Nexo de Causalidade Como Pilar Essencial Da Responsabilidade Civil

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    NEXO DE CAUSALIDADE COMO PILAR ESSENCIAL DARESPONSABILIDADE CIVIL

    NEXO DE CAUSALIDADE COMO PILAR ESSENCIAL DA RESPONSABILIDADECIVIL

    Solues Prticas - Fachin | vol. 1 | p. 359 | Jan / 2012DTR\2012\115

    Luiz Edson Fachin

    Ps-Doutorado pelo Ministrio das Relaes Exteriores do Canad. Doutor e Mestre em Direito dasRelaes Sociais pela PUC-SP. Professor Titular de Direito Civil da UFPR.rea do Direito: CivilResumo: Responsabilidade civil. Documento sob sigilo. Encaminhamento para averiguao inexitosa.Nexo de causalidade. Ausncia. Envio que constitui usual diligncia. Teoria da causalidade adequada.Uma vez no observado o nexo causal, dilui-se a responsabilidade civil.Palavras-chave: Teoria da causa adequada - Nexo causal - Dano moral - Investigao.Abstract: Liability. Document under seal. Referral to investigation of inefficiency. Causation. Absence.Submission that is a usual diligence. Theory of adequate cause. Once the causation is not observed, theliability is diluted.

    Keywords: Theory of adequate cause - Causation - Liability - Pain and suffering damages -Investigation.Sumrio:1.Das consideraes introdutrias - 2.Da narrativa concisa do ato sentencial e dos elementosprocessuais conexos - 3.Do exame do mrito da sentena quanto ao nexo causal1. Das consideraes introdutrias

    Consultam-nos a fim de ser examinado pelo subscritor do presente o desate levado a efeito pelo juizsingular em primeiro grau nos autos originrios de Cartrio Cvel da Comarca Y. Almeja o patrono dorequerido K (daqui por diante assim indicado, ou ainda, apenas como consulente) nos autos em tela, o

    sentir doutrinrio e o respectivo parecer sobre o decreto sentencial que concluiu favorvel indenizao por danos morais.

    Honrado com a deferncia, averiguei os fundamentos da sentena, os fatos ali apreendidos, e bemassim subsdios dos autos. Atingi, luz da rea especfica de meus conhecimentos, um remate dspardaquele albergado pelo magistrado. Com a devida vnia, especialmente no que tange incidncia doconceito jurdico de nexo causal, no nos parece ser a procedncia da pretenso, no caso, o melhoracabamento que emerge da doutrina, da legislao e da jurisprudncia. Eis a razo pela qual,atendendo honorfica solicitao, segue, ento, o presente parecer.

    De incio, ser feita uma sntese dos fatos apresados pela consulta no mbito do presente pareceraps, levar-se- em conta o enfrentamento de interrogaes que propiciam a exposio da matria defundo, a fim de, por meio das respectivas respostas, patentear nosso encerramento.

    O deslinde da questo traz tona a necessidade do exame de aspectos dos autos que constituem oncleo da controvrsia, os quais so objeto da doctrine opinio instada.

    Principiemos, por conseguinte, por uma sinopse do feito.2. Da narrativa concisa do ato sentencial e dos elementos processuais conexos

    Dos autos provenientes de Cartrio Cvel da Comarca Y, versando sobre indenizao por danos moraiscumulado com busca e apreenso de documentos com pedido de tutela antecipada e segredo de justia,em que figuram como requerente X e como requeridos K (tambm consulente), W e J, emergiusentena que decidiu o mrito. L-se de seu dispositivo:

    Ante o exposto, e com fulcro no art. 269, I, do CPC,julgo parcialmente procedente a demanda, para ofim de: (a) condenar apenas o ru K ao pagamento ao autor de indenizao, a ttulo de danos moraisno valor de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais), corrigido pela mdia do INPC e IGP-DI a partir destadata e acrescido de juros de mora de 1% (um por cento) ao ms desde a citao e (b) julgar extinto,com fulcro no art. 267, VI, o pedido de busca e apreenso de documento. Ante a sucumbnciarecproca, condeno o autor e o ru K ao pagamento das despesas e custas processuais, na proporode 50%, compensando-se a verba honorria, na forma do art. 21 do CPC e Smula 306 do STJ. Ante aimprocedncia em relao a W e J, condeno o autor ao pagamento de honorrios ao patrono destes

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    rus, que fixo em R$ 2.000,00 (dois mil reais), vista do disposto no art. 20, 4., do CPC, emespecial a ausncia de instruo. Julgo ainda improcedente a denunciao. Assim, condeno osdenunciantes ao pagamento das despesas e custas da denunciao, bem como honorrios aodenunciado, que fixo em R$ 2.000,00 (dois mil reais), com fundamento no art. 20, 4., do CPC, emespecial a ausncia de instruo.

    O ato sentencial se divide em diversos segmentos que conduziram o julgador providncia parcial dopedido.

    Em um primeiro momento, a sentena promove o relato dos fatos ali apreendidos, dos quais se colhe o

    seguinte:2.1 Dos fatos narrados pela sentena

    O requerente alega, em sntese, que no exerccio de funo junto Assembleia Legislativa, protocolouum ofcio junto Secretaria de Segurana, com o escopo de combater a violncia e o crime organizadoem Municpio prximo Capital, cujos fatos ali ocorridos foram relatados por eleitores e ouvintes dardio de titularidade do requerente.

    Afirma o requerente que o referido ofcio acima mencionado solicitava a instalao de DelegaciaEspecializada para a investigao de quadrilhas de trfico de drogas, e que o expediente sigiloso traziainformaes da comunidade, com acusaes de envolvimento de funcionrios pblicos da Prefeitura etambm de policiais civis.

    Ademais, arguiu ainda o requerente, que o ofcio estava endereado ao Secretrio de Segurana, e foi

    protocolado em envelope lacrado por se tratar de correspondncia extremamente sigilosa.Narra que o ofcio restou recebido pelo requerido K, que encaminhou a referida correspondncia via faxpara a Prefeitura do Municpio em cotejo aos cuidados do Sr. J, ento Diretor do Conselho Municipal deSegurana, o qual, sob a orientao do Prefeito, enviou cpia do ofcio Delegacia daquele Municpio.

    Desta feita, o requerente sustenta que a atitude dos demandados tornou infrutfera a investigaorealizada para identificar pontos de drogas e de atuao de quadrilha, acusando-os de agirem demaneira irresponsvel e expondo o requerente autor e sua famlia a risco de vida para alm deinfringirem os demandados em improbidade administrativa e violao de correspondncia.

    Diante disso, o requerente pleiteou em sede de liminar o afastamento provisrio do primeiro e terceirodemandados K e J, bem como busca e apreenso do ofcio, para alm de requerer a condenao dosdemandados ao pagamento de indenizao por danos morais.

    Em um segundo momento, aps os fatos narrados na r. sentena, o juzo decidiu que a matria a serapreciada seria limitada somente ao pedido de indenizao por dano moral e apreenso de documento,restando indeferido, portanto, o pedido de liminar de afastamento das funes pblicas dos funcionriosindicados na denncia, por tal pleito ser incompatvel com a respectiva demanda e por existirlegislao prpria para guarida de tal pedido.

    Restaram, por conseguinte, tambm indeferidas as preliminares de mrito, tendo em vista a limitaoda matria a ser apreciada, concedida, parcialmente, liminar para autorizar a busca e apreenso doofcio original encaminhado ao Secretrio de Segurana bem como eventuais cpias em poder dosdemandados.

    Ipso facto, dos fatos narrados a r. sentena passa-se para as contestaes apresentadas pelas partescujas alegaes se colhe como narrado na prpria deciso, e o que agora segue.

    2.2 Da contestao apresentada pelo consulente

    O consulente apresentou contestao alegando ser assessor especial, e que poca do ocorrido exerciaa funo de chefe de gabinete do Secretrio de Segurana Pblica Z.

    Relata, ainda, que o cargo que exercia era de confiana e que por tal motivo recebeu instruo paraabrir e ler todas as correspondncias, com exceo de documentos reservados ou confidenciais. Por talrazo recebeu e abriu o referido ofcio. Esclarece ainda que no havia no referido documento qualquermeno que se tratava de documento reservado ou sigiloso.

    Deste modo, o K entrou em contato com J, chefe de gabinete do Prefeito e Diretor do ConselhoMunicipal de Segurana, remetendo-lhe o ofcio via fax.

    Refere que ao ser questionado pelo Secretrio de Segurana sobre o ocorrido, explicou-lhe os fatos,

    isto , a providncia adotada quando do recebimento do ofcio, e assevera que tal medida adotada foidevidamente aprovada pelo seu superior.

    Destarte, em sede de contestao, arguiu inpcia da inicial, uma vez que h na exordial pedido deafastamento provisrio concernente ao seu cargo por esta razo, alega que tal medida diz respeito discricionariedade administrativa no competindo ao Judicirio apreciar referido pedido.

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    Afiana tambm que seu agir foi exercido de forma regular, atribuindo a culpa nica e exclusivamenteao autor, afirmando que no havia no ofcio qualquer anotao de sigilo. E que se o ofcio foi utilizadode forma ilegal ou com desvio de finalidade por terceiros, tal medida no poderia ser imputada a suapessoa.2.3 Da contestao apresentada pelo Chefe de Gabinete da Prefeitura e Diretor do ConselhoMunicipal de Segurana e pelo Prefeito Municipal

    O ato sentencial em exame frisa que J requereu a denunciao da lide ao delegado da polcia civil doMunicpio em cotejo, pedido este deferido em um primeiro momento, sendo que, adiante, quando do

    julgamento do mrito, restou prejudicado o pleito de indenizao concernente ao litisdenunciado.

