A Concepcao Ioruba Da Personalidade Humana Abimbola

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conceao, da ioruba

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  • A concepo iorub da personalidade humana - Wande Abimbola 1

    A concepo iorub

    da personalidade humana

    Wande Abimbola

    Trabalho apresentado no

    Colquio Internacional para A Noo de Pessoa na frica Negra

    Paris, 1971

    Publicado pelo

    Centre National de la Recherche Scientifique

    Edio N 544

    Paris, 1981

    Traduo, notas e comentrios1 :

    Luiz L. Marins

    Segunda edio, com notas revisadas.

    Maro de 2012

    1 As notas de rodap contero notas do autor e os comentrios do tradutor, sendo que, a numerao das notas originais do autor estaro em parnteses, logo aps a numerao da nota de rodap. As notas e comentrios do tradutor terminaro com a sigla N.T.

  • A concepo iorub da personalidade humana - Wande Abimbola 2

    Os Iorub, aproximadamente 14 milhes (1971), so encontrados basicamente em trs pases na

    frica Ocidental: Nigria, Daom e Togo. Na Nigria, os iorubas esto espalhados entre a cidade de

    Lagos, os estados ocidentais e Kwara, sendo que, os estados ocidentais, com uma populao

    aproximada de nove milhes, so quase que completamente habitados pelos iorubas.

    No Daom, os iorubas so um importante grupo tnico de aproximadamente meio milho, em

    um pas cuja populao, de dois milhes. No Togo, os iorubas tambm podem ser encontrados em

    larga escala. Aos estados ocidentais antes mencionados acrescenta-se a cultura Creole de Sierra

    Leone, a qual tem uma forte influncia ioruba; importante tambm a sobrevivncia da cultura

    ioruba na Amrica do Sul e das Ilhas Caribenhas, remanescentes da era do comrcio escravo, e

    podem que podem ser encontradas mais fortemente na Bahia e em Cuba, onde a linguagem ioruba

    foi preservada como dialeto ritual e a religio ioruba ainda largamente professada.

    normal que uma lngua assim to espalhada por todo o mundo, tenha vrios dialetos. Somente

    na Nigria, o iorub tem ao menos dez dialetos principais, sendo mais dominante o dialeto de Oyo

    falado por mais da metade da populao. Este artigo baseado principalmente na pesquisa entre os

    falantes de ioruba da Nigria, especialmente de Oyo (i).

    Para entender profundamente a concepo iorub da personalidade humana, necessrio

    primeiro discutir a viso e a estrutura da cosmologia iorub.

    Os iorub concebem o mundo como formado por elementos fsicos, humanos e espirituais. Os

    elementos fsicos amplamente divididos em dois planos de existncia: ay (terra) e run (cu).

    Ay, que tambm algumas vezes conhecido por slay, o domnio da existncia humana, das

    bruxas, dos animais, pssaros, insetos, rios, montanhas, etc.

    run, que outras vezes conhecido como slrun, o lugar de Oldmar (O Deus Todo-

    Poderoso), que tambm conhecido como lrun significando literalmente o proprietrio dos

    cus; o run tambm o domnio dos rs (divindades), que so reconhecidas como

    representantes de Oldmar; e dos ancestrais.

    A mitologia ioruba, como a mitologia de muitas outras culturas, reconhecem um tempo no

    passado quando ambos, ay e run, faziam parte do mesmo territrio, mas estavam separados

    somente por um porto controlado por um porteiro2. Naquele tempo, Oldmar era provavelmente

    um Deus mais prximo da terra, mas, quando mais tarde o run afastou-se e veio a ser fisicamente,

    completamente separado do ay, Oldmar tornou-se um Deus do cu. Acredita-se que os rs

    tenham vindo para o ay pouco aps a sua criao, cujo evento aconteceu em If, conforme a crena

    2 Adna aquele que toma conta do porto da rua. CMS, 2001, pg. 6. N.T.

  • A concepo iorub da personalidade humana - Wande Abimbola 3

    ioruba. Na terra, os rs realizam funes semelhantes a suas funes no run.

    rsnl (deus da criao) era responsvel pela modelagem dos seres humanos, enquanto que

    rnmil, tambm conhecido como If (deus da divinao), foi encarregado com o uso da

    sabedoria para a interpretao do passado, presente e futuro, e tambm para a organizao geral da

    terra.

    gn (deus do ferro) foi encarregado com a responsabilidade da guerra e faanhas heroicas,

    enquanto s, tambm conhecido como Elgbra3 (o deus da justia), que guarda o divino e vital

    poder chamado se4, o qual tem o dever de ser o policial onipresente que pune e protege a

    humanidade, bem como realizar os acordos com as divindades.

    Acredita-se, que aps as divindades realizarem suas funes por um longo tempo, os rs

    retornaram para o run, onde eles esto at agora ajudando Oldmar como representantes.

    Geralmente, cr-se que os rs sejam protetores dos seres humanos contra as foras do mal

    conhecidas coletivamente como ajogun5, e desempenham a funo de intermedirios entre a

    humanidade e Oldmar. Os rs, entretanto, devero proteger apenas aqueles que pautam pela

    moral, e tem uma vida honesta e justa, e punem os homens que praticam o mal. Quando eles esto

    zangados com os seres humanos, eles podem ser apaziguados com sacrifcios, que s geralmente

    aceita em seu nome.

