Poesia Reincidente e Outros Poemas

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Poesia reincidentee outros poemas

 Juarez Francisco da Costa

1ª Edição

Câmara Brasileira de Jovens Escritores

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Copyright©Juarez Francisco da Costa

Câmara Brasileira de Jovens EscritoresRua Marquês de Muritiba 865, sala 201 - Cep 21910-280Rio de Janeiro - RJ

Tel.: (21) [email protected]

Janeiro de 2012

Primeira Edição

Coordenação editorial: Gláucia HelenaEditor: Georges MartinsProdução gráfica: Fernando DutraRevisão: do Autor 

É proibida a reprodução total ou parcial desta obra, por qualquer meio e para qualquer fim, sem a autorizaçãoprévia, por escrito, do autor.

Obra protegida pela Lei de Direitos AutoraisRio de Janeiro - BrasilJaneiro de 2012

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 Juarez Francisco da Costa

Poesia reincidentee outros poemas

 Janeiro de 2012

Rio de Janeiro

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5Poesia reincidenteProva 01CBJE

Apresentação

 Juarez Francisco da Costa é servidor público federalnascido em São José do Vale do Rio Preto, RJ, em 19.05.1961.

É formado em Direito pela Universidade Católica de Petrópolis.Possui publicações nas seguintes coletâneas: volumes 54, 61 a69 e 81 de Poetas Brasileiros Contemporâneos, da CâmaraBrasileira de Jovens Escritores; “Melhores Poesias de 2010” eContos Além da Imaginação (2010), da mesma editora; Letrasno Brasil X, da Taba Cultural; Antologia Cidade, lançada naXIII Feira Pan-Amazônica do Livro, em Belém; Vozes de Aço-V Antologia Poética de Diversos Autores-2010, da Poeart; e9º Concurso de Poesias da Universidade Federal de São JoãoDel - Rei. Também foi 1º lugar no IV Festival de Sonetos Chave

de Ouro, na cidade de Jacareí, SP, com o soneto “Velado”.Publicou por demanda os livros “Das Entranhas para a Luz”,pela CBJE, e “Barco à Deriva”, pela Virtual Books.

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7Poesia reincidenteProva 01CBJE

Sumário

DESARMONIA.......................................................................................................9VIDA PERTO... VIDA LONGE... ........................................................................... 11FADAS DE ONTEM E DE HOJE .......................................................................... 12VIDA E MIRAGEM ............................................................................................... 13ENDEUSAR E COMUNGAR ............................................................................... 14VIÇO QUE NÃO PASSA....................................................................................... 15 ANJO BOM, ANJO MAU....................................................................................... 16PROMESSA DE FADA ......................................................................................... 17 A PORTA, O PORTO, A ESTAÇÃO....................................................................... 18LUA DORMENTE, SOL TARDIO.......................................................................... 20MALHAS DA VIDA ............................................................................................... 21DO AMOR LATENTE AO AMOR VIVIDO .............................................................. 23

LETÁRGICO ........................................................................................................ 25DESPERCEBIDO ................................................................................................ 26SEM MIM E SEM FIM .......................................................................................... 27SIGNOS, SÍMBOLOS E TRAÇOS ....................................................................... 28 A DOR PINTADA PELO POETA ........................................................................... 30OFÍCIO DE POETA ..............................................................................................31LUTA DE POETA ................................................................................................. 32SEM PRIMAVERA E SEM POESIA ......................................................................33DITO E NÃO DITO ..............................................................................................34EU E A NOVA MANHÃ ......................................................................................... 35INÓCUO .............................................................................................................. 36BUSCA, ESPERA E ANSIEDADE ........................................................................ 37 ABSTRATO ......................................................................................................... 38

CAMINHAR E DESENCAMINHAR ......................................................................39DE CECA E MECA ..............................................................................................40ENCICLOPÉDICO E CALADO ............................................................................41 ÁGUA EM DUAS PARTES ................................................................................... 43DE VIVER E MORRER ........................................................................................44

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8 Juarez Francisco da CostaProva 01CBJE

INTERMÉDIO ...................................................................................................... 45CHUVA DE VERÃO ............................................................................................. 46TEMPESTADE DE VERÃO.................................................................................. 47IDAS E VINDAS ................................................................................................... 48 ABAIXO E ACIMA DE MIM ................................................................................... 49 A POESIA E O POETA ......................................................................................... 50 ATRAÇÃO E REPULSÃO .................................................................................... 51CASA DE POETA ................................................................................................. 52DESASSOSSEGO ............................................................................................... 53VOLUBILIDADE E CERTEZA .............................................................................. 54DESENCANTO.................................................................................................... 55 A MULHER .......................................................................................................... 56INCLUSIVO E EXCLUSIVO ................................................................................. 57DESENCONTRO E ENCONTRO ........................................................................ 58EM NOME DO AMOR E DA PRIMAVERA ............................................................ 59TEMPO DE MIM E DAS COISAS......................................................................... 61PENSAMENTO À TOA ........................................................................................ 62 AMOR E PRAZER ............................................................................................... 63DIVERSO ............................................................................................................ 65MAQUINAL .......................................................................................................... 66POESIA ............................................................................................................... 67DIUTURNO ......................................................................................................... 68PROCURA .......................................................................................................... 69GALOPANTE ....................................................................................................... 70TARDIO ............................................................................................................... 71O TREM DA VIDA ................................................................................................ 72O TEMPO E EU ................................................................................................... 73VIAJANTE ........................................................................................................... 74

VACILAÇÃO ........................................................................................................ 75REMÉDIO PARA APATIA ...................................................................................... 76DURA CONSTRUÇÃO ........................................................................................ 77CICLO DA VIDA ................................................................................................... 78 ALTARES DA VIDA .............................................................................................. 79COMPOSIÇÃO .................................................................................................... 80

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9Poesia reincidenteProva 01CBJE

DESARMONIA

Nas paisagens fotografo visagens,coisas frias, tristes e esmaecidas.Projeto pelas retinas as imagensque tenho da vida e que faço:são pinturas amarelecidasem antigos riscos e novos traços,titubeantes como os passos.Espalho uma paisagem que não é,que os meus olhos e obras fazem.Coisas concebo, em tudo nada fé.

