Abrente nº 50

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Vozeiro de Primeira Linha www.primeiralinha.org Ano XIII • Nº 50 • Segunda jeira • Outubro, Novembro e Dezembro de 2008 Jornal comunista de debate e formaçom ideológica para promover a Independência Nacional e a Revoluçom Socialista galega Sumário 3 30 anos de conflito lingüístico na imprensa independentista galega Maurício Castro 4 Parlamentarismo e via insurreccional Carlos Morais Conformismo e rebeldia juvenil Daniel Lourenço Mirom 5 Derrotismo e marasmo. Males da classe operária do centro capitalista? Alberte Moço Quintela A crise económica no sindicalismo galego Berta Lopes Permui 6 Umha Espanha de esquerda é possível? André Seoane Antelo 7 Compromisso com quê? Compromisso com quem? Igor Lugris Galiza: Um país com nome próprio Ramiro Vidal Alvarinho 8 Marxismo académico e marxismo militante Michael Löwy A alternativa comunista ao caos sistémico da economia de mercado Georges Labica 9 O marxismo a exame Iñaki Gil de San Vicente Ler Marx para a Galiza Domingos Antom Garcia Fernandes 10 Gütenberg ao serviço da esquerda independentista galega Noa Rios Bergantinhos 11 Umha dissidência exemplar Ana Barradas 12 Voltou o caimám! Umha foto da Itália de Berlusconi Marco Santopadre Assistimos a umha nova guerra fria? Carlos Taibo 13 Grandes desafios frente a umha grande crise Narciso Isa Conde Equador: Um povo em constante luita à procura da mudança revolucionária Grupos de Combatentes Populares 16 Galiza em tinta vermelha Mais vigente mais necessário que nunca

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Publicaçom da organizaçom comunista e independentista galega Primeira Linha, correspondente aos meses de Outubro, Novembro e Dezembro de 2008

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Vozeiro de Primeira Linha www.primeiralinha.org Ano XIII • Nº 50 • Segunda jeira • Outubro, Novembro e Dezembro de 2008

Jornal comunista de debate e formaçom ideológica para promover a Independência Nacional e a Revoluçom Socialista galega

Sumário3 30 anos de conflito

lingüístico na imprensa independentista galega

Maurício Castro4 Parlamentarismo e via

insurreccionalCarlos Morais

Conformismo e rebeldia juvenil

Daniel Lourenço Mirom5 Derrotismo e marasmo.

Males da classe operária do centro capitalista?Alberte Moço Quintela

A crise económica no sindicalismo galego

Berta Lopes Permui6 Umha Espanha de esquerda

é possível?André Seoane Antelo

7 Compromisso com quê? Compromisso com quem?

Igor LugrisGaliza: Um país com nome

próprioRamiro Vidal Alvarinho

8 Marxismo académico e marxismo militante

Michael LöwyA alternativa comunista ao

caos sistémico da economia de mercado

Georges Labica9 O marxismo a exame

Iñaki Gil de San VicenteLer Marx para a Galiza

Domingos Antom Garcia Fernandes10 Gütenberg ao serviço da

esquerda independentista galega

Noa Rios Bergantinhos11 Umha dissidência

exemplarAna Barradas

12 Voltou o caimám! Umha foto da Itália de Berlusconi

Marco SantopadreAssistimos a umha nova

guerra fria?Carlos Taibo

13 Grandes desafios frente a umha grande crise

Narciso Isa CondeEquador: Um povo em

constante luita à procura da mudança revolucionária

Grupos de Combatentes Populares16 Galiza em tinta vermelha

Mais vigentemais necessário

que nunca

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Nº 50. Outubro, Novembro e Dezembro de 20082

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Editorial

Quiroga Palácios, 42 (rés-do-chao)15703 Compostela-Galiza

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Contrariamente ao que nos quigérom e continuam a querer fazer acreditar os apologetas das injustiças, a guerra, a dor e o sofrimento, as propostas de Karl Marx nom só tenhem plena actualidade, como som imprescindíveis para evitar a catás-trofe a que nos conduz o capitalismo.

As teses e o método marxista de análi-se e transformaçom da realidade continua a ser a única via factível para combater a exploraçom da força de trabalho, o im-perialismo e a opressom de género. Mas nom só é a melhor ferramenta para fazer frente à exploraçom e a toda forma de do-minaçom: tendo contribuído para explicar e entender as nossas derrotas e reveses, tem-nos permitido ensaiar e construir a alternativa a actual caos sistémico. Tem clarificado que no século XXI, como no XIX, é Revoluçom comunista é a única via real, frente aos aparentemente mais fá-ceis, mas falsos atalhos, para atingir essa sociedade sem classes.

Perante esta nova grande crise inter-na que convulsiona o cerne do Capital em escala internacional, a classe trabalhado-ra, os povos oprimidos como o galego, e as mulheres, devemos dificultar e impos-sibilitar, com todos os meios que puder-mos, umha nova reciclagem do modo de produçom mais brutal da história da hu-manidade.

A burguesia, mediante os enormes instrumentos de controlo e desinforma-çom social que possui, pretende fazer-nos acreditar que as suas dificuldades devem ser pagas por nós, tal como aconteceu em outras crises precedentes. Para lograr este objectivo, contam com o apoio incon-dicional do reformismo, que colabora sem escrúpulos na hora de confundir e desmobi-lizar a luita popular. BNG e o espanholismo “de esquerda”, aparentando questionar a economia de mercado, reproduzem o neoli-beralismo ali onde tenhem responsabilida-des de gestom. Junta de Galiza e Cámaras Municipais som exemplos claros.

Nom podemos depositar a mais míni-ma confiança nas duas caras da mesma moeda. PP/PSOE-BNG aqui, ou Obama/McCain no centro do imperialismo, sim-plesmente representam o mesmo. Som o passado, a forma dura ou aggiornada de idêntico modelo e projecto excludente, em pleno declínio. Nom podemos continuar a alimentar esperanças entre escolher o mau ou o menos mau. Há que optar polo novo, por umha alternativa verdadeiramente rupturista que resista, combata e simulta-neamente construa. Sem mais limites na hora de intervir que nom se afastar mais do necessário das reivindicaçons e do grau médio de consciência popular. Sempre por diante das massas, mas sempre com elas.

Tampouco podemos alimentar o feti-chismo parlamentar, acreditar que as cou-sas vam mudar polos resultados eleitorais da vindoura Primavera; embora nom de-vamos desprezar que a representaçom da classe operária galega no parlamentinho de cartom provocaria umha mudança qua-litativa na orientaçom das luitas, na moral de luita popular.

Perante a fraqueza, divisom e fragmen-taçom que lamentavelmente padecem os instrumentos defensivos operários, da na-çom e das mulheres galegas, nom só temos que favorecer aproximaçons e encontros políticos e ideológicos, temos que coincidir nas ruas, nas fábricas, centros de ensino e trabalho, participando nos combates di-ários, aprofundando na sua radicalidade e combatividade, buscando a hegemonia das esquerdas revolucionárias independentis-tas frente à capitulaçom do reformismo.

O futuro vai ser difícil, de sofrimen-tos e dor, mas também vai ser luminoso porque grandes luitas som já visíveis no horizonte. A rebeliom é umha necessida-de impostergável. A subversom um dever revolucionário. E ali estaremos convosco golpeando sem parar levantando a bandei-ra vermelha da nossa emancipaçom.

É pois o momento de luitar, de nom cair na inaniçom, de descartar atitudes contem-plativas, de se armar de coragem para de-fender o que nos pertence, o que é nosso, o que tantos sacrifícios e esforços custou a atingir. O que agora fica em perigo pola

voracidade capitalista que, perante a sua grave ferida, pretende que sejamos nós, @s excluíd@s da terra, @s que levamos séculos a derramar suor, lágrimas e san-gue, a pagarmos a sua crise. Com lamen-tos e resignaçom, com atitudes vacilantes,

com cobardias e oportunismos, estamos simplesmente condenados a padecer umha nova derrota saldada num novo retrocesso nas conquistas sociais e laborais que pau-latinamente vimos perdendo.

Cervantes, 5 baixo VIGO

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3Nº 50. Outubro, Novembro e Dezembro de 2008

As limitaçons de espaço impedem-nos mergulhar numha descriçom e análise a fundo de um tema como o apontado no título, que devia estender-se aos textos estatutários, congressuais e outros documentos par-tidários. Conformaremo-nos com apresentar alguns traços definitórios da maneira como o processo de substituiçom lingüística em curso na Galiza tem apa-recido reflectido na imprensa das organizaçons políti-cas independentistas nos últimos 30 anos.

Partimos de umha leitura das principais publica-çons periódicas partidárias desde 1977, pertencentes às organizaçons UPG-lp, PGP, Galicia Ceibe (oln), Galiza Ceive (oln), PCLN, FPG, APU, PL e NÓS-UP, bem como à de colectivos políticos nom estritamente par-tidários como XUGA/JUGA ou AMI, comarcais como Iskreiro da Corunha e A Faísca de Ferrol, ou de colec-tivos como o cindido da primeira Galicia Ceibe em 84 e que mantivo a publicaçom de Espiral até 1986.

Haverá que começar por reconhecer o maior in-vestimento do nacionalismo ligado ao BNG durante os anos 70 e 80 na teorizaçom sobre o tema, sem que o independentismo conseguisse marcar um caminho próprio até que, com a imposiçom do isolacionismo como doutrina oficial, se produziu um avanço qualita-tivo e prático das posiçons teóricas reintegracionis-tas.

Com efeito, a UPG-linha proletária e a sua conti-nuaçom orgánica, o Partido Galego do Proletariado, nos respectivos meios de expressom (Terra e Tempo e Sempre en Galicia), denunciam nas suas páginas a imposiçom do espanhol na Constituiçom de 78, mas nom abordam a problemática social do idioma de maneira sistemática nem monográfica, centrando-se nos temas ‘clássicos’ das publicaçons comunistas da época e na crítica à linha política maioritária do na-cionalismo.

Pode-se falar, perante a escassa produçom pró-pria, de um certo seguidismo em relaçom aos teóricos da corrente representada pola UPG em aqueles anos, na descriçom da situaçom sociolingüística e nas alter-nativas programáticas, enquanto na prática se coin-cidia também na denúncia da repressom lingüística e na reivindicaçom da cooficialidade para avançar na superaçom da diglossia social imperante.

A questom da unidade lingüística galego-portu-guesa ganha actualidade no fim dos anos 70 e inícios dos 80. Se inicialmente parece que a orientaçom ofi-cial da nova Junta da Galiza será reintegracionista, mercê do labor de Ricardo Carvalho Calero à frente da Comissom nomeada para propor um padrom escrito (1980), a proposta é finalmente rejeitada em favor da representada polo isolacionismo do ILG.

Após um debate estreito e condicionado pola curta visom partidista da UPG, o nacionalismo opta maioritariamente polo chamado reintegracionismo ‘de mínimos’, recolhido nas “Orientacións para a es-crita do nosso idioma” da ASPG em 1982 e consagra-do nas páginas de Terra e Tempo nesse mesmo ano. Com bom critério, também a Lei de Normalizaçom Lingüística é rejeitada pola maioria do nacionalismo.

Por seu turno, Espiral, a publicaçom independen-tista estreada nesse mesmo ano e ligada a Galicia Ceibe (oln), só denuncia o “retrocesso” do uso pú-blico do galego, responsabilizando a política oficial e “a traiçom de muitos intelectuais”, entre os quais cita Domingo Garcia-Sabell, Xesús Alonso Montero ou Ramón Pinheiro, “cérebro de Realidade Galega”, o grupo de intelectuais galeguistas integrados no nas-cente projecto autonomista naqueles anos.

Contodo, o espaço dedicado de maneira central ao conflito lingüístico nos seis números da primeira etapa dessa publicaçom é reduzido. Também nos tre-ze números seguintes da segunda época, a cargo do grupo cindido de Galicia Ceibe (oln), há pouca reflexom sobre o idioma em relaçom a outros temas da actua-lidade sociopolítica, com poucas excepçons, como um artigo dedicado à situaçom no Berzo e incluído algum artigo escrito com a ortografia reintegrada.

Será em 1984 quando, após a cisom, a nova Galiza Ceive (oln) dê o passo de situar o independentismo em parámetros reintegracionistas, no número 2 da sua nova publicaçom. Estamos perante um posicionamen-

aNÁliSE

blicaçom nacional, alternou os mínimos e os máximos em publicaçons comarcais como A Faísca, de Ferrol. Porém, o uso do padrom reintegrado foi in crescen-do e foi a única norma usada polo ilegal EGPGC entre 1986 e 1991, pola APU entre 1989 e 1995, e pola sua organizaçom juvenil, a AMI, até hoje. A nova geraçom independentista que surgiu após a derrota do projec-to político-militar da referida organizaçom armada mantivo maioritariamente essa orientaçom ou evo-luiu nessa direcçom, o que fica patente no caso de Primeira Linha, surgida em 1996 no interior do BNG e cujo meio de expressom, Abrente, passa do uso dos mínimos nos primeiros 10 números, à assunçom do padrom reintegracionista nos 40 seguintes, até hoje.

Paralelamente, essa nova geraçom de indepen-dentistas irá construindo um discurso e umhas práti-cas próprias no referente à política lingüística: o re-conhecimento da nova fase do processo substitutivo, com a extensom do espanhol como língua maioritária das pessoas mais novas, requer novas respostas, como a recuperaçom do tensionamento social na rei-vindicaçom lingüística, a construçom de espaços de socializaçom monolíngüe, concretizada nos centros sociais, e com umha aposta firme na prática reinte-gracionista, incluído o relacionamento com a lusofo-nia, nunca antes tam estendida como nestes anos.

Um outro sinal de identidade em que o indepen-dentismo inovou, na teoria e na prática, frente à passi-vidade do BNG, foi a inclusom dos territórios do leste da autonomia num projecto integrador que faga do idioma o cerne da identidade e da construçom nacional.

