Artigo Sobre Embeddedness

download Artigo Sobre Embeddedness

of 14

Transcript of Artigo Sobre Embeddedness

  • 7/23/2019 Artigo Sobre Embeddedness

    1/14

    O IMPACTO DO GRAU DE

    EMBEDDEDNESS NO

    DESENVOLVIMENTO DE REDES

    INTERORGANIZACIONAIS

    Fabiana Ferreira Silva (UFRPE )

    [email protected]

    Marcos Gilson Gomes Feitosa (UFPE )

    [email protected]

    Virginia do Socorro Motta Aguiar (Mackenzi )

    [email protected] Regina Bezerra Ribeiro (UFRPE )

    [email protected]

    As redes interorganizacionais vm consolidando um espao de cooperao,

    mas tambm de competio, onde os objetivos econmicos ainda

    prevalecem na anlise do desenvolvimento da rede. A pergunta que norteou

    a elaborao deste ensaio terico-emprico foi: como o grau deembeddedness da rede pode impactar no desenvolvimento do Arranjo

    Produtivo Local de Confeces no Agreste Pernambucano? A pesquisa

    revelou que o grau de imerso social no vem gerando um desenvolvimento

    inovador e sustentvel na rede analisada, uma vez que os benefcios ficam

    concentrados em uma minoria e os resultados so predominantemente

    econmicos.

    Palavras-chaves: Embeddedness; Inovao; Redes Interorganizacionais.

    XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO

    Engenharia de Produo, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentvel: a Agenda Brasil+10

    Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.

  • 7/23/2019 Artigo Sobre Embeddedness

    2/14

  • 7/23/2019 Artigo Sobre Embeddedness

    3/14

    XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAOEngenharia de Produo, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentvel: a Agenda Brasil+10

    Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.

    3

    apresentados os resultados da pesquisa; a quinta seo sistematiza as concluses do trabalho;

    e, por fim, a sexta seo traz as referncias bibliogrficas que fundamentaram o estudo.

    2. Fundamentao Terica

    As redes constituem uma nova morfologia social e a difuso dessa lgica modifica, de

    forma substancial, a operao dos processos produtivos, sociais, econmicos, culturais e de

    poder nas relaes estabelecidas (CASTELLS, 2000).

    As redes podem ser definidas como conjunto de ns e intersees formadas por pessoase por grupos ligados a diferentes sistemas de relaes sociais (MOTTA e VASCONCELOS

    2008, p. 374). Latour (2008) acrescenta que uma rede no se reduz a um nico ator, nem a prpria

    rede, que composta por uma srie diversa de elementos, animados e inanimados conectados e

    agenciados. Dessa forma, a teoria do ator-rede contribui para a anlise do conjunto de atores

    (instituies de pesquisa e suporte, escolas, empresas, fornecedores, concorrentes, consumidores e

    governo) que participam coletivamente na concepo, desenvolvimento, produo e difuso de

    bens e servios que beneficiem toda a rede (POZ, 2009).

    Os atores de uma rede no se comportam ou decidem como tomos fora de um

    contexto social. As suas tentativas de ao intencional esto antes incrustadas/enraizadas em

    sistemas de relaes sociais concretas e contnuas (GRANOVETTER, 1985). Para o autor, o

    conceito de embeddedness expressa o modo como a ao econmica est imersa em relaes

    sociais que condicionam o comportamento dos atores econmicos. Originalmente, este

    conceito tem sido associado aos estudos de Polanyi (1980). Esse autor destacou que, em

    sociedades capitalistas, as relaes mercantis encontravam-se enraizadas nas relaes sociaise, medida que o mercado se desenvolve, este se autonomiza das estruturas sociais e molda

    uma sociedade. Em vez de a economia estar enraizada nas relaes sociais, so as relaes

    sociais que esto enraizadas no sistema econmico (POLANYI, 1980, p. 77).

