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    Caderno de Referncia para elaborao de:

    Plano de Mobilidade porBicicleta nas Cidades

    Caderno1

    Coleo Bicicleta BrasilPrograma Brasileiro de Mobilidade por Bicicleta

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    Caderno1

    Coleo Bicicleta BrasilPrograma Brasileiro de Mobilidade por Bicicleta

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    Ministrio das Cidades

    MinistroMarcio Fortes de Almeida

    Secretaria Nacional de Transporte e da Mobilidade Urbana SEMOB

    Secretrio Nacional de Transporte e da Mobilidade Urbana:Luiz Carlos Bueno de Lima

    Diretor de Mobilidade Urbana:Renato Boareto

    Diretor de Cidadania e Incluso Social:Luiz Carlos Bertotto

    Diretor de Regulao e Gesto:Fernando A. C. Barbosa

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    Presidncia da Repblica

    Ministrio das Cidades

    Secretaria Nacional de Transporte e da Mobilidade Urbana

    PROGRAMA BICICLETA BRASIL

    Caderno de referncia para elaborao de:

    Plano de Mobilidade

    por Bicicleta nas Cidades

    Braslia, DF2007

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    2 EDIO Abril de 2008 2007 Ministrio das CidadesTodos os direitos reservados. permitida a reproduo parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte e que no seja para avenda ou qualquerfim comercial.A responsabilidade pelos direitos autorais de textos e de imagens dessa obra da rea tcnica.A coleo institucional do Ministrio das Cidades pode ser acessada em: www.cidades.gov.brDisponvel tambm na Secretaria Nacional de Transporte e da Mobilidade UrbanaISBN: 978-85-60133-47-5Tiragem: 500 exemplaresImpresso no Brasil

    FICHA TCNICA

    Elaborao doPrograma Bicicleta Brasil

    Equipe:

    Adalmir de Oliveira GomesAugusto Valiengo ValeriClaudio Oliveira da SilvaDaniela Santana Canezin NovaesEunice Rossirica Ruth Rodrigues de MoraisErika Alves Carneiro

    Guilherme Alves TillmannGilson da SilvaJuliana Bonfim da SilvaLuiza Gomide de Faria ViannaMarcelo Glaycom de Abreu BarbosaPaulo Augusto Souza BandeiraRenato BoaretoRoberto MoreiraRodrigo Ribeiro NovaesThiago Barros MoreiraValria Terezinha Costa

    Elaborao do Caderno

    Coordenao geral:Augusto Valiengo Valeri

    Consultor coordenador:Antonio Carlos de Mattos Miranda

    Colaboradores:Claudio Oliveira da SilvaDaniela Santana Canezin Novaes

    rika Alves CarneiroGuilherme Alves TillmannRoberto MoreiraVinicius Brochado Urdangarin Vianna

    Foto capa:Renato Boareto

    Agradecimentos:Jeroen BuisJos Carlos Aziz AryMaria Ermelina Brosch MalatestaSrgio Luiz Bianco

    A todas as entidades, empresas e rgos de governos municipaise estaduais que gentilmente autorizam a utilizao de materiaiseditados sobre atendimento s pessoas com deficincia.

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIB) Biblioteca da Presidncia da Repblica

    P964 PROGRAMA BRASILEIRO DE MOBILIDADE POR BICICLETA BICICLETA BRASILCaderno de referncia para elaborao de Plano de Mobilidade por Bicicleta nas Cida-des. Braslia: Secretaria Nacional de Transporte e da Mobilidade Urbana, 2007.

    p. 232

    1. Transporte urbano sistemas ciclovirios. 2. Bicicleta. I. Ttulo II. Programa Brasileiro

    de Mobilidade por Bicicleta Bicicleta Brasil

    CDD 388.411

    Programa Brasileiro de Mobilidade por Bicicleta Bicicleta BrasilSecretaria Nacional de Transporte e da Mobilidade UrbanaEsplanada dos Ministrios, Bloco A, 1 andar, sala 146/B, 70050-901. Braslia/DF.Telefone: (55 61) 2108 1660Endereo eletrnico: [email protected]

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    Sumrio

    APRESENTAO ......................................................................................................................................7

    INTRODUO ...........................................................................................................................................9

    CAPTULO 1 A POLTICA DA MOBILIDADE DO MINISTRIO DAS CIDADES ..................................11

    1.1 O Espao Urbano ..................................................................................................................12

    1.2 Poltica Nacional de Mobilidade Urbana ................................................................................13

    1.3 Participao e controle social na poltica de mobilidade .......................................................13

    1.4 - O Planejamento da Mobilidade Urbana ..................................................................................14

    1.5 Incentivos e financiamento ao uso da bicicleta como meio de transporte .............................17

    1.6 Programas de Mobilidade por meios no motorizados .........................................................17

    1.6.1 Programa Brasil Acessvel ..................................................................................................17

    1.6.2 Programa Bicicleta Brasil ....................................................................................................18

    1.7 Resultados recentes ..............................................................................................................20

    CAPTULO 2 PLANO GERAL DE MOBILIDADE POR BICICLETA ..................................................... 23

    2.1 Breve Histrico .......................................................................................................................24

    2.2 Uso da Bicicleta no Brasil ......................................................................................................252.3 Uso e Opinio dos Ciclistas Segundo Pesquisas Pontuais ...................................................28

    2.3.1 Alguns Dados de Pesquisas Nacionais ...............................................................................29

    2.3.2 Comentrios sobre os Dados .............................................................................................32

    2.4 Infra-estrutura Implantada ......................................................................................................36

    2.4.1 Pesquisa do Ministrio das Cidades sobre Infra-estrutura para Bicicletas .........................36

    2.4.2 Consideraes sobre a Infra-estrutura Pr-Bicicleta no Brasil ...........................................37

    2.5 Conceitos ...............................................................................................................................39

    2.6 Procedimentos e Instrumentos ..............................................................................................41

    2.6.1 Plano Diretor .......................................................................................................................42

    2.6.2 Aes Especficas ...............................................................................................................422.7 Consideraes Preliminares ..................................................................................................43

    2.8 Cinco exigncias para o planejamento ciclovirio .................................................................43

    2.9 Plano de Mobilidade por Bicicleta ..........................................................................................44

    2.9.1 Metodologia de processos ..................................................................................................44

    2.9.2 Delimitao da rea de Estudo e Anlise Prvia ................................................................45

    2.9.3 Conhecimento das Proposies e/ou dos Projetos Ciclovirios .........................................45

    2.9.4 Avaliao das Oportunidades de Interveno.....................................................................47

    2.10 Elaborao do Plano Ciclovirio ..........................................................................................48

    2.10.1 O Processo de Planejamento e Elaborao de Projetos Ciclovirios ..............................51

    2.10.2 Integrao entre rgos Municipais .................................................................................522.10.3 Apresentao do Projeto ...................................................................................................53

    2.10.4 Projetos de Estacionamentos ...........................................................................................53

    2.10.5 Instrumento voltado Elaborao de Projetos e de Redes Ciclovirias .........................54

    2.10.6 Cartilha para Orientao da Conduta dos Ciclistas na Via Pblica ..................................54

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    2.11 O Conceito de Rotas Ciclveis.............................................................................................55

    2.12 O Conceito de Ciclorotas em Espaos muito Estruturados .................................................56

    2.13 Fatores Favorveis e Fatores Desfavorveis ......................................................................57

    2.13.1 Caractersticas Favorveis ...............................................................................................57

    2.13.2 Caractersticas Desfavorveis ..........................................................................................61

    2.14 O Conceito da Bicicleta no Brasil e em outros pases. ........................................................652.15 Desafios para Mudana de Paradigma ................................................................................68

    2.16 Fatores que Influenciam a Mobilidade dos Ciclistas ............................................................72

    2.17 O papel da bicicleta no Cdigo de Trnsito Brasileiro .........................................................73

    2.18 A Bicicleta (o veculo) ...........................................................................................................74

    2.19 Modalidades dos Usos da Bicicleta .....................................................................................75

    2.20 Tipologias e Configuraes dos Espaos para a Bicicleta ..................................................82

    2.20.1 Conjuntos de Tramos Simples ..........................................................................................83

    2.20.2 Conjuntos de Tramos Complexos .....................................................................................83

    2.20.3 Tipologias das infra-estruturas ..........................................................................................83

    CAPTULO 3 ELEMENTOS BSICOS PARA PROJETOS ................................................................. 97

    3.1 Projeto Geomtrico ................................................................................................................98

    3.2 Espao til do Ciclista ...........................................................................................................99

    3.3 Moderao de Trfego - medidas para humanizao da cidade .........................................100

    3.4 Pistas e Faixas de Ciclistas .................................................................................................101

    3.4.1 Ciclovia, Conceito fundamental ........................................................................................101

    3.4.2 Ciclofaixas, um conceito ...................................................................................................103

    3.4.2.1 Ciclofaixas, algumas caractersticas ..............................................................................103

    3.4.3 Ciclovias, Principais Caractersticas .................................................................................111

    3.5 Intersees e Travessias .....................................................................................................1203.5.1 Cruzamentos Consideraes Gerais .............................................................................120

    3.5.2 Rotatrias ..........................................................................................................................130

    3.5.3 Intersees, alguns exemplos e comentrios ...................................................................140

    3.6 Pavimentao ......................................................................................................................146

    3.7 Drenagem ............................................................................................................................152

    3.8 Iluminao ............................................................................................................................154

    3.9 Estacionamentos para as Bicicletas ....................................................................................155

    3.10 Bicicletrio ..........................................................................................................................166

    CAPTULO 4 INTEGRAO BICICLETA COM MODOS DE TRANSPORTE COLETIVO ...................175

    4.1 Consideraes Gerais .........................................................................................................176

    4.2 Potenciais / Exemplos da Integrao ...................................................................................177

    4.2.1 Casos Especiais ...............................................................................................................187

    4.2.2 Lockers (biciclex) em vrios pases ................................................................................188

    4.3 Casos Internacionais ...........................................................................................................190

    4.4 Casos Nacionais ..................................................................................................................195

    BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................................................207

    ANEXO 1 - BIBLIOGRAFIACOMPLEMENTAR .........................................................................................211

    ANEXO 2 - GLOSSRIO .............................................................................................................................213

    ANEXO 3 - RELAO DE PARTICIPANTES ............................................................................................223

    ANEXO 4 - SITES DE INTERESSE .............................................................................................................229

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    Apresentao

    O Ministrio das Cidades, no processo de implementao da Poltica de Mobilidade Urbana paraa Construo de Cidades Sustentveis, busca a incluso social, a sustentabilidade ambiental, agesto participativa e a eqidade no uso do espao pblico.

