Responsabilidade Social Corporativa

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A Sustentabilidade na Indústria de Petróleo, Gás e Energia Renovável: Desafios e Oportunidades Responsabilidade Social Corporativa

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A Sustentabilidade na Indústria de Petróleo,Gás e Energia Renovável: Desafios e Oportunidades

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A Sustentabilidade naIndústria de Petróleo,Gás e Energia Renovável:Desafios e Oportunidades

ResponsabilidadeSocial Corporativa

Patrocínio Master Patrocínio Gold Patrocínio Silver

Realização

Capa_Relatorio Seminario IBP_MONTADA.pmd 20/3/2008, 09:041

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Mehane Albuquerque Ribeiro

Esta publicação tem como objetivoprincipal disseminar informaçõesúteis a todas as empresas do setorde petróleo, gás e biocombustíveisque estejam interessadas naspráticas de responsabilidade

socioambiental e em sustentabilidade, sejamelas pequenas, médias ou grandes.

A idéia é dar continuidade à tarefa iniciadano Seminário Anual de ResponsabilidadeSocial Corporativa, – realizado no dia 29 denovembro de 2007, pelo Instituto Brasileirode Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP), noRio de Janeiro –, de promover o diálogointerdisciplinar sobre os desafios dasustentabilidade deste setor no Brasil.

Procuramos reunir aqui matérias sobretemas ligados à responsabilidadesocioambiental que estão atualmente emdiscussão no Brasil e no mundo; as principaistendências; entrevistas com especialistas emresponsabilidade socioambiental no setor depetróleo, gás e biocombustíveis; exemplos depessoas e empresas que estão desenvolvendoprojetos inovadores; opinião de estudiosos,professores, teóricos e pesquisadores; dicas esugestões para boas práticas de responsabili-dade socioambiental nas empresas.

Também procuramos reunir diferentesferramentas que podem ajudar as empresasdo setor a alcançar sustentabilidade:normatização, certificação, balanço social,pactos sociais, indicadores setoriais, entreoutras.

As alterações climáticas estão determi-nando urgência na mudança de postura domundo corporativo, especialmente por partedas empresas de setores estratégicos da

economia, como é o caso do setor energéticocomo um todo. O papel da comunicação édecisivo nesse processo. Sem ela parapromover a integração entre empresas e seusstakeholders, não haverá sustentabilidade. Acomunicação também é responsável pelamudança de mentalidade que se faz neces-sária no mundo empresarial e em toda asociedade.

Em um cenário onde a economia adquireoutro formato para dar conta das transforma-ções que as novas tecnologias sociais estãoprovocando, iniciativas como as do IBP –com a realização do Seminário Anual deResponsabilidade Social Corporativa e comesta publicação – contribuem para manterviva a discussão sobre temas estratégicos,que determinarão o futuro das empresasdiante de uma realidade cada vez maismoldada em valores como a ética, a trans-parência, o respeito ao meio ambiente e aoser humano.

ResponsabilidadeSocioambientalno setor de Petróleo, Gás e Biocombustíveis

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Índice

ExpedienteIBP – Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e BiocombustíveisJoão Carlos França de Luca, presidente

José Jorge de Moraes Junior, José Luiz Antonio Barnewitz Loro Orlandi,Michel Hartveld, Stephen Whyte, William Zattar, diretores

Álvaro Alves Teixeira, secretário executivo

Coordenação da Comissão de Responsabilidade Social Corporativa – 2007Nara Borges, Shell Brasil (coordenadora); Márcia Cauduro, TBG (vice-coordenadora);Luiz Fernando Rodrigues, Chevron Brasil (vice-coordenador)

www.ibp.org.br

A Sustentabilidade na Indústria de Petróleo, Gás e Energia Renovável:Desafios e OportunidadesLia Medeiros, coordenação editorial

Mehane Albuquerque Ribeiro, edição e texto

Laércio Lourenço, programação visual

Benício Biz Editores Associados, produção gráfica

Zit Gráfica e Editora, ctp e impressão

IBP, distribuição

Um novo caminho .............................................................................................................................. 3

IBP realiza no Rio primeira edição doSeminário Anual de Responsabilidade Social Corporativa ................................................................. 6

Comissão de Responsabilidade Social do IBP ................................................................................. 11

RSE no setor de petróleo e gás está ganhando força ....................................................................... 12

Indicadores Ethos de RSE para o setor de petróleo e gás ................................................................ 13

Brasil precisa investir urgente em energia limpa ............................................................................ 14

Empresa que tem gestão socioambiental responsáveldiminui seus riscos financeiros ....................................................................................................... 17

Compêndio reúne ferramentas de responsabilidadesocioambiental utilizadas por 33 países .......................................................................................... 19

Sustentabilidade é lucro líquido e certo ........................................................................................... 21

Excesso de propaganda socioambiental causa desconfiança ......................................................... 23

Educar gestores brasileiros para a sustentabilidade é o grande desafio ......................................... 25

As empresas precisam valorizar mais o indivíduo .......................................................................... 27

Compromisso com a verdade gera credibilidade ............................................................................. 30

Consumidores preferem empresas transparentes .......................................................................... 31

Abordagem multi-stakeholder dá o tomda norma internacional de responsabilidade social ......................................................................... 32

Sustentabilidade para pequenas e médias empresas ..................................................................... 35

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Um Novo CaminhoO Brasil descobre o Brasil“Nunca subestime a habilidade de um pequeno grupo de pessoas. Elas podem mudar o mundo.”(Margareth Mead)

A cada dia mais, os olhos do mundo estão voltados para os problemas de naturezaeconômica social e ambiental que afetam de forma preocupante as condições de vida emnosso planeta. O Brasil hoje é um dos países do bloco em desenvolvimento que mais estáatento à busca de soluções para essas questões. E isso já se reflete no mundo corporativo. Asempresas já entenderam que precisam olhar o problema de frente, sob o risco de perderespaço, negócios e, mais uma vez, o trem da história.

A palavra de ordem é sustentabilidade e o Brasil tem condições plenas não só de acompa-nhar esse movimento, que já é irreversível, mas, principalmente, de dar bons exemplos parao mundo. Temos todos os requisitos, inclusive em problemas, para criarmos soluções inova-doras para as questões urgentes que nos afligem.

Temos, acima de tudo (e ainda), a nossa terra, o nosso clima, a nossa biodiversidade e,principalmente, os homens que estão na linha de frente das pesquisas, gerando conhecimen-to. Só falta mesmo a vontade política de por em prática, através de um planejamento estraté-gico, os investimentos que existem (e não são poucos), na direção certa, para promover asmudanças de base tão necessárias para o nosso crescimento e contribuição efetiva paramelhorias no planeta.

Nada se faz sozinho ou isoladamente. Acreditamos que através da união de sociedadecivil, governo, instituições públicas e privadas, empresas, academia – todos juntos comonuma ciranda do bem, ensinando, aprendendo, compartilhando, criando e gerando soluçõespráticas e possíveis –, poderemos mudar o que não nos convém .

Inovar e investir em tecnologias sociais tem sido o trabalho de muitas empresas e institui-ções de pesquisa brasileiras, abrindo espaço para novas oportunidades de negócios no campoda educação, do design, da arquitetura, das artes, da informação, da geração de energia etantos outros. E na integração dessas áreas, co-criando com as comunidades locais, respei-tando as diversidades sob todas as suas formas, tão enriquecedoras para o crescimento dequalquer empreendimento, estaremos produzindo ações verdadeiramente sustentáveis.

O mundo descobre o BrasilO mundo sempre admirou a alegria do nosso povo, o nosso “jeitinho “ brasileiro. Um “jeitinho”

que nada tem a ver com falta de ética ou de profissionalismo, mas sim com as características inatasdo nosso povo, da nossa cultura e nossa raça: a alegria, o otimismo e a perseverança.

Atributos tão peculiares à cultura brasileira como esses, podem ser um grande diferencial para opaís e uma enorme vantagem competitiva no mundo dos negócios. Assistimos na Europa e nosEstados Unidos produtos brasileiros sendo disputados e valorizados na moda, na indústria alimentí-cia, na propaganda, no esporte, no cinema e nas artes em geral. E através destas peculiaridades, dorespeito e da valorização a elas, é que poderemos alterar definitivamente a nossa imagem tãosomente ligada à violência e à sensualidade, para uma visão bem mais construtiva, que fortaleçaverdadeiramente as nossas relações de negócios com o mundo.

Lia Medeiros*

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As lições aprendidas em casaAcredito que o movimento de responsabilidade social que assistimos hoje em nosso setor não

deve ser entendido como uma ação isolada de uma ou outra empresa mais afetada pela opiniãopública ou que esteja sujeita aos olhares atentos da mídia. Mas, sim, como resultado de umesforço conjunto de todas as empresas do setor e que mais visivelmente vem ocorrendo há (pelomenos) dez anos no Brasil.

Nessa época, com a criação da Lei do Petróleo permitindo a entrada de empresas estrangeiras nopaís, tivemos várias lições para aprender e muito o que ensinar também. A história da responsabilida-de social no setor de petróleo e gás no Brasil se confunde com a história da própria Petrobras, que hácerca de 50 anos investe de formas variadas em projetos sociais.

No início, esses projetos se resumiam a ações isoladas e não necessariamente tinham algumaintegração entre si ou com objetivos específicos da empresa. Mas em 2001, a Petrobras entendeua importância de integrar suas ações de responsabilidade social e lançou o Programa PetrobrasSocial. Dessa forma, a empresa passou a pensar mais integradamente as suas ações e evoluiu daação social para um conceito mais amplo, que a partir dessa época começou a assumir seuscontornos no País: a sustentabilidade.

Com isso, a Petrobras passou a ter um envolvimento maior nas ações que patrocina, pois oprograma traz uma importante inovação que é estar alinhado à sua missão e aos seus valores.Começa aí uma visão de mudança de paradigma, na velocidade com que se esperava osresultados desses investimentos, que agora virão a longo prazo, pois o foco é privilegiar adiversidade cultural, a promoção da solidariedade, do ‘compartilhar para diminuir diferenças’,usando fortemente a comunicação para ganhar voz e resultados positivos junto às comunidadesatendidas pelo programa.

O Congresso Mundial de Petróleo, realizado no Brasil em 2002, abriu as portas para acriação da Comissão de Responsabilidade Social Corporativa do IBP. Era evidente a demandada indústria de petróleo e gás pela criação de um fórum comum e permanente, onde seusrepresentantes pudessem promover o intercâmbio de informações ligadas a esta temática, quejá começava a ser voz entre alguns (poucos ainda) em nosso mercado.

Um dos passos decisivos para a consolidação da nossa atenção e integração ao tema foi aelaboração, em parceria com o Instituto Ethos, dos Indicadores de Responsabilidade Social doSetor de Petróleo e Gás. Através dos indicadores, o setor já pode identificar quais as questões eas áreas que necessitam de um trabalho mais direcionado e eficaz.

Assim, começamos a nossa jornada setorial rumo à sustentabilidade!

Tomando consciência“Ninguém se conscientiza separadamente dos demais. A consciência se constitui como consciência do mundo.”(Ernani Maria Fiori, prefácio do livro Pedagogia do Oprimido, de Paulo Freire)

Todo processo de mudança começa na conscientização. Primeiro, de um indivíduo. Depois,se estende a um grupo e chega até uma nação.

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A internacionalização das empresas, muito peculiar em nosso setor, promove uma ricapossibilidade de aprendizado, de troca de conhecimento e nos dá a oportunidade de exercitar-mos a importância da valorização das culturas locais.

É, sem dúvida, uma via de duas mãos, pois da mesma forma que as empresas brasileiras estãocaminhando para o mundo, as empresas estrangeiras também chegam até nós. É fundamentalpara o sucesso dessas relações o exercício contínuo do aprendizado de uns com os outros.

Os nichos de especialização no desenvolvimento de produtos e serviços são uma respostaclara do crescimento da valorização da ‘cultura do um a um’, do humanismo chegando aomundo dos negócios, virando fator importante nos processos internos das empresas, promo-vendo transformação, incentivando a inovação, tão importante para o desenvolvimento social.

A criação de nichos, ou produtos e serviços especializados é uma resposta ao gosto ea vontade de quem compra, de quem paga e quer escolher como vai equipar a suaempresa, que tipo de alimentação vai consumir e oferecer aos seus funcionários, comovai tratar a informação gerada sobre o seu negócio, escolher de forma justa e adequadaos seus fornecedores. Enfim: é cada vez maior a necessidade da liberdade de escolha edo que convém ou não a si próprio ou ao seu negócio. Isso está fazendo a diferença nasrelações comerciais e nos ensina que, quanto mais aprendermos, nos informarmos etrocarmos com o outro (indivíduo/empresa), mais sucesso teremos em nossos empreen-dimentos sustentáveis.

