREOLOGIA
O CC se apresenta distinto em várias espécies entre os vertebrados, podendo
ter relação direta com seu estilo de vida e principalmente em alguns casos pela
utilização do sistema auditivo no seu cotidiano. Um exemplo disso, os morcegos,
possuem um DC relativamente bem desenvolvido, ligeiramente laminado e, em
contraste com os golfinhos, que mesmo utilizando um sistema de ecolocalização no
ambiente aquático, possuem um DC muito pouco desenvolvido (MALKEMPER et al.,
2012). Nas focas, como os golfinhos, a orelha externa é muito reduzida e seu DC
apresentam os padrões celulares menos organizados como em humanos (HALL et
al., 1974). Essas características são refletidas quando pensamos em volume e
tamanho do CC de cada espécie. O estudo proposto por Glendenning e Masterton
48
(1998), trouxe um panorama entre mais de 50 espécies de mamíferos e suas
características auditivas, dentre elas o volume do CC. Pensando nisso, podemos
observar a grande semelhança entre o volume do CC do modelo experimental,
morcego Artibeus planirostris, com os roedores e lagomorfos. Quando comparamos
com outra espécie de quiróptero, uma espécie de porte menor, observamos que o
nosso modelo experimental apresentou volume relativamente maior ao morcego little
brown (Myotis lucifugus), significando assim que os aspectos anatômicos, físicos,
hábitos, alimentação e estilo de vida são alguns dos dados que interferem nessa
questão de volume estrutural dos núcleos estudados e avaliados. Alguns dos dados
comparativos podem ser visualizados na tabela 5.
Tabela 5. Volume do complexo coclear de 10 espécies de mamíferos com peso
corporal de cada exemplar (em gramas).
Nome comum Gênero e espécie Peso corporal
(gramas)
Volume CC
(mm³)
Morcego Artibeus planirostris 44,2 1,91
Morcego (little brown)* Myotis lucifugus 8,61 0,78
Gato* Felis catus 3,068 15,44
Chinchila* Chinchila laniger 580 5,52
Humano* Homo sapiens 64,922 45,62
Macaco* Macaca mulatta 3,300 3,39
Camundongo* Mus musculus 27 0,75
Coelho* Oryctolagus cuniculus 5,230 3,71
Rato (Norway)* Rattus norvegicus 226 2,76
Golfinho* Delphinus delphis 61,000 99,54
* Dados comparativos retirados de estudos anteriores (GLENDENNING e
MASTERTON, 1998; MALKEMPER et al., 2012).
49
5.3 IMUNOISTOQUÍMICA
No estudo desenvolvido em rato e várias outras espécies proposto por Baizer
e colaboradores (2014), a imunorreatividade para CB foi relativamente uniforme com
corpos celulares dispersos na camada molecular do DC. Na imunorreatividade para
CR, as camadas mais externas têm menos elementos marcados, apresentando
imunomarcação apenas nas camadas DCDp do dorsal e VCA e VCP do ventral.
Imunorreatividade para PV foi observada na camada externa, molecular, do DC
(BAIZER et al, 2014). Podemos analisar tais resultados se apresentando muito
similares a distribuição de CaBP encontrada em A. planirostris, entretanto o que
apresenta maior proximidade morfológica é o rato. Este dado corrobora com os
aspectos anatômicos do nosso modelo experimental, onde se mostra mais próximo
do rato do que do camundongo, por exemplo. E o padrão se repete quando é
analisado a imunorreatividade celular e suas populações neuronais. Mesmo fugindo
um pouco da escala evolutiva e os morcegos se apresentando mais próximos dos
primatas, é curioso sua similaridade com os roedores, o que pode ser pensado como
estilo de vidas similares ou algum aspecto comportamental envolvido influenciando
diretamente na anatomia e neuroquímica dos quirópteros.