As publicaçons da AMI (Terra Livre), Primeira Linha (Abrente) e NÓS-Unidade Popular (Voz Própria) contenhem referências teóricas fundamentais para perceber a última década de teorizaçom e interven-çom independentista em matéria lingüística, enquanto a corrente independentista surgida nos últimos tem-pos de umha nova cisom da UPG –o Movimento pola Base– assume também nos seus documentos a uni-dade lingüística.

Quanto ao outro ramo do soberanismo, em que confluírom os velhos promotores de Espiral e o que ainda ficava da FPG primigénia, a publicaçom irregu-lar de boletins que recuperam o cabeçalho histórico de Espiral reflecte nas suas páginas o isolacionismo que alguns intelectuais conseguírom transmitir à nova FPG. Umha estranha identificaçom com a teorizaçom autonomista na matéria, que nom só bate com a visom nacionalista e independentista, mas com as concep-çons maioritárias do chamado galeguismo histórico desde, polo menos, o século XIX.

Maurício Castro é Porta-voz nacional de NÓS-UP

30 anos de conflito lingüístico na imprensa independentista galega

Mau

rício

Cas

tro

Capa do número 2 da publicaçom de Galiza Ceive (OLN)

Compostela, inícios da década de noventa

to que marcará definitivamente a evoluçom posterior do independentismo, que, com excepçom do colectivo ligado a Espiral a das entidades da sua influência, fará do reintegracionismo militante um ingrediente funda-mental.

É verdade que nom todo o independentismo foi, a partir daí, sempre reintegracionista. O PCLN reivindi-cou a unidade lingüística mas só utilizou os mínimos na sua única publicaçom partidária, aparecida no 1º de Maio de 1988. A primeira FPG, que nunca tivo pu-

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Nº 50. Outubro, Novembro e Dezembro de 20084

A incorporaçom da classe operária como sujeito histórico, na política hege-monizada pola emergente burguesia e os esmorecentes velhos estamentos sociais do feudalismo, foi um processo convulso e violento. Desde o início, duas tácticas competírom por transformar a república burguesa parlamentar que Marx tam bem definiu como a mais eficaz forma de do-minaçom política. Parlamentarismo versus via insurreccional –com as suas diversas variantes– provocou desde as primeiras décadas do XIX e todo o século XX gran-des confrontos e portanto divisons entre as fileiras dos párias da terra.

A dilatada experiência de mais de 150 anos de luitas obreiras e populares nom deixa lugar a dúvidas. O excludente e elitista sistema de representaçom bur-guês, a partitocracia, logrou domesticar e fagocitar importantes segmentos do movi-mento obreiro e popular incorporando-o a sua perversa lógica. A patética história dos PCs e dos sindicatos oficiais, mas também de importantes correntes operá-rias combativas, participando e assumin-do acriticamente as adulteradas regras do jogo parlamentar, que justifica e perpetua o capitalismo, está na origem da actual desmobilizaçom e penetraçom da ideolo-gia burguesa no cerne da nossa classe. Os grupos parlamentares da esquerda nom se diferenciam dos da direita.

Porém boa parte das revoltas e revolu-çons europeias –desde a Comuna de Paris até o Abril português, dos levantamentos operários dos alvores do século XX na Centroamérica até os recentes sucessos da Argentina, nom atingírom sucesso. Ou bem fôrom sufocados pola repressom ou bem mudárom de direccçom, adaptando-se na procura da tranquila e bem remune-rada incorporaçom no sistema.

Portanto, isto significa que a Revoluçom, a tomada do poder polas grandes maiorias excluídas aplicando um processo de mudança radical do modo de produçom capitalista, suprimindo a pro-priedade privada, carece a inícios do sécu-lo XXI de viabilidade, e tam só é umha ro-mántica e boa intençom? As superstiçons e os fetichismos impostos polos donos do planeta pretendem que assim seja. Mas os seus desejos implementados com sangue, sofrimento e alienaçom chocam com a tei-mosa realidade.

Vivemos tempos em que a re-beldia semelha cousa do passado, alheia às perspectivas vitais da juventude desta Galiza de 2008. Parece mais própria dos estudos nostálgicos daquele Maio de há quarenta anos, que há uns meses enchêrom livrarias e tertúlias, mas que nada tenhem a ver com a reali-dade de umha juventude atrapada pola abafante pressom do consu-mismo e de umhas condiçons de existência cada vez mais precárias, mas no melhor dos casos entrega-da em compromissos supérfluos inofensivos, descartáveis.

É essa a realidade d@s jo-vens galeg@? Sinceramente, nom o cremos.

Nom negaremos as enormes dificuldades que qualquer projec-to juvenil transformador encontra para assentar e crescer entre a juventude galega deste início de

A inevitabilidade da Revoluçom a que apelam as escolásticas interpretaçons da obra de Marx, partindo da cómoda ina-niçom dos gabinetes e cátedras, tem-se constatado umha falácia que nos conduz a um beco sem saída.

O mesmo que acreditar na possibili-dade de mudar o sistema mediante umha gradual acumulaçom de forças empre-gando a via eleitoral da democracia bur-guesa. Tampouco tem dado resultados a intervençom vanguardista de núcleos mili-tantes que combatem sem a mais mínima ligaçom com as massas.

Nom há modelos pré-determinados,

mas sim princípios gerais revolucioná-rios. Sem organizaçom prévia, combi-nando a interacçom da(s) vanguarda(s) com estruturas amplas de massas, nom é possível converter a resignaçom e o mal-estar em confiança e oposiçom acti-va; a revolta espontánea em revoluçom com direcçom colegiada e legitimada, de clara orientaçom socialista; sem um paciente investimento em formaçom mi-litante, elaboraçom teórica, intervençom social, participaçom nas luitas, enormes doses de sacrifícios, entrega e heroísmo, combinando-as dialéctica e criativamen-te com originalidade, as possibilidades

Parlamentarismo e via insurreccional

Carlo

s M

orai

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Conformismo e rebeldia juvenilDa

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Lou

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o M

irom

de sucesso reduzem-se exponencialmen-te. A revoluçom bolchevique, a chinesa, a cubana, a vietnamita, a nicaraguana, tenhem constatado que a interligaçom destes factores e formas de luita som essenciais para a vitória.

A actual crise do modelo vigorante à escala planetária é mais profunda e séria do que reconhecem os amos do Capital. Querem solucionar com máxima urgên-cia a grave avaria que padece. Sabem que nom tem arranjo estrutural. Agora só pretendem um apanho, ganhar tempo, evitar males maiores. Lamentavelmente o

ciclo histórico que se esgota conta a seu favor com a fraqueza e a fragmentaçom do movimento obreiro e popular. Porém, o aviso é sério, saltárom os alarmes. As convulsons som inevitáveis. A capacidade e habilidade real de cada umha das duas forças em confronto determinará um ou outro resultado. A direcçom que adopte nom está pré-definida: ou umha recom-posiçom, umha reciclagem, umha refun-daçom dos actuais mecanismos de domi-naçom para perpetuar a sua desordem umhas décadas mais, ou entom o início de um processo longo e contraditório no qual umha vaga contínua de luitas impossibilite umha nova mutaçom do capitalismo, avan-çando no imprescindível e vital tránsito para o Socialismo.

A Revoluçom Galega como parte in-trínseca da mundial deve impulsionar a construçom de forças sociais tendentes a atingir a hegemonia popular para a to-mada do poder empregando de forma complemetar e criativa todos, sem excep-çom, os métodos de luita: legais, alegais e ilegais. A via reformista fracassou há décadas. A alternativa insurreccional nom só continua vigente, é a única via factível para transitar com sucesso da cada vez mais próxima descomposiçom do regime de partidos burgueses para umha demo-cracia socialista que solucione as três grandes tarefas do nosso particular pro-cesso: independência nacional, supera-çom da exploraçom da força de trabalho, e plena igualdade de género quebrando as bases do patriarcado.

A subversom do capitalismo –que si-multaneamente, por puro instinto e neces-sidade de sobrevivência, vai experimentar profundas metamorfoses e endurecimen-to– nom vai ser resultado de votos e cam-panhas eleitorais. Para evitarmos o abis-mo a que nos conduz a oligarquia mundial e as suas corruptas sucursais locais, é ne-cessário desenvolver o que Marx, Lenine e o Che nom se cansárom de transmitir nas suas sistemáticas análises: discipli-nada organizaçom comunista para umha luita longa e dura. As espadas tenhem que estar em alto. Chegou a hora de serem de-senbainhadas.

Carlos Morais é secretário-geral de Primeira

Linha

Porém, é inegável a reiterada e destacada participaçom d@s jovens nos sucessivos processos de transformaçons social ao lon-go da história, só comprensível a partir da aceitaçom da existência de umhas condiçons psico-físicas em apogeu que facilmente colidem com a desigualdade, a opressom ou a injustiça, quer dizer, com a ordem social burguesa.

É por isto que a juventude, es-pecialmente @s jovens pertencen-tes à classe trabalhadora, é o prin-cipal alvo da repressom, entendida como o conjunto de instrumentos coercitivos tanto conscientes como subconscientes, destinada a anular a nossa capacidade crítica, envelhecer-nos de forma prematu-ra, para evitar a potencialidade da rebeldia juvenil.

O capitalismo, na procura de mais e maiores benefícios, tem

opiNiom

A luita anticapitalista deve ter a rua como centro de gravidade prioritário

século. Mas responsabilizar por estas dificuldades um misterioso, quase místico, conformismo que de um ano, ou década, para ou-tra tem feito presa n@s jovens é, achamos, suicida.

Para umha correcta compre-ensom destas dificuldades, há pri-meiro que rachar as concepçons idealistas arredor da juventude, que a identificárom, e identificam, como sujeito revolucionário ou principal protagonista da transfor-maçom social. No seio da juventu-de, da galega ou de qualquer outra parte do mundo, latem as mesmas contradiçons que caracterizam a própria sociedade. A pertença a este sector social, definido uni-camente como determinada qua-lidade etária, nom implica umha determinada posiçom na luita de classes, nem identificaçom nacio-nal concreta.

de perspectivas som a realidade de umha mocidade que, além do mais, sofreu um intensivo proces-so de assimilaçom lingüística e cultural, que pom em perigo a pró-

pria sobrevivência da Galiza como naçom.

Esta espectacular deterioraçom das condiçons materiais de existên-cia da juventude trabalhadora na Galiza, está no cerne da explicaçom da acrescentada e aperfeiçoada repressom que sofremos, que o ca-pitalismo logrou interiorizar, tornar insconsciente numha parte impor-tante da mocidade. Repressom taimada, e à vez mais efectiva, que combinada com as medidas mais vi-síveis, e duras, destinadas a punir a juventude consciente e organizada, explicam o envelhecimento prema-turo da mocidade galega, assim como os enormes benefícos que desta situaçom tira o poder adulto.

Se pretendermos revitalizar o movimento juvenil na Galiza a partir de uns parámetros nacio-nais, antipatriarcais e socialistas, é umha obrigaçom luitar contra os efeitos do poder adulto sobre a mocidade. Conquistar independên-cia e capacidade crítica, perante os adultos e o sistema, ganhar auto-organizaçom para atalhar a nossa derrota vital e conhecer, intervir e combater as múltiplas opressons de que somos objecto enquanto jovens pertencentes à classe trabalhadora.

Daniel Lourenço Mirom é membro do

Comité Central de Primeira Linha

endurecido de forma extraordiná-ria as condiçons de existência da juventude galega. Elevadas taxas de exploraçom laboral, precarie-dade, sinistralidade, ausência

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5Nº 50. Outubro, Novembro e Dezembro de 2008 opiNiom

A actual crise mundial do capitalismo está a gerar em cada vez maiores cama-das do Povo Trabalhador a imperiosa ne-cessidade de transformaçons radicais na sociedade. Transformaçons que permitam a melhoria objectiva e subjectiva das suas condiçons de existência. Naturalmente, nem sempre estas novas necessidades virám acompanhadas da tomada de cons-ciência a respeito das mesmas, eis umha das principais tarefas do nosso movimen-to. Porém, mesmo no caso de que esta tomada de consciência chegue a abrolhar, deveremos enfrentar um problema tam velho como a própria acçom política: o derrotismo, o imobilismo, a apatia, o pes-simismo, a desesperança ou como quiger-mos chamá-lo é um mal que padecemos a diário e que em nom poucas ocasions so-mos incapazes de combater com sucesso.

Quando dentro mesmo das nossas organizaçons revolucionárias, onde na teoria está o mais avançado da classe operária, achamos elementos e colectivos que se deixam levar pola derrota, que per-dem toda confiança nas próprias forças e caem na inacçom e na preguiça, é porque na classe de que fazemos parte as cousas nom andam lá muito bem. Efectivamente, se dermos umha olhada às nossas com-panheiras e companheiros de trabalho veremos que a maioria nom moveriam um dedo por reclamar um convénio mais justo; ou se perguntarmos na nossa uni-versidade, a maioria terám pago as suas taxas desorbitadas sem protestarem mais que na cafetaria, por muito que tenham trabalhado no Verao para conseguirem o dinheiro.

Em conjunturas como a actual, de cri-se capitalista e ofensiva aberta contra a classe operária, os patrons fam o impos-sível por infundir frustraçom e medo no

Desde há meses, a crise económica que atravessa o capitalismo e os seus efeitos na vida diária d@s galeg@s rivaliza com os tradicionais temas de conversa que se desenvolvem na rua ou se podem ouvir em cafetarias, bares ou mercados. Embora se careça das ferramentas para umha com-preensom crítica da verdadeira natureza de um fenómeno de que somos testemunhas, e também as suas principais vítimas, a crise hegemoniza as preocupaçons de umha populaçom que intui, com razom, que será quem pagará a enorme factura da irracionalidade do capitalismo.

Os dados oficiais que mês após mês imos conhecendo, somado à percepçom do seu impacto na rápida perda de poder aquisitivo da classe trabalhadora, vam configurando a enorme dimensom e excepcionalidade de umha crise que se começou a gestar há mais de um ano, e que parece vai demorar a tocar fundo.

