Exercicios de Semantica

42

Transcript of Exercicios de Semantica

  • EXERCCIOS DE SEMNTICA

    Joo Vasco Coelho

    Coimbra * MMIX

  • Os exerccios

    Interregno.......................................................................................... 3 Especulao. ..................................................................................... 4 Arroz doce......................................................................................... 5 Vulnerabilidade................................................................................. 8 Pessimismo ....................................................................................... 9 Gnero............................................................................................. 10 Estatuto ........................................................................................... 11 Verdade........................................................................................... 12 Repasto ........................................................................................... 13 Normopatia ..................................................................................... 14 Sociopatia........................................................................................ 15 Porrada............................................................................................ 16 Conversa ......................................................................................... 17 Dar .................................................................................................. 18 Rir ................................................................................................... 19 Fazer ............................................................................................... 20 Palavras........................................................................................... 21 Teleologia ....................................................................................... 22 Discurso publicitrio ....................................................................... 23 Adjectivo......................................................................................... 25 Empenho ......................................................................................... 26 Meio................................................................................................ 27 Amigos............................................................................................ 28 Potencial.......................................................................................... 29 Monocultura.................................................................................... 31 Ansiedade........................................................................................ 32 Poltica ............................................................................................ 34 Amor ............................................................................................... 36 Silncio ........................................................................................... 37 Trabalho .......................................................................................... 38 Vida................................................................................................. 39

  • 3

    Interregno.

    Por vezes, h pessoas que batem de frente com a insolvente

    indiferena dos procedimentos do Estado, verdades rgidas dispostas

    em estantes, que assistem, perplexas, a esta amostra de realidade s

    avessas, sem nada poderem fazer, pois so de contraplacado, uma

    matria que no , ainda, um cidado, e no pode, portanto,

    denunciar ou injuriar mediocridades alheias. O mundo estar, talvez,

    em intervalo. Gente h que aparenta viver no seu prprio jardim-de-

    infncia. Estar vivo, um exerccio lgubre, violento, virulento para

    o incauto Homem-mdio. Assim se v, um mundo em intervalo. Os

    infinitos pessoais so reduzidos. A ignorncia normalizada,

    banalizada. Todo o dilogo evento, performance. Turpor. Muito

    perfeito, aborrecido, dispensvel. Sofrida pose canalizada. Ser,

    talvez, um caso de salincia na percepo. Uma hiprbole meditica.

    Para conselhos e orientao, valha-nos, talvez, o Borda dgua. A

    alegria leviana, por tal, h que desta efectuar parcos consumos,

    com decoro e moderao.

  • 4

    Especulao.

    O mundo, agora de compreenso mais difcil depois das brincadeiras

    de especulao que nos assolam o esprito, to distante e to ausente

    das virtuais mecnicas bolsistas. Uma substncia amorfa, aptica

    a ainda chamada economia, gua sulfurosa, um holograma-avatar

    que nos invade o dia-a-dia. O valor da transaco rebenta-nos na

    mo; pobre do leitor que, sem aviso, se perde num odor

    nauseabundo, indexado ensima abstraco. Que pretendem as

    pessoas, assim deste jeito? Nova quitina, a aparncia de um exo-

    esqueleto refeito, pensado e definido a preceito. Odor de fraude,

    impunidade e desrespeito de gnese opaca, difcil de balizar.

    Importante , certamente, o indivduo que se pe a jeito. Um ensejo

    secular, que nem o mais potente CIF parece poder neutralizar.

  • 5

    Arroz doce.

    Esperana. Apesar da especulao metafsica de niilistas, o apego

    essncia material das coisas, e pirotecnicas maneiristas de senhores

    feudais, relembram-se velha quimera, o arroz doce das avs, uma

    mania em pires tosco, a fumegar. Perante um vislumbre de divindade

    assim servido, os seres humanos so mais iguais. O arroz-doce das

    avs, servido ao neto e ao senhor feudal, muito tem contribudo para o

    progresso moral da civilizao, alienando as sortes precrias dos

    indivduos incautos, assim surpreendidos com tamanha manifestao de

    cultura e humanidade, demarcada com trao grosso de canela. Como

    diria Machado de Assis, bem-aventurados os que assim no descem.

  • 6

    Colo.