    Analisando a realidade das cidades brasileiras, a SeMob Secretaria Nacional de Transporte e da

    Mobilidade Urbana verificou o uso crescente da bicicleta como meio de transporte no somentepara atividades de lazer, mas por motivo de trabalho e estudo, e considera fundamental que sejadado a este modo de transporte o tratamento adequado ao papel que ele desempenha nos deslo-camentos urbanos de milhares de pessoas. Isto exige polticas pblicas especficas que devem serimplementadas pelas trs esferas de governo.

    Aps o estabelecimento das diretrizes da Poltica Nacional da Mobilidade Urbana, discutidos noprocesso da Conferncia das Cidades, a SeMob implementou um frum para discusso do Pro-grama Brasileiro de Mobilidade por Bicicleta Bicicleta Brasil, lanado em setembro de 2004, noqual foi discutida uma poltica especfica para o transporte ciclovirio no Brasil.

    A incluso da bicicleta nos deslocamentos urbanos deve ser considerada elemento fundamen-tal para a implantao do conceito de Mobilidade Urbana para construo de cidades susten-tveis, como forma de reduo do custo da mobilidade das pessoas e da degradao do meioambiente. Sua integrao aos modos coletivos de transporte possvel, principalmente com ossistemas de alta capacidade, o que j tem ocorrido, mesmo que espontaneamente, em muitasgrandes cidades.

    Este Caderno de Referncia para elaborao de Plano de Mobilidade por Bicicleta nas Cidadesrepresenta um esforo da SeMob em fornecer subsdios para os municpios que tm inteno de

    implantar um plano ciclovirio, integrado aos demais modos existentes, formando uma rede detransporte. Portanto, ele servir como um importante instrumento para a formulao e desenvol-vimento da mobilidade urbana devendo considerar-se as caractersticas locais e regionais, sem-pre com a participao da sociedade, sobretudo das organizaes de usurios de bicicletas.

    Luiz Carlos Bueno de LimaSecretrio Nacional de Transporte e da Mobilidade Urbana

    Por ser um material dinmico, sugestes para seu aprimoramento so bem-vindas epodem ser enviadas para o seguinte endereo eletrnico: [email protected]

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    Na evoluo urbana recente, a ausncia de planejamento integrador e da implementao de po-lticas que absorvessem a rpida urbanizao das cidades brasileiras consolidou um quadro deexcluso e agravamento das desigualdades sociais. A compreenso poltica sobre essa realida-de se fez presente na criao, em 2003, do Ministrio das Cidades, que foi estruturado levandoem considerao a reunio das reas mais relevantes (do ponto de vista econmico e social) eestratgicas (sustentabilidade ambiental e incluso social) do desenvolvimento urbano.

    A Secretaria Nacional de Transporte e da Mobilidade Urbana tem como uma de suas atribuieso estabelecimento das diretrizes da poltica nacional de mobilidade urbana para a construo decidades sustentveis que tem como um de seus elementos estruturadores o incentivo circula-o dos meios no motorizados, entre eles a bicicleta.

    Em meio atual crise urbana, a SeMob apresenta este documento, cuja pretenso de servirde referncia para os municpios que desejam incentivar o uso da bicicleta no seu sistema demobilidade.

    O Captulo 1 traz o quadro da poltica de mobilidade do Ministrio das Cidades. Nele, so apre-sentados os programas, as aes e os resultados obtidos nos primeiros anos de trabalho doMinistrio.

    O Captulo 2 traa um panorama sobre o quadro da mobilidade por bicicleta no Brasil, mostran-do a sua evoluo no tempo, o difcil reconhecimento como modo de transporte, alm da apre-sentao de dados comparativos sobre o seu uso e exemplos de diferentes cidades brasileirase trata do Plano Geral de Mobilidade por Bicicleta partindo da caracterizao da bicicleta, dassuas possibilidades de uso, da infra-estrutura adequada e culminando com orientaes para oplanejamento da circulao cicloviria.

    O Captulo 3 delineia os elementos bsicos que devem ser considerados na elaborao de pro-jetos ciclovirios.

    O Captulo 4 mostra que a integrao da bicicleta com os outros modos de transporte um fatordecisivo promoo do uso da bicicleta como meio de transporte, alm de reforar a importnciados modos coletivos para os deslocamentos entre origens e destinos situados a mdias e longasdistncias.

    Introduo

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    A Poltica daMobilidade doMinistrio dasCidades

    Captulo 1

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    1.1 O Espao Urbano

    As cidades so espaos de convergncia que servem como palco de constantes transformaesa partir de interesses cotidianos diferenciados. Nelas, as pessoas recebem informaes, proces-sam-nas e as transformam, de acordo com suas necessidades. As cidades apresentam marcasda histria da humanidade, refletem a cultura dos seus habitantes que ali vivem ou daqueles quenela j viveram.

    Nas cidades, em especial em pases do Terceiro Mundo, h forte presena de aspectos de de-sordem, sendo comuns e muito visveis as desigualdades sociais que se traduzem em arranjosdesordenados de habitaes e aglomeraes urbanas. Os espaos virios tornam-se inadequa-dos para comportar de maneira harmnica a quantidade crescente de veculos motorizados epessoas que realizam seus deslocamentos a p ou de bicicleta. O reconhecimento dessa reali-dade denota a urgncia da criao de processos e aes voltadas transformao dos espaosurbanos em mundos mais igualitrios que gerem oportunidades reais s parcelas excludas dapopulao.

    O planejamento urbano, as polticas pblicas e a sociedade em geral so elementos fundamen-tais a serem mobilizados para gerar interferncias positivas na implementao dos processosde transformao das cidades. Cada vez mais deve estar presente a conscincia coletiva emproporcionar lugar saudvel para as geraes futuras.

    Em 1988, a Constituio Federal da Repblica incluiu, pela primeira vez na histria, um cap-tulo especfico para a poltica urbana, que prev uma srie de instrumentos para a garantia, nombito de cada municpio, do direito cidade, da defesa da funo social da propriedade e dademocratizao da gesto urbana. No entanto, o texto constitucional necessitava de uma legis-

    lao complementar de regulamentao desses instrumentos e, como resultado de mais de umadcada de negociaes, foi aprovada em 2001 a Lei 10.257 Estatuto da Cidade - que regu-lamentou os art. 182 e 183 da Constituio Federal e estabeleceu diretrizes gerais da poltica

    CAPTULO 1 - A Poltica da Mobilidade do Ministrio das Cidades

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    Caderno de Referncia para elaborao de Plano de Mobilidade por Bicicleta nas Cidades

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    urbana. O Estatuto da Cidade garante o direito s cidades sustentveis, entendido como direito terra urbana, moradia, ao saneamento ambiental, infra-estrutura urbana, ao transporte e aosservios pblicos, ao trabalho e ao lazer, para as presentes e futuras geraes.

    A incluso social passa a ser o foco central de toda ao pblica, contemplando tambm a equi-parao de oportunidades para as pessoas com deficincia e restrio de mobilidade, criando

    um novo processo de construo voltado ao exerccio da cidadania para todos.

    1.2 Poltica Nacional de Mobilidade Urbana

    A criao do Ministrio das Cidades MCidades - representa o reconhecimento do GovernoFederal de que os imensos desafios urbanos do pas precisam ser encarados como poltica deestado. Neste sentido, o governo federal assume um papel de propositor de polticas, de formaconsensual e participativa, que tm nos estados e municpios seu locus de execuo.

    A poltica de mobilidade urbana adotada pelo MCidades se inspira largamente nas principaisresolues e dos planos emanados dos encontros internacionais sobre meio ambiente e desen-volvimento sustentvel, com particular referncia queles aprovados nas Conferncias do Rio

    (1992) e de Joanesburgo (2002). Estes encontros, que contaram com a participao ativa doBrasil, foram fundamentais para o entendimento atual de que a interdependncia entre o desen-volvimento humano e a proteo ao meio ambiente crucial para assegurar uma vida digna esaudvel para todos.

    A formulao da poltica para construo de cidades sustentveis veio promover a participaodo Governo Federal, com proposies de planejamento integrado nas questes de mobilidadeurbana. Essa poltica tem foco na interseco de quatro campos de ao: desenvolvimento urba-no, sustentabilidade ambiental, incluso social e democratizao do espao. Esse ltimo inclui oacesso democrtico cidade e a valorizao dos deslocamentos de ciclistas.

    A incluso da bicicleta nos deslocamentos urbanos deve ser abordada como elemento para aimplementao do conceito de Mobilidade Urbana para cidades sustentveis como forma de in-cluso social, de reduo e eliminao de agentes poluentes e melhoria da sade da populao.A integrao da bicicleta nos atuais sistemas de circulao possvel, mas ela deve ser consi-derada como elemento integrante de um novo desenho urbano, que contemple a implantao deinfra-estruturas, bem como novas reflexes sobre o uso e a ocupao do solo urbano.

    1.3 Participao e controle social na poltica de mobilidade

    O MCidades, numa campanha que envolveu a participao de toda a sociedade brasileira, re-alizou em 2003 a 1 Conferncia das Cidades com objetivos de criar o Conselho das Cidades ConCidades - e delinear os princpios e as diretrizes da Poltica Nacional de Desenvolvimen-to Urbano - PNDU. Posteriormente, para atender s necessidades de aprofundamento setorial

    foram criados os comits tcnicos, dentre eles o de Trnsito, Transporte e Mobilidade Urbana,como fruns de debate e proposies para as resolues daquele conselho relacionadas sdiferentes temticas do desenvolvimento urbano.

    A Conferncia das Cidades representa um instrumento que norteia as aes dos poderes p-blicos, de forma coordenada e com efetiva participao popular, para reduzir as desigualdadessociais e regionais e garantir a Cidade para Todos.

    Sinalizando as reivindicaes da sociedade, a Resoluo n 07, de 16 de junho de 2004, doConCidades, foi o fator gerador para a criao do Programa Nacional de Mobilidade por Bici-cleta Bicicleta Brasil - institudo pela Portaria n 399, de 22 de setembro de 2004. Ainda aResoluo n 34, do ConCidades, emite orientaes e recomendaes ao contedo mnimodo Plano Diretor, tendo por base o Estatuto da Cidade, e institui em seu artigo 8 o PlanoDiretor de Transporte e da Mobilidade PlanMob - que deve garantir a diversidade dasmodalidades de transporte, priorizando o transporte coletivo e os modos no motorizados evalorizando o pedestre.