No Estado espanhol, o papel do governo, partidos políticos do siste-ma, organizaçons empresariais ou meios de informaçom é claro. Combi-nam a perplexidade perante a magnitude da crise e a sua incompetência para lhe fazer frente, com umha mensagem clara dirigida à classe traba-lhadora: é o momento de ter responsabilidade e sentido de Estado, há que arrimar o ombro.

As organizaçons sindicais CCOO e UGT, autênticos lacaios do patro-nato, compreendêrom perfeitamente a mensagem lançada polos centros de poder e renunciárom solenemente, após umha reuniom dos autode-nominados “agentes sociais, a pôr em andamento qualquer iniciativa destinada a questionar a gestom da crise por parte do governo intitulado socialista, de todos os pontos de vista, nefasta para a classe trabalha-dora. Unicamente se atrêverom, numha patética tentativa de polo menos suavizar a, a insunuar sem alçar muito a voz a possibilidadade de mobili-zaçons após serem conhecidos os dados do desemprego, que ameaçam alcançar recordes históricos.

E que há do sindicalismo nacional e de classe representado na CIG? Que devemos esperar da organizaçom melhor preparada, achamos nós, para encabeçar um amplo movimento de massas anticapitalista? Assistire-

subconsciente colectivo. Sabem que umha massa apática, rendida e carente de mo-tivaçom é também umha massa submissa e maleável. E, naturalmente, também sa-bem muito bem que a força subjectiva de um projecto revolucionário radica em boa parte na esperança e na autoconfiança, na certeza de que o próprio projecto nom só é necessário e superior a qualquer outro,

como também alcançável na prática. É por isso que a burguesia sustenta umha inten-sa guerra psicológica para baixar a moral da nossa tropa, por isso reprime bru-talmente a mínima expressom de rebel-dia, por isso droga a juventude, por isso ameaça com o desemprego. Cada vez que compra umha traiçom sindical ou quando dissolve umha manifestaçom ou privatiza

Derrotismo e marasmo. Males da classe operária do centro capitalista?Al

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A crise económica no sindicalismo galego

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um serviço público, cada vez que aperta a corda arredor dos nossos pescoços e nom somos quem de afrouxá-la, a impotência e a frustraçom abrem passagem em algu-mhas consciências.

De qualquer jeito, e apesar da eficácia da classe dominante na hora de reforçar a ideologia do marasmo, nom devemos cair na simplificaçom de que esté é um mal

que unicamente nos vem imposto de fora. Como seres conscientes imersos num uni-verso dialéctico onde a luita de contrários é permanente, o ser humano é individual e coectivamente vulnerável ao imobilis-mo independentemente da sua origem de classe. Nom temos mais que olhar como a burguesia se preocupa constantemente por combater esta tendência entre os seus quadros. Os capitalistas que tenhem inicia-tiva, assumem riscos e vencem obstáculos internos e externos para encetar projectos empresariais, som chamados empreende-dores. A eles entregam subsídios, créditos, formaçom e todo o tipo de facilidades para poderem roubar-nos com sucesso.

Nom é este espaço para umha análise rigorosa sobre esta questom ou outras colin-dantes de similar urgência; sirva este texto apenas como chamado para a reflexom so-bre um aspecto da nossa luita, o subjectivo, o psicológico, que condiciona transversalmen-te o nosso accionar sociopolítico diário e que em muitas ocasions fica desconsiderado.

Alberte Moço Quintela é membro da Direcçom

Nacional de NÓS-UP

mos a umha tentativa real de canalizar o enorme descontentamento popu-lar arredor da crise para enfrentar a miséria a que nos prentende condenar o capital ou a umha campanha ou mobilizaçons de compromisso?

Se tivermos claro qual é o papel de CCOO e UGT, som muitas as incognitas arredor da actuaçom da CIG perante os muitos reptos que a classe trabalhadora enfrentamos e que obrigam a umha intervençom que supere umha visom de tipo economicista, centrada unicamente na resistência nos distintos centros de trabalho.

Os antecedentes nom som bons. Nos últimos anos, a CIG, seqües-trada por umha direcçom empenhada em convertê-la em correia de transmissom do autonomismo, tem renunciado a articular umha ampla resposta popular às agressons patronais, que ameaçam com limitar as conquistas históricas da classe obreira. O último exemplo é bem recente. A campanha contra a Directiva europeia das 65 horas resultou, sendo benevolentes, escassa e limitada. Desconhecemos se a nova campanha contra a crise estrutural do capitalismo seguirá o mesmo esquema, mas a falta de interesse do sector maioritário na direcçom do sindicato e a apatia que evidenciam de um tempo para cá os sectores críticos, obri-gam-nos à desconfiança.

A magnitude da crise é extraordinária e os desafios som enormes. Sa-bemos que a burguesia tratará de equilibrar as suas perdas aumentando as taxas de exploraçom sobre a classe trabalhadora e tentará aproveitar a situaçom criada para abordar a flexibilizaçom do mal chamado mercado laboral. É urgente que @s revolucionári@s reaccionemos de umha vez por todas e nos ponhamos maos à obra para combater o conformismo e a resignaçom que políticos e meios de informaçom pretendem transmitir às classe populares. Neste momento, quando que o capitalismo e a bur-guesia monstram mais as claras as suas nefastas conseqüências, há que empenhar-se em construir com mais força do que nunca a alternativa socialista.

Berta Lopes Permui fai parte do Comité Central de Primeira Linha

Vigo, Novembro de 2008. Mobilizaçom operária

Funcionário do Estado, E. Kordish (1930)

Page 6: Abrente nº 50

Nº 50. Outubro, Novembro e Dezembro de 20086

Todo o mundo sabe que durante os últimos anos estamos a passar por umha fase de readequaçom e rearmamento do nacionalismo espanhol. Umha re-visom do arsenal ideológico que tem como objectivo permitir abordar definitivamente, ou quando menos essa é a intençom, a soluçom do “problema nacional espanhol”.

Como seria esperável, a faceta mais visível desta ofensiva ideológica do espanholismo está a ser levada avante pola versom reciclada da tradicional “caverna espanhola”. Nom é um acaso que seja a emissora ra-diofónica da conferência episcopal o emblema do re-nascer da extrema-direita, no fim de contas a aliança do espanholismo e a Igreja católica vem de velho. Mas nom é este o momento de avaliar qual está a ser a acti-vidade deste sector, embora seja de muito interesse e absolutamente preciso dar atençom ao que mudou na extrema-direita para lhe permitir apresentar umha face renovada e com capacidade de mobilizaçom de massas.

Mas desta vez consideramos ainda mais neces-sário fazer umha breve reflexom sobre outra póla do nacionalismo espanhol, a que apresenta um face mais amável, mas nom por isso menos negadora dos direi-tos nacionais do nosso povo e das outras naçons sem Estado submetidas por Espanha.

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Assim, de jeito paralelo ao ressurgir do espanho-lismo de direita, tem avançado também a reconfigura-çom de um espanholismo que pretende situar-se nu-mha posiçom ideológica de esquerda. Reconfiguraçom que tem a sua visualizaçom mais nítida na reivindica-çom de umha futura Terceira República espanhola.

Curiosamente, o avanço e visibilidade do “novo republicanismo espanhol” coincide no tempo com a enésima crise na organizaçom referente da maioria da “esquerda espanholista”, a coligaçom IU, mas tal situaçom nom é contraditória se repararmos que umha boa parte das vozes críticas no interior dessa organizaçom fam responsável polo seu esfarelamento a excessiva ligaçom mantida nalgum momento entre IU e alguns sectores de determinados movimentos nacionalistas, ou à assunçom de reivindicaçons pró-prias dos movimentos de emancipaçom nacional.

Deste jeito, e como símbolo do rearmamento da ideia de umha Espanha que se poderia construir a partir da esquerda, nos dias de hoje a bandeira espa-nhola tricolor volta a ser um elemento presente nas mobilizaçons populares, levantada com orgulho por quem acredita em tal ideia. E, mais umha vez, voltam a escuitar-se as vozes dos papagaios que reiteram de mil e umha maneiras os velhos tópicos da esquerda

estatalista: o nacionalismo é um movimento burguês, @s operari@s nom tenhem pátria, as luitas nacionais disgregam a esquerda, et cetera...

Velhos retrousos contra os quais a esquerda in-dependentista galega, e o conjunto de movimentos de libertaçom nacional de todo o mundo, temos comba-tido; sabedores como somos que Espanha nom pode ser reformada: simplesmente há que destrui-la.

Porém, nom deixa de ser curioso como a esquerda espanholista olha para outro lado quando se chama a atençom sobre o facto de que a suposta disgregaçom de forças que provoca a luita de libertaçom nacional tenha dado lugar a que, precisamente, lá onde existe um conflito nacional de importáncia dentro do Estado espanhol, seja onde a esquerda se ache num melhor nível de actividade e presença real.

Mas, por muito boas que fore as intençons do “espanholismo progre”, a realidade nom deixa de ser a que é. E Espanha só é um aparelho em maos da oligarquia para exprimir de um jeito mais eficiente a mais-valia da classe operária, e nesse senso a dis-criminaçom e opressom das naçons inseridas à força no seu seio é mais umha ferramenta para optimizar a exploraçom. Simplesmente para a tornar mais efi-ciente.

E, por muito que se empenhem, nom podem mu-dar o facto de que para construir Espanha tenhem que passar sobre o cadáver da Galiza e das outras naçons sem Estado. Naçons às quais Espanha, imperial ou republicana, nom sabe fazer mais que negar-lhes a soberania, aniquilar a sua língua e cultura, e explorar ao máximo os seus recursos. Factos que, como é evi-dente, nom estamos dispost@s a tolerar.

Assim, a modo de resposta às novíssimas propos-tas que trazem os vozeiros do renovado republicanis-mo espanhol, poderíamos fazer nossas as palavras que a Federaçom Comunista Catalano-Balear escre-via ao Comité Executivo da Internacional Comunista numha carta aberta publicada em Maio de 1931 no jornal La Batalla, apenas um mês depois da procla-maçom da Segunda República Espanhola: “Nós somos partidários ardentes da independência da Catalunya, de Euskadi, de Galiza, de Andalucia, etc... A burgue-sia nom pudo fazer a unidade ibérica. Tem mantido a coesom mediante um regime de opressom constante. Espanha, que nom é umha naçom senom um Estado opressor, deve ser disgregada”.

André Seoane Antelo fai parte do Comité Central de Primeira

Linha

Umha Espanha de esquerda é possível?An

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O questionamento da monarquia imposta polo franquismo e a liberdade dos povos oprimidos marca a linha divisória entre a esquerda e a pseudo-esquerda

opiNiom

R/ Camélias, 1036860 Ponte Areas

Tel 986 661 970

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7Nº 50. Outubro, Novembro e Dezembro de 2008

George Grosz

opiNiom

No mundo ocidental actual em que vivemos, o consumo é em si mesmo um fim. Consumir é, no mundo capitalista, o maior exemplo de liberdade. Nom é por acaso que os defensores deste mundo como o único mundo possível sempre falem da necessidade de defender o “sistema de livre mercado”. A produçom cultural, para bem e para mal, nom é alheia a isto. A Produçom Cultural com maiúscula, a Cultura séria, essa que aparece em, e é promovida por, os grandes grupos mediaticos, essa que ocupa as prateleiras das livrarias dos centros co-merciais, os museus e as galerias de arte, os coliseus e os palácios da música, as salas de cimena e os teatros, as discotecas e as universidades... só se produz para ser vendida, para ser comprada. E, para se vender, para poder ser compra-da, tem que situar-se consciente ou inconscientemente dentro de umha aposta ético-estética, político-ideologica, que lhe permita ser compatível com a óptica burguesa do mundo. Isso significa que tem que botar pola borda o compromisso com a liberdade, com a emancipaçom, com a fraternidade, com a igualdade. Tem que ser umha produçom cultural que asuma a necessidade de se converter num bálsamo apaziguador das evidentes injustiças realmente existentes no mundo contemporáneo, gestando-se longe de qualquer preocupaçom social e excluin-do do seu ADN todo o que puder contribuir para compreender os motivos polos quais este mundo deve ser transformado. A cultura situa-se, assim, no campo do colaboracionismo político-ideológico com o capitalismo e a indiferença social, e promove a visom da inevitabilidade do mundo actual tal e como o conhecemos. É umha cultura comprometida, sim, mas comprometida com o sistema imperante, actuando como parte de umha grande campanha de propaganda e publicidade do mesmo.

Porém, umha outra cultura é possível. Porque é necessária. Umha cultura da denúncia, da resistência, da insurreiçom. E já se está a construir. Já existe. Existe desde sempre. Seria um tópico dizer que essa outra cultura está longe da cultura pró-burguesa colaboracionista. Um tópico falso, além do mais. Porque nom é assim: essa cultura está-se a produzir aqui mesmo, ao nosso redor, e, entre outras cousas, a rede, Internet, é umha das suas ferramentas básicas de trabalho. Umha cultura que entende que é necessário, que torna inevitável, transgredir a ordem: a ordem cultural, mas também a ordem sociopolítica. Umha cultura que situa no centro da sua criaçom a legítima vontade de intervir na realidade, consciente de que resis-tir é fazer frente ao sistema socioeconómico global que avança sem deparar com resistências no campo da política e a cultura oficiais. Umha cultura rebelde que continua a apostar na Utopia, mas que situa também dentro das suas coordenadas o indispensável confronto com o estabelecido: contra os canones, contra a mercan-tilizaçom, contra os espartilhos e as etiquetas, contra os compartimentos estancos, contra as categorias predefinidas,...

Na rede, podemos encontrar muitos exemplos diversos, distintos, plurais, de diversos campos, que mostram a capacidade e vitalidade desta outra cultura re-sistente. Ninguém está a inventar nada novo: está-se a actualizar umha tradiçom de cultura comprometida com a transformaçom, com a denuncia social. Obras que circulam livremente pola Internet, procesos de criaçom abertos à partici-paçom doutros artistas e/ou público em geral, grupos que criam colectivamen-te as suas obras sem procurar um reconhecimento individual, experiências que sobardam ou racham os limites dos géneros e as técnicas culturais, etc... Umha multitude heterogénea de manifestaçons artísticas comprometidas com a ideia de que a criaçom cultural é inseparável do processo social em que está inserida, e que nem pode nem deve ser alheia a esse processo nem pretender circular de forma independente ou autónoma, mas assumindo o inevitável diálogo e interac-çom com o mesmo.