    O colo nunca falha: colo fiel, que resgata a angstia da meditao

    insolente. Colo refgio, quando o mundo persiste em avanar do

    lado avesso. Colo amigo, onde brindamos aos ideais esfumados, aos

    sonhos e aspiraes que teimam em no aparecer. No colo figuram

    as palavras todas. No colo, as certezas so sempre afirmadas.

    Derramadas. No colo jaze quase sempre a verdade. Do muito colo se

    pode fazer de uma existncia, uma travessia um pouco menos

    solitria.

  • 7

    Vazio.

    No pode haver uma relao entre duas pessoas, se no existir o

    fomento do vazio; o vazio condio e cenrio de apario da

    essncia de cada uma dessas pessoas. H, pois, ritmo e

    disponibilidade (irregular) no vazio. O vazio empresta volume

    expectativa. O vazio contribui para o achamento de si. O vazio no

    , de modo inequvoco, ausncia e opresso. O vazio que se v ,

    efectivamente, o vazio que se conhece.

  • 8

    Vulnerabilidade.

    O criador deve construir a sua casa sempre beira do abismo.

  • 9

    Pessimismo.

    Da lgica totalitria e niilista da vida mutilada prpria do tempo que

    o nosso, outra coisa no se pode (ou deve) esperar que no

    diferente. O pessimismo surge, aqui, como inefvel/ incontornvel

    postulado/performativo tico. A interrupo do ritmo veloz e voraz

    do quotidiano, sem contemplaes, emerge como possvel panaceia.

    Antdoto mirfico, contudo. Habituamo-nos, com negligncia,

    desateno no dia-a-dia, e ao seu apelo melanclico. H que reaver a

    lucidez, face desmesura e vertigem horizontal do vazio. Uma

    aragem libertria. Torpedear o devir da histria. A passagem do

    tempo como escrito-dito, ordenado e no-decorativo, incuo. Um

    vaivm veemente de palavras plenas. Amor que no carece, em

    definitivo, de explicaes.

  • 10

    Gnero.

    O gnero , abreviando, o parente afastado do sexo, ao operar no

    contexto social como classificador (de diferenas) dos indivduos,

    um lugar de inscrio e legimitao de relaes de subordinao e

    desqualificao (social e simblica). A assimetria de gnero

    assunto sobre o qual j se verteu boa e apaixonada tinta; trata-se,

    contudo, de uma quantidade de lquido ainda insuficiente, dada a

    prevalncia de modos seculares de pensar o homem e a mulher que

    sustentam a marginalizao histrica do universo feminino, e o

    remetem para uma esfera de invisibilidade. Neste quadro, a viso de

    supremacia masculina associa-se, enquanto fenmeno psicolgico e

    social, a uma estrutura psquica de tipo autoritrio, e a uma tipologia

    de organizao social que premeia, enfatizando, a

    heterossexualidade monogmica como ideal de gesto do corpo e

    dos afectos. Por esta e outras evidncias, gostaramos de ter uma

    prole de filhas. Tanto mais que os meninos suam muito nos recreios,

    e comem muito po com marmelada.

  • 11

    Estatuto.

    Na sociedade da superfcie, na busca trpega pela visibilidade, h

    lixo pelo meio, cognio em retrocesso, tiramisu e Bolacha Maria,

    esquinas sujas e palidez em excesso. A vida, e a procura incessante

    de um estatuto social, continuam, contudo, para alm do nosso

    enfado e fadiga.

  • 12

    Verdade.

    Apesar da boa vontade, a passagem do tempo tende a fazer-se sentir

    em todo o seu esplendor. A verdade, vestida agora de traje

    tecnocrata e preocupao economicista, esboroa-se, pois, no esvaziar

    de cada segundo. Existem momentos, porm, onde o sentido das

    coisas se perfila, ainda assim, de modo aparentemente translcido; a

    vertigem do fluir do tempo e seus efeitos deleutrios ensaiam uma

    exposio que, a uma certa luz, se afigura como suportvel e

    construtiva. H quem arrisque mesmo falar de desenvolvimento,

    termo de significado exguo em poca de contnuas irrupes de

    descontinuidade - da passagem do tempo erguem-se iderios

    pessoais feitos de verdades de pacotilha, frutos de um instante, de

    um sucedneo de circunstncias.

  • 13

    Repasto.