 Tristeza, dor e doença subjazem.Paisagens- tocadas por frio que sintosalvoas que faço, são livres de doenças.Eu... (indiferente a elas- silenciosas)centrado em mim, careço e grito.Insisto em caras pertenças,diante de belezas graciosas.Eu com cicatriz e triste, sim,as desvirtuo, firo e desboto.

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10 Juarez Francisco da CostaProva 01CBJEPinto-as com o que se descolore em mime com o que opaco e pesado me faz,provocando um sentimento de antipaz.Falseio coisas na minha mente emboloradae na minha alma enjoada e agitada.Eu com venenos no sangue e sem quietude.Demente, desvirtuo a mim e a própria virtude.Mas a Natureza, de ciclo em ciclo, e dia após dia,me cura. E a si e a mim transmuda.Com e à revelia da minha ajudaé que se me impõe uma tarda harmonia.

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11Poesia reincidenteProva 01CBJE

VIDA PERTO... VIDA LONGE...

O que seria minha alegria? Sempre a vigiar,me surpreendo um nada, numa luta inglória.Se desisto da minha meta e não a vou buscar,a vida me é tediosa, certamente irrisória.Eu a me preguear no tempo, extenso e pesado,interminável e indiferente. Ausente do tempo,a mim mesmo fico procurando, longe. Atado,desconheço o agora; ausente de mim, no relento.De mim distante fica o tempo, se a vida procurosem lhe notar a semente em pequenos rebentos.

Não vivo, então, o melhor da vida, fico obscuro.Ela não me possui, nem eu a ela, ambos sedentos.Restamos vida e eu órfãos da simplicidade.Sem procurar nada, pode ser que encontre tudo.Paradoxal, sou complexo e simples, na liberdadede ser, fazendo da vida e ela de mim, escudo.

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12 Juarez Francisco da CostaProva 01CBJE

FADAS DE ONTEM E DE HOJE

Aquela mágoa, da poesia desapareceu.Apenas escorre uma lágrima suave.Choro, mas isso não faz mal, oh, salve!É uma desilusão que me fortaleceu.Não me desgasto, esqueço a antiga magiado que a fada prometeu e não trouxe.Acho-me nem amargo nem doce.O frio e a falta engendraram ataraxia.Secaram os prantos eventuais que chorei,que foram sempre silenciosamente vertidos,

que foram, às vezes, esteticamente contidos.Isto que agora tenho, cala fundo, eu abafei.Não é medo, mas prudência padroeirade gostar de mim, desconfiado da fada faceira.Mas não duvido de que o amanhã, no horizonteantigo, com jeito de novo, trará algo de ontem.

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13Poesia reincidenteProva 01CBJE

VIDA E MIRAGEM

O tempo todo eu, um tanto louco, te esperava. Tu entravas pela fresta ou por toda porta(fechada ou aberta). Tu sempre me invadias.Chispavam teus olhos, reboava tua voz.Sem pôr meus olhos fora ou ouvidos, via, escutava.Em miragem, sem fidelidade, sem bater-me à porta,surpreendentemente distorcida, vinhas e distorcias. Tua voz na voz do vento era outra voz.Eu te falava sempre, parecia que ouvias,te colhia vozes cálidas e olhar cúmplice,

mas nada era plangente ou se revelava. Tu vinhas de mim para mim, muda e irreal.Eu te concebia e, assim, outra tu te fazias. Tu, pura e estéril ainda, e eu, uno e dúplice,ainda te espero, ensandecido no deserto virtual.

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14 Juarez Francisco da CostaProva 01CBJE

ENDEUSAR E COMUNGAR

Desde imemoriais tempos a inquietação,a necessidade e humana incompreensãoa fazer deuses: deuses-símbolos e Deus de todos,variável em ótica, compreendido de vários modos.Não pequei se por alguns olhos e graça endeusei.E eu não era superficial no que sentia e me doía.Arrebatei em mim, me arrebatei- Todo dia me roía.Amei sim no meu canto e cantares, no foro íntimo.No meu canto e cantares a ausência não refreei.Encoberta a diva, tortuoso o caminho para o cimo.

A procurar, embalando e a praguejar, esperando...Sem encontrá-la ou a mim, a desprender do chão.Mas minha deusa não vinha, a que sempre esperei.E agora chega. Não é tarde no que se desvela.Despida de mantos, mas trajando algum roupão,é uma mulher comum, anda aqui no chão.Comunga e resmunga comigo. E eu com ela.

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15Poesia reincidenteProva 01CBJE

VIÇO QUE NÃO PASSA

Amo-te, querida,te revendo os gestos puerise teus jeitos feminis.Mas sinto perder a inocência,que foge da vida pela vida.Hoje te amo, mulher, em essência.Vejo-te ir e vir, transmudada.Em timbres vários, me és dadaesposa, menina que sempre quis. Já não és ausência constante.

És inconstante na presença.Sem ti minha hora fica cortante. Tens do passado a graça.No presente, a maturidadetorna-te bela com outros sais,açúcares e fontes e viço.Do meu dia tiras algo de jaçae compensas da vida alguma negaça.

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16 Juarez Francisco da CostaProva 01CBJE

ANJO BOM, ANJO MAU

Escuta: eu estou dando para ti...Às vezes poemas e pragas.Doces dores e dores amargaspalpitam pelo teu charme, teu it.Alegrias em poucos dias,choros em muitos, falsas alegrias.Acho-me, paradoxal,afeito e desfeito.Dás encanto sazonal;não permaneces;

te amo;te odeio.Caibo em tua mão.Me incluis e excluis.Escuta!Não escutes!Vai,mas volta e te insinues!

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17Poesia reincidenteProva 01CBJE

PROMESSA DE FADA

Estás a andar no sono.Desperta no sonho,te vejo pintada.Algo natural,és linda e malvada.Às vezes prometes e tal,às vezes, não.E tu não me libertas.A mim é que cabe, na certa.E, Fada! ( maldição!...),

Vens e não ficas,nada trazes, tudo modificas.Vais para não sei onde,volves aqui ou te escondes.Meu coração descompassadomorre de um nada.Um sopro reanima.E nada está certo:errante, faço versos sem rima,ando em desalinho.

Meus olhos sorriem.Os teus são baços.Baços os meus ficamem cada fuga,em cada promessaque não se cumpre,mas se renova depressa.