Igor Lugris é membro de Fala Ceive do Berzo e fundador de Primeira Linha

Compromisso com quê? Compromisso com quem?Ig

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O maior acto de violência simbólica que se pode fazer sobre umha naçom é negá-la. À naçom gale-ga negam-lhe até o nome. Sem pudor. Por cima da verdade científica. Por cima da verdade histórica. É um acto imoral de abuso continuado contra a nossa dignidade colectiva.

Tivérom que passar sessenta e nove anos para que a Real Academia Galega se pronunciasse so-bre a correcçom ou nom do nome Galiza. Sessenta e nove anos a suportar a prepotência dos mesmos que jamais mexêrom um dedo pola língua – ou que se o mexêrom foi em contra dela – que expediam a concorrência oral ou escrita do nome da pátria com o carimbo de “incorrecto”. Essa palavra nom existe, nom representa conceito qualquer, referenciamos com ela pois um sujeito irreal.

Da tradiçom da palavra Galiza nom deveríamos ter que dar umha explicaçom. E eu nego-me a fazer deste artigo umha defesa histórica ou filológica do nome do País. Incluso aqueles e aquelas a quem prói tanto escuitar “Galiza” sabem que existem nu-merosos documentos históricos onde tal nome apa-rece para denominar a nossa terra. Também sabem perfeitamente que em Portugal, a terra onde Caste-lao afirmava que a nossa língua seguia a florescer, a Galiza continua a ser a Galiza; assim é como conti-nua a ser chamada.

Para quê, entom, me vou esganar eu em demos-trar com provas bem conhecidas que a Galiza é a Galiza, e nom porque o inventemos quem com tal nome a reivindica, mas porque assim se conheceu até há bastante menos tempo do que a alguns e a algumhas gostavam de reconhecer?

No fim de contas, o argumento mais poderoso em favor do, para mim, autêntico nome do nosso país está na vontade das geraçons de galegos e galegas que, através do tempo, fôrom conservando, transmitindo e reivindicando o legítimo nome da Ga-liza. Esse é o nosso argumento mais incontestável.

Fuco Gomes, Castelao, Joám Vicente Viqueira, Moncho Reboiras... desde o Comité Arredista Revolu-cionáreo até o actual MLNG, desde as Irmandades da Fala até os actuais centros sociais que vam surgindo ultimamente polo País adiante... os meus, as minhas sempre pensárom, falárom, sonhárom, construírom, luitarom... de, em e para a Galiza. Essa é a tradiçom que a mim me indica que estou no correcto.

A Galiza que reivindicavam todos estes indiví-duos, gente e movimentos (o mais digno que deu a nossa terra) era, é, umha Galiza com história, com território, com memória, com cultura, com língua... bem definidos. E essa Galiza, naturalmente, entra em contradiçom com a Galicia que alguns defendem, cerceada na sua territorialidade e dividida artificial-mente em quatro províncias, com a sua língua e cul-tura relegadas a um lugar socialmente subalterno, e sem reconhecimento legal como sujeito político.

Portanto, tem razom quem, de um bando ou outro, defendem que a Galiza e Galicia som concep-tualmente irreconciliáveis. O projecto sociopolítico que defendemos nada tem a ver com a Galicia ofi-cial, pensada a partir do espanholismo e para ser espanhola.

Ramiro Vidal Alvarinho é membro da Direcçom Nacional

de NÓS-UP

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Nº 50. Outubro, Novembro e Dezembro de 20088

cóleras, as luitas e os levantamen-tos que estouram por toda a parte, a Norte como a Sul, a Oeste como a Leste, nas naçons ricas e pobres. Por toda a parte, a tomada de consciên-cia da maleficência do liberalismo económico e guerreiro amanhece e afirmam-se as distáncias e a hostili-dade para com o imperialismo. Este último está, por outro lado, grave-mente atacado no seu seio pola sua impotência para gerir as catástrofes, tanto as naturais como as económi-co-financeiras, e sobre os terrenos de combate externos onde choca com as resitências populares. As na-çons da América Latina som prova de que outro mundo é possível. A crise financeira actual torna patente para qualquer um a natureza criminosa do sistema. A instauraçom de umha so-ciedade comunista está mais do que nunca na ordem do dia. Ela supom a criaçom de um internacionalismo de luita de classe. A via revolucionária e a violência emancipadora nom te-riam de ser excluídas.

Georges Labica é intelectual marxista

O capitalismo, que chegou ao estádio da globalizaçom, sob a hege-monia estado-unidense, fai do mun-do um campo de destruiçom. O tem-po em que se podia separar e pôr em evidência alguns aspectos positivos deste sistema, é doravante findo.

Os processos de destruiçom nom evitam domínio algum, quer se trate de mercadorias, cujo estatuto acabou de estender-se ao conjun-to de actividades humanas, e que estám à vez interditas à satisfaçom das necessidades reais das pesso-as e som superabundantes; quer se trate dos mesmos capitais, cujo ca-rácter especulativo e fictício domina sobre o produtivo; bem se trate dos serviços, em particular dos serviços públicos, entregados aos interesses privados; ou mesmo de regimes políticos que se reclamam da de-mocracia para a esvaziarem do seu conteúdo e despojar os cidadaos dos seus direitos.

Os homens e as mulheres, cuja condiçom é ainda pior, estám sub-metidos a todas as formas de explo-raçom e de arbitrariedade. A procu-

Karl Marx nunca separou a teoria da pratica, o trabalho do conhecimento da luita transformadora. A filosofia da praxis mar-xista nom comporta esta separaçom, na me-dida em que associa dialecticamente, num mesmo processo historico, o pensamento e a acçom revolucionárias. O Manifesto Comu-nista é um belíssimo exemplo desta unidade dialéctica. Certo, depois da derrota da revo-luçom de 1848-50, Marx passou vários anos dedicado ao seu trabalho de investigaçom, a redacçom de O Capital. Mas esta obra foi concebida como umha arma no combate emancipador da classe trabalhadora. E logo que as condiçons se modificárom, no curso dos anos 1860, Marx voltou a participar ac-tivamente na luita dos trabalhadores por sua emancipaçom, como dirigente da Primeira Internacional.

Voltamos a encontrar esta dialéctica na obra e na acçom dos grandes pensadores marxistas do século XX : Rosa Luxemburg, Lenin, Trotsky, Lukacs, Gramsci, José Carlos Mariategui, Che Guevara, Amilcar Cabral, Franz Fanon, Ernest Mandel, Henri Lefebvre, Guy Debord e tantos outros. Outros filosofos marxistas, sem aderir à algum partido, nom deixárom de redigir a sua obra numha pers-pectiva crítica e de combate polo socialismo: Walter Benjamin, Ernst Bloch, Jean-Paul

A alternativa comunista ao caos sistémico da economia de mercado

Marxismo académico e marxismo militante

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Sartre, Herbert Marcuse. Outros, bem mais afastados da prática social, dérom entretan-to umha contribuiçom importante pola sua critica profunda da civilizaçom capitalista e da sua racionalidade instrumental: Theodor Adorno, Max Horkheimer,

O que se poderia chamar de «marxismo académico» é um fenomeno antigo - basta pensar no assim chamado «marxismo legal» na Rússia do começo do século XX– mas que se desenvolveu bastante nos ultimos anos, em particular nos países capitalistas avan-çados. Neste caso, o marxismo nom só está separado de qualquer actividade pratica, mas deixa de ser um instrumento de análise e de combate contra a civilizaçom capitalista, para se transformar num exercicio inócuo, numha actividade intelectual descomprometida, num jogo académico mais orientado para as car-reiras profissionais do que para as luitas dos explorados e oprimidos. Nom vamos citar no-mes, a lista seria demasiado longa.

Se os anos de refluxo - as ultimas déca-das do século XX - favorecêrom o «marxismo académico» o novo periodo que se abre em inicios do século XXI cria melhores condi-çons para umha renovaçom do marxismo militante.

Michael Löwy é intelectual marxista Diego Rivera, História do México, Palácio Nacional (México)

nos países “democráticos”, tam-bém nos autoritários ou ditatoriais, medidas de vigiláncia, policiais e de

ra sem freio do lucro desvaloriza o trabalho e torna-o aleatório. As de-sigualdades nom param de crescer, tanto na educaçom, como na saúde, a justiça, o acesso aos bens, no sexo ou no plano étnico, e imponhem, ao seu redor, um “mundo de duas velo-cidades”. Os indivíduos e, sob o efei-to das agressoms militares imperia-listas, povos inteiros som considera-dos, de facto, como se estivessem a mais. Tal é o caso dos sem emprego, dos imigrantes (200 milhons) e dos povos palestiniano ou iraquiano. A miséria, a pobreza e agora a fame nom param de aumentar a escala mundial, compreendidos aí os países chamados “desenvolvidos”.

A ideologia da luita em contra do terrorismo substitui-se directa-mente pola hipocrisia do discurso dos Direitos do Homem em tanto que ideologia dominante. Graças ao pretexto dos atentados do 10.09.01, o “Patriot Act” elevou a guerra a es-tratégia política para o controlo dos recursos energéticos mundiais e a proibiçom de todo desenvolvimento nacional independente. Impulsionou

repressom contra todos os cidadaos. Em nome da caça aos terroristas, o terrorismo de Estado situa-se além

das leis.No entanto, a esperança incre-

menta-se igualmente. Levada polas

maiS vigENtE, maiS NEcESSÁrio quE NuNca

Page 9: Abrente nº 50

Nº 50. Outubro, Novembro e Dezembro de 2008 9

O primeiro artigo de Marx no Vorwärts, em 1844, enuncia um programa de trabalho que ocupará a sua vida: “Toda revoluçom derroca a sociedade anterior; neste senso é social. Toda revoluçom derroca o poder anterior; neste senso é política”.

Desde A Ideologia Alemá (1846) analisa o desenvol-vimento das Forças Produtivas e o modo como a divisom do trabalho muda em alienaçom a promessa de desen-volvimento colectivo e individual. Tal contradiçom leva-o a formular com coragem no Manifesto Comunista (1848): “A burguesia produz, antes de mais, os seus próprios coveiros”.

Como conceber umha perspectiva revolucionária em ausência da mesma? Pensar a acçom, ou umha teoria da prática, é precisar a viabilidade da teoria a partir das condiçons de realizaçom política.

E depois de 1848 até o fim dos seus dias nom de-siste da tarefa de contribuir para a Crítica da Economia Política para desvendar o modo de produçom capitalista e a contradiçom fundamental do mesmo (a centralizaçom dos meios de produçom e a socializaçom do trabalho) em contra de discursos apologéticos, mas também de críti-cas superficiais e ingénuas. E sempre se ocupou das re-presentaçons na teoria, de como as crenças, a ideologia,

Porquanto praxis da revoluçom comu-nista, o marxismo está submteido a exame em todo o momento, de forma permanente, sem folga nem trégua. Nom pode ser de ou-tro jeito, e é bom e inevitável que assim seja. Trata-se do ditado do que Lenine definiu como “o critério da prática”, que consiste em que, afinal, é a materialidade dos factos históricos que decide sobre a correcçom teórica. E em-bora os factos históricos sejam interpretados muito freqüentemente de formas opostas dependendo das jubjectividades e interesses socialmente antagónicos, nom é menos certo que, afinal, o material e o imaterial termina por girar em volta de algo tam essencialmente desumano como é a exploraçom da força de trabalho em qualquer umha das suas formas por umha minoria proprietária a título privado das forças produtivas. Esta visom científico-crítica da história, quer dizer, a objectividade da exploraçom, opressom e dominaçom além da capacidade subjectiva de o compreender, é que atribui ao marxismo a sua originalidade e superioridade qualitativa com respeito à ideo-logia burguesa.

Está isto em relaçom com a raiz da cri-se financeira actual, que fai parte de umha crescente crise sistémica de acumulaçom, proliferam ditados sobre “a volta de Marx”, “a vingança de Marx”, “a recuperaçom do marxismo”, etc. Mas o problema é outro, decisivo e fulcral para a humanidade tra-balhadora; ei-lo: o que está agora a acon-tecer nom é tanto umha confirmaçom do marxismo, que também, como o início de um exame de maior importáncia, o de se as esquerdas marxistas som –somos– capazes de orientar o crescente mal-estar popular para o socialismo, avançar no enfraqueci-mento estrutural da ditadura do salário e da mercadoria, no aumento do contrapoder

Ler Marx para a Galiza

O marxismo a exame

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o imaginário, modificam o real à vez que estám configu-radas, estruturadas por ele. Existe um condicionamento recíproco entre a base técnica revolucionária e a consci-ência também revolucionária. E a consciência de classe –isto seria umha espécie de paixom racional– rejeita o domínio de classe. E os homens supérfluos avistam a es-perança da sua libertaçom futura. E nese empenho nom se entrega a teleologias, determinismos ou filosofias da história. E mesmo aponta soluçons ecológicas e crimina umha produçom que mina as fontes de que mana toda a riqueza: a terra e o operário.

E viu um esboço revolucionário na Comuna de Paris, que foi, mália o seu fracasso, “a forma política (…) que permitia realizar a emancipaçom económica do traba-lho”.

Toda umha dialéctica que, longe de enaltecer o esta-do de cousas existente, escruta, para escándalo da bur-guesia, a sua destruiçom necessária.

Milhares da páginas ao serviço da revoluçom que em boa medida seguem a estar em vigência e que permitem neste caso ajudar a compreender em chave materialista a situaçom de Galiza na dinámica do capital.