    A abordagem meramente econmica vem sendo criticada e Vizeu (2003) apresenta

    outra forma de analisar as redes a partir do interesse interdisciplinar das cincias sociais no-

    funcionalistas, com uma perspectiva diferente sobre o fenmeno. Incitados especialmente

    pelo caso dos distritos italianos, os autores desta abordagem tm questionado o pressupostoexclusivamente econmico e instrumental adotado pelo entendimento funcionalista, aludindo

  • 7/23/2019 Artigo Sobre Embeddedness

    4/14

    XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAOEngenharia de Produo, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentvel: a Agenda Brasil+10

    Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.

    4

    a necessidade de se considerar, de forma mais significativa, o imperativo histrico-scio-

    cultural como fundamento explicativo da efetividade das redes. Neste novo enfoque, aorientao tcnico-econmica d lugar a uma perspectiva mais subjetivista, vinculada

    tradio fenomenolgica da cincia social. Assim, em vez de categorias econmicas

    reificadas, so enfocadas categorias socioculturais, como as relaes afetivas de confiana, os

    aspectos de identidade cultural, a dimenso intersubjetiva da interao social e as

    prerrogativas histricas do territrio e/ou da comunidade.

    Granovetter (1973) explica as redes sociais a partir da teoria dos laos, classificando-

    os como fortes ou fracos. Para o autor, os laos fortes se caracterizam pelas relaes maisprximas e diretas, enquanto que os laos fracos so imprescindveis integrao dos atores

    em uma comunidade, fazendo surgir oportunidades atravs da interao entre os diferentes

    elos dos grupos. Diante do exposto, o autor destaca a importncia dos laos fracos, uma vez

    que eles funcionam como pontes ampliando as ligaes dentro da rede onde existem os

    chamados buracos estruturais. Segundo Granovetter (1985), os laos fracos aumentam as

    fontes de conhecimento e inovao, uma vez que, enquanto h redundncia de informaes

    entre os laos fortes, limitando o processo inovativo dessas empresas, os atores (laos fracos)dispersos unem e alimentam a rede com novas informaes, especialmente, porque eles

    participam de diferentes crculos sociais e tm uma maior representatividade (em termos

    quantitativos) do que aqueles que concentram o poder.

    A partir deste trabalho, outros autores comearam a pesquisar como as relaes sociais

    afetam a vida econmica. Estudando o setor de alta-costura em Nova York, Uzzi (1996)

    observou que o ponto de inflexo do favorecimento do desempenho quando a imerso social

    to grande que as relaes ocorrem sempre entre as mesmas organizaes, causando altograu de redundncia nas informaes. J Simsek, Lubatkin e Floyd (1995) destacam trs tipos

    de embeddedness (estrutural, relacional e cognitiva), que afetam diretamente o

    comportamento do empreendedor quanto ao grau de mudana implementado nas

    organizaes, que negativamente correlacionado ao grau de embeddedness na rede. Para

    Burt (1992), uma rede com baixa imerso local permite maior acesso a diferentes fontes de

    informao, gerando mudanas radicais. Por outro lado, Krackhardt (1992) observa que uma

    rede com alto grau de embeddedness tende a gerar mais confiana, maior redundncia nasinformaes trocadas e a implementao de mudanas incrementais (BRITTO, 2008).

  • 7/23/2019 Artigo Sobre Embeddedness

    5/14

    XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAOEngenharia de Produo, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentvel: a Agenda Brasil+10

    Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.

    5

    A lgica do capitalismo influencia, diretamente, as relaes sociais fazendo prevalecer

    a racionalidade do mercado na rede. Quem no se adqua lgica instrumentalpredominante no mercado marginalizado das relaes sociais, ao mesmo tempo, esse ator

    no se reconhece como parte integrante da rede. Segundo Martes (2009 apud CRUZ;

    MARTINS; AUGUSTO, 2009), uma das principais contribuies dos estudos sobre redes

    apresentar um tipo de abordagem alternativa, por um lado, ao determinismo cultural, na

    medida em que as redes so entendidas como produto da human agency e, por outro, ao

    individualismo atomizado da abordagem econmica. Portanto, a pesquisa justifica-se

    teoricamente pela inexistncia de produes acadmicas que relacionem, diretamente, o grau

    de embeddednessdos atores sociais aos estgios de desenvolvimento de redes.