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    A formulao do Programa Bicicleta Brasil depende da construo de polticas de forma con-sensual e participativa e com essa inteno foi constitudo o Frum Nacional do Programa Bici-cleta Brasil. Nesse Frum especfico de discusso, participam diversos agentes da sociedadecomo operadores de transportes, fabricantes de veculos e equipamentos, representantes domeio acadmico, consultores, entidades sindicais, patronais e de trabalhadores, ONGs, r-gos de governo, como os Ministrios, parlamentares, gestores municipais e demais interes-sados que, periodicamente, se renem com o objetivo de avaliar o andamento do Programa,propondo novas aes 1.

    1.4 - O Planejamento da Mobilidade Urbana

    Torna-se cada vez mais claro que no h como escapar progressiva limitao das viagensmotorizadas. Essa problemtica pode ser enfrentada de algumas maneiras, seja aproximando oslocais de moradia dos locais de trabalho ou de acesso aos servios essenciais, seja ampliandoa participao dos modos coletivos e dos meios no motorizados de transporte. Evidentemente,que no se pode reconstruir as cidades, porm possvel e necessria a formao e a consoli-dao de novos desenhos urbanos que promovam a descentralizao de equipamentos sociais

    e de servios pblicos e privados, bem como a informatizao cadenciada desses servios, e,sobretudo, promovendo a ocupao dos vazios urbanos, modificando-se assim a extenso mdiadas viagens e diminuindo-se as necessidades de deslocamentos, principalmente motorizados.

    GRFICO 1 - Nmero de pessoas que circulam por hora numa faixa de trfego.Fonte: So Paulo, 2007.

    A importncia da integrao entre o uso dos espaos pblicos e a circulao urbana adquire novadimenso, obrigando convergncia entre desenvolvimento e mobilidade urbana, reduo doscustos de investimento e de manuteno numa perspectiva de mdio e longo prazo, garantiado acesso aos servios para todos os cidados e em funo de suas reais necessidades, va-lorizao das formas no motorizadas de transporte e contribuio conjunta construo decidades sustentveis para todos.

    O PlanMob pode ser entendido como um instrumento de planejamento e de gesto que temconcepo inovadora, seguindo os princpios estabelecidos na Poltica Nacional de MobilidadeUrbana para cidades sustentveis, principalmente na reorientao do modelo de urbanizaoe de circulao das nossas cidades. Pretende-se que o PlanMob seja efetivamente um instru-mento na construo de cidades mais eficientes, com mais qualidade de vida, ambientalmente

    sustentveis, socialmente includentes e democraticamente geridas. O Plano de Mobilidade porBicicleta deve fazer parte do PlanMob para aquelas cidades onde haja demanda de integraodo uso da bicicleta na poltica municipal de mobilidade.

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    Caderno de Referncia para elaborao de Plano de Mobilidade por Bicicleta nas Cidades

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    O conceito de mobilidade urbana em si uma novidade, um avano na maneira segmentada detratar, isoladamente, o trnsito, o transporte coletivo, a logstica de distribuio das mercadorias,a construo da infra-estrutura viria, a gesto das caladas e outros temas afins aos desloca-mentos urbanos. A transformao desse conceito, em algo palpvel, precisa ser consolidada naviso sistmica sobre toda a movimentao de bens e de pessoas, envolvendo todos os modose todos os elementos que produzem as necessidades destes deslocamentos. Num empenho deauxiliar a elaborao dos planos de mobilidade, a SeMob publicou o Caderno de Referncia paraElaborao de Plano de Mobilidade Urbana.

    Foto:SeMob

    FIGURA 1 - Caderno de referncia para elaborao de Plano de Mobilidade Urbana.

    O Plano Diretor de Transporte e da Mobilidade um instrumento da poltica de de-senvolvimento urbano, integrado ao Plano Diretor do municpio, da regio metropoli-tana ou da regio integrada de desenvolvimento, contendo diretrizes, instrumentos,aes e projetos voltados a proporcionar o acesso amplo e democrtico s oportu-nidades que a cidade oferece, atravs do planejamento da infra-estrutura de mo-bilidade urbana, dos meios de transporte e seus servios possibilitando condiesadequadas ao exerccio da mobilidade da populao e da logstica de distribuio

    de bens e servios.

    O PlanMob obrigatrio para as cidades com mais de 500 mil habitantes, mas fundamentalpara as cidades com mais de 100 mil habitantes e indispensvel para a maioria dos demais mu-nicpios brasileiros. A importncia estratgica desta nova abordagem tanta que o Ministrio dasCidades decidiu avanar na obrigao legal e incentivar a elaborao do PlanMob por todas ascidades com mais de 100 mil habitantes e as situadas em regies metropolitanas e em regiesde desenvolvimento integrado. Afinal nessa faixa de cidades que ainda possvel reorientar osmodelos de urbanizao e de circulao de maneira preventiva, sem descuidar das propostascorretivas para as grandes metrpoles e para o Distrito Federal. Sua concepo pretende ser

    inovadora, seguindo os princpios estabelecidos na Poltica Nacional de Desenvolvimento Urba-no e na Poltica Nacional de Mobilidade Urbana Sustentvel, principalmente na reorientao domodelo de urbanizao e de circulao das nossas cidades.

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    TABELA 1

    PRINCPIOS DA NOVA VISO DE MOBILIDADE URBANA

    Diminuir a necessidade de viagens motorizadas.

    Posicionando melhor os equipamentos sociais, descentralizando os servios pblicos, ocupan-do os vazios urbanos, consolidando a multi-centralidade, como forma de aproximar as possibili-dades de trabalho e a oferta de servios dos locais de moradia.

    Repensar o desenho urbano.

    Planejando o sistema virio como suporte da poltica de mobilidade, com prioridade para a se-gurana e a qualidade de vida dos moradores em detrimento a fluidez do trfego de veculos depassagem.

    Repensar a circulao de veculos.

    Priorizando os meios no motorizados e de transporte coletivo nos planos e projetos consideran-do que a maioria das pessoas utiliza esses modos para seus deslocamentos e no o transporteindividual. A cidade no pode ser pensada como, se um dia, todas as pessoas fossem ter umautomvel.

    Desenvolver meios no motorizados de transporte.

    Passando a valorizar a bicicleta como meio de transporte importante, integrando-a como osmodos de transporte coletivo.

    Reconhecer a importncia do deslocamento de pedestres.

    Valorizando o caminhar como um modo de transporte para a realizao de viagens curtas eincorporando definitivamente a calada como parte da via pblica, como tratamento especfico.

    Reduzir os impactos ambientais da mobilidade urbana.

    Uma vez que toda viagem motorizada que usa combustvel, produz poluio sonora eatmosfrica.

    Proporcionar mobilidade s pessoas com deficincia e restrio de mobilidade.

    Permitindo o acesso dessas pessoas cidade e aos servios urbanos.

    Priorizar o transporte coletivo no sistema virio.

    Racionalizando os sistemas pblicos e desestimulando o uso do transporte individual.

    Considerar o transporte hidrovirio.

    Nas cidades onde ele possa ser melhor aproveitado.

    Estruturar a gesto local.

    Fortalecendo o papel regulador dos rgos pblicos gestores dos servios de transporte pblico

    e trnsito.

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    1.5 Incentivos e financiamento ao uso da bicicleta como meio de transporte

    A Secretaria Nacional de Transporte e da Mobilidade Urbana SeMob - tem promovido inves-timentos e debates para integrao da bicicleta nos demais sistemas de transportes coletivos.Nesse sentido, a SeMob atualmente gestora de trs programas que direcionam recursos paraprojetos e obras de desenvolvimento ciclovirio:

    1) Programa de Mobilidade Urbana, atravs da ao Apoio a Projetos de Sistemas deCirculao No Motorizados, com recursos do Oramento Geral da Unio OGU;

    2) Programa de Infra-estrutura para Mobilidade Urbana - Pr-Mob, atravs de modalida-des que apiam a circulao no-motorizada (bicicleta e pedestre), para financiamentocom recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT);

    3) Pr-Transporte para financiamento de infra-estrutura para o transporte coletivo urbanocom recursos do FGTS que atende, alm dos rgos gestores de Municpios e Estados,a empresas concessionrias.

    Nestes programas, so disponibilizados recursos para desenvolvimento de projetos e/ou im-plantao de infra-estrutura para a circulao segura de bicicleta nos espaos urbanos, taiscomo ciclovias, ciclofaixas e sinalizao, preferencialmente integradas ao sistema de transportecoletivo. Ao aportar recursos neste modo de transporte, o governo enfatiza o esforo em quebrarparadigmas e tratar a questo dos transportes de maneira integrada e sustentvel.

    A implementao do Programa Bicicleta Brasil, que no destina recursos para projetos e obrasde infra-estrutura, possvel atravs dos recursos da ao Apoio a Projetos de Sistemas de Cir-culao No Motorizados, do Programa de Mobilidade Urbana.

    1.6 Programas de Mobilidade por meios no motorizados

    H cada vez maior clareza no plano internacional que o transporte motorizado, apesar de suasvantagens, resulta em impactos ambientais negativos, como a poluio sonora e atmosfrica,

    derivada da primazia no uso de combustveis fsseis como fonte energtica, bem como de ou-tros insumos que geram grande quantidade de resduos, como pneus, leos e graxas. No hsoluo possvel dentro do padro de expanso atual, com os custos cada vez mais crescentesde infra-estruturas para os transportes motorizados, o que compromete boa parte dos oramen-tos municipais.

    Nesse sentido, a SeMob reconhece a importncia de propor alternativas de desenvolvimento epe em prtica vrias aes em busca de cidades sustentveis.

    1.6.1 Programa Brasil Acessvel

    A existncia de barreiras fsicas acessibilidade no espao urbano acaba por impedir o deslo-

    camento de pessoas com deficincia e outras que possuem dificuldades de locomoo. Um dosdesafios colocados para todos os municpios brasileiros a incluso dessa parcela considervelda populao na vida nas cidades. A acessibilidade deve ser vista como parte de uma polticade mobilidade urbana voltada promoo da incluso social, equiparao de oportunidadese ao exerccio da cidadania aos idosos e s pessoas com deficincia, respeitando seus direitosfundamentais.

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    Foto:SeMob

    FIGURA 2 Programa Brasileiro de Acessibilidade Urbana.

    Estes objetivos no podem ser atingidos com o trabalho de setores isolados mas atravs dosesforos combinados das trs esferas de governo e da participao social. Todos, norteados por

    uma viso de sociedade mais justa e igualitria. Trata-se, ento, de fomentar um amplo proces-so de humanizao, a partir do respeito s necessidades de todas as pessoas para usufrurema cidade.