    Os ancestrais, coletivamente chamados de k-run, conforme a crena dos iorubs, tambm

    esto no run. Entre os iorubs, todo adulto que morre [ e tem merecimento], vem a ser um

    ancestral, e um pequeno rs em seu prprio local. A morte, entretanto, vista como um meio de

    transformao dos seres humanos, de um nvel de existncia, no ay, para outro nvel de existncia,

    no run. Quando um homem muda de um nvel de existncia para outro, ele [se tiver merecimento],

    automaticamente adquire grande poder e autoridade e vem a ser um rs para sua prpria famlia

    ou linhagem. Portanto, todo iorub que tem pai e/ou me morto, faz sacrifcios para ele ou ela,

    periodicamente, com preces para uma vida prspera e boa.

    Os ancestrais, assim como os rs, acredita-se que so amigos dos homens. Eles o protegem

    dos ajogun e agem como intercessores entre os homens e os ris. A relao dos ancestrais para

    com os seres humanos mais ntima, mas eles, como os rs, precisam ser propiciados com

    3 Pronncia: lguibara. Os afro-brasileiros pronunciam lbara, e os afro-cubanos, eleguara. O fonema ioruba da letra gb, por metaplasmo, geralmente omitido. N.T.

    4 Sobre a escrita correta desta palavra, ver: Quando s no ax, in: http://...quandoase - N.T.

    5 (1) Ajogun literalmente significa, guerreiros contra o homem, um nome coletivo para oito coisas ruins: ik (morte), rn (doenas), f (prejuzos), gb (paralesia), rn (tribulaes), p (pragas), wn (priso), se (preocupaes de qualquer tipo), os quais os iorubs acreditam ser os mais importantes inimigos do homem.

  • A concepo iorub da personalidade humana - Wande Abimbola 4

    sacrifcios, e tambm podem ficar zangados com um homem que falha com seus deveres familiares,

    ou sua conduta moral, manchando nome da famlia do qual ele, ancestral, tambm faz parte.

    Diferente dos rs e dos ancestrais, as feiticeiras, conhecidas como j, iymi ou eleye, as

    quais acredita-se que vivam no ay, so intratveis inimigas da humanidade. De fato, a sua principal

    funo no ay a destruio de todo o trabalho do homem. Elas aliam-se aos ajogun, com o nico

    propsito de destruir o homem e seu trabalho. Alm disso, diferente do rs e dos ancestrais, elas

    no podem ser facilmente apaziguadas com sacrifcios. Entre os iorubs, muitas mulheres so tidas

    por ser feiticeiras, embora alguns homens possam estar associados com suas feitiarias. O mais

    importante smbolo o pssaro hur6, um tipo de pssaro com hbito noturno.

    O Cosmo iorub baseado numa ordem hierrquica. No topo est Oldumr, que assistido

    pelos rs, e em seguida esto os ancestrais. Cr-se que todos eles esto no run.

    Na terra, o poder do oba (rei) supremo sobre seus subalternos. O rei maior dos iorubas,

    acredita-se ser diretamente descendente de Odduw, o grande ancestral mtico dos iorubs, e tem

    uma autoridade divina. Os reis iorubas so assessorados por uma sociedade corporativa, de chefes

    de vilas e cidades, conhecida como bal, que so, por sua vez, assessorados pelos chefes de

    linhagem e famlias, conhecidos como bal.7 Os bal tomam suas decises com a aprovao dos

    mais idosos da linhagem familiar, conhecidos como gb8. Nesta ordem hierrquica, crianas e

    jovens no tem autoridade sobre nada, e se, eles morrem antes de tornarem-se um gb, eles no

    podem ser cultuados como ancestral.

    Assim, como mencionado antes, o gb ao morrer, vai para o run, e imediatamente troca seu

    status para vir a ser um okurun e o rs tambm influencia ativamente a atividade humana na

    terra,9. Isto significa que, espiritualmente falando, os iorubas no concebem nenhuma separao

    entre o run e o ay.

    6 (2) hur acredita-se ser o pssaro das feiticeiras, sendo seu smbolo mais importante, e que saem noite para praticar sua destruio. Cr-se que as feiticeiras tem a habilidade de entrar dentro destes pssaros, quando elas querem fazer algum dano. (Um pssaro grande da famlia do ganso [CMS, 2001, pg. 75]. A palavra huru, ou ewuru, refere-se a uma espcie de fosso ou vala para capturar animais selvagens, cujo topo coberto e camuflado. [Abraham, 1962, pg. 200]. N.T.)

    7 Estas palavras foram registrados pelo dicionrio da CMS, 2001, pg. 53, como bl, e bl (observe os tons). No domnio da lingustica, estas duas palavras formam um parnimo, isto , palavras ortograficamente parecidas, mas com sentidos diferentes. Este um dos motivos de nos posicionarmos contra as supostas tradues da herana fontica afro-brasileira, publicadas recentemente por alguns pseudo-tradutores de dicionrio. N.T.

    8 (3) Na sociedade iorub tradicional, o termo gb significa mais do que um idoso, sendo aplicado apenas a pessoas com no mnimo cinquenta anos de idade. O termo d aplicado para adultos entre a idade de vinte e cinco a cinquenta anos, e o termo omod para jovens com menos de vinte e cinco anos.

    9 Na parte final desta frase, a dissertao de Abimbola no deixa claro a que ele se refere: se o okrun que veio a ser cultuado como rs, ou, se rs cultuado pelo okurun, que continua influenciando o cl (dl). N.T.

  • A concepo iorub da personalidade humana - Wande Abimbola 5

    Podemos ento representar a estrutura hierrquica de autoridade nos dois planos de existncia

    como discutido acima, de uma forma simplificada, como segue:

    Oldmar (Deus Todo-Poderoso)

    rs (divindades)

    k-run (ancestrais)

    Oba (rei)

    Bal (chefe de cidades)

    Bal (chefe de famlias)

    gb (ancies)

    d (adultos)

    Omod (jovens e crianas)

    Um estudo mais aprofundado da viso do cosmo iorub, sua estrutura hierrquica, e sua

    concepo da personalidade humana, se faz necessrio, mas limitao deste artigo no permite, em

    termos de espao, um exame mais detalhado do tema; mas os principais elementos sero vistos

    agora, no que segue.