    3. Metodologia

    Segundo Gil (2002, p.162) a metodologia compreende [...] os procedimentos a serem

    seguidos na realizao da pesquisa. Sua organizao varia de acordo com as peculiaridades de

    cada estudo. A pesquisa foi delineada, a priori, luz da classificao proposta por Vergara

    (2013). Quanto aos fins, foi desenvolvida uma pesquisa exploratria, devido inexistncia deestudos na regio que analisem se o grau de embeddedness impacta na inovao e

    desenvolvimento da rede; e explicativa, porque no se restringiu descrio dos fenmenos,

    evidenciando tambm suas relaes, causas e possveis consequncias. Quantos aos meios, a

    pesquisa foi estruturada sob a forma de estudo de caso, uma vez que investigou,

    detalhadamente, determinado contexto e tambm incluiu uma pesquisa de campo, com o

    mapeamento e a caracterizao dos sujeitos atravs da aplicao de um questionrio e da

    realizao de entrevistas semiestruturadas a uma amostra representativa de empresrios.

    Dessa forma, a pesquisa contemplou os mtodos quantitativo e qualitativo, possibilitando

    uma melhor compreenso do objeto em estudo. Os mtodos qualitativos e quantitativos no se

    excluem, na fase de coleta de dados, ainterao entre os dois mtodos reduzida, porm, na fase

    da concluso, eles se complementam (NEVES, 1996, p. 2). O Arranjo Produtivo Local de

    Confeces do Agreste Pernambucano constitudo por mais de 18.000 (dezoito mil)

    empreendimentos segundo dados da ltima pesquisa realizada na regio pelo SEBRAE (2013).

    Desse total, cerca de 7.000 (sete mil) localizam-se em Santa Cruz do Capibaribe, enquanto que os

    11.000 empreendimentos restantes esto distribudos em outros 09 municpios. Por estas razes,

  • 7/23/2019 Artigo Sobre Embeddedness

    6/14

    XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAOEngenharia de Produo, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentvel: a Agenda Brasil+10

    Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.

    6

    os empreendimentos localizados nesta cidade constituem o universo desta pesquisa, uma vez que

    representam 38,8% do universo. Dada a impossibilidade de investigar todos os sujeitos dessecampo, a amostra foi delimitada com base nos seguintes critrios:

    foram investigados apenas os empreendimentos formais;

    que desenvolvem a atividade principal do APL (confeces);

    que tenham contratado e implementado servios de consultoria na empresa; e

    estivessem com o cadastro ativo nas Associaes que representam os empresrios, a

    saber: Cmara de Dirigentes Lojistas (CDL) e Associao Comercial e Industrial de

    Santa Cruz do Capibaribe (ASCAP).

    Essas duas redes empresariais (CDL e ASCAP) tm forte atuao no municpio e

    sempre organizam grupos para participarem de atividades que viabilizam a troca de

    informaes e geram aprendizado. Com base nos critrios supracitados, chegou-se a uma

    amostra de 51 empresrios que responderam o questionrio da pesquisa.

    Os dados obtidos com a aplicao dos questionrios foram analisados e interpretados

    com o auxlio de mtodos quantitativos (estatstica descritiva e inferencial) e expressos por

    meio de tabelas e grficos. Alm da descrio e caracterizao dos dados coletados, foram

    utilizadas tcnicas estatsticas inferenciais visando realizao de comparaes,

    cruzamentos e combinaes de dados [...] com o objetivo de estabelecer concluses a respeito

    das possveis relaes entre as variveis envolvidas (SOUZA; SOUZA; SILVA, 2002 apud

    MOURA, 2008, p. 97). pertinente destacar que s foram realizados testes estatsticos com

    as variveis diretamente relacionadas aos aspectos essenciais da pesquisa.