Um dos grandes desafios do processo de conscientização é tratar a informação de forma atorná-la clara, transparente e confiável.

Isso favorece o aprendizado e facilita as mudanças que certamente precisaremos promoverpara alcançarmos a sustentabilidade.

Momento de mudança...Do povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas /Da força da grana que ergue e destrói coisas belas /Da feia fumaça que sobe apagando as estrelas /Eu vejo surgir teus poetas de campos e espaços /Tuas oficinas de florestas teus deuses da chuva... (Sampa – Caetano Veloso)

Dados da ExpoManagement 2007, evento organizado pela HSM, mostram que 1,1 milgestores procuraram saber como suas empresas podem se tornar mais humanas.

O momento grave exige mudanças nos modelos de gestão das organizações, a quebra deparadigmas é fundamental para a implantação de novos valores e fator chave para o alcance dasutentabilidade empresarial.

A comunicação planejada é peça fundamental para o aprendizado e disseminação dessanova cultura / visão. Ela chega nas empresas como uma chuva, daquelas fininhas, levinhas,gostosas, que lava os conceitos cristalizados que não nos interessam mais e abre espaço paraincorporarmos os novos. Ela age de forma igualitária, democrática e natural, deixando o “solo”preparado para o que desejarmos semear.

* Lia Medeiros é publicitáriae integrante da Comissãode Responsabilidade SocialCorporativa do IBP.

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IBP realiza no Rio primeira edição do

Aprimeira edição do Seminário Anualde Responsabilidade SocialCorporativa foi realizada comsucesso pelo Instituto Brasileiro dePetróleo, Gás e Biocombustíveis(IBP), no dia 29 de novembro de

2007, no Centro de Convenções da Firjan(Federação das Indústrias do Estado do Riode Janeiro). Cerca de 120 participantes –entre profissionais de empresas do setor,representantes de instituições e estudantes –,estiveram presentes, assistiram a palestras,painéis e fizeram perguntas.

Na abertura, o presidente do ConselhoEmpresarial de Responsabilidade Social doSistema Firjan, Luiz Chor, falou do impactopositivo das práticas de responsabilidadesocial nas indústrias do setor no Estado doRio e aproveitou para frisar que a Firjan estáenvolvida com essas mesmas práticas desde2000, quando foram criados o Núcleo de

Responsabilidade Social Empresarial doSistema Firjan e o Conselho do qual épresidente.

Nara Borges, da Shell Brasil e coordena-dora da Comissão de Responsabilidade SocialCorporativa do IBP, destacou a importânciada realização do seminário para o setor,justamente no momento em que o mundodiscute não só o uso de novas matrizesenergéticas para combater o aquecimentoglobal, mas a adoção da gestãosocioambiental responsável como estratégiade empresas nos diferentes setores daeconomia.

O coordenador de responsabilidade socialdo IBP, Carlos Victal, mestre-de-cerimôniasdo evento, ressaltou o compromisso assumi-do por parte das corporações do setorpetrolífero com a gestão socioambientalresponsável e, em seguida, apresentou ostemas do seminário.

IBP: meio século de trabalho pelo desenvolvimento do setorCOM 50 ANOS DE ATUAÇÃO, o Instituto Bra-sileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP)é uma organização privada de fins não econômi-cos que conta hoje com 229 empresas associ-adas e tem o foco voltado para a promoção dodesenvolvimento do setor nacional de petróleo egás, visando a uma indústria competitiva, sus-tentável, ética e socialmente responsável.

Ao longo desse tempo, o IBP construiu re-conhecida credibilidade junto à sociedade e aoGoverno, não apenas por seu singular conheci-mento técnico, mas também por fomentar asdiscussões de grandes temas afins para a cons-tante estruturação do perfil do setor.

A partir de 2003, o IBP passou por umaprofunda reestruturação para garantir maiorsintonia de suas atividades e produtos com osetor, sendo estes o resultado do trabalho de-senvolvido por 42 comissões, subcomissões

e comissões ad-hoc, nas quais participam vo-luntariamente mais de 950 profissionais, en-tre executivos e especialistas da indústria, ins-tituições científicas e acadêmicas, órgãos doGoverno e associações congêneres.(www.ibp.org.br)

ResponsabilidadeSocial Corporativa“É uma forma de condu-zir os negócios da empre-sa de modo que a tornaparceira e co-responsávelpelo desenvolvimento so-cial. A empresa social-mente responsável é a quepossui a capacidade deouvir os interesses dasdiferentes partes e incor-porá-los ao planejamen-to de suas atividades, bus-cando atender às deman-das de todos, e não ape-nas dos acionistas ouproprietários”.

(Instituto Ethos)

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Palestras e painéis

PALESTRA 1

André Trigueiro (Globonews)

A primeira palestra do Seminário Anual de Responsabilidade Social Corporativa2007, ficou a cargo de André Trigueiro – apresentador do Jornal das Dez e editor doprograma Cidades e Soluções –, ambos da Globonews. Preocupado com os relatóriossobre o clima divulgados pelos cientistas, André, que é jornalista especializado emmeio ambiente, deu ênfase às questões ligadas ao aquecimento global, como ocontrole de emissões de gases-estufa; o compromisso das nações signatárias com as metas do Tratado de Kyoto; odesmatamento e as queimadas na Amazônia; a neutralização do carbono; o papel das grandes empresas na gestãoambiental responsável e a urgência de maiores investimentos em fontes de energia limpa. (Leia mais na página 14)

“O mundo é refém dos combustíveis fósseis. As empresas do setorno Brasil estão investindo pouco em fontes de energia limpa. Inves-tir em novas fontes de energia é questão de segurança nacional”.Página 14

PALESTRA 2

Indicadores de responsabilidade socialdo setor de petróleo e gás

Em sua palestra, o relações públicas Renato Moya, do Instituto Ethos, traçou umaradiografia do setor a partir de indicadores econômicos gerais, para, em seguida, apresentaros dados dos Indicadores Ethos de RSE – ferramenta de aprendizado e avaliação da gestãono que se refere à incorporação de práticas de responsabilidade social empresarial aoplanejamento estratégico, ao monitoramento e desempenho – nas empresas de petróleo,gás e biocombustíveis. No caso deste setor, os indicadores apontam para um aumento naprática de gestões sustentáveis nas empresas, mas ainda há muito trabalho pela frente,na opinião de Renato. Ele ressaltou que em 2005 apenas quatro empresas preencheram oquestionário de avaliação. Já em 2006, o número subiu para 31, sendo que 15 eramunidades de uma mesma companhia.

“Nosso grande desafio será mobilizar mais empre-sas para preencher os questionários e gerar, assim,um comprometimento maior com a prática da res-ponsabilidade social no setor de petróleo e gás”

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PAINEL 1

Boas Práticas e Índices de Governança Corporativa

O administrador Roberto Gonzalez, diretor de estratégia de sustentabilidade doThe Media Group, explicou que a governança é um dos pilares da responsabilidadesocial e falou de sustentabilidade nas empresas. Gonzalez apresentou uma lista decontribuições para as boas práticas (certificações, acordos e tratados, entre eles),falou dos índices que medem o desempenho das empresas nesse quesito e disseque hoje se discute muito se a governança estaria acima da sustentabilidade. Na suaopinião, isso realmente não faz diferença. O que importa é que todas as empresasprecisam ter transparência, ética, eqüidade e responsabilidade social.

“Qualquer empresa, mesmo pequena, pode e deve praticar governançacom sustentabilidade”.

Silvia Chicarino, especialista em risco socioambiental do Banco Real, apresentoua política de risco socioambiental implementada pelo banco e explicou como é feita aanálise de crédito para empresas que atuam em 22 ramos de negócios que oferecemriscos socioambientais (entre eles, os setores de combustíveis e de geração deenergia). Falou, também, sobre os “Princípios do Equador” – instrumento voluntáriocriado por instituições financeiras de vários países, que prevê a adoção de princípiosgerais de gestão socioambiental para financiamento de projetos – do qual o Realparticipa. Silvia contou que o banco é gestor do Fundo InfraBrasil, criado pelo BID(Banco Interamericano de Desenvolvimento) para investimento em projetos de infra-estrutura de médio porte, como energia, saneamento e transporte, entre outros.

“O Banco Real ganhou a concorrência porque já tinha uma políticade risco socioambiental implementada”.

PALESTRA 3

Imagem e reputação das empresas –a visão da mídia

A publicitária Nádia Rebouças falou sobre o papel da comunicação como aliada daresponsabilidade social, sobre a urgência de as empresas utilizarem uma comunicaçãotransparente e correta para interagir com seus públicos interno e externo e sobre acomunicação como instrumento estratégico de gestão. Nádia fez questão de mostrar adiferença entre informação e comunicação. Esta última servindo de ferramenta indispensável na gestão dos impactos sociaise ambientais. Segundo ela, as empresas precisam mudar de postura, deixar de seguir regras para adotar valores eprincípios. E a mudança começa dentro de cada um. Para Nádia, hoje já não é mais possível “construir” uma imagem: “aempresa é ou não é”. Imagem, aliás, é um conceito ultrapassado. Agora o que vale é a “reputação”, conquistada através daética, da responsabilidade social e ambiental.

“Acabou o tempo do ‘falar que é’. Agora é preciso ‘ser’. Não adiantauma empresa investir milhões em publicidade, se os próprios fun-cionários falarem mal dela”.

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Andréa Bolzon, do Projeto de Combate ao Tráfico de Pessoas da OrganizaçãoInternacional do Trabalho (OIT) começou falando sobre a atuação da OIT naerradicação do trabalho escravo e infantil no Brasil. Falou, também, sobre trabalhoforçado, tráfico de pessoas, trabalho degradante, privação de liberdade, servidão pordívida e outras formas de exploração. Ela contou que, além do Plano Nacional para aErradicação do Trabalho Escravo, o Ministério do Trabalho e Emprego mantém em seusite (www.mte.gov.br) um cadastro de empregadores previsto na Portaria n°. 540/2004, que contém infratores flagrados explorando trabalhadores na condição análoga àde escravos. Segundo ela, são várias as causas do trabalho degradante continuar existindo no País: impunidade,vulnerabilidade do trabalhador (analfabetismo, desnutrição, pobreza), fatores geográficos e ausência do estado.

“É importante que todos conheçam a lista suja para que deixem decontratar serviços ou de consumir produtos das empresas que co-metem abusos”.

PAINEL 3

Tendências de Responsabilidade Social no Processode Licenciamento Ambiental

Marcus Vinícius Ayres, gerente geral de SMS Corporativo da Transpetro (subsidiáriada Petrobras), fez primeiramente uma apresentação da empresa, que opera uma frotade 55 navios-petroleiros, uma rede de dez mil quilômetros de malha dutoviária e trêsmil quilômetros de gasodutos. Ele contou que o Sistema Petrobras aderiu ao Pacto Globalem 2003, assumindo o compromisso de lutar pela efetivação dos direitos humanos,trabalhistas, respeito ao meio ambiente e combate à corrupção.

Ayres também explicou que entre as condicionantes da Licença de Operação, estáa exigência de implantação de programas de educação ambiental e de comunicaçãosocial para os trabalhadores e comunidades localizadas na área de influência diretados empreendimentos.

Assim surgiram as 15 diretrizes corporativas de segurança, meio ambiente e saúde da Petrobras e o Programa deResponsabilidade Social e Ambiental nas faixas e dutos e terminais da Transpetro – programas de âmbito nacional que têm oobjetivo de impactar o público interno e as populações que vivem no entorno das faixas de dutos e terminais administradaspela empresa.

“Temos uma política de transparência que torna oprocesso de licenciamento mais fácil porque osórgãos sabem como nós trabalhamos”.

PAINEL 2

A sustentabilidade na cadeia de valor

Patrícia Sogayar, do Instituto Ethos e Projeto Tear, abriu sua palestra falando sobre acadeia das atividades que adicionam valor a um produto ou serviço, desde sua produção atéo consumidor. Ela explicou que quando a sustentabilidade entra na cadeia de valor, gerabenefícios para os negócios envolvidos e para toda a sociedade. Patrícia falou, também, sobreo Projeto Tear, que atua junto a pequenas e médias empresas (PMEs) de sete setores daeconomia – construção civil, petróleo, energia elétrica, mineração, siderurgia e varejo –analisando o negócio sob a ótica da sustentabilidade e implementando ferramentas para queelas possam incorporar os princípios do desenvolvimento sustentável em sua gestão. Patríciaapresentou o caso da empresa Hidropartes, Mangueiras e Conexões Hidráulicas, de Macaé,

estado do Rio, que melhorou seu desempenho no mercado a partir da gestão socialmente responsável. A partir do Tear, o programa dealfabetização para adultos mantido pela Hidropartes passou a receber apoio de mais três empresas participantes, Jevin, K-Lund eGlobomar. Ela destacou que hoje essas empresas estão formando uma rede de reciclagem de óleo comestível e compras solidárias.