    A seu turno, o Prefeito requereu a denunciao da lide ao Municpio e ao Estado Z, pleito este negadopelo juzo.

    Ambas as partes, em pea contestatria, alegaram preliminares de inpcia da inicial, impossibilidadejurdica do pedido e falta de interesse de agir.

    Sustentam que, poca dos fatos, o Prefeito estava viajando, e no orientou para tanto o seu assessorque no sabia de referido ofcio.

    Alegam, igualmente, que o ofcio enviado por K foi encaminhado de imediato por J, ao ento delegadoda polcia civil, o qual por sua vez solicitou ordem de busca e apreenso, restando tal diligncia semxito.

    Negam, ao derradeiro, que tenha ocorrido publicidade ao referido ofcio.2.4 Do julgamento conforme o estado do processo

    Apresentadas as contestaes, aberto s partes ensejo processual para manifestao, e especificadasas provas a serem produzidas, em respeito ao contraditrio e a ampla defesa, decidiu o r. magistradoque seria cabvel o julgamento antecipado da lide, tendo em vista a prova documental j carreada aosautos, sendo, pois, desnecessria a instruo e a produo de demais subsdios probatrios.

    Restaram indeferidas preliminares de inpcia da inicial por incompatibilidade de pedido de afastamentoprovisrio de cargo, bem como no se deu acolhimento tese de carncia da ao por impossibilidade

    jurdica do pedido.

    Passo no decreto sentencial, portanto, apreciao meritria cujo entendimento do juzo percebe-senos seguintes moldes:

    Entendeu o r. juzo que, tendo em vista as circunstncias fticas j descritas, que consubstanciaram apublicidade indevida das informaes sigilosas contidas naquele ofcio, ntidos seriam os danosdirecionados imagem do autor, enquanto poltico que, para desempenhar sua funo, necessita daconfiana plena de seus eleitores confiana esta, de acordo com a deciso em anlise, que teria sidoabalada pelo insucesso do pedido de investigao suscitado.

    O juzo de primeira instncia entendeu ser incontroverso o fato de o autor encaminhar o ofcio aoSecretrio de Segurana Pblica noticiando crimes nos quais estariam envolvidos funcionrios daPrefeitura em cotejo e policiais civis. Tal fato estaria irrefragvel segundo o julgador, uma vez que oconsulente K teria recebido o referido ofcio e o encaminhara a J, chefe do Gabinete do Prefeito eDiretor do Conselho de Segurana.

    Outrossim, o juzo a quo entendeu que do contido no mencionado ofcio impende ser crvel o seu

    carter sigiloso, no sendo necessria, para tanto, a meno no envelope lacrado com a anotao desigiloso.

    O juiz assim se manifestou quanto remessa do referido ofcio:

    Dessa forma, ao enviar as denncias via fax ao Executivo do Municpio, tornou, ainda que porimprudncia, seu contedo indevidamente pblico. Em decorrncia da publicidade dada s denncias, apolcia quando da realizao de diligncia para represso das condutas narradas no ofcio nadaencontrou por certo resultado do conhecimento prvio por parte dos criminosos acerca da autuaoda autoridade policial.

    Disso ficou o autor exposto a represlias, alm do descrdito perante os cidados que lhe franquearamos dados daquelas pessoas e locais a serem investigados a frustrao da represso ao crime por certoinibe novas denncias, expe os denunciantes a retaliaes dos bandidos e, o que interessa a esse

    processo, prejudica a imagem do seu representante (o autor) que depende da confiana dos cidados,e sua traduo em votos, para realizar seu mister. Inequvoco, portanto o dano sofrido pelo autor.

    Deduziu ter K agido de forma imprudente, tornando pblico ofcio de carter sigiloso, pois, na viso dosentenciante, se referido ofcio noticiava envolvimento de funcionrios da Prefeitura em fatoscriminosos, no poderia o ofcio em hiptese alguma ser encaminhado para tal destinao.

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    Concernente aos demais demandados, dimanou do juzo que deles no se podia exigir outra condutaseno aquela adotada, uma vez que no possuam competncia para atender ao solicitado no ofcio. Portal razo, em relao a J julgou improcedente a pretenso contida no feito, restando prejudicadatambm a denunciao da lide ao delegado da Polcia Civil.

    Restou a sentena proferida a condenao apenas do requerido K no importe de R$ 50.000,00(cinquenta mil reais), indicando-se no decisum que levou em considerao para fixao de tal quantumo fato de que ambos autor e demandado exerciam funes pblicas. Ao demandado tambm foiindicado o pagamento de despesas e custas processuais, com o fito de compensar as verbashonorrias.

    Alm disso, em relao ao ltimo pedido qual seja, a busca e apreenso do r. ofcio entendeu ojuzo pela desnecessidade de seu deferimento, pois a prova da sua existncia desde logo se mostrouincontroversa.2.5 Dos embargos declaratrios apresentados pelo requerido

    Diante da deciso acima referida, o requerido condenado na sentena alegou, por via de embargos,circunstncias de relevo, cujo relato impende sumariar.

    Traz tona o embargante que o valor da indenizao atribuda pelo r. juzo, uma vez acrescida de jurosde mora, poderia ultrapassar o importe de R$ 80.000,00 (oitenta mil reais), valor este que ultrapassaem muito as suas condies econmicas e financeiras.

    Declara ainda, no mesmo recurso, que a referida sentena quedou inerte em analisar a

    incompatibilidade existente entre o pedido de indenizao e o pleito de apreenso de documento,requerendo seja declarada a impossibilidade de cumulao de ambos os pleitos e, por conseguinte, queseja extinto o feito sem sua resoluo do mrito.

    Por derradeiro, se insurreciona o embargante quanto ao julgamento antecipado da lide, uma vez queteria se denegado, e para ambas as partes, a possibilidade de produzirem novas provas, sendo que odemandado ora embargante requereu devidamente como prova o depoimento pessoal do autor e,ainda, prova testemunhal.

    Deste modo, concluiu o embargante que, ao determinar o quantum indenizatrio, a sentenareconheceu estar ausente a comprovao dos rendimentos de cada um, fixando arbitrariamente aindenizao em R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais).

    Impediu-se, segundo o embargante, a produo de demais provas com o intento de se comprovar a

    ausncia dos requisitos indispensveis ao dever de indenizar, bem como a capacidade financeira dodemandado, pois ao inibir que a prova dessa desproporcionalidade fosse realizada e presumir elevadopoder aquisitivo do demandado, condenando-o a suportar o referido quantum indenizatrio, tornou asentena contraditria.2.6 Dos embargos apresentados pelo autor

    Respeitante aos embargos de declarao apresentados pelo autor X, as alegaes ali constantestambm em sntese aqui se relata, sendo que, a rigor, exps o autor embargante ter sido a sentenade primeiro grau omissa, pois deixou esta de mencionar o valor dos honorrios ao patrono do autorcom relao condenao do demandado J.2.7 Da deciso relativa aos embargos

    Diante da propositura de embargos declaratrios por ambos os polos processuais, decidiu o juzo a quo,

    como se percebe s f. 331/332.2.7.1 Quanto aos embargos opostos pelo consulente

    Em face das alegaes do demandado, o juzo decide que na sentena no se fez presente omisso eobscuridade indicadas, uma vez que em relao ao pleito de cumulao de pedidos, seu indeferimentose fez claro, uma vez que se adotou o rito ordinrio para, na sequncia, julgar extinto o pedidocautelar.

    Tratando-se da segunda alegao pelo demandado K, isto , a comprovao de rendimentos, decidiu omesmo juzo no existir contradio, haja vista que tal comprovao de renda se trata de mera provadocumental e, ademais, se o demandado estava ciente da pretenso indenizatria, caberia a estecontestar os pedidos e juntamente com a defesa fazer prova com os comprovantes de seus ganhos, sobpena de no poder alegar cerceamento de defesa.

    2.7.2 Quanto aos embargos opostos pelo autorEm relao aos embargos do autor, restaram estes tambm infrutferos nos pedidos, uma vez que,conforme exposto pelo juzo, a sentena foi transparente ao reconhecer a sucumbncia do demandado,determinando o pagamento das despesas e custas processuais na proporo de 50% e a compensaoda verba honorria, conforme estipula o art. 21 do CPC e Smula 306 do STJ.

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    2.8 Dos apelos por ambas as partes

    Em presena de tais deliberaes, ambas as partes interpuseram apelo.

    Tais recursos, j com contraminutas, alcanaram ser recebidos em seu efeito suspensivo e devolutivo,encontrando-se conclusos com o preclaro desembargador relator.

    Portanto, impende aqui quantum satis fazer abreviado relato dos respectivos apelos para completar aeptome em curso.2.8.1 Do contedo da apelao do autor

    O autor em suas razes de apelao requereu, em resumo, respectivamente a condenao do segundoe terceiro demandados por ele indicados anteriormente, quais sejam, o Prefeito e o Chefe de Gabinete/Secretrio Municipal.