    O Iorub acredita que a personalidade humana tem dois elementos principais - fsico e

    espiritual. O elemento fsico, que coletivamente conhecido como ara (corpo), , como

    mencionado acima, o trabalho manual da rsl ( o deus iorub da criao), que foi encarregado

    por Oldmar de moldar os seres humanos com barro [nos primrdios da criao]10, sendo tambm

    responsvel por moldar a beleza e a feiura, a perfeio e a deficincia [de tudo que gerado e vem a

    dar nascimento]. por isso que ele considerado como:

    Algbd run

    Oko abuk

    Oko aro

    Oko arr bor pt

    O ferreiro do cu

    O marido do corcunda

    O marido do deficiente

    10 Ver http://.../aimortalidadeiorubanoscandomblesketu/ - N.T.

  • A concepo iorub da personalidade humana - Wande Abimbola 6

    O marido da an, de cabea chata 11

    Na sociedade iorub tradicional, filhos nascidos com deformidades como, corcundas,

    deficientes, ans e albinos, so reconhecidos como eni-rs (parentes do deus da criao). Tais

    crianas so, portanto, entregues para o alto sacerdote de rsl, que carrega o ttulo de

    Abrs12, para tomar conta de tais crianas, e us-las como serviais para servios religiosos e

    domsticos. Na verdade, os eni-rs so usualmente os membros mais entusiasmados do culto

    de rsl, uma vez que eles foram banidos de sua prpria linhagem familiar. Isto significa que s

    pessoas deficientes so negadas as oportunidades abertas para as pessoas normais, devido ao

    sistema de hierarquia social. Eles no podem, por exemplo, ter funes como bal (chefes de

    famlia), bal (chefes de cidades), ou oba (rei). Na morte, eles no podem ser cultuados como

    ancestrais, por que eles no so enterrados ao lado da linhagem familiar.

    Isto no significa, que pessoas deficientes no tem lugar na sociedade iorub. De fato, como j

    mencionado, eles desenvolvem importantes funes religiosas como colaboradores no templo de

    rsl. Alguns deles so homens de grandes meios materiais, e isto no nenhuma surpresa, uma

    vez que eles foram afastados da convivncia de sua linhagem familiar, pois atrapalharia as pessoas

    normais da famlia, trabalhar e administrar a riqueza. Do ponto de vista de como isto feito, de

    qualquer forma, conclui-se que, pessoas deficientes no podem ter funes adequadas de

    autoridade, na estrutura hierrquica iorub.

    Quanto aos elementos que compe a personalidade humana, consistem principalmente de:

    m (soul)13, que tem a sua realizao fsica no corao humano, o qual carrega o mesmo

    nome.

    or (a cabea interior)14, que tem a sua contraparte na cabea fsica,

    11 Estes versos usam da metfora; entendam como: o responsvel por .... N.T.

    12 Um cultuador de falsos deuses, um idlatra. CMS, 2001, pg. 3. N.T.

    13 Aqui, Abimbola generaliza demais, em prejuzo do tema: m uma palavra genrica para esprito ou alma, e s deve ser empregada quando o ara-run no tem vida no ay; entretanto, quando o ara-run vem para o ay, e torna-se um ara-ay, este passa a ter um enkej, corpo espiritual de um ser humano, sua segunda pessoa, que no uma outra conscincia fora dele, ao contrrio, ele mesmo. O m ento representado pela respirao (m). A palavra okn fisicamente quer dizer corao, mas no conceito de pessoa representa os sentimentos individuais deste ara-ay, que formaro a persnalidade do seu pensar, inerente ao seu carter, iy-iw, mas vai alm disso, pois estes sentimentos e suas idiossincrasias, sero levadas pelo oku-run (morto), para o reino dos ancestrais, onde voltar a ser um ara-run, e novamente um m-l-l (esprito eterno), tendo ento cultuada sua memria, rnt. (Abraham, 1962, p. 577). N.T.

    14 Abimbola refere-se ao or-od, (or-destino). Or s significa cabea quando o tema o corpo. N.T.

  • A concepo iorub da personalidade humana - Wande Abimbola 7

    es (pernas), que so conhecidas pelo mesmo nome no plano fsico.

    Uma discusso detalhada destes trs importantes elementos do aspecto espiritual da

    personalidade humana, segue agora.

    Oldmar, Ele mesmo, acredita-se ser o responsvel pela criao do m (alma), aps rsl

    ter moldado todos os elementos fsicos, incluindo o corao humano, que conhecido pelo mesmo

    nome. Assim, podemos dizer, que o trabalho de Oldmar consiste em colocar m, no trabalho

    final de rsl. m, acredita-se ser uma frao da respirao divina que Oldmar coloca

    dentro de cada indivduo, para fazer dele uma existncia humana. Assim como m (corao), o

    mais importante elemento do corpo fsico, acredita-se tambm que ele, no plano espiritual, m

    (alma) de suprema importncia, por que ele um elemento imperecvel da personalidade humana.

    Quando um homem morre, seu m (soul) espiritual no morre, mas vai para o run com um novo

    corpo, e toma seu lugar entre os ancestrais. 15

    Enquanto na terra, m trabalha para que todo indivduo tenha a esperana de que sua vida ser

    melhor. Este ponto levantado no seguinte poema de If, que chama m, the offspring of

    Oldmar 16, algo que o ser humano precisa possuir e casar com ela, como uma mulher, na

    inteno de ter todas as boas coisas da vida dinheiro, casas, mulheres e filhos.

