Revista Responsabilidade Social 2012-2013

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Responsabilidade social ano 6 | n 6 | agosto de 2013 o

Transcript of Revista Responsabilidade Social 2012-2013

  • Responsabilidade

    socialano 6 | n 6 | agosto de 2013o

  • Responsabilidade

    socialano 6 | n 6 | agosto de 2013o

  • PRESIDNCIAPresidenteGabriel Mario Rodrigues1 Vice-PresidenteCarmen Luiza da Silva2 Vice-PresidenteGetlio Amrico Moreira Lopes3 Vice-PresidenteJos Jangui Bezerra Diniz

    CONSELHO DA PRESIDNCIACandido Mendes de Almeidadson Raymundo Pinheiro FrancoVera GissoniTherezinha CunhaPaulo Antnio Gomes CardimAntonio Carbonari Netto Celso NiskierJouberto Ucha MendonaValdir LanzaWilson de Mattos SilvaManoel de Barros SobrinhoSuplentesFbio Ferreira de Figueiredo Eda Coutinho Machado de Souza Gislaine Moreno Alexandre Nunes Theodoro Antonio Colao Martins

    CONSELHO FISCALPaulo Antnio Lima Eduardo Silva Franco Luiz Eduardo Possidente TostesCustdio Filipe de Jesus PereiraDbora Brettas Andrade Guerra SuplentesElizirio Pereira RezendeHiran Costa Rabelo

    ASSOCIAO BRASILEIRA DE MANTENEDORAS DE

    ENSINO SUPERIOR

    SCS Qd. 07 Bl.A Sala 526Ed. Torre do Ptio Brasil Shopping

    CEP: 70.307-901 Braslia DFTel: (61) 3322-3252 Fax: (61) 3224-4933

    [email protected]

    DIRETORIA EXECUTIVA Diretor GeralFabrcio Vasconcellos SoaresVice-Diretor GeralSrgio Fiuza de Mello MendesDiretor AdministrativoDcio Batista TeixeiraDiretor TcnicoDaniel Castanho

    DIRETORA ACADMICA Ceclia Eugenia Rocha Horta

    DIRETOR EXECUTIVO Slon Hormidas Caldas

    GERENTE DE COMUNICAO E TILidyane Lilian Lima

    ORGANIZAOCeclia Eugenia Rocha HortaLidyane Lilian Lima

    APOIOArlete Gonalves RibeiroCaroline Lucas da CostaLeandro Rodrigues UessugueRicardo Monserratt Sabrina Oliveira de MoraesRobson Moura

    REVISOWhang Teixeira

    PROJETO GRFICO E DIAGRAMAOGrau Designer

    R434 Responsabilidade social / Organizadoras, Ceclia Eugenia Rocha Horta, Lidyane Lilian Lima. Ano 6, n. 6- . Braslia: ABMES Editora, 2013- v. : il. ; 30 cm.

    Incio: 2006 ISSN: 1809-8754

    1. Ensino superior responsabilidade social. 2. Ensino superior - ao social. 3. Ensino superior peridico. 4. Ensino superior - estatstica. I. Horta, Ceclia Eugenia Rocha. II. Lima, Lidyane Lilian.

    CDU 378(05)

  • 5 Apresentao

    7 ArtigosResponsabilidade Social da Educao Superior: breve balano da produo cientfica brasileira (1990-2009)

    Responsabilidade Social das Instituies de Ensino Superior: o discurso das lideranas do setor educacional brasileiro

    Responsabilidade Social Universitria: desafios da maioria silenciosa

    Responsabilidade Social Universitria: um olhar da realidade ibero-americana

    A trajetria da Responsabilidade Social na Anhanguera Educacional

    47 Participe do "Dia"Dia da Responsabilidade Social do Ensino Superior Particular

    Participe do Dia

    Caminhada do Ensino Responsvel

    Selo Instituio Socialmente Responsvel

    Passo-a-Passo

    FAQ

    Concurso Slvio Tendler de Vdeos sobre Responsabilidade Social das IES

    VII Concurso Slvio Tendler de Vdeos sobre Responsabilidade Social das IES Regulamento

    VI Concurso Slvio Tendler de Vdeos sobre Responsabilidade Social das IES Vencedores

    V Concurso Slvio Tendler de Vdeos sobre Responsabilidade Social das IES Vencedores

    O Patrono

    77 Balano EstatsticoNmeros das 8 edies das campanhas

    Nmeros da edio da campanha de 2012

    85 Fotos do "Dia"

    107 IES ParticipantesRegio Norte

    Regio Nordeste

    Regio Sudeste

    Regio Sul

    Regio Centro-oeste

    umrioS

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    A produo cientfica na rea de Responsabilidade Social demonstra de forma ine-quvoca a sua importncia nas instituies de ensino superior (IES). Pari passu com um movimento mundial cada vez mais intenso, as atividades de ensino, pesquisa e extenso desenvolvidas pelas IES visam conscientizar o homem e os setores orga-nizados da sociedade sobre o lugar que ocupam no espao e no tempo e sobre o papel que desempenham na busca de um mundo solidrio, responsvel e generoso para a atual e as futuras geraes.

    Consciente da importncia de atuar nessa rea, a Associao Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES) incentiva reflexes tericas que pos-sam embasar as prticas acadmicas, com a colaborao de professores e pesqui-sadores do Brasil e do exterior, e realiza campanhas que tm como propsito dar visibilidade ao trabalho que as IES particulares desenvolvem na rea de responsa-bilidade social.

    Nesse contexto, nasceu o Dia da Responsabilidade Social do Ensino Superior Particular, que registrou em oito campanhas consecutivas o envolvimento anual de aproxi-madamente 180 mil professores, alunos, tcnicos e voluntrios, tendo beneficiado milhares de pessoas com cerca de 8,5 milhes de atendimentos desde a primeira edio, em 2005.

    E, como consequncia natural do processo, foi criada e consolidada a revista Responsabilidade Social cuja 6 edio ora apresentada contou com o competen-te apoio de Adolfo Ignacio Caldern Flores, professor do Programa de Mestrado em Educao da Pontifcia Universidade Catlica de Campinas e consultor da ABMES desde 2005. Alm de assinar o artigo de abertura, no qual faz um breve balano da produo cientfica em questo, Caldern colaborou na escolha dos demais traba-lhos que abordam os seguintes aspectos no mbito da responsabilidade social: o dis-curso das lideranas do setor educacional brasileiro; os desafios da maioria silenciosa (democratizao e incluso); a construo de um espao de conhecimento conjunto ibero-americano e a cultura da responsabilidade social na Anhanguera Educacional.

    Informaes detalhadas sobre o Dia e suas respectivas campanhas balano esta-tstico e IES participantes e o regulamento do Concurso Silvio Tendler de Vdeos sobre Responsabilidade Social complementam a edio,emoldurada por um pri-moroso projeto grfico.

    Com determinao, coragem e crena nas possibilidades de transformao do pas pela educao, a ABMES assume, de forma conjunta com o seu quadro de associa-dos, o compromisso de dar continuidade sreflexes e aosdebates sobre a respon-sabilidade social das IES.

    Braslia, 6 de agosto de 2013.

    Gabriel Mario RodriguesPresidente

    Apresentao

  • Artigos

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    Responsabilidade Social da Educao Superior: breve balano da produo cientfica brasileira (1990-2009)1

    ADOLFO IGNACIO CALDERN2

    CLEBER FERNANDO GOMES3

    A responsabilidade Social da Educao Superior (RSES) objeto de estudo do presente artigo, o mesmo que apresenta um breve balano da produo cientifi-ca brasileira, identificando as teses de doutorado e as dissertaes de mestrado defendidas no Brasil a respeito da questo da RSES. Em termos metodolgicos, um estudo bibliogrfico, do tipo do Estado da Arte. Como parte do mapeamento, traada a linha do tempo da produo cientfica, identificando as reas de conhe-cimento em que os estudos esto inseridos, as regies do pas onde a produo cientfica est concentrada e as principais tendncias da produo cientfica.

    Teses de doutorado e dissertaes de mestrado

    Para identificar o nmero de teses de doutorado e dissertaes de mestra-do produzidas no Brasil, que constam no Banco de Teses da Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (CAPES), foi realizada uma busca no referido Banco utilizando a palavra chave responsabilidade social universitria, bem como um cruzamento da palavra-chave: responsabilidade social, com cada uma das seguintes palavras: educao superior, ensino superior, IES, Instituies de Educao Superior e Instituies de Ensino Superior.

    Num primeiro levantamento localizaram-se 382 teses. Foram descartados 245 estudos a partir da leitura dos ttulos, totalizando 137. Posteriormente, anali-saram-se cada um dos resumos das 137 teses e descartaram-se 107, pois no eram compatveis com a proposta da pesquisa sobre responsabilidade social da educao superior e/ou porque eram ttulos que no apresentavam coerncia com a temtica abordada. Ao descartar 107 teses, restaram 29, que serviram de base para realizar o presente estudo, e que abordam explicitamente a questo da responsabilidade social da educao superior.

    1 Este artigo apresenta alguns resultados da pesquisa Responsabilidade Social da Educao Superior: levantamento, anlise e avaliao do conhecimento acadmico produzido no Brasil (2000-2010), realizada no mbito do Programa de Mestrado em Educao da PUC-Campinas com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq/Pibic), dis-cutidos no II Congreso Internacional de la Red Iberoamericana de Investigacin sobre la Calidad de la Educacin Superior (RIAICES), Canoas, 2012.