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18 Juarez Francisco da CostaProva 01CBJE

A PORTA, O PORTO, A ESTAÇÃO

Luta em mim algo, ou eu luto comigo,longe de tudo, de mim e de todo abrigo.O que falta dói. Arranho-me e norteioe desnorteio meus passos, minha aura.A vida me dana e promete que restaura. Tristezas e descrenças fecham portas de mime portais do mundo, que não quero todo.Só uma parte ou porta em que me quero inserido.Mas sem sentir-me em alegria alheia intrometido.Fico uno, disperso em mim, sem começo ou fim.

Não noto a própria presença e a interação pretensa.Nulo eu no mundo de niilismo, sou cataclismo.Mas, por lutar comigo, quase me resgato.Em alguma porta miro, enquadro e bato.Às vezes, em virtude das faltas, de fatoluto em mim e me desespero num tempo longo.

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19Poesia reincidenteProva 01CBJEContenho, escondo lágrimas e me escondo.Nutro ansiedades e agonias, me isolo e padeço.Do sonho de fraternidade e amor esqueço.Outras vezes, numa vontade invencível,conservo um desejo que é arrimo e nortepara continuar de dentro de um mar revolto,a buscar salvação da figurada morte.Não quero fundir-me n’água.Não vou unir-me com ela, matando mágoa(Antes da paz, haveria afogamento),pois além do espírito, tenho um corpo,que é barco e trem, que levam meu tormento.

Minha hora é mar e é porto, água e praia...viagem, estação... E na paisagem comum se espraia.

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20 Juarez Francisco da CostaProva 01CBJE

LUA DORMENTE, SOL TARDIO

O meu “eu” é uma lira de amor e dor. Tenho um pouco de tudo e ainda quero plus.Na parte, confuso sentimento do todo e desamor,na noite claro-escura em que uma lua deita luze de luz e sombras tece uma enorme liberdade.Nela- signo de mim- me perco, e ela me assombra.E eu bem preso e evadido num lago que me invade.E nele a lua vê-se a si, indiferente às sombrase aos recônditos. Retarda o sol, revira daqui para ali,a fazer desenhos pretos, mas também luz.

Indiferente ao próprio lado escuro de fora e de si.Imenso eu dentro de mim, carregando minha cruz,espraiando sentimentos sem cessar e sem atingir.Louco de saber obscuros os pontos, já não vejo a mim mesmo, focado nas sombras.Vagueio e perco a hora, perco-me e não encontro.Cosendo-me às sombras, sou sombra. Tudo pequeno fica enorme enquanto tudo dorme.

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21Poesia reincidenteProva 01CBJE

MALHAS DA VIDA

Desde ontem,ainda hoje, amanhã,vamos a tecer, vida e eu,emaranhadode linhas, de riscos e traços,num afã...Em que vejo vivoe também desbotado,uma vida errante nas malhas da vida,a trazer e levar os ais de tantas dores

e os risos de alegria e graça, numa lidaa construir-se... (E a mim também!).Abraçadores...Eu desligo-me, perco,ganho, corro ou ando,vou, fico, desperdiço,colho, sonho e tal.

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22 Juarez Francisco da CostaProva 01CBJEEu me ligo sonhando ainda, acordando...vou, fico, desperdiço,frio ou estival...Nem sonho...Sou bisonho.Faço e desfaço.Algo se faz e se desfaz.O relevante e o irrelevante... Tudo se realiza e realizo.Pulverizo e eternizo.Ou eu ou a vida.A vida e eu.

Eu na vida.

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23Poesia reincidenteProva 01CBJE

DO AMOR LATENTE AO AMOR VIVIDO

Era bom, pueril, e sério relativo!Amando, me entristecia ou ficava altivo.O sonho, solto no ar, preso à terra,sempre comigo em qualquer hora e local,me acompanhava em cores originais e inventadas.De dia, de noite, quente ou invernal,no plano das pernas e no horizonte da serra.Era a vida e vontade que queria comungadas.Sentimentos incinerados, incineradores,no peito eram pseudorrevigoradores.

Enterravam-se agora, renasceriam depois,por ti, em ti mesma ou noutra, travestidos de ti,ó vida amorosa, buscada, relutante que és,nunca esquecida. Ficava aos pés de ti.Não havia conserto, Vida, que és mulher:eu era um e me fazia dois.Não prático, era sonhador ao invés.

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24 Juarez Francisco da CostaProva 01CBJEMenina, fiz mulher,Mulher, menina fiz, retorcina queimação de amor e paixão reacendida,em confusos conceitos meus... Prometida. Torpores e humores incindíveis no meu dia,ó paixão ou amor que sentia!agora amor és com algo mais:comungas em mim que comungo em tialegrias e dores normais,numa lida intensa ou comedida,mas todo dia- mulher que dormes comigoatudo sensíveis e mais.

Rebentamo-nos, somos múltiplos.Mais que doisem nós mesmos, somos carne e bisturi,linha, ponto, contrapontode uma vida lenta, comprida,não cumprida,acumpliciados nos possíveise impossíveis.

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25Poesia reincidenteProva 01CBJE

LETÁRGICO

No fundo subjaz e silenciaO que ponho na voz, pois não consigo,Mesmo dizendo, ser supremaciaDos sentidos e verbos que irrigo.

Sou apenas. A fala sentenciaMenos ou até mais do que eu digo.Fica por expelir do meu postigoO verdadeiro “eu” que evidencia.

Sou apenas, sou mais. Do que traduzo,E com imperfeição, tudo me fica.Pouco ou duvidoso é o que reluzo.

Assim como você, pouco deduzo.De você e de mim, pouco induzo.Ganho e perco na ponte, fonte e bica.

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26 Juarez Francisco da CostaProva 01CBJE

DESPERCEBIDO

Na minha entranhainsiste o amor,teima a dor.Perde-se o grito,não o conflito.Vida tacanha,eu me acanhoe fico estranho.Dentro, fibras como traçose nervuras como letras,

que não são escorreitas.Faço e me desfaçono meu dia calmo.Nervosos são os traçosde mais uma páginaque escrevoda vida mal percebidae sofrer longevo...