Umha Galiza com um meio espoliado, com umha paisagem progressivamente estragada ao quebrar tem-pos e espaços. Com certeza que as naçons som cons-truídas mas, de nom conservar as tradiçons positivas da Ecologia popular e secular, de permitir o esbanjamento dos nossos montes, dos rios, das terras, das praias, de permitir que o cimento acabe por ocupar todo... a Galiza ficará uniformizada e estragada pola voragem do capital. Ao tempo que a sua língua, o seu espaço simbólico, per-severará na deturpaçom e na aniquilaçom por mais que se mantenha a sua ritualizaçom.

Romper com esta política de dependência requer vincular a teoria com a praxis e comprometimentos reais, que nom meros discursos. O que tam bem recolhe a tese 11 a respeito de Feuerbach: “Os filósofos tenhem apenas interpretado o mundo de maneiras diferentes, a questom é tranformá-lo”.

Domingos Antom Garcia Fernandes é filósofo

popular até chegarmos a situaçons de poder operário capazes de deter o avanço do caos e reorientar a história em direcçom à eman-cipaçom humana. Este é o verdadeiro exame que enfrentamos os marxistas. Um exame geral que, se bem que nom poda ser nunca o “exame final”, sim é um que pode certificar a passagem da humanidade de umha fase para outra da história.

Para as naçons oprimidas, como a gale-ga, a basca e outras, esta visom do exame do trabalhador e da independência nacional organizada em Estado. Umha característica do marxismo é a dialéctica entre consciência revolucionária e independência política das classes exploradas, quer dizer, a reafirma-çom do poder colectivo como único garante da socializaçom das forças produtivas. Todas a experiência histórica acumulada até ago-ra, quer dizer, o “critério da prática”, ensina que a opressom nacional é um dos métodos mais efectivos de enriquecimento da burgue-sia, em primeiro lugar da invasora e ocupan-te, e depois da autóctone e colaboracionista. Nengumha das duas está disposta, portanto, a reduzir os seus lucros através da cedên-cia perante as justas demandas populares, e ambas teimam em ficar do lado do Estado ocupante, muito especialmente nos contex-tos de crise sistémica como o actual. Face a esta realidade, os povos oprimidos nom tenhem, nom temos, mais opçom que avan-çarmos na nossa independência nacional, na criaçom de um Estado próprio que nos sirva, entre outras cousas, para estabelecermos as alianças internacionalistas com outros povos para enfrentar o caos imperialista mundial. Será que vamos passar o exame?

Iñaki Gil de San Vicente é militante comunista

bascoDiego Rivera, História do México, Palácio Nacional (México)

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Nº 50. Outubro, Novembro e Dezembro de 200810

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aNÁliSE

Sempre en Galicia, Espiral, Iskreiro, Povo Uni-do, Abrente, Terra Livre, Voz Própria e um dilatado etcétera, som alguns dos cabeçalhos com os que o independentismo pretendeu (e pretende) formar, conscientizar e difundir as suas actividades e posicio-namentos políticos desde há já trinta anos.

Em multidom de ocasions estes milhares de páginas –tristemente ciscadas em arquivos pesso-ais e muitas das vezes em muito más condiçons de conservaçom– convertem-se numha das principais fontes para nos achegarmos deste recente período histórico1, pois os estudos sobre o independentismo contemporáneo som quase inexistentes, e a atençom que a imprensa burguesa emprestou a este fenóme-no sociopolítico nom ultrapassou mais do que datas e acontecimentos pontuais.

O primeiro vozeiro declarado abertamente indepen-dentista foi o Sempre en Galicia, nome que adoptou o ór-

Gütenberg ao serviço da esquerda independentista galegaNo

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gao de expressom do Partido Galego do Proletariado,2 lá polo mês de Julho de 1978. Desde aquela até os dias de hoje, muitas e variadas som as ediçons que mereceriam um estudo pormenorizado e exaustivo dos conteúdos, li-nhas gráficas e formatos, algo que evidentemente trans-cende os pequenos apontamentos deste artigo.

Como riscos definitórios desta ampla e diversa variedade de vozeiros e publicaçons podemos salien-tar, grosso modo, os seguintes:

As dificuldades económicas e a falta muitas ve-- zes de recursos humanos dedicados a esta tarefa ocasionárom que a periodicidade instável seja um dos riscos mais salientáveis. Alguns dos cabeça-lhos ultrapassárom escassamente a meia dúzia de números e outros, como este em que se escre-vem estas letras, chegam à cinqüentena com boa saúde e pontualidade. O seu papel de formaçom ideológica. Muitas des--

tas páginas aproveitavam-se para expor (e nal-guns vozeiros também debater) os posicionamen-tos ideológicos a respeito de variadíssimos te-mas. Através da sua leitura, podemos percorrer, por exemplo, o atitude que a esquerda indepen-dentista foi tendo frente o socialismo soviético e as suas conseqüências nas nossas particulares luitas de libertaçom nacional.Colaboraçons. Embora muitas das vezes os ca-- beçalhos sejam os vozeiros oficiais de organiza-çons, isto nom impede que muitos acolham vozes amigas. Embora haja excepçons, na maioria dos casos só se dá cabimento a opinions próximas da particular família política dentro do próprio inde-pendentismo.Propaganda das campanhas próprias. Reporta-- gens, fotografias e cartazes visibilizam parte da actividade do independentismo, sistematicamen-

te ocultado polos mass media do sistema.Na análise pendente que requer este tema have-

ria que acrescentar como parte substancial da mesma a chegada das novas tecnologias, a chegada da Inter-net. Os portais informativos, páginas oficiais, blogues, et cétera, acrescentam e multiplicam as possibilida-des informativas que a esquerda independentista tem hoje à sua disposiçom. Estas novas aplicaçons, junto aos tradicionais e ainda úteis vozeiros e publicaçons, formam um rico e variado espectro informativo de aquilo que fomos e de aquilo que pretendemos ser.

1 Os temas escolhidos, as pessoas que escrevem, a presença ou nom de mulheres, as luitas internacionais recolhidas, etc, fornecem-nos multidom de dados úteis para a investigaçom histórica.

2 Em Maio de 1977, sai do prelo o Terra e Tempo número 39, como órgao de expressom da UPG-Liña Proletaria, mas este cabeçalho só durará 3 números, dando lugar ao Sempre en Galicia, para evitar o conflito com a UPG oficial, que também manterá, até hoje, embora agora como porta-voz de umha fundaçom, o mesmo vozeiro.

Noa Rios Bergantinhos fai parte do Comité Central de Pri-

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11Nº 50. Outubro, Novembro e Dezembro de 2008 opiNiom

O percurso ideológico de Francisco Martins Rodrigues ao longo de seis déca-das é a transformaçom lenta e progres-siva de um militante que, ensinado a ser acrítico e cumpridor, a partir dos anos 50, despertado polas teses direitistas do XX Congresso do PCUS, pola sublevaçom revolucionária em Cuba, Argélia e nas colónias portuguesas africanas, passou a assumir divergências que, de pontuais a princípio, se tornárom cada vez mais sis-temáticas e coerentes.

Essas divergências eram justifica-das internamente por umha evoluçom da linha do PCP que arredava o partido dos fundamentos comunistas da luita de clas-ses. A via insurreccional apontada polas experiências históricas recentes deixava indiferentes ou desconfiados os dirigentes do PCP, cada vez mais embrenhados nas suas tácticas equilibristas de frente única com a oposiçom reformista ao regime de Salazar. Por outro lado, a nível interna-cional, os regimes que se reclamavam do socialismo (URSS, países de Leste) afasta-vam-se cada vez mais das metas traçadas, revelavam crises profundas e acabavam derrotados.

Em busca desse defeito fundamen-tal da prática comunista e após rupturas sucessivas da corrente marxista-leninista

Umha dissidência exemplar

Ana

Barr

adas

Francisco Martins intervindo nas X Jornadas Independentistas Galegas. Compostela, 18 de Março de 2006

Abrente. 50 números, 12 anos ao serviço da Revoluçom Galega

anti-revisionista que ele próprio, na ten-tativa de inverter a deriva oportunista, ajudara a fundar – e que passárom polo seu afastamento do PCP no início dos anos 1960 e culminárom com a sua crítica à linha frente-populista do 25 de Abril do Povo do PC(R), no princípio dos anos 80 – FMR acabou por isolar a raiz principal das degenerescências várias do movimento comunista a nível mundial, a mae de to-dos os desvios da época actual: a linha de colaboraçom de classes do 7º Congresso, que remeteu decididamente os PCs da época e os que se lhes seguírom até hoje para fora do terreno ideológico das teses de Marx e Lenine, tal como ficou demons-trado no livro Anti-Dimitrov.

Essa linha dimitrovista criou um ramo novo, cuja vitalidade nom se deixou aba-lar polas inúmeras derrotas sofridas pola sua aplicaçom, e que é afinal o marxismo de pacotilha que tem servido de tampom ao desenvolvimento de umha verdadeira teoria e prática marxistas, alicerçadas nu-mha sólida base operária e livres da tutela

pequeno-burguesa. Ao bloquear a luita revolucionária,

ao reprimir os impulsos mais radicais dos trabalhadores, abriu-se a passagem à reacçom, entregou-se a direcçom da frente popular às camadas intermédias e pagou-se a sua derrota com o sangue operário. Foi o caso da já longínqua Guer-ra de Espanha, mas também do Chile, dos países da Europa de Leste, URSS, China, Albánia, Cuba, passando pola frente po-pular que levou Lula da Silva ao poder no Brasil e agora o Nepal em que os maoístas entregam o poder à burguesia, para nom falar da Venezuela, em que o regime po-pulista de Hugo Chávez fai passar por so-cialismo umha versom muito imperfeita de economia mista em que o poder do capital fica inabalado e o proletariado nom vê o fim da sua exploraçom.

Este percurso de Francisco Martins Rodrigues, comunista inconformado e em luita permanente contra os bonzos do aparelho, esta dissidência exemplar por-que irredutível na defesa dos princípios

marxistas foi por muitos confundida com intransigência, rigidez, teimosia. Porém, os que conhecêrom e acompanhárom de perto FMR encontram no percurso da sua vida e na sua pessoa todo aquilo que se pode esperar encontrar num comunista de verdade. Ao tomar como eixo principal da sua actividade a luita ideológica contra o embuste generalizado que tem sufocado a teoria e a prática marxista, ele cumpriu a missom própria da sua época, mesmo sabendo que o fazia contra todo e contra (quase) todos.

No plano das ideias, os tempos que se anunciam parecem comprovar que ele tinha razom. A mobilizaçom independente classista dos trabalhadores, sem nengum apoio político aos governos burgueses que, ao serviço dos patrons e da alta finança, nos arrastam sem apelo para o abismo, é a matéria-prima dumha sublevaçom social que tarda, rumo a uma ampla sublevaçom proletária internacionalista, desta vez livre de tutelas e propagada à escala planetária (que é a verdadeira dimensom da revolu-çom), que ponha termo a um sistema mun-dial iníquo e cada vez mais perigoso. Que pena ele nom estar vivo para assistir!

Ana Barradas é militante comunista, promotora

da revista Política Operária

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Nº 50. Outubro, Novembro e Dezembro de 200812 iNtErNacioNal

500 mil pessoas –operári@s, empre-gados, precari@s, professores e profes-soras, estudantes– manifestando-se no centro de Roma apesar da forte chuva; dous milhons de trabalhadores, e greve na administraçom pública, os serviços, o transporte, a escola, os aeroportos, as fábricas. Assim acordárom os italianos, na sexta-feira dia 17 de Outubro, em conseqüência da greve geral proclama-da polos três sindicatos de base do país –CUB, Cobas e SDL– contra o governo da direita e da sua política económica. As universidades e os institutos de toda a península ocupados polos estudantes e em muitos casos por trabalhadores e professores, que protestam contra o “Plano Gelmini” (a ministra da Educa-çom) que através de um corte de bilhons de euros vai contra a educaçom pública, reduz as horas de ensino, privatiza as universidades e manda embora 140 mil trabalhadores do sector. Até as crianças ocupam as suas escolas com os pais e os professores!

Um êxito rotundo do sindicalismo in-dependente, próximo da esquerda alter-nativa, enquanto os sindicatos pactistas proclamam greves virtuais com o único objectivo de voltarem a colher as migalhas que caem da mesa de um patronato rapi-nador e de um governo de extrema-direita que está a atacar frontalmente alguns sectores do mundo do trabalho.

No alvo de Berlusconi e do seu folcló-rico mas vingativo ministro Brunetta estám os precários da administraçom pública, pessoas de 35-40 anos que desde há anos mantém os institutos de investigaçom e cientistas com soldos de 700-800 euros. Agora nem isto. “Fora, à rua!” ordenou Brunetta, e os jovens que pensaram que

Nas últimas semanas tem-se falado com muita freqüência da consolidaçom de umha nova guerra fria. Nom parece que os dados justifiquem, porém, semelhante intuiçom. E é que nom podemos esquecer que hoje se manifestam circunstáncias muito diferentes das que imperaram na etapa da confrontaçom entre os blocos.

Comecemos por lembrar que, mesmo sendo certo que esta afirmaçom reclama algum matiz, no mundo ocidental e na Rússia existe hoje um sistema económico similar: o capitalismo global, com a sua lógica de injustiça, exclusons e agressons contra o meio natural. Aliás, convém su-blinhar com urgência que as capacidades respectivas dos agentes teoricamente enfrentados som muito diferentes. Bas-tará com mencionar que o gasto militar russo nom só está muito longe do norte-americano: também está abaixo do que exibem potências ocidentais de segunda ordem como o Reino Unido, França e a Alemanha. Os aliados de Moscovo som, enfim, difíceis de identificar. Nos factos, a lista correspondente esgota-se com os nomes, que convidam a manter alguma cautela, da Bielorrússia, a Arménia, a Sérvia e várias das repúblicas centroasi-áticas. Salientar-se-á que nem sequer a China se atreveu neste Verao a dar um passo adiante em matéria de reconheci-mento das independências da Ossétia do Sul e da Abjázia.