A imunorreatividade para CB foi descrita em três populações de células:
cartwheels cells (ovóides e pequenas) da camada molecular do morcego (ZETTEL
et al., 1991), da chinchila (FRISINA et al., 1995), da cobaia e o rato (SPATZ, 1997)
e do macaco (RUBIO et al., 2008), células de Purkinje do rato e da cobaia (SPATZ,
1997, 2003) e células unipolar brush cells no sagui (SPATZ, 2000). No estudo
proposto por Baizer e colaboradores (2014), não foram observados os perfis que se
assemelham às cartwheels cells nas seções imunorreativas a CB em humanos. Foi
verificado as células de Purkinje no ser humano, sugerindo que há expressão CB e
que os métodos são suficientes para detectá-la. Em contraste, muitos neurônios
imunorreativos a CB foram observados várias vezes nas camadas mais externas do
DC, sendo encontrados em todas as outras espécies. Alguns ou todos esses
neurônios provavelmente correspondem às cartwheels cells. Em A. planirostris a
imunorreatividade para CB, foi encontrada muito bem marcada nas camadas mais
externas do DC, prioritariamente na camada molecular, sendo assim classificada
como células pequenas e granulares, como as cartwheels cells.
50
Em estudos realizados com rato, a expressão de CR foi observada em corpos
celulares dispersos nas camadas fusiforme e profunda do DC (ARAI et al., 1991,
FLORIS et al., 1994; SPATZ, 2000; MANOHAR et al., 2012). Em humano, os
processos marcados com CR funcionam ao longo do DC na camada mais externa,
molecular. O padrão de imunomarcação para CR variou entre as outras espécies.
No gato, muito poucos corpos celulares são marcados, enquanto que em ratos e
cobaias existem muitos corpos celulares dispersos. Na chinchila, CR está presente
em uma ampla faixa de células abaixo da camada molecular, precisamente na
camada fusiforme (CHUNG et al., 2009; BAIZER et al., 2014). Analisando os
achados é possível observar que o nosso modelo experimental apresenta padrão de
imunomarcação para CR semelhante ao encontrado em rato e em chinchila.
Os resultados encontrados em relação a distribuição de PV são
inconsistentes entre as espécies. Celio (1990) não encontrou PV em corpos
celulares nos CN de rato, embora ele descrevesse axônios e terminais
imunorreativos a PV. Em contraste, Bazwinsky e colaboradores (2008) relataram que
no rato houve a imunorreatividade para PV em todos os neurônios do DC. Já Baizer
e colaboradores (2014) relataram que foram encontradas grandes diferenças entre
as espécies na coloração para PV, onde em seres humanos, o PV também marcou
fibras longas na camada molecular e fusiforme. Em gato, o PV não marcou fibras,
mas corpos celulares espalhados em toda a largura do DC. Em cobaia, corpos de
células fusiformes são imunorreativos a PV. Em chinchila e em rato, há PV nos
corpos celulares na camada molecular. Isto mais uma vez corrobora com os
achados em nossa espécie, trazendo um padrão de distribuição das CaBP similar
aos roedores.
51
6. CONCLUSÃO
Poucos estudos abordam a organização citoarquitetônica e o padrão de
distribuição de proteínas ligantes de cálcio no sistema auditivo de quirópteros. Nosso
estudo é o primeiro realizado em morcego Artibeus planirostris que descreve
características morfométricas e estereológicas. Estes parâmetros nos permitiram
concluir que o CC apresenta duas divisões principais (CN ventral e dorsal)
evidenciadas pela análise com o método de Nissl. As médias de área celular
observadas entre DCDp, DCFu, DCMo, VCA, VCAGr e VCP são significativamente
diferentes entre si, onde os neurônios do VCA e VCP apresentaram as maiores
médias de área celular. O CC apresenta estimativa de volume e comprimento de
1,91 mm³ e 7,2 mm, respectivamente. A interferência da ecolocalização nas
características morfológicas no encéfalo do nosso modelo experimental pode
esclarecer as especificidades neuroquímicas relacionados à distribuição das CaBP.
Contudo, mais estudos morfológicos, comportamentais e fisiológicos são
necessários para elucidar melhor a proximidade anatômica e hipoteticamente
funcional do nosso modelo experimental com os roedores, sobretudo os ratos.
52
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS*
Adams JC. 1986. Neuronal morphology in the human cochlear nucleus. Arch
Otolaryngol Head Neck Surg 112:1253–1261.