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27Poesia reincidenteProva 01CBJE

SEM MIM E SEM FIM

Intruso de mim mesmopor ser e não ser elo,me torno ermo.Sou fogo, terra e águae sangue a escorrer.Borbotões alucinantesnuma louca sangria!Cópia de mim, dos outros,separado e paraleloao longo da via.

Sou margem e imagemna margem da tua imagem.Não formo uma...Sou uma miragem.Fazes uma charge,sou uma charge,catarse de mimdentro e fora de mim.Eu que não tenho fim.

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28 Juarez Francisco da CostaProva 01CBJE

SIGNOS, SÍMBOLOS E TRAÇOS

A vida!Grande painel,em que se derramam cores.Há signos e símbolos.E eu tenho que lere também escrever. Também é sumo.Suprassumo.Bagaço.Cabaço.

Ferida!Em derrames a granel, jorra sangue pelas doresdo imo, que maldiz/ama o frívolo. Tudo a intumescer,nada a arrefecer.É fumo.Pouco dessumoe assumo.Sou traço.

Sou fracasso.Alegria?

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29Poesia reincidenteProva 01CBJEVai e fica em letargia.É rara e fugaz.E é só um gás. Tão rarefeita, que se desfaz.Um pouco afloro.Pouco defloro.Como de sua carcaçano que é fruto.Me espicaça,Me rechaça.Ponho lutoe vou à luta.

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30 Juarez Francisco da CostaProva 01CBJE

A DOR PINTADA PELO POETA(A FERNANDO PESSOA)

Escrevo de pessoa pra pessoa,Numa escrita que pinta uma dorAlguma dor torcida, que ressoaDe mim e doutro peito, sem ardor.

Signos duvidosos, coisa à toa,Brinquedo ou coisa séria, num lavor,Cujo sentido esvai e sim destoaDo sentido que é meu e do leitor.

Pinto dores comuns, que são pensadas.Mas depois de senti-las realmente.São signos, palavras desenhadas

Em que desenho dores facetadas,Agitando um estado só dormente,Onde há vívidas dores espelhadas.

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31Poesia reincidenteProva 01CBJE

OFÍCIO DE POETA

O sentimento do poeta é sua matéria-prima.O pensamento, o seu esforço de tradução.A lavra de ambos lhe desafia alguma rimados correspectivos, casando a elocuçãocom o som da palavra ou a lógica do escrito.Há um arrimo que faz poesia, que faz imagem,sempre que o poeta raciocina pouco adstrito,traçando razão que lhe escapa e é sua viagem.Sua razão na sua própria e na razão do outro,na mescla do sentimento das coisas que são

ou podem vir a ser encontro ou desencontro,é um ditado de si e de outros “eus” em ebulição.O poema diz e não diz coisas que o poeta encobre.Então não diz, mas diz tudo ou um poucodo que este pensou, sentiu. Logo se descobreverossímil ou inverossímil, um tanto louco.

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32 Juarez Francisco da CostaProva 01CBJE

LUTA DE POETA

Eu não rimo o poema nem o escrevoSe há romantismo tolo e desusado,Se infantiliza a alma com longevosImpulsos pueris do meu passado.

Luto... Reluta e quase me domina.Porém, antes o faço malogrado.Endureço-o em mim, prendo o menino,Antes que me desprenda e faça alado.

A essência que traz e que respiroProporciona um ser meio fremente.Prendo-me e acabo meio dormente.

Mas me vem açoitar uma torrenteDe juvenis razões e mil suspirosDe um menino órfão, em delírios.

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33Poesia reincidenteProva 01CBJE

SEM PRIMAVERA E SEM POESIA

A solta poesia não rimo mais.Anda em devaneio, faço-a ilhada.A letra que mal leio é nonada.Minha razão de ser faz ser sem mais.

Palpitante não ser, sem alforria!Atordoo meu espírito e me façoOutro. Não sou inteiro. Sem poesia!Sim, sem tristes poemas de fracasso!

Perco-me no relento e alucino.Faço-me sem tamanho, sou sem eras,Cansado e a buscar canto que nina.

 Tempos de sonhos foram. Se vieras Tu, ó minha poesia, como menina,Ainda hoje seria primavera!

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34 Juarez Francisco da CostaProva 01CBJE

DITO E NÃO DITO

Um poema incrustado vive em mim.E por fazer, não sei compor por mim.Existe numa teima e é disforme.Sem nascer, me agride, vem com fome.

Eu o faço conhecer nalguns sinais.Não sai da minha pena. A pulsarE a arrefecer, a gravitar,O poema é e sou fontes, canais.

Perdemo-nos um pouco no que esvaece.Inscrevemos na carne conto e preceDe uma vida que é e quer planura.

De uma vida que é e quer altura.Evolui, involui, segue e cresce.E embaixo se recolhe e esquece.

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35Poesia reincidenteProva 01CBJE

EU E A NOVA MANHÃ

Nesta nova manhã, bem cedo enjoo.Os meus dias são velhos, eclipsando.Brindam-me, secos. Mudo-os, pintandoCom rimas a catarse que abençoo.

Eu retiro então farpas fincadasE livro e descarrego nostalgias.Estanco pranto e pinto elegias,Que arremeto de mim para as sacadas.

Mas (vida contumaz) me voltam dores,Que são imaginárias ou reais,Invento uma paisagem e viajo.

Faço nova manhã, novos postais,Faço nova manhã, suaves odores. Tudo eu mesmo sou se interajo.

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36 Juarez Francisco da CostaProva 01CBJE

INÓCUO

Sensitivamente eu ouço uma vozDo fundo a borbotar, como derrames,A traduzir em mim os meus reclamesVãos e de perdição. Fere, atroz.

Silêncio que devora a alma, feroz,Não lança no papel e com ligame,O que sinto no fundo. Minha fozEntupida se esvai, se autoconsome.

E sinto... e perscruto, mas não leio Tão bem quanto quisera, mas insiste.E insisto manso ou louco e fico alheio.

E sinto... e perscruto, mas não leio Tão bem quanto quisera, mas insiste.E insisto manso ou louco e fico triste.

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37Poesia reincidenteProva 01CBJE

BUSCA, ESPERA E ANSIEDADE

Sangue nas veias, vida que pulsano dia claro e no sono, brilho do dia,mais tarde a desmaiar no ocaso!... Torpor... Tudo a morder e a soprarna minha carne. Nada a duplicar...Nada sou ou possuo sem ela.Se a possuísse, não seria efetivo.Para mim ou para ela, sob sol ou chuva,no ar quente ou frio. Mas há um brilhocambiante e esparso.