Para além do anterior, é imperioso sublinhar que as reflexons que apontam para a apariçom de umha nova guerra fria rara vez se contentam com enunciar o prognóstico correspondente. Acompa-nham-se quase sempre de considera-çons que, ao menos no mundo ocidental, apontam para a atribuiçom de responsa-bilidades precisas. Fácil é concluir que, conforme esta percepçom dos factos, a tensom crescente a que hoje assistimos

seriam a futura classe dirigente do país soubérom de um dia para outro como fun-ciona o mundo no sistema capitalista.

Um governo profundamente antipopu-lar, mas infelizmente –graças também à colaboraçom da “oposiçom” parlamentar e à ineptitude das esquerdas “arco íris” – ainda nada impopular. Nas sondagens, Berlusconi conta com um amplo apoio nu-mha sociedade em crise económica e de identidade, onde para muitíssimas famílias chegar à quarta semana do mês nom é já umha esperança, mas um milagre. Os res-ponsáveis inventam inimigos fantasmas e a raiva popular, cada vez mais forte e violenta, em ausência de umha hegemonia progressista, os meios de comunicaçom e os partidos de governo orientam-na para os mais pobres, os ciganos, os immigran-tes, os marginais. Os que nom tenhem voz. Nom há dia que um cidadao estrangeiro, um mendigo, um homossexual nom seja assediado na rua por bandos de jovens das periferias urbanas empapados de ideolo-gias fascistas. E há os primeiros mortos, vítimas dos progromos da extrema-direita, quando nom directamente dos fascistas fardados de polícias ou municipais.

A 11 de Outubro, os “comunistas”, os que governárom com Prodi num dos go-

Voltou o caimám! Umha foto da Itália de Berlusconi

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Assistimos a umha nova guerra fria?Carlo

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vernos mais aintipopulares da história da República, ondeárom as suas bandeiras vermelhas e cantárom, orfos e abandona-dos após a matança eleitoral de Abril e o abandono do Parlamento. Tranquilos, nom há crise! Nom é Itália umha democracia?

Entre eles, alguns –Bertinotti, por exemplo– preparam umha cisom para ofe-recer umha nova esquerda pós-moderna àqueles herdeiros do Partido Comunista Italiano e da Democracia Cristá que fôrom mais sabichons, e mais rápidos, e que para compartilhar o poder com Berlusconi há um ano inventárom o Partido Democrá-tico. Como nos Estados Unidos!

Os militares —já som 4 mil— estám nas ruas, a cuidar os cidadaos, a manter a ordem e a tranquilidade”. Na verdade, a defender as incineradoras e as lixeiras ou a alta velocidade dos legítimos protes-tos populares. Umha outra frente, como a do Afeganistám ou da Kosova. E a lembrar que há que ter medo. Na televisom há até um “Ministro do Medo”, representado por um cómico muito popular. No domingo à noite as pessoas rim. Mas depois fecham bem as portas e janelas.

Marco Santopadre pertence à organizaçom

revolucionária italiana Rede dos Comunistas

seria, em exclusiva, o produto de umha política, a russa, que configuraria umha permanente ameaça para Ocidente. So-bram os dados, claro, para afirmar que semelhante descriçom do acontecido se ajusta pouco à realidade. Sem nengumha

que resgatar a que, carregada de equívo-cos, oferece o gigante do leste europeu.

Carlos Taibo é analista de política internacional

e professor de Ciência Política na Universidade

Autónoma de Madrid

necessidade de desculpar comportamen-tos inapresentáveis do lado de Moscovo, mais bem parece que é a agressiva atitu-de dos Estados Unidos, abençoada quase sempre polos seus aliados europeus, que está a produzir problemas que noutras

condiçons seriam facilmente desactivá-veis.

Nom faltará quem pense que para os governantes norte-americanos de agora a ameaça do islamismo radical está um bo-cadinho gasta. Nada mais singelo, entom,

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13Nº 50. Outubro, Novembro e Dezembro de 2008 iNtErNacioNal

A crise civilizatória, a crise de existência da vida no planeta, provocada polo capitalismo, nom pode ser ultrapassada sem revoluçom, sem mudanças radicais nos sujeitos políticos e sociais de poder, sem trans-formaçons revolucionárias, sem novas estruturas económicas e sociais, sem novos sistemas políticos e novas hegemonias culturais de escala nacional, re-gional e mundial.

Nom há esperança de vida estável na planeta, muito menos de vida digna, sem revoluçom e sem construçom de umha nova sociedade planetária.

O caos prolongado ou a recomposiçom da ordem dominante com novas reestruturaçons é umha disjun-tiva que tem riscos e custos elevados de mais para a sociedade humana. A grande crise actual do sistema capitalista mundial, que tem o seu centro nos EUA, despregada sobre esta explosiva situaçom planetária, oferece um novo ensejo para derrotar, ou avançar consideravelmente no caminho da derrota, deste sis-tema de dominaçom e opressom.

Esta crise capitalista, ainda nos seus inícios, parece prolongar-se e converter-se na madrinha de todas as crises acontecidas, embora certamente ela em si mesma, por mais que se estenda e agudize, nom gera as mudanças revolucionárias necessárias.

Estas requerem consciência, organizaçom, mobi-lizaçom, capacidade confrontativa, força, poder a par-tir de abaixo e em todos os planos, acumulaçom de recursos materiais e espirituais, políticos, militares e culturais, até se produzir umha mudança na corre-laçom de forças que possibilite a vitória dos sujeitos e actores objectivamente atingidos pola crise mais recente do capitalismo imperialista. E isto equivale a construir vanguarda: força de condçom e acçom transformadora do novo projecto socialista.

O subjectivo torna-se vital e é precisamente onde está o maior défice. Mas é claro que esta crise nos oferece umha grande possibilidade de ultrapassar atrasos, um caldo de cultura mais apto para questio-narmos a fundo a ordem capitalista em dificuldades maiores.

A vontade, a criatividade, a capacidade para

No Equador da Metade do Mundo, som inumeráveis os factos de resistência popular que se tenhem dado. Hoje, vive-se um novo momento, um cenário políti-co ideológico diferente, favorável para o desenvolvimento das forças de esquerda revolucionárias, para a luita pola tomada do poder.

Este cenário tem-se gestado desde há muito tempo, no Equador dos dez últimos anos passárom nove presidentes, três de-les expulsos pola luita de todo um povo. A crise do capitalismo tem-se exprimido em diversas formas, umha aguda crise que tem ido aprofundado, o incremento do desemprego, da pobreza, as políticas neo-liberais, o alto custo da vida, a corrupçom em todas as esferas institucionais que provocou o rechaço e o desprestígio da mesma Igreja, dos partidos da burguesia, dos meios de comunicaçom, das famosas ONGs, dos órgaos de repressom do Esta-do: Forças Armadas e Polícia.

Em simultáneo, o movimento popular, revolucionário, insurgente, crescia: para-lisaçons, greves, mobilizaçons, plantons, tomada de vias, à procura de umha alter-nativa que permita cristalizar os anseios de mudança da sociedade equatoriana.

Em 2006, as forças da tendência democrática, progressista, de esquer-da triunfárom eleitoralmente, primeiro com a vitória de Rafael Correa, depois com a aprovaçom da Consulta Popular para a convocatória para a Assembleia Constituinte, a eleiçom de assembleístas e, finalmente, com a aprovaçom da nova Constituiçom; isto nom significa que to-dos os problemas tenham sido resolvidos, mas que existem novas condiçons, evi-

Grandes desafios frente a umha grande crise

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Equador: Um povo em constante luita à procura da mudança revolucionária

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“acelerar o andamento dos acontecimentos dentro do possível”, como o Che dizia, é chave para ultra-passar a fenda entre o nível objectivo da crise nos novos cenários nacional, regional e mundial, e o grau de organizaçom, consciência e capacidade de criaçom de poder das forças transformadoras nesses mesmos cenários.

Os velhos sujeitos fôrom sensivelmente atingidos e os novos e velhos renovados assumem diversida-des e potencialidades nunca vistas, mas também nom devidamente conscientizados, organizados, estrutura-dos e rearticulados.

Os sujeitos e actores sociais e políticos terám de ser mais diversos e mais amplos em conseqüência da extensom e profundidade das novas formas de domi-naçom e acumulaçom. E, em conseqüência, mais difí-ceis de coordenar ou unir numha só torrente.

As forças da mudança deverám ser mais multi-facéticas e integrais para se poderem impor àque-las que, ainda representando sectores e interesses minoritários, contam com capacidades cultural-ideológicas, económicas, políticas e militares verda-deiramente espectaculares… e com possibilidades de despregamento de violência institucionalizada e nom institucionalizada nunca registadas nos arqui-vos históricos da humanidade. O desafio é enorme, mas ineludível.

Narciso Isa Conde é membro da Presidência Colectiva da

Coordenadora Continental Bolivariana

da sociedade, um povo que quer avançar, em crescente politizaçom e assimilaçom das ideias da mudança, de revoluçom, de socialismo, um povo que, apesar de contar com um governo progressista como o de Correa, se mantém em constante mobili-zaçom e luita polos seus direitos. As pa-ralisaçons, as greves e a participaçom nos acontecimentos políticos é ascendente, todo isto permite-nos assegurar que as perspectivas de mudança som possíveis. Como organizaçom de esquerda queremos estabelecer no imaginário do nosso povo a luita armada revolucionária para a tomada do poder, combater as ideias reformis-tas, pacifistas, com o fim de aprofundar no processo encetado e gerar umha nova situaçom onde o povo seja o verdadeiro protagonista da mudança.

A nossa organizaçom trabalha polo desenvolvimento da luita armada, a nossa participaçom nos acontecimentos políticos tem sido intensa em disputa polas mas-sas, preparando-nos e preparando o nos-so povo para novos níveis de luita, novos momentos a enfrentar.

Desde aqui, o Pacífico, até a outra margem do Atlántico, as luitas dos nossos povos avançam, o combate por umha so-ciedade nova está vigente, confirmamos que o único meio para a mudança revo-lucionária é o uso da violência revolucio-nária que quebre a ordem estabelecida. O dever dos revolucionários no Equador é chegar ao nosso povo com o objectivo de lhe mostrar o caminho.

Do coraçom do povo,

GCP (Grupos de Combatentes Populares)

Amaru

Mural na Universidade Central de Venezuela (Caracas)

denciando um crescimento importante na consciência das massas, como expressom dos ventos de mudança que percorrem a América Latina; deixamos claro que no Equador amazónico a luita pola revoluçom e o socialismo continua.

O governo de Correa representa o anseio de mudança do povo equatoriano, centra-se fundamentalmente em cumprir com as propostas da campanha, tem-se pro-nunciado pola defesa da soberania, ao pedir a saída da Base ianque de Manta, ao exigir respeito quando a invasom do governo nar-coparamilitar de Uribe ao nosso território. Já agora o governo denunciou a intromissom da CIA (um segredo a vozes), publicando-se um

relatório sobre a ingerência gringa que nom fai mais do que ratificar o denunciado desde há tempo, o envolvimento que tem a Base de Manta na geopolítica regional e a luita nom contra o narcotráfico, mas contra as forças insurgentes e revolucionárias, a infiltraçom de agentes da CIA nas Forças Armadas e a Polícia, na institucionalidade burguesa e nas organizaçons sociais.

Correa acertou ao desmascarar os responsáveis pola crise, os partidos da oligarquia; acertou ao investir sobretodo em educaçom, saúde, habitaçom, infraes-trutura, na defesa dos recursos naturais e de outras políticas assistencialistas que melhoram as condiçons de vida da popu-

laçom, mas é necessário precisar que a natureza capitalista e dependente da sociedade equatoriana continua a ser a mesma. A exploraçom e opressom do povo continuam, os interesses imperialistas e capitalistas, no fundamental, nom fôrom atingidos, a propriedade privada nom foi tocada; é tolerado polo imperialismo nor-te-americano; um certo sector do governo de Correa é parte da partitocracia que di atacar, confluem no seu partido empresá-rios, infiltrados, intelectuais, pacifistas, militantes de organizaçons de esquerda, a social-democracia de esquerda, etc.

O povo equatoriano desenvolve umha intensa luita de classes, umha polarizaçom

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Nº 50. Outubro, Novembro e Dezembro de 200814

De novo temos à nossa frente umha obra em que podemos olhar os debates que desde a década de noventa tenhem lugar no seio da esquerda latino-americana. Neste livro, o marxista cubano Fernando Martínez Heredia apresenta umha série de artigos e conferências realizados na sua maioria na década passada, mas que seguem a ter muita actualidade.

De entre estes artigos destacam dous blocos temáticos. O primeiro dedicado à situaçom social, económica e política dos países de América Latina, na qual o autor destaca aspectos como o avanço do controlo e saque económico do imperialismo através da transnacionalizaçom e da imposiçom das políticas económicas neoliberais (hoje, por sorte, amplamente contestadas nesse continente). Também os processos de democratizaçom, ligados também aos interesses ianques quando as ditaduras militares se figérom des-necessárias para estes. O resultado de todo isso foi o empobrecimento das classes populares, e também a apariçom nas luitas sociais de diversos movimentos sociais, enquanto a esquerda tradicional se apresen-tava incapaz de se renovar e se ligar com estes, arti-culando as diversas rebeldias existentes.

Um outro bloco de capítulos centra-se na situa-çom de Cuba e da sua revoluçom, como caso espe-cífico e diferenciado do resto. E assim destaca-se a sua preocupaçom polo degaste do projecto socialista cubano nos anos noventa, em relaçom tanto com as dificuldades económicas após a queda da URSS como com as deformaçons que derivadas do processso de assimilaçom com o “socialismo real” soviético (cami-sa de força sobre o socialismo cubano) a partir dos anos setenta.