“O Instituto Ethos relaciona 29 critérios mínimos para que umaempresa possa ser considerada responsável social e ambientalmente”.

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A Sustentabilidade na Indústria de Petróleo,Gás e Energia Renovável: Desafios e Oportunidades

ResponsabilidadeSocial Corporativa

AberturaLuiz Chor (Firjan)Nara Borges (Shell Brasil)Carlos Victal (IBP)

Palestra 1André Trigueiro (Globonews)

Palestra 2: Indicadores de responsabilidadesocial do setor do Petróleo e gásPPPPPalestrante:alestrante:alestrante:alestrante:alestrante: Renato Moya (Instituto Ethos)Moderadora:Moderadora:Moderadora:Moderadora:Moderadora: Márcia Cauduro (TBG)

Painel 1: Boas Práticas e Índices deGovernança CorporativaPPPPPalestrantes: alestrantes: alestrantes: alestrantes: alestrantes: Silvia Chicarino (ABNAMRO) e Roberto de Souza Gonzales(The Media Group)Moderador: Moderador: Moderador: Moderador: Moderador: Luís Fernando Rodrigues(Chevron Brasil Petróleo)

Palestra 3: Imagem e reputação dasempresas – a visão da mídiaPPPPPalestrante: alestrante: alestrante: alestrante: alestrante: Nádia Rebouças(Rebouças & Associados)Moderadora: Moderadora: Moderadora: Moderadora: Moderadora: Lia Medeiros (TN Petróleo)

Painel 2: A sustentabilidadena cadeia de valorPPPPPalestrantes: alestrantes: alestrantes: alestrantes: alestrantes: Patrícia de Cayres Sogayar(Instituto Ethos / Projeto TEAR) e AndréaBolzon (OIT)Moderadora: Moderadora: Moderadora: Moderadora: Moderadora: Alyne Castro (Petrobras)

Painel 3: Tendências de ResponsabilidadeSocial no Processo de LicenciamentoAmbientalPPPPPalestrante: alestrante: alestrante: alestrante: alestrante: Marcus Vinícius de CarvalhoMesquita Ayres (Transpetro)Moderador: Moderador: Moderador: Moderador: Moderador: Márcio Schiavo – Comunicarte

Seminário Anual de

Programa

Realização Patrocínio Master Patrocínio SilverPatrocínio Gold

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Comissão de ResponsabilidadeSocial do IBP

AComissão de ResponsabilidadeSocial Corporativa do IBP foifundada em 2002, a partir dodebate em torno desse assuntono Congresso Mundial de Petró-leo, realizado no mesmo ano no

Brasil. Na época, foi constatada no setor depetróleo e gás, a necessidade de criação deum fórum comum e permanente, onde seusrepresentantes pudessem promover debates,assim como o intercâmbio de informações.

Desde o início foi identificada a urgênciade difundir o conceito de responsabilidadesocial entre as companhias do setor e asempresas da cadeia produtiva. Nessesentido, foram realizadas reuniões abertasao público e palestras didáticas sobre otema. E foi criada em 2004, a primeiraturma do Curso sobre Gestão da Responsa-bilidade Social.

Com a crescente demanda por discus-sões mais profundas, o IBP, em parceriacom a Petrobras, organizou a terceiraedição do Simpósio sobre ResponsabilidadeSocial nas Américas, promovido pelaAssociación Regional de Empresas dePetroleo y Gás Natural em Latinoamerica yel Caribe (Arpel).

Em parceria com o Instituto Ethos, aComissão do IBP elaborou os Indicadoresde Responsabilidade Social do Setor dePetróleo e Gás, que devem ser aplicadosde forma complementar aos IndicadoresGerais do Instituto. Através dos indicado-res, o setor já pode identificar quaisquestões e áreas precisam de um trabalhomais direcionado e eficaz.

Para falar com a Comissão de RSC doIBP, envie um e-mail [email protected] ouacesse o site www.ibp.org.br e clique em“comissões”.

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Nara Borges

Omovimento de RSE no setor depetróleo e gás vem ganhandoforça, na opinião da coordenado-ra da Comissão de Responsabili-dade Social Corporativa do IBP,Nara Borges, chefe de assuntos

externos na área de E&P da Shell Brasil. Ela dizque hoje o conceito está mais difundido e existemuita informação disponível. Mas, apesar disso,algumas empresas não entendem o papel daRSE ou não a consideram importante.

Para ela, o grande desafio do setor depetróleo e gás, a exemplo do que ocorre emoutros setores da economia, é mudar amentalidade daqueles empresários que aindanão adotaram práticas de RSE como ferramen-ta de gestão e que ainda não entenderam queatuar com transparência, respeito ao meioambiente e responsabilidade social gera bonsresultados financeiros.

Essa tem sido a principal tarefa daComissão de Responsabilidade SocialCorporativa do IBP. Desde o seu surgimento,há cinco anos, a comissão – que é compostapor profissionais de diferentes áreas do setorde petróleo e gás – tem alcançado conquistasimportantes, como a parceria com o Instituto

Ethos na elaboração dos indicadores setoriaisde RSE e, mais recentemente, a realizaçãodo Seminário Anual de ResponsabilidadeSocial Corporativa, em novembro de 2007.

“O setor é estratégico para a economia dopaís e, ao mesmo tempo, causa grandesimpactos sociais e ambientais. Então precisater muita transparência, ética, respeito ao serhumano e ao meio ambiente”, defende.

Nara diz que a RSE está crescendo no setor eque as grandes organizações estão influenciandopositivamente as outras empresas com as quaisse relacionam (fornecedores, clientes, etc.). Elacita o exemplo da Shell Brasil, que é signatária doPacto Empresarial pela Integridade e contra aCorrupção, iniciativa do Ethos, e do Pacto Globalda Organização das Nações Unidas.

“As grandes empresas assumiram aliderança no movimento. As pequenas emédias estão, aos poucos, orientando suas

ações nesse sentido,influenciadas pelas maiores.O setor está caminhandobem, mas é preciso fazermais e melhor”, avalia.

Em relação às peque-nas e médias, ela destacao trabalho que o Projeto

Tear, do Instituto Ethos, vem desenvolvendojunto ao setor de petróleo e gás, fornecendoferramentas de gestão e orientação para queas empresas adotem novas posturas, sem asquais dificilmente sobreviverão em ummercado que segue, cada vez mais, astendências globais.

“Primeiro veio a preocupação com aqualidade. Depois, com a preservação domeio ambiente. Agora o mundo corporativoestá preocupado com a responsabilidadesocioambiental. Estamos trabalhando paraque o setor como um todo se torne cada vezmais responsável, para que o ser humanoseja valorizado”, afirma ela.

RSE no setor de petróleoe gás está ganhando força

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Temas abordados• Ciclo de vida das instalações• Ciclo de vida dos produtos• Comunidade• Conflitos com trabalhadores• Eliminação de efluentes• Licenciamentos• Mudanças climáticas• Normas e auditorias ambientais• Passivos ambientais• Plano de emergência ambiental• Prevenção de acidentes• Resíduos sólidos• Saúde e segurança• Seleção e desenvolvimento de fornecedores• Tecnologias limpas• Utilização de água

ResultadosDe acordo com os resultados apresentados

pelo Instituto Ethos durante o Seminário Anual

Indicadores Ethos de RSE para o setorde petróleo e gásOS INDICADORES ETHOS DE RSE para oSetor de Petróleo e Gás foram lançados em2004 e elaborados a partir de uma parceriaentre o Instituto Ethos e o Instituto Brasileirode Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP),que contribuiu com seus amplos conheci-mentos. O processo de trabalho durou cercade um ano e contou com a participação de27 empresas e entidades do ramo, quediscutiram os temas mais relevantes à luzdos dilemas do setor e trocaram informações.

Os indicadores setoriais são uma exten-são dos indicadores gerais do Instituto Ethos,porém, elaborados com base nasespecificidades de cada setor, com o intuitode apontar resultados (complementares)mais detalhados. A partir dos dados apura-dos em questionários, que são tratados deforma confidencial, empresas de pequeno,médio ou grande porte que buscam umagestão socialmente responsável, podem obterum diagnóstico de seu desempenho e avaliaroportunidades dentro da área em que atuam.

Dentre os benefícios que uma empresa podeobter destacam-se o aprendizado; a mudança do

discurso para a ação concreta; a integração aosprocessos de gestão; melhoria do gerenciamentodos impactos sociais e ambientais; melhoria naimagem institucional e na reputação; e transpa-rência perante a sociedade.

Saiba mais sobre os Indicadores Ethos deRSE no site: www.ethos.org.br/docs/conceitos_praticas/indicadores/default.asp

de Responsabilidade Social Corporativa do IBP,houve um aumento considerável de empresasque preencheram os questionários entre 2005e 2006. O desafio agora é mobilizar o restantedo setor.

Participação das empresas• Em 2005 apenas quatro empresas preenche-ram o questionário• Em 2006, 31 empresas preencheram, mas15 delas eram unidades de uma mesmacompanhia

Próximos desafios• Mobilizar efetivamente o setor para o preen-chimento dos Indicadores• Questionário focado na exploração eprodução• Promover a revisão do conteúdo contem-plando questões referentes às empresas degás, distribuição e refino de combustíveis.

O setor conta com oito empresas e duas

entidades setoriais signatárias do “Pacto

da Erradicação do Trabalho Escravo”.

O setor conta com apenas uma empresa

signatária do “Pacto Contra a Corrupção”.

A Petrobras foi a primeira empresa que

propôs a seus fornecedores o preenchi-

mento dos Indicadores Ethos de RSE.

Pactos Sociais noSetor de Petróleo e Gás

(Fonte: Instituto Ethos)

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André Trigueiro

ANDRÉ TRIGUEIRO respira meio ambiente.O assunto está presente em praticamente

tudo o que o jornalista faz, inclusivenas atitudes mais simples da vidacotidiana: a opção por um carro demotor flex – que ele evita lavar comfreqüência para não desperdiçarágua – o tipo de combustível (sóusa álcool, que polui menos), apreferência por móveis de madeira

certificada e produtos com selo verde, e atécompensação pelas emissões de CO2 durantea gravação dos programas que apresenta eedita, através do plantio de árvores paraneutralizar carbono.

Convidado pelo IBP para falar sobre otema no Seminário Anual de Responsabilida-de Social Corporativa, ele confessa que no

início ficou um pouco intrigado com a escolhade seu nome, já que não esconde suascríticas à indústria do petróleo, que consideraa principal responsável pelo aquecimentoglobal. Mas logo entendeu o objetivo dainiciativa e aceitou o convite.

Na entrevista que segue abaixo, AndréTrigueiro fala sobre suas convicções, sobre apreocupação com os rumos do planeta, sobrea grande responsabilidade das empresas depetróleo e gás nesse contexto e as medidasurgentes que o setor precisa tomar paraevitar uma possível catástrofe climática.

Mehane Albuquerque Ribeiro – Como vocêavalia a situação do mundo, diante dapossibilidade de um colapso ambientalcada vez mais real?

André Trigueiro – A situação é grave. Omundo perdeu a noção do perigo. Se osrelatórios do IPCC (Painel Intergovernamentalde Mudanças Climáticas) estiverem corretos –e eu não tenho motivos para duvidar dacredibilidade dessas informações que denunci-am o crescimento exponencial da emissão deCO2, principalmente pela queima progressivade petróleo, carvão e gás – nós estamos numarota suicida. Há um senso de urgência natomada de medidas e as mudanças necessári-as estão acontecendo de forma muito lenta. Sea Idade da Pedra não acabou por falta depedras, a Idade do Petróleo não vai acabar porfalta desse combustível, mas por conta de umacatástrofe. Há o risco de se alcançar um pontode não-retorno, de bagunçar o coreto climáticode tal sorte, que daqui a pouco não importará oquanto de recursos e de tecnologia poderá serusado para mudar a situação, pois será tardedemais. Essa é uma especificidade da nossa

Brasil precisa investirurgente em energia limpaPor Mehane Albuquerque Ribeiro

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era. Em nenhum outro momento na história dahumanidade nós fomos instigados, enquantoespécie, a fazer tantas escolhas determinantespara a nossa sobrevivência, em um intervalo detempo tão curto. Portanto, ou você assume seupapel histórico nesse momento e diz: “precisodefinir dentro do meu planejamento estratégicouma agressividade maior na busca de soluçõesefetivas e imediatas”; ou fica esperando paraver o que acontece.