    Ejogb

    1. Gbogbo or fn ew

    2. Abuk l rer s m s

    3. Llgbj l ti k ise d.

    4. A d fn rnml,

    5. Nj t lo rm,

    6. O mo Oldmar sobnrin.

    7. m, omo Oldmar.

    8. O mo atn lglg for sapeji

    9. rnml gb rr ebo,

    10. O r.

    11. gb r tks,

    12. t

    13. gb karara eb ha fn un

    15 Abimbola continua generalizando. Veja nota 20. N.T.

    16 A filha de Oldmar. N.T.

  • A concepo iorub da personalidade humana - Wande Abimbola 8

    14. n s bm b b

    15. Ow b e16. Hn hiin

    17. Ow be

    18. As bm b b

    19. Aya b e20. Hn hiin

    21. Aya be

    22. As bm b b

    23. O mo be

    24. Hn hiin

    25. O mo be

    26. As bm

    27. Ire gbogbo be

    28. Hn hiin

    29. Ire gbogbo be17

    Traduo18

    1. A cabea do albino cheia de cabelos cinza

    2. O corcunda carrega o material de s sem ajuda

    3. de Llgbj que ele tem trazido todas suas coisas

    4. Estes foram os sacerdotes que fizeram divinao para rnml

    5. Quando ele estava vindo para ter m

    6. A filha de Oldumr, como uma espsa.

    7. m, a filha de Oldmar.

    8. Descendentes Daquele que senta-Se sobre uma fina esteira, e Cuja Cabea est desprotejida da chuva.19

    9. Foi dito para rnml fazer um sacrifcio,

    10. Ele fz.

    11. Foi dito para ele dar um sacrifcio para s,

    12. Ele deu.

    13. Seu sacrifcio foi imediatamente aceito pelos deuses.

    14. Ele disse: "Eu realizo, se m no falhar".

    15. "H esperana de ter dinheiro"

    16. "Isto certo"

    17 (4) Abimbola, Wande. jinl Ohn Enu If, Ap Kn. Collins, Glasgow, 1968, pg. 16.

    18 Este, e outros poemas a seguir, foram traduzido do ingls. N.T.

    19 Uma referncia ao prprio Oldmar. N.T.

  • A concepo iorub da personalidade humana - Wande Abimbola 9

    17. "Existe a esperana de ter dinheiro"

    18. "Se m no falhar"

    19. " H esperana de ter mulheres"

    20. "Isto certo"

    21. "H esperana de ter mulheres"

    22. "Se m no falhar"

    23. "H esperana de ter filhos"

    24. "Isto certo"

    25. "H esperana de ter filhos"

    26. "Se m no falhar"

    27. "H esperana de ter todas as boas coisas da vida"

    28. "Isto certo"

    29. "H esperana de ter todas as boas coisas da vida"

    Enquanto Orsl o criador do corpo, e Oldmar o rensponsvel pela criao do m

    (alma), Ajl, "o oleiro que faz cabeas" no cu, responsvel pela criao do or (cabea interna),

    [ou or-destino]20. Aps rsl ter modelado os seres humanos [incluindo or-cabea], ele passa

    os modelos sem vida para Oldmar, que, ao dar-lhes o m, d-lhes tambm sua fora de vida

    vital. Os seres humanos, assim criados, movem-se para a casa de Ajl, que d-lhes, um or

    [destino].21

    Ajl, o oleiro, acredita-se ser um devedor incorrigvel e uma criatura descuidada e

    irresponsvel. Provavelmente, por este motivo, ele no reconhecido como uma divindade. 22 De

    qualquer forma, quando Ajl termina de moldar as cabeas, ele as coloca no depsito. Mas, a

    maioria dos or [cabeas-destino] no foram feitas com cuidado, porque algumas, ele esquece de

    cozer, outras foram mal feitas, enquanto outras foram queimadas no forno. Como ele deve para

    muita gente, ele sempre esconde-se, fugindo de seus cobradores, descuidando-se de alguns or

    [cabeas-destino] que esto no forno, que terminam por queimarem-se. Ajl, por causa de sua falta

    de cuidado e irresponsabilidade, o responsvel por moldar muito mais cabeas [or-destino] ruins,

    do que boas.

    20 O or de Ajl uma metfora ao destino (od), e no cabea propriamente dita, que feita por Obtl. N.T.

    21 Este destino s escolhido por Ajl para aquele que vai nascer, quando antes, ainda no run, ele consulta If e realiza os sacrifcios. somente assim que Ajl escolher sempre um bom or-destino para ele. Porm, a grande maioria das pessoas no consultam If antes de virem para o ay, e ao chegar casa de Ajl, escolhem um or-destino por sua prpria conta, que poder ser bom ou ruim. Od ogb-ognd. (Abimbola, 1976, p. 118) . N.T.

    22 Esta fala de Abimbola contesta muitos segmentos da religio afro-brasileira, que afirmam ser Ajl o criador das cabeas. Como vimos, pelo contrrio, ele no , nem mesmo considerado rs, como tambm, no cria or-cabea. N.T.

  • A concepo iorub da personalidade humana - Wande Abimbola 10

    O ato de estar selecionando or [destino] na casa de Ajl, reconhecido como livre-arbtrio.

    Todo indivduo livre para selecionar qualquer tipo de or [destino] que ele deseja, seja grande ou

    pequeno, assado ou sem assar. Uma vez que, a maioria das cabeas moldadas por Ajl so ruins e

    imprestveis, [e como a quase todos os ara-orun no consultam If antes], segue-se que a quase

    totalidade dos indivduos que vo para a casa de Ajl, escolhero cabeas ruins e imprestveis.