    Tal justificao se deve ao fato deduzido pelo autor, no qual indica que ambos concorreram para oabalo sofrido pelo mesmo, pois teriam agido de maneira irregular, expondo a risco a sua integridadefsica e moral, no restando, para ele, dvidas sobre o nexo de causalidade entre o agir dosrespeitveis apelados para a concorrncia dos danos morais a si atribudos.2.8.2 Do contedo da apelao do requerido

    O consulente, em suas razes de apelao, professa que o julgamento antecipado da lide pelo juzo aquo ocasionou o cerceamento de defesa, porquanto entende que se tivesse havido audincia deinstruo, possvel seria a prova de que apelante teria agido no exato limite de suas funes e de

    forma regular, restando claro que tal julgamento antecipado acarretou a nulidade absoluta do atodecisrio.

    Destacou sequer ter havido para as partes intimao de que o feito seria julgado no estado em que seencontrava, prejudicada, consequentemente, a ampla defesa e devido processo legal.

    Cita, por conseguinte, que a sentena de primeiro grau no levou em conta a incompatibilidade dospedidos, uma vez que houve a cumulao de um pleito (indenizao por danos morais) com mais doisde natureza cautelar (afastamento de agente pblico e busca e apreenso), juntando ao cadernoprocessual jurisprudncia corroborativa nesse sentido.

    Certifica ainda o litigado que na r. sentena de primeiro grau est patente a ausncia dos requisitospara a responsabilidade civil do ora apelante, uma vez que tal responsabilizao sustenta-se na provado nexo causal entre o ato ilcito e o dano.

    Ratifica o apelante, deste modo, que no cometeu nenhum ato ilcito, pois quem determinou adivulgao das informaes sigilosas constantes no referido ofcio foi o Prefeito, uma vez que oapelante agiu de acordo com sua competncia e sob a orientao que recebera de seu superior, entoSecretrio de Segurana.

    Recorre tambm o ora apelado sobre a chancela da ocorrncia de danos morais, visto que no haverianos autos nenhuma prova que demonstre o dano sofrido pelo autor.

    Indica que se a imagem do autor restou prejudicada com o infrutfero sucesso da investigao policial,no houve sequer uma prova capaz de provar o suposto dano.

    Cientifica, alm disso, que o autor teve a cassao de seu registro de candidatura, bem como a perdade seu mandato de Deputado Estadual, em virtude de abuso do poder econmico e poltico, nohavendo possibilidade para se alegar dano a sua imagem ou prejuzo eleitoral, juntando aos autoscpia do acrdo proferido pelo STJ concernente ao caso.

    Deste modo, pleiteou o consulente que fosse afastada a sua responsabilidade pelos supostos danoscausados ao autor, quer porque a sua conduta se deu de forma correta e nos exatos limites de suacompetncia, quer porque os supostos danos alegados pelo autor no demonstram o nexo decausalidade com o agir da conduta do demandado e ora apelante, e nem sequer h nos autos provacapaz de corroborar com a tese do autor, de que teria sofrido ameaas e represlias por parte dosbandidos, capaz de afetar a sua imagem e honra.

    Eis a sntese do ato sentencial e elementos processuais conexos.

    Do que sumariamos, acode para a nossa apreciao o tema do nexo causal, uma vez que, a nosso ver,no restou perfilhado o melhor diagnstico pela concluso do digno magistrado.

    3. Do exame do mrito da sentena quanto ao nexo causalPercorrida a primeira etapa do presente parecer, compete prosseguir adentrando o mago do mritoem tela, mais especificamente, no que concerne ao ponto do nexo causal.

    A metodologia a ser adotada nesta fase ser a de responder aos questionamentos apresentados consulta, e assim, ento, far-se- na sequncia.

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    3.1 Do quesito 1: Qual a importncia da comprovao do nexo de causalidade para aresponsabilidade civil?

    Da lide atinente aos autos, engendra-se a intricada ocorrncia que, nesta oportunidade, deita-se sobreestas linhas. Cuida-se, pois, de trat-la com a maior ateno e zelo, concomitantemente ao intento deascender um novo vislumbre sobre o tpico.

    Preambularmente, no se pode olvidar de que a peremptria percepo do nexo causal seja conditiosine qua non para a verificao do dever de indenizar, dado que este se encontra incrustado aos pilaresque esteiam os preceitos hodiernos de responsabilidade civil.

    Consideremos, pois, inicialmente, o nexo de causalidade como uma espcie de liame ftico que conectaa conduta lesiva ao dano propriamente dito, para que possamos, no degrau seguinte, melhordesenvolver este conceito elementar.

    De plano, encorpa no evento a importncia da funo de tal elemento para a responsabilidade civil.Conceitualmente, no fluir do tempo, sua ponderao evolveu, passando-se a adotar uma vestidura demaior proeminncia.

    O tema amplo. Impende sumariar e tal compreenso assaz se apresenta sopesada pelo seguinteprisma:

    No campo da responsabilidade civil, o nexo causal cumpre uma dupla funo: por um lado, permitedeterminar a quem se deve atribuir um resultado danoso, por outro, indispensvel na verificao daextenso de dano a se indenizar, pois serve como medida da indenizao. Durante muito tempo,

    predominou o entendimento que era a culpabilidade, e no a causalidade, que determinava a medidada responsabilidade.

    Tratava-se, contudo, de ponto de vista despido de contedo cientfico. Para a determinao da extensode dano indenizvel, o que importa no a gravidade ou o peso da culpa, mas o nexo decausalidade.1 (destacamos)

    Ressalta-se, portanto, que o nexo de causalidade pressuposto essencial no apenas para aconfigurao do dever de indenizar, mas tambm para a formulao dos parmetros que serviro deesteio na fixao do quantum indenizatrio.

    Diante de tais pressupostos, torna-se insofismvel a comprovao da imprescindibilidade e darelevncia do elo entre a conduta lesiva e o dano perpetrado.

    Haurimos, h muito, o entendimento que indicava a culpa como elemento essencial da responsabilidadecivil. Nesta toada, singrar em mar contrria a tal compreenso seria o mesmo que atracar em mal-aventurado equvoco, dado que o agir culposo, o ato e a consequncia no esto fora do mbito donexo causal.

    Qui, mais do que isso: se um luzidio entendimento acerca do nexo causal nos remete para umamelhor anlise da prpria responsabilizao civil, ento, ao mesmo passo, se descurarmos do nexo,estar nos atraindo cada vez mais a possibilidade de conectar um dano a uma conduta que, emverdade, no lhe deu causa.

    Afinal, por muitas vezes podemos nos defrontar com ocasies em que o dano em si encontra-secircunspecto a diversas condies que podem revestir-se como causa, ainda que, em ltima anlise,no possam ser consideradas como tal, de modo determinante.

    O que faz dirimir este obstculo e repelir a errnea indicao de um liame entre uma conduta e umdano , portanto, a atenta anlise acerca do nexo causal:

    O conceito de relao causal, alm de se revestir de um aspecto filosfico, apresenta dificuldades deordem prtica, porque na maioria das vezes o evento danoso est cercado de condies que semultiplicam, dificultando a identificao da causa do dano. De fato, nem todos os acontecimentospretritos so pais dos acontecimentos presentes. Todo acontecimento atual provm em linhas diretasdo passado. Porm, milhares de linhas colaterais h que em nada o interessam. Repitamos: tudo tem

    pai, mas nem tudo tem filhos. 2 (destacamos)

    No se pode, destarte, tratar de responsabilidade civil ainda que em sfrega anlise relevando onexo de causalidade, uma vez que este se apresenta nsito sua prpria estruturao e, porconseguinte, traz baila a possibilidade de melhor entrever as condies que, seguramente, podem

    vestir-se com o manto de causa a um dano.Eis, pois, sua manifesta importncia.3.2 Do quesito 2: H nexo de causalidade entre a atuao do demandado e os alegadosdanos sofridos pelo autor?

    Transposta esta baliza inicial, passemos a um questionamento fundamental: o de que, atendendo a

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    estes parmetros indispensveis da responsabilidade civil, haveria peremptrio nexo causal queatuasse como liame da conduta de K aos danos indicados pelo autor.

    Ao adentrarmos em tal discusso, cumpre buscar a teoria atinente ao nexo de causalidade que atenda,de modo satisfatrio, as demandas de responsabilidade civil nos dias de hoje, fazendo consubstanciarum prospecto comparativo de tal tese com a realidade evidenciada na presente lide.

    Tem-se por escopo, ento, trazer a lume a chamada teoria da causalidade adequada como nitidamentecapaz de responder ao questionamento acima suscitado.

    Segundo esta teoria, como se sabe, no basta que a causa/conduta seja antecedente ao dano, mas,

    sim, que esta seja adequada produo do mesmo. Assim, ser causa de um dano aquela que, emjuzo probabilstico e abstrato, venha a melhor se adequar sua consecuo.

    Preciso ensinamento desempenha papel elucidativo nessa toada com o fito de melhor demonstrar aessncia conceitual de tal teoria:

    No basta que o fato tenha sido, em concreto, uma condio sine qua non do prejuzo. preciso,ainda, que o fato constitua, em abstrato, uma causa adequada do dano. () A ideia fundamental dadoutrina a de que s h uma relao de causalidade adequada entre fato e dano quando o ato ilcito

    praticado pelo agente se molde a provocar o dano sofrido pela vtima, segundo o curso normal dascoisas e a experincia da vida comum. Dever o julgador, retrocedendo ao momento da conduta,colocar-se em lugar do agente e, com base no conhecimento das leis da natureza, bem como nascondies particulares em que se encontrava o agente, emitir seu juzo sobre a idoneidade de cada

    condio.3

    (frisamos)Esta teoria, alm de elencar a necessidade de uma melhor valorao sobre a compreenso do casoconcreto, suscita-nos a refletir a respeito de qual conduta deve revestir-se como causa adequada paraa confeco do dano, quando mais de uma ao apresenta-se como capaz de se tornar causadefinitiva daquele dano.

