Psicologia Da Personalidade Margarida Pedroso de

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Psicologia da Personalidade Margarida Pedroso de Lima Coimbra 2002 Objectivos, conteúdos e métodos de ensino teórico e prático da disciplina de PSICOLOGIA DA PERSONALIDADE

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Psicologia Da Personalidade Margaridaa complexidade do estudo da personalidade

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Psicologia da Personalidade

Margarida Pedroso de LimaCoimbra 2002

Objectivos, conteúdos e métodos de ensino teórico e prático da disciplina de

PSICOLOGIA DA PERSONALIDADE

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“Depus a máscara e vi- me ao espelho.

Depus a máscara, e tornei a pô- la

Assim é melhor,

Assim sem a máscara.

E volto à personalidade como a um términos de linha.”

Álvaro de Campos

“A poesia é sempre um acto de paz”

Pablo Neruda

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3. Conteúdos programáticos

3.1. Programa Geral

I. A complexidade do estudo da personalidade em psicologia 1. O que é a personalidade?2. A "personalidade" numa perspectiva histórica e transcultural3. Teorias e Metateorias da personalidade

3.1. A organização de Hall e Lindzey3.2. Os níveis de Personalidade de Mark Cook3.3. A propos ta de McAdams: Ter, Fazer e Ser3.4. Outras organizações, outras teorias

II. As tendências da Psicologia da personalidade contemporânea1. Tópicos que se mantêm

1.1.Traços1.1.1.O Modelo dos Cinco Grandes Factores

1.2. Motivos1.3. Abordagens Psicanalíticas1.4. A Teoria da Personalidade de R. Cattell

2. Novas unidades de análise e seus contextos históricos2.1. Unidades de nível médio.

2.1.1. Eus Possíveis2.1.2. Histórias Pessoais 2.1.3. Guiões Interpessoais 2.1.4. Audiências Privadas

2.2. Tarefas, Empenhamen tos e Projectos2.2.1. Projectos pessoais (Little, 1983)2.2.2. Empenhamen tos / p r e tensões pessoais (Emmons,

1986). 2.3. O estudo da pes soa total: Self

2.3.1.Teoria cognitivo - so cial da personalidade de Bandura(1986).

2.3.2. Teoria cognitivo - experiencial do eu de Epstein(1990)

2.3.3. Auto - conhecimen to e Conhecimen to dos outros2.3.4. Auto - Conceito e Auto - estima

2.4. Vontade3. Tendências inter e transdisciplinares

3.1. Psicologia social

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3.2. Psicologia clínica e psicopatologia3.3. Psicologia genética e evolucionista. 3.4. Psicologia do desenvolvimento coextensivo à dura ção

da vida3.5. Psicologia cognitiva

4. Eclectismo e pluralismo metodológico5. A personalidade e o paradigma epistemológico emergente

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I. A complexidade do estudo da personalidade em psicologia

Neste primeiro capítulo do programa é dada uma panorâmica sobre ovasto e com plexo domínio do estudo da personalidade.

1. Que é a personalidade?

“É quase tão difícil definir o conceito de perso na lidade como deveria ser reter

alguém nas malhas da des crição/explicação que em torno desse conceito ou -

samos construir. Que é a personalidade? Uma autono mia, um distintivo, uma

integridade, uma impressão digi tal? Com a mesma palavra, para tornar tudo mais

compli cado e indeci frável, brincamos às solenidades, fazemos discursos, cita mos

Pessoa (o Fernando) e os imortais (‘foi uma personali dade’)... Adjectivamo - la,

habitua dos que estamos às classifi cações, às hierar quias, aos sub missos e aos

dominantes: ‘forte’ ou ‘fraca’, a per sonali da de confere um lugar na rela ção”

(Calado, 1989, p.1).

A palavra personalidade tem étimo latino, derivando de “persona”,

que significa máscara de actor. O termo, no entanto, ao longo da sua

evo lu ção, foi ad quirindo sentidos múltiplos. Nos escritos de Cice ro, é

usado com, pelo menos, qua tro sentidos, todos eles re la cio na dos com

o teatro: a persona lidade, como um con junto de características

pessoais do actor , que represen tam o que a pessoa real mente é; a per -

so nalidade, vista como a for ma pela qual a pessoa apa rece aos outros

e não como real mente é e, neste sentido, equivale à máscara ; o papel

que a pessoa repre senta na vida, tal como o per sonagem num drama;

a personalidade, enca rada como um con jun to de qua lidades

indicativas da distin ção e digni dade, que fazem do ac tor uma ‘estrela ’.

Por seu turno, Allport, em 1937, referia - se à existência de, pelo me -

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nos, cinquenta significados diferentes para o termo personali dade,

optando por a considera r como uma orga nização dinâmica dos sis -

temas bio - sociais 1 que de terminam a adaptação única do indi víduo ao

mundo (Allport, 1937). Na perspec tiva de Cattell (1965), a personali -

dade é um conjunto de traços, que predispõe o indiví duo a agir, de

determi nada ma neira, num conjunto de situações.

Apesar da “personalidade pode ser definida de forma a englobar

pratica mente todos os aspec tos da vida e experiência humana”

(Heatherton e Nichols, 1994, p.4), convencionalmen te, as definições de

personalidade excluem as dife ren ças físicas e, a maioria, as diferenças

intelectuais, embora reco nhecendo que ambas in fluenciam a

personalidade e o compor tamen to dos sujeitos. Contudo, muitas teo -

rias consideram o conjunto destes as pectos (físicos e in telectuais)

como parte do constructo da personalidade. As de fini ções de

personalidade reflectem as diferentes teo rias e a perspectiva que se

tem, em relação ao tópico num determinado mo mento histórico. Por

conse guinte, é com preensível que as definições mais recentes deste

constructo te nham vindo a valori zar os componen tes inte ractivos e

di nâmicos.

Tópicos a abordar:

- Pertinência do estudo da Psicologia da Personalidade;

- Origem etimológica da palavra personalidade;

- A diversidade de definições e a sua razão de ser;

- Referência a algumas definições e seu enquadramen to

- Distinção entre personalidade, carácter e temperamen to.

Bibliografia fundamental:LIMA, M. P. (1997). NEO- PI- R Contextos teóricos e Psicométricos:

1 Os sistemas bio- sociais incluem traços, hábitos, motivos e valores, cujas di fe rençasindividuais são parcialmente hereditárias e, parcialmente, resultado da aprendizagem eexperiência (social). Estes sistemas estariam inter - relacionados (organizados), activa edinamicamente, com o ambiente.

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‘Ocean’ ou ‘Iceberg’? , tese de doutoramen to, Coimbra.PERVIN, L. A. JONH, O. P. (1996). The Science of Personality , New York, John Wiley

& Sons, Inc.PERVIN, L. A. JONH, O. P. (1997). Personality: Theory and Research , New York, John

Wiley & Sons, Inc., 7ºed.

Exercícios introdutórios:“ O que é a personalidade?”; “Como defino a personalidade dooutro?”

Carga horária1 aula teórica.

2. A "personalidade" numa perspectiva histórica e transcultural

“A ilusão mais perigosa de todas é a de que existe ape nas uma realidade. Aquilo

que de facto existe são várias pers pectivas diferentes da realidade, algu mas das

quais contraditórias, mas todas re sul tantes da co mu nicação e não reflexos de

verdades eternas e ob jec tivas” (Watzlawick, 1991, p.7).

Para termos uma visão completa da história e desenvolvimento dapsicologia da personali dade devería mos começar com as concepçõessobre o homem, encon tra das nos grandes filó sofos e pensadores daantiguidade clássica até à nossa época, cu jas ideias po dem ainda serencontradas no pensamen to contem porâneo. No entanto, a grandegeneralidade dos autores, por nós consul tados, que reflec tiram sobrea psicologia da personali dade têm em conta, sobretudo, as in fluênciasmais recen tes. Hall e Lindsey (1984) 2, consideram como fon tes in -fluenciadoras das teorias da personalidade as ob serva ções clínicas(tradição iniciada com Charcot , Janet e McDougall); a tra dição ges tálticae William Stern; a psicologia experi men tal, em geral, e a psi cologia daaprendizagem, em particular e a tradi ção psi cométrica. Ou tras in -fluências meno res seriam a gené tica, o posi tivismo ló gico e a an tro po -logia social.Porém, o estudo da personalidade, como uma nova área da psico lo gia,emerge, nos anos 30. Desde então, e até à última década deste sé culo,a psi colo gia da personalidade passou por fases de grande desen -volvimento mas, tam bém, de muita crise.

2 Outros, como Morea (1990), de uma forma mais redutora, atribuem a Freud apaternidade das teorias científicas da personalidade.

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A publicação do livro de Allport, que introduz iu o estudo cientí ficoda per sonali dade nos EUA, e o facto de Murray dar o nome de‘personology ’ à nova ciência, a ciência da pessoa, tornaram visível oapare cimento da psi cologia da personali dade. Segundo Buss e Cantor(1989, p.2), “o livro de Allport — Personality: A PsychologicalInterpretation (1937) — e o de Murray — Explora tions in Personality(1938) — foram muito fecundos, visto lança rem os tópicos para asinvestigações no domínio da per sona lidade nas dé cadas vindouras”.De acordo com Pervin (1990, p. 5), “estes dois autores realçaram aideia de que o sujeito é uma totali dade”, con cep ção que, em bora tenhasido por vezes secundarizada, se mantém ac tual nos anos 90.Nomeadamen te, Allport (1937) rejeitou o elementa rismo e apreocupação dominante com as partes, em detrimen to da or ganizaçãodo sis tema. A sua concepção de traços sugere que estes iniciam eguiam o compor ta mento e que os motivos têm sentido, enquantoorienta dos para um objectivo e não como forças inatas e cegas.Murray (1938) realçou, igualmente, o todo, a sua dinâmica e a in -ter - relação do sujeito com o mun do. Efectivamen te, os anos 40 e 50foram mar cados por inves tigado res talentosos, que tenta ram levar acabo uma ‘agenda’ muito sobre carre gada — a teorização e ainvestigação, em torno das duas unidades bá si cas propost as porAllport e Murray para o estudo da personalidade: os traços e osmotivos.

É nesta altura que surge o manual de Hall e Lindzey (1957), quemuito contribuiu para estabelecer o estudo da personalidade comouma área funda mental no domínio da psicologia. Segundo Palenzuelae Barros (1993, p.9), a “este pe ríodo de esplendor seguiu - se uma crisepro fun da, no início dos anos 60, cujo principal responsável foi WalterMischel, com a publicação do seu famoso livro ‘Perso na lida de eAvaliação’ (‘Personality and Assessment’ ), em 1968”. Durante estaépoca, os pressupos tos fundamen tais do domínio fo ram questio nadose apontadas as limitações da predictibili dade e consistên cia de umadas unidades fun damen tais de análise da per sonalidade — os traços.As grandes críticas ao con ceito de traço e à noção implícita nestes (ade consistência) foram levadas a cabo pelos situa cionis tas (dentre osquais se salienta Mischel, já refe rido) e pela psicologia hu ma nista(anos 60; e.g ., Rogers, Maslow, May) — ao defen derem a crença filo só -fica na ca pacidade pra ticamen te ilimitada de mudança e crescimentopes soal — e pelas teorias dos estádios do desenvolvimen to da perso -nali dade du rante a vida adulta (e.g. , Neugarten; Erikson) que postulamestá dios, quali tativa mente diferentes, que os sujeitos atravessam aolongo do seu ciclo de vida (Wrightsman, 1988).Os anos subsequen tes à publicação do livro de Mischel (década de 70e o início da de 80) foram marcados por este debate interno entre osque de fendiam sobretudo o paradigma básico (as predisposições) e,aque les, que sublinhavam os factores da situação como determinan tesdo com portamento (e.g. , Alker, 1972; Bem, 1972; Carlson, 1971; Harré

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& Secord, 1972; Watchel, 1973). Este de bate entre os defensores dostraços e os si tua cionistas deu lugar a uma sé rie de “conferências depaz” no campo da per sonalidade, orientadas numa perspectivainteraccionista. Assim, 1973 foi um ano significativo, dado osnumerosos en contros e publicações de fendendo o inte raccionismo napsicologia da perso nalidade. Um destes traba lhos foi o do próprioMischel (1973) que, para além de defender a posição inte raccionista,fez emergir aquilo que pode ser considerada uma nova era na psico -logia da personalidade, em que os traços e os motivos, enquantounidades de aná lise predominantes, perderam relevância, a favor dascognições (pro pos tas por Endler e Magnusson, em 1976, como as no -vas variáveis da perso na lidade), outro tanto se passando com aaborda gem disposicional, relativamen te à perspectiva da aprendi -zagem cognitivo - so cial e aos pres supostos interaccionistas.Assim, da mesma forma que o trabalho de Allport e Murray, nos anos30, influenciou fortemente a orientação tomada pela psicologia dapersona lidade, nas duas décadas seguintes, a obra de Mischel estevena base dos no vos desen volvimen tos ocorridos nos anos 80, nosentido da sua orientação cognitivo - mo tivacional.

Tópicos a abordar:- O estudo da Personalidade na antiguidade;- Fontes influenciadoras do aparecimento das teorias da

personalidade;- A década de 30;- A crise no início dos anos 60;- Revitalização do domínio nos anos 80,- Personalidade e cultura.