    2 Doutor em Cincias Sociais pela Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo, com Ps--doutorado em Cincias da Educao na Universidade de Coimbra, docente e pesquisador do Programa de Mestrado em Educao da Pontifcia Universidade Catlica de Campinas. [email protected]

    3 Graduando em Cincias Sociais e pesquisador em nvel de iniciao cientfica da Pontifcia Univer-sidade Catlica de Campinas (PUC-Campinas), membro do Grupo de Pesquisa Polticas Pblicas em Educao do Programa de Mestrado em Educao da referida Universidade, bolsista do Con-selho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq). [email protected]

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    No grfico 1, o leitor poder identificar o que neste trabalho denomina-se linha do tempo da produo cientfica em questo, isto , a distribuio dos estudos a partir do ano em que foram defendidos. Nota-se que foram localizadas teses/disserta-es a partir do ano de 2001. Aps esse ano h uma linha varivel, mostrando tra-balhos defendidos com essa temtica at o ano de 2009. Convm destacar que no se encontrou nenhuma tese/dissertao defendida especificamente sobre a ques-to da RSES ao longo da dcada de noventa. Registra-se ainda, que no Banco de Teses da Capes encontram-se localizadas as teses/dissertaes a partir de 1990. No entanto, s foram encontrados estudos a partir de 2001.

    Grfico 1 Ano de defesa das teses e/ou dissertaes produzidas sobre a temtica da Responsabilidade Social da Educao Superior

    Fonte: o autor

    O grfico 1 permite visualizar que poucos anos antes da aprovao do SINAES, tinham sido defendidos dois estudos abordando a temtica da RSES (Fragoso, 2001; Tanaka, 2003). Tambm se pode observar que, em 2004, ano da criao do SINAES, foram defendidas mais duas pesquisas (Wrasse, 2004; Petrelli, 2004).

    Analisando esses quatro estudos pode-se afirmar que se trata de pesquisas que no esto emolduradas dentro do marco terico-referencial que sustenta o SINAES. So estudos que permitem compreender a polarizao existente no refe-rencial terico da poca, incio da dcada passada, no qual se constatava, por um lado, a vinculao da responsabilidade social da universidade como reflexo das discusses sobre a responsabilidade social empresarial, voltada para a gesto universitria, em voga na poca (WRASSE, 2004; TANAKA, 2003), e por outro, a vinculao da responsabilidade social da universidade com as discusses refe-rentes funo social da universidade, no contexto das trs atividades univer-sitrias (ensino, pesquisa e extenso), com evidente opo pelos programas de cunho social (PETRELLI, 2004; FRAGOSO, 2001).

    reas de conhecimento e regies do pas

    No Banco de Teses da CAPES, todos os estudos cadastrados so classificados a partir de diversos indicadores, sendo um deles a rea do conhecimento. A tabe-la 1 permite constatar que a temtica RSES constitui-se uma rea essencialmente multidisciplinar.

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    O que inicialmente para um olhar leigo seria uma temtica exclusiva do campo da Educao, a pesquisa demonstra que existem muitas reas do conhecimento que tambm se debruam na compreenso da temtica em questo.

    Contrariamente ao que se pode imaginar, o maior volume de estudos foi defendido na rea da Administrao, 35%, e no da Educao, que teve 29% das teses/disser-taes defendidas.

    Tabela 1 Teses e/ou dissertaes defendidas no Brasil em Programas de Ps-Graduao Stricto Sensu sobre a temtica Responsabilidade Social da Educao Superior (1990-2009). Distribuio por reas de concentrao.

    REA DE CONCENTRAO NMERO DETESES / DISSERTAES

    %

    Administrao 10 35

    Educao 08 29

    Multidisciplinar 03 11

    Cincias da sade 02 7

    Cincias sociais aplicadas 01 3

    Engenharia 01 3

    Direito 01 3

    Interdisciplinaridade 01 3

    Cincias contbeis 01 3

    Polticas pblicas 01 3

    TOTAL 29 100

    Fonte: o autor

    A tabela 1 ainda permite visualizar que os estudos restantes esto distribudos em diversas reas do conhecimento, englobando 11% em Programas de Ps-Graduao Stricto Sensu, que a CAPES denomina como rea multidisciplinar, 25% das teses/dissertaes restantes foram distribudas entre as cincias da sade, cincias so-ciais aplicadas, engenharias, direito, cincias contbeis, polticas pblicas e outra rea denominada pela CAPES como interdisciplinar.

    Convm registrar que na rea de Administrao se enquadram os estudos de Tanaka (2003), Wrasee (2004), Petrelli (2004), Vieira (2006), guia (2007), Stadler (2007), Felden (2007), Abreu (2009), Galvo (2009) e Silva (2009). Na rea da Educao enquadram-se os trabalhos de Fragoso (2001), Silva (2007), Vesce Neto (2007), Silva (2008), Cordeiro (2009), Oliveira (2009), Pinto (2009) e Souza (2009).

    Dentro da chamada rea multidisciplinar, os estudos de Cruz (2008), Miranda (2008) e Ribeiro (2008). Na rea das cincias da sade, os trabalhos de Silva Jnior (2008) e Malafaia (2009). Existem seis reas nas quais foi defendida uma nica tese: Cincias Sociais Aplicadas (Lohn, 2009), Engenharia (Machado Jnior, 2009), Direito (Santos, 2006), Interdisciplinaridade (Reis, 2007), Cincias Contbeis, (Gomes, 2005) e Polticas Pblicas (Barros, 2009).

    Outro dado relevante sobre a temtica da RSES foi observado na tabela 2, que mos-tra as teses/dissertaes defendidas no Brasil, entre 1990 e 2009, sobre a RSES, distribudas por regies. Nela consta a regio nordeste como predominante, com

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    41% das teses/dissertaes. Seguida pelas regies sul e sudeste, com 31% e 28% do total de estudos produzidos no Brasil, respectivamente. No foram defendidas teses/dissertaes nas regies norte e centro-oeste.

    A partir desses dados, visualiza-se uma realidade que contrasta com os dados ofi-ciais da CAPES (BRASIL, 2011), que apontam a regio sudeste do pas como a maior produtora de conhecimentos cientficos do Brasil, com 48%, ficando a regio nor-deste em terceiro lugar, com 19%.

    Porm, essa predominncia da regio nordeste em contraste com a regio sudeste, diz respeito somente temtica da RSES. Assim, nesse caso especfico, contata-se uma realidade sui generis, na qual a regio sudeste aparece em terceiro lugar na produo de teses/dissertaes, quando se refere temtica da RSES.

    Tabela 2 Teses de doutorado e dissertaes de mestrado defendidas no Brasil sobre a Responsabilidade Social da Educao Superior (1990-2009). Distribuio por regies.

    REGIO ESTADO INSTITUIO DE EDUCAO SUPERIOR

    NMERO DE TESES E/OU

    DISSERTAES POR IES E ESTADO

    TOTAL POR

    REGIO%

    Nordeste Bahia

    Cear

    Pernambuco

    Fundao Visconde de Cairu

    Universidade Federal do Cear

    Universidade de Fortaleza

    Fundao Universidade de Pernambuco

    08

    01

    02

    01

    12 41

    Sul Paran

    Santa Catarina

    Rio Grande

    do Sul

    Pontifcia Universidade Catlica do PR

    Universidade Federal do Paran

    Universidade Tuiuti do Paran

    Universidade Federal de Santa Catarina

    Universidade Regional de Blumenau

    Universidade do Vale do Itaja

    Universidade Regional do Noroeste

    do Estado do Rio Grande do Sul

    Pontifcia Universidade Catlica do RS

    01

    01

    01

    02

    01

    01

    01

    01

    09 31

    Sudeste So Paulo

    Rio de Janeiro

    Faculdade de Cincias Medicas

    da Sta. Casa de So Paulo

    Pontifcia Universidade

    Catlica de Campinas

    Pontifcia Universidade

    Catlica de So Paulo

    Universidade Metodista de Piracicaba

    Universidade Nove de Julho

    Universidade de So Paulo

    Universidade Federal Fluminense

    Universidade Estcio de S

    01

    01

    01

    01

    01

    01

    01

    01

    08 28

    TOTAL 29 100

    Fonte: o autor

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    Conforme a tabela 2, observa-se que o maior nmero de trabalhos realizados na regio nordeste se concentra no estado da Bahia, onde predominam os trabalhos realizados na Fundao Visconde de Cairu, especificamente no mestrado profissio-nal em Desenvolvimento Humano e Responsabilidade Social, responsvel por oito dissertaes (REIS, 2007; CRUZ, 2008; RIBEIRO, 2008; OLIVEIRA, 2009; MALAFAIA, 2009; SOUZA, 2009; MIRANDA, 2008; CORDEIRO, 2009).

    Em seguida, observa-se que universidades dos estados vizinhos tambm desen-volveram pesquisas sobre a temtica ora estudada. No estado do Cear foram produzidas trs dissertaes, duas na Universidade de Fortaleza (VIEIRA, 2006; ABREU, 2009) e uma na Universidade Federal do Cear (BARROS, 2009). No esta-do de Pernambuco, defendeu-se uma dissertao, na Fundao Universidade de Pernambuco (SILVA, 2009).

    Com um total de 31%, a regio Sul do pas ficou em segundo lugar como responsvel por produzir trabalhos na rea da RSES. Percebe-se que as teses produzidas nes-sa regio encontram-se fragmentadas entre os estados do Paran (VESCE NETO, 2007; SANTOS, 2006; SIVA, 2008), Santa Catarina (PETRELLI, 2004; LOHN, 2009; WRASSE, 2004; STADLER, 2007) e Rio Grande do Sul (FELDEN, 2007; PINTO, 2009). Ao todo foram produzidos nove dissertaes distribudas em oito universidades.

    Em relao regio sudeste, constata-se que foram defendidas 8 teses/disserta-es, distribudas homogeneamente em 8 IES, duas no Rio de Janeiro (FRAGOSO, 2001; GUIA, 2007) e seis em So Paulo (SILVA, 2008; SILVA, 2007; GOMES, 2005; MACHADO JNIOR, 2009; GALVO, 2009; TANAKA, 2003).

    Consideraes finais

    A pesquisa realizada permite concluir que, no Brasil, a RSES uma temtica em ascendncia e que tem gerado a preocupao terica dos pesquisadores a partir da aprovao e implantao do SINAES.