Qual a importância de ações como arealização desse seminário para o setor?

Precisa haver uma reengenharia, umarevisão urgente do planejamento estratégicode forma que haja mais investimentos nadireção do que não seja combustível fóssil.O petróleo não pode ser a única matrizenergética do Brasil, até por uma questão desegurança nacional. Essa é a contribuiçãoque o seminário pode trazer: mostrar para osempresários do setor que investir em outrasfontes de energia pode ser interessantetambém do ponto de vista financeiro, anteci-pando tendência.

Na sua opinião, o que o setor precisa fazer?Está no colo do setor energético e das

companhias de energia que têm no petróleoseu principal business, a enorme responsabi-lidade de uma migração dos investimentosque deveriam ser mais fortemente canaliza-dos para outras fontes de energia. Mas nãome parece que na cultura do setor depetróleo, dos tomadores de decisão, dosoleocratas, exista esse (entre aspas) despren-dimento.

As empresas do petróleo precisam fazeralém, assumir efetivamente o compromissode mudar de postura. Se você tem pelafrente o aquecimento global, não pode terdúvida na hora de definir seu planejamentoestratégico. As empresas já perceberam queé melhor se definir estatutariamente comocompanhias de energia, do que comocompanhias de petróleo. Esse é um sintomade que o petróleo vai continuar sendo oprincipal business... Petróleo dá muitodinheiro e é difícil abrir mão. Só que o setorhoje tem só duas opções: ou reinvestir emoutras fontes de energia e em inovaçãotecnológica, que vão dar retorno lá na frente,ou continuar fazendo sísmica, investindo pra

descobrir novos lençóis, investindo no que dámaior lucro em menor tempo.

As ações empreendidas pelo setor paracompensar os impactos ambientais têmsido suficientes?

Com certeza não. Quando enchemos otaque de gasolina, não estamos pagando porlitro o verdadeiro custo socioambiental. Essecusto não foi internalizado. Trata-se de umproblema de mercado e o mercado está secorrigindo. A possibilidade de onerar o combus-tível fóssil e de sobretaxar carbono é umatendência que deverá se confirmar nos próxi-mos anos. O segundo ponto é que, em algunscasos, não adianta neutralizar carbono. Se vocêtem uma companhia de petróleo e resolveplantar árvores, issoatenua impacto, masnão resolve efetiva-mente o problema.Você diz: “estouplantando umafloresta, cuidando domico-leão-dourado, daararinha azul, etc.”Mas a origem doproblema permanece.

Mas existemempresas realizandotrabalhos significati-vos em termos depreservação ambiental...

São projetos que fazem alguma diferençaem termos de biodiversidade, mas quando oassunto é aquecimento global, eu acho queas companhias de energia poderiam edeveriam estar fazendo muito mais. Plantarárvores não é uma mudança matricial.Investir em projetos socioambientais queajudam a pontuar para entrar no índice DowJones de Sustentabilidade não é mudançamatricial. Mudança matricial é: o principalbusiness, aquele que dá lucro, o que dámaior retorno, que é o petróleo, não podecontinuar a ser o único filão de negócios nocurto e médio prazo.

Vc acha que o setor está empenhado emefetivar essa mudança?

Eu sinto que quem está ligado ao setor,por natureza, tem uma certa resistência, um

“As empresas do petróleo precisam

fazer além, assumir efetivamente o

compromisso de mudar de postura.

Se você tem pela frente o aqueci-

mento global, não pode ter dúvida

na hora de definir seu planejamen-

to estratégico”.

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tipo de aversão a esse discurso e acha quetudo não passa de exagero, que todo mundoestá errado. O aquecimento global seria umafatalidade divina: o sol é que está aquecen-do e mudando a terra e nós não temos nadaa ver com isso. Mas quando a gente conver-sa com as pessoas ligadas ao IPCC, começaa apurar as metodologias utilizadas e vê oresultado dos relatórios dos cientistas, nãoresta dúvida: o CO2 é o elemento quedetona a desestabilização do clima. Aindústria do petróleo tem tudo a ver com oaquecimento global e isso é irrefutável.

Desde que o Protocolo de Kyoto foiratificado, as emissões só fizeram aumentar.Nas projeções do OCDE (Organização para aCooperação e Desenvolvimento Econômico),da Agência Internacional de Energia (IEA), dodepartamento de planejamento energético daCoppe (UFRJ), todas as curvas são ascen-dentes em termos de demanda de combustí-veis fósseis. Uma coisa horrorosa! Até 2030esse setor ainda vai estar bombando. Logo, ofreio de arrumação tem que ser à altura. Asempresas não fazem mais do que obrigaçãode ir além do que a legislação determina.

Precisam fazer mais e melhor, precisam fazerdiferente, inovar, criar algo que ninguém estáfazendo... A responsabilidade social éenorme quando se opta por ignorar relatóriossérios e com credibilidade como é o caso doIPCC. Está na hora de definir o planejamentoestratégico para o futuro. Ou você é literal-mente cúmplice do problema ou vocêtrabalha na direção contrária. Não tem meiotermo. É que nem gravidez. Não existe meiagravidez.

Qual o conselho que você daria para osetor?

Mude o foco e trate de investir rápido emfontes de energia limpa. Vários países jáestão fazendo isso. Outro dia, o MarcosLosekan, repórter da TV Globo, fez umamatéria extraordinária em Sevilha, naEspanha, mostrando a maior usina solar doplaneta, que gera energia para mais de 170mil pessoas. Um grande exemplo que oBrasil e o mundo deveriam seguir. Esse é oúnico caminho: investir pesado em fontes deenergia renovável. Do contrário, presenciare-mos um desastre sem precedentes.

ANDRÉ TRIGUEIRO É JORNALISTA pós-gra-duado em Gestão Ambiental pela COPPE/UFRJ, professor e criador do curso de Jornalis-mo Ambiental da PUC/RJ, autor do livro Mun-do Sustentável – Abrindo Espaço na Mídiapara um Planeta em transformação (EditoraGlobo, 2005), coordenador editorial e um dosautores do livro Meio Ambiente no século XXI,(Editora Sextante, 2003). Também é repórtere apresentador do Jornal das Dez, da GloboNews, desde 1996, além de roteirista, editore apresentador de programas ligados à temáticasocioambiental.

Pela série "Água: o desafio do século 21"(2003), recebeu o Prêmio Imprensa Embratelde Televisão e o Prêmio Ethos - Responsabili-dade Social, na categoria Televisão. Pela série"Kyoto: O protocolo da Vida" (2005) recebeu otítulo hours concours no Segundo PrêmioCEBDS de "Desenvolvimento Sustentável". Pela

série "A nova energia do mundo" (2005), rece-beu o Prêmio Nacional de Conservação e UsoRacional de Energia 2005, oferecido pelaEletrobrás e pela Petrobras.

Pelo programa Cidades e Soluções (tambémda Globo News), do qual é editor-chefe, rece-beu o prêmio Ethos de Jornalismo na categoriamídia eletrônica - TV (2007), o 3º Prêmio ABCRde Jornalismo, e o Prêmio Especial do Júri -categoria Mídia (2007) na 3ª Edição do Prê-mio CEBDS (2007). Foi agraciado com o Prê-mio Comunique-se na categoria Jornalista deSustentabilidade (2007).

Cobriu pela mesma emissora de tevê a caboas Olimpíadas de Sidney (2000), as Copas doMundo na Coréia do Sul e no Japão (2002) ena Alemanha (2006), e as eleições para a pre-sidência dos Estados Unidos (2004). É comen-tarista da Rádio CBN, onde apresenta aos sá-bados e domingos o quadro Mundo Sustentá-vel. Presidiu o Júri da VI e da VII edições doFestival Internacional de Cinema e VídeoAmbiental de Goiás.

Carreira premiada

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Empresa que tem gestãosocioambiental responsáveldiminui seus riscos financeiros

Carlos Victal

“DIFUNDIR OS CONCEITOS, PRÁTICAS eferramentas de responsabilidade social quelevem as empresas do setor a utilizá-las nasua gestão estratégica”.Esse é o papel principal daComissão de Responsabili-dade Social Corporativa doIBP, de acordo com CarlosVictal, coordenador deresponsabilidade social dainstituição. Ele explica quea idéia de realizar oSeminário Anual de Responsabilidade SocialCorporativa surgiu justamente para a disse-minação do tema, assim como das últimastendências da RSE no país e no mundo,junto às empresas de petróleo e gás queatuam no Brasil.

“A gestão da responsabilidade social é ocaminho para a sustentabilidade das empre-sas de qualquer ramo da economia e envolvevários fatores e temas de interesse geral:aquecimento global, voluntariado, comunida-des, governança, sociedade e governo, entreoutros. O seminário anual é uma forma dedivulgar o conceito, as ferramentas e osindicadores. Queremos mostrar ao setor que,se a empresa tem uma gestãosocioambiental responsável, seu riscofinanceiro diminui”, afirma.

Segundo Victal, uma empresa ética etransparente, que investe em projetossociais, é sustentável porque pensa nofuturo. Embora o retorno financeiro dosinvestimentos na área socioambiental surja amédio e longo prazo, o ganho imediato vemem forma de reconhecimento de toda asociedade: a empresa passa a ser considera-da sustentável, de longa duração, e isso geracredibilidade.

“As empresas de petróleo que atuam noBrasil fazem um trabalho de excelência nessaárea. E não estou falando apenas daPetrobras, que é um caso à parte. Todas têmuma determinação muito forte. Da mesmaforma, as empresas estrangeiras que chegamao Brasil para trabalhar no setor, demonstramuma enorme preocupação com a forma comque vão atuar no país. Isso significa que aresponsabilidade socioambiental está incor-porada a elas, independentemente de ondeelas estiverem”, comenta.

De acordo com Victal, é importante queas empresas detectem as áreas que mere-cem maior atenção na hora de empregarrecursos para projetos socioambientais. Nocaso do setor petrolífero, em alguns segmen-tos o público interno merece maior atenção.Em outros, como é o caso da distribuição decombustível, a cadeia de fornecedores

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desempenha um papel importante e mereceser observada com cuidado.

“Infelizmente ainda existem os casos decondições de trabalho degradantes oumesmo de trabalho escravo nas frentes deplantio da cana. Portanto, é imprescindívelque as empresas que compram o álcool secertifiquem que estão adquirindo um produtolivre de exploração dos trabalhadores.Também é importante que as empresas dosetor ajudem a combater esses crimes,assinando o Pacto de Erradicação do TrabalhoEscravo”, ressalta.

Na opinião de Carlos Victal, o consumidordesempenha um papel de máxima importân-cia nesse processo.

“O consumidor está muito bem informa-do, mais exigente e atento para os produtose empresas que respeitam o meio ambientee que investem no social. Embora nãodisponha de meios para auditar umaempresa, o consumidor está preocupado emsaber como ela trata seus funcionários, seestá em dia com as obrigações fiscais e se éidônea”, diz.

Mas como saber se uma empresa écorreta?

“Basta estar por dentro das pesquisas,ler os balanços sociais e ambientais que asempresas publicam e que, em geral, sãoauditados por instituições sérias, quefiscalizam a veracidade dos dados divulga-dos. O relatório do Ibase (Instituto Brasilei-ro de Análises Sociais e Econômicas), porexemplo, é muito simplificado e, ao mesmotempo, completo. O Ibase está o tempotodo verificando as empresas que respon-dem aos questionários. Caso alguma delasesteja fazendo coisa errada, certamente oinstituto impedirá a publicação do relató-rio”, explica o coordenador de responsabili-dade social do IBP.

Uma empresa ética e transpa-

rente, que investe em projetos

sociais, é sustentável porque

pensa no futuro.

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Compêndio para a sustentabilidade

Compêndio reúne ferramentas deresponsabilidade socioambientalutilizadas por 33 países

Lançado no fim do ano passado peloInstituto AntaKarana, o Compêndiopara a Sustentabilidade – Ferra-mentas de Gestão de Respon-sabilidade Socioambiental: Umacontribuição para o Desenvolvimento

Sustentável, organizado por Anne Louette(coordenadora do Instituto), é uma compila-ção de diferentes ferramentas de responsabi-lidade socioambiental usadas em 33 países.A publicação tem patrocínio da Petrobras,Comgas, AES Tietê.