Bibliografia fundamental: MISCHEL, W. (1993). Introduction to personality (6th edition). New York: Holt,

Rinehart & Winston.PERVIN, L. A. JONH, O. P. (1996). The Science of Personality , New York, John Wiley

& Sons, Inc.PERVIN, L. A. JONH, O. P. (1997). Personality: Theory and Research , New York, John

Wiley & Sons, Inc., 7ºed.

Carga horária2 aulas teóricas.

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3. Teorias e Metateorias da personalidade

“Cada indivíduo é: como todas as outras pessoas, como algumas outras pessoas,

como nenhuma outra pessoa” (Kluckhohn & Murray, 1953)

Neste capitulo do programa dá- se uma visão geral das grandesabordagens de estudo da personalidade. Face à existência de muitasteorias alguns autores têm optado por salientar as comunalidadesentre as definições das diferentes teorias. Desta forma, Kimmel (1984)ob serva que, muito embora exis tam dezenas de defi nições depersonalidade, a maioria engloba três as pectos principais da mesma, asa ber, que a ela se refere: à unicidade do indivíduo, aquilo que odistingue de todos os ou tros; a um conjunto de característicasestáveis 3 e duradouras, ao longo do tempo e das situações; ao estilocaracterístico de ligação / interacção entre o sujeito e o am biente físicoe social. Porém, a ênfase atribuída a cada uma destas característicasde pende da teo ria/modelo subjacente.Outros teóricos têm tentado categorizar a multiplicidade de teoriasexistentes em agrupamen tos mais ou menos abrangentes. Em face dagrande diversidade de teorias optou - se por começar por algunsexemplos de metateorias que tentam arrumar o domínio e enquadr aras diferentes teorias da personalidade nestas metateorias. Por falta detempo algumas teorias são apenas referidas, outras, apenas afloradase poucas, estudadas em maior profundidade.

3.1. A organização de Hall e LindzeyHall e Lindzey (1984) apresen tam uma organização das principaisteorias da personalidade em quatro grandes agrupamen tos, a saber, asteorias psicodinâmicas, as teorias que dão ênfase à estrutu ra dapersonalidade, as teorias que dão ênfase à realidade percebida e asque sublinham a impor tância da aprendizagem. São dados osconceitos teóricos fundamen tais, os métodos específicos e asconclusões basilares de cada abordagem. A abordagem psicodinâmicainterpre ta a personalidade como resul tado de forças inconscientes einteriores ao indivíduo. A abordagem dos traços tenta identificar ostraços de personalidade mais compreensivos e abrangentes quecaracterizam as pessoas. A abordagem comporta men tal dá relevo àssituações externas e às condições ambientais que levam a diferentescompor tamen tos. A abordagem cognitiva conceptualisa apersonalidade como o resultado da forma como os indivíduos pensam

3 Classicamente, os actores de teatro apresentavam - se com máscaras que de -nunciavam, expressivamente, as características da figura que era recriada, e falavam atravésdela. A máscara, nesse sentido, é inalterável e fixa. É este aspecto de perma nência com ascircunstâncias, ou apesar delas, que adoptou a psicologia clássica, para definir determinadascaracterísticas identificadoras das atitudes específicas do indivíduo face, a um conjuntomuito diferente de situações — a personalidade.

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a realidade. De cada abordagem é aprofundada uma ou duas teorias. Contrast ando e comparando estas perspectivas teóricas obtém- seuma panorâmica dos aspectos diversos e complexos da personalidadehumana.

Tópicos a abordar:Abordagens Psicodinâmicas:

Teoria Psicanalítica Clássica de S. FreudTeoria Analítica de C. JungTeorias Psicológicas Sociais: AdlerTeorias Psicológicas Sociais: FrommTeorias Psicológicas Sociais: HorneyTeorias Psicológicas Sociais: SullivanTeoria Psicanalítica Contemporâ nea (Ana Freud e outros)Teoria Psicossocial de Erik Erickson

Abordagens que dão ênfase à estrutu ra da Personalidade:Personologia de Henry MurrayGordon Allport e o indivíduoTeoria de traço factorial - analítica de Raymond CattellTeoria de traço Biológico de Hans Eysenck

Abordagens que dão ênfase à Realidade Percebida:Teoria do constructo pessoal de George KellyKurt LewinTeoria Centrada na Pessoa de Carl Rogers Kurt GoldsteinAbraham Maslow

Abordagens que dão ênfase à Aprendizagem:Condicionamen to Operante de B. F. SkinnerTeoria de Estímulo - Resposta de Dollard e MillerTeorias da Aprendizagem social de Albert BanduraPerspectiva Cognitivo- social de Walter Mischel

Bibliografia fundamental:

HALL, C. S. & LINDSEY, G. (1984). Teorias da Personalidade , São Paulo, EPU.

3.2. Os níveis de Personalidade de Mark CookPara Cook (1984), a diversidade de definições, ao nível da perso nali -dade, justifica - se pela variedade de perspectivas, funções (para que éque se está a definir o construc to personalidade) e níveis deexplicação que têm em vista. Outro factor explicativo da referida

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diversidade é a ênfase colocada, quer no es tudo do desen volvimento ,quer no estudo da estrutura da perso nalidade.

Tópicos a abordar:- A superfície da análise da personalidade (Traços e factores)- A linha biológica- A linha fenomenológica- A linha motivacional

Bibliografia fundamental:COOK, M. (1984). Levels of personality. London. Holt Psychology.

3.3. A proposta de McAdams: Ter, Fazer e Ser

“A história pessoal consti tui, em grande parte, a substância ou o estofo de que é

tecida essa realidade intrapsíquica que designamos por interioridade” (Abreu,

2002, 50).

Abrangente e pertinente é a propos ta de McAdams (1990; 1994, 1995),

inspi rada em autores como McClelland, Hogan, e Cantor, e no seu

traba lho sobre as narrativas das vidas humanas, que propõe que se

de veria re flectir sobre a personalidade em termos de, pelo menos, três

níveis parale los. Os níveis teriam os rótulos genéricos de: a) traços

dis posicionais, b) preocupações pes soais (personal con cerns) e c)

narrativas de vida 4.

O primeiro nível referido é composto por dimensões (os traços) que

são, se gundo o autor um nível muito im portante, no qual se pode

encon trar uma impressionan te evidência a favor da estabili dade da

personali dade. A leitura da perso nalidade, feita pelo mo delo dos cinco

factores en caixa - se neste nível. Para McAdams (1994, p.303), “os

Cinco Grandes re presentam as atri bui ções mais gerais e com -

preensivas — simples, compa ra tivas, e virtual mente não - condicionais

4 Segundo esta propos ta, em fun ção do nível da perso nalidade que tivésse mos emconsideração, poderíamos ou não observar mudança na personali dade.

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— que podería mos desejar fazer, quando não sabemos, virtualmente,

mais nada sobre a pessoa; isto é, quando con fronta dos com um

estranho”. O segundo nível tem a ver com planos, objectivos,

estratégias, de fe sas, pro jectos, tácticas, e investimen tos pessoais.

Tratar - se - ia de variáveis moti vacio nais, desen volvimentista s ou

estratégicas. A este nível incluir - se - iam as uni dades de nível in -

termédio (Cantor, 1990). O nível três diz respeito à formação da

identidade, en quanto ‘procura de uma narrativa desenvolvimen tis ta’

(“an evolving narra tive quest ”), ou seja, uma tenta tiva de encontrar

unidade e orientação na vida. McAdams (1994, p.306) de fende que “se

o nível I enfatiza o lado ter da personalidade e o nível II, o fazer,

então, o nível III diz respei to à cons trução do eu” (“If level I

emphasizes the having aspect of personality and level II the doing, then

level III con cerns the making of the self”)5.

Este modelo a vantagem de oferecer uma visão sinóptica do inteiro

domínio da personalidade. Assim, uma definição desta, que se

pretendesse abrangente, deveria contempla r os três níveis

mencionados. Porém, na prática, seria proibitivo para qualquer

investigador estender os seus esforços a uma área tão vasta.

Compreende - se, pois, que os estudiosos da personalidade se te nham

limitado a explorar aspectos particulares da mesma e que a sua defi -

nição do objecto, que analisam, reflicta o interesse específico das suas

abor dagens (Lima,1997).

Tópicos a abordar:- Abordagens à pessoa: Mistérios intrapsiquícos (Freud; Karen

Horney; Erich Fromm; Heinz Kohut; Ann Freud; Bion;psicologia do eu); Episódios interactivos (teoria dos traços;situacionismo; interaccionismo); Estruturas interpreta tivas(psicologia dos constructos pessoais de Kelly; psicologiahumanis ta de Maslow; esquemas e guiões); Históriasinterpessoais (sistema personológico de Henry Murray; teoriapsicossocial do desenvolvimento de Erik Erikson; psicologiaindividual de Alfred Adler; histórias de vida; narrativas).

5 Segundo o autor refe rido (1994), a história (as narrativas) da vida não pode sercompre endida através de uma análise da personalidade aos outros níveis.

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- Três níveis paralelos no estudo da Psicologia da Personalidade- Relacionando os níveis: o desafio interactivo.

Bibliografia fundamental:McADAMS, D., (1989). The Development of a Narrative Identity, BUSS, D. & CANTOR,

N. (Eds.), Personality Psychology, Recent Trends and Emerging Directions ,Springer - Verlag, New York,.

McADAMS, D. P. (1994), The person , EUA, Harcourt Brace College Publishers. McADAMS, D. P. (1995), What do we know when we know a person , Journal of

personality, 60, 175- 215.

3.4. Outras organizações Outros autores (Fadiman & Frager; Pervin) têm apresentadocategorizações que representam alterna tivas complementares aosautores já referidos. Salientam - se, sobretudo, as teorias do ciclo devida e as teorias da personalidade com origem na clínica.

Tópicos a abordar:Teorias do ciclo de vida:

Charlot te Bühler (Evolução dos objectivos de vida)Raymond Kühlen (Mudanças na motivação)Bernice Neugarten (Psicosociologia do ciclo de vida)Robert Havighurs t (Tarefas de Desenvolvimento)Daniel Levinson (Evolução da estrutu ra de vida)Roger L. Gould (A transfor mação ao longo do ciclo de vida)George E. Vaillant (Evolução dos estilos adaptativos)Calvin Colarusso /Rober t Nemiroff (Desenvolvimento do Self

adulto)

Teorias de base clínica:Moreno (Psicodrama) Alexander Lowen (Bioenergia)Wilhem Reich (Psicologia do corpo)Moshe Feldenkrais (Consciência do corpo)F. Perls (Gestalt)Berne (Análise transaccional) William James (Psicologia da Consciência) Teorias Orientais da Personalidade.

Teorias factoriais:Modelo de J. Gray

Modelo de M. Zuckerman

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Modelo de R.C. CloningerModelo dos Cinco Factores da Personalidade

Bibliografia fundamental:FADIMAN, J. & FRAGER R. (1979), Teorias da Personalidade , Brasil, Ed. Harper & Row

doPERVIN, L. A. JONH, O. P. (1996). The Science of Personality , New York, John Wiley

& Sons, Inc.PERVIN, L. A. JONH, O. P. (1997). Personality: Theory and Research , New York, John

Wiley & Sons, Inc., 7ºed.

ExercíciosIlustrativos de algumas teorias.

Carga horária da unidade 34 aulas teóricas.10 aulas práticas

II. As tendências da Psicologia da personalidade contemporânea

“E ao mesmo tempo, a impressão, um pouco longínqua,Como de um sonho que se quer lembrar na penumbra a que se acorda,De haver melhor em mim do que eu.” Álvaro de Campos

Para muitos dos autores, por nós revistos, os anos 90 representam umponto de viragem no estudo da personalidade, um momento revita li-zador, um ‘resperspec tivar’ de antigos conceitos e uma abertura a no -vas propos tas e rela ções entre diferentes áreas. Buss e Cantor (1989),por exemplo, pensam que as “disciplinas científicas atingem, a certaaltura, fa ses críticas no seu desenvolvi mento — pontos de partida quepodem alte rar radicalmente o seu curso subse quente. Acreditamosque o campo da psico logia da persona lidade atingiu uma tal fase” 6.Efectivamente, na nossa opinião, muito perto da viragem do século, as

6 “Scientific disciplines sometimes reach crítical junctures in their develop ment — pointsof departure that can radically alter their subsequent course. We be lieve that the field ofpersonality psychology has reached such a juncture" .