    Entende-se que so as particularidades do caso concreto examinado que impelem adotar a teoria dacausalidade adequada, justamente pela plrima presena de possveis causas.

    Ao mesmo passo, tal tese apreciada por grande parte da doutrina que permeia o direito civil ptrio,assim como pela jurisprudncia contempornea, fenmeno que vem a corroborar ainda mais suarelevncia:4

    Administrativo Civil e Processo Civil Responsabilidade civil do Estado Ato comissivo Valoraojurdica dos fatos Art. 160 do CC/1916 Art. 403 do CC/2002 Fundamento infraconstitucional Teoria dos danos dependentes de situao produzida pelo Estado diretamente propiciatria Doutrina. Dissdio jurisprudencial no configurado.

    1. A moldura ftica estabelecida na instncia ordinria d conta de que o acidente dano ocorreudiretamente por culpa do condutor do veculo, que deveria estar, naquele momento, recluso, porquecumpria priso-albergue, em progresso de pena privativa de liberdade e s no estava recolhido aosistema prisional em razo de agentes estatais possibilitarem, quotidianamente, que o causador dodano dormisse fora.

    2. Saber se o ato do agente policial que permitiu a sada do causador do dano da custdia estatal apto a estabelecer ou no a correlao lgica entre o alegado ato e o sobredito dano questo que dizrespeito qualificao jurdica dos fatos j assentados na instncia ordinria, no revolvimento da

    matria ftica. No incidncia do Enunciado n. 07 da Smula do STJ.3. A questo federal est em saber se, para a configurao do nexo causal no mbito do fato doservio, basta a atuao estatal correlacionada, ainda que mediata, ao dano, somada ausncia dasexcludentes do nexo culpa exclusiva da vtima, caso fortuito ou fora maior.

    4. Anlise da doutrina de Celso Antnio Bandeira de Mello (Curso de direito administrativo. 21. ed. SoPaulo: Malheiros. p. 971-974) dos danos dependentes de situao produzida pelo Estado diretamentepropiciatria, o que faz surgir a responsabilidade objetiva do Estado por ato comissivo.

    5. Ainda que se possa afirmar que existe, nestes casos, a possibilidade da configurao de um nexocausal indireto, importante ter em mente que, mesmo diante da situao ftica criada pelo Estado, ouseja, impor-se ao condenado que dormisse fora do local a ele destinado pelo sistema penitencirio, oacidente automobilstico realmente est fora do risco criado, no guardando a leso sofrida pela vtima,em local distante do prdio onde sedia a fonte do risco, nexo lgico com o fato do servio.

    6. Inexiste, in casu, nexo causal, porque a causa no idnea para o dano produzido. Correta,portanto, a tese do acrdo recorrido, que pode ser assim resumida: Anlise essencial do nexo decausalidade. A Lei brasileira (antiga e atual) adotou a teoria da causalidade adequada. Assim, somenteo fato idneo ou adequado para produzir o dano de ser levado em considerao para o

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    estabelecimento de responsabilidade. Inteligncia do art. 1.060, hoje do art. 403 do CC.

    7. Alnea c. Dissdio jurisprudencial no configurado. Existe similitude ftica apenas com um acrdoparadigma, mas que traz fundamentao eminentemente constitucional (Constituio Federal de 1967)para a resoluo da controvrsia. Recurso especial parcialmente conhecido e, na parte conhecida,improvido. (STJ, REsp 669.258, Proc. 2004/0081715-2/RJ, 2. T., j. 27.02.2007, rel. Min. HumbertoMartins, DJE 25.03.2009) (destacamos)

    Assim sendo, escudando-se nos preceitos corretamente insculpidos por essa teoria, possvelprosseguir no desenlace de tal problemtica.

    Tome-se, para tanto, os fatos como expostos, e isto porque impende repisar o presente parecerno discute a matria probatria da instruo quanto aos fatos tendo em vista o julgamento conforme oestado do processo. Os fatos, por si s, como se demonstrar, no conduzem concluso sentencial.

    Tendo em vista a realidade ftica de tal lide, declara o autor que, aps ter endereado um relatrio Secretaria de Segurana Pblica Z, o teor de tal documento formado por uma srie de denncias deirregularidades no desempenho da funo de agentes da Prefeitura, entre outros tpicos -, teria sidoanalisado pelo defendente (ento, Chefe de Gabinete da j mencionada Secretaria), tomando, pois,conhecimento do mesmo, e diligenciando acerca dos fatos.

    Tais empenhos resultaram no envio do documento que junto a si, conforme acendido nos autos, notrazia nenhum alerta de confidencialidade ao gabinete da Prefeitura do j citado Municpio, para quefossem coletadas mais informaes atinentes ao caso, possibilitando Secretaria de Segurana Pblica

    uma gama maior de medidas a serem tomadas.Ocorre que, ao receber tal documento, o gabinete da Prefeitura enviou-o pronta e justamente para olocal onde se encontrariam lotados agentes aos quais a denncia fazia meno, ou seja, a Delegacia dePolcia Civil da mesma cidade, fato este que teria ensejado, ento, a sua suposta publicidade.

    Sendo assim, forma-se agora nosso repto, de um lado, no se afastando desses fatos, sem adentrar omrito posto que ausente maior dilao probatria, e de outra parte, engendrado pela reflexo darealidade acima demonstrada, de acordo com as perspectivas pertencentes teoria da causalidadeadequada, objetivada pelo direito civil ptrio.

    Afianou o autor que o dano percebido por ele havia sido desencadeado pela suposta desdia dodemandado em tornar pblico um documento que, at ento, revestia-se em hipottico carter sigiloso.

    Contudo, asseverou o demandado ter agido de acordo com as prerrogativas que lhe foram dadas no

    desempenho de sua funo, prerrogativas estas declaradas e ratificadas pelo prprio Secretrio deSegurana Pblica.

    Obrou o demandado, destarte, em tomar as providncias necessrias para que as informaes doreferido documento pudessem ser auferidas pelo Prefeito daquele Municpio e, qui, complementadas,para que a Secretaria de Segurana Pblica pudesse, deste modo, coordenar as aes necessrias commaior eficincia.

    No se percebe, portanto, um liame ftico que ligue a conduta do demandado em enviar o documento com os danos suscitados pelo autor, insculpidos em sua imagem por meio da publicidademencionada.

    A remessa endereada para aqueles que eram os denunciados (rectius: tomado tal fato comoverdadeiro a partir do que consta da sentena), em verdade, no se deu pela conduta do consulente,mas sim, na ao objetivada por outrem.

    Novamente, compete indicar os aforismos doutrinrios para trilhar corretamente a reflexo oraempenhada:

    Alm de se indagar se uma determinada condio concorreu concretamente para o evento, aindapreciso apurar se, em abstrato, ela era adequada a produzir aquele efeito. Entre duas ou maiscircunstncias que concretamente concorreram para a produo do resultado, causa adequada seraquela que teve interferncia decisiva. 5 (destacamos)

    Consequentemente, em humilde anlise esteada pela teoria j escolhida, a causa que se apresentariacomo mais adequada produo do dano indicado pelo autor (tomando-se, como premissa hipottica aocorrncia ad argumentandum de tal dano) no , nem poderia ser, decorrente da conduta de K, e caso

    apurada devidamente, poderia, sim, ser outra.Ainda que se perceba como ato inicial o envio da citada denncia por K, tal ao no culmina, por si s,em evento lesivo, uma vez que a publicidade suscitada encontrar-se-ia resultante da segunda remessade tal documento.

    importante lembrar que entre estas duas condutas, somente a ltima que se descobriria como

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    hipoteticamente suscetvel de produzir dano.

    Tal compreenso indica, no raciocnio hipottico em desenvolvimento, a conexo de uma segundaconduta com o dano alegado, portanto, e justifica-se na perspectiva que tambm apreende oentendimento do que seja causa mais adequada:

    J nos termos da teoria da causalidade adequada, concebida pelo filsofo alemo Von Kries, ()procura-se identificar, na presena de mais de uma possvel causa, qual aquela potencialmente apta aproduzir os efeitos danosos, independentemente das demais circunstncias que, no caso concreto,operaram em favor de determinado resultado. Apreciado certo dano, temos que concluir que o fato

    que o originou era capaz de lhe dar causa. Mas pergunta-se -, tal relao de causa e efeito existesempre em casos dessa natureza, ou existiu nesse caso, por fora de circunstncias especiais? Seexiste sempre, diz-se que a causa era adequada a produzir o efeito se somente uma circunstnciaacidental explica essa causalidade, diz-se que a causa no era adequada . 6 (destacamos)

    Examinando o relatrio jurisprudencial que segue, far-se-, de modo mais singelo e pedaggico, acompreenso da posio aqui adotada:

    Apelao cvel Ao de indenizao moral e material Acidente de motocicleta Buraco e pedra napista ausncia de sinalizao de obra Responsabilidade da Sanepar - Excesso de velocidade davtima no comprovado Teoria da causalidade adequada Mesmo que houvesse excesso, o dano socorreu pelo defeito na pista e a ausncia de sinalizao - Danos materiais comprovados Danosmorais caracterizados por leso na costela e ferimentos externos Reduo no valor do dano moralpara mil reais Juros de mora fixados corretamente em 1% a partir do evento danoso A correomonetria incide a partir da sentena Recurso conhecido e parcialmente provido para reduzir aindenizao por danos morais e fixar com termo inicial para a correo monetria a sentena. (TJPR,ApCiv 0599914-2/Maring, 4. Cm. Civ., rel. Juiz Conv. Fabio Andre Santos Muniz, DJPR 04.12.2009, p.126)

    O que se depreende do contedo acima aparelhado que, entre duas condutas (uma comissiva e outraomissiva), apenas uma delas figura como causa.