    Neste contexto, a SeMob desenvolveu e est implementando o Programa Brasileiro de Acessibi-lidade Urbana Brasil Acessvel, que tem por objetivo estimular e apoiar os governos municipaise estaduais a desenvolver aes que garantam a acessibilidade para pessoas com restrio demobilidade aos sistemas de transportes, aos equipamentos urbanos e circulao em reaspblicas. Trata-se de incluir, no processo de construo das cidades, uma nova viso que consi-dere o acesso universal ao espao pblico.

    1.6.2 Programa Bicicleta Brasil

    Muitas cidades brasileiras vm apresentando crescente uso da bicicleta como meio de transpor-te para o trabalho e para o estudo, alm das atividades de lazer. Entretanto, tais usos necessitamde tratamentos adequados, alm de exigirem polticas pblicas especficas, diante do papel quea bicicleta desempenha nos deslocamentos urbanos de milhes de pessoas.

    A incluso da bicicleta como modal de transporte regular nos deslocamentos urbanos deve serabordada considerando o novo conceito de Mobilidade Urbana Sustentvel, e tambm por repre-sentar a reduo do custo da mobilidade para as pessoas. Sua integrao aos modos coletivosde transporte deve ser buscada principalmente junto aos sistemas de grande capacidade.

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    Fotos:SeMob

    FIGURA 3 1 Folder do Programa Brasileiro de Mobilidade por Bicicleta lanado em 22 de setembro de 2004,quando foi inaugurado o primeiro paraciclo da Esplanada dos Ministrios em Braslia-DF.

    A insero da bicicleta nos atuais sistemas de transportes deve ser buscada daqui em dianterespeitando o conceito de Mobilidade Urbana para construo de cidades sustentveis. Dentrodesta nova tica, os novos sistemas devem incorporar a construo de ciclovias e ciclofaixas,principalmente nas reas de expanso urbana. Torna-se necessria tambm na ampliao doprovimento de infra-estrutura, a incluso do moderno conceito de vias ciclveis, que so vias detrfego compartilhado adaptadas para o uso seguro da bicicleta.

    Ao desenvolver o Programa Brasileiro de Mobilidade por Bicicleta, a SeMob procura estimularos Governos Municipais, Estaduais e do Distrito Federal, a desenvolver e aprimorar aes quefavoream o uso mais seguro da bicicleta como modo de transporte.

    Objetivos:

    inserir e ampliar o transporte por bicicleta na matriz de deslocamentos urbanos;

    promover sua integrao aos sistemas de transportes coletivos, visando reduzir o custo dedeslocamento, principalmente da populao de menor renda;

    estimular os governos municipais a implantar sistemas ciclovirios e um conjunto de aesque garantam a segurana de ciclistas nos deslocamentos urbanos;

    difundir o conceito de mobilidade urbana sustentvel, estimulando os meios no motoriza-dos de transporte, inserindo-os no desenho urbano.

    Aes previstas:

    1. capacitao de gestores pblicos para a elaborao e implantao de sistemas ciclovi-rios;

    2. integrao da bicicleta no planejamento de sistemas de transportes e equipamentos pbli-cos;

    3. estmulo integrao das aes das trs esferas de Governo;

    4. sensibilizao da sociedade para a efetivao do Programa;

    5. estmulo ao desenvolvimento tecnolgico;

    6. fomento implementao de infra-estrutura para o uso da bicicleta.

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    Instrumentos de Implementao:

    1. publicao de material informativo e de capacitao;

    2. realizao de cursos e seminrios nacionais e internacionais;

    3. edio de normas e diretrizes;

    4. realizao e fomento de pesquisas;5. implantao de banco de dados;

    6. fomento implementao de Programas Municipais de Mobilidade por Bicicleta;

    7. criao de novas fontes de financiamento;

    8. divulgao das Boas Polticas.

    1.7 Resultados recentes

    Desde o ano de 2003, a partir da criao do MCidades, a SeMob tem atingido uma srie de avan-os e resultados positivos para a incluso da bicicleta como meio de transporte.

    FIGURA 4 Logomarca internacional da jornada Na Cidade Sem Meu Carro .Fonte: Instituto Rua Viva.

    Os programas de apoio direto, Mobilidade Urbana e Pr-Mob incluram modalidades paraos meios de transportes no-motorizados, como bicicletas e a p;

    Com a criao do Programa Bicicleta Brasil, houve um incremento significativo nos investi-

    mentos para implantao de infra-estrutura e sistemas ciclovirios, fato comprovado pelaspesquisas da SeMob;

    Nesse perodo, foram promovidos amplos debates para a formulao do marco regulatriodenominado Projeto de Lei da Mobilidade Urbana que se encontra hoje em processo detramitao na Cmara dos Deputados;

    Nas aes de capacitao de gestores pblicos, a SeMob promoveu e participou do Pro-grama Locomotives Brasil Iniciativas de Mobilidade de Baixo Custo, em Florianpolis/SCe do Workshop Internacional sobre Planejamento e Implementao de Sistemas Ciclovi-rios, em Guarulhos/SP, ambos em 2006, com a presena significativa de agentes e relatode experincias nacionais e internacionais;

    Nos dias 22 de setembro de 2004, 2005 e 2006, o MCidades promoveu atividades de mo-bilizao no mbito da jornada internacional Na Cidade Sem Meu Carro tambm conhe-cida como Dia sem Meu Carro- que tem por objetivo a reflexo sobre a sustentabilidadedos meios de transporte e o uso racional do automvel.

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    1 Ver lista de nomes dos participantes do Frum de Programa Bicicleta Brasil, Anexo 3.

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    Captulo 2

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    2.1 Breve Histrico

    Cronologicamente, a inveno da bicicleta antecedeu aos motores a vapor e a exploso, alm deser considerada o primeiro veculo mecnico para o transporte individual. Porm, a verdadeirahistria de sua origem ainda cercada de mitos e mistrios. Nos registros do Cdigo Atlntico,coletnea de estudos e projetos do artista renascentista italiano Leonardo da Vinci, pode serencontrado um dos primeiros desenhos da bicicleta e ainda estudos sobre transmisses porcorrente que remetem ao final do sculo XV.

    Dados mais precisos mostram que a bicicleta tem origem por volta do ano de 1790 quando oconde francs Mede de Sivracinventou o celerfero um cavalo de madeira com duas rodas,que se empurrava com um ou os dois ps cujo nome derivado das palavras latinas celer(rpido) e fero (transporte). Em 1816/17, o baro alemo Karl Friederich von Draisconstruiu a

    draisiana, espcie de celerfero, com a roda dianteira servindo de diretriz e gerando mobilidadeatravs de um comando de mos, que viemos a conhecer, mais tarde, como guido. Porvolta de 1838, a bicicleta toma outra forma, quando o ferreiro escocs Kirkpatrick MacMillandesenvolveu um veculo que ficou conhecido como velocpede - de duas rodas dotadas debiela de acoplamento, montadas no miolo da roda traseira e acionadas por duas alavancaspresas na estrutura principal. Em 1865, o francs Pierre Michaux incorporou pedais rodadianteira do velocpede, sendo este o primeiro grande avano. Por volta de 1880, outra mudanasignificativa foi introduzida pelo ingls Lawson, com a colocao da trao dos pedais sobredisco que, atravs de uma corrente, repassava o esforo para a roda traseira. Poucos anosdepois, surgiu o cmbio de marchas, por Johann Walch, da Alemanha, o quadro trapezoidal,por Humber, da Inglaterra e, em 1891, os pneus tubulares e desmontveis, por Michelin, daFrana. Essas ltimas mudanas acabaram por construir a bicicleta com a forma aproximadada que ela tem nos dias de hoje.

    No Brasil, no h pesquisas seguras quanto data prevista da chegada ao pas dos primeirosmodelos de bicicleta. Presume-se que eles tenham surgido inicialmente na capital do imprio

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    (RJ), entre 1859 e 1870, local onde se concentravam as pessoas com maior poder aquisitivoque mantinham relaes com a Europa onde floresciam as primeiras fbricas de ciclos. Outrofato, por fatores de ordem econmica, que a presena da bicicleta pode ter sido incrementadano fim do sculo XIX, quando vieram os primeiros migrantes europeus para o sul do pas.Desde sua chegada, a bicicleta foi muito popular entre os trabalhadores, especialmente juntoaos empregados de indstrias, de pequenos estabelecimentos comerciais e de servios dasgrandes reas urbanas.

    Em 1973, apareceram problemas decorrentes do acrscimo nos preos dos combustveis ede outros derivados junto aos consumidores, conhecido como o 1 Choque do Petrleo. Nestemomento, apareceram, nos principais jornais do mundo, as fotos dos reis da Holanda e da Dinamarcaandando de bicicleta, sob as manchetes: Ns temos uma boa alternativa de transporte.

    Foi sob tais circunstncias que a Empresa Brasileira de Planejamento de Transportes GEIPOT- publicou, em maro de 1976, o manual Planejamento Ciclovirio Uma Poltica para asBicicletas, aps uma visita dos tcnicos responsveis pela execuo do estudo ao sul do pas,para conhecimento de algumas iniciativas em curso. Nos anos 80, muitas cidades realizaramplanos diretores de transportes urbanos, que incluam estudos e projetos voltados melhoria das

    condies de circulao e segurana de ciclistas e de suas bicicletas. frente de muitos dessesprojetos estava o GEIPOT, que incorporou estas preocupaes nos Estudos de TransportesUrbanos em Cidades de Porte Mdio (ETURB_CPM).

    Em 1999, os dados levantados pelo GEIPOT, consubstanciados nos documentos PlanejamentoCiclovirio Diagnstico Nacional e Manual de Planejamento Ciclovirio, constituram asinformaes mais completas do setor. No entanto, a extino desse rgo federal, em 2001,mesmo ano de publicao dos documentos, impossibilitou que estes documentos fossemdistribudos aos municpios.

    O primeiro volume trouxe uma coleta de informaes sobre o uso e a infra-estrutura, os

    procedimentos e os resultados favorveis aos ciclistas e bicicleta em sessenta municpiosselecionados. Aps o levantamento, a partir de um conjunto de respostas fornecidas, foi montadauma classificao dos municpios com melhores condies para as bicicletas.

    O segundo volume apresentou uma srie de normas, regras e exemplos de tcnicas para aconstruo de infra-estrutura em reas urbanas. A abordagem envolveu recomendaes quanto geometria, sinalizao, s dimenses de ciclovias e ciclofaixas, assim como para bicicletriose paraciclos. Tambm foram includos no trabalho aspectos sobre drenagem, pavimentos eiluminao de vias exclusivas ao trfego de bicicletas.