    Por meio do levantamento realizado de teses de doutorado e dissertaes de mes-trado, que constam no Banco de Teses da CAPES, a partir de 1990, constatou-se que esta temtica no foi alvo de estudos e pesquisas na dcada de noventa. Somente foram localizados dois estudos antes da aprovao do SINAES, em 2001 e 2003, os mesmos que j sinalizavam as duas abordagens principais que giram em torno da questo da RSES, isto , a RSES no campo da gesto universitria reflexo da gesto empresarial e a RSES no campo da tica, da funo social da universidade.

    Estas duas abordagens acabam se fortalecendo ao constatar que a RSES uma temtica essencialmente multidisciplinar. As teses/dissertaes foram defendidas em duas reas prioritrias, nos programas de ps-graduao em Administrao e nos programas de Educao, com um percentual maior na primeira rea.

    Esse dado pode explicar o fato de que 59% das teses/dissertaes estavam foca-das no eixo temtico a RSES e os mecanismos de gesto universitria, seguida por preocupaes tericas a respeito da Responsabilidade Social como valor de cidadania na formao dos estudantes de diversos cursos em nvel de graduao, com 24%, e o estudo dos aspectos tericos da responsabilidade social no contexto da trajetria histrica da educao superior, com 17%.

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    Um dado que chama a ateno na anlise global das teses/dissertaes o fato de que 72% dos estudos foram realizados em IES privadas, cuja qualidade referen-dada pelo Ministrio da Educao. Esse dado permite constatar a importncia do setor privado na produo do conhecimento cientfico sobre a temtica da RSES.

    Uma hiptese que pode ser elaborada, a partir da leitura dos dados expostos neste artigo, a estreita vinculao que pode ser estabelecida entre a necessidade em termos de eficincia de gesto das IES, num cenrio de concorrncia no mercado educacional com a predominncia de teses/dissertaes no mbito dos cursos de ps-graduao na rea da Administrao e o fato de terem estudos realizados prin-cipalmente em IES do setor privado.

    Referncias

    ABREU, C. B. Responsabilidade Social em Instituies de Ensino Superior. 2009. Dissertao (Mestrado) Programa de Ps-Graduao em Administrao, Universidade de Fortaleza, Fortaleza, 2009.

    GUIA, J. C. Avaliao do grau de percepo dos alunos em relao s aes de Responsabilidade Social de uma Instituio de Ensino Superior. 2007. Dissertao (Mestrado) - Programa de Ps-Graduao em Administrao e Desenvolvimento Empresarial, Universidade Estcio de S, Rio de Janeiro, 2007.

    BARROS, C. M. P. Responsabilidade Social universitria: um estudo de caso no curso de medicina da Universidade Federal do Cear - Campus de Sobral. 2009. Dissertao (Mestrado) Programa Ps-Graduao em Psicologia, Universidade Federal do Cear, Fortaleza, 2009.

    BRASIL. Ministrio da Educao. CAPES. Diretoria de Avaliao DAV. Documento de rea 2009. Braslia: CAPES, 2009. Disponvel em: http://www.capes.gov.br/ima-ges/stories/download/avaliacao/INTER03ago10.pdf. Acesso em: 20 ago. 2011.

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    Responsabilidade Social das Instituies de Ensino Superior: o discurso das lideranas do setor educacional brasileiroMARCIA REGINA C. ALVARES ROSETTO4

    REGINA LCIA GIFFONI LUZ DE BRITO5

    Introduo

    O interesse em pesquisar o tema Responsabilidade Social das IES deve-se a in-fluncias de fatores de minha vida pessoal e profissional. O surgimento da Lei n 10.861, de 14 de abril de 2004 a Lei do SINAES6 foi concomitante com o de-senvolvimento de atividades como docente em uma faculdade privada na cidade de Chapec (SC), onde resido. A referida lei surgia com a finalidade de avaliar a Educao Superior, visando melhoria da qualidade da educao brasileira.

    A faculdade onde ministrava aulas comeava a se inteirar sobre essa lei, rea-lizava debates sobre o tema, mas parecia-me que todas as faculdades e uni-versidades da regio no conseguiam chegar a um denominador comum que explicitasse os parmetros dessa nova legislao e sua relao com as res-ponsabilidades das Instituies de Ensino Superior em geral e, em especial, com a Responsabilidade Social das IES. Interessei-me, portanto, em pesqui-sar o que caracterizava a Responsabilidade Social da Instituio de Ensino Superior, defendida pela lei em seu artigo 3, inciso III a responsabilidade social da instituio, considerada especialmente no que se refere sua contri-buio em relao incluso social, ao desenvolvimento econmico e social, defesa do meio ambiente, da memria cultural, da produo artstica e do patrimnio cultural.

    Qual o significado do conceito de Responsabilidade Social para as principais lide-ranas representantes da Educao Superior Brasileira? Essa inquietao se trans-formou em uma tese de doutorado desenvolvida na Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo (PUC-SP), intitulada Instituies de Ensino Superior e Responsabilidade Social: Um Estudo sobre as Representaes de Lideranas da Educao Superior Brasileira, sob a orientao da Professora Dra. Regina Lcia Giffoni Luz de Brito, coautora deste artigo.

    4 Doutora em Educao: Currculo pela Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo (PUC-SP). Mestre em Administrao: Gesto Estratgica das Organizaes pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC-SC). Professora Universitria em cursos de graduao e ps-graduao. E-mail: [email protected].

    5 Doutora em Educao: Currculo pela Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo (PUC-SP). Mestre em Educao: Filosofia e Histria da Educao pela PUC-SP. docente e pesquisadora (mestrado e doutorado) do Programa de Ps-Graduao em Educao: Currculo da Pontifcia Uni-versidade Catlica de So Paulo (PUC-SP). E-mail: [email protected].

    6 Disponvel em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/lei/l10.861.htm. Aces-so em 14 de Julho de 2011

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    Os passos para a realizao da pesquisa

    O principal objetivo dessa pesquisa era tentar descrever como as principais lide-ranas que representam a Educao Superior Brasileira compreendem o conceito de Responsabilidade Social das IES e se esse conceito, supunha-se por ausncia de preciso em termos conceituais na legislao do SINAES, poderia estar causando uma confuso terico-conceitual e prtica para as instituies, desencadeando imediata relao com a implantao de projetos sociais semelhana da tendncia predominante no mundo empresarial.

    Os estudos de Serge Moscovici e Denise Jodelet balizaram a referida pesquisa. A Teoria das Representaes Sociais desenvolvida por Moscovici (1961) propu-nha tornar as Cincias Sociais mais adequadas ao mundo moderno. O que mais chama a ateno nessa teoria a afirmao dele de que no se pode pensar a existncia humana sem a concepo do contexto social. Assim, as representa-es sociais abrangem a sociedade como um todo e desvelam a viso de mundo de uma determinada poca ou momento da histria. Traduzem-se nas concep-es das classes dominantes dentro da histria de uma sociedade.

    Estudos sobre as representaes sociais tambm foram desenvolvidos por outros autores como Jodelet (2001). A autora afirma que a representao social o ponto convergente entre o psicolgico e o social. Ainda referenciando a autora, as repre-sentaes sociais podem ser compreendidas a partir das experincias do indivduo, dos conhecimentos que ele possui, das informaes e modelos de pensamentos que lhes so transmitidos cotidianamente, por meio da tradio, da educao e da comunicao social.

    Desta feita, sublinha-se o que se destacaria como um dos objetivos desse estu-do: compreender, por meio da linguagem das lideranas da Educao Superior Brasileira, qual o significado do conceito de Responsabilidade Social da Instituio de Ensino Superior atualmente, difundido pela Lei do SINAES, respeitando e ana-lisando as palavras, os sentimentos, as experincias vividas e o papel de liderana que cada sujeito pesquisado representa nesse contexto histrico do qual faz parte.

    Os dados, para realizao dessa pesquisa, foram coletados por meio de entrevis-ta reflexiva, observao e questionrio aos sujeitos pesquisados, provocadores de depoimentos em anlise.

    A escolha dos sujeitos pesquisados7 justificou-se pelo interesse em analisar as percepes e concepes das lideranas da Educao Superior Brasileira

    7 O foco principal da pesquisa era privilegiar apenas lideranas representantes de universidades brasileiras. Assim, foram entrevistadas as seguintes: Presidentes de Associaes: Associao Nacional dos Centros Universitrios (ANACEU), Associao Nacional dos Dirigentes das Insti-tuies Federais de Ensino Superior (ANDIFES), Associao Nacional das Universidades Par-ticulares (ANUP), de Conselhos: Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras (CRUB), de Fruns: Frum de Pr-Reitores de Pesquisa e Ps-Graduao das IES Brasileiras (FOPROP), Frum de Extenso das IES Particulares (FOREXP), Frum Nacional de Extenso e Ao Comu-nitria das Universidades e IES Comunitrias (FOREXT), Frum de Pr-Reitores de Graduao das Universidades Brasileiras (FORGRAD) e de Sindicatos: Sindicato Nacional dos Docentes das IES (ANDES), representantes da educao superior brasileira como tambm reitores, vice-rei-tores, pr-reitores de graduao de universidades pblicas e privadas do Brasil: Universidade Federal da Fronteira Sul SC (UFFS), Universidade Federal do Maranho MA (UFMA), Univer-sidade Estadual de Ponta Grossa PR (UEPG), Universidade do Estado de Santa Catarina SC (UDESC), Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo SP (PUCSP), Universidade Paulista SP (UNIP), Universidade Anhanguera MS (UNIDERP) e um representante do Instituto ETHOS de Empresas e Responsabilidade Social.

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    que, se compreende, so idealizadoras de debates e discusses em torno do tema Responsabilidade Social das IES, e so representantes, diante do poder pblico, dos professores, dos alunos, da comunidade acadmica e da socie-dade civil para exigir, sugerir, esclarecer sobre a definio desse conceito, contribuindo com a elaborao e implementao de polticas pblicas para o Ensino Superior.

    O foco da pesquisa

    H muitas pesquisas realizadas acerca do surgimento da universidade no pas. Sabe-se que a Universidade no pode ser analisada como algo distante da socieda-de onde est inserida e da qual faz parte; ela est arraigada a um contexto: histri-co, social, econmico, cultural e poltico.