    Examine-se, pois, de modo mais atento e profcuo, o contedo do acrdo que ensejou a presentedemonstrao jurisprudencial em curso:

    Mrito

    Cinge-se a questo na anlise da responsabilidade civil da Companhia de Saneamento do Paran, face

    s omisses na conservao da via pblica e principalmente na sinalizao adequada, bem assim, sehouve culpa concorrente do motorista em vista de imprudncia. () H vrios indcios de que avelocidade da motocicleta no era alta. O local do acidente uma curva, sendo natural uma reduo develocidade. O fato alegado pela Sanepar como uma agravante (conhecimento do local) deve serentendido como mais uma evidncia de que a velocidade desprendida no era alta, uma pessoa quesabe que as condies de uma pista no so boas age com mais diligncia, afinal ningum quer seenvolver em um acidente de trnsito. A apelante no se desincumbiu de provar o excesso develocidade empreendido pelo motorista do veculo danificado. A perda da direo da motocicleta, apspassar por um buraco na pista, poderia ter sido originada devido combinao da velocidade excessivaempreendida e m conservao da pista de rolamento. Todavia, mesmo que tal excesso estivessecomprovado, o nexo de causalidade s possui um determinante o buraco e as pedras soltas na pista.

    A teoria adotada pelo ordenamento jurdico nacional, para a fixao do nexo de causalidade, e, por

    conseguinte, estabelecimento da responsabilidade a da causalidade adequada.Tal teoria pode ser resumida: Sempre que seja possvel estabelecer a inocuidade de um ato, ainda queimprudente, se no tivesse intervindo outro ato imprudente, no se deve falar em concorrncia deculpa (Dias, Aguiar. Da responsabilidade civil. 5. ed. Rio de Janeiro: Forense,vols. 1 e 2, p. 314-316).Para o caso concreto a equao deve ser definida da seguinte maneira: no havendo buraco na pista,ainda que a motocicleta estivesse em alta velocidade, haveria o evento danoso? A reposta no. Issoposto no se pode falar em culpa concorrente, pois caso a pista estivesse em condies normais detrafegabilidade no haveria o dano. No h culpa concorrente do autor. (TJPR, ApCiv 0599914-2/Maring, 4. Cm. Civ., DJPR 04.12.2009, p. 126)

    Muito bem apreendeu o fato e o direito o eminente magistrado no julgamento em tela.

    Por igual, similar a mais no poder, a situao que ocorre em nossa reflexo a respeito da situao

    ftica que nos foi proposta: mesmo com o envio do referido ofcio Prefeitura pelo presentedemandado, o dano no se objetivou com esse envio.

    Portanto, impreciso que se entreveja nexo causal entre a conduta do demandado e as lesesindicadas pelo autor, quando a causa que teria possudo interferncia decisiva para a produo do danoencontra-se sob o plio da ao que expediu secundariamente tal denncia Delegacia daquelemunicpio.

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    3.3 Do quesito 3: Diante das respostas anteriores, possvel afirmar que esto preenchidosos requisitos necessrios para a configurao do dever de indenizar?

    No captulo precedente, descortinou-se, diante do caso concreto, a mpar oportunidade de refletir sobrea singular conceituao de nexo causal, tratando de sua imprescindibilidade e da teoria que melhor orege, qual seja, a teoria da causalidade adequada, apreciada pela doutrina e pela jurisprudnciabrasileira.

    Evidenciou-se de acordo com a anlise desenvolvida por meio dos preceitos acima mencionados que no se pode indicar a existncia de um liame ftico que conecte a conduta de K aos danos cuja

    reparao pretende o autor, uma vez que tal ao no possui adequao correta com a produo dodano.

    Posto isto, no h a presena de todos os elementos necessrios configurao do dever de indenizar,representados pela conduta (comissiva ou omissiva), pelo dano e pelo nexo causal que os une(fenmeno este que, justamente, no se encontra presente).

    Bem se sabe que a presena desses elementos mandatria, justamente pela exegese advinda do art.186 do CC/2002 ptrio. No h responsabilidade civil e, portanto, no h tambm dever de indenizar quando um destes componentes no divisado.

    Ao tratar deste tema, no se pode olvidar dos teores abaixo descritos:

    Ao lado da conduta culposa dos demandados, torna-se indispensvel ao autor, na ao deresponsabilidade civil, demonstrar o nexo causal entre tal conduta e o resultado danoso. No direito

    brasileiro, em ambas as espcies de responsabilidade civil, objetiva e subjetiva, o dever de reparardepende da presena do nexo causal entre o ato culposo ou a atividade objetivamente considerada, e odano, a ser demonstrado, em princpio, por quem o alega (onus probandi incumbit ei qui dicit, non quinegat), salvo nas hipteses de inverso do nus da prova previstas expressamente na lei, parasituaes especficas.7

    No se subscreve, como implicitamente a sentena admitiu, o entendimento segundo o qual seria merosuperlativo doutrinrio a imprescindibilidade do nexo causal na verificao do dever de indenizar.

    A jurisprudncia indica, torrencialmente, a necessidade invarivel da presena de tais elementos para aconsubstanciao da responsabilidade civil:

    Apelao cvel Assistncia judiciria gratuita Dispensa de preparo Responsabilidade civil Danomoral Necessidade de serem demonstrados a autoria, o dano e o nexo causal - Sentena mantida.

    1. A parte beneficiria da Justia gratuita est dispensada do preparo do recurso, de acordo com o art.511, 1., do CPC, e art. 9. da Lei 1.060/1950.

    2. A indenizao por danos morais requer a demonstrao da autoria, dano e nexo causal. Noreconhecida a autoria, no se configura o ato ilcito, nos termos do art. 159 do CC. (TJPR, ApCiv0126512-7, Ac. 9516/Cascavel 6. Cm. Civ., DJPR 21.10.2002)

    Recurso especial Responsabilidade civil Nexo causal Ausncia Culpa pelo acidente nus dosrecorridos.

    1. A responsabilidade civil somente se perfaz se presentes seus elementos essenciais, quais sejam,ao ou omisso do agente, nexo causal e dano.

    2. A responsabilizao do proprietrio do veculo pressupe seu mau uso, traduzido no agir culposo doterceiro condutor, causador do acidente. Precedentes.

    3. A demonstrao da culpa pelo acidente configura nus do autor, j que se consubstancia em fatoconstitutivo de seu direito.

    4. Recurso Especial conhecido e provido. (STJ, REsp 608.869, Proc. 2003/0194890-9/RJ, 4. T., j.09.12.2008, DJE 09.02.2009)

    Ao de indenizao Erro mdico Hospital Autor portador de atrofia do brao direito desde os 11meses de idade Intervenes cirrgicas para tentativa de recuperao da funcionalidade do membrolesado Laudo pericial que atesta a adequao dos procedimentos realizados pelos mdicos ao quadroclnico apresentado pelo autor Provas que no demonstram a culpa dos mdicos ou do hospital com acerteza necessria a uma condenao Recurso desprovido.

    Ausentes os elementos essenciais para caracterizao da responsabilidade de indenizar, segundo ateoria da responsabilidade subjetiva adotada pelo legislador brasileiro, quais sejam, o erro de condutado demandado, o dano efetivamente sofrido pelo autor e o nexo de causalidade entre uma e outra, noh que se falar em obrigao de indenizar. Cabe ao autor dar a prova dos fatos constitutivos do seudireito. A responsabilidade civil por erro mdico decorre de imprudncia, negligncia ou impercia notratamento ou prtica cirrgica empregados, por se tratar de obrigao de meio e no de resultado.

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    No sendo demonstrada conduta contrria do mdico, obrigao de tratar de paciente com zelo ediligncia, utilizando os recursos da cincia da arte mdica, no h como se reconhecerresponsabilidade decorrente. (TAMG, AC 0269682-0, 7. Cm. Civ., j. 04.02.1999)

    Ao de indenizao por danos materiais e morais Aquisio de veculo salvado, recuperado de furto,em leilo extrajudicial Priso do autor (crime de receptao) e apreenso temporria do automvelpor autoridade policial Providncias da r para regularizao dos identificadores oficiais Remarcao de chassi Reforma do bem, pelo autor, utilizando-se peas de sucata, tambm adquiridasem leilo Ausncia de nexo causal Dever de indenizar no configurado - Inovao recursal quanto alegao de responsabilidade da seguradora na baixa de restrio de furto existente sobre chassi

    irregular Pedido improcedente. Apelo parcialmente conhecido e, na parte conhecida, no provido.1.A responsabilidade civil delimitada pelo contido no art. 159 (art. 186 do CC/2002) do CC de 1916,consagrando a regra de que todo aquele que causa dano a outrem obrigado a repar-lo, sendo quatroos elementos essenciais ao ou omisso, culpa ou dolo do agente, relao de causalidade e o danoexperimentado pela vtima.