    Com o Programa Bicicleta Brasil, lanado em 2004, o Brasil passa a ter, pela primeira vez, umprograma especfico para a bicicleta. Ao lanar esse caderno de referncia como uma evoluo

    e atualizao dos conceitos existentes e defendidos pelo Governo Federal, procura-se dar novadimenso ao uso da bicicleta como meio de transporte integrado s redes de mobilidade, cujoplanejamento deve considerar os aspectos locais e regionais.

    2.2 Uso da Bicicleta no Brasil

    Diz-se que a bicicleta transparente ou invisvel na circulao no s por suas caractersticasfsicas extremamente simples, mas tambm pelo baixo impacto que causa ao ambiente, sejapelo porte da infra-estrutura necessria circulao e ao estacionamento, que demanda poucoespao, seja ausncia de rudos e de emisso de gases. Muitas vezes, a bicicleta no bem-vista pelos usurios das vias, somente sendo percebida quando julgam que ela atrapalha otrnsito, no se levando em conta o inestimvel benefcio social que ela representa.

    Todavia, entre os responsveis pela gesto do transporte e do trnsito de grande parte dascidades mais importantes do Pas, a bicicleta vista com grande interesse.

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    Independentemente das pesquisas, pode-se afirmar que a bicicleta o veculo individual maisutilizado nos pequenos centros urbanos do Pas (cidades com menos de 50 mil habitantes), querepresentam mais de 90% do total das cidades brasileiras 1. Ela divide com o modo pedestre aesmagadora maioria dos deslocamentos nestas cidades2.

    Nas cidades mdias, o que muda em relao s pequenas cidades a presena eventual de

    linhas de transporte coletivo, s vezes em condies precrias, pois a explorao dos servioss se torna vivel quando a demanda concentrada e as distncias so grandes.

    A situao somente muda nas grandes cidades, onde h oferta significativa de transporte coletivo,associada a um trfego mais denso e agressivo3, representando maior tempo despendido nosdeslocamentos dirios. Por isto mesmo, as bicicletas se encontram presentes em grande nmeronas reas perifricas das grandes cidades, onde as condies se assemelham s encontradasnas cidades mdias, sobretudo em funo da precariedade dos transportes coletivos 4 e danecessidade de complementar seus percursos.

    As bicicletas so, portanto, os veculos individuais mais utilizados no Pas, constituindo na nicaalternativa ao alcance de todas as pessoas, no importando a renda, podendo ser usadas poraqueles que gozam de boa sade, a partir da infncia at a idade mais avanada.

    32%

    Moto2%

    Automveis28%

    A P35%

    Bicicleta3%

    nibus Municipal24%

    nibus Metropolitanos5%

    Metroferrovirios3%

    GRFICO 2 - Diviso Modal 2003.Fonte: ANTP/MCidades.

    Em suma, ela utilizada por expressiva porcentagem dos habitantes das cidades pequenas emdias, em todos os rinces do Brasil, independente da base cultural, clima, nvel de renda eescolaridade da populao. Entre seus usurios mais freqentes encontram-se industririos,comercirios, operrios da construo civil, estudantes, entregadores de mercadorias, carteiros eoutras categorias de trabalhadores. Os perodos mais favorveis constatao desse fenmenoso: entre 6h e 7h, e das 16h s 19h dos dias teis.

    A frota de bicicletas no Brasil, estimada para o final de 2005, de 60 milhes, segundo o relatrioO Mercado de Bicicletas no Brasil, da ABRACICLO e ABRADIBI5. No entanto, este um dadoestimativo. Habitualmente, era considerado que a frota nacional correspondia produo/venda

    dos ltimos 9 anos tempo estimado da durabilidade de uma bicicleta. Atualmente, dada acondio mais descartvel de boa parte da produo, os rgos patronais do setor passaram aconsiderar a durabilidade da bicicleta brasileira como de apenas 7 anos.

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    Um dado contraditrio, entretanto, o fato de as indstrias de coroas de bicicletas afirmaremque produzem anualmente cerca de 13,5 milhes dessas peas. Mesmo considerando que 1%permanea em estoque nas fbricas e com os revendedores e, ainda, que 14% sejam compradospara substituies e como estoques para futuras comercializaes pela rede de oficinas e peasde bicicletas, seriam 11,5 milhes de bicicletas montadas anualmente. Isto porque a cada coroacorresponde uma bicicleta, e necessitam-se dessas peas em ocasies apenas:1) quando montada a bicicleta; ou 2) quando ocorre a necessidade de trocar a corrente e a coroa da bicicleta.Neste ltimo caso, comum substituir a coroa do veculo junto com as outras peas.

    Por tais consideraes e em comparao aos nmeros informados pela indstria formal debicicletas, ou seja, produo anual de 5,5 milhes, possvel dizer que praticamente outraquantidade igual a esta montada por lojas de bicicletas e por oficinas de fundo de quintal.Com estes novos nmeros, pode ser dito, mesmo tendo as bicicletas durabilidade de 7 anos, quea frota brasileira se aproxima de 75 milhes de unidades.

    Nos grficos seguintes, so apresentadas outras informaes constantes do mesmo relatrio dosetor produtivo, organizado e divulgado pela ABRACICLO e ABRADIBI. A distribuio por regioe os modelos, so apresentadas nos grficos a seguir:

    14%

    8%8%

    44%

    26%

    Sudeste

    Nordeste

    Sul

    Norte

    Centro-Oeste

    GRFICO 3 - Distribuio da Frota de Bicicletas por Regio.Fonte: ABRADIBI E ABRACICLO, 2005.

    29%

    17% 1%

    53%

    Bici - transporteInfanto - juvenilLazer

    "Mountain - bike"

    GRFICO 4 - Frota de Bicicletas por Segmentao de Mercado.Fonte: ABRADIBI E ABRACICLO, 2005.

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    TABELA 2 - Evoluo do Mercado de Bicicletas no Brasil.

    AnoMontadoras deGrande Porte 1

    Mdio e PequenoPorte

    Produo NacionalSubtotal

    Importao Total

    1991 2.040.000 101.177 2.141.177 35.402 2.176.579

    1992 2.342.000 187.551 2.529.551 66.536 2.596.087

    1993 3.812.000 456.962 4.268.962 312.554 4.581.516

    1994 3.923.000 590.104 4.513.104 552.016 5.065.120

    1995 2.997.158 586.517 3.583.675 340.125 3.923.800

    1996 2.240.000 1.140.000 3.380.000 319.985 3.699.985

    1997 2.236.320 1.360.000 3.596.320 449.770 4.046.090

    1998 3.000.000 900.000 3.900.000 159.404 4.059.404

    1999 3.300.000 1.000.000 4.300.000 135.000 4.435.000

    2000 3.500.000 1.050.000 4.550.000 69.659 4.619.659

    2001 3.700.000 1.100.000 4.800.000 52.000 4.852.000

    2002 n/d2 n/d n/d 25.108 n/d

    2003 n/d n/d n/d 10.838 n/d

    2004 3 2.535.000 1.555.000 4.090.000 11.920 (estimado) 4.101.920

    Fonte: 1 Caloi Monark CBB. 2 n/d no divulgado. 3 Revista Isto Dinheiro/Caloi Nov/2004.

    Em razo desses dados, possvel dizer que o Brasil possui a sexta maior frota de bicicletasentre todas as naes, estando atrs apenas de China, ndia, EUA, Japo e Alemanha.

    importante ressaltar que o Brasil era, em fins de 2004, o terceiro maior fabricante mundial debicicletas, segundo a ABRACICLO. No entanto, com uma produo de cerca de 5,5 milhes deunidades estava atrs da produo da ndia, com 10 milhes de unidades, e muito aqum donmero de unidades produzidas pela China, com 80 milhes de unidades 6.

    2.3 Uso e Opinio dos Ciclistas Segundo Pesquisas Pontuais

    No prtica comum no planejamento dos transportes e do trnsito das cidades brasileiras, masalgumas administraes municipais tm realizado pesquisas pontuais sobre o uso da bicicleta.Alguns estudos e projetos solicitados a empresas e tcnicos de trnsito em muitas cidadesbrasileiras tm includo levantamentos de dados sobre a mobilidade dos ciclistas. Algumasinstituies internacionais, com financiamento e crdito favorecidos, tm feito exigncias naconcesso de recursos para obras e projetos de transportes urbanos, mediante a obrigao darealizao de pesquisas prvias sobre a demanda de viagens por bicicleta no meio urbano.

    Uma boa opo para suprir os dispndios na execuo de pesquisas talvez possa ser encontradanas parcerias a serem firmadas com associaes de ciclistas e escolas pblicas. Envolverativistas e estudantes como auxiliares na obteno de dados sobre a demanda pode representar,mais do que uma economia, a certeza de se ter o envolvimento da sociedade civil na soluo de

    problemas que, s vezes, so de soluo muito simples.Neste item, so apresentados resultados de algumas dessas pesquisas, assim como determinadascaractersticas do comportamento dos usurios da bicicleta.

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    2.3.1 Alguns Dados de Pesquisas Nacionais

    Por ocasio da realizao do 14 Congresso Brasileiro de Transporte e Trnsito, no ano de 2003em Vitria, foi apresentado um trabalho contendo dados sobre o comportamento dos ciclistas ealgumas das caractersticas do uso da bicicleta em quatro cidades selecionadas. A seguir soapresentadas partes dessas informaes.

    TABELA 3 - Dados Gerais dos Ciclistas.

    Sexo Faixa Etria (em anos) Estado Civil Condio Funcional

    M

    (%)

    F

    (%)

    0-12

    (%)

    13-20

    (%)

    21-35

    (%)

    35-50

    (%)

    >50

    (%) solteiro

    casado

    outro

    empregado

    autnomo-trab.

    avulso

    seme

    mprego

    aposentado

    sestuda

    Municpio

    Lorena/SP 76.5 23.5 - 20.8 40.6 23.8 14.8 49.5 37.6 12.9 48 23 17 4 3

    Santo Andr/SP 99.5 0.5 - 17 59 17 7 58 30 12 60 17 10 2 3

    Florianpolis/SC 88.1 11.9 5 37 36 17 5 24.2 71.6 4.2 37 19 4 2 36

    Piracicaba/SP 81.6 18.4 16 25 15 28 16 53 40 7 33 19 7 10 31

    Mdia Geral 86.4 13.6 5 24.9 37.6 21.4 10.6 46.2 44.8 9 44.5 19.5 9.5 4.5 18.2

    Fonte: Acervo pessoal de Antonio Miranda - Curitiba, 2003.