    Alm de Ajl, somente rnml, o deus da divinao e sabedoria, a outra testemunha do ato da

    livre escolha dos or [cabeas-destino]. Da, a importncia de consultar If de tempos em tempos,

    para saber o desejo do seu Or.23

    Uma vez que a escolha do or [destino] tenha sido feita, o indivduo, agora um ser humano

    completo24, livre para viajar do run (cu) para o ay (terra). Seu sucesso ou falncia na vida,

    depende, geralmente falando, do tipo de or [destino] que ele pegou no depsito de cabeas de

    Ajl.

    Or, entretanto, o elemento que representa o destino humano. A escolha de um bom or

    [destino] assegura que, as suas aspiraes individuais o permitiro ter uma vida prspera e de

    sucesso na vida; mas, ao contrrio, a escolha de um mau or [destino], o levar a uma vida de

    falncias e insucessos.

    Alm disso, Or [cabea], que tambm conhecido como k-pr, ou pn, reconhecido pelos

    iorubs, como um rs, tendo seu prprio culto individual 25. Or [cabea] reconhecido como um

    deus individual e pessoal, que cuida dos interesses particulares da pessoa, enquanto que o rs

    23 (5) Para uma discusso mais profunda sobre o tema, ou Or, dentro do If, ver Abimbola, 1976.

    Nota do tradutor :

    Neste pargrafo, Abimbola mistura os conceitos, sem explicar que, aqui no refere-se ao or-destino de Ajl, abstrato e metafrico, mas sim, o Or propriamente dito, que manifesta desejo atravs de If, ligado que , ancestralidade (k-pnr). Neste contexto, a palavra enkej precisa se melhor explicada, pois possui duplo-conceito. Vejamos:

    a) No contexto de Noo de Pessoa, o duplo (corpo espiritual) coexiste com o corpo, mas como no visto pelo olho humano, e por isso dizemos que "nosso duplo no run", mas a prpria pessoa, est fazendo as mesmas coisas que faz seu corpo fsico. Parece confuso, mas nem tanto. As expresses "duplo no run", e "cpia no ay", so abstraes, e no podem ser entendidas de forma literal, pois, enquanto Noo de Pessoa, enkej representa o nosso prprio corpo espiritual, e no um outra entidade/conscincia, parte de ns.

    b) No contexto de famlia espiritual (eb/dl/egb run), o enkej, neste caso, realmente uma segunda pessoa, outra conscincia no run, algum de sua famlia ou sociedade espiritual, ou ainda, seu protetor espiritual (alb). Todos estes conceitos formam o conceito genrico de Or.

    c) No contexto social: um gerente-adjunto, um representante, um diplomata

    24 Na verdade, ainda no o , por que no nasceu. N.T.

    25 (6) Como um ris, Or tem sua prpria parafernlia, e a mais importante delas, um material cnico, feito em couro, onde muitos bzios so costurados e pendurados. Este material conhecido como bor, e sacrifcios so colocados sobre ele durante o processo de propiciao de Or.

  • A concepo iorub da personalidade humana - Wande Abimbola 11

    existe para o interesse de todo o cl (dl) ou famlia (eb).

    Por causa disso, If coloca Or numa posio muito mais alta do que qualquer outro rs. O

    que Or no aprova, no pode ser dado para nenhuma pessoa, nem pelos rs, nem pelo prprio

    Oldmar. Or , entretanto, um intermedirio entre cada pessoa, e o rs [da famlia], e este no

    atender nenhum pedido, que no tenha sido aprovado pelo Or da pessoa. Sobre isso, nos fala a

    seguinte passagem de um poema de If:

    gnd Mj

    1. Or, pl

    2. Att nran.

    3. Att gbe ni ks

    4. K ss t d ni gb

    5. Lyn or eni

    6. Or, pl

    7. Or by

    8. E ni or b gbeboo r

    9. K y ss 26

    Traduo

    1. Or, eu sado voc

    2. Voc, aquele que sempre lembra-se de ns

    3. Voc, que abenoa o homem antes que qualquer rs

    4. Nenhum rs abenoa um homem

    5. Sem o consentimento de seu Or

    6. Or, eu sado voc

    7. Voc, que permite que as crianas nasam vivas

    8. Aquele cujo sacrifcio aceito por seu Or

    9. Se alegrar abundantemente.

    No prximo extrato de poesia divinatria de If, Or apresentado como um rs, que mais

    simptico para a pessoa, do que todos os outros rs. Portanto, se um homem est em necessidade

    de alguma coisa, ele dever, primeiro de tudo, fazer seus pedidos para seu Or, antes dele solicitar

    ajuda de qualquer outro rs.

    26 (7) Abimbola. Ijnl Ohn Enu If, Ap Kn. p. 95

  • A concepo iorub da personalidade humana - Wande Abimbola 12

    Neste extrato, a histria fala de um sacerdote de If, que tinha falta de muitas coisas boas. Ele

    solicitou ajuda a rnml, seu rs, que ele cultuava, mas rnml o enviou para s (o

    mensageiro) que atua como porta-voz. s disse, que rnml no tinha simpatia pelas coisas que

    ele desejava, orientando, que ele deveria solicitar todas as coisas que ele queria, para seu Or.