Umha teima constante ao longo de toda a obra é a da necessidade de adaptar o pensamento e o agir marxistas ao novo contexto existente, ultrapassando todas as limitaçons e dogmas impostos pola Uniom Soviética, aprofundando, por exemplo, na preocupa-çom teórica e prática arredor da democracia socia-lista e da participaçom popular. Também destaca a relaçom da libertaçom nacional com a libertaçom social, reflectindo como em Cuba estas se unificárom desde o começo, ligando-se independência e socialis-mo. Ou também, e para concluir, a urgência de umha luita cultural que ofereça umha alternativa emancipa-dora à empobrecedora homogeneizaçom cultural que o capitalismo impom em todo o planeta. (Anjo Torres Cortiço)

Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos, “Pepetela”

MayombePublicações Dom Quixote, Lisboa, 2005 (10ª ediçom). 290 páginas

Mayombe é o nome da segunda maior floresta tropical do planeta, depois da Amazónia. Situado na província angolana de Cabinda, o Movimento Popular de Libertaçom de Angola abriu nele umha das primei-ras frentes guerrilheiras da luita pola independência do país. No mato, entre as 10 e as 12 das noites de 1970 e 71, o entom comissário político da guerrilha escreveu umha história de ficçom que deu em ser este seu primeiro romance. A acçom desenvolve-se tam-bém no mato do Mayombe, de onde a guerrilha tenta travar contacto com a populaçom, ainda reticente e despolitizada. Pepetela aborda durante a narraçom os problemas do movimento, como o tribalismo, a re-ligiom, o machismo, a corrupçom, o dogmatismo... e descreve as fraquezas da guerrilha na zona, polo qual hesitou durante muito tempo em publicar o livro. Só foi depois da independência que enviou o romance a Agostinho Neto para que avaliasse a pertinência de o tirar à luz. A opiniom elogiosa do lider revolucionário contribuiu para a sua publicaçom em 1980, embora muitos dirigentes do MPLA fossem contra; nesse mesmo ano, foi-lhe concedido o Prémio Nacional de Literatura de Angola.

Mayombe é, pois, um pedaço da história de Angola, mas é sobretodo um grande romance. Narrado de forma omnisciente a maioria do tempo, introduz partes de narraçom em primeira pessoa, debuxando um quadro heterogéneo da guerrilha a partir das opi-nions de cada um dos guerrilheiros. No relato, a épica da luita guerrilheira, a dimensom ética da revoluçom, a discussom sobre o futuro da mesma... pairam sobre a narraçom e os diálogos, plenos em muitos casos de actualidade. Neste sentido, é de resenhar a emoçom das cenas dos distintos ataques aos acampamentos portugueses e a emotividade do último tramo do li-vro, quando as condiçons demandam um aumento do compromisso dos revolucionários, mas também umha maior uniom e camaradagem.

Mayombe será, para o leitor ou leitora galega, um descobrimento. O desconhecimento da literatura lusófona na Galiza nom é no caso angolano umha ex-cepçom, e a possibilidade de nos achegar de umha realidade tam afastada da nossa língua é todo um aliciente. E mais se tivermos em conta o curioso efei-to de a ouvirmos salpicada de palavras e expressons em línguas africanas (umbundo, kimbundo...). Trata-se, com efeito, de umha obra que convida a conhecer mais sobre o trabalho do autor e sobre a própria his-tória e actualidade de Angola. (Marcos Lopes Pena)

Francisco Martins Rodrigues

Anti-Dimitrov1935/1985 – meio século de derrotas da revoluçãoDinossauro Edições e Abrente Editora. Lisboa, 2008. 325 páginas

José Manuel Barbosa Álvares

Atlas Histórico da Galiza e do seu Contorno Geográfico e CulturalSant Cugat del Vallès, 2008, 163 páginas

Bernardo Penabade Rei, e Ângelo Gonçalves Vicente

Orgulho galego na diásporaConversa com Higino Martins EstêvezFundación Comarcal Baixo Miño, 2008, 163 páginas

Fernando Martínez Heredia

Socialismo, liberación y democracia. En el horno de los noventaEditorial Ocean Sur, 2006, 304 páginas

Recolhemos desta vez a recomendaçom de umha obra esgotada, mas recém reeditada pola Abrente Editora e as Edições Dinossauro, acompanhada de artigo “Notas sobre Staline” de Novembro de 1986 e publicado na Política Operária nº 7.

Possivelmente estejamos a falar da obra mais polémica do recentemente desaparecido Francisco Martins Rodrigues, obra em que ataca um elemento central da política aplicada pola maioria das organiza-çons adscritas ao movimento comunista internacional durante os últimos 70 anos.

Em 1935, o 7º plenário da Internacional Comunista aprovava um relatório defendido polo seu secretário geral na altura, o búlgaro Georgi Dimitrov. Dentro des-te relatório, duas páginas significavam umha mudança trascendental na linha política levada avante polo movi-mento comunista até esse momento: nelas, decidia-se abandonar a política de desenvolvimento autónomo da corrente revolucionária comunista para passar a defen-der a opçom de umha política de alianças com o objectivo de atingir unidades amplas frente ao avanço do fascismo. Esta política de alianças dirigia-se fundamentalmente às organizaçons social-democratas, mas também a outras correntes políticas democratas burguesas.

A definiçom desta nova linha política supujo o ponto de partida da criaçom das frentes populares e outras fórmulas de coligaçom de organizaçons da esquerda que se fôrom dando por todo o mundo e que ainda hoje som umha realidade.

Francisco Martins lança umha radical crítica contra esta linha política baseando-se numha rigorosa análise dos seus efeitos na hora de bloquear o desenvolvimen-to de umha opçom revolucionária proletária. Segundo o autor, a tese de Dimitrov foi um passo atrás no cami-nho de definir umha linha política autónoma própria do proletariado e nom serviu mais que para contaminar o movimento operário com a influência da pequena-burguesia e da incapacidade de definiçom de objectivos autenticamente revolucionários que é própria a esta fracçom menor da classe dominante no capitalismo.

O livro apresenta um especial interesse, pois que bate abertamente nom só com as teses defendidas polos partidos comunistas “oficiais”, como pola prá-tica totalidade das correntes comunistas dissidentes surgidas durante a segunda metade do século XX. Umha obra polémica que possivelmente seja do me-lhor que nos deixou o nosso admirado e bem querido camarada. (André Seoane)

livroS

Higino Martins Estêvez é um mal conhecido pa-triota nascido e residente na capital da Argentina, de pai e mae galega e, sobretodo, vocacionalmente en-tregado à causa nacional e lingüística da Galiza. Nas-cido em 1940, filho de emigrantes do Baixo Minho ga-lego, identificou-se desde criança com a naçom de ori-gem, a Galiza, dedicando-se desde novo à formaçom da comunidade galega emigrada e exilada naquele grande país americano, e convertendo-se ele próprio num estudioso da língua, da história, da literatura e de temas galegos em geral. O professor Bernardo Pe-nabade Rei, ex-presidente da Associaçom Galega da Língua, aborda nesta aproximaçom editorial a figura de Higino Martins, reproduzindo umha longa conversa gravada em 1997 na cidade de Buenos Aires.

A obra constitui um testemunho da história recen-te da comunidade galega na Argentina nas últimas dé-cadas, através de um emigrante de segunda geraçom convertido ao nacionalismo galego a partir de umha viagem à Galiza aos 7 anos de idade. Como parte dessa colectividade, Higino Martins converte-se num fervoro-so defensor da nossa língua, empapando-se das ideias reintegracionistas dominantes no nacionalismo galego instalado em Buenos Aires. Integra a Associaçom Civil Amigos do Idioma Galego, aprende e ensina galego às compatriotas e aos compatriotas emigrados, estuda o passado pré-romano da Galiza, traduz para galego obras em espanhol de autores e autoras galegas...

Entre os episódios narrados em primeira pessoa por Higino Martins, destaca a significativa antecipaçom da comunidade emigrante no uso da ortografia reintegrada em relaçom aos usos do galego escrito na Galiza interior. Com efeito, o próprio Higino passou a utilizar traços ine-quivocamente reintegracionistas como o ene agá ou o ele agá já em 1975. Pouco depois, a introduçom dos cursos de língua no Centro Galego, em 1977, marcou o espalha-mento do galego escrito com a forma tradicional, ligando com a prática de um outro histórico do independentismo reintegracionista: o lembrado Ricardo Flores, que já nos anos 20 e 30 escrevia assim nas páginas da Fouce. A trajectória reintegracionista do nacionalismo galego em Buenos Aires começaria a ser perseguida em 1986, com o PP à frente da Junta da Galiza, segundo relata o pro-tagonista desta interessante conversa que constitui um contributo para umha futura história do nacionalismo ga-lego nas comunidades de galegos e gelegas espalhadas polo mundo por circunstáncias económicas e políticas ao longo do século XX. (Rute Cortiço)

Nom todos os dias temos ocasiom de ter nas maos um volume da qualidade material deste Atlas Histórico da Galiza, a nom ser que se trate de um projecto institucional, em cujo caso será ainda mais difícil que seja realizado com a orientaçom nacional e lingüística que os autores dérom a esta monumental obra divulgativa.

Com efeito, estamos perante um Atlas cuja melhor qualidade é o serviço que o grafismo e o design, a cargo de José Manuel gonçales Ribeira, rendem ao conteúdo, através de atraentes mapas, onde se reflectem os episó-

Junto a cada mapa, verdadeiros protagonistas da obra, um texto serve de ajuda para perceber a etapa concreta, conformando o conjunto umha panorámica útil e sintética da trajectória histórica desta naçom extremo-ocidental da Europa. A visom histórica assu-mida polos autores parte dos contributos realizados nas últimas décadas por autores como Blanca Garcia Fernández-Albalat, Anselmo Lopes Carreira ou Carlos Velasco Souto, além de outros clássicos da historio-grafia galega, como Emílio Gonçales Lopes.

Assim, este Atlas aposta numha leitura galega da nossa história, rompendo com os tópicos da depen-dência e o carácter subordinado da Galiza histórica, situando-a no centro do palco histórico peninsular, nomeadamente em boa parte da Idade Média, em li-nha com a historiografia galega mais recente.

Acrescentemos ainda a inclusom de mapas cen-trados no estudo da evoluçom sociolingüística no

nosso território, bem como a proposta mais recente de territorializaçom para a construçom nacional da Galiza: a realizada e publicada em 2003 pola orga-nizaçom independentista e socialista NÓS-Unidade Popular. Curiosamente, o autor deste interessante Atlas evita em todo o momento referir a fonte ou autoria desse mapa, que inclui e comenta entre as páginas 158 e 163. Com umha eufemística referência ao “movimento galeguista de maior compromisso po-lítico”, Barbosa silencia quem fijo essa proposta, que nos últimos anos tem dado que falar e marcado um ponto de referência para a necessária consolidaçom de umha proposta territorial para o projecto nacional galego.

Fora dessa falha menor, e nom sabemos se signi-ficativa, achamos esta obra muito recomendável, polo seu teor didáctico e divulgativo, além da apresenta-çom atraente e de qualidade. (Maurício Castro)

dios e etapas fundamentais da história da Naçom Galega. Cada um da quase centena de mapas incluídos ilustram a Pré-História, a Proto-História, a Idade Antiga, a Idade Média, a Idade Moderna e a Idade Contemporánea.

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15Nº 50. Outubro, Novembro e Dezembro de 2008

Colombia, laboratório de embrujos. Democracia y terrorismo de estado é um descarnado retrato da Colômbia moderna, onde um sistema político, ad-ministrativo e jurídico na aparência equiparável às democracias burguesas da área, oculta a prática de umha devastadora “guerra suja” contra a dis-sidência, convertida com os anos em política de Estado.

O veterano jornalista colombiano residente em França, Calvo Ospina, inclui no seu estudo nu-merosas fontes, testemunhos e documentos para demonstrar a íntima relaçom entre as sucessivas doutrinas e políticas contrainsurgentes desenha-das polos EUA para a zona e a evoluçom do terro-rismo de Estado na Colômbia, empenhada nom na repressom, mas no total aniquilamento de qualquer movimento popular de carácter reivindicativo ou contestatário.

Encontramos neste trabalho, imprescindível para abordar a realidade do continente americano, as origens e desenvolvimento do fenómeno parami-litar, promovido e protegido pola mesma oligarquia que detém o poder na Colômbia e financiado polos ingentes benefícios do narcotráfico. Um fenómeno, o dos paramilitares, que com a chegada de Uribe à presidência e a activaçom do Plano Colômbia tem alcançado extraordinários níveis de impunidade e participaçom nas estruturas políticas do Estado, tal e como demonstrou o escándalo da parapolítica”.

Um livro impossível de sintetizar em tam pou-cas linhas, que bate na leitora e no leitor a cada pá-gina com a brutalidade que sofrem camponesas/es, povos indígenas e trabalhadoras/es colombian@s. Um livro, enfim, imprescindível para compreender-mos os fenómenos sociais e políticos em marcha na Colômbia e em toda a área. (Daniel Lourenço)

Tivemos o enorme orgulho e privilégio de participar, na quinta-feira 25 de Setembro, na apresentaçom deste livro de homenagem a umha das mais importantes figuras, um dos mais ge-niais estrategas militares da Revoluçom Latino-americana e caribenha. Pouco depois das cinco da tarde, no antigo quartel Sam Carlos Livre de Caracas –hoje transformado em espaço liberta-do para recuperar e manter viva a memória da luita popular armada contra a dominaçom na Venezuela– era batizado com pétalas de rosas esta “cuidadíssima antologia do pensamento revolucionário contemporáneo”, em palavras do comandante insurgente Jesús Santrich. Livro vivo, actual, de reconhecimento e de combate, que acabava de sair do prelo umas horas antes, com textos chegados de forma clandestina e ur-gente das verdes montanhas e selvas que tanto amou e que tanto lhe devem.

A obra consta de un conjunto de artigos analíticos e documentais que permitem conhe-cermos a gigantesca figura e o original projecto revolucionário do grande arquitecto e construtor da Revoluçom colombiana, Manuel Marulanda

A vida de Manolo Barros poderia ser, para os desconhecedores da nossa história recente e para os negacionistas do franquismo, um simples e incrível romance narrado em primeira pessoa para tentar compreender o Século XX galego, de umha óptica militante, umha sorte de thriller histórico para surpreender. Para mim, que ti-vem a honra de o conhecer, Manolo Barros foi um homem-livro; testemunha de que as causas da minha família encontradas nos arquivos em dependências militares em Ferrol, nom faziam parte de um romance familiar.