    Os dados constantes na Tabela 3 mostram que a participao mdia das mulheres como usuriasda bicicleta no excede a 15%, sendo maior nas cidades menores e naquelas com vocaoindustrial. Este fato exemplificado por Pomerode SC, municpio com economia assentada nosetor secundrio, onde uma pesquisa realizada no incio de 2004 apontou a presena de ciclistasmulheres em 28,15% do total das contagens, sendo este um dos ndices mais altos do Brasil 7.

    TABELA 4 - Renda dos Ciclistas.

    Renda (em %)

    Municpio semrenda1/2 SM 1 SM 1

    1/2 SM 2 SM 2 a 3 SM 3 a 5 SM 5 a 8 SM> 8SM

    Lorena/SP 12 6 18 17 16 13 7 1 0

    Santo Andr/SP 12 0 8 17 10 26 15 2 0

    Florianpolis/SC 36 0 9 10 11 14 13 4 3

    Piracicaba/SP 39 0 4 1 0 9 5 13 19

    Mdia Geral 24.8 1.5 9.8 11.2 9.2 15.5 10 5 5.5

    Fonte: Acervo pessoal de Antonio Miranda - Curitiba, 2003.

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    Importante observar na Tabela 4 que na cidade de Piracicaba a pesquisa ocorreu com usuriosde fim de semana, pois a enquete visava a implantao de uma ciclovia de lazer. Esta a razopara o aparecimento de estratos de renda mais elevados. Desconsiderando-se Piracicaba, arenda dos ciclistas nas quatro cidades situa-se entre 1 e 3 salrios mnimos.

    18%

    3%3%

    9%

    37%

    18%

    7% 1%

    1% 3%sem renda

    0 - 1/2 SM1/2 a 1 SM

    1 SM

    1 a 2 SM

    2 a 3 SM

    3 a 4 SM

    4 a 5 SM (intervalo de renda no observada)

    5 a 7 SM> 7 SM

    sem preenchimento

    GRFICO 5 - Renda de ciclistas em Pomerode/SC.Fonte: PM de Pomerode/SC.

    Os dados de pesquisa referente ao municpio de Pomerode SC, constantes no Grfico 5,ilustram o fato de que a renda da maioria dos ciclistas brasileiros das pequenas e mdias cidadesse situa entre 1 e 3 salrios mnimos.

    TABELA 5 - Intensidade do uso da Bicicleta.

    Uso da bicicleta na semana Extenso da viagem

    Municpio 1 dia 2 dias 3 dias 4 dias 5 dias 6 dias 7 dias < 1,5 km de 1,5 a 5km

    > 5 km

    Lorena/SP 1 2 5,9 0 7,8 3,9 79,4 21,6% 46,1% 32,3

    Santo Andr/SP 2 5 5 5 25 13 45 20,0% 51,0% 29,0

    Florianpolis/SC 1 5 10 2 16 7 59 7,0,% 36,0% 57,0

    Piracicaba/SP 7 28 8 9 5 1 42 5,0% 7,0% 88,0

    Mdia Geral 2,8 10 7,2 4 13,5 6,2 56,3 13,4% 35,0% 51,6

    Fonte: Acervo pessoal de Antonio Miranda - Curitiba, 2003.

    A Tabela 5, por sua vez, mostra que a maioria dos entrevistados pedala todos os dias da semana.

    Considerando cinco dias da semana, todas as cidades apresentaram ndices prximos ou superioresa 50% entre os ciclistas pesquisados. E, caso no seja considerada a pesquisa de Piracicaba, nasdemais cidades mais de 80% dos ciclistas pedalam 5 ou mais dias durante a semana.

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    Na mesma Tabela 5, possvel observar que mais de 75% dos ciclistas das quatro cidadesrealizavam viagens com extenses superiores a 1,5 km, sendo que, em todas elas, mais de 30%dos entrevistados alegaram estar realizando deslocamento superior a 5 km.

    TABELA 6 - Contagem de Trfego em Frente Prefeitura de Colder MT em 01/08/2006.

    Hora Bicicleta Motocicleta Veculo Leve nibus / Van Caminho TOTAL

    06-07h 276 042 026 000 008 352

    07-08h 206 073 058 003 026 366

    08-09h 165 095 070 006 010 346

    09-10h 185 130 103 006 002 426

    10-11h 225 145 115 007 005 497

    11-12h 274 114 084 002 005 479

    Fonte: Prefeitura de Colder MT.

    48%

    27%

    22%

    1%

    2%

    Bicicleta

    Motocicleta

    Veculo Leve

    nibus/VanCaminho

    GRFICO 6 - Contagem de trfego entre 6h e 20h em Colder/MT.Fonte: Prefeitura de Colder MT.

    Os dados da Tabela 6 e do Grfico 6 referem-se cidade de Colder, no interior do MatoGrosso. Eles correspondem a informaes de uma tpica pequena cidade do interior do Brasil.O percentual de 48% de mobilidade por bicicleta ilustra a afirmao de que a bicicleta vemsubstituindo largamente a montaria nos municpios menos populosos do Pas.

    Na Tabela 7, a seguir, so apresentados alguns dos problemas enfrentados pelos ciclistas emseus deslocamentos. Como era de se esperar, uma das principais dificuldades consiste naconvivncia com o trfego motorizado. Este item apareceu mais citado entre ciclistas entrevistadosem Piracicaba exatamente porque, naquela cidade, a pesquisa foi realizada com ciclistas de finsde semana, muito mais sensveis ao trfego e menos acostumados a este convvio dirio.

    Importante observar que esta mesma resposta, nas outras trs cidades, foi desdobrada emdiferentes componentes, como: conflito com automveis; conflito com transporte coletivo; econflito com caminhes. Ao analisar todos os itens, possvel afirmar que o conflito com veculosmotorizados a principal preocupao dos ciclistas, independente da sua condio de usurioregular ou eventual de bicicletas.

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    TABELA 7 - Problemas no Trajeto.

    Motivos (valores dados em %)

    Hora

    trnsitointensodeveculomotorizado

    buracoseimperfeiespavim.

    faltadeiluminao

    faltadeordemnoscruzame

    ntos

    ausnciadeciclovia

    conflitocompedestres

    conflitoentradaesadagaragem

    conflitocomautomvei

    s

    conflitocomtransportecoletivo

    conflitocomcaminhes

    faltadeacostamento

    motoristasnorespeitamciclistas

    faltadesinalizao

    ausnciadesegurana

    semproblemas

    outrasrespostas

    Municpio/SP

    Lorena/SP 21 37,9 9,1 4,5 7,3 5,9 3,6 0 5,5 0 0,5 0,5 1,4 0,5 0 2,3

    Santo Andr/SP 17 6 0 0 0 1 0 17 21 23 0 0 0 3 6 6

    Florianpolis/SC 18 14 2 4 24 0 0 0 19 1 0 8 0 8 1 2

    Piracicaba/SP 52 27 1 0 1 0 0 0 0 0 0 2 0 1 6 10

    Mdia Geral 27 21,2 3 2,1 8,1 1,7 0,9 4,2 11,4 6 0,1 2,6 0,3 3,1 3,2 5,1

    Fonte: Acervo pessoal de Antonio Miranda - Curitiba, 2003.

    Em segundo lugar, a Tabela 7 mostra que os ciclistas so muito sensveis qualidade dopavimento. Este item chega a aparecer como primeira preocupao entre os ciclistasentrevistados em Lorena, cidade onde os ciclistas pesquisados possuam as menores rendas,sendo mais dependentes da bicicleta. Em verdade, os ciclistas de Lorena representamclaramente os ciclistas da periferia das grandes cidades, no somente em razo do perfil desuas rendas, mas principalmente por fazerem uso de trechos de vias urbanas e de rodoviascom intenso uso de trfego pesado.

    A ausncia de ciclovia tambm foi um item lembrado, destacadamente, pelos ciclistas deFlorianpolis. Tal fato talvez esteja atrelado imagem que os habitantes tm da segurana

    proporcionada pela ciclovia da Beira-mar Norte, totalmente segregada do trfego motorizado,com bom pavimento, razovel sinalizao, mas que representa apenas 8 dos 20 km da redecicloviria de Florianpolis.

    2.3.2 Comentrios sobre os Dados

    Aos poucos os estudos de transportes esto incorporando a bicicleta como modoindependente, nas pesquisas de mobilidade no meio urbano. Este um fato auspicioso paratantos que se envolvem com o planejamento ciclovirio. Isto, porque no Brasil o hbito darealizao de pesquisas ainda est em formao, sendo difcil obter dados sobre aspectoscomportamentais da populao.

    A realizao de pesquisas sobre a mobilidade dos usurios da bicicleta, seus hbitos e demandasespecficas, constitui importante subsdio ao processo de planejamento.

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    TABELA 9 - Ficha de Entrevista com Ciclistas em Santo Andr SP.

    COORDENADORIA DE PLANEJAMENTO E PROJETOSGerncia de Planejamentos

    Local: Av. Pereira Barreto (sentido Bairro)

    Data: 28/11/2001 Dia da Semana: 4 feira Horrio: 16h 10 min.