    Em relao pesquisa qualitativa, perguntou-se aos empresrios que responderam o

    questionrio, quem poderia participar de uma entrevista mais detalhada e seis se

    disponibilizaram a contribuir com a pesquisa. Para Merriam (1998), a validao das

    informaes em pesquisas qualitativas no exalta a quantidade dos dados, mas a riqueza de

    detalhes que so obtidos conforme o propsito do estudo. Nos estudos qualitativos, que no

    tm a generalizao como um de seus objetivos, prefervel utilizar amostras de pequeno

    tamanho j que a inteno o entendimento do fenmeno em vez de sua amplitude.

    Para a coleta dos dados, foi utilizado um roteiro de entrevista semiestruturado. O uso

    deste tipo de entrevistas permite um conjunto de questes previamente elaboradas,

  • 7/23/2019 Artigo Sobre Embeddedness

    7/14

  • 7/23/2019 Artigo Sobre Embeddedness

    8/14

    XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAOEngenharia de Produo, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentvel: a Agenda Brasil+10

    Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.

    8

    Figura 1 - Faturamento Mensal do Negcio

    Fonte: Dados da Pesquisa (2010)

    Quando questionados sobre a intensidade dos benefcios gerados pela atuao na rede,

    constatou-se que o grau mdio predominou em todos os itens ultrapassando o percentual de

    40%, enquanto que o critrio que obteve menor classificao refere-se cooperao na rede,

    visto que mais de 30% classificaram como Ruim. pertinente destacar que 82,4% atriburamos

    conceitos mdio e alto opo aprendizagem e inovao, conforme expresso na Figura 2:

    Figura 2 - Intensidade das Vantagens de Atuar na Rede

    Fonte: Dados da Pesquisa (2010)

    Por outro lado, os empresrios tambm apresentaram sua percepo sobre as

    desvantagens de atuao na rede (Figura 3), classificando como alta a concorrncia (72,5%) e

    o oportunismo (47,1%). Os demais itens apresentaram grau de impacto mdio nas indstrias,

    sendo que 54,9% dos entrevistados destacaram a existncia da centralizao de informaes,

    47,1% chamaram ateno para a concentrao de poder e 33,3% para a rivalidade entre as

    empresas no APL.

  • 7/23/2019 Artigo Sobre Embeddedness

    9/14

    XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAOEngenharia de Produo, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentvel: a Agenda Brasil+10

    Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.

    9

    Figura 3 - Intensidade das Desvantagens de Atuar na Rede

    Fonte: Dados da Pesquisa (2010)

    Em relao ao estabelecimento de parcerias para implementar inovaes nas empresas,

    observou-se que 54,9% dos empresrios disseram que no acessaram os demais atores da rede

    para buscar cooperaes inovativas, enquanto que 45,1% afirmaram ter feito parcerias

    visando implementao de inovaes na empresa. Dentre os empresrios que revelaram

    estabelecer parcerias para implementar inovaes na empresa, apresenta-se na Figura 4 os

    principais atores da rede envolvidos, destacando que a interao com outras empresas do

    grupo, com os centros de capacitao profissional e com as associaes atinge 25,3% cada.

    pertinente observar que as empresas tambm estabelecem parcerias com seus fornecedores

    (21,6%) e clientes (19,6%). Os ndices mais baixos ficaram com a interao com as

    universidades ou faculdades (9,8%) e com os concorrentes (5,9%). A soma dos valores da

    Figura 4 no cumulativa uma vez que a mesma empresa pode ter estabelecido cooperao

    com mais de um ator da rede.

  • 7/23/2019 Artigo Sobre Embeddedness

    10/14

    XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAOEngenharia de Produo, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentvel: a Agenda Brasil+10

    Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.