    De acordo com CAMPOS (apud ORSO, 2007, p. 44), no Brasil, em 1920, ainda no havia sido criada nenhuma universidade no pas, somente existiam escolas supe-riores, entretanto, na Amrica do Norte j existiam 76 e na Amrica do Sul mais 26, totalizando 102 universidades.

    Em 1930, segundo CUNHA (2007, p. 207), no incio do Governo de Getlio Vargas, apenas trs universidades existiam no Brasil. Eram elas: a do Rio de Janeiro, criada em 1920; a de Minas Gerais, criada em 1927; e a Escola de Engenharia de Porto Alegre, criada em 1896, esta sem o nome de universidade, mas progressivamente diferenciada em suas atividades acadmicas.

    Durante o governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-1998 e 1999-2002) muitas medidas foram tomadas com intuito de promover a ampliao do acesso ao ensino superior brasileiro, tendo como consequncia disso a expanso acelerada desse setor.

    As polticas pblicas elaboradas nesse perodo voltadas educao superior fo-ram fundamentadas sobre quatro pilares: avaliao institucional, autonomia das universidades (que teria interferncia no modelo de gesto das IES), financia-mento e modelo de ensino superior (MINTO, 2006).

    Em 14 de abril de 2004, sancionada a Lei n 10.861, que instituiu o Sistema Nacional de Avaliao da Educao Superior SINAES, com o objetivo de regular e avaliar a qualidade das Instituies de Ensino Superior no pas.

    Segundo DURHAM (2005, p. 59), antes da implantao da lei, compreendia-se que a Responsabilidade Social das Instituies de Ensino Superior estava atrelada a trs funes para as quais foram criadas. Primeira funo, e a principal de todas, de acordo com a autora, o ensino que exigido de qualquer instituio. A se-gunda, que somente exigida s universidades, se refere pesquisa. E a terceira funo, que decorre das anteriores, se refere extenso, que tem como objetivo principal divulgar o conhecimento e as competncias que as instituies possuem e produzem para a sociedade, por meio de cursos livres, projetos de investigao em parceria com rgos pblicos ou empresas privadas, acesso pblico a bens culturais como museus e bibliotecas e prestao de servios associados s ativi-dades regulares de ensino e pesquisa.

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    Conforme Pimenta e Anastasiou (2008), a Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional LDB 9.3948, de 20 de dezembro de 1996, admite uma variedade de ti-pos de instituies de ensino superior: a) Universidade; b) Centro Universitrio; c) Faculdades Integradas; e d) Institutos ou Escolas Superiores. Somente a uni-versidade se caracteriza por autonomia didtica, administrativa e financeira e por desenvolver ensino, pesquisa e extenso.

    A LDB especifica que ensino, pesquisa e extenso devem ocorrer de forma indisso-civel e so aplicadas apenas s universidades. A dvida posta em questo refere--se a que, se o conceito de Responsabilidade Social das IES est atrelado ao ensino, pesquisa e extenso, ento, subtende-se que as demais IES no so obrigadas a desenvolver nenhuma atividade que possa ser considerada de Responsabilidade Social. Mas, a Lei do SINAES afirma que uma das dez dimenses a que as IES se-ro avaliadas refere-se Responsabilidade Social nas atividades de ensino, pes-quisa e extenso, focando-se como um dos indicadores a responsabilidade social da extenso. Pode-se analisar esse contexto levantando-se outro questionamento: ser que a lei clara ao definir o que significa Responsabilidade Social da IES? Ou ainda, por ausncia de inteligibilidade na lei e na definio do conceito de Responsabilidade Social, as IES esto confundindo aes comunitrias de carter assistencialista, filantrpico ou visando ao marketing institucional com projeto de pesquisa extensionista, de carter educativo e cientfico, desenvolvidos de maneira interdisciplinar entre os vrios departamentos? Esto envolvendo os alunos, pro-fessores, coordenadores, representantes da comunidade e do poder pblico para avaliar sua realidade local, proporcionando condies para transform-la, por meio do acesso ao conhecimento desenvolvido pela IES, sem perder de vista o contexto poltico-socioeconmico do pas do qual faz parte?

    A pesquisa realizada

    Quando as lideranas pesquisadas foram questionadas sobre sua compreenso a respeito do conceito de Responsabilidade Social das IES, suas respostas poderiam ter sido divididas em quatro categorias distintas: a) Gesto aqueles que percebem a universidade como um todo; b) Responsabilidade Social Corporativa aqueles que vinculam viso corporativa a Responsabilidade Social da IES; c) Extenso aqueles que visualizam este conceito atrelado a indissociabilidade do ensino, pesquisa e extenso; d) Poltico aqueles que apresentam um discurso uniforme e afirmam que a lei clara ao definir o conceito (ROSETTO, 2011).

    A autora (Idem, Ibidem) afirma que um dos sujeitos pesquisados destacou que o re-ferido conceito est atrelado ao processo de gesto da Universidade, baseando-se na anlise de competitividade estabelecida no Ensino Superior Brasileiro, a partir da implementao da Lei do SINAES.

    Ainda destacando a compreenso do conceito de Responsabilidade Social das IES para as lideranas da educao superior, Rosetto (2011) destaca que um dos su-jeitos pesquisados se posicionou afirmando que a Responsabilidade Social das IES envolve uma relao mais ampla entre alunos, professores, funcionrios e fornece-dores, buscando sustentabilidade na universidade e se preocupando com o meio ambiente de forma mais abrangente. De acordo com a autora, esta compreenso se assemelha definio do conceito de Responsabilidade Social Corporativa.

    8 Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional - Disponvel em: http://www.planalto.gov.br/cci-vil_03/leis/l9394.htm. Acesso em 14 de Julho de 2011.

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    A pesquisa destaca que esse conceito de Responsabilidade Social das IES est arraigado no contexto empresarial, onde teve seu incio. A compreenso de uma liderana estabelece que o conceito de Responsabilidade Social no Ensino Superior surgiu com o intuito de comprometer a universidade com o desenvol-vimento local e regional, criando o que ele denominou de liame entre a acade-mia e o desenvolvimento local e regional. Diante disso, coube aos projetos de extenso sentirem-se responsabilizados a cumprir o que havia sido determina-do pela lei. Ainda referenciando as declaraes dessa liderana, ele afirma que a Responsabilidade Social se confunde com a Extenso, Ao Comunitria e a Filantropia realizada por meio de projetos sociais.

    O conceito de Responsabilidade Social das IES para outra liderana pode ser com-preendido no mbito pedaggico e administrativo, desenvolvendo aes, projetos e programas que tenham como objetivo unir a graduao pesquisa e extenso universitria e respeitar princpios ticos, legais e financeiros, assumindo compro-misso com a educao e com o mercado como um todo. Outra liderana declarou que a Responsabilidade Social das IES est atrelada prestao de servios da uni-versidade para com a comunidade e a sociedade.

    Em relao percepo do conceito de Responsabilidade Social das IES se carac-terizar como sendo uma prtica que envolve a graduao, a pesquisa e a extenso indissociavelmente, Rosetto (2011) aponta um questionamento em relao a essa afirmao: como classificar, ento, as IES que no se caracterizam como universi-dade e que, portanto, no so, na forma da lei, responsveis por desenvolver pes-quisa e extenso, e que esto vinculadas ao mesmo processo avaliativo aplicado pelo poder pblico? Tudo leva a crer que h um equvoco nessa relao.

    As Instituies de Ensino Superior (IES), e no apenas as universidades, sero analisadas em dez dimenses avaliativas do SINAES, e uma delas refere-se a seu papel de Responsabilidade Social. Isso, portanto, significa que o conceito de Responsabilidade Social ultrapassa os limites do ensino, pesquisa e extenso e no apenas se caracteriza como uma prtica da universidade e sim de todas as Instituies de Ensino Superior.

    O SINAES positivo, de acordo com uma liderana pesquisada, porm ainda no define com clareza qual o papel do Estado, qual o papel das entidades privadas e qual o papel do Terceiro Setor. Ela afirma que muitos projetos de extenso esto apresentando caractersticas assistencialistas, caractersticas de filantropia, sendo isso interessante ao Estado, que se exime de uma responsabilidade ou de um papel que deveria desempenhar. De acordo com Rosetto (2011), os projetos de extenso das IES e suas prticas acadmicas necessitam ser distintas das aes assistencia-listas que so desenvolvidas por instituies filantrpicas, entidades assistencialis-tas e Organizaes No Governamentais (ONGs).

    Segundo outra das lideranas pesquisadas, o conceito de Responsabilidade Social das IES ainda no est bem estabelecido e ainda menos homogneo no mbito das IES. A pesquisa revelou que ainda existe um entendimento limitado por boa parte das IES brasileiras sobre o conceito, enfatizando que isso poderia decorrer do pro-cesso de avaliao atual. H ainda hoje, mesmo aps seis anos da implementao da lei, um problema conceitual com a questo da Responsabilidade Social das IES, muito ainda arraigado ao contexto empresarial.

    Um aspecto positivo do SINAES merece ser enfatizado: ele abrangente, envol-vendo vrias etapas de avaliao, contudo, proporcionou s IES uma oportunidade

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    nica de se perceberem no cenrio nacional. Uma liderana destaca que as uni-versidades estavam historicamente habituadas a se isolar em seus prprios muros e a imposio dessa lei (porque toda lei tem um carter impositivo para manter a ordem e/ou o desenvolvimento), abriu as portas das IES, possibilitando que se ava-liassem como instituio social que so, refletissem sobre seu papel na sociedade e que no se considerassem to autossuficientes a ponto de no cometer equvo-cos. Com certeza, essa lei pode apresentar alguns aspectos que devam ser revistos, mas a possibilidade de se rever proporcionado s IES de extrema relevncia para a definio da funo social da universidade e de todas as Instituies de Ensino Superior neste pas.