Um Colóquio Científico Internacio-nal, realizado en Setembro de 2006 na Universidade do Porto por iniciativa da Revista Sociologia, dá pé ao livro que está a resenhar-se. Tentavam os organizadores que, ao analisar as ‘sociedades de risco’, se fosse ao en-contro de questons como os impactos negativos do desenvolvimento cientí-fico e tecnológico, a exposiçom a ca-tástrofes naturais, as desigualdades económico-sociais e culturais muito severas, as pandemias com efeitos devastadores, a crise das instituiçons com funçons de integraçom social e política, etc. Também apontavam a im-possibilidade de avaliar os devanditos riscos sem considerar a desregulaçom do campo económico e, em particular, do mercado de trabalho, bem como a propensom a mercantilizar domínios da actividade social outrora contidos na esfera do serviço público. Assim mesmo, convidavam a pôr de relevo a acçom estatal na reproduçom das sociedades e nas crises que se lhes colocam hoje.

Umha primeira parte reflecte so-bre a representaçom democrática,

Manolo Barros, Gonzalo Amoedo López

Memorias de Manolo Barros: autobiografía dun militante comunista Fundación 10 de marzo, Compostela, 2006. páginas

José Madureira Pinto, Virgílio Borges Pereira (Orgs.)

Desigualdades, Desregulação e Riscos nas Sociedades ContemporâneasEdições Afrontamento, Porto 2008, 290 páginas

livroS

Vários autores

Manuel Marulanda Vélez. El héroe insurgente de la Colombia de BolívarAmérica, 2008, 276 páginas

Vélez, pseudónimo empregado por Pedro António Marín, nos mais de sessenta anos de combate guerrilheiro pola Pátria Grande de Bolívar e o Socialismo.

O primeiro texto corresponde ao comunicado emitido a 27 de Maio polo Secretariado do Estado Maior Central, coincidindo com o 44 aniversário da fundaçom das FARC-EP, informando o povo colom-biano e os povos do mundo da morte de Manuel por causas naturais, exactamente dous meses antes.

O livro continua com um delicioso esboço bio-gráfico de Tirofijo, elaborado polo actual respon-sável das relaçons internacionais das FARC-EP, comandante Iván Márquez, que permite avaliar na sua justa medida o legado e a monumental trajec-tória de quem está mais vivo que nunca, pois “vem

o interesse público e o Estado Penal nas sociedades contemporáneas. E som quatro os relatórios: o de António Teixeira Fernandes, que se ocupa da democratizaçom da democracia e de como umha nova consciência da cida-dania leva a questionar as tradicionais expressons da representaçom; Juan Mozzicafreddo relaciona interesse público, Estado e reorganizaçom das funçons da administraçom e considera que, em matéria de serviço público, a eficiência nom pode estar alheada da equidade e da observáncia dos proce-dimentos democráticos; Jorge Sampaio matina a respeito da representaçom democrática e da regulaçom política no quadro da mundializaçom da economia. A globalizaçom, afirma, torna cada vez mais indispensável um novo contrato social; Pierre Guibentif estuda a rela-çom entre Estado de Direito e Estado Penal, pois neste último acabou de mudar-se o Estado Providência.

Umha segunda parte analisa a desregulaçom da economia e as novas relaçons laborais com umha interven-çom de José Madureira Pinto em que conecta a referida desregulaçom com

o enfraquecimento do Estado Social e acaba por ocupar-se, entre outras, das perspectivas do assunto em duas orientaçons teórico-ideológicas: o (neo)liberalismo e a social-democra-cia. E António Dornelas examina se há que falar de desregulamentaçom ou de novas formas de regulaçom e es-quadrinha a reforma do Modelo Social Europeu e a flexiguranza.

Unha terceira parte cavila acerca das instituiçons perante a desregula-çom social. Da família (com recentes mutaçons geracionais, de género, afectivas…) e do seu intrometimento no exercício de socializaçom e de in-tegraçom social escreve Remi Lenoir. E umha nova participaçom de António Teixeira Fernandes esclarece o pro-cesso de desregulaçom religiosa nu-mha sociedade caracterizada por um crescente pluralismo secularizado. E será Sandrine Garcia quem perscrute as contradiçons das políticas públicas de educaçom e indague as temáticas de diversificaçom, diferenciaçom e desigualdade.

Umha quarta parte que liga re-abilitaçom urbana e coesom social

concentra as contribuiçons de Virgílio Borges Pereira que ensambla na mes-ma Estado, espaço físico e espaço social; a de Miguel Martínez que se pergunta a respeito da possibilidade de a fazer com inclusom social e cul-tural, mas a sua resposta nom é muito optimista, porque tal reabilitaçom é pouco freqüente e nom radical; e a de António Firmino da Costa que encara os problemas identitários e conflituo-sos que se geram.

E ainda há umha quinta parte, que fai de conclusom, que inquire o que se-ria umha análise integrada dos riscos sociais. E nela Maria Luisa Pedroso de Lima sonda as dimensons objectivas dos riscos e também os modos como estes som socialmente percebidos.

Istas linhas non fam justiça a um livro denso e actual e tampouco cabe nelas discutir questons tam impregna-das de ideologia como: a democracia, a cidadania, o Estado Social, a mun-dializaçom ou a secularizaçom… Já que logo: recomendamos que se leia o livro e, como sempre tem de fazer-se, com um olhar crítico. (Domingos Antom Garcia Fernandes)

Hernando Calvo Ospina

Colombia, laboratório de embrujos. Democracia y terrorismo de estadoAkal-Foca. Madrid, 2008. 371 páginas

com Bolívar e com todos os heróis nacionais da nossa independência comandar a ofensiva final”.

Posteriormente, reproduz o comunicado do novo Comandante em chefe das FARC, Alonso Cano, dando passagem a um conjunto de escritos de diversas vozes do mundo nos quais se avaliam com carinho, respeito e admiraçom a trajectória de um dos mais grandes seres humanos da América insurgente: Hernado Calvo Espina, Iñaki Gil de San Vicente, Celia Hart, Narciso Isa Conde, James Petras. Acto seguido som reproduzidas umhas breves valorizaçons sobre Manuel realizadas por Hugo Chávez e Daniel Ortega.

A penúltima parte desta obra reproduz al-guns dos principais documentos políticos do pro-jecto fariano: Manifesto Político das FARC-EP de Setembro de 2007, Plataforma Bolivariana pola Nova Colômbia, o Programa Agrário dos guerri-lheiros de 1964, e as três primeiras leis emitidas pola insurgência: a Lei Agrária, a lei de Tributaçom e a Lei Anti-corrupçom.

Finalmente o livro consta de dous textos de Santrich avaliando o futuro da luita insurgente, reafirmando a sua legitimiade e validez, “aqueles que jamais renunciaremos ao legítimo direito à re-beliom armada, juramos vencer e venceremos!”, e umha breve história das FARC-EP.

Umha obra que cumpre ler, embora de mo-mento na Galiza ainda nom seja de fácil acesso. Aguardamos ver a sua rápida traduçom para o nos-so idioma como a entrada de um cavalo branco no Palácio de Nariño encabeçando as colunas guerri-lheiras que libertam Bogotá. (Carlos Morais)

Por ele soubem, antes de ler a sua autobio-grafia, quando lhe dixem o meu nome e ouviu: Moreda, ficou abraiado por conhecer a parte da semente daqueles homens de idade, alguns anciaos, que foram companheiros de prisom

de Manuel; un rapaz de 16 anos, e lembrou de imediato diante de mim e da minha mae, para os reviver, para os tornar autênticos, aqueles acontecimentos que tinha gravados a ferro e sangue. Converteu-me em neto, comunicado pola sua memória com a minha familia, meu avô meu bisavô e meus tios, todos encarcerados no Príncipe em Vigo. Depois pudem ler no seu li-vro, Memorias de Manolo Barros: autobiografía dun militante comunista, o que ele me contara quando o conhecim em Sam Simom, que despois de que os levaram para serem fusilados no día 1º de Dezembro de 1936, foi tal o escándalo ar-mado por algumhas mulheres da minha familia que nunca mais tirárom os detidos pola porta principal. Manolo Barros nom foi só “um mili-tante comunista”, foi esse modelo de militante genético; comunista desde os 16 anos. Nasceu em 1920 e morreu em Redondela aos 87 anos, luitando e militando na memória e nos valores republicanos com a mesma paixom com que re-sistiu e viveu. (Xavier Moreda)

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Edita: Primeira Linha. Redacçom: Rua Costa do Vedor 47, rés-do-chao. 15703 Compostela. Galiza. Telefone: 616 868 589 / www.primeiralinha.orgConselho de Redacçom: Comité Central de Primeira Linha. Fotografia: Arquivo Abrente. Correcçom lingüística: Galizaemgalego. Maqueta: ocumodeseño. Imprime: Litonor S.A.L. Encerramento da ediçom: 21 de Novembro de 2008Correspondência: Rua Costa do Vedor 47, rés-do-chao. 15703 Compostela. Galiza. Correios electrónicos: [email protected] / [email protected] / Tiragem: 3.000 exemplares. Distribuiçom gratuíta.Permite-se a reproduçom total ou parcial dos artigos sempre que se citar a fonte. Abrente nom partilha necessariamente a opiniom dos artigos assinados.

Impresso em papel reciclado. Depósito Legal: C-901-1997Jornal comunista de debate e formaçom ideológica para promover a Independência Nacional e a Revoluçom Socialista galega

50 números de Abrente – 1996-2008

Galiza em tinta vermelha

ficha de solicitudenome e apelidos

endereço

publicaçom solicitada

localidade código postal

correio electrónico telefone

Com modéstia, mas também com or-gulho, o colectivo de mulheres e homens que neste treze anos, figérom, figemos possível que trimestre a timestre o Abren-te estivesse presente nas ruas, nas mobi-lizaçons, nas luitas da nossa classe e do nosso povo, convertendo-se num jornal comunista consolidado e lido, queremos manifestar a nossa satisfaçom por termos contribuído para fazer realidade o que inicialmente nom passava de um bonito sonho.

Quando, na Primavera de 1996, um re-duzido grupo de mulheres e homens, com mais audácia e voluntarismo que meios e tropa, discutia a preparaçom e ediçom do jornal do nosso projecto revolucionário marxista de libertaçom nacional, estáva-mos plenamente convencid@s da necessi-dade de editar um vozeiro para organizar e agitar, para informar e denunciar, para orientar e formar militantes comunistas.

Naquela altura fôrom propostos dous nomes: Fenda e Abrente. Finalmente, inclinamo-nos pola segunda manchete. Optamos pola clareza que precede o nas-cer do dia, pola madrugada de aroma e montanha, pola juventude sem complexos de infinitos horizontes, por ser começo de épocas, por crepúsculo matutino que dá passagem a umha nova jornada de sol e brisa fresca. E assim, no Dia da Pátria de 1996, foi iniciada, entre enorme surpresa

quando há agora pouco mais de umha dúzia de anos alteramos o panorama in-formativo da esquerda nacional galega, na altura caracterizado por ser um autêntico ermo. Nengumha organizaçom mantinha umha imprensa estável. A nossa saída estimulou outras publicaçons que estavam congeladas, assim como a importáncia e actualidade da concepçom leninista do jornal revolucionário como organizador colectivo.

Comemoramos a ediçom do número 50 com a alegria de termos ultrapassado todo o tipo de entraves e obstáculos, de incompreensons e difamaçons, mas com a enorme satisfaçom de termos conseguido um progressivo e permanente aumento no número de leitores e leitoras que, ou bem em papel, ou sobretodo na ediçom digital, acompanham com atençom a sempre pon-tual saída do Abrente.

Com idêntica ambiçom e vontade de superaçom que provocou o nosso nasci-mento, entre os nossos objectivos nom só se acha melhorar conteúdos e cola-boraçons, também reduzir periodicidade e aumentar o número de páginas. O de-senvolvimento do movimento revolucioná-rio galego condicionará a sua viabilidade. Pois, no fim de contas, contribuir para o sucesso da Revoluçom Galega é a nossa verdadeira razom para existir.

e expectaçom, a distribuiçom dos três mil exemplares.

Mudanças permanentes na trajectória

O jornal foi acompanhando sempre o desenvolvimento partidário. Assim, desde o número 11, após o especial que inicia a segunda jeira, o jornal passa a empre-gar exclusivamente a ortografia histórica galego-portuguesa.

Os permanentes reajustamentos que Primeira Linha aplica na sua táctica apa-recem reflectidos nas páginas. O mesmo acontece com as melhorias técnicas, a maquetaçom e o desenho, procurando ser um jornal vanguardista e inovador, logran-do combinar os artigos e a reflexom de fundo, mais ideológicos, com um desenho atraente que estimule a leitura.

E o Abrente, apesar de ser o vozeiro oficial de um partido comunista, sempre mantivo abertas as suas páginas a outras vozes da esquerda nacional e internacio-nal, sendo inéditos a prática totalidade dos centos de artigos e textos dos mais de

130 colaboradores e colaboradas. O nosso periódico está indissoluvel-

mente unido à história mais recente da esquerda independentista, mas também a

boa parte dos melhores episódios da re-sistência nacional, da luita anticapitalista e popular, aos combates da Galiza rebel-de. Este era um dos principais objcectivos

Recebe as publicaçons da Abrente Editora na tua morada preenchendo o formulário e enviando-o co justificante de pagamento da publicaçom ou publicaçons escolhidas à rua Costa do Vedor 47, rés-do-chao. 15703 Compostela. Galiza. Número de conta para o ingresso 2091 0387 423000009169 de Caixa Galiza-Compostela. Ao preço da publicaçom há que acrescentar 5 e por gastos de envio.

CEIA-ACTO POLÍTICO-FESTA

35€ inclui livro e CD comemorativo

Actuaçom de Chama-lhe Xsábado 20 de dezembro às 20.30 horasno restaurante Paz Nogueira (castinheirinho 14-16 compostela)