Uma imagem que acena.Leve, fugaz, vaporosa,adornando e contornando a aura da hora.É um éter fora e dentro, um nada de concreto,sem um toque.Que brilho ou que nada é esseque me fascina e faz ganancioso?Ávido de ter o que não se desenhaefetivamente ou incorpora?É um nada de terra, tudo de azul intocável.

É sensação e busca, sol e chuva fazendo arco-írispara logo se apagar.Dia e noite permutando-seno tempo que nem sei qual.É assim que aconteces e te espero.Vida!... Acho que és mulher.

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38 Juarez Francisco da CostaProva 01CBJE

ABSTRATO

Na vida me embreei sem fazer marcas.Em trilhas me perdi. Sobre mim mesmoVoltei meus próprios passos e andei a esmo.Eu mesmo sou volátil e sem marcas.

Eu derivo daqui em solto barco.Busco termo, o ocaso, o aterro,Mas ao início volto, não atraco.Eu derivo dali, fujo ao desterro.

Avanço, não transcendo, fico ambíguo.Misturo em grandes doses novo e antigo.Permaneço confuso e calado.

Caminho, descaminho!... Volto e sigo.De tempo a tempo estou, e lapidado,Permaneço confuso e calado.

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39Poesia reincidenteProva 01CBJE

CAMINHAR EDESENCAMINHAR

Com relógio ou sem relógio,eu na vida, a vida em mim...Há alvoreceres claros,há alvoreceres cinza.Extraio e abstraio de tudoum pouco de amor,um pouco de humor.Posto no efêmero,não interrogo o propósito

que se cumpre lentamente.Há um sonho velado,uma realidade dura.Desentranho todo dia.Divirjo e convirjo.Uno, no meio do caminhoe no descaminho.

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40 Juarez Francisco da CostaProva 01CBJE

DE CECA E MECA

As palavras silenciosas,laboradas e laboriosas,que estão nas bibliotecas,parece que estão mortas,mas dormem.Nem sisudas nem pilhéricas,contam estórias certas e tortasdo homem.Ó palavras iniciadas em bio,

finalizadas em gia, fia, ia...!Quanta vida, estudo, sabedoria!Substantivos, adjetivos;nomes, pronomes;verbos, advérbios;conectivos, disjuntivos... juntando, separando (harmonia!).Ó palavras insaciadas,veladas e desveladas!Afirmações, negações, ciência...

É difícil toda sapiênciadas letras da biblioteca.Mas, aos homens clássicossigo de ceca em mecaem saberes homeopáticos.

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41Poesia reincidenteProva 01CBJE

ENCICLOPÉDICO E CALADO

Eu quereria do dicionárioter palavras exataspara dizer o que penso e sintoe assim ter o poder.Pois com palavrasme conheceria na medida exata.A verdade e o feitiço da vida já estão dentro de mim.Como não sou bojo,direi diferente: que diria tudo,

sem truques, sendo euperguntas e respostas.Sendo essência de mime da vida ou da vida de mim,domaria a verdade relativa,que absolutamente é toda.Estou vindo desde ontem,estou hoje, estarei amanhã.

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42 Juarez Francisco da CostaProva 01CBJEMas agora já sou todo,ainda que seja mais, depois.Não bastam letras e bibliotecas.Preciso me ver melhor com palavras.Estou no estágio intermediáriodo magma quente e a rocha.Percebo tudo latente em mim,sou a trindade em composição:sou líquido, gás, vapor.Sou mais, sou o estágio.Sou menos, titubeio e não sou.Falta cultura, falta-me a palavra.

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43Poesia reincidenteProva 01CBJE

ÁGUA EM DUAS PARTES

Água! Duas partes de mim...És fonte da vida e vida, enfim.Intrinsecamente me compões.Extrinsecamente te bebo.Foges, espalhas e te repões.Sem ti não me concebo.Verto no que és excesso.Estancas na dor em recesso.Escorres numa lágrima,banhas minhas faces,

externando alegria ou lástima,como se me fotografasses.E te manifestas psicossomática.És cura real ou emblemática. Tomo-te, te escorro e te retomo.Matas minha sede, és a sede,o milagre de vida que em torno,avança- cria, recria- e retrocede.Cega, segues a vida que te segue.

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44 Juarez Francisco da CostaProva 01CBJE

DE VIVER E MORRER

...Renuncio... e escolho.Na verdade renuncio.Não posso dizer e não dizer.Não posso fazer e não fazer.É assim que digo.É assim que faço.E digo e desdigo.Faço e desfaço e disfarço.E me afirmo e infirmo.Vivo e um pouco morro.

E continuo a viver.Confuso e obtuso.Humano e mundano.Condeno e não condeno.E me desordeno.Diluído e sem sentido.Assim, nisso e naquilo procuro norte.Que existe imanente e fora.Desde sempre, depois e agora.Até que venha a morte.

Faço meu azar.Devagar a me divulgar.Vulgar a divagar.Não tenho sorte.Sem esperar esperoe faço.. e me vem devagare não quero...a morte.

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45Poesia reincidenteProva 01CBJE

INTERMÉDIO

Sou e não sou o que você quer.Sou e não sou o que você imagina.Sou o que tenho e o que não tenho.Multiplico e divido, diminuo e somo.(Quem somos?)Sou o que tento e o que não tento.Sou o que consigo e o que não consigo.Sou o que posso e o que não posso.Sou o que você pode e o que não pode ver.Sou o que posso e o que não posso espelhar.

Relevo você, que me releva.Quase nunca elevovocê ou a mim a algum grau.Estou perdido e perco vocêe muitas coisas num degrau.

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46 Juarez Francisco da CostaProva 01CBJE

CHUVA DE VERÃO

A chuva de verão lava meu céu.Escorre a pintura e, infirme,Infirma o firmamento posto ao léu,Nas tintas do poeta pouco firme.

Apaga do horizonte meu painelE suaviza o peito e redimeDe uma contida dor. Algo sublime,Do pesaroso faz leve corcel.

Abranda ou aplaca o inferno.Redesenho. E a chuva, já mais fina,Lenta, insiste e borra minha tinta.