    Quando o sacerdote fez o que foi dito, ele comeou a ter todas as coisas que antes lhe faltavam. O

    extrato completo segue agora:

    Ej-Oye27

    1. Olt t be ly pgn

    2. S iksk ib won mo nwn egbf

    3. O j san lo tt

    4. K j krn dun ni

    5. A d fun rn gbogbo t dun akp

    6. B ni won dun 'F

    7. rn ow dun akp

    8. rn obnrn dun akp

    9. rn omo-bb dun akp

    10. Akp w lo so fn rnml

    11. O n gbogbo ire gbogbo ni un w

    12. rnml n k akp lo so fn s

    13. s n gbogbo rn t dun wo akp y

    14. K dun If

    15. s n wo akp

    16. Or re ni k o lo r fn

    17. Ngb t akp se bee tn

    18. ran r w br s dra

    19. Ij ni akp j

    20. Ay n y

    21. yin won awoo r

    22. won awoo r yin If

    23. O n b gg

    24. Ni won awo n w ...

    25. j, ohun gbogbo t' b dn m26. Ng ma r f'r mi

    27. Or eni ni algborndn

    27 yk-Mj. N.T.

  • A concepo iorub da personalidade humana - Wande Abimbola 13

    28. Or, mi l m o,

    29. wo lalgbrndn

    Traduo

    1. Verdadeiros homens no so mais que vinte na Terra

    2. Maus homens so mais que sessenta

    3. O dia da vingana no est longe

    4. por isto que no estamos ofendidos

    5. If foi consultado sobre todas as coisas que um babala desejava

    6. Mas que If no desejava

    7. O babala no tinha dinheiro

    8. O babala no tinha mulheres

    9. O babala no tinha filhos

    10. Ele foi queixar-se com rnml

    11. Ele disse que estava precisando de todas as coisas boas da vida

    12. rnml disse, que o babala fosse fazer suas queixas a s

    13. Mas s disse para o babala que todas as coisas que ele desejava

    14. No eram o desejo de If

    15. s ento avisou o babala assim:

    16. "Voc babala, v queixar com seu Or"

    17. Quando o babala fez como lhe tinha sido ordenado

    18. Sua vida veio a ser boa

    19. Ele comeou a danar

    20. Ele comeou a regozijar-se

    21. Ele estava louvando os sacerdotes de If

    22. E os sacerdotes estavam louvando If

    23. Ele disse: "Isto foi exato"

    24. "O que os sacerdotes de If haviam previsto"

    25. "De agora em diante, todas as coisas boas que eu quiser"

    26. "Eu revelarei para meu Or"

    27. "O Or de uma pessoa seu simpatizante"

    28. "Meu Or, salve-me"

    29. "Voc meu simpatizante"

    O prximo extrato aumenta o ponto de vista feito anteriormente, que o sucesso ou falncia de

    qualquer pessoa depende, por extenso, do tipo de or que a prpria pessoa selecionou no run, e

    que, uma vez que a pessoa escolheu seu destino ao selecionar um or, ser quase impossvel alter-

  • A concepo iorub da personalidade humana - Wande Abimbola 14

    lo na terra. Assim, os deuses no tem poder para alterar o destino de um homem.28 Este extrato narra

    a histria de um sacerdote de If, que queixou a Oldmar, que ele no recebia ajuda de

    rnmila, o qual ele cultuava dia e noite. Oldmar chamou rnmila para ouvir sua prpria

    verso do caso. rnml disse que ele tinha feito o melhor para o devoto, mas o mau or escolhido

    por ele, o tinha impedido de alcanar o sucesso. O extrato segue agora:

    Ej-y 29

    1. O w we t pepe,

    2. Ti gblagb w akrgb.

    3. Is w be gb

    4. K m se k m

    5. Gbogboo wa ni a ns a jo be 'raa wa

    6. A d fn rnml

    7. y t akpo r

    8. p lj ld Oldmar

    9. Oldmar w rns si rnml

    10. P k w so d n

    11. T k fi gbe akpo r

    12. Ngb t runml

    13. n n sa gbogbo agbra un fn akp

    14. n pn akp ni gb

    15. Ngb n ni r n

    16. T w y Oldmare ykyk

    17. Inu r s dn

    18. P un k d ejo ekn kan

    Traduo:

    1. Os braos da criana no alcanam uma prateleira alta

    2. As mo de um adulto no pode entrar na cabaa

    3. O trabalho, um adulto coloca uma criana para fazer,

    4. E no o deixa recusar.

    5. Todos ns temos a obrigao de pedir um ao outro

    28 Esta afirmao de Abimbola contraria todo o sistema religioso iorub, pois uma vez que o or-destino no pode ser alterado, no haveria necessidade de consultar If para melhorar a vida de algum, pois tudo seria "obra do destino" preparado por Ajl. N.T.

    29 Este verso foi publicado posteriormente por Abimbola (1976, p. 145). N.T.

  • A concepo iorub da personalidade humana - Wande Abimbola 15

    6. Foi feito If para rnml

    7. Sobre um devoto,

    8. Que fez uma queixa a Oldmar.

    9. Oldmar ento chamou rnml

    10. Para explicar o motivo

    11. Porque ele no ajudava seu devoto

    12. Quando rnml chegou presena de Oldmr

    13. Ele explicou que ele tinha feito o melhor para o seu devoto

    14. Mas o mau or escolhido pelo devoto, tornava todos os seus esforos infrutferos

    15. Foi ento que o assunto

    16. Veio a ser claro para Oldmar30

    17. E ele estava feliz

    18. Porque ele no fez um julgamento apressado ouvindo somente uma das partes

    A concepo iorub de Or afirma categoricamente que a maioria das pessoas escolheram um

    mau destino no run. Ela, portanto, quer dizer que, muito poucas pessoas adquiriram um bom or, o