    Motivo: Diagnstico uso da bicicleta em S. Andr Pesquisador: Denise

    Entrevistas com Ciclistas na Via Pblica N da Ordem: 17

    Sexo: (x) Masculino ( ) Feminino

    Faixa Etria: ( ) 0 - 12 anos (x) 13 - 20 anos ( ) 21 - 35 anos ( ) 35 - 50 anos ( ) > 50 anos

    Estado Civil: (x) solteiro ( ) casado ( ) outro

    Condio Funcional:

    ( ) empregado (x) sem emprego ( ) s estuda( ) norespondeu

    ( ) autnomo ( ) aposentado ( ) outro profisso:

    Renda:

    (x) sem renda ( ) 1 SM ( ) 2 SM ( ) 3

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    Este breve conjunto de modelos de formulrios utilizados em pesquisas recentes para oplanejamento ciclovirio pode variar na forma e nos questionamentos a serem realizados juntoaos ciclistas. O importante levar em considerao alguns aspectos, tais como:

    nas contagens volumtricas, considerar que as maiores movimentaes ocorrem nosprimeiros horrios do dia, seja para os trabalhadores do setor secundrio, ou quando as

    pesquisas forem feitas em zonas industriais; nas contagens volumtricas, separar os caminhes pelo nmero de eixos (com 2, ou mais

    de 2). Esta medida permite avaliar, durante a fase de anlise dos resultados, se os ciclistasesto trafegando junto a um trfego de cargas leve ou pesado;

    nas fichas de contagens volumtricas destinar maiores larguras s colunas das bicicletas,dos automveis de passeio e das motos, pois so estes, em geral, os veculos maispresentes nas vias e rodovias;

    apresentar, em todas as fichas de contagens, o dia, ms e ano, assim como preencher ohorrio da pesquisa e outros elementos constantes no cabealho da ficha de campo. Esteprocedimento visa a futuras comparaes sobre a evoluo do trfego na via que estiver

    sendo analisada; recomenda-se fazer contagens em pelo menos dois perodos do dia, sendo mais

    recomendvel o perodo matutino, no primeiro horrio, em geral aquele com maiormovimento de ciclistas trabalhadores;

    as entrevistas com ciclistas, por seu lado, devem ser realizadas no perodo vespertino, apsa sada do trabalho. Este procedimento deve ser adotado para favorecer a abordagem aosciclistas, na ida para o trabalho, no perodo da manh, em funo da obrigao de cumprir ohorrio de entrada no servio, eles no costumam parar para responder aos questionrios. tarde, em geral, eles quando esto retornando s suas casas, dispem-se mais a ajudara pesquisa;

    devem ser evitadas perguntas abertas para pontos especficos do questionrio, como:idade, grau de escolaridade, etc. Neste caso, sugere-se que o entrevistador induza ociclista a conceder uma das respostas, de viva-voz. Para os problemas encontrados notrajeto e perguntas de carter opinativo, as respostas devem ser deixadas em aberto,sendo agrupadas no escritrio. Entretanto, sugere-se que estas questes no excedamnmero superior a trs, para evitar o retardo na aplicao dos questionrios;

    quanto amostra da entrevista, ela pode ser realizada de duas formas: 1) precedida depesquisa piloto contendo uma pergunta bsica, quando sobre as respostas devero sercalculados o Desvio Padro e a Varincia Estatstica para definir o tamanho da amostra aser buscada; 2) ou de forma aleatria, entrevistando o maior nmero de ciclistas em umdeterminado perodo;

    obter, na pesquisa junto aos ciclistas, dados quanto s suas preferncias, e sobre elementosque possam auxiliar a elaborao de projetos. Por exemplo, se h preferncia na circulaopor determinado lado da via, ou qual o lado mais adequado implantao de uma infra-estrutura cicloviria, alm das razes dessa escolha.

    As pesquisas constituem importante fonte de dados auxiliares execuo do planejamentociclovirio e ao lanamento de projetos. recomendvel realiz-las antes e depois das obras.Tambm, conveniente fazer uso delas rotineiramente, como forma de monitoramento docomportamento da demanda. Uma cidade ciclveldever estar sempre fazendo pesquisas juntoaos usurios da bicicleta, como forma de aprimorar as aes em favor deste modal, assim comoaperfeioando o entendimento da satisfao dos usurios das bicicletas.

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    Foto:M

    unicipalityofRanders

    FIGURA 5 - Entrevista com Estudante Ciclista na Dinamarca.

    Foto:PrefeituraMunicipaldeUbatuba

    FIGURA 6 - Posto de Contagem na SP - 61, Bertioga-SP.

    2.4 Infra-estrutura Implantada

    Em 2001 o documento Planejamento Ciclovirio: Diagnstico Nacional, elaborado peloGEIPOT a partir dos dados de pesquisa realizada em 1999, dizia que a extenso existente dasciclovias, ciclofaixas e vias preferenciais para bicicletas em 60 cidades brasileiras selecionadasera de 350 km. Naquela poca acreditava-se que o total dessa infra-estrutura em todos osmunicpios era de 480 km. Mais tarde, em 2002, mediante contatos com a administrao dediversas prefeituras do Pas pela Internet, foi possvel estimar um total de 600 km de infra-estrutura para o trfego de bicicletas.

    2.4.1 Pesquisa do Ministrio das Cidades sobre Infra-estrutura para BicicletasNo segundo semestre de 2005, o Ministrio das Cidades, atravs da Diretoria de MobilidadeUrbana, coordenou a realizao de amplo levantamento sobre as condies do uso da bicicleta

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    no Pas. Desta feita, a pesquisa abrangeu mais de 400 municpios, sendo realizada a coleta dedados via correio eletrnico, com complementao por telefone. A realizao desta pesquisadeveu-se necessidade de caracterizao dos novos conceitos de mobilidade por bicicleta quesurgiram durante o perodo de 2001 a 2005.

    Adicionalmente, o MCidades compilou outros levantamentos disponibilizados pelo GEIPOT,

    produto do convnio com a ANTP/BNDES, e dos registros dos programas de apoio direto daSeMob, OGU 2005/2006 e Pr-Mob, com a finalidade de cruzar informaes e chegar a resultadosainda mais confiveis.

    Os nmeros ento obtidos apontaram para uma rede nacional que ultrapassa os 2.505,87 km deinfra-estrutura implantada. Isto, sem contar as possveis vias ciclveis implantadas nos mais de5.000 municpios no includos na pesquisa.

    De qualquer sorte, este nmero j representa um acrscimo substancial ao que se acreditavaexistir em 1999 (350 km) ou a estimativa (600 km) realizada em 2002.

    TABELA 10 - Dados das pesquisas do MCidades.

    QUADRO RESUMO DE INFRA-ESTRUTURA NO BRASIL ABR. 2007

    MUNICPIOS COMINFRA-ESTRUTURA

    CICLOVIRIA *

    QUANT.MUNICPIOS

    EXTENSO(Km)

    EXTENSO MDIA(Km)

    2.500 60.000 108 464,85 4,304

    60.000 250.000 106 867,01 8,18

    250.000 500.000 37 486,11 13,14

    500.000 1.000.000 16 204,5 12,78

    1.000.000 12 483,4 40,28

    TOTAL 279 2.505,87 8,98

    * Classificao com base em dados do IBGE em 2006.

    Fonte: Departamento de Mobilidade Urbana, 2007.

    2.4.2 Consideraes sobre a Infra-estrutura Pr-Bicicleta no Brasil

    Historicamente tm-se investido poucos recursos em infra-estrutura para a bicicleta nascidades brasileiras, resultado da pouca importncia dada a ela como alternativa de transporte.Na Europa, por exemplo, onde a bicicleta encarada como um modo importante na matriz detransporte, encontramos exemplos de ampla rede de infra-estrutura. A Holanda tem mais de 16mil quilmetros de infra-estrutura cicloviria, somente em estradas, e mais de 18 mil quilmetrosem suas cidades. Isto representa que um pas com um quinto do territrio do Estado de SantaCatarina, consegue ter quatorze vezes mais infra-estrutura neste campo do que o Brasil, com 8,5milhes de km. Este um exemplo de um pas rico (16 economia do mundo, com um PIB deUS$ 622 bilhes) que, culturalmente, incorpora a bicicleta na matriz de transporte.

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    Foto:JosMaurcio

    Foto:BeatrizValeri

    Recife/PE Santos/SP

    FIGURA 7 - Brasil Infra-estrutura cicloviria, 2006.

    De acordo com dados da Prefeitura de Munique (Alemanha), a cidade tem hoje 1.400 km, e estpreparando ainda facilidades para 24 mil bicicletas, incluindo estacionamentos e servios de

    atendimento especial para socorros urgentes.

    Foto:I-ce

    Foto:I-ce

    FIGURA 8 - Munique (Alemanha) Infra-estrutura cicloviria, 2005.

    Por sua vez, a cidade de Hamburgo, tambm na Alemanha, possua, em 2003, 1.280 km deciclovias, 30 km de ciclofaixas e 530 km de vias em uso compartilhado, em caladas ou ruasna rea central, segundo informaes constantes na Secretaria de Desenvolvimento Urbanoe Meio Ambiente.

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    FIGURA 9 - Ciclofaixa no Passeio e Rede Cicloviria, Hamburgo, 2003.Fonte: Holanda, I-ce.

    Os dados revelam que at ento muito pouco foi realizado em favor da mobilidade da bicicleta. Ofato de o Governo Federal ter encontrado dados mais expressivos para a rede implantada, ou seja,2.505 km constitui fator estimulante. No entanto, muito ainda h por fazer, sendo importante nomomento incluir os investimentos com infra-estrutura para bicicleta na agenda dos governos.

    BRASIL

    2.505 kmde infra-estrutura

    cicloviria

    5 maior frota mundial 3 maior produtor mundial grande n acidentes c/ciclistasem vias

    2.5 Conceitos

    A preocupao com as questes ambientais um aspecto central hoje de todas as atividades

    humanas, refletindo uma preocupao crescente com o que se denominou como desenvolvimentosustentvel, isto , um modelo de desenvolvimento que permite s geraes presentes satisfazeras suas necessidades sem que com isso ponham em risco a possibilidade das geraes futurasvirem a satisfazer as suas prprias necessidades. 8

    No obstante tais observaes, preciso acrescentar que hoje no se trata mais de preservaro meio ambiente apenas para geraes futuras, mas para a prpria gerao atual. Isto porquea populao mundial est ampliando sua expectativa de vida ao se tornar mais longeva, porfora de trs fatores:

    1) o aumento do controle e o combate s endemias;

    2) a melhora da Cincia da Sade em todas as partes do mundo;

    3) melhoria da qualidade de vida em geral e maiores cuidados com os hbitos alimentares.Neste sentido, preservar o meio ambiente traduz-se em qualidade de vida da prpria atualgerao e no apenas para os seus filhos e netos.

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    As atividades de transporte e mobilidade, em todas as suas dimenses, constituem um setorque produz fortes impactos no meio ambiente, tanto diretamente, pela emisso de poluentes oupelo efeito dos congestionamentos, quanto indiretamente, ao servir como fundamental elementoindutor do desenvolvimento econmico e urbano 9.

    Foto:ViniciusVianna

    FIGURA 10 - Congestionamento e uso do automvel em grandes cidades mundiais.

    As questes relativas aos transportes vm sendo tratadas com destaque dentrodas preocupaes ambientais. A Conferncia das Naes Unidas para o Ambiente eDesenvolvimento (ECO-92), realizada no Rio de Janeiro e, posteriormente, a Agenda 21,denunciaram a necessidade de alterao dos padres de comportamento do setor, cobrandoinvestimentos em tecnologias menos poluentes e sistemas de circulao que reduzamimpactos ambientais associados aos transportes 9.

    Especificamente dentro da Agenda 21, foram definidos objetivos fundamentais para osetor de transportes para a promoo do desenvolvimento urbano sustentvel atravs de:utilizao de energias alternativas e renovveis, reduo dos nveis de emisso de poluioatmosfrica e sonora 9.