    Estar mesa uma conduta que deve situar-se muito para alm da

    refeio, e do elidir de urgncias imediatas de alimentao. Quando

    se est mesa, transcendem-se necessidades de nutrio, e celebra-

    se o facto de um conjunto de pessoas se dispr volta de um tampo

    de mesa, falando e interagindo de um modo que doutra forma no

    seria possvel. No necessrio que o repasto seja uma ddiva divina

    produzida pelo tmpero organolptico dos seus constituintes; o

    repasto vale mais por ser um pretexto, um motivo para o encontro e

    o estacionamento temporrio dos espritos.

  • 14

    Normopatia.

    Pretender previsibilidade e constncia para a existncia pedir

    demais inocncia.

  • 15

    Sociopatia.

    J muito se sabe acerca dos cenrios de neurose e dilacerao turva

    do entendimento da realidade material, do indviduo que, refm da

    sua exuberante anarquia emocional, obedece cegamente ao impulso,

    compulso que se pretende redentora, concretizando sugestes

    absurdas que uma mente desesperada faz a si prpria. Alm de

    criatura social e intelectual, o Homem apresenta-se como micro-

    cosmos nervoso em salas de reunio, repasto e decantao dos males

    de esprito. Entre gravatas regimentais e exaltaes do ego, o curto-

    circuito neurtico espreita ao dobrar de cada esquina.

  • 16

    Porrada.

    Observando o pico quotidiano de um qualquer confessionrio da

    modernidade, um caf-pastelaria-ou semelhante, mais no se regista

    que a apologia diria da auto-estima e da auto-comiserao, a

    sublimao de uma esttica da fragilidade, da melancolia e da

    depresso. Entre um caf e um retalho de pastelaria fina, v-se bem

    que a vida , no essencial, aquilo que nos cansa e mata, e, neste

    contexto, a porrada o paliativo que nos dignifica, e que nos

    aproxima da eternidade e do endeusamento desejado.

  • 17

    Conversa.

    Se existe um reduto da espiritualidade humana, acreditamos que ele

    reside na conversa. A conversa um interldio que se tem, do qual

    se usufrui, havendo, inclusiv, quem d muita conversa. A conversa

    , portanto, tambm um bem que se troca. Nada de mais expectvel,

    em tempo histrico de mercadorizao da experincia humana.

    Neste contexto, h quem advoge as propriedades teraputicas de uma

    narrativa, de um transaco dialgica, de uma recomposio do nexo

    e do significado de uma vivncia pessoal. E h tambm quem inverta

    o sentido primordial do conceito, desconversando. A desconversa

    equipamento fundamental, ao que parece, dos novos gladiadores da

    comunicao de consumo rpido: mais do que discutir a substncia

    das ideias do adversrio, deve partir-se, com urgncia, para a sua

    desconsiderao, tentando, deste modo, a sua menorizao e

    desautorizao. O imprio do fait-divers adquire aqui, novo

    cabimento aparentemente impoluto.

  • 18

    Dar.

    Daquele instante, recordamos no o frio, ou a abundncia da ddiva,

    mas sim, as mos muito penhoradas que uma vez se estenderam

    nossa frente, segurando um certo objecto, e fizeram com que, por um

    momento, naquele mesmo momento, acreditssemos que da em

    diante, tudo passaria a ser assim.

  • 19

    Rir.

    H, por certo, um lugar onde as pessoas que se riem se renem, sem

    que a tristeza disso saiba, para que isto lhes suceda de uma forma

    que no gera consequncias. Talvez o riso seja apenas das vsceras e

    no da tmpera, e por isso a nostalgia o deixe acontecer.

  • 20

    Fazer.

    As pessoas fazem as coisas porque tm de as fazer, porque est na

    sua condio. Depois, j no com elas, o que est feito j est para

    fora de si, autonomiza-se, e diz sempre, em sub-texto, vrias e outras

    coisas. A pessoa que faz, enquanto autora do que feito, assiste ao

    espectculo da sua criao, incrdula, por vezes, por lhe ter servido

    de veculo. H que continuar a fazer, at prova existir em sentido

    contrrio.

  • 21

    Palavras.