Adams JC. 1997. Projections from octopus cells of the posteroventral cochlear
nucleus to the ventral nucleus of the lateral lemniscus in cat and
human. Auditory Neurosci 3:335–350.
Aguirre, LF, Vargas A, Solari S. 2009. Clave de campo para la identificación de
los murciélagos de Bolivia. Cochabamba. Centro de Estudios en
Biología Teórica y Aplicada.
Altringham JD. 1996. Bats: Biology and Behaviour. Oxford: Oxford University
Press.
Andressen C, Blümcke I, Celio MR. 1993. Calcium-binding proteins: selective
markers of nerve cells. Cell and Tissue Research 271:181–208.
Aquino AMCM, Araújo MS. 2002. As vias auditivas: periférica e central. In:
Processamento auditivo – Eletrofisiologia e psicoacústica. São Paulo:
Lovise 17-31.
Arai R, Winsky L, Arai M, Jacobowitz DM. 1991. Immunohistochemical
localization of calretinin in the rat hindbrain. J Comp Neurol 310:21–44.
Arif SH. 2009. A Ca (2+)-binding protein with numerous roles and uses:
parvalbumin in molecular biology and physiology. BioEssays 31:410–
21.
Baizer JS., Wong KM, Paolone NA, Weinstock N, Salvi RJ, Manohar S, Hof PR.
2014. Laminar and neurochemical organization of the dorsal cochlear
nucleus of the human, monkey, cat, and rodents. The Anatomical
Record 10: 1865-1884.
Baker RJ, Bininda-Emonds ORP, Mantilla-Meluk H, Porter CA, Van den Bussche
RA. 2012. Molecular time scale of diversification of feeding strategy and
morphology in New World Leaf-Nosed Bats (Phyllostomidae): a
* De acordo com as normas da revista The Journal of Comparative Neurology.
53
phylogenetic perspective. In: Gunnell GF, Simmons NB, editor.
Evolutionary History of Bats: Fossils, Molecules, and Morphology.
Cambridge: Cambridge University Press. p. 385-409.
Barquez RM, Mares MA, Braun JK. 1999. The Bats of Argentina. Lubbock,
Special Publications of the Museum of Texas Tech University Number
42.
Bazwinsky I, Hartig W, Rubsamen R. 2008. Characterization of cochlear nucleus
principal cells of Meriones unguiculatus and Monodelphis domestica by
use of calcium-binding protein immunolabeling. J Chem Neuroanat
35:158–174.
Bhatnagar KP. 2008. The brain of the common vampire bat, Desmodus rotundus
murinus (Wagner, 1840): a cytoarchitectural atlas. Brazilian Journal of
Biology, 68(3), 583-599.
Bourk TR, Mielcarz JP, Norris BE. 1981. Tonotopic organization of the
anteroventral cochlear nucleus of the cat. Hear 4:215–241.
Braunewell KH, Gundelfinger ED. 1999. Intracellular neuronal calcium sensor
proteins: a family of EF-hand calcium-binding proteins in search of a
function. Cell and Tissue Research 295:1–12.
Butler BE, Lomber SG. 2013. Functional and structural changes throughout the
auditory system following congenital and early-onset deafness:
implications for hearing restoration. Frontiers in systems neuroscience.
Caspary DM, Ling L, Turner JG, Hughes LF. 2008. Inhibitory neurotransmission,
plasticity and aging in the mammalian central auditory system. Journal
of Experimental Biology 11:1781-1791.
Celio MR. 1990. Calbindin D-28k and parvalbumin in the rat nervous system.
Neuroscience 35:375–475.
54
Chung S-H, Marzban H, Watanabe M, Hawkes R. 2009. Phospholipase Cbeta4
expression identifies a novel subset of unipolar brush cells in the adult
mouse cerebellum. Cerebellum 8:267–276.
Datzmann T, von Helversen O, Mayer F. 2010. Evolution of nectarivory in
phyllostomid bats (Phyllostomidae Gray, 1825, Chiroptera:
Mammalia). BMC Evolutionary Biology, 1:165.