    O conceito de transporte ambientalmente sustentvel foi ento definido como os transportesque no colocam em perigo a sade pblica ou os ecossistemas e tm necessidades consistentescom uma taxa de utilizao de recursos no renovveis inferior sua (dos recursos) taxa deregenerao e com um ritmo de utilizao dos recursos no renovveis inferior ao ritmo dedesenvolvimento de substitutos renovveis. (CESUR, 1999) 10

    A Organizao das Naes Unidas (ONU) elegeu a bicicleta como o transporte ecologicamentemais sustentvel do planeta. Embora tenha recebido esta honraria, muitos pases no concedemateno s necessidades dos seus usurios.

    No entanto, o Governo Brasileiro comea a mudar este panorama ao implantar uma polticapara os modos no motorizados e aportar recursos crescentes, ano aps ano, ao provimentode melhoria da infra-estrutura e aumento da rede cicloviria instalada. Mais do que isto, provatravs deste caderno e de outras atitudes como a edio do PlanMob, a re-incluso da bicicletacomo modal de transporte na matriz de deslocamentos urbanos do Pas.

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    Esse caderno de referncia tem a funo de sensibilizar e apontar caminhos para orientar oprocesso de planejamento para a mobilidade por bicicleta. Ainda que mostre algumas refernciastcnicas sobre elementos construtivos, exemplos nacionais e estrangeiros o caderno e o processode planejamento necessitam de bibliografia complementar e, principalmente, por interpretaesdas realidades locais.

    No entanto, os principais pontos do planejamento e tcnicas de projeto esto nele representados.Algumas referncias constituem apenas esboos do que poderia ser ainda apresentado, estefato serve como estmulo apresentao de novos documentos no futuro. Caber, ento, suniversidades, aos centros de pesquisas e aos autores independentes, a tarefa da ampliaodos relatos e a apresentao de novos elementos que orientem as administraes municipais construo desta nova ordem para a mobilidade urbana. Tambm ser deles a tarefa parare-incluso da bicicleta de maneira definitiva no cenrio urbano brasileiro, em vrias cidades depequeno, mdio e grande porte.

    2.6 Procedimentos e Instrumentos

    O Brasil o terceiro produtor mundial de bicicletas, com 4,2% da produo mundial, atrs apenasda China, lder absoluta 66,7% e da ndia 8,3%. A Associao Brasileira de Fabricantes deMotocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo) calcula que haja noPas uma frota de 60 milhes de bicicletas, em um mercado em expanso 11.

    Para fazer frente a este mercado e a esta fabulosa frota, tida como a quinta do planeta, algunspassos organizativos se fazem necessrios, entre eles a definio de alguns procedimentos e adefinio de instrumentos para ao.

    Alguns procedimentos para os municpios desenvolverem a poltica de mobilidade urbanapara construo da cidade sustentvel definida pelo PlanMob12:

    1) desenvolver os meios no motorizados de transporte, passando a valorizar a bicicleta como um

    meio de transporte importante, integrando-a com os modos de transporte coletivo;2) reconhecer a importncia do deslocamento dos pedestres, valorizando o caminhar como um modo

    de transporte e incorporando definitivamente a calada como parte da via pblica, dando a elatratamento especfico;

    3) propiciar mobilidade s pessoas com deficincia e restrio de mobilidade, permitindo o acesso cidade e aos servios urbanos;

    4) priorizar o transporte coletivo, racionalizando os sistemas pblicos e desestimulando o uso dotransporte individual 13;

    5) estudar a possibilidade da criao de unidade administrativa especfica, no organograma funcionalda administrao local para, de forma exclusiva, se ocupar do planejamento e do desenvolvimentode projetos voltado ao aumento e qualificao da mobilidade dos meios no motorizados;

    6) incluir no oramento plurianual da administrao local recursos para investimentos em infra-estruturade vias ciclveis, assim como para a melhoria dos meios no motorizados, em especial para ofavorecimento da mobilidade das pessoas com deficincia;

    7) preparar e encaminhar ao legislativo leis e normas favorveis aos meios no motorizados, definindono somente os procedimentos a adotar no nvel local, mas tambm quais os procedimentos paraviabiliz-las no tempo;

    8) elaborar Plano Diretor de Transporte e da Mobilidade com a incluso das aes e normas destinadasaos meios no motorizados;

    9) adotar a prtica da pesquisa como instrumento permanente da ao municipal, exigindo que elasprecedam o desenvolvimento dos projetos de mobilidade;

    10) incentivar a integrao com associaes de ciclistas e pedestres, na busca de solues conjuntaspara o aumento de facilidades mobilidade dos meios no motorizados.

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    Alguns instrumentos para ao:

    1) elaborao de Plano Diretor de Transporte e da Mobilidade, incluindo os meios no motorizados;

    2) realizao de pesquisas de Origem/ Destino para conhecer as caractersticas gerais da mobilidadeno meio urbano, incluindo os meios no motorizados;

    3) realizao de entrevistas com ciclistas e pedestres na via pblica;

    4) incluso de oramento prprio para os meios no motorizados;

    5) criao de conselho local para tratar de questes atinentes aos transportes no motorizados, devendodele participarem associaes de ciclistas, de pedestres, de pessoas com deficincia, assim comorepresentante das empresas do transporte coletivo e do comrcio locais, representantes da PolciaMilitar, das associaes de professores locais e estadual, entre outras;

    6) criao de cartilhas para ciclistas e para motoristas, alertando quanto aos procedimentos a seremadotados no trfego compartilhado;

    7) promoo de aes voltadas a ampliao do uso da bicicleta, em especial junto s escolas da rede pblica;

    8) criao de parcerias pblico-privadas para dotar as cidades de estacionamentos para as bicicletas,principalmente nas escolas e nas reas centrais.

    2.6.1 Plano Diretor

    A melhoria das condies para a circulao de bicicletas no pode ser dissociada do planejamentourbano e de transportes. Nesse sentido, as diretrizes dessa poltica devem ser compatveisou estarem inseridas nos Planos Diretores Municipais e Planos Diretores de Transporte e daMobilidade (PlanMob), que devem ser complementados por quadro normativo (leis e decretos)regulando a circulao cicloviria. Alm disso, temos que considerar, em instncia mxima, asdiretrizes e instrumentos do Estatuto da Cidade Lei Federal n 10.257, de 10 de julho de 2001 que determina o cumprimento da funo social da propriedade em busca de cidades sustentveise para todos, inclusive no que diz respeito Mobilidade Urbana.

    O Plano Diretor Municipal constitui o principal instrumento do planejamento de uma cidade. Nasua elaborao devero constar tanto as diretrizes gerais dos itens referentes mobilidade,como suas conectividades com outros subsistemas, em especial aqueles relacionados a uso dosolo, transporte e trnsito.

    O PlanMob um instrumento de orientao da poltica urbana, integrado ao Plano Diretor Municipal,da regio metropolitana ou da regio integrada de desenvolvimento, contendo diretrizes, instrumentose projetos voltados organizao dos espaos de circulao e dos servios de trnsito e transportespblicos com o objetivo de propiciar condies adequadas de mobilidade, facilitando a acessibilidadeda populao e a logstica de distribuio de mercadorias. Portanto, o plano ciclovirio dever estarinserido na rede de mobilidade estruturada conforme o PlanMob.

    Alm de recorrer a fontes de financiamento especficas, em agncias de crdito e no GovernoFederal, os Municpios e Estados devem garantir a incluso de rubricas oramentrias,direcionadas mobilidade por bicicleta, em seus instrumentos de planejamento.

    2.6.2 Aes Especficas

    Uma importante ao a empreender a formao de funcionrios em tcnicas de planejamentociclovirio. Neste sentido, os municpios devero buscar a capacitao de seus tcnicos junto aoprprio Ministrio das Cidades, que tem programa para prestar este auxlio s cidades.

    A distribuio do presente documento entre as secretarias envolvidas com a mobilidade e omeio ambiente tarefa a ser cumprida pelas administraes municipais. importante que os

    rgos de trnsito, a administrao escolar municipal, os rgos de transporte e as secretariasvinculadas, alm de rgos incumbidos do planejamento urbano e do meio ambiente, tenhamacesso a este documento e a outros que incluam a mobilidade por bicicleta.

  • 7/31/2019 Planos_Bicicletas

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    Caderno de Referncia para elaborao de Plano de Mobilidade por Bicicleta nas Cidades

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    H que trabalhar as cidades para a moderao do trfego (traffic calming), para a diminuiode conflitos e para a reduo das velocidades dos deslocamentos. Isto, para que todosos atores dos espaos de circulao pblica possam ter aproximadas as oportunidadesde consumo do espao urbano, sejam eles motoristas, ciclistas, pedestres, pessoas comdeficincia, idosos e crianas.

    Embora desejvel em inmeras situaes, a ciclovia no deve se constituir no objetivo centraldos tcnicos e planejadores. preciso fazer uso de todos os potenciais de projeto e arranjospossveis. Espaos compartilhados, passeios compartilhados, ciclofaixas e rotas privilegiadaspodem ser excelentes modelos operacionais para a gerao de facilidades para ciclistas.Alguns dos conceitos apresentados neste documento, como rota cicloviria, ciclorrotas eoutros podem ser fortes aliados mobilidade por bicicleta e por outros modos no motorizadosde deslocamento.

    2.7 Consideraes Preliminares

    Tendo como matriz o planejamento urbano no sentido mais amplo, o planejamento ciclovirio,enquanto estudo de transporte, pode ser parte de uma variada gama de estudos, que vai desde ombito mais geral de estudos multimodais (PlanMob) at o caso particular de Plano de Mobilidadepor Bicicleta, contemplando suas interfaces com outros modos.

    Uma tendncia natural da prtica das formas convencionais de planejamento a coleo deuma nfase maior nos aspectos estruturais de engenharia construtiva (ciclovias, passarelas,bicicletrios, etc.), mas h evidncias de que a melhoria qualitativa do ciclismo no dependeapenas desses tipos de intervenes. Da porque sero abordadas as medidas operacionais,institucionais e educacionais em favor da bicicleta.

    Neste captulo so apresentados alm das bases para a elaborao de um plano cicloviriobsico, os principais elementos a serem considerados nele e em projetos de infra-estruturas paraas bicicletas.

    Ainda que um municpio no pretenda implantar uma rede cicloviria ou realizar um planociclovirio bsico para a bicicleta ter, nos itens a seguir descritos, um conjunto de ferramentascapazes de orient-lo na elaborao de projetos simples.

    2.8 Cinco exigncias para o planejamento ciclovirio

    Segurana viria

    O planejamento e projeto de infra-estrutura cicloviria a mais complexa das cinco exignciase deve ate