    Da leitura de uma gramtica moderna constata-se que, em matria de

    semntica frsica, os nomes uniformes podem ser, quanto ao gnero,

    epicenos, sobrecomuns e comuns de dois, e no que toca a

    propriedades semnticas dos grupos nominais, podemos identificar

    nomes no contveis no massivos e, mais tarde, a definio de

    modalidade epistmica ou dentica. Em tempo histrico de evoluo

    massiva da tecnologia, interrogamo-nos se a vida tem mesmo de ser

    assim, sujeitas que esto as palavras, anteriormente singelos redutos

    de humanidade, a obstinados cortejos sacrificiais. H mais mundo e

    mais beleza nas palavras, do que aquela que diariamente nos

    servida de rao. No final, restam sempre e s as palavras; e um

    impulso, incontido, de as libertar.

  • 22

    Teleologia.

    Como a aco demonstra a inteno para o futuro, h que deixar,

    talvez, tudo para o dia de amanh, para que o futuro saiba que pode

    contar sempre connosco.

  • 23

    Discurso publicitrio (para papel higinico).

    Aqui, tudo branco, largo e muito fino, para que pessoas boas (e

    honestas), saibam que as suas experincias de empenho demorado

    representam fielmente o mundo que as rodeia.

  • 24

    Parentalidade.

    Com a ingenuidade de crer no bater das asas de uma borboleta,

    crianas que gostam de presunto e acreditam em lugares pequenos,

    onde noite pousam drages, vo coleccionando afectos na

    esperana v de um dia poderem vir a parar o tempo. Os afectos so

    pequenos seres que, ao longe, proporcionam o enlevo

    de semi-deuses, escultores de um instinto de quem tudo se pode

    esperar. A contabilidade dos pecados e suas grandes sombras

    quebram, porm, este feitio de um dia se vir a poder parar o tempo.

    Por isso, importante saber contar desde cedo, e isso deve ser

    transmitido s crianas, gostem ou no de presunto.

  • 25

    Adjectivo.

    A proximidade do adjectivo revela, por vezes, que por debaixo de

    sua singela roupagem, as suas costas so profundamente tortas. O

    adjectivo, assim decifrado num palco feito de usura quotidiana, no

    se intimida, e oferece gentilmente a sua fragilidade - um interior

    habitado de memria e incontida intimidade. Adjectivar , como

    sempre foi, coreografia sempre refeita. Uma tecnologia mais-que-

    perfeita. Ou melhor, um corpo em plano inclinado para a direita.

  • 26

    Empenho.

    Entre uma tisana e a letargia, um pouco de clcio para a ossatura

    debilitada: a alma de uma relao, de trabalho, de amizade, comrcio

    ou amor, no se deixa capturar facilmente; necessrio, para a

    abstrair e tornar inteligvel, o esforo e o aborrecimento, termo-nos

    importunado e sofrido nos lugares que a enformam e circunscrevem.

  • 27

    Meio.

    A mediao est, definitivamente, em crise. Se todo o tempo

    "real", no h figuras de interface entre o ser e o agir, no h espao

    e lugar para o pensar. O pensar sempre uma distncia, uma lentido

    do tempo. As instituies sociais cuja razo de existncia pode ser

    encontrada no "meio" - partidos, sindicatos, parlamentos,

    associaes, escolas, famlias, igrejas, academias - perdem poder de

    modo acelerado, sendo curto-circuitadas pela acelerao vertiginosa

    da vivncia da passagem do tempo. Nenhum de ns tem mo no

    tempo. No meio, parece-nos, pois, que nos dias de hoje, dificilmente

    se encontra a virtude.

  • 28

    Amigos.

    Os amigos sabem, porque o pressentem por entre a embriaguez da

    sua sintonia, que a vida , por vezes, simplesmente estar. Apenas os

    amigos, com a sua alma nica que se difunde pela existncia

    material de vrios corpos, podem salvar um solo estril, uma terra

    devastada.

  • 29

    Potencial.

    H tempos em que se diz, de modo brando e insuspeito, que uma

    pessoa, em vez de no ter mais idade, ainda no tem idade para

    assegurar uma dada diligncia. Decorre esta lenta e trgica

    transformao, no entender de poetas e prosadores, do fluir

    inexorvel da vida. De um sentido de urgncia, da necessidade

    despojada de despertar da letargia, da reinveno de verdades e

    certezas. Pelo caminho, lembrando Lavoisier, h algo que

    certamente se transforma. A concretizao, talvez, do que foi

    ilustrado, noutros tempos, como potencial, imitao de vida. O

    desenho em baixo relevo de um estado de adultez a aquisio de

    uma pose, numa palavra.