E, cortante, o Sol, fazendo esgrima,Desenha arco-íris breve. Lento, pintaDe escuro outra vez o dúbio eterno.

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47Poesia reincidenteProva 01CBJE

 TEMPESTADE DE VERÃO

No escuro céu pintado, nuvens pretasMais ainda. Carregadas e elétricas.Retumbantes estrondos, quilométricasAs espadas de luz. Uivos, trombetas...

A chuva se anuncia e na tormenta,Medonhos os presságios, esqueléticasAs figuras de mim, atmosféricas.Fantasmas de uma hora de epicentro.

Passageiros estados que me singram.Passageiras vêm chuvas de verão: Transitam; transitórias, transformam.

Alívio natural, chuvas que sangramA natureza. Nela se entornamE é dela que promanam desde o chão.

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48 Juarez Francisco da CostaProva 01CBJE

IDAS E VINDAS

Encontras tu... Eu em ti encontrado, mas...ah, meu amor, eu tanto sofri já, que agora,mesmo feliz, confuso, endoideço um pouco. Tu endoideces um pouco também. Estranho!É que tropeças, ou talvez seja eu, sem paz...E sem razão, só descrença- antiga embora!-Roto o que passa, procuramos mais que o roucosom d’um amor, sem os arroubos já de antanho.Mas est’aqui enlevo. Sob cinzas, brasas.Sob as roupas da rotina há um devir.

O amor termal, fremente, sempre volta, vai.Nós é que vamos às rotinas sós, com nós.Reencontramos o que lasso se põe, sem asasou sem fulgor... Natureza de si imergir,arrefecer e rebrotar todo. E... ai!Delícia é tocar, sentir o que há de nós.

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49Poesia reincidenteProva 01CBJE

ABAIXO E ACIMA DE MIM

Sou como vulcão, fogo e cinzas.Como pote em que se deita água.Como prado e montanha.Calor e frio, paragem e brisa.Quietude e grito, sonho e realidade.O fogo é fora, a cinza é dentro...de mim, que sou vulcão e escombros,reflexos de luz e sombras,calor e frio e... tudo de novo... junto... e em alternância.

O repositório seco que se molhasou eu, que também sou a água.O plano em que se estendem florese se castiga ao sol ou só erva se torna...e a montanha, que não alcanço e se refrigera,sou eu, que sou e me torno e não sou.Quieto tudo à volta e dentro,gritando eu, gritando tudo para mim.Quanto abrasamento, friagem,inércia e sopro!

O sonho é a realidade.A realidade é o sonho,que não é nada.É leve, não se leva nem me levadaqui.

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50 Juarez Francisco da CostaProva 01CBJE

A POESIA E O POETA

Poesia é mulher faceira e linda. Tem curvas e tem formas e mistérios.E feitiços possui. E sem critériosCala e afaga o peito, não deslinda.

 Tem cheiros e tem cores, é bem-vinda.Quase nunca vem ao hemisfério.E eu fico incompleto e aindaNa ânsia de domar o elastério.

E contenho, feliz, enganos ledos.Possui suavidades e asperezasConfusas. Intrigantes os enredos.

Saliências e cavas. Que belezasRaras, entremostradas em veredas,Que busco e acaricio sem destreza!

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51Poesia reincidenteProva 01CBJE

ATRAÇÃO E REPULSÃO

É... Este é um poema que não é,Pois a rima não veio. Não se fezNem sem rima. É nada, se desfezAntes de se fazer. É marcha à ré.

Eu já o joguei fora, na maré,Mas retomo-o depois, algo cortês,Num bem desajeitado amar é...Percebo-o meio torto outra vez.

 Tracejo um pouco mais e numa curva,Suavizando, torno a poetar,Querendo rasgar véu, véu que me turva.

Rejeito, deixo-o ir e vou buscar,Perdidos nós os dois sempre na curvaDo que queremos ter ou encontrar.

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52 Juarez Francisco da CostaProva 01CBJE

CASA DE POETA

Quero abrir as janelas e portas de mime compor a poesia da essência toda,com cheiro de liberdade,sem ranço de lamúria.Derrubar portas e janelas de tua casa(essa que és- fechada)dando-te outra.A casa de nosso tempo,a casa da vida sem estribeiras,sem laços,

num laço com ela,enlaçando-nos e abraçando.Sabes?...Na verdade eu também precisoencontrar essa que se oferta,para te dar, contigo dividir.

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53Poesia reincidenteProva 01CBJE

DESASSOSSEGO

Minha casa é o tempo.E o tempo é a casaque muda de lugar,leva e levo, fica,convida e me espera.Quase tudo prontificanum caminho de esfera,que trilho a voltar.A casa, o tempo, o caminhotenho que palmilhar, deixar...

Nada é meu e preciso partilhar.

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54 Juarez Francisco da CostaProva 01CBJE

VOLUBILIDADE E CERTEZA

Constituo-me em ser múltiplo: sou eu,Sou muitos e um só, equilibradoN’estranhos antagônicos. Por céuE inferno me faço eclipsado.

Amo só por amar. Como ateu,Desdigo toda fé. Ensimesmado,O eu confuso se torna um Proteu,Que duvida de tudo copiado.

E esta certeza que há, é meio e regraDe comum proceder. Deste jeito, Todo ou um pouco oprime o meu peito.

Sem leveza, só incha e não me regaDe um sentir que me alegre, bem afeito.Vesga, felicidade me posterga.

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55Poesia reincidenteProva 01CBJE

DESENCANTO

Busquei, perdi certezas e belezasDe uma vida que é áspera e atroz.Rio-me dessas sortes vãs, burguesas,Que antes se propunham para nós.

Pois se descompuseram singelezasE inocentes credos. Tal retrós,Eu me fio e desfio nas torpezas.Mesmo sem ser de mim, a dor me rói.

Fio, não confio depois, pelo descasoDe tudo e todos, ora pelo ser,Ora pelo não ser de toda vida...

Aqui rolando, tímida ou atrevidaMas a amanhecer e a anoitecer,Sempre no rumo do último ocaso.

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56 Juarez Francisco da CostaProva 01CBJE

A MULHER

Fagueira e abstrata no poema.Desenha-se etérea na paisagem.Sorrateira e fugaz inspira o tema.Prende-me e não lhe perco a imagem.