    2. Sem a demonstrao do nexo de causalidade entre a conduta culposa imputada ao agente ofensor eo dano experimentado, a improcedncia do pedido de rigor, mxime quando o autor, ao reformarveculo adquirido em leilo extrajudicial, com chassi remarcado, utilizando-se de sucata, da mesmaforma obtida, contribuiu para o resultado do evento sua deteno e apreenso do bem. (TJPR, ApCiv394916-2, Ac. 6645/Londrina, 10. Cm. Civ., j. 19.04.2007, DJPR 11.05.2007)

    Deste modo, fixa-se como acertada a compreenso de que, diante da inexistncia de nexo de

    causalidade que ligue a conduta do demandado com o dano alegado (ou percebido) pelo autor, no seencontram preenchidos os requisitos necessrios e ontologicamente essenciais para a configurao dodever de indenizar.3.4 Do quesito 4: Na hiptese de se admitir a existncia do dever de indenizar, a capacidadefinanceira do suposto ofensor deve ser considerada para a fixao do quantumindenizatrio?

    O questionamento que ora avulta-se ao exame merece densa ateno, qui at mesmo se confrontadacom os demais entraves aqui objetivados anteriormente, a fim de promover-se, agora, um exerccio deargumentao, sob a hiptese (que no se subscreve) da existncia de um dever reparatrio.

    Por certo, a responsabilidade civil e, em passo concomitante, o dever de indenizar j retratam onovo paradigma formado aps a promulgao do texto constitucional de 1988 e os inmeros degraus

    alados pela construo terico-jurdica dos dias de hoje.Logo, tais institutos no asseveram somente a restituio de um dano, mas, tambm, intentampromover o homem como sujeito dotado de nsita dignidade:

    A responsabilidade civil tem representado nos pases ocidentais um papel verdadeiramenterevolucionrio, configurando-se como uma das instncias primrias da mediao entre as prticassociais e a tutela jurdica. No Brasil, os impulsos transformadores carreados pelo institutoamplificaram-se a partir da promulgao da Constituio de 1988. A consequente expanso daresponsabilidade, ressaltada por tantos, refora a ideia, tornada realidade pela jurisprudncia atual,segundo a qual o direito se oferece com o instrumento para a promoo da pessoa humana.8

    Percebemos, pois, a grande importncia e preocupao em que se revestem estes mecanismos,escudados pelo desiderato de envolver em seu manto protetivo no apenas a pessoa, mas tambm suadignidade.

    Remarque-se, no entanto: trata-se do sujeito concreto, e no do indivduo em abstrato. Eis o norte quebaliza parmetros de quantificaes para o dano imaterial.

    Reparar, em presena de dano provado, dever, sem dvida. Ainda que tal misso integre-seperemptoriamente em nossa compreenso, no se pode traduzir a importncia da responsabilidade civile do dever de indenizar, insculpidos nos dias atuais, em uma responsabilizao exacerbada, como se sequisesse, ainda que a custa de novas leses, ressarcir abstrata e genericamente todos os danoscausados pessoa.

    Por estas razes que diversos aspectos devem ser analisados no momento de fixar o quantumindenizatrio, assim como se faz, por exemplo, quando se observa atentamente ao nexo decausalidade.

    Entende-se, pois, que no se pode olvidar que a capacidade econmica do agente indenizador deveservir de parmetro para tal fixao, em importncia equivalente ao princpio insculpido no art. 944 doCC/2002, que indica que a indenizao ser pretendida proporcionalmente extenso do dano.

    Tais regras aplicam-se tambm quando se trata de reparao por dano moral, pleito idntico ao da lide

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    que estamos a observar. Destes pressupostos, destacamos o seguinte:

    Impe-se, em nosso entendimento, a distino da situao das partes envolvidas no problema. Faz-semister separar a capacidade econmica do ofensor, que evidentemente deve ser tomada emconsiderao pelo juiz, a fim de evitar uma indenizao impraticvel ou irrisria em face do casoconcreto, da situao em que vive a vtima, que por si s no determina uma diferenciao de grau naapurao do valor do ressarcimento, vale dizer, no possui o condo de apontar um valor maior oumenor de reparao.9

    Sendo assim, necessrio que o quantum indenizatrio corresponda capacidade econmica daquele

    que o desembolsar, sob pena de no apenas afrontar a sistemtica principiolgica circunspecta aoprincpio da dignidade humana, mas tambm de causar um novo dano, travestido no intento decompensar outra leso previamente existente.

    Concomitantemente doutrina caminha a jurisprudncia atual, conforme se observa a seguir:

    Acidente de trnsito ocorrido em rodovia objeto de concesso Responsabilidade objetiva daconcessionria Ausncia de culpa da vtima Depresso na pista no sinalizada adequadamente Dever de indenizar Dano moral Caracterizao Apelao no provida.

    1. As concessionrias de rodovias pedagiadas respondem objetivamente pelos danos causados ausurios, quer por serem fornecedores de servio, logo, submetidas ao Cdigo do Consumidor, querporque o art. 37, 6., da CF submete-as ao mesmo regime da responsabilidade civil da administraopblica.

    2. Sendo objetiva a responsabilidade, da concessionria o nus de provar a culpa da vtima, exclusivaou concorrente.

    3. A morte do filho causa aos pais dano moral, porquanto o evento causa-lhes fortes sentimentosnegativos que perturbam drasticamente a sua integridade psquica, esta um direito fundamental.

    4. A indenizao do dano moral deve realizar as finalidades compensatria, punitiva e dissuasria,cabendo ao juiz arbitr-la de acordo com a gravidade da leso, a intensidade das repercusses do atoofensivo na vida do ofendido, o grau de culpa do ofensor, a capacidade econmica deste e,especialmente nas relaes de consumo, visando dissuadir o fornecedor de insistir em condutas derisco.

    Apelao no provida. (TJPR, ApCiv 0612350-8/Cascavel, 10. Cm. Civ., rel. Juiz Conv. Albino JacomelGuerios, DJPR 09.10.2009, p. 197)

    Deste mesmo julgado, faz-se importante a transcrio parcial de seu acrdo, atitude esta que intenta,de sobremaneira, demonstrar a inclemncia de tal entendimento atinente capacidade econmica doofensor em nossos Tribunais:

    Vistos, relatados e discutidos estes autos de ApCiv 612.350-8, da Comarca de Cascavel 2. Vara Cvel,em que apelante R. C. S.A. e apelados L. C. e outra.

    Acordam os dois Desembargadores e o Juiz Relator Convocado da 10. Cm. Civ. do TJPR, porunanimidade de votos, em no prover a apelao, nos termos deste julgamento. O efeito dissuasriodeve ser empregado quando a atividade danosa do ofensor puder repetir-se, quando a situao de fatoindicar a necessidade de refrearem-se possveis condutas semelhantes e igualmente ilcitas. E ao ladode critrios gerais como a incomensurabilidade do dano moral, o atendimento vtima, minorao do

    seu sofrimento, o contexto econmico do Pas etc., a doutrina recomenda o exame: (a) da condutareprovvel, (b) da intensidade e durao do sofrimento (c) a capacidade econmica do ofensor e (d)as condies pessoais do ofendido 3..

    Pelo exposto, a Cmara, por unanimidade, no prov a apelao. (TJPR, ApCiv 0612350-8/Cascavel,10. Cm. Civ., rel. Juiz Conv. Albino Jacomel Guerios, DJPR 09.10.2009, p. 197)

    Vale seguir a apreciao do relatrio jurisprudencial desse arresto, que no se limita apenas em umposicionamento neste sentido:

    Apelao cvel Indenizao por danos morais Publicao de matria jornalstica Acusaesdiretas de envolvimento de ex-ocupante de cargo de direo em banco estadual com crimes decorrupo Provocaes e insinuaes maldosas Xingamento Abuso do direito de informar -.Ofensa honra e a imagem Dever de indenizar Valor indenizatrio Majorao Aplicao da

    correo monetria a partir da fixao da condenao Juros moratrios do evento danoso (Smula 54do STJ) Recurso de Apelao 01 conhecido em parte e desprovido Recurso de Apelao 02parcialmente provido.

    1. Embora o primeiro apelo contenha um pequeno trecho dissociado da realidade ftica dos autos, queno merece ser conhecido, nos demais pontos ataca a sentena, atendendo ao disposto no art. 514, II,do CPC e ao princpio da dialeticidade.

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    2. As matrias em questo no veiculam trabalho jornalstico destinado informao, pois falta lhesimparcialidade e sobra-lhes inteno acusativa e provocativa, com o uso de tom sarcstico edebochado, culminando com o vil xingamento pessoa do noticiado.

    3. Ainda que verdadeiras as acusaes, no pode o jornal se arvorar como rbitro social, julgando deantemo o indivduo, comprometendo de forma irrecupervel sua honra, nome, intimidade, imagem eimpresso no meio em que vive.

    4. A liberdade de comunicao, garantia alada categoria constitucional, encontra limites nos direitosindividuais, onde se insere a honra e a imagem (art. 220, 1. c/c 5., X, CF/1988).

    5.Ao arbitrar o quantum indenizatrio devem ser considerados: as circunstncias do caso concreto, oalcance da ofensa e a capacidade econmica do ofensor e do ofendido. Alm disso, indenizao deveser suficiente para compensar a vtima pelo dano sofrido e, ao mesmo tempo, sancionar o causador doprejuzo de modo a evitar futuros desvios.