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di cotomias e cren ças surdas que têm, a nível teó rico, ‘povoado’ oterritório da psico logia da per sonali dade, não têm qual quer sentido,não apenas porque este jam fora de moda, mas porque, como afirmamuito bem Werner Heisenberg (citado em Capra, 1989), “na história dopensamen to hu mano, os desen volvimen tos mais fecundos ocorrem, deum modo geral, quando duas cor rentes com ple tamente distintas seencontram”. Na mesma direcção aponta Pervin (1990), na conclusão dasua excelente compilação “Handbook of Personality ”, quando opinaque esta área se caracteriza pela complexidade do funcionamento daperso nalidade, pela diversidade, pluralismo, e alarga mento dehorizontes . A partir dos anos 80 novos desenvolvimentos traduzi ram - se pelo queBuss e Cantor (1989, p.1) designaram por “novas unida des de análisede nível médio ou in termédio” (middle - level units of analy sis) e peloque Pervin (1990, p.6) refere ser as “novas unida des de análise; no vasformas de coerência da perso na lidade; e novos métodos de ava liação”.Mas, para além do aparecimento destas novas unidades, em 1983, al -guns autores chamaram a atenção para a necessidade de integraçãodos conhecimen tos no domínio da personalidade, ou seja, para aurgên cia em ela borar uma teoria compreensiva da personalidade (e.g .,Endler, 1983; Kenrick & Dantchik, 1983; Mischel & Peake, 1983b). Talparece ser, para muitos investigadores (Magnusson, 1990; Pervin,1990; Sarason, 1991), o foco de aten ção e preocupa ção, no princípioda década de noventa. Efectivamente, muito embora se tenhaintensificado a procura de ele men tos ou unidades básicas para oestudo da per sonalidade (Allport, 1958; Wallace, 1967), os traçosvoltaram a ser, juntamen te com os motivos e as cogni ções, osconstructos mais estudados. Mas, como salientou Cervone (1991), taiselementos nunca formaram um campo de investigação unifi cado, masduas áreas cien tíficas independen tes: uma, polarizada em torno dasunida des tra ço/dis posição e, ou tra, das unidades cognitivo - in ten -cionais (purpo sive - cog ni tive) e só cio/cog ni tivas. Esta divisãocorresponde também, segundo Palenzuela e Barros (1993, p.11), “àspartes ter (having ) e fazer (doing ) da personalidade, re fe ridas porAllport, e, recentemen te, evidencia das por ou tros persono logistas (e.g., Cantor, 1990; Mischel, 1990)”.Ora, estas duas abordagens, não só utilizam estratégias diferentes,como também evidenciaram diferentes aspectos do funcionamento daper sonalidade. As abordagens baseadas nos traços e motivoscentraram a aten ção nos aspectos está veis e estrutu rais da personali -dade. Embora te nham sido diferentes o número e o tipo de traços pro -postos, parece que nos úl timos anos um certo con senso foi atin gido,como veremos, através do mo delo dos cinco factores (John, 1990). Asabor dagens baseadas nas cogni ções têm - se preocupado, essencial -mente, com os proces sos de funcio na mento da personalidade, com aforma como os sujeitos interpretam e dão significado aosacontecimen tos e como pla nificam e regulam o seu com por tamento —

aquilo que Bandura (1982, 1986) designou por meca nis mos deauto - gestão (self ou human agency) .Assim, para autores como Pervin (1990), depois da crise dos anos 60 e

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70, o domínio da personalidade, no decorrer dos anos 80, parece terreto mado a sua vita lidade. Neste momento da sua trajectória, apsicolo gia da personalidade pode con siderar - se um mundo depotencialidades deriva das das abordagens sócio - cognitivas, da dostraços /di spos ições e doutras, de natureza diferente destas duas(Cervone, 1991). Carac te riza - se, con se quentemente, de acordo comPervin (1990), por abordar uma grande diver sidade de fenómenos easpec tos, reflectindo, a com ple xidade do funcio na mento dapersonalidade. mas teria também chegado o momento de reactivar aantiga aspiração de Murray de constitui r uma ciência da perso nali -dade, a ‘personology ’. A pluralidade expressa, por exemplo, na multiplicidade de unida desde análise propostas para este domínio, leva a crer que o campo daperso nali dade parece ter recuperado inteiramen te a pessoa, na suacom plexi dade e totali dade. Nesta perspectiva, a questão de Carlson— “onde está a pes soa na investiga ção sobre a personalidade” (“Whereis the person in perso na lity research ?”; 1971) — já não teria sentido, epode ríamos mesmo falar de ‘personologia’, na perspectiva daexistência de uma enorme quantidade de acti vidade científica,destinada a investi gar as diferentes fa cetas dessa pes soa com plexa etotal. No entanto, como referiu Pervin (1990), é claro que não existeum paradigma único e não é muito evidente que estejamos a construira base para um conhecimento cumulativo. Em conclusão, em bora onúmero de unidades de análise associadas com novas aborda genstenha progressi vamente aumentado, ainda falta uma longa estrada aper correr no que con cerne ao desenvolvimen to de uma teoriacompreen siva da persona lidade (cf. , Palenzuela & Barros, 1993).

1. Temas que se mantêm

1.1. Traços

Se existe uma personalidade específica, é única e, con se quen temente, a sua

caracterís tica defini dora são os tra ços" (Buss, 1989, p.1378).

Os traços estão na base da construção dos inventá rios e são umconceito - chave presente, em todo o discurso sobre a per sonalidade.Efectivamente, o estudo dos traços tem sido conside rado por muitos,como uma abordagem à perso nalidade ‘cinzenta’ e enfa donha, ob jectode muitas críticas, dado não en globar toda a magia, pro fundi dade efascínio das perspectivas exis tenciais e te rapêuticas da per so nalidade.Todavia, os de fensores das teorias dos traços, não tinham (nem têm)pretensões a ela borar livros de ‘biblioterapia’, mas con sideram que“eles (os traços) são compatíveis com uma grande varie dade de abor -da gens teóricas, e têm formado a base para grande parte da inves ti -

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gação em psicologia” (McCrae & Costa, 1992, p.18). Para ilustrar a im -portância atri buída aos traços, na psicologia da personalidade, éelucida tiva a posi ção de Eysenck (1985, pp. 42 e ss ) que, ao fazer ahistória das teorias da per so nali dade, se refere apenas à história dasteorias dos traços. Todos nós usamos tais constructos no dia - a - dia, descritiva ou expli -ca tivamente. Assim, não admira que os traços tenham, também, desdehá muito tempo, um papel im por tante em muitas áreas da psicologia,nomea damente, na psicopato logia, na investiga ção or ganizacional, ena psicologia da saúde. Existem inúmeros es tudos dedi cados a tra çoscomo a auto - es tima, auto - eficácia, locus de con trolo, asser tivi dade,perfeccio nismo, depen dência, auto - crí tica, sociotropia, autonomia,im pulsividade, procura de no vidade, evi tamento da dor,auto - consciência, culpa bilidade, vergonha, e em patia. Contudo, adefinição cien tí fica de personalidade e o estudo sis temático dos traçosé muito mais com plexo do que o seu uso gene ralizado pode sugerir e,tem sido, também, muito polémico. Neste contexto, en ten de - se porteorias dos traços as abor dagens que concebem a personali dade doindivíduo como uma conste lação de traços. Nelas se incluem teo riascomo a de Cattell, Allport, Guilford e, mais re centemen te, a de Costa eMcCrae.

1.1.1. O Modelo dos cinco grandes factores da personalidade Segundo Krahé (1992) algumas linhas de investigação têm contri buídopara firmar os alicerces teóricos do conceito actual de traço. Entreestes es forços pode mos dis tinguir três orientações principais:• A procura das dimensões básicas dos traços, que permitem umades crição parcimoniosa, ainda que compreensiva, da personalidade edas diferen ças indivi duais.• A exploração dos determinantes genéticos dos traços de perso nali -dade.• A conceptualização dos traços como categorias socialmen te de fini -das, a partir das quais as dimensões da personalidade são construí -das. A primeira tendência de investigação “realça o potencial dos tra ços,en quanto enquadrame n to organizador das diferenças indivi duais”(Krahé, 1992, p.66), apontando para a procura de uma taxinomia dascategorias bási cas dos tra ços e para a estreita relação entre estes e alinguagem co mum so bre a perso nali dade. Perante a diversidade detra ços, é natural que tenha surgido a questão do seu númeroespecífico 7 e de como orga nizá - los. Na tentativa de traze r or dem aodo mínio, come çaram a surgir sis temas de traços 8, baseados ou não em

7 Uma abordagem já antiga, que vai ao encontro desta questão, consiste em consultar odicionário (há muito que se reconhece que a linguagem do dia- a- dia ofe rece o repertório paraa descrição da personalidade, tanto aos leigos como aos espe cialistas) enquanto outra, parteda experiência de clínicos ou de teorias.

8 Como exemplo, temos as tipologias de Jung (1923 /71), constituída pelos tipos in-trovertido e extrovertido e, aos quais, mais tarde, o autor, juntou mais dois con trastes — asensação /in tu ição e o pensar / sentir; a de Guilford e Zimmerman (1934), que ao anali sarem

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teorias, a partir dos quais foram construí das inúmeras escalas.Historicamente, a competi ção entre estes sis temas tem sido umapreocupação para os psi cólogos da persona lidade. Efectivamente, aausência de um modelo uni ficado e singular tem impe dido o avançodesta área, dificultando a co muni cação entre investigadores e acompara ção dos resultados. Porém, a so breposição entre os váriossis temas e o facto de emergir, re corrente mente, da avaliação cominúmeras medidas da personalidade, um con junto limitado de traços —

os cinco grandes factores — levou à edifica ção de uma taxi nomiacompreensiva — o modelo dos cinco factores. Embora este modelo te -nha sido ori ginado em estudos sobre a linguagem natural, investi -gações recentes su gerem que pode incluir dimensões das diferençasindivi duais, derivadas das principais escolas de psicologia dapersonali dade. A con vergência de linhas teóricas e empíricas nosentido do modelo dos cinco factores (Five Factor Model — FFM, Costa eMcCrae, 1992) constitui um argu mento a favor da adopção do modelo,como um contexto para a des crição com preensiva da personalidade.Contudo, nem todos os investiga dores concordam que ele oferece umadescrição ade quada das dimensões da per sonali dade. Mas o facto éque tem havido re plica ções inde pendentes sufi cientes, para que se lhepreste a devida aten ção.O modelo dos cinco factores de Personalidade é, por conseguinte, umexemplo de uma taxinomia de traços, uma organização abrangente daestrutu ra 9 dos traços da personalidade. Recentemente, segundoHalverson (1994), começaram a emergir tentativas de explicaçãoteóricas 10 para as impressionan tes regularidades empíricas e es ta tísti -cas encontradas (John, 1990; Buss, 1991; Wiggins & Trapnell, 1996).Quer dizer que datam, de há muito pouco, os esforços no sentido decom preender por quê cinco facto res, porquê estes cinco factores, quala origem /base do modelo e qual a sua re levância para o estudo dapersonalidade. A teoria dos cinco factores da personalidade (tendências básicas,encontra ríamos, por exem plo, as ca racterísticas genéticas e físicas eos traços da per sonalidade; nas adaptações características, variáveiscomo as competências adquiridas (linguagem, competências técnicas esociais), as atitudes e as crenças; no auto - conceito, os pontos de vistaimplícitos e explícitos sobre o eu, a identidade e a au to - es tima; nabiografia objectiva, o curso de vida (os percursos de carreira

medidas de Introversão e Extroversão, desenvolveram um inventário com 10 traços (oconhecido Guilford- Zimmer ma n Temperament Survey , 1976); a de Eysenck que às dimensõesExtroversão, e Neuroticismo, adicionou, mais tarde o Psicoticismo (1975); a de Murray queconsiderou serem 20 as necessi dades e motivos, suficientes para descrever de formacompleta a personalidade; a de Sullivan que concebeu uma teoria interpessoal que veio ainfluenciar sistemas de tra ços importantes: o circumplexo interpessoal. Este autor defendeque a maioria dos traços interpessoais podem ser dispostos, de uma forma circular, à volta dedois eixos — amor ou afiliação e poder (estatu to) ou dominância.

9 Segundo McCrae e Costa (1995, p. 235) podemos considerar a estrutura dapersonalidade como o “padrão de covariação dos traços numa população”.

10 Exemplos de análises teóricas, que oferecem explicações para as regulari -da des empíricas, encontram - se em Buss (1991), Goldberg (1981), Hogan (1983), John(1990), Wiggins e Trapnell (no prelo).

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profissional, os acidentes históricos) e o compor tamen to manifesto;nas in fluências ex ternas, variáveis desenvolvimen tistas (relaçõespais / filhos, educação, socialização, mediante os colegas) e ma cro(cultura e subcultura) e micro - ambientais (reforços e punições). Estas categorias estão entre si relacionadas, mediante proces sosdinâmicos (como a volição e o coping ).Esta teoria representa um movimento de reabilitação dos traços, hávários anos esboçado, e atingindo, por seu intermédio, sua plenaexpressão. Na medida em que a teoria reivindica para os traços oestatuto de disposições fundamen tais, considerando, portanto, queeles são constitutivo necessá rio da personalidade, ela coloca oproblema dos seus mecanismos de influência e esboça soluções, nosentido de os identificar e clarificar. Pretende - se, assim, passar, doplano estrutural — a que os sistemas clássicos dos traços sãoacusados de confinar - se — para o plano dinâmico da personalidade.Não há, nem provavelmente haverá, uma teoria completa dapersonalidade. A teoria dos cinco factores não faz excepção maslança, de acordo com os autores, as bases, que permitem a construçãode um edifício razoavelmen te sólido.Um exemplo da aplicabilidade do modelo é considerar as imensões dapersonalidade do modelo dos cinco factores como alterna tivas àscategorias de perturbações da DSM. Esta temática enraiza - se emquestões centrais, ainda em debate, no domínio da psicologia dapersonalidade, da psicopatologia e da psiquiat ria, a saber, a dadistinção entre a personalidade normal e a patológica, e a da naturezadas eventuais diferenças, nomeadamen te se é discreta ou contínua,quanti tativa ou estrutu ral, categorial ou dimensional.