    10

    Figura 4 - Tipos de Atores que as Empresas Estabeleceram Parcerias para CooperaoFonte: Dados da Pesquisa (2010)

    Quando questionados sobre os objetivos desta cooperao, os empresrios destacaram

    que a finalidade participar de treinamentos, realizar consultorias, desenvolver produtos,

    fazer pesquisas e participar de projetos, conforme percentuais detalhado na Figura 5:

    Figura 5 - Objetivo da Parceria Estabelecida com os Atores da Rede

    Fonte: Dados da Pesquisa (2010)

    Para verificar a relao existente entre as empresas que fazem parcerias e os tipos deinovao implementados, observou-se que a cooperao proporciona inovaes

    organizacionais e processuais, uma vez que a correlao entre tais variveis foi

    estatisticamente significativa (p

  • 7/23/2019 Artigo Sobre Embeddedness

    11/14

    XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAOEngenharia de Produo, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentvel: a Agenda Brasil+10

    Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.

    11

    Todas as finalidades de parcerias estabelecidas citadas pelos respondentes na Figura 5

    constituem fontes importantes de inovao para as empresas. Entretanto, a pesquisa revelouque 70,6% dos empresrios encontram dificuldades para inovar. A falta de profissional

    qualificado considerada o fator mais crtico, porm merece destaque a centralizao de

    informaes em determinadas empresas. A soma dos percentuais de alto e mdio impacto da

    centralizao totaliza 68,6%. Na Figura 6 esto ilustradas todas as dificuldades que os

    empresrios encontram para inovar, destacando-se o ltimo aspecto uma vez que est

    diretamente relacionado ao estudo do impacto do grau de embeddedness, podendo restringir a

    inovao e o desenvolvimento do APL analisado.

    Figura 6 - Grau de Importncia dos Fatores que Prejudicaram as Atividades Inovativas nas Empresas

    Fonte: Dados da Pesquisa (2010)

    Os relatos das entrevistas tambm ratificaram o problema da centralizao deinformaes. Os empresrios A, B, C e F disseram que apenas algumas empresas inovam no

    APL e servem de espelho para as demais que, atravs de um processo mimtico e passivo,

    comeam a buscar a melhoria para as suas atividades.

    Existem algumas empresas inovadoras j conhecidas por todos, mas so poucos eisso provvel porque elas esto crescendo. E muitas pararam no tempo e esto alifazendo somente aquele feijo com arroz mesmo. O fato de estarmos atuando em umpolo deveria facilitar a inovao mas a realidade diferente, as empresas so muitofechadas, a interao e a cooperao ocorre entre grupos pequenos de empresrios

    (Empresrio B, entrevista em 12.08.2010, grifos nossos).

  • 7/23/2019 Artigo Sobre Embeddedness

    12/14

    XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAOEngenharia de Produo, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentvel: a Agenda Brasil+10

    Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.

    12

    O depoimento supracitado apenas um exemplo para evidenciar que a inovao

    concentra-se em pequenos grupos de empresas. Diante do exposto, constata-se que no hequidade na disseminao dos benefcios na rede e que esta acaba consolidando uma estrutura

    de excluso no APL em estudo, visto que apenas uma minoria aproveita as vantagens geradas

    no ambiente. Percebe-se que maquiar a lgica instrumental atravs de uma nova roupagem

    no passa de um simulacro para a perpetuao de condutas hegemnicas.

    5. Consideraes Finais

    Dentre os principais resultados, constatou-se que um pequeno grupo de empresrios

    aproveita os benefcios proporcionados pelo APL e, diante de um grau elevado de

    embeddedness, existe uma pseudoinovao, visto que a maioria dos atores (laos fracos) da rede

    so marginalizados desses benefcios. imprescindvel destacar que, apesar de foras

    mimticas influenciarem a inovao (DIMAGGIO e POWELL, 1977), em uma rede onde os

    benefcios ficam concentrados em pequenos grupos, o mimetismo constitui uma falsa fonte de

    inovao, uma vez que o grau de imerso social (embeddedness) torna as informaes

    redundantes para esses atores privilegiados, ao mesmo tempo em que exclui a maiori a (laosfracos) que impulsiona s prticas inovativas (GRANOVETTER, 1985; BURT, 1992; UZZI,

    1996; BRITTO, 2008).