    qual um elemento potencialmente representativo de sucesso. Mas, uma vez que os seres humanos

    naturalmente no querem aceitar a falncia, eles se empenham em uma interminvel luta, embora

    infrutferas, para alcanar o impossvel melhorar seus destinos escolhidos. O seguinte extrato

    ilustra este ponto:

    s Mj 31

    1. B b se p gbogbo or gbogbo n sun ps

    2. rk gbogbo b ti tn n'gb

    3. A d fn igba eni

    4. T ti kl run b w s t'ay

    5. B b se p gbogbo ori gbogbo n sun ps

    6. rk gbogbo b ti tn n'gb

    7. A d fn wr

    8. T ti kl run b w s t'ay

    9. wr l j

    30 If revela que Oldumar no onisciente, ao contrrio, ele tem que ser informado, e isto mostra que o africano tradicional tem uma viso de Deus muito mais verdadeira que o europeu, pois enquanto o Deus africano democrtico, e delega poderes aos rs para que possa ajudar aos seres humanos, o Deus europeu absolutista, concentrando poderes, sem contudo, no importando-se com os fiis. N.T.

    31 Este verso foi publicado posteriormente por Abimbola (1976, p. 146). N.T.

  • A concepo iorub da personalidade humana - Wande Abimbola 16

    10. Gbogbo wa

    11. wr l j

    12. E ni t'o yan'ri rere k wp

    13. wr l j

    14. Gbogboo wa

    15. wr l j

    Traduo

    1. Se todos os homens fossem destinados a serem enterrados em caixes,

    2. A rvore rk 32 seria extinta na floresta.

    3. Foi jogado If para duzentos homens,

    4. Que estavam vindo do cu para a terra.

    5. Se todos os homens fossem destinados a serem enterrados em caixes

    6. A rvore rk seria extinta na floresta

    7. Foi jogado If pra "a luta"

    8. Que estava vindo do cu para a terra

    9. Ns estamos apenas lutando

    10. Todos ns

    11. Ns estamos apenas lutando

    12. Aqueles que escolheram "um bom destino" no so muitos

    13. Ns estamos apenas lutando

    14. Todos ns

    15. Ns estamos apenas lutando

    A discusso das ltimas pginas centralizou-se em torno de Or como um importante elemento

    da personalidade humana. Fizemos tambm um exame do processo pelo qual Or selecionado no

    run, e as consequncias de sua irrevogvel escolha, por cada pessoa. Tudo isto tem sido apoiado

    com extratos do corpo literrio de If.

    preciso enfatizar, entretanto, que a concepo iorub da escolha do destino, atravs de or,

    tambm enfatiza a necessidade de trabalhar duro para a realizao do sucesso, representado pela

    escolha de um bom or. Isto leva-nos ao conceito de es (perna)33, como um tambm importante

    32 Chlorophora Excelsa (Verger, 1995, p.573). Na republicao de 1976, Abimbola acrescentou a seguinte nota (n. 41), que julgo interessante transcrever aqui: "rk uma das mais preciosas rvores florestais do oeste africano. Ela a rvore favorita dos iorubs para fazer caixes, mas, somente pessoas importantes eram enterradas em caixes". N.T.

    33 No confundir com ese, um verso de poesia, uma lista de algo. Observe o tom da segunda letra [e]. N.T.

  • A concepo iorub da personalidade humana - Wande Abimbola 17

    elemento da concepo iorub de personalidade humana. Es reconhecido pelos iorubs como

    uma parte vital da personalidade humana, em ambos os sentidos, fsico e espiritual. Es, para os

    iorubs, o smbolo do poder e atividade. Ele , entretanto, o elemento que habilita o homem para

    lutar e agir adequadamente na vida, para que ele possa realizar o que foi designado para ele, pela

    escolha do Or. Como Or, es reconhecido como um rs que precisa ser cuidado, na inteno

    de conseguir o sucesso. Por isso, quando um homem faz um sacrifcio para seu Or, parte do

    sacrifcio tambm oferecido para es.

    Mais uma vez, novamente, faremos uso de um extrato da poesia divinatria de If para apoiar a

    elucidao do lugar de es na concepo iorub da personalidade humana. O seguinte extrato conta

    a histria do dia em que todos os Or se reuniram, e resolveram juntos realizar algo. Mas eles no

    convidaram es para a reunio. Aps terminarem todas as deliberaes, eles perceberam que no

    havia ningum para carrega-os de volta. Eles foram, ento, forados a reconhecer a importncia de

    es na execuo de seus planos. O ensinamento desta histria, que, mesmo que algum est

    predestinado ao sucesso pela escolha de um bom or, no poder, efetivamente conseguir o sucesso,

    sem o uso do es, simbolo do poder e atividade.34 O extrato completo segue agora:

    trpn Mj

    1. pb, awo Es

    2. L d f''s

    3. Nj t ti kl run b wy

    4. Gbogbo won or sa araa won jo

    5. Won pe Es s i

    6. s n: "E pe Es s i

    7. B ti se gn n n-un

    8. j ni wn fi tk nb

    9. Ni wn t w rns s Es

    10. Ngb n ni mrn t won gb t w gn

    11. Wn n b gg

    12. Ni won awo wn w

    13. pb, awo Es

    14. L d f''s

    34 Significando que o bom destino no se realizar por si mesmo, necessitando do empenho e boa vontade da pessoa. Isto implica num paradoxo, pois, ao dizer que a realizao do destino (or Ajl) depende do empenho e da boa vontade do ser humano, aqui simbolizado pelo es do destinado, e que, se isto faltar, o destino no se realizar ... o mesmo que afirmar que o destino pronto no existe. Esta questo traz uma implicao ainda mais profunda, por que se o destino no existe, qual seria o verdadeiro sentido de se consultar If? N.T.