Tópicos a abordar:Os quatro tipos de personalidade, de acordo com Galeno e Hipócrates.Tipologias Constitucionais e Temperamen taisTeoria dos traçosO Modelo dos cinco grandes factores da personalidadeA teoria dos cinco grandes factores da personalidade

Exemplo de uma aplicação do modelo: Dimensões dapersonalidade e as categorias de perturbações da DSM.

Bibliografia fundamental:

BERNARDOS, M. L. S. (1995). Los Transtornos de la Personalidade y el Modelo de los

Cinco Factores: Relaciones Empíricas, Clínica y Salud , 6 (2), 175- 188.

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EYSENCK, H. J. & EYSENCK, M. W. (1985). Personality and Individual Differences ,

London, Plenum Press.

1.2. MotivosOs motivos são a segunda unidade de análise que se temmantido ao longo da história da psicologia da personalidade,embora tenham sido con side rados como pertencendo ao lado“having ” da personalidade, es tão pro funda mente relacionadoscom as orientações cognitivistas recen tes, que real çam osobjectivos, a intenciona lidade e a orientação para um fim (pur -po sive e goal - direc ted ) do comporta men to hu mano. Assim,muitas destas uni da des de nível mé dio, derivadas da abordagemcognitiva e centrando - se em torno do conceito de “objectivo”,são revitalizações da abordagem dos mo tivos. Efectivamente, aên fase no compor tamen to orientado para ob jec tivos pode serencontrada nas abordagens tradicio nais às necessidades e aosmotivos, como a de Murray, e noutros con temporâneos, comoNuttin (1984). Este au tor defende uma perspec tivainteraccionista da motivação e presta uma atenção muitoespecial aos “processos pelos quais a dinâmica compor tamen talou necessidades são trans formadas em objectivos, projec toscompor ta mentais e acção” (Nuttin, 1984, p.134).

Esta matéria foi aprofundada na disciplina de Psicologiada Motivação.

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1.3. Abordagens psicanalíticasA grande dádiva da psicanálise para a psicologia da personalidade é oreconhecimen to de que não necessi tamos de estar às escuras sobreprocessos que são manifestamen te não observáveis e que é na‘sombra’ que, muitas vezes, se encontra a substância.As abordagens dinâmicas evoluíram muito desde 1900. Muitos dospressupos tos da perspectiva psicodinâmica evoluiram e têm vindo aser examinados empiricamente e considerados adequados.Podemos sublinhar os seguintes aspectos como as contribuiçõesduradouras da psicanálise para a compreensão da personalidade:

- O processo inconsciente;- A noção de conflito;- Os processos defensivos;- A estrutur a /o rganização da personalidade;- O desconfor tável e animal;- Ver o presente no contexto do passado;- Interpretação do sentido / significado latente.

Tópicos a abordar:O legado da Psicanálise para a psicologia da Personalidade

contemporâneaA redescober ta do inconsciente A evolução dos estilos adaptativos na vida adulta de

acordo com George Vaillant.

Bibliografia fundamental:

HOUDE, R., (1986). Les Temps de la Vie; Le Développment Psychosocial de l’adultselon la perspective du Cycle de vie , Québec, Gaetan Morin.PERVIN, L.A.(1990), Handbook of personality: theory and research , N.Y., the

Guilford Press.PERVIN, L. A. JONH, O. P. (1996). The Science of Personality , New York, JohnWiley

& Sons, Inc.

1.4. Teoria da Personalidade de R. CattellO desenvolvimento mais impor tante na teoria de Cattell, nos últimosanos, foi o desenvolvimentoda teoria da aprendizagem estrutu rada.

Page 23: Psicologia Da Personalidade Margarida Pedroso de

Tópicos a abordar:A teoria da Personalidade de Cattellteoria da aprendizagem estruturadaO Cálculo dinâmicoPerspectivas futuras

Bibliografia fundamental:

CATTELL, R. B. (1977). The scientific analysis of personality and motivation . New York:

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CATTELL, H. E. (1993). "The Structure of Phenotypic Personality

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CATTELL, R. B. et al .(1974). Handbook for the 16 PF, Illinois, Institute

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CATTELL, R. B. (1995). The Fallacy of Five Factors in the Personality

Sphere, The Psychologist , , 207- 208.

PERVIN, L.A.(1990), Handbook of personality: theory and research , N.Y., the Guilford Press.

Carga horária da unidade II 13 aulas teóricas.

2. Novas unidades de análise e seus contextos históricos

“Porquê essa resistência à mudança?” Leyens (1985)

Mas, se, por um lado, o domínio da psicologia evoluiu na direcção daacei tação de traços mais ou menos descontextualizados e gerais (masque fo ram recon textualizados no panorama da psicologia actual, comos cinco factores) tem - se, também, orientado, vigorosamen te, nadirec ção de uni da des de análise, explicita mente contextualizadas(McAdams, 1994). Con sequentemen te, têm surgido novos conceitoscomo as unidades de nível médio.

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2.1. As unidades de nível médio (middle- level units ),

As uni dades de nível médio (middle - level units ), surgiram unidas emtorno do conceito de meta e de fim (goal ) (Buss & Cantor, 1989;Cantor & Zirkel, 1990). A personalidade, para estas abordagensbaseadas nos objectivos (goal- ba sed ), é vista como um conjunto deproblemas, projectos, ou tarefas para as quais a acção humana édirigida, assim como de estratégias, tácticas e actos empregues paraos atingir. Por exemplo, Cantor e Zirkel (1990), salientando a impor -tância dos objectivos (purposes ) e da cultura, no estudo dapersonalidade, fazem refe rência às re feridas unidades de nível médio:

- As unidades cognitivo - motivacionais (e.g., as crenças, asexpectativas, os valores, as intenções, os planos, os objectivos,a auto - regulação, a volição e o con trolo pessoal) estão todasrelacionadas com o fazer (doing ), com a acção. Nestasincluem- se os:

o Guiões Interpessoais (Interpersonal Scripts ). Nas quaisse incluem as Narrativas Pessoais de McAdams (1985,1989), as Identificações Pessoais de Schlenker (1989), osGuias Pessoais (Self- Guides ) de Higgins (1987).

o Audiências Privadas (Private Au diences ) - Nas quais seincluem os Padrões Condicionais de Thorne (1989), asCenas Nucleares de Carlson (1981), as AudiênciasPrivadas de Baldwin e Holmes (1987).

- As Tarefas, empenhamen tos e Projectos - Como, por exemplo, osEmpenhamen tos Pessoais (personal strivings ) de Emmons (1989), osProjectos Pessoais de Little (1983, 1989), as Tarefas de Vida de Cantor(1985, 1987) e as Preocupações Actuais (Current Concerns ) de Klinger(1975, 1977, 1987). As tarefas e estratégias de vida (life tasks andstrategies ) repor tam - se às ta re fas importan tes, e às suas alternativas,para a vida dos sujeitos e às estratégias cognitivas que as pessoasconstroem para lidar com essas tarefas. As tarefas e tácti cas evoluti -vas (evolutionary tasks and tactics) referem - se aos problemas que osujeito deveria ter resolvido no passado.

Segundo Little (1989), os projectos pessoais são conjuntos de acçõesrele vantes, que podem ir, desde os objectivos triviais para uma terça -feira (e.g ., limpar o meu quarto), até às obsessões grandiosas de umavida (e.g ., libertar o meu povo). Podem ser iniciados pelo própriosujeito ou a ele confiados; ser preocupações soli tárias oucompart ilhadas; ser aspectos isolados e periféricos da existência ouaspec tos centrais. Os projectos pessoais são, por conseguinte,unidades de análise natu rais, para uma psicologia da personalidadeque escolhe lidar com o ‘como’ as pes soas enfrenta m a complexidadeda sua vida.Little, em 1983, propôs um enquadramen to teórico e metodológicopara o es tudo destes projectos. A evidência empírica foi recolhida a

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partir da Personal Projects Analysis Methodology (IPPA), que prevê, comsucesso, o bem- estar emocio nal.Aliás, um dos principais objectivos da investigação deste autor temsido o de senvolvimento de um modelo de ecologia social, em que aanálise e a implemen tação do bem- estar humano é essencial. Segundoeste modelo, os indivíduos estão na inter secção de conjuntos deinfluências convergentes, emanando de sistemas biológicos,ambientais, sociais e culturais. Uma tarefa central e contínua é a dein tegrar, ou for mar um equilíbrio, entre estas fontes de influênciadíspares e, por vezes, conflituo sas. Uma das formas de o fazer éatravés da planificação e activação dos projectos pessoais. Elestambém reflectem os recursos especializados e as limi tações dos 'eco-contextos' (ecosettings ), em que o sujeito está envolvido. A análise dosprojectos pessoais representa uma perspectiva da personalidadeintrinseca mente interaccio nista. A Personal Projects Analysis oferece - nos uma perspectiva dos planos,inten ções (pursuits ) e paixões das pessoas, contextualmen te situadas.Dá- nos, também, uma visão interior da estrutura hierárquica dosprojectos e do seu impacto ecoló gico.Emmons (1989) considera que tanto os traços, como os motivos, têmsido objecto de uma reanálise criativa. Os traços são unidadesdescritivas e dão conta dos compor tamen tos habituais, enquanto osmotivos são invocados para explicar com portamentos direccionais.Muitos teóricos (especialmente os dos moti vos) têm argu mentado afavor da separação destes dois contructos. McClelland (1951, 1981,1985) tem mantido a posição de que os personologistas deviam pres -tar atenção a três tipos de variáveis: motivos ou necessidades,esquemas ou crenças e traços ou aptidões. Já que um dos objectivosda ciência da personalidade é distin guir as partes ou subsis temas ecompreendê - los no contexto do sistema inteiro, é impor tant ecompreender a relação entre os motivos e os traços. A abordagemesco lhida pelo autor consistiu em analisar um traço específico — onarcisismo. Como os motivos são avaliados atra vés do TAT, e, muitasvezes, como esta abordagem não dá conta da complexidade ediscriminação do impacto das motivações, na vida dos sujeitos,Emmons (1986, 1989) desenvolveu o conceito de Empenhamen toPessoal “personal striving ”, que define como sendo o tipo deobjectivos que uma pes soa, tipicamente ou caracteristicamen te,procura no seu compor tamen to do dia - a- dia. Podemos encará - loscomo uma repre sentação idiográfica dos principais moti vos e são umexemplo do “new look ” nas uni dades de análise de nível médio.A partir da investigação levada a cabo, ficou claro que existemrelações evidentes entre o traço do narcisismo e os seus temasmotivacionais, ou seja, que os objecti vos são centrais à maioria dostraços. A contribuição mais notável desta abordagem é a detransfor mar as estrutu ras - traço em acções, dando um largo passopara ultrapas sar a descrição da personalidade em direcção àquilo quea pessoa faz, porque os conceitos de objectivos são coerentes ediscrimina tivos, estáveis e flexí veis. Mas, interroga - se o autor, serãoas pessoas narcísicas, pelos objectivos que prosseguem, ou

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prosseguem estes objectivos por serem narcísicas?Esta, segundo Epstein (1990, p.167), é “mediatizada pelossentimen tos”.Os atributos condicionais são contextualizados (e.g. , falo, quandoestou nervoso).Na opinião de Caspi (1989, p. 89), a personalidade é uma forçaorganiza dora do compor tamen to humano. As suas funções incluem aselecção e a prossecu ção de objectivos ao longo de largos períodos detempo, assim como a redução de conflitos entre desejos e sançõespessoais. A reemergência desta temática, já refe rida por Murray, temorientado a investigação da psicologia da personalidade con tempo -rânea em direcção ao estudo do efeito das disposições pessoais nasescolhas e nos objectivos, nas relações familiares e sociais.A partir da relação entre os Big Five e estas unidades, emergiram osPAC10 (Little, 1989). PAC são as iniciais de Constructos de AcçãoPessoal (Personal Action Constructs ), sendo o nº 10 a quantidadehipotética de dimensões re sul tantes desta interacção

Tópicos a abordar:Unidades de nível médio.

Eus Possíveis (Possible Selves) Histórias Pessoais (Self - Stories ) Guiões Interpessoais (Interpersonal Scripts )Audiências Privadas (Private Au diences )

Tarefas, empenha me n tos e ProjectosProjectos pessoais (Little, 1983)Empenhamen tos / p r e te nsões pessoais (Emmons,

1986).

Bibliografia fundamental:

LEYENS, J.- P. (1985). Teorias da Personalidade na dinâmica social.

Lisboa. Verbo.

LITTLE, B. R. (1999a). Personality and motivation: Personal action and

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PERVIN, L.A.(1990), Handbook of personality: theory and research , N.Y., the Guilford Press.

Exercícios:Projecto de vidaHistória que nos definaMarcos de vida

2.2. O estudo da pessoa total: Self

“Vai até ao espelho e olha para ti. E observa o que o reflexo tem para te dizer.

Pois não é ao julgamento do teu pai, mãe, conjugue ou amigo que deves dar

atenção. A pessoa de cujo veredicto conta mais na tua vida é aquele que te está a

olhar reflectido no espelho.