Davletov BA, Sudhof TC. 1993. A single C2 Domain from synaptotagmin-I is
sufficient for high affinity Ca2+/phospholipid binding. Journal of
Biological Chemistry 268:26386–26390.
Dewey CW. 2006. Neurologia de cães e gatos-Guia prático. Editora Roca.
Disterhoft JF, Perkins RE, Evans S. 1980. Neuronal morphology of the rabbit
cochlear nucleus. J Comp Neurol 192:687–702.
Dublin WB. 1976. Fundamentals of sensorineural auditory pathology. Thomas.
Dyce KM, Wensing CJG, Sack WO. 2004. Tratado de anatomia veterinária.
Elsevier Brasil.
Feng AS, Vater M. 1985. Functional organization of the cochlear nucleus of
rufous horseshoe bats (Rhinolophus rouxi): frequencies and internal
connections are arranged in slabs. J Comp Neurol 235:529–553.
Fenton MB. 1992. Bats. New York: Facts on File. Inc (265).
Féres MCL, Cairasco NG. 2003. Descrição anatômica da presença do íon zinco
nos núcleos cocleares. Rev Bras Otorrinolaringol 2:208-13.
Fernández VL, Bernardini M. 2010. Neurologia em cães e gatos. São Paulo:
MedVet.
Fleckeisen CE, Harrison RV, Mount RJ. 1991. Cytoarchitecture of cochlear
nucleus in the chinchilla. Acta Otolaryngol Suppl 489: 12–22.
55
Floris A, Diño M, Jacobowitz DM, Mugnaini E. 1994. The unipolar brush cells of
the rat cerebellar cortex and cochlear nucleus are calretinin-positive: a
study by light and electron microscopic immunocytochemistry. Anat
Embryol 189:495–520.
Frandson RD. 1979. Anatomia e fisiologia dos animais domésticos. Guanabara
Koogan.
Frisina RD, Zettel ML, Kelley PE, Walton JP. 1995. Distribution of calbindin D-28k
immunoreactivity in the cochlear nucleus of the young adult chinchilla.
Hear Res 85:53–68.
Fuse G. 1913. Das Ganglion ventrale und das Tuberculum acusticum bei einigen
Säugern und beim Menschen; Die Randgebiete des Pons und des
Mittelhirns. JF Bergmann 7:1–210.
Gerke V, Creutz CE, Moss SE. 2005. Annexins: linking Ca2+ signalling to
membrane dynamics. Nature Reviews Molecular Cell Biology 6:449–
461.
Getty R. 1986. Sisson/Grossman anatomia dos animais domésticos. Vol. 2. Rio
de janeiro. Koogan.
Glendenning KK, Masterton RB. 1998. Comparative morphometry of mammalian
central auditory systems: variation in nuclei and form of the ascending
system. Brain, behavior and evolution 51:59-89.
Gundersen HJG, Jensen EBV, Kieu K, Nielsen J. 1999. The efficiency of
systematic sampling in stereology—reconsidered. Journal of
microscopy 3:199-211.
Hackney CM, Osen KK, Kolston J. 1990. Anatomy of the cochlear nuclear
complex of guinea pig. Anat Embryol 182:123–149.
Hall JG, Lindeman HH, Mathisen H. 1974. The cochlea and the cochlear nuclei in
the seals Cystrophora cristata and Phocida groenlandica. Neurobiology
4:105-115.
56
Haynes MA, Lee Jr TE. 2004. Artibeus obscurus. Mammalian species 752:1-5.
Heiman‐Patterson TD, Strominger NL. 1985. Morphological changes in the
cochlear nuclear complex in primate phylogeny and
development. Journal of morphology 3:289-306.
Heizmann CW, Hunziker W. 1991. Intracellular calcium-binding proteins: more
sites than insights. Trends in Biochemical Sciences 16:98–103.