  • A concepo iorub da personalidade humana - Wande Abimbola 18

    15. Nj t ti kl run b wy

    16. pb m m d

    17. Awo Es

    18. E nikan k gbmrn

    19. K' yo t'es 'l

    20. pb m m d

    21. Awo Es.

    Traduo

    1. pb, o sacerdote de If das pernas

    2. Jogou If para as pernas

    3. No dia que estavam vindo do cu para a terra

    4. Todas as cabeas reuniram-se em assembleia

    5. Mas eles no convidaram as pernas

    6. s disse: " Uma vez que vocs no convidaram as pernas"

    7. "Vamos ver se vocs realizaro seus planos com sucesso"

    8. O encontro terminou em fracasso

    9. Foi ento que eles convidaram as pernas

    10. Foi ento que seus planos tiveram sucesso

    11. Eles disseram que foi exatamente

    12. Como os awo tinham previsto

    13. pb, o sacerdote de If das pernas

    14. Jogou If para as pernas

    15. No dia que estavam vindo do cu para a terra

    16. pb chegou com segurana

    17. O sacerdote de If das pernas

    18. Ningum realiza nada

    19. Se no tiver pernas

    20. pb chegou com segurana

    21. O sacerdote de If das pernas

  • A concepo iorub da personalidade humana - Wande Abimbola 19

    Concluso

    Nas pginas precedentes, ns tentamos uma anlise dos principais elementos da concepo

    iorub da personalidade humana. Ns reconhecemos dois elementos gerais: os elementos fsicos,

    coletivamente conhecidos como ara (corpo), e os elementos espirituais, que incluem m (alma), or

    (cabea interior), e ese (pernas). preciso anotar que existem outros elementos menores que

    poderiam ser discutidos, como jj (sombra) e bn (temperamento), mas que as limitaes deste

    artigo no nos permite discuti-los.

    O relacionamento dos elementos estudados, e suas funes, foram direta ou indiretamente

    mencionadas sob a viso fsica e espiritual. Para esclarecer, vamos agora resumir.

    Uma vez que todos os elementos dentro da personalidade iorub so predestinados, o status e

    funo de cada indivduo na terra, em relao a estes elementos predestinados, determinado pelo

    tipo de qualidade pessoal que cada individuo seleciona no run (cu). Como mencionado, pessoas

    deficientes tem poucas chances de ocupar um cargo de autoridade, dentro da estrutura de

    organizao social iorub. Para os no-deficientes, o limite de at onde eles podem chegar dentro da

    estrutura hierrquica iorub, depende, por extenso, do tipo de or que ele selecionou por ele

    mesmo, no cu. Aqueles poucos que escolheram um bom ori feito por Ajl, se eles combinarem

    esta potencialidade com trabalho duro, tero sucesso, enquanto que, aqueles que escolheram um mal

    ori, a maioria, esto sentenciados ao fracasso.

    Igualmente, os iorubs acreditam que aqueles que vieram a ser grandes e importantes homens na

    terra, escolheram todas as potencialidades para virem a ser grandes, no run (cu), quando sua

    escolha de or foi feita. Grandeza na vida, uma das coisas que algum escolhe no cu, com o seu

    or. Todos aqueles, que vierem a ser reis, assim como aqueles que vierem a ser escravos, escolheram

    estes status-elementos, no run.

    Acrescentando, o seguinte poema de If salienta que ningum pode contar se escolheu um bom

    ou mau ori, pois o modelo e o tamanho de um mau or, no necessariamente diferente de um bom

    or. O tipo de or escolhido por uma pessoa, permanece desconhecido para ele, bem como para

    todos os outros homens [e mulheres], exceto , claro, para rnml, que foi a nica testemunha do

    destino no ato da escolha de or no run. O poema segue agora:

  • A concepo iorub da personalidade humana - Wande Abimbola 20

    s Mj

    1. Or burk k w tuulu

    2. A k d es asiwr m lj-n

    3. A k m'or oly lwjo

    4. A d fn Mbw

    5. T se obnrin gn

    6. Or t joba lla

    7. E nkan m

    8. K toko-taya m pe'raa won n wr m

    9. Or t joba lla

    10. E nkan m

    Traduo

    1. Uma cabea ruim no cresce

    2. Ningum reconhece a pegada de um louco, na estrada

    3. Ningum pode distinguir a cabea destinada a usar a coroa numa assemblia

    4. Foi feito If para Mbw

    5. Que era a mulher de gn

    6. A cabea que reinar amanh

    7. Ningum conhee

    8. Permite que o marido e a esposa parem de chamar o nome um do outro

    9. A cabea que reinar amanh

    10. Ningum conhece.

  • A concepo iorub da personalidade humana - Wande Abimbola 21

    BIBLIOGRAFIA DO AUTOR:

    ABIMBOLA, Wande - Ijinl Ohun Enu If, Apa Kn, Collins, Glasgow, 1968.

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    _________________ - Ijinl Ohun Enu If, Apa Kta, Mimeographed.

    _________________ -The Place of If in Yoruba Traditional Religion. African Notes, vol.2, n. 2,

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    Bibliografia do Tradutor

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    __________________.(Org.) Yoruba Oral Tradition, selection from the papers presented at the

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  • A concepo iorub da personalidade humana - Wande Abimbola 22

    ABRAHAM, R.C. Dictionary of the Modern Yoruba, London, Houdder and Stoughton, 1962

    [1946]

    PARA SABER MAIS:

    Cultura Iorub

    A concepo iorub da personalidade humana - Wande Abimbola 22