Definido de forma geral o self é o componen te da nossa consciênciaque nos dá o sentido de existência própria. Mais especificamen te é asoma total de tudo o que referimos como nosso. Como um aspectocentral da nossa existência, o self abarca o nosso mundo subjectivo einterpessoal, é o que nos distingue e separa dos demais e o que dásentido e significado ao mundo. Embora a noção de self tenha sido importante ao longo da história daPsicologia e de outras ciências humanas só há cerca de 20 anos é quea investigação e a teoria começaram a responder à promessa deWilliam James que antevia o self como complexo e central nacompreensão do pensamen to, sentimento e comporta men to dosindivíduos. Estes avanços são notórios no aumen to da quantidade dereferências bibliográficas sobre esta temática e no aparecimento demodelos e métodos inovadores de estudo do self. Por exemplo, aabordagem narrativa providência um acesso directo ao self enquantofenómeno dialógico. A noção de história ou narrativa assume aexistência de uma pessoa que conta e de uma, imaginária ou não, queouve. O facto que um ouvinte, outra pessoa, está sempre presente ouimplícito, torna o self um fenómeno dialógico e relacional por

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excelência. Neste capítulo revêm- se e clarificam- se alguns tópicos emtorno do constructo self e sublinha - se a sua relevância nainvestigação contemporânea da psicologia da personalidade.Tem- se defendido que a missão da psicologia da personalidade seria ade fornecer ferramentas teóricas e metodológicas para integrar asdiferentes influências que afectam a vida dos indivíduos e contribuempara a sua variabilidade. A maioria da investigação na áreadesenvolve- se em sectores relativamente independen tes cada um coma sua tarefa integrativa. Por exemplo, como foi referido, as teorias dostraços têm vindo a desenvolver taxinomias. E as abordagens queestudam a personalidade através das narra tivas pontes com aliteratura, a política e a história. Mas às tentativas de integraçãohorizontal (propos tas, por exemplo, por McAdams) coloca- se aquestão de se existe uma integração vertical, de molde a abranger oespectro total das influências históricas, biológicas, teóricas ou outrasna personalidade. A resposta é sim, com o ressurgimento do conceitode self e da pessoa total. É possivelmente a este nível, no daconstrução de pontes, que se desenvolve a investigação maisinteressan te no domínio da Personalidade. Apesar do self ser privado é por essência relacional e múltiplo.Embora multipotenciais as pessoas reconhecem - se como entidadesintegradas. Esta multiplicidade permite o auto - desconhecimen to, bemcomo, a flexibilidade. Só o estático pode ser objectivado. Resulta daquique o auto - conhecimento não é só por si uma dimensão de saúdemental, a incerteza e indefinição do self, confere - lhe plasticidade eadaptabilidade. Daí que a auto - estima esteja relacionada com o Bemestar subjectivo.

Tópicos a abordar:Perspectivas teóricas:

Teoria cognitivo - so cial da personalidade de Bandura (1986). Teoria cognitivo - experiencial do eu de Epstein (1990)

Privado versus publicoSelf monadal; self social e self narrativoAuto- conhecimento e Conhecimento dos outros (Auto e hetero relato)Auto- Conceito e Auto- estima: como desenvolver?Bem estar subjectivo.

Coerência, enquanto cons tructo con dicional e temporal

Bibliografia fundamental:

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Jovanovich Publishers.HERMANS, H. J. M., Kempen, H. J. G. (1993), The Dialogical Self ,meaning as movement, Netherlands. Academic Press inc.KLEINKE, C. L. (1978), Self - perception – the psychology of personalAwareness , San Francisco, W. H. Freeman and Company.

2.3. VontadeA vontade foi um dos temas levantados pela Psicologia daPersonalidade nos seus primórdios e, possivelmente, continua aser dos menos compreendidos. Como enfatizou Pervin (1990) aquestão coloca- se em compreender ‘como é que alguém conseguesair da cama num dia frio’. A questão da força de vontade (will ouvolition ) levanta questões fundamen tais neste domínio, a saber,como é que a pessoa regula e integra diversos processoscognitivos e afectivos na prossecução de objectives a curto e amédio prazo?

Tópicos a abordar:Definição do conceito.Tendências de investigação no domínio.

Bibliografia fundamental:KUHL, J. BECKMANN J. (eds) (1994). Volition and Personality .Canada, Hogrefe & Huber Publishers.PERVIN, L.A.(1990), Handbook of personality: theory and research , N.Y., the

Guilford Press.

Carga horária da unidade II 13 aulas teóricas.3 aulas práticas.

3. Tendências inter e transdisciplinares

“A personalidade está - se a tornar, rapidame nte, um ob jecto deestudo interdisciplinar” (Sanford, 1992).

Para além da exploração de antigos temas e do ressurgimen to de no -vos cons tructos, a psicologia da personalidade contemporânea carac -te riza - se por se colocar na interface com outros domínios. Esta

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interacção e enri que cimento mútuo foi su blinhado por vários autores,ao destacarem as re lações entre a psicolo gia da personalidade, a ge-nética comport amen tal, a psicologia so cial, a psi copatologia, apsicoterapia e a se miótica. Segundo Pervin (1990, p.725), “para odomínio, é importan te e saudável que ao me nos alguns indivíduosestejam preparados para encarar seriamente a con tribuição deabordagens alternativas, tanto ao nível dos fenómenos a observarcomo dos conceitos a utilizar”.Neste subcapítulo, faremos uma breve referência a algumas destasáreas que, em virtude do seu intercâmbio com a psicologia dapersonali dade, benefi ciaram o estudo da mesma. Esta análise, emborabreve, é im por tante para en tender, poste riormente, o esforço que ospromoto res do modelo dos cinco facto res têm feito, no sentido decompreender e integrar conheci mentos de discipli nas, como agenética, a psicologia so cial, e a psi cologia do adulto. A transdisci -plinaridade parece ser assim um atributo de relevo do modelo doscinco factores que, embora tenha as suas raízes na psicolo gia daperso nalidade tradicional, reveste - se de enormes implicações em do -mínios contí guos.

No que diz respeito às relações entre a psicologia da personali dade e apsicologia social, a última década de investigação tem sido profí cua einova dora, no sentido da convergência entre estas duas áreas. O de -safio con siste, na perspectiva de Krahé (1992), em encontra r novosmode los teóricos e estratégias empíricas, que permitam este diálogo,já que am bos os domínios têm tentado compreender o mesmofenómeno, ou seja, a relação entre as disposições e o comport amen to.As avaliações críticas por parte de Mischel (1963) do conceito de traço(da psicologia da per sonali dade) e de Wicker (1969), no que concerneao conceito de ati tude (da psicologia so cial) re ferem - se ao mesmoproblema — a falta de evidên cia empírica para o postu lado daconsistência entre as disposições latentes (traços e atitudes) e ocompor tamen to observá vel. Na sequência destas crí ticas, a procura deuma nova e mais convin cente identidade e a defini ção de re lações e defrontei ras com os diferentes domínios científicos (espe cial mente coma psicologia so cial) têm mobilizado uma parte conside rável dosesforços dos investigadores. O tra balho de Higgins (1990, p.331) vaineste sentido, preconizando que as duas áreas, de perspecti vasdiferen tes, mas de forma convergente, trabalhem sobre o mesmofenómeno, para o que se ria necessá ria uma lingua gem comum.Segundo o autor, “sem uma lin gua gem comum, a psicologia social e dapersonalidade conti nuarão a ca racte ri zar o mundo social da expe -riência, com etiquetas distintas, como se exis tis s em subja centesfenómenos so ciais diferentes”. Por sua vez, Lewis (1990, p.297) tenta aaproximação das duas áreas, procurando “rein tro du zir a im por tânciadas cogni ções, no es tudo da vida social”.

Para além das relações com a psicologia social, a psicologia da per -sona lidade tem testemunha do o renascimento do interesse pelagenética do compor tamen to (Bertenthal, 1991). Todavia, segundo este

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autor, já não é sufi ciente a consciência de que os genes e o ambientecon tri buem pa ra o desen volvimento, sendo necessá rios modelos maiscom pre ensivos e específicos, para guiar a investigação. Algumastentati vas têm sido feitas nesta direcção, e novas técnicas têm sidopropostas. Plomin et al . (1990), por exemplo, propõem a utilização detécnicas como o model fitting , a aná lise multivariada e abordagensgenético - compor ta mentais à mudança (be ha vioral genetic approachesto change ).A psicologia evolucionista represen ta, também, um contributo cres -cente, tentando proporcionar uma explicação para as diferenças ge-néti cas e compor ta mentais. Para esta abordagem, um processo - chaveé a selec ção na tural, que explica a emergência das características daperso nalidade: a per manência de algumas des tas, tais como aextroversão ou a dominân cia, se ria explicada em fun ção do seu va loradaptat ivo, ou seja, da sua ins tru men tali dade para a sobrevi vência dosujeito ou repro dução da espécie. Referindo - se ao princípio da selec -ção natural, como o me canismo básico, subjacente à emergência dosatributos da personali dade, a psicolo gia evo lucionista é consideradapelos seus defenso res, como uma poderosa meta teo ria que dá àpsicologia da personalidade o grande enquadrame n to pro cu rado e quelhe tem faltado desde o seu iní cio. Segundo Krahé (1992), se existe hoje em dia um Zeitgeist na psico logiada personalidade é, sem dúvida, a aceitação dos modelos biológi cosso bre o fun ciona mento da mesma. Paralelamen te à esperança no es -tudo genético da perso nalidade, alguns autores, como Brim (in Lerner& Busch - - Rossnagel, 1981) advertem que não nos devemos esquecerque os “or ganis mos estão abertos à mu dança, são muito maismaleáveis do que até agora se pensava e que as conse quências dasexperiên cias precoces e da do tação genética são transformadas pelaexperiência”. O livro — “Indi víduos enquanto produ tores do seudesenvol vimento” (“Individuals as produ cers of their development ”) —

editado por Lerner e Busch - Rossnagel (1981), realça a utilidade deencarar o indivíduo como agente activo do seu próprio de sen volvi -mento, e Riegel, com o seu modelo dialéctico, cuja ideia - chave são asmudanças interrelacio - nadas 11, defende que “actuando na mudançadas fontes do seu pró prio de senvolvimento, sendo produtores eprodu tos dos seus contextos, os indiví duos afectam esse mesmodesenvolvi mento” (Lerner & Busch - Rossnagel, 1981, p. 3).Concomitantemen te, e relacionada com a perspectiva construti vista,aca bada de referir, a posição da psicologia do adulto , no que toca àne cessidade de estudar o desenvolvimento da personalidade, em fasesdo trans curso exis tencial para além da adolescência, iniciou o entre -cruza mento desta disciplina com o do mínio da personalidade.Efectivamente, a reformulação dos conceitos, metodolo gias eestratégias, que temos presen ciado, no estudo da personalidade,

11 As diferenças individuais interagem com as exigências situacionais de nu merosasformas. A influência de factores disposicionais sob o compor tamento é muito pronunciadaem contextos não estruturados — quando os sujeitos são força dos a confiar, essencialmente,nos seus traços internos, para guiar o seu comporta mento — e em contextos em que énecessário o controlo e a negociação de novas exigências e tarefas.

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nestes últi mos anos, tem sido possível pelo diálogo interdisciplinar,para o qual muito tem contribuído a perspec tiva do ciclo de vida e ada psicologia do adulto, que pugna por impor o paradigma contex -tual - dialéctico 12. As lin guagens têm, aliás, vindo a apro ximar - se, peloque a afirmação de Pervin (1990, p. 726), sobre a espe cificidade dapersonalidade, enquadra - se perfeitamen te nas tendências de es tudoda psicologia do adulto: “o que é distintivo da personali dade é a foca -lização no sis tema pes soal, en volvendo a inter - relação entre aconsistên cia e a diversidade, a es ta bili dade e a mudança, a integraçãoe o con flito, as sim como o estudo das pes soas numa variedade decontextos e ao longo de um período de tempo sufi cientemen te longo,de forma a emergirem pa drões, no seu mundo de pen samen tos esentimen tos privados e nos seus compor ta mentos públicos” 13.

Estas diferentes abordagens ilustram que o domínio está a expan dira sua pesquisa, “tornando - se rapidamen te objecto de estudo interdis -cipli nar” (Sanford, 1992, p.490). A psicologia cognitiva, a genéticacom por tamen tal, a teoria evolu tiva, o desenvolvimento coextensivo àdura ção da vida e a análise socio - estrutural parecem ter trazido novasdirec ções ao domínio da personali dade. A psicologia da personalidadedeve ria, a nosso ver (e exis tem fortes indí cios a este respeito), inte grartodos estes contribu tos, na ten ta tiva de proporcio nar uma visãounitária e ho lística da reali dade que es tuda. Como veremos, o modelodos cinco facto res tam bém am biciona manter o diálogo com diversasdisciplinas.

Tópicos a abordar:Esfor ços e tendências inter e transdisciplinares observadas nodomínio da psicologia da personalidade.Interacções entre a psicologia da personalidade e a:

Psicologia social Psicologia clínica e psicopatologiaPsicologia genética Psicologia evolutionis ta Psicologia do desenvolvimento coextensivo à dura ção da

12 No decurso da sua história, o conhecimento sobre o desenvolvimento psi co lógicotem avançado, com base em investigações derivadas dos paradigmas or ganís mico oumecanicista. Alternativamente, o paradigma contextual - dialéctico as sume uma mudançaconstante a todos os níveis, assim como uma inter - relação en tre eles. Consequentemen te, “osaspectos - chave da conceptualização do desenvol vimento, derivados de um paradigmacontextual, são a plasticidade, a natureza so cial do de senvolvimento humano e o papel dosindivíduos, enquanto produtores do seu de senvolvimento” (Lerner & Busch- Rossnagel, 1981,p. 25).