    6. Apreciados os elementos do caso, merece elevao o valor indenizatrio para R$ 40.000,00(quarenta mil reais).

    7. A correo monetria incidente sobre o valor da indenizao por danos morais aplicada a partir dafixao da condenao.

    8. O incio da aplicao dos juros de mora o evento danoso (Smula 54 do STJ). (TJPR, ApCiv0576575-7/Cascavel, 9. Cm. Civ., rel. Des. Hlio Henrique Lopes Fernandes Lima, DJPR 28.08.2009,p. 426)

    Novamente, alm da simples demonstrao da ementa, destacamos o entendimento demonstrado emteor do prprio acrdo:

    Vistos, relatados e discutidos estes autos de ApCiv 576.575-7, da 2. Vara Cvel da Comarca deCascavel, em que so apelantes (1) S. E. C. Ltda. e (2) M. M. e apelados os mesmos. ()

    II Voto

    Valor da indenizao.

    Com relao ao valor da indenizao, ambas as partes almejam a modificao da r. sentena. O jornalapelante n. 1 pretende a reduo do valor arbitrado para dois salrios mnimos. J o apelante n. 2requer a majorao da indenizao, pois classifica irrisrio o valor arbitrado. Diante da inegveldificuldade em arbitrar o valor para indenizaes por dano moral e tambm da ausncia de critrios

    legais objetivos, a doutrina tem lanado mo de certos parmetros. Devem ser considerados: ascircunstncias do caso concreto, o alcance da ofensa e a capacidade econmica do ofensor e doofendido. A indenizao deve ser suficiente para compensar a vtima pelo dano sofrido e, ao mesmotempo, sancionar o causador do prejuzo de modo a evitar futuros desvios. Nesta linha, vale destacar:O quantum indenizatrio devido a ttulo de danos morais deve assegurar a justa reparao do prejuzosem proporcionar enriquecimento sem causa do autor, alm de levar em conta a capacidade econmicado demandado, devendo ser arbitrado pelo juiz de maneira que a composio do dano seja

    proporcional ofensa, calcada nos critrios da exemplaridade e da solidariedade. (STJ, 1 T., REsp693172/MG, j. 23.08.2005, rel. Min. Luiz Fux, DJ 12.09.2005, p. 233). (TJPR, ApCiv 0576575-7/Cascavel, 9. Cm. Civ. DJPR 28.08.2009, p. 426)

    Depreende-se, portanto, que a capacidade econmica do ofensor , sim, elemento que deve seramplamente considerado no momento da fixao de importncia a ser indenizada, isto em conjuntocom outros fatores, como a extenso do dano e seu nexo de causalidade com a conduta que oengendrou.

    Tal pressuposto no deve ser relevado, ou ainda, menosprezado, tendo em vista seu incontestvelvalimento.3.5 Do quesito 5: Diante da observao da realidade ftica que permeia a presente lide,caracterizam-se de modo determinante os danos morais imagem suscitados pelo autor?

    Ainda singrando searas que nos levam da compreenso do instituto aos parmetros pressupostos paraa reparao de dano, cabe agora a incumbncia de observar os critrios utilizados para a configuraodo dano imagem, confrontando-os com os fatos expostos nos autos.

    Leva-se, nisto, em plena considerao a hiptese segundo a qual a publicidade da documentao que

    trazia em seu bojo todo o rol de denncias reverberadas pela comunidade daquele Municpio fadou suameta principal ao insucesso.

    Diante deste quadro, percebeu o autor que sua imagem de homem poltico fora atingida, figura estaque, em seu entendimento, o esteio fundamental para a possibilidade do exerccio de seus misteres,mormente baseados na confiana que lhe depositam seus eleitores. Sendo assim, prima facie,escorreriam aos olhos do autor os precitados danos.

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    No entanto, com a devida reserva, ainda que se aceite a publicidade do referido relatrio comonarrada, abstruso o entendimento que assevere danos imagem provocados pelo malogroconsubstanciado pelo envio daquele documento. So duas circunstncias bastante distintas, como por sis se revelam.

    Se tal denncia frustrou-se, a frustrao em si no vilipendiaria de per se a imagem do autor, uma vezque sua funo como representante da comunidade daquele municpio teria sido cumprida ao formalizaras denncias que lhe foram encaminhadas.

    Figura-se, pois, a necessidade de melhor observarmos a presente questo, isto em aspecto probatrio.

    Por conseguinte, de um lado, fenmenos distintos correspondem publicidade do teor do documento eao insucesso da pretendida punio dos denunciados, e de outro, o dano imagem, em seu maiorelastrio, requer fato, sequela e nexo.

    Sabe-se, certo, que determinar a ocorrncia de dano moral atinente imagem de uma pessoareveste-se na maior complexidade, fato este reconhecido doutrinria e jurisprudencialmente. Contudo,no se pode prostrar-se indiferente a tal dificuldade, como se ela fosse uma barreira intransponvel sua correta verificao.

    Com efeito, a comprovao do dano moral ainda mais quando este direcionado figura profissionalde uma pessoa depende da constatao da ofensa em si, seja pela dificuldade de se demonstrar em

    juzo algo to subjetivo, seja pela prpria impossibilidade dos meios probatrios formais em cumprircom tal misso.

    No se pode, sem dvida, deslembrar o apotegma aqui designado na lio que segue:Neste ponto a razo se coloca ao lado daqueles que entendem que o dano moral est nsito na prpriaofensa, decorrendo da gravidade do ilcito em si. Se a ofensa grave e de repercusso, por si s

    justifica a concesso de uma satisfao de ordem pecuniria ao lesado. Em outras palavras, o danomoral existe in re ipsa deriva inexoravelmente do prprio fato ofensivo, de tal modo que, provada aofensa, ipso facto est demonstrado o dano moral ().10

    Em termos mais breves, diante da impossibilidade da comprovao ftica do dano moral em si lesoesta nsita e ontologicamente subjetiva -, deve-se, pois, demonstrar a existncia de um evento ouconduta apto a ensejar no ofendido tais perdas. Logo, de modo irretorquvel, no se elimina a prova dofato e da sequela.

    Cotejando os passos dados pela jurisprudncia ptria neste sentido, infere-se o que segue:

    Apelao cvel e recurso adesivo Declaratria de nulidade e inexigibilidade de ttulo cambial esustao de protesto Empresa de fomento mercantil Endosso translativo Alegao de falsidade deassinatura na rplica Possibilidade Danos morais Culpa concorrente da apelada Inocorrncia Desnecessidade de comprovao da existncia do dano. Comprovao do evento danoso Quantumindenizatrio Desnecessidade de modificao Recursos no providos.

    1. A empresa de fomento mercantil que recebe ttulo de crdito mediante endosso translativo temlegitimidade para figurar no polo passivo da demanda em que se pretende a declarao de nulidade einexigibilidade das crtulas, indenizao por danos morais e sustao dos protestos.

    2. Havendo relevante motivo para se passar de uma sentena de improcedncia, anuladaanteriormente, para uma de procedncia e tendo sido oportunizada a produo de prova pericial,revela-se descabida a alegao de ofensa ao princpio da segurana jurdica.

    3. No h que se falar em ofensa ao princpio da ampla defesa, do contraditrio e do devido processolegal ao serem efetuadas as intimaes dos patronos das partes apenas pelo Dirio da Justia, poisinexiste nos autos autorizao do juiz para que sejam feitas por carta.

    4. As alegaes relativas falsidade da assinatura constante nas notas fiscais podem ser acolhidasmesmo que apresentadas na rplica, posto no ser obrigatrio parte suscitar incidente de falsidadedocumental.

    5. No pode ser atribuda qualquer culpa apelada pelo protesto dos ttulos, pois cabia empresa defomento averiguar a regularidade da operao documentada pelas duplicatas e se a quantia nelasindicada era realmente devida pelo sacado.

    6. Em indenizaes por dano moral no h necessidade de comprovao da ocorrncia do dano, mas

    apenas do evento apto a ensej-lo, conforme j se manifestou o STJ.7. Os critrios para fixao do quantum indenizatrio foram devidamente observados pelo juzo a quo,no havendo porque ser majorado ou reduzido o valor arbitrado. (TJPR, ApCiv 0519274-9/Curitiba, 13.Cm. Civ., DJPR 16.10.2009, p. 229)

    Novamente, e para bem repisar diante da densidade desta problematizao, factvel valer-se da

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    observao do prprio acrdo do presente julgado para melhor entrever estas possibilidades:

    13. Cm. Civ., ApCiv 519.274-9, da 17. Vara Cvel do foro central da comarca da regiometropolitana de Curitiba.

    II Voto.

    Presentes os pressupostos extrnsecos e intrnsecos de admissibilidade, merecem ser conhecidos ospresentes recursos. () Revela-se descabida, no entanto, a alegao de que os danos morais noforam provados, tendo em vista que no h necessidade em indenizaes desta natureza decomprovao da ocorrncia do dano, mas apenas do fato apto a ensej-lo, conforme se observa do

    aresto abaixo:Responsabilidade civil Dano moral Inscrio em cadastro de proteo ao crdito Prova do dano Quantum indenizatrio. Na indenizao por dano moral, no h necessidade de comprovar-se aocorrncia do dano. Resulta ela da situao de vexame, transtorno e humilhao a que esteve expostaa vtima. (). Recurso especial conhecido, em parte, e provido (REsp 556.031/RS, 4. T., j. 27.09.2005,DJ 07.11.2005, p. 289).