Henkel CK. 2006. Sistema Auditivo. In: HAINES, D. E. Neurociência Fundamental
para Aplicações Básicas e Clínicas. Elsevier 3:391-408
Hof PR, Glezer II, Condé F, Flagg RA, Rubin MB, Nimchinsky EA, Weisenhorn
DMV. 1999. Cellular distribution of the calcium-binding proteins
parvalbumin, calbindin, and calretinin in the neocortex of mammals:
phylogenetic and developmental patterns. Journal of chemical
neuroanatomy 16:77-116.
Hollis L. 2005. Artibeus planirostris. Mammalian Species 775:1-6.
Howard CV, Reed MG. 2010. Unbiased Stereology. Three-Dimensional
Measurement in Microscopy. Liverpool, QTP Publications 39–56.
Hudspeth AJ. 2000. Sensory transduction in the ear. In: Kandel ER, Schwartz JH,
Jessel TM, editors. Principles of neural science. New York: Mcgraw-Hill
p 614-624.
Jacobowitz DM, Winsky L. 1991. Immunocytochemical localization of calretinin in
the forebrain of the rat. The Journal of Comparative Neurology
304:198–218.
Jones G, Teeling EC. 2006. The evolution of echolocation in bats. Trends in
Ecology & Evolution 3:149-156.
Kaltenbach JA, Lazor J. 1991. Tonotopic maps obtained from the surface of the
dorsal cochlear nucleus of the hamster and rat. Hear. Res 51:149–160.
57
Komune N, Yagmurlu K, Matsuo S, Miki K, Abe H, Rhoton Jr AL. 2015. Auditory
brainstem implantation: anatomy and approaches. Operative
Neurosurgery 2:306-321.
Kunz TH, Lumsden LF. 2003. Ecology of cavity and foliage roosting bats. In:
Kunz, T.H., Fenton, M.B., Bat Ecology. Chicago and London. The
University of Chicago 3-89.
Lent R. 2010. Os Sons do Mundo, Estrutura e Função do Sistema Auditivo. In:
Cem Bilhões de Neurônios? Conceitos Fundamentais de Neurociência.
2 ed. Atheneu 265-295.
Liebich HG, König HE. 2011. Órgão Vestibulococlear. In: Anatomia dos Animais
Domésticos. 4 ed. Artmed 613-628.
Lim BK, Engstrom MD, Lee TE, Patton JC, Bickham JW. 2004. Molecular
differentiation of large species of fruit-eating bats (Artibeus) and
phylogenetic relationships based on the cytochrome b gene. Acta
Chiropterologica 1:1–12.
Luo F, Wang Q, Farid N, Liu X, Yan J. 2009. Three-dimensional tonotopic
organization of the C57 mouse cochlear nucleus. Hearing research
1:75-82.
Machado SF. 2003. Processamento auditivo: uma nova abordagem. São Paulo:
Plexus 36-47.
Malkemper EP, Oelschläger H, Huggenberger S. 2012. The dolphin cochlear
nucleus: Topography, histology and functional implications. Journal of
morphology 273:173-185.
Manohar S, Paolone NA, Bleichfeld M, Hayes SH, Salvi RJ, Baizer JS. 2012.
Expression of doublecortin, a neuronal migration protein, in unipolar
brush cells of the vestibulocerebellum and dorsal cochlear nucleus of
the adult rat. Neuroscience 202:169–183.
58
Marques-Aguiar SA. 1994. A systematic review of the large species of Artibeus
Leach, 1821 (Mammalia: Chiroptera), with some phylogenetic
inferences. Boletim Do Museu Paraense Emílio Goeldi, Zoologia 1:3–
83.
Miranda JMD, Bernardi IP, Passos FC. 2011. Chave ilustrada para determinação
dos morcegos da Região Sul do Brasil. Curitiba: João MD Miranda.
Moore JK, Osen KK, Storm-Mathisen J, Ottersen OP. 1996. gamma-Aminobutyric
acid and glycine in the baboon cochlear nuclei: an immunocytochemical
colocalization study with reference to interspecies differences in
inhibitory systems. J Comp Neurol 369:497–519.
Moore JK, Osen KK. 1979. The cochlear nuclei in man. Am. J. of Anat 154:393–
418.
Moore JK. 1980. The primary cochlear nuclei: loss of lamination as a phylogenetic
process. J. Comp. Neurol 193:609–629.