13 “What is distinctive about personality is the focus on the person system, therebyinvolving the interplay between consistency and diversity, stability and change, and integra tionand conflict, as well as the study of people in a variety of contexts and over a long enough timeperiod for patterns to emerge, in their private world of thought and feeling as well as in theirpublic behaviors ”.

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vidaPsicologia cognitiva

Bibliografia fundamental:PERVIN, L.A.(1990), Handbook of personality: theory and research , N.Y., the

Guilford Press.

4. Eclectismo e pluralismo metodológico

“Poucos são os ho mens de uma cor bem distinta e deter minada, pelo contrário, a

maioria são mestiços, de cores carregadas ou variegadas e diferem tanto em

função das situações, como seda co locada sob diferentes luzes”. Chestfield

(1952)

A psicologia da personalidade actual, para além da sua interface in -terdis ciplinar, envolve um crescente pluralismo conceptual e metodo -lógico. Efectivamente, se se aceita que a explicação e predição do com -portamento dos indivíduos põe em jogo múltiplos determinan tes, éclaro que nenhuma metodo logia singular ou cons tructo específicoserá bem sucedido na conse cu ção deste objectivo. Assim é que oslimites da psico logia da personali dade tradicional es tão a serexpandidos, de modo a incluir uma amplitude maior de conceitos emétodos, o que acarreta, como vimos, a abertura a contac tos comoutras áreas. O modelo dos cinco factores espelha também estatendên cia da psico logia da personalidade contemporânea — o plura -lismo metodológico.

Na perspectiva de Palenzuela e Barros (1993), os avanços na ava liaçãoda personalidade apresen tam duas formas: a procura de novas técni -cas de ava lia ção, como consequência de avanços conceptuais, e oaprofun da mento das técnicas já existentes.Em relação a este último aspecto, a definição da personalidade deAllport (1937) sublinhava, já no início do século, a organização dostra ços in tra - indivi duais e a abordagem idiográfica. Os defensores dostra ços re corre ram à análise normativa da personalidade, que valorizaos princípios meto dológicos objecti vos, avançando estratégias paramelho rar a fideli dade e va lidade das medições, enquanto os situa -cionistas lançaram mão da análise idiográ fica. Muito embora, duran temuitos anos, a abordagem no motética tenha sido dominan te,recentemen te, um número crescente de inves ti gadores encara acompreensão da individuali dade, como um aspecto cen tral dapsicologia da personalidade. Esta mudança de foco, de uma pers -pectiva cen trada nas va riáveis, para outra centrada no su jeito, requeruma abordagem metodo lógica fundame ntalmente di ferente, por que se

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ba seia no reconhecimento das ne ces sidades de uma análise dasformas únicas de expressão das pessoas, desde as res pos tas triviaisaos planos de vida a longo prazo 14. Por outro lado, têm - se, tam bém,tentado incorpora r as si tua ções 15 e as representações cogni tivas noestudo da per sonalidade. O desafio consiste, então, em elabora r novos métodos de investi gação,que tratem do sujeito individual, como a unidade primária de in vesti -gação, sem sacrifi car o rigor metodológico e o acumular de conhe -cimentos gerais sobre os princípios de funcionamento dapersonalidade. Das muitas impli cações deste crescente inte resse pelaindividualidade, salientam - se as modi ficações das rela ções entre oinves tigador e os sujei tos, no processo de inves tigação.Tradicionalmente, havia uma di visão clara sobre os diferentes pa péis,no pro cesso de investigação empírica. O investigador formulava hi pó -teses, traduzi - as em definições operacionais e seleccio nava osinstrume n tos apropriados. O pa pel do sujeito era o de fornecer osdados. Numa perspec tiva idiográfica, esta divisão não é apropriada,nem frutuosa, por que faz pouco uso da competência do su jeito, como'especialista' da sua própria per so nalidade. Alguns investi gadores têmmesmo apelado, explici tamente, para os sujei tos terem um papel maisac tivo, no processo de investigação da per sonalidade 16 (Hermans, 1991;Hermann & Bonarius, 1991; Krahé, 1990; Mischel, 1984B; Zevon &Tellegen, 1982). Sem dúvida que a metodologia do estudo da personalidade se en ri -queceu pela aceitação dos métodos idiográficos de pesquisa. Hoje, oplura lismo meto doló gico é um aspecto - chave do estado dainvestigação da per so nalidade, mas não é, só por si, uma garantia deprogresso. Para que esta diver sidade seja avanço, é necessário que osdiferentes métodos se jam inte grados num contexto coerente, deforma a completarem - se, em vez de com petirem ou, simplesmente,co- existi rem. É preciso que o do mínio, dei xe de consistir em diversassub - disciplinas, para se tornar uma disci plina cien tífica unifi cada. Porconseguinte o desafio consiste em arranjar novos métodos deinvestigação que tratem de sujeitos individuais como unidadeprimeira da investigação sem sacrificar o rigor metodológico e oacumular de conhecimen tos gerais sobre os princípios do

14 Os estudos longitudinais fazem parte destas ‘direcções re - emergentes’ (re-emerging ) que tentam estudar /explorar a personalidade, através do caminho mais longo(“exploring personality the long way ”; White, 1981; referido por Caspi 1989). Ora, existemdados empíricos, a favor da persistência de traços específicos (McCrae & Costa, 1984). Muitoespecialmente nas característ icas temperamentais, cuja ba se biológica tem sido assumida ecrescentemente confirmada. A extroversão é um exemplo. Todavia, se gundo Caspi (1989),para levar a cabo a análise da personali dade, ao longo do curso da vida, é necessário ter emconta uma perspectiva socio lógica, que enfatiza o signifi cado social da idade (a ordenação dastransições de vida, os papéis relacionados com a idade, as expecta tivas, as sanções e asopções).

15 Pensamos, muitas vezes, se a população de sujeitos é adequada para umadeterminada investigação, mas não na adequação da amostra de situações.

16 A perspectiva socio- constru tivista defende que tratar o sujeito, enquanto co-investigador, institucionaliza a construção social da personalidade, como um pro cessocomunicacional entre psicólogo e sujeito.

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funcionamen to da personalidade.

Tópicos a abordar:Esta matéria será aprofundada na disciplina de Avaliação

da Personalidade.

Bibliografia fundamental:PERVIN, L.A.(1990), Handbook of personality: theory and research , N.Y., the

Guilford Press.

5. A personalidade e o paradigma epistemológico emergente

“Uma personalidade estável é necessária para de senvol ver o sentido da

identidade, mas o potencial para o crescimento é o distintivo da humanidade”

(“A stable perso nality is necessary to develop a sense of identity, but the potential

for growth is the hallmark of huma nity ”; Wrightsman, 1988, p. 150)“.

A expressão ‘ansiedade epistemológica’, utilizada por Lévi Strauss, é,sem dúvida, aquela que melhor se aplica, para caracteriza r a nossareac ção, face ao com plexo domínio da psicologia da personalidade:episte mológica, porque é uma área que nos remete e nos faz reflectirsobre os próprios fun damentos e limites do co nhecimen to científico,assim como sobre os para digmas subjacentes à ciência psico lógica e àinvestigação em torno da per so nalidade; ansiedade, porque, aparente -mente, parece ser um domínio onde o caos, aliado à complexi dade emultiplici dade, assentou arraiais, du rante es tas últimas décadas.Sem dúvida que o próprio objecto da psicologia, e muito particu lar -mente da psicologia da personalidade, pela sua própria essência, é umam biente pro pício para o questioname nto e as reflexões epistemo -lógicas. Não aprofunda ndo muito esta temática fascinante, que ultra -passa largamente o escopo da nossa in vestigação, gostaríamos, deforma breve e introdu tória, de reflectir sobre o conhecimento cien -tífico, tal como o concebemos na ac tuali dade, e sobre as suasimplicações para a compreensão e estudo da per sona lidade. A finalidade deste subcapítulo é, portanto, analisar os fundamen tosepiste mológicos das transformações ocorridas nesta década, ao níveldo es tudo da perso nalidade. Na nossa perspectiva, as transformaçõese tendên cias de es tudo, na área da psicologia da personalidade, sãore flexo, e estão profunda mente interligadas, ao paradigmaepistemológico emergente. Consequentemen te, para melhor situar omodelo dos cinco factores e re flec tir sobre a sua utilidade epertinência, em termos meta teóricos, julga mos opor tuno aflorar

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algumas questões epistemológicas.

Foi Baars (1986) que se referiu à evolução da psicologia científica, quepassou da primeira metateoria, o introspeccionismo (assente no mo -delo men ta lista) ao behaviorismo (baseado no modelo mecanicista) àter ceira meta teoria — a psicologia cognitiva — desencadeada pelarevolu ção cognitivista, nos anos 60. Estas metateorias esta riam subja -centes às dife rentes teo rias e concepções sobre a personali dade. Embora a evolução da psicologia científica, na análise de Baars (1986),tenha na revolução cognitivista a sua etapa mais recente, parece queoutras influên cias episte mo lógicas têm vindo, desde então, a enrique -cer a Psicologia (salvaguarde - se que a análise de Baars se rest ringiu àPsicologia, en quanto a generalidade dos outros autores consultados aes tenderam às Ciências Humanas ou à Ciência em geral). Refiro - me,mais especifi camente, ao ad vento da epis temologia expe riencial e àsabor dagens qualitati vas, referidas por au to res como Reason (1994). Estas, têm vindo a ga nhar ter reno no es tudo das Ciências Hu manas,não no sentido de se subs tituírem às quanti ta tivas, mas de as com -plemen tarem. Monteiro (1995) afirma, a propósito do diá logo entre aciência e a arte, que “a arte teve um con tributo fundamen tal para essarevisão” (p.106) da ciência, na medida em que, no domínio da arte, ofacto do não ra cional ser predo minante contribuiu para o ac tualquestionamen to da ac tividade cientí fica. Esta confluência de aceitaçãode saberes (das aborda gens quanti ta tivas e qualitativas) está bempatente nas investigações mais actuais so bre a personalidade e fazparte das previsões sobre como será a metodo logia da investigação daperso nalidade no dobrar do sé culo. Efectivamente, a presunção de queestaríamos a apro ximar - nos de uma in tegração metodoló gica eteórica, no domínio da Psicologia, está bem pa tente na investigaçãosobre a personalidade (aquilo que designámos, no subcapítulopreceden te, por tendências interdisciplinares e pluralismo me todoló -gico). A este nível, por exemplo, é visível a confluência, e mesmo o en -trecruzamen to de áreas como a psicologia social, com a psico logia daper sonalidade, e de teorias, como a psicanálise, com o condicio -namen to ope rante. Parece, contudo, im portante salvaguardar que, em -bora seja notó ria a confluência e organização de saberes, ao nível dapsi cologia da perso nali dade, não nos devemos es quecer, como re fereMon teiro (1995, p.116), que “não há nem uma teoria nem um mitonem um poema nem um qua dro que tornem dispensáveis to das asoutras teorias, mitos, poemas ou quadros. Não existe um campo en -globante, uma síntese mais total, que possa dizer a verdade sobre osoutros, por que existe sempre o outro campo, o do mito, o da tragédia,o do quadro, o da canção, o da sociologia, onde pode ser construídooutro discurso que tentará a sua verdade, a sua totalidade parcial”.

A referência a este novo paradigma científico, que se desenha nohori zonte, tem sido acentuado por muitos autores, através de síntesesmúl ti plas. Santos (1987), por exemplo, apresen ta o novo paradigmaemer gente, através de um conjunto de teses. Estas são especulações

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fun dadas nos sinais da crise do para digma actual, e traduzem - se naspro posições de que todo o conhecimento científico - natural écientífico - social , é local e total , é auto - co nhecimento e visa cons -tituir - se em senso co mum . Vere mos, seguida mente, que, pelo menosas três pri meiras asser ções já se en con tram patentes (nem que seja nodomínio das intenções e das hipóte ses) nas mais moder nas tendênciasde estudo da personali dade, e a úl tima, pensamos que sem pre estevepresente no estudo da mesma. A primeira tese, ao defender que todo o conhecimen to é, também, so -cial in troduz “conceitos de historicidade e de processo, de liberdade,de auto - de termina ção” (Santos, 1987, p. 37). Conceitos esses, queantes esta vam reservados ao humano e que remetem para oreconhecimen to, na perspectiva de Bateson, de que se começa aadmitir ‘uma dimensão psí quica na natureza’ — que toda a natureza éhumana. Santos (1987, pp.44 - 45), a este propósito, propõe que sedescubram “conceitos quentes que derretam as fronteiras em que aciência moderna dividiu e encerrou a realidade”. O mundo, continua omesmo autor, “que hoje é natural ou so cial, amanhã será ambos”.Estas são, na nossa perspectiva, também carac terísticas das unida desda per sonalidade emergentes, que realçam a acção, a volição, oprocesso e dão muita importância à temporalidade, às histórias devida e aos relatos biográficos. Por outro lado, as teo rias cognitivo - so -ciais, já re fe ridas, defen dem que todo o conhecimento só pode sercompre endido, tendo em conta variáveis contextuais (e.g. ,situacionais, sociais, re lacio nais) e cognitivas (e.g ., atribucionais). Emrela ção a estas variáveis, Abreu (1982, pp. 340- 341) re fere que “assituações não ac tuam inde pen dente mente do sujeito: a históriapessoal ou subjectiva , que é sempre história inter subjectiva , é tambémconsti tuída pela significação ou sentido que o sujeito atribuiu atravésdos processos de elaboração simbólica às contingências ou condiçõesda sua existência re lacional in tersubjectiva”.A segunda tese estabelece que, muito embora o conhecimento tenda aser to tal, no sentido de ser, por um lado, global e abrangente, e, porou tro, transdisciplinar (porque ultrapassa as frontei ras das dife rentesdisci plinas), é, também, local, porque diz respeito “a temas que emdado mo mento são adoptados por grupos sociais concre tos” (Santos,1987, p.47). Esta tese encon tra - se espelhada na psicologia da per -sonalidade, que, como vimos no subcapítulo precedente, tende asublinhar a transdis ciplinaridade e a contextua lização.A afirmação — todo o conhecimento científico é auto - conheci mento —

pre sente na terceira tese, implica o reconhecimen to das limitações dadicotomia sujeito /objecto (‘o sujeito regressa nas vestes do objecto’) epres supõe que “a ciência não desco bre, cria, e o acto criativoprotagonizado por cada cientista e pela comu nidade cientí fica no seuconjunto tem de se conhecer intimamente antes que conheça o quecom ele se conhece do real“, ou seja, “os pressupos tos metafísicos, ossiste mas de crenças, os juí zos de valor ... são parte in tegrante dessamesma expli cação” (Santos, 1987, p.52). No início deste capítulo, real -çámos este as pecto, ao defen dermos que a ‘lente’, utilizada na análiseda perso nali dade, ampliava ou diminuía a importância e, quiçá , ditava