  • 30

    Fadiga.

    Com o desaparecimento das grandes fices ou narrativas

    ideolgicas que sustentaram os tempos modernos, e a expanso

    correlativa dos mercados da alma, o indivduo, entregue que est a si

    prprio, entrar crescentemente em colapso. Gerir a economia do

    destino pessoal uma tarefa de complexidade no despicienda; a

    sobrevivncia errncia e ao paradoxo da estrutura da existncia,

    um motivo de decepo e perplexidade acrescida. Viver todos os

    dias, nestes termos, cansar cada vez mais. O ser humano , em

    rigor, a nica espcie com a capacidade de se projectar e

    perspectivar no futuro. Pelo constatado, tem valido de muito.

  • 31

    Monocultura.

    Com virtude e menos f ilimitada, possvel vislumbrar, no esprito

    do tempo, o afundar gratuito da generosidade do silncio em crateras

    feitas de incria, um despejo de palavras que aparecem, de repente,

    em cena, no escrutnio do agora, um soluo romntico que se

    pressente, e, ainda assim, nos escapa. Pobres vocbulos, moedas sem

    valor, perdidos nestes solilquios mudos de homens proverbiais,

    pardos nas suas narrativas contradas, carentes de factos falecidos e

    registo em caderno de argolas, um encargo responsvel que mudasse

    a sua vida, uma dieta fontica feita de monocultura e presena em

    comentrios sobre a epiderme de Michael Jackson.

  • 32

    Ansiedade.

    No saber novecentista, a ansiedade, entendida enquanto condio,

    estado ou resposta, do esprito e das vsceras, a uma disposio

    indutora de perturbao, no configurava um quadro nosogrfico

    com existncia legimitada. At, ento, falava de um problema de

    nervos, que se naturalizava amide no meio de um esforado

    suspiro. Neste momento, a ansiedade uma marca da

    contemporaneidade, quem sabe subdiagnosticada. valorizao do

    que se apresenta, possui e ostenta com espectacularidade - o xito, o

    dinheiro, a beleza, a jovialidade, a assertividade, a clareza e o

    pragmatismo das ideias -, associa-se a mais profunda ausncia de

    sossego. No um sossego de propsito hednico. Simplesmente,

    sossego.

  • 33

    Tentar.

    Deve considerar-se uma qualidade a vertigem de tentar at s ltimas

    consequncias. O vigor da vigilncia e da intuio deve, pois,

    ensinar-se. H pessoas que vivem s escondidas dentro de seus

    corpos e casas. Ficam, depois, verdes, processando actos de pequena

    loucura que, lenta e silenciosamente, se transformam em pedra. A

    matria de compreender deve, pois, ensinar-se. H que tentar, e, no

    final, ir tentando.

  • 34

    Poltica.

    Instrumento de participao na sociedade, prtica que se trafica entre

    travessas de carne assada. Em compartimentos parcamente

    iluminados, nas confrarias da deciso, os confrades, anmicos na sua

    temporria penhora ideolgica, falam de alcatro e da necessidade de

    dois e dois serem cinco, apesar das evidncias de contradio.

    Sabendo do interesse como mercadoria, a anuncia colectiva. E

    pronto. Fez-se poltica.

  • 35

    Risco.

    A procura de equilbrio seria mais fcil, sem dvida, se o trabalho

    fosse efectivamente algo alheio vida pessoal. Contudo, para a

    maioria dos indivduos, se a realizao vem atravs do mundo, o

    trabalho que os torna sujeitos-protagonistas de aco social. Num

    cenrio feito de futuros tendencialmente incertos, este um exerccio

    exigente. Um exemplo , por exemplo, a cultura vigente de

    glorificao do risco. No mundo actual, a estabilidade quase um

    sinnimo de morte, e o destino importa menos que o acto de partir.

    Como observam os profetas contemporneos da agonia das

    estruturas sociais, o risco um teste de carcter: o mais importante

    fazer o esforo, arriscar, mesmo se o indivduo souber que est

    destinado ao fracasso.

  • 36

    Amor.

  • 37

    Silncio.

  • 38

    Trabalho.

  • 39

    Vida.

  • Exerccios de semntica

    Joo Vasco Coelho * MMIX