Moskowitz N. 1969. Comparative aspects of some features of the central auditory
system of primates. Ann. N.Y. Acad. Sci 167:357–369.
Moyes CD, Schulte PM. 2010. Princípios da Fisiologia Animal. 2 ed. Artmed:
Porto Alegre 268-280.
Neuweiler, G. 2000. The Biology of Bats. Oxford, Oxford University Press.
Osen KK. 1969. Cytoarchitecture of the cochlear nuclei in the cat. J Comp Neurol
136:453–484.
Paxinos G, Watson, C. 2007. The Rat Brain in Stereotaxic Coordinates (6th ed).
San Diego: Academic Press. Record. Science, 307:580-584.
Redondo RAF, Brina LPS, Silva RF, Ditchfield AD, Santos FR. 2008. Molecular
systematics of the genus Artibeus (Chiroptera: Phyllostomidae).
Molecular Phylogenetics and Evolution 49:44–58.
59
Reis NR, Fregonezi MN, Peracchi AL, Shibatta OA. 2013. Morcegos do Brasil –
Guia de Campo. Rio de Janeiro, Technical Books.
Rhode WS, Roth GL, Recio-spinoso A. 2010. Response properties of cochlear
nucleus neurons in monkeys. Hearing research 1:1-15.
Rogers JH. 1987. Calretinin: a gene for a novel calcium-binding protein
expressed principally in neurons. The Journal of Cell Biology 105:1343–
1353.
Rubio ME, Gudsnuk KA, Smith Y, Ryugo DK. 2008. Revealing the molecular layer
of the primate dorsal cochlear nucleus. Neuroscience 154:99–113.
Ryugo DK, Pongstaporn T, Wright DD, Sharp AH. 1995. Inositol 1,4,5-
trisphosphate receptors: immunocytochemical localization in the dorsal
cochlear nucleus. J Comp Neurol 358:102–118.
Ryulgo DK, Parks TN. 2003. Primary innervation of the avian and mammalian
cochlear nucleus. Brain research bulletin 5:435-456.
Ryulgo DK, Willard FH, Fekete DM. 1981. Differential afferent projections to the
inferior colliculus from the cochlear nucleus in the albino mouse. Brain
research 1:342-349.
Schnitzler HU, Kalko EKV. 2001. Echolocalization by insect-eating in bats. Biosci
51: 557- 569.
Schulmeyer FJ, Adams JC, Oelschläger HH. 2000. Specialized sound reception
in dolphins—A hint for the function of the dorsal cochlear nucleus in
mammals. Historical Biology 14:53-56.
Schwaller B. 2010. Cytosolic Ca 2+ Buffers. Cold Spring Harb Perspect Biol 2:1–
20.
Silva ACR, Reinach FC. 1991. Calcium binding induces conformational changes
in muscle regulatory proteins. Trends in biochemical sciences 16:53-57.
60
Simmons NB, Geisler JH. 1998. Phylogenetic relationships of Icaronycteris,
Archaeonycteris, Hassianycteris, and Palaeochiropteryx to extant bat
lineages, with comments on the evolution of echolocation and foraging
strategies in Microchiroptera. Bulletin of the American Museum of
Natural History, 235: 1-182.
Simmons NB, Voss RS. 1998. The mammals of Paracou, French Guiana: a
Neotropical lowland rainforest fauna - Part 1: Bats. Bulletin of the
American Museum of Natural History 237:1–219.
Simmons NB. 1994. The case for chiropteran monophyly. American Museum
Novitates 3103:1-54.
Simmons NB. 1998. A reappraisal of interfamilial relationships of bats. Pp. 3-26.
In: T.H. Kunz & P.A. Racey (Eds.). Bat Biology and Conservation.
Washington Smithsonian Institution Press.
Skelton NJ, Kördel J, Akke M, Forsén S, Chazin WJ. 1994. Signal transduction
versus buffering activity in Ca2+–binding proteins. Nature Structural and
Molecular Biology 1:239.
Snell RS. 2003. Os núcleos dos nervos cranianos, suas conexões centrais e
distribuição. Neuroanatomia clínica para estudantes de medicina.