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a existência de determinadas variá veis. As aná lises mais re centes(anos 90), que ten tam explicar as diferentes teorias da per sonalidade,de forma mais com preensiva (McAdams, Costa e McCrae), têm esta‘consciência’: nas pala vras de Santos (1987, p.53), “no paradigmaemergente, o ca rácter auto biográfico e autoreferenciável da ciência éple namente assu mido” e, neste sentido, aproxima - se da criação li-terária e artística. Por outro lado, com o advento das metodologiasqua lita tivas, tem - se vindo a aceitar a implicação no processo deinvestigação do cientista, com o seu conjunto de valores, crenças, epré - concepções.A quarta tese diz que “a ciência pós - moderna, ao sensocomunizar - se,não despreza o conhecimen to que produz tecnologia, mas entendeque, tal como o conhecimento se deve traduzir emauto - conhecimento, o desenvol vimento tec noló gico deve traduzir - seem sabedoria de vida” (Santos, 1987, p.57) — “assim ressub jectivado, oconhecimen to científico ensina a viver e traduz - se num saber prático”(Santos, 1987, p.55). Esta tese contrapõe - se à concepção de Bachelard(1972, p.14) que afirma que “a ciência se opõe absolutamente àopinião”, que se contrói contra o senso comum. Porém, esta rupturaepistemiológica é mais professada do que realizada, sobretudo nasciências humanas em que o cientista sucumbe facilmente ao ‘espontâ -neo’. Nesta concepção, o senso comum (Santos, 1993) é então con -cebido como uma forma de conhecimen to, dotada de uma racionali -da de mais am pla, mais prudente e democrá tica, assente na superaçãoda di cotomia su jeito /objecto e na aplicação construtiva doconhecimen to cien tífico. Ora, a psicologia da per sonalidade anda demãos dadas com a inter venção clínica. Basta lembrar que algumas dasprin cipais teorias da per so nalidade nasce ram da prática clínica e quemesmo teorias, como a dos tra ços, sempre tive ram gran desrepercussões nas intervenções tera pêu ti cas, se mais não fosse, porquees tavam na base dos diagnósticos efec tua dos. Por outro lado, mui tosautores (e.g. , Hayslip & Panek,1989) têm chamado a atenção para aimpor tância das teorias da personalidade para a optimiza ção daspoten cia lidades existen ciais, encarando, assim a per sona lidade comomais um veículo de bem - estar, realização e cresci mento.Noutra perspectiva, podemos defender que a personalidade e mesmoa Psicologia, sempre estiveram entrelaçadas, para o bem ou para omal, com o senso comum, como tes temu nha Piaget (1967, p.24), aoafirmar que a psicologia terá sempre o “triste privilé gio de tratar dematérias de que todos se jul gam competen tes”. Aliás, algumas dascríticas ao estudo da personali dade, através dos traços, tradu zem - seno facto da linguagem, por estes utilizada, não apre sentar o distan -ciamento e a tecnicidade do dis curso científico positivista, já que aciência implicaria a neces sidade, se gundo Nunes (1972, p.30; referidoem Santos, 1993, p. 34), “de inventar um novo ‘código’”. Ressalta, porconseguinte, a necessidade de atribuirmos valor e sentido àproximidade da psicologia com o senso comum, em vez dedescartar mos este azimute.

Uma das temáticas mais polémicas sobre o conhecimento é a ques tão

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da nossa capacidade de compreensão da realidade. Sagan (1987, p.32)comenta esta questão, afirmando que “os seres humanos estão, com -preensi velmente, muito mo tivados para a descoberta de regularida des,de leis natu rais ...”. Contudo, sabemos hoje que “a ciência é mais ummodo de pensar do que um conjunto de conheci mentos” (Sagan, 1987,p.29). Como quer que seja, o conhe cimento, e o método científico, emparticular, as sentam na re dução da comple xidade, ou seja, paracompreender a com plexidade do mundo a mente humana, tem de osimplificar. Conhecer significa, neste sen tido, dividir e classificar, paradepois poder determinar relações sistemáticas entre o que se separou.A abstracção é a característica crucial deste conhecimento, já que, comvista a compara r e classificar a imensa variedade de formas, estru -turas e fenó menos que nos rodeiam, não podemos tomar todas assuas caracte rísticas em conta, limitando - nos a selec cionar as maissignificativas. Assim, construí mos um mapa in telectual da reali dade,onde as coisas são redu zidas aos seus aspectos mais salientes. Oconhe cimento racional é, portanto, um sistema de conceitos abst rac -tos e simbólicos, ca racterizado pela estru tura sequencial, linear,típica, da nossa maneira de pensar e dizer. Ora, o mundo é infinitamen te complexo e variado, onde não exis temlinhas rectas ou formas completamen te regulares, moldadas pelasnossas ca tego rias men tais, onde as coisas não acontecem sequencial -mente, como te mos ten dência a con cebê - las. É óbvio que com estepen samento con cep tual não po demos descrever completamente arealidade. Esta, e muito em parti cular a per sonalidade, seria, naspalavras de Correia (1989), uma “coisa inde finível e im possível deagarrar e no mear”. Pretendê - lo significa ria, ainda se gundo a mesmaautora, “a completa para nóia classificativa das pessoas, re sultante datão falada falta de contornos. As pes soas têm uma histeria taxi -nómica . Nada existe dentro de qualquer espécie de classifica ção, nemmesmo nas disciplinas científicas onde se pensa que a classifica ção éum dado adquirido”. Na perspectiva de Abreu (1982, p.333) "os‘factos’ cien tífi cos não constituem uma imposição do real; elesresul tam, antes, de um tra balho de organi zação ou de estruturaçãocognitiva de diversos ‘índices’ a que a activi dade da razão procura darsentido ou inteligi bilidade. É nesta medida que se afirma que o facto éfeito ou cons truído, um ’construc to’ que a ra zão elabora, na tentativade dar inteligibili dade ao que nos aparece na experiência. É nestehorizonte constru ti vista que se deve entender a conhe cida afirmaçãode Goethe segundo a qual ‘todo o fac to é já teoria’”. De igual modo asteorias 17 são um conjunto de abstrac ções, que não são dadas oupredeterminadas pela natureza. Elas não são verdadeiras nem fal sas,mas apenas úteis ou não. Para Hall e Lindsey (1984), e de acordo com

17 Para Hall e Lindsey (1984) uma teoria da personalidade deve conter um conjunto dehipóteses e postulados, assim como definições empíricas, relevantes para o comportamentohumano e relativamente abrangentes. Deve, também, ser capaz de fazer predições e lidar comtodo e qualquer fenómeno, que tenha signifi cado para o indivíduo. Todavia, este ideal formal,do que deveria ser uma teoria da personali dade, está muito longe da realidade, visto que amaioria das teorias, até ao presente, são muito pouco claras, confundindo o proposto com ojá estabelecido empirica mente.

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a perspec tiva de Kuhn (1962), não podemos falar de um paradigmadominante na área da psicologia da personalidade: esta mos numa fasepré - paradigmática, ca bendo à investigação futura o desen volvimentode uma posição sistemá tica, que possa or denar todo, ou quase todo, ocampo. Efectivamente, ao pensar o mundo, somos confrontados com o mes motipo de problema, com o qual o cartógrafo se depara, ao tentar cobrira face curva da terra com uma sequência de mapas planos. Só po de -mos espe rar deste procedi mento uma representação aproximada dareali dade, pois todo o conhe cimento ra cional é necessariamen te limi -tado. Como diz Werner Heisenberg (citado em Capra, 1989, p.30),“todas as palavras e conceitos, por mais claros que possam pa recer,têm apenas um campo de aplicação limi tado”. É, contudo, difícilestarmos sempre cons cientes das limitações e da re latividade doconhe cimento concep tual, visto não alcan çarmos senão umarepresen tação da reali dade, o que é outra coisa bem di ferente daprópria rea lidade, apesar da nossa ten dência a con fundir as duas. Naspalavras lapida res de Alfred Korzybski “o mapa não é o territó rio”. Nomesmo sentido, embora numa perspec tiva mais explici ta mentepsicológica, Merleau - Ponty (1945, p. 409) afir mou que “o com por -tamento de outrem não é o outro” (“le com portement d’autrui n’est pasau trui ”) — frase esta que nos remete, por um lado, para a nãosobreposição das leituras da realidade, por outro, para a comple -xidade feno menológica do ob jecto / su jei to em jogo.Muitas posições teóricas e epistemológicas têm- nos prevenido con traa ilu são de estudar as partes, descontextualizadas do todo tentandoultra passar a ideia de que o diverso é oposto ao uni verso.Efectivamente, posso ter um objecto, pesá - lo e medi - lo, sem dei xar deo per ceber como um todo e sem o reduzir a essas sub divisões. Napresença de um su jeito hu mano, qualquer avaliação mais específica(e.g. , das capacidades mnési cas) deve ser sempre relacionada com, econtextuali zada em função da totali dade rela cional desse mesmosujeito. Um dos grandes avanços da psi cologia da per sonalidade daac tualidade parece ser a possibilidade de inte grar as taxino mias nospro cessos, por outras palavras, de aquelas não terem que ser ne cessa -ria mente redutoras, limitati vas e incompatíveis com uma perspectivamais dinâmica e abrangente da persona lidade.Capra (1989, p.26) é da opinião que a “filosofia de Descartes teve umaenorme influência na maneira ocidental de pensa r, tendo a famosaafirma ção carte siana — ‘Penso, logo existo’ — levado à separação damente e do corpo. Consequência da divisão cartesiana, o indivíduotem sido, cada vez mais, cin dido num grande número decompart imentos sepa rados, de acordo com as suas activi dades,talentos, sentimentos, e crenças". Mas, esta frag mentação, espe lhada avários níveis, na nossa sociedade, nomeadamen te, no paradigmameca nicista, apli cado à ciência psicológica foi, simultanea men te,benéfica e maléfica. Foi extrema mente bem sucedida nodesenvolvimento da física clássica e da tec nologia, mas teve conse -quên cias adversas para a nossa civilização. Só, recente mente, a ciênciaul trapas sou esta fragmentação e re gressou à ideia de unidade,

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expressa nas primei ras filosofias grega e orien tal.Ainda, segundo Capra (1989), quanto mais fundo penetra rmos nomundo submicroscópico, mais compreenderemos como o físico mo -derno, à semelhança do místico oriental, chegou à visão do mundocomo um sis tema de componen tes inseparáveis, interactuantes econtinua mente moventes, com o observador como parte integrantedo mesmo . Na Física moderna, o universo é visto como um tododinâmico e insepa rável que inclui sempre o observador como suacompo nente essencial. Foi pre ciso um Einstein para que os filósofos ecientistas se aper cebes sem de que a geometria, e todos os conceitos,não são inerentes à natu reza, mas lhe são impos tos pela nossa mente,para compreender mos os fenómenos. Nas pa lavras de Einstein e Infeld(1982, pp. 34- 35), “os conceitos da física são cria ções livres do espí -rito humano e não são uni camente determina dos pelo mundo ex -terior”. Guidano (1995, p.94) re fere que “a nossa ordena ção do mundoé insepará vel da nossa expe rienciação desse mundo. Nós, experien -ciamo - lo, ou mais cor rec tamente, ‘experienciamos’”. Nas CiênciasHumanas, ao analisarem - se comparati vamente os paradigmasqualitativos e quantitativos da investiga ção científica en contramospontos de contacto com o atrás referido. A este propósito Vieira(1994, p. 24) escreve: “Porém, Marcel Mauss, ao propor, na década de20, o conceito de ‘fenó me no social total’, dava realce à mul tidi men -sionalidade do compor tamento hu mano e dos fenómenos so ciais, nãopodendo a sua compreen são ser desli gada das situações em queocorrem, encaradas como uma tota lidade. (..) Todas as dis ciplinassociais devem es tar conscientes de que não há princí pios ouproprieda des substant ivas (referidas directa ou in directa mente aoreal) universais, de que não há ‘natureza humana’ indepen dente davarie dade de contex tos reais. (..) Os fe nóme nos humanos, de formaoposta aos naturais, têm um carácter relativo, não abso luto, pelo quenão po dem ser totalmente explicados por leis univer sais — há que terem conta os contex tos histó ricos e sociais em que decor rem”. Deacordo com Putnam (1981) não existe “o ponto de vista de Deus”(“God’s eye point of view ”).Neste contexto, convém relembrar o que foi dito na última secção so -bre as novas tendências da psicologia da personalidade, que realçamas premissas atrás re feridas, a saber, a interacção e o entrecuzamen todos di fe rentes concei tos, a acção e o dinamismo dos sistemaspersono lógicos e os métodos que en globam o observa dor 18, como parteinte grante. Extra po lan do para o domínio da personalidade, pa receimpor tante reter algumas im pli ca ções desta perspectiva. Em primeirolugar, e em contra ponto com uma men talidade restritivamentecontabilizador a e categori zante, temos de optar por uma abordagemintrinse camente di nâmica, em que o tempo e a mudança 19 são

18 Guidano (1995, p.93) considera que a tarefa da abordagem constru tivista é a decompreender como as pessoas, enquanto observadoras, estão envolvidas no pro cesso deobservação, “da mesma forma que as pessoas participam na ‘co- cria ção’ das realidadespessoais e dinâmicas às quais respondem” (“as well as how people otherwise participate incocreating the dynamic personal realities to which they individually respond” ).

19 A física moderna, assim como o misticismo oriental, não vê a matéria como passiva

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características essenciais e todos os fenó menos estão conec tados,interli gados, inter - relacionados, inter dependen tes, não podendo seren tendidos como entidades isoladas, mas apenas como partesintegran tes de um todo. Efectivamen te, a divi são da realidade, em borarequisito ne cessário para com ela lidar, não é característica dessamesma realidade. Por outro lado, devemos tentar encontrar a realidade, não em ter mosde substâncias isoladas, mas de relação. Neste sentido, afirma Capra(1989, p.234) que “ ...as teorias da física atómica e subatómica tor -naram cada vez menos pro vável a existência de partículaselementares. Elas vieram revelar uma intercone xão bá sica da matéria,mostrando que a energia do movi mento se pode trans formar emmassa, e sugerindo que partículas são pro cessos, em vez de objectos.Todos estes desenvolvi mentos indicam, clara mente, que a imagemmecanicista de blocos de construção básica da matéria tem de serabandonada... A tradição mile nar de expli car estruturas comple xas,através do seu parcelamento em constituintes mais sim ples, está pro -fundamen te enraizada no pensa mento ocidental que ainda prosse guea indagação de tais elementos.”Para alguns, como Santos (1987), o corresponden te a esta parciali -zação do conhecimento, ao nível da ciência psicológica, é a utilizaçãoprivi legiada de ins trumen tos facilmente manuseáveis, como sejam ostestes que, nas pa lavras da quele autor, “reduziram a riqueza daperso nalidade às exigências funcionais de institui çõesunidimensionais” (p.47). E, em sinto nia com ele, Magnusson (1990) dizque a fragmen tação é um impedi men to ao progresso neste domínio,en quanto Stern, preo cupado com a unidade do compor ta mento,defendia que a sua parcelização não tem sen tido.Muito embora a compreensão das inter - relações entre todos os fenó -me nos psicológicos, sociais, culturais, biológicos seja obviamente di -fícil, os esforços da ciência psicológica deverão orientar - se, nestesentido. A visão fragmentária é, tam bém, por vezes útil para adescrição daquele tipo de fenómenos, que en contramos no nossoquotidiano, com a salva guarda de não nos esquecer mos de,recorrente mente, os recontextuali zarmos. A ques tão é, porconseguinte, compli cada, porque queremos ser holistas e contex tuais,ou seja, ter uma perspectiva global 20 21 e plu ridis ciplinar, por um lado,e, por outro, valorizar o específico, o individual. Contudo, nesta apa -rente contradi ção, estão duas vias diferentes que ao fecharem ocírculo, se completam. O facto é que, compreender e explicar osfenómenos na sua totalidade, o objec tivo maior da ciência, é difícil deconcreti zar. Na genera lidade, tal como um maestro, que primeiroensaia as diferentes partes de uma sinfonia, an tes de os músicos aexecutarem, os investi gadores anali sam primeiro os fenómenosparciais e, só depois, os tentam integrar num conjunto mais vasto de

e inerte. O mundo deve ser observado, de um ponto de vista dinâ mico, por que a mudança e atransformação são aspectos fundamentais da natu reza.

20 Mas, com a consciência de que mesmo as leis gerais têm uma generali dade semprerelativa (porque, os fenómenos, embora totais, são sempre locais e contex tuais).

21 Tenta- se, também, evitar os reducionismos (porque os fenómenos são com plexos).

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conheci mentos. Seria, por conse guinte, uma leviandade os psicólo gospensa rem que podem compreender o compor ta mento, no sentidogeral, ou toda a dinâmica interactiva complexa da per sona lidade, emsituação. Contudo, o nosso pressu posto, sempre que estu damos umfenómeno especí fico, deve ser de o compreender nas suas múl tiplasintercone xões.

Desta breve reflexão, podemos concluir que as novas abor da gens(tendências) ao estudo da personalidade se inserem nos novosparadig mas de pen sar a ciência. Muito em especial, salientamos atentativa dos defen so res das taxi nomias e dos traços para as integrarnuma concepção mais dinâ mica, sem dúvida mais complexa, mas aúnica com sentido para com preen der a persona lidade. Efectivamen te,para articular e or ganizar o conheci mento, é necessário uma re formado pensamen to (Morin, 1982), que com porta a contextualização domesmo e, consequen temente, a sua com plexifi cação. O próprio estudoda per sonalidade, multiplicado por diversos ‘olhares’, espelha aimpor tância de con textua lizarmos e culturizar mos, não apenas osconhecimen tos de uma análise, mas a forma de análise, as teo rias e ainvestigação sobre a personalidade.O estudo da personalidade pode, também, dar um valioso contri butopara a tarefa que Santos (1987, p.30) refere, ao afirmar que “...che gá-mos a finais do séc. XX possuídos pelo desejo quase desespe rado decom pletarmos o conhe cimento das coisas com o conhecimento do co -nheci mento das coisas, isto é, com o conheci mento de nós pró prios 22.”A psico logia da personali dade tenta res ponder a esta questão com oressur gimento do conceito de self (Pervin, 1990) e do estudo da pes soatotal.

Tópicos a abordar:Concepções de personalidade e epistemologiaParadigma epistemológico pós- moderno

Bibliografia fundamental:ABREU, M. A. V. (2002). A complexidade bio- psico- sócio- axiológica da

personalidade humana: contributos para uma teoria integradora.Psychologica , 30, 41- 55.

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22 A ideia seria a seguinte mensagem de um autor desconhecido: “Quem pro curaencontra. Quem encontra, encontra - se”. Guidano (1995, p.95) diz que “é através dossentimentos que experienciamos a nossa forma de estar no mundo. Por outras palavras,somos sempre aquilo que sentimos” (“It is through feelings that we experience our way ofbeing in the world. In other words, we always are as we feel”).

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SANTOS, A. M. (1978). A Interacção e o seu Tópico, Revista Portuguesade Pedagogia , Ano XII.

Carga horária da unidade II 3,4,52 aulas teóricas.

5. Métodos de ensino/ técnicas de formação /recursos didácticospredominantes

Nas aulas teóricas da disciplina de Psicologia da Personalidaderecorre - se, fundamen talmente, à explanação teórica por parte doprofessor. Esta opção resulta da quantidade de alunos presentes nasaulas a leccionar que inviabiliza a utilização de outros métodos maisactivos. Porém, sempre que é possível, para além dos métodosmeramente expositivos, recorre - se aos métodos interrogativos e àprojecção de diapositivos e acetatos, bem como a filmes sobre a vida eobra de alguns teóricos da Psicologia da Personalidade. Tenta–se queno final das aulas se crie um ambiente propício à discussão sobre osconceitos fundamen tais da matéria e à realização de uma sínteseconclusiva sobre a matéria.Nas aulas práticas a metodologia adoptada, além de criar umadinâmica diferente nas aulas, vai de encontro às motivações dosalunos, tornando - os assim mais participativos. Utilizam- se métodosactivos, nomeada men te, na preparação e na elaboração de estudos decaso por parte dos alunos.

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6. Estratégias de avaliação

6. 1. Aulas teóricas

A avaliação é um juízo, acerca dos resultados (satisfatórios/nãosatisfatórios; positivos/negativos) de um programa educativo. Para aavaliação da vertente teórica, dado o número elevado de alunos (acimade uma centena) optou- se por uma prova escrita, de acordo com asnormas vigentes na Faculdade. Tenta- se que o conjunto de questões,e a forma de as fazer seja variada. Assim, o teste é composto porquestões de raciocínio e de resposta rápida, questões dedesenvolvimento, questões de escolha múltipla e questões decompletamento de frases.

6.2. Aulas práticas/trabalhos de campo

A avaliação das aulas práticas vale 50%, dos quais um terço (30%)consiste na realização de um trabalho de campo e os restantes 20%estão incluídos na parte da frequência relativa à matéria dada naspráticas. O trabalho é um estudo de caso, baseado numa teoria depersonalidade, referida nas aulas e é avaliado em 3 partes:

- na primeira, aprecia- se a síntese teórica e o guião daentrevista construído a partir da teoria escolhida;

- na segunda, tem- se em conta a realização da entrevista;- na terceira, analisa- se a relação entre a teoria e os dados das

entrevistas, bem como a breve exposição do trabalho aoscolegas. É, ainda, valorizada, a intervenção dos alunos nasaulas, nomeadamente, o seu questionamento do trabalho doscolegas.

6.3. Algumas linhas de orientação para a elaboração de um Estudo de Caso

“Existem demasiadas medições. Algu m as coisas que são num erica m en te precisas nãosão verdadeiras; e algu mas coisas que não são nu méricas são verdadeiras. Procedimentosde investigação ortodoxos podem ser estatistica men te significativos mas hum a na m e n teinsignificantes. Na investigação hum a na é muito melhor ser profunda m en te interessante doque precisamente chatos” (Quantophrenia, Reason & Rowan, 1981)

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O estudo de caso é uma das múltiplas formas de fazerinvestigação em ciências humanas e sociais. Embora incluído nasabordagens qualitativas é, dentre estas, a com maior controlo sobre osseus procedimentos:

- desenrola - se não em ambiente natural mas em locaisespecíficos em que o investigador intervém;

- centra - se no indivíduo;- observa uma classe limitada de compor ta men tos. É, em geral, uma estratégia com vantagens quando o nosso

problema ambiciona perceber o “como” e o “porquê” de umdeterminado fenómeno e quando o investigador tem pouco controlosobre os acontecimentos.

Etapas:*Revisão da literatu ra sobre o tópico* Colocar problema ou questão* Decidir categorias gerais a analisar* Escolher unidade de análise (neste caso indivíduo singular)* Relacionar os dados às categorias (em que pedaços de

informação são relacionados com as proposições teóricas pré -definidas)

* Interpre tação dos resultadosO relatório final (com um máximo de cerca de 10 páginas) deve

basear - se em duas entrevistas profundas com um sujeito adulto.

Entrevista Profunda (história de vida)Entrevista deve referir - se ao tema escolhido pelo investigador e

não àquilo que o interlocutor quer falar. O objectivo é recolher dadosatravés de uma atitude o mais facilitante possível (não- directividadeRogeriana). O entrevistado é convidado a falar livremente a propósitodo objectivo do estudo, ou seja, tem total liberdade para expressar osseus sentimentos, opiniões, ideias, etc. O entrevistador limita - se apedir esclarecimen tos a propósito de pontos mais ou menosambíguos e a relançar a conversa se necessário. No entanto, numaprimeira parte poderiam ser colocadas pergun tas fechadas com afinalidade de obter informações biográficas iniciais e colocar o sujeitoà vontade. Seguir - se- iam questões abertas e gerais. Finalmente, apósestabelecida um máximo de relação o entrevistador aumenta ria o graude estrutu ra, formulando questões mais específicas e diferenciadas.

§ Apresentação da entrevista e do entrevistador§ Garantia do anonimato e da confidencialidade§ Estabelecer rapport§ Fazer o menor número de perguntas. Perguntas abertas.

Construir um guião de entrevista se necessário; não colocar perguntasdifíceis no princípio ou no fim

§ Reconduzir entrevista para o seu objectivo (manter a entrevistasob controlo)

§ Abster - se de se implicar no conteúdo da entrevista (tomarposição sobre afirmações do entrevistado; não mostrar espanto ou

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desaprovação..); não ter ideias preconcebidas; saber ouvir; o silêncio§ Ser flexível§ Procurar que a entrevista se desenrole num ambiente, tempo e

local apropriados§ Pedir para gravar ou registar§ Estabelecer, no princípio, quando será o final da entrevista

Carga horária dedicada à aprendizagem da realização de um estudo decaso2 aulas teóricas.

7. Bibliografia 23

ABREU, M. A. V. (1980). Desenvolvimento da personalidade e motivação. Revista

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BARGLOW, R. (1974). The crisis of the self in the age of information: computers,

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23 Os livros assinalados com uma cruz têm mais interesse naorientação dos alunos.

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