    Desta forma, tendo sido constatado o protesto indevido dos ttulos, evidente que a apelada teve suareputao maculada no meio empresarial, restando caracterizados os danos morais, como bemreconheceu a sentena. (TJPR, ApCiv 0519274-9/Curitiba, 13. Cm.Civ., DJPR 16.10.2009, p. 229)

    Atente-se, ento: o dano (cuja prova, no campo da imaterialidade, mesmo complexa) no deflui decausa abstrata, mas sim de fato ou evento apto a produzi-lo ainda de acordo com moldes anteriores,

    seguiremos a visualizao do relatrio jurisprudencial subsequente, com o fito de melhor abrangermoso tema:

    Apelao cvel Indenizao Agravo retido Inobservncia do art. 523, 1., do CPC Noconhecimento Entrevista concedida em programa de rdio Imputao da prtica de condutadelituosa no evidenciada Ofensa no caracterizada Danos morais no configurados Honorrios Causa em que no h condenao Aplicao do art. 20, 4., do CPC Recurso de apelao providoem parte.

    1. No se conhece de agravo retido quando no requerida nas contrarrazes de apelao a suaapreciao, conforme determina o art. 523, 1., do CPC. Contudo, por se tratar de matria de ordempblica, de se analisar a arguio de decadncia, para manter a deciso singular que reconheceu ainaplicabilidade do prazo decadencial de trs meses estabelecido na Lei de Imprensa para o

    ajuizamento de ao indenizatria. Com efeito, a partir da promulgao da Constituio Federal de1988, o STJ passou a adotar o entendimento de que o prazo decadencial para a propositura das aesde danos materiais e morais em casos como o em tela aquele previsto no Cdigo Civil, ou seja, nomais se aplica o prazo de trs meses previsto na Lei de Imprensa.

    2. Prevalece o prazo delineado no mandado citatrio sobre aquele previsto na Lei de Imprensa paracontestar.

    3. Da anlise do contedo da entrevista jornalstica divulgada pela rdio apelada, no se percebe emnenhum momento qualquer acusao por parte dos apelados de que o recorrente estaria envolvido como trfico internacional de drogas. certo que o reprter foi deseducado e deselegante quando afirmouque o apelante havia mentido sobre os reais motivos que levaram o avio a fazer um pouso forado,mas no a ponto de ser interpretado como afronta a sua dignidade e a sua honra, devendo seranalisada dentro do contexto que foi proferida, ou seja, quando se procurava dirimir as dvidas sobreaquele fato sob investigao policial.

    4. A indenizao por dano moral exige ofensa honra, que cause dor, angstia e desgosto ao ofendido,e no mero aborrecimento, dissabor, ou mgoa, inerentes a vida moderna.

    5. Ressalte-se, contrariamente ao que entende o recorrente, a necessidade de demonstrao efetiva daocorrncia do fato danoso, para gerar o dever de indenizar, no se exigindo a comprovao do efetivo

    prejuzo, quando configurado o simples fato da violao, ou a ofensa que por si s, ensejam aresponsabilidade do agente, o que no ocorreu no caso em tela.

    6. Nas causas em que no h condenao, os honorrios devem ser calculados com base no art. 20, 4., do CPC, no estando o julgador atrelado aos limites percentuais previstos no art. 3., ou mesmoao valor da causa, para sua fixao que deve ser feita de forma equitativa, segundo os parmetros aliestabelecidos. Assim, em ateno aos critrios estabelecidos no 3., do art. 20, do CPC, como o lugarda prestao do servio ter sido na Comarca em que os causdicos tm seu escritrio profissional, almda causa no ser de grande complexidade, o valor dos honorrios fixado pela deciso monocrtica deR$ 5.000,00 (cinco mil reais), para ser dividido entre os patronos dos requeridos, mostrou-seexacerbado, devendo, portanto, ser reduzido, motivo pelo qual fixo a verba honorria em R$ 3.000,00(trs mil reais), importncia que no se mostra exagerada, mas remunera de forma digna o trabalho

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    de defesa desenvolvido na presente ao indenizatria. (TJPR, ApCiv 0494875-8/Londrina, 8.Cm.Civ., DJPR 13.03.2009, p. 255)

    Eis a a lio: impende provar a ofensa, e no poderia ser diverso a manifestao percebida no relatoconfeccionado, aqui transcrito parcialmente, assoalha a tese no corpo que integra o teor completo doreferido acrdo:

    Vistos, relatados e discutidos estes autos de ApCiv 494875-8, da 10. Vara Cvel da Comarca deLondrina, em que apelante J. C. G. N., e apelados M. R. B. e R. P. Ltda. () Contesta ainda asconcluses do julgador singular de que teria se negado a prestar informaes, o que acabou levantando

    dvidas na entrevista realizada com o delegado que investigava o pouso forado do avio que elepilotava, bem como de que os ocupantes da aeronave teriam abandonado o local de aterrissagem, logoaps o pouso do avio, como se estivessem em fuga da polcia. Discorda, outrossim, de que no teriasofrido dano moral, at porque o sofrimento de foro ntimo, no podendo ser medido pelomagistrado, tanto que os Tribunais vem decidindo a desnecessidade de se provar o dano, sendosuficiente a demonstrao da ocorrncia do fato, para reparao indenizatria. (TJPR, ApCiv 0494875-8/Londrina, 8. Cm.Civ., DJPR 13.03.2009, p. 255)

    Diante das exposies aqui fomentadas, compreende-se que, mesmo que de intrincada percepo, acaracterizao de indenizao advinda de dano moral no prescinde da evidenciao da ofensa que ogerou, uma vez que o dano em si, a sim, se faz em rara demonstrao probatria.

    Consequentemente: no h reparao sem dano e no pode haver dano moral sem prova de fato aptoa gerar tal ofensa.

    No caso, no se afigura, em nosso ver, ter sido produzida tal prova.

    Sem embargo, um passo adiante, para argumentar, possvel imprimir a esse percurso.

    O fito aqui percebido o de promover um novo questionamento, na tentativa de averiguar se,faticamente, fosse comprovado o evento causador do dano pretendido pelo autor e, em caso positivo, aqual conduta tal leso viria a se conectar.

    Em verdade, a resposta a este novel mote j foi demonstrada anteriormente, quando se evidenciou quea causa mais adequada produo dos danos imagem do autor se que estes se percebem nopode ter sido a remessa do ofcio pelo consulente.

    Esta a problematizao que encontra guarida no caso justamente pela sua relevncia. Em suma,ainda se tratando de grave denncia, no h que se negar que tal embate (encaminhamento para

    providncias) incapaz de gerar, por si s, o alegado dano moral ou prejuzo somente se visto aoavesso, isto , desprezando o nexo causal, o ato do apelante K possibilitaria uma viso (em nosso verequivocada) sobre a lide em questo, a qual desembocaria (como se passou com o desate judicial subexamen) na errnea caracterizao de um dever de indenizar.

    Concluo, por conseguinte, ser insustentvel, pelas razes expostas, a condenao do consulente nosmoldes pretendidos pelo autor.

    o parecer.

    1 Cruz, Gisela Sampaio da. O problema do nexo causal na responsabilidade civil. Rio de Janeiro:

    Renovar, 2005. p. 22.2 Cruz, Gisela Sampaio da, op. cit. Trecho ali citado sob a luz de: Voltaire, Franois Marie Arouet.Cadeia dos acontecimentosDicionrio Filosfico. So Paulo: Martin Claret, 2002. p. 64.3 Cavalieri Filho, Srgio. Programa de responsabilidade civil. So Paulo: Malheiros, 2006. p. 73. Nestamesma singra, assevera Pablo Stolze: O ponto central para o correto entendimento desta teoriaconsiste no fato de que somente o antecedente abstratamente apto determinao do resultado,segundo um juzo razovel de probabilidade, que conta a experincia do julgador, poder serconsiderado causa (Gagliano, Pablo Stolze. Novo curso de direito civil. Responsabilidade civil. SoPaulo: Saraiva, 2004. p. 100.)

    4 Neste mesmo sentido, impende salientar a adoo de tal teoria no direito comparado. o caso de,por exemplo, vislumbrarmos o direito argentino, que adotou a presente tese com a reforma do CdigoCivil em 1968. Neste sentido, ver: Ghersi, Carlos Alberto. Teoria general de la reparacin de daos.Buenos Aires: Astrea, 1999. p. 90.5 Cavalieri Filho, Srgio, op. cit. p. 74. Ao mesmo passo, de insofismvel importncia o apotegma

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    fomentado por Garcez Neto: A pergunta que, ento, se faz a seguinte: a ao ou omisso dopresumivelmente responsvel era, por si mesma, capaz de normalmente causar o dano? Tal pergunta uma consequncia deste princpio: para se estabelecer a causa de um dano preciso fazer um juzo deprobabilidades. Portanto, se se responde afirmativamente, () que a ao ou omisso era adequadapara produzir o dano, ento, este objetivamente imputvel ao agente (Garcez Neto, Martinho.Prtica de responsabilidade civil. 2. ed. So Paulo: Malheiros, 2000. p. 45).6 Tepedino, Gustavo. Temas de direito civil. Rio de Janeiro: Renovar, 2006. p. 68.

    7 Tepedino, Gustavo, op. cit., p. 63.8 Moraes, Maria Ceclia Bodin de. Danos pessoa humana: uma leitura civil-constitucional dos danosmorais. Rio de Janeiro: Renovar, 2003. p. 22-23.9 Monteiro Filho, Carlos Edison do Rgo. Elementos de responsabilidade civil por dano moral. Rio deJaneiro: Renovar, 2000. p. 150.10 Cavalieri Filho, Srgio, op. cit., p. 108.