Guanabara 194-202.
Spatz WB. 1997. Differences between guinea pig and rat in the dorsal cochlear
nucleus: expression of calcium-binding proteins by cartwheel and
Purkinje-like cells. Hear Res 107:136–146.
Spatz WB. 2000. Unipolar brush cells in marmoset cerebellum and cochlear
nuclei express calbindin. Neuroreport 11:1–4.
Spatz WB. 2003. Purkinje-like cells in the cochlear nucleus of the common tree
shrew (Tupaia glis) identified by calbindin immunohistochemistry. Brain
Res 983:230–232.
61
Strain GM, Myers LJ. 2006. Audição e equilíbrio. In: Reece W. Dukes Fisiologia
dos animais domésticos I. 12 ed. Guanabara Koogan: Rio de Janeiro.
Teeling EC, Dool S, Springer MS. 2012. Phylogenies, fossils and functional
genes: The evolution of echolocation in bats, p. 1-21. In: Gunnell, G.F.
& N.B. Simmons (Eds.). Evolutionary History of Bats: Fossils,
Molecules, and Morphology. Cambridge, Cambridge University Press.
Teeling EC, Springer MS, Madsen O, Bates P, O’Brien SJ, Murphy WJ. 2005. A
Molecular Phylogeny for Bats Illuminates Biogeography and the Fossil.
Teeling EC. 2009. Hear: the convergent evolution of echolocation in bats? Trends
in Ecology & Evolution 7:351-354.
Typlt M, Englitz B, Sonntag M, Dehmel S, Kopp-Scheinpflug C, Ruebsamen R.
2012. Multidimensional characterization and differentiation of neurons in
the anteroventral cochlear nucleus. PLoS One, 1:e29965.
Van Den Bussche RA, Hoofer SR. 2004. Phylogenetic relationships among recent
Chiropteran families and the importance of Choosing appropriate out-
group taxa. J Mammal 2:321 – 330.
Van Den Bussche RA, Hudgeons JL, Baker RJ. 1998. Phylogenetic accuracy,
stability, and congruence: relationships within and among the New
World bat genera Artibeus, Dermanura and Koopmania. In T. H. Kunz &
P. A. Racey (Eds.), Bat Biology and Conservation 85:43–58.
Willott JF, Demuth RM, Lu SM, Van Bergem P. 1982. Abnormal tonotopic
organization in the ventral cochlear nucleus of the hearing-impaired
DBA/2 mouse. Neurosci Lett 34: 13–17.
Wouterlood FG, Mugnaini E, Osen KK, Dahl AL. 1984. Stellate neurons in rat
dorsal cochlear nucleus studies with combined Golgi impregnation and
electron microscopy: synaptic connections and mutual coupling by gap
junctions. J Neurocytol 13:639–664.
62
Yajima Y, Hayashi Y. 1989. Response properties and tonotopical organization in
the dorsal cochlear nucleus in rats. Exp Brain Res 75:381–389.
Yáñez M, Gil-Longo J, Campos-Toimil M. 2012. Calcium Binding Proteins. In:
ISLAM, M. S. (Ed.). Calcium Signaling. [s.l.] Springer Netherlands 461–
482.
Zettel ML, Carr CE, O’Neill WE. 1991. Calbindin-like immunoreactivity in the
central auditory system of the mustached bat, Pteronotus parnelli. J
Comp Neurol 313:1–16.
Zhang J, Guan Z. 2008. Modulatory effects of somatosensory electrical
stimulation on neural activity of the dorsal cochlear nucleus of
hamsters. J Neurosci Res 86:1178–1187.
Zook JM, Casseday JH. 1982. Cytoarchitecture of auditory system in lower
brainstem of the mustache bat, Pteronotus parnellii. J Comp Neurol
207:1–13.
Zortéa, M. 2007. Subfamília Stenodermatinae, p. 107-128. In: Reis, N.R.,
Peracchi, A.L., Pedro, W.A., Lima, I.P. (Eds). Morcegos do Brasil.
Londrina, Nelio R. dos Reis.
63
ANEXO