    Rosetto (2011) destaca uma declarao de um dos sujeitos pesquisados, que afirma que a tendncia da compreenso e aplicao desse conceito, de Responsabilidade Social da IES, depende do modelo de gesto da universidade naquele determinado momento. A Responsabilidade Social da IES pode ter o objetivo de transformar a sociedade e a comunidade, como pode apresentar caractersticas assistencialis-tas, como pode tambm fazer algumas aes para firmar a marca da instituio. Segundo o pesquisado, quanto mais a pesquisa for sedimentada ao ensino de quali-dade, quanto mais se tenha a qualificao do corpo docente e condies concretas de realizao, mais se estar contribuindo para esta Responsabilidade Social, na medida em que se formam pessoas crticas, pessoas conscientes, pessoas inovado-ras, pessoas com valores ticos, pessoas que esto sendo formadas para mudar o mundo, no para perpetuar esta sociedade injusta. Ainda enfatiza que depende da forma da gesto, do projeto da universidade como um todo. Esse posicionamento deixa transparecer a amplitude e a abrangncia do conceito que no se pode defi-nir a partir de vises simplrias ou imediatistas ou de tendncias mercantis.

    A definio de tal conceito, de acordo com a autora (Idem, Ibidem), apresenta uma amplitude reflexiva, com caractersticas subjetivas, que expressa uma qualidade abstrata e depende exclusivamente da dimenso da viso, percepo, vivncia da-quele que est gerindo a IES naquele momento e representando as mais diversas organizaes que reproduzem a imagem da educao superior brasileira.

    Este um tema que no se encerra aqui. Ainda h muito o que ser discutido, deba-tido, dimensionado e construdo no que se refere ao conceito de Responsabilidade Social das IES.

    Referncias

    BRASIL. Lei n 9.394, de 20 de Dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educao nacional. Disponvel em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm. Acesso em 14 de Julho de 2011.

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    PIMENTA, Selma Garrido; ANASTASIOU, La das Graas Camargos. Docncia no ensino superior. 3. ed.- So Paulo: Cortez, 2008. (Coleo Docncia em Formao).

    ROSETTO, Marcia Regina C. Alvares. Instituies de Ensino Superior e Responsabilidade Social: Um estudo sobre as representaes de lideranas da educao superior bra-sileira. 2011. 353 p. Tese (Doutorado em Educao: Currculo). Programa de Ps-Graduao em Educao: Currculo. Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo (PUC-SP), So Paulo. 2011.

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    Responsabilidade Social Universitria: desafios da maioria silenciosaNAZIH YOUSSEF FRANCISS9

    LEANDRO BASSINI10

    RESUMO: As faculdades privadas de ensino superior possuem grandes desafios a serem enfrentados: o de conciliar estratgias de manuteno/consolidao de sua posio no cenrio educacional e, ao mesmo tempo, participar do processo de democratizao do ensino superior de forma significativa e relevante, incorporando prticas e concepes de acolhimento e integrao de alunos por meio de concepo de educao voltada de-mocracia. A dimenso Responsabilidade Social, nesse sentido, funde-se essncia de sua misso, pois sua existncia depende do reconhecimento social local e de seu papel como polo dinmico de fomento, inovao no tocante a ideias e a prticas sociais inclusivas.

    PALAVRAS-CHAVE: Responsabilidade Social Universitria; Acolhimento e Integrao; Educao para a Democracia; Qualidade do Ensino.

    O ensino superior brasileiro contemporneo possui, diante de si, desafios enormes a serem superados para a ampliao de seu processo de democratizao. Talvez o maior deles seja pensar e criar mecanismos de incorporao de alunos, a princpio excludos do mundo universitrio, coadunados com a ampliao do investimento na estrutura fsica, humana, pedaggica e tecnolgica, em um contexto de extrema competio, com grandes conglomerados econmicos nacionais e estrangeiros re-alizando fuses e incorporaes com uma ferocidade desconhecida nesse nvel de ensino (MELLO, 2009).

    Apesar de as polticas pblicas de financiamento dos estudos no ensino superior contemplarem as instituies privadas, por consider-las parceiras indispensveis de ampliao da oferta de vagas, ainda h certa demonizao da relao pblicas /privadas. As primeiras expressariam a qualidade e a excelncia, enquanto as lti-mas representariam uma sada falta de vagas no ensino superior pblico e sujei-tas sede dos capitalistas do setor, negligentes quanto qualidade, mas atentos ao lucro (HEYMANN & ALBERTI, 2002).

    Sem entrar nessa discusso, pois no o foco deste trabalho, inegvel a impor-tncia e a contribuio do setor privado na consolidao da expanso do ensino superior. Do total de 2.378 instituies, 2.100 so instituies privadas, sendo 89 universidades, 119 centros universitrios e 1.892 faculdades (Inep/MEC, 2010).

    Apesar do aumento de instituies pblicas nos ltimos anos (BARREYRO, 2008), inegvel a responsabilidade do setor privado na concretizao das metas de demo-cratizao do acesso ao ensino superior. Vale lembrar que as instituies privadas so reguladas pelos mecanismos institucionais do Ministrio da Educao, que ins-tituiu padres de qualidade os quais, muitas vezes, no se sustentam diante da re-alidade, como por exemplo, a escassez de professores com titulao nas diferentes regies do pas (BARREYRO, 2008).

    9 Arquiteto, especialista em Gesto do Ensino Superior pela Universidade So Marcos, diretor da Faculdade Unida de Suzano - UNISUZ, e-mail: [email protected]

    10 Graduado em Historia e Mestre em Histria Econmica pela Universidade de So Paulo, vice--diretor da Faculdade Unida de Suzano - UNISUZ, e-mail: [email protected]

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    Outro dado significativo para essa anlise que das 1.892 faculdades privadas do pas, 1.244 instituies encontram-se no interior, caracterizando-se por sua iden-tificao com o local e assumindo posio, na maioria das vezes, como instituio que fornece referncia de valores, conceitos, inovaes e, tambm, como dinami-zadora do desenvolvimento local e regional.

    Essas instituies de ensino superior constituem-se, algumas vezes, em dna-mo da comunidade local, fundamentalmente por aes de difuso de conhe-cimento, vinculadas a reas com alguma expertise institucional, ou ainda, a iniciativas de pesquisa de temas ou problemas locais explorados por progra-mas de iniciao cientfica. Quanto maior a identificao da instituio com a comunidade e com os problemas locais, maior seu movimento para a re-alizao de prticas de extenso e de pesquisa, mesmo que estas dimenses no constituam, em si, o cerne da funo das instituies de ensino superior caracterizadas como faculdades.

    Um dos pontos nevrlgicos de suas aes, e que para muitos se constitui em diferencial competitivo e estratgico para o mercado, a atuao respons-vel diante da comunidade na qual est inserida a Responsabilidade Social Universitria (RSU).

    Mais do que mera dimenso do instrumento de avaliao concebido pelo Sistema Nacional de Avaliao do Ensino Superior SINAES, institudo pela Lei no 10.861 de 14 de abril de 2004, a Responsabilidade Social das instituies privadas de ensino, principalmente aquelas localizadas em reas afastadas dos grandes centros ou em sua periferia, lhe confere sua essncia a sua relao com o lugar e com sua gente, o papel de ncora do desenvolvimento e referencial de competncia tcnica-pro-fissional e de lastro intelectual.

    A singularidade conquistada pelas faculdades forja-se na qualificao de pro-fissionais e na perspectiva de direcionamento para o desenvolvimento local, visto que contam com corpo de profissionais capazes de realizar essa leitura e propor relaes adequadas realidade. Esse papel de articulao est inscrito na prpria misso da instituio que, alm de objetivos cientficos e pedaggi-cos, abriga a valorao de princpios ticos, morais e polticos (a oportunida-de de vivenciar prticas cidads). Lohn (2011) considera a busca da misso da Instituio de Ensino Superior como o cumprimento de sua Responsabilidade Social. Em sntese, esta afirmao verdadeira, contudo, muito estreita para abarcar todo o seu sentido.

    A dimenso Responsabilidade Social encontra-se amalgamada na prpria his-tria das faculdades privadas, pois trabalha questes impulsoras da comu-nidade local por meio de sete aes ou prticas institucionais: 1) fomento de aes empreendedoras; 2) estmulo ao dilogo entre diferentes sujeitos e ato-res sociais; 3) acolhimento e integrao da populao que, at recentemente, pleiteava o ingresso no ensino superior; 4) criao de polos de inovao e de formao continuada de trabalhadores especializados; 5) vivncia de aes de cidadania; 6) vivncia do processo educativo em perspectiva humanizado-ra; e 7) criao de espaos de empregabilidade.

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    FOMENTO DE AES

    EMPREENDEDORAS

    CRIAO DE ESPAOS DE

    EMPREGABILIDADE

    ESTMULO AO DILOGO

    RESPONSABILIDADE SOCIAL UNIVERSITRIA

    (RSU)VIVNCIA

    DE PROCESSO CRIATIVO

    INOVADOR

    ACOLHIMENTO E INTEGRAO

    VIVNCIA DE AES

    DE CIDADANIA

    CRIAO DE POLOS

    DE INOVAO E FORMAO CONTINUADA

    O agir responsavelmente, nesse caso, compe a identidade da instituio, pois ela no se realiza e no se constitui apenas como cumprimento de sua funo legal, ela lanada pela prpria comunidade local, que reconhece seu papel para novas tarefas.

    1- O fomento de aes empreendedoras

    A expanso das vagas no ensino superior, a melhor distribuio de renda no pas e as polticas pblicas de financiamento para ingresso e permanncia no ensino su-perior trouxeram novo pblico, vido por oportunidades, porm com defasagens em sua trajetria educacional e cultural. A lgica dos diferentes processos seleti-vos tem se alterado, buscando avaliar competncias necessrias ao contexto con-temporneo, mas no se restringindo a instrumentos de avaliao mnemnicos. Esse fato traz a obrigao da instituio acolhedora em promover a construo de habilidades e competncias primordiais ao sucesso no ensino superior, alm de incentivar a ampliao do capital cultural individual e coletivo (SANTOS, 2001).

    No h dvida que o movimento de crescimento do ensino superior, com o in-gresso de populaes antes excludas, provoca discusses que remontam a um mesmo fenmeno, observado nos anos 70 em relao ampliao das vagas no ensino mdio, o qual preconizava que a popularizao do ensino redundaria em queda de qualidade.

    O dilema para muitos continua como a necessidade de optar pela massificao ou pela manuteno do elitismo. Invoca-se receios de

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    que ocorra no terceiro grau o que ocorre nos nveis fundamentais e a expresso massificao tem um forte sentido pejorativo. Embora a Universidade seja beneficiada com a amostragem de alunos mais repre-sentativa da populao, para muitos custa reconhecer essa vantagem (KRASILCHIK, 2008, p.16).

    O reconhecimento dessa vantagem no fcil, tampouco simples a introjeo de que necessrio alterar profundamente as concepes de ensino, as metodo-logias e a relao Professor-Aluno-Instituio. Uma amostra dessa dificuldade o alto ndice de evaso de alunos ingressantes no ensino superior, logo no primeiro ano do curso. Dentre os motivos apontados para a desistncia est a dificuldade do dilogo e as metodologias de ensino que tendem a excluir alunos com menor capital cultural e dificuldades em sua trajetria escolar.

    O Censo Inep/MEC 2010 revela como dramtica essa realidade, mostrando o nmero total de matriculados e o nmero de egressos: no Brasil houve, pelo Censo, 5.449.120 matrculas, sendo 3.987.424 em instituies privadas. As fa-culdades das capitais foram responsveis por 1.722.956 matrculas e as facul-dades localizadas no interior por 980.438 dessas. Porm, os nmeros ganham cores negativas quando se analisa o nmero de concluintes: pelo mesmo censo, 829.286 alunos concluram o curso superior no Brasil e desses, 650.876 finali-zaram seus cursos em instituies privadas, sendo 259.946 em faculdades, das quais 158.785 no interior do pas.

    No possvel apontar apenas um fator para a evaso nessas propores, o fato que o ensino superior deve realizar uma renovao completa da forma como recebe e compreende os alunos que a chegam. Evidentemente, o ingresso desses alunos se faz estimulado pelo paradigma que hoje corrente de que as chances de sucesso profissional e de oportunidades aumentam, exponencialmente, quan-to maior for a qualificao.

    Nesse sentido e, finalmente, a raiz da argumentao deste primeiro ponto da di-menso Responsabilidade Social das faculdades privadas, sobretudo localizadas no interior, estimular essa qualificao e desenvolver o esprito empreendedor, tornar palpvel o sonho de maior preparo e trabalhar as de competncias para ter sucesso em um empreendimento ou em uma funo profissional.

    Por analogia e transposio, esse papel assemelha-se experincia de Muhammad Yunus, indiano, prmio Nobel de economia em 2006, com a prtica do microcrdito (YUNUS, 2000). A experincia de Yunus consistiu em criar um banco para concesso de crdito a pessoas que no conseguiam qualquer tipo de emprstimo, em funo de sua situao social e econmica, sem qualquer lastro de segurana. O microcrdito era suficiente para o autoemprego e para o incio de pequenos empreendimentos, fato que alterava significativamente a vida das pessoas e de toda a comunidade, e o mais surpreendente, com o retorno do capi-tal emprestado.

    As faculdades privadas, silenciosamente, realizam tarefa semelhante. Acolhem as pessoas excludas de uma trajetria educacional ideal, ampliam suas poten-cialidades pela construo de habilidades e competncias para a sua insero em um mercado de trabalho e remunerao, dificilmente alcanados em ou-tras circunstncias e, em consequncia, imprimem dinamismo comunidade local e regional.

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    2- O estmulo ao dilogo entre diferentes sujeitos e atores sociais

    Em movimento contrrio padronizao de materiais didticos do ensino superior, adoo de metodologias passivas de ensino e instituio de turmas numerosas, principalmente, nos perodos iniciais dos cursos, as faculdades privadas podem in-centivar o dilogo como recurso de socializao, acolhimento e ensino.

    Quando se afirma que a misso da instituio auxiliar na construo e consolida-o de uma sociedade democrtica, baseada em princpios e aes cidads (PARO, 2007), deve-se ter em mente que a poltica e a democracia se constroem na prtica social, ou seja, espaos de decises e interaes devem existir na prpria prtica cotidiana da instituio, seja na organizao de diretrios estudantis, na participa-o em rgos colegiados ou em sala de aula, cotidianamente, no exerccio de ouvir e ser ouvido.

    Paulo Freire (1987) afirmava que os homens no aprendem sozinhos, educam--se mutuamente em comunho, mediatizados pelo mundo. Alm dessa perspec-tiva colaborativa do conhecimento e da prtica do dilogo, h outro aspecto: as faculdades privadas conseguem, em seus eventos de extenso e em atividades prticas em sala de aula trazer, com frequncia, membros da comunidade local para relatar experincias e propor desafios diante de constries pelas quais estejam passando. A instituio se torna frum local para discusso de diferen-tes setores da sociedade e de escuta de ideias baseadas em paradigmas hege-mnicos e contra-hegemnicos.

    Os fruns, organizados pelas instituies de ensino, acabam sendo aguardados pela sociedade e ganham status municipal (local), orientando algumas vezes, po-lticas pblicas e linhas de ao do comrcio local; subsidiando discusses sobre melhorias no sistema pblico de ensino fundamental/mdio; enfim, lanando as bases e organizando as mudanas que a comunidade projeta.

    O dilogo no mbito interno proporciona a vivncia de prticas sociais lastreadas pela democracia e, no mbito externo, possibilita o encontro de grupos e atores sociais responsveis pela constante inovao/manuteno das bases econmicas, polticas e culturais do local.

    3- Acolhimento e integrao da populao que at recentemente pleiteava o ingresso no ensino superior

    Vitor Paro (2007) discute o conceito de qualidade de ensino e aponta que a de-finio imprecisa dos objetivos da escola responsvel pela grande divergncia sobre a qualidade do ensino. Para esse autor, o objetivo primordial da escola a educao para a democracia. Os instrumentos tradicionais de avaliao e os no-vos instrumentos de avaliao nacionais e internacionais so inadequados para se saber o quanto se caminhou para atingir objetivos imateriais como valores, tica, posturas.

    [...]Na falta de um conceito mais fundamentado de qualidade do ensino, o que acaba prevalecendo aquele que refora uma concepo tradicional e conservadora da educao, cuja qualidade considerada passvel de ser medida pela quantidade de informaes exibida pelos sujeitos

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    presumivelmente educados. Essa concepo no apenas predomina nas estatsticas apresentadas pelos organismos governamentais, que se propagam por toda a mdia e acabam pautando os assuntos da imprensa [...] mas se faz presente tambm em muitos estudos acadmicos sobre polticas pblicas em educao (PARO, 2007, p.20).

    Dessa forma, normalmente as avaliaes diagnsticas e os prprios instrumen-tos de avaliao do processo seletivo desqualificam boa parte dos alunos in-gressantes, os denunciando como herdeiros de um sistema escolar agonizante. O fracasso escolar est anunciado. No se consegue avaliar valores, tica, soli-dariedade, capacidade de respeitar e entender as diferenas, ou seja, posturas fundamentais na constituio de um profissional competente, crtico e preocu-pado como o usufruto dos bens sociais e culturais historicamente construdos (PARO, 2007).

    Uma das mais importantes facetas de responsabilidade social das faculdades deveria ser compreender esse processo de excluso e propor formas alternati-vas do que muitas instituies chamam de nivelamento, recuperao e recicla-gem (nomenclatura e esprito que, de imediato, classifica o aluno ingressante como desqualificado, sem capital cultural suficiente para seguir no estudo do ensino superior).

    Algumas experincias bem-sucedidas, como da UNISUZ Faculdade Unida de Suzano, SP, apontam para uma mudana paradigmtica no tocante recepo do aluno ingressante e perspectiva de inclu-los no sistema sem desqualific-lo em qualquer sentido. Aps anlise da produo dos alunos ingressantes pelos instru-mentos de avaliao utilizados no processo seletivo, realizado um convite aos alunos com maiores dificuldades para participarem de grupo de estudos de cons-tituio heterognea (com alunos de diferentes perodos e cursos) e multidiscipli-nar, dedicado a estudar temtica de relevncia local e com possibilidade de gerar subtemas mais prximos rea de interesse de cada curso. O convvio dos alunos e professores e o cumprimento de tarefas de diferentes graus de complexidade permitem o desenvolvimento do grupo em todos os aspectos: cognitivo, cultural, emocional e tico.

    Aprender necessariamente uma forma de praticar o conhecimento, apropriar-se de seus processos especficos. O fundamental no conheci-mento no a sua condio de produto, mas o seu processo. Com efeito, o saber resultante de uma construo histrica, realizada por um sujeito coletivo. Da a importncia da pesquisa, entendida como processo de construo dos objetos do conhecimento e a relevncia que a cincia assu-me em nossa sociedade (SEVERINO, 2008 p. 20).

    Dessa forma, o que se consegue o acolhimento de pessoas com histrico de de-ficincias de aprendizagem de forma inclusiva e significativa, pois, de imediato, tornam-se estudantes do ensino superior capazes de realizar pesquisa, entender problemas, propor solues e no o contrrio, como deficincias quase irrecuper-veis e propensas a um novo fracasso escolar. Alm disso, essa experincia possibi-lita a integrao de alunos de diferentes turmas, cursos, professores, perspectivas profissionais e concepes metodolgicas.

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    4- Polo de inovao e de formao continuada de trabalhadores especializados

    As facetas da dimenso Responsabilidade Social so intercomunicantes nas insti-tuies de ensino. As faculdades isoladas, notadamente as localizadas no interior e nas regies metropolitanas, so constantemente chamadas a refletir sobre um grande tema, considerado novo, moderno ou inovador nas reas de sua expertise. O campo da educao (as licenciaturas) convive com essas questes corriqueira-mente. Os docentes do ensino superior de uma localidade contribuem com as dis-cusses das Diretorias e Secretarias de Ensino sobre avaliao, disciplina/indisci-plina dos alunos, participao popular, violncia nas escolas, metodologias ativas de aprendizagem, entre outros assuntos. As faculdades isoladas representam a voz da academia e da cincia em suas comunidades, constituindo-se em referencial de posicionamento crtico e neutro.

    Tambm so chamadas para treinar e capacitar colaboradores de empresas da re-gio, cumprindo papel primordial de desenvolver programas de formao continu-ada, seja sob demanda ou elaborados luz do que elas mesmas enxergam como adequado ou necessrio para um momento especfico.

    nesse ponto que a prpria instituio se reinventa, pois consegue conceber ou-tras formas de relacionamento com o pblico, oferecendo novas modalidades de cursos (extenso, aprofundamento e especializao) com formatos e abordagens totalmente diferenciadas.

    evidente que esse movimento possui uma dupla natureza, que no so excluden-tes, tampouco menores: de um lado a instituio no pode ficar alheia s novas tecnologias e aos novos formatos de cursos e produtos que contemporaneamente se desejam, e de outro, esse relacionamento proporciona oportunidades de diversi-ficar seu financiamento, fato que lhe garante crescimento ou sobrevivncia.

    5- Vivncia de aes de cidadania

    Normalmente, o aspecto mais ressaltado no tocante Responsabilidade Social o assistencialismo, que muitas instituies confundem com vivncias de cidadania (LOHN, 2011). O assistencialismo vincula-se a aes voltadas a grupos reconheci-dos como incapazes de prover suas necessidades bsicas ou com limitaes pro-fundas para a execuo de tarefas que garantam a sobrevivncia do grupo. A gran-de mudana quando a comunidade universitria inicia uma srie de aes que colocam em pauta o desenvolvimento de relaes democrticas na sociedade, nas quais so necessrias aes de incluso que no se esgotam em um momento, pelo contrrio, mostram-se permanentes. Outro aspecto que envolve aes de cidada-nia o sentimento de desejar alterar condies de vida para o viver bem, porm

    no se trata [...] de advogar [...] um poder de determinar a transformao social, ou mesmo uma absurda exclusividade no oferecimento de valores, conhecimentos e capacidades com relao convivncia social e poltica, visto que o saber sobre a poltica e a democracia se constri, em ltima instncia, na prpria prtica social[...] (PARO, 2007, p.23).

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    Uma das formas mais eficientes de se mobilizar o conhecimento conquistado ao longo do ensino superior seria propor solues a problemas sociais verdadeiros, orientar grupos para a retomada de processos de incluso social e oportunizar discusses com diferentes atores na superao de situaes de marginalizao e desqualificao.

    6- Vivncia do processo educativo em perspectiva humanizadora

    Pierre Bourdieu (1989) procura desvendar os mecanismos sutis que estabelecem clara atribuio de poderes e, portanto, dominao de um grupo. Utiliza-se do con-ceito de capital cultural, que em sntese, promoveria o sucesso e o fracasso dos estudantes em seu processo de escolarizao/educao.

    [...]v-se nas oportunidades de acesso ao ensino superior o resultado de uma seleo direta ou indireta que, ao longo da escolaridade, pesa com rigor desigual sobre os sujeitos das diferentes classes sociais. Um jovem da camada superior tem oitenta vezes mais chances de entrar na Universidade que o filho de um assalariado agrcola e quarenta vezes mais que um filho de operrio, e suas chances so, ainda, duas vezes superiores quelas de um jovem da camada mdia [...](BOURDIEU, 1989, p.5)

    A herana cultural, os estmulos e as experincias obtidas ao longo do processo educativo no espao familiar e fora dele so essenciais para o posicionamento do sujeito nos crculos de poder. A instituio escolar nos seus diferentes nveis, ao invs de promover a libertao do indivduo desse destino manifesto, agiria como mais um mecanismo de diferenciao e afirmao do poder de um grupo (ou gru-pos sociais) sobre outros.

    Acreditamos que a vivncia de prticas educativas que resgatam o dilogo e privilegiam os mtodos ativos de aprendizagem proporcionem aos alunos, alm dos mecanismos de integrao poltica de pesquisa e extenso, o autorreco-nhecimento, adotando a mesma perspectiva de Paro (2007), como sujeito social e como construtor de uma realidade melhor, o que significa, lutar para que a maioria da populao consiga usufruir dos bens culturais e sociais historica-mente construdos.

    A Responsabilidade Social, aqui presente, vincula-se noo das faculdades pri-vadas como polos de debate, dilogo e promotora de aes culturais. Muitas ins-tituies com essas caractersticas constituem-se no nico ncleo de produo e socializao da cultura com organizao de exposies, composio de grupos de canto coral, teatro, debates abertos comunidade, etc.

    A produo e vivncia cultural tambm se expressam ao acolher produes da co-munidade em seus diferentes eventos, legitimando um conhecimento e um saber que promove os sujeitos envolvidos a um patamar de relevncia e sensao de per-tencimento quele meio, um sentimento de que todos podem dar continuidade aos estudos no ensino superior.

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    7- Criao de espaos de empregabilidade

    Na caracterizao das instituies privadas como referencial cultural, tico, de competncia profissional h, em grande parte, uma procura da sociedade e dos seus setores produtivos por profissionais aptos a assumirem postos de trabalho na localidade, exercendo direta ou indiretamente funes de liderana diante do quadro de qualificao profissional da regio. Nesse sentido, mais uma faceta de Responsabilidade Social das pequenas instituies de ensino revelada: consti-tuir-se como um centro de oportunidades aos estudantes do primeiro emprego, ou ainda, assumir uma nova posio no mercado de trabalho.

    O ncleo de estgios das faculdades assume dupla funo: acompanhar, orientar e avaliar as atividades de estgio curricular e, inevitavelmente, reunir informaes sobre vagas de estgios no curriculares nas empresas da regio.

    H uma relao direta entre essa faceta de Responsabilidade Social e a questo do polo dinmico de oportunidades e a questo da economia local. medida que a competncia profissional, tcnica e humana reconhecida localmente, a busca por profissionais formados pelas instituies algo natural e muito considerada por aqueles que vivem a instituio e por aqueles que admiram a instituio - a inser-o no mercado de trabalho em condies de provocar mudanas na esfera pes-soal um dos aspectos mais relevantes da Responsabilidade Social Universitria.

    Finalizando o presente artigo, convm mencionar que a Responsabilidade Social Universitria atualmente perpassa todas as aes das instituies privadas de en-sino superior, principalmente as localizadas no interior ou nas franjas das grandes cidades, pois o que lhes assegura sua prpria sobrevivncia diante do cenrio extremamente competitivo. No que elas entendam a Responsabilidade Social como um diferencial competitivo de mercado, mas porque esse diferencial j se amalgamou em sua prpria definio, pois o que lhe confere identidade e reco-nhecimento diante de diferentes grupos sociais locais.

    O fundamento para essa incorporao de sentido a abertura do dilogo, a acei-tao das diferenas, a criao de mecanismos de acolhimento e integrao nas atividades-sntese do ensino superior: ensino, pesquisa e extenso.

    Enxergamos dois movimentos que podem acarretar profundas alteraes no en-sino superior, os quais no so excludentes, tampouco incompatveis. O primeiro consiste na adoo de um fazer didtico-pedaggico baseado nas ferramentas de tecnologia e informao, associado a materiais e programas didticos, racio-nalizados por um modelo de gesto norteada para obteno de resultados cla-ros, que contemplem a excelncia diante dos instrumentos de avaliao institu-cionalizados pelo poder pblico e encampados pela sociedade como parmetro de qualidade do ensino. O outro movimento mostra-se atento aos mesmos par-metros de qualidade do ensino, porm com um fazer didtico-pedaggico funda-mentado no dilogo e em metodologias ativas de aprendizagem, que possuem na prtica social seu maior campo de inspirao e exerccio, regadas a um modelo de gesto que no abre mo de resultados, no os puramente quantitativos, mas aqueles vinculados transformao pessoal e coletiva, nas dimenses cognitiva, poltica, moral e tica.

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    Entendemos que a contribuio das faculdades privadas de pequeno porte di-menso Responsabilidade Social extremamente importante, pois se vincula um-bilicalmente prpria identidade e identidade da comunidade na qual est inseri-da. Embora no componha nenhum modelo clssico de tipologia tradicionalmente vista como responsabilidade social e nem mesmo um novo modelo, mostra-se in-contestavelmente como paradigma institucional, ou seja, a garantia de existncia e sobrevivncia da instituio constituir-se e entender-se como um elemento fun-damental da prtica social das comunidades locais.

    Referncias

    BARREYRO, Gladys Beatriz. Mapa do Ensino Superior Privado. Braslia: Inep/MEC, 2008.

    BOURDIEU, Pierre. A escola conservadora: as desigualdades frente escola e cultura. In: Educao em Revista. Faculdade de Educao/UFMG, Belo Horizonte, v.10, pp 3-15, dez, 1989.

    FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 17ed. Rio de Janeiro, 1987.

    HEYMANN, Luciana; ALBERTI, Verena (orgs.). Trajetrias da Universidade pri-vada no Brasil: depoimentos ao CPDOC-FGV. Braslia, D.F.:CAPES; Rio de Janeiro: Fundao Getlio Vargas/CPDOC, v. 2, 2002.

    LOHN, Vanderleia Martins. Indicadores de responsabilidade Social: uma propos-ta para as instituies de Ensino Superior. In: Revista Gesto Universitria da Amrica Latina. Florianpolis: Universidade do Vale do Itaja, v.4, n. 1, p. 110-128, jan/abr. 2011.

    KRASILCHIK, Myriam. Docncia no Ensino Superior: Tenses e Mudanas. In: Cadernos de Pedagogia Universitria. So Paulo: Faculdade de Educao/Universidade de So Paulo, v. 4, 2008.

    MELLO, Raul Carlos. Estratgica da Estrutura de Capital sob os Efeitos das Fuses: estudo de caso das instituies de ensino superior brasileiras de capital aberto. In: Revista Gesto & Tecnologia. Pedro Leopoldo, v.9, n.1, p.1-12, jan./jul.2009.

    MINISTRIO DA EDUCAO. INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANSIO TEIXEIRA Censo da Educao Superior 2010 - Resumo Tcnico. Braslia: MEC/Inep, 2010.

    PARO, Vitor Henrique. Gesto escolar: democracia e qualidade do ensino. So Paulo: tica, 2007.

    SANTOS, Gislene Aparecida dos (org.). Universidade, formao, cidadania. So Paulo:Cortez, 2001.

    SEVERINO, Antnio Joaquim. Ensino e pesquisa na Docncia Universitria: ca-minhos para a integrao. In: Cadernos de Pedagogia Universitria. So Paulo: Faculdade de Educao/Universidade de So Paulo, v. 3, 2008.

    YUNUS, Muhammad. O banqueiro dos pobres. So Paulo: tica, 2000.

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    Responsabilidade Social Universitria:um olhar da realidade ibero-americanaMANUEL MART VILAR11; ISABEL CRISTINA PUERTA LOPERA12; RICARDO GAETE QUEZADA13;

    JUAN JOS MART NOGUERA14

    RESUMEN: Se presenta en el artculo un repaso al desarrollo y comprensin de la Responsabilidad Social Universitaria (RSU) en pases iberoamericanos, contemplando polticas internacionales hacia la construccin de un espacio de conocimiento conjunto en Iberoamrica. El artculo ofrece una perspectiva y enlaces a las principales experien-cias, sealando las diferencias existentes en cuanto a la conceptualizacin de la RSU en el contexto americano y peninsular. Unido a la conceptualizacin, han aparecido diferentes formas de evaluacin, sin llegar al desarrollo de un estndar comn iberoamericano, lo cual sera de inters para avanzar en un marco comn de educacin superior.

    La responsabilidad Social Universitaria

    En Iberoamrica la Responsabilidad Social en y desde las Universidades (RSU), ha experimentado una gran inquietud desde finales del S. XX, consolidndose en ex-periencias y redes entre universidades durante la primera dcada del S. XXI. Es un tema de central inters en las cumbres de educacin superior iberoamericanas, en las cuales se aboga por la creacin de un Espacio Iberoamericano de Conocimiento15, que adems sea socialmente responsable16.

    Contemplada en el marco de las directrices de la UNESCO en Educacin Superior (Caldern, Pedro, Vargas, 2011), la Responsabilidad Social constituye un rea trans-versal en la misin de las universidades de formacin e investigacin, as como tam-bin en calidad de estructura organizacional. En lo referente a formar estudiantes socialmente responsables, es una cuestin que refleja diferentes estudios realiza-dos sobre el perfil de profesional que debe aportar la educacin superior, tal como seala el informe Definicin y Seleccin de Competencias (DeSeCo)17 elaborado por la OECD, y el informe financiado por la Unin Europea Tunning18, orientado a la mejora de la calidad en universidades de Europa y Amrica Latina. En ambos informes se sealan una serie de competencias entre las cuales estn presentes ca-ractersticas ligadas a mantener una actitud y comportamiento de responsabilidad en el papel a desarrollar como profesionales en la sociedad.

    11 Doctor en Psicologa, Profesor Titular de PsicologaBsica, Universidad de Valencia (Espaa)[email protected]

    12 Doctora en Psicologa. Vicerrectora de Investigaciones, Fundacin Universitaria Luis Amig. Medelln (Colombia)[email protected]

    13 Doctor en Sociologa, Profesor Asistente delDepartamento de Ciencias Sociales, Universidad de Antofagasta (Chile). [email protected]

    14 Doctor en psicologa por la Universidad de Valencia. Investigador de lo Centro de Estudios y Anlisis Econmico de la Universidad Antonio Narin (Colmbia). [email protected]

    15 http://www.oei.es/espacioiberoamericanodelconocimiento.htm

    16 http://encuentroguadalajara2010.universia.net/index-pt.html

    17 http://www.deseco.admin.ch/bfs/deseco/en/index/02.parsys.43469.downloadList.2296.Down-loadFile.tmp/2005.dskcexecutivesummary.en.pdf

    18 http://tuning.unideusto.org/tuningal/index.php?option=com_docman&task=docclick&Itemid=191&bid=54&limitstart=0&limit=5

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    De igual modo, en el documento elaborado por el grupo de RS del Ministerio de Trabajo espaol La Responsabilidad Social de las Empresas, RSE, el Desarrollo Sostenible y el Sistema de Educacin y Formacin19, se considera necesario

    incorporar al sistema de educacin y formacin en todos sus niveles y etapas los principios y valores del desarrollo sostenible y la responsabili-dad, con el objetivo general de que todas las personas puedan desarrollar un modo de pensar abierto y libre, y adquirir los valores, conocimientos y capacidades que les permitan encontrar las soluciones a los problemas que les afectan.

    Pese a estos informes que resaltan la importancia de la RSU, no existe un cdigo o referente de comn aceptacin a nivel internacional, por ello la comprensin del significado de ser socialmente responsable como institucin universitaria tiene di-ferente interpretacin si se trata en Espaa / Portugal o en Latinoamrica / Brasil, e incluso de forma atomizada dependiendo de la universidad.

    La RSU en Iberoamrica necesita asentar un marco comn, que permita orientar las polticas concretas que emprenden las Instituciones de Educacin Superior (IES) de cada pas en solitario o en red. Durante la prxima dcada ser un campo en crecimiento, mientras que diferentes programas de cooperacin entre pases iberoamericanos (espacio Amrica Latina Caribe - Unin Europea)20, progresan en fortalecer un marco de polticas educativas, e indicadores conjuntos como son los programas Alfa Puentes21, Cesar22o el Infoaces.23

    En este artculo se realiza una presentacin de algunas de las diferentes iniciativas, para en la conclusin argumentar las bases de un marco comn para el espacio iberoamericano.

    Introduccin a la RSU en Ibero-amrica

    La principal influencia acerca de la conceptualizacin de la RS en Universidades de la regin Latinoamericana vino dada por la accin del Banco Interamericano de Desarrollo desde una seccin de tica, actualmente desaparecida. Dicha experien-cia present la RSU como la gestin de impactos de la Universidad, que merced a una buena difusin mediante seminarios, internet y redes de universidades como la Asociacin de Universidades confiadas a la Compaa de Jess en Amrica Latina (AUSJAL)24, se ha convertido en un modelo de referencia para la comprensin e in-terpretacin que puede revisarse en el libro Responsabilidad Social Universitaria: Manual de primeros pasos25 (Vallaeys, de la Cruz y Sasia, 2009). Este enfoque par-te de que la RSU representa ms que las funciones de extensin universitaria, o vo-luntariado, aconsejando una evaluacin general del efecto de la universidad como institucin en s misma y de su efecto en sociedad.

    19 http://www.etnor.org/html/pdf/CERSE-Educacion.pdf

    20 http://www.oui-iohe.org/campus/eles/espacios-comunes/latinoamericano/

    21 http://alfapuentes.org/portal

    22 http://proyectocesar.eu

    23 http://www.infoaces.org/

    24 http://www.ausjal.org

    25 http://idbdocs.iadb.org/wsdocs/getdocument.aspx?docnum=35125786

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    Entre las experiencias iniciales en RSU cabe resaltar la experiencia de universidades en Chile, Universidad Construye Pas, producto de un programa financiado por la Fundacin Avina, y mantenido en cargo a programas financiados por el gobierno. Dicha experiencia gener documentos relevantes como Una manera de ser Universidad26 que presenta va-rios instrumentos y una concepcin de cmo debera enfocarse la RSU como proyecto de pas. Actualmente este programa contina con mayor produccin individual en cada universidad de forma conjunta dado que ha sido muy dependiente de tener financiacin; en cambio, AUSJAL como red universitaria es la que presenta una mayor solidez en cuanto a reflexin colectiva y diseo de herramientas para la evaluacin de la RSU.

    Diferentes trabajos realizados en universidades de pases como Colombia, Mxico, Venezuela o Per permiten observar una progresin en el estudio de la RSU y articu-lacin de las universidades con su entorno social. Sobre todo en Latinoamrica, bajo la denominacin de Aprendizaje y Servicio, enfocado como prcticas de estudiantes en comunidades desfavorecidas, se vincula la RSU a un servicio que presta la univer-sidad a la sociedad con implicaciones en la sensibilizacin de estudiantes en relacin a la importancia de la formacin universitaria para propiciar el desarrollo social.

    A nivel de trabajo por pas, en el caso concreto de Colombia, bajo el liderazgo de la Pontificia Universidad Javeriana, se cre el Observatorio de Responsabilidad Social Universitaria (ORSU)27, que apoya una pluralidad complementaria de enfoques en el abordaje y comprensin de la RSU, uniendo tanto experiencias en desarrollar siste-mas de evaluacin28 de las IES como organizacin, as como desde la medicin de im-pactos en sociedad y la accin / proyeccin social. Ello puede verse en la revista de la Asociacin Colombiana de Universidades (ASCUN)29 en su nmero 21 del 201130, donde varios artculos permiten conocer esta diversidad en cmo entender y trabajar la RSU.

    En Brasil, se puede ver en las acciones de la Associao Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior - ABMES31, como el programa Trote Responsvel32, para la integraci-n de nuevos estudiantes, y el Dia da responsabilidade social33, que incluye mltiples actividades en las cuales prima el objetivo de integrar diferentes acciones sociales e intercambiar actividades de extensin desarrolladas a lo largo del ao. Supone a nivel iberoamericano la mayor experiencia colaborativa entre universidades sobre RSU.

    En Per, cabra sealar la importancia concedida a la responsabilidad social de modo que algunas universidades han creado una direccin acadmica especial para su gestin como es el caso de la Pontificia Universidad Catlica del Per34 y la Universidad Peruana Cayetano Heredia35; mientras que en Venezuela a formalizaci-n de memorias de RSU como la que ha presentado la Universidad Metrop