    Quando questionados sobre a intensidade dos benefcios gerados pela atuao na rede,

    constatou-se que o grau mdio predominou em todos os itens (reduo de custos, ganhos de

    escala, proviso de solues) ultrapassando o percentual de 40%. Tais fatores constituem

    aspectos puramente instrumentais, cujos resultados positivos do crescimento econmico

    passam a maquiar as principais demandas sociais da rede (CURRS, 2009 apud

    POBLACIN et al., 2009; GRAMSCI, 1980 apudMARTINS, 2008).

    Os empresrios tambm apresentaram sua percepo sobre as desvantagens de atuao

    na rede, classificando como alta a concorrncia (72,5%) e o oportunismo (47,1%). Os demais

    itens apresentaram grau de impacto mdio nas indstrias, sendo que 54,9% dos entrevistados

    destacaram a existncia da centralizao de informaes, 47,1% chamaram ateno para a

    concentrao de poder e 33,3% para a rivalidade entre as empresas no APL. Percebe-se que

    estes fatores inibem a construo da confiana entre os autores e, segundo Vosselman (2010),

  • 7/23/2019 Artigo Sobre Embeddedness

    13/14

    XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAOEngenharia de Produo, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentvel: a Agenda Brasil+10

    Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.

    13

    apesar de o ambiente de redes ser permeado por transaes econmicas calculistas e regidas

    pelo autointeresse, a confiana constitui um elemento fundamental sustentabilidade dosaglomerados. Esses resultados no so positivos, especialmente porque a centralizao de

    informaes e a concentrao de poder favorecem o embeddedness, limitando a disseminao

    de prticas inovadoras para todos os atores da rede, dado que o grau de mudana implementado

    nas organizaes negativamente correlacionado ao grau de imerso social na rede

    (GRANOVETTER, 1985; BURT, 1992; KRACKHARDT, 1992; SIMSEK, LUBATKIN e

    FLOYD, 1995; UZZI, 1996; BRITTO, 2008).

    Tais resultados revelaram que, alm dos benefcios serem predominantementeeconmicos no APL, ainda so direcionados a poucos atores, ou seja, os principais

    destinatrios dessas vantagens so aqueles mais conscientes das vantagens competitivas da

    rede (PORTER, 1998; AMATO NETO, 2008) e que, na pesquisa de Souza (2008), os sujeitos

    desses benefcios concentram-se nas associaes locais. Diante do exposto, conclui-se que na

    unidade analisada, o grau de embeddednessimpacta e inibe o desenvolvimento sustentvel de

    toda a rede, proporcionando, a uma minoria, o acesso s informaes e ao poder. vlido

    destacar que o artigo revela as percepes dos sujeitos de determinado contexto,caracterizando-se como um estudo de caso cujos resultados no tm a pretenso de serem

    generalizados, porm podem suscitar pesquisas posteriores em outras redes.

    6. Referncias

    AMATO NETO, Joo (Org.). Redes entre organizaes: domnio do conhecimento e da eficcia operacional.So Paulo: Thomson Learning, 2008.

    BRITTO, J. Redes empresariais: elementos estruturais e conformao interna. In: DUARTE, F.; SQUANDT, C.;SOUZA, Q. (Org.) Tempo das Redes. So Paulo: Perspectiva, 2008. p. 97-131.

    BURT, Ronald S. Structural Hole. MA: Harvard University Press, 1992.

    CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. Traduo: Roneide Venancio Majer. 6. ed. So Paulo: Paz e Terra,2000.

    CRUZ, June Allison Westard; MARTINS, Toms Sparano; AUGUSTO, Paulo Otvio Musti. (Coord.). RedesSociais e Organizacionais em Administrao. Paran: Juru, 2009.