Retenho e perco olor na sua passagem.Avança e me transcende, fica e rema.Para longe se leva como aragem.E fica como imagem de cinema.

Fica em mim que não fico e vou com ela.Que não fica comigo e se estiola.Intangível... Carnal (?)... É uma fada.

Estimula meu peito e me imola.Num suave castigo, me atropela.Linda mulher, fugaz e desejada!...

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57Poesia reincidenteProva 01CBJE

INCLUSIVO E EXCLUSIVO

O amor é um estado de levezaQue me enleia e transpõe para alémDe mim mesmo. Derruba a defesaE me enlaça e desarma e me detém.

O amor é um estado de incertezaQue me enleia e transpõe para além.Bate e desassossega por alguémO afeito coração, tornado presa.

O amor é um estado de saudadeQue alimenta e angustia-me o peitoQuando ausente e distante o ser amado.

O amor é uma eterna ambiguidadeQue põe em sobressalto. De algum jeitoOposto exclui, inclui, deixa de lado.

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58 Juarez Francisco da CostaProva 01CBJE

DESENCONTRO E ENCONTRO

 Teu amor é um estágio presente,nascido de suavidades e durezas,sonhos e planos do passado recorrentes.Ensina da vida suas singelezas. Teu amor enterra a descrença,tristezas e mágoas de uma vida singular.E inaugura uma vida plural de querençae bem-aventurança dentro e fora do lar. Teu amor é um resgate de mim,que talvez te resgatei de ti.

Sempre fomos assim.Conhecemos por repartir.Cada um desandou em si mesmo,buscando... Um pouco se achou no outro.Hoje somos múltiplos, não andamos a esmo.De desencontros fizemos o melhor encontro.

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59Poesia reincidenteProva 01CBJE

EM NOME DO AMOR EDA PRIMAVERA

Uma prima, Vera.Outra prima(a... Lia).Não primas deveras.Eu me confundia...E reacendiaem nome do amor,que entardecia.Eu sempre sofriada antiga dor

de um desamor.Eu me punha morno,me fazia doise uno depois.Estios, invernos,meus céus e infernos,o fim do outono,outra primavera.

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60 Juarez Francisco da CostaProva 01CBJEEu busco sem sonosempre mais, deveras,as flores da alma.Fora, flores calmas,sem dote de alma. Tenras primaveras!...De simples nascer,morrer, renascer...E o ano, deveras,toda primavera,prenuncia na flor,

a busca do amor.Eis o meu pendor.

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61Poesia reincidenteProva 01CBJE

 TEMPO DE MIM E DAS COISAS

Há vários tempos de mima formar o tempo todo de ser eu.Sou o ontem, o agora e o depois.Sempre a me formar, informoe desinformo a consciência,incorporo uma verdade,que nunca se basta. E é tudo que posso.Verdades são pedaços e são óticas próprias.E são óticas de mim do outro,do outro de mim nele e em mim;

do que o outro tem de mim,do que tenho do outro que me cerca.E nos toleramos, incompreendidos todos.Altaneiro ou humilde me assumo, dessumo.Me acho, me perco e me busco.Sou uma casa, não entro nela.Não entro em nenhuma casa.Não sei que meta tenho, mas tenho.Acho que busco felicidade preconcebida.Absurdamente...

Como quase tudo que se preconcebe.A despeito de todo maltrato da paisagem,a despeito de toda força que me quer centrado,amanhã, pintarei casas, flores, árvores e rios:cinza, azul, verde, amarelo, roxo, vermelho...e todos os matizes.E serei todas as coisas.

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62 Juarez Francisco da CostaProva 01CBJE

PENSAMENTO À TOA

Pensando... A pensar eu me desfioE me condenso e vou, fico... prossigo.Me aproximo, me achego e distancio.Me acabo inacabado, me abrigo.

Pensamento eu evoco ou só sigo,Ao se me apresentar cedo ou tardio!Pesaroso contorno novo e antigo,Às vezes desandando... arredio.

Em pensamentos a hora se escoa.Amenos me envolvem, envolvidoNum louco solilóquio, eu à toa.

Em alguns recalcitro, e, doído,Consigo perceber o que ecoa:Sino ou sina de mim, um sem-sentido.

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63Poesia reincidenteProva 01CBJE

AMOR E PRAZER

Prazer é um instante que desliza e passa por mim.Afaga e eu afago, se vai e me deixa como antes.Amor é uma luz de além e da divisa de mim.Descortina minha retina e transporta para diante.Um me alça e derruba, o outro me enlaça e guia.Prazer é pausa e descanso no regato, na estação.Amor é mais que emoção, é estado de alegria.Amor é minha maior e constante realização.

Um instante de prazer é meu.

Pode até vir do que é teu,mas só em mim se propagae se apaga.É do meu instinto,só eu sinto.Me animalizo,fico indiviso.O amor que encontroe sai do confrontonão me atropela

nem se acastela.Dá, recebe e aquecenum calor que permanece.Nele realizo.Nele universalizo.

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64 Juarez Francisco da CostaProva 01CBJEO prazer é deleite e delírio.Desfaz tensão que vai e volta.Ou é clarão que se apaga.Amor é cegueira e colírio.Cega, mas me comportadentro e fora de minha saga.Prazer me dá asas e as corta.Amor me transporta.

Prazer é uma delícia.Revigora e castra.

Castra e revigora.O amor não é interstício.Guia e é pilastra.E é de toda hora.Não vivo sem os dois. Tudo vem depois.

No amor e prazer a guia.Num, emoção,noutro, alegria.

Bate o coração.Pulso e sangro.Até me zango.E a felicidade em essênciaarde, vaporiza e é resiliência.

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65Poesia reincidenteProva 01CBJE

DIVERSO

De verso em verso,poemas faço diversosdos meus dias reais,sempre tão iguais.Envileço ou enalteço,teço e desteçoe sempre tergiverso,de mim certo e reverso.Partido e disperso na lidasem detença,

chinfrim na vidaimensa...

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66 Juarez Francisco da CostaProva 01CBJE

MAQUINAL

Na rotina imerso,sou conexoe sou desconexo:matinal ligo,vesperal desligoe maquinal religo.