O objetivo do compêndio, segundo aautora, é contribuir para que a adoção depráticas de RSE seja incorporada à cultura eaos sistemas de gestão de pequenas, médiase grandes organizações de diferentes setoresda sociedade (esferas pública, privada eorganizações não-governamentais).

Além de reunir iniciativas já conhecidasdo mercado brasileiro, como GRI (GlobalReporting Initiative, da Holanda) e TNS (TheNatural Step, da Suécia), entre outras, olevantamento revela, também, a diversidadee a convergência entre as várias ferramentasdesenvolvidas por centros de pesquisa eorganizações ainda pouco divulgadas noBrasil, como VMS (Values ManagementSystem, da Alemanha); IMS (IntegratedManagement Systems, da Áustria); e(Vastuun Askeleita, da Finlândia), queservem de parâmetro para reflexão e análisede como essa discussão está globalizada.

O compêndio contou, ainda, com o apoioinstitucional de diversas organizaçõescomprometidas com a disseminação dagestão socialmente responsável para asustentabilidade. São elas: CEBDS (ConselhoEmpresarial para o Desenvolvimento Susten-

tável); FDC (Fundação Dom Cabral), NúcleoAG de Sustentabilidade e ResponsabilidadeCorporativa; Fides (Fundação Instituto deDesenvolvimento Empresarial e Social); Gife(Grupo de Institutos Fundações e Empresas);GVCes (Centro de Estudo emSustentabilidade da FGV); Instituto Akatupelo Consumo Consciente; Instituto Ethos deEmpresas e Responsabilidade Social; e WHH(Willis Harman House).

De acordo com Anne Louette, as ferra-mentas apresentadas atendem às necessida-des das organizações em diversas etapas degestão, contribuindo para processos deaprendizagem, auto-avaliação, prestação decontas e incorporação de princípios deresponsabilidade socioambiental.

A autora apresenta uma visão estratégicade responsabilidade socioambiental como um

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dos elementos de base para garantir aevolução das atividades humanas, chamandoa atenção para os valores.

“É imprescindível que os gestores culti-vem valores, mudando em si próprio e naequipe a forma de pensar, ser, decidir, agir,conduzir e reagir diante de suas atividades”,ressalta.

Dentre as ferramentas, Louette destacoua importância da The Natural Step – TNS, daSuécia, atualmente presente em 12 países.

“É uma das mais abrangentes no resgateda condição humana e para conservaçãoplanetária”, defende.

“É um livro de consultas, mas que leva àreflexão necessária”, disse a presidente

Além de reunir iniciativas já conhecidas do mercado brasileiro, o le-

vantamento revela a diversidade e a convergência entre as várias

ferramentas desenvolvidas por centros de pesquisa e organizações

ainda pouco divulgadas no Brasil.

executiva do Instituto AntaKarana, SimoneRamounoulou.

Para ela, o conceito de sustentabilidade émuito mais amplo e profundo. Abrangeaspectos do saber, compreensão dos proces-sos socioambientais, culturais,organizacionais, além de conhecimentoscientíficos para unificar e embasar estesvários segmentos.

“Muitas das ferramentas são usadas hojede forma aleatória. O livro ajuda a entendermelhor os processos”, finalizaRamounoulou.

A publicação está disponível paradownload (em pdf) no endereço:www.institutoatkwhh.org.br/compendio

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Negócio promissor

Sustentabilidade é lucrolíquido e certo

Sustentabilidade hoje, além de serum negócio altamente promissorpara as empresas, é um artigo deextrema necessidade para omercado e para a sociedade.Cada vez mais, os consumidores

valorizam a transparência, a postura éticadas organizações e aderem ao chamadoconsumo consciente, optando por produtosambientalmente responsáveis e socialmentecorretos.

À medida que as práticas de responsa-bilidade socioambiental se fortaleceram noBrasil, a sustentabilidade perde seu caráterinformal para ser incorporada às estratégiasde gestão. As empresas passaram aalmejá-la não apenas para evitar perdas derecursos naturais, de eficiência, de reputa-ção ou de mercado, mas, principalmente,para obter lucros.

O surgimento de novos componentes nagestão estratégica das empresas desenhouum novo formato de economia. Antes asempresas baseavam suas ações na exaustãode recursos, na exploração intensiva da mão-de-obra e na geração de resíduos ambientais.Os melhores gestores eram aqueles quelevavam esse modelo ao extremo paramaximizar lucros.

Quando a sustentabilidade entra emcena, as ações passam a se caracterizar pelouso racional de recursos, pela produção demais com menos, pela reciclagem do lixo eneutralização de resíduos, pelo uso deenergia limpa, pelo consumo consciente, pelapostura ética, pela necessidade de assumir aresponsabilidade pelo que se produz (antes,durante e depois) e pelos impactos causadosao meio ambiente e à sociedade. Os gestoresda era da sustentabilidade, por sua vez,

ainda estão aprendendo a adotar práticas deresponsabilidade socioambiental para obterlucros.

Para Cláudio Boechat, pesquisador eprofessor da Fundação Dom Cabral, uma dasescolas de negócios mais prestigiadas doPaís, falta capacitação.

“É preciso formar gestores capazes delidar com essa nova realidade. Mas tambémé necessário que existam escolas capazes deoferecer formação em responsabilidadesocioambiental para esse público. Hoje noBrasil existem instituições que possuemcursos de excelência nessa área, como é ocaso da Fundação Dom Cabral, mas épreciso ampliar a oferta de cursos de qualida-de”, afirma.

A avaliação de James Watson, editorsênior da revista inglesa EconomistIntelligence Unit – que empreendeu umaampla pesquisa sobre sustentabilidade comexecutivos de vários países europeus –,reforça a opinião de Boechat. SegundoWatson, ainda existe uma lacuna entre o queas companhias dizem alcançar, em termosda gestão do impacto social e ambiental queexercem, e o grau de envolvimento de seusexecutivos nestas atividades.

“As companhias precisam conceberestratégias que levem seus empregados aum maior envolvimento com asustentabilidade como parte de atividadescotidianas", diz em entrevista para o siteInfoMoney.

A pesquisa mostrou que poucas empre-sas sabem obter vantagens comerciais comprogramas de sustentabilidade. Um terço dosentrevistados (33%) implementa esforçospela sustentabilidade apenas em mercadosonde acreditam no impacto positivo e no

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sucesso junto aos clientes. A pesquisaapontou, ainda, que 31% reconhecem queos esforços de sustentabilidade de suascompanhias estão mais centrados na publici-dade do que em mudanças reais.

Bens empresariaisintangíveis

Na cultura da sustentabilidade o intangí-vel desempenha um papel de grande impor-tância, enquanto fator de geração de lucro.Ética, transparência, credibilidade, reputação,honestidade e confiança são bens de cotaçãoalta no mercado das ações responsáveis e setraduzem em ganhos financeiros. Prova dissoé a valorização de ações de empresaslistadas em bolsas como a Dow JonesSustainability (DJS), que apresentaram umaumento anual de até 5% em relação àsoutras. A explicação é simples: empresascom menores riscos, melhor governança emais transparência, são as preferidas dosinvestidores.

Na literatura sobre o tema há váriosestudos que comprovam o peso dos bensintangíveis para a sustentabilidade de umaempresa. O canadense Bob Willard, diretorda The Natural Step, BSc pela McGillUniversity e PhD pela Universidade deToronto, pesquisou o assunto e descobriuque ao adotar uma postura responsável emrelação ao meio ambiente e à sociedade, umacompanhia pode aumentar o lucro em até38% e a produtividade em até 8%. Oresultado está em dois livros, sendo que oprimeiro, The sustainability advantages –seven business caso benefits of a TripleBottom Line, de 2002, inédito emportugues, tornou-se um best-sellercorporativo.

Bob Willard também descobriu que noCanadá, onde a pesquisa foi realizada, quandoos funcionários estão felizes e orgulhosos daempresa na qual trabalham, os ganhos deprodutividade podem chegar até 10%.

O livro The Business Case for CorporateCitizenship, de Arthur D. Little, publicadoem 2002, informa que em 1981 o valor dascompanhias relacionado a bens intangíveisera de 17% e em 1998 teve uma altaimpressionante, disparando para 71%.

Exemplos deempresas quebuscam

sustentabilidade eobtêm bons resultadoseconômicos são citadoscom freqüência namídia. A General Eletric(GE) é o mais conheci-do. A empresa, que jáfoi considerada inimiganúmero um dosambientalistas, deuuma guinada estratégi-ca, criou a GEEcomagination e passoua investir em tecnologiaslimpas. Os negócioscom energia eólicacresceram quatro vezes,então, desde 2001.

Em apenas dois anos a GE Ecomagination faturou US$ 12 bilhões etem pedidos em carteira que chegam a US$ 50 bilhões. Até 2010,espera multiplicar por dois os investimentos em tecnologia de energialimpa e também as receitas advindas de produtos ecoeficientes, comoturbinas movidas a gás natural. De 2003 até hoje a empresa jácomercializou com a China mais de U$ 1 milhão em turbinas menospoluidoras.

A Toyota é outro caso famoso. Em 1995, antecipando-se ao aumen-to do preço da gasolina, criou a tecnologia do motor híbrido. Com ocrescente interesse do público por carros menos poluentes, seu modeloPrius virou fenômeno mundial de vendas. A meta da empresa écomercializar um milhão de veículos híbridos (89% menos emissão decarbono) até 2010.

Organizacões que investem em práticas de sustentabilidade sãosempre inovadoras. E inovação é outro fator que contribui para oaumento da lucratividade.

A Danone se associou ao Grameen Bank, do empreendedor socialMuhammad Yunus – Prêmio Nobel da Paz pelo desenvolvimento desistemas de micro-crédito – para implantar em Bangladesh 50 fábricasde iogurte de baixo custo, com o intuito de ajudar crianças subnutri-das. O projeto foi implantado em associação com as comunidadeslocais.

No Brasil, produtos como o papel Reciclato da Suzano, a linha Ekosda Natura e os carros flex; os fundos éticos das instituição bancárias;prédios sustentáveis como o da agência do Banco Real em NovaGranja, São Paulo; e o surgimento de mais empresas de reciclagemreforçam a tendência.

Inovação e ousadia

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Marketing de ocasiãoPor Mehane Albuquerque Ribeiro

Excesso de propagandasocioambiental causa desconfiança

SUSTENTABILIDADE SE TORNOU palavrada moda no universo empresarial brasileiro.Se antes a qualidade ocupava o papelprincipal na construção de marcas degrandes empresas no Brasil, agora é a vez deas grandes corporações brasileiras adotarema sustentabilidade em seus planos de ação e,principalmente, em seus discursos. Oresultado disso são anúncios e mais anúncios– em jornais, revistas, no rádio, na tevê e nainternet – que evidenciam a preocupaçãodas empresas com o social e com o meioambiente em proporções nunca vistas.

É tanta publicidade e tanto dinheiro gastona compra de espaços na mídia para alardearo compromisso das empresas com osproblemas socioambientais, que talvez fossepossível resolver boa parte dos mesmosproblemas investindo esse montante nabusca de soluções.

O fato é que as empresas acreditam nosucesso garantido da fórmula: uma propagan-da bem feita, com belas imagens, enfocandoum tema que preocupa e mobiliza a socieda-de, servindo para demonstrar ou para criar aimpressão de que são responsáveis. Mesmoque não sejam. E a ética empresarial, nessecaso, onde fica?

O educador e filósofo Mário SérgioCortella, em entrevista no site do InstitutoEthos, diz o seguinte:

“A ética empresarial passa por ummomento que mistura um pouco de oportu-nismo com necessidade e urgência. Esseoportunismo surge quando se percebe queuma parcela da sociedade entende a éticacomo um valor agregado importante para osnegócios. Muitas empresas entraram‘surfando’ nessa nova onda. A pequena éticaé a etiqueta. E algumas empresas têm éticaapenas como etiqueta, que é a capacidadede ser diplomático, uma coisa de fachada”.

E o público, por sua vez, como reage a essemarketing exagerado? Com desconfiança. Nãofoi à toa que uma pesquisa do Ibope constatourecentemente que 46% dos brasileiros nãoacreditam nas boas intenções das empresasque alardeiam seus feitos com excesso depropaganda. Mesmo que a embalagem sejaespetacularmente produzida para impressionar,o consumidor está mais interessado noconteúdo, na consistência das informações.Isso quer dizer que, ao invés de fotos de belascenas ou paisagens, o público quer a verdadedos fatos, dados que possam comprovar o realgrau de comprometimento das empresas comaquilo que apregoam e realizam.

“Há empresas, por exemplo, que inves-tem pesado na publicação de balançossociais de grande impacto visual, com fotoslindíssimas, mas cujos resultados apresen-tados não têm a menor consistência”,assinala Nádia Rebouças, da Rebouças &Associados. “A sobrevivência dessas empre-

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sas está seriamente comprometida a médioe longo prazo”, garante.

No fim das contas, o feitiço acabavirando contra o feiticeiro e o que fica é aidéia de que as empresas poderiam fazerbem mais do que fazem e que estão envol-vidas com as questões socioambientaisapenas para tirar proveito da situação. Éclaro que existem empresas sérias querealizam trabalhos importantes no camposocioambiental. E é natural que queiram daruma satisfação para a sociedade, mostrandoo que estão fazendo através da publicidadeou com a publicação de balanço social. Mastambém é fato que o consumidor não ébobo e que num campo imenso de inten-ções duvidosas, ele já sabe separar o joio dotrigo. Sabe identificar, pelo tipo de mensa-gem que lhe é passada e pelo conteúdo, oque é maquiagem e o que é fato concreto.Mesmo que tudo isso esteja misturadodentro de um conceito tão amplo, e atécerto ponto nebuloso para a maioria, como asustentabilidade.

“É preciso ressaltar que há uma grandeparcela de empresas inteligentes e honestasque, além de se preocupar com a manuten-ção de seus negócios, cuidam damultiplicidade do conjunto da vida. Ou seja,cuidam para que suas atividades não interfi-ram na capacidade de sustentar a vida nassuas múltiplas faces. Em outras palavras,algumas empresas têm a ética como horizon-te da sua perenidade. O grande compositorAri Barroso escreveu uma frase que serveperfeitamente para essas empresas que têm

a ética como cosmética: ‘Creia, toda quimerase esfuma, como a brancura da espuma quese desmancha na areia’. Ou seja, aquilo queé mera fachada, uma hora vai desabar”,observa Cortella.

O pior disso tudo é que existem empre-sas que acreditam que sustentabilidade érealmente (e apenas) uma questão demarketing. E não enxergam os verdadeirosbenefícios que ela pode trazer se for umobjetivo a ser atingido, através da incorpora-ção de práticas de responsabilidadesocioambiental aos sistemas de gestãoestratégica.

“Investir em sustentabilidade, e não empropaganda, é que gera lucro, ao mesmotempo em que diminui riscos. Nesse caso, apublicidade só deve ser feita com critério etransparência, sem excessos de gastos esem tentar enganar o espectador”, avaliaCarlos Victal, coordenador de responsabilida-de social do IBP.

Uma comunicação bem planejada,voltada para os diferentes públicos que estãoenvolvidos no processo produtivo é o querealmente dá resultado. No mundocorporativo de hoje, quem acredita que aindaé possível construir uma imagem através deartifícios voláteis como o marketing deocasião, pode se preparar para perdermercado e ganhar descrédito.

“O conceito de construção de imagem éultrapassado. Hoje a empresa é o que é. Nãoadianta gastar fortunas com propaganda etratar mal seus empregados ou fingir queignora a prática de trabalho degradante entreseus fornecedores”, afirma Nádia Rebouças.

Muito mais importante e duradouro,segundo ela, é fortalecer a reputação. Euma boa reputação é determinada apartir da relação que a empresa travacom os stakeholders, de acordo com apublicitária Lia Medeiros, da Comissãode Responsabilidade Social do InstitutoBrasileiro de Petróleo, Gás eBiocombustíveis (IBP).

“Uma comunicação responsável e bemplanejada, capaz de disseminar informa-ção de forma eficiente e com transparên-cia; e de promover a interação entre osdiferentes públicos com os quais a empre-sa se relaciona, é a base para a sus-tentabilidade”, garante.

Não foi à toa que

uma pesquisa do

Ibope constatou

recentemente que

46% dos brasilei-

ros não acreditam

nas boas inten-

ções das empre-

sas que alardei-

am seus feitos

com excesso de

propaganda.

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Fundação Dom Cabral – FDC

Educar gestores brasileirospara a sustentabilidadeé o grande desafio

Opesquisador e professor CláudioBoechat, da Fundação DomCabral (FDC), de Minas Gerais –segunda melhor escola denegócios do País e única afigurar entre as 20 melhores do

mundo no ranking do jornal inglês FinancialTimes – é um dos integrantes da força-tarefada ONU, composta por pessoas de diferentespaíses, cuja missão é influenciar a educaçãoexecutiva para a sustentabilidade e incentivaras empresas a se alinharem aos princípiosbásicos do Global Compact: respeito aosdireitos humanos, ao direito do trabalho,preservação ambiental e combate à corrupçãoe ao suborno.

No Brasil, Cláudio Boechat vem realizan-do um amplo trabalho nesse sentido, queserá apresentado ao Global Compact e àONU em julho, em Genebra. Ele conta que aFDC faz parte da organização do ComitêBrasileiro do Global Compact, que trabalhapara fortalecer e facilitar o intercâmbio entreas instituições e empresas brasileirassignatárias. A convite da EFMD (EuropeanFoundation for Management Development), eem parceria com a Petrobras, participa,ainda, de um grupo de estudos que pretendetraduzir os princípios do Global Compactpara o segmento acadêmico, facilitando suacompreensão, prática e inserção nos currícu-los das escolas de negócios.

“Em 2003 e 2004 fizemos um trabalhojunto à Petrobras para conceber formas deinfluenciar a educação executiva nas escolase nas empresas. A convicção é de que não

adianta você mudar aescola, se você não mudaa empresa. Por exemplo:às vezes a empresamanda um gerente fazerum curso na FDC, eleaprende várias coisassobre direitos humanos,

mas ao levar para a empresa, isso não évalorizado. Ele pode até mesmo ser mandadoembora por ficar insistindo no assunto.Então, você tem que empreender ações queassociem as mudanças nas práticas educa-cionais das empresas à mudança do currí-culo nas escolas”, diz.

Este trabalho junto a Petrobras, depois deum ano, foi encaminhado à ONU e à EFMD,para que dessem continuidade. Nessesentido, a FDC assumiu alguns projetos eum deles é a criação de uma rede brasileirade escolas-empresas para influenciar aeducação executiva.

“Nós propusemos ao Comitê Brasileiro doPacto Global a criação da rede, da qual fazemparte empresas e escolas brasileiras vincula-das a esse trabalho internacional, mas cominiciativas voltadas para o País. A redecomeçou a funcionar no início desse ano e játivemos algumas reuniões, em que participa-ram empresas importantes como a Natura, oBanco Real, o Banco do Brasil, o LaboratórioAché e escolas como a Universidade FederalFluminense, a Fundação Getúlio Vargas e aFDC, todas signatárias do Pacto Global. Umadas ações é o mapeamento do que estáacontecendo nas escolas e empresas no

Por Mehane Albuquerque Ribeiro

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Brasil. Criamos uma ferramenta que vamosusar para avaliar um grupo de empresas quese dispuseram a participar do levantamentoe, ao final do ano, em setembro ou outubro,apresentaremos os resultados. Assim,estamos fazendo um esforço nacional,vinculado a uma iniciativa internacional e, aomesmo tempo, estamos participando dainiciativa específica da ONU”, explica.

Em relação à capacitação profissional,Cláudio conta que a FDC mantém um cursode gestão responsável para asustentabilidade, voltado para a formação degerentes, que dura cerca de cinco meses eque é parte presencial, parte virtual. A idéianão é formar especialistas em responsabili-dade social, mas tornar gerentes atuantesem RSE, sejam eles de qualquer área ouespecialidade.

“Nossa visão é de que precisamostrabalhar para que todo o ambiente educacio-nal seja coerente com os valores dasustentabilidade. Não adianta uma escola teraulas de segurança do trabalho, enquantoum funcionário limpa a janela sem cinto desegurança”, observa.

Ele diz que a responsabilidade social noBrasil evoluiu muito e que em vários aspec-tos somos referência mundial, graças aotrabalho de organizações como o InstitutoEthos e o Cebeds (Conselho EmpresarialBrasileiro de Desenvolvimento Sustentável),entre outras. Em contrapartida, aspectosnegativos como a corrupção colocam o Paísem posição desfavorável no cenário internacio-nal e demonstram que as empresas brasilei-ras ainda têm um longo caminho a percorrer.

“No ranking de ‘competitividade respon-sável’ da Accountability (instituição inglesa

que avaliou o modo como 180 paísesestimulam – ou não – práticas responsáveisde suas empresas), o Brasil ficou em 56ºlugar e posicionou-se no quarto grupo, o doscomplyers ou cumpridores, juntamente comVenezuela, Argentina, Honduras, El Salvador,Uruguai e Índia, entre outros. Na realidade, oBrasil pratica a competitividade responsávelnão porque isso seja cobrado pela sociedade,mas porque existem muitas empresas aquique são multinacionais e trouxeram essaspráticas com elas, ou porque o País exportamuito e precisa cumprir requisitos decertificação internacional”, avalia.

Cláudio conta que ao elaborar a pesquisa“Desafios para a sustentabilidade e planeja-mento estratégico das empresas no Brasil”,feita em parceria com Roberta Paro, para aFDC, a dupla visitou as organizações maisavançadas do País para saber quais temassão considerados desafiadores e descobriuque os dois assuntos que mais preocupamessas mesmas empresas são energia egovernança.

“Traçamos um retrato de como as empre-sas de vanguarda estão incorporando essesdesafios em seu planejamento estratégico echegamos a um grau de incorporação daordem de 53,5%. Em relação à governança,por exemplo, 80% das empresas avaliadasestão trabalhando para mudar de postura,deixando de privilegiar os acionistas etrazendo os stakeholders para dentro doprocesso”, afirma.

Segundo ele, os grandes temas do Paíssão os menos incorporados. Ou seja: asquestões de grande vulto, que têm um pesogrande para a melhoria das condições de vidada população brasileira, são as que menosatraem a atenção das empresas. São elas:saúde pública, tráfico de drogas e violência,oferta e condições de moradia, pandemia eprodução de alimentos.

O projeto faz parte do Observatório daGestão Responsável para a Sustentabilidadeno Brasil que, além de realizar leiturasperiódicas dos desafios da sustentabilidade edo posicionamento estratégico das empresasem relação a esses mesmos desafios, abordaindicadores para a gestão empresarial,práticas gerenciais que promovam asustentabilidade, além de relatóriossocioambientais.

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Responsabilidade Social Empresarial – RSE

As empresas precisamvalorizar mais o indivíduo

Afuturista Rosa Alegria, consultorade Responsabilidade SocialEmpresarial (RSE), instrutora doUniEthos e diretora de conteúdodo portal Mercado Ético, conside-ra que o movimento de RSE no

Brasil evoluiu bastante nos últimos anos,mas acha que hoje ele está estagnado. Issoocorreu, segundo ela, porque as empresasnão valorizam seus funcionários comoindivíduos na sua totalidade. Rosa afirma queenquanto as pessoas forem infelizes einsatisfeitas no trabalho, todo o esforço feitopara o desenvolvimento desse conceito noPaís até hoje, terá sido em vão.

Em entrevista para o site do InstitutoEthos, Rosa falou sobre o assunto. Aqui, elaaprofunda a questão da felicidade nasempresas, cita números e pesquisas quecomprovam que pessoas felizes produzemmelhor, sugere a criação de índices defelicidade e critérios de satisfação, fala dacrise de confiança entre empresas e funcioná-rios e aponta soluções para melhorar arelação entre ambos.

“O Brasil tem destaque no movimento deRSE no mundo todo, tem o maior número deempresas que participam do Pacto Global,mas, infelizmente, em termos de gestãointerna de pessoas, ainda está na erajurássica”, avalia.

Ela diz que houve avanços significativos,mas o Brasil continua seguindo modelosimportados e replicando ações de outrospaíses, ao invés de ousar e investir eminovação.

“Tudo fica muito no discurso, nojornalzinho. As premiações, por exemplo, são

Por Mehane Albuquerque Ribeiro

importantes, mas não são retratos reais dasboas práticas”, critica.

Para Rosa, falta coerência entre o que asempresas dizem e o que fazem. E coerência,na sua opinião, é fundamental para que omovimento de RSE possa avançar no País.Segundo ela, mesmo as empresas queadotam uma gestão responsável, não dão aatenção devida à questão do indivíduo econtinuam investindo no modelo de produzirmais com menos.

“Se isso não mudar, o movimento da RSEnão vai chegar onde deveria. Uma vezperguntei ao John Elkington, fundador daSustainAbility e criador do conceito de triplebottom line, se ele não havia pensado numquarto bottom line, que dissesse respeito aoindivíduo”, conta.

A idéia do quarto bottom line, esclarece,é do professor Evandro Vieira Ouriques,

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coordenador do Núcleo de EstudosTransdisciplinares de Comunicação e Cons-ciência, da Universidade Federal do Rio deJaneiro (UFRJ), mas na visão de Rosa, servepara demonstrar como o universo corporativodeixa o ser humano em segundo plano.

E qual seria a solução? Trabalhar valoresque hoje não estão sendo pautados, afirmaela. As avaliações de desempenho utilizadaspelas empresas, na sua opinião, adotammétodos antiquados e só levam em contaquesitos ligados à eficiência: o funcionárioprecisa ser competitivo, criativo, empreende-dor e ter iniciativa, entre outras “qualidades”.

“Ninguém quer saber se ele é amoroso,solidário ou sensível. Se ele tem capacidadede gerar amizade, de tornar o dia das outraspessoas melhor, se tem o dom de inspirarseus companheiros de trabalho ou deapaziguar conflitos. Na verdade, as empre-sas medem o valor do indivíduo por aquiloque ele faz, e não pelo que ele é. As práti-

Uma mulher de futuro

Formada em letras, Rosa Alegria come-çou a carreira como jornalista e assessora de imprensa. Foi diretora de comuni-

cação e marketing da Avon, uma das maioresempresas de cosméticos doBrasil, e na sua passagem pelaempresa criou a área deresponsabilidade social, comprojetos ligados à saúde e aobem-estar da mulher.

Interessada em ampliarseus horizontes no campo do

conhecimento, se desligou da empresa eviajou para os Estados Unidos, onde ingres-sou numa nova carreira, a de estudos dofuturo, que busca entender, interpretar epreparar as pessoas para as mudanças queocorrerão no mundo. Tornou-se mestra pelaUniversidade de Houston, no Texas, e hoje évice-presidente do Núcleo de Estudos doFuturo da Pontifícia Universidade Católica deSão Paulo (PUC-SP).

Hoje, além do trabalho na PUC-SP, Rosaengajou-se em diversas iniciativas como oProjeto Millennium, do Conselho Americanoda Universidade das Nações Unidas, e oMovimento Mídia da Paz, entre outras.

cas de mensuração são tecnocráticas e faltaequilibrar o compasso entre o técnico e ohumano. Falta despertar para o componentevivo. As empresas não percebem o quantopoderiam ganhar se inovassem nessasavaliações de desempenho, enriquecendo-ascom outros aspectos que não fossemapenas os industriais. Faltam índices defelicidade interna, indicadores de satisfa-ção”, diagnostica.

O primeiro passo, de acordo com Rosa, éestudar com profundidade a complexidadedo ser humano dentro da empresa. Osegundo, é perguntar às pessoas se elasrealmente acreditam no que fazem, se oque elas fazem nas empresas tem algumsentido em suas vidas e se foram motivadasou inspiradas a fazer o que as empresaslhes determinam. Ela explica que é a menteque nos faz tomar determinadas atitudes.Logo, é preciso trabalhá-la. O movimento deRSE no País, diz, opera no nível dainstrumentação, e não da consciência. E oque mais lhe incomoda é a incapacidadedos gestores em lidar com o sutil.

“Sou muito crítica nesse ponto. Acreditoque as empresas quando entram para omovimento de RSE pensam, em primeirolugar, que aquilo vai ser bom para omarketing delas. E isso não muda a situação.Além do crescimento financeiro e do lucro, épreciso contemplar a integração do serhumano e levar em conta a felicidade daspessoas. Nunca vi tanta gente infeliz einsatisfeita como vejo agora. O ambiente nasempresas é esquizofrênico. As pessoasvivem estressadas, nervosas. Cada vez émaior o número de pessoas que sofrem dedepressão, que se drogam e que até sesuicidam por se sentirem pressionadas,frustradas por não alcançar resultados. Eninguém se dá conta disso. Ninguém nomundo empresarial percebeu ainda quepessoas felizes produzem mais. Esse é umdado que passa completamente desapercebi-do”, afirma.

Ela cita o trabalho de outplacement daLens & Minarelli Consultoria, feito no anopassado, em que foi avaliado o principalsentimento dos executivos quando sãodemitidos de seus cargos: alívio. Cita,também, a pesquisa feita por Betânia Tanure,da Fundação Dom Cabral, sobre felicidade

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nas empresas, em que 84% dos executivosse declararam infelizes. Da mesma forma, fazmenção ao trabalho do professor EduardoGianetti, da Fundação Getúlio Vargas, quepropõe a inclusão da felicidade namensuração do desempenho das nações.Nesse caso, as mais desenvolvidas nãoseriam as que produzem mais, e sim asmais felizes.

“Existe um ambiente insustentável dentrodas empresas, que não enxergam que o maisimportante não é a ponta do iceberg, mas oque está por baixo. A ponta é a realidade,mas o que não pode ser visto, o intangível, étotalmente ignorado por elas. E o mais graveé que o setor empresarial corre o sério riscode perder seu sistema vivo de inteligência,além da confiança entre as pessoas”, aponta.

Rosa ressalta que os funcionáriosconfiam cada vez menos em seus emprega-dores. Isso foi comprovado por uma pesqui-sa feita pela Edelman, empresa internacio-nal de relações públicas com escritório noBrasil. A pesquisa tem o objetivo de medir aconfiança das pessoas em relação à empre-sa onde trabalham. O chamado barômetroda confiança desenvolvido pela Edelmanforneceu dados muito interessantes. Segun-do ela, funcionários de várias empresasforam indagados se confiavam mais nasinformações vindas de cima, da direção daempresa, ou em notícias informais veicula-das nos corredores pelos companheiros detrabalho. Em 2003, 22% confiavam nacomunicação informal. Em 2006, esse

número subiu para estarrecedores 68%.Isso quer dizer que existe uma crise deconfiança, que se reflete diretamente narelação que a empresa trava com seuspúblicos interno e externo.

Para Rosa, o ser humano está perdendo acapacidade de sonhar e isso é algo muitograve, na medida em que o homem precisaexercitar a imaginação para construir ummundo melhor.

“O homem precisa sonhar com o futuroque deseja para o mundo. Hoje, a pessoaque fala em sonhos é considerada ingênua”,revela.

Talvez por isso, ela tenha optado por umaprofissão pouco conhecida e, até certo ponto,enigmática: a de futurista.

“Meu trabalho é antecipar as mudan-ças, fazer as empresas enxergarem adian-te e buscarem soluções tanto do ponto devista de mercado quanto em relação àsustentabilidade. A idéia é que as organi-zações se antecipem no tempo eminimizem seus impactos negativos nomeio ambiente e na sociedade. Mas eunão advinho coisas e nem possuo o domde fazer previsões”, esclarece.

“O homem precisa sonhar com o

futuro que deseja para o mundo.

Hoje, a pessoa que fala em sonhos

é considerada ingênua.”

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Balanço Social

A RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRE-SARIAL (RSE) começou a ganhar força noBrasil a partir dos anos 90, período em queaumentou a atuação das organizações não-governamentais, em conseqüência dadeficiência do Estado em suprir as demandasda população de baixa renda. Ao mesmotempo, as empresas incorporaram no discur-so e na prática, ações voltadas para a justiçasocial. A partir daí, conceitos como “ética” e“transparência” foram se tornando importan-tes no universo corporativo, na mesmaproporção em que a sociedade passou acobrar das empresas uma atuação maisresponsável e clara. Nesse novo contexto,mostrar os resultados se tornou estratégia.

Mais do que uma simples “prestação decontas”, o balanço social é uma forma dedemonstrar a performance na áreasocioambiental e vem se tornando comumnos diversos setores da economia brasileira,já que as empresas por aqui estão cada vezmais interessadas em divulgar seus casos deboa prática empresarial.

Se antes as grandes corporações apresen-tavam relatórios apenas a seus acionistas –há meio século, os números eram escondi-dos a sete chaves, como estratégia paraenfrentar a concorrência – agora as empresaspublicam voluntariamente seus resultados, odetalhamento objetivo de seus projetos eações; e os divulgam a todos os públicoscom os quais se relacionam: interno, externo,clientes, fornecedores, consumidores,sindicatos, etc.

Há empresas que usam o balanço socialcomo peça de marketing e apresentam relatóriosde grande impacto visual, porém com dadossem consistência. Há outras que omitem oumaquiam falhas de conduta e resultados. Asempresas sérias, porém, estão preocupadascom a reputação e sabem da importância deapresentar um relatório socioambiental claro,objetivo, transparente, comprometido com a

verdade e disponível ao público através de todosos meios possíveis, incluindo-se aí a Internet.

A grande vantagem de ser transparente éa credibilidade. A empresa transparente estásempre empenhada em melhorar e, por issomesmo, admite suas falhas com maturidadee assume publicamente o compromisso demudar de atitude quando erra. O balançosocial surge, nesse caso, como a peça-chavepara que as empresas conquistem confiançajunto a seus públicos e se torna um impor-tante marco referencial na história da respon-sabilidade social no Brasil.

Modelos mais utilizados derelatórios socioambientaisGRI – O Global Reporting Initiative (GRI) éum dos modelos de prestação de contas emações sócio-ambientais mais completos queexistem. É amplamente utilizado por empre-sas multinacionais e tem o apoio das NaçõesUnidas. Recentemente, o GRI completou acomissão permanente que atualiza suasrecomendações. (www.globalreporting.org)IBASE – O Instituto Brasileiro de AnálisesSociais e Econômicas (IBASE) foi pioneiro nadiscussão de relatórios corporativos comenfoque social no Brasil. As principaiscaracterísticas do modelo são a simplicidadee o caráter voluntário.(www.balancosocial.org.br)

Relatórios considerados exemplaresno setor de petróleo e gásPetrobras – A Petrobras foi uma das primei-ras empresas brasileiras a divulgar seuBalanço Social. Pela dimensão da empresa, epelo teor das atividades desempenhadas porela, seus relatórios englobam interessantespontos temáticos. (www.petrobras.com.br)Shell – Depois de críticas nos anos 80 pelabaixa performance em assuntos sociais, aShell revolucionou sua estratégia e tornou-seexemplo em produção socioambiental.People, Planet and Profits é um interessantematerial informativo. (www.shell.com)

Compromisso com a verdade geracredibilidade

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Selo Empresa Amiga daCriança

Criado pela Fundação Abrinq paraempresas que não utilizem mão-de-obrainfantil e contribuam para a melhoria dascondições de vida de crianças e adolescen-tes. (www.fundabrinq.org.br)

Certificação Socioambiental

Consumidores preferemempresas transparentes

Com o objetivo de estimular aResponsabilidade Social Empre-sarial (RSE), vários instrumentosde certificação foram criados nosúltimos anos. Não é difícilcompreender por que os selos e

certificados ganharam tanta importância nouniverso corporativo de hoje: em um mundocada vez mais competitivo, empresasenxergam vantagens comparativas emadquirir certificações que atestem sua boaprática empresarial.

Da mesma forma, a procura dos consu-midores por produtos e serviços socialmentecorretos, faz com que empresas adotemprocessos de reformulação interna e novasposturas para se adequar às regras impostaspelas entidades certificadoras.

Entre algumas das certificações maisalmejadas pelas empresas brasileiras, estãoas seguintes:

ISO 14000Uma das

certificaçõescriadas pelaInternationalOrganizationfor Standardization(ISO). A ISO 14000dá destaque às ações ambientais da empresamerecedora da certificação. (www.iso.org)

AA1000O AA1000 foi criado em 1996 pelo

Institute of Social and Ethical Accountability.De cunho social, enfoca principalmente arelação da empresa com seus diversosparceiros, ou stakeholders. Uma de suasprincipais características é o cárater evolutivojá que se trata de uma avaliação anual.(www.accountability.org.uk)

SA8000A “Social Accountability 8000” é uma

das normas internacionais mais conhecidas.Criada em 1997 pelo Council on EconomicPriorities Accreditation Agency (CEPAA), oSA8000 enfoca, primordialmente, relaçõestrabalhistas e visa a assegurar que nãoexistam ações anti-sociais ao longo da cadeiaprodutiva, como trabalho infantil, trabalhoescravo ou discriminação. (www.sa8000.org)

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ISO 26000

Abordagem multi-stakeholderdá o tom da norma internacionalde responsabilidade social

ANBR 16001, criada pelaABNT (Associação Brasileirade Normas Técnicas) com aajuda de várias entidades, foilançada no final de 2004,não é obrigatória e estabelece

requisitos mínimos para um sistema de gestãode responsabilidade social no país.A qualidade do trabalho garantiu ao Brasil apossibilidade de coordenar a criação de umanorma internacional de responsabilidade social,a ISO 26000, que será publicada em 2010.

A ISO 26000, conhecida como a ‘ISO dofuturo’, será uma auto-regulação não-certificável. No início, pensava-se em criar

uma norma internacional para responsabilida-de social empresarial. Mas, em seguida,decidiu-se que ela não se limitaria às empre-sas, devendo ter abrangência maior e servirde suporte para qualquer organização,pública ou privada, de qualquer porte, emqualquer país.

“Trata-se de uma ferramenta importantepara que as empresas alinhem seusposicionamentos no que diz respeito àprática da responsabilidade social. Nestanorma não haverá auditoria. A empresa sedeclara seguidora dos preceitos contidos naregulamentação e a utiliza como parâmetropara sua atuação", explica Maurício Mirra,sociólogo, coordenador do Escritório deprojetos e planejamento estratégico doInstituto Ethos.

“Ficou definido que a ISO 26000 seráapenas orientadora, e não certificadora,porque entendemos que seria bem maisimportante orientar milhões do que certificarmilhares", diz Eduardo Campos de SãoThiago, co-secretário do grupo de trabalho deelaboração da norma e assessor de RelaçõesInternacionais da Associação Brasileira deNormas Técnicas (ABNT).

A ABNT, no Brasil, e o Instituto Sueco deNormalização (SIS) há dois anos são parcei-ros na tarefa de orquestrar os trabalhos daequipe de discussões criada pelaInternational Organization for Standardization(ISO), que conta com 355 especialistas,representantes de 72 países e de 35 organi-zações internacionais. O grupo é coordenadopor dois brasileiros (Jorge Cajazeira, gerenteda Suzano Papel e Celulose, é o chefe daequipe) e dois suecos. A decisão de terrepresentantes de um país desenvolvido e deoutro em desenvolvimento na coordenação

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teve o objetivo de considerar as duas realida-des no processo e de obter consenso.

Pela primeira vez na elaboração de umanorma ISO, em vez de apenas experts,participam profissionais da indústria, gover-nos, trabalhadores, consumidores e ONGs,entre outros setores, num processo classifica-do como ‘abordagem multi-stakeholder’, queatende a diferentes públicos interessados noassunto.

A abordagem multi-stakeholder é feita deforma igualitária: todos têm os mesmosdireitos e a mesma voz. Nesse aspecto, aprecupação constante da coordenação dostrabalhos é com a participação das mulheres,que cresceu de 33%, em 2005, para 38%.Outra inovação é que, pela primeira vez nahistória da ISO, há um número maior depaíses em desenvolvimento (57%) do quedesenvolvidos trabalhando na elaboração deuma norma.

Progressos, novidades epróximos passos

Com vinte resoluções aprovadas, o Grupode Trabalho de Responsabilidade Social daISO (WG SR) decidiu em sua 5ª plenária,

realizada em Viena, na Áustria, nos dias 5 a9 de novembro de 2007, que é tempo deavançar um pouco mais. Será elaborada aquarta minuta do documento (WD.4), com arecomendação de que se atinja o estágio deCommittee Draft (CD) na próxima reunião.

Sob a liderança compartilhada entre aAssociação Brasileira de Normas Técnicas(ABNT) e o Instituto Sueco de Normalização(SIS), a participação de cerca de 400especialistas de todo mundo foi recorde emreuniões do WG SR, confirmando o crescenteinteresse que esta norma vem despertando.A plenária na capital austríaca ficoumarcada, também, pela fortepresença de países em desenvolvi-mento, que ultrapassou a dospaíses desenvolvidos.

“O número quase dobrou emrelação ao da primeira reunião emSalvador, em maio de 2005,quando iniciamos os trabalhos de elaboraçãoda futura ISO 26000”, comenta EduardoCampos de São Thiago.

Este é um fato incomum nos demaiscomitês técnicos da ISO e, uma vez mais,demonstra o elevado grau de expectativa einteresse mundial em relação a esta norma.Ela se beneficia da contribuição de todos

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aqueles que têm interesse sério em respon-sabilidade social.

“De forma inovadora, esta contribuiçãoestá sendo alcançada pela participaçãoequilibrada de seis categorias de stakeholdersrepresentadas em delegações nacionais –consumidores; governo; indústria; ONGs;trabalho; serviços, suporte pesquisa e outros –,além de organizações internacionais relevan-tes”, destaca Eduardo São Thiago.

A plenária foi iniciada sob a expectativade ter que lidar, em um tempo relativamenteescasso, com os 7.225 comentários recebi-dos em relação ao terceiro projeto de trabalho(WD.3) da ISO 26000, circulado previamen-te. O grande número de contribuições, deacordo com o co-secretário, gerou por umlado certo grau de apreensão, mas por outro,evidenciou notável engajamento e compro-misso por parte dos especialistas queparticipam do desenvolvimento da norma.

O engajamento refletiu-se naturalmentenos trabalhos. Resultados importantes foramalcançados, entre os quais se destacam:• O documento avançou e foi tomada adecisão de discutir um quarto projeto detrabalho (WD.4) após a reunião de Viena,com a recomendação expressa em resoluçãode ter como meta avançar para o estágioseguinte (Committee Draft – CD) na próximaplenária, marcada para setembro de 2008em Santiago, no Chile. Com isso, espera-seque a ISO 26000 seja publicada em 2010.No atual estágio do trabalho (WD), o objetivoconsiste em continuar construindo consenso

entre os especialistas. Já na fase de CD, oobjetivo será a obtenção de consenso entreos organismos nacionais de normalização eas organizações internacionais participantes.• Estabelecimento de uma Força-Tarefa deRedação (IDTF) para revisar o texto da ISO26000 de forma integrada, com base noscomentários recebidos. A 5ª reunião foi aúltima em que o texto da norma foi prepara-do e discutido em partes separadas. A partirde agora, o texto será trabalhado de formaintegral, segundo cronograma de trabalhodetalhado que foi estabelecido na plenária daÁustria para a preparação do WD.4.

Mais uma vez, os especialistas brasileirostiveram atuação destacada em Viena, sejadefendendo com convicção as posições dadelegação, seja assumindo responsabilidadesnos diferentes grupos que se formaram. Areunião foi organizada pelo Instituto deNormalização da Áustria (ON), sob a supervi-são do co-secretário do WG SR. Contou como suporte do governo e da Agência deDesenvolvimento Austríaca (ADA), juntamen-te com o Pacto Global das Nações Unidas ecom a Organização para o DesenvolvimentoIndustrial das Nações Unidas (Onudi).

Os participantes foram oficialmenterecebidos por: Walter Barfuss, presidente doInstituto de Normalização da Áustria (ON);Dmitri Piskounov, diretor da Onudi e HansWinkler, secretário de Estado do MinistérioAustríaco para Assuntos Europeus e Interna-cionais. Eduardo São Thiago observa que, emparalelo ao desenvolvimento da norma, a ISOe o WG SR têm sido ativos no que se refere àampliação de representação e daconscientização.

“Inúmeros workshops regionais paraaumentar conscientização em relação àimportância da futura ISO 26000 foramorganizados em diferentes partes do mundoao longo de 2007”, informa.

Esses eventos têm a participação ativa doco-secretário e do chair, Jorge Cajazeira, quesão as partes brasileiras na liderança compar-tilhada com a Suécia do Grupo de Trabalhoda ISO de Responsabilidade Social. Além deSantiago, que abrigará a 6ª reunião do WGSR em setembro de 2008, sob a organizaçãodo Instituto de Normalização do Chile (INN),está prevista uma reunião em Copenhague,na Dinamarca, ainda sem data marcada.

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Projeto Tear

Sustentabilidade parapequenas e médias empresas

Criado pelo Instituto Ethos, emparceria com o Fundo Multilate-ral de Investimento (Fumin), doBanco Interamericano de Desen-volvimento (BID), o ProgramaTear – Tecendo Redes Sustentá-

veis – tem como principais objetivos aumen-tar a competitividade e a sustentabilidadedas pequenas e médias empresas (PMEs) eampliar suas oportunidades de mercado,contribuindo assim para o desenvolvimentodo País.

A realização desses objetivos se dá pelaadoção de medidas de responsabilidadesocial empresarial (RSE) em PMEs queatuam na cadeia de valor de empresasestratégicas em sete setores da economia:açúcar e álcool; construção civil; energiaelétrica; mineração; petróleo e gás; siderurgiae varejo.

Em cada um desses sete setores foiidentificada, pelo menos, uma grandeempresa que pudesse servir como âncora. Ea cada segmento coube selecionar 15 PMEsde sua cadeia de valor com as quais asempresas âncora se comprometeram atrabalhar para ampliar sua gestão socialmen-te responsável. As empresas âncora são:Petrobras, Vale, Camargo Corrêa, CyrelaBrazil Realty, KPMG Brasil e ArcelorMittalBrasil. O grupo se reúne periodicamente paratrocar experiências e receber orientaçãoatravés de um consultor do projeto.

“O que a pequena empresa faz, a grandetambém faz”, diz Paulo Itacarambi, diretor doInstituto Ethos.

Segundo ele, o projeto de responsabilida-de social em uma empresa é amplo e deveser elaborado individualmente. As idéiasimplicam em: melhorias na governança paraque a organização seja mais transparente;fortalecimento da ética; ações para aperfei-

çoar a relação com os funcionários e melhorara produtividade; aprimorar a relação com osclientes; transferência de tecnologia; impactopositivo no meio ambiente e no relaciona-mento com a comunidade onde está instala-da; entre outros aspectos.

Como instrumento de avaliação emonitoramento dos progressos obtidos, asempresas participantes respondem aosIndicadores Ethos de Responsabilidade SocialEmpresarial e preenchem a Matriz Brasileirade Evidências de Sustentabilidade, desenvol-vida em parceria pelo SustainAbility, pelaInternational Finance Corporation (IFC) e peloInstituto Ethos.

No caso do setor de petróleo e gás,

a empresa âncora é a Petrobras. E o IBP

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Além das empresas-âncora, o programaconta com parceiros (setoriais, regionais enacionais) que têm o papel de replicar aexperiência para outras empresas e cadeiasde valor ligadas ao mesmo setor ou a outrossetores, induzindo a adoção da iniciativa pormais empresas e tornando o conhecimentodisponível a todos os interessados. Chama-dos de agentes de indução ou indutores decomportamento, são instituições e entidadesempresariais que podem influenciar ocomportamento das empresas em seu setore contribuir para criar um ambiente favorávelà incorporação da RSE pelas empresasbrasileiras.

Petróleo & GásNo caso do setor de petróleo e gás, a

empresa âncora é a Petrobras. E o IBP é aentidade setorial que atua em parceria. Comoexemplo de pequena empresa que participado Projeto Tear, a Hidropartes Mangueiras eConexões Hidráulicas, sediada em Macaé eque presta serviços para a Petrobras,implementou um programa de alfabetizaçãode adultos, além de coleta seletiva do lixo ede óleo comestível; e de um programa dereciclagem de papel.

A responsável por todas as mudançasocorridas na empresa foi Mariana Macedo,filha do dono, que conseguiu driblar a resis-tência do pai, hoje feliz com os resultados:

“O programa de alfabetização de adultosteve um impacto tão positivo para a empresae para a comunidade, que até mesmoalgumas concorrentes nossas estão colabo-rando”, conta.

Que o diga dona Maria do Carmo daSilva, de 67 anos (foto), que compareceuao Seminário Anual de ResponsabilidadeSocial Corporativa do IBP especialmentepara ler uma carta de agradecimento àempresa e ao Projeto Tear, mostrando,assim, que aprendeu bem a lição de casano curso de alfabetização para adultospromovido pela Hidropartes.

As inovações de Mariana na empresa nãoparam por aí. No final do ano passado elacriou um banco de microcrédito para osfuncionários. Com a economia que conseguiufazer ao usar tecnologias novas, propostaspelos empregados para otimizar o trabalho detodos, foi possível arrecadar R$ 2 mil e emnovembro o banco já possuía quatro clientes.Prova de que é possível fazer mais e melhor,basta querer. Um exemplo que outras PMEsdo setor de petróleo e gás devem seguir.

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A Sustentabilidade naIndústria de Petróleo,Gás e Energia Renovável:Desafios e Oportunidades

ResponsabilidadeSocial Corporativa

Patrocínio Master Patrocínio Gold Patrocínio Silver

Realização

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