    DIMAGGIO, J.; POWELL, W. The iron cage revisited: institutional isomorphism and collective rationality inorganizational fields. American Sociological Review, v.48, p.147-160, 1983.

    GIL, Antnio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. So Paulo: Atlas, 2002.

    GRANOVETTER, M. The Strength of Weak Ties. American Journal of Sociology, v. 78, p. 1360-1380, 1973.

  • 7/23/2019 Artigo Sobre Embeddedness

    14/14

    XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAOEngenharia de Produo, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentvel: a Agenda Brasil+10

    Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.

    ______. Economic Action and Social Structure: the problem of embeddedness. American Journal of Sociology,v. 91, p. 481-510, 1985.

    KRACKHARDT, David. The strength of strong tis: the importance of philos in organizations. In: NOHRIA,Nitin; ECCLES, Robert G. (Orgs.). Network and organizations: structure, form and action. Boston: HavardBusiness School Press, 1992.

    LATOUR, Bruno. Reemsamblar Lo Social: una introduccion de la teoria eel actor-red. Buenos Aires: TabaBlanda, 2008.

    MARTINS, Marcos F. Marx, Gramsci e o Conhecimento: ruptura ou descontinuidade. Campinas: AutoresAssociados; So Paulo: UNISALCentro Universitrio Salesiano, 2008.

    MERRIAM, S. Qualitative research and case study apllications in education. San Francisco: Jossey-Bass,1998.

    MOTTA, Fernando C. P.; VASCONCELOS, Isabella F. G. Teoria Gerald a Administrao. 3. ed. So Paulo:Cengage Learning, 2008.

    MOURA, Ana Lcia Neves de. A influncia da resistncia dos clientes no sucesso no trabalho do consultorinterno em rgos pblicos: analisando a experincia do PROGESTO. 229f. Dissertao (Mestrado). Cursode Administrao, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2008.

    NEVES, Lus Jos. Pesquisa qualitativa: caractersticas, usos e possibilidades. Caderno de Pesquisas emAdministrao, So Paulo, v.1, n. 3, 2 sem. 1996. Disponvel em: . Acesso em: 12 dez. 2009.

    POBLACION, D.A. et al. Redes sociais e colaborativas: em informao cientfica. So Paulo: Angellara,2009.

    POLANYI, K. A grande transformao: as origens da nossa poca. Rio de Janeiro: Campus, 1980.

    POZ, Ester Dal. Redes de Inovao. Observatrio da Inovao e Competitividade: UNICAMP, 2009.

    Disponvel em: . Acesso em: 11 out. 2013.

    PORTER, M. Clusters and the new economics of competition. Havard Business Review, vol. 76, n. 6, p. 77-90,nov./dec. 1998.

    SEBRAE. Estudo Econmico do Arranjo Produtivo Local de Confeces do Agreste Pernambucano.Recife: SEBRAE-PE, 2013.

    SIMSEK, Zeki; LUBATKIN, Michael; FLOYD, Steven. Interfirm networks and entrepreneurial behavior.Journal of Management, v. 38, n. 1, p. 7-23, 1995.

    UZZI, Brain. The sources and consequences of embeddedness for the economic performance of organizations:the network effect. American Sociological Review, v. 61, p. 674-698, ago. 1996.

    VERGARA, Sylvia C. Projetos e Relatrios de Pesquisa em Administrao. 14. ed. So Paulo: Atlas, 2013.

    VIZEU, Fbio. Pesquisas sobre Redes Interorganizacionais: uma Proposta de Distino Paradigmtica. In:XXVII Encontro Nacional dos Programas de Ps-graduao em Administrao (EnANPAD) Anaiseletrnicos... So Paulo: ANPAD, 2003.

    VOSSELMAN, E. Governance of interfirm relationships and organizational networks. 2010. Disponvelem: . Acesso em: 20 set. 2010.