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67Poesia reincidenteProva 01CBJE

POESIA

Fugidia,a poesiaé, à noite,uma pontepara o diacorrentioe arredio. Toda noite,todo diaeu defronte

da fonte,que desviae guia.Aranha,teçoe na tramapermaneço.

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68 Juarez Francisco da CostaProva 01CBJE

DIUTURNO

Conversocom versoe confessominhas dores,meus amoresfugidios.Eu despeçopra outro dia.Anoiteçoe amanheço.

 Já não meçoa teimosia.Em sucessão,noite e dia,outras cores,velha estação,nova comoção.

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69Poesia reincidenteProva 01CBJE

PROCURA

Largo o caminho– O caminho largo –a te procurar,meu amor,minha falta,meu queixume!Estreito a vista.Longe me levo.Perto te trago.Vislumbro...

Vagalume na noite.Na noite vago o lume.Não acho,mas te sinto.E não há mais nadaque me desarrume.Sem ti não acho meu rumo.

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70 Juarez Francisco da CostaProva 01CBJE

GALOPANTE

De mim através,através de ti,amor de viés,faço meu revés.Não é por causa de ti,é por causa de mim,que não sei ser só.De tudo atravése junto, faço avanço.Não estanco

nem dou nó.Eu, retro e adiante,no meio da vida.E a vida por todo lado,perto e distante,sempre galopante.

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71Poesia reincidenteProva 01CBJE

 TARDIO

Dia e noite me despeçocom o mesmo nexoque tem o sexo,que liga, irriga,desliga e religa.Busco, lusco, fusco,depois do sexoe da lidaoutra fonte, outra pontepra cruzar a vida.

Vida de rio,tarde me riode falsas dores,reais amargorese reais amores.Vida de rio,tarde me riode tudo fugidio.

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73Poesia reincidenteProva 01CBJE

O TEMPO E EU

O tempo é impassível e imenso,incontingente e necessário.Eu sou passível e acidental,passável e tenso.Não projeto no tempo,que me leva e deixa.Eu, que passo e fico e vou...(Ah, o tempo... incindívelna essência...Eu... cindível,

na busca do todo possívelou crível).O tempo é todo,eu sou pedaço.Incorporo, esmaeço.O tempo majestoso,apago-o,apago-me...Ainda desapareço...Majestático, me domina.

Mágico, estático, perdura.Ensina alguma magia.Inseguro, não o seguro.A vista confusano claro... no escuro...

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74 Juarez Francisco da CostaProva 01CBJE

VIAJANTE

Nosso afã:somos viajantesvida afora,desde ontem,ainda agoraaté amanhã.Norte traçado,sorte desalinhada,morte de emboscada.Determinismo,

possibilismo,fatalismo.Muitos caminhos.Andamos sozinhos.Qual o sentidode tantos sentidos?Estamos perdidos.

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75Poesia reincidenteProva 01CBJE

VACILAÇÃO

Busquei na vida intrepideze só conheci a timidez.O medo de não agradartodo não se desfez.Pareço/padeço fraco, a tagarelar(essa é minha tez).Não sei quando e se seráalguma a minha vez.Visto capas, não sei retratartoda a minha nudez,

que quer e não se mostrar.E nem tudo é sordidez,mas de puro e impuro, a tropeçar,busco alguma fixidez.

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76 Juarez Francisco da CostaProva 01CBJE

REMÉDIO PARA APATIA

Como eu, a poesia é reticente,mas alerta no alvorecer,explode em minha mentee se espalha pelo meu ser,entra pelos olhos e ouvidos.Leve e sem alaridos,freme e sensibilizatodos os sentidos.Ao pesaroso não neutralizae é por isso sempre poesia.

Reinventa-se e veste a tristeza,não só a alegria e a beleza.E todo dia se anuncia,desfazendo toda apatia.

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77Poesia reincidenteProva 01CBJE

DURA CONSTRUÇÃO

I

>Meu espírito é uno desde o começo;duo no projeto, se combina e, múltiplo,compõe de amálgama a unicidade de mime de tudo que existe. E incompleto,volta ao começo.Eis o fim.>

II

Vida encoberta...Sou matéria, animada agora, inanimada depois,morta ou viva, pesada ou leve, sentida na alma,que se põe confusa, na morte e na vida.Parece que morrer e viver e ser uno é definitivo,mas sou duo, durmo e morro no corpo cansado,na alma penada... Tudo permanece latente.No sono, na morte, sou cinza e brasa...Alma se resgata, embala e esquece em tantas asas.

E busca por vocação e fim a sabedoria possível.O corpo plasma, acorda e veste, dorme e desvestea alma, que na busca do conhecimento, me arquitetaem tudo que fala, se aquieta, falta, sobeja, prende...me liberta.

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78 Juarez Francisco da CostaProva 01CBJE

CICLO DA VIDA

No começo era o peso,depois veio a leveza.No começo era a matéria dura,que depois se rarefez.E de novo veio o peso,que se alternou com a leveza.Outra vez a matéria endureceue se rarefez.E em mim tudo outra vezse esqueceu.

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79Poesia reincidenteProva 01CBJE

ALTARES DA VIDA

Apesar dos pesares(nem tudo é peso,também há leveza)me ponho nos altares.Vida é mesa, missa, recidiva,sacerdote e sacrifício.Sou eu mesmo o sacrifício,imagem de desamor reflexiva.Objeto de amor e devoção,a felicidade fluida

de mim descuidae é minha perseguição.Calvário e bonança nos mares,planícies e planaltos.O vento sopra em contraltoe agudo me diluo nos ares.

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80 Juarez Francisco da CostaProva 01CBJE

COMPOSIÇÃO

Verso! Livremente te faço livre.Não me livro de te limar;não me livro de te retocar.Aqui uma vírgula, ali um ponto.Suprimo, acresço palavra ou versodentro do todo, todo dia.Dou-te forma linear, ando em curvae faço círculo, não defino geometria,não me ligo em forçosa harmonia.Dou-te métrica, rima ou deixo em branco,

recorto ou não dou nadade estética, mas algo de sangue,da alma e da mente,que encontro latente ou que invento. Tens de mim e tens do outroelogios, zangas, alegrias e taras,sonhos, projetos, frustraçõese até alguma doutrinação.Sem sistemática, com e sem temaés uma teima no meu dia.

Na busca obsessiva da músicaensaio e